Prévia do material em texto
Maria Eduarda Strapazzon - UPF Clínica Cirúrgica dos Animais de Companhia HÉRNIAS Hernia (lat.) = tumor, aumento de volume. Paratobia, alteração ao lado da sua origem. ✓ “Protrusão de um órgão ou parte dele através de um defeito na parede da cavidade anatômica onde situa-se o órgão” (SLATTER, 2007) Podem ser congênitas (hereditárias) ou adquiridas (traumáticas/hormonais/anatômicos/metabólicos). Constituintes das hérnias (verdadeiras) 1.Saco herniário✓ Peritônio parietal (protrusão) 2.Anel herniário ✓ Delimitações da abertura (defeito na parede) 3.Conteúdo herniário✓ Tecidos ou órgãos Hérnias “falsas” Não possuem um dos constituintes Saco herniário ausente (maioria) Geralmente são traumáticas, como: Diafragmática, Hérnias ventrais, Eventrações e Hérnias incisionais. *eventração - alojamento de vísceras na cavidade abdominal através de um defeito que se aloja no subcutâneo, traumáticas *Hérnias incisionais - deiscências, decorrentes de procedimentos. CLASSIFICAÇÃO DAS HÉRNIAS Localização: Hérnias abdominais externas (possível a visualização) ✓ Ventrais e umbilicais ✓ Caudais - Inguinal, escrotal, femoral Hérnias abdominais internas - ocorrem através de um anel de tecido confinado ao abdome ou tórax ✓ Diafragmáticas Quanto à etiologia: Congênitas e hereditárias Cães com hérnias congênitas podem apresentar: ✓ Criptorquidismo ✓ Pectus excavatum (hérnias peritônio-pericárdicas) ✓ Trato urinário (persistência de úraco) Traumáticas Quadro clínico potencialmente grave (agudos ou crônicos) Quanto à redução: Redutível: Conteúdo herniário retorna à cavidade abdominal mediante pressão externa Irredutível (encarcerada): Conteúdo herniado está aderido ao saco herniado ou a um subcutâneo e não volta à cavidade. Quanto à viabilidade do conteúdo herniário: Estrangulada: Necrose tecidual, choque (normalmente o órgão não vai mais ter viabilidade) Não estrangulada: Após a retirada, o órgão continua com suas funções normais. FISIOPATOLOGIA HÉRNIAS ABDOMINAIS ✓ Efeitos de “ocupação de espaço”: Diafragmática: tamponamento cardíaco (↓ DC) - são defeitos na parede externa do abdome que permitem a protrusão do conteúdo abdominal; Obstrução intestinal e/ou urinária ✓ Alteração da função dos órgãos Aderências ✓ Encarceramento Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido base ✓ Estrangulamento Morte tecidual, ruptura de órgãos, toxemia, choque ✓ Óbito ETIOPATOGENIA, APRESENTAÇÃO CLÍNICA E TRATAMENTO DE HÉRNIAS ESPECÍFICAS HÉRNIA UMBILICAL Aumento de volume em região da cicatriz umbilical, pode ser redutível ou irredutível, encarcerada, estrangulada ou não. ✓ Etiopatogenia Maria Eduarda Strapazzon - UPF Pouca importância clínica - se for de tamanho pequeno. Geralmente congênito/hereditário Recorrente de: Onfaloflebites, traumatismos, comum em partos quando a mãe limpa a região umbilical e pode acabar rompendo parte dos vasos umbilicais e traumatizar as inserções do músculo reto abdominal. É comum nas hernias a presença de estrutura ou orgãos com pediculos longos, como o omento (quase sempre presente) e alça intestinal de intestino longo. Além do ligamento falciforme. Sinais Clínicos de uma hérnia umbilical não complicada. ✓Aumento de volume na região da cicatriz umbilical ✓Forma Globosa ✓Geralmente Redutível ✓Indolor ✓Macia ✓Palpação do anel após redução. Devem ser definidos: o tamanho do anel, que é a passagem, e o tamanho do paciente. Sinais Clínicos de uma hérnia umbilical complicada: ✓Aumento de volume dolorido ✓Região eritematosa, quente ✓Irredutível ✓Vômito, anorexia, sinais de choque séptico (hipertermia, hipotensão, taquicardia, taquipneia) *Quando o defeito for grande (2 a 3 dedos), as complicações sistêmicas a curto prazo serão menores, no entanto, tamanhos menores, sendo possível passar uma alça intestinal, são consideradas emergências, pois o bolo alimentar pode ficar encarcerado e isso gerar complicações maiores - sinais de choque séptico, sendo possível até causar uma peritonite. Diagnóstico: ✓ Clínico: Inspeção, palpação, Dor ✓ Radiografia e ultrassonografia ✓ Buscar outras alterações congênitas Diagnóstico diferencial: ✓Abscesso, onfalite/onfaloflebite - Histórico e Exame físico ✓Neoplasia - Sem anel, Irredutível e indolor, Faixa etária maior Tratamento cirúrgico em caninos e felinos: ✓ Herniorrafia ✓ Técnica para redutíveis ou irredutíveis ✓ Castração ✓ Cuidados pós-operatórios - OVH incisão em elipse em cada lado da hérnia, remover o excesso de pele, divulsionar o saco herniado, reavivar as bordas e suturar em celiorrafia com nylon ou polidioxanona. HÉRNIA INGUINAL Etiopatogenia ✓ Incidência: fêmeas (cadelas) ✓ Fatores predisponentes: Anatômicos, hormonais e metabólicos ✓ Conteúdo: Intestino delgado, Útero (histerocele), Bexiga urinária, omento. Fatores: No macho possui um cordão espermático no local - anatômica. Nas fêmeas, a cada ciclo estral, o estrógeno fragiliza as fibras colágenas da região e ao mesmo tempo há um aumento de volume sanguíneo no útero para preparação da copula, tudo isso dilata os aneis inguinais - hormonal. Em fêmeas com sobrepeso, há um aumento na pressão intra abdominal, associado a dilatação do anel inguinal no cio e o aumento do peso do útero - hormonal e metabólico. Sinais Clínicos: ✓ Aumento volume inguinal ✓ Sistêmicos : intestinos, bexiga, útero (são relativos, conforme o tamanho do anel inguinal, azotemia pós-renal) Diagnóstico: ✓ Inspeção ✓ Palpação (consistência e redução) ✓ Sinais de encarceramento (irredutível, cianótico, dor local) ✓ Sondagem vesical e RX - se estiver um tanto flacida, ao passar a sonda vai reduzir a hernia pelo esfaciamento da bexiga e após isso realiza a cirurgia, pois ao encher novamente vai ficcar irredutível. Diagnósticos diferenciais: ✓ Neoplasia mamária; ✓ Abscesso; ✓ Hematomas; Tratamento cirúrgico ✓ Herniorrafia Incisão em linha média divulsionando o subcutâneo, identificar o saco herniado, reduzir o conteúdo (empurrar para a cavidade abdominal) ou incisar o saco herniado aspecto craniomedial do anel para ampliá-lo, remova o saco e feche-o com pontos horizontais de colchoeiro em um padrão simples de sutura contínua ou um padrão de sutura invertida Cushing mais Lembert. Feche o anel inguinal com pontos simples separados. Nas fêmeas não pode ser fechado completamente o anel, pelo suprimento a mama inguinal ou sobre a hérnia. Maria Eduarda Strapazzon - UPF Evite comprometer os vasos pudendos externos e o nervo genitofemoral, que saem do aspecto caudomedial do anel (ou do cordão espermático em cães-machos inteiros). Palpe o anel contralateral e feche-o, se necessário, antes do fechamento da pele. HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL Associado a machos Direta ou indireta ✓ Direta (B): hérnia inguinal - Mais comum (fisiopatologia parecida com a inguinal, sem as influências hormonais, menos dilatação do anel inguinal e anatomicamente tem o cordão espermático que passa pelo canal inguinal) ✓ Indireta (A): hérnia escrotal - Conteúdo herniário dentro do processo vaginal (túnica vaginal), se aloja dentro do saco escrotal, junto com o testículo ✓ Rara ✓ Potencialmente grave (encarceramento e estrangulação de alças intestinais) Técnica: Orquiectomia tradicional, na sequência uma incisão em região inguinal, proximo ao anel inguinal, omento pode ser removido se necessário, fechamento parcial do anel inguinal (vasos epigástricos superficiais caudais) Grandes defeitos: pode ser feito o fechamento com flap musculares - tecidos biológicos. Pode ser usado o m. transverso do abdômen - flap de diafragma; e defeitos da parede abdominal com o m. grande dorsal. Pode ser usado também malhas/telas de polipropileno. Pode ser colocado o omento entre o músculo e as vísceras para não acontecer aderências. HÉRNIA PERINEAL Definição: Passagem de vísceras abdominais através do diafragma pélvico e acúmulo na região perineal Etiologia/Patogenia: Fragilidade do diafragma pélvico, que é formado pelos musculos: esfincter anal externo, elevador/obturador do anus, coccigeo lateral e obturador interno. São importantes para a manutenção dessa região. ✓Cães idosos, machosnão castrados ✓Pressão abdominal elevada ✓Prostatomegalia (hiperplasia benigna) isso causa diminuição do lúmen uretral e dificuldade para urinar e defecar. A hiperplasia produz relaxina que ajuda a fragilizar a musculatura do diafragma pélvico. Sinais Clínicos: Depende do conteúdo ✓Hérnia apenas aderida ou estrangulada ✓Bexiga: Disúria, Anúria + sinais de uremia, Retroflexão ✓Reto: Disquesia, constipação, tenesmo, Aquesia + sinais de toxemia Diagnóstico: ✓Resenha: Macho, idoso ✓Anamnese: Disquezia, disúria ou anúria ✓Palpação do saco herniário: Redutível? , Consistência flutuante (bexiga), Firme (próstata), reto desviado e deslocado para dentro da hérnia. Maria Eduarda Strapazzon - UPF Diagnóstico: ✓Toque retal - com lubrificante. ✓Desvio do reto e Aumento da Próstata ✓Sondagem uretral: Redução do aumento de volume = bexiga e reposicionar para cavidade. Pode tentar puncionar a bexiga, mas é arriscado, pois a parede da bexiga vai estar comprometida e causar uma perfuração, também pode ter uma alça intestinal entre a pele e a bexiga e pode ser “furada” e derramar conteúdo intestinal para dentro da cavidade. ✓Radiografia - cistografia de contraste positivo para identificar a bexiga, ultrassonografia - identificar a alteração prostática, tamanho de parede vesical. Enema constratado. Consequências: fecaloma, megacólon, adenocarcinoma prostático e abscesso prostático - outras alterações prostáticas. Diagnóstico diferencial: neoplasia, abscesso. Tratamento: ✓Conservativo: Aliviar constipação e disúria, Amolecedores fecais: metamucil, Alterações dietéticas: fibras, Enemas periódicos, Cateterização vesical, Tratar a causa primária, Prostatomegalia - Orquiectomia. Esse tratamento é menos usual. Tratamento Cirúrgico: Emergencial (alterações sistêmicas), Eletivo (sem alterações sistêmicas), Cuidados pré-operatórios: ✓Esvaziamento do reto: Enema c/ água morna ou flit enema, Sutura em bolsa de tabaco no ânus, Esvaziar Bexiga, Antibioticoterapia profilática, Posicionamento adequado, Mesa inclinada, decúbito esternal. Bolsa de tabaco. Técnica cirúrgica -Herniorrafia tradicional: aproximação entre os m. esfíncter, coccígeo e elevador lateral. incisão em elipse, sobre a hérnia. Divulsionar subcutâneo, hemostasia, e vão ser analisadas as estruturas herniadas. Se, eventualmente, se tratar de um adenocarcinoma ou neoplasia prostática, pode ser feita a prostatectomia pelo mesmo acesso. Se for uma hiperplasia benigna, ela será apenas reposicionada. ✓Transposição do músculo obturador Interno ✓1º: Aproximar esfíncter anal externo e elevador do anus (pontos separados simples) cuidar ligamento tuberoso e nervo ciático; ✓2º: Liberar o músculo obturador Interno (incisar o periósteo junto ao ísquio e elevar o músculo obturador interno) ✓3º: Suturar m. obturador no esfíncter anal ✓4º: Suturar m. obturador no coccígeo e elevador do anus ✓↓ tensão local ✓↓ desvio lateral do anus ✓↓ chances de recidivas + orquiectomia (mudando o paciente de decúbtio) Técnica alternativa ✓Transposição do músculo semitendinoso ✓Indicado para hérnia perineal bilateral complicada, recidivas, hérnias com doença retal de grau 2 e 3. recomendado que seja feito em 2 momentos. Técnica: celiotomia mediana, identificando o colon descendente, fazendo uma colopequicia. No lado direito, identificar os ductos deferentes, tracionar cranialmente e fazer uma deferentopexia - a bexiga não volta mais a herniar. Com isso, volta o fluxo urinário e fecal, reduz o edema com anti-inflamatório, e depois será realizada a redução da hérnia. *pode ser realizado cistopexia, porém a maior complicação são as cistites recorrentes. Redução da hernia: incisar e identificar o m.semitendinoso, desinserir, levar ele ventralmente ao assoalho pélvico e suturar junto a musculatura contralateral, pode ser feito nos dois lados. Outras técnicas: transposição do m. glúteo superficial ou malha de polipropileno Cuidados pós -operatórios: ✓Dieta especial com óleo mineral para o paciente defeque com mais tranquilidade ✓Dieta líquida por três dias ✓Dieta pastosa por 15 dias ✓Antibioticoterapia de amplo espectro ✓Analgésico: tramadol, meloxicam, durante a internação será metadona. ✓Limpeza criteriosa da ferida ✓Avaliação diária ✓ Vermelhidão, dor, inchaço, secreção Complicações: ✓Infecção e abscesso ✓Recorrência ✓Incontinência fecal Maria Eduarda Strapazzon - UPF ✓Sutura do lúmen anal (deve ser retirada) ✓Aprisionamento do ciático na sutura (só será identificado no dia seguinte com déficit proprioceptivo. Será realizado uma incisão caudo lateral ao trocanter maior, afastar o bíceps femoral, identificar o nervo isquiático, procurar a sutura e retirar) ✓Hemorragia HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA Passagem de vísceras da cavidade abdominal para o tórax através de um defeito no diafragma. Geralmente falta o saco herniado, sendo falsa. Etiopatogenia: ✓ Traumática (mais comuns, acontecem, principalmente em atropelamentos por não ter trancado a respiração no choque, o diafragma sofre com o aumento da pressão intra abdominal juntamente com o peso dos órgãos do abdome vão ao diafragma e lacera). ✓ Congênita = Hérnia Peritônio-pericárdica (pecus excavatus, hérnia umbilical grande) ✓ Conteúdo herniário ✓ Fígado ✓ Alças intestinais ✓ Baço, estômago, omento Sinais clínicos: ✓ Assintomático ✓ Dispneia, pneumotórax, “ansiedade” ✓ Borborigmos intestinais no tórax ✓ Tamponamento de sons pulmonares e cardíacos ✓ Variáveis, depende dos órgãos que estão herniados. ✓ Posição ortopneica, respiração abdominal. Hérnias rompidas proximo as costelas = cirscocostal Hérnias rompidas mais ao centro = radiais podem ser mistas. Hernias radias que ficam proximo ao forame da veia cava são difíceis de suturar pois muitas vezes não há tecido para fazer a sutura, sendo muito arriscado atingir a veia. Diagnóstico: ✓ Atenção: estabilizar o paciente antes mesmo de submetê-lo a exames complementares (ABC do trauma) ✓ Histórico, sinais clínicos, exame físico - mucosa pode estar cianótica. ✓ Radiografia: conteúdo abdominal no tórax ✓ US: perda da silhueta diafragmática ✓ Patologia clínica: ALT elevada (fígado como conteúdo herniário, crônico) posição latero-lateral, tentar não movimentar o paciente. Muitas vezes, após o paciente se movimentar pode entrar os órgãos para cavidade e isso não ser visto no primeiro exame. Tratamento • Estabilizar pacientes dispneicos - Fornecer O2 (12 a 24hrs melhora a taxa de sucesso) • Avaliar ECG (trauma, inflamação do miocárdio) • Membros torácicos elevados (paciente “em pé”) • Drenagem do derrame pleural e pneumotórax • Toracocentese: escalpe, seringa e torneira de 3 vias • Reparo cirúrgico • Herniorrafia diafragmática • Abordagem abdominal ou torácica Reparo cirúrgico: herniorrafia diafragmática por acesso intercostal ou celiotomia mediana pré-umbilical (mais usual) A mesa cirurgica fica posicionada “trem de newborg” para as vísceras direcionarem para baixo. Técnica: incisão em linha média, exploração da região, identificar o defeito, reposicionar as vísceras e suturar o diafragma na sua inserção, pode ser sutura contínua simples ou colchoeiro contínuo com fio absorvível sintético monofilamentar (PDS). Aproximação - diafragma suturado a costela próximo a região. *ao abrir a cavidade, toda pressão negativa vai ser perdida e o anestesista vai precisar ventilar o paciente. Lesões associadas ao trauma: contusão pulmonar, pode ocorrer até 72hrs após, nos 2 lobos é óbitos; Miocardite pós-traumática, pode ocorrer 72hrs após. Maria Eduarda Strapazzon - UPF Cuidados e avaliação pós-operatória: • Monitoração constante para evitar hipoventilação • Fornecer O2 • Avaliar ECG (trauma, inflamação do miocárdio) • Monitorar contra edema pulmonar de reexpansão (EPR) • Analgesia Complicações • Pneumotórax • Edema Pulmonar por Reexpansão • Efusão pleural Colocar um dreno toráxico. Referência Bibliográfica: FOSSUM, Theresa W. Cirurgia de Pequenos Animais. Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN 9788595157859. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595157859/. Acesso em: 10 out.2023. LACERDA, André. Técnicas Cirúrgicas em Pequenos Animais. Grupo GEN, 2018. E-book. ISBN 9788595151345. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151345/. Acesso em: 10 out. 2023. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595157859/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151345/ Maria Eduarda Strapazzon - UPF .