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Natalia Quintino Dias ATLS – Trauma abdominal Anatomia cirúrgica A cavidade peritoneal é dividida pelo mesocólon transverso em dois andares: ● Supramesocólico: contém fígado, estômago, baço, ligamento falciforme, omento menor e a maior parte do omento maior, além da bolsa omental. ● Inframesocólico: pode ser subdividido em direito (ou parte superior) e esquerdo (ou parte inferior), pela raiz do mesentério, e contém as alças jejunais e ileais, emolduradas pelos colos ascendente, transverso e descendente. Bolsa omental A bolsa omental, ou retrocavidade dos epíplons, é um espaço virtual, amplo e irregular situado, em sua maior parte, posterior ao estômago e omento menor. É uma dependência da cavidade peritoneal com a qual se comunica pelo forame epiploico (Forame de Winslow). Os limites da bolsa omental são: ● À esquerda: hilo esplênico. ● À direita: comunica-se com a cavidade peritoneal, pelo Forame de Winslow. ● Inferiormente: no recesso inferior da bolsa omental, entre a parede anterior e a parede posterior do omento maior (na altura do cólon transverso). ● Superiormente: entre o fígado e o diafragma, como o recesso superior da bolsa omental. ● Anteriormente: omento menor (ligamento hepatogástrico e hepatoduodenal). ● Posteriormente: pelo peritônio que recobre o pâncreas, suprarrenal esquerda, parte do rim esquerdo. O Forame de Winslow (ou forame omental) estabelece a comunicação entre a cavidade peritoneal maior e a retrocavidade dos epíplons (ou bolsa omental). Seus limites são representados por ligamento hepatoduodenal anteriormente, veia cava posteriormente, fígado superiormente e duodeno inferiormente. Natalia Quintino Dias O forame omental pode ser localizado passando- se um dedo ao longo da vesícula biliar até a margem livre do omento menor. Manobra de Pringle: clampeamento do pedículo hepático para controle vascular em sangramentos hepáticos. Retroperitônio É um espaço anatômico atrás (retro) da cavidade abdominal. Ele não tem estruturas anatômicas específicas que o delimitem. É a região situada entre a parede abdominal posterior e o peritônio parietal posterior. As principais estruturas retroperitoneais são: -- Pâncreas; -- Maior parte do duodeno (com exceção da parte inicial da 1ª porção); -- Cólon ascendente, cólon descendente; -- Grandes vasos: aorta abdominal e veia cava inferior; -- Rins, ureteres e suprarrenais. Relação do cólon com o peritônio. O cólon ascendente e o cólon descendente são fixos, pois são órgãos retroperitoneais. Já o cólon transverso e o sigmoide são móveis, pois situam-se na cavidade peritoneal. Natalia Quintino Dias Trauma abdominal Pode ser dividido em 4 partes: • Trauma abdominal fechado. • Trauma abdominal penetrante. • Trauma em transição toracoabdominal. • Trauma pélvico. • Trauma abdominal contuso. A principal etiologia do choque no trauma é a hemorragia e de que o abdome é o principal foco de sangramento. As vísceras parenquimatosas – órgãos sólidos (baço e fígado) são os principais órgãos lesados no trauma abdominal fechado. O mecanismo de trauma é extremamente importante. O exame físico só tem valor em pacientes conscientes e com peritonite. Nesses casos, a laparotomia exploradora está indicada. Exame físico abdominal normal não garante que não exista lesão de vísceras. Há 3 exames complementares para auxiliar: ● Lavado Peritoneal Diagnóstico (LPD). ● FAST (Focused Assessment Sonography for Trauma). ● TC de abdome. FAST É uma avaliação ultrassonográfica direcionada para o trauma, indicada para paciente instáveis hemodinamicamente, que tenham suspeita de sangramento intra-abdominal. O FAST tem alta sensibilidade (quando há pelo menos 250-200ml de líquido livre) e baixa especificidade, isto é: ele consegue dizer se há líquido livre na cavidade, mas não identifica a origem do líquido (sangue, líquido entérico, bile, urina etc.). É bastante útil para detecção de sangramento proveniente de vísceras parenquimatosas (baço e fígado), mas tem baixa acurácia para lesões de vísceras ocas (estômago, delgado e cólon) devido ao baixo volume de líquido na cavidade. Paciente instável + FAST positivo → Laparotomia exploratória é mandatória. As janelas do FAST são: -- Saco pericárdico (avalia tamponamento cardíaco). -- Espaço hepatorrenal (Espaço de Morrison). -- Espaço esplenorrenal (quadrante superior esquerdo). -- Janela suprapúbica (Fundo de saco de Douglas). Lavado peritoneal diagnóstico (LPD) Raramente utilizado na prática. Pode ser utilizado na ausência do FAST. Não realizar se: indicação absoluta de cirurgia, como: • Ferimentos por arma de fogo • Vítimas de ferimento por arma branca com peritonite • Eviscerados • Peritonite em pacientes com trauma fechado Técnica: Deve-se entrar na cavidade peritoneal na linha média, geralmente em região infraumbilical (exceção para traumas pélvicos e gestantes). A fácil aspiração de sangue, conteúdo entérico ou bilioso, fibras vegetais ou fezes é indicativa de lesão de víscera oca, e a laparotomia está indicada. Caso contrário, deve-se lavar a cavidade peritoneal com 1.000 mL de solução cristaloide aquecida, aguardar que ela se espalhe adequadamente pela Natalia Quintino Dias cavidade peritoneal e aspirar o líquido (mínimo de 200mL). O teste será positivo se tiver evidências diretas de conteúdo entérico, bilioso ou fecaloide. Se o teste for inconclusivo, o material deve ser enviado para análise laboratorial. TC de abdome A TC com contraste é mais completa e mais detalhada que FAST ou LPD, pois pode trazer mais informações. A TC consegue facilmente fazer o diagnóstico de pneumoperitônio e de lacerações de vísceras parenquimatosas (especialmente baço, fígado e rins), além de estimar o volume de líquido na cavidade. Entretanto, é um exame caro, nem sempre disponível e que requer a infusão de contraste. É condição obrigatória que o paciente esteja hemodinamicamente estável para realizar a TC. Se houver pneumoperitônio, a conduta é cirúrgica, pois ar livre na cavidade peritoneal significa ruptura de alguma víscera oca. Se líquido livre na cavidade -> a maioria dos traumas hepáticos e esplênicos demanda tratamento conservador (> 80%). Natalia Quintino Dias Trauma pélvico A fratura de pelve tem alta mortalidade e correlação direta com choque hemorrágico e lesões intra-abdominais. Pelves instáveis sangram muito. A maioria dos sangramentos tem origem venosa; portanto, cessa com a fixação óssea. Uma minoria tem origem arterial e maior mortalidade. Tipos de fraturas pélvicas: -- Compressão anteroposterior (fratura em livro aberto) – 15-20% dos casos; Natalia Quintino Dias -- Compressão lateral – 60-70% dos casos; -- Força de cisalhamento vertical – 5-15%. Após o atendimento inicial -> realizar exame físico da pelve -> solicitar Raio-X da pelve. Inicialmente, a estabilização da pelve pode ser feita com lençol, ainda na sala de trauma. O lençol deve ser colocado com tensão ao redor da pelve, a fim de fechar o anel pélvico, que está deformado. Ele deve ser posto na altura dos trocanteres maiores. Essa fixação é temporária, reduzirá o sangramento, mas não vai cessar completamente. Devido a relação do trauma pélvico com lesão intra-abdominal, deve-se investigar a presença de líquido livre na cavidade (FAST ou LPD). Caso o resultado dê negativo, deve-se considerar que o choque hemorrágico tem origem na fratura pélvica. Há 3 opções de tratamento para fratura de pelve: • Arteriografia com embolização (1ª opção para controlar sangramento arterial) • Tamponamento pré-peritoneal (packing) – 2ª opção para sangramento arterial. • Fixação externa (sempre após os primeiros procedimentos acima).Trauma perineal É um trauma extenso, que costuma estar associado a pacientes politraumatizados graves e com fraturas pélvicas. Tem altas chances de infecção e complicações. Tratamento • Limpeza do ferimento. • Desbridamento. • Hemostasia. • Tamponamento com compressas. • Colostomia/derivação de trânsito/transversostomia. • Lavagem do coto distal. • Antibioticoterapia sistêmica. • Curativos programados. O fechamento dessas lesões nunca deve ser realizado. Trauma de transição toracoabdominal e lesão diafragmática Lesões associadas ao trauma diafragmático estão presentes na maioria das vezes, sendo pulmão, estômago, fígado, baço e colón os órgãos mais lesados. Também pode haver lesão diafragmática em trauma contuso, especialmente quando há compressão do abdome (aumento súbito da pressão intra-abdominal). A hérnia diafragmática é mais comum do lado esquerdo, pois à direita está o fígado, que “impede que alças ascendam ao tórax”. Para realizar o diagnóstico deve-se levar em consideração o mecanismo do trauma, se tiver um Raio-X sugestivo (bolha gástrica intratorácica ou presença de alças no tórax), presença de SNG no tórax. Conduta = se houver lesão -> LAPAROTOMIA para avaliar o diafragma, visto que não há nenhum exame de imagem que avalie bem a sua integridade. Trauma abdominal penetrante Esse tipo de trauma pode ser decorrente de ferimento por arma branca (FAB) ou por projéteis de arma de fogo (FAF). Natalia Quintino Dias Lesão por FAF => LAPAROTOMIA EXPLORADORA. Já lesão por FAB -> depende, pois nem sempre penetra a cavidade abdominal. Indicações absolutas de cirurgia em casos de FAB • Evisceração • Instabilidade hemodinâmica • Sinais claros de peritonite • Sangramento digestivo (hematêmese, sangue em SNG ou sangue retal). Se FAB em andar superior -> realizar FAST para avaliar pericárdio e afastar lesão cardíaca. Em pacientes estáveis e sem peritonite, a exploração digital da ferida deve ser realizada (com luva estéril e anestesia local) para avaliar se houve violação da cavidade peritoneal. Se houver violação da cavidade (dúvida/suspeita): a internação é mandatória, com exame físico seriado, exames laboratoriais e vigilância hematimétrica (Hb 8/8 horas) por 24 horas. Além das indicações absolutas, caso o paciente apresente queda de Hb > 3g/dL ou leucocitose, há altas chances de laparotomia exploradora. Nesse caso, a TC pode auxiliar. Quando o ferimento por arma branca acomete flanco ou dorso e o paciente se apresenta estável, está indicada a TC de abdome com triplo contraste (intravenoso, oral e retal). Manobras cirúrgicas no trauma Existem manobras clássicas para acessar órgãos lesados no intraoperatório. Manobra de Cattel-Brasch: mobilização medial do cólon direito, a fim de acessar as estruturas retroperitoneais (veia cava inferior, aorta, vasos renais e vasos ilíacos). Manobra de Kocher: mobilização medial do duodeno retroperitoneal (2ª porção) e cabeça do pâncreas: acesso ao pâncreas, face posterior do duodeno, veia cava inferior, aorta e vasos renais. Natalia Quintino Dias Manobra de Mattox: mobilização medial do cólon esquerdo para exposição da aorta e seus ramos (em especial, controle vascular do tronco celíaco e artéria mesentérica superior). Trauma abdominal: lesões de órgãos específicos TTO conservador X cirúrgico O tratamento conservador só pode ser considerado se tiver sido feita TC para estadiar o grau da lesão. Uma condição obrigatória para tratamento não operatório é a estabilidade hemodinâmica. Em caso de tratamento cirúrgico, sempre optar pela menor cirurgia possível, limitando-se a corrigir somente o que foi lesado. Baço É o órgão + acometido em traumas contusos. Sinal de Kehr (clássico): dor referida em ombro ou escápula esquerda. TTO conservador se: -- Estabilidade hemodinâmica (sinal de sangramento controlado). -- Ausência de peritonite franca. -- Lesões até grau 3 (lesões grau 4 ou 5 em pacientes estáveis e sem peritonite podem ser submetidas a tratamento conservador em alguns centros específicos de trauma). Conduta cirúrgica: Instabilidade hemodinâmica + TC com lesão grau ≥ IV (“baço = 4 letras”). Quando a conduta é cirúrgica (ou seja, piora clínica ou ausência de radiologia intervencionista), opta- se por: -- Esplenorrafia (sutura do parênquima).** -- Esplenectomia parcial.** -- Esplenectomia total. **Pouco utilizadas, visto que a cirurgia está indicada em casos graves (grau V), onde única conduta possível é a esplenectomia total. Mesmo lesões esplênicas graves, com múltiplas lacerações de parênquima, podem ser tratadas de forma conservadora se o paciente estiver muito bem clinicamente, sem peritonite e sem choque. Natalia Quintino Dias A vacinação contra pneumococo, meningo e haemophilus é mandatória após esplenectomias totais (após 14 dias). Fígado É o órgão mais acometido em perfuração por arma branca, e o segundo mais acometido em trauma fechado. Conduta conservadora -> se estabilidade hemodinâmica e sem peritonite. → Observação clínica + exame físico + Hb seriado A indicação de laparotomia é rara. A angioembolização pela radiologia intervencionista deve ser considerada antes da cirurgia, se possível. Em trauma hepático muito grave -> cirurgia de controle de danos. Caso seja necessária a cirurgia, optar por ressecção hepática pequena ou compressões manuais com compressas. A Manobra de Pringle é essencial no trauma hepático. Se o sangramento hepática cessar após essa manobra, assume-se que tinha origem portal ou arterial. Entretanto, se não melhorar, tende a ser da veia cava inferior (segmento retro-hepático) ou das veias hepáticas. Vias biliares extra-hepáticas O reparo do colédoco pode ser primário (rafia simples) em casos de lesões pequenas e simples. Em transecções e perdas teciduais importantes, a anastomose biliodigestiva (hepaticojejunostomia em Y de Roux) passa a ser a conduta de escolha. Independentemente do tipo de lesão, a drenagem da cavidade abdominal é mandatória (≠ de drenagem da via biliar – dreno dentro da via). Lesão de vesíscula: colecistectomia. Pâncreas O pâncreas é órgão retroperitoneal; por esse motivo, o trauma pancreático tende a ser mais raro. Geralmente, lesões pancreáticas não são isoladas e costumam estar associadas a lesões de outros órgãos (traumas da cabeça do pâncreas <-> associação com o duodeno; traumas esplênicos <- > podem estar associados a lesões da cauda do pâncreas. O mecanismo de trauma mais comum para lesões de pâncreas e duodeno refere-se a traumas contusos em abdome superior (especialmente epigastro): impacto do guidão de bicicleta ou esmagamento por tanque de lavar roupa (Síndrome do Tanque). O trauma pode ser dividido em: -- Porção proximal (cabeça + processo uncinado; à direita da veia mesentérica superior; íntima relação duodeno e colédoco). Frequentemente associada à lesão duodenal (2ª e 3ª porções) e lesões de via biliares. -- Porção distal (corpo + cauda; à esquerda da veia mesentérica superior; próxima ao baço). Associação com trauma esplênico. Cirurgia Vai depender da lesão do ducto pancreático. Sem lesão -> drenagem com ou sem reparo cirúrgico. Com lesão -> se lesão de corpo e cauda, realizar pancreatectomia distal corpocaudal e drenagem da cavidade. Se lesão de cabeça: realizar duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple). Natalia Quintino Dias A principal complicação pós-operatória é a fístula pancreática, por isso, a drenagem é muito importante. Duodeno O duodeno é em sua maior parte, retroperitoneal 2ª e 3ª porções), portanto é mais difícil de ser acometido. Sinais radiológicos (Rx ou TC): gás no retroperitôneo (retropneumoperitônio: delineando rins). Retropneumoperitônio(perfuração) é sempre cirúrgico. Contusão de duodeno: quadro clínico clássico é "come e vomita", pois o hematoma da parede duodenal vai levar a um afinamento da luz (causando um quadro de obstrução alta). • A conduta pode ser conservadora: jejum oral por 2 semanas, com dieta por sonda nasoenteral + descompressão gástrica (sonda nasogástrica aberta). Fratura de chance É um tipo de fratura de vértebras toracolombares: envolve uma divisão horizontal da vértebra, começando no processo espinhoso e nas lâminas, estendendo-se pelos pedículos e corpo vertebral, sem causar dano às estruturas ligamentares. A Fratura de Chance resulta do mecanismo de flexão-distensão da coluna e apresenta forte associação com o uso do cinto de segurança e lesões intra-abdominais frequentes (especialmente duodeno e pâncreas). Atentar-se para a marca do cinto de segurança. Síndrome do tanque É um tipo específico de trauma provocado pela queda de um tanque de lavar roupas sobre uma criança. A região mais atingida é o epigástrio. E os órgãos que mais sofrem traumas são o pâncreas e o duodeno. No tórax também podem ocorrer traumatismos de arcos costais e lesão cardíaca. O diagnóstico é de trauma fechado. Delgado O sinal do cinto de segurança tem uma correlação direta com trauma de delgado e trauma de mesentério. Conduta cirúrgica ● Lesão pequena (< 50% da circunferência do delgado): rafia primária. ● Lesão grande (> 50% da circunferência do delgado): ressecção e anastomose. A sutura de lesões grandes não pode ser realizada devido ao risco de estenose. Cólon e reto O segmento mais afetado é o transverso, por ser mais anteriorizado. Conduta cirúrgica ● Lesões pequenas (< 50% da circunferência da parede): rafia primária se: -- pouco tempo entre o trauma e a cirurgia (4-6h); -- estável hemodinamicamente; -- ausência de lesão vascular dessa área. ● Colectomia segmentar com anastomose primária: paciente apenas estável, porém sem os outros critérios anteriores. ● Colectomia segmentar com colostomia e sepultamento do coto distal (Cirurgia de Natalia Quintino Dias Hartmann): Paciente com instabilidade hemodinâmica = Hartmann (sepultamento do coto distal e confecção de colostomia terminal com alça proximal). ● Lesão de reto baixo (reto extraperitoneal): derivação de trânsito intestinal e drenagem de pelve e reto. Trauma de grandes vasos – hematoma de retroperitônio A principal causa são os ferimentos penetrantes de abdome. Por serem retroperitoneais, esses sangramentos são, em geral, tamponados naturalmente pelo organismo. Por esse motivo, os pacientes não apresentam franco choque hemorrágico nem líquido livre na cavidade peritoneal. Os hematomas retroperitoneais são divididos em três zonas. Zona 1: localizado na linha média, secundários a lesões da aorta e os seus principais ramos → graves → abordagem cirúrgica imediata. Zona 2: localização lateral, ao redor da loja renal. São lesões de vasos renais ou do parênquima renal. Se lesão penetrante → abordagem cirúrgica. Se trauma fechado → explorar apenas hematomas em expansão. Zona 3: porção inferior do abdome (região pélvica). Secundários a fraturas pélvicas ou lesão dos vasos ilíacos. A conduta não é cirúrgica → utilizar métodos alternativos como angioembolização ou packing (tamponamento pré-peritoneal com compressas). Síndrome compartimental abdominal e cirurgia de controle de danos (Damage control) A Síndrome Compartimental Abdominal (SCA) é uma complicação grave, secundária ao aumento exagerado da Pressão Intra-Abdominal (PIA) com consequentes disfunções orgânicas. SCA= PIA é > 20mmHg + disfunção orgânica. A PIA, em situações fisiológicas, não se mantém acima de 5-10 mmHg. Elevação acima de 12 mmHg já é considerada patológica, sendo denominada Hipertensão Intra-Abdominal (HIA). Etiologia ● Pós-operatório de hérnias volumosas com perda de domicílio. ● Trauma abdominal e pós-operatório de trauma abdominal. ● Complicações de abdome agudo inflamatório (em especial, pancreatite e diverticulite). ● Pós-operatório de cirurgias abdominais complexas. ● Transfusão maciça. ● Sepse. Principal causa: trauma contuso com hemorragia intra-abdominal (ocorre distensão importante e edema das alças secundário ao trauma e à grande infusão de volume). Natalia Quintino Dias Repercussões A pressão dentro do abdome aumenta; portanto, tudo que está lá dentro fica apertado (sob pressão). Se está apertado, não consegue funcionar direito, chegando menos sangue às alças (isquemia mesentérica), com menor perfusão renal (oligúria e IRA). A pressão intratorácica aumenta também, comprime os pulmões e impede uma ventilação adequada. Diagnóstico Através da mensuração da pressão intravesical, que deve ocorrer com instilação de 25 mL de solução salina estéril intravesical; o transdutor de pressão deve ser “zerado” no ponto de cruzamento da projeção da linha axilar média com a crista ilíaca. Tratamento Monitorização seriada da PIA + intervenções clínicas para o controle e redução da PIA + otimização da perfusão sistêmica e da função orgânica. → Descompressão cirúrgica imediata para PIA refratária às medidas clínicas. Cirurgia de controle da danos - DAMAGE CONTROL O paciente politraumatizado crítico apresenta um desarranjo metabólico importante, secundário a um ciclo vicioso composto por acidose metabólica, hipotermia e coagulopatia. Esse ciclo, se não cessado, levará o paciente à exaustão fisiológica e à morte. A cirurgia de controle de danos visa, portanto, controlar de maneira não definitiva as lesões do doente, antes que a tríade letal se instaure. → Consiste em abreviar a cirurgia e levar o paciente para a UTI com “abdome aberto” (curativo a vácuo, periteoneostomia ou bolsa de Bogotá) + tentar estabilizar o paciente e melhorar o estado clínico para então realizar o tratamento cirúrgico definitivo (em um segundo momento). ● Controle do sangramento (tamponamento hepático com compressas). ● Controle da contaminação da cavidade: sutura de orifícios ou ressecção de alças. Não reconstruir o trânsito ou realizar anastomose. Após 48-72h do paciente na UTI → novo procedimento cirúrgico (second look) para controle definitivo das lesões.