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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
GUARULHOS – SP
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1 SUMÁRIO
2 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
3 PERSPECTIVAS DE LEITURA: MODERNA E TRADICIONAL .............................. 5
3.1 Leitura tradicional ............................................................................................. 6
3.2 Leitura moderna ................................................................................................ 7
4 LEITURAS VERTICAIS E HORIZONTAIS E OBJETIVOS DO LEITOR ................. 8
4.1 Estratégias de leitura literal ............................................................................. 10
5 A LEITURA E A ESCRITA ACADÊMICAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O
PENSAMENTO CIENTÍFICO .................................................................................... 13
5.1 Argumentos de senso comum e argumentos de senso crítico ....................... 15
5.2 Argumentos de senso comum ........................................................................ 16
5.3 Argumentos de senso crítico .......................................................................... 18
5.4 A leitura e a escrita no cotidiano na universidade ........................................... 20
5.5 A escrita no cotidiano...................................................................................... 21
5.6 A escrita no meio acadêmico .......................................................................... 22
5.7 Postura em relação à escrita acadêmica ........................................................ 22
6 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS ........................................................................... 24
6.1 Gênero textual ................................................................................................ 25
6.2 Tipologia textual .............................................................................................. 26
6.3 O texto literário e as suas manifestações linguísticas .................................... 28
7 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO ....................................... 30
7.1 Fala e escrita: conjunto de partes unidas entre si ........................................... 31
8 ESTRUTURA TEXTUAL ....................................................................................... 34
8.1 Elementos textuais ......................................................................................... 37
8.2 Situações de comunicação ............................................................................. 39
9 ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL ........................................................ 41
9.1 Aspectos da construção textual ...................................................................... 44
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10 GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS – RESUMO ........................ 55
10.1 A estrutura dos resumos de artigos científicos ............................................... 56
10.2 Recomendações gerais para a escrita do resumo .......................................... 57
11 ARTIGO ................................................................................................................ 58
12 MONOGRAFIA ...................................................................................................... 60
12.1 Outros gêneros ............................................................................................... 62
13 A ESTRUTURAÇÃO DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA ACADÊMICA ............. 63
14 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA ............................................................. 80
14.1 A linguagem e os seus diferentes contextos ................................................... 83
14.2 A globalização e os fatores de unificação da língua portuguesa .................... 86
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 87
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2 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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3 PERSPECTIVAS DE LEITURA: MODERNA E TRADICIONAL
Quando se fala em leitura, logo, nos vem à mente alguém lendo um jornal,
uma revista, um livro (impresso ou digital), uma bula de remédio, um e-mail, etc.
Nessa óptica, imaginamos o ato de ler como uma ação que está relacionada à
escrita. Assim, trata-se, muitas vezes, da leitura como decodificação de letras e
códigos. Contudo, devemos nos perguntar: apenas a leitura da palavra e a
decodificação do código bastam para o processo efetivo de ler?
De acordo com Leffa (1996), o processo de leitura se divide em três
definições: geral, específico e conciliatório. Veja a seguir as características de cada
um:
Geral:
• leitura como processo de representação;
• sentido da visão;
• leitura por intermédio de outros elementos da realidade (espelhos);
• reconhecer o mundo por meio de espelhos do que se observa;
• leem-se as palavras e o mundo que nos cerca;
• olhar e ver = leitura;
• ler é usar segmentos da realidade para chegar a outros segmentos.
Específico:
• restritivamente, ler é extrair significado do texto e atribuir significado
ao texto;
• extrair do texto — movimento do texto para o leitor (ênfase no texto);
• atribuir ao texto — movimento do leitor para o texto (ênfase no leitor);
• ler implica significado; logo, ao se usar o verbo extrair, põe-se o
significado dentro do texto, e ao se usar o verbo atribuir, imprime-se
significado ao leitor.
Conciliatório:
• ler é interagir com o texto;
• não apenas leitor, não apenas texto, mas os dois polos e mais um
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terceiro elemento, que é a interação entre os dois;
• é preciso afinidade e condições adequadas;
• é necessário ter competências de leitura e a intenção de ler;
• tentativa de colimação de um determinado objetivo em relação a um
determinado texto.
Em uma perspectiva tradicional, a leitura está diretamente relacionada à
decodificação. Entretanto, a partir dos avanços nos estudos sobre a leitura, há uma
abordagem moderna. Por essa via, a leitura está vinculada à construção de sentidos
(MARTINS, 1988). A seguir, vamos examinar cada uma dessas perspectivas de
leitura com mais detalhes.
3.1 Leitura tradicional
Nessa interpretação de leitura, relacionamos o processo de ler à
decodificação do código. Ou seja, o conhecimento das palavras e dos significados a
elas vinculados é o fator definitivo para a leitura do texto. A leitura tradicional pode
ser entendida como um reflexo do que se observa nas escolas convencionais,
baseadas em um ensino mais “clássico,” onde se mantém uma grande preocupação
com a escrita e menos atenção à leitura. Conforme explica Kato:
A disseminação maior de métodos sintéticos nas escolas brasileiras — seja
o b +a = ba, o ba + be + bi + bo + bu,ou ainda o fônico —, pode também
ser motivada pela ênfase maior dada à atividade de escrita, a qual envolve,
no início da aprendizagem, uma operação basicamente de composição,
embora mais tarde ela possa ser acompanhada complementarmente por
uma operação de decomposição mental do léxico visual já adquirido.
(KATO, 2007, p. 7).
A leitura, posterior à aprendizagem da escrita, acontece de forma linear. Ou
seja, as palavras são lidas uma a uma de forma contínua, e esse movimento
configura uma leitura mecânica. Essa estratégia de leitura não se faz presente dessa
forma. O conhecimento do código possibilita, portanto, a leitura e o entendimento do
texto.
Assim, em uma abordagem tradicional, esta estratégia transforma o leitor em
alguém passivo, pois ele busca significados nas letras, na construção das sílabas,
nas palavras, nas sentenças e, então, no texto. O leitor decodifica palavra por
palavra, e o exercício está em encontrar na combinação de palavras o sentido do
texto. Infere-se, nessa perspectiva, que os signos não são variáveis e flexíveis. Pelo
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contrário, são imutáveis e sempre estarão relacionados aos mesmos significados, o
que gera uma séria limitação para o processo de leitura.
Decodificar representa apenas a primeira etapa da leitura. Após essa etapa,
há a compreensão, a interpretação, a ação e a retenção. Essa dinâmica entende o
processo de leitura em uma perspectiva moderna.
3.2 Leitura moderna
Não basta apenas o conhecer a língua para se apropria da leitura. Na
verdade, fazem parte desse processo todas as relações entre pessoas e entre elas
com o mundo que as cerca, todas as relações entre as várias áreas do
conhecimento, da expressão, das circunstâncias, etc.
E quando então os seres humanos começam a ler? É depois de conhecer as
palavras? Não, pois um bebê lê o mundo muito antes de conhecer o código. O bebê
percebe o calor do colo da mãe, o conforto e a segurança dos lugares, entende e
reage de acordo com os estímulos do ambiente e, em seguida, começa a dar sentido
ao mundo que o cerca.
Veja um exemplo:
Pense nas seguintes expressões:
Ler um gesto.
Ler o olhar de alguém.
Ler o tempo.
Esses são apenas alguns exemplos que demonstram a complexidade do
processo de leitura. Lemos as palavras, mas não apenas como uma ação de
decodificar, pois, a partir de nossas experiências e vivências, imprimimos diferentes
sentidos para os textos. Duas pessoas, por exemplo, podem ler o mesmo texto de
formas diferentes, dependendo das experiências prévias de cada uma delas. Do
mesmo modo, uma mesma mensagem escrita pode impactar de forma diferente
cada leitor.
Para além do entendimento tradicional de leitura, na perspectiva moderna,
entendemos que a leitura está na construção de sentido, uma ação que ocorre entre
o leitor e o texto. Por esse motivo, o mesmo texto pode ser lido de diferentes formas
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por diversos leitores. As expressões faciais, por exemplo, podem ser lidas e
interpretadas de formas diferentes, mudando de acordo com o leitor (observador) e o
contexto. Segundo Bakhtin (1986).
O essencial na tarefa de decodificação não consiste em reconhecer a forma
linguística utilizada, mas compreendê-la num contexto preciso, compreender
sua significação numa enunciação particular. Em suma, trata-se de perceber
seu caráter de novidade e não somente sua conformidade à norma. Em
outros termos, o receptor, pertencente à mesma comunidade linguística,
também considera a forma linguística utilizada como um signo variável e
flexível e não como um sinal imutável e sempre idêntico a si mesmo.
(BAKHTIN, 1986, p. 93).
Na perspectiva moderna, a leitura é entendida de forma mais ampla e
pressupõe muito mais do que a decodificação e a leitura linear do texto. Essa
perspectiva confere um espaço muito mais significativo para a construção de
sentido. Não há uma preocupação excessiva com a decodificação do código
linguístico, mas, sim, uma ênfase na autonomia semântica do leitor, em que os
contextos sociais, históricos e culturais do indivíduo também são valorizados.
4 LEITURAS VERTICAIS E HORIZONTAIS E OBJETIVOS DO LEITOR
Anteriormente, mencionamos a leitura linear, mas também existem as leituras
vertical e horizontal. É importante conhecer essas estratégias para que elas sejam
utilizadas adequadamente ao propósito de leitura e aos objetivos do leitor, ou seja, a
uma construção consciente dos sentidos da leitura.
A leitura horizontal é classificada como superficial, estrutural, com base na
observação de títulos e subtítulos. Ela é mais para inspecionar. Logo, tem como
objetivo principal fazer com que o leitor se familiarize com o conteúdo, examinando
partes-chave do texto (SOUZA, 2021). Em outras palavras, o objetivo da leitura
horizontal é a familiarização com o conteúdo e um entendimento mais geral do tema
do texto. Ela pode ser caracterizada pela obtenção de uma informação de caráter
geral. Solé (2014), sobre essa leitura mais geral, afirma que:
Esta é a leitura que fazemos quando queremos “saber de que trata” um
texto, “saber o que acontece”, ver se interessa continuar lendo... Quando
lemos para obter uma informação geral, não somos pressionados por uma
busca concreta, nem precisamos saber detalhadamente o que diz o texto; é
suficiente ter uma impressão, com as ideias mais gerais. Poderíamos dizer
que é uma leitura guiada sobretudo pela necessidade do leitor de
aprofundar-se mais ou menos nela. (SOLÉ,2014, documento on-line).
Pense na leitura de um jornal, que pode ser impresso ou digital. O que lemos
primeiro são as manchetes. Caso a notícia seja de nosso interesse (tenha uma
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chamada interessante), acessamos o conteúdo na íntegra e desenvolvemos a leitura
completa. Caso contrário, seguimos na leitura horizontal, examinando apenas partes
dos textos.
Ao acessarmos os jornais lemos as imagens, nos apropriamos dos títulos e,
quando a imagem e/ou o título chamam a nossa atenção de alguma forma (por
interesse na temática, por exemplo), passamos a ler o descritivo do título (subtítulo).
Confirmando a adesão aos nossos interesses (objetivo do leitor), acessamos o texto
na íntegra e partimos para a leitura. Essa leitura pode ser horizontal em um primeiro
momento, para a confirmação da pertinência do texto, ou pode ser diretamente
vertical (uma leitura mais aprofundada do texto).
Fonte:unicamp.br
A leitura vertical é profunda, reflexiva e analítica. É feita a observação de toda
a estrutura linguística do que está lendo. Para Souza (2021, documento on-line), a
leitura analítica é crítica “tanto no sentido de buscar mais detalhes, examinando os
argumentos e conceitos fundamentais, quanto no sentido de realmente criticar o
conteúdo, entendendo a posição do autor ao ponto de concordar ou discordar dele”.
Na leitura vertical, procuramos compreender de forma a atribuir significado ao
conteúdo apresentado pelo texto. Existe, portanto, uma construção pessoal (por
parte do leitor e seu contexto) sobre algo proposto objetivamente (o autor e o texto).
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Aquilo que está nas entrelinhas também é observado. Além do que se faz presente
no texto, na leitura vertical, o leitor busca o que está implícito e procura estabelecer
relações com o contexto, com outros manuscritos e com conhecimentos prévios.
Assim, o leitor pode construir o seu entendimento do texto e utilizá-lo de acordo com
os seus objetivos. De acordo com Solé (2014), essa leitura possibilita:
Ampliação do conhecimento prévio com a introdução de novas variáveis,
modificação radical do mesmo, estabelecimento de novas relações com
outros conceitos... De qualquer forma, nosso conhecimento anterior sofreu
uma reorganização, tornou-se mais completo e mais complexo, permitimos
relacioná-lo a novos conceitos, e por isso podemos dizer que aprendemos.
(SOLÉ,2014, documento on-line).
É importante conhecer as leituras horizontal e vertical,pois elas são úteis
para o processo de aprendizagem. Pense, por exemplo, na construção de um
trabalho de conclusão de curso. A princípio, reunimos um conjunto de textos, que
são as referências em uma determinada área de pesquisa. Depois, lemos os títulos
e subtítulos para selecionar aqueles que serão utilizados. Por fim, lemos o conteúdo
total dos textos, com o objetivo de reorganizar noções e conceitos para construir
uma escrita autoral.
4.1 Estratégias de leitura literal
As estratégias de leitura são utilizadas como instruções que ampliam a
realização do objetivo de leitura. São ações como itinerários, que, de certa forma
ordenada, possibilita atingir determinada meta. Isso não significa que exista uma
regra ou receita para a ordenação dessas estratégias, mas, sim, que elas, de
alguma forma, facilitem o processo de leitura e interpretação de textos. Com as
estratégias, o pensamento estratégico é praticado.
[...] “a estratégia tem em comum com todos os demais procedimentos sua
utilidade para regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação
permite selecionar, avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para
conseguir a meta a que nos propomos”. (SOLÉ, 2014, p. 14).
As estratégias são necessárias para a formação de leitores autônomos. Elas
são importantes para o aperfeiçoamento de leitores para que sejam capazes de
efetivamente aprender), a partir dos textos, com o objetivo de questionar o
conhecimento e modificá-lo (SOLÉ, 2014).
As estratégias são divididas em cognitivas e metacognitivas (KLEIMAN,
2002). As estratégias metacognitivas são as operações (e não regras) realizadas
com objetivo previamente determinado. Sobre elas, temos controle consciente, ou
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seja, temos condições de compreender a nossa ação. De acordo com Kleiman
(2002):
As estratégias metacognitivas da leitura são, primeiro, autoavaliar
constantemente a própria compreensão, e segundo, determinar um objetivo
para a leitura. Devemos entender que o leitor que tem controle consciente
sobre essas duas operações saberá dizer quando ele não está entendendo
um texto e saberá dizer para que ele está lendo um texto (KLEIMAN, 2002,
p. 50).
Isso significa que se o autor encontra alguma dificuldade de entender o texto,
por exemplo, ele pode recorrer a palavras-chave, realizar buscas de significado
dessas palavras ou retornar à leitura e encontrar explicações para as dúvidas.
Conscientemente, o leitor reconhece as dificuldades de alcance do objetivo de
leitura e pratica determinadas ações para resolver esse problema, pois detecta as
causas de sua dificuldade.
As estratégias cognitivas, por sua vez, são inconscientes. Um exemplo,
conforme Kleiman (2002), está no fatiamento sintático. Essa é uma ação necessária
para a leitura, mas que não acontece de forma consciente. É um processamento em
que procedimentos são utilizados, mas não temos domínio sobre eles.
Ampliaremos os conhecimentos sobre as estratégias para a formação de
leitores proficientes. A princípio, temos o objetivo de leitura, de acordo com esse
objetivo (ou objetivos), selecionamos os textos, a partir de conhecimentos prévios
sobre o assunto selecionamos as leituras pertinentes nessa etapa, podemos realizar
uma leitura mais horizontal/superficial apenas para confirmar a aderência do texto ao
objetivo proposto. Nessa estratégia (relacionada ao objetivo de leitura), estabelece-
se uma análise de tipos de texto. Por exemplo, um romance romântico pode ser
utilizado para determinado objetivo de aprendizagem, já uma pesquisa científica,
para outro. De acordo com o objetivo proposto, vamos selecionar os tipos de textos
que serão pertinentes. Veja a seguir quais são esses tipos, de acordo com SOLÉ
(2014).
• NARRATIVO: há um desenvolvimento cronológico, com o objetivo de explicar
alguns acontecimentos em uma determinada ordem. Alguns textos narrativos
seguem uma organização (estado inicial > complicação > ação > resolução >
estado final), já outros introduzem uma estrutura dialogal dentro da estrutura
narrativa. São exemplos o conto, a lenda, o romance, entre outros.
• DISSERTATIVO: texto centrado na defesa de uma ideia. Com a
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apresentação de diferentes pontos de vista, o texto dissertativo aborda temas
com profundidade reflexiva, convidando o leitor a construir conhecimentos
sobre um tema específico. São exemplos o artigo de opinião, a redação
dissertativa, entre outros.
• DESCRITIVO: descreve um objeto ou fenômeno com o uso de comparações
e outras técnicas. Esse tipo de texto é frequente tanto na literatura quanto nos
dicionários, em guias turísticos, em inventários, etc.
• INSTRUTIVO-INDUTIVO: tem o objetivo de induzir a ação do leitor. São
exemplos as palavras de ordem, as instruções de montagem ou de uso, etc.
• Expositivo: explica determinados fenômenos ou proporciona informações
sobre eles. Os livros didáticos e os manuais utilizam muito esse tipo de texto
Após a seleção dos tipos de texto, de acordo com o objetivo de leitura,
partimos para a leitura horizontal (mais superficial). Depois, seguimos, de acordo
com a pertinência do texto, para a leitura vertical (aprofundamento dos tópicos), que
é mais profunda, reflexiva e analítica. Nesse ponto, as estratégias utilizadas
envolvem as leituras textual, contextual e intertextual. Na textual, o leitor busca
informações no texto. Na contextual, as pistas estão indicadas nas entrelinhas. Na
intertextual, também chamada de cultural, o leitor estabelece relações intertextuais
para o entendimento do seu objetivo de leitura.
Para finalizar, é importante conhecer as estratégias de leitura de forma mais
direta. A princípio, tem-se a identificação da ideia geral do texto em função dos
objetivos propostos para leitura. Em seguida, busca-se a elaboração de resumos (ou
fichas de leitura), com a finalidade de encontrar o tema, as ideias principais e as
secundárias do texto. Para isso, quatro regras podem ser utilizadas pelo leitor: omitir,
selecionar, generalizar e construir (SOLÉ, 2014). Omitindo e selecionando,
separamos as ideias importantes para o nosso objetivo de leitura daquelas que não
são tão pertinentes.
Após a seleção das informações, colocam-se em prática duas regras:
generalização e construção. Por meio da generalização, abstraímos uma sequência
de pensamentos/informações e construímos/integramos uma ideia importante para o
objetivo de leitura. Assim, uma nova informação é elaborada, muitas vezes contendo
informações particulares que não estavam presentes no genérico. Lembre-se de que
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os resumos são construídos com base nos conhecimentos que já temos. Assim,
temos as estratégias de construção de conceitos subordinados a partir de
determinados conjuntos de informações (SOLÉ, 2014).
Outra estratégia para uma leitura ativa está centrada na formulação de
perguntas e respostas. Isso pode ocorrer oralmente ou de forma escrita. O leitor
formula perguntas sobre o texto e, assim, regula o processo de leitura. Essas
perguntas vão facilitar para a identificação do tema e das ideias principais do texto,
formular hipóteses é a estratégia integrante. A partir da leitura horizontal, hipóteses
podem ser formuladas, Em seguida, a leitura vertical vai validando ou refutando as
hipóteses, e as perguntas para o texto vão sendo formuladas. Com o
desenvolvimento da leitura, as perguntas são respondidas e o resumo vai se
construindo (SOLÉ, 2014). Utilizar as estratégias de leitura na prática é um
movimento constante do leitor sobre o texto e vice-versa. Nesse processo, há
interação; logo, há construção de conhecimento.
O ato de ler representa movimento, e o conhecimento não está fixo no texto,
mas na interação do leitor com o texto a partir dos seus objetivos de leitura e do seu
conhecimento prévio. Com a utilização das estratégias, o leitor amplia o processo de
interpretação e apropriaçãodo texto, construindo novos saberes. Em síntese, deve-
se considerar a importância do leitor em assumir progressivamente o controle da
leitura para utilizar as estratégias necessárias para uma leitura eficiente, alcançando
os seus objetivos de leitura
5 A LEITURA E A ESCRITA ACADÊMICAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O
PENSAMENTO CIENTÍFICO
O universo acadêmico forma-se em torno de saberes escritos. Portanto,
dominar a escrita e a leitura é fundamental nesse âmbito. Além disso, ao longo do
tempo, tem-se intensificado as exigências quanto à produção acadêmica. Para
Bortoni-Ricardo (2008), isso se dá porque, a nossa vida está ligada ao pensamento
científico: do alimento, por exemplo, que envolve pesquisa em genética e em
agronomia, vestimentas, transporte, saúde, conhecimento de mundo, comunicação,
etc.
Deste modo, é imprescindível que não apenas professores pesquisadores
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prestem contas de seus estudos por meio de publicações, mas que toda a
comunidade acadêmica o faça. Alunos de pós-graduação — lato sensu
(especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado) — são solicitados o tempo
todo a mostrarem os resultados de suas produções com publicações. Da mesma
maneira, aos alunos de graduação são cada vez mais cobrados tanto para fazerem
parte da iniciação científica como para realizarem produções textuais ao longo do
curso superior. Portanto, como os graduandos precisam apresentar resultados
escritos, isso demandará, igualmente, grande quantidade de leitura.
Fava de Moraes (2000) e Pinho (2017) destacam que o estudante de
graduação ganha autonomia quando aprende a trabalhar com pesquisas, uma vez
que passa a perceber quando consegue buscar soluções individualmente e quando
tem necessidade de auxílio. Embora o contexto de que falem os autores se refira à
iniciação científica, é importante destacar que todos os alunos precisam desenvolver
capacidade de análise crítica e discernimento, necessária para o seu percurso
profissional. A graduação é o espaço propício para que isso aconteça. Uma das
grandes vantagens da pesquisa acadêmica consiste no aprimoramento do olhar
crítico. Este é pautado principalmente em um melhor desenvolvimento da
capacidade de leitura e escrita, essencial na universidade.
Há, ainda, um benefício adicional ao aluno que se dedica à pesquisa
científica, aprendendo a buscar fontes fidedignas e a realizar produções escritas
adequadas ao nível acadêmico, ele fica familiarizado mais cedo com o fato de que
há regras de padronização a serem seguidas. Uma delas é a ortografia padrão do
país, regulamentada pelo Acordo Ortográfico de 1990 e elaborada pela Academia
Brasileira de Letras (ABL), que entrou em vigor no Brasil em 2016. Outro caso é a
normalização da formatação de itens como trabalhos acadêmicos, artigos, pôsteres,
sumários, índices, enfim, os elementos formais de apresentação de trabalhos
acadêmicos de variadas naturezas. Tal normalização é realizada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Os textos exigem muito trabalho para sua escrita, requerendo, da mesma
forma, bastante leitura. Veja o que afirma Paulo Guedes (2010):
Já não se lê mais como antigamente; se lê muito mais, não só porque tem
muito mais gente capacitada para ler hoje do que antigamente, mas também
porque tem muito mais gente que precisa ler do que tinha antigamente. [...]
E também já não se escreve mais como antigamente. Se escreve muito
mais e pelos mesmos motivos. [...] Escrevemos muito mais e melhor até
porque não tem outro jeito, pois o modo de produção em que estamos
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inseridos precisa de uma incessante produção de conhecimento, o que
acarreta, incontornavelmente, a produção do texto que vai organizar esse
conhecimento, dos textos que vão divulgar esse conhecimento, dos que vão
problematizar esse conhecimento, dos que vão vulgarizar esse
conhecimento, dos que vão testemunhar a apropriação desse
conhecimento, dos que vão propor aplicações desse conhecimento.
(GUEDES, 2010, p. 7).
Assim, ao ingressar na universidade, o aluno se depara com o fato de que o
ensino superior se centra na produção contínua e intensa de conhecimento. Não
bastando isso, o uso qualificado da modalidade formal da língua portuguesa subjaz
às atividades específicas que o estudante precisa desenvolver em sua área de
conhecimento para se tornar um profissional competente. O objetivo final consiste
em atender a diferentes demandas sociais ligadas ao seu campo de atuação.
Köche, Boff e Marinello (2010, p. 9) pontuam que, “[...] no contexto atual, ler e
escrever de modo eficiente é extremamente importante, tanto na vida pessoal
quanto na profissional, visto serem competências que facilitam a inserção do sujeito
nas diferentes esferas sociais”.
Assim, não se trata de importância, mas de necessidade. Para produzir
conhecimentos em sua área de atuação, o discente deve desenvolver habilidades
tanto em leitura quanto em escrita. Essas habilidades relacionam-se com os distintos
gêneros textuais de que se faz uso na faculdade, explorando a sua leitura e a sua
escrita qualificada. Na leitura, é preciso que o aluno saiba identificar as pistas que
direcionam os sentidos. Na produção textual, são necessárias estratégias de
organização de acordo com a finalidade de cada texto.
5.1 Argumentos de senso comum e argumentos de senso crítico
Ao analisar o título acima podemos pensar que é possível falar de
argumentos de uma forma muito simples e geral, mas a argumentação exige um
pouco mais. Exige, primeiramente, em definir em que consiste argumentar no
contexto acadêmico. Quando se pensa em argumentação, é preciso
necessariamente remeter ao caráter dialógico — isto é, de diálogo — dos discursos.
Isso significa dizer que a argumentação se refere a como melhor selecionar e
organizar argumentos de diferentes naturezas para alcançar objetivos como
demonstrar, persuadir e convencer.
Também está relacionada a públicos diversos (a quem se destina), a objetos
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claros (o que está em questão) e a circunstâncias específicas (em que momento e
em que espaço se dá e de que modo se realiza). Pode-se chamar a esse conjunto
de “relações de contexto”. São justamente os contextos que estão em jogo quando
se fala de argumentos de senso comum e de senso crítico.
Segundo Abreu (2010), o senso comum é proveniente de variados discursos
que formam o que chamamos de “opinião pública”. Ela seria constituída,
especificamente, por diversos discursos estruturados que permeiam toda a
sociedade, independentemente de classe social. Savioli e Fiorin (2006) explicam que
os argumentos de senso comum normalmente são preconceituosos, pois não são
baseados em fatos e comprovações, mas em afirmações usualmente
generalizantes.
Quando se diz “Todo político é corrupto”, essa afirmação é generalizante.
Quem a faz até pode relatar uma ocorrência de corrupção, mas um único caso não é
o suficiente para qualificar todo um grupo. Suponha-se que a mesma pessoa
dissesse “Há políticos corruptos” e justificasse expondo o mesmo caso de corrupção.
A afirmação deixaria de ser generalizante, sendo comprovada por um fato concreto.
Trata-se, como se vê, do modo de apresentar os argumentos: em lugar de uma
afirmação generalizante inadequadamente baseada em um fato pontual, tem-se uma
conclusão mais geral depreendida de um fato a partir do qual se pode efetivamente
deduzi-la.
5.2 Argumentos de senso comum
É preciso olhar para os argumentos de senso comum com extrema cautela
em qualquer circunstância. Como já vimos anteriormente as considerações de
Savioli e Fiorin (2006), Silva (2011), também afirma que o senso comum consiste no
conhecimento vulgar, nas opiniões diversas. Ou seja, “[...]tudo [com] o que se
precisa romper para se tornar possível o conhecimento científico, racional e válido”.
A autora continua: “[...] a humanidade iniciou suas crenças a partir das concepçõesdo senso comum, e posteriormente, através da razão e da racionalidade modernas,
apropriou-se das premissas da ciência”. Tais premissas incluem a comprovação e o
embasamento exigido em todo discurso científico, incluído o acadêmico.
Esses autores abordam o senso comum em maior profundidade e de forma
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diversa. Silva (2011), alerta para o fato de que a ciência por vezes pode não dar
conta de elementos que, em realidade, não são completamente tangíveis de forma
objetiva. Um exemplo trabalhado pela autora é a catalogação do patrimônio cultural,
que é dividido em dois tipos: o material e o imaterial. O primeiro, sendo concreto
(obras de arte e documentos, por exemplo), é classificado de forma mais evidente e
inconteste.
O imaterial, contudo, apresenta incertezas, já que a sua categorização não é
óbvia, pois estão em jogo conhecimentos que são resultados da experiência
cotidiana do senso comum vivenciados, experienciados, e transmitidos de gerações
em gerações, e durante toda a vida por um determinado grupo. Mesmo fazendo
essa ressalva, Silva (2011), alerta para o fato de que exista na ciência moderna um
único caminho: o método científico. Na sua concepção, a solução para o caso
específico do patrimônio imaterial estaria na “[...] união dos conhecimentos das mais
diversas áreas [...] pautados em conhecimentos específicos dotados de clareza e
objetividade”. A autora finaliza dizendo que a ciência e senso comum têm papéis
distintos, contudo, ao mesmo tempo complementares.
Cabral (2018), por sua vez, revisitando o pensamento do filósofo John Dewey,
problematiza um elemento anterior: a determinação do objeto de estudo. Segundo
ele, Dewey defende que a ciência não pode perder de vista os problemas do senso
comum que geram as suas questões. Desse modo, o senso comum seria uma etapa
inicial do desenvolvimento do pensamento científico. Por isso, Dewey é bastante
citado em pesquisas da área da educação.
Para o filósofo, portanto, os discentes não deveriam apenas decorar fórmulas
ou teorias, mas levantar hipóteses, fazer comparações, análises, interpretações e
avaliações relacionadas a experiências práticas. Os alunos seriam, então,
conduzidos a um aprendizado significativo e a um conhecimento efetivo. Não se
daria, assim, uma ruptura entre a forma de pesquisar do senso comum e a da
ciência, pois, embora seus respectivos problemas e métodos sejam diferentes,
ambas possuem uma origem comum: as situações originárias de uso e desfrute dos
objetos ao redor Cabral (2018).
18
5.3 Argumentos de senso crítico
Independentemente da posição que tem quanto ao senso comum, seja um
olhar mais rígido ou mais condescendente, não se pode negar que um ponto de
vista científico deve necessariamente considerar o senso crítico de forma primordial.
No que consistem, então, argumentos de senso crítico? Como eles são
constituídos?
Para abordar a argumentação que leva em conta o caráter dialógico do
discurso, é preciso, como afirma Fiorin (2015), retornar aos textos clássicos. O
primeiro aspecto a ser lembrado, diz o autor, são os raciocínios necessários e
preferíveis, baseados no pensamento de Aristóteles. O silogismo consiste no
raciocínio necessário por excelência. Baseia-se na argumentação a partir de
premissas que, tidas como verdadeiras, levam a uma dedução lógica. Veja o
exemplo a seguir:
Fonte: adaptada de Fiorin (2015).
Os raciocínios preferíveis, por sua vez, seguem Fiorin (2015), são aqueles
cujas premissas não necessariamente correspondem à verdade, fazendo com que
as conclusões não sejam “logicamente verdadeiras”. Veja o exemplo a seguir.
TODAS AS
PESSOAS SÃO
MORTAIS.
JOÃO É UMA
PESSOA.
LOGO, JOÃO É
MORTAL.
19
Fonte: adaptada de Fiorin (2015).
Facilmente você pôde constatar, a aceitação da premissa de que todos os
estudantes são esforçados não é “logicamente verdadeira”, dependendo de crenças
e valores. Fiorin (2015), sintetiza isso da seguinte forma:
Os raciocínios necessários pertencem ao domínio da lógica e servem para
demonstrar determinadas verdades. Os preferíveis são estudados pela
retórica e destinam-se a persuadir alguém de que uma determinada tese
deve ser aceita, porque ela é mais justa, mais adequada, mais benéfica,
mais conveniente e assim por diante (FIORIN, 2015, p. 18).
Na ciência e, portanto, no mundo acadêmico, muitas conclusões, claro,
devem-se à lógica. Entretanto, a maior parte das questões com que os
pesquisadores se deparam tem mais relação com o modo como tais problemas são
trabalhados do que com a lógica simples. Trata-se, por conseguinte, de persuasão.
Os argumentos, são os raciocínios que se destinam a persuadir. Argumentação,
aqui, diz respeito à persuasão, e a retórica é a arte da persuasão por excelência,
afirma Fiorin (2015, p. 19).
Ainda de acordo com o mesmo autor, há quatro noções discursivas da
retórica. A antifonia é a primeira noção discursiva e consiste no contraste de dois
discursos opostos. Um exemplo são os casos de julgamento, em que defesa e
acusação expõem seus pontos de vista para que um juiz chegue a um veredito. O
paradoxo, a segunda noção discursiva, evidencia que a linguagem tem sua
“ordem própria” e “categoriza o mundo” (FIORIN, 2015, p. 24). Se alguém diz “Toda
certeza é relativa”, não pode ter certeza do que diz, à medida que deve, segundo
sua própria afirmação, relativizar inclusive tal certeza enunciada — trata-se de um
TODOS OS
ESTUDANTES SÃO
ESFORÇADOS
MARIANA É
ESTUDANTE.
LOGO, MARIANA
É ESFORÇADA
20
paradoxo.
A terceira noção discursiva, a da probabilidade, diz respeito ao fato de que
as pessoas sempre fazem cálculos com base nas situações que julgam prováveis
em determinadas circunstâncias (ou seja, os cálculos dependem dos contextos).
Caso alguém, por exemplo, tenha ameaçado outra pessoa, e esta sofreu um
atentado, a probabilidade é que tal atentado tenha sido cometido por quem fez a
ameaça. Finalmente, a quarta noção discursiva, interação discursiva, última
dessas noções, trata da interação social: um discurso sempre é produzido em
oposição a outro. Isso implica o dialogismo dos discursos, o que significa que todos
os discursos são argumentativos, porque são dialógicos.
A neutralidade é diferente de impessoalidade. Ela tem a ver com a
objetividade do texto. Não existe texto neutro, pois todos tem (ou deveria ter) uma
opinião sobre o assunto em questão. Por exemplo, um texto pode expressar
argumentos a favor ou contra, ou até mesmo duvidar de uma posição sobre um
assunto, mas você precisa ter uma posição clara sobre o tema.
Entretanto, a impessoalidade, está relacionada aos efeitos linguísticos,
obtidos no texto por meio do uso de elementos como a terceira pessoa do singular,
que faz o leitor sentir que as coisas aconteceram por si mesmas. Portanto, se houver
uma construção no texto como "Constatou-se que dado é verdadeiro", dar-se-á
impressão de que o fato de as afirmações serem verdadeiras é um atributo em si, e
não uma afirmação feita por uma pessoa
5.4 A leitura e a escrita no cotidiano na universidade
Ler e escrever não é algo tão simples, e se fosse uma tarefa fácil, não haveria
tantas de pessoas procurando por dicas, tutoriais, enfim, um monte de ferramentas
para melhorar a escrita, ou mesmo começar a escrever um texto mais sofisticado, ou
um artigo para qualquer finalidade.
Toda essa complexidade tem um motivo e é explicável. As nossas habilidades
mais naturais são ouvir e falar, trata-se do estado primitivo da linguagem falada.
ATENÇÃO
21
Com a necessidade de registrarem os fatos, a história e consequentemente
decodificar os símbolos escritos, surgiram a escrita e a leitura. Só é possível uma
criança aprender a ler e a escrever depois que ela domine perfeitamente a língua
materna.
5.5 A escrita no cotidiano
A escrita está presente na vida cotidiana mesmoquando ela não é
formalmente exigida. Criar uma lista de compras, enviar e-mails e anotar lembretes
são alguns dos usos mais comuns da escrita. Já no ambiente de trabalho, preencher
formulários ou enviar relatórios profissionais, exigem mais atenção ao formato e
estilo.
No entanto, com a popularidade de várias redes sociais, grande parte das
pessoas tornam-se publicas várias postagens contendo diferentes tipos de textos
todos os dias. Esses escritos possuem a mesma importância para os que os
produzem, quanto os textos usados para realizar tarefas de trabalho ou estudo.
Entretanto, há uma característica que os tornam muito diferentes uns dos outros, a
linguagem, a formalidade. De fato, em textos acadêmicos, o rigor é muito maior
devido ao contexto.
Em termos de escrita, o contexto contém alguns elementos: quem está
falando, para quem, o que é dito, de que maneira, quando e onde. Ignorar qualquer
uma desses fatores fará com que seu texto falhe de alguma forma, não apenas os
textos acadêmicos, mas de qualquer um. Por exemplo, imagine que alguém escreva
um bilhete para a mãe informando que foi para faculdade, em vez de "Mãe, estou
indo para a faculdade", escreva algo como:
“Presada senhora, precisei me ausentar. Dirigi-me ao espaço destinado aos
estudos que realizo com a finalidade de completar minha graduação”. No mínimo,
causaria muito espanto com tanta formalidade. De maneira igual, um texto
acadêmico não pode ter uma linguagem coloquial, pois além de causar
estranhamento, não vai transmitir credibilidade e a sobriedade exigidas a esse tipo
de interação.
22
5.6 A escrita no meio acadêmico
Quanto a escrita acadêmica, exceto em casos muito específicos em que o
aluno tem que escrever um texto narrativo - como em uma disciplina de produção de
textos - os textos acadêmicos normalmente são dissertativos. O que significa que há
uma clara estrutura argumentativa por trás dele. Claro, todo texto é argumentativo
porque se relaciona (através do diálogo) com outros textos e transmitem
significados, mesmo que de forma implícita.
O texto dissertativo sobressai neste sentido porque visa nitidamente debater e
solucionar uma questão (no sentido de “discussão de um tema”). Portanto, a
argumentação não é tão evidente em nenhum outro texto quanto o dissertativo.
Pereira (2013, p. 21) afirma que “[...] a escrita científica busca dar corpo à
interpretação objetiva da realidade, superando o imediatismo da opinião e do senso
comum, buscando expedientes de universalização e generalidade”
Portanto, um ensaio argumentativo visa revelar as evidências de que seu
conteúdo está correto, ou demonstrar que a forma como o tema é apresentado é o
melhor. Em suma, podemos dizer que um ensaio argumentativo deve ser
internamente consistente, e quanto aos dados que apresenta, além de ser
consistente, deve também refletir questões específicas através da argumentação,
avaliação e interpretação.
Nesse sentido, a leitura acompanha os alunos durante toda a vida escolar e é
essencial para o desenvolvimento da escrita. Duarte, Pinheiro e Araújo (2012),
observaram uma forte relação entre a leitura frequente e a melhora da escrita.
Machado (2017), por outro lado, diz que a prática da leitura é essencial para o
sucesso do aluno porque se integra na aprendizagem quotidiana como uma forma
especial de adquirir, compreender e interpretar conhecimentos, essenciais na
argumentação.
5.7 Postura em relação à escrita acadêmica
Apenas descrever, apresentar as características de um texto acadêmico é o
suficiente para uma efetiva prática na escrita. Assim, apresentaremos algumas
orientações que irão te ajudar no momento da escrita e na tomada de decisão sobre
ela,
23
O primeiro critério a destacar é a questão dos prazos. É impossível escrever
um texto argumentativo de uma só vez. Além do mais, tem a questão do tempo
necessário para coletar os dados e as leituras necessárias para se aprofundar no
tema, é preciso lembrar que os textos acadêmicos podem e devem ser reescritos
várias vezes. Várias correções e alterações evitarão textos irracionais ou mal
concebidos.
Dessa forma, é necessário planear a escrita, separando e dedicando um bom
tempo para este trabalho. Para que se tenha tempo de reescrever quantas vezes for
preciso. Como comenta Baker (2015), quem escreve profissionalmente sempre
reescreve seus textos, pois toda escrita pode ser melhorada. Parafrasear também
pode ajudá-lo a planejar seu trabalho. Elaborar seu texto no início de sua jornada
ajudará você a entender os dados e as discussões necessárias para concluí-lo
(BECKER, 2015).
Um aspecto importante, por mais óbvio que pareça, é que o escritor não
estará com seus leitores, nem dará explicações quando começarem a surgir
dúvidas. Portanto, você deve escrever de forma que todas as informações que seu
público precisa estejam no texto. Lembrando novamente que a linguagem deve ser
apropriada. Trata-se de uma linguagem formal, além disso, há uma grande
quantidade de termos específicos de diversas áreas. Para garantir que você está
atingindo seus objetivos de redação, use um revisor, alguém que você conhece e
que possui características semelhantes ao seu público-alvo.
Um ponto muito importante também, a seleção das fontes. Inclui pesquisa
empírica e pesquisa bibliográfica. Ambos foram escolhidos por estarem de acordo
com o escopo do estudo. É essencial destacar o conteúdo que é realmente
relevante para o que você está tentando apresentar. As bibliografias, em particular,
têm algumas peculiaridades. O primeiro passo é selecionar autores que sejam
importantes para o campo da pesquisa e que seja consistente com a teoria e os
tópicos do artigo a serem usados. Não adianta usar a teoria mais inovadora se você
não souber lidar com o seu assunto.
Em relação aos periódicos, deve-se dar preferência aos mais conhecidos em
sua área, mesmo que seja necessária uma seleção específica. Bem, você pode
encontrar textos interessantes com um visual ousado e original em revistas
secundárias. É o que Eco (2010, p. 113) chama de “humildade científica” em relação
24
à construção do conhecimento: todos podem ensinar alguma coisa. Quando falamos
em período de publicação, quanto mais recentes os textos escritos, maior sua
popularidade e atualidade. Claro que esse critério não vale para textos clássicos ou
mesmo icônicos em todos os campos, bem como para textos de autores
reconhecidos.
Também deve ser frisado que você deve se envolver com o que está
escrevendo. Não importa quais tópicos ou pontos de vista sejam revelados em seu
artigo ou texto, eles são de sua inteira responsabilidade. Isso tem duas
consequências. A primeira é que após a publicação ou envio do seu texto (por
exemplo, no caso de um trabalho acadêmico), os leitores terão ao dispor somente o
que você escreveu, uma escrita mal feita poderá levá-lo a ter interpretações
contrárias daquilo que você gostaria de ter exposto. Assim é sua a responsabilidade
de ser o mais claro e objetivo, usando argumentos coerentes para não gerar dúvidas
para quem tiver acesso ao seu texto.
O segundo ponto é você assumir de verdade seu ponto de vista. Se você
estudou, pesquisou, se apropriou de fato do seu tema, seja enfático ao falar dele.
Não há o porquê deixar lacunas ou dúvidas no decorrer do texto, se isso acontecer,
com certeza, seu texto não terá credibilidade, sendo que nem mesmo confiou na sua
proposta. Isso é o que Eco (2010) chama de “orgulho científico”:
[...]se não se sentia qualificado, não deveria ter apresentado o trabalho; se o
apresentou, é porque sentiu que podia. Uma vez esclarecido se sobre
determinado tema são possíveis respostas alternativas, vá em frente. Diga
tranquilamente: ‘julgamos que’ ou ‘pode-se concluir que’” (ECO, 2010, p.
143).
6 GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS
Todos os textos se apresentam com uma forma e comuma finalidade, a
comunicação. A forma do texto é representada pelo conceito de tipologia ou tipo
textual. Segundo Marcuschi (2005, p. 154), “Tipo textual designa uma espécie de
construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo) [...]”.
Em relação à manifestação dos tipos, é importante salientar que eles não são
textos, mas são as formas que os textos assumem em diferentes contextos. Os
principais tipos textuais são os seguintes: narração, argumentação, exposição,
descrição e injunção. Além de se manifestarem em determinadas formas, o texto
25
também assume a sua finalidade, ou seja, o seu uso. Quando você analisa as
manifestações contextuais dos textos, você trabalha com o conceito de gênero
textual.
Os gêneros textuais são os textos que você encontra no cotidiano e que
apresentam padrões característicos, definidos pela funcionalidade, pelo estilo e pelo
objetivo em diferentes esferas comunicativas. Dessa forma, na visão de Marcuschi
(2005), o gênero textual materializa e adapta os textos em diferentes situações
comunicativas. Você pode considerar como exemplos de gêneros: receita, crônica,
diálogo, aula de português, reportagem, bilhete, e-mail, notícia, carta pessoal, carta
comercial, resenha, romance, poema, etc.
Segundo KOCH e Elias (2017), para viver em sociedade, todo indivíduo
constrói, ao longo de sua existência, uma competência metagenérica, que diz
respeito à utilização dos textos no seu meio de uso. É por isso que as pessoas se
adequam a diferentes situações comunicativas. Sabendo que a comunicação é
heterogênea e que os gêneros textuais são organizados de acordo com a finalidade
da comunicação, pode-se incluir nesse grupo desde um diálogo cotidiano até uma
tese de doutorado. Ou seja, os gêneros se transformam com o contexto. Alguns
podem desaparecer e outros, surgir.
6.1 Gênero textual
Agora que aprendemos sobre as diferentes tipologias textuais, podemos
estudar os diferentes gêneros textuais. Gêneros textuais são textos que apresentam
características distintas e que exercem funções comunicativas específicas; ou seja,
esses textos se caracterizam por compartilhar os mesmos traços entre textos do
mesmo gênero, diferem de outros gêneros por terem características peculiares e
cumprem objetivos variados.
Os gêneros textuais, além de conteúdos que sejam propícios aos seus fins
comunicativos, também são caracterizados pela forma de apresentação dos textos,
que estão altamente relacionados ao papel que cada texto deve cumprir. Um leitor
que recebesse um texto “lista de compras” certamente perderia tempo no mercado
lendo frases que não são necessárias para as compras e, ainda por cima, correria o
risco de esquecer algum item por não estar facilmente indicado no corpo do texto.
26
Os gêneros textuais devem levar em consideração todos os aspectos que
proporcionem uma comunicação eficiente, como emissor, receptor, objetivo, canal,
mensagem, etc. Diferente das tipologias textuais, os gêneros textuais são de
inúmeros tipos e surgem de acordo com as necessidades sociais distintas para cada
ação comunicativa.
Entre os exemplos de gêneros textuais estão: carta (pessoal e empresarial),
telefonema, notícia de jornal, artigo de revista, artigo de jornal, artigo acadêmico,
piada, receita, bula de remédio, biografia, entrevista, romance, poesia, conto,
monografia, aviso, lenda, fábula, lista de compras, ensaio, editorial, e-mail, abaixo-
assinado, diário, currículo, entrada de dicionário, texto enciclopédico, etc. Os
exemplos mencionados acima servem apenas para ilustrar a grande variedade de
gêneros textuais existentes. Como já foi dito, cada necessidade comunicativa pode
abrir espaço para o surgimento de um gênero textual diferente.
6.2 Tipologia textual
Tipologia textual (tipos de texto) se refere às diferentes formas que um texto
pode se apresentar. Elas se caracterizam e diferenciam não só pelo conteúdo, mas
também – e principalmente ─ por suas formas e objetivos. Cada tipo textual se
apresenta de uma determinada maneira, seguindo regras de estruturas e
apresentações que diferem um tipo do outro. Em outras palavras, a tipologia textual
é responsável por apresentar modelos que delimitam tanto a estrutura quanto os
aspectos linguísticos de um texto.
Existem diferentes tipos de texto que divergem de acordo com a finalidade e
propósito de cada um, sendo que cada tipo apresenta distinções no que diz respeito
à estrutura, linguagem, vocabulário, organização sintática, relações lógicas,
interações com o leitor, etc. As principais tipologias textuais são quatro, e cada uma
delas possui características próprias.
Texto narrativo: O texto narrativo tem por objetivo contar um fato,
acontecimento ou história por meio de um desencadeamento sequencial. Essa
narrativa pode ser real ou fictícia.
Texto descritivo: O principal objetivo de um texto descritivo, como o nome já
diz, é apresentar uma descrição de algo (seja uma pessoa, um objeto, um conceito
27
etc.) de forma que o leitor possa formar uma imagem mental do que está sendo
descrito e relacioná-la à realidade ou criar uma figura imaginária.
A descrição pode ser feita em diferentes níveis e por meio de diferentes
recortes, podendo ser mais objetiva ou mais subjetiva de acordo com os objetivos do
texto e do escritor. Embora a estrutura do texto descritivo seja similar à do texto
narrativo (introdução, desenvolvimento e conclusão), os componentes dessa
estrutura podem ser entendidos de forma um pouco distinta, de modo que a
introdução sirva como uma identificação (ou apresentação) daquilo que será descrito
e o desenvolvimento, a descrição em si.
A conclusão, por sua vez, pode ser entendida não como um componente,
mas como um processo. A conclusão ocorre quando o autor do texto está satisfeito
com a descrição pretendida. Diferente do texto narrativo, o texto descritivo está
isento de limitação temporal ou espacial. Ele se estrutura como uma descrição
estática, independente de uma cronologia ou de um espaço temporal específico.
Geralmente, textos descritivos são cheios de substantivos, adjetivos e advérbios. Os
verbos utilizados para esses textos geralmente são mais restritos do que os
utilizados em narrativas, sendo, em sua maioria, verbos de estado (ser, estar,
parecer, etc.).
A linguagem utilizada em textos descritivos se caracteriza por ser bastante
rica, a fim de fornecer uma descrição detalhada, fazendo uso, portanto, de figuras de
linguagem, comparações, enumerações, etc. de forma que a linguagem se torne
dinâmica e interessante para o leitor.
Texto dissertativo (expositivo e argumentativo): Um texto dissertativo se
caracteriza por ter como objetivo informar o leitor a respeito de um determinado
assunto de forma rica, rigorosa e detalhada. Essa tipologia textual se divide em dois
tipos: expositivo e argumentativo.
Dissertativo-expositivo: expõe conhecimentos, detalhes e ideias. Esse tipo
de texto não tem por objetivo convencer o leitor, apenas relatar fatos sobre um
determinado tema, servindo como transmissor de conhecimento e escrito de forma
que tente evitar qualquer tipo de erro ou informação não verídica, ou não
confirmada.
Textos dissertativos-expositivos devem ser elaborados de forma clara e
organizada, de modo que possam ser entendidos por diversos leitores. Geralmente,
28
textos expositivos trazem um grande número de informações relacionadas ao
assunto sobre o qual dissertam, a menos que o autor tenha por objetivo fazer
apenas um recorte específico. Nesse tipo de texto, encontramos definições,
clarificações, características, comparações, enumerações e exemplos que abordam
de maneira correta e eficaz o assunto a ser exposto.
Dissertativo-argumentativo: tem por objetivo convencer e persuadir o leitorpor meio de sua dissertação. Nesse tipo de texto, o autor utiliza não somente fatos,
mas também suas crenças, opiniões, valores e ideias para tentar convencer o leitor
de algo ou fazê-lo concordar com seus pressupostos e teses, sempre em terceira
pessoa.
Texto explicativo (injuntivo e prescritivo): O texto explicativo é aquele que
tem como principal objetivo instruir o leitor a respeito de algum processo ou
procedimento. Esses textos se caracterizam por linguagens que instruam e
incentivem a ação, direcionando o comportamento do leitor. O tipo de linguagem
empregada por esse tipo de texto é, geralmente, objetivo e claro, com um grande
número de verbos no imperativo, no infinitivo ou no presente do indicativo.
6.3 O texto literário e as suas manifestações linguísticas
Como porta para o mundo da leitura, a literatura infantil traz consigo a marca
da oralidade. Isso é importante para facilitar a proximidade entre os interlocutores
(emissor e destinatário). No entanto, para entender como os mundos da linguagem
interagem na esfera literária, é preciso saber reconhecer o que é um texto literário e
como ele se diferencia dos textos não literários e procurar marcas coloquiais em
textos de literatura infantil e juvenil.
Como sabemos, um conjunto de palavras ou frases não necessariamente
formam um texto. Falar de textos é falar de comunicação, de uso da linguagem.
Além disso, na visão de Antunes (2010), o texto é descrito como uma atividade
funcional porque é sempre utilizado com a finalidade de sustentar a comunicação.
Como se vê, os textos podem ser orais ou escritos. Quando aos textos
escritos, eles podem inicialmente ser subdivididos em dois grupos: textos literários e
textos não literários. Os textos não literários tentam informar, ordenar, argumentar,
explicar, etc. Normalmente, sua linguagem é clara e objetiva. Em contrapartida,
29
segundo Fiorin (2000), um texto literário é caracterizado por uma unidade de sentido
constituída por uma linguagem determinada por sua função estética. Gonzaga
(2007) apontou em Convergência que os textos literários não são apenas criações
ficcionais, mas também obras de criação linguística, cumprindo assim sua função
estética. Além disso, segundo Fiorin (2000), os textos não literários buscam o
sentido real, a denotação, enquanto os textos literários buscam a conotação ao
desempenhar suas funções estéticas. Na visão de Fleck (2008), a literatura é arte; a
arte, por sua vez, é entretenimento, a expressão da realidade.
É através da leitura que o homem consegue reajustar sua interpretação do
mundo em que vive. Ou seja, mergulhar nos textos literários e entrar em um universo
fantástico que amplia a visão de mundo do sujeito e cria novos significados, é través
da literatura e da estética que a criatividade e a sensibilidade podem ser cultivadas.
Porém, saber ler não significa apenas decodificar os símbolos da linguagem.
Segundo Orlandi (1988), a leitura de um texto representa o momento em que o
interlocutor se identifica consigo mesmo, desencadeando o processo de dar sentido
ao texto.
É por intermédio da leitura e com a leitura que as pessoas são capazes de
analisar e refletir sobre as situações vivenciadas. No entanto, o hábito da leitura não
é tão fácil de formar. Segundo Fleck (2008, p. 15), esse processo se inicia na
infância, quando a criança é exposta ao mundo mágico, fantasioso e aberto da
literatura infantil, e essa exposição garante que o processo de aprendizagem de uma
língua seja aprimorado, como Um meio de construir e representar a realidade.
Segundo Bamberger (1991), pais e professores são essenciais para introduzir
a leitura na vida das crianças. No entanto, existem situações em que os
professores desempenham um papel de destaque. Por isso, é importante que
conheçam o mundo da literatura infantil. Dessa forma, podem estimular crianças
e jovens a ler de uma forma muito mais prazerosa. Ainda para Zilbermann (1998),
realizar atividades com literatura infantil é diretamente um exercício de
interpretação e compreensão, pois melhora não só a apreensão de
um significado, mas também as relações que existem entre o significado e sua
presença e história, mesmo que ele ainda é uma criança.
Os textos literários são constituídos sobretudo por romances, histórias em
quadrinhos, novelas, crônicas, contos, fábulas e poemas. Os professores devem
30
entender o mundo literário das crianças e adolescentes e apresentá-lo aos alunos
para que eles desenvolvam hábitos de leitura saudáveis e naturais, em vez de impô-
los aos outros.
7 A LINGUAGEM E O CONCEITO DE LÍNGUA EM USO
A linguagem consiste no uso da língua para a comunicação e a interação
social. Da mesma maneira que a linguagem pode ser oral ou escrita, a leitura
ultrapassa o universo da escrita. Pode-se ler tanto um artigo de opinião quanto um
debate político. Ou seja, ler não significa, restritamente, decodificar uma sequência
de palavras escritas.
A linguagem é a responsável por estabelecer toda atividade comunicativa.
Assim, ela representa a manifestação da língua, composta por um sistema de signos
convencionais usados pelos membros de uma mesma comunidade linguística. De
maneira genérica, pode-se afirmar que a língua não passa de um contrato
estabelecido entre os seus usuários. Caso esse contrato seja de conhecimento
pleno dos usuários, a comunicação está garantida.
Cada indivíduo utiliza a língua de sua comunidade de maneira individual e
personalizada, desenvolvendo assim a fala. Ou seja, as manifestações de qualquer
falante em relação ao uso da língua são representadas pela fala. No entanto, deve-
se ter cuidado para que não ocorra a confusão da fala com o ato de falar,pois tanto a
fala quanto a escrita são expressões individuais de cada pessoa, que estão
inseridas no conjunto maior que é a língua). Por exemplo, os falantes da língua
portuguesa podem falar ao telefone ou escrever um texto em alguma rede social. Em
ambas as circunstâncias, estarão usando a sua fala individual para manifestar a
língua portuguesa em diferentes meios sociais.
O caráter social de uma língua e a sua representatividade para o processo de
comunicação são inegáveis em qualquer estudo linguístico. Sabendo que a
linguagem representa o uso da língua em uma esfera social, Preti (1974) afirma que,
para que exista uma vida em sociedade, é fundamental que as manifestações
linguísticas sejam compreendidas.
Sons, gestos e imagens compõem diferentes tipos de mensagens que podem
se manifestar por diversos canais, como a televisão, o cinema ou um livro. Ou seja,
31
estudar as manifestações linguísticas significa compreender que a língua é o suporte
para toda e qualquer dinâmica social. No entanto, segundo Preti (1974), o seu uso
não compreende apenas relações corriqueiras orais, mas também expressões mais
específicas, como uma notícia escrita em um jornal.
Dessa maneira, a fala e a escrita são duas manifestações da linguagem
estabelecidas por um objetivo específico dentro de um contexto linguístico. Para
Calsamaglia e Tuson (2008), o discurso representa, principalmente, uma prática
social interativa que pode se manifestar em contextos tanto orais quanto escritos.
Inclusive, a forma como se compreende a linguagem implica uma análise textual.
Segundo Barbisan (1995), o texto é uma unidade funcional, a qual desempenha um
papel dentro de um contexto. Com uma visão bastante similar, Adam (2008) afirma
que o texto não representa uma sequência de palavras, e sim de atos. Essas
manifestações da língua em uso, em seus contextos e necessidades específicas,
são conhecidas como gêneros textuais. Ou seja, as diferentes finalidades que
expressam o uso linguístico são estabelecidas por circunstâncias contextuais que
caracterizam e determinam o gênero textual.
7.1 Fala e escrita: conjunto de partes unidas entre si
Todo e qualquer texto representaum ato de comunicação dentro de um
processo interacional, que pode ser tanto escrito quanto falado (KOCH; ELIAS,
2017). Os principais aspectos paradoxais entre a oralidade e a escrita é que os
contextos de produção e de recepção, de maneira geral, não coincidem no tempo e
no espaço.
No texto escrito, a produção da mensagem é estabelecida de acordo com a
intencionalidade do emissor em relação ao seu receptor. Além disso, não há
necessariamente a participação direta daquele que recebe a mensagem. Nesse
quesito, para Koch e Elias (2017), o diálogo se baseia e se constitui numa relação
em que o emissor (nesse caso, escritor) dialoga com a perspectiva de que o receptor
(nesse caso, leitor) possa compreender a sua intencionalidade.
Em contraponto, o texto falado ocorre no momento da interação comunicativa,
ou seja, a situação é imediata e simultânea para aqueles que participam dela. O tom
de voz, por exemplo, é uma das características capazes de manifestar mais do que
32
as palavras individualmente, pois o contexto interacional carrega identidade, e as
manifestações linguísticas dos atos de fala perpassam o nível sintático de análise.
De acordo com Infante (1998), a língua falada se vincula às situações comunicativas
em que ela é usada diretamente entre os interlocutores.
Embora haja questionamentos em relação às mídias sociais, como o
WhatsApp, você não deve se esquecer de que o produtor do texto escrito (mesmo
que esteja on-line) tem mais tempo para o planejamento e para a execução da sua
fala. Afinal, meios de comunicação como o WhatsApp, frequentemente apresentam
duas manifestações linguísticas: o uso da escrita e da fala, com a possibilidade de
enviar áudios. Nesse caso, a conversa, por mais que pareça simultânea e imediata,
não acontece na mesma esfera de uma conversa presencial.
Em relação ao uso e às manifestações da fala nas diferentes esferas
comunicativas, orais e escritas, o vocabulário utilizado é preponderante para analisá-
las. Na oralidade, o vocabulário é bastante alusivo, pois o uso de pronomes como
“eu”, “tu”, “você”, “nosso”, “isto” ou “aquilo” ou de advérbios como “aqui”, “lá”, “hoje”
ou “agora” possibilita que o processo comunicativo ocorra de maneira fluida e eficaz.
Afinal, existe a possibilidade de indicar tudo o que está envolvido na mensagem sem
uma nomeação específica e sem comprometer o entendimento dos interlocutores.
Na escrita, é necessário que a linguagem seja menos alusiva. Para que a
comunicação se estabeleça com êxito, devem-se utilizar formas de referência mais
precisas e específicas, como citar datas, descrever lugares e objetos. Logo, é
possível perceber que, enquanto a fala se adapta ao contexto interacional, a escrita
procura ser suficiente em si mesma.
As manifestações orais e escritas são, portanto, duas modalidades da língua.
Dessa forma, de acordo com Koch e Elias (2017), a oralidade difere-se da escrita
principalmente devido aos seguintes aspectos: (a) pelo próprio fato de ser falada; e
(b) devido às contingências de sua formulação. Ou seja, os dois códigos, oral e
escrito, têm suas manifestações e suas regras próprias de organização e
funcionamento.
A linguagem oral (fala) se manifesta por meio de emissões dos sons da
língua, os fonemas. Em contraponto, a linguagem escrita utiliza as letras, que nem
sempre mantêm uma correspondência exata com os fonemas. Enquanto o código
oral conta com o tom de voz, com os gestos e com o olhar, o escritor precisa se
33
expressar por meio da pontuação e de marcas de formação do texto. Além disso, as
estruturas sintáticas das manifestações escritas necessitam de certa linearidade. Já
as estruturas das manifestações orais conseguem fazer inúmeros hiperlinks, ou seja,
está em jogo uma leitura sem linearidade, não comprometendo o entendimento entre
os interlocutores. Contudo, embora exista uma descontinuidade na oralidade, a
sintaxe geral da língua está presente na sua constituição.
Ainda que exista uma dicotomia entre textos orais e escritos, perceba que
nem todas as características são essencialmente de uma ou de outra categoria. No
entanto, as manifestações escritas podem ser pensadas, repensadas ou até mesmo
ignoradas por uma questão de planejamento; já as manifestações orais, não. Isso
ocorre porque, de acordo com Koch e Elias (2017), é como se a fala oral estivesse
no mesmo patamar do rascunho de uma manifestação escrita. O texto falado,
embora em muitos casos seja previamente planejado e estruturado, se apresenta
em sua própria criação, visto que o contexto nunca é o mesmo.
No Quadro 1, a seguir, veja as características da linguagem falada e da
linguagem escrita. Embora essas características não sejam exclusivas de uma ou de
outra instância, oral ou escrita, o quadro apresenta uma organização mais geral e
superficial em relação às manifestações linguísticas da língua em uso.
34
Quadro 1. Linguagem falada e linguagem escrita
Fonte: Adaptado de Koch e Elias (2017).
8 ESTRUTURA TEXTUAL
Segundo GALEANO (2001), a palavra “texto” vem da palavra latina textum e
significa “tecido”. Isso significa que, quando alguém escreve, ele tece pensamentos
com palavras. Ele procura evitar falhas e distorções para que seu propósito
comunicativo seja totalmente completo. Pode até parecer um tanto complexo, mas
um texto pode ter zero, uma ou milhares de palavras, porque ele varia em estilo e
tamanho. Pode ser oral ou escrito, verbal ou não verbal; pode ser formal ou
coloquial; ou quem sabe uma imagem, etc. Além disso, existem vários tipos de texto:
literário, técnico, oficial, comercial, jornalístico, filosófico, didático, etc.
Em todos os tipos, porém, deve ser apresentado um significado completo
para formar um sentido claro. Tal unidade pode ser alcançada através do uso de
duas fontes de texto: clareza e concisão. Além disso, todos os tipos de texto
possuem uma estrutura básica que os mantém organizados para que sejam
35
imediatamente compreendidos e reconhecidos como texto. Essa estrutura é dividida
em introdução, desenvolvimento e conclusão. Seja ele escrito ou não.
A primeira parte do texto, a introdução, conduz o leitor ao tema em discussão.
Nesse ponto, é importante dar uma visão geral do assunto para revelar brevemente
as ideias que serão desenvolvidas nos parágrafos seguintes. É um momento de
encantar o leitor. O tema deve ser desenvolvido de modo que desperte a
curiosidade, o desejo no leitor para que ele prossiga a leitura, este é um convite à
obra.
É importante salientar que a introdução é variável, ela está associada ao
gênero textual. Por exemplo, em textos informativos a introdução é mais curta em
relação a textos acadêmicos como dissertações e teses, nesses casos a introdução
é mais longa e introduz a complexidade do texto e específica o que é abordado no
artigo.
Em textos jornalísticos, a introdução é mais direta. Como explicam Squarisi e
Salvador (2015), é importante ir direto ao ponto, começando pelo que é mais
importante, usando uma frase que envolva, desperte o interesse do leitor e o
estimule a continuar lendo. Como o público-alvo do autor é variado, o desafio é
atingir o maior número possível de leitores. Para fazer isso, o escritor deve usar uma
linguagem, objetiva e clara, informações precisas e um estilo atraente.
Isso não significa que, em textos acadêmicos a introdução não seja atraente;
pelo contrário, deve também manter fluidez, coerência e coerência e coesão. O
objetivo é entrelaçar e apresentar ideias de forma que o leitor fique com vontade de
descobrir o que as próximas linhas de pesquisas trarão para o avanço do
conhecimento. Assim, cada gênero textual tem características próprias, mas todos
compartilham questões em comuns.
Consideremos, por exemplo, o texto informativo do Ministério da Saúde, cujo
objetivoé informar a população sobre algo importante relacionado à prevenção de
doenças. Esse texto também deve chamar a atenção na introdução, certo? A
linguagem deve ser considerada e utilizada de forma que a informação afete o
grupo-alvo. Assim como em uma campanha de vacinação, você já percebeu
elementos textuais que chamam a atenção do público alvo e os estimulam a se
locomoverem até ao posto de saúde e se vacinarem? Isso mesmo, cada gênero
mantém suas próprias características, mas alguns aspectos são comuns.
36
Machado (2017), traz a segunda etapa da estrutura do texto, ou
desenvolvimento. O tema apresentado na introdução deve ser continuado e
detalhado. Aparentemente, o grau de desenvolvimento depende do tipo de texto. Se
você observar os mesmos exemplos anteriores (textos de revistas e dissertações),
verá que ambos desenvolveram características únicas. A tese apresenta o
referencial teórico, material de pesquisa e análise dos dados.
Em um texto jornalístico, por outro lado, esses elementos também podem ser
apresentados, porém diretamente, de forma mais simples. Pois, um texto impresso
em um jornal tem um limite de caracteres, que deve ser respeitado. No poema, por
exemplo, também há desenvolvimento, mas o contexto, o assunto (ou assuntos)
com os quais o diálogo é conduzido e os meios de comunicação influenciam
diretamente nas formas de apresentação.
Finalmente, a estrutura do texto termina com uma conclusão. Após expor um
ponto de vista durante o desenvolvimento, podendo ou não, apresentar ponto e
contraponto, o autor expõe a conclusão do seu pensamento. Os tipos de conclusões
podem variar de acordo com o gênero textual.
No caso de textos acadêmicos, a conclusão indica se as hipóteses de
pesquisa foram confirmadas ou rejeitadas e aponta para possíveis pesquisas
futuras. Por exemplo, no caso de um conto, a conclusão é o último momento da
história, é o resultado final. Em geral, a conclusão conclui a ideia, responde à
pergunta da introdução e oferece uma solução para o problema.
Como se pode ver, a divisão básica do texto inclui introdução,
desenvolvimento e conclusão. O que não quer dizer que um texto seja formado
exclusivamente por três parágrafos. Um texto pode apresentar todos esses
elementos em apenas um parágrafo, assim como uma tese com mais de duzentas
páginas, não deixa de ser um texto e também apresenta introdução,
desenvolvimento e conclusão, a lógica estrutural tanto de um quanto do outro é a
mesma.
Segundo Antunes (2010, p. 30), todo enunciado com função comunicativa
tem as propriedades de textualidade ou correspondência com o texto. Em outras
palavras, em toda língua as situações interativas, sejam elas quais forem, são
marcadas pela textualidade como forma de manifestação. Portanto, há gênero
37
textual. Assim, o autor conclui que não há ação na língua fora da textualidade. Se
existe comunicação, então existe um formato de texto.
Isso mostra que é errado dizer que primeiro você aprende as palavras, depois
as frases e por fim o texto. Afinal, todos os eventos comunicativos, desde as
primeiras tentativas de fala da criança, podem ser entendidos como parte de um
todo denominado “texto”, onde existe a textualidade. Segundo Antunes (2010, p. 30),
a questão aqui é que “[...] assumir a textualidade como princípio que manifesta e
regula as atividades linguísticas [...]”.
Os elementos textuais mencionados nos parágrafos anteriores aparecem em
diferentes gêneros textuais, formados de acordo com o contexto do texto. No
entanto, as noções de textualidade e evento comunicativo são assumidas em todos
os casos.
8.1 Elementos textuais
Muitas dúvidas podem surgir quanto a quis elementos do texto devem ser
analisados, se o texto é toda ocasião comunicativa da língua, então tudo pode ser
analisado. O problema é que nem todos os textos vão apresentar elementos
linguísticos de uma determinada língua e todos os aspectos relacionados à
funcionalidade da interação sociocomunicativa. Segundo Antunes (2010), os textos
são campos naturais para que se possa analisar os fenômenos da comunicação
humana. Portanto, é no texto que se observam aspectos relacionados ao fazer e ao
receber uma apresentação verbal em uma língua específica.
Tentar analisar tudo em um texto pode levar a uma análise superficial. Ao
tentar analisar todos os aspectos, pecasse-se a não analisar nada, pois o texto é um
leque de muitas possibilidades de interpretação. Isso requer que a operação seja
produtiva ao olhar para os elementos. Antunes (2010), diz que, o mais importante é
não reduzir o texto a um mero campo para amostras de questões gramaticais,
também ele não deve ser observado limitando à construção textual apenas à
estrutura do texto relacionada ao vocabulário e aos recursos gramaticais. Pelo
contrário, o texto deve ser o centro em si.
O objeto de pesquisa, análise e descrição é o texto em sua multiplicidade
(estrutura do parágrafo, linguagem utilizada, objetivo comunicativo, mensagem,
38
ideias secundárias e fatores extratextuais como contexto social e histórico). Por
exemplo, a gramática está lá, mas como um componente essencial que não pode
ser substituído. Sem gramática, não há texto dentro de seus parâmetros definidos;
regras de compatibilidade, regência, pontuação, etc. Mas esta não é a única
consideração ao analisar um texto.
Nesse sentido, é possível estudar o texto como um todo ou selecionar partes
a serem analisadas. De uma dimensão ampla, podem ser observados os seguintes
elementos no eixo dessa coerência (ANTUNES, 2010):
Fonte: adaptado Antunes (2010).
Esses são apenas alguns elementos que ilustram a estrutura e a análise do
texto. Mas podem surgir dúvidas de como identificar esses elementos no texto. Por
exemplo, considere o campo relevante ao qual o texto se refere. Compare textos
biográficos (biografias de pessoas importantes de um determinado país) com
romances de ficção como Harry Potter e a Pedra Filosofal.
Você percebe que o escopo relevante é especificado para cada um desses
textos? No primeiro caso, se refere a lugares existentes, pessoas e situações reais,
histórias verídicas, origem social real do lugar da história, etc. No entanto, no caso
de romances de fantasia, você pode encontrar seres fictícios, lugares imaginários,
épocas diferentes, etc. Da mesma forma, os domínios que permitem que o discurso
- Universo de relevância a que
remete o texto ('real ou fictício);
- Campo de circulação do discurso
(acadêmico-científico, jurídico,
jornalístico, político, de
informação, informal, literário,
entretenimento, etc.);
- Ideia central;
- Função comunicativa;
- Critério de subdivisão da
estrutura (parágrafos);
- Direcionamento argumentativo;
- Representações de mundo
(explícitas ou implícitas);
- Intertextualidade e
hipertextualidade (ou seja, relação
com outros textos).
39
flua, usam palavras e estruturas diferentes e comunicam funções únicas a cada
texto.
Como vimos até aqui, o texto é algo abundante e complexo, é composto por
diversos elementos, que vão além de sua estrutura sintática básica. Além disso, o
texto existe em qualquer contexto de comunicação e interação em um determinado
idioma.
8.2 Situações de comunicação
Como transmitir comunicação é a função de todo texto. Podemos dizer que
todos os textos tem uma finalidade. Portanto, quando alguém não compreende o
que seu interlocutor fala, ele pergunta: "não entendi, que você quis dizer?". Se a
pessoa for responsável pela fala, é possível perguntar aos ouvintes: "Vocês
compreenderam o que eu quis dizer?". Isso acontece principalmente quando o
falante percebe expressões de dúvidas e incompreensões. Pense, por exemplo, o
ambiente da sala de aula. Um professor de um determinado curso/disciplina deve
interagir repetidamente com o público para verificar se há consistência, se há
compreensão,se o que ele fala cumpre o propósito desejado de compreensão.
Dá para perceber que a palavra "dizer" está presente? Isso mesmo, o dizer
vem antes do texto e está relacionado ao seu propósito. Para Antunes (2010, p. 69),
“[...] esse propósito, que é parte de qualquer atividade de linguagem [...]” que pode
ser; explicar, expor, convencer, persuadir, defender um ponto, sugerir uma ideia,
expor um fato, etc. A lista é enorme. Você pode mover entre eles. Por exemplo, você
pode começar com conhecimento de uma informação qualquer e depois defender
sua posição. Você também pode defender uma ideia e revelar um fato com base na
apresentação de dados. Em outras palavras, em diferentes situações de
comunicação, o dizer vem antes do texto, os textos são criados após a especificação
do objetivo da comunicação.
Você precisa compreender que em qualquer situação, é necessário entender
o texto. Por isso, pressupõe-se a capacidade dos sujeitos em reconhecer o propósito
que ele se destina. Em algumas circunstâncias, entender o propósito comunicativo
de um texto é a realização de habilidades de reconhecimento. Afinal, isso exclui
situações que não fazem parte do propósito da comunicação. Portanto, a união do
40
interlocutor é necessária para concordar com a situação de comunicação. Mesmo
para argumentar o oposto, ele deve entender o objetivo da comunicação e ter uma
visão clara. Para Antunes (2010), esse fato reforça a posição de que não há
neutralidade na atividade de linguagem.
Desta forma, para toda situação de comunicação tem um propósito, seja
explícito ou implícito. É possível, inclusive, reconhecer quando alguém reproduz um
texto com segundas intenções. Os elementos verbais e não verbais é que definem a
situação de comunicação e funcionam como indicadores para identificar as
intenções. No entanto, segundo o autor, a identificação de intenção é o ponto central
para a compreensão discursiva.
Nesse cenário analítico, a situação comunicativa é compreendida como todos
os processos relacionados à comunicação. Portanto, contexto, transferência de
informação, emissor, receptor, canal e ambiente estão incluídos. O contexto é
imediato e inclui a situação em que o discurso ocorre, e os gêneros discursivos
pertencem a essa fase. Os comunicadores usam seu conhecimento cultural e de
mundo para usar o gênero textual mais adequado em um determinado contexto para
transmitir sua mensagem e atingir seus objetivos.
Por isso, é que reiteramos que os textos seguem um modelo de organização
e apresentação. Isso acontece de forma que, quando os textos de compartilhamento
entram em situações de comunicação, eles são rapidamente reconhecidos. Como já
vimos também não é só as palavras criam textos. Sinais, imagens, incluindo a
linguagem não-verbal, funcionam como textos, pertencem a diversos gêneros e são
imediatamente interpretáveis e provocam reações no receptor.
Considerando como exemplo, as cores de um semáforo. É fato que no
vermelho você deve parar e no verde você deve continuar. Esta é uma situação
comunicativa e seu objetivo é demonstrar o comportamento correto na presença de
um sinal. Nesse caso, os sujeitos leem, interpretam e agem sem palavras.
Finalmente, Antunes (2010) argumenta que os textos seguem padrões regulares de
organização devido ao tipo e ao gênero. Portanto, toda situação comunicativa é uma
fronteira social, e as atividades de linguagem estão sujeitas a padrões linguísticos
socialmente estabelecidos.
41
9 ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Para se ter uma participação social efetiva é preciso dominar a língua oral e
escrita, uma vez que é por meio desse domínio que o ser humano se comunica, tem
acesso a informações, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói
visões de mundo, produz conhecimento, Abdala (2017). Esse processo requer não
só esforço e dedicação por parte do aluno, mas também orientação e mediação
segura por parte do professor.
Assim, é necessário que ambos os atores desse processo analisem o seu
papel e a sua percepção. Na interação social, é necessária a presença de um
locutor (quem fala), de um interlocutor (com quem se fala) e ainda de um terceiro
elemento, que é classificado por Benveniste (1991) como “não pessoa” (de que ou
de quem se fala).
Nesse processo de aprendizado, leitura e escrita se complementam, uma vez
que ninguém escreve com propriedade sobre determinado assunto sem conhecê-lo.
Assim, leitura e escrita fazem parte do mesmo processo. Nesse sentido, é
interessante que, ao ler um texto, você analise os objetivos dele, a sua adequação
ao gênero textual proposto, as estratégias e os procedimentos utilizados em sua
escrita, bem como as sequências textuais usadas. Isso traz mais segurança a você
enquanto futuro produtor de novos textos (ANTÔNIO; JESUS, 2017).
Segundo Bezerra (2014), as sequências textuais são unidades linguístico-
textuais básicos (prototípicas) que fazem parte da constituição dos gêneros textuais,
contribuindo para identificar um gênero que se estrutura com predominância de
forma narrativa ou argumentativa, por exemplo. Isso quer dizer que as sequências
são formas linguísticas organizadas que constituem a estrutura composicional de um
gênero, sendo, por isso, mais estáveis e menos suscetíveis a alterações por
influência de fatores sociais.
No processo de produção de textos, há algumas regras que devem ser
ATENÇÃO!
42
seguidas. Essas regras resguardam os direitos e deveres tanto do produtor quanto
do receptor textual. Embora sejam vistas como reguladoras, elas representam a
materialização dos enunciados e discursos a serem produzidos. Grice (1982) aponta
quatro máximas conversacionais que precisam ser respeitadas. Essas máximas se
relacionam com as leis do discurso de Maingueneau (2001). Veja a seguir:
Máxima da quantidade: é uma máxima relacionada à lei da informatividade e
à exaustividade. Postula que o sujeito não deve dizer nem mais, nem menos do que
for necessário para ser compreendido.
Máxima da qualidade: é uma máxima relacionada à lei da sinceridade. Ela
postula que o sujeito não deve dizer o que seja falso ou o que não julga ser genuíno.
Ele deve dizer apenas o que tiver certeza ou o que for possível realizar.
Máxima da relevância: é uma máxima relacionada à lei da pertinência.
Postula que apenas o que for relevante deve ser dito, de forma adequada e
interessante.
Máxima do modo/maneira: é uma máxima relacionada à lei da modalidade.
Postula que é necessário ser claro, conciso e ordenado, evitando a ambiguidade e a
obscuridade.
Beaugrande e Dressler (1983) pontuam ainda que a comunicação textual é
orientada por três princípios reguladores e controladores. Tais princípios, portanto,
necessitam ser respeitados no processo de comunicação. A seguir, veja quais são
esses princípios.
Princípio da eficiência: refere-se à capacidade de se comunicar bem com o
mínimo de esforço, tanto por parte de que produz o texto quando por parte de quem
o recebe.
Princípio da eficácia: implica a busca por atingir os objetivos do texto que
foi produzido, causando, assim, uma boa impressão no leitor.
Princípio da adequação: relaciona-se com a capacidade de adaptação do
texto ao contexto em que está inserido. Para tanto, devem ser observados tanto o
gênero a que pertence o texto como o suporte no qual ele é veiculado.
Ter sempre em mente essas premissas, leis e princípios vão ajudá-lo a
construir textos que possuem padrões sociocomunicativos adequados e que e que
atendam às suas intenções enunciativas. Koch e Elias (2014) propõem, ainda, que a
atividade de escrita deve demandar de quem escreve o uso de inúmeras estratégias.
43
Entre elas, destacam-se as seguintes:
• Ativação de conhecimentos dos componentes da situação
comunicativa (interlocutores, tópico a se desenvolver, adequação do
texto à interação);• Cuidado na seleção, na organização e no desenvolvimento de ideias,
de forma que a continuidade do tema e a progressão textual sejam
garantidas;
• Equilíbrio na utilização de informações explícitas e implícitas, bem
como das informações consideradas novas e daquelas já conhecidas
pelo leitor;
• Revisão do processo de escrita, considerando sempre o objetivo do
texto, a produção e a interação com o leitor.
Além disso, você deve ter em mente que escrever não é apenas usar um
código da língua e/ou realizar a intenção de quem escreve. Escrever é um processo
de interação entre escritor e leitor, no qual os dois polos do processo são sujeitos
ativos que se constroem e são construídos no texto (KOCH; ELIAS, 2014). Assim,
somente uma concepção interacionista da língua, eminentemente funcional e
contextualizada, pode, de forma ampla e legítima, fundamentar um ensino da língua
que seja, individual e socialmente, produtivo e relevante (ANTUNES, 2003, p. 41).
Em função disso, o processo de escrita deixa de ter como produto textos
acabados, passando a ter como foco produtos em que o sujeito é ativo, uma vez que
assume posições axiológicas, pois a todo momento é interpelado por suas
ideologias. Logo, no processo de ensino da escrita, torna-se necessário que:
[...] o educando rompa com uma consciência linguística que Bakhtin chama
de ptolomaica (isto é, embora plurivocal, não se percebe como tal e está
dogmaticamente dominada por vozes sociais incapazes de se verem pelos
olhos de outras vozes do plurilinguismo), substituindo-a por uma
consciência que Bakhtin chama de galileana, uma consciência linguística
relativizada capaz de se ver pelos olhos da bivocalidade, pelo mútuo
aclaramento crítico das vozes sociais (FARACO, 2007, p. 50).
Nesse processo de aprendizado da escrita, é essencial que os alunos se
entendam como participantes do “vasto diálogo cultural”, ou seja, como pessoas
concretas que participam das relações sociais, como sujeitos ativos que coexistem
nas interações linguísticas. Assim, nessa concepção, o ensino da escrita deve ser
compreendido como propiciador dessas relações de interação, deixando de ter como
foco apenas o aprendizado de regras que formam o sistema (FARACO, 2007).
44
9.1 Aspectos da construção textual
A noção de texto compreende realizações tanto orais quanto escritas que
tenham a extensão mínima de dois signos linguísticos ou de apenas um, desde que
o contexto em que o texto é produzido assume o lugar de um dos signos (SIMON,
2008). Por exemplo, a palavra “silêncio” dita em uma sala de aula ou no ambiente
hospitalar, ou ainda ao se iniciar uma reunião, pode ser considerada um texto, uma
vez que os elementos da situação comunicativa (contexto) podem, juntamente a
essa palavra, atribuir significado a ela.
Assim, para a construção de um texto, é necessário conjugar diversos fatores
relativos tanto a aspectos formais e a relações sintático-semânticas quanto a
relações que o texto estabelece com o falante, o ouvinte e a situação comunicativa
(SIMON, 2008). Segundo Beaugrande e Dressler (1983), para que o texto seja bem
construído, ele necessita apresentar textualidade, um conjunto de sete
características que garantam que o que foi produzido é um texto, e não um
amontoado de frases.
Em função disso, ao se analisar a construção de um texto tendo por base as
concepções de textualidade, é necessário, inicialmente, a aceitação de que um texto
não é um produto, mas um processo, uma vez que ele é construído em situações
concretas de interação comunicativa e por interlocutores reais (GOMES; LIMA,
2015). Há, assim, uma parceria entre os sujeitos envolvidos no processo de escrita,
uma vez que possuem a mesma finalidade. Portanto, o processo de escrita é
considerado:
[...] uma atividade interativa de expressão, (ex-, “para fora”) de manifestação
das ideias, informações, intenções, crenças ou dos sentimentos que
queremos partilhar com alguém, para, de algum modo, interagir com ele.
Ter o que dizer é, portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade
de escrever. Não há conhecimento linguístico (lexical ou gramatical) que
supra a deficiência do “não ter o que dizer”. As palavras são apenas a
mediação, ou o material com que se faz a ponte entre quem fala e quem
escuta, entre quem escreve e quem lê. Como mediação, elas se limitam a
possibilitar a expressão do que é sabido, do que é pensado, do que é
sentido. Se faltam as ideias, se falta a informação, vão faltar as palavras.
Daí que nossa providência maior deve ser encher a cabeça de ideias,
ampliar nosso repertório de informações e sensações. [...] Aí as palavras
virão, e a crescente competência para a escrita vai ficando por conta da
prática de cada dia, do exercício de cada evento, com as regras próprias de
cada tipo e de cada gênero de texto (ANTUNES, 2003).
Ao analisar o processo de construção do texto sob essa óptica, você deve
considerar três fatores determinantes: o gênero textual, as sequências tipológicas
45
que estruturam o gênero e a própria informatividade, que é um dos fatores de
textualidade. Assim, antes de escrever um texto, você deve ter em mente o gênero a
que tal texto pertence, suas principais características e as sequências tipológicas
que constituem esse gênero. Afinal, um mesmo gênero pode ser composto de mais
de uma sequência, apesar de uma delas ser sempre a predominante. Nesse sentido,
a predominância de uma sequência não vai depender só do gênero, mas também de
quem produz o texto, de seu propósito comunicativo e da situação de produção
(GOMES; LIMA, 2015).
A informatividade, por sua vez, é analisada dentro dos fatores de textualidade
mencionados. Assim, segundo Beaugrande e Dressler (1983), a textualidade é
composta por sete fatores, três de natureza linguística (coesão, coerência e
intertextualidade) e quatro de natureza extralinguística (intencionalidade,
aceitabilidade, informatividade e situacionalidade). A seguir, você conhecerá melhor
cada um desses fatores.
Coesão
É formada pelas relações sintático-semânticas que se manifestam na
superfície textual, englobando mecanismos gramaticais e lexicais que expressam
relações não só entre uma frase, mas também entre frases e sequências de frases
dentro de um texto (COSTA VAL, 2006, p. 6). Halliday e Hasan (1976) enumeram
diferentes formas de se realizar a coesão, como você pode ver a seguir.
46
Referências: São elementos que não podem ser interpretados e/ou
compreendidos por si próprios, e sim relacionados a outros elementos do discurso.
Podem ocorrer de forma situacional (exofórica) ou de forma textual (endofórica).
Observe:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Substituição: Ocorre quando um item (palavra, oração inteira) é colocado no
lugar de outro no texto. Veja:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Não deixe de levar esta bolsa com você
Nesse caso, a referência é (exofórica), uma vez que é por meio da situação de
comunicação que se sabe de que bolsa se trata: como há o uso do pronome “esta”,
a bolsa está próxima do emissor. Agora veja:
Lara, Gabriela e Clara são primas. Elas amam brincar no quintal o dia todo.
Nesse exemplo, há uma referência endofórica, ou seja, textual. Por meio dela, o
pronome “elas” retoma as primas Lara, Gabriela e Clara. Observe que, nesse caso,
as informações que atribuem sentido ao trecho estão nele mesmo.
Lara subiu no pé de jabuticaba e seu primo
também.
Nesse caso, a palavra “também” substitui a informação
“subiu no pé de jabuticaba”, de forma a evitar a repetição
do trecho
47
Elipse: É a omissão de um termo da frase. Veja:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Conjunção: Essa classe gramatical estabelece relações de significadosentre
as palavras, orações, períodos e parágrafos de um texto. Observe:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
— Você irá à missa com sua mãe hoje?
— Ø Não. ØØØ
A resposta dada equivale a “Eu não vou, não”.
Observe que, com exceção da palavra “não”, todas
as outras palavras foram apagadas sem que se
prejudicasse o sentido da frase.
Lara chegou cansada, porém resolveu
visitar seus tios.
Nesse caso, a conjunção coordenada adversativa
“porém” estabelece uma relação de oposição com
a primeira oração.
48
Coesão lexical: Ocorre pela utilização de dois mecanismos: repetição de um
mesmo item lexical ou utilização de pronomes, sinônimos, hipônimos, hiperônimos,
etc. Veja:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Colocação: Ocorre quando se utilizam termos de um mesmo campo
semântico. Veja:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Ganhei ontem uma bandeja cheia de brigadeiros e camafeus; esses
doces são minha perdição.
No caso, a palavra “doce” é um hiperônimo para os hipônimos
“brigadeiros” e “camafeus”. Ou seja, a palavra “doce” é um termo maior
que abarca o sentido dos outros dois. Agora veja:
Nestas férias, quero visitar o Rio de Janeiro, afinal todos sabem que a
Cidade Maravilhosa é conhecida por sua beleza natural, entre outros
encantos.
Nesse caso, o nome da cidade “Rio de Janeiro” foi retomado pela
perífrase “Cidade Maravilhosa”.
Ao iniciar a aula, o professor pediu aos
alunos que abrissem suas apostilas e resolvessem
os primeiros exercícios em seus cadernos.
Observe que as palavras em negrito fazem parte do
campo semântico “sala de aula”
49
COERÊNCIA
Diz respeito às relações e aos conceitos dispostos na superfície do texto,
considerando-se, nesse caso, aspectos semânticos, lógicos e cognitivos (COSTA
VAL, 2006). Assim, a coerência se manifesta na situação comunicativa, por meio da
interação que o produtor e o emissor do texto estabelecem entre si. Em função
disso, um texto é considerado coerente quando é compatível com o conhecimento
de mundo de seu destinatário. Charolles (1978) caracteriza a coerência como uma
propriedade ideativa do texto, que implica obedecer à metarregras, listadas a seguir.
Repetição: Está relacionada à retomada dos termos citados no decorrer do
discurso, o que garantirá a continuidade do texto. Essa metarregra vincula-se à
própria coesão e pode ser contextualizada por meio de todos os exemplos já citados
no item anterior.
Progressão: Novas informações devem ser somadas às informações que já
são tratadas no texto. Veja:
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Não contradição: O texto precisa respeitar elementos lógicos. Assim, suas
ocorrências não podem se contradizer, ou seja, não se pode afirmar A e, momentos
Acho que os senhores pensam que, em nossa
diretoria, metade dos diretores trabalha e a outra
metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece
justamente o contrário.
Nesse caso, um diretor de empresa está defendendo
os membros da sua equipe. Observe que a metarregra
da progressão não foi respeitada, uma vez que o texto
fere esse princípio. Quando o diretor afirma que é
“justamente o contrário”, o contrário corresponde ao
mesmo que já foi dito antes: “metade dos diretores
trabalha e a outra metade nada faz”.
50
depois, o contrário de A, exceto se houver algum elemento que justifique isso.
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Relação: Em um texto, as relações estabelecidas entre as informações
precisam ser pertinentes, não podendo ferir a lógica do mundo real — a menos que
o gênero permita, por exemplo, em uma fábula, não é incoerente que os animais
falem.
Fonte adaptada Costa Val (2006) e Halliday e Hasan (1976).
Intertextualidade: Está relacionada à forma com que os textos remetem a
outros, uma vez que “[...] todo texto faz remissão a outro(s) efetivamente já
produzido(s) e que faz(em) parte da memória dos leitores [...]” (KOCH; ELIAS, 2014,
p. 101). Assim, não existe nenhum texto que seja totalmente original, já que todos
trazem consigo vestígios dos discursos presentes em textos anteriores: “[...] cada
enunciado é um elo da cadeia muito complexa de outros enunciados [...]” (BAKHTIN,
1992, p. 271-272). Na Figura 1, a seguir, veja um exemplo de intertextualidade.
Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que
mais tarde se viu que eram inverídicas.
O texto corresponde a um depoimento do presidente Nixon
feito durante as investigações do caso Watergate. Observe
que mentir e dizer “coisas inverídicas” são a mesma coisa;
logo, colocá-las como ocorrências opostas implica
contradizer-se.
Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte
instantânea. Quem for flagrado fazendo isso será
processado.
Nesse exemplo, retirado de uma placa exposta em uma
estação ferroviária, percebe-se que a lógica do mundo real
é ferida. Afinal, não há como processar alguém que já
faleceu pois tocou nos fios.
51
Figura 1 - Intertextualidade.
Fonte: www.pinterest.de
Intencionalidade: Nesse fator de textualidade, analisa-se o esforço que o
produtor do texto faz ao produzir uma mensagem que seja coesa, coerente, eficiente
e que atinja as suas intenções comunicativas. Analise atentamente a Figura 2, a
seguir.
52
Figura 2 - Intencionalidade
Fonte: Fiorin e Savioli (1996, p. 303).
Observe, nesse cartão postal, que, ao iniciar o seu texto, Marco tinha como
intenção contar a seus amigos tudo de bom que estava acontecendo com ele em
suas férias no Caribe e que voltaria, mas ainda não sabia quando. Contudo,
percebe-se nitidamente que a sua intenção mudou ao longo da escrita: o texto foi
riscado e o autor destacou apenas, em negrito e sublinhado, as palavras “Não volto”
Aceitabilidade: O texto deve ser compatível com a expectativa que o
receptor tem de receber um texto coerente, coeso, útil, relevante, sem vazios
comunicativos ou falhas de quantidade e qualidade. Caso haja algum tipo de falha
que não seja tão grave a ponto de prejudicar o entendimento total do texto, pode-se
estabelecer um contrato de cooperação entre produtor e receptor, de forma que o
receptor realize um esforço para compreender o que se diz. A Figura 3 exemplifica
esse conceito.
53
Figura 3 - Aceitabilidade
Fonte: Marinho (2010).
Ao observar a Figura 3, você pode perceber que o produtor do texto não
conseguiu atingir a sua intenção comunicativa em função do erro ortográfico na
palavra “coco”, que foi redigida com acento circunflexo (“cocô”), significando algo
totalmente diferente. Apesar disso, nada impede que o seu receptor, por meio de um
contrato de cooperação, entenda o que foi escrito.
Informatividade: Esse fator analisa a medida em que as informações devem
ser trazidas no texto e o grau de expectativa e de conhecimentos que são ofertados
nele. Assim, um texto com um grau de informatividade muito alto pode ser rejeitado
pelo receptor em função de sua recepção ser mais trabalhosa; da mesma forma, um
texto em que todas as informações já sejam conhecidas pelo seu receptor pode se
tornar enfadonho. Portanto, considera-se que um texto ideal tenha um nível mediano
de informatividade, trazendo informações novas que venham ligadas a dados já
conhecidos. Observe atentamente o texto a seguir:
Chama-se sintagma uma sequência de palavras que constituem uma
unidade (sintagma vem de uma palavra grega que comporta o prefixo sin-,
que significa com que encontramos, por exemplo, em simpatia e sincronia).
Um sintagma é uma associação de elementos compostos num conjunto,
organizados num todo, funcionando conjuntamente. […] sintagma significa,
por definição, organização e relações de dependência e deordem à volta de
um elemento essencial (DUBOIS-CHARLIER; LEEMAN, 1977, p. 88).
54
Caso o texto anterior seja lido por um receptor que não seja da área de letras,
há o risco de ser rejeitado, uma vez que o nível de informatividade encontrado
causará uma recepção mais trabalhosa, correndo-se o risco de o receptor não
conseguir processar as informações. Assim, deve-se observar sempre o receptor de
determinado texto para avaliar o nível de informatividade adequado.
Situacionalidade: É o fator que orienta a própria produção textual, devendo
ser amparado pelos seguintes questionamentos: quem fala e/ou escreve? Para que
ouvinte e/ou leitor? Com que objetivo se fala e/ou escreve? A ideia é adequar,
assim, a situação comunicativa ao contexto, o que funciona como critério estratégico
que orienta a própria produção. Leia com atenção o texto a seguir, de Fernandes
(2007, p. 68).
O evento
O pai lia o jornal — notícias do mundo. O telefone tocou tirrim-tirrim. A
mocinha, filha dele, dezoito, vinte, vinte e dois anos, sei lá, veio lá de dentro,
atendeu: “Alô. Dois quatro sete um dois cinco quatro. Mauro!!! Puxa, onde é que
você andou? Há quanto tempo! Que coisa! Pensei que tinha morrido!
Sumiu! Diz! Não!?! É mesmo? Que maravilha! Meus parabéns!!! Homem ou
mulher? Ah! Que bom!... Vem logo. Não vou sair não”. Desligou o telefone. O pai
perguntou: “Mauro teve um filho?” A mocinha respondeu: “Não. Casou”. Moral: Já
não se entendem os diálogos como antigamente.
No texto anterior, percebe-se que a situação comunicativa foi recebida de
forma diferente pelos personagens pai e filha. Nesse caso, a diferente forma de se
analisar o mesmo texto diz respeito não só ao conhecimento de mundo de cada um
dos personagens, mas também ao fato de um dos interlocutores não participar
ativamente da ligação, apenas ouvindo a conversa entre a filha e Mauro. Como você
pode notar, a situação comunicativa se reflete na produção do texto, uma vez que
este sofre reflexos daquela. Assim, o receptor serve de mediador do texto; suas
crenças e ideias recriam a situação de comunicação. Desse modo, o mesmo
contexto pode ser avaliado de distintas formas por pessoas diferentes.
55
10 GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICO-CIENTÍFICOS – RESUMO
Os gêneros textuais são criados e estruturados de acordo com as
necessidades de um grupo social. Assim, algumas áreas de trabalho têm vários
gêneros textuais usados com frequência. Considere, por exemplo, direito, medicina,
ensino e publicidade. Neles, textos como julgamento, declaração; relatório,
prescrição; relatório, prova, opinião; peça publicitária e slogan são gêneros textuais
usados com frequência por um grupo específico de pessoas.
O resumo é um texto que apresenta a ideia principal de uma obra original.
Nele não é apresentado nenhum tipo de crítica, não faz cotações diretas ou
indiretas. Pois sua função é fornecer informações básicas sobre o texto original de
forma sucinta e objetiva. O trabalho deve ser coerente e coeso, nunca por tópico.
Existem dois tipos de resumos, o descritivo e o informativo.
Um resumo descritivo descreve o tipo de informação encontrada no texto
original sem fornecer informações quantitativas ou qualitativas (MEDEIROS, 2003).
Isso é muito comum em livros e filmes, que são mais conhecidas como sinopses, ou
quando a redação é submetida a eventos acadêmicos e de pesquisa (sempre
dependendo das regras desses eventos). Neste caso, a metodologia, escopo e
objetivos são apresentados no resumo.
No resumo informativo metodologia, objetivos, escopo, resultados e
conclusões, os sumários dos dados devem ser apresentados. Também ele tem a
função de expor os argumentos centrais do texto original.
Primeiramente, deve-se conhecer o texto original antes de fazer qualquer
resumo. Se o próprio autor do resumo é quem escreveu o texto original, ele pode
começar a trabalhar no roteiro de sua produção. No entanto, se for um texto escrito
por uma terceira pessoa, o texto original deve ser consultado primeiro. Segundo
Fiorini e Savioli (2007), o ideal é uma leitura anterior que tenha informações sobre o
todo. Esta leitura deve responder à seguinte pergunta: De que trata este texto?
Identificar as principais ideias e argumentos do autor a partir desta leitura.
Lembrando que os resumos apresentam primeiramente as informações mais
importantes, mantendo o estilo e a linguagem do original, usando palavras-chave e
frases que identificam rapidamente o conteúdo e o foco do original. Como pode ser
observado, é preciso utilizar uma linguagem clara e objetiva
56
Também é importante prestar atenção aos principais elementos do texto lido.
É importante adicionar palavras-chave ao final do relatório. Eles são indicados em
uma nova linha com o termo "Palavras-chave" em negrito, dois pontos e três a cinco
palavras ou frases que representam o assunto tratado no artigo ou texto. Cada um
deve ser separado do outro por ponto e vírgula ou ponto.
10.1 A estrutura dos resumos de artigos científicos
Como já vimos, resumo do artigo científico também é a versão precisa,
sintética e seletiva do texto, do documento, destacando os elementos de maior
importância. Em função disso, deve evidenciar os principais objetivos, métodos
empregados, resultados e conclusões, permitindo ao leitor decidir sobre a
conveniência da leitura do texto na íntegra [...]” (USP, 2019).
O resumo tem como principal objetivo fornecer uma visão geral da
investigação. Logo, ele tem um papel muito importante, pois é o primeiro contato do
leitor com o artigo científico. Essa primeira impressão deve ser positiva. O leitor deve
confiar na escrita e identificar o papel e a importância da pesquisa e dos resultados
para a área em que se insere o estudo. A ideia é despertar nele a vontade de ler o
trabalho na íntegra. Caso ocorra o contrário e o leitor sinta que o resumo não tem
credibilidade ou não fique realmente motivado a ler o artigo, a pesquisa certamente
será ignorada e esquecida (SOUSA; DRIESSNACK; FLÓRIA-SANTOS, 2006).
O resumo é posicionado logo após o título e a indicação da autoria da obra.
Isso contribui para que o leitor consiga, de forma mais rápida, entender do que se
trata o artigo apenas lendo o seu início. Além disso, essa localização facilita a
indexação da obra científica e a divulgação do trabalho.
De acordo com Pereira (2012), os principais objetivos de se redigir o resumo
do artigo científico são:
1. Apresentar uma síntese concisa do trabalho;
2. Destacar pontos relevantes ou inovadores da pesquisa;
3. Ajudar o leitor a decidir se prossegue ou não na leitura do artigo;
4. Auxiliar o leitor, em momento subsequente, a recordar as
características principais da pesquisa;
5. Facilitar a organização do plano para a redação da primeira minuta do
57
texto.
Como você pode notar, o resumo possui inúmeros objetivos. Ele funciona
principalmente como uma forma de o leitor inspecionar a qualidade da pesquisa.
Logo, o resumo deve transparecer a segurança e a solidez que o leitor encontrará
no trabalho.
10.2 Recomendações gerais para a escrita do resumo
Segundo recomendações da Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo
(USP, 2019), algumas informações são importantes e podem auxiliar o autor na
escrita do resumo do artigo científico. Em síntese, um resumo:
1. Deve começar com uma frase que traga informações essenciais ao
documento, evitando a repetição da mesma estrutura do título;
2. Deve incluir apenas os pontos essenciais do trabalho, ser claro e
conciso, evitando comentários e informações secundárias;
3. Deve ser redigido em apenas um parágrafo, com frases coerentes e
simples;
4. Não deve se caracterizar como um amontado de frases desconexas e
redundantes;
5. Não deve conter citações bibliográficas, tabelas, esquemas, quadros
ou qualquer informação do tipo;
6. Deve ser escrito,preferencialmente, na terceira pessoa do singular e
com o mesmo tempo verbal do início ao fim do texto.
Pereira (2013) ainda ressalta as seguintes informações:
1. O resumo necessita ser autoexplicativo, ou seja, não deve ser
necessária a leitura do artigo na íntegra para que o entenda o resumo;
2. Não deve haver conflito de informações entre o resumo e o artigo
científico;
3. O objetivo e a conclusão devem ser condizentes, isto é, não pode
haver desacordo entre esses dois pontos;
4. Antes de redigir um resumo, deve-se analisar as diretrizes do periódico
ou evento ao qual o artigo é destinado, pois algumas recomendações
58
costumam ser bastante específicas.
Na escrita de um resumo, você deve evitar (USP, 2019):
1. Frases negativas, adjetivos e advérbios;
2. Excesso de explicações e neologismos;
3. informações ou afirmações que não façam parte do texto original;
4. Abreviaturas e siglas, que devem ser usadas apenas quando for
realmente necessário (coloque-as entre parênteses e precedidas do
significado por extenso na primeira vez em que aparecerem);
5. Expressões como “o presente trabalho trata...”, “neste artigo, são
discutidos...”, “o documento conclui que...”.
11 ARTIGO
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011, p. 2), o artigo é uma publicação com
autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e
resultados nas mais diversas áreas do conhecimento com o objetivo de divulgar
resultados de pesquisas, ideias e debates de forma clara, concisa e verdadeira;
atuar como meio de comunicação e intercâmbio de ideias entre cientistas de uma
mesma de atuação e levar os resultados do teste de uma hipótese, provar uma
teoria (COSTA, 2003, p. 35).
Esse gênero te início por volta de 1665, com a publicação do primeiro
periódico científico, The Philosophical Transactions of the Royal Society. O gênero
foi desenvolvido por meio de troca de cartas informativas entre os cientistas. As
primeiras publicações eram escritas em primeira pessoa e algumas possuíam até
saudações, como nas cartas (SWALES, 1990). Com o tempo, o gênero passou a ser
reconfigurado, até chegar ao formato atual.
Segundo Marconi e Lakatos (2004, p. 198), o texto científico necessita ser
elaborado por meio de normas pré-estabelecidas de acordo com os fins a que se
destina. Além disso, os artigos científicos devem ser inéditos ou originais e
contribuírem não só para a ampliação de conhecimentos, mas também servirem de
modelo ou oferecem subsídios para outros trabalhos.
59
Assim, aos poucos, os gêneros de divulgação científica foram consolidando
suas convenções científicas. Passou a ser obrigatório o emprego de linguagem
objetiva, formal e concisa, bem como o uso de verbos na terceira pessoa do
singular, com acréscimo de “se”, ou na primeira pessoa do plural. Também é exigido
vocabulário técnico, evitando-se o uso de adjetivos desnecessários e comentários
pessoais. Atualmente, os artigos científicos podem abranger diversos aspectos de
uma pesquisa e oferecer soluções para questões controversas.
Segundo Silva, Pereira e Bueno (2014, p. 40), ao se analisar um artigo, deve-
se tem em mente sempre o seu contexto de produção. Para tanto, é necessário
considerar que o enunciador, também conhecido como autor, é o especialista que
domina o conhecimento sobre determinado assunto cuja área de interesse é
contemplada no periódico escolhido. Já os destinatários, também conhecidos como
leitores, são aqueles especialistas formados ou em processo de formação
(mestrandos e/ou doutorandos) que se interessam pelo tema/assunto do texto.
Por sua vez, o lugar social é o meio acadêmico de onde surgem as ideias
para a produção do artigo; o objetivo da publicação é informar o destinatário sobre
uma pesquisa empírica em andamento ou concluída, no intuito de convencê-lo sobre
a relevância da análise e dos resultados; com relação ao tempo e ao espaço, deve-
se considerar quando foi escrito e onde será publicado o texto, a fim de atender às
exigências das normas de publicação da revista (SILVA; PEREIRA; BUENO, 2014,
p. 40). Além disso, deve-se considerar que é comum o autor escrever o artigo
científico alguns meses antes da publicação e, após a análise dos avaliadores, fazer
ajustes no texto.
Para a divulgação dos artigos científicos, duas partes merecem destaque: o
título e o resumo. Elas devem ser informativas e atraentes para que as pessoas se
interessem pela pesquisa. O resumo, em especial, necessita de um cuidado maior.
Como já foi mencionado anteriormente. Afinal, se o título for atraente e o resumo for
deficiente, o leitor tende a abandonar a leitura do texto.
60
12 MONOGRAFIA
A monografia é um texto predominantemente dissertativo de autoria de uma
única pessoa (o que dá origem ao nome). Nela se trata de um assunto de forma
sistemática e o mais completa possível. Ela pode ser a demanda de um curso de
graduação (chamada de trabalho de conclusão de curso — TCC) ou especialização,
ou um dos requisitos para a obtenção dos graus de mestre (dissertação) e doutor
(tese). A diferença entre esses textos está no grau de profundidade e complexidade
(e, potencialmente, originalidade). Contudo, eles apresentam os mesmos
componentes básicos e o mesmo ponto de partida (que também serve para o artigo
científico): um projeto de pesquisa.
O projeto de pesquisa é o plano a ser desenvolvido para a aplicação de uma
proposta. Nele são especificadas as etapas da investigação, o tema (com
delimitação), o problema, as hipóteses, os objetivos, a justificativa, o referencial
teórico, os materiais necessários, a metodologia, o cronograma, etc.
Independentemente do tipo de monografia, há três grupos de elementos que a
compõe: pré-textuais, textuais e pós-textuais. Observe o Quadro 1.
61
Quadro 1. Elementos de uma monografia
Fonte: Adaptado de Medeiros (2003, p. 261)
A introdução auxilia a orientar a produção escrita. No entanto, é importante
que este seja um dos últimos elementos a serem escritos. A introdução e o resumo
referem-se a todo o trabalho e deve mostrar coesão e coerência. A introdução deve
apresentar: objeto e delimitação do trabalho, sua finalidade, problema/problema,
hipótese(s), justificativa, metodologia, destaque de abordagens teóricas importantes
no texto, descrição da organização do texto (vários capítulos ou partes e quais é dito
em cada). A maioria desses elementos é implementada no projeto. Portanto, se bem
feito, grande parte da sua introdução estará conduzida.
Existem dois tipos de objetivos. O geral é o resultado esperado da
pesquisa/trabalho, ou seja. "onde você quer chegar". Objetivos específicos são os
caminhos que você precisa traçar para atingir o objetivo geral. Sejam quais forem os
objetivos, eles são comumente expressos por verbos no infinitivo.
62
A questão ou problema é o que você quer resolver, encontrar. A resposta
ainda indefinida é uma hipótese que deve ser confirmada ou refutada. Também é
importante dizer qual a importância do seu trabalho, interno (significado teórico) e
externo (prática), ou seja, a justificativa do seu trabalho, os motivos pelos quais
elaborando-o. Quanto à metodologia, trata-se de uma breve introdução do método
utilizado no estudo, que inclui também o seu tipo (teórico-argumentativo,
experimental ou estudo de caso).
O desenvolvimento é o ponto central do trabalho, é o momento onde se
desenvolve o argumento e a dissertação dos principais assuntos a serem tratados.
Deve ser apresentado de forma completa a fundamentação teórica, metodologia,
discussão dos resultados e hipóteses. Por fim, a conclusão que remonta ao que foi
feito e aos resultados obtidos, além de um resumo das hipóteses e a confirmação se
foram ou não corroboradas.Em suma, há também perspectivas sobre o assunto e a
obra, como possíveis aplicações e assuntos a serem desenvolvidos ou
aprofundados.
12.1 Outros gêneros
Outros gêneros relacionados a esse campo discursivo são o ensaio, o
fichamento e o mapa conceitual. Os dois últimos são de grande ajuda no estudo,
enquanto o ensaio contempla o desenvolvimento dos argumentos. Ele tem como
característica a apresentação metódica da pesquisa realizada e das conclusões
preliminares alcançadas após um estudo aprofundado do assunto (MEDEIROS,
2003, p. 246).
O fichamento, por outro lado, é uma revisão bibliográfica do tema a ser
pesquisado. Além da informação bibliográfica, são feitas notas livres sobre o
material, que permitem não só organizar as ideias, mas também as resumir. E um
mapa conceitual é um organograma com elucidações sobre conceitos e termos e as
relações entre eles. Ele é mais visual. Cada nó (contendo um termo ou conceito-
chave) está vinculado a outro através de palavras ou frases de ligação, ajudando a
resumir e pôr em ordem um tópico ou conteúdo.
Também são importantes o inventário acadêmico, que é o estudo de temas e
assuntos relacionados ao mundo acadêmico, como procedimentos, dados e fatos; e
63
o relatório, que é a etapa final dos trabalhos desenvolvidos no estudo. Nele consta o
que foi feito e o que aconteceu, indicando o local, data e participantes.
Além desses já mencionados, existem gêneros híbridos que tratam de
modalidades orais e escritas, como comunicação e cartaz, pôster. Quanto a
comunicação é uma apresentação oral com ou sem o uso de slides, vídeos, etc.
Envolvendo inicialmente, um resumo para submeter e selecionar um trabalho para
determinado evento e, posteriormente, para publicação de artigos (opcional, mas
importante). O pôster é uma apresentação visual e sucinta da pesquisa,
acompanhada de um discurso em caso de dúvidas.
13 A ESTRUTURAÇÃO DO GÊNERO TEXTUAL RESENHA ACADÊMICA
Uma resenha é um gênero textual em que são apresentadas informações
sobre uma obra artística ou científica, sendo um dos trabalhos acadêmicos prolíficos
no meio acadêmico, por exemplo, mas não se limitando ao mundo do ensino
superior, pode ser lida em jornais, em ambientes virtuais, revistas, etc. Para
conhecer os diferentes, tipos de resenha, esses textos são divididos em três grupos
descritivas, críticas e temáticas. Sendo que todos eles apresentam características
comuns, como científica, imparcialidade, impessoalidade e objetividade, portanto a
obra alvo a ser avaliada deve pertencer ao meio acadêmico ou artístico, não
podendo o autor deixar de mencionar os elementos essenciais para a compreensão
da obra, ou impô-los por interesse pessoal. Além disso, deve ser objetivo e direto
com o assunto da resenha.
A resenha descritiva tem como objetivo, assim como o próprio nome já
sugere, descrever o essencial sem a intervenção do escritor. Para maior clareza, é
necessário definir o trabalho, como, apresentar dados bibliográficos e principais
aspectos. Em seguida, descreva o formato do livro: há quantos capítulos? Quantas
páginas? Estas declarações introdutórias preparam o leitor para a parte principal da
resenha, uma descrição de seu conteúdo, principais reivindicações, argumentos e
exemplos usados pelos autores, bem como os da obra resenhada. Assim, o leitor
pode pensar por si mesmo sobre a relação entre o autor e a obra.
Por outro lado, a revisão crítica, é a mais popular e procurada nos cursos de
graduação e pós-graduação, é organizada da mesma forma que a descritiva, mas
64
aborda um componente essencial: a crítica. Também conhecido como resumo
crítico, não é simplesmente um texto informativo ou indicativo, pois requer elementos
importantes na interpretação do texto. Portanto, antes de começar a escrever o
resumo crítico, é preciso se certificar de ter compreendido a obra a ser resenhada e
identificado o seguinte:
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
Para encontrar essas pistas, o leitor aplica algumas estratégias durante a
leitura. Assim como afirma Thelma Guimarães (2012):
1- Qual(is) o(s) tema(s) tratado(s) pelo autor?
2- Qual a problemática que ele coloca?
3- Qual a posição defendida pelo autor com relação a
essa problemática?
4- Quais os argumentos centrais e complementares
utilizados por ele para defender sua posição?
Objetivo
1- Antes de ler, identifique a finalidade de leitura. Afinal, quando
os objetivos de leitura são claros, o leitor sabe que informação
procurar.
2- Para leitura acadêmica ou profissional, defina claramente os
objetivos. Se as metas de leitura não são evidentes, questione
o professor ou o superior.
65
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
Antecipação
Formule hipóteses no texto, busque as pistas e
sinalizações deixadas pelo outro e atribua
significado.
66
Tipos de pistas:
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
É dessa forma que se prepara a parte crítica da resenha. Em suma, pode-se
dizer que a análise é a capacidade de relacionar os elementos da obra lida com
outros textos, autores e ideias relacionadas ao assunto, por meio da
contextualização do texto analisado. Assegure-se de ter:
Veículo: onde este texto foi escrito? Qual a fonte?
Imagens e elementos gráficos: o que elas querem dizer? Qual a influência no texto?
Autoria: qual o lugar social ocupado pelos interlocutores?
Data e lugar: em qual época o texto foi escrito? Qual o contexto histórico? Quais a origem e a
cultura do autor?
Tema: varia de acordo com o gênero textual. Por exemplo, aventuras de príncipes e princesas
são típicos de contos de fadas, mas não de cartas comerciais.
Gêneros textuais: qual paradigma o autor segue?
Objetivo: é escolhido de acordo com a intenção.
Estrutura: pode ser compreendida a partir da técnica e varrer o texto, pois revela aspectos
visuais.
Linguagem: pode ser formal ou informal.
Esfera de circulação: pode ser jornalística, política, acadêmica ou científica.
67
Fonte: adaptada GUIMARÃES (2012)
Resenha temática: Esse tipo de resenha tem como característica abordar
vários textos no qual os assuntos são os mesmos, ou seja, textos que tratem sobre
uma mesma questão. Sua elaboração é mais simples do que a elaboração das
resenhas críticas e descritivas. Observe:
Apresentação do tema: Especifique para o leitor qual é o tema que perpassa
todos os textos que serão resenhados, bem como os motivos que o levaram a
escolher o assunto;
Resuma os textos: Um parágrafo para falar sobre cada texto é o suficiente.
Não se esqueça de citar o autor de cada um deles, assim como seu ponto de vista
sobre o texto por ele escrito;
Conclua sua resenha: Na resenha temática você deve apresentar
argumentos e opiniões sobre os textos resenhados. É importante também que você
faça uma conclusão sobre o tema abordado;
De acordo com os paramentos acadêmicos, a resenha critica possui uma
estrutura definida seguinte forma, nos parágrafos iniciais é feito uma introdução da
obra resenhada (filme, trabalhos, livros, etc.) apresentando o assunto/tema, o
problema elaborado pelo autor. Logo após, começa o
desenvolvimento/apresentação do conteúdo da obra, no qual o foco deve estar nas
ideias centrais, argumentos e ideias secundárias. E por último, uma conclusão em
que é apresentado a crítica pessoal, uma avaliação das ideias do autor diante aos
outros textos e escritores, bem como da qualidade do texto, quanto à coerência, à
validade, à originalidade, à profundidade, ao alcance, etc.
Informações sobre o autor, suas outras obras e sua relação com
outros escritores
Elementos para contribuir para um debate acerca do tema em
questão;
Condições de escrever um texto coerente e com originalidade
68
De acordo com Machado (2005), a produção de uma resenha acadêmica
compreende operaçõesde ação, operações discursivas e operações linguístico-
discursivas. Essas operações estão ligadas ao meio físico em que a resenha é
veiculada, aos participantes da situação comunicativa, ao lugar que o texto é
produzido, bem como aos objetivos desse texto e ao conhecimento de mundo que
se tem a respeito do assunto. Durante a sua produção, é preciso, primeiramente, a
leitura, a interpretação e a sumarização da obra a ser resenhada, bem como a
seleção de outros conteúdos que darão suporte para a construção da resenha.
Deve-se ter cuidado principalmente com a construção da parte crítica, uma vez que
é preciso selecionar, nessa parte, argumentos convincentes e adequados ao
contexto acadêmico.
A produção de uma resenha oferece ao estudante a oportunidade de escrever
textos que fazem parte do meio acadêmico. Logo, por meio da execução de práticas
discursivas desse ambiente, ele será considerado membro dessa mesma
comunidade. Assim, ao dominar esse gênero acadêmico, o estudante formaliza o
seu papel na universidade (BAZERMAN, 2006).
Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004) introduzem, de forma bastante
didática, resenhas prototípicas e, a partir delas, tecem suas considerações a respeito
desse gênero textual. Veja uma das resenhas presentes no livro desses autores,
intitulada “Cotidiano e luta operária no Brasil dos anos cinquenta” e assinada por
Edilson José Graciolli. Em seguida, com base nessa resenha, são analisados os
elementos da composição desse gênero textual.
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73
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75
76
Depois da leitura da resenha, é possível analisar o plano global desse texto, como
mostra o Quadro 1.
Quadro 1. Plano global da resenha de Edilson José Graciolli
Fonte: Adaptado de Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004)
No Quadro 1, estão todos os detalhes da situação de produção da resenha
em análise. A partir dele, você pode considerar os elementos componentes desse
gênero textual, como mostra o Quadro 2.
77
Quadro 2. Estruturação dos parágrafos da resenha
Fonte: Adaptado de Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004).
De acordo com Motta-Roth (2001), a estruturação da resenha é composta por
quatro grandes estágios textuais: apresentar, descrever, avaliar e recomendar.
Esses estágios podem se subdividir em diferentes estratégias retóricas, conforme a
preferência do resenhista, ou serem utilizados concomitantemente
Quadro 3- estruturação da resenha
78
Fonte: Adaptado de Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004).
Você pode observar que na resenha de Graciolli (1998) os quatro estágios
textuais ou ações (apresentar, descrever, avaliar e recomendar ou não o livro)
aparecem exatamente na ordem proposta por Motta-Roth (2001). Entretanto, poderia
haver variação na ordem, na extensão ou até mesmo nas partes. Por exemplo, a
descrição da obra e a avaliação poderiam estar conjugadas, sintetizadas no mesmo
trecho ou sentença (MOTTA-ROTH, 2001), o que mostra o não engessamento do
gênero.
A proposta de Bezerra (2009), realizada a partir da organização retórica de
resenhas acadêmicas de teologia escritas em língua portuguesa, é bastante similar à
proposta de Motta-Roth (2001). A única diferença é que Bezerra (2009) utiliza outros
verbos para descrever os estágios: introduzir, sumarizar, criticar e concluir.
Assim, há similaridade entre as duas propostas. Além disso, ambas as
estruturações coincidem com a organização da resenha apresentada. Note ainda
que, em cada uma das partes, há sempre verbos ou palavras que funcionam como
indicadores do que é apresentado, como mostra o Quadro 4.
79
Quadro 4. Estruturação dos parágrafos da resenha
Fonte: Adaptado de Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004).
Observe que, em todo o texto, o autor da resenha sinaliza, por meio de
palavras e/ou expressões, o que é informado, o que garante que o leitor não se
perca. Isso também deixa claro os locais em que são apresentados textos
resumidores e aqueles em que são apresentados comentários a respeito da obra.
Esses cuidados, entre outros fatores, garantem que as máximas
conversacionais propostas por Grice (1982) sejam respeitadas: quantidade,
qualidade, relevância e modo/maneira. Da mesma forma, os princípios considerados
reguladores e controladores por Beaugrande e Dressler (1983) são levados em
80
conta: eficiência, eficácia e adequação.
Todos os fatores de textualidade estão presentes na resenha analisada,
sendo respeitados todos os aspectos ligados à coesão e à coerência e estando clara
a relação de intertextualidade. A resenha foi realizada com base na obra
Trabalhadores e cidadãos — Nitro Química: a fábrica e as lutas operárias nos anos
50, de Fontes (1997), e ainda foram realizadas citações de dois outros autores:
Rodrigues (1966) e Boito Júnior (1991), cujas obras foram apresentadas nas
referências.
Além disso, foram respeitados os fatores extralinguísticos: o autor conseguiu
atingir suas intenções comunicativas, construindo uma comunicação eficaz e
respeitando o fator intencionalidade. A resenha produzida é coerente, coesa, útil e
relevante, sendo compatível com a expectativa do receptor, respeitando o fator
aceitabilidade. Também foram apresentadas no texto informações com base no livro
resenhado, e foram inseridos na discussão dois novos autores, o que respeitou o
fator informatividade.
Ademais, o texto respeita o fator situacionalidade, uma vez que se nota a sua
adequação à realidade comunicativa em que está inserido. De fato, o texto atinge os
objetivos de uma resenha: dar informações centrais sobre o livro e fazer comentários
a respeito dele. O seu momento de produção é adequado, pois foi escrito um pouco
depois da publicação do livro resenhado. Por fim, a resenha tem como destinatárias
pessoas “[...] que se interessam pelo mundo do trabalho, quer pelo ofício de
pesquisador, quer pela militância social ou, ainda, pela absoluta necessidade de se
compreender a realidade brasileira [...]” (GRACIOLLI, 1998).
14 MARCAS DA ORALIDADE NA ESCRITA
Como já sabemos, não podemos comparar língua falada com língua escrita,
elas diferem totalmente uma dá outra. Embora ter conhecimento dessas diferenças
seja importante para entender as diferentes formas de texto, deve-se notar que não
há visão dicotômica entre a oralidade e a escrita na literatura. Na literatura existem
expressões individuais da linguagem, imbuídas de estética e significados associados
81
à linguagem falada.
A literatura infanto-juvenil costuma ser a primeira exposição das crianças ou
adolescentes ao mundo dos livros. Um dos objetivos de todos os professores, não
apenas dos professores do ensino básico, é introduzir os seus alunos no universo
mágico da literatura, fazê-los apreciar e desenvolver o hábito da leitura.
Para que isso flua, os professores devem apresentar livros pertinentes à sua
faixa etária desde o primeiro contato do aluno com a escola. Em geral, os jovens
leitores são mais atraídos por livros que estão mais próximos de seu universo
linguístico. Em outras palavras, é importante ser capaz de identificar livros que
agradem aos alunos não apenas em termos de conteúdo, mas também em termos
de forma e expressão linguística.
Quanto mais próxima for a linguagem do aluno, mais relevante será o texto
para ele. Por exemplo, signos de oralidade concretizam a abstração da arte.
Segundo Koch e Elias (2017), existem vários signos verbais na literatura, como a
questão da referência, as repetições, o uso de organizadores textuais ("e", "aí",
"então", etc.) específicos e discurso direto.Se a criança conseguir materializar a
leitura não apenas por meio de imagens, mas também por meio do reconhecimento
de sua própria linguagem e vocabulário, o resultado da comunicação com o texto
será mais bem-sucedido.
Como todos sabem, o criador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa, é um
dos mais famosos escritores nacionais. Ele foi o responsável por apresentar muitas
crianças ao universo literário. Seu vocabulário simples, coloquial e objetivo é
conhecido do seu leitor, veja um exemplo:
Fonte: telaviva.com.br
82
As obras de Mauricio de Sousa apresentam as diferentes manifestações da
linguagem, como você pode ver:
Fonte: deposito-de-tirinhas.tumblr.com
Assim como Mauricio de Souza, Thalitta Rebouças, é autora de vários livros
sobre o mundo da pré-adolescência e dos jovens, procuram usar a linguagem do
mundo em que vive o leitor. Os signos coloquiais são encontrados não apenas no
discurso direto, mas também em organizadores coloquiais e típicos de textos
falados, como no trecho do livro Fala sério, professor! (REBOUÇAS, 2006). Aparece
neste trecho, Malu (a mesma protagonista do livro Fala sério, mãe!) explica como ele
se conecta com os professores que mais influenciaram sua vida, de professores
universitários a professores escolares.
— Quanto farelo, gente! Quem foi que comeu biscoito sem pratinho embaixo?
Cadê o aspiradorzinho que a minha mãe deu pra gente? As duas começaram a rir.
Permaneci séria, eu estava muito brava, muito brava.
— Malu! Desestressa! — disse Helô.
— Comemos sem pratinho, sim, depois a gente limpa — completou Bené.
— Depois quando?
— Depois...
— Que biscoito foi? De polvilho? — eu quis saber.
— Arrã — fizeram as duas, sapecas.
— Tem ainda? — rendi-me à gula e à bagunça.
Comi o último do pacote e acabei rindo com elas. Eu até gosto de bagunça.
Sempre gostei. Mas o apê estava tão bagunçado que tinha ultrapassado até o meu
nível permitido de bagunça.
83
— Pô, gente, assim não dá! A gente precisa tomar vergonha na cara! Nossa
casa está uma zona!
— Ih, Malu, você está parecendo o Francisco, aquele professor de português
da quinta série que tinha mania de arrumação, lembra? — perguntou Bené.
— Ô, se lembro... (REBOUÇAS, 2006, p. 9).
É incontestável que as marcas coloquiais e orais nos textos infanto-juvenis,
que aproximam o interlocutor, estão presentes tanto na literatura infantil, aproximam
seus interlocutores. Assim, à medida que as crianças e jovens são incentivados a
ler, novas portas podem ser abertas para uma literatura mais crítica e complexa.
14.1 A linguagem e os seus diferentes contextos
O contexto é o conjunto de circunstâncias a que um texto se refere. Textos
literários apresentam uma linguagem própria e flexível, pois têm como objetivo
causar algum tipo de emoção no leitor. O uso de uma linguagem específica é
fundamental para que o objetivo seja alcançado. Portanto, é necessário que você,
como professor, compreenda o universo linguístico presente na literatura infanto-
juvenil junto às características específicas da linguagem utilizada em diferentes
obras.
A linguagem é o uso da língua, e a língua não é um código imutável. Não há
sociedade sem um processo de comunicação, e as línguas não existem sem as
pessoas que as falam. Se a sociedade muda, a língua também muda, pois, como
afirma Calvet (2002, p. 5), “[...] a história de uma língua é a história de seus falantes
[...]”. Ou seja, as variantes contextuais não decorrem diretamente do usuário da
língua, mas de diferentes situações e contextos comunicativos que o cercam em um
ato de fala.
Assim como a sociedade não é uniforme, a língua tampouco o será. Ela varia
e as suas variações estão diretamente relacionadas a diferentes contextos
linguísticos do falante. Ou seja, assim como o indivíduo tem consciência de que
existe uma adequação social em relação às roupas que usa — por exemplo,
ninguém vai a uma entrevista de emprego com uma roupa de praia, assim como as
pessoas não vão a uma festa de gala com um biquíni —, espera-se que o falante
tenha uma consciência linguística. Essa consciência significa que o mesmo falante
84
pode utilizar o nível de fala coloquial ou culto, visto que esse nível dependerá da
necessidade e do contexto situacional.
Há uma norma padrão (ou culta), considerada de prestígio, e há também as
variantes dessa norma. A língua pode variar em relação ao tempo (variante
diacrônica ou histórica), em relação ao espaço (variante diatópica, regional ou
geográfica), em relação a aspectos socioculturais (variante diastrática, social ou
sociocultural), em relação ao meio de uso (variante diamésica) e em relação a
contextos situacionais (variante diafásica, situacional ou estilística).
Os estudos sobre variação linguística em diferentes contextos sociais,
segundo Mollica e Braga (2013), indicam que os falantes têm um repertório
linguístico que pode variar em diferentes situações de comunicação. Ou seja, o uso
consciente da língua se reflete não apenas na oralidade, mas também na escrita. Os
níveis de linguagem são, principalmente, os seguintes: nível formal ou culto, nível
informal ou coloquial, nível popular e nível estilístico.
➢ O nível coloquial é utilizado, normalmente, em situações de
informalidade, familiaridade e entre iguais.
➢ O culto insere-se em contextos de formalidade, como em uma palestra
ou em uma entrevista de emprego.
➢ O popular representa, de modo geral, as variantes desprestigiadas,
consideradas erradas e desvalorizadas em relação à norma culta.
No entanto, o nível estilístico, também conhecido como literário, é usado em
situações específicas, em que há predominância de liberdade poética e em que o
erro não é considerado, mas apagado por uma necessidade estética. Ou seja, as
formas desprestigiadas podem ser manifestações artísticas.
A linguagem no nível estilístico, que caracteriza o texto literário, além de
possibilitar únicas e diferentes estruturas na fonética, na morfologia e na sintaxe,
apresenta, para Fiorin (2000), os seguintes traços: relevância do plano da
expressão, intangibilidade da organização linguística, criação de conotações,
desautomatização e plurissignificação. Ou seja, ela dá identidade e significado aos
textos literários.
A linguagem estilística, com suas características próprias, personaliza os
textos literários. Com ela, é possível descrever desde narrativas em situações
extremamente cultas até outras que se caracterizem pelo uso da linguagem popular.
85
Tudo depende da intencionalidade do autor com o seu texto. Ou seja, há uma
tendência de aproximação entre o emissor e o receptor que ele quer atingir.
Qualquer texto, seja oral ou escrito, é produzido por um autor que tem em
mente um receptor. O termo “interlocutor” designa cada um dos participantes do
diálogo. Em um texto escrito, o autor deve saber qual é o perfil de seu interlocutor
para que o processo de comunicação ocorra com êxito e para que haja uma relação
entre o escritor e o seu leitor. A fim de que a interação comunicativa ocorra, o
destinatário deve ter em mente o seu receptor.
Segundo Aburre e Aburre (2007), existem dois principais interlocutores: o
universal e o específico. Na literatura infanto-juvenil, obviamente, estão mobilizados
interesses, necessidades do público infantil e juvenil. Uma maneira de o autor se
aproximar do seu público, portanto, é explorar o uso de uma linguagem coloquial e
mais específica. Essa linguagem não necessariamente faz parte do cotidiano do
emissor, e o seu emprego é caracterizado como linguagem literária, ou seja, trata-se
de um tipo de variante da norma culta, a variante diafásica, estilística ou situacional.
O seu uso valoriza a proximidade entre os interlocutores, fazendo com que o
contexto de leitura integre o universo do receptor. Dessa forma, a referência é direta
aos interlocutores específicos.Quando se fala em interlocutores universais, normalmente estão em jogo
interlocutores de textos informativos, não literários e compostos por uma linguagem
objetiva e denotativa. No entanto, quando há interlocutores específicos, o texto tenta
se aproximar ao máximo do seu destinatário, com marcas de subjetividade e de
oralidade, por exemplo.
Além de se dirigir a interlocutores com perfis definidos, os textos se referem a
circunstâncias de natureza cultural, social e linguística. Tais circunstâncias precisam
ser compartilhadas por quem produz e quem recebe o texto. Ou seja, está em jogo o
contexto, que representa a totalidade das informações contidas no texto. A
identificação do contexto depende inteiramente do conhecimento de mundo dos
leitores.
Portanto, estabelecer o perfil do leitor com a linguagem adequada para
abordá-lo é o primeiro e, talvez, o principal passo que o autor pode dar para que o
processo comunicativo ocorra de maneira eficaz. Além disso, quando o estilo de
linguagem é pensado e analisado para determinado perfil, a leitura torna-se mais
86
fluida e a possibilidade de ela se transformar em um hábito aumenta.
14.2 A globalização e os fatores de unificação da língua portuguesa
A globalização constitui um processo sócio-político-econômico, que tende a
homogeneizar a cultura e, por consequência, a língua. Já a diversidade brasileira se
configura cultural e linguística. Finalmente a língua, por ser comprovadamente
heterogênea, não deve estar sujeita à homogeneização.
A diversidade linguística, constituída de diferentes falas, e a uniformidade,
caracterizada como aquela que disciplina e nivela linguisticamente, constituem a
dinamicidade da língua. Os indivíduos, inconscientemente, a incorporam na
linguagem individual e acabam por atualizá-la coletivamente. Não existe um
equilíbrio nessa ação, pois observa-se que no léxico e na fonologia existe uma
diversidade maior. Já na morfossintaxe essa transformação é menor, porque ela
tende a manter seu perfil tradicional.
No Brasil, as variações quanto ao léxico são perceptíveis, uma vez que um
falante da região nordeste se diferencia de um falante da região sul, porém, quanto à
morfossintaxe, é possível observar uma certa unidade. A linguagem falada em
determinadas regiões, principalmente os falantes da zona urbana, contribuem para a
unificação da fala regional, uma vez que se fazem entender ao longo de todo o
território brasileiro.
É importante salientar que uma pessoa adota determinados comportamentos
linguísticos, oriundos da sua comunidade de fala e que se fazem inteligíveis em seu
uso cotidiano. Esses comportamentos se renovam lentamente, conforme vão sendo
incorporados pela comunidade, e acabam por se tornar convenções prescritas,
perpetuadas de geração em geração. Essas convenções, originam normas, as quais
denominamos processo de uniformização.
87
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