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Prof. Me. Laís Caroline Poleto ORTODONTIA E ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP P765o Poleto, Laís Caroline Ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares / Laís Caroline Poleto. Paranavaí: EduFatecie, 2023. 101 p. : il. Color. 1. Ortodontia. 2. Maxilares. 3. Articulação temporomandibular. I. Centro Universitário UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 617.643 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 ● Mestre em Odontologia Integrada (Universidade Estadual de Maringá); ● Especialista em Ortodontia e Ortopedia dos Maxilares (Universidade Cruzeiro do Sul - Integrale); ● Bacharel em Odontologia (Universidade Estadual de Londrina). Durante a graduação desenvolveu projetos de pesquisa na área de Medicina Oral e Odontologia Infantil, com programas extensionistas na área de Odontologia Preventiva e Social. Atualmente realiza pesquisas na área de desenvolvimento da Ortodontia e da Ortopedia dos Maxilares. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4302195334926171 AUTOR http://lattes.cnpq.br/4302195334926171 4 Olá, aluno (a)! Seja bem-vindo (a) a disciplina de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Essa disciplina será de extrema importância para sua formação pois a Fonoau- diologia e a Ortodontia são grandes aliados e se completam em várias propostas terapêuticas. Dentro da Motricidade Oral, você, como futuro fonoaudiólogo, deverá visar a prevenção, habilitação ou reabilitação das funções estomatognáticas (que são elas: mas- tigação, respiração, deglutição e sucção), visando o equilíbrio miofuncional. Sendo assim, possuindo a mesma área de atuação, ou seja, o sistema estomatognático, ortodontistas e fonoaudiólogos devem trabalhar em conjunto. Para que esse tratamento multiprofissional seja possível, as habilidades necessárias devem ser desenvolvidas desde a vida acadêmica. Assim, nossa disciplina irá apresentar um conteúdo introdutório e essencial para fonoaudiólogos. O objetivo é facilitar a comunicação entre os profissionais, buscando sempre um tratamento integrado da saúde do nosso paciente. Para isso, as unidades estão organizadas de acordo com uma sequência lógica dentro da disciplina, iniciando com a unidade I em que vamos conhecer os conceitos básicos de crescimento e desenvolvimento craniofacial, a evolução das dentições e a classificação das maloclusões, bem como suas etiologias. Uma vez fundamentados esses conceitos, na unidade II iniciam-se os ensinamen- tos sobre a análise da dentição mista, os conhecimentos básicos para análise cefalométrica, a biologia do movimento dentário, além do tratamento ortodôntico preventivo, interceptativo e corretivo. Neste último tópico, abordarei dentro do tratamento ortodôntico preventivo sobre a manutenção de espaço nas arcadas dentárias; no tratamento interceptativo sobre a mordida cruzada e a mordida aberta de origem dentária; e, por fim, abordarei um pouco sobre o tratamento ortodôntico corretivo. Na sequência, na unidade III falarei a respeito da articulação temporomandibular (ATM). Essa é uma unidade de muita importância para nossa disciplina já que ATM é res- ponsável por todos os movimentos que fazemos com a mandíbula, isso inclui a mastigação e a fala. Seu funcionamento ocorre graças à ação conjunta da musculatura da face, bem como do disco articular responsável pelo suave deslizamento da extremidade do osso da mandíbula, na fossa articular do osso temporal. Como o aparelho fonador é incluso neste processo, a fonoaudiologia precisa fazer parte do tratamento para manter o universo bucal do paciente em constante harmonia. Por fim, em nossa unidade IV, vou finalizar o conteúdo dessa disciplina discutindo sobre as etiologias e possibilidades de tratamentos relacionados às alterações miofuncionais. Será um prazer compartilhar todo conhecimento com vocês, e espero que todo o conteúdo contribua para o seu crescimento profissional. Muito obrigada e bom estudo! APRESENTAÇÃO DO MATERIAL SUMÁRIO UNIDADE 1 Introdução Teórica UNIDADE 2 Diagnóstico e Tratamento Ortodôntico UNIDADE 3 Articulação Temporomandibular UNIDADE 4 Etiologias e Tratamentos Relacionados às Alterações Miofuncionais 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Crescimento e desenvolvimento craniofacial; • Evolução das dentições; • Más oclusões dentárias: classificação e etiologia. Objetivos da Aprendizagem • Entender sobre o crescimento e desenvolvimento craniofacial;• Compreender a evolução das dentições: dentição decídua, dentadu- ra mista e dentição permanente; • Apreender a classificação e a etiologia das más oclusões dentárias. 1UNIDADEUNIDADEINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOTEÓRICATEÓRICAProfessora Mestra Laís Caroline Poleto INTRODUÇÃO Olá, aluno (a), tudo bem? A partir daqui daremos início a unidade I da nossa discipli- na de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Acredito que, assim como eu, você deve estar com muitas expectativas para iniciar essa trilha de aprendizagem. Portanto, procure um lugar confortável e se acomode, porque vamos realizar a introdução teórica da disciplina a partir de agora. A nossa primeira unidade é uma introdução dos principais conceitos da Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Como já dito anteriormente, essa é uma etapa muito importante para facilitar a comunicação entre os profissionais, buscando sempre um trata- mento interdisciplinar do nosso paciente. A interdisciplinaridade é o campo no qual atuam uma ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento, porém, o trabalho interdisciplinar não exige apenas a coincidência de um mesmo objeto de estudo entre duas disciplinas. A interdisciplinaridade exige integração de conteúdos e procedimentos, com vistas à formulação de um saber complementar desse ob- jeto de estudo. Nesse sentido, um trabalho interdisciplinar entre Fonoaudiologia e Ortodontia prescinde de comunicação entre os profissionais envolvidos, a fim de possibilitar padroni- zação dos registros e contemplar os objetivos terapêuticos no atendimento aos pacientes. Iniciaremos com as definições e conceitos de crescimento e desenvolvimento craniofacial. Neste tópico serão abordados os tipos de ossificação, os mecanismos de crescimento ósseo, o crescimento da maxila e mandíbula, bem como o crescimento dos arcos dentários. Dando continuidade, explicarei sobre a evolução das dentições. Aqui abordarei a dentição decídua, dentadura mista, dentição permanente e sobre como seria uma oclusão normal ou uma oclusão normal funcional. Por fim, teremos um tópico sobre más oclusões dentárias, no qual iremos estudar as classificações e a etiologia de cada uma delas. Vamos começar? Então bons estudos! UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Entender sobre o crescimento e desenvolvimento craniofacial é fundamental para um diagnóstico, planejamento e tratamento da etiologia do nosso paciente. Um crescimento e desenvolvimento craniofacial normal é essencial para uma har- monia estética e funcional da face. Definições Enquanto crescimento é uma alteração em magnitude e/ou proporção (mudança quantitativa), desenvolvimento é um amadurecimento, englobando a diferenciação celular e tecidual (mudança quantitativa e qualitativa). O crescimento e desenvolvimento vão acontecendo gradual e harmonicamente até a fase adulta. 1.1 Crescimento Ósseo Apesar de sua dureza, o osso é um dos tecidos orgânicos mais plásticos e maleá- veis. Originário do tecido conjuntivo, até seu amadurecimento pode passar por um modelo membranoso ou cartilaginoso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO CRANIOFACIALTÓPICO UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 8 1.1.1 Tipos de Ossificação Ossificação Intramembranosa: Ocorre pela condensação do tecido conjuntivo mem- branoso, na qual células mesenquimatosas diferenciam-se em osteoblastos e produzem uma substância óssea extracelular (matriz osteóide). Essa matriz se calcifica e tem como resultado um tecido ósseo constituído de matriz mineralizada e osteoblastos enclausurados (que recebem o nome de osteócitos) (JANSON et al., 2013). Ex.: Maxila, o corpo e o ramo mandibular (Figura 1). Ossificação endocontral: Forma-se por uma cartilagem que posteriormente é subs- tituída pelo osso. Em algumas áreas essa cartilagem é mantida e denominada cartilagem de crescimento (responsável pelo crescimento em comprimento dos ossos longos). Para formação do tecido cartilagíneo, inicialmente acontece o crescimento intersticial, em que as células mesenquimais se diferenciam em condroblastos. Os condroblastos produzem uma matriz cartilagínea onde ficam aprisionados e dão origem aos condrócitos. O crescimento intersticial ocorre mais na fase inicial de crescimento da cartilagem, depois o crescimento é majoritariamente aposicional – quando os condroblastos que se diferenciam do pericôndrio. Depois disso, essa cartilagem é invadida e substituída por tecido ósseo (JANSON et al., 2013). Ex.: Septo nasal, côndilo mandibular e a base craniana (Figura 1). FIGURA 1 - DESENVOLVIMENTO DO ESQUELETO CEFÁLICO, EVIDENCIANDO OS SEGMENTOS DE ORIGEM CARTILAGINOSA: (1) SEPTO NASAL, (2) BASE CRANIANA E (3) CÔNDILO MANDIBULAR Fonte: Vellini-Ferreira (2021, p. 41). 9UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 1.1.2 Mecanismos de crescimento ósseo O osso pode crescer por mecanismos de remodelação, deslizamento e desloca- mento. A remodelação óssea consiste na aposição óssea no lado de crescimento da su- perfície cortical, promovida por osteoblastos, e de reabsorção óssea na superfície oposta, promovida pelos osteoclastos. Porém, o osso não cresce igualmente por esse processo, pois o periósteo e o endósteo podem apor osso em uma área externa ou interna e reab- sorverem em outra área contigua. Isto permite que os ossos mudem sua forma à medida sofrem remodelação (Figura 2). FIGURA 2 - RETIFICAÇÃO DA CURVATURA DO OSSO, PELO PROCESSO DE APOSIÇÃO E REPOSIÇÃO COM CRESCIMENTO ÓSSEO DIFERENTE EM SUA EXTENSÃO Fonte: Vellini-Ferreira (2021, p. 43). Em ossos de origem cartilaginosa, a cartilagem epifisária é responsável pelo crescimento do osso. Ou seja, normalmente, o desaparecimento da cartilagem coincide com a parada de crescimento. Por isso, através de uma radiografia de mão e punho podemos ter indicativos da idade óssea do paciente. Fonte: Vellini-Ferreira (2021). 10UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA Durante o crescimento também há movimentos de deslizamento e de deslocamen- to. O deslizamento é o movimento da área de crescimento provocado pela remodelação óssea. Enquanto o deslocamento é o movimento do osso como uma unidade (Figura 3). FIGURA 3 - MOVIMENTOS DO CRESCIMENTO ÓSSEO: DESLIZAMENTO E DESLOCAMENTO Fonte: Jason et al. (2013, p. 13). Durante o crescimento por deposição óssea em uma direção, o osso se desloca no sentido contrário (deslocamento primário). Mas esse deslocamento pode também aconte- cer pelo crescimento de outros ossos relacionados (deslocamento secundário). 1.2 Crescimento do esqueleto facial À medida que o cérebro aumenta de volume, os ossos que o recobrem também se expandem. Esse crescimento se dá pelas suturas, fontanelas e alongamento das sincon- droses, além do próprio processo de deslizamento da remodelação óssea (VELLINI-FER- REIRA, 2021). 1.2.1 Crescimento da maxila A maxila é um osso de origem intramembranosa. Seu crescimento se dá por aposi- ção e reabsorção óssea em quase toda sua extensão e por proliferação de tecido conjun- tivo nas suturas que a conectam ao crânio. Na maxila estão inseridos músculos (matrizes funcionais) que influenciam a forma final desses ossos, por meio de suas funções. A área de maior crescimento da maxila é a região do túber, responsável pelo alon- gamento do arco na porção posterior. Essa área aumenta o comprimento maxilar, e assimproporciona espaço para o irrompimento dos molares. À medida que a maxila cresce para 11UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA cima e para trás, ela sofre também um deslocamento em direção anterior e inferior, o que aumenta a profundidade facial. Já o crescimento do processo alveolar acontece de acordo com as necessidades dentárias e contribui para o aumento da altura maxilar e aumento do comprimento (JANSON et al., 2013) (Figura 4). FIGURA 4 - ÁREAS DE APOSIÇÃO E REABSORÇÃO ÓSSEA DO COMPLEXO NASOMAXILAR: (1) TÚBER, (2) PROCESSO ALVEOLAR, (3) ESPINHA NASAL ANTERIOR, (4) SUTURA FRONTOMAXILAR E (5) SEIO MAXILAR Fonte: Vellini-Ferreira (2021, p. 44). O crescimento em altura da maxila também acontece devido ao desenvolvimento da cavidade nasal e seios maxilares, que se adequam às necessidades respiratórias. Já com o crescimento na sutura mediana palatina, acontece o alargamento do palato e arco alveolar (JANSON et al., 2013). 1.2.2 Crescimento da mandíbula A mandíbula tem ossificação mista: endocondral nos côndilos da mandíbula e intra- membranosa nos ramos e do corpo mandibular. Os ramos e o corpo mandibular tem suas paredes anteriores reabsorvidas e osso aposicionado nas paredes posteriores, promovendo um deslizamento na direção posterior, o que proporciona espaço para a irrupção dos molares permanentes. Além disso, a aposi- 12UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA ção óssea no bordo inferior do corpo da mandíbula e na região do mento, ao mesmo tempo que acontece a reabsorção na região supramentoniana, da forma ao queixo (Figura 5). Ainda, o crescimento do côndilo gera um movimento para cima e para trás (Figura 5), contribuindo para o crescimento em altura da mandíbula, e um deslocamento do osso para frente e para baixo, também influenciado pelo movimento da base craniana média para a frente. Em relação ao processo alveolar na mandíbula, este cresce verticalmente e em largura conforme os dentes irrompem, além de acompanhar o crescimento para posterior dos ramos mandibulares (JANSON et al., 2013). FIGURA 5 - ÁREAS DE APOSIÇÃO E REABSORÇÃO ÓSSEA DA MANDÍBULA Fonte: Vellini-Ferreira (2021, p. 46). 1.3 Crescimento dos arcos dentários O perímetro do arco representa o espaço de mesial do primeiro molar permanente direito até a mesial do primeiro molar permanente esquerdo (Figura 6 - A) - englobando somente a área de troca de decíduos por permanentes. Já o primeiro e o segundo molares permanentes garantem seus espaços pelo alongamento da maxila e do corpo da mandíbula. O comprimento do arco dentário representa a dimensão anteroposterior. Ele se estende da face palatina do incisivo central até a face mesial dos primeiros molares perma- nentes (Figura 6 - B). A largura do arco dentário é a medida transversal que se estende de um dente até o seu contralateral (Figura 6 - C). Pode ser medido pelas pontas de cúspide, pelo sulco oclusal ou pela margem gengival lingual de dentes homólogos. 13UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 6 - REPRESENTAÇÃO DO PERÍMETRO DO ARCO DENTÁRIO (A). COMPRIMENTO DO ARCO DENTÁRIO (B). LARGURA DOS ARCOS DENTÁRIOS (C) Fonte: Jason et al. (2013, p. 19). 14UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conhecer a evolução normal das dentições torna possível determinar onde e quan- do tratar o paciente para conseguir evitar ou minimizar o aparecimento de maloclusões na dentição permanente. 2.1. Dentição decídua No período pré-natal, a origem embrionária dos dentes decíduos acontece a partir da lâmina dentária pelo processo de odontogênese (entre a 7a e a 10a semana de vida intrauterina). Por volta da 15a semana, inicia-se o processo de dentinogênese, com a dife- renciação dos tecidos dentários. É nesta etapa que podem ocorrer distúrbios de desenvol- vimento que tem como consequência as anomalias de número. Nos primeiros 6 meses de vida pós-natal, há crescimento vertical do processo alveolar, com ganho em altura no terço inferior da face. Os germes dentários passam a ser envolvidos pela cripta óssea. O primeiro dente a irromper é o incisivo central inferior decíduo, aos 6 meses. Aos 2,5 anos todos os dentes decíduos já estão em função (Figura 7), porém, somente aos 3 anos é que as raízes estão completas. UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 EVOLUÇÃO DAS DENTIÇÕESTÓPICO 15 FIGURA 7 - CRONOLOGIA ERUPTIVA MÉDIA DOS DENTES TEMPORÁRIOS Fonte: Silva (2021, p. 53). Entre os 3 e os 5 anos, a dentição decídua se mantém em “repouso”, porém o processo irruptivo continua dentro do osso alveolar. 2.1.1 Características da dentição decídua A dentição decídua é composta por 20 dentes. Dois tipos de arcos podem estar presentes na dentição decídua: o arco tipo I de Baume (70% das crianças na maxila e 77% na mandíbula), que apresenta espaços genera- lizados entre os dentes anteriores; e o arco tipo II de Baume (30% das crianças na maxila e 23% na mandíbula), sem espaços ou com suaves apinhamentos (Figura 8). A idade para irrupção dos dentes decíduos deve ser vista apenas como uma média pois diversos fatores podem interferir no padrão de irrupção: o estado nutricional infantil, o nascimento prematuro, a amamentação, as condições sistêmicas, o nível socioeconômico, o gênero, a suplementação nutricional da mãe durante a gravidez. 16UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 8 - ARCO TIPO I DE BAUME APRESENTANDO DIASTEMAS GENERALIZADOS (A), E ARCO TIPO II DE BAUME, ONDE É POSSÍVEL VERIFICAR A AUSÊNCIA DE DIASTEMAS OU POR VEZES LEVES APINHAMENTOS (B) Fonte: Janson et al. (2013, p. 38). Ainda, essa primeira dentição tem a presença de diastemas (conhecidos como espaços primatas) entre incisivos laterais e caninos no arco superior, e entre caninos e primeiros molares no arco inferior. Em ambos os arcos de Baume, e particularmente nos do tipo II, a presença desses espaços é favorável para o bom alinhamento dos dentes permanentes anteriores (Figura 9). FIGURA 9 - LOCALIZAÇÃO DE DIASTEMAS NA DENTADURA DECÍDUA, DENOMINADA POR BAUME DE ESPAÇOS PRIMATAS Fonte: Janson et al. (2013, p. 39). Durante essa fase, há ausência de curva de Spee, devido à implantação vertical dos dentes decíduos em suas bases ósseas (paralelismo do longo eixo dos dentes decíduos) (Figura 10). 17UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 10 - VISUALIZAÇÃO ESQUEMÁTICA DA AUSÊNCIA DE CURVA DE SPEE NA DENTADURA DECÍDUA, EM VIRTUDE DE SUA IMPLANTAÇÃO VERTICALIZADA Fonte: Janson et al. (2013, p. 39). Outra característica, é que os segundos molares decíduos podem ser classificados em três planos terminais: reto (faces distais superior e inferior estão no mesmo plano ver- tical), mesial (face distal do segundo molar decíduo inferior se encontra em uma relação anterior a face distal do segundo molar decíduo superior) e distal (face distal do segundo molar decíduo superior oclui mesialmente à face distal do segundo molar decíduo inferior) (Figura 11). FIGURA 11 - PLANOS TERMINAIS DOS SEGUNDOS MOLARES DECÍDUOS Fonte: Janson et al. (2013, p. 39). 2.1.2 Maloclusões na dentição decídua As mordidas abertas (Figura 12) estão associadas a hábitos de sucção ou à perda precoce de dentes decíduos, e podem se autocorrigir caso o hábito seja interceptado. 18UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 12 - PACIENTE EM FASE DE DENTADURA DECÍDUA APRESENTANDO MORDIDAABERTA ANTERIOR (A) E SUA AUTOCORREÇÃO APÓS O ABANDONO DO HÁBITO Fonte: Janson et al. (2013, p. 41). A ausência ou a diminuição do tempo de amamentação aumenta a probabilidade de mordida cruzada (Figura 13) posterior na dentição decídua. Essa maloclusão necessita de intervenção ortopédica o mais brevemente possível. FIGURA 13 - PACIENTE EM FASE DE DENTADURA DECÍDUA APRESENTANDO MORDIDA CRUZADA UNILATERAL Fonte: Janson et al. (2013, p. 41). Restabelecendo as distâncias transversais, pode-se minimizar ou eliminar graves problemas esqueléticos, dentoalveolares e musculares futuros, propiciando condições normais e desenvolvimento da oclusão na dentadura mista e permanente. 2.2 Dentadura mista Fase de transição entre as dentaduras decídua e permanente, com duração de aproximadamente 6 anos. 2.2.1 Primeiro período transitório Durante esse período, que se inicia por volta dos 6 anos de idade, temos a irrup- ção dos primeiros molares permanentes por distal dos últimos dentes decíduos. Como os primeiros molares permanentes são guiados pela superfície distal dos segundos molares decíduos, pacientes portadores de plano terminal distal tendem a evoluir para relação molar de Classe II. Quando os dentes decíduos possui plano terminal reto, podem evoluir para 19UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA relação molar de Classe I, II ou III. E quando o paciente possui degrau mesial, tende a evoluir para uma oclusão de Classe III. Ao entrarem em oclusão, os primeiros molares permanentes estabelecem o início da curva de Spee, no sentido sagital, e da curva de Wilson, no sentido transversal. Ainda, nesse período ocorre a troca dos incisivos decíduos por permanentes. Po- rém, para que isso seja possível, já que há uma diferença no tamanho dos dentes decíduos em relação aos permanentes (7,6 mm no arco superior e de 6 mm no arco inferior), os incisivos permanentes nascem inclinados mais vestibular, além do espaço conseguido pelo crescimento, espaços primatas e diastemas fisiológicos. Após a troca dos incisivos, apinhamentos primários de até 4 mm podem se ma- nifestar, mas normalmente são autocorrigíveis por meio de mecanismos de crescimento transversal da maxila e mandíbula. 2.2.2 Período Intertransitório Apesar de ser considerado um período não ativo clinicamente, nessa fase aconte- cem grandes mudanças intraósseas, com reabsorções radiculares dos caninos e molares decíduos e complementação da formação radicular dos incisivos e molares irrompidos durante o primeiro período transitório. 2.2.3 Segundo período transitório Começa com a substituição dos decíduos restantes e a irrupção do segundo molar permanente. Além da sequência de irrupção, perda precoce de dentes decíduos e perda de tecido dentário por cárie podem diminuir o perímetro do arco, com consequente diminuição do espaço para caninos permanentes e pré-molares. A irrupção de caninos permanentes e pré-molares depende do espaço livre de Nan- ce, que facilita a relação normal dos primeiros molares permanentes. Ao contrário dos inci- sivos permanentes, que são maiores que seus sucessores, o diâmetro distomesial somado do grupo de caninos e molares decíduos é maior do que seus substitutos permanentes. O espaço de Nance representa um ganho de 1 mm no arco superior e de aproximadamente 1,7 a 2 mm no arco inferior. 20UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 2.3 Dentição Permanente Tem seu início com a irrupção dos caninos permanentes e pré-molares, e comple- ta-se aos 12 anos, com a irrupção dos segundos molares permanentes. Com relação aos terceiros molares, sua calcificação tem início aos 7 anos, e sua irrupção ocorre entre os 18 e os 21 anos. Durante o desenvolvimento da oclusão altera-se a distância intercaninos (com aumento de 5 mm na maxila e 3 mm na mandíbula), a distância interpré-molares (sem grandes alterações), a distância intermolares (com aumento de 4 mm na maxila e 2 mm na mandíbula) (Figura 14) , o aumento do comprimento do arco e a diminuição do perímetro (em média 5 mm, por consequência do deslocamento mesial tardio dos molares, do com- ponente anterior de força, dos desgastes interproximais dos dentes e do posicionamento lingual dos incisivos inferiores). FIGURA 14 - AUMENTOS NAS DISTÂNCIAS INTERCANINOS E INTERMOLARES NOS ARCOS SUPERIOR E INFERIOR Fonte: Janson et al. (2013, p. 54). 2.4 Oclusão normal Envolve a presença de todos os dentes permanentes; a ausência de diastemas ou apinhamentos; a relação normal de molares e de caninos; e a sobressaliência e sobremor- dida normais (Figura 15). FIGURA 15 - OCLUSÃO NORMAL Fonte: Arquivo pessoal. 21UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA A oclusão normal é encontrada em apenas 3% da população; a maloclusão, em 70%; e cerca de 27% da população apresenta oclusão considerada aceitável. A oclusão normal pode ser resumida em dentes permanentes corretamente orde- nados e alinhados nos arcos dentários e em harmonia com as forças estáticas e dinâmicas que atuam sobre eles. Além disso, oclusão cúspide e fossa ideais, contatos proximais justos e coordenados, saúde periodontal e integridade da articulação temporomandibular. Andrews identificou seis chaves da oclusão normal: relação interarcos, angulação da coroa ou inclinação mesiodistal, inclinação da coroa ou “torque” vestibulolingual, rotações, contatos justos e curva de Spee (não ultrapassando 2,5 mm de profundidade quando medida a partir da cúspide mais proeminente do segundo molar inferior até o incisivo central inferior). 2.4.1 Oclusão normal funcional Analisada sob um ponto de vista dinâmico, com os dentes em função e harmonia com a articulação temporomandibular, o sistema neuromuscular, os tecidos periodontais de suporte e o osso basal. Os princípios dessa oclusão são a oclusão cêntrica dos dentes coincidindo com a relação cêntrica da mandíbula no fechamento da boca quando os dentes entram em contato, com uma relação dental de cúspide fossa e com a relação de mútua proteção dentária nos movimentos excursivos, em lateralidade e protrusão. A oclusão aceitável em máxima intercuspidação habitual (MIH) é quando a diferença entre relação cêntrica e MIH é de no máximo 2 mm. A guia de desoclusão anterior correta ocorre quando em MIH não há nenhum contato anterior, servindo de guia para deslize no sentido anteroposterior. Quando os dentes anteriores estão em oclusão, os dentes poste- riores se desocluem em média 2 mm. 22UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A oclusão normal funcional é uma oclusão estável, saudável e atraente. Ela nem sempre coincide com a oclusão normal/ideal, a qual segue as chaves de oclusão de An- drews. A classificação tem como objetivo estabelecer parâmetros para um bom diag- nóstico, com consequente planificação do tratamento e avaliação dos resultados obtidos, possibilitando além disso a criação de uma linguagem universal que facilita a comunicação entre os profissionais e a comparação entre os casos. 3.1 Classificação das Maloclusões 3.1.1 Classificação de Angle Classificação baseada nas relações antero-posteriroes dos maxilares. 3.1.1.1 Classe I Maloclusão em que a posição mesiodistal dos arcos dentários encontra-se normal, ou seja, a cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior oclui no sulco mesiovestibular do seu dente homólogo inferior. Pacientes classe dentária I geralmente apresentam um perfil de face harmonioso, sendo a maloclusão restrita às más posições dos dentes (Figura 16). UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 MÁS OCLUSÕES DENTÁRIAS: CLASSIFICAÇÃO E ETIOLOGIATÓPICO 23 FIGURA 16 - PACIENTE COM MÁ OCLUSÃO DE CLASSE I Fonte: Arquivo pessoal. 3.1.1.2 Classe II Relação dos arcos dentários em que os dentes inferiores ocluem em uma relação distal, ou seja, o sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior encontra-se distalizado em relação à cúspide mesiovestibular do seu dente homólogo superior. Pacientes de Classe II geralmente apresentam um perfil convexo, suas bases ós- seas podem apresentar-se normais ou com protrusão maxilar e/ou retrusão mandibular, e ainda com as inclinações dentárias características dessa maloclusão. A Classe II possui duas divisões e subdivisões: Classe II Divisão 1: Os incisivos superiores apresentam-se vestibularizados. Os pacientes geralmente apresentam trespasse horizontal aumentado, com curva de Spee acentuada, um arco superior atrésico, um palato profundo e lábios entreabertos e resseca- dos, resultando em um desequilíbrio da musculatura facial (JANSON et al. 2013). Classe II Divisão 2: Os incisivos centrais superiores apresentam-se verticalizados ou lingualizados e os incisivos laterais superiores apresentam-se vestibularizados. Os pacientes geralmente apresentam sobremordida profunda, dimensão vertical diminuída e aparência de envelhecimento precoce (JANSON et al. 2013). Quando a distoclusão acontece somente de um lado do arco dentário, pode ser de subdivisão direita ou subdivisão esquerda (Figura 17 e 18). 24UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 17 - PACIENTE COM MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II SUBDIVISÃO DIREITA Fonte: Arquivo pessoal. FIGURA 18 - PACIENTE COM MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II SUBDIVISÃO DIREITA Fonte: Arquivo pessoal. 3.1.1.3 Classe III Relação dos arcos dentários na qual dentes inferiores ocluem em uma relação mesial, ou seja, o sulco mesiovestibular do primeiro molar inferior encontra-se mesializado em relação à cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior (Figura 19). Os pacientes de Classe III frequentemente apresentam um perfil côncavo, em que as bases ósseas podem ter normais, com retrusão maxilar e/ou protrusão mandibular. Essa maloclusão também pode apresentar subdivisões direita ou esquerda. 25UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 19 - PACIENTE COM MÁ OCLUSÃO DE CLASSE III Fonte: Arquivo pessoal. 3.1.2 Classificação de Lisher É a classificação individual das posições dentárias. Vestibuloversão: o dente tem sua a coroa vestibularizada. Linguoversão: o dente tem sua coroa lingualizada. Giroversão: o dente encontra-se rotacionado em torno do seu próprio longo eixo. Supraversão: dente com a face oclusal ou incisal além do plano oclusal. Infraversão: dente com a face oclusal ou incisal aquém do plano oclusal. Mesioversão: dente mesializado em relação à sua posição normal. Distoversão: dente distalizado em relação à sua posição normal. Axiversão: alteração da inclinação do dente em relação ao seu longo eixo. Transversão ou transposição dentária: acontece quando um dente está na posição de outro dente do arco dentário. Perversão: dente impactado, geralmente por falta de espaço no arco. 3.1.3 Classificação de Capelozza Classificação do padrão facial. Padrão I: Face equilibrada e lábios em contato sem tensão. Não há previsão do posicionamento dentário sem examiná-lo clinicamente (Figura 20). Padrão II: Protrusão maxilar ou deficiência mandibular, independentemente da relação molar. Essa relação tende a ser de Classe II dentária (Figura 20). 26UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA Padrão III: Apresenta retrusão da maxila e/ou prognatismo da mandíbula. Tendência a ter uma relação de Classe III dentária (Figura 20). Padrão face longa: Quando o indivíduo mostra excesso no terço inferior da face, tornando o selamento/relação labial normal impossível. Nesse tipo de maloclusão, percebe- -se a influência genética. Tendência a ter uma relação dentária de Classe II. Padrão face curta: Indivíduo que apresenta deficiência vertical do terço inferior da face que torne o selamento labial compressivo. A etiologia determinante da face curta tem caráter genético (Figura 21). FIGURA 20 - FOTOGRAFIAS PADRONIZADAS DO PERFIL DE INDIVÍDUOS PORTADORES DOS PADRÕES FACIAIS I, II E III Fonte: Reis et al. (2006, p. 38)a. FIGURA 21 - FOTOGRAFIAS FACIAIS FRONTAL E LATERAL DE PACIENTE PADRÃO FACE CURTA Fonte: Reis et al. (2006, p. 170)b. 27UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 3.2 Etiologia das maloclusões Podem ser divididos em fatores genéticos e fatores ambientais. A chave para determinar a etiologia da maloclusão e para definir o seu prognóstico de tratamento é dife- renciar o efeito dos genes e do ambiente sobre as estruturas dentofaciais já que a influência ambiental tem maior a possibilidade de prevenção, melhor o prognóstico de correção e apresenta maiores as chances de estabilidade ao final do tratamento. 3.2.1 Fatores genéticos São os genes que definem a forma e o tamanho dos dentes, o tamanho e a dispo- sição dos ossos da face, da mandíbula e da maxila. A constituição gênica de um indivíduo é seu genótipo, enquanto as características manifestas são seu fenótipo. As irregularidades de origem genética não podem ser prevenidas, pois são uma fatalidade biológica. No entanto, podem ser atenuadas com intervenção ortodôntica, ortopé- dica e/ou cirúrgica, dependendo da localização, da extensão e da gravidade da maloclusão (MOYERS, 1991). 3.2.1.1 Tipo facial Mesofacial: apresenta a distância bizigomática proporcional à altura facial. Dolicofacial: apresenta predominância da altura facial em relação à largura. Braquifacial: apresenta uma face mais larga que longa. 3.2.1.2 Padrão esquelético sagital da face Os padrões descritos por Capelozza também mostram predominância genética. 3.2.1.3 Discrepâncias entre dente e osso A dimensão das bases maxilares, assim como o tamanho dos dentes mostram determinância genética (Figura 22). FIGURA 22 - APINHAMENTO SUPERIOR E INFERIOR DEVIDO A DISCREPÂNCIA DENTE E OSSO Fonte: Arquivo pessoal. 28UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 3.2.1.4 Anomalias dentárias Há uma base genética na etiologia de anomalias dentárias de número, tamanho, posição e época de desenvolvimento. Estes podem criar espaçamentos dentários, desvio da linha média, deslocamento irregular dos dentes vizinhos, sorriso com estética desagra- dável, apinhamentos e prejuízos funcionais. Os dentes supranumerários tornam-se particularmente preocupantes quando funcionam como obstáculo para a irrupção dos dentes numerários (Figura 23 e 24). O mo- vimento dentário em pacientes com indicação de tratamento ortodôntico pode também ser impedido pela presença de dentes supranumerários não irrompidos. Quando conseguem irromper na arcada dentária, os supranumerários tendem a criar uma discrepância negativa entre dente e osso e um comprometimento estético. FIGURA 23 - PACIENTE COM PRESENÇA DE TRÊS SUPRANUMERÁRIOS (REGIÃO DOS DENTES 16, 11 E 21). Fonte: Arquivo pessoal. 29UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA FIGURA 24 - RADIOGRAFIA PANORÂMICA MOSTRANDO OS DENTES SUPRANUMERÁRIOS Fonte: Arquivo pessoal. 3.2.1.5 Infraoclusão de molares decíduos Condição clínica em que o dente não consegue manter sua altura junto ao plano oclusal, estando distante dos dentes antagonistas. Sua posição está apicalmente aos den- tes adjacentes. Acomete aproximadamente 8,9% das crianças. 3.2.1.6 Anomalias Craniofaciais Ocasionadas por alterações cromossômicas, monogênicas ou poligênicas. Anomalias como a síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21), a disostose cleidocraniana, a displasia ectodérmica, as fissuras labiopalatinas, entre outras, possuem características de importância para ortodontia. 3.2.2 Fatores ambientais São fatores relacionados ao meio em que se encontra(MOYERS, 1991). 3.2.2.1 Traumatismos O trauma de incisivos superiores decíduos, principalmente quando causa uma intru- são, pode induzir desde defeitos superficiais no esmalte dentário até a alteração da posição do germe do dente permanente sucessor. Com sua posição alterada, o dente permanente pode não irromper na cavidade bucal, ficando retido. 30UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 3.2.2.2 Perda precoce de dentes decíduos Com a perda precoce dos molares decíduos, os molares permanentes tendem a migrar para uma posição mais mesial, reduzindo o perímetro do arco dentário. A redução do perímetro do arco pode ocasionar um apinhamento secundário (Figura 25). FIGURA 25 - FOTOS INTRAORAIS QUE MOSTRAM PERDA DE ESPAÇO PARA O DENTE 15 E 45, ALÉM DA SUPRAVERSÃO DO 14 E 65 DEVIDO A PERDA PRECOCE DOS DENTES DECÍDUOS ANTECESSORES. AINDA, PODEMOS VER A GIROVERSÃO DO DENTE 21 DEVIDO A TRAUMA QUANDO O DENTE 61 AINDA ESTAVA PRESENTE NA CAVIDADE BUCAL Fonte: Arquivo pessoal. 3.2.2.3. Perda de dentes permanentes Quando há a perda dos primeiros molares permanentes, os segundos molares migram para uma posição mais mesial e os segundos pré-molares migram para distal, havendo uma tendência de os incisivos retroinclinarem-se. Quando a perda ocorre apenas de um lado da arcada, a linha média dentária é desviada para o lado que aconteceu a perda. 3.2.2.4. Causas adquiridas proximais Os dentes estão em uma posição de equilíbrio, onde se neutralizam as forças provenientes da musculatura intrabucal (língua) e extrabucal (bochechas e lábios). Qual- quer função anormal desempenhada por essa musculatura desequilibra essa relação, e apresenta como consequência algumas maloclusões (causas proximais). Os fatores que rompem o equilíbrio muscular são os hábitos bucais deletérios e a respiração bucal. 31UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA Hábitos de sucção não nutritivos: O obstáculo mecânico representado pelo dedo e/ou chupeta restringe o desenvolvimento vertical normal dos incisivos inferiores e supe- riores. Quando a língua é retirada da sua posição normal, acontece uma modificação do desenvolvimento normal do palato e, consequentemente, causa maior protrusão dos dentes superiores anteriores e maior inclinação lingual dos dentes inferiores anteriores. A maloclusão mais típica relacionada ao hábito de sucção não nutritiva é a mor- dida aberta anterior circular e circunscrita à região dos incisivos. Todas essas alterações concentram-se na região dentoalveolar, o que torna favorável o prognóstico de tratamento, principalmente nas dentaduras decídua e mista. Além disso, a posição mais anterior e abaixada da língua modifica o crescimento normal do palato e favorece a ocorrência de mordida cruzada posterior. Interposição lingual: Como consequência dos hábitos bucais deletérios de sucção, uma relação morfológica anormal ocorre nos arcos dentários, gerando uma adaptação da posição da língua. Mesmo sendo um fenômeno secundário, ele mantém a morfologia anormal dos arcos dentários. Essa postura da língua, principalmente em repouso, é um fator importante na ma- nutenção da mordida aberta já instalada. Hábito de sucção e mordida de lábio: Nessa situação também ocorre uma quebra do equilíbrio das forças, e como consequências, podem-se citar a vestibularização dos in- cisivos superiores; a lingualização dos incisivos inferiores, podendo causar mordida aberta anterior; a formação de diastemas entre os incisivos superiores; o aumento do trespasse horizontal; e a mordida cruzada posterior. Respiração bucal: Quando existem obstáculos ao longo das vias aéreas, obstruindo a passagem de ar, a criança passa a respirar por uma via oral. Entre os obstáculos respi- ratórios superiores estão a hipertrofia adenoideana, a rinite alérgica frequente, a hipertrofia dos cornetos e o desvio do septo nasal. Já entre os obstáculos respiratórios inferiores estão a hipertrofia das tonsilas palatinas ou amídalas e as amidalites frequentes. A respiração bucal modifica a postura da cabeça para garantir abertura suficiente para a respiração. Desse modo, a criança permanece com os lábios entreabertos, com a mandíbula deslocada para baixo e para trás e com a língua repousando em posição mais inferior e anteriormente, não tendo contato com a abóbada palatina. Essas modificações posturais favorecem o desenvolvimento da atresia do arco dentário superior e da mordida aberta anterior. A respiração bucal pode levar a complicações das vias aéreas, perda do equilíbrio muscular e alterações no crescimento dos arcos dentários. 32UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) aluno (a), aqui finalizamos a nossa primeira unidade da disciplina de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Nesta unidade fizemos uma introdução dos principais conceitos existentes nessa área. Estudamos o processo de crescimento e desenvolvimento craniofacial, que é fun- damental para um diagnóstico, planejamento e tratamento da etiologia do nosso paciente, além de ser essencial para uma harmonia estética e funcional da face. Neste tópico pudemos conhecer os tipos de ossificação, os mecanismos de crescimento ósseo, o crescimento da maxila e mandíbula, bem como o crescimento dos arcos dentários. No segundo tópico, foi apresentado a evolução das dentições, pois conhecendo a evolução normal das dentições torna-se possível determinar onde e quando tratar o paciente, para conseguir evitar ou minimizar o aparecimento de maloclusões na dentição permanente. Aqui foi abordado desde a fase de dentição decídua, passando pela dentadura mista até a fase de dentição permanente. Nosso terceiro, e último tópico, desta unidade, relatou as más oclusões dentárias. A classificação das más oclusões tem como objetivo estabelecer parâmetros para um bom diagnóstico, com consequente planificação do tratamento e avaliação dos resultados obti- dos, possibilitando além disso a criação de uma linguagem universal que facilita a comuni- cação entre os profissionais e a comparação entre os casos. Adicionalmente, conhecer a etiologia das más oclusões é o primeiro passo para que possamos tratá-las. Com esse conteúdo assimilado, acredito que você terá uma boa base para seguir em frente, desenvolvendo ainda mais seus conhecimentos. Para finalizar, não deixe de buscar a literatura e o material complementar que vou recomendar. Nos vemos na próxima unidade! Até mais! UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 33 LEITURA COMPLEMENTAR • Artigo: Avaliação da prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews, em jovens brasileiros com oclusão normal natural • Autores: Liliana Ávila Maltagliati, Luciana Andrade do Prado Montes, Fernanda Marcondes Machado Bastia e Silvana Bommarito • Link de acesso: https://www.scielo.br/j/dpress/a/wQ7CsrvBZwmmVgF5pgRb- FzK/?lang=pt. • Resenha: O artigo de Maltagliati e colaboradores avaliou a prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews numa amostra de oclusão normal brasileira. Este texto nos ajuda a perceber como os parâmetros de uma oclusão ideal nem sempre são alcançados, mesmo em uma oclusão normal. Fonte: MALTAGLIATI, L. A.; MONTES, L. A. P.; BASTIA, F. M. M.; BOMMARITO, S. Avaliação da prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews, em jovens brasileiros com oclusão normal natural. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop., Maringá, v. 11, n. 1, p. 99-106, Jan./Fev., 2006. • Artigo: Aspectos etiológicos da mordida aberta anterior e suas implicações nas funções orofaciais • Autores: Cristina Tostes Vieira Maciel e Isabel Cristina Gonçalves Leite • Link de acesso: https://www.scielo.br/j/pfono/a/6gYmkJGLQgXTfnCnjRDJNVr/ abstract/?lang=pt. • Resenha: Esse artigo realiza um estudo exploratório, derivando medidas de associação entre as condições clínicas, hábitos de sucção e alterações miofuncionais de 130 escolares. Ele mostra correlação etiológica da mordida aberta anterior com hábitos orais deletérios e algumas alteraçõesdas funções orofaciais. Também enfatiza a necessidade da interação entre ortodontistas e fonoaudiólogos no atendimento integral do paciente portador de mordida aberta. Fonte: MACIEL, C. T. V.; LEITE, I. C. G. Aspectos etiológicos da mordida aberta anterior e suas implicações nas funções orofaciais. Pró-Fono R. Atual. Cient., Baueri, v. 17, n. 3, p. 293-302, set.-dez., 2005. UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 34 https://www.scielo.br/j/dpress/a/wQ7CsrvBZwmmVgF5pgRbFzK/?lang=pt https://www.scielo.br/j/dpress/a/wQ7CsrvBZwmmVgF5pgRbFzK/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pfono/a/6gYmkJGLQgXTfnCnjRDJNVr/abstract/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pfono/a/6gYmkJGLQgXTfnCnjRDJNVr/abstract/?lang=pt MATERIAL COMPLEMENTAR • Título: Introdução à Ortodontia e Desenvolvimento da Denti- ção (0-6 anos) • Autor: Carlos Silva • Editora: Publicações Fundação Fernando Pessoa • Sinopse: O livro apresenta os conceitos básicos da Ortopedia e Ortodontia. A leitura desse livro é um auxiliar para a com- preensão dos fenômenos de crescimento e desenvolvimento do indivíduo, bem como de muitas alterações que ocorrem na dentição adulta, representando uma mais-valia para qualquer profissional da área da saúde. • Título: Importância da Fonoaudiologia na Odontologia • Ano: 2020. • Sinopse: Vídeo de uma LIVE sobre a Importância da Fonoau- diologia na Odontologia. Aqui foi abordado sobre a área de atuação do fonoaudiólogo, a relação da Fonoaudiologia para a Odontologia, a idade em que a criança deve passar pelo trata- mento com o fonoaudiólogo, e mais detalhes sobre a mordida aberta e interposição lingual. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wCKxcm- 1cqoI UNIDADE 1 INTRODUÇÃO TEÓRICA 35 https://www.youtube.com/watch?v=wCKxcm1cqoI https://www.youtube.com/watch?v=wCKxcm1cqoI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Análise da dentadura mista; • Cefalometria; • Biologia do movimento dentário; • Tratamento ortodôntico preventivo, interceptativo e corretivo. Objetivos da Aprendizagem • Estabelecer a importância de se realizar a análise da dentadura mista; • Entender a cefalometria e as principais medidas que podem fornecer um diagnóstico mais completo para os pacientes; • Compreender a biologia do movimento dentário; • • Aprender sobre o tratamento ortodôntico preventivo (manutenção do espaço), interceptativo (da mordida cruzada, mordida aberta de origem dentária) e corretivo. 2UNIDADEUNIDADEDIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO E TRATAMENTO ORTODÔNTICOORTODÔNTICOProfessora Mestra Laís Caroline Poleto INTRODUÇÃO Olá, aluno (a)! Seja bem-vindo (a) a mais uma unidade da nossa disciplina de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Na unidade II vamos aprofundar nossos estudos e conhecer mais da importância da multidisciplinaridade desta área. Começamos pela análise da dentição mista, no tópico I. Essa análise é de grande importância na avaliação ortodôntica, pois consiste em prevenir a dimensão mésio-distal de caninos e pré-molares permanentes que ainda não erupcionaram, com o objetivo de avaliar a diferença existente entre o espaço disponível e o espaço necessário para acomodar esses mesmos dentes. Esta análise é muito importante para chegar a um diagnóstico ortodôntico precoce e a um correto plano de tratamento. Continuando, no tópico II você irá aprender sobre cefalometria e as principais medidas que podem fornecer um diagnóstico mais completo para os pacientes. A análise cefalométrica tem se mostrado um instrumento de grande valia para o auxílio no diagnós- tico ortodôntico. Desde o advento do cefalostato, podemos visualizar pontos de referência faciais e cranianos, antes inacessíveis em seres vivos, para mensurar grandezas físicas, angulares e lineares em radiografias da cabeça. No nosso tópico III o tema abordado será a biologia do movimento dentário. Aqui você estudará sobre a resposta periodontal e óssea à função normal, a resposta do liga- mento periodontal e óssea à força ortodôntica contínua e os efeitos deletérios da força ortodôntica. Forças aplicadas aos dentes podem também afetar o padrão de aposição e reabsorção óssea em locais distantes dos dentes, particularmente as suturas da maxila e as superfícies ósseas em ambos os lados da articulação temporomandibular. Portanto, a resposta biológica à terapia ortodôntica inclui não somente a resposta do ligamento perio- dontal, mas também a resposta de áreas de crescimento distantes da dentição. Por último, o tópico IV irá trazer uma breve discussão sobre tratamento ortodôntico preventivo, interceptativo e corretivo. O tratamento ortodôntico preventivo busca preservar a evolução normal das arcadas dentárias e da oclusão, enquanto o tratamento interceptativo implica em barrar uma situação anormal já instalada, de modo a restabelecer uma evolução normal. Já o tratamento corretivo tem o objetivo de tornar a oclusão do paciente tão ideal quanto possível, reposicionando todos, ou praticamente todos, os dentes no processo. Está preparado (a)? Então vamos começar! UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 37 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A dentição mista inicia-se por volta dos 6 anos de idade, quando os primeiros mo- lares permanentes erupcionam, e termina por volta dos 12 anos de idade, com a esfoliação do último dente decíduo. Uma característica marcante desse período é a “fase do patinho feio”, em que os incisivos permanentes superiores irrompem inclinados vestibularmente, produzindo dias- temas e sobremordidas exageradas. Além de também acontecer a irrupção dos incisivos permanentes inferiores. Nessa dinâmica, podem acontecer alguns “colapsos” nas arcadas, seja pela dife- rença entre volume dos dentes e bases ósseas, seja por conta de fatores ambientais. A análise da dentição mista é um registro muito importante em casos de maloclu- sões, principalmente no que se refere ao arco inferior. Nesse arco, o manejo do espaço é crítico e a obtenção do mesmo pela distalização de dentes posteriores é um movimento muito limitado. Essa análise prevê se existe diferença entre o tamanho dos dentes e o tamanho dos arcos a eles associados, e de acordo com o resultado obtido, o profissional pode tomar decisões como: orientar a erupção dos dentes permanentes; manter espaços; solicitar extrações; ou não intervir, mantendo o desenvolvimento da dentição sob observa- ção (JANSON et al., 2013). UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 ANÁLISE DA DENTADURAMISTATÓPICO 38 1.1 Sequência de erupção dentária Apesar de a irrupção dos dentes ter uma sequência mais comum e, também, mais favorável, alguns fatores podem alterar essa cronologia. Tabela 1 - Cronologia ideal de troca dos dentes decíduos pelos dentes permanentes Erupção Dentes Superiores (anos) Dentes Inferiores (anos) Incisivos Centrais 7-8 6-7 Incisivos Laterais 8-9 7-8 Caninos 11-12 9-11 Primeiro Pré-Molar 10-11 9-11 Segundo Pré-Molar 10-12 10-12 Primeiro Molar 6-7 6-7 Segundo Molar 12-13 11-12 Fonte: Tabela adaptada do livro de Janson et al. (2013). 1.2 Elementos de diagnóstico Para diagnóstico da dentadura mista utilizam-se modelos de gesso e radiografias. Porém, é necessário realizar uma avaliação da distorção das radiografias. Assim, para conhecermos o diâmetro de um dente permanente não erupcionado é só medir um dente decíduo que esteja presente (tanto no modelo, quanto na radiografia), e a partir dessas medidas, teremos o fator de distorção da radiografia fazendo uma regra de três (modelo de Huckaba). Ou seja: X/X’ = Y/Y’, sendo X = diâmetro do decíduo no gesso; X’ = diâmetro do decíduo na radiografia; Y = diâmetro do permanente real; Y’= diâmetro do permanente na radiografia 1.3 Predição do espaço A previsão de espaço para o alinhamento correto dos dentes permanentes é realizada medindo o espaço que os dentes permanentes alinhados irão ocupar (Espaço Requerido), e o espaço disponível na base óssea (Espaço Presente). Ou seja, o espaço requerido é a somatória do diâmetro mésio-distal dos dentes per- manentes, erupcionados e não erupcionados, localizados na mesial dos primeiros molares permanentes de ambos os lados. Para se obter esse valor, utiliza-se um compasso de pontas secas, medindo o dente no gesso (Figura 1) ou boca do paciente, para dentes erupcionados. 39UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Figura 1 - Medição dos dentes, com compasso de pontas secas, no modelo de gesso. Fonte: Oliveira, Pithon e Ruellas (2007, p. 150). Já os dentes não erupcionados são medidos por radiografia (Figura 2), tomando-se cuidado com a distorção radiográfica. As medidas são transferidas para uma ficha pautada e depois somadas, resultando nos milímetros correspondentes ao espaço requerido. FIGURA 2 - MEDIÇÃO DOS DENTES, COM COMPASSO DE PONTAS SECAS, NA RADIOGRAFIA PERIAPICAL. Fonte: Oliveira, Pithon e Ruellas (2007, p. 150). Uma desvantagem desse método foi relatada por Proffit e Bennett (1967). O método por radiografias está sujeito a erro devido às inclinações e rotações dentárias. Outro método utilizado para se conhecer o espaço requerido é a Análise de Moyers. Nesse método, mede-se a somatória dos maiores diâmetros mésio-distais dos incisivos inferiores e consulta-se uma tabela que dará o valor estimado da somatória dos diâmetros de caninos e pré-molares, tanto inferiores quanto superiores. Essa tabela possui probabili- dades de 5 a 95%, sendo que Moyers sugeriu a utilização em 75%, superestimando o valor, com a finalidade de proteção contra eventuais apinhamentos. Porém, essa análise também apresenta desvantagens: não considera o paciente individualmente; não avalia macrodontias ou microdontias; e as tabelas foram desenvolvi- das para a população americana. 40UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Em relação ao espaço presente, ele é representado pelo perímetro do osso basal (entre mesial do primeiro molar de um lado até a mesial do primeiro molar do lado oposto). Com os valores medidos, obtém-se a discrepância do arco pela diferença entre o espaço presente e o espaço requerido. A discrepância positiva significa que os dentes têm espaço para um alinhamento espontâneo, enquanto na discrepância nula o tamanho ósseo é justo para abrigar os dentes permanentes. E na discrepância negativa o espaço disponível será insuficiente para os dentes permanentes não erupcionados. Realizar a análise da dentição mista é importante clinicamente pela oportunidade de intervenção precoce da má oclusão. 41UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Vale ressaltar que os incisivos inferiores foram escolhidos porque irrompem precocemente na dentadura mista, são facilmente medidos com exatidão, e estão diretamente envolvidos com a maioria dos problemas de controle de espaço. Fonte: Moyers (1991). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A cefalometria radiográfica consiste na mensuração de grandezas físicas, angula- res e lineares em radiografias da cabeça. Esse elemento diagnóstico tem como objetivos: a apreciação do crescimento dos distintos componentes ósseos do crânio e da face, além da direção do crescimento dos maxilares e seus principais incrementos, de acordo com a idade; o diagnóstico clínico da anomalia que o paciente apresenta; a comparação das mudanças ocasionadas durante o tratamento ortodôntico pelo aparelho empregado e pelo crescimento; e a avaliação dos resultados obtidos mediante cálculos seriados superpostos. 1.1. Telerradiografia A telerradiografia é tomada com o lado esquerdo do paciente voltado para o filme radiográfico. A cabeça deve estar perfeitamente posicionada no cefalostato para que as superposições das estruturas anatômicas bilaterais sejam coincidentes e projetem uma imagem única. O cefalostato possui duas hastes radiolúcidas paralelas equipadas em sua porção inferior com um dispositivo radiopaco (posicionadores ou olivas articulares), que é introduzido no conduto auditivo externo do paciente. O rebordo inferior da órbita deve ser posicionado paralelamente às olivas auriculares, de modo que o plano de Frankfurt esteja paralelo ao solo. Essa posição é dada pelo suporte anterior do cefalostato, que fica apoiado na região do násio do paciente. Deve ser solicitado ao paciente que mantenha os dentes em oclusão (Figura 3). UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 CEFALOMETRIATÓPICO 42 FIGURA 3 - TELERRADIOGRAFIA EM NORMA LATERAL. Fonte: Arquivo pessoal. A radiografia de norma lateral, antes do traçado cefalométrico, deve ser analisada a fim de detectar qualquer anormalidade patológica, incluindo a análise do trajeto nasofa- ringeano e bucofaringeano. 2.2. Cefalograma lateral É composto pelo desenho anatômico e pelos traçados de orientação. No desenho anatômico, são demarcadas as principais estruturas anatômicas. Ele é dividido em desenho de estruturas moles e duras. 2.2.1 Estruturas duras As estruturas duras de importância são: sela túrcica, glabela e ossos nasais, meato acústico externo, borda inferior da órbita, fissura pterigomaxilar, maxila, mandíbula, sínfise, dentes incisivos e dentes molares. 2.2.2. Estruturas moles Estruturas moles importantes são o perfil tegumentar e espaço nasofaringeano. 43UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 2.2.3. Referências Cefalométricas 2.2.3.1. Pontos cefalométricos 2.2.3.1.1. Pontos sagitais ou ímpares Os pontos de atenção aqui são Básio (Ba), Sela (S), Násio (N), Espinha nasal anterior (ENA) e posterior (ENP), Ponto A (subespinhal), Ponto B (supramentoniano), Ponto D, Pogônio (P), Mentoniano (Me), Gnátio (Gn), Lábio superior (Ls) e inferior (Li) e Pogônio mole (P’) (Figura 4). 2.2.3.1.2. Pontos laterais ou pares Pório (Po), Orbitário (Or), Pterigomaxilar (Pt) e Gônio (Go) (Figura 4). FIGURA 4 - PONTOS CEFALOMÉTRICOS.Fonte: Jason et al. (2013, p. 136). 2.2.3.2. Planos e linhas cefalométricas As linhas representam a ligação de dois pontos, e as linhas de importância são: Linha SN, Linha NA, Linha NB, Linha ND, Linha NP, Linha SGn, Linha AP, Linha do incisivo superior, Linha do incisivo inferior, Linha H (linha de Holdaway). Os planos são a ligação de três ou mais pontos cefalométricos: Plano de Frankfurt (PoOr), Plano oclusal mandibular e Plano mandibular. 2.2.4. Interpretação das medidas cefalométricas – Padrão FOB/USP* Várias são as análises cefalométricas existentes, mas todas almejam alcançar o mesmo objetivo. 44UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Aqui vamos seguir a análise cefalométrica padrão FOB/USP. 2.2.4.1. Pontos cefalométricos A análise cefalométrica padrão FOB/USP utiliza os pontos S, N, A, B, D, P, Me, Go, Gn, Or, Po e, o não anteriormente citado, ponto Pn (pró-nasal). 2.2.4.2. Medidas A análise cefalométrica padrão FOB/USP é dividida em cinco campos: posição da maxila e da mandíbula; relação maxilomandibular; análise vertical; análise do padrão dentário; e análise do perfil (Figura 5). 2.2.4.2.1. Posição da maxila e da mandíbula Ângulo SNA: Formado pelos planos SN e NA. Mostra a posição anteroposterior da maxila em relação à base do crânio (Média de 81,5o no padrão brasileiro, com desvio padrão de ± 2o). Quando SNA = 81,5o – maxila bem posicionada em relação à base do crânio; SNA > 81,5o – maxila protruída em relação à base do crânio; e SNA < 81,5o – maxila retruída em relação à base do crânio. Ângulo SNB: Formado pelos planos SN e NB. Mostra a posição anteroposterior da mandíbula em relação à base do crânio (Média de 79,5o no padrão brasileiro, com devio padrão de ± 2o). Quanto SNB = 79,5o – mandíbula bem posicionada em relação à base do crânio; SNB > 79,5o – mandíbula protruída em relação à base do crânio; e SNB < 79,5o – mandíbu- la retruída em relação à base do crânio. 2.2.4.2.2. Relação maxilomandibular Ângulo ANB: Formado pelas linhas NA e NB. Representa a relação maxilomandibu- lar no sentido anteroposterior. Quando a linha NB estiver à frente da linha NA, esse ângulo deve receber sinal negativo (Média de 2o). Quando ANB = 2o – relação de Classe I; ANB > 2o – relação de Classe II; e ANB < 2o – relação de Classe III. 45UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 2.2.4.2.3. Análise vertical Ângulo sNGoGn: Linha SN com o plano GoGn. Representa a inclinação do plano mandibular em relação à base do crânio e auxilia na interpretação da tendência de cresci- mento no sentido vertical (Média de 31,5o no padrão brasileiro, com desvio padrão de ± 4o). Quando SNGoGn = 31,5o – padrão bom, tendência de crescimento equilibrado; SNGoGn > 31,5o – padrão ruim, tendência de crescimento vertical; e SNGoGn < 31,5o – padrão bom, tendência de crescimento horizontal. Ângulo NsGn: Linhas SN e SGn. Auxilia na determinação do padrão de crescimento no sentido vertical. Eixo Y de crescimento (Média de 66,5o no padrão brasileiro, com desvio padrão de ± 4o). Quando NSGn = 66,5o – padrão bom, tendência – crescimento equilibrado; NSGn > 66,5o – padrão ruim, tendência de crescimento vertical; e NSGn < 66,5o – padrão bom, tendência de crescimento horizontal. 2.2.4.2.3. Análise do padrão dentário Ângulo 1.NA: Longo eixo do incisivo superior com a linha NA. Indica a inclinação axial deste dente em relação à sua base óssea (Média de 23o no padrão brasileiro). Quando 1.NA = 23o – incisivos superiores apresentam uma boa inclinação; 1.NA > 23o – incisivos superiores apresentam-se inclinados para vestibular; e 1.NA < 23o – incisivos superiores apresentam-se inclinados para lingual. Ângulo1.NB: Longo eixo do incisivo inferior com a linha NB. Indica a inclinação axial dos incisivos inferiores com sua base óssea (Média de 26,5o no padrão brasileiro). Quando 1.NB = 26,5o – incisivos inferiores apresentam uma boa inclinação; 1.NB > 26,5o – incisivos inferiores apresentam-se inclinados para vestibular; e 1.NB < 26,5o – incisivos inferiores apresentam-se inclinados para lingual. 2.2.4.2.3. Análise do perfil Ângulo NAP: Linhas NA com AP. Descreve o perfil ósseo. Quando a linha NA passar à frente da linha AP, o ângulo recebe sinal negativo (Média de 2,5o no padrão brasileiro). Quando NAP = 2,5o – perfil ósseo reto, relação de classe I; NAP > 2,5o – perfil ósseo convexo, relação de classe II; e NAP < 2,5o – perfil ósseo côncavo, relação de classe III. 46UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Linha H-nariz: distância entre o ponto Pn e a linha P’Ls. Descreve o perfil mole do paciente. Quando a linha P’Ls passar à frente do ponto Pn, a linha H-nariz recebe sinal negativo (Média: de 9 a 11 mm). Quando Linha H-nariz entre 9 e 11 mm – perfil mole reto, relação de Classe I; linha H-nariz > 9 a 11 mm – perfil mole côncavo, relação de Classe III; e Linha H-nariz < 9 a 11 mm – perfil mole convexo, relação de Classe II. Figura 5 - Traçados cefalométricos no padrão USP feito por computador. Fonte: Guedes et al. (2010, p. 46). Para descrever a análise cefalométrica de acordo com a tabela universal, quando as medidas forem: >1 e <3 – descrever como ligeiramente ou suavemente; a partir de 3 e <5 – descrever sem adjetivo; a partir de 5 – descrever como acentuadamente. 47UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 Estrutura e função do ligamento periodontal Cada dente é ligado ao osso alveolar adjacente e separado do mesmo por uma estrutura de suporte de colágeno, o ligamento periodontal (LP). Em circunstâncias normais, o LP tem 0,5 mm aproximadamente de espessura em volta da raiz. O maior componente do ligamento é uma rede de fibras colágenas paralelas, inseridas no cemento da superfície radicular e em uma placa óssea, a lâmina densa. Esse arranjo impede o deslocamento do dente durante a função normal (Figura 6). FIGURA 6 - REPRESENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS PERIODONTAIS. Fonte: Proffit, Fields Júnior e Sarver (2007, p. 308). Além dos feixes de fibras colágenas, dois outros componentes constituem a fixação do ligamento: os elementos celulares e os fluidos tissulares. UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 BIOLOGIA DO MOVIMENTO DENTÁRIOTÓPICO 48 Os principais elementos celulares no LP são células mesenquimais indiferenciadas e suas descendentes na forma de fibroblastos e osteoblastos. O colágeno do ligamento é constantemente remodelado e renovado durante a função normal. As mesmas células podem servir como fibroblastos, produzindo novos materiais da matriz colágena, ou como fibroblastos, destruindo o colágeno produzido previamente. A remodelação e o recontorno do alvéolo ósseo e do cemento radicular também estão sendo constantemente realizados, em menor escala, como resposta à função normal. Embora o LP não seja amplamente vascularizado, ele contém vasos sanguíneos e células do sistema vascular. Terminações nervosas também são encontradas, tanto às terminações amielínicas livres, associadas à percepção da dor, como os receptores mais complexos associados à pressão e à informação da posição (propriocepção). Finalmente, é importante reconhecer que o espaço do LP é preenchido por fluido, que tem a função de amortecedor. 3.2. Resposta à Função Normal Durantea função mastigatória, os dentes e as estruturas periodontais estão sujei- tos a forças pesadas intermitentes. As forças podem variar de 1 a 2 kg na mastigação de substâncias macias, chegando até 50 kg na mastigação de substâncias mais resistentes. Quando um dente é submetido a cargas pesadas, seu rápido deslocamento para dentro do espaço do LP é prevenido pelo fluido tissular, que não se comprime. A força, por outro lado, é transmitida ao osso alveolar que se flexiona em resposta. A flexão óssea em resposta à função normal gera corrente piezoelétrica, mecanis- mo pelo qual a arquitetura óssea é adaptada às demandas funcionais. Muito pouco do fluido de dentro do espaço do LP é comprimido durante o primeiro segundo de aplicação da pressão. Entretanto, se a pressão contra o dente for mantida, o fluido é rapidamente escoado e o dente se desloca dentro do espaço do LP, comprimindo o ligamento contra o osso adjacente. Isto causa dor, normalmente sentida após 3 a 5 segun- dos da aplicação da força pesada. Apesar de o LP ser adaptado para resistir às forças de curta duração, ele rapi- damente perde esta capacidade adaptativa com a compressão e o extravasamento dos fluidos tissulares desta área confinada. A força prolongada, mesmo de baixa magnitude, produz uma resposta fisiológica diferente (remodelação do osso adjacente). E é assim que o movimento dentário ortodôntico se torna possível. Além disso, forças leves prolongadas no ambiente natural (forças dos lábios, bochechas ou a língua repousando contra os den- tes) têm o mesmo potencial que as forças ortodônticas para fazer com que os dentes se movam. 49UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 3.3 Resposta óssea e do ligamento periodontal à força ortodôntica contínua Forças pesadas levam ao desenvolvimento da dor, necrose dos elementos celula- res do LP e ao fenômeno da “reabsorção a distância” do osso alveolar próximo do dente afetado. Forças mais leves são compatíveis com a sobrevivência das células no LP e com uma remodelação do alvéolo dentário através de “reabsorção frontal”, relativamente sem dor. Na prática ortodôntica, o objetivo é produzir movimento dentário sempre que possível por reabsorção frontal, reconhecendo que provavelmente ocorrerão em algumas áreas de necrose e reabsorção solapante, apesar de esforços para evitá-las. 3.3.1 Controle Biológico do Movimento Dentário 3.3.1.1. Teoria da bioeletricidade Sinais elétricos que podem iniciar o movimento dentário são considerados piezoe- létricos e eles possuem duas características: (1) rápida taxa de declínio, e (2) a produção de um sinal equivalente, em direção oposta, quando a força é liberada. Quando uma estrutura é deformada, elétrons migram de um local para outro, e observa-se uma carga elétrica. Enquanto a força é mantida, a estrutura é estável, mas quando a força é liberada, a estrutura retorna à sua forma original e um fluxo reverso de elétrons é notado. Não há dúvida de que os sinais gerados por tensão são importantes na manuten- ção geral do esqueleto. Sem estes sinais os componentes minerais do osso são perdidos, resultando em atrofia do esqueleto. Por outro lado, a força contínua, como a usada para produzir movimento dentário ortodôntico, não produz sinais notórios gerados por tensão. Quando a força é aplicada, um breve sinal é criado; quando ela é removida, o sinal reverso aparece. Enquanto a força é mantida, entretanto, nada acontece. 3.3.1.2 Teoria da pressão-tensão Mensageiros químicos são importantes na cascata de eventos que levam à remo- delação do osso alveolar e ao movimento dentário. Nesta teoria, uma alteração no fluxo sanguíneo dentro do LP é produzida por pressão contínua que causa a mudança de posição do dente dentro do espaço do LP, com- primindo o ligamento em algumas áreas enquanto tensiona em outras. O fluxo sanguíneo 50UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO diminui onde o ligamento é comprimido, enquanto é mantido ou aumentado onde o LP está sob tensão. Em essência, são três estágios: (1) alterações no fluxo sanguíneo associadas à pressão no interior do LP, (2) formação e/ou liberação de mensageiros químicos e (3) ativação celular. 3.4 Efeitos da magnitude da força Quanto mais pesada a força aplicada, maior será a redução no fluxo sanguíneo nas áreas comprimidas, até o ponto em que os vasos se tornam totalmente colapsados e sem fluxo sanguíneo. Quando uma força leve, porém prolongada, é aplicada a um dente, o fluxo sanguíneo através do LP diminui tão logo o fluido é extravasado do espaço do LP, e o dente se move em seu alvéolo (em segundos). Dentro de aproximadamente 4 horas, a alteração resultante produz um padrão diferente de atividade celular – por isso, se um aparelho removível é usado por menos de 4 a 6 horas por dia, ele não produzirá efeito ortodôntico. Os níveis de prostaglandina e interleucina-1 beta aumentam no LP dentro de um período curto de tempo após a aplicação da pressão, e está claro que a prostaglandina é um importante mediador da resposta celular. Existem evidências de que as prostaglandinas são liberadas quando as células são mecanicamente deformadas (a liberação de prostaglandina pode ser mais uma resposta primária à pressão do que secundária). É provável que a mobilização de fosfolipídios da membrana, que levam à formação do fosfato inositol, seja outra via da eventual resposta celular. Outros mensageiros químicos, particularmente membros da família das citocinas, como o óxido nítrico (NO) e outros reguladores da atividade celular, também estão envol- vidos. 51UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Uma vez que vários tipos de drogas podem afetar os níveis de prostaglandina e de outros mensageiros químicos em potencial, a modificação farmacológica em resposta à força ortodôntica é mais que uma simples possibilidade teórica. Fonte: Janson et al. (2013). Para um dente se mover, os osteoclastos devem ser formados, de modo que eles possam remover osso da área adjacente à parte comprimida do LP. Osteoblastos também são necessários para formar novo osso no lado de tensão e remodelar áreas reabsorvidas no lado de pressão. A prostaglandina E tem uma interessante propriedade de estimular tanto a atividade osteoclástica quanto a osteoblástica, fazendo isto apropriadamente como um mediador do movimento dentário. Estudos da cinética celular indicam que elas chegam em duas ondas, significando que algumas (a primeira onda) podem ser derivadas da população celular local, enquanto outras (a segunda onda, maior) são trazidas de áreas distantes via fluxo sanguíneo. Essas células atacam a lâmina dura, removendo osso pelo processo de “reabsorção frontal”, e o dente começa a se movimentar logo após. Um pouco depois, os osteoblastos (recrutados localmente de células progenitoras no LP) formam osso no lado de tensão e iniciam ativida- de remodeladora no lado de pressão. O curso dos eventos é diferente se a força aplicada contra o dente é grande o su- ficiente para ocluir totalmente os vasos sanguíneos e interromper o suprimento sanguíneo para uma determinada área do LP. Quando isto ocorre, antes de as células da área com- primida do LP serem estimuladas a se diferenciar em osteoclastos inicia-se uma necrose estéril nessa área. Por causa desta aparência histológica de desaparecimento das células, essa área avascular no LP é chamada de hialinizada. Quando isto acontece, a remodelação do osso adjacente à área necrosada do LP tem que ser realizada por células derivadas de áreas adjacentes não danificadas. Após um atraso de vários dias, os elementos celulares começam a invadir a área necrosada (hialinizada). Os osteoclastos aparecem nos espaços medulares ósseos adjacentes e começam um ataque por baixo do osso, imediatamente adjacente à área necrosada do LP. Este processo é adequadamente descrito como absorção solapante. A diferença de tempo gasto para o movimentodentário com reabsorção frontal e com reabsorção solapante é mostrada graficamente na Figura 7. 52UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Figura 7 - Representação esquemática do curso de tempo. Fonte: Proffit, Fields Júnior e Sarver (2007, p. 314). Entretanto, mesmo com forças leves pequenas, áreas avasculares podem se de- senvolver no LP, e o movimento dentário será retardado até que estas áreas possam ser removidas por reabsorção solapante. A suave progressão do movimento dentário com forças leves pode ser um ideal ina- tingível quando força contínua é utilizada. Clinicamente, o movimento dentário ocorre, com frequência, de uma forma mais intercalada, por causa das inevitáveis áreas de reabsorção solapante (que duram de 7 a 14 dias). Aparelhos ortodônticos não devem ser reativados com frequência maior do que de 3 em 3 semanas, pois se o aparelho é flexível e forças leves produzem uma reabsorção frontal contínua, não há necessidade de maior ativação. Entretanto, se o aparelho for rígido e ocorrer reabsorção solapante, o movimento dentário ocorre nos primeiros 10 dias e have- rá um período igual ou maior para regeneração e reparo do LP antes de a força ser aplicada novamente. Esta fase de reparo é altamente desejável e necessária, pois a ativação muito frequente de um aparelho pode produzir danos aos dentes ou ao osso, ao passo que, se fosse a longos intervalos, o dano seria evitado ou, pelo menos, minimizado. 53UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1. Tratamento Ortodôntico Preventivo A ortodontia preventiva tem o objetivo preservar a integridade da evolução normal das arcadas dentárias e da oclusão, buscando evitar que maloclusões se instalem. Dessa forma, busca o reconhecimento precoce de cáries dentárias e a realização de restaurações que se adequem ao tamanho mésio-distal e cérvico-oclusal dos dentes reabilitados. Outra situação é a perda precoce de dentes decíduos, bastante frequente e com identificação precoce muito importante devido às possíveis consequências para oclusão quando nenhuma intervenção é feita. Caso haja perda precoce de dentes, sem reabilitação, pode ocorrer a migração dos dentes adjacentes e/ou extrusão do dente antagonista, dimi- nuindo ou fechando o espaço anteriormente ocupado pelo dente perdido. Um dente é mantido em sua correta posição pela ação de forças nos sentidos mesial, distal, oclusal e cervical. Se uma dessas forças for alterada, ocorrem mudanças na relação dos dentes adjacentes e antagonistas, resultando em migração dentária e perda de espaço no arco dentário. Por isso, quando um dente é perdido é necessário a intervenção do ortodontista, fazendo a instalação de mantenedor de espaço. Os aparelhos mantenedores de espaço preservam o espaço no arco dentário deixado pela perda precoce de um ou mais dentes decíduos. Eles podem ser fixos ou removíveis e devem permanecer instalados até a erupção dos dentes sucessores. Alguns exemplos de mantenedores de espaço são a Banda Alça (Figura 8), Coroa Alça (Figura 9), Botão de Nance (Figura 10) entre outros. UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 TRATAMENTO ORTODÔNTICO PREVENTIVO, INTERCEPTATIVOE CORRETIVOTÓPICO 54 FIGURA 8 - MANTENEDOR DE ESPAÇO TIPO BANDA ALÇA. Fonte: Jason et al. (2013, p. 107). FIGURA 9 - MANTENEDOR DE ESPAÇO TIPO COROA ALÇA. Fonte: Jason et al. (2013, p. 107). FIGURA 10 - MANTENEDOR DE ESPAÇO TIPO BOTÃO DE NANCE. Fonte: Jason et al. (2013, p. 109). 4.2. Tratamento Ortodôntico Interceptativo Graber, Vanarsdall e Vig (2012) relatam que a ortodontia interceptativa implica em interceptar uma situação anormal já existente, de modo a restabelecer a evolução normal da oclusão. Ela permite intervir nas más oclusões assim que elas são detectadas, numa fase mais precoce possível, como tentativa de evitar um desenvolvimento craniofacial incorreto em adultos. 55UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Tratar o paciente antes que este atinja a dentição permanente pode reduzir o nú- mero de intervenções posteriores e acelerar um tratamento futuro. É possível tratar as seguintes maloclusões na dentadura mista, a partir dos 5 anos: mordidas cruzadas posteriores, mordidas abertas anteriores e mordidas cruzadas anterio- res em padrão I ou padrão III. Todas as demais oclusões merecem aguardar a dentadura mista para serem tratadas (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). 4.2.1. Mordida cruzada posterior A relação entre os arcos superior e inferior revela um erro no sentido transversal, com um ou mais dentes posteriores superiores ocluindo por lingual em relação aos dentes inferiores (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013) (Figura 11). FIGURA 11 - ATRESIA DO ARCO DENTÁRIO SUPERIOR. ESTAS FOTOS MOSTRAM UM APARELHO EXPANSOR TIPO HASS, INSTALADO PARA A CORREÇÃO DA DEFICIÊNCIA TRANSVERSAL DA MAXILA. Fonte: Silva Filho, Garib e Lara (2013, p. 340). Tão importante quanto diagnosticar a mordida cruzada posterior é identificar a natureza dessa atresia do arco dentário superior (dentoalveolar ou esquelética). Essa diferenciação é quem dita o plano de tratamento, que pode ser expansão ortodôntica ou or- topédica, respectivamente. Isso é possível mediante avaliação da posição vestibulolingual dos dentes posteriores, de canino até o último molar. Se esses dentes estiverem inclinados para lingual, a atresia do arco dentário superior é dentoalveolar. Porém, se esses dentes estiverem com inclinação axial vestibulolingual correta, o problema é esquelético. 56UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO Na mordida cruzada posterior, a meta terapêutica consiste em alargar o arco den- tário superior, e isso pode ser realizado nos três estágios de desenvolvimento da oclusão, a partir dos 5 anos. A adequação do arco dentário superior tem como objetivo o ajuste do arco dentário superior ao arco dentário inferior. Assim, define-se a mordida cruzada posterior como a atresia do arco dentário su- perior (redução das dimensões transversais), com conotação dentoalveolar ou esquelética, sem compensação do arco dentário inferior. Nessa circunstância, o arco dentário inferior é uma referência de normalidade para o diagnóstico e a quantificação do tratamento do problema transversal superior (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). Porém, existem situações em que o arco dentário inferior também está atrésico e a relação interarcos é normal (Figura 12). Nesse caso é indicado tratar somente a partir da dentadura mista. FIGURA 12 - NESTE CASO A ATRESIA DO ARCO SUPERIOR FOI COMPENSADA PELA ATRESIA DO ARCO INFERIOR, ESTABELECENDO UMA RELAÇÃO INTERARCOS NORMAL, SEM MORDIDA CRUZADA. Fonte: Silva Filho, Garib e Lara (2013, p. 343). 57UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 4.2.2. Mordida aberta anterior Esse tipo de má oclusão é normalmente associado a hábitos de sucção já que os desequilíbrios musculares decorrentes desses hábitos bucais deletérios, durante o período de crescimento facial, podem atrapalhar o desenvolvimento normal da oclusão, comprome- tendo a morfologia e a função desse intrincado sistema estomatognático. A mordida aberta anterior retrata a má oclusão mais comum na época de dentadura decídua. A presença do hábito de sucção imprime caráter dentoalveolar à mordidaaberta anterior e levanta um prognóstico favorável para o tratamento e a estabilidade pós-trata- mento (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). Entretanto, a mordida aberta anterior pode não estar vinculada aos hábitos de sucção. Nessa condição, a maloclusão é reflexo do padrão esquelético e/ou do posiciona- mento lingual como agentes causadores primários. A mordida aberta anterior desvinculada dos hábitos de sucção tem prognóstico de tratamento e de estabilidade pós-tratamento desfavoráveis (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). Essa maloclusão é caracterizada pela falta de contato entre os arcos dentários na região anterior enquanto os dentes posteriores se encontram intercuspidados (Figura 13). A presença de hábitos de sucção também pode provocar alterações transversais, como a mordida cruzada posterior, e alterações sagitais nos dentes anteriores, como a vestibula- rização dos incisivos superiores e a lingualização dos incisivos inferiores (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). Os hábitos bucais deletérios potencialmente causadores de maloclusões são a respiração bucal, a sucção de chupeta e dedo e o pressionamento lingual atípico (SILVA FILHO; GARIB e LARA, 2013). FIGURA 13 - A MORDIDA ABERTA ANTERIOR É REPRESENTADA PELA FALTA DE CONTATO DOS DENTES ANTERIORES ENQUANTO OS DENTES POSTERIORES ESTÃO EM OCLUSÃO. Fonte: Silva Filho, Garib e Lara (2013, p. 376). 58UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 4.3 Tratamento Ortodôntico Corretivo O tratamento ortodôntico corretivo busca tornar a oclusão do paciente tão ideal quanto possível, reposicionando todos, ou praticamente todos, os dentes no tratamento. Esse tipo de tratamento normalmente é o mais comum, já que muitos pacientes acabam deixando para tratar de seus dentes quando o problema já está instalado na cavidade oral. A partir dessa perspectiva, o tratamento da dentição mista não é corretivo, pois a posição final de todos os dentes permanentes não é afetada (PROFFIT et al., 2021). O tratamento corretivo normalmente exige um aparelho fixo completo. O momento ideal para o tratamento é na adolescência, quando os dentes permanentes já erupcionaram, algum crescimento vertical e ântero posterior dos maxilares permanece e o ajuste social ao tratamento ortodôntico não é um grande problema. Mesmo assim, o tratamento corretivo também é possível para adultos, mas apresenta alguns problemas especiais. Talvez a maior diferença seja que, para adultos, outros tipos de tratamento odonto- lógico são quase sempre necessários, tornando a abordagem interdisciplinar. A prevalência de problemas periodontais aumenta com a idade, e até mesmo adultos jovens poderão necessitar de algum nível de atenção periodontal. Com o envelhecimento dos pacientes adultos, o tratamento ortodôntico deve ser realizado no contexto de uma dentição já utili- zada, com dentes desgastados e implicações restauradoras, e não de maneira semelhante ao tratamento realizado em uma dentição jovem, como a encontrada em adolescentes. A ausência de crescimento nos adultos significa que o controle do crescimento não é uma op- ção de tratamento – tudo é feito com movimento dental, dentística restauradora ou cirurgia ortognática. Nesse sentido, planejar um tratamento ortodôntico para adultos pode ser mais fácil, porque não há incertezas relacionadas com a quantidade e a direção de crescimento; contudo, tratar adultos requer um alto nível de habilidade técnica, conhecimento sobre outras especialidades e compreensão de biomecânica. 59UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim da nossa unidade II. E o que você tem achado dessa incrível disciplina que é a Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares? Nesta unidade, você pôde entender como é feita a análise da dentadura mista, sendo agora capaz de avaliar a discrepância existente entre o espaço disponível e o es- paço necessário para a acomodação de caninos e pré-molares não erupcionados. Esse diagnóstico ortodôntico precoce ajuda na execução de um correto plano de tratamento para nosso paciente. Além disso, você estudou sobre outro meio de diagnóstico ortodôntico, a cefalome- tria. Esse é um dos métodos comumente usados para se obter informações sobre o padrão de crescimento craniofacial, com a mensuração de grandezas físicas, angulares e lineares em radiografias da cabeça. Seguindo nossa linha de raciocínio, discutimos sobre a biologia do movimento dentário, e como ele acontece durante a função normal e durante o movimento ortodôntico. Entender a resposta do ligamento periodontal e do osso, nas duas situações mencionadas, é de extrema importância para o tratamento do nosso paciente. Finalizamos essa unidade com o nosso tópico IV, onde você pode aprender sobre o tratamento ortodôntico que visa preservar a integridade de uma evolução normal da oclusão e das arcadas dentárias (ortodontia preventiva), sobre o tratamento que intercepta uma maloclusão já estabelecida (ortodontia interceptiva) e sobre o tratamento que tem seus esforços voltados para tornar a oclusão do paciente tão ideal quanto possível (ortodontia corretiva). Obrigada pela companhia até aqui e até a próxima unidade! UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 60 LEITURA COMPLEMENTAR • Artigo: A aplicabilidade da análise de Moyers na população brasileira: Revisão descritiva • Autor: Érico Vinícios Barroso de Souza • Link de acesso: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/13522 • Resenha: O trabalho de Souza esclarece a aplicabilidade da análise de Moyers em brasileiros e deixa claro a necessidade de um método mais preciso e ade- quado às variações fenotípicas da população. Fonte: SOUZA, É. V. B. A aplicabilidade da análise de Moyers na população brasileira: Revisão descritiva. 2017. 18f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017. • Artigo: Estudo da posição natural da cabeça em relação ao plano horizontal de Frankfurt na avaliação mandibular de indivíduos com padrão facial de Classe I e Classe II • Autores: Sérgio Carmelo Tôrres, Cláudio Costa e Kurt Faltin Junior • Link de acesso: https://www.researchgate.net/publication/238081044_Estudo_ da_posicao_natural_da_cabeca_em_relacao_ao_plano_horizontal_de_Frank- furt_na_avaliacao_mandibular_de_individuos_com_padrao_facial_de_Clas- se_I_e_Classe_II • Resenha: Este estudo avaliou o plano de Frankfurt e a posição mandibular em pacientes com padrões faciais de Classe I e II, relacionados à postura natural da cabeça. Os resultados mostraram alta variação entre o plano de Frankfurt e a linha horizontal verdadeira nos dois grupos. Porém, a diferença média apre- sentou-se mínima, estatisticamente não significante e semelhante em ambos os grupos. • Fonte: TÔRRES, S. C.; COSTA, C.; FALTIN JUNIOR, K. Estudo da posição natural da cabeça em relação ao plano horizontal de Frankfurt na avaliação mandibular de indivíduos com padrão facial de Classe I e Classe II. R Dental Press Ortodon Ortop Facial, Maringá, v. 11, n. 1, p. 84-98, jan./fev. 2006. UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO 61 http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/123456789/13522 https://www.researchgate.net/publication/238081044_Estudo_da_posicao_natural_da_cabeca_em_relacao_ao_plano_horizontal_de_Frankfurt_na_avaliacao_mandibular_de_individuos_com_padrao_facial_de_Classe_I_e_Classe_II https://www.researchgate.net/publication/238081044_Estudo_da_posicao_natural_da_cabeca_em_relacao_ao_plano_horizontal_de_Frankfurt_na_avaliacao_mandibular_de_individuos_com_padrao_facial_de_Classe_I_e_Classe_II https://www.researchgate.net/publication/238081044_Estudo_da_posicao_natural_da_cabeca_em_relacao_ao_plano_horizontal_de_Frankfurt_na_avaliacao_mandibular_de_individuos_com_padrao_facial_de_Classe_I_e_Classe_II https://www.researchgate.net/publication/238081044_Estudo_da_posicao_natural_da_cabeca_em_relacao_ao_plano_horizontal_de_Frankfurt_na_avaliacao_mandibular_de_individuos_com_padrao_facial_de_Classe_I_e_Classe_IIMATERIAL COMPLEMENTAR • Título: Ortodontia Interceptiva. • Autores: Omar Gabriel da Silva Filho, Daniela Gamba Garib e Tulio Silva Lara. • Editora: Artes Médicas. • Sinopse: Este livro aborda sobre ortodontia preventiva e in- terceptiva. Aqui se explica o protocolo de tratamento em duas fases, onde o paciente é tratado primeiro na dentadura decídua ou mista, assim que se identifica a maloclusão é, e posterior- mente na segunda fase, de dentadura permanente, para finali- zar a oclusão. • Título: Gota #14 - Como acontece a movimentação dentária ortodôntica? • Ano: 2017. • Sinopse: Um vídeo didático e ilustrativo, de um projeto da PU- C-MINAS, sobre como acontece a movimentação dentária orto- dôntica. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=mgSoXaQ- CMPs 62UNIDADE 2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO ORTODÔNTICO https://www.youtube.com/watch?v=mgSoXaQCMPs https://www.youtube.com/watch?v=mgSoXaQCMPs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Articulação temporomandibular; • Disfunção temporomandibular. Objetivos da Aprendizagem • Conhecer a anatomia da articulação temporomandibular, junto às suas principais estruturas; • Compreender as alterações nos músculos da mastigação e da região adjacente (disfunções temporomandibulares). 3UNIDADEUNIDADEARTICULAÇÃOARTICULAÇÃOTEMPOROMANDIBULARTEMPOROMANDIBULARProfessora Mestra Laís Caroline Poleto INTRODUÇÃO Olá, aluno (a)! Tudo bem? Como tem sido sua jornada de estudos até aqui? Espero que essas últimas unida- des tenham despertado seu interesse sobre a incrível disciplina de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Lembre-se que nossas discussões são, também, uma provocação para que você se sinta motivado a ir em busca de aprofundamento, pois essas atualizações constantes do conhecido são o que o tornarão um bom profissional. Ao final de cada unidade, eu proponho leituras complementares, vídeos e artigos científicos para que você possa aprender cada vez mais. Não deixe de buscar conhecimen- to além desta apostila. Dando continuidade, chegamos a nossa terceira unidade. Essa é uma unidade de um tema bastante relevante, a articulação temporomandibular. Mas o que seria isso? A articulação temporomandibular (ATM) é considerada como uma das mais com- plexas existentes no corpo. Ela faz em torno de 1500 a 2000 movimentos de abrir e fechar a boca por dia. Em virtude da sua extensa dinâmica funcional, a ATM pode ser alvo de disfunções que ocasionam uma sintomatologia dolorosa crânio-facial acompanhada de movimentos estereotipados. No tópico I desta unidade, será abordado sobre a articulação temporomandibular em si. Aqui vou explicar a anatomia da ATM, relatando suas principais estruturas (superfície articular, cabeça da mandíbula, disco articular, cápsula articular e ligamento externo e o tecido sinovial). Logo após, você irá aprender as características da ATM no recém-nascido e o desenvolvimento do sistema estomatognático - a lei de desenvolvimento posteroanterior e transversal. Já no tópico II irei apresentar a disfunção temporomandibular (DTM), termo adotado para designar alterações nos músculos da mastigação e da região adjacente. A DTM é um grupo de problemas caracterizados por dor na face, nas ATM e nos músculos da mastigação; desvios ou limitações nos movimentos da mandíbula; barulho nas ATM e/ou dor durante a função mandibular (mastigar, bocejar, deglutir, cantar, etc.); e dores de cabeça. Aqui iremos discutir sobre a prevalência, os sinais e sintomas, como reconhecer e diagnosticar e como e quando tratar essas disfunções temporomandibulares. Eu já estou ansiosa! Podemos começar? UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 64 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A articulação temporomandibular trata-se de uma articulação bilateral, porém total- mente interdependente; representa a ligação articulada da mandíbula com a base do crânio. É composta de uma superfície articular não-linear, no osso temporal, com uma superfície côncava, chamada cavidade articular (também conhecida como cavidade glenóide ou fossa mandibular) e precedida da eminência articular, a parte convexa da superfície por onde escorre a cabeça mandibular no momento da translação (Figura 1). FIGURA 1 - ESQUEMA LATERAL DA ATM Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/temporomandibular-joints-arthritis-dislocated-articular-disc-1780339286 UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 ARTICULAÇÃOTEMPOROMANDIBULARTÓPICO 65 1.1. Anatomia da ATM A articulação temporomandibular (ATM) é formada especificamente pela articulação do processo condilar da mandíbula com a fossa mandibular do osso temporal. O côndilo mandibular apenas se articula indiretamente com a fossa mandibular porque ele é separa- do dela pelo menisco articular. As partes do côndilo e da fossa mandibular que realmente se articulam entre si são revestidas por uma fibrocartilagem. Isso desvia da arquitetura típica de articulação porque a maioria dos ossos que se articulam entre si são cobertos por cartilagem hialina. A diferença principal entre a cartilagem hialina e a fibrocartilagem é que a última é desprovida de tecido vascular. Isso é importante para a ATM porque os vasos sanguíneos seriam esmagados pela ação da ATM durante a mastigação e a atividade vocal se as superfícies fossem revestidas por cartilagem hialina. Finalmente, toda a ATM é encapsulada por uma membrana chamada cápsula articular. O côndilo é mantido no lugar por uma série de ligamentos. Esses incluem os ligamentos temporomandibular (ou lateral), esfenomandibular e estilomandibular. A ATM é classificada como uma articulação ginglimoartrodial. Essa espécie de arti- culação permite um movimento do tipo dobradiça, com um pouco de deslizamento limitado. Na verdade, existem duas ATM, mas, funcionando adequadamente, as duas atuam como uma unidade bilateral única. A articulação está organizada de um jeito que a mandíbula é capaz de se movimen- tar verticalmente (abertura e fechamento), anteroposteriormente (protrusão e retração), e transversalmente (de um lado para o outro). Todas essas três dimensões de movimento acontecem até certo ponto durante a mastigação e a fala. 1.1.1. Principais estruturas 1.1.1.1. Superfície articular A parte temporal da ATM é formada pela fossa e pela protuberância articular adja- cente pelo lado anterior. Trata-se da parte funcional da ATM. 1.1.1.2. Cabeça da mandíbula Apresenta uma superfície arredondada quediscorre sobre a cavidade articular. Esse tipo de “engrenagem” possibilita ao sistema movimentos de rotação e transla- ção, garantindo à mandíbula movimentos de abertura, lateralidade e protrusão. 66UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 1.1.1.3. Disco articular Interposto às estruturas ósseas, existe um disco articular que impede o desgaste acentuado das estruturas ósseas e facilita o movimento. Composto de cartilagem fibrosa, é elástico e resiliente que, em um corte frontal, tem forma de meia-lua e, sagitalmente, é bicôncavo, equilibrando as formas desiguais das faces articulares. Não apresenta inervação. Esse disco fixa-se no côndilo nos pólos medial e lateral, por meio dos ligamentos capsulares de articulação, envolvendo-o e acompanhando o seu movimento. O feixe superior do pterigóideo lateral fixa-se nele, controlando o seu movimento (Figura 2). Durante o processo de abertura, a ação mecânica da cabeça da mandíbula avança o disco, que faz um movimento anterior em relação à superfície articular, mas um movimen- to distal em relação à própria cabeça da mandíbula. Entretanto, seus ligamentos retrodiscais, durante esse avanço, forçam o seu retorno para posterior, cujo controle, no ato do fechamento mandibular, fica a cargo do pterigóideo lateral. FIGURA 2 - DISCO ARTICULAR É FUNDIDO LATERALMENTE À CÁPSULA ARTICULAR Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020, p. 72). 1.1.1.4. Cápsula articular e ligamento externo Envolvendo todo esse complexo, há a cápsula articular, no qual impede que o siste- ma se desmanche e controla o movimento como um todo. Trata-se de uma cápsula sinovial, rica em fibras de colágeno inseridas em tecido conjuntivo bem vascularizado e frouxo o suficiente para não obstruir os movimentos do côndilo articular. Insere-se na base craniana – na borda da face articular –, englobando-a e introduzindo-se no colo da mandíbula. 67UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 1.1.1.5. Tecido sinovial Sobreposto internamente ao tecido capsular como membrana sinovial, está disten- dida em todo o espaço articular formando dobras que seguem o disco quando se desloca com o côndilo para anterior. Da membrana sinovial sai o líquido sinovial para dentro do es- paço articular, servindo como meio de deslocamento, “lubrificante articular” e meio nutritivo para as partes articulares avascularizadas. Os produtos decompostos são eliminados do espaço articular por meio desta membrana. Ligamentos como o estilo-mandibular, esfenomandibular e temporomandibular e os que envolvem a cápsula ajudam a manter a estrutura da ATM. 1.2. Características da ATM no recém-nascido Nessa idade, a ATM não é uma estrutura definida como no adulto, em virtude de não haver eminência articular e de a fossa glenóide ser praticamente plana (Figura 3). Um tubérculo pós-glenóide está presente, mas apenas o suficiente para impedir o deslocamento dos arcos, de modo que toda a articulação depende, para sua estabilidade, da resistência dos ligamentos que a envolvem. FIGURA 3 - ATM DO RECÉM-NASCIDO (A) E DO ADULTO (B) Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020, p. 36). 68UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 1.2.2. Desenvolvimento do sistema estomatognático - Lei de desenvolvimento posteroanterior e transversal O desenvolvimento posteroanterior tem origem na parte posterior da ATM a partir do movimento de tração que a cabeça do côndilo exerce sobre o menisco articular durante o ato fisiológico da amamentação, estimulando simultaneamente ambos os lados, durante a ordenha, e corrigindo a distoclusão fisiológica do recém-nascido. Após o início da mas- tigação, apenas o lado de balanceio (o lado que desliza) se excita, desenvolvendo-se ali somente a hemimandíbula desse lado. Se a mastigação for bilateral e alternada, o desen- volvimento será simétrico e, caso ocorra uma mastigação viciosa, com o passar dos anos, haverá um desenvolvimento patológico das estruturas envolvidas. Nesta lógica, o lado de trabalho passa a apresentar uma altura alveolar maior, enquanto o lado de balanceio apresenta uma altura alveolar menor. Além disso, a linha média normalmente é desviada para o lado de trabalho. 69UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Disfunção Temporomandibular (DTM), ou Disfunção Craniomandibular (DCM), é um termo adotado para designar alterações nos músculos da mastigação e da região adjacen- te. Abrange problemas clínicos que envolvem os músculos da mastigação, as articulações temporomandibulares (ATM) e as estruturas associadas, ou ambas. De maneira mais objetiva e simplificada, DTM é um grupo de problemas caracte- rizados por: dor na face, nas ATM e nos músculos da mastigação; desvios ou limitações nos movimentos da mandíbula; barulho nas ATM e/ou dor durante a função mandibular (mastigar, bocejar, deglutir, cantar, etc.); e dores de cabeça. Porém, nem toda dor orofacial é DTM, já que esta representa apenas um subgrupo das dores orofaciais. Disfunções temporomandibulares (DTM) são mais prevalentes em indivíduos adul- tos. Entretanto, atualmente grande número de crianças e adolescentes têm apresentado distúrbios na ATM. Nessa população, os sintomas mais frequentes são dor nos músculos mastigatórios e da ATM, restrição ou abertura assimétrica da boca e ruídos articulares (cre- pitação, estalos). Essas desordens podem ser causadas por trauma, problemas oclusais, influência ambiental e genética, além de condições psicológicas. Diante disso, anamnese detalhada e inspeção por meio de palpação local e da musculatura associada podem somar ao diagnóstico e auxiliar na elaboração do plano de tratamento mais adequado. Casos severos de DTM devem ser encaminhados para área especializada, e posteriormente, com a melhora dos sintomas, inicia-se o tratamento ortodôntico (MATSUMOTO; STUANI e ROMANO, 2020). UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULARTÓPICO 70 O reconhecimento básico dos sinais e sintomas das DTM nas crianças e nos adolescentes é importante para o cirurgião-dentista e interessante aos pais, pois alguns pacientes apresentam DTM assintomática, no entanto, os sintomas podem se manifestar espontaneamente a qualquer momento da vida da criança ou do adolescente. Alguns sinais e/ou sintomas podem aparecer durante, ou após qualquer procedimento odontológico (res- taurador, endodôntico, periodontal, ortodôntico ou cirúrgico). Além disso, outra situação que justifica a observação dos sinais e/ou sintomas de DTM é a avaliação prévia em relação à prática esportiva. Geralmente, a criança ou o adolescente ou os pais/responsáveis relatam o aparecimento desses problemas associando-os ao tratamento que está sendo ou já foi realizado ou mesmo à prática de atividade esportiva. Por isso, é importante que o profissio- nal conheça a respeito do assunto, pois isso resultará em maior grau de confiabilidade entre os pais e o profissional, com a demonstração de preocupação deste para com a saúde do paciente. 2.1 Prevalência A prevalência de DTM em crianças e adolescentes, apesar de menor do que em adultos, varia de 7 a 68% (16% na dentição decídua e 90% na mista). É importante ressaltar que sua prevalência varia de acordo com a idade, os métodos e os critérios de diagnóstico utilizados, assim como apopulação estudada. Observa-se que a maioria dos sinais e sintomas em crianças é de grau leve e, muitas vezes, difícil de ser detectada, contudo, as disfunções graves nessa faixa etária são raras. 71UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A disfunção temporomandibular (DTM) pode restringir gravemente a capacidade de se utilizar a mandí- bula com o objetivo de mastigar ou falar. Os sintomas podem incluir dor facial e espasmos, movimento mandibular reduzido e ruídos na articulação. O tratamento pode incluir cirurgia ou o uso de uma prótese ortodôntica para reduzir o ranger dos dentes. Fonte: Fuller, Pimentel e Peregoy (2014). 2.2 Sinais e sintomas 2.2.1 Estalos Alguns sinais de DTM (p. ex., estalido e alteração nos movimentos mandibulares) podem ser consequência de modificações anatômicas das ATM, porém, ainda não se sabe se essas alterações se irão se manifestar como sintomas patológicos posteriormente. 2.2.3 Dores de cabeça Com relação às dores de cabeça recorrentes em crianças e adolescentes, estudos relatam que são comuns nesses períodos, com uma prevalência de 16 a 68% naqueles em idade escolar. A prevalência das dores de cabeça do tipo enxaqueca corresponde a 75% de sua ocorrência em crianças encaminhadas para avaliação neurológica, geralmente sendo descritas como intermitentes e estando frequentemente associadas a náuseas. Em uma avaliação de um grupo de crianças diagnosticadas com dores de cabeça, incluindo enxaqueca, Bertoli et al. (2007), observaram que aquelas que tinham enxaqueca apresentaram mais sinais e sintomas de DTM quando comparadas ao grupo-controle e a outros tipos de dores de cabeça (cefaleia tensional e dor de cabeça inespecífica) – um resultado estatisticamente significativo. É importante ressaltar que dores de cabeça relacio- nadas com DTM apresentam um prognóstico favorável quando do tratamento destes. 2.2.3 Tensão muscular Alguns estudos relatam que sinais e sintomas de DTM são mais comuns em crian- ças tensas, pois o aumento da ansiedade leva ao desenvolvimento da tensão muscular, causando dor. Tem-se citado também que um elevado nível de dor no pescoço pode causar aumento da tensão muscular nessa região, a qual, consequentemente, se espalha (re- fere) aos músculos pericranianos, causando uma dor de cabeça denominada tensional, classificada como uma dor secundária. Porém, essa dor da região cervical pode referir para a região facial, podendo desencadear DTM. Uma dor secundária ou heterotópica da região cervical pode ser sentida na área do trigêmeo é classificada como dor referida ou dor miofascial. 2.2.4 Hábitos parafuncionais Os hábitos parafuncionais são definidos como qualquer atividade ou comporta- mento não-funcional que envolva o sistema mastigatório. Nem sempre são prejudiciais e somente quando esses hábitos ultrapassam a tolerância fisiológica do indivíduo ocorrerá 72UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR alteração no sistema mastigatório. Se isso vier a acontecer, poderá afetar um tecido de menor tolerância estrutural, como articulações, dentes ou músculos. Hábitos parafuncionais incluem uma variedade de atividades, como mascar chi- cletes frequentemente, roer as unhas (onicofagia), morder lápis ou caneta, morder balas e gelo, remover partes dos brinquedos, fazer movimentos mandibulares voluntários sem contato dentário (brincar com a mandíbula) e o bruxismo [ato de ranger (atritar) ou apertar os dentes, podendo causar ou não o desgaste dentário]. De 75 a 78,8% das crianças praticam pelo menos um tipo de hábito parafuncional. Entretanto, o único hábito oral relacionado com os achados clínicos de DTM é o movimento mandibular voluntário, combinado com relatos clínicos de estalidos e dor ou cansaço du- rante a mastigação. Eventos estressantes na vida da criança podem aumentar a execução dos hábitos parafuncionais, sem necessariamente estar associados ao aumento da sintomatologia temporomandibular ou ao bruxismo, principalmente quando a criança apresenta apenas um único tipo desse hábito. Resultado significativo pode ocorrer se a criança apresentar dois ou mais hábitos parafuncionais. Pesquisas avaliam a ocorrência de sinais e sintomas de DTM e a relação destes com o bruxismo. No entanto, os resultados são controversos e não conclusivos. A etiologia do bruxismo é multifatorial e as causas mais discutidas estão relacionadas com fatores locais, mecânicos, neurológicos, psicológicos e genéticos. Pesquisadores sugerem que os fatores locais, como a maloclusão, têm se tornado menos significativos, enquanto os cognitivos e comportamentais, como a ansiedade, o estresse e os traços da personalidade, ganham mais atenção como fatores etiológicos. Não há um consenso na literatura com relação à pre- valência do bruxismo. Os valores variam de 7 a 68% em virtude da utilização de diferentes métodos para a coleta dos dados e amostras com diferentes faixas etárias e etnias. 2.3 Como reconhecer e diagnosticar Sintomas como dor na região pré-auricular, dor durante os movimentos mastigató- rios, dores de cabeça, restrição dos movimentos mandibulares e ocorrência de sons articu- lares são observados em crianças, embora com uma frequência menor em comparação à população adulta. Ao iniciar uma avaliação de uma criança ou adolescente para DTM, é difícil isolar um único fator etiológico. De modo geral, as DTM são consideradas de etiologia multifatorial e complexa. Os fatores etiológicos em crianças e adolescentes são similares aos que acome- tem os adultos, sendo classificados em iniciantes, predisponentes e perpetuantes das DTM. 73UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Os fatores iniciantes levam ao aparecimento de sinais e sintomas, estando pri- mariamente relacionados com: trauma ou sobrecarga do sistema mastigatório; lesões na cabeça, no pescoço, na face ou na mandíbula, resultantes de um maior impacto; ou mesmo lesão originada durante a mastigação, o bocejo ou abertura bucal prolongada em um pro- cedimento odontológico. As condições estruturais, metabólicas e psicológicas que afetam negativamente o sistema mastigatório são consideradas fatores predisponentes, pois aumentam o risco de desenvolvimento de uma DTM. Já os hábitos parafuncionais, tipo bruxismo, onicofagia, mordiscar objetos etc., são fatores perpetuantes, pois contribuem para a progressão dos sinais e sintomas das DTM. Os sinais e sintomas de DTM mais comuns nas crianças e nos adolescentes são dor nos músculos mastigatórios, fadiga muscular, dor na região pré-auricular e/ou na ATM, limitação dos movimentos mandibulares, desvio ou deflexão mandibular durante a abertura bucal, sons articulares (estalido e/ou crepitação), travamento de boca fechada ou aberta, dores de cabeça e desgaste dentário acentuado. Algumas doenças ósseas degenerativas, como osteoartrite (OA) e artrite reumatoi- de, podem acometer as ATM uni ou bilateralmente, sendo a mais comum entre as crianças e adolescentes a artrite reumatoide juvenil, também conhecida como artrite idiopática juvenil. De acordo com a Academia Americana de Odontopediatria (AAO), as DTM devem ser diagnosticadas por meio de anamnese, exame clínico e exames complementares por imagem. Na anamnese, deve-se investigar sobre a história médica e dentária, assim como verificar sobre a história de dores na face, traumas, dificuldades de executar os movimentos mandibulares e ocorrência de hábitos parafuncionais. Durante o exame clínico, devem-se palpar os músculos mastigatórios (Figura 4 - A e B) e as ATM (Figura 4 - C), avaliar a oclusão e a amplitude dos movimentos mandibulares (lateralidade, protrusão e retrusão e amplitude de abertura), e verificar se há ruídos arti- culares. É importante ressaltar que, durante a palpação dos músculos e das articulações, precisa-se levar em consideração o nível de discernimento entre dor e desconforto de cada faixa etária. Uma opção a ser utilizada em crianças e adolescentesé a escala de dor, que pode ter opções diferentes para facilitar a sua compreensão. Para identificar se há ruídos articulares, deve-se utilizar a palpação e/ou a auscul- tação das ATM, quando o ruído não puder ser confirmado pela palpação das ATM. 74UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR FIGURA 4 - PALPAÇÃO DOS MÚSCULOS MASTIGATÓRIOS, FIBRAS ANTERIORES DOS MÚSCULOS TEMPORAIS (A) E MASSETERES (B) E DAS ATM (C). Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020, p. 149). Para verificar se há sinais e sintomas de DTM, deve-se incluir na anamnese al- gumas perguntas, como se ocorrem a dor durante abertura bucal, dor ao mastigar, sons articulares, bruxismo e/ou apertamento dentário e dores de cabeça. Avalia-se a abertura bucal durante o exame clínico para verificar se é reduzida. No exame intrabucal deve-se avaliar o estágio da dentição, a ocorrência de malo- clusão, os movimentos mandibulares e os desgastes dentários e/ou outro sinal de evidência de bruxismo. Lembrando que, na fase de desenvolvimento oclusal não se pode fazer uma associação direta das interferências oclusais do lado de trabalho e não trabalho às DTM, pois aquelas podem se referir a condições transitórias. Uma avaliação psicológica deve ser feita em casos de adolescentes com dor de intensidade mais elevada e persistente, pois pode haver alguns distúrbios psicológicos em pacientes com sinais e sintomas de DTM, contribuindo para o sofrimento, o comportamento da dor, a depressão e a somatização. 2.4 Como e quando tratar Primeiramente, é preciso mencionar que alguns tipos de má oclusão (especialmente a mordida cruzada posterior com desvio no fechamento) correlacionam-se de forma positi- va com os problemas na ATM, enquanto outros não; no entanto, mesmo os coeficientes de 75UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR Atualmente, o bullying tem sido um fator cada vez mais investigado em relação à DTM, devendo-se investigar a possibilidade de sua existência na vida da criança e do adolescente. Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020). correlação mais fortes são de apenas 0,3 a 0,4. Isso significa que, na maioria dos pacientes, não há uma ligação entre a má oclusão e a DTM. Portanto, a ortodontia como o tratamento principal para a DTM quase nunca é indicada, mas, em circunstâncias especiais, pode servir como um suplemento para outro tratamento da dor muscular (PROFFIT et al., 2021). Apesar dos sinais e sintomas de DTM serem frequentemente encontrados entre crianças e adolescentes, somente uma minoria necessita de tratamento. Esses sinais, por sua vez, são flutuantes e podem desaparecer espontaneamente sem nenhum tipo de tra- tamento. Todavia, alguns trabalhos citam que dores de cabeça e sintomas de DTM podem ocorrer na infância e se tornar mais recorrentes na adolescência. Além disso, esses sinais e sintomas são variáveis para cada indivíduo e, por isso, não é possível explicar por que alguns indivíduos desenvolvem DTM e outros não. Efetivamente, os sinais e os sintomas de DTM em indivíduos em crescimento podem ser em parte um reflexo desse crescimento e de uma mudança fisiológica adaptativa das ATM. De acordo com a AAO, o tratamento das DTM na população pediátrica deve seguir um parâmetro simples, conservador e reversível, levando-se em consideração a fase de crescimento e desenvolvimento de cada paciente. Entre as terapias reversíveis sugeridas pela AAO, estão: dispositivo interoclusal; terapias físicas, como calor úmido, massagens e exercícios; e terapias comportamentais, como educação do paciente, técnica de redução do estresse e biofeedback. Os dispositivos interoclusais podem ser utilizados para as dores musculares e articulares e para o bruxismo, atentando-se para o cuidado de não provocar alterações oclusais nem mandibulares permanentes. Os objetivos desse tratamento são reduzir a ativi- dade parafuncional dos músculos, promover o relaxamento muscular, aumentar a dimensão vertical, reduzir a pressão nas ATM, proteger os dentes do atrito e desgastes e possibilitar uma posição mais estável para os côndilos mandibulares. Recomenda-se fazer revisões periódicas enquanto estiver usando o dispositivo interoclusal para verificar sua efetividade nos reflexos musculares. A melhora dos reflexos musculares durante o tratamento com o dispositivo interoclusal não é permanente. Se, após a interrupção do uso, algum estímulo permanecer, outro sinal ou sintoma de DTM pode aparecer, pois cada parte do complexo craniomandibular pertence a um sistema no qual qualquer alteração em uma estrutura pode vir a afetar outra. Existe uma grande preocupação com relação ao uso de dispositivo interoclusal rígido em crianças, principalmente pela restrição do crescimento do processo alveolar, entretanto, se levar em consideração estudos clássicos sobre crescimento e de- 76UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR senvolvimento dos arcos dentários, observa-se que as alterações transversais e sagitais mais significativas ocorrem a partir da dentição mista. Se for necessária terapia farmacológica, recomenda-se o uso de analgésicos menores, pois os sinais e sintomas de DTM em crianças são geralmente leves e podem desaparecer em poucos dias sem nenhum tipo de tratamento. Nas crianças, um período de acompanhamento é preferencialmente o tratamento de escolha, porque elas têm grande capacidade de tolerar mudanças nas estruturas mastigatórias e funcionais. Os ajustes oclu- sais devem ser evitados, pois as crianças e os adolescentes ainda estão em crescimento; além de ser um tratamento irreversível – dependendo do grau de desgaste, pode causar sensibilidade dentinária. Quando algum tratamento precisa ser estabelecido na fase inicial para redução da dor, é vital ter a colaboração dos pais e do paciente. 77UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR CONSIDERAÇÕES FINAIS E finalizamos mais uma unidade. Quanta informação nova, não é mesmo? Aqui já chegamos a 75% de nossa disciplina concluída, sendo que nessa unidade III focamos em aprender sobre uma articulação considerada das mais complexas do corpo humano, a articulação temporomandibular. Como pudemos ver no tópico I da nossa unidade, a articulação temporomandibular (ATM) é responsável por todos os movimentos que fazemos com a mandíbula, incluindo mastigação e a fala. Seu funcionamento se dá por uma ação conjunta dos músculos da face junto ao disco articular, responsável pelo correto deslizamento do processo condilar pela fossa articular. Como o aparelho fonador faz parte deste processo, a fonoaudiologia tem atuação essencial nessa área. Já no tópico II abordamos sobre a disfunção temporomandibular (DTM). Como já mencionado, ela é causada pela tensão ou posição errada das estruturas da face. Aqui, o fonoaudiólogo entra em ação com tratamento para auxiliar no relaxamento destas estru- turas e, principalmente, na reeducação da postura durante a execução das funções orais. Viu como entender o correto funcionamento da articulação temporomandibular é importante? Espero que tenha aproveitado muito bem essa unidade! Até a próxima! UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 78 LEITURA COMPLEMENTAR • Artigo: Atuação fonoaudiológica nas disfunções temporomandibulares: um relato de experiência • Autores: Fernanda Berreta, Maynara Schlickmann Freitas, Morgane Marion Kuntze, Beatriz Dulcinéia Mendes de Souza, André Luís Porporatti, Letícia Korb, Renata Coelho Scharlach, Fabiane Stefani • Link de acesso: https://periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/ 1807-0221.2018v15n28p.182. • Resenha: O artigo de Berreta e colaboradores relata as atividades desenvol- vidas no Projeto de extensão: Atuação Fonoaudiológica nas Disfunções Tem- poromandibulares da UFSC. Este projeto proporciona conhecimentos teóricos e práticos, permitindo que alunos realizem o diagnóstico fonoaudiológico, planejamento e tratamento de pacientes com dor orofacial e DTM. Os alunos realizamavaliação fonoaudiológica específica para motricidade orofacial, com ênfase nas alterações relativas às DTMs, avaliações audiológicas e acompa- nham exames de eletromiografia de superfície. Planejam e executam a terapia fonoaudiológica, integrada ao tratamento odontológico. Essa abordagem visa a recuperação da função, o alívio da dor e a melhora da qualidade de vida destes pacientes. O tratamento multidisciplinar contemplando diferentes áreas da saú- de, proporciona o tratamento integral do paciente, devolvendo o seu bem-estar e qualidade de vida. Fonte: BERRETA, F. et al. Atuação fonoaudiológica nas disfunções temporomandibulares: um relato de experiência. Extensio: R. Eletr. de Extensão, Florianópolis, v. 15, n. 28, p. 182-192, 2018. UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 79 https://periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/1807-0221 https://periodicos.ufsc.br/index.php/extensio/article/view/1807-0221 MATERIAL COMPLEMENTAR • Título: Articulação Temporomandibular: implicações, limitações e possibilidades fonoaudiológicas • Autor: Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini. • Editora: Científica da Revista CEFAC – Atualização Científica em Fonoaudiologia e Educação. • Sinopse: Este livro está direcionado a profissionais envolvidos no campo da articulação temporomandibular. Ele busca delinear a importância e o peso dos diagnósticos e das terapêuticas interdis- ciplinares, incluindo o papel do fonoaudiólogo. A apresentação da avaliação miofuncional orofacial diferenciada visa direcionar a defi- nição da terapêutica fonoaudiológica e o prognóstico miofuncional orofacial. A partir desses itens, são propostos e apresentados os procedimentos fonoaudiológicos específicos direcionados a casos diferenciados. • Título: Atuação do fonoaudiólogo na prevenção e no trata- mento da DTM • Ano: 2021. •Sinopse: O vídeo retoma os conceitos básicos sobre a articu- lação temporomandibular (ATM), bem como sobre a disfunção temporomandibular (DTM). Além de apresentar a atuação do fonoaudiólogo na prevenção e no tratamento da DTM. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Ew- 5f2-BLQ40&t=4s 80UNIDADE 3 ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR https://www.youtube.com/watch?v=Ew5f2-BLQ40&t=4s https://www.youtube.com/watch?v=Ew5f2-BLQ40&t=4s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Aspectos miofuncionais nos diferentes ciclos de vida; • As disfunções temporomandibulares e as alterações miofuncionais; • Anomalias do desenvolvimento; • Problemas miofuncionais adquiridos. Objetivos da Aprendizagem • Contextualizar os aspectos miofuncionais nos diferentes ciclos de vida; • Compreender as alterações miofuncionais que são consequências de disfunções temporomandibulares; • Conhecer uma anomalia do desenvolvimento que pode causar alterações miofuncionais; • Entender os problemas funcionais adquiridos que podem causar alterações miofuncionais; 4 UNIDADEUNIDADEETIOLOGIAS E ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS TRATAMENTOS RELACIONADOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAISMIOFUNCIONAISProfessora Mestra Laís Caroline Poleto INTRODUÇÃO Estamos para iniciar nossa quarta e última unidade. E quanto conhecimento pude- mos compartilhar até aqui, não é mesmo? Chegando ao final da nossa disciplina de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares, nossa unidade IV irá abordar quatro tópicos dentro das etiologias e tratamentos relacionados às alterações miofuncionais. As alterações ou distúrbios miofuncionais oro- faciais são definidos como qualquer alteração que envolva a musculatura orofacial, que geram forças desfavoráveis ao equilíbrio do sistema estomatognático. Para deixar o mais didático possível e facilitar a sua compreensão, nosso tópico I vai contextualizar os aspectos miofuncionais nos diferentes ciclos de vida. A importância desse tópico é entendermos que assim como nos demais tipos de problemas que envolvem os diversos ciclos da vida, a terapêutica miofuncional orofacial com os órgãos e funções alteradas pode trazer facilitação funcional e relativa autonomia aos pacientes mais compro- metidos. Isso minimiza riscos e propicia melhor qualidade de vida aos nossos pacientes. Já o tópico II dá início às alterações miofuncionais que podem não ser consequên- cia apenas do envelhecimento. Nele vamos estudar, novamente, as disfunções temporo- mandibulares e relacioná-las às alterações de movimentos e funções. Na mesma linha de raciocínio, os tópicos III e IV relatam sobre as consequências miofuncionais no caso de anomalias de desenvolvimento e de problemas funcionais adquiridos, respectivamente. Você está preparado? Então vamos iniciar nossa última unidade! UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS 82 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os padrões miofuncionais orofaciais vão se modificando com o crescimento e desenvolvimento craniofacial. A infância e a adolescência caracterizam-se por fases tran- sitórias de acomodação das estruturas de tecidos duros e mole. A maturação do sistema nervoso e desenvolvimento de novos padrões motores parecem ser desencadeados, em grande parte, pelos estímulos que acontecem na cavidade oral (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). A organização dos aspectos funcionais, especialmente de mastigação, deglutição e fala referente aos aspectos fonéticos, depende das mudanças que acontecem no desenvol- vimento dentário e oclusal, assim como do crescimento craniofacial e de controle muscular. É certo que tais aspectos são primariamente de determinação genética, mas o efeito de alterações miofuncionais desencadeadas por hábitos nocivos podem ser agravantes dos padrões faciais. Um exemplo disso é o hábito de chupar o polegar, já que a posição do dedo “empurra” os incisivos inferiores para lingual dos incisivos superiores para vestibular. Além disso, a mandíbula será posicionada para baixo, acarretando uma erupção adicional dos dentes posteriores, e a pressão da bochecha é aumentada enquanto a língua é abaixada verticalmente e afastada para longe dos dentes posteriores superiores, alterando o equilí- brio que controla as dimensões transversais (PROFFIT et al., 2021) (Figura 1). UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 ASPECTOS MIOFUNCIONAIS NOS DIFERENTES CICLODE VIDATÓPICO 83 FIGURA 1 - HÁBITO NOCIVO DE SUCÇÃO DIGITAL. Fonte: Proffit et al. (2021, p. 125). 1.1 Fase de crescimento Nessa fase, o padrão respiratório predominantenasal possibilita a organização da postura oral, com o apoio de língua em palato e vedamento labial passivo, sendo fator favorável para o crescimento e organização miofuncional. A mastigação alternadamente bilateral, lábios ocluídos, ação de músculos bucina- dores e movimentos mandibulares rotatórios é a situação ideal por possibilitar a distribuição da força mastigatória, balanço, sincronia e equilíbrio muscular e funcional (MONTEIRO et al., 2005). Isso possibilita a organização do bolo alimentar. Esse padrão de mastigação já é encontrado em crianças com dentição decídua ou mista e configura-se como fase preparatória da deglutição. Os espaços funcionais intraorais devem ser compatíveis com o volume das estru- turas de tecido mole. Arcos dentários atrésicos, palato muito profundo e tonsilas palatinas volumosas são agentes dificultadores dos padrões adequados de mastigação, deglutição e articulação da fala. O padrão mastigatório ideal depende da presença de dentes, equilíbrio oclusal, au- sência de interferências oclusais ou contatos prematuros, estabilidade e bom funcionamento das articulações temporomandibulares (ATM) (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). Pacientes com as más oclusões de Classe I são os mais prevalentes. Nesses, a região anterior encontra-se desorganizada por apinhamentos dentários ou por projeção dentária anterior, mordida aberta e/ou sobremordida excessiva, sobressalência negativa típica das mordidas cruzadas anterior ou sobressaliência excessiva. Há indícios de que o apinhamento dentário relaciona-se com a consistência alimentar. Desse modo, a alimenta- ção amolecida pode constituir-se em fator contribuinte à existência desses apinhamentos. 84UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS Enquanto o apinhamento dentário parece não interferir na articulação da fala, as discrepâncias anteroposteriores de Classe II e de Classe III refletidas respectivamente por sobressaliência excessiva e sobressaliência inexistente ou negativa, assim como as discrepâncias verticais com mordida aberta anterior, trazem modificações no padrão da deglutição e articulatório da fala. 1.2 Puberdade Esse é o período de definição das características esqueléticas craniofaciais, sendo mais precoce e com mudanças mais tênues no gênero feminino. Mais tardia e com mudanças estruturais mais intensas no gênero masculino (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). É nessa fase que estarão definidos os padrões faciais verticais e sagitais, assim como serão claros os casos de deformidades dentofaciais, nos quais o esqueleto facial encontra-se significativamente diferente do esperado em termos de tamanho, proporção, posição e/ou simetria (Figura 2). Isso leva à ocorrência de más oclusões e importantes modificações de espaço funcional intraoral, acarretando padrões miofuncionais alterados. FIGURA 2 - FACE ADENOIDEANA, UM DOS EXEMPLOS DE DEFORMIDADE DENTOFACIAL. Fonte: Proffit et al. (2021, p. 128). Nas deformidades dentofaciais ocorrem discrepâncias das bases ósseas maxilo- mandibulares em graus variados, podendo acometer apenas uma das bases ósseas ou ambas, com ou sem combinações de variações. Nas discrepâncias sagitais, podem ser encontradas: Classe II esquelética por retrognatismo (Figura 3) ou micrognatismo, protru- são maxilar ou ambas; Classe III esquelética por prognatismo, deficiência maxilar ou ambas (Figura 4); e biprotrusão esquelética (Figura 5). 85UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS FIGURA 3 - PACIENTE ORTODÔNTICO PORTADORA DE CLASSE II DENTÁRIA E ESQUELÉTICA. Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020, p. 238). FIGURA 4 - PACIENTE ORTODÔNTICA PORTADORA DE CLASSE III. Fonte: Matsumoto, Stuani e Romano (2020, p. 260). 86UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS FIGURA 5 - IMAGENS FACIAIS DA BIPROTRUSÃO MAXILAR, NO CASO DE EXTRAÇÃO PRÉ- MOLAR. FOTOGRAFIAS INICIAIS (A E C) E FOTOGRAFIAS FINAIS (B E D). Fonte: Proffit et al. (2021, p. 525). Nas discrepâncias verticais, observam-se: excesso vertical maxilar (Figura 6), excesso ver- tical mandibular por rotação e abertura do ângulo mandibular e deficiência vertical maxilomandibular. FIGURA 6 - PACIENTES COM EXCESSO VERTICAL MAXILAR. Fonte: Seixas, Costa-Pinto e Araújo (2011, p. 134). 87UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS Há discrepâncias transversais, atresia ou deficiência maxilomandibular; acompa- nhadas ou não por assimetrias estruturais e, ainda, as combinações esqueléticas verticais, sagitais e/ou transversais. A aparência, ou estética facial, apresenta-se em desarmonia, sendo essa uma das principais queixas, seguida por referência a dificuldades funcionais de mastigação, de fala, de vedamento labial e de deglutição. A queixa quanto à dificuldade respiratória é também frequente, porém nem sempre aparece conscientemente associada à deformidade dentofa- cial (PROFFIT et al., 2021). Além das repercussões funcionais, as alterações da harmonia e estética da face podem causar implicações psicológicas, sociais e profissionais para os indivíduos com deformidades dentofaciais que frequentemente interferem na sua qualidade de vida (TRENCH e ARAÚJO, 2015). 1.3 Fase adulta e velhice Nessa fase, as deformidades dentofaciais consolidadas pelo término do cresci- mento craniofacial definirão padrões funcionais adaptativos quanto à postura oral habitual, à respiração, à mastigação, deglutição e aos pontos articulatórios da fala, compatíveis com a modificação dos espaços e da situação estrutural que apresentam (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). Esses casos necessitam da resolução estrutural prévia para possibilitar a reabilitação miofuncional. O tratamento ortodôntico e cirúrgico é o padrão-ouro de tratamento, ele reposiciona as bases ósseas possibilitando a correção da má oclusão e da discrepância de espaços, com consequente viabilização das funções estomatognáticas (Figura 7 e 8). FIGURA 7 - PACIENTE, COM INDICAÇÃO DE CIRURGIA ORTOGNÁTICA, PORTADORA DE MORDIDA CRUZADA POSTERIOR UNILATERAL FUNCIONAL E A RELAÇÃO DE CLASSE III DE ANGLE NOS CANINOS. Fonte: Sant’Ana et al. (2009, p. 94). 88UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS FIGURA 8 - FOTOGRAFIAS INTRABUCAIS PÓS-TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR. Fonte: Sant’Ana et al. (2009, p. 96). O processo é amplo e envolve a atuação de equipe interdisciplinar, especialmente em função de o paciente ser adulto e haver desenvolvido várias adaptações miofuncionais orofaciais e modificações posturais. O trabalho fonoaudiológico em motricidade orofacial, voltado para os pacientes com deformidades dentofaciais e submetidos à cirurgia ortogná- tica, tem como principais objetivos a aceleração do período de recuperação das estruturas comprometidas; a organização e equilíbrio da musculatura; a reabilitação funcional orofacial, buscando a retomada organizada das funções estomatognáticas no menor prazo possível; a redução, remissão ou compensação de possíveis sequelas imediatas; e a estética facial. De maneira geral, a abordagem com adultos quanto às funções orofaciais deve ser cuidadosa e respeitar situações relativamente comuns que se referem ao processo natural de envelhecimento ou a comorbidades. Convém lembrar que algumas situações dependentes de comorbidades podem não ser passíveis de correção plena. Um exemplo importante refere-se às funções de mastigação e deglutição. A partir da complexidade dos inúmeros mecanismos envolvidos, pode-se supor que são muitos os tipos de comprometimentos que causam distúrbios nessas funções. Entre esses, podem-se citar alterações periodontais ou dentárias e uso de próteses interferindo na mastigação e, consequentemente, no preparo da deglutição. Nesses casos, a mudança da consistência alimentar é comum e esperada, agindo como mecanismo facilitador do processo alimentar.Além disso, a disfagia orofaríngea refere-se a um distúrbio de deglutição com sinais e sintomas específicos caracterizados por alterações em qualquer etapa e/ou entre as eta- pas da deglutição. Tal distúrbio está associado à senilidade ou a problemas neurológicos, psicogênicos ou mecânicos, sendo os últimos frequentemente originados por traumatismos de face, câncer da cabeça e pescoço, sondas nasoenterais e traqueostomia, entre outras causas. Assim, a disfagia orofaríngea diz respeito à dificuldade secundária pela perda sen- sorial e/ou muscular de estruturas responsáveis pela deglutição fisiológica normal e pode trazer prejuízo aos aspectos nutricionais, de hidratação, ao estado pulmonar, ao prazer alimentar e social do indivíduo. 89UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS Os principais achados atribuídos à deglutição sequencial de líquidos em adultos e idosos são: variabilidade no fechamento do complexo hiolaríngeo; maior taxa de inspiração após a deglutição; entrada do bolo em faringe, com ou sem acúmulo em valéculas antes da deglutição; algum grau de penetração laríngea; prolongamento na duração da apneia da de- glutição e sobreposição dos movimentos linguais (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). Apesar de as manifestações mais importantes se referirem à deglutição de líquidos, queixas referentes às dificuldades na deglutição de sólidos também devem ser analisadas. A disfagia de transferência do bolo alimentar, que costuma ser referida por piora progres- siva, tem melhora temporária após algumas “manobras” na região cervical no momento da deglutição. Alguns indivíduos apresentam discreto emagrecimento, piora da halitose e eventuais episódios de pneumonia desde o aparecimento da queixa. Um exemplo clássico dessa situação refere-se ao divertículo de Zenker, relativamente comum, observado em 1% dos esofagogramas, especialmente em pacientes idosos. Algumas doenças podem definir a necessidade de uso contínuo de medicação ou ainda interferir diretamente na habilidade e na velocidade dos mecanismos envolvidos na deglutição. Algumas medicações, como os antidepressivos, interferem na produção de saliva e na resposta neuromotora da musculatura do sistema estomatognático. Sintomas como ardência ou secura bucal sem associação a lesões na cavidade oral podem trazer dificuldades e modificações importantes na mastigação e deglutição. Sua etiologia é multifatorial, existindo aquelas de origem sistêmica que acontecem por alterações das glândulas salivares, medicamentosas, disfunções endócrinas, neurológicas e nutricionais; as de origem localizada que ocorrem por causas dentárias, alergênicas e infecciosas; as etiologias de ordem psicogênica descritas por quadros de depressão ou ansiedade; e, ainda, as de origem idiopática. Devido ao envolvimento da cavidade oral em seu aspecto sensitivo, pesquisas tendem a classificar o quadro como síndrome da ardência 90UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS O divertículo de Zenker é um pseudodivertículo, ou divertículo não verdadeiro, que se origina de um de- feito muscular na parede posterior da faringe, na área de transição entre o músculo constritor inferior da faringe e o músculo cricofaríngeo. Fonte: Lupinacci R., Lima e Lupinacci R. (2013). bucal (SAB) e relacioná-la à base neuropática resultante de disfunções que afetam as vias neurais. A língua é a estrutura mais comprometida pelo sintoma de ardência, podendo ainda atingir outras regiões orais, como lábios, palato, gengiva e mucosa jugal (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). Importantes problemas neurológicos podem aparecer na senilidade, como a doença de Parkinson. As principais características que se configuram como alterações da motrici- dade orofacial nesses casos e que envolvem a reabilitação fonoaudiológica miofuncional orofacial referem-se a: falta de expressão facial como face de máscara; falta de controle motor da fala e pouca intensidade da voz, alteração da mastigação e do controle do alimen- to, assim como alteração da deglutição e disfagia. Essas situações trazem consequências negativas refletidas por riscos iminentes de saúde e precária qualidade de vida. Nessa fase da vida, é comum ainda que os pacientes utilizem próteses dentárias removíveis, sendo que os ajustes dessas são difíceis em função da instabilidade dos movimentos mandibulares e, principalmente, devido ao tremor mandibular que pode estar presente nos pacientes com doença de Parkinson. Nesses casos, o exame miofuncional deve buscar verificar não apenas as altera- ções, mas, principalmente, testar as respostas neuromotoras obtidas após direcionamento com exercícios isotônicos, manobras e manipulações dirigidas. A disfagia orofaríngea pode definir necessidade de trabalho miofuncional específico. Podem ser observados: aumento do tempo de trânsito oral; latência excessiva; demora no disparo da deglutição; e aumento do tempo do movimento laríngeo com prejuízo do encadeamento dos processos de deglu- tição sequenciais, inclusive de saliva. A constatação de ocorrência de voz molhada após deglutição ou após engasgo, mesmo que com tosse produtiva, configura funcionalmente risco de penetração/aspiração moderada. Considerando-se a evolução da doença, o prog- nóstico é reservado, porém, os benefícios do trabalho fonoaudiológico miofuncional são constantes. 91UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS As alterações da deglutição geram impacto na qualidade de vida do paciente e, quando existe, também, o comprometimento da comunicação, isso reduz a autonomia do indivíduo. Dessa forma, a atuação do fonoaudiólogo é de extrema importância, pois ajuda no manejo do paciente em cuidados paliativos e viabiliza conforto e possibilidade do paciente realizar suas escolhas e expressar seus desejos no desfecho de sua vida. Fonte: Jacinto-Scudeiro, Ayres e Olchik (2019). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . No fim da adolescência e na idade adulta, é frequente o aparecimento de sinto- mas e sinais que caracterizam as disfunções temporomandibulares (DTM). De etiologia multifatorial, abrangendo desde distúrbios dentários e oclusais, desarranjos internos aco- metendo a estrutura articular, hábitos de tensão levando à sobrecarga muscular e funcional; a DTM define alto grau de desconforto e dor. As alterações e disfunções das articulações temporomandibulares provocam modificações nos movimentos mandibulares associados aos problemas musculares, articulares ou ambos que repercutem nas situações funcionais, especialmente de mastigação, deglutição e articulação da fala. A associação entre DTM e deformidade dentofacial é frequente. Estudos indicam maior incidência de sinais de DTM, como ruídos articulares (estalos e/ou crepitação), dor orofacial (principalmente crônica) e redução da amplitude dos movimentos mandibulares. Isso ocasiona maior dificuldade na realização das funções estomatognáticas, principalmen- te nos indivíduos com Classe II esquelética (MARCHESAN, JUSTINO e TOMÉ, 2014). O principal alvo da reabilitação das DTMs refere-se à viabilização funcional e estabilidade das funções estomatognáticas, dentro dos limites impostos por possíveis modificações estruturais, retirando-se as interferências negativas de compensações fun- cionais indevidas. Isso impede que estas interfiram de modo negativo na recuperação dos pacientes. A reabilitação fonoaudiológica depende da avaliação neuromuscular de todo o complexo estomatognático e suas relações funcionais. É um processo específico que engloba a análise das estruturas de tecidos duros e moles associados à ATM, dos músculos tanto em repouso quanto em função. Envolve a escolha de aplicação de técnicas miofun- cionais orofaciais para direcionar manobras de alívio e de organização dos movimentosmandibulares, assim como a funcionalidade associada aos procedimentos determinados pela equipe interdisciplinar, além do monitoramento dos resultados obtidos. UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 AS DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES E AS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAISTÓPICO 92 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 Hiperplasia de côndilo mandibular Também ocorre ao final da puberdade e do início da fase adulta. Trata-se de uma lesão relativamente rara, de origem não neoplásica. É resultante de um distúrbio de de- senvolvimento, representado por aumento lento e progressivo de um dos côndilos e alon- gamento do seu colo, que pode provocar alterações no corpo e ramo mandibular. Resulta em assimetria facial em graus variáveis, alongamento progressivo da face normalmente unilateral, com desvio de mento para o lado não afetado e má oclusão severa. Essa última é representada por mordida aberta posterior unilateral no lado afetado ou plano oclusal inclinado, devido à compensação maxilar (Figura 9). FIGURA 9 - EXAMES DE IMAGEM DE UMA PACIENTE COM HIPERPLASIA DO CÔNDILO MANDIBULAR. UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTOTÓPICO 93 Fonte: Pacheco et al. (2010). A etiologia da hiperplasia do côndilo ainda é controversa. Possíveis fatores têm sido relatados, como traumatismo, infecção da própria ATM, problemas circulatórios, distúrbios hormonais, excesso de carga e exostose cartilaginosa. A hipótese mais aceita sobre o crescimento condilar desordenado está relacionada com a hiperatividade de células pré- -cartilaginosas na zona de crescimento do côndilo mandibular. A hiperplasia condilar pode ser classificada em ativa, quando o crescimento ainda está em desenvolvimento, alterando a oclusão e acentuando a assimetria facial; ou inativa quando esse crescimento excessivo já cessou. Além de exames de imagem como tomografia computadorizada e/ou ressonância nuclear magnética, a cintilografia é o exame de escolha para tal definição. Se ativa, torna-se necessária cirurgia da ATM com condilectomia alta e ressecção de 3 a 5 mm da cabeça do côn- dilo, impedindo que o crescimento continue ocorrendo. Após essa etapa, pode ser necessária cirurgia ortognática para reposicionamento das bases ósseas. Também se indica esse último procedimento nos casos de hiperplasia inativa, quando não é necessária a condilectomia. O tratamento fonoaudiológico nesses casos fundamenta-se na avaliação e análise pré-operatória da situação miofuncional e possíveis adaptações espontâneas desenvolvi- das em função das características craniofaciais desta alteração. No período pós-operatório, é necessário tratamento intenso com exercícios mandibulares, utilizados com o objetivo de impedir formação cicatricial restritiva e garantir estabilidade da simetria e amplitude dos movimentos mandibulares, além do direcionamento funcional. 94UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os efeitos potenciais dos traumatismos de face e/ou de seus tratamentos e recons- truções resultam em muitas alterações que variam em frequência, gravidade e complexi- dade. Como agravante, podem perdurar ou intensificar sequelas durante a continuidade da recuperação cicatricial ou após seu término, interferindo na mobilidade e eficiência das estruturas acometidas ou em estruturas vizinhas associadas. As manifestações rela- cionadas com o sistema estomatognático são as que se apresentam como limitantes da funcionalidade, comprometendo e dificultando inúmeros aspectos, como a alimentação e a nutrição desses pacientes. Tal situação leva à modificação da dieta ou, em casos mais graves, à necessidade de alimentação por vias alternativas. Além das questões nutricionais, os acometimentos traumáticos da face podem definir interferências ou importantes limitações na mastigação e deglutição, na articulação da fala e na produção da voz, alterar a mímica, a expressão facial e modificar a estética facial. Muitas vezes, isso ocorre de modo irreversível, trazendo também consequências emocionais. É grande a variabilidade de acometimentos e restrições miofuncionais que podem ser originadas a partir dos traumatismos de face. Entre os mais comuns na clínica fonoau- diológica com adolescentes e adultos, há as lacerações musculares, os ferimentos cortan- tes ou as ressecções de tecidos moles cuja reparação implica, muitas vezes, cicatrização fibrótica e restrição funcional. A flexibilidade e alongamento de tecido cicatricial restritivo devem ser realizados no sentido do corte em relação à pele, sempre de acordo com o trajeto cicatricial. Dessa UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 PROBLEMAS MIOFUNCIONAIS ADQUIRIDOSTÓPICO 95 maneira, busca-se minimizar a progressão de tecido cicatricial restritivo e evitar sequelas funcionais e estéticas. Conforme o grau de perda do tecido muscular, pode ser necessário propiciar flexibilidade dos tecidos próximos à lesão. Em todas as formas de lesão, devem ser respeitados os tempos cirúrgicos de reconstrução e reparação específicos. As fraturas maxilomandibulares e as fraturas de côndilo podem trazer graves altera- ções decorrentes de inúmeros fatores. Tais fatores referem-se a tensão muscular resultante da modificação estrutural maxilomandibular; modificações na musculatura quanto à tração e à direção da força muscular; perda ou redução de sensibilidade; dor e/ou edema; limitação e alteração dos movimentos mandibulares; assimetria facial; e alterações dos órgãos e das funções estomatognáticas. Em geral, o tratamento de fraturas baseia-se na redução e contenção do segmento fraturado, podendo ser cirúrgico ou conservador, conforme a região acometida e o tipo de fratura. Essas devem ser reduzidas tão logo quanto possível para restabelecer as funções e minimizar deformidades ósseas e de tecido mole subsequentes. A sequela mais grave em casos de fratura de côndilo, se não tratada adequadamente, refere-se à anquilose tempo- romandibular. Nessa situação, os movimentos mandibularesencontram-se impossibilitados ou muito limitados impedindo a abertura da boca devido à união da superfície articular. A resolução é sempre cirúrgica, com ressecção do segmento ancilótico e reconstrução por tecidos adjacentes ou por colocação de próteses de côndilo. A terapêutica fonoaudiológica, quando necessária após esses tipos de fraturas, pode ser indicada tanto associada aos procedimentos cirúrgicos quanto aos conservadores. Tem como principais objetivos: flexibilidade e mobilidade dos tecidos moles associados; adequação dos movimentos evitando adaptações nocivas e restrição funcional; simetria muscular funcional e postural da face, aumento da amplitude da abertura da boca com organização dos movimentos mandibulares; recuperação da funcionalidade; e estabilidade miofuncional orofacial. É fundamental direcionar a mobilização precoce da mandíbula e instituir um programa de reabilitação funcional especialmente quanto à mastigação. 96UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da nossa quarta e última unidade! Nesta unidade você pôde aprender sobre as etiologias e os tratamentos relacio- nados às alterações miofuncionais. Nosso tópico I abordou os aspectos miofuncionais nos diferentes ciclos de vida, sempre chamando atenção para os tipos de problemas que envol- vem os diversos ciclos da vida, e como a terapêutica miofuncional orofacial pode minimizar riscos e propiciar melhor qualidade de vida aos nossos pacientes. Além disso, você estudou, no segundo tópico, sobre as disfunções temporoman- dibulares e sua relação com as alterações miofuncionais. As possíveis alterações das estruturas da articulação temporomandibular também são preocupação do fonoaudiólogo pois afetam diretamente o sistema estomatognático e suas funções, prejudicando principal- mente as funções de mastigação e a articulação da fala, além de trazer associada, muitas vezes, sintomatologia auditiva. Seguindo nossa linha de raciocínio, no tópico III discutimos sobre as anomalias de desenvolvimento podem causar alterações miofuncionais. Aqui citamos a hiperplasia do côndilo mandibular, condição de origem não neoplásica, representada por aumento lento e progressivo de um dos côndilos e alongamento do seu colo, que pode provocar alterações no corpo e ramo mandibular. Por fim, essa unidade termina com o nosso tópico IV, em que você pôde aprender sobre problemas miofuncionais adquiridos. Aqui você percebeu que na grande variabilidade de acometimentos e restrições miofuncionais que podem ser originadas a partir dos trauma- tismos de face, a reparação implica, muitas vezes, cicatrização fibrótica e restrição funcional. Nisso, a terapêutica fonoaudiológica, quando necessária, tem como objetivos a flexibilidade e mobilidade dos tecidos moles associados ao problema adquirido; adequação dos movimentos evitando adaptações nocivas e restrição funcional; simetria muscular funcional e postural da face, aumento da amplitude da abertura da boca com organização dos movimentos mandibu- lares; recuperação da funcionalidade; e estabilidade miofuncional orofacial. E por hora, é isso! Nos vemos em outra oportunidade! UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS 97 LEITURA COMPLEMENTAR • Artigo: Contribuições da Fonoaudiologia nos cuidados paliativos e no fim da vida • Autor: Márcio José da Silva Moreira, Michelle Ferreira Guimarães, Leonardo Lopes e Felipe Moreti • Link de acesso: https://www.scielo.br/j/codas/a/xQkHMtHvbdZFDnZzvxbTSH- f/?lang=pt • Resenha: O trabalho de Moreira e colaboradores ressalta a importância do cuidado com um fonoaudiólogo na equipe de cuidados paliativos e no manejo do paciente em fim de vida. Fonte: MOREIRA, J. S. M.; GUIMARÃES, M. F.; LOPES, L.; MORETI, F. Contribuições da Fonoaudiologia nos cuidados paliativos e no fim da vida. CoDAS, São Paulo, v. 32, n. 4, p. e20190202, 2020. • Artigo: Influência da mastigação unilateral no desenvolvimento da assimetria facial • Autores: Karina Eiras Dela Coleta Pizzol • Link de acesso: https://revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/ view/320 • Resenha: Neste trabalho Pizzol afirma que para um adequado crescimento e desenvolvimento dento-facial, é indispensável que haja uma função mastigató- ria adequada. Contudo, inúmeros fatores podem desenvolver um mecanismo adaptativo de mastigação unilateral. A persistência de uma função alterada durante as fases de crescimento, promove mudanças gradativas na estrutura esquelética e dentária que podem resultar em assimetrias dentofaciais verda- deiras na fase adulta. Fonte: PIZZOL, K. E. D. C. Influência da mastigação unilateral no desenvolvimento da assimetria facial. Rev UNIARA, Araraquara, n. 15, p. 215-222, 2004. UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS 98 https://www.scielo.br/j/codas/a/xQkHMtHvbdZFDnZzvxbTSHf/?lang=pt https://www.scielo.br/j/codas/a/xQkHMtHvbdZFDnZzvxbTSHf/?lang=pt https://revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/320 https://revistarebram.com/index.php/revistauniara/article/view/320 MATERIAL COMPLEMENTAR • Título: Terapia Fonoaudiológica em Motricidade Orofacial. • Autor: Irene Queiroz Marchesan, Hilton Justino da Silva e Gié- dre Berretin-Felix. • Editora: Pulso Editorial. • Sinopse: Neste livro, Marchesan e colaboradores reúnem in- formações de relevância sobre as bases da terapia de motrici- dade orofacial. Os capítulos seguem com exercícios utilizados na terapia de motricidade orofacial e aspectos fisiológicos dos receptores estomatognáticos. • Título: Exame Miofuncional Orofacial - Protocolo MBGR • Ano: 2021. • Sinopse: Um vídeo que mostra a sequência das estruturas ava- liadas no exame miofuncional. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=AqRo1ps- DCNs 99UNIDADE 4 ETIOLOGIAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS ÀS ALTERAÇÕES MIOFUNCIONAIS https://www.youtube.com/watch?v=AqRo1psDCNs https://www.youtube.com/watch?v=AqRo1psDCNs REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTOLI, Fernanda M. P.; ANTONIUK, Sérgio A.; BRUCK, Isac; XAVIER, Guilherme R. P.; RODRIGUES, Danielle C. B.; LOSSO, Estela M. Evaluation of the signs and symptoms of temporomandibular disorders in children with headaches. Arq Neuropsiquiatr, São Paulo, v. 65, n. 2, p. 251-255, jun. 2007. FULLER, Donald R.; PIMENTEL, Jane T.; PEREGOY, Barbara M. Anatomia e Fisiologia Aplicadas à Fonoaudiologia. 1ª edição. São Paulo: Editora Manole, 2014. GRABER, Lee W.; VANARSDALL, Robert L.; VIG, Katherine W. L. Ortodontia: Princípios e Técnicas Atuais. 5a edição. Rio de Janeiro: Mosby Elsevier, 2012. GUEDES, Priscila de Araújo; SOUZA, July Érika Nascimento; TUJI, Fabrício Mesquita; NERY, Ênio Maurício. Estudo comparativo das análises cefalométricas manual e com- putadorizada. Dental Press J Orthod, Maringá, v. 15, n. 2, p. 44-51, mar./abr. 2010. JANSON, Guilherme; GARIB, Daniela Gamba; PINZAN, Arnaldo; HENRIQUES, José Fer- nando Castanha; FREITAS, Marcos Roberto. Introdução à Ortodontia. 1. edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2013. MATSUMOTO, Mírian A. N.; STUANI, Maria B. S.; ROMANO, Fábio L. Ortodontia: abor- dagens clínicas na dentição mista. 1ª edição. São Paulo: Editora Manole, 2020. MOYERS, Robert Edison. Ortodontia. 4. edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. OLIVEIRA, Márlio Vinícius; PITHON, Matheus Melo; RUELLAS, Antônio Carlos de Oliveira. 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Já na unidade II você estudou sobre o diagnóstico ortodôntico, com a análise da dentição mista, os conhecimentos bá- sicos para análise cefalométrica e a biologia do movimento dentário; além do tratamento ortodôntico preventivo, interceptativo e corretivo. Na sequência, na unidade III você teve a oportunidade de aprender sobre a articulação temporomandibular (ATM). E, por fim, em nossa unidade IV, finalizamos discutindo sobre as etiologias e possibilidades de tratamen- tos relacionados às alterações miofuncionais. Foi um prazer compartilhar todo conhecimento com você. Enquanto escrevo essas considerações finais fico pensando nas possibilidades que você terá para continuar seus estudos e se aprofundar ainda mais nessa área. Desejo a você, caro (a) aluno (a), sucesso em sua jornada de conhecimento! Não pare de se atualizar! Os profissionais de destaque estão em constante processo de construção! Pois lembre-se, o processo de aprendizagem nunca se encerra! Sucesso! Prof. Laís C. Poleto 102 ENDEREÇO MEGAPOLO SEDE Praça Brasil , 250 - Centro CEP 87702 - 320 Paranavaí - PR - Brasil TELEFONE (44) 3045 - 9898 Shutterstock Site UniFatecie 3: