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HISTÓRIA DE ISRAEL AULA 4 Prof. Roberto Rohregger 2 CONVERSA INICIAL A história de Israel a partir do domínio babilônico é marcada por dominação estrangeira. Israel começava a se reestruturar, mas até o período moderno nunca mais ficaria longe do julgo de outra nação. Podemos perceber que as várias dominações estrangeiras acarretaram sérios riscos para Israel, principalmente pela influência cultural, que poderia ser negativa para a religião judaica. No chamado período inter-testamentário, Israel experimenta um período de soberania, posterior à revolta dos Macabeus, que se libertam do domínio grego – após a morte de Alexandre, o Grande, os gregos entraram em um período de declínio. Porém, essa liberdade acabou sendo resultado de uma aliança com uma nova potência do cenário mundial da época: Roma. Roma viria a ser o maior império que o mundo antigo conheceu. Seu desejo de expansão, como aconteceu com qualquer império, não iria poupar a região da Palestina. Quando Roma começou a perceber que na região eclodiam vários confrontos familiares por poder, decidiu interferir, invadindo e dominando a região, que passaria a ser administrada em parte por um interventor romano, de forma direta, e em parte por reis fantoches subordinados a Roma. A partir do domínio romano, teve início uma nova época para Israel, novamente sob domínio estrangeiro, durante a qual teve de se submeter a altas taxas de impostos, o que aprofundou a pobreza dos camponeses. Além disso, a insatisfação religiosa acabaria se acumulando e fomentando de revoltas. Esse período na história de Israel é caracterizado por muitas mudanças, tanto sociais quanto políticas e religiosas. 3 Figura 1 – Império de Alexandre TEMA 1 – PERÍODO INTER-TESTAMENTÁRIO O período entre a última parte do Antigo Testamento e a aparição de Cristo é conhecido como intertestamentário (ou seja, “entre os testamentos”). Nesse período, não há relatos de nenhuma palavra profética de Deus. Alguns o chamam de “400 anos de silêncio”. A atmosfera política, religiosa e social da Palestina mudou significantemente. Muito do que aconteceu nesses séculos influenciou a nação judaica e o judaísmo, apesar de não dispormos de muitas fontes históricas sobre os acontecimentos relacionados à nação judaica. Ainda assim, alguns livros descrevem o período, lançando luz a tais fatos históricos: As condições gerais desse período podem ser relembradas sabendo- se que houve quatro preódos distintos em que esses quatrocentos anos podem ser divididos: 1- O período persa, 430-322 a. C; 2 – o período grego, 321-167 a. C; 3 – o período da independência 167-63 a. C; e 4- o período romano, 63 a.C., até Jesus Cristo. (Champlin, 2001, p. 226) Sabemos que no século posterior à Neemias o império persa dominou a Judeia. Considerando a sua forma de administração, esse período foi relativamente tranquilo, uma vez que os persas permitiam que os judeus praticassem a sua religião livremente. O governo judeu era exercido pelos sacerdotes, que deviam contas para o governo persa, o qual, apesar de garantir 4 certa comodidade administrativa, acabou delegando uma função política/administrativa aos líderes religiosos, o que acabou marcando as questões políticas muito tempo depois do domínio persa. Apesar de a Judeia não ter enfrentado, diretamente, grandes conturbações no período persa, acabou envolvida pela disputa entre o Egito e a Pérsia. Nesse período, durante o reinado de Artaxerxes III, um grupo de judeus acabou se envolvendo em uma rebelião contra o governo persa, em razão da qual acabaram sendo deportados para a Babilônia. A época final do império persa estava próxima, e mais uma vez a Judeia iria mudar de mãos. Israel, que desde a sua fundação subsistiu entre impérios, teria que novamente se adaptar a novas formas de governo e novas influências políticas e religiosas. O povo de Israel, cudo lar se encontrava na pequena faixa de terra arável que une a Ásia e a África, durante séculos esteve familiarizado com a luta contra grandes potências que o cercavam – Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia. Como uma região costeira, por gerações Israel teve contatos culturais e comerciais com a Macedônia, a Grécia e outros países ocidentais, mas os impérios que até então haviam dominado sua vida foram todos poderes orientais, e Israel semper acho que isso era necessário para acomodar sua frágil existência à sua localização ente grandes poderes da Ásia e da África. Quando Alexandre, o jovem rei da Macedônia, em 333 a. C. se dirigiu para o leste com suas disciplinadas tropas, a fim de conquistar o império persa, o povo judeu na Palestina enfrentou uma nova realidade. Eles estavam na fronteira do grande conflito entre o Ocidente e o Oriente, e tiveram de decidir como viver como povo da aliança, conforme acreditavam que Deus os tinha chamado a ser. (Boring, 2015, p. 121) Esse novo período trouxe profundas consequências para o povo judeu, inclusive para a sua religiosidade. As influências do helenismo ficariam mais salientes durante o império grego. Além disso, é preciso entender, nesse contexto, que após o domínio babilônico, salvo um breve período posterior à revolta dos Macabeus, Israel nunca mais saberia o que é ter um governo autônomo e independente, situação que mudaria somente depois da Segunda Guerra Mundial, com a implantação do estado de Israel. TEMA 2 – O PERÍODO PERSA E GREGO Como já vimo, o controle do império persa entre 532-332 a. C. garantiu certa liberdade religiosa aos judeus, que tinham permissão para reconstruir e adorar no templo (2 Crônicas 36:22-23; Esdras 1:1-4). O Período Persa inclui os últimos 100 anos do Antigo Testamento e mais ou menos os primeiros 100 anos do período intertestamentário. Pouco tempo depois das reformas de Esdras e 5 Neemias, Artaxerxes I morreu, por volta de 424 a.C. Dario II foi o sucessor. Durante o seu reinado, estabeleceu seu controle sobre a Ásia Menor com pulso mais firme, apesar da ampla corrupção em seu governo. Nesse período, não sabemos ao certo o que fez a nação judaica. A gestão de Neemias como governador terminou em torno de 428; seu irmão Ananias foi o sucessor. É provável que Dário II tenha preservado a política de aceitação das práticas judaicas religiosa. Artaxerxes II foi sucessor de Dario II, momento e, que o império persa passou por uma fase extremamente difícil, estando a ponto de desmoronar. O Egito, sempre atento às mudanças e fragilidades dos impérios ao seu redor, logo conseguiu impor a sua independência, o que desestabilizou a região. Porém, Artaxerxes II conseguiu estabilizá-la novamente. Porém, apenas no reinado de Artaxerxes III (358-338) a Pérsia voltaria a restabelecer a sua força, pelo menos momentaneamente. No entanto, intrigas familiares por poder levaram ao desmoronamento do império persa. Em 336, sobe ao trono Dário III, momento em que a Pérsia já estava à beira da desintegração. Em paralelo, na Judeia a relação entre os judeus e os samaritanos piorava. Desde o retorno dos judeus da Babilônia, a convivência entre os dois grupos nunca foi amistosa, tendo se agravado por divergências teológicas, relativas à estrutura e interpretação dos livros sagrados. Além disso, a estrutura religiosa dos samaritanos antagonizava com a judaica. Eram encarados pelos judeus como uma seita. Particularmente a separação política enre Judá e Samaria, sob o domínio de Neemias, seguida da obra de Esdras, marcou um passo para a separação religiosa irreversível. Como sempre na longa história de Israel (...), a separação política e a religiosa marcharam lado a lado. Embora os samaritanos acetassem o Pentateuco como a lei de Moises, os judeus tradicionais do tipo de Neemias os consideravam como estrangeiros e inimigos ( o que muito frequentemente ele foram) e não os acolhiamna comunidade do templo. E como orgulhosos israelitas do Norte, os samaritanos dificilmente concordariam com a ideia classicamente expressa pelo Cronista, de que o verdadeiro Israel era o remanescente restaurado de Judá, nem podiam admitir qe o único lugar em que seu Deus poderia ser legitimamente adorado ficando além das fronteiras da província de Jerusalém. Tal situação deveria inevitavelmente levar mais cedo ou mais tarde, à separação religiosa. E assim aconteceu. (Bright, 1978, p. 557) A ascensão de Dario III coincidiu com a de Alexandre da Macedônia. Assim, em apenas cinco anos o império persa deixou de existir. Com o domínio de Alexandre, inicia-se a helenização do Oriente. O domino persa é suprimido 6 quando Alexandre o Grande derrotou Dário da Pérsia, fato que marca o início do reinado grego no mundo. Em 313, ele [Alexandre] marchou para o leste através da Mesopotâmia. Dario fez sua parada final após ter atravessado as montanhas iranianas em Gaugamela, perto de Arbela, quando seu exército foi reduzido a pedaços e dispensado. Então Alexandre entrou triunfalmente na Babilônia, em Susa e em Presépolis. Ao tentar fugir, Dario foi agarrado po um de seus sátrapas e assassinado. Tendo-se acabado a oposição ativa, Alexandre marchou para as fronteiras orientais mais longínquas do império onde (327/6) fez campanhas além do Indo e (segundo a lenda) chorou por não haver mais mudos para conquistar (na realidade seus soldados se recusavam a ir mais longe). (Bright, 1978, p. 563) Figura 2 – Império conquistado por Alexandre, o Grande (323 a.C.) Crédito: João Miguel. Alexandre permitiu liberdade religiosa aos judeus, apesar de promover intensamente o estilo de vida grego. Em apenas 10 anos, Alexandre conduziu seus exércitos pela Grécia, Ásia Menor, ao longo da costa mediterrânea, pela Palestina e Egito, depois para o leste até a Pérsia, chegando à fronteira com a Índia. Para Alexandre, tais conquistas não eram apenas militares, necessárias à expansão de um império; ele via a si mesmo como um ocidental esclarecido que levava a civilização grega para os “bárbaros” (Boring, 2015, p. 121). Alexandre conquistou a Palestina em cerca de 332 a. C. poupou a cidade de Jerusalém e disseminou a língua e a cultura gregas por toda a parte. Marchas forçadas e bebidas imoderadas arrebataram-lhe a 7 vida quando contava apenas trina e três anos de idade, estando na Babilônia, no ano de 323 a. C. Quando do seu falecimento morreu também a ideia de um governo universal(...). O império foi repartido entre os quatro generais de Alexandre. As duas porções orientais ficaram com generais separados – a Síria ficou com Seleuco, e o Egito com Ptolomeu. Desta maneira vieram à existência os ptlomeus, (reis gregos do Egito) e os Selêucidas (reis gregos da Síriea). (Champlin, 2001, p. 226) A influência da cultura grega disseminada por Alexandre sobreviveu ao seu império, através de seu idioma, religião, hábitos e filosofia. A Influência grega, de forma geral, se estabeleceu a partir de quatro pontos: • Extensão e longevidade da cultura. • Influência direta no comércio e na cultura em toda a extensão do império. • Liberdade do pensamento grego nas áreas de filosofia, arquitetura, divindades, e religião e atletismo. As Universidades de Alexandria e Tarso, como em outros lugares, eram centros de divulgação do pensamento grego. • Idioma grego como linguagem universal. Essa influência foi sentida de forma bastante significativa no ambiente judaico, provocando crises nos períodos posteriores ao domínio grego, principalmente com a divisão do império de Alexandre depois de sua morte. TEMA 3 –PERÍODO EGÍPCIO (PTOLOMEU) E SÍRIO (SELÊUCIDAS) O império conquistado e consolidado por Alexandre compreendia a Grécia, o Egito e todo o Oriente próximo, mas foi desmantelado com a sua morte. Como ele não deixou sucessor, o império foi divido entre quatro de seus principais generais. Ao general Ptolomeu coube o Egito, e assim teve início a dinastia ptolemaica. A região da Síria, que abrangia Israel, ficou sob domínio de outro general, Seleuco, dando início à dinastia dos Selêucidas. Essa divisão desconfigurou o império, e ambos tornaram-se inimigos, pois desejavam dominar a região. Essa disputa trouxe consequências terríveis para os judeus, que agora se encontram, novamente, no meio de uma disputa pela expansão de governos opostos. Os sucessores de Alexandre, morto na Babilônia em 323 a.C., mantiveram as políticas estabelecidas. A Judeia, um corredor estratégico, servia 8 como importante área de segurança, e por conta disso alternou constantemente entre o domínio dos selêucidas sírios ao norte e dos ptolomeus egípcios ao sul (cf. Dn. 11, 5-9). Porém, as várias guerras, com intrigas políticas e movimentos poderosos de ambos os lados, não influenciaram a helenização da Palestina, uma vez que selêucidas e ptolomeus faziam parte do antigo império grego, estabelecido por Alexandre. Com apoio das aristocracias locais, a cultura helênica continuava a se impor (Boring, 2015, p. 123). O primeiro conquistador foi chamado de Ptolomeu Soter, isto é, Salvador, tendo sido o primeiro da dinastia. Por mais que os reis selêucidas nunca estivessem de acordo com a divisão do Império conquistado por Alexandre, não se encontravam em condições de realizar qualquer ação contra a situação daquele momento, apesar de diversas tentativas durante o período. Porém, em 198 a.C., Antíoco, o Grande, reconquistou a Palestina, e assim a região voltou ao poder dos selêucidas. A administração do selêucidas foi em geral nociva para os judeus Em alguns casos, houve sangrenta perseguição. Por essa época, a Palestina foi dividida em cinco províncias: Judeia, Samaria, Galileia, Pereia e Traconites. Tanto Antíoco III, o Grande, como seu sucessor, Seleuco Filopatro, foram muito cruéis. Com a ascensão de Antíoco IV Epifânio (175-164 a.C.), um reinado de terror sobreveio sobre os judeus. Antíoco Epifânio tinha a clara intensão de exterminar todos os judeus, com ataques frequentes contra a religião judaica, inclusive com a tentativa de destruição de todos os manuscritos das Escrituras. No ano de 168 a.C., Antíoco Epifânio profanou o templo de Jerusalém, apresentando uma porca como sacrifício sobre o altar, que estava usando para cultuar Zeus. Esses abusos fomentaram um clima de profunda insatisfação nos judeus, até que grupos articulados se levantaram em rebelião, tendo como principal liderança a família dos Macabeus, movimento que resultou em um período, ainda que curto, de independência dos israelitas (Champlin, 2001, p. 226). TEMA 4 – PERÍODO MACABEU A proibição, em 167 a.C., da prática do judaísmo, por um decreto de Antíoco IV, e a introdução do culto do Zeus, no Templo de Jerusalém, desencadearam a revolta judaica. A rebelião teve início na cidade de Modin, sob 9 liderança de Matatias, homem de linhagem sacerdotal que tinha cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas. Matatias recou-se a realizar o sacrifício ao deus pagão. Quando outro judeu se ofereceu para cumprir o ordenamento real, Matatias o impediu e o degolou sobre o altar, junto com o emissário do rei. Matatias inflamou todos que eram zelosos com a lei e a aliança de Deus a segui- lo. Reuniu um grupo de homens, com a sua família, e fugiu para as montanhas, juntando-se com outros judeus que estavam fugindo da perseguição de Antíoco. A partir das montanhas, começam a realizar incursões contra as tropas selêucidas e contra judeus que apoiavam o regime. Em torno de 166 a.C., Matatias, já idoso, faleceu, e assim a liderança passou para o seu terceiro filho, Judas Macabeu. Sob a sua liderança, a resistência judaica aumentou, tornando- se uma luta pela independência. Pouco tempo depois, o templo foi purificado e dedicado novamente ao culto a Deus (Bright, 1978, p. 581).Para enfrentar o poder selêucida, Judas enviou um mensageiro para Roma, para negociar um tratado capaz de assegurar apoio romano contra os selêucidas, para que as forças inimigas recuassem. A revolta acabou sendo bem sucedida. Seus descendentes passaram a ser chamados de asmonianos, e tornaram-se governantes do país. Os Macabeus eram sacerdotes rurais que conseguiram o apoio dos habitantes rurais contra os sacerdotes urbanos. Quando chegaram ao poder, eles expulsaram ou assassinaram muitos da “velha guarda”, substituindo-os or pessoas como eles mesmos. Jonatan, embora não fosse da linhagem zadoquita, tornou-se sumo sacerdote em 153 a. C., e foi reconhecido como líder do povo judeu pela corte selêucida. Depois de sua morte, o sumo sacerdote passou a seu irmão Simão. Sob sua liderança, o senado romano reconheceu a independência da Judeia em 139 a.C [...]. Os asmonianos, que começaram como campeões do “patriotismo e da religião” da Judeia rural, acabaram se estabelecendo como a nova aristocracia, reis subalternos em grande estilo helenístico, com exércitos de mercenários contratados. Eles anexaram o território vizinho ao judaico quando foram capazes de fazê- lo, sempre com o apoio e sob os olhos atentos de Roma. (Boring, 2015, p. 127) Apesar da vitória dos Macabeus, a disnatia hasmoniana conseguiu obter uma relativa independência. Porém, agora estavam sob os olhares vigilantes de um novo império, o romano, que exercia certo controle sobre a nação judaica. A aliança com Roma, necessária no momento da revolta, veria a se tornar um problema a médio e longo prazo. Vejamos a seguir a cronologia dos principais líderes hasmoneus. 10 Quadro 1 – Líderes hasmoneus: cronologia Liderança Período Principais fatos. Judas Macabeu 164-160 a.C. Lidera a sua família e os rebeldes contra o Império Selêucida. Jônatas Macabeu 160-143 a.C. Governou como sumo sacerdote. Simão Macabeu 142-134 a.C. Governou como sumo sacerdote. João Hircano I 134-104 a.C. Aristóbulo I 104-103 a.C. Alexandre Janeu 103-76 a.C. Primeiro Hasmoneu a tomar o título de rei, além de sumo sacerdote. Salomé Alexandra 76-66 a.C. Aristóbulo II 66-63 a.C. Deposto pelos romanos. Seu irmão, João Hircano II, foi feito sumo sacerdote em seu lugar. João Hircano II 63-40 a.C. Colocado no governo como sumo sacerdote pelos romanos. Antígono 40-37 a.C. Deposto pelos romanos, foi eleito Herodes, o Grande como rei da Judeia. A relativa independência judaica foi curta. Podemos dizer que durou desde o início da revolta, em 164 a. C, a 67 a.C., quando os romanos assumem de forma direta o governo da região da Palestina. TEMA 5 – PERÍODO ROMANO Roma constituiu-se como um dos maiores impérios já vistos pela humanidade, conquistando uma parte significativa do mundo conhecido de sua época. Geograficamente, Roma está na região do Lácio, no centro da Península 11 Itálica, próxima ao rio Tibre. A cidade provavelmente se formou em torno de segundo milénio a.C., decorrente de migrações de tribos indo-europeias. O período dos reis durou entre 750 a 509 a.C. No século IV a.C., inicia o período da república, cujas lideranças visavam solucionar problemas relativos às lutas internas da nobreza. A cidade de Roma, nesse momento, já era extensa e populosa, e o império romano se expandia, com a conquista de territórios cada vez mais distantes. Veja no mapa a extensão do império romano, que chegou em seu ápice até a região da Britânia. Foi um dos maiores impérios da antiguidade. A história de Roma com a Palestina e o povo judeu se inicia de forma mais direta a partir do ano 63 a.C., e vai se estender até meados do século II d. C. A intervenção romana na Palestina começou como uma disputa interna entre Aristobolo II e seu irmão, João Hircano II. Figura 3 – Império Romano Crédito: João Miguel. O período de independência dos judeus finaliza com a ascensão de Aristobolo II ao trono, época em que seu irmão João Hircano II começa uma revolta civil. Esse é o pretexto necessário para a invasão romana. A intervenção 12 foi conduzida pelo General Pompeu, no ano de 63 a. C, com o pretexto de pacificar a região. Por cima dessa rivalidade provincial dos irmãos pairava a sombra do avanço de Pompeu e do poder de Roma através da Síria. Os dois irmãos pediram que Pompeu apoiasse seu lado e um grupo de judeus (provavelmente fariseus) insistiram com Pompeu para que desse fim à dinastia. Em 63 a.C., Pompeu impôs o controle romano sobre a Judeia, acabou com a dinastia de asmoneus e levou Aristóbulo II para Roma como prisioneiro, deixando o irmão mais fraco, Hircano II como sumo sacerdote vassalo em Jerusalém. (Dockery, 2001, p. 548) Pompeu estabelece Hircano II como sumo sacerdote, porém pouco tempo depois lhe retira o título, transformando a Judeia em um reino subordinado a um procurador romano. Em 37 a.C., o imperador Marco Antônio entregou o trono da Judeia a Herodes, o Grande, que era um príncipe idumeu, filho do procurador romano Antipater. Herodes, para legitimar o trono, casa-se com Mariana, a única filha e herdeira do sumo sacerdote Hasmoneu Antigono, filho de Aristóbulo II. A administração romana legava aos judeus certa autonomia. Dessa forma, Herodes Antipas, na região norte, dispunha de alguma independência para suas ações; ao sul, sob administração direta de um governador romano, não poderia se intrometer em questões internas dos judeus. Porém, as ocorrências de intervenções era frequente, o que criava conflitos entre os judeus e a administração de Roma, muitas vezes acarretando rebeliões (Mateos; Camacho, 1992, p. 10). O domínio romano na Palestina não foi totalmente tranquilo. Afinal, muitos judeus não se conformavam de estar novamente sob domínio estrangeiro. Grupos de revoltosos agiam, ainda que de forma modesta, contra pequenas tropas romanas. Porém, a partir do ano 66 d. C., eclodiram revoltas significativas, entre elas a que provocou a destruição do templo no ano 70 d. C. O principal objetivo de Herodes, durante a sua administração, sempre acordado com Roma, era manter a paz no território e servir como um estado- tampão contra inimigos. A região também pagava pesados tributos anualmente. Além disso, nem Roma, tampouco Herodes consideravam o povo judeu como uma entidade política. As tratativas políticas aconteciam apenas entre Roma e Herodes. Roma considerava as terras em seu domínio como pertencentes ao imperador, que as arrendava ao “rei cliente” com a condição de pagamento de tributos. Assim, Herodes tinha que arrecadar os valores necessários para arcar com tais custos. Por conta disso, impunha impostos exorbitantes às diversas 13 classes sociais, tanto ricos quanto pobres. As taxas ficavam em torno de 30 a 40 por cento, além dos dízimos e das demais taxas religiosas. Para manter essa estrutura, era preciso manter uma economia estável, em pleno funcionamento. Daí a importância de se manter a paz, pois qualquer movimento de revolta poderia, além de prejudicar a economia, levar a uma ação interventiva por parte de Roma. Para garantir o progresso econômico, Herodes realocou camponeses que haviam perdido as suas terras, o que contribuiu que se tornassem fazendeiros produtivos, que pudessem pagar taxas ao governo de forma efetiva. Herodes ainda contribuiu com a reconstrução e a fundação de cidades, tornando- as prósperas. De forma eficiente, seus projetos de construção mantinham empregos e promoviam o desenvolvimento de trabalhadores mais qualificados. Apesar de Herodes não agradar as correntes mais religiosas, no final de seu governo, a condição financeira e econômica do povo era, de modo geral, melhor do que quando iniciou o seu governo. Vejamos a seguir a divisão da terra de Israel no império romano durante o tempo do Novo Testamento. Figura 4 – Israel (Novo Testamento) Crédito:João Miguel. 14 Herodes morreu no ano 4 d.C. Sua morte deu início a uma disputa feroz entre seus filhos. Roma negou o título de rei aos filhos de Herodes, e assim acabou dividindo a terra entre eles. Dessa forma, Felipe foi apontado como governador do território norte. Herodes Antipas, o conhecido Rei Herodes dos Evangelhos, tornou-se governador da Galileia e da Pereia. Uma nova época se iniciava para os judeus, com grandes transformações sociais, econômicas e religiosas. Apesar do crescimento econômico iniciado por Herodes, grande parte da população rural era muito pobre, e muitos ficavam nas mãos de grandes proprietários de terras, que as arrendavam cobrando pesadas taxas. Essa situação, aliada ao descontentamento político/religioso por conta do domínio estrangeiro, não iria se sustentar por muito tempo. NA PRÁTICA Israel recebeu influências de todas as nações às quais teve de se submeter. Tais influências sempre entraram em choque com a visão religiosa de Israel, seu vínculo com Deus, sua tradição espiritual, que são os fundamentos que sustentam a nação. Se Israel perdesse a sua essência religiosa, perderia o seu principal elemento de ligação com o povo. Afinal, a sua fé é também a sua herança cultural, isto é, fé e cultura estão profundamente ligadas em Israel. Em todos os momentos em que o domínio estrangeiro tentou interferir no sistema religioso de Israel, a reação foi imediata. Mesmos nos momentos em que estava no exílio, e depois durante o período de ocupação sírio e grego, Israel não permitiu que suas instituições religiosas fossem desmanteladas. FINALIZANDO Como vimos, Israel passou pelo domínio de várias nações, recebendo diferentes influências culturais, filosóficas e inclusive religiosas. Durante o período persa e grego, a cultura helênica se expandiu e influenciou de forma significativa uma parte da sociedade judaica, absorvendo hábitos e muitos preceitos filosóficos. O domínio posterior alternou entre os ptolomeus e os selêucidas, acarretando grande opressão para Israel, a ponto de quase desestabilizar o seu sistema religioso. Como vimos, foi do sistema religioso que surgiu a resistência, a partir da revolta dos Macabeus, incitados principalmente pela forma como a religião judaica estava sendo destruída. Surge então a 15 dinastia hasmoneana, iniciada por Simão Macabeu, que tinha como objetivo tornar a terra de Israel livre da opressão. Séculos mais tarde, também foi fonte de opressão e de disputas internas pelo trono. Esse período ficou marcado pela aliança com Roma, que percebe a instabilidade da região e resolve tomar diretamente o controle da Palestina, iniciando o período romano de domínio de Israel. Novamente, Israel fica sob domínio de outra nação, com sérias consequências para o seu futuro. 16 REFERÊNCIAS BORING, M. E. Introdução Ao Novo Testamento: História, Literatura e Teologia. São Paulo: Paulus, 2015. BRIGHT, J. História De Israel. São Paulo: Paulus, 1978. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São Paulo: Hagnos, 2001. v. 5. DOCKERY, D. S. Manual Bíblico Vida Nova. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2001. MATEOS, J.; CAMACHO, F. Jesus e a Sociedade De Seu Tempo. São Paulo: Paulus, 1992.