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Natalia Quintino Dias
Gestação gemelar
A presença simultânea, na mulher, de dois ou mais
conceptos no útero ou fora dele, constitui a
prenhez múltipla. Cada produto da prenhez
múltipla é um gêmeo.
Incidência
A gravidez gemelar tem uma incidência entre 1 a
3% das gestações, mas é responsável por 15% de
toda a prematuridade extrema (antes de 32
semanas) e 25% dos recém-nascidos que nascem
com peso abaixo de 1.500 g.
Apresenta um risco de óbito infantil no primeiro
ano sete vez maior que a gestação única.
Conceitos e classificação
Classificação da gravidez gemelar:
• Número de fetos: dupla, tripla, quádrupla;
• Número de ovos fertilizados: zigotia;
• Quantidade de placentas: corionia;
• Quantidade de cavidades amnióticas: amnionia.
As gestações dizigóticas resultam da fecundação
de mais de um óvulo, e os embriões apresentam
códigos genéticos diferentes.
As gestações monozigóticas resultam da divisão de
massa embrionária inicial única, e os embriões
resultantes apresentam código genético idêntico.
Aproximadamente dois terços das gestações
gemelares naturalmente concebidas são
dizigóticas, e um terço, monozigóticas.
Nas gestações dizigóticas, cada embrião
desenvolve seus próprios cório e âmnio, pois são
sempre dicoriônicas e diamnióticas.
As monozigóticas, por sua vez, têm corionicidade e
amnionicidade variáveis, conforme o momento em
que ocorre a divisão da massa embrionária.
Fatores de risco
Gêmeos dizigóticos (70 a 75 % das gestações
gemelares)
• Utilização de técnicas de reprodução assistida;
• Indução de ovulação;
• Aumento da idade materna;
• Multiparidade (1,5% em primigestas e 3% em
quartigestas);
• Maior incidência em mulheres negras quando
comparadas a caucasianas e asiáticas;
• Demora da passagem do ovo fecundado nas
trompas;
• Ocorrência de microtraumas no blastocisto
durante a manipulação realizada nos
procedimentos de reprodução assistida;
• Hereditariedade – principalmente lado materno;
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• Parada de utilização de anticoncepcional oral que
pode desencadear um aumento do FSH e levar a
superovulação.
Gêmeos monozigóticos
• Parece que não tem relação com
hereditariedade, etnia, idade ou paridade e tem
discreto aumento na fertilização in vitro.
Diagnóstico
O diagnóstico é realizado pelos dados clínicos e
principalmente pela ultrassonografia.
Anamnese
Na anamnese investigamos hereditariedade,
náuseas e vômitos precoces e intensos,
crescimento rápido e desproporcionado do útero.
Exame físico
No exame obstétrico podemos ter: edema dos
grandes lábios e da região suprapúbica (sinal de
Pinard), as estrias se tornam mais exuberantes, o
abdome torna-se mais globoso e as vezes podemos
identificar sulcos uterinos no fundo (sinal de
Herrgott) ou na face anterior mostrando a
separação dos fetos – sinal de Mauriceau. Na
palpação, podemos notar a presença de dois polos
cefálicos e na ausculta podemos escutar dois focos
separados por uma área de silêncio de cerca de 10
cm.
USG
A realização de ultrassonografia (USG) em
gestações gemelares tem como objetivo: datar a
gestação (determinar a idade gestacional correta);
determinar a corionicidade e a amniocidade, além
de rastrear aneuploidias e malformações fetais,
bem como diagnosticar as possíveis complicações
e discordância entre os fetos.
A corionicidade sempre pode ser determinada com
exatidão por meio de USG realizada precocemente.
A presença de monocorionicidade (única placenta)
sempre implica monozigoticidade; entretanto, as
gestações dicoriônicas (duas placentas) podem ter
origem monozigótica ou dizigótica. Nesses casos, o
diagnóstico pode ser feito somente quando há
discordância entre os sexos fetais ou pode ser
investigado por meio de estudos do DNA (gêmeos
com sexos diferentes são sempre dizigóticos e
dicoriônicos, enquanto gêmeos do mesmo sexo
podem ser tanto monozigóticos como dizigóticos).
As complicações fetais são mais frequentes nas
gestações monocoriônicas em comparação com as
dicoriônicas. Portanto, na prática, a determinação
da corionicidade, em vez da zigoticidade, é o fator
mais importante para a conduta prénatal e o
principal determinante do prognóstico gestacional.
Nas gestações monocoriônicas diamnióticas, a
partir da sexta semana, pode-se identificar mais de
um embrião (e, para cada um, uma vesícula
vitelina) no interior do mesmo saco gestacional, e
o âmnio se torna visível a partir da oitava semana.
No fim do primeiro trimestre, há a fusão das
membranas amnióticas adjacentes, originando um
septo fino entre as duas cavidades amnióticas que
se insere de maneira abrupta na placenta,
formando o sinal do “T”.
Nas gestações dicoriônicas diamnióticas, no US
inicial, visualizamos dois sacos gestacionais, cada
um com sua vesícula vitelínica e seu embrião, no
fim do primeiro trimestre, época do morfológico
do primeiro trimestre, não conseguimos mais
visualizar os sacos gestacionais separados, mas
podemos ver duas placentas ou se estiverem
próximas, avaliaremos que a membrana
interâmnica é mais grossa e forma o sinal do
lambda (pode desaparecer após 16ª sem).
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- Gestação monocoriônica e monoamniótica –
cavidade única;
A datação da idade gestacional deve ser realizada
em USG de primeiro trimestre e, mediante
discordância de tamanho entre fetos, deve-se
considerar a idade gestacional do maior deles, uma
discrepância de mais de 10% entre o tamanho dos
fetos (entre os CCN – comprimento cabeça
nádega) é um marcador de mau prognóstico tanto
em gestação dizigóticas quanto monozigótica.
Para idade superior a 14 semanas na primeira
ultrassonografia utilizamos a medida da maior
circunferência cefálica para datar a gestação.
- O crescimento fetal gemelar sofre alentecimento
a partir de 30 a 32 semanas de gestação, devendo
ser acompanhado por USG seriada;
- Os fetos podem apresentar desigualdade no
crescimento entre si. Há discordância de
crescimento na gestação gemelar quando há
diferença maior que 20 mm na circunferência
abdominal ou diferença acima de 20% no peso
estimado entre os gemelares. A discordância de
peso eleva a morbidade e mortalidade perinatal;
- O parto pode ter pior prognóstico em gêmeos
discordantes quando ocorre do primeiro ser o
maior e cefálico e o segundo menor seja em
qualquer apresentação ou ainda quando o
segundo gemelar menor cefálico tiver peso inferior
a 2500 g;
Complicações materno-fetais
A gemelaridade aumenta as chances de
complicações fetais, como óbito fetal,
malformações fetais, acidentes de cordão e
apresentação fetal anômala durante o trabalho de
parto.
Intercorrências exclusivas de gestações múltiplas:
síndrome da transfusão fetofetal e a discordância
entre os fetos.
A duração média da gestação gemelar é de cerca
de 36 semanas, para as gestações trigemelares é
de 32 semanas e para quadrigemelares de 31
semanas. Devido à alta frequência, a
prematuridade é o principal fator determinante
das elevadas taxas de morbidade e mortalidade
associadas a esse tipo de gestação. O prognóstico
dos recém-nascidos prematuros de gestações
múltiplas é similar ao observado em gestações
únicas da mesma idade gestacional.
A evidência científica atual ainda não demonstra
efetividade no uso de progesterona, pessário e
cerclagem uterina (exceto nos casos clássicos de
incompetência istmocervical), ainda que no colo
curto, para prevenção da prematuridade.
Em alguns casos, pode ocorrer a parada do
desenvolvimento de somente um dos embriões
(apenas realizado diagnóstico ultrassonográfico).
Quando a parada do desenvolvimento embrionário
ocorre durante o primeiro trimestre da gestação,
frequentemente há reabsorção completa dos
tecidos, e não são encontrados indícios no
momento do parto ou no exame histopatológico da
placenta(vanishing twin).
Quando a gestação gemelar é dicoriônica, a
principal complicação do óbito de um dos fetos é a
prematuridade, devido à liberação para o sangue
materno de produtos da placenta em reabsorção,
estimulando o trabalho de parto. O risco de morte
ou sequela para o feto remanescente é de 5 a 10%.
Entretanto, esse risco aumenta nas gestações
monocoriônicas (cerca de 10% vão a óbito e 10 a
30% têm sequelas neurológicas), devido a
episódios de hipotensão arterial do feto
remanescente (passagem de sangue do feto vivo
para o “sistema fetoplacentário” do feto morto).
A restrição de crescimento fetal, a admissão em
UTI neonatal e o diagnóstico de paralisia cerebral
aumentam sua incidência conforme aumenta o
número de fetos da gestação.
A gemelidade também está associada a elevada
morbidade materna aumentando em 6 vezes o
risco de internação por complicações como pré-
eclâmpsia, parto prematuro, rotura prematura das
membranas ovulares.
Complicações fetais
• Aumento da natimortalidade e mortalidade
neonatal;
• Aumento de prematuridade;
• Paralisia cerebral;
• Malformação fetal: cardíaca, defeito do tubo
neural, gastrintestinais e defeitos da parede
abdominal anterior (mais comum em
gestações monocoriônicas);
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• Abortamento;
• Ruptura prematura das membranas;
• Placenta prévia;
• Baixo peso ao nascer;
• Crescimento intrauterino restrito;
• Descolamento prematuro de placenta;
• Óbito fetal.
Complicações maternas
• Hiperêmese gravídica;
• Diabetes gestacional;
• Anemia;
• Hemorragia pós-parto;
• Cesárea;
• Depressão pós-parto;
• Aumento de três vezes de pré-eclâmpsia;
• Dispneia;
• Doença tromboembólica venosa;
• Aborto;
• Infecção urinária;
• Síndromes hipertensivas da gravidez;
• Colestase;
• Fígado gorduroso agudo da gravidez;
• Edema agudo de pulmão;
• Polidrâmnio.
Restrição de crescimento intrauterino seletivo
Pode acontecer em placentas monocoriônicas ou
dicoriônicas. Sua fisiopatologia encontra-se na
distribuição assimétrica da placenta, levando à
insuficiência placentária seletiva. Afeta 10 a 15% de
todas as gestações monocoriônicas.
O diagnóstico é feito pelo crescimento menor que
o percentil 10 em um feto. Geralmente, é
associada à discordância de peso/crescimento
fetal, e é documentado pelas seguintes variáveis:
• Diferença de circunferência abdominal acima de
20 cm entre os fetos;
• Diferença entre pesos dos fetos acima de 20%
(aumento do risco);
• Diferença entre pesos dos fetos acima de 25% –
associação com mortalidade fetal;
Causas:
• Aneuploidia;
• Anomalia congênita;
• Síndrome viral em único feto;
• Se monocorionicidade: compartilhamento
desigual da placenta;
• Infecções como citomegalovírus, rubéola,
toxoplasmose;
• Inserção velamentosa do cordão.
Rastreio:
- Monocoriônicos: USG a cada 2 semanas a partir
de 20 semanas de gestação.
- Dicoriônicos: USG a cada 4 semanas a partir de 24
semanas de gestação.
Acompanhamento: USG obstétrica com Doppler da
artéria umbilical. Na monocoriônica a cada 1
semana e na dicoriônica a cada 2 semanas.
Classificação
Tipo Critérios ultrassonográficos (Feto
restrito)
I Discordância de peso e Doppler
da umbilical normal
II Discordância de peso
Diástole Zero ou DR contínua na
artéria umbilical
III Discordância de peso
Padrão intermitente (DZ/DR) na
umbilical
Conduta:
I: conduta expectante (Doppler da artéria umbilical
semanal ou quinzenal).
• se alteração= parto;
• sem alteração= parto 34-36 semanas.
II ou III:
• < 26 semanas: considerar fetícidio;
• Entre 26-28 semanas: acompanhamento com
Doppler do ducto venoso central.
• >28 semanas: acompanhamento com Doppler
do ducto venoso diário.
Na ausência de Doppler: parto entre 32-34
semanas.
Complicações específicas das gestações
monocoriônicas: síndrome de transfusão fetofetal;
sequência de anemia-policitemia; gêmeo acárdico.
Síndrome de transfusão fetofetal
Acontece em cerca de 10 a 15% das gestações
monocoriônica.
O mecanismo primário da doença consiste na
transferência desigual de sangue entre as
circulações dos dois fetos por meio de
anastomoses vasculares placentárias do tipo
arteriovenosas profundas, que funcionam como se
fossem fístulas. Anastomoses arterioarteriais são
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protetoras, reduzindo o desequilíbrio
hemodinâmico e de líquido amniótico provocado
pelas anastomoses arteriovenosas. O diagnóstico,
então, da STFF requer um desequilíbrio dos fluidos
amnióticos.
Classificação
• STFF propriamente dita ou sequência
oligoidrâmnio-polidrâmnio do gemelar;
• STFF aguda perimortem;
• STFF aguda perinatal;
• Sequência de perfusão arterial reversa do
gemelar;
• Sequência anemia-policitemia (TAPS) do
gemelar.
Diagnóstico
O gêmeo-doador apresenta anemia e grave
restrição do crescimento fetal acompanhadas de
oligúria e oligoidrâmnio, enquanto o gêmeo-
receptor apresenta sobrecarga circulatória e
policitemia, o que pode levar ao desenvolvimento
de insuficiência cardíaca e hidropisia fetal. A
ocorrência de polidrâmnio no fetoreceptor leva ao
aumento da pressão intrauterina, o que pode
prejudicar ainda mais a circulação placentária. A
diferença de peso é normalmente encontrada mas
não faz parte do diagnóstico da síndrome.
Os casos graves, em que ocorre o desenvolvimento
de polidrâmnio agudo, manifestam-se entre 16 e
24 semanas de gestação. Quando não tratados,
esses casos estão associados a taxas de
mortalidade de 80 a 100%.
A morte de um dos fetos leva à ocorrência de
alterações hemodinâmicas que resultam em
hipovolemia acentuada do feto sobrevivente, com
alta morbidade (especialmente sequelas
neurológicas) e alta mortalidade.
O critério diagnóstico de transfusão fetofetal é a
discordância de líquido amniótico nas duas
cavidades amnióticas. Maior bolsão vertical acima
de 8 cm em um feto e menor que 2 cm no outro.
Achados ultrassonográficos
• Gestação gemelar com confirmação
ultrassonográfica da monocorionicidade durante o
primeiro trimestre da gestação. Nos casos sem
diagnóstico precoce da corionicidade, o exame
ultrassonográfico tardio deverá demonstrar
gestação gemelar com fetos do mesmo sexo,
massa placentária única e membrana
interamniótica fina;
• Achados ultrassonográficos precoces (11 a 13
semanas): translucência nucal maior que 2,5 mm
em um dos gêmeos, discordância acima de 0,5 mm
entre as transluscências nucais fetais e ducto
venoso zero/reverso;
• Os fetos não devem apresentar malformações
estruturais;
• Polidrâmnio na cavidade amniótica do feto
receptor, cuja bexiga urinária se apresenta
distendida;
• Oligoidrâmnio na cavidade do feto-doador, cuja
bexiga urinária muitas vezes não é identificável;
• O receptor, geralmente, tem biometria
compatível à idade gestacional e, nos casos graves,
pode apresentar sinais de comprometimento da
função cardíaca, além de hidropisia e alteração do
Doppler do ducto venoso;
• O doador apresenta, frequentemente, restrição
do crescimento fetal e alterações no Doppler das
artérias umbilicais, como aumento dos índices de
resistência e/ou diástole zero ou reversa.
Tratamento
Amniodrenagem: O polidrâmnio, quando
progressivo, leva ao desconforto materno e torna
o útero tenso à palpação. A remoção do excesso de
líquido amniótico por meio da amniocentese,
procedimento de fácil execução e que não requer
material especial, alivia o polidrâmnio associado à
síndrome de transfusão fetofetal e reduz o risco de
amniorrexis e trabalho de parto prematuro,
prolongando, dessa forma, a duração da gestação.
É frequente a formação repetitiva do polidrâmnio;
nesses casos, o procedimento pode ser repetido
(de uma a seis intervenções durante a gestação).
• Taxa de sobrevida (de pelo menos um feto)
após a amniodrenagem= 40%, dos dois fetos=
20%.
• Há chances de sequelas neurológicas (17-
33%).
Complicações: óbito fetal ou abortamento em até
48h após, além de rotura das membranas e
descolamento prematuro de placenta.
Cirurgia endoscópica intrauterina com laser: Essa
cirurgia se baseia no exame direto da superfície
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placentária, por meio de fetoscopia, para
identificação e coagulação com laser dos vasos que
cruzam o equador delimitado pela membrana
interamniótica e comunicam uma metade
funcional da placenta com a outra. Esse método
age especificamente na fisiopatologia da doença. É
um procedimento realizado em poucos centros de
referência, pois requer material especializado e
treinamento apropriado.
• Realizado entre 16-26 semanas.
• Em estágios avançados, a taxa de sobrevida de
apenas um feto após o tratamento é de 85%;
dos dois, é de 64%; a incidência de sequelas
neurológicas é de 4,2%.
Mesmas complicações da amniodrenagem, porém,
com maior morbidade materna por ser mais
invasivo.
Septostomia: A septostomia consiste na criação de
um orifício na membrana interamniótica
comunicando as duas cavidades amnióticas. É
realizada junto com a amniodrenagem,
empregando-se o mesmo material. A taxa de
sobrevida é de 40 a 83%, e o mecanismo de
atuação ocorre pelo efeito combinado do alívio do
polidrâmnio com o equilíbrio entre as pressões das
cavidades amnióticas. Essa técnica apresenta os
mesmos riscos descritos para a amniocentese e o
risco específico de entrelaçamento dos cordões,
uma vez que a gestação está sendo transformada
em monoamniótica e está cada vez mais em
desuso.
Fetícidio seletivo: O feticídio seletivo representa a
interrupção seletiva da vida de um dos gêmeos e
deve ser realizado por meio de técnica que evite o
comprometimento circulatório do gemelar
sobrevivente. É somente indicado aos casos em
que há sinais de morte intrauterina iminente de um
dos fetos ou condição não compatível com a vida
extrauterina.
• As técnicas empregadas incluem
clampeamento do cordão umbilical por
intermédio de fetoscopia e embolização
vascular guiada pela ultrassonografia.
Estadiamento – classificação de Quintero
Estágio Critérios ultrassonográficos
I Maior bolsão >8cm (< ou= 20
semanas)/>10cm (>20 semanas) no
receptor e <2cm no doador.
Doppler normal nos fetos
II Não visualização da bexiga do doador
Doppler é normal em ambos
III Diástole reversa ou ausente na artéria
umbilical, ducto venoso com onda
A reversa ou veia umbilical pulsátil em
qualquer feto
IV Sinais de hidropsia de um ou ambos
V Óbito de um ou ambos
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Todas as gestações devem ser acompanhadas com
ultrassonografia obstétrica com Doppler
semanalmente e acompanhar o pico de velocidade
sistólico da artéria cerebral média.
Sequência anemia-policitemia – sequência TAPS
A sequência anemia-policitemia é caracterizada
por anastomoses arteriovenosas mínimas
(menores que 1 mm) e unidirecionais sem
anastomose arterioarterial, que produzem
passagem desequilibrada de sangue de um gêmeo
para outro na placenta monocoriônica. Funciona
como uma síndrome de transfusão fetofetal de
menor magnitude. O feto-doador passa sangue
para o feto-receptor, em pequena quantidade,
permitindo a compensação hemodinâmica dos
fetos. Há policitemia (aumento do hematócrito)
em um feto (gêmeo-receptor) e anemia no outro
(gêmeo-doador).
Diagnóstico
O diagnóstico é feito pela avaliação da
monocorionicidade associada a feto-doador com
pico sistólico de velocidade da artéria cerebral
média acima de 1,5 MoM e feto receptor com pico
sistólico de velocidade da artéria cerebral média
abaixo de 1 MoM. Quanto maior a anemia fetal,
maior a velocidade do fluxo sanguíneo e
consequente aumento no pico sistólico de artéria
cerebral média.
Há 2 formas:
- Espontânea: ocorre em 3-6% dos casos,
geralmente diagnosticada no final do 2º ou 3º
trimestre; (ausência de hidropisia)
- Pós-tratamento com ablação a laser: ocorre em 2-
13% dos casos - geralmente na técnica de ablação
seletiva dos vasos placentários. (presença de
hidropisia)
Estágio de gravidade
• Estágio 1: VPS-ACM (pico de velocidade sistólica-
artéria cerebral média) maior que 1,5 MoM no
doador e menor que 1,0 MoM no receptor;
• Estágio 2: VPS-ACM maior que 1,7 MoM no
doador e menor que 0,8 MoM no receptor;
• Estágio 3: estágio 1 ou 2 associado a sinais de
comprometimento cardíaco: fluxo diastólico
ausente ou reverso na artéria umbilical, fluxo
pulsátil na veia umbilical, aumento do índice de
pulsatilidade ou fluxo reverso no ducto venoso;
• Estágio 4: hidropsia do doador;
• Estágio 5: morte de um ou ambos os fetos.
Tratamento
Estágios 1 e 2: conduta expectante com controle
de Doppler semanal.
A partir do estágio 3: pode-se optar pela ablação a
laser ou resolução da gravidez, mas a conduta a
seguir deve sempre ser avaliada de acordo com a
idade gestacional, disponibilidade de recurso e
fatores que influenciam a dificuldade da
intervenção, posição da placenta, líquido
amniótico, etc.
Gêmeo acárdico (sequência de perfusão arterial
reversa do gemelar) – sequência TRAP
Ocorre em cerca de 1% das gestações
monocoriônicas.
Por meio de anastomoses arterioarteriais, o gêmeo
acárdico recebe perfusão sanguínea retrógrada do
gêmeo-doador, o que permite o desenvolvimento
de tronco e membros do feto acárdico, em alguns
casos.
A TRAP deve ser suspeitada em gestações MC
quando um feto aparece anatomicamente normal
e o outro aparece como uma massa amorfa com
membros inferiores deformados, membros
superiores e cabeça rudimentares ou ausentes e
não possui estruturas cardíacas aparentes e/ou
atividade. O diagnóstico definitivo é feito quando o
fluxo pulsátil é visto na artéria umbilical indo para
o acárdico.
Os fetos acárdicos não sobrevivem após o
nascimento em virtude das múltiplas e graves
anormalidades. Sua perfusão sanguínea
intrauterina se mantém graças à presença de
anastomose arterioarterial com o outro feto. O
gêmeo normal (doador), atuando como bomba
para o feto anormal (acárdico), morre em 50 a 70%
das gestações, devido a insuficiência cardíaca
congestiva ou parto pré-termo decorrente de
polidrâmnio grave.
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Tratamento
O tratamento é realizado por meio da oclusão do
fluxo sanguíneo para o gêmeo acárdico, por
ligadura endoscópica, coagulação com laser do
cordão umbilical, ablação por radiofrequência ou
embolização dos vasos umbilicais dentro do
abdome do feto acárdico por intermédio da injeção
de álcool absoluto. Nos casos de gestação em fase
tardia (próximo à viabilidade do feto normal), o
tratamento consiste na realização do parto.
• Feto normal com alterações < de 16 semanas:
deve-se proceder à coagulação com laser dos
vasos umbilicais, na saída do abdome do
malformado;
• Feto normal com alterações > de 16 semanas:
ablação por radiofrequência.
Segundo a FEBRASGO (2019), o parto deve ser
realizado com 34 a 36 semanas, se gêmeo normal
estável.
As indicações de parto cesárea são: apresentação
não cefálica fletida; perfil biofísico fetal baixo no
feto-bomba; gestação monocoriônica-
monoamniótica ou outras recomendações
obstétricas.
-> expectante;
-> injeção de álcool absoluto no cordão umbilical
do feto acárdico;
-> fetoscopia com fotocoagulação a laser ou
cordoclusão do cordão umbilical do feto acárdico;
-> radiofrequência do feto acárdico.
Gêmeos coligados
A união dos gêmeos é um evento raro.
O diagnóstico ultrassonográfico é possível a partir
da identificação de gestação gemelar com massa
placentária única, falha na demonstração de
membrana interamniótica e fetos que não se
separam. Mais frequente em fetos do sexo
feminino do que masculino.
A união pode ser anterior (toracópagos {face
anterior do tórax}, onfalópagos {face anteriordo
abdome} ou tóraco-onfalópagos), posterior
(pigópagos – face posterior da pelve), dos polos
cefálicos (craniópagos) ou caudal (isquiópagos –
face anterior da pelve). O prognóstico depende do
local de união, dos órgãos envolvidos e da extensão
da união, além da presença de eventuais
malformações associadas.
Setenta por cento dos casos são toracópagos.
A ressonância magnética fetal pode ser útil para
definir de forma mais completa a anatomia
compartilhada e o planejamento cirúrgico antes do
parto.
Geralmente, o prognóstico é definido pela
possibilidade de correção de cardiopatias
frequentemente encontradas. É obrigatória a
ecocardiografia fetal no pré-natal.
50% dos casos são natimorto e um terço dos que
nascem vivos morrem no período neonatal.
Conduta: Parto cesárea logo após a confirmação da
maturidade pulmonar. Quando o prognóstico é
ruim, o parto pode ser por via vaginal e depende,
especialmente, das dimensões dos fetos. Nos casos
sem possibilidade de vida após o nascimento,
pode-se oferecer interrupção da gestação com
autorização judicial.
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Assistência ao parto
Dificuldades
• Prematuridade;
• Apresentações anômalas;
• Distocias funcionais;
• Prolapso funicular;
• DPP;
• Maior incidência de cesárea;
• Hemorragias do 3º e 4º períodos de parto;
• Anóxia perinatal;
• Tocotraumatismo;
Indução: controverso e apenas se ambos cefálicos;
Resolução da gestação: MC (36sem) e DC (38sem).
Admissão
Anamnese pormenorizada + apurado exame clínico
e obstétrico.
Avaliação com USG (Apresentação e peso fetal
estimado).
Análise da vitalidade fetal (monitorização
contínua).
Acesso venoso calibroso.
Pronta disponibilidade de sangue e
hemoderivados.
Integração das equipes médicas (obstetra,
anestesista, neonatologista) e de enfermagem.
Obstetra experiente.
Protocolo de via de parto de acordo com o
Ministério da Saúde:
• Cefálico/cefálico - parto vaginal (ou indicação
obstétrica);
• Cefálico/pélvico - se o 2º feto tiver peso
estimado:
■ Abaixo de 1.500 g = cesariana;
■ Acima de 1.500 g = parto vaginal (ou indicação
obstétrica).
• Cefálico/transverso - se o 2º feto tiver peso
estimado:
■ Abaixo de 1.500 g = cesariana;
■ Acima de 1.500 g = versão e extração.
Após o parto do primeiro, rompe-se a bolsa do
segundo e aguarda-se no máximo 30 minutos.