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CULTURA ORGANIZACIONAL E EDUCAÇÃO Sonia Lopes da Silva. Cultura Organizacional e Educação Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Presidente do Conselho de Administração - Janguiê Diniz Diretor-presidente - Jânyo Diniz Diretor de Operações - Adriano Azevedo Diretor de M&A - Décio Lima Diretor de CSC - Joaldo Diniz Diretor Financeiro - João Aguiar Diretor de Relações com Investidores - Rodrigo Alves Diretora Acadêmica - Simone Bérgamo Diretor de Recursos Humanos - Wellington Maciel Diretora de Marketing - Magaly Marinho Diretor de EaD - Enzo Moreira Diretor de Pós-Graduação - Marcovan Porto Gerente de Operações de EaD - Walter Octaviano Gerente Acadêmica de EaD - Fernanda Furuno Coordenadora de Material Didático de EaD - Manuela Martins Edição (Design Instrucional): Paula Maria da Silva, Adriana Ferreira, Márcia Gouveia, Rebecca Freitas e Carlos Mello Preparação de Originais: Heloisa Brown Revisão: Anderson França, Aline Mattos, Juliana Fontes e Heloisa Portes Projeto gráfico e diagramação: Sérgio Ramos, Mário Gomes e Tiago da Rocha Diagramação: Hera Silva, Sonia Lopes da. Cultura Organizacional e Educação, Guia de Estudo: Recife: Grupo Ser Educacional, 2019. Cultura Organizacional e Educação. Apresentação do autor Sonia Lopes da Silva Doutora em Administração (UNR), Mestre em Patrimônio Histórico (UFRJ), Especialista em Gerenciamento de Projetos (FGV) e certificada como Project Management Professional pelo Project Management Institute, Arquiteta (UFRJ), Formação (SLAC) e atuação em Coaching. Professora Convidada em MBAs da FGV Management e UFF (LATEC). Atua em em diversos tipos e portes de projetos desde 1989. Certificações internacionais: l Project Management Professional (PMI); l Certified Scrum Master (Scrum Alliance); l Personal Coach (SLAC com reconhecimento do European Mentoring & Coaching; Council e da International Association of Coaching (IAC). Publicou os seguintes livros: l Negociação (2009 – Série Cademp – editora FGV); l Métodos ágeis para arquitetos e profissionais criativos (2015 – Brasport); l Sustentabilidade: gestão estratégica na prática (2018 – Brasport). Fundadora da empresa TIP Projetos que atua em aspectos técnicos e humanos do gerenciamento de projetos, elaborando modelos personalizados para a necessidade de cada cliente. Sumário Unidade 1 – Fundamentos da Cultura Organizacional 1.1 Conceitos 1.1.1 Organização 1.1.2 Cultura 1.1.3 Cultura organizacional 1.1.4 Clima organizacional 1.2 Histórico 1.2.1 Evolução do pensamento administrativo 1.2.2 O que é motivação? 1.2.3 Principais teorias sobre a motivação 1.3 Visões Contemporâneas 1.4 Mudança Organizacional Unidade 2 – Cultura e Clima Organizacional 2.1 Categorias de Análise da Cultura Organizacional 2.1.1 Dimensões da cultura organizacional 2.1.2 Elementos 2.1.3 Tipos de cultura 2.1.4 Outros componentes a serem considerados na análise da cultura organizacional 2.2 Influências sobre o Clima Organizacional 2.2.1 Valores 2.2.2 Comprometimento 2.2.3 Poder 2.2.4 Liderança Unidade 3 – A Escola como Organização 3.1 Uma Leitura a Partir das Visões de Cultura Organizacional 3.2 Elementos Específicos 3.2.1 Relações de poder 3.2.2 Participação da comunidade e seus diversos atores 3.2.3 Projeto pedagógico: teorias e práticas 3.2.4 Currículo e práticas educacionais como espelhos da cultura escolar Unidade 4 – A Escola como Empreendimento 4.1 O Que a Escola Pode Aprender com Outras Organizações 4.1.1 Gestão de pessoas por competências 4.1.2 Liderança 4.1.3 Motivação 4.1.4 Qualidade de vida no trabalho e clima organizacional 4.2 O Que e como Aprender com a Própria Experiência 4.2.1 Melhoria contínua e lean (o mundo ágil) 4.2.2 Ciclo PDCA Carta de boas-vindas ao estudante Prezado estudante, Você pode estar se perguntando por que estudar cultura organizacional em um curso de Pedagogia. A partir do entendimento do conceito de cultura organizacional e de sua evolução ao longo do tempo, você perceberá que a cultura de uma organização é composta por diversos elementos e pode influenciar toda a comunidade (colaboradores em geral, alunos e pais). É preciso entender a organização como um todo, inclusive diretrizes que não são visíveis em um primeiro momento, mas que interferem em como você realiza seu trabalho, se comporta e desenvolve projetos. Nesta análise da cultura, abordam-se as relações de poder, a participação de diversos atores e as práticas educacionais. A escola é um tipo de organização que influencia e é influenciada pelo contexto mundial. Assim, a escola pode aprender com outras organizações práticas relativas à gestão de pessoas, liderança, motivação e qualidade de vida. A sociedade tem evoluído rapidamente e a escola e sua cultura precisam se adaptar a essa mudança. Aproveite a disciplina! Desenvolva sua observação e análise dos ambientes organizacionais dos quais você participa. Bem-vindos e tenham todos um ótimo aprendizado! ix Objetivos gerais da disciplina Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de: l Identificar os principais conceitos sobre cultura organizacional, estabelecendo diálogo com o universo escolar. l Refletir sobre as visões de cultura organizacional e as relações que se constroem na escola. l Reconhecer os elementos específicos de análise da escola como organização, a partir de categorias como: poder, valores, liderança, participação e outras. l Estabelecer as relações entre o projeto político-pedagógico e a cultura organizacional escolar. l Entender o que as organizações, como empreendimentos, podem oferecer à escola. 1 Unidade 1 Fundamentos da Cultura Organizacional 2 Unidade 1 Objetivos da Unidade Ao final desta unidade esperamos que você seja capaz de: • compreender o conceito de cultura organizacional e os impactos que ela pode exercer sobre você e o seu trabalho; • conhecer o surgimento da disciplina e a evolução da aplicação desta ao longo do tempo nas empresas; • reconhecer, a partir dos conceitos estudados e das diversas teorias existentes, os elementos que constituem o clima educacional na empresa em que você trabalha; • reconhecer e traçar perspectivas de mudanças organizacionais. Contextualizando Você já percebeu que os diversos ambientes organizacionais que frequentamos são diferentes? Não só fisicamente, como cores e aspectos estéticos dos móveis, mas também como as pessoas se comportam e o que valorizam. Este “ambiente” é resultado de regras explícitas e implícitas que compõem a cultura organizacional e pode ser observado em diversos tipos de organização (desde lanchonetes do tipo fast-food, restaurantes, ONGs, escritórios de advocacia, igrejas e até instituições militares), com características próprias herdadas de seus fundadores e adquiridas ao longo de sua trajetória. 3 Entendendo os Conceitos Mas, afinal, o que é cultura organizacional? Faremos uma caminhada pelos conceitos básicos e a evolução da cultura organizacional até a realidade contemporânea. 1.1 Conceitos Nesta seção vamos abordar diversos conceitos que servirão de base para o desenvolvimento de diferentes discussões ao longo do curso. 1.1.1 Organização Você já se deu conta de quanto o conceito de organização é amplo? Pode se referir a empresas que geram lucro ou sem fins lucrativos, a diversos tipos de instituições, desde conselhos profissionais a associações de moradores, de instituições militares a igrejas, órgãos do governo, enfim, existem muitos tipos de organizações e cada uma tem sua própria cultura. Podemos definir organização como uma associação de pessoas com objetivosespecíficos que tem como razão de existir o cumprimento desses objetivos. Quando pensamos na escola como organização, identificamos simplificadamente o objetivo de ensinar um conjunto de conhecimentos e habilidades a alunos em determinada faixa etária, por um método específico, e todo o grupo de colaboradores deve estar alinhado com este propósito. 1.1.2 Cultura O que é cultura? A partir de uma delimitação geográfica, entende-se cultura como um conjunto de características e comportamentos de um grupo de pessoas que vive em uma região. Um exemplo comum é caracterizar os ingleses como pontuais e os latinos como muito passionais. Um cuidado especial deve ser tomado em relação aos estereótipos – imagens preconcebidas e que são definidas como verdades irrefutáveis (Figura 1). Ao nos referirmos a pessoas de determinada região geográfica, precisamos ficar atentos a outras influências que esses indivíduos receberam, como valores familiares, religião e oportunidades de viajar; portanto, nem todas as pessoas nascidas em uma região serão exatamente como descritas em algum site da internet. Se você se basear exatamente em um perfil que encontrou em algum site, sem visão crítica, pode estar sendo vítima de um estereótipo e tomar decisões erradas, o que dificilmente aconteceria se você trabalhasse com o quadro real. 4 Figura 1 Estereótipo do francês: bebe vinho, usa boina e cachecol, e carrega o pão embaixo do braço. Será que todos são assim? Tenho amigos franceses que fogem completamente a este estereótipo. Crédito: © izusek | iStockphoto.com Para maior aprofundamento na questão cultural leia o artigo Diferenças culturais, interculturalidade e educação em direitos humanos, escrito pela professora Vera Maria Ferrão Candau. CANDAU, V.M.F. Diferenças culturais, interculturalidade e educação em direitos humanos. Educ Soc., Campinas, v. 33, n. 118, p. 235-50, Mar. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302012000100015&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22/02/2019. Saiba mais 5 1.1.3 Cultura organizacional A cultura de uma organização é formada pelo conjunto de hábitos, crenças, valores, tradições, regras e tabus, que é compartilhado por seus membros nos diversos níveis hierárquicos, criando uma identidade para todo o grupo, que se reflete no modo como as pessoas tomam decisões, tratam os clientes, negociam, comunicam-se, produzem e relacionam-se entre si e com o mercado. A cultura organizacional é a personalidade da organização, mas não é algo pronto e acabado; está em contínua transformação, já que a organização está inserida em um contexto socioeconômico-cultural que muda, e para isso, o ideal é que ela seja forte, flexível e adaptável. Com muita frequência a cultura organizacional é representada por um iceberg, porque apenas uma pequena parte do que a compõe é visível e facilmente comunicada pela organização para os novos membros, enquanto a maioria dos componentes – afetivos, emocionais e psicológicos – são invisíveis (Figura 2). Figura 2 Iceberg da cultura organizacional: apenas parte de seus componentes são facilmente identificados. Crédito: © pukrufus | iStockphoto.com. Na parte material, têm-se: missão, visão, procedimentos e regras escritas, código de ética, estrutura organizacional, plano de cargos e salários, metodologias utilizadas, padrão de vestimenta e imagem física do ambiente, como cores e padrão de modernidade. 6 Na parte não material, encontram-se: tabus, padrões de influência e poder, percepção e atitudes das pessoas, sentimentos e normas de grupo, crenças, valores e expectativas, relações afetivas e padrões de integração intergrupais. A cultura organizacional define como os funcionários devem se comportar, o que devem dizer e até mesmo o que vestir. A cultura será influenciada por: l região na qual a organização está inserida; l origem da organização (internacional, familiar etc.); l tipo de organização (pública ou privada); l estilo de liderança, entre outros. O que pode impactar em: l rotatividade dos funcionários; l lealdade; l comprometimento; l seleção de novos membros; l forma de socialização. De modo geral, quando um novo funcionário chega a uma organização, ele recebe informações sobre o que é visível na cultura organizacional (Figura 3). É comum que este indivíduo cometa certas “gafes”, pois ainda não conhece as crenças e os tabus implícitos, mas compartilhados, pelo grupo. Esse aprendizado leva tempo. Você já leu algum manual de conduta de uma empresa? Existe grande variação entre eles, mas no blog indicado a seguir, há sugestões sobre o conteúdo desse material: ADMINISTRADORES. O que deve ter no manual de conduta de uma empresa? Disponível em: http://www.administradores.com.br/noticias/negocios/o-que-deve-ter- no-manual-de-conduta-de-uma-empresa/35851/. Acesso em: 22/02/2019. Saiba mais 7 Figura 3 Procedimentos e regras escritas compõem o “kit de boas-vindas” do novo funcionário. Crédito: © tumsasedgars | iStockphoto.com. Na maioria das vezes, a seleção de novos funcionários não considera seus valores pessoais nem seu alinhamento com as características da organização. O recrutador avalia apenas as questões técnicas. Nesses casos, o risco é grande, pois, ao não se adaptar à organização e sua cultura, o novo membro será demitido ou pedirá demissão, ocasionando novo custo de contratação. O processo seletivo terá êxito quando identificar um novo membro que, além de competente tecnicamente, apresente valores compatíveis com os da organização. Você viu o filme O diabo veste Prada (2006, Diretor: David McKenna)? Observou que os valores pessoais de Miranda Priestly e Andy Sachs eram muito diferentes? Miranda, com seu perfil autoritário, determinou a cultura da organização e foi responsável por um clima organizacional tenso, devido às pressões impostas, e não muito propício à adaptação de novos funcionários. Saiba mais 8 Algumas vezes o novo funcionário passa não só por um processo seletivo que o avalia em suas diversas dimensões, mas também por uma adaptação antes de alcançar a produtividade esperada. Mas isso não ocorre em todas as organizações. Você já pensou em como deve ser feito o processo de seleção de novos funcionários para uma organização? Sugerimos a leitura do artigo O processo de seleção de pessoal, escrito pelos professores Maria José Amato e Richard Kanner. AMATO, M.J.A.L.; KANNER, R. O processo de seleção de pessoal. Rev Adm Empres., São Paulo, v. 6, n. 18, p. 127-36, Mar. 1966. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901966000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22/02/2019. De olho Será que as culturas de diferentes organizações são uniformes? E dentro de uma mesma empresa? Veremos diversos tipos de variações, não apenas em valores, crenças e regras de cada organização, mas também na percepção de seus diversos membros. A seguir serão apresentadas algumas variações. Cultura organizacional forte ou densa Se uma cultura organizacional é coesa e está disseminada pelos membros da organização, de modo que eles compartilhem valores essenciais, pode-se dizer que esta é uma cultura forte e que é possível obter alto desempenho deles por apresentarem níveis incomuns de motivação e lealdade, compartilhando as mesmas crenças, ideais, valores e métodos de fazer negócio. Cultura organizacional de alto desempenho A cultura organizacional de alto desempenho é densa, mas ao mesmo tempo é flexível e adaptável para que rapidamente se ajuste às novas necessidades do mercado e da cultura local. Quando novas gerações chegam ao mercado, normalmente apresentam novos desejos, principalmente em uma época de grandes evoluções tecnológicas. O mercado percebeu recentemente uma geração que não busca a posse de bens como casa e automóveis. Essa geração quer a experiência de uso, e nesse contexto surgem UBER e AIRBNB. A organização que não se adapta àsmudanças necessárias “morre”. 9 Subcultura Nem toda organização tem uma cultura forte e coesa. Há situações em que, em parte da organização (setor ou área de negócio), encontram-se subculturas diferenciadas entre si, o que ocorre muitas vezes pela natureza do trabalho ou pelo perfil do líder. Mas deve-se atentar para que, mesmo existindo algumas subculturas, ainda exista uma coesão do todo, como no caso dos valores principais da organização. Os valores são identificados para que a equipe tenha uma referência de comportamento; eles não são negociáveis. Se uma organização define que seus valores são: diversidade, inclusão e satisfação de clientes e parceiros, o fato de indivíduos de um setor se vestirem de modo diferente do outro não altera em nada os valores. A coesão do todo continua existindo, embora visualmente, muitas vezes, se alguém considerar apenas a roupa, os funcionários pareçam trabalhar em empresas diferentes. Contracultura Quando essa “cola” entre as subculturas não existe e um grupo rejeita o que a organização representa, cria-se uma contracultura, enfraquecendo a organização. Normalmente surge em momentos de grande tensão e de mudanças profundas, na tentativa de contrariar e desprezar a cultura principal. Se um dos valores da organização é responsabilidade socioambiental, nenhum dos setores ou departamentos pode contestar esse príncípio e atuar irresponsavelmente ignorando as normas ambientais e de segurança do trabalho, por exemplo. Caso um gestor setorial incentive este descaso, pode estar construindo uma contracultura. Como uma cultura começa? De modo geral os fundadores de uma organização são os primeiros a estabelecer os fundamentos de sua cultura, e com o tempo novos elementos serão somados. Exemplificando: empresas pequenas e familiares são “a cara do dono”, ou seja, são o reflexo de suas crenças e valores. Se o líder é agressivo, competitivo, disciplinado, ético ou não, essas características serão transmitidas a seus colaboradores e valorizadas nas avaliações periódicas e, consequentemente, nos aumentos de salário. Quando a empresa cresce, a cultura é afetada de diversas maneiras, podendo se tornar mais madura, forte ou fraca, dependendo do conjunto de influências recebidas. Importante 10 1.1.4 Clima organizacional O clima organizacional reflete a satisfação dos funcionários com o trabalho e a organização, e pode ser influenciado por diversos fatores, como estilo de liderança, fluxo de comunicação e apoio dos diversos agentes da organização nas crises. O clima é facilmente percebido e varia de acordo com satisfações e motivações pessoais (Figura 4), refletindo no comportamento dos colaboradores. Em uma mesma organização, pode haver diferentes climas em departamentos distintos, dada a variedade de elementos que podem influenciá-lo. Os conceitos de cultura e clima organizacional são diferentes. Pode-se afirmar, resumidamente, que cultura é a personalidade da organização, e clima é o humor da organização. Importante Muitas organizações investem em pesquisas de clima para que possam atuar em problemas específicos, prevenindo crises de satisfação e motivação. Figura 4 O clima de uma organização é facilmente percebido pelos que frequentam o ambiente. Crédito: © PeopleImages | iStockphoto.com. 11 Os conceitos desenvolvidos na seção 1.1 criaram um lastro para que você reflita sobre cultura organizacional, o que inclui as organizações que você frequenta. Esses conceitos serão complementados nas próximas unidades. Vamos continuar nosso estudo! 1.2 Histórico Nesta seção, vamos abordar os principais momentos da evolução do pensamento administrativo, para que você entenda como a cultura organizacional também se desenvolveu. Isso o ajuda a construir um pensamento crítico para entender em que ponto a organização em que você atua está. Na sequência será apresentado o conceito de motivação e as diferentes teorias desenvolvidas sobre o tema. 1.2.1 Evolução do pensamento administrativo A disciplina administração é muito recente. Tomou a forma que se conhece atualmente a partir de pensamentos construídos ao final do século XIX e início do século XX. Quando se entende como as organizações são administradas e o que é valorizado em cada época, compreende-se como evoluiu a cultura organizacional. A seguir serão expostos princípios de algumas escolas de administração: clássica (administração científica e teoria clássica), das relações humanas, comportamental, burocrática, estruturalista e teoria dos sistemas. Com a revolução industrial, que teve início na Inglaterra em meados do século XVIII, muitas mudanças foram observadas na sociedade e nas organizações, por meio das quais se buscava mais rentabilidade e eficiência. A industrialização gerou um processo de urbanização, e toda a sociedade precisou ser reorganizada. Essa urbanização produziu mudanças de hábitos, comportamentos e da forma de relacionamento interpessoal. Criou-se, então, uma cultura urbana, diferente da cultura rural existente. A abordagem clássica abrange o que é conhecido como a administração científica e teoria clássica. Inicialmente a administração científica foi popularizada por Frederick W. Taylor (1856-1915) com a publicação de seu livro Princípios da administração científica (publicado em 1911). Taylor foi o precursor do estudo de tempos e movimentos. Ele acreditava que o treinamento de um funcionário poderia transformá-lo no melhor candidato para a execução de uma determinada função e o administrador tinha a responsabilidade de identificar potencialidades e fornecer treinamento (KWASNICKA, 2003). O estudo dos tempos e movimentos foi o mapeamento de atividades executadas por profissionais considerados de excelência para identificar quais as etapas do trabalho, a ordem que deveriam ser executadas e o tempo que cada uma demoraria para ser executada. O objetivo de Taylor era melhorar a qualidade dos produtos, reduzir custos de produção e aumentar a produtividade. Este estudo contribuiu para o entendimento da fadiga humana, o desenvolvimento da especialização e a divisão do trabalho. 12 Um aspecto interessante que Taylor defendia era o máximo de prosperidade para patrões e empregados. Afinal, empregados com bons salários também seriam consumidores. Henry Ford (1863-1947) fundou a Ford Motors Co., e seu objetivo era popularizar o automóvel, promovendo sua produção em massa, o que ocorreu entre 1905 e 1910, com a aplicação do conceito de linha de montagem. Figura 5 Linhas de montagem atuais: evolução do processo produtivo instituído por Henry Ford no início do século XX. Crédito: © Traminoa | iStockphoto.com. Outro personagem importante na teoria clássica é o engenheiro francês Henri Fayol (1841-1925). Seu principal trabalho focava nos níveis organizacionais, o que gerou grandes contribuições para o campo da administração e da gestão. Acreditava que a boa administração dependia de melhor treinamento dos gestores. Para Fayol, a organização teve que exercer seis funções básicas: técnica, comercial, financeira, de segurança, contábil e administrativa. Além disso, definiu cinco atos administrativos: antecipar, organizar, comandar, coordenar e controlar, que se tornaram a base da administração. Acreditava-se que o homem típico descrito na teoria poderia ter uma boa produtividade se recebesse incentivos financeiros adequados, vigilância e treinamento constantes. O funcionário deveria ser recompensado pelo que produziu: a remuneração funcionaria como um incentivo para obter maior produtividade. Assim, a administração científica baseou-se no conceito do Homo Economicus. De acordo com este conceito, todas as pessoas são influenciadas por recompensas econômicas e materiais. O conceito do Homo Economicus não é uma invenção deste período; de fato, os economistas clássicos já o praticavam, pelo menos um século antes. 13 As mudanças tecnológicas e organizacionais que ocorreram no início do séculoXX produziram aumento da riqueza em diferentes níveis sociais, mas também problemas de saúde e psicológicos nos trabalhadores. A monotonia, a fadiga física e a rotina foram consequências negativas da divisão e da especialização do trabalho (FERREIRA, J.; 2011a). Figura 6 Revolução industrial: espaço fabril insalubre. Crédito: © okeyphotos | iStockphoto.com. Você percebe que, naquele período, a cultura tinha como base maior foco nos processos que nas pessoas e que o indivíduo era apenas uma peça na engrenagem? De olho 14 O aumento na produtividade, causando prejuízos físicos e psicológicos para os trabalhadores, passou a ser questionado. De acordo com Ferreira (2011B), para Elton Mayo (1880-1945) os problemas sociais e humanos resultantes da civilização industrial e urbana foram a desintegração social, deterioração física e psíquica do ser humano. Para Mayo, os conflitos surgidos nas organizações não deveriam ser ignorados, mas resolvidos por meio de ações preventivas definidas a partir de estudos científicos empíricos. Elton Mayo conduziu estudos sobre o comportamento dos indivíduos nos espaços de trabalho e demonstrou que um tratamento mais humano e respeitável aos empregados recompensaria a longo prazo. Mayo, apesar de ser o grande referencial na abordagem das relações humanas, sofreu muitas críticas, pois em suas experiências os funcionários sabiam que estavam sendo observados e, neste caso, não se tem garantia de que seu comportamento era genuíno. Apesar das críticas, a escola de relações humanas, por se opor ao pensamento da abordagem clássica, promoveu novas maneiras de pensar. O conceito de Homo Socialis é uma crítica ao de Homo Economicus. O homem social não pode ser reduzido a um modelo simples e mecanicista. Este homem é condicionado pelas demandas biológicas e pelo sistema social, e além disso, existem diferenças individuais que devem ser consideradas (MOTTA & VASCONCELOS, 2008, p. 54). O que acha de ver, ou rever, o filme Tempos modernos? Este filme, dirigido por Charlie Chaplin (1936), é um clássico. Nele podem ser observadas algumas características organizacionais daquele período, como: l a linha de montagem das fábricas instituiu o mesmo horário de chegada para todos os funcionários; l a ausência de algum funcionário na linha de montagem prejudicaria o fluxo de produção; l cultura de comando e controle presente em vários momentos; l rotina de movimentos repetitivos causavam exaustão; l a visão do homem econômico (Homo Economicus). Saiba mais 15 Os conceitos de “tempos e movimentos” e “comando e controle” não foram totalmente soterrados. Alguns desdobramentos aconteceram a partir da reformulação de ideias iniciais. Na sociedade brasileira a palavra burocracia revela uma carga muito negativa relacionada aos ambientes de serviço público e decorrente, na realidade, do excesso de processos, etapas e hierarquia. Mas, livrando-nos da carga negativa, vamos entender o que foi a abordagem burocrática. A abordagem burocrática pode ser definida a partir dos seguintes aspectos (KWASNICKA, 2003): l conjunto de regras – deveres, responsabilidades e autoridades claramente definidos para cada posição. O indivíduo em uma função assume o conjunto de atributos. l princípios de hierarquia – os cargos obedecem a uma hierarquia que é reconhecida pelo poder de comandar e pelo valor da remuneração. Nesse período, a organização muda o olhar sobre o indivíduo que produz, deixa de valorizar as necessidades econômicas. É o início do entendimento de que com o empregado feliz se obtêm cooperação e engajamento (ETZIONI, 1974). Nesse momento, a cultura pode ser descrita como mais humana, valorizando as relações entre os indivíduos. De olho Você assistiu ao filme Advogado do diabo? O ser humano constrói relações e pode perdê-las dependendo de seus comportamentos e do que o influencia e, principalmente, do que deseja sem limites. Advogado do diabo é um filme de 1997, dirigido por Taylor Hackford, que aborda as consequências das escolhas de um indivíduo que fica inebriado pelo poder. Saiba mais 16 Você percebe, nesta abordagem, que outra característica é acrescentada à cultura organizacional: a competição interna passa a ser mais acirrada, já que é necessário comprovar o mérito pessoal. l competência profissional – cada tarefa corresponde a um tipo de competência, que pode ser treinada. A ascensão aos cargos mais elevados ocorre com base na capacidade. l conhecimento técnico – regras que definem o sistema social em que o indivíduo está inserido e que determinam o desempenho na função. Um de seus teóricos foi Max Weber (1864-1920), sociólogo que estudou a organização e definiu a administração como um sistema burocrático e preocupou-se “como controlar os participantes, a fim de elevar ao máximo a eficiência e a competência, e reduzir ao mínimo a infelicidade provocada por essa necessidade de controle” (ETZIONI, 1974, p. 81). Figura 7 Sistema burocrático: o mérito pessoal reconhecido. Crédito: © fizkes | iStockphoto.com. O modelo burocrático incentivou a meritocracia nas organizações (Figura 7), um sistema que potencializa a competência técnica das pessoas, na qual é necessário comprovar o mérito pessoal. De olho 17 Essa competição interna é incentivada por muitas organizações, que acreditam que este comportamento elevará a produtividade da empresa. Porém, em alguns segmentos, o aumento da competição interna prejudica o trabalho em equipe e a organização perde mais do que ganha. A abordagem estruturalista surgiu no final da década de 1950, quando a organização passou a ser vista como uma unidade social complexa na qual acontecem interações de vários grupos sociais. Além disso, outros tipos de organizações começaram a ser estudados, como hospitais, escolas, penitenciárias, a igreja, o exército e vários serviços de assistência social, com o objetivo de ter um entendimento mais amplo. Até então o foco principal eram os ambientes de fábricas (ETZIONI, 1974). Chester Barnard (1886-1961) foi um dos primeiros a estudar o processo decisório, as relações entre as organizações formais e informais e o papel do executivo. Para Barnard, o homem é um ser social que interage com outros companheiros e essa interação social também acontece na organização. Ele vai além dos conceitos de homem econômico (Homo economicus) e homem social (Homo socialis). Descobriu o homem organizacional. (KWASNICKA, 2003). De acordo com Motta e Vasconcelos (2008, p. 149), “o homem organizacional é um ser que age racionalmente (o que não significa conscientemente) com a intenção de alcançar seus objetivos e interesses” e precisa ser flexível, resistente à frustração, ter o desejo permanente de realização e a capacidade de tolerar o adiamento de recompensas esperadas. Você sabe o que é meritocracia? Você pode ser avaliado tendo a meritocracia como base. No artigo de Natasha Caminha, meritocracia é definida como um método para identificar os melhores talentos e recompensá-los pelo trabalho desenvolvido. CAMINHA, Natasha. Meritocracia: o que é e como praticar de forma inovadora. Publicado em 05/07/2018. Disponível em: https://www.edools.com/meritocracia/. Acesso em: 22/02/2019. Sugerimos também a leitura de: CORREA, Cristiane. Sonho Grande. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. Importante 18 A abordagem comportamental tem como foco restritivo o homem dentro das organizações em três níveis: como indivíduo, grupo e complexo organizacional. O homem deixou de ser considerado uma máquina para ser aquele que domina a máquina com sua inteligência e raciocínio (KWASNICKA, 2003). Fazem parte dessa abordagem teorias bem conhecidas sobre motivação, como as de Frederick Herzberg, Douglas Mac Gregor e Abraham Maslow. Cada uma dessas teorias apresenta uma perspectiva diferente para a motivação, algumas se contrapôem e outras se complementam. Essas teorias serão discutidas ainda nesta unidade. A abordagem comportamentalpromove o aprofundamento de questões levantadas na abordagem das relações humanas, se opondo à escola clássica, o que se reflete na cultura a partir do ponto de vista escolhido pela própria organização, o que ela acredita que pode motivar ou não o seu colaborador. Se essas relações existem e acontecem criando determinados aspectos de uma cultura na organização, isto não pode ocorrer de forma aleatória, deve ser orientado pela própria organização em sua cultura. De olho Você percebeu que no início desta seção utilizou-se o termo empregado, depois funcionário e agora colaborador? A escolha da denominação também evoluiu e depende de como a organização entende o indivíduo que produz e como quer que ele se posicione. Essa escolha faz parte da cultura que a organização definiu. De olho 19 A abordagem de sistemas apresenta uma visão orgânica da organização considerando três aspectos importantes de um sistema: l os elementos comuns que compõem um sistema; l o todo que pode ser formado com esses elementos; l a relação existente entre eles. A teoria dos sistemas surge com Ludwig von Bertalanffy (1901-1972) e Kenneth Boulding (1910-1993), biólogo e economista, respectivamente. Suas influências são divulgadas em várias ciências, chegando até mesmo à administração. Podemos destacar também o pensamento do sociólogo Herbert Spencer (1829-1903), com a sua visão organicista da sociedade, a qual foi formulada a partir de analogias entre os organismos vivos e o processo de socialização de indivíduos e grupos na sociedade. De acordo com o sociólogo, sociedades humanas evoluem das formas sociais mais simples às mais complexas e da homogeneidade à heterogeneidade (FERREIRA J, 2011b). Talcott Parsons (1902-1979) foi considerado um precursor da teoria dos sistemas por ter uma preocupação global constante. Para Parsons, há uma relação básica que precisa ser considerada entre a organização e um sistema maior. Por um lado, a organização é um sistema social que pode ser analisado em suas propriedades essenciais como qualquer sistema social. Por outro, é também um subsistema funcionalmente diferenciado de um sistema maior, embora mutuamente dependente (WAHRLICH, 1971). Também existem várias formas de interagir com o indivíduo, em seus vários papéis: cliente, concorrente, fornecedor, governo etc. Nesta perspectiva, a organização pode ser entendida como “um sistema de conjunto de papéis, por meio do qual as pessoas permanecem interligadas [...] Um indivíduo exerce certas ações para se relacionar com os outros. Tais ações compõem o comportamento do papel” (PRESTES MOTTA, 1971, p. 24). Na abordagem de sistemas surge o conceito do homem funcional. Como conclusão, na Tabela 1 é apresentada a evolução, ao longo do tempo, da percepção organizacional sobre quem é o trabalhador e o que pode motivá-lo. A compreensão das motivações humanas não apenas mudou, como continua em processo. Por esta razão, é necessária uma análise crítica e contínua sobre este tema. Na Tabela 1, por um resumo de cada época da administração, é possível observar as diferentes percepções de quem é o indivíduo e qual é a sua motivação para a organização, a partir do entendimento de que ações foram usadas para incentivá-lo. 20 Tabela 1 OperaSíntese das principais abordagens da administração e dos elementos considerados motivadores Abordagem Visão sobre o objetivo do indivíduo Ações para aumentar a motivação Clássico • Administração científica Operador (ênfase na tarefa) Homem econômico Pagamento por peças produzidas, prêmio, salários mais altos, menor número de horas de trabalho. Remuneração justa para garantir a satisfação dos funcionários• Teoria clássica Operador/administrador (ênfase na estrutura) Homem econômico Relações humanas Operador/burocratas (ênfase na pessoa) Homem social Recompensas sociais e simbólicas. Comportamental Operador/burocratas (ênfase na pessoa) Homem social Ações a partir do que o funcionário quer, integrando as necessidades do funcionário e da organização. Burocrático Burocratas/administrador (ênfase na estrutura) Homem administrativo ou organizacional Coerção e uso da autoridade. Imposição de normas impessoais, exaustivas e escritas. Meritocracia. Estruturalista Operador/burocratas/administrador (ênfase na estrutura) Homem administrativo ou organizacional Identificação entre a organização e aqueles que recebem as recompensas. Sistemas Todos os níveis, funções e posições do sistema (ênfase no ambiente) Homem funcional Motivação variável da realização dos objetivos Fonte: Tradução de SILVA (2017, p. 98.) O fato de o pensamento ter evoluído não significa que todas as organizações estão em um estágio atual com o máximo de desenvolvimento incorporando todos os saberes. Percebe- se que várias organizações ainda estão implantando uma cultura coerente com princípios da administração clássica. E qual a relação da cultura organizacional e a motivação? Afinal, o que é motivação? Acompanhe-nos na próxima seção. 1.2.2 O que é motivação Como discutido na seção anterior, a preocupação com a produtividade é o foco das organizações desde a Revolução Industrial. Iniciou-se a busca por compreender as características, atitudes, condutas, habilidades, valores e motivações dos indivíduos para que as organizações pudessem atuar a fim de melhorar os resultados. Existem diversos pontos de vista para a análise da motivação, como veremos ao entender as diversas teorias, mas primeiro precisa-se entender o seu conceito. 21 A palavra “motivação” deriva do latim movere, que significa mover, exprimindo o sentido de movimento, algo que coloca o indivíduo em ação. Pode ser entendida como uma força que impulsiona em uma direção e que, para muitos, nasce de nossas necessidades interiores, e está, usualmente, associada a forças psicológicas, desejos, impulsos e necessidades (VERGARA, 2003; BERGAMINI, 1997). A motivação varia para cada indivíduo ao longo do tempo e de acordo com a situação que está vivendo, o que torna muito difícil a atuação da organização. Além disso, as pessoas demonstram interesses diversos. Elas “não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões” (BERGAMINI, 1990); diferentes aspectos influenciam os indivíduos, como genética, experiências anteriores e planos para o futuro. A motivação é o ”motivo para a ação” de cada um e pode conduzir o indivíduo a ver e lidar com relações e problemas de maneiras diferentes. Cada pessoa tem o seu modelo mental específico construído a partir das experiências anteriores e que a levará a um determinado tipo de ação. Quando uma organização constrói sua cultura, espera modelar um comportamento no trabalho e idealmente um modelo mental adequado à imagem que quer passar daquela organização (Figura 8). Sempre existem motivos, racionais ou não, para um determinado tipo de comportamento e, muitas vezes, os indivíduos constroem, também racionalmente ou não, justificativas para determinada ação ou decisão. Você já ouviu falar que alguém quer motivar outro indivíduo a fazer alguma coisa? Pois é, essa é uma grande discussão, já que muitos teóricos do tema defendem que a motivação é interna e que não podemos motivar alguém a algo. O que é possível é incentivar uma reação do outro. O que você acha? Para refletir 22 Figura 8 As organizações investem em programas motivacionais e em melhoria do clima. Crédito: © PeopleImages | iStockphoto.com. Após alguns conceitos básicos sobre motivação, voltemos a refletir se conseguimos ou não motivar outra pessoa. Você chegou a alguma conclusão? Os estudiosos sobre o tema dividem-se em dois grupos: l O primeiro se refere a “motivar o indivíduo”, assumindo que a motivação é um elemento externo que pode levar a uma ação interna. l O segundo grupo argumenta que uma motivação não pode ser produzida externamente de maneira duradoura, uma vez que é interna e única em cada indivíduo. Os incentivos externos só funcionam quando pontos específicosde motivação interna são realmente alcançados. Para alguns autores, como Bergamini (1990a), temos os dois efeitos, mas como são de naturezas diferentes, geram efeitos diferentes. No primeiro caso, a ação produzida cessa quando o incentivo desaparece, e no segundo caso, a pessoa age por si mesma e pelo tempo necessário para a sua necessidade interior ser satisfeita. Você concorda com isso? Muitas vezes as organizações optam por incentivos padrões para aumentar o engajamento de seus funcionários e estimular algum tipo de ação. O grande problema é que se a organização interromper o incentivo, isto é percebido como uma punição e, para isso, também existe uma reação. Assim, as organizações de todos os tipos devem tomar cuidado com os planos de incentivo que podem prejudicar o processo que pretendem melhorar (KOHN, 1995). 23 Outra questão a ser considerada é que o elemento motivacional é dinâmico, isto é, quando uma necessidade é sanada, a atenção do indivíduo se dirige a outro objetivo, gerando nova necessidade. O ser humano nunca está satisfeito. Assim, elementos que o atraíram a uma empresa podem não o manter lá. Por exemplo, mesmo sendo estimulado por um salário alto, o indivíduo pode optar por deixar a empresa devido ao clima organizacional dela. Um processo de recompensa e reconhecimento, mesmo quando realizado a partir de uma avaliação considerada justa pela empresa, ao mesmo tempo que incentiva um funcionário, pode desmotivar outro, que pode considerar-se injustiçado no processo. A competição e a percepção de ganhar e perder está enraizada no ser humano. Em casos como esse, a empresa pode perder a médio prazo. Na prática Atrair e manter talentos são tarefas diferentes, sendo o segundo considerado mais difícil que o primeiro, pois é necessário um esforço contínuo de líderes com sensibilidade interpessoal para conhecer as expectativas do liderado e ajudá-lo a alcançá-las. Importante 1.2.3 Principais teorias sobre a motivação A motivação é tema de estudo de diversas áreas da psicologia (individual, social, econômica etc.), sociologia e administração, possibilitando sua análise a partir de pontos de vista, muitas vezes, complementares. Esta seção discutirá teorias da motivação. Robbins (2007, p. 48) organiza teorias em antigas e contemporâneas. Começaremos com as consideradas antigas que serviram de base para as mais modernas e ainda são citadas por alguns executivos quando se referem ao processo de motivação de suas equipes de trabalho. São elas: a teoria da hierarquia das necessidades, as teorias X e Y e a teoria dos dois fatores. A seguir serão analisadas 24 as teorias consideradas modernas: a teoria das necessidades socialmente adquiridas de McClelland, a teoria do estabelecimento de objetivos, a teoria do reforço, a teoria da equidade e a teoria das expectativas. Por fim, será apresentada a teoria Motivação 3.0, que é uma das mais atuais. Teoria da hierarquia das necessidades (Abraham H. Maslow) Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo norte-americano, influenciado pelas leituras de Freud, Jung e Pavlov, que se tornou conhecido por sua Teoria da hierarquia das necessidades, sendo citado até hoje, comumente representado por uma pirâmide. De acordo com esta teoria, cada ser humano tem cinco tipos de necessidades hierárquicas. Quando cada nível de necessidades é atendido, o indivíduo passa automaticamente para o próximo, que se torna a necessidade dominante (ROBBINS, 2007, p. 46). As necessidades consideradas são: fisiológicas, de segurança, sociais, de reconhecimento e de autorrealização (Figura 9). Fisiológicas: fome, sede, abrigo, sexo e outras necessidades corporais Segurança: segurança e proteção contra danos �sicos e emocionais Sociais: afeto, sen�mento de pertença a um grupo, aceitação, amizade Autorrealização: a intenção de transformar em tudo o que é capaz de ser. Inclui o crescimento, a conquista do potencial pessoal e o autodesenvolvimento. Reconhecimento ou es�ma: fatores internos (autorrespeito, autonomia e realização) e fatores externos (status, reconhecimento e atenção) Figura 9 Pirâmide de Maslow. Crédito: © imassimo82 | iStockphoto.com. Vecchio (2000) acredita que o a maioria das empresas realiza um bom trabalho de satisfação das necessidades por deficiência, mas nem sempre conseguem obter bons resultados nas necessidades de ser. Embora, para Maslow, é dever do chefe (gerente) criar a base para o funcionário desenvolver seus potenciais ao máximo. 25 Na Tabela 2 percebe-se como a organização pode atuar em relação a cada uma das necessidades propostas por Maslow. Tabela 2 Atuação das organizações em relação às necessidades dos indivíduos Necessidades Ação da empresa Autorrealização Promover o interesse do empregado em se comprometer com o trabalho de modo que o trabalho se torne uma das principais dimensões de expressão deste empregado De estima Criar cargos que possibilitem realização, autonomia, responsabilidade e controle pessoal. Valorização da identidade pessoal. Reconhecimento do bom desempenho Sociais Promover a interação dos colegas. Realizar atividades sociais e esportivas De segurança Oferecer planos de saúde e aposentadoria, segurança no emprego e plano de carreira Fisiológicas Oferecer salários, benefícios e condições agradáveis de trabalho Fonte: Adaptada de CAVALCANTI et al. (2005). Essa teoria, até hoje, recebe muitas críticas e defesas. As críticas referem-se, principalmente, à questão da “hierarquia”, isto é, o indivíduo necessariamente inicia suas necessidades da base da pirâmide, e quando tal necessidade está satisfeita passa para a imediatamente superior. Em nossa sociedade, percebe-se, por exemplo, que a busca por reconhecimento e status pode ser mais forte do que a busca por afeto, o que faz o indivíduo “pular” um nível. Teorias X e Y (Douglas McGregor) Douglas McGregor (1906-1964), contemporâneo de Maslow, foi um psicólogo social especializado em comportamento humano e tornou-se conhecido pelas Teorias X (gestão autoritária) e Y (gestão participativa) criadas em 1960. Essas teorias são consideradas pressuposições assumidas pelo gerente na definição de seu estilo de gestão. Na Teoria X, as premissas assumidas pelos executivos são: l os trabalhadores, por natureza, não gostam de trabalhar e tendem a evitá-lo; l como os trabalhadores não gostam de trabalhar, eles precisam ser obrigados, controlados ou ameaçados com penalidades para alcançarem o objetivo (Figura 10); l os trabalhadores evitam responsabilidades e procuram orientação formal sempre que podem; l a maioria dos trabalhadores coloca a segurança acima de todos os fatores e demonstra pouca ambição. 26 Figura 10 A Teoria X considera que o ser humano não gosta de trabalhar, por isso é necessário o controle. Crédito: © AntonioGuillem | iStockphoto.com. Na Teoria Y, as premissas assumidas pelos executivos são (Figura 11): l Os indivíduos podem considerar o trabalho algo natural, como descansar ou se divertir. l Os trabalhadores estão comprometidos com os seus objetivos e demonstram auto-orientação e autocontrole. l Os trabalhadores podem aprender a aceitar e, até mesmo, buscar responsabilidades. l Qualquer pessoa pode ter a capacidade de tomar decisões inovadoras, não sendo um privilégio daqueles em posições hierárquicas mais elevadas. Figura 11 Na teoria Y, os indivíduos consideram o trabalho algo natural e até buscam responsabilidades. Crédito: © StockRocket | iStockphoto.com. 27 A comparação das Teorias X e Y com a hierarquia das necessidades mostra que a Teoria X assume que as necessidades de nível inferior dominam os indivíduos, e a Teoria Y assume que as necessidades de alto nível dominam (ROBBINS, 2007). Para Maslow (2007, p. 48), McGregor acreditava que o “bom desempenho da empresa é proporcional ao seu sucesso no que diz respeito ao libertar ou ao potencial humano”. Teoria dos dois fatores (Frederick Herzberg) O norte-americano FrederickHerzberg (1923-2000) tornou-se um dos psicólogos mais influentes na gestão de negócios e foi responsável pela teoria dos dois fatores, também conhecida como a teoria da motivação e da higiene. Para o autor, o enriquecimento do trabalho é necessário para a motivação intrínseca, portanto, para Herzberg: l O trabalho deve ser desafiador o suficiente para exigir a capacidade total do empregado. l Os funcionários que demonstrarem níveis crescentes de capacidade devem receber maiores níveis de responsabilidade. l Se um trabalho não pode ser projetado para usar as habilidades completas de um funcionário, então a empresa deve considerar automatizar a tarefa ou substituir o funcionário por outro com nível inferior de habilidade. Se uma pessoa não pode ser plenamente utilizada, um problema motivacional provavelmente surgirá em breve. A teoria dos dois fatores foi consolidada a partir de uma pesquisa feita com 203 profissionais (engenheiros e contadores) para avaliar quais fatores produzem o sentimento de satisfação ou insatisfação com o conteúdo e o contexto da posição (VECCHIO, 2000). Os fatores motivacionais são aqueles que causam satisfação no trabalho e estão relacionados ao próprio trabalho; os fatores higiênicos são os que causam insatisfação e são externos à atividade, mas relacionados ao contexto e às condições de trabalho (Tabela 3). Tabela 3 Fatores motivacionais e higiênicos Fatores higiênicos Fatores motivacionais Qualidade da supervisão Remuneração Políticas da organização Condições físicas do trabalho Relacionamento com colegas Segurança no emprego Oportunidades de promoção Oportunidade de crescimento pessoal Reconhecimento Responsabilidade Realização Crédito: Adaptado de ROBBINS (2007, p. 49). Para Herzberg, as críticas recebidas são consequência de não serem consideradas as variáveis situacionais e uma escala de satisfação. Além disso, a pesquisa se refere à satisfação e gera impacto na produtividade, tema que não foi abordado na pesquisa. 28 Teoria das necessidades socialmente adquiridas (David McClelland) O psicólogo americano David McClelland (1971-1998) e sua equipe foram responsáveis pela teoria das necessidades socialmente adquiridas, que propõe três razões ou necessidades de trabalho, como apresentado na Tabela 4 (ROBBINS, 2007, p. 50-52). Tabela 4 Necessidades definidas na teoria de McClelland Necessidade de realização Busca da excelência, a ser realizada em relação a certos padrões com o objetivo de obter sucesso. Trata-se de uma necessidade relacionada com a autoestima e a realização. Os indivíduos buscam melhorar seu desempenho, desenvolver a capacidade de solucionar problemas – preferem trabalhar com problemas desafiadores e não gostam de situações que estão fora de controle Necessidade de poder Necessidade de obrigar as pessoas a se comportarem de uma forma que não é coerente com seu próprio comportamento; está ligada à necessidade de status e prestígio. Os indivíduos gostam de estar no comando e preferem situações competitivas Necessidade de associação Desejo de relações interpessoais próximas e amigáveis. Corresponde à necessidade de afeto apresentada por Maslow. Os indivíduos buscam amizade e relacionamento com um alto grau de compreensão mútua, bem como preferem situações de cooperação à competição. Crédito: Adaptado de ROBBINS (2007, p. 50-2). Para McClelland, essas necessidades são socialmente adquiridas e não há hierarquia, ou seja, não é imperativo que uma dessas necessidades seja satisfeita para passar para a próxima. Cada indivíduo tem uma tendência dominante a uma necessidade, a partir de sua história e experiências-família, religião, escola, cultura (CAVALCANTI et al, 2005). A partir dessa identificação, o funcionário deve ser incentivado de acordo com suas necessidades (Tabela 5). Tabela 5 Orientação dos funcionários e estímulos correspondentes Tendência dos funcionários Estímulos correspondentes Necessidade de realização Trabalhar com pessoas tecnicamente capacitadas, receber avaliações detalhadas de seus superiores, reconhecimento de superação de desafios e busca da excelência Necessidade de poder Buscar se destacar na organização e assumir riscos Necessidade de associação Reconhecimento por atitudes de cooperação, valorizando o trabalho entre amigos. Crédito: Adaptado de DAVIS e NEWSTROM (1992, apud CAVALCANTI et al., 2005, p. 92-3). Teoria do estabelecimento de objetivos Edwin A. Locke (1938), psicólogo norte-americano, pioneiro nas pesquisas sobre estabelecimento de objetivos e motivação desde 1960, afirma que o desempenho dos funcionários é melhor quando atrelado ao cumprimento de metas. A base está na existência simultânea de dois fatores: “valores” (importância atribuída pela pessoa ao objetivo) e “objetivos” (objetivo desejado) (PEREZ-RAMOS, 1990). 29 O processo para o indivíduo alcançar as metas estabelecidas começa com a identificação de seus valores (desejos), que impacta nas metas definidas (intenções), produzindo ações (desempenho) e finalmente resultados (satisfação). Não podemos ignorar a necessidade de feedback, como reforço, para realimentar o processo (Figura 12). Figura 12 Esquema do processo para o indivíduo alcançar suas metas. Crédito: Adaptado de PEREZ-RAMOS (1990). Os objetivos mais difíceis de alcançar podem gerar maior desempenho, desde que o funcionário os aceite. Isso acontecerá se os objetivos forem reconhecidos como algo: l possível de alcançar; l de acordo com os seus valores; l que faz sentido; l desafiador. Além disso, o funcionário deve ser capaz de monitorar seu progresso em relação aos objetivos estabelecidos. Teoria do reforço A teoria do reforço considera que o condicionamento de um comportamento se dá pelo reforço, seja positivo ou negativo. Essa teoria pode ser considerada uma variação da Lei do Efeito de Thorndike (1874-1949), segundo a qual a recompensa ou o resultado favorável como resposta imediata de uma atividade executada reforça de maneira direta e automática a conexão entre a resposta e a situação. O mesmo ocorre, de maneira inversa, com a punição a um resultado desfavorável. Teoria da equidade (J. Stacy Adams) A teoria da equidade considera que a motivação depende da percepção do indivíduo em relação ao que ele oferece à organização (suas contribuições, desempenho, responsabilidades etc.) e o que recebe dela (remuneração, salário, reconhecimento, status etc.). A percepção da injustiça leva o indivíduo a reduzir suas contribuições (Figura 13) e, em casos mais sérios, a se desligar da organização. Se, por outro lado, for recompensado 30 além do que merece em sua percepção, ele tende a aumentar o nível de desempenho, ou seja, a percepção da injustiça leva o funcionário a agir a fim de reduzir a distorção (PEREZ- RAMOS, 1990; ROBBINS, 2001, p. 53-5). Em um trabalho de grupo, a percepção do desequilíbrio conduz os indivíduos que teriam um desempenho mais elevado em trabalhos individuais a diminuir seu esforço. Esse fenômeno é conhecido como ociosidade social (CAVALCANTI et al, 2005, p. 98). Segundo Cantisano e Descals (2005, p. 137-8), Lynd e Tyler estudaram dois modelos de justiça na organização: o modelo de interesse próprio e o modelo de valores de grupo. Esta teoria é derivada da psicologia social e propõe um modelo com base nas relações sociais e no desejo de pertencimento em um grupo social. Figura 13 A percepção da injustiça na organização pode levar o indivíduo a diminuir seus esforços, isto é, o desmotiva. Crédito: © SIphotography | iStockphoto.com. A teoria da equidade aponta para a divergência entre o que o indivíduo percebe de seu próprio desempenho e como esse esforço é percebido pela organização. Teoria da expectativa (Victor Vroom) Considerada uma das teorias motivacionais mais abrangentes, tem como principal referência, o professor Victor Vroom (1932), apesar de os primeiros estudos serem realizados por Tolman (1932). Esta teoria abrange três aspectos:valência (ou valor), instrumentalidade e expectativa, o que a levou a ser também conhecida como teoria VIE (PEREZ-RAMOS, 1990): l valência – força de atração ou repulsão sentida ou percebida; l instrumentalidade – relação causal entre os resultados desejados e o potencial de desempenho; l expectativa – representação prévia da decisão a ser tomada. 31 Para PEREZ-RAMOS (1990), “se uma pessoa pensa que tem possibilidade de executar uma determinada tarefa (Instrumentalidade) e que sua efetiva realização poderá levá- la a alcançar uma meta desejada (Expectância), à qual atribui grande valor (Valência), podemos afirmar que essa pessoa está altamente motivada”. Desse modo, esses fatores relacionam-se com a atitude de cada um, bem como com seu desempenho pessoal e sua satisfação com o trabalho. A percepção negativa demonstra problemas de adaptação no trabalho, que podem ser percebidos por um alto índice de falhas, rotatividade, mau desempenho e acidentes, entre outros. Motivação 3.0 Para Daniel Pink (2010), que desenvolveu a teoria da motivação 3.0, a motivação humana evoluiu da seguinte maneira: l motivação 1.0 – resposta a estímulos biológicos; l motivação 2.0 – seu estudo sistemático começa com a revolução industrial; valorizava- se a vida em sociedade, buscava-se recompensas e evitava-se punição. Era da conformidade e da obediência; l motivação 3.0 – surge como resposta às mudanças do mundo no século XXI e considera que o sistema operacional da motivação é alimentado de dois modos: por desejos extrínsecos (tipo X) e por desejos intrínsecos (tipo Y). Era do empenho, e apenas ele pode produzir a excelência. A motivação extrínseca (recompensas e punições) pode desencadear falhas graves, como lista Pink (2010, p. 51): l Extinguem a motivação intrínseca; l Prejudicam o desempenho; l Embotam a criatividade; l Afetam o bom comportamento; l Estimulam a trapaça, os atalhos e o comportamento antiético; l Tornam-se viciantes; l Alimentam o raciocínio de curto prazo. Os desejos intrínsecos estão ligados a maior bem-estar físico e mental, além de gerarem melhor desempenho e estarem relacionados a três elementos de comportamento e motivação mais profunda, que são considerados por Pink como necessidades psicológicas inatas. São eles: l autonomia – sobre a tarefa, o tempo, a equipe e a técnica; l excelência – tornar-se melhor em algo relevante; l propósito – uma causa maior que nós mesmos. 32 Assim, cabe à organização criar as condições necessárias para que o indivíduo faça o melhor trabalho. Esse perfil de motivação, como pode ser percebido, exige uma cultura muito flexível e maturidade dos indivíduos que compõem a organização. Podendo chegar de maneira mais radical a ambientes de trabalho focados apenas no resultado, em que a única obrigação do funcionário é fazer o seu trabalho, como, onde e no horário que preferir. Você já assistiu às palestras do TED na internet? Uma que gosto muito é a de Daniel Pink sobre motivação. Disponível em: https://www.ted.com/talks/dan_pink_on_ motivation?language=pt-br Saiba mais Conclui-se que as diversas teorias, antigas ou modernas, apresentam aspectos específicos e pontos de vista diferentes e, além disso, respondem a uma época e ao ambiente em que foram concebidas. Em alguns casos, é possível perceber a evolução, a integração ou a coexistência de mais de uma teoria, e até mesmo sua complementaridade. 1.3 Visões Contemporâneas Atualmente as organizações se preocupam com mudanças rápidas e abrangentes, tanto tecnológicas quanto comportamentais (Figura 14). Ouve-se, frequentemente, que resultados de pesquisas indicam que em um determinado período muitas profissões desaparecerão e outras surgirão. 33 Figura 14 A evolução tecnológica altera não só a forma do trabalho, mas também as relações entre as pessoas e as habilidades necessárias para sobreviver no novo mercado. Crédito: © gorodenkoff| iStockphoto.com. As tecnologias disruptivas mudaram o modo das pessoas se relacionarem com seu trabalho. Os smartphones, que estão nas mãos de todos nós, tornam possível o teletrabalho contínuo; por outro lado a demanda por qualidade de vida também aumentou muito nas novas gerações, e as organizações se adaptaram à nova realidade. Como estão sendo abordadas as visões contemporâneas, nossas principais fontes são jornais e revistas. Veja alguns links disponibilizados sobre o assunto e pesquise outros artigos. PATI, Camila. Estas profissões podem acabar até 2030 (ao menos para os humanos). Publicado em 21 dez 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/ estas-profissoes-podem-acabar-ate-2030-ao-menos-para-os-humanos/. Acesso em: 10/02/2019. DINIZ, Ana e VANINI, Eduardo. Consultoria lista profissões que devem sumir do mapa em 2025. Publicado em 18/09/2016. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ economia/consultoria-lista-profissoes-que-devem-sumir-do-mapa-em-2025-20132143. Acesso em: 10/02/2019. Saiba mais 34 Também tem sido motivo de notícias constantes pesquisas que relacionam as habilidades necessárias para viver neste mundo conectado. Até determinado momento a inclusão digital (usar a tecnologia disponível) era a receita de sucesso, mas já se percebeu que isso não é suficiente. Nesse contexto de incertezas, algumas habilidades necessárias à sobrevivência no mercado de trabalho se destacam, como listado na Tabela 6. Tabela 6 Habilidades essenciais no mercado atual Capacidade de se adaptar ao negócio Habilidade de antever cenários, analisando problemas e propondo soluções Disposição para aprender constantemente Perfil mais crítico e inovador Habilidade para atuar em diversos subsistemas e com várias expertises Atuação mais generalista, permeando várias áreas do conhecimento Crédito: APRENDI NO SENAC. Essas habilidades serão necessárias em organizações as quais sua cultura seja adaptável às alterações do mercado flexível e privilegie o job rotation (movimentação do funcionário pelas diversas áreas da empresa). Você percebe como a definição das habilidades necessárias pode mudar em função do que a organização quer ser e quer de seus colaboradores? Assim, podemos nos arriscar a dizer que disposição para aprender e se adaptar pode ser realmente a habilidade básica para qualquer tipo de funcionário em qualquer organização. O tema das novas habilidades para o mercado de trabalho também tem sido constante nos meios de comunicação. Para mais detalhes, acessar os links a seguir. APRENDI NO SENAC. 6 habilidades essenciais no mercado de trabalho atual. Publicado s/d. Disponível em: http://www.aprendinosenac.com.br/6-habilidades- essenciais-no-mercado-de-trabalho-atual/. Acesso em: 16/02/2019. PATI, Camila. 10 competências que todo profissional vai precisar até 2020. Publicado em 22/01/2016. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/10-competencias- que-todo-professional-vai-precisar-ate-2020/. Acesso em: 16/02/2019. Saiba mais 35 Outra questão que tem impactado os indivíduos e as organizações é o “fim do emprego”. O tema vem sendo discutido desde o final da década de 1990 e pode-se considerar o pontapé inicial para essa discussão o lançamento do livro Job Shift (publicado em português como Mudança nas relações de trabalho, 1995) que já abordava o trabalho fora do local convencional (Figura 15), a necessidade de ter uma mentalidade de fornecedor e, por fim, a importância de pensar em si mesmos como uma unidade de negócio. Algumas empresas já incentivam e buscam este modelo mental. Figura 15 Na tendência atual de mercado, o trabalho pode ser realizado em qualquer lugar. Crédito: © Drazen_ | iStockphoto.com. EDUCA MAIS. Sete habilidades que o mercado de trabalho demanda dos profissionais hoje. Publicado em 30/04/18. Disponível em: https://g1.globo.com/ especial-publicitario/educa-mais-brasil/estudar-para-transformar/noticia/sete- habilidades-que-o-mercado-de-trabalho-demanda-dos-profissionais-hoje.ghtml. Acessoem: 16/02/19. BREYDA, Barbara. 6 sites para aprender e desenvolver novas habilidades. Publicado em 7 de /02/2017. Disponível em: https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/6-sites- para-aprender-e-desenvolver-novas-habilidades/. Acesso em: 16/02/19. 36 Fala-se, então, em empreendedorismo. Você já pensou no que a palavra empreender significa? Atualmente, no discurso comum, de modo geral, significa possuir seu próprio negócio (Figura 16), acepção que não está no dicionário. Segundo o dicionário MICHAELIS on-line, empreender é: “1. Resolver-se a praticar (algo laborioso e difícil); tentar. Exemplo: Resolveram empreender aquela escalada perigosíssima. 2. Pôr em execução; fazer, realizar. Exemplo: Conseguiu finalmente empreender uma pesquisa acadêmica. Empreender uma viagem.” Crédito: MICHAELIS (2019). Figura 16 Empreendedorismo: colocar em prática uma ideia é empreender, não importa a idade e o contexto. Crédito: © D-Keine | iStockphoto.com. Muitas organizações incentivam na sua cultura o intraempreendedorismo, com a finalidade de que o funcionário coloque a mão na massa, realize, execute, tenha autonomia e iniciativa. Se essas características pertencerem ao funcionário, mas não à cultura da organização, provavelmente ele terá suas iniciativas bloqueadas, tornando-se frustrado, perdendo a motivação e a satisfação no trabalho. A disposição de aprender continuamente deve fazer parte também da cultura da organização, e nesse caso temos “organizações que aprendem” ou “organizações baseadas no conhecimento”, cujo conceito foi amplamente divulgado por Senge (2004, originalmente publicado em 1990). No prefácio escrito em 1997 para a edição brasileira, 37 Peter Senge (2004, p. 9-16) aborda alguns tópicos muito interessantes, já pensando em preparar as organizações para o “próximo milênio”, isto é, atualmente. São eles: l O gerenciamento com base em comando e controle estava se tornando obsoleto, a aprendizagem começava a assumir maior importância. l Todos, empresa e empregados, tinham que estar preparados para aprender e desaprender. l Os ativos humanos são cada vez mais a chave para a competitividade global; logo, não existe área de maior alavancagem em desenvolvimento de pessoas do que a educação de alta qualidade. Para esse resultado, a cultura organizacional deve se adaptar e evoluir, o que, segundo Senge, resulta de pessoas refletindo conjuntamente, da liderança pelo exemplo e do incentivo a esses comportamentos. Senge sugere para as organizações que aprendem o desenvolvimento de (Figura 17): l pensamento sistêmico – o contexto precisa ser entendido para o desenvolvimento de uma parte de forma coerente e produtiva; l domínio pessoal – as pessoas com alto nível de domínio pessoal buscam a proficiência e se comprometem com o próprio aprendizado ao longo da vida; l modelos mentais da empresa, seus mercados e concorrentes compartilhados pelas equipes são a base da aprendizagem institucional; l construção de uma visão compartilhada – reunir as pessoas em torno de uma identidade e um senso de destino comuns; l aprendizagem em equipe – começa com o diálogo e gera resultados extraordinários, como a ascensão dos seus integrantes com maior rapidez. Figura 17 A busca da melhoria contínua por meio dos cinco elementos de Senge afeta diretamente a aprendizagem da organização. Crédito: © marrio31 | iStockphoto.com. 38 Este é um caminho, um processo, que não termina. A organização e seus colaboradores estão em constante evolução. Quanto mais aprendemos, mais temos a consciência da ignorância. Este é o conceito de melhoria contínua. Atualmente, a cultura organizacional tem sido impactada também por conceitos de ”agilidade”. Segundo o dicionário Michaelis (2019) on-line, ágil é: “1. Que se movimenta com rapidez ou agilidade: Exemplo: “Firmo […] era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito […]” (AA1). 2. FIG Que tem raciocínio rápido; desembaraçado, ligeiro, perspicaz. 3. Que atua ou trabalha com eficiência; diligente.” É comum ouvir declarações sobre métodos ágeis e gestão ágil, com o sentido do que se move com facilidade, sem resistência, aceita as mudanças. Os chamados métodos ágeis têm princípios comuns, mas formas diferentes. Para serem implementados com sucesso os conceitos básicos devem compor a cultura da organização, e não apenas como passo a passo de criação e desenvolvimento de um produto. O ágil chega às organizações com trabalho cooperativo, sentido de equipe, ferramentas visuais, visão de agregar valor para o cliente e planejamento de ciclos mais curtos, embora mirando em uma meta a longo prazo (Figura 18). Figura 18 Em reuniões frequentes e rápidas, a equipe alinha o que deve ser feito e quem precisa de ajuda. Crédito: © Eva-Katalin | iStockphoto.com. Nos dias de hoje, há necessidade de mover-se com facilidade em virtude das mudanças cada vez mais frequentes; logo, não há como discurtir cultura organizacional sem abordar o tema da mudança organizacional, que está em alta. 39 1.4 Mudança Organizacional Cada vez mais se ouve que as organizações precisam inovar para sobreviver, e as escolas não estão fora desse grupo; muitas vezes são acusadas de não terem se reinventado durante o último século e nos últimos anos estão sendo pressionadas, recebendo demandas de novos espaços físicos e formatos de aula. Para exemplificar, podemos listar: espaço maker, “sala de aula invertida” e metodologia STEAM. Questiona-se também o novo papel do professor, que passaria a ser um facilitador do processo de aprendizagem do aluno, que mudou, está mais tecnológico e precisa desenvolver habilidades diferentes das necessárias no passado. As mudanças no mundo estão ocorrendo com maior frequência e amplitude, sejam tecnológicas ou comportamentais, e afetam as organizações, que precisam se ajustar a novos contextos. Mas como ocorre um processo de mudança? Kurt Lewin (1890-1947) foi um psicólogo germano-americano e um dos primeiros a pensar de forma estruturada nos processos de mudança. Ele propôs um modelo em três etapas. Sua reflexão parte de uma situação estável que não recebe novos elementos há algum tempo: está “congelada”. Quando algo novo surge, esta situação precisa ser “descongelada” e passar por um “movimento” para chegar a um novo formato, e logo depois “recongelar”, ganhando nova forma (Figura 19). Figura 19 Representação gráfica do processo de mudança considerando as três etapas de Lewin. Crédito: arquivo de Sônia Lopes Além disso, a cada período a alta administração de uma organização define novos objetivos estratégicos, de modo geral, visando ao crescimento, e para alcançá-los são desenvolvidos projetos que produzem mudanças no dia a dia dos colaboradores, fornecedores e clientes. Também devem ser consideradas mudanças geradas por situações de fusões e aquisições. 40 As mudanças podem ser acidentais ou intencionais. Quando intencionais, devem ser planejadas para que aumentem a possibilidade de sucesso em sua implementação. Neste planejamento, define-se a melhor maneira de executar a mudança: em pequenas doses, gerando uma mudança contínua, ou em iniciativas de grande porte e descontínuas. Mudanças descontínuas seguidas de períodos de consolidação longos e estagnação são comuns em organizações que não estão preparadas para mudanças (Figura 20). Figura 20 Mudança descontínua: iniciativas de grande porte seguidas de períodos longos de consolidação e estagnação. Crédito: Adaptado de BEER (2003, p. 127). Quando a organização constroi sua cultura de modo a se adaptar facilmente, prefere as mudanças incrementais e contínuas (Figura 21). Figura 21 Mudança incremental contínua. Mudanças contínuas e incrementais com períodos de consolidação pequenos não ocasionam a estagnação da organização. Crédito: Adaptado de BEER (2003, p. 127). 41 Processo de mudança em 8 etapas Um dos modelos mais divulgados para a gestão de mudança é o desenvolvido por John Kottere apresentado em seu livro Liderando Mudanças (2013). Os oito passos propostos podem ser agrupados em três grandes grupos. Inicialmente deve-se promover um clima para a mudança, na sequência deve-se engajar e capacitar a organização para depois implementar e sustentar a mudança (Figura 22). São eles: l Passo 1 - estabelecer um senso de urgência – é necessário começar o processo, entender o mercado e os concorrentes; identificar quem são os afetados pelo processo e qual a posição de cada um (contra ou a favor); entender as oportunidades e ameaças. l Passo 2 - criar uma coalizão administrativa – formar um grupo que trabalhe como time e que tenha autoridade para liderar a mudança. l Passo 3 - desenvolver uma visão estratégica – criar uma visão que ajude a alinhar os envolvidos e direcionar os esforços de mudança; desenvolver uma estratégia para concretizar esta mudança. l Passo 4 - comunicar a visão da mudança – usar os recursos e canais disponíveis para comunicar a visão da mudança e seus benefícios; o grupo de liderança deve modelar o comportamento esperado dos funcionários. l Passo 5 - dar poder para as pessoas agirem – eliminar obstáculos; identificar o que pode alterar e influenciar a adesão à visão da mudança definida pela liderança; encorajar funcionários a atuar dentro da nova visão. l Passo 6 - realizar conquistas a curto prazo – planejar melhorias visíveis para um curto período, de modo que os funcionários identifiquem os ganhos e benefícios decorrentes da mudança; reconhecer e recompensar os que tornaram as conquistas possíveis. l Passo 7 - consolidar ganhos e produção de mais mudanças – os ganhos aumentam a credibilidade do processo, o que ajuda a afastar sistemas, estruturas e políticas incoerentes com a mudança proposta; revigorar o processo de transformação com novos projetos e novos ganhos. l Passo 8 - estabelecer novos métodos na cultura – novos comportamentos e liderança mais forte devem aumentar a produtividade e o gerenciamento eficaz; os novos métodos e processos estabelecidos devem se sustentar ao longo do tempo e garantir a continuidade da mudança. 42 Figura 22 Oito passos do processo de liderança proposto por John Kotter. Adaptada de Kotter (2013). Crédito: © rikkyal | iStockphoto.com. O ser humano tem medo de mudar. Você observou que quando mostramos a imagem com as três etapas da mudança propostas por Kurt Lewin a dor estava presente? Em cada indivíduo, a dor pode se apresentar com características e intensidades diferentes, e depende também da resiliência de cada um para sair do processo. A sensação pode ser um incômodo com a mudança até a somatização em uma dor física. Uma representação comum inclui o que se chama de “vale do desespero” (Figura 23). Para refletir 43 O trabalho do gestor da mudança deve ter como foco diminuir o sofrimento do indivíduo no período de transição. A grande questão é que o ser humano tende a ser resistente ao que não conhece e esta característica tem que ser considerada nos processos de transição. Para que a mudança seja implementada com sucesso, precisa ser gerenciada de modo profissional considerando, além da parte técnica, as pessoas e seus sentimentos nela envolvidos. As resistências podem ser: l Abertas – o resistente declara que não acredita no processo e verbaliza o que acha que dará errado. l Implícitas – o resistente não declara seu pensamento abertamente para a liderança do processo, mas trabalha implicitamente para que o processo não vá adiante, seja individualmente ou influenciando seus pares. E ainda: l Imediatas – a resistência surge logo que a liderança apresenta o que vai mudar. l Proteladas – a resistência demora a surgir. Figura 23 Vale do desespero: no período de transição, descongelamento, movimento e recongelamento, o indivíduo é exposto às incertezas continuamente e, de maneira consciente ou não, passa por diversas emoções e estresse. 44 Para o gestor da mudança, a resistência que surge de imediato, de forma clara, é a mais bem conduzida pela oportunidade de estabelecer novas ações de esclarecimento complementares e, em alguns casos, ajustes no plano de implantação. Mesmo quando uma mudança é necessária, o sucesso de sua implementação não é garantido; existem fatores que funcionam como barreiras, como: l A equipe de gestão não está preparada para o processo de mudança. l A cultura da organização é avessa à mudança. l A resistência à mudança é comum e algumas pessoas chegam a adoecer fisicamente diante da perspectiva de enfrentar um processo de transformação. l Poucos recursos humanos e financeiros dedicados ao projeto. A resistência à mudança pode ser minimizada com ações como: l Melhorar a comunicação. l Engajar os colaboradores no processo. l Definir agentes de facilitação e apoio. l Mostrar os benefícios da mudança. l Criar recompensas pela aceitação à mudança. Antes de se estabelecer um processo de mudança, devemos realizar um diagnóstico da situação da organização e, analisado o impacto da mudança proposta, devemos ter conhecimento sobre a sensibilização dos envolvidos, o desenho de como a mudança será implantada, executada, e o monitoramento da mudança e acompanhamento da operação após sua implantação. Na última década, foram lançados inúmeros livros e artigos sobre mudança organizacional, existem diversas linhas de pensamento. Ficou curioso? Veja as publicações listadas a seguir: KOTTER, J. Liderando a mudança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. GONÇALVES, V.; CAMPOS, C. HCMBOK – o fator humano na liderança de projetos. 3.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. Saiba mais 45 A previsão é que no futuro os indivíduos precisem mudar muitas vezes ao longo da vida. A ciência nos permite viver cada vez mais. Com menos doenças, seremos produtivos por mais tempo. A tecnologia tende a continuar avançando e vamos migrar muitas vezes de organizações e passar por diversas profissões que ainda não existem ou por formas diferentes de exercer a mesma profissão. Adaptar-se ou morrer! As organizações e suas culturas também passaram e continuarão a passar por diversas formas de mudança. Assim, um senso crítico para conseguirmos nos posicionar, independente do que aconteça no contexto, sem uma receita pronta, é extremamente importante. Parágrafo de Conclusão da Unidade Nessa unidade passamos por conceitos gerais relacionados à cultura organizacional, pela evolução do pensamento administrativo e sua relação com a motivação, conceitos e teorias da motivação, além de visões contemporâneas que impactam a cultura e mudança organizacional. Como você deve ter percebido, a cultura da organização na qual você atua tem consequências em seus projetos e na sua forma de trabalhar. Esperamos que os aspectos abordados na Unidade 1 ajudem você a perceber algumas características do ambiente das diversas organizações em que você transita, melhorando seus resultados. SOARES, K. A transição na gestão de mudança: o que preciso mudar em mim para que o outro mude? São Paulo: Barany, 2013. Filmes, como Um violinista no telhado (1972, Diretor Norman Jewison) e Sociedade dos poetas mortos (1990, Diretor: Petr Weir) podem ser muito interessantes e tratam de situações de mudança. Sugerimos também Robôs (Direção: Chris Wedge, Carlos Saldanha, 2005). Nele você poderá observar a clara mudança na cultura da organização, dirigida inicialmente pelo Grande Soldador e que passa ao controle de Dom Aço. Você assistiu ao filme Vida de inseto (Direção: John Lasseter, Andrew Stanton, 1998)? Percebeu que ele aborda temas como trabalho em equipe, liderança, resistência a mudanças, inovação? Há uma cena muito interessante, em que é necessário mudar o caminho quando algo fora da programação acontece. Veja a cena do filme Vida de inseto, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=JlRDTD9dYvY. Acesso em: 16/02/2019. 46 APRENDI NO SENAC. 6 habilidades essenciais no mercado de trabalho atual. Publicados/d. Disponível em: http://www.aprendinosenac.com.br/6-habilidades-essenciais-no- mercado-de-trabalho-atual/. Acesso em: 16/02/2019. BEER, Mike (org). Gerenciando mudança e transição. Rio de Janeiro: Record, 2003. (Harvard Business Essencials). BERGAMINI, C. Motivação nas organizações. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1997. BERGAMINI, C. Motivação: mitos, crenças e mal-entendidos. RAE - Revista de Administração Pública, p. 23-34, abr./jun. de 1990. BRIDGES, William. Mudanças nas relações de trabalho. São Paulo: Makron Books, 1995. CAVALCANTI, V. et al. Liderança e motivação. Rio de Janeiro: FGV, 2005. ETZIONI, A. Organizações modernas. São Paulo: Livraria Pioneira, 1974. FERREIRA, J. A escola das relações humanas. In: J. FEREIRA, J. NEVES, A. CAETANO, Manual de psicossociologia das organizações (p. 33-55), Lisboa: Escolar, 2011a. FERREIRA, J. Teoria geral dos sistemas e abordagem sociotécnica. In: FERREIRA, J.; NEVES, A. C., Manual de psicossociologia das organizações (p. 57-87) Lisboa: Escolar, 2011b. GONÇALVES, V.; CAMPOS, C. HCMBOK – o fator humano na liderança de projetos. 3.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. JOHANN, Sílvio Luiz. Gestão da cultura corporativa: como as organizações de alto desempenho gerenciam sua cultura organizacional. São Paulo: Saraiva, 2005. KOHN, A. Por que os planos de incentivo não funcionam? RAE - Revista de Administração de Empresas, p. 12-9, nov/dez de 1995. KOTTER, J. Liderando a mudança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. KWASNICKA, E. Teoria geral da administração: uma síntese. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003. MOTTA, F. P. A teoria geral dos sistemas na teoria das organizações. 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Sugestões de Leitura ADMINISTRADORES. O que deve ter no manual de conduta de uma empresa? Disponível em: http://www.administradores.com.br/noticias/negocios/o-que-deve-ter-no-manual- de-conduta-de-uma-empresa/35851/ publicado em 21 de julho de 2010. Acesso em: 22/02/2019. AMATO, Maria José Araujo Lima; KANNER, Richard. O processo de seleção de pessoal. Rev. adm. empres., São Paulo, v. 6, n. 18, p. 127-36, Mar. 1966. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901966000100003&lng=en&nrm=i so>. Acesso em: 22/02/2019. APRENDI NO SENAC. 6 habilidades essenciais no mercado de trabalho atual. Publicado s/d. Disponível em: http://www.aprendinosenac.com.br/6-habilidades-essenciais-no- mercado-de-trabalho-atual/. Acesso em: 16/02/2019. BREYDA, Barbara. 6 sites para aprender e desenvolver novas habilidades. Publicado em 7 de /02/2017. Disponível em: https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/6-sites-para- aprender-e-desenvolver-novas-habilidades/. 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Disponível em: https://g1.globo.com/especial-publicitario/ educa-mais-brasil/estudar-para-transformar/noticia/sete-habilidades-que-o-mercado-de- trabalho-demanda-dos-profissionais-hoje.ghtml. Acesso em: 16/02/19. GONÇALVES, V.; CAMPOS, C. HCMBOK – o fator humano na liderança de projetos. 3.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. KOTTER, J. Liderando a mudança. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. MICHAELIS. Dicionário online. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno- portugues/busca/portugues-brasileiro/. Acesso em: 16/02/2019. PATI, Camila. Estas profissões podem acabar até 2030 (ao menos para os humanos). Publicado em 21 dez 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/ estas-profissoes-podem-acabar-ate-2030-ao-menos-para-os-humanos/. Acesso em: 10/02/2019. PATI, Camila. 10 competências que todo profissional vai precisar até 2020. Publicado em 22/01/2016. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/10-competencias-que- todo-professional-vai-precisar-ate-2020/. Acesso em: 16/02/2019. SOARES, K. A transição na gestão de mudança: o que preciso mudar em mim para que o outro mude? São Paulo: Barany, 2013. 1 Unidade 2 Cultura e Clima Organizacional 2 Unidade 2 Objetivos da Unidade Ao final desta Unidade esperamos que você seja capaz de: • perceber como a cultura está estruturada nas organizações que você frequenta, seja no trabalho, na instituição de ensino, na sua igreja, ou simplesmente no comércio, como no caso de lojas e restaurantes; • reconhecer os diversos elementos que compõem e impactam a cultura organizacional; • distinguir os tipos de cultura organizacional; • identificar os fatores que influenciam o clima na empresa em que você trabalha e de que modo você pode contribuir para melhorá-lo. Contextualizando Como clima e cultura são resultantes de diversos componentes, é necessário um entendimento estruturado de suas diversas facetas, para melhorar nossa compreensão de como são formados, além de reconhecer e analisar uma situação já estabilizada. Essa diversidade de elementos que os formam e a variação possível de combinações desses componentes gera a necessidade de aprendermos a pensar e analisar tanto a cultura quanto o clima organizacional, pois não há modelo pronto a ser seguido. 3 Desenvolver nossa atenção também para esses aspectos pode nos ajudar a assumir um novo posicionamento dentro da organização (Figura 1). Figura 1 O entendimento sobre o que a organização valoriza em sua cultura pode ser essencial para a ascensão do indivíduo na empresa. Crédito: © ajr_images | iStockphoto.com. Entendendo os Conceitos Esta unidade está organizada em dois blocos: o primeiro relacionado à cultura, e o segundo ao clima. Em ambos serão analisados os elementos que os formam e influenciam, o que será muito útil para avaliar o ambiente do seu trabalho ou de qualquer outra organização da qual você participe. Você já conseguiu perceber algumas das partes que compõem clima e cultura organizacional? Na Unidade 1, alguns elementos foram apresentados; agora eles serão aprofundados. 2.1 Categorias de Análise da Cultura Organizacional A cultura de uma organização pode ser analisada a partir de diversos pontos de vista, desde os elementos que a compõem até como se relacionam com o ambiente externo à organização. A atenção aos seus diversos componentes deve ser contínua, principalmente nas organizações em quea flexibilidade é um atributo necessário à sua composição, seja pela natureza do trabalho ou por exigência do mercado. Um caso típico são as indústrias de tecnologia de ponta. 4 2.1.1 Dimensões da cultura organizacional Figura 2 Pessoas de diferentes culturas nacionais valorizam elementos distintos, o que tem impacto em seus comportamentos e atitudes. Créditos: © FatCamera | iStockphoto.com. A diversidade das culturas nacionais influencia as culturas das diversas organizações. Por exemplo, uma organização alemã que se instala no Brasil apresenta uma série de características da cultura germânica, e com o tempo vai recebendo influências e características locais a partir de sua força de trabalho, que em sua maioria será composta por brasileiros. Cada povo valoriza elementos diferentes. Países com grandes dimensões continentais, como é o caso do Brasil, têm características muito diferentes em suas regiões, que não só possuem climas diferentes, como também tiveram colonizações distintas. Se você mudar de região no seu país, fique atento às mudanças culturais e ao quanto elas refletem no seu ambiente de trabalho. Importante Uma das análises mais amplas foi desenvolvida por Geert Hofstede, que buscou identificar valores relativos ao trabalho (ROBBINS, 2004, p. 19). Apesar de não ser uma pesquisa recente, mantém sua relevância pela amplitude da investigação, que contou com mais de 116 mil questionários respondidos. 5 Hofstede organizou sua análise nas seguintes categorias (MACHADO, 2019; ROBBINS, 2002): l Distância do poder – também denominada distância hierárquica. Grau em que as pessoas de um país aceitam que o poder das instituições seja distribuído de modo desigual. Os índices encontrados informam sobre as relações de dependência em um determinado país. Se o indicador é baixo, a dependência do funcionário em relação à gerência é limitada, isto é, a distância hierárquica entre ambos é pequena e os funcionários têm liberdade de argumentar e contradizer a chefia. Quando o indicador é alto, considera-se que quem tem menos poder tem que depender de quem tem mais. Nesses casos a diferença salarial reflete esta distância. l Individualismo versus coletivismo – grau em que as pessoas de um país preferem agir como indivíduos ou como membros de um grupo. Em sociedades consideradas coletivistas, prevalece o interesse do grupo em relação ao individual. Nas individualistas, ao contrário, prevalece o interesse dos indivíduos. Em ambientes coletivistas, o grupo protege os interesses de seus membros e espera lealdade. l Feminilidade versus masculinidade – a feminilidade avalia o quanto em uma sociedade tarefas e características femininas são compartilhadas pelos homens, apesar dos papéis sociais. As sociedades consideradas masculinas são aquelas em que os papéis estão claramente diferenciados em relação à distribuição de tarefas e das profissões. Nela são observadas profissões de homens e de mulheres. Na elaboração desse conceito, o homem aparece como aquele preocupado com o “ter” e a valorização dos bens, e a mulher preocupa-se com a qualidade de vida, em “ser” e com o bem-estar alheio, daí esta categoria aparecer também como quantidade de vida versus qualidade de vida. l Aversão à incerteza – refere-se a como as pessoas de uma sociedade se comportam em relação ao desconhecido e ao nível de ansiedade ao que é incerto. A necessidade de controlar a incerteza exige a existência de numerosas leis, formais e informais, que controlam as obrigações e os direitos de empregadores e assalariados. l Orientação para longo versus curto prazo – em uma cultura de longo prazo as pessoas pensam no futuro e valorizam a persistência. Já em culturas de curto prazo, dão mais valor ao passado e ao presente, enfatizando a importância das tradições e do cumprimento de obrigações sociais. Uma análise a partir dessas categorias pode ajudar a identificar os traços da cultura nacional que são associados a uma organização, sua compreensão e influência, pela alta administração, ajuda a conduzir grupos diferentes e lidar melhor com conflitos, principalmente em casos de uma organização estrangeira se instalando em outro país. 6 Levar uma empresa para um novo país, dependendo da distância dos resultados dos indicadores, pode ser um risco, caso a organização não se prepare para isso. Imagine o caso de uma empresa que nasceu em uma cultura nacional masculina e abre filiais em países considerados femininos. A organização poderá ter dificuldade na adaptação, inclusive sendo considerada, no novo ambiente, como machista. Quer conhecer mais sobre o modelo desenvolvido por Hofstede? Leia o artigo indicado a seguir; nele são analisados dois casos de órgãos federais. MACHADO, D. et al. Dimensões da cultura organizacional no modelo de Hofstede: Aplicações em uma Organização Militar do Exército Brasileiro e um Órgão Público do Poder Judiciário. Disponível em: https://www.researchgate.net/ publication/267961563_DIMENSOES_DA_CULTURA_ORGANIZACIONAL_NO_MODELO_ DE_HOFSTEDE_Aplicacoes_em_uma_Organizacao_Militar_do_Exercito_Brasileiro_e_ um_Orgao_Publico_do_Poder_Judiciario. Acesso em: 28/02/2019. Sobre a angústia humana em relação às incertezas, assista ao vídeo: CALABREZ, P. Incertezas. Canal NeuroVox. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=G7kV5JBlSEA. Acesso em: 28/02/2019. Saiba mais A diferença entre as culturas, quando não consideradas, também pode impactar na execução de projetos que foram um sucesso em um país e ao serem levados para outro podem resultar em fracasso ou, pelo menos, em uma boa dor de cabeça para a organização. Esse é um erro frequente. Muitas vezes temos acesso a projetos que consideramos geniais e nos empolgamos com seus resultados, e no mesmo momento queremos De olho 7 Para autores como Lück (2017), as dimensões da cultura são: valores, heróis, ritos e rituais e rede de relacionamento e comunicação. Porém, como a maioria dos autores considera que esses são elementos da cultura organizacional, optamos por considerarmos desse modo. 2.1.2 Elementos Tal como um iceberg, as empresas possuem uma parte visível e outra invisível. A parte visível é composta pela estrutura da organização, missão, visão e também por normas e regras escritas, código de ética, plano de cargos e salários e, em alguns casos, até por padrão de vestimenta (dress code) explícito em algum código de conduta. Na parte invisível, mas extremamente importante, encontram-se: tabus, padrões de influência e poder, percepção e atitudes das pessoas, sentimentos e normas de grupo, crenças, valores e expectativas, relações afetivas e padrões de integração intergrupais. A análise dos principais elementos possibilitará que você perceba como a sua organização lida com a cultura internamente e também que esses elementos não são completamente independentes e estanques; eles se influenciam mutuamente. Serão abordados os seguintes elementos: l estrutura organizacional, missão e visão; l normas; l ambiente físico; l valores; l crenças; l ritos e cerimônias; implantá-los, e fazemos isso sem uma reflexão sobre as culturas nacional e organizacional. Mesmo que o tal projeto tenha sido executado em uma organização na mesma cidade que você está, e nesse caso a cultura nacional pode ser considerada a mesma, os problemas podem surgir em virtude das diferenças entre as culturas das organizações. Por exemplo, antes de se instituir em uma organização pública um projeto bem- sucedido implantado em uma empresa privada, deve-se avaliar o engajamento das partes envolvidas, fazer uma adaptação das fases e das esferas hierárquicas que deverão aprová-lo. As culturas de empresas públicas e privadas são muito diferentes. 8 l liderança e mito-herói; l poder; l comunicação. Estrutura organizacional, missão e visão A estrutura da organização define como o trabalho é formalmente distribuído e coordenado. Ao conceber a estruturade uma organização devem ser considerados os seguintes elementos, segundo Robbins (2004, p. 188): l especialização do trabalho – até que ponto o trabalho pode ser dividido em funções e áreas diferenciadas; l departamentalização – agrupamento das tarefas; l cadeia de comando – a quem os indivíduos devem se reportar; l amplitude de controle – qual o tamanho da equipe que um administrador pode orientar com eficiência e eficácia; l centralização e descentralização – como é o processo decisório e quem é o tomador de decisão; l formalização – até que ponto devem existir regras e regulamentações para orientar funcionários. Assim, a estrutura organizacional é constituída por seu próprio funcionamento, é o espelho de como a organização funciona. Muitas organizações disponibilizam publicamente, em seus sites, sua estrutura organizacional; outras apenas na intranet, que é restrita aos seus colaboradores. O organograma (Figura 3) é um recurso visual comum para representar a distribuição dos setores e as linhas de comando de uma organização. Nele você encontra, por exemplo: l os níveis hierárquicos de uma organização, o que pode indicar se a empresa tem uma estrutura mais hierárquica ou mais participativa; l se o arranjo geral é por área técnica, tipo de produto etc.; l como os cargos estão distribuídos, que cargos efetivamente existem e qual a linha de comando. 9 Figura 3 Representação esquemática de um organograma. Crédito: © Kubkoo | iStockphoto.com. Se interessou em saber o que é um organograma de uma empresa? Para mais informações, acesse os links a seguir. MASCI CONSULTORIA. Organograma de empresa: qual a importância e como elaborar? Disponível em: https://www.masciconsultoria.com.br/organograma-de- empresa/. Acesso em: 23/02/2019. Veja o exemplo do organograma da FINEP em: FINEP. Organograma. Disponível em: http://www.finep.gov.br/a-finep-externo/ organograma. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais 10 Quanto à missão e à visão das organizações, muitas vezes estão no site e nas paredes, em quadros ou grandes adesivos, para que seus colaboradores não as esqueçam. Mas o que é missão e visão? A missão de uma empresa deve descrever a razão dela existir, o que a organização faz. A visão é o que a organização quer alcançar, qual o destino final. Veja como o McDonald´s apresenta os seus conceitos de missão, a visão e os valores: MISSÃO Servir comida de qualidade criando momentos deliciosos e acessíveis para todos. VISÃO Sermos reconhecidos por oferecer diariamente a melhor experiência em cada um dos nossos restaurantes, gerando valor para nossa gente e nossos acionistas. VALORES Oferecer Qualidade, Serviço & Limpeza para nossos Clientes. Focar em resultados com espírito empreendedor. Promover a Meritocracia e o Trabalho em Equipe. Valorizar as diferenças e incentivar a Inclusão. Operar com Responsabilidade & Ética. Contribuir para o desenvolvimento das comunidades onde atuamos. O que você achou dessas definições? Para obter mais informações, acesse o site institucional da empresa, disponível a seguir. ARCOS DOURADOS. Missão, visão e valores. Disponível em: https://www. arcosdorados.com/#. Acesso em: 23/02/2019. Conheça também os elementos da cultura organizacional da Coca-Cola no link a seguir. COCA-COLA. Princípios e valores. Disponível em: https://www.cocacolabrasil.com.br/ sobre-a-coca-cola-brasil/principios-e-valores. Acesso em: 23/02/2019. Na prática 11 Mais recentemente surgiram no mercado empresas que são consideradas de impacto social ou ambiental, isto é, elas juridicamente são organizações que buscam lucro como quaisquer outras, mas também se propõem a gerar benefícios nos campos social e ambiental. O lucro não deve ser conquistado a qualquer preço com danos para o planeta e para as pessoas. Essas empresas têm divulgado um manifesto que tem relação com o seu propósito e o consideram mais importante do que missão e visão. A Lev é uma empresa que comercializa bicicletas elétricas e seu manifesto pode ser visto no site ou nas paredes de seu escritório. LEV. Sobre nós. Disponível em: https://www.golev.com.br/sobre-a-lev. Acesso em: 03/03/2019. A Ciano Indústria de Alimentos é uma empresa que produz o Juçaí, que é um açaí elaborado com o fruto da palmeira Juçara, uma espécie-chave da Mata Atlântica. Com o propósito de reflorestamento, esta é uma organização com o objetivo da sustentabilidade. Conheça um pouco mais sobre ela e entenda o que é ser uma empresa com impacto ambiental e social. JUÇAÍ. Quem somos. Disponível em: https://www.jucai.com.br/quem-somos-1. Acesso em: 03/03/2019. JUÇAÍ. Manifesto. Disponível em: https://www.jucai.com.br/manifesto-1. Acesso em: 03/03/2019. Na prática 12 Normas Tudo o que está escrito e é apresentado aos funcionários é considerado norma de atuação, comportamento e convívio pela organização (Figura 4). Em geral não é opcional aderir às normas, mas sim, obrigatório. Figura 4 Normas e regulamentos podem ser relacionados a comportamentos, convívio, leis do setor, valores inegociáveis etc. Crédito: © tumsasedgars | iStockphoto.com. As normas definidas e divulgadas por uma organização, de modo geral, expressam o que não é negociável. Podem fazer parte do conjunto de regras: o próprio código de ética, diretrizes sobre como devem ser as relações com fornecedores e clientes, plano de cargos, punições em relação às questões críticas no momento, como ética e diversidade, diretrizes comportamentais para as relações e até mesmo para a vestimenta. Conheça alguns códigos de conduta de empresas reais, como o McDonald’s e a Vale nos links a seguir. ARCOS DOURADOS. Normas de conduta nos negócios. Disponível em https://www. arcosdorados.com/attached/pdf/codigo_por.pdf acesso em 23/02/2019. VALE. Código de conduta ética. Disponível em: http://www.vale.com/brasil/PT/ aboutvale/ethics-and-conduct-office/code-of-ethics/Paginas/default.aspx acesso em 23/02/2019. Na prática 13 A PwC é uma empresa global de serviços e consultoria e assessoria em negócios, auditoria, consultoria tributária e societária. Leia o seu código de conduta disponível nos links abaixo: PwC. Código de conduta: o jeito PwC de fazer as coisas. Disponível em: https://www. pwc.com.br/pt/quem-somos/codigo-conduta.html. Acesso em: 23/02/2019. Ou baixe o arquivo: PwC. Vivendo de acordo com o nosso propósito e valores: Código de conduta da PwC. Disponível em: https://www.pwc.com.br/pt/quem-somos/2018/codigo-de-conduta- ve-18.pdf. Acesso em: 23/02/2019 . Veja também como a Petrobras comunica suas diretrizes em relação à transparência no link: PETROBRAS. Compliance, ética e transparência. Disponível em: http://www.petrobras. com.br/pt/quem-somos/perfil/compliance-etica-e-transparencia/. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais Você gostaria de saber o que considerar na elaboração de um código de conduta? Veja o link a seguir. COPASTUR. Como elaborar um código de conduta organizacional. Disponível em: https://www.copastur.com.br/blog/codigo-de-conduta/. Acesso em: 23/02/2019. Na prática 14 O código de vestimenta (dress code) pode ou não ser parte integrante do código de conduta, mas também faz parte da cultura organizacional e pode afetar você. Obtenha mais informações nos links a seguir. ÉOS. Dress code e a identidade corporativa. Disponível em: https://eos.adv.br/dress- code-e-identidade-corporativa/. Acesso em: 23/02/2019. Sugerimos a leitura do artigo publicado pela Revista Exame: LEÃO, C. Dress code é para ser levado a sério. Disponível em: https://exame.abril.com. br/carreira/o-tal-do-dress-code/. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais Você gostaria de saber o que considerar para elaborar um código de vestimenta? CONVENIA. Como elaborar um código de vestuário em sua empresa. Disponível em: https://blog.convenia.com.br/como-criar-um-codigo-de-vestuario-em-sua-empresa/ acesso em 23/02/2019. Na prática Ambiente físico Você tem cuidadoscom seu corpo, como, por exemplo, sua higiene pessoal, o corte de cabelo, a roupa que vai usar, e ainda decide ir à academia porque quer emagrecer. Tudo isso faz parte da sua imagem e é parte também do seu marketing pessoal, revela uma percepção sobre você para alguém que está te conhecendo agora. Afinal, a imagem chega antes de você falar qualquer coisa. O espaço físico em que a empresa está instalada também passa informações sobre ela. Mesmo assim esse tema tem recebido pouca atenção dos pesquisadores de cultura organizacional, porém é nele que as interações sociais acontecem e podem ser influenciadas por ele. Por exemplo, uma empresa em que as pessoas ficam distribuídas 15 em salas pequenas e só se encontram quando passam uma pela outra no corredor não incentiva a comunicação direta e, normalmente, não integra os indivíduos e os departamentos. Este espaço também pode ser visto como um cenário cuidadosamente construído para transmitir determinadas impressões como: modernidade e horizontalidade na estrutura organizacional. Figura 5 O espaço físico da organização revela muito sobre a imagem que ela quer transmitir, sobre o cuidado que tem com seus colaboradores, sua situação financeira e como ocorre a comunicação. Crédito: © Vasyl Dolmatov | iStockphoto.com. O ambiente físico apresenta sinais a serem considerados, como: l Local sem a manutenção necessária com objetos quebrados, por exemplo, pode denunciar falta de cuidado com a qualidade do ambiente para os funcionários e a falta de valorização desses funcionários em contraste com salas de diretores luxuosas. Também pode denunciar condições financeiras ruins. l A distribuição do espaço físico em uma série de salinhas ou um espaço aberto e integrado onde a comunicação é facilitada. l Mesas de trabalho compartilhadas facilitando a integração. l Local destinado ao cafezinho. l Espaço específico e reservado para refeições. O ambiente físico, quando considerado agradável pelos colaboradores, pode influenciar a produtividade e o clima da organização. 16 Valores Os valores que uma organização quer comunicar e que fizeram parte de sua reflexão sobre quem ela é e o que valoriza normalmente aparecem em conjunto com a missão e a visão. Esses valores deveriam estar sempre na categoria do inegociável, mas nem sempre a organização, como um todo, entende e vivencia cada um deles. Seus funcionários reconhecem aqueles que são predominantes e quais são colocados em segundo plano em todos os níveis da organização (Figura 6). Figura 6 Os valores centrais de uma organização podem ser, por exemplo, ética, trabalho em equipe, inovação e confiabilidade. Crédito: © EtiAmmos | iStockphoto.com. Além dos valores declarados pela organização podem existir outros que foram sendo incorporados, podem ter sido percebidos pelos indivíduos como valorizados pela alta administração, mesmo que informalmente. Quer mais informações sobre o tema? Leia o artigo no link a seguir: OLIVEIRA, P.G.F.; MENDONÇA, J.R.C.. O Espaço Físico e a Formação das Impressões nas Organizações: integrando as dimensões instrumentalidade, estética e simbolismo sob a perspectiva dramatúrgica. Disponível em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ EOR-B1478.pdf. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais 17 Crenças As crenças são pressuposições que se transformam em “verdades” para determinado grupo, podem ser construídas a partir do resultado de determinada situação e passam a orientar o comportamento desse grupo. Nesse caso são de surgimento espontâneo. As crenças compartilhadas pelos grupos definem a forma daquele grupo tomar decisões. Por exemplo, se um gestor foi procurado duas vezes por membros do grupo para apresentar uma nova ideia de melhoria e ele negou a execução da ideia, todo o grupo pode passar a acreditar que novas ideias não são bem-vindas e a partir desta crença não apresentam mais inovações. Algumas crenças são consideradas limitantes. Essas são as que impedem a ação em determinada direção, mesmo quando essa direção racionalmente pode ser considerada melhor. Identificar essas crenças possibilita ressignificá-las e alcançar resultados melhores. Veja a seguir o link sobre a importância de definir objetivamente os valores de uma organização. Você não precisa ser o dono, mas se está em um cargo de gestão pode, e deve, identificar claramente quais os valores são importantes. ENDEAVOR. Valores: tê-los bem definidos faz toda a diferença para sua empresa. Disponível em: https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/valores/. Acesso em: 23/02/2019. ENDEAVOR. Missão, visão e valores: ferramenta gratuita para definir a identidade do seu negócio. Disponível em: https://endeavor.org.br/pessoas/missao-visao-e-valores/. Acesso em: 23/02/2019. Na prática Por exemplo, um determinado gestor pode valorizar e incentivar um padrão de comunicação, de inclusão, ou ainda, o descarte ecológico de resíduos pelo setor. Essas questões podem fazer parte da subcultura do departamento que ele gerencia e serem reconhecidas como valor pelo grupo, podendo se expandir pela organização como uma prática. 18 Ritos e cerimônias Você já percebeu que repete determinadas ações diariamente? O modo como escova os dentes ou penteia o cabelo é sempre o mesmo e muitas vezes constituem rituais pessoais (Figura 7). Nas organizações também existem alguns rituais, vamos conhecê-los? Ritos ou rituais são atividades elaboradas, planejados e repetidas em determinadas situações, funcionam como um reforço de valores culturais relevantes (Figura 7). Figura 7 O reconhecimento por alguma meta alcançada tem como objetivo mostrar que o esforço é recompensado e melhorar o clima da organização. Crédito: © PeopleImages | iStockphoto.com. Quer saber mais sobre as crenças nas organizações? Veja o artigo a seguir. CORSINO, Alex. A importância das crenças nas organizações. Disponível em: http:// www.administradores.com.br/artigos/negocios/a-importancia-das-crencas-nas- organizacoes/98183/. Acesso em: 28/02/2019. Saiba mais 19 Vamos nos concentrar em quatro tipos de ritos muito comuns em organizações de diversos tipos (DAFT, 2006, p.294-295): l Passagem – facilitam a transição dos indivíduos para novas situações, como no caso de novo cargo ou na chegada na organização. Por esses ritos, observa-se o que é feito, por exemplo: como alguém novo é recebido na organização, existe algum kit de boas- vindas, ele é apresentado formalmente aos colegas? Ou simplesmente dizem onde ele vai sentar e quem vai orientá-lo? l Reforço – premiações são muito comuns, pois aumentam a produtividade e, em alguns casos, a qualidade do produto, e em relação ao indivíduo melhoram o seu status na organização, bem como sua autoestima. Organizações que fazem premiações anuais ou escolhem o funcionário do mês se opõem a outras que não comemoram o sucesso obtido por algum colaborador. l Renovação – incluem as atividades de treinamento e desenvolvimento das pessoas e aprimoram o funcionamento da organização. Existe um esforço para o desenvolvimento pessoal do funcionário? Como é feito? É planejado a partir do feedback que esse funcionário recebeu? l Integração – festas de fim de ano e conferências anuais ajudam a criar laços e sentimentos entre os funcionários, aumentando a dedicação à organização. A organização incentiva a comemoração dos aniversariantes do mês? Faz algum tipo de atividade de fim de ano ou conferência anual de colaboradores? Recentemente, ao entrar em um banco no horário de sua abertura me surpreendi com um “corredor” formado por gerentes e funcionários que estavam ali para receber os clientes. Questionei sobre esse comportamento e descobri que acontece diariamente com o objetivo de que os funcionários lembrem que devem receber e cuidar bem dos clientes. Na prática 20 Figura 8 Ações de voluntariado incentivadas pela organização podem ajudar a desenvolver o senso de equipe e funcionar como ritual de integração. Crédito: ©EvgeniyShkolenko | iStockphoto.com. Liderança e mito O líder exerce grande influência na cultura organizacional vigente, o que depende de quem ele é, como exerce essa liderança e como o ambiente favorece ou não sua atuação. A mudança de liderança pode gerar uma adaptação da cultura às características do novo líder e o consequente ajuste dos indivíduos. Quando um gestor assume seu cargo e apresenta mudanças, como fim das garagens e dos elevadores privativos da alta administração; mudança da configuração do espaço de trabalho, de salas isoladas para espaços comuns; contato direto de diretores com a força de trabalho; introdução da “cultura de dono”, isto é, o problema da empresa é problema de cada um, ele está trazendo novos valores para o dia a dia da empresa sem alterar outros que já faziam parte da cultura organizacional. Sugerimos também a leitura da apresentação de Pedro Parente na Conferência da HSM Expo de 2017. Veja o link: PARENTE, P. A nova gestão na Petrobras. Disponível em: www.investidorpetrobras. com.br/download/5629. Acesso em: 23/02/2019. De olho 21 Ainda em relação ao tema da liderança, existe a figura do líder, que se torna mito ou herói e entra para a história da organização; assim, continua a influenciá-la por muito tempo, mesmo depois de seu afastamento. Ele consegue influenciar o DNA da organização (JOHANN, 2005). Também chamado de mito organizacional, este líder deixa um verdadeiro legado. Normalmente isso acontece com fundadores ou com um executivo externo contratado que transforma a organização em um momento de crise ou quando é responsável por um grande crescimento, como no caso da internacionalização da organização. Frequentemente são venerados por funcionários que não trabalham com ele e, em alguns casos, sua influência vai além da própria organização. Conheça a história de Steve Jobs e Walt Disney. EBIOGRAFIA. Steve Jobs. Disponível em: https://www.ebiografia.com/steve_jobs/. Acesso em: 23/02/2019. EBIOGRAFIA. Walt Disney. Disponível em: https://www.ebiografia.com/walt_disney/. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais Quando uma organização passa por diversos processos de fusões, incorporações ou privatizações tem dificuldade de incorporar em sua cultura um mito-herói. No Brasil, há o caso de Maria Silvia Bastos Marques, única mulher a ocupar a presidência da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e foi, neste período, responsável pela reestruturação da companhia e considerada uma líder de grande influência, deixando sua marca. Na prática 22 Poder Existem diferentes classificações de poder. Nesta unidade será abordada a questão da formalidade para organizar as ideias. Neste enfoque há o poder formal e o informal. O poder formal é aquele registrado de forma escrita, e o mais comum é nos referirmos ao poder hierárquico, definido por linhas de comando, como no caso dos organogramas, citados no início desta unidade. Porém, existem redes de influência que funcionam a partir do poder informal, que pode existir a partir de relação familiar, amizades antigas, por tradição de consultar alguém que não tem poder formal, por conhecimento técnico, por habilidade de persuasão, entre outros. Para compreender a cultura organizacional, é preciso estar atento tanto ao poder formal quanto ao informal, porém o entendimento do informal pode indicar os melhores caminhos para a realização de algo. Outro ponto importante é a forma como o poder é exercido, isto é, se as decisões são impositivas ou discutidas em grupos, se existe algum grau de flexibilidade, se as pessoas são acessíveis etc. Identificar, por exemplo, como é a formalidade na relação entre os diversos níveis hierárquicos pode ser muito útil no seu dia a dia. Quer saber mais sobre Maria Silvia Marques, leia no link http://www.esextante.com.br/ autores/maria-silvia-bastos-marques. Acesso em: 08/03/2019. Na Brahma, o mito-herói é Marcel Telles, conheça a história dele em: ENDEAVOR. Marcel Telles: sempre pronto para quando o cavalo selado passar. Disponível em: https://endeavor.org.br/historia-de-empreendedores/grandes-lideres/ marcel-telles/. Acesso em: 23/02/2019. Outro exemplo, no Brasil, é Luiza Helena Trajano. Atualmente ela é considerada um exemplo de empreendedorismo, inclusive fora do Magazine Luiza. Saiba mais em: ENDEAVOR. Day1 | Do caixa da loja à bolsa de valores [Luiza Helena Trajano – Magazine Luiza]. Disponível em: https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/do- caixa-da-loja-a-bolsa-de-valores-luiza-trajano-day1/. Acesso em: 03/03/2019. TRAJANO, L.H. Mudando sempre, por Luiza Helena Trajano. Disponível em: https:// endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/mudando-sempre/. Acesso em: 03/03/2019. 23 Comunicação A comunicação pode ser definida e configurada pela organização a fim de construir determinada cultura, caso contrário será consequência de outras definições, valores e normas expressos pela empresa. De qualquer modo, a comunicação é uma expressão da cultura, mas, mesmo assim, muitas vezes não prestamos atenção em seus processos, orientações e práticas. A comunicação é a ferramenta que possibilita a construção de relacionamentos. Logo é de extrema importância para o entendimento de como a organização efetivamente funciona. Para isso, evidenciar como acontece o diálogo entre indivíduos e grupos pode ajudar a entender se o foco é a qualidade ou a quantidade de comunicação. A comunicação interna pode ser ou não estimulada pela organização, o que aparece no ambiente construído (salas abertas ou não, espaços para integração) e no uso de ferramentas e canais incentivado pela organização. Observam-se empresas em que os donos e/ou altos executivos não falam diretamente com um funcionário operacional, o que demonstra o reforço à hierarquia. A comunicação entre os diversos setores também pode ser ou não facilitada pela organização. Outro ponto importante a ser observado é a comunicação geral da organização com seus colaboradores: como a comunicação ocorre, quais os meios utilizados, se é esclarecedora, isto é, realizada de forma clara ou com muitos jargões. Cada empresa opta por um tipo de canal de comunicação: e-mail, mensagens de whatsApp, circulares fixadas em um quadro, avisos na intranet etc. Quer conhecer mais sobre o poder dentro das organizações? PAIXÃO, R. O exercício do poder dentro das organizações. Disponível em: http:// www.administradores.com.br/artigos/negocios/o-exercicio-do-poder-dentro-das- organizacoes/66447/. Acesso em: 23/02/2019. Sugestão de leitura: SILVA, C. O poder nas organizações: um estudo preliminar a partir da percepção dos trabalhadores. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, p.265, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/ bitstream/123456789/17268/1/CFSilvaDISPRT.pdf. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais 24 A comunicação com o público externo, cliente, fornecedores e imprensa, traduz como a organização quer ser vista e se atua de maneira coerente. Em uma organização, as estratégias de comunicação interna e externa podem ser apoiadas por profissionais de marketing que ajudam a construir o discurso ideal, incluindo a intensidade ou a sutileza que deve ser utilizada. Quer saber o valor de uma comunicação interna bem-feita? Veja o artigo a seguir. ENDEAVOR. Comunicação organizacional: um por todos e todos pelos resultados. Disponível em: https://endeavor.org.br/pessoas/comunicacao- organizacional/?gclid=Cj0KCQiA-8PjBRCWARIsADc18TI3hHT46BDZjVdUlVZa8SDD2w- Sk9UPqqgM8rZBP-Dq3pv1fvL70owaAgx3EALw_wcB. Acesso em: 23/02/2019. A comunicação deve ser entendida como importância estratégica. Leia o artigo no link a seguir: KUNSCH, Margarida. Comunicação organizacional: conceitos e dimensões dos estudos e das práticas. Disponível em: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/ admin/arquivosUpload/11868/material/Comunica%C3%A7%C3%A3o%20 organizacional%20conceitos%20e%20dimens%C3%B5es%20dos%20estudos%20e%20das%20pr%C3%A1ticas.pdf. Acesso em: 23/02/2019. Saiba mais Os diversos elementos listados nessa seção, juntos, compõem a cultura organizacional e seu estudo deve orientar a análise da cultura nas organizações que fazem parte do seu dia a dia. Um elemento sozinho não definirá a cultura, apenas o conjunto permitirá a sua avaliação, incluindo a coerência da organização e o quanto sua cultura está consolidada. 25 2.1.3 Tipos de cultura Existem classificações diferentes para a análise dos tipos de cultura organizacional. Aqui será abordada a apresentada por DAFT (2006, p.297-9), que é uma das mais divulgadas. Essa classificação utiliza dois eixos de análise para avaliar o grau em que o ambiente externo exige flexibilidade ou estabilidade; o foco estratégico é interno ou externo (Figura 9). Figura 9 Entender as necessidades do cliente e o que é valorizado pelo mercado deve ser incentivado por qualquer organização. Nos casos das culturas de adaptabilidade e de clã, a empresa quer também uma resposta rápida a essas necessidades. Crédito: © seb_ra | iStockphoto.com. A classificação resultante da análise desses dois eixos pode ser vista na Figura 10. Como você pode observar, essa análise baseia-se na relação com o ambiente e não apenas com as características internas da organização, mas sim, como ela se relaciona com outros envolvidos no negócio. Figura 10 Tipos de cultura organizacional a par�r do foco estratégico e da necessidade do ambiente. Fonte: elaborado com base em DAFT (2006, p.298) Fo co e st ra té gi co Necessidade do ambiente In te rn o Ex te rn o Flexibilidade Estabilidade Cultura de adaptabilidade Cultura de clã Cultura de missão Cultura burocrá�ca Figura 10 Tipos de cultura organizacional a partir do foco estratégico e da necessidade do ambiente. Fonte: Adaptado de DAFT (2006, p. 298). 26 Você vai perceber que diferentes mercados exigem distintas posturas da organização. Vamos entendê-las. Adaptabilidade Foco estratégico no ambiente externo e atua com flexibilidade para atender às necessidades dos clientes. Como é necessária uma reação rápida às mudanças ambientais, a organização incentiva que seus indivíduos percebam os sinais do ambiente e os traduzam em novas respostas comportamentais. Inovação, criatividade e tomada de risco são recompensadas (Figura 11). Figura 11 Cultura de adaptabilidade: muito comum em empresas que trabalham com novas tecnologias. Crédito: © Melpomenem | iStockphoto.com. Missão Foco estratégico no ambiente externo e não há necessidade de atender às necessidades de mudança dos clientes rapidamente (Figura 12). A empresa está atenta aos clientes e às suas necessidades, procura atendê-los, mas não necessariamente de forma rápida. O ambiente é estável e esse tipo de organização tem uma visão clara de seus objetivos. Nesses casos, a avaliação de desempenho dos funcionários está relacionada com metas específicas associadas a esses objetivos para alcançar um determinado resultado; também é comum que a organização ofereça prêmios aos que se destacam. 27 Figura 12 Cultura de missão: muito comum em empresas de construção civil. Crédito: © Drazen_ | iStockphoto.com. Burocrática Foco estratégico no ambiente interno e orientação para atuar em ambiente estável, não havendo necessidade de atender às necessidades dos clientes de forma rápida. A organização incentiva alto nível de consistência, conformidade e colaboração entre os membros da organização. Existem regras e padrões a serem seguidos, e o mercado é estável com mudanças lentas; nele a credibilidade é muito importante (Figura 13). Figura 13 Cultura burocrática: muito comum em organizações como seguradoras e bancos. Crédito: © diegograndi | iStockphoto.com. 28 Clã Foco principal no envolvimento e na participação dos membros da equipe e na expectativa de mudanças rápidas no ambiente externo. Como consequência do foco na participação dos funcionários, criam um senso de responsabilidade e comprometimento com a organização. A criatividade é valorizada, principalmente no atendimento rápido às necessidades do mercado, que mudam frequentemente (Figura 14). Figura 14 Cultura de clã: muito comum em empresas do setor de moda e do varejo. Crédito: © GeorgeRudy | iStockphoto.com. Essa classificação pode ter denominações diferentes a depender de por quem e onde é publicada. Perceba que: l Cultura de adaptabilidade = adhocracia. l Cultura de missão = mercado. l Cultura de clã = clã. l Cultura burocrática = hierarquia. Saiba mais 29 Ao observar esta classificação é importante ressaltar que, além de existir uma expectativa do mercado em relação a como a empresa deveria atuar, há também o modo como ela efetivamente atua. Veja um exemplo: o mercado espera que uma empresa de informática atue com o foco estratégico externo e que seja flexível, isto é, seja do tipo cultura de adaptabilidade, porém, por característica pessoal do principal gestor, a empresa possui procedimentos e níveis hierárquicos em excesso; assim, ela atua com cultura de missão. O comportamento esperado pelo mercado não é coerente com o seu modo de atuação. 2.1.4 Outros componentes a serem considerados na análise da cultura organizacional Em alguns casos, outras informações devem ser consideradas na análise da cultura organizacional como, por exemplo, se a empresa é púbica ou privada, se tem gestão familiar e se é de origem militar ou religiosa. Outro aspecto importante é se a organização passou por processo de aquisição recentemente. Lembramos que a maioria dos estudos sobre cultura organizacional são realizados em empresas privadas de grande porte e seus resultados divulgados de forma genérica. Seguem exemplificações de alguns casos. Empresas públicas versus empresas privadas A empresa pública é administrada exclusivamente pelo poder público, com finalidade prevista em lei e de propriedade única do Estado. A finalidade pode ser atividade econômica ou prestação de serviços públicos. A cultura nessas organizações é altamente influenciada por hierarquia, processos e cargos, tende a ter uma gestão burocrática, mas nem sempre faz uso das práticas de meritocracia, sendo comum o apadrinhamento político-partidário. Como é do Estado, isto é, deveria ser de todos, mas acaba não sendo de ninguém. Em muitos casos falta o ”olho do dono” e, de acordo com o ditado popular, “o olho do dono é que engorda o gado”. Veja o link: SECAF, J. Tipos de cultura organizacional: guiando sua empresa para bons resultados. Disponível em: https://www.setting.com.br/blog/gestao-empresarial/quais-tipos- cultura-organizacional/. Acesso em: 24/02/2019. 30 Extrapolando os limites da própria empresa, existe uma cultura de serviço público no Brasil que permeia praticamente todos os setores da administração pública, o que dificulta muito as mudanças em setores delimitados. Em oposição, a empresa privada tem em sua gestão um controle maior das condições internas e da modelagem da própria cultura. Veja o artigo indicado a seguir. Nele você encontrará um caso de estudo de uma Secretaria de Saúde: ZAGO, C. et al. A Cultura Organizacional em uma Organização Pública: Aspectos Norteadores para o Seu Gerenciamento. Disponível em: http://www.anpad.org.br/ admin/pdf/enapg2004-190.pdf. Acesso em: 01/03/2019. A gestão de uma empresa pública encontra algumas dificuldades que influenciam sua cultura, como: a impossibilidade de demissão de funcionários que não estão alinhados com os objetivos do grupo ou são incompetentes e a dificuldade de recompensar funcionários que se dedicam. Para mais informações, dê uma olhada no artigo cujo link está a seguir: CARBONE, P. Cultura organizacional do setor público brasileiro: desenvolvendo uma metodologia de gerenciamento da cultura. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv. br/ojs/index.php/rap/article/download/6273/4864. Acesso em: 01/03/2019. Saiba mais Os valores culturais dos trabalhadores dosetor público e da iniciativa privada são diferentes, você já pensou sobre isso? Veja o artigo: PARRA, O. Diferenças de valores culturais em organizações públicas e privadas. Disponível em: http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/ download/168/24. Acesso em: 01/03/2019. Saiba mais 31 Empresas familiares Empresas com gestão familiar, em geral, optam por decisões centralizadas e, em relação ao exercício do poder, sua fonte está nas relações de família, o que gera muitos conflitos causados pela mistura de interesses e relações pessoais e profissionais. Os donos formatam a cultura da organização a partir de características pessoais que querem transmitir a toda a empresa. Quando chega a hora das novas gerações assumirem cargos na organização, os fundadores resistem às mudanças propostas e o conflito de gerações passa a ter um papel importante na gestão dessas empresas. A chegada da nova geração também afasta colaboradores antigos e fiéis que muitas vezes se ressentem do rápido poder que um jovem que acabou de chegar já adquiriu por ter determinado sobrenome e não por ter trabalhado para isso. Conheça um pouco mais sobre empresas familiares em: ZORZANELLI, G. Componentes culturais da empresa familiar. Disponível em: http:// www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/componentes-culturais-da- empresa-familiar/53845/. Acesso em: 01/03/2019. DANTE, F. et al. Os impactos da gestão familiar nos conflitos e na cultura organizacional. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ReCaPe/article/ viewFile/31067/21490. Acesso em: 01/03/2019. Saiba mais 32 Organizações religiosas e militares Para atuar em organizações de origem militar ou religiosa, exige-se conviver com características culturais que vão além do objetivo principal da organização. Vejamos alguns exemplos: Um hospital militar tem em sua cultura uma mescla de características encontradas em ambientes ligados à saúde e às instituições militares, além dos elementos influenciados por quem ocupa o espaço de liderança. Uma escola denominacional é uma organização que recebe influências da instituição religiosa que a apoia, tem características dos ambientes escolares e da liderança. Lidar com todas essas influências é uma necessidade para qualquer funcionário que lá atue e que precisará conviver inclusive com os valores definidos pela organização. Você já deve ter assistido, pelo menos um pouquinho, a algum programa de televisão no SBT, certo? Pois é, o SBT é uma empresa familiar cujos principais núcleos de valores são: família, diversão e informação. Veja os links a seguir. SBT. Quem somos? Disponível em: https://www.sbt.com.br/institucional/quemsomos/ missaoevisao/. Acesso em: 01/03/2019. SBT. Nossos pilares. Disponível em: https://www.sbt.com.br/institucional/quemsomos/ pilares/. Acesso em: 01/03/2019. Na prática Veja o caso de uma escola militar em: COSTA, J. et al. Cultura organizacional em instituições militares de ensino. Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/1047. Acesso em: 01/03/2019. Na prática 33 Processos de fusão ou aquisição A análise de uma cultura organizacional deve abranger seu histórico, pois quando uma empresa é comprada por outra ou passa por um processo de fusão muitas vezes sua cultura parece confusa e contraditória para quem começa a observá-la. A organização perde algumas de suas características e precisa de um tempo para consolidar o novo conjunto de valores e normas que recebeu; como consequência, frequentemente seus funcionários não sabem como agir. Veja o caso apresentado no artigo a seguir. CASAGRANDE, R. O estudo da cultura organizacional na fusão de instituições de ensino. Disponível em: http://www.opet.com.br/faculdade/revista-pedagogia/pdf/n1/ O-ESTUDO-DA-CULTURA-ORGANIZACIONAL-NA-FUSAO-DE-INSTITUICOES-DE-ENSINO. pdf. Acesso em: 01/03/2019. Saiba mais Processos de fusão e aquisição também geram grande impacto no clima organizacional, e a incerteza quanto ao destino de cada membro da empresa cria desconforto, resistências e medo. Clima organizacional é o tema de nossa próxima seção. 2.2 Influências Sobre o Clima Organizacional O clima organizacional depende da percepção dos indivíduos em relação ao seu ambiente de trabalho, o que vai se refletir em sua satisfação e produtividade, portanto não é um indicador a ser ignorado. A subjetividade é um assunto importante no estudo das relações de trabalho, porque as pessoas internalizam vários tipos de informação que os fazem interpretar a realidade ao seu redor de diferentes maneiras, incluindo a organização à qual pertencem ou à qual gostariam de pertencer. São comuns referências a características “pessoais e individuais” construídas a partir da história pessoal e da dimensão cultural e instrumental de que os sujeitos fazem parte e que as influenciam em sua relação com a organização. Evitar os aspectos subjetivos é negar a própria condição humana (DAVEL & VERGARA, 2010). 34 Para Tagliocolo e Araújo (2019), o clima não é determinado diretamente pelo colaborador, pela liderança e pela empresa, mas cada um tem sua parcela de contribuição nessa construção. Em geral, a área de Recursos Humanos (RH) das empresas se preocupa com o estado do clima pelo menos uma ou duas vezes por ano e utiliza uma ”pesquisa de clima” para medi-lo (Figura 15). Você gostaria de entender melhor o que é uma pesquisa de clima? Nos dois links a seguir, existem exemplos de como investigar o clima organizacional. A leitura dos documentos é muito interessante porque você começará a perceber os elementos que influenciam o clima. SEBRAE. Instrumento de apoio gerencial 114: a importância do clima organizacional na empresa. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_ CHRONUS/bds/bds.nsf/9593C001509411AB8325758B00663FB6/$File/NT0003FFC2. pdf. Acesso em: 02/03/2019. CONVENIA. Guia da pesquisa de clima organizacional. Disponível em: https://blog. convenia.com.br/baixe-o-ebook-guia-da-pesquisa-de-clima-organizacional/. Acesso em: 01/03/2019. Saiba mais Figura 15 O clima organizacional é resultado da interação dos indivíduos que formam a organização com a cultura organizacional e os elementos que a compõem. Crédito: © nd3000 | iStockphoto.com. 35 O clima organizacional depende de fatores como: condições econômicas da organização, estrutura organizacional, cultura da organização, oportunidades de participação pessoal, estilo de liderança, avaliação e remuneração. Ele pode influenciar um processo de mudança e ser por ele influenciado, por exemplo: em uma organização cujos membros não acreditam na coerência da liderança, a ponto de deixá-los desmotivados, pode estar com um clima pouco propício a que seja apresentado um processo de mudança, o qual será postergado para outro momento ou aumentará o caos. Por outro lado, em uma situação em que o clima está ótimo, a chegada de um projeto de mudança mal planejado pode deixar os colaboradores inseguros, interferindo no clima. Na pesquisa de Engajamento e Clima Organizacional colocada em prática no aniversário de 47 anos da empresa Petrocoque S.A., foram feitas três perguntas muito simples aos colaboradores: Você gosta de trabalhar aqui? Você se vê trabalhando conosco no futuro? Você indicaria a Petrocoque para alguém que você gosta? O resultado foi de 94% dos colaboradores respondendo “sim”, o que é um sucesso, indica alto grau de engajamento e clima favorável. Na prática Veremos a seguir alguns aspectos que influenciam o clima organizacional. 2.2.1 Valores Os valores que representam as convicções básicas do indivíduo, naquilo que ele considera ser bom, correto ou desejável, normalmente não são flexíveis. Eles influenciam atitudes e comportamentos e estão na base da motivação e da satisfação no trabalho. Satisfação com o trabalho se refere à atitude geral de uma pessoa em relação ao trabalho que realiza. Já o envolvimentocom o trabalho é o grau em que uma pessoa se identifica com as tarefas que realiza, tem uma participação ativa e considera como valioso o seu desempenho (ROBBINS, 2002). Quando satisfação e envolvimento estão em alta, normalmente os índices de absenteísmo e rotatividade são baixos. Além disso, quando os índices do grupo são altos, o clima organizacional tende a manter-se em alta e ser considerado um bom clima organizacional. 36 Ao entrar em uma empresa, o funcionário, muitas vezes, não sabe o que é reconhecido efetivamente como valor naquele ambiente. Por enquanto seus valores pessoais são considerados o correto. Ao descobrir que a empresa valoriza ideais diferentes daqueles que ele considera correto, isso pode gerar insatisfação e, consequentemente, redução da motivação e do comprometimento. O artigo sugerido a seguir relaciona os valores e o clima organizacionais e a satisfação com o trabalho a partir de uma pesquisa feita com servidores técnico-administrativos de uma universidade. MAIA, L.; OLIVEIRA, J. Valores Organizacionais e seu Impacto sobre o Clima e a Satisfação no Trabalho: Percepção dos Técnico-Administrativos de uma Instituição Federal de Ensino Superior. Disponível em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/ ENGPR335.pdf. Acesso em: 02/03/2019. Saiba mais Quando os valores pessoais e da organização estão em harmonia, a possibilidade desse funcionário se comprometer com a empresa aumenta. 2.2.2 Comprometimento Comprometimento organizacional é o grau em que um colaborador se identifica com a empresa e seus objetivos, desejando manter-se na organização (ROBBINS, 2002). Com o comprometimento em alta, consequentemente os índices de absenteísmo e rotatividade são baixos (Figura 16). 37 Figura 16 O compromisso do funcionário com a organização passa por questões objetivas (racionais) e subjetivas (percepções pessoais). Crédito: @ pixelfit | iStockphoto.com. Robbins (2002, p. 67) faz uma observação interessante: um indivíduo pode não estar satisfeito com suas funções atuais e, assim, considerá-las temporárias, mas continuar comprometido com a organização. Muitas vezes, um funcionário comprometido acredita, em seu mundo subjetivo, que a organização terá “consideração” com ele em determinada situação, criando assim um contrato psicológico unilateral com a empresa. Caso ele entenda que a organização descumpriu esse contrato, o funcionário se sente traído e não se vê mais comprometido com ela. O rompimento de um contrato psicológico pela organização afeta diretamente a motivação do funcionário. Se o motivo que gerou o rompimento foi compartilhado por todo o setor, o clima organizacional pode ser afetado. Você gostaria de saber mais informações sobre a relação entre motivação e clima organizacional? Leia o artigo apresentado no link a seguir. Nesse artigo, os autores fizeram uma pesquisa com alguns funcionários para entender melhor essa dinâmica (Figura 17). FACCO, M. et al. Motivação e clima organizacional. Disponível em: http:// revistafocoadm.org/index.php/foco/article/view/40. Acesso em: 02/03/2019. Saiba mais 38 Figura 17 Um grupo motivado se compromete mais com a organização, e um grupo comprometido se sente motivado para a tarefa. Crédito: © izusek | iStockphoto.com. 2.2.3 Poder As referências ao poder como algo ruim são comuns, como sinônimo de coerção, como pode ser visto na seguinte citação: “o poder, no sentido forte, seria apenas o recurso último, que intervém quando a autoridade é descartada” (LEBRUN, 1984, p. 113). Se esse for o tom do exercício do poder na organização, tenha certeza de que o clima será ruim. Na literatura sobre gestão, observa-se o poder que emana de várias fontes e pode ser classificado em: formal, informal, propriedade, tradição, informação ou conhecimento e capacidade (DINSMORE, 1989). Cohen (2005) também acredita que, em uma negociação, o poder se origina de várias fontes, como competência, legitimidade, risco, compromisso, persuasão, atitude do negociador, conhecimento do assunto, conhecimento das necessidades, investimento, recompensa ou punição, identificação, moralidade, precedente e persistência. O autor define o poder nas palavras de Robert Dahl como “a capacidade de conseguir que alguém faça algo que ao contrário não faria” (COHEN, 2005, p. 229). Para Lopes e Stoeckicht (2009, p. 74), “poder é, em grande parte, um estado mental. A chave da sobrevivência está na atitude que você deve adotar”, e mais adiante citam o caso de uma negociação: “Se você entrar em uma negociação acreditando que a outra parte é superior, muito provavelmente sairá com um acordo ruim.” Assim, a atitude adotada pode mudar o resultado. 39 O poder, dependendo de como ele for exercido, pode impactar negativamente no clima organizacional. Isso ocorre principalmente nos casos de imposição, em que a equipe não é ouvida e não reconhece o chefe como um líder, alguém que querem seguir. Poder e liderança não são a mesma coisa: um indivíduo pode usar seu poder formal, mas não ser um líder, porém um líder, por ter capacidade de influenciar seus liderados, exerce um tipo de poder que está associado à sua persuasão, influência, conhecimento etc. 2.2.4 Liderança Já parou para pensar em quem você considera um líder? Robbins (2002, p. 304) define liderança como “a capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos. A origem dessa influência pode ser formal, como a conferida por um alto cargo na organização”. Porém existe também a liderança que Robbins denomina ”não sancionada”, isto é, quando a capacidade de influenciar não está aliada a um cargo na estrutura da organização. Alguns líderes são reconhecidos por unanimidade. Alguns exemplos são Nelson Mandela e Mahatma Gandhi e, mais recentemente, Richard Branson e Steve Jobs. Vale a pena saber mais um pouco sobre eles e entender seus modelos de liderança (Figura 18). Várias pesquisas já foram realizadas para entender quais comportamentos, atitudes e capacidades transformam alguém em um líder, mas não existem características que possam ser aplicadas universalmente. Para Robbins (2002), existem seis traços que costumam diferenciar os líderes. São eles: ambição e energia, desejo de liderar, honestidade e integridade, autoconfiança, inteligência e conhecimento relevante para o trabalho, além da capacidade de ajustar seu comportamento a diferentes situações. Para saber mais sobre o tema ”poder e clima organizacional”, leia a dissertação no link a seguir. PEREIRA, L.A. Poder e clima organizacional: um estudo de caso em uma empresa petroquímica. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Federal da Bahia. Salvador, p. 120, 2003. Disponível em: http://www.adm.ufba.br/pt-br/ publicacao/poder-clima-organizacional-estudo-caso-empresa-petroquimica. Acesso em: 02/03/2019. Saiba mais 40 Figura 18 Cabe ao líder, assessorado pelo setor de Recursos Humanos (RH), perceber o humor da equipe e as condições do clima organizacional. Ele deve refletir sobre as causas quando reconhecer um problema, e propor, junto com o RH, um plano de ação. Crédito: © PeopleImages | iStockphoto.com. Quer saber mais sobre o papel da liderança no clima organizacional? Veja a seguir. CORREIA, H. O papel da liderança sobre o clima organizacional. Publicado em 05/03/2019. Disponível em: http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/ o-papel-da-lideranca-sobre-o-clima-organizacional/75943/. Acesso em: 02/03/2019. SABOIA, J.; CHIES, S. Considerações sobre a influência da liderança no clima organizacional: estudo de caso múltiplo. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/ arquivos/artigos12/8716377.pdf. Acesso em: 02/03/2019. ALMEIDA, A. et al. A influência da liderança no clima organizacional. Disponível em: |http://revista.fasf.edu.br/index.php/conecta/article/download/60/pdf. Acesso em: 03/02/2019. Saiba mais 41 Um líder preocupado com sua equipe e com a organização deverá gerenciar o clima organizacional.Para isso, deve analisar os fatores que afetam a satisfação e a motivação para o trabalho, identificar as causas e desenvolver um plano de ação a fim de melhorar o comprometimento e a produtividade dos funcionários (CARVALHO, 2009). Parágrafo de Conclusão da Unidade Chegamos ao fim da Unidade 2. Nela foram analisados os principais fatores que influenciam a cultura e o clima organizacionais. Em relação à cultura, os fatores da cultura nacional que a influenciam, os elementos que compõem sua construção, os tipos de cultura organizacional, considerando também a relação com o mercado e alguns outros componentes que devem ser considerados. Em relação ao clima, compreendeu-se a importância de considerar a subjetividade e a forma de exercer o poder e a liderança. Além disso discutiu-se o exercício da coerência da organização com valores propostos/ valores da organização em relação às pessoas e como podem influenciar o clima e o comprometimento do indivíduo com a empresa. 42 CARVALHO, G. A liderança como ferramenta para a melhoria do clima organizacional. Monografia (Pós-Graduação ‘Lato Sensu’ em Pedagogia Empresarial). Universidade Cândido Mendes. Rio de janeiro, p. 40, 2009. Disponível em: www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/n203012.pdf. Acesso em: 02/03/2019. COHEN, H. Você pode negociar tudo: como preparar e aperfeiçoar suas habilidades de negociação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. DAFT, R. Organizações: teoria e projetos. São Paulo: Thomson Learning, 2006. DAVEL, E.; VERGARA, S.C. Gestão com pessoas, subjetividade nas organizações. In: Gestão com pessoas e subjetividade . 4.ed. São Paulo: Atlas, 2010. DINSMORE, P. Poder e influencia gerencial: além da autoridade formal. Rio de Janeiro: COP,1989. JOHANN, S. 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Contextualizando As escolas são organizações que participam do ambiente de mercado e recebem dele diversos tipos de influência, como, por exemplo, as mudanças tecnológicas que estão impactando o comportamento do ser humano desde a primeira infância, que pareciam inofensivas em um primeiro momento e agora geram a necessidade de uma revisão completa da forma de ensinar, do papel da escola e do professor (Figura 1). Como uma organização, a escola tem sua cultura e seu clima, e entendê-los aumenta a possibilidade de sucesso da gestão. 3 Figura 1 A chegada da tecnologia exigiu que as escolas revissem sua forma de ensinar. Crédito: © Graham Oliver | 123rf.com. Entendendo os Conceitos Nesta Unidade, vamos abordar diretamente a instituição escolar como uma organização que tem sua cultura e pode: l ter origem familiar, militar ou confessional; l ser pública ou privada; l passar por processo de fusão ou aquisição. Mas com certeza terá: l estrutura organizacional, missão, visão e valores; l algum tipo de gestão e de gestor ou líder; l normas; l ritos e cerimônias. E também terá um clima organizacional que precisará ser gerido. Lembramos que a cultura organizacional tem os seguintes objetivos: l criar uma identidade organizacional compartilhada por seus membros; l facilitar o compromisso coletivo, alinhando os objetivos; l promover a estabilidade organizacional; l moldar o comportamento; l ajudar os membros da organização a darem sentido ao ambiente e ao próprio trabalho. 4 3.1 Uma Leitura a Partir das Visões de Cultura Organizacional Para Ferraz (2014): uma escola não é um conjunto de salas de aula onde os professores são individualmente responsáveis pela prática pedagógica nela desenvolvida. Constitui-se uma entidade sociocultural formada por grupos que vivenciam códigos e sistemas de ação num processo que faz dela, ao mesmo tempo, produto e instrumento cultural. Uma escola é uma organização e tem sua própria cultura. As discussões sobre educação frequentemente se alternam entre o ambiente da sala de aula e as políticas educacionais, saindo do micro e indo direto ao macroambiente (Figura 2). Nessas alternâncias, muitas vezes as instituições escolares não são percebidas como o lugar das mudanças e inovações em uma escala em que é possível atuar, apesar da complexidade técnica, científica e humana. Não podemos esquecer que a autonomia da escola é considerada relativa, ela é o território intermediário que se liga a um macrossistema e atua de forma local (NÓVOA, 2019). Figura 2 A discussão gira em torno, muitas vezes, de a escola ter ou não robótica, por exemplo. Crédito: © Graham Oliver | 123rf.com. As escolas, mesmo seguindo a mesma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), não são iguais (Figura 3). Elas se diferenciam por seu projeto pedagógico, mas também por outros elementos, que compõem ou influenciam sua cultura e seu clima organizacionais. Como: l localização – assentamento informal (favela), bairro de classe baixa, média ou alta; l origem – pública, militar, privada, privada familiar, privada confessional; 5 l instalações físicas – edificação, organização dos espaços, recursos tecnológicos disponíveis, área livre; l faixa etária – uma escola pode atender a diferentes faixas etárias simultaneamente, como no caso de educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio, ou trabalhar com apenas uma. Também deve-se considerar o número de turmas; l condições financeiras dos alunos; l o elemento humano e suas relações sociais são importantíssimos nos ambientes escolares. É necessário considerara relação entre alunos, professores, funcionários, gestores e a participação dos pais, além do nível de democracia interno; l forma de gestão – centralizada ou participativa, incluindo o tipo de participação dos diversos atores; l liderança – tipo e forma que é exercida; l estrutura organizacional – como a escola funciona e quais são seus níveis hierárquicos. Figura 3 Escolas em áreas com diferentes condições financeiras devem seguir a mesma Base Nacional Comum Curricular, mas têm especificidades e influência da cultura regional do entorno. Crédito: © Aurelio Scetta| 123rf.com. Na estrutura administrativa, temos gestão, direção, controle, tomada de decisão, professores, pessoal auxiliar, relação com comunidade e autoridades centrais e locais. Além dos diversos elementos que influenciam e são influenciados na construção de uma cultura efetiva, em cada um deles há uma enorme variação possível. Não se trata de desenvolver juízo de valor e dizer que isso é bom e aquilo é ruim, afinal cada família busca um conjunto de características e saberes diferentes para seus filhos e há opções para todos, ou quase todos. 6 A coerência entre o que a escola apresenta em seu marketing e coloca efetivamente em prática no dia a dia determina sua credibilidade na sociedade e internamente. Isso determina sua cultura e gera impacto no clima organizacional, afetando as condições sobre as quais se constrói a qualidade do ensino. Considerando a importância da gestão da cultura e do clima nos ambientes escolares, seus gestores deveriam dedicar mais tempo, esforço e atenção contínua aos aspectos que os constituem (LÜCK, 2017). O entendimento do cotidiano escolar revela o que acontece na escola, como é sua cultura e como está o clima organizacional, informações que se integram e associam, formando um único mapa para as ações de gestão e pedagogia. As informações surgem de pequenos atos, olhares, silêncios que vão formando significado para o observador. O cotidiano escolar tem uma dinâmica própria em cada unidade e é exercida pelos atores sociais que a compõem. Esses sujeitos são únicos, com uma história própria, e ajudam a formar a individualidade de cada organização. Cada escola tem sua história e constrói, ao longo do tempo, uma personalidade, que se reflete em como a instituição e seus membros agem e reagem em relação a um determinado evento. Para Lück (2017), os conceitos e elementos que compõem clima e cultura organizacionais formam um referencial para a compreensão estruturada do que ocorre na dinâmica da escola, em comportamentos e atitudes. O não entendimento e a incapacidade de gerir essas dimensões, aliados à dificuldade de alcançar objetivos, levam o gestor escolar ao estresse e os funcionários à falta de perspectiva por não saberem como agir (Figura 4). A escola, como instituição, depende de como as pessoas coletivamente estão organizadas e realizam seu trabalho, distribuem e assumem responsabilidades, tomam decisões e as implementam, percebem seu trabalho e constroem significado. Figura 4 Profissionais sobrecarregados ou sem perspectiva passam por altos índices de estresse. Crédito: © Manuel Faba Ortega | 123rf.com. 7 Ao analisar a cultura no ambiente escolar, temos uma variedade de atores e interesses que convivem e não podem ser ignorados, já que estão em constante interação, determinando a forma de ser e de fazer da instituição e formando uma teia de relações e comunicação. Consideramos atores participantes diretamente do processo: l órgão de gestão (administrativo e pedagógico); l pessoal docente; l pessoal não docente – funcionários em geral; l alunos; l pais; l comunidade – parceiros educativos (clubes, postos de saúde, ONGs). Tanto o clima quanto a cultura organizacional são multidimensionais, formados por vários fatores, e sofrem diversos tipos de influência (Figura 5). Todo esse conjunto se reflete no modo de agir da escola como instituição e por meio de seus indivíduos (LÜCK, 2017). Figura 5 O clima organizacional afeta os diversos atores da instituição escolar. Crédito: © milkos| 123rf.com. Experiências ruins podem levar os indivíduos a se sentirem desmotivados, a perderem a segurança no próprio trabalho, e abalar o clima da organização. Em casos mais sérios, a experiência é incorporada na cultura organizacional por meio de estórias, crenças e valores. Uma experiência boa pode gerar um clima favorável e ser usada como reforço para se obter comportamentos do mesmo tipo no futuro. Situações boas ou ruins podem influenciar a cultura. Observa-se, assim, que nenhuma cultura é imutável. A cultura é formada pelas pessoas coletivamente organizadas, a partir de como enfrentam os desafios e de sua visão de mundo (LÜCK, 2017). 8 Cultura regional A comunidade aparece na listagem de envolvidos na vida da escola, por meio de agentes externos que se relacionam com a escola, como, por exemplo: l postos de saúde que enviam profissionais à escola para prover palestras sobre assuntos como dengue, cuidado com os dentes etc.; l clubes que podem abrir espaço para que os alunos de uma escola usem suas instalações; l empresas e profissionais que atuam no entorno próximo e que podem fazer palestras sobre suas atividades. Mas também a escola pode abrir as portas para que seu espaço seja usado pela comunidade. Por exemplo, o uso da quadra de esportes no fim de semana por moradores do entorno ou em algum evento específico, como no caso de Festa Junina aberta (Figura 6). Figura 6 Incentivar o trabalho conjunto da escola com a comunidade próxima pode ser uma forma de ensinar cidadania. Crédito: © Wavebreak Media Ltd | 123rf.com. Essa relação com o bairro traz para a escola possibilidades de integração e um componente cultural, que devem ser considerados. 9 Também precisamos considerar como influência para a cultura da instituição escolar a condição financeira do bairro onde está instalada, o que fará com que os alunos se deparem com um tipo de realidade específica. No Rio de Janeiro, temos favelas em bairros de classe média alta que têm escolas de alto padrão. Seus alunos, no caminho da escola e, em alguns casos, de dentro da própria escola, podem observar as favelas e uma realidade diferente da que vivem em suas casas. Esse elemento pode ou não ser trabalhado pela escola em sua cultura organizacional. Os alunos trazem para a escola uma bagagem adquirida com suas famílias. Mesmo sem ter consciência, eles se comportam da forma que viram seus pais atuando, que reflete parte da cultura nacional ou regional. A cultura deve refletir a proposta pedagógica da escola e estar expressa nos elementos que vimos nos capítulos anteriores. Vamos aqui revisitá-los. Elementos da cultura organizacional Ao observarmos como as escolas expressam missão, visão e valores, identificamos diferenças bastante significativas. Você já parou para pensar na missão das escolas que você conhece, ou melhor, por que elas existem? Você já pensou na importância da relação da escola com a comunidade? Veja o artigo a seguir. EDUCAÇÃO INFANTIL. Por que a relação entre escola e comunidade é importante? Entenda! Disponível em: https://educacaoinfantil.aix.com.br/por-que-a-relacao- entre-escola-infantil-e-comunidade-e-importante-entenda/. Acesso em 04/03/2019. Publicado em 15/12/2017. Saiba mais 10 Vejamos a razão de ser (missão) de algumas escolas declaradas em seus sites: Escola Eleva (Rio de Janeiro – particular) MISSÃO Nossa missão é formar uma nova geração de líderes capazes de fazer a diferença em suas vidas e contribuir para um mundo melhor. Disponível em: https://escolaeleva.com.br/sobre-nos/missao-e-valores/. Acesso em 03/03/2019. Colégio Santo Inácio (Rio de Janeiro – Rede Jesuíta de Educação – particular) MISSÃO A finalidade de nossos colégios, sua razão de ser, é uma só: contribuir para a missão evangelizadora da Igreja por meio da formação integral das crianças, dos adolescentes e dosjovens que nos são confiados, à luz de uma concepção cristã da pessoa humana e da sociedade em cujo meio as pessoas deverão conviver, trabalhar, ajudar-se mutuamente, respeitar-se e amar-se. Tudo no colégio, o que acontece dentro e fora das salas de aula, deve orientar-se para a consecução desse único objetivo. Disponível em: http://www.santoinacio-rio.com.br/s/index.php/0- colegio/2014-05-15-20-38-51. Acesso em 03/03/2019. Escola Waldorf (São Paulo – particular) MISSÃO Atuar pelo desenvolvimento harmonioso da criança e do jovem, em um ambiente de convergência de forças em prol do pensar lúcido, do equilíbrio nas emoções e de uma atuação consciente. Disponível em: https://www.waldorf.com.br/index.php/pt/. Acesso em 03/03/2019. Colégio Militar (Fortaleza - público) MISSÃO Ministrar a educação básica, nos níveis Fundamental, do 6º ao 9º ano, e Médio, do 1º ao 3º ano, em consonância com a legislação federal da educação nacional, obedecendo às leis e tradições do Exército Brasileiro, com objetivo de assegurar a formação do cidadão e de despertar vocações para a carreira militar. Disponível em: http://www.cmf.eb.mil.br/index.php/missao. Acesso em 03/03/2019. Você percebe como os objetivos de organizações de ensino podem variar e que a forma de implementá-los também pode ser diferente? Na prática Ao buscarmos pelos valores das escolas que listamos anteriormente, verificamos que nem todas os declaram, como pode ser visto a seguir (Figura 7): l Escola Eleva (RJ): respeito, entusiasmo, excelência, responsabilidade, bondade. l Colégio Santo Inácio (RJ): não declarado no site. 11 l Escola Waldorf (SP): coragem para transformar sempre; compromisso com a autoeducação e o desenvolvimento coletivo; inclusão com responsabilidade; reconhecimento e atuação na realidade brasileira; valorização e respeito ao indivíduo em desenvolvimento, de acordo com a Antroposofia; cultivo permanente da confiança, doação e gratidão. l Colégio Militar (CE): não declarado no site. Figura 7 Os valores de uma instituição escolar formam a base e a engrenagem sobre a qual todas as relações devem ser construídas. Crédito: © marinini| 123rf.com. Escolas públicas dificilmente têm missão, visão e valores declarados, mas dispõem de autonomia para que esse trabalho seja feito internamente e consolidado em suas ações. Todo o conjunto de elementos da cultura organizacional deve ser coerente com a missão, a visão e os valores da instituição escolar e também com sua proposta pedagógica. Lembramos que esses elementos são: normas, espaço físico, ritos e forma de comunicação, além da liderança e do exercício do poder. Juntos, esses elementos formam a personalidade da instituição escolar e definem o comportamento dos diversos atores dentro do ambiente. O espaço físico da escola deve refletir a proposta pedagógica, mas também ter elementos que transmitam a cultura e não estejam explícitos na metodologia de ensino (Tabela 1). Uma proposta pedagógica que acredita em crianças brincando livres e podendo se sujar deve ter espaço que permita esse tipo de atividade. Essa proposta pedagógica deve estar integralmente associada ao espaço, por exemplo em salas multiuso, espaços pouco segmentados e até em uniformes confortáveis. 12 Tabela 1 Algumas características que podem ser transmitidas pelo espaço físico em escolas sobre aprendizagem, atividade, comunicação e poder Elemento Características Transmitidas pelo Espaço Físico Aprendizagem Participativa, dinâmica, orientada pelo princípio da descoberta, objetivo da escola como um todo. Formal, estática, fragmentada, orientada pelo princípio da certeza, objetivo a ser realizado pelos alunos. Atividade Dinâmica, participativa, envolvente. Estática, fragmentada, formal. Comunicação Amistosa, solidária, inclusiva. Excludente, departamentalizada, segregadora. Poder Disseminado. Centralizado. Fonte: Parte do quadro de características do clima e da cultura organizacional em escolas (LÜCK, 2017). O clima organizacional é considerado a camada mais superficial da cultura e mais facilmente observável. É caracterizado pelas percepções consciente dos indivíduos em relação ao que acontece no seu entorno. O clima corresponde a uma fotografia do momento e ao humor da organização e funciona como o primeiro termômetro para que o gestor possa avaliar como a organização e suas características estão sendo percebidas (Figura 8). A influência do diretor da escola sobre o clima e a cultura da instituição é reconhecido, não somente em estudos, mas no cotidiano, em frases como “a escola tem a cara de seu diretor” (LÜCK, 2017). Em relação ao clima, podemos observar alguns aspectos, como os apresentados na Tabela 2. Tabela 2 Algumas características do clima que podem ser observadas nas relações nos ambientes escolares sobre ambiente emocional, comunicação e relações interpessoais Elementos Características do Clima Ambiente emocional Alegre, leve, acolhedor, produtor de bem-estar. Irritável, tenso, produtor de mal-estar. Comunicação Amistosa, solidária, inclusiva. Excludente, departamentalizada, segregadora. Relações interpessoais Amigáveis e recíprocas. Impessoais e unilaterais. Fonte: Parte do quadro de características do clima e da cultura organizacional em escolas (LÜCK, 2017). 13 Figura 8 O bom clima organizacional no ambiente escolar é facilmente percebido. Crédito: © Wavebreak Media Ltd| 123rf.com. A gestão, tal como feita por outros tipos de organizações, parece ainda não ter aderência da maioria das instituições escolares. Em outros ambientes, vemos o reconhecimento da importância do planejamento estratégico, da definição e da comunicação de elementos como missão, visão e valores a fim de construir um sentido único como instituição, gerando normas, ritos e forma de expressão coerentes. Pesquisando em sites de escolas, encontramos pouquíssima informação sobre questões e elementos essenciais que definem a cultura da organização, como se isso não fosse importante. Devemos lembrar que a cultura é vivenciada dentro da organização. Assim, no caso de instituições escolares, precisa estar alinhada com o projeto pedagógico. Quando não há coerência e coesão com princípios bem comunicados, os colaboradores (funcionários e professores) e usuários (alunos e pais) podem ficar confusos com mensagens que apontam em direções diferentes. Além disso, o que não for explicitado será inferido no dia a dia da instituição escolar por meio do que for observado, consciente ou inconscientemente, por meio de gestos, uso do espaço físico, relacionamentos interpessoais, processos de comunicação e tomada de decisão, entre outros (LÜCK, 2017). Ressaltamos o papel do gestor na unidade da instituição, reconhecendo, segundo Lück (2017), que compreender e gerir o clima e a cultura organizacional faz com que possa agir efetivamente como líder e orientador, mantendo o foco na formação e na aprendizagem de seus alunos. Essa ação do gestor em relação ao clima e à cultura deve ser sistemática e intencional, além de considerar as condições circunstanciais, questões subjetivas, interativas, subjacentes e contextualizadas. Os indivíduos buscam referências sociais para saber como se posicionar e o que fazer, enfim, como deve ser seu comportamento. As pessoas agem conforme o significado que atribuem ao que percebem, por isso é necessária uma comunicação efetiva e clara da mensagem relativa a como é a cultura e seus elementos. 14 Uma liderança pouco efetiva por meio de sua omissão ou hesitação pode permitir ações centradas em interesses pessoais e não organizacionais, pautados por tendências imediatistas e reativas em vez de priorizar os interesses socioeducativos para o desenvolvimento do aluno (Figura 9). Figura 9 Lembre-se de que, quando falamos de comunicação, um elemento importantíssimo é o silêncio; afinal o silêncio também comunica. Crédito: © Wavebreak Media Ltd | 123rf.com. O ambiente do século XXI trouxe uma série de incertezastambém para as organizações escolares. A voz corrente é a de que a forma de ensinar precisa ser atualizada, mas essa não foi a única mudança. Temos visto o surgimento de escolas consideradas alternativas por sua forma de ensinar, a criação de grandes grupos de escolas e universidades por fusões e/ou aquisições, grupos econômicos comprando redes de universidades. Independentemente da percepção de cada um – se esse movimento é bom ou ruim –, isso é um fato, e precisamos lidar com seus efeitos na cultura e no clima dessas organizações. Conheça um pouco mais sobre os desafios enfrentados pelos educadores em: KAGAN, Spencer. Os desafios da educação do século XXI. Disponível em: https://www. cpp.org.br/informacao/ponto-vista/item/10499-os-desafios-da-educacao-dos-seculo- xxi. Acesso em 04/03/2019. Publicado em 03/02/2017. Saiba mais 15 A mudança é uma constante em nossos dias, gerada por diversas circunstâncias relacionadas, principalmente, à evolução disruptiva da tecnologia e ao comportamento do indivíduo que foi influenciado não só pelas novas tecnologias, mas também pela mudança nas relações sociais. Para Bauman (2004), as relações sociais estão cada vez mais líquidas, isto é, menos estáveis. Assim, as novas gerações chegam às escolas com novas demandas. Você acha que as instituições escolares e seus atores estão abertos a inovações e mudanças? Os desafios da escola passam por questões como: a chegada da geração Z, o relacionamento com os pais e o bullying. Veja o artigo a seguir. ELEVA PLATAFORMA DE ENSINO. Educação do século XXI: quais os principais desafios? Disponível em: https://blog.elevaplataforma.com.br/educacao-do-seculo-xxi- quais-os-principais-desafios/. Acesso em 04/03/2019. Educação 3.0, já ouviu falar? Talvez sim, com outro nome. Dê uma olhada no vídeo a seguir. NOVOS ALUNOS. Educação 3.0: conheça esse novo modelo de ensino. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WzbwCi8Zys4. Acesso em 05/03/2019. Você viu o filme Sociedade dos Poetas Mortos? Lançado em 1990, esse filme teve no elenco Robin Williams e foi dirigido por Peter Weir. Nele você pode observar que a cultura da Escola Vermont era muito tradicional e o professor John Keating (Robin Williams) era malvisto pela direção da escola por suas ideias de liberdade e independência; suas aulas fugiam completamente ao padrão da instituição. No caso do filme, mesmo o professor fazendo muito sucesso com seus alunos, a instituição não estava pronta para mudar. As instituições escolares que você conhece estão prontas para mudar? Para refletir 16 Para Lück (2017), apesar das novas demandas, lógicas e discursos, as escolas têm dificuldade de mudar suas crenças e a interpretação do seu papel na formação de seus alunos, mantendo o modo de ser e de fazer antigos. Essa resistência tem se demonstrado prejudicial para a evolução e o aprendizado da própria organização escolar. A partir da necessidade de mudança, seja imposta pelo mercado (pais e alunos) ou para atender a um novo controlador, deve-se elaborar um projeto, que começa com a sensibilização de todos para a importância daquela mudança. Quando a mudança é uma imposição, a resistência tende a ser enorme. Esse projeto de mudança deve considerar não somente a nova técnica que você quer utilizar, mas também todo o impacto ao trabalho e aos processos em vigor, o novo papel das pessoas e o que muda na cultura da organização para que a implantação seja um sucesso. 3.2 Elementos Específicos A escola como organização é considerada uma instituição burocrática, em que existem: l conjunto de regras – deveres, responsabilidades e autoridades claramente definidos para cada posição. O indivíduo em uma função assume o conjunto de atributos; l princípios de hierarquia – os cargos obedecem a uma hierarquia que é reconhecida pelo poder de comandar e pelo valor da remuneração; l competência profissional – cada tarefa corresponde a um tipo de competência, que pode ser treinada. A ascensão aos cargos mais elevados é feita com base na capacidade; l conhecimento técnico – regras que definem o sistema social em que o indivíduo está envolvido e que determinam o desempenho na função. Podemos observar que a hierarquia é um elemento central nas organizações burocráticas, bem como a competência e o conhecimento técnico. A escola tem uma estrutura organizacional que reflete esses princípios: para determinados cargos, é necessária uma formação específica, como no caso dos diretores de escolas, que devem ser formados em Pedagogia. Na organização burocrática, a autoridade é o reconhecimento e a aceitação do poder que emana de cargos e não das pessoas. É o reconhecimento da desigualdade, o que ocorrerá em paz se as regras combinadas forem cumpridas, caso contrário pode-se revogar essa aceitação. A partir daí, a autoridade será exercida por meio de ações coercitivas e não do reconhecimento espontâneo (Figura 10). 17 Figura 10 Exercício do poder de forma exacerbada pode gerar um clima ruim de trabalho. Crédito: © imtmphoto | 123rf.com. Percebemos que a hierarquia e a autoridade estão sempre presentes nas discussões e nos conflitos no dia a dia do ambiente escolar (SILVA, 2001), o que pode ser potencializado por ciúmes, fofocas, inveja e desconfiança. Na escola, temos a gestão administrativa e a gestão pedagógica. Embora cada uma tenha uma função, é importantíssimo que estejam alinhadas em relação à cultura da instituição, isso porque devem transmitir o mesmo conjunto de valores para a equipe, que deverá trabalhar de forma coerente, desde a definição da metodologia de ensino até o marketing. Essa coesão faz com que os indivíduos se sintam mais motivados a fazer um bom trabalho e diminui a rotatividade. Como transmitir a cultura à equipe? l Demonstre o alinhamento da gestão administrativa e pedagógica; l Dê o exemplo; l Não deixe que problemas de comunicação atrapalhem; l Envolva-os nas novas diretrizes. Lembre-se de que uma cultura será forte se for compartilhada por todos. Invista em uma comunicação aberta. 18 A escola como organização, além das diretrizes internas definidas pelo corpo gestor, também está sujeita a orientações, princípios e valores definidos pelo sistema educacional. 3.2.1 Relações de poder A autoridade e as relações de poder dentro da escola, assim como no ambiente externo, se transformam no tempo e no espaço, isto é, mudam ao longo do tempo e de acordo com as características regionais (Tabela 3). Além, é claro, da origem da organização: militar, pública, particular confessional, particular familiar etc. Portanto, o mais importante é que você desenvolva o senso de observação e análise porque em cada escola a situação estará configurada de uma maneira. Veja também o artigo a seguir. EI ESCOLA DA INTELIGÊNCIA. Afinal, como transmitir a cultura da escola para os demais profissionais? Disponível em: https://escoladainteligencia.com.br/afinal-como- transmitir-a-cultura-da-escola-para-os-demais-profissionais/. Acesso em 05/03/2019. Saiba mais Lück (2008, pp. 106-7) apresenta perguntas para reflexão, vejamos algumas: l Como se processa o jogo de poder nas interações e associações estabelecidas na escola? l Quem tem poder sobre quem? Sobre o quê? Com que objetivo específico? l Como é exercido o poder? Com que resultado? l Como se formam as relações de poder na escola? O que as mantêm? l Como são percebidas as relações de poder pelos membros da escola? Quais as suas reações? Para refletir 19 Tabela 3 Algumas características do exercício do poder que podem ser observadas nos ambientes escolares em relação à autoridade, expectativas de resultados, liderança e ao próprio poder Elementos Características do exercício do poder Autoridade Focada no exercício de responsabilidade. Focada no exercício das funções do cargo. Expectativas de resultados Elevadas e explícitas. Baixas e camufladas. Liderança De coordenação e orientação. De controlee cobrança (falsa liderança). Poder Disseminado. Centralizado. Fonte: Parte do quadro de características do clima e da cultura organizacional em escolas (LÜCK, 2017). A permissão para o exercício da autoridade, da hierarquia e da participação se dá em diversas esferas, como: l professor e aluno; l direção e professores; l direção e alunos; l direção e pais; l direção e funcionários não docentes; dentre outras. A direção de algumas escolas pode escolher ser mais impositiva, enquanto outras buscam um caminho mais participativo e de negociação. As práticas impositivas são esperadas em ambientes militares e devocionais, onde se obtêm bons resultados. Porém, fora desses espaços, o melhor caminho tem sido o mais participativo, que gera maior engajamento dos diversos atores envolvidos (Figura 11). Figura 11 Quando há participação, cada um dos atores se considera um pouco como autor da proposta, gerando maior engajamento. Crédito: © rido | 123rf.com. 20 Um fator a ser considerado é a visão negativa que se tem do poder desenvolvido a partir de manifestações individualistas e oportunistas de uns contra os outros. É fundamental lembrar que ele passa a ter uma ação positiva ao ser orientado ao bem-estar comum e com a realização de objetivos sociais superiores a interesses individuais (LÜCK, 2008). A análise do conceito de poder e da autoridade, quando vista de modo que a quantidade de poder é limitada, pela ótica do “ganha-perde”, com a percepção de que ao dá-lo a uns é necessário retirá-lo de outros – e os indivíduos não gostam de perder nada, muito menos poder –, pode levar à resistência a qualquer mudança do status quo. Lück (2008) chama a atenção para o paradigma, que é utilitarista da administração e não da gestão, e acredita que a gestão precisa olhar para o bem coletivo. Poder e tomada de decisão caminham juntos. A escolha é colocada em prática também por meio do exercício do poder. Em diversos tipos de organizações, e também nas escolas, identificamos sistemas de feudos de poder construídos, ao longo do tempo, a partir de “direitos adquiridos” e considerados legítimos por um determinado grupo (Figura 12). Em instituições escolares, isso se expressa frequentemente em horários alternativos, uso do espaço e de materiais de forma privilegiada. Em alguns casos, algo que parece ser inofensivo em um primeiro momento pode se mostrar danoso na construção da cultura organizacional saudável, podendo chegar a impactar os resultados educacionais. Ainda é possível que gere a insatisfação de outros profissionais, que, ao perceber o privilégio de alguns, se sentem desmotivados. Silva (2001) lembra que a autoridade é confundida com coerção e violência, porém defende que quando a coerção ou a violência são usadas é porque a autoridade fracassou. O dito popular “manda quem pode e obedece quem tem juízo” refere-se à hierarquia reconhecida e legitimada pelas partes envolvidas. Para refletir 21 Figura 12 Fofocas, grupinhos e feudos de poder enfraquecem a cultura de uma organização. Crédito: © Lightwave Stock Media | 123rf.com. A prática de interferência e controle na escola sem considerar o que os profissionais pensam, como percebem a realidade e como a vivenciam leva, muitas vezes, ao exercício do contrapoder, que pode ocorrer de diversas formas. Por exemplo, quando os profissionais, por não concordarem com as ações propostas, boicotam a execução de decisões da administração, embora tenham condições de colocá-las em prática, chegando ao ponto de um professor ter práticas na sala de aula que têm pouca relação com o currículo determinado e o programa de ensino (LÜCK, 2008). A construção da competência educacional é uma tarefa de diversos atores. Para que o engajamento aconteça, são considerados pontos positivos: l participação coletiva na análise de problemas e na tomada de decisão; l determinação de ações e propósitos educacionais. Tudo isso alinhado com os valores pedagógicos e a construção de uma ótica coletivista. Assim, a gestão participativa, que abordaremos na seção seguinte, aparece como um bom caminho a ser seguido pelas instituições escolares. 3.2.2 Participação da comunidade e seus diversos atores A participação é definida a partir de um conjunto de processos que permitem que os trabalhadores sejam envolvidos em definição de objetivos, solução de problemas, tomada de decisão e acesso às informações. A participação também é associada à partilha de poder (GOUVEIA, 2013). O indivíduo torna-se um ser humano pleno à medida que participa do grupo e mobiliza sua energia e atenção como parte efetiva de sua unidade social e da sociedade como um todo (Figura 13). A participação democrática vai além da necessidade de participação humana. Ela deve ser orientada por um sentido maior de harmonizar e coordenar esforços, além de contribuir para o bem de todos (LÜCK, 2008). 22 Figura 13 Construção conjunta de planos e projetos pode ser uma maneira de envolver os diversos atores. Crédito: © rawpixel| 123rf.com. Para que a gestão participativa ocorra, ela precisa ser levada em consideração em sua cultura organizacional, em: normas, valores, além de estratégias formais e informais. Desenvolver essa cultura de participação depende de como seus membros interagem entre si, do modo como organizam o trabalho e de como tomam decisões. O processo de participação não pode ser parcial, deve alcançar todos os segmentos orientados à construção conjunta, caso contrário será usado apenas para camuflar o exercício do poder em que alguns decidem e outros executam. Para Lück (2008, pp. 65-71), são três as dimensões da participação: política, pedagógica e técnica. l A dimensão política refere-se ao compartilhamento do poder, de modo a aumentar o poder de todos. O indivíduo entende que está controlando seu próprio trabalho e desenvolve, assim, maior consciência e responsabilidade por ele. A escola se transforma em uma “oficina de democracia”, e desenvolve-se a prática da cidadania. Como resultado, temos maior autonomia, empoderamento, consciência social e desenvolvimento de competências sociais; l A dimensão pedagógica da participação refere-se ao fato de que a prática em si é um processo formativo e permanente de ação-reflexão, desenvolve o sentido de corresponsabilidade e amplia conhecimentos, habilidades e atitudes relativas à prática social. Essa experiência transforma as pessoas que a vivenciam; l A dimensão técnica é complementar à dimensão política. A competência técnica executa a vontade política e o projeto pedagógico, mas é preciso ter um método de atuação. 23 A participação não é imposta ou concedida, deve ser estimulada, de modo que se torne um processo contínuo. Pode ser implementada com reuniões e equipes de trabalho (Figura 14). Nesse processo, é importante desenvolver uma comunicação aberta e franca, além de estabelecer propósitos comuns, compromisso e cooperação. Para tal, deve-se desenvolver um método de trabalho coletivo eficaz ou poderá se transformar em um desperdício de tempo (GOUVEIA, 2013). Figura 14 Uma das formas de participação ocorre em grupos de trabalho. Crédito: © Daniel Ernst| 123rf.com. Ainda é importante considerar que embora as pessoas desejem participar da construção dos destinos de unidade social, no caso a escola, não desejam assumir o ônus de fazê- lo, e assim manifestam interesse inicial e, na sequência, demonstram comportamentos evasivos e resistência ao envolvimento necessário às ações. Para participar, será necessário sair da zona de conforto e assumir novas responsabilidades. A participação dos pais ou responsáveis pela educação não pode se limitar às questões administrativas ou de correção de comportamento ruim dos filhos. A falta de integração escola-família é reconhecida como um dos maiores problemas pelas escolas. A participação dos professores, em conjunto e com o espírito de equipe, pode transformar a prática pedagógica. Implica em criar uma culturade troca, reciprocidade e compartilhamento de responsabilidade. Promover um ambiente participativo depende de (LÜCK, 2008): l criação de uma visão de conjunto associada a uma ação cooperativa; l promoção de um clima de confiança e reciprocidade; l valorização das capacidades e aptidões dos participantes; l facilitação dos processos de comunicação e do relacionamento interpessoal, além da eliminação de divisões; 24 l estabelecimento de demanda de trabalho centrada em ideias e não em indivíduos; l desenvolvimento da prática da aceitação de responsabilidades em conjunto. As escolas públicas recebem diversos tipos de determinações do sistema educacional. Novas demandas chegam por portarias e resoluções secretariais, e normas de departamentos são propostas, desenvolvidas e impostas de fora para dentro, pensadas fora do contexto escolar e sem o envolvimento dos profissionais da escola, que não se sentem estimulados a colocarem-nas em prática; portanto simplesmente cumprem ordens ou desenvolvem ações de contrapoder. Quer saber mais sobre gestão participativa nas escolas, veja os links a seguir: BERALDO, Fernando; PELOZO, Rita. A gestão participativa na escola pública: tendências e perspectivas. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/ arquivos_destaque/SU3onzBiYiLUhza_2013-6-28-15-24-32.pdf. Acesso em 05/03/2019. ESCOLA WEB. Precisamos falar sobre gestão escolar participativa. Disponível em: https://www.escolaweb.com.br/blog/precisamos-falar-sobre-gestao-escolar- participativa/. Acesso em 05/03/2019. Saiba mais Figura 15 A direção da escola deve estar pronta para ouvir. Crédito: © rawpixel | 123rf.com. 25 A gestão participativa nas escolas tem diversos desafios, vejamos alguns deles a seguir (NOVOS ALUNOS, 2017). Desafios enfrentados pela direção l Despir-se do papel de detentor do poder, mostrar-se aberto ao diálogo e disposto a ouvir todos os diversos atores (Figura 15). l Acatar sugestões e rebater críticas de maneira amistosa e construtiva quando assim for necessário. l Faltar repasse de formação para a gestão participativa por parte da equipe diretiva das escolas. l Abrir-se a sugestões e demandas de “leigos” em processos pedagógicos. Desafios enfrentados pelos alunos l Percepção restrita do papel da escola. São poucos os jovens que enxergam a escola como um local onde seus pensamentos, ideias e opiniões são realmente escutados e levados em consideração. l Criar um envolvimento do aluno com a escola, tornando-o ativo, e não um receptor passivo de informações. Desafios enfrentados pelos pais l Dificuldade de os pais se mostrarem dispostos a participar e a opinar sobre a vida escolar dos filhos e da escola onde eles estudam; l Tempo para tomarem seu lugar como atuantes na comunidade escolar, indo às reuniões, expondo suas sugestões e opiniões acerca da gestão escolar; l Compreender que não há divisão na vida dos estudantes em “na escola” e “em casa”. Essa postura não contribui para que valores inclusivos, democráticos e cidadãos sejam absorvidos pelas crianças. A gestão participativa nas escolas tem diversos benefícios, vejamos alguns deles a seguir (NOVOS ALUNOS, 2017) (Figura 16). 26 Figura 16 A gestão participativa pode ocorrer de diversas formas. O importante é que todas as partes se sintam representadas. Crédito: © rawpixel | 123rf.com. Benefícios para os alunos l Maior comprometimento de professores e equipe diretiva com o processo educacional, já que seu trabalho e ações estão sendo acompanhados de perto por todos; l Grade curricular atualizada e contextualizada ao cenário socioeconômico: por ser debatida e discutida com frequência com pais, professores e alunos; l Melhora no desempenho escolar resultante do maior envolvimento dos pais na vida escolar dos estudantes; l Maiores níveis de motivação e engajamento desenvolvidos a partir de suas participações. Os alunos se percebem como personagens atuantes nos processos escolares; l Formação cidadã e democrática. Esse talvez seja o benefício mais marcante de uma gestão participativa na escola. Benefícios para a direção da escola l Maior facilidade na tomada de decisões, que se torna mais simples e inclusiva com a participação de todos os envolvidos nos processos educativos; l Divisão da responsabilidade pelos resultados que são compartilhados por todos os que fizeram parte do processo; l Diminuição da pressão: muitos gestores e diretores escolares trabalham sob imensa pressão. Ao implementar a gestão participativa, porém, a tendência é que essa pressão diminua sensivelmente, o que melhora a qualidade de vida e, consequentemente, o engajamento dos gestores nos processos escolares; l Diminuição do isolamento físico e profissional a partir do momento que saem do papel de “chefes” e integram-se de maneira mais efetiva e humana na comunidade escolar. 27 Benefícios para a comunidade l Desenvolvimento de projetos e objetivos comuns para escola e comunidade a partir da gestão participativa, visando beneficiar a ambos; l Melhor atendimento das demandas sociais da região de maneira muito mais efetiva e eficiente; l Amadurecimento pessoal e aumento do senso de cidadania: ao contribuir para a formação cidadã, democrática e inclusiva, a escola que conta com a gestão participativa cria e “entrega” cidadãos mais conscientes à comunidade; l Maior participação social surge a partir da aceitação da escola de dar voz a grupos comumente excluídos dos processos decisórios escolares. A gestão e o planejamento participativos aparecem como uma maneira de as instituições escolares melhorarem seu clima e cultura organizacionais, já que seus atores se sentem protagonistas do processo como um todo (COSTA et al., 2019). Sabemos que existem obstáculos para que ocorra a implantação do modelo de gestão participativa, mas também são visíveis as vantagens e os benefícios a todos os personagens da comunidade escolar. Apesar dos diversos benefícios identificados, entendemos que a formação de jovens cidadãos cientes de seus deveres e direitos, com altos níveis de empatia e melhor preparados para enfrentar a vida adulta já seria benefício suficiente para termos um mundo melhor no futuro. 3.2.3 Projeto pedagógico: teorias e práticas Você já percebeu como a cultura organizacional (CO) e o projeto pedagógico (PP) devem caminhar juntos? O projeto pedagógico confere identidade à escola, assim como a cultura organizacional confere identidade às instituições de qualquer tipo (Tabela 4). No caso da escola, essa deve ser uma construção conjunta e coerente. 28 Tabela 4 Demonstração da complementaridade dos conceitos e ações do projeto pedagógico e da cultura organizacional. A cada elemento ou orientação relativa ao PP cabe uma observação complementar sobre a CO Projeto pedagógico (PP) Cultura organizacional (CO) O PP será o resultado de reflexões e questionamentos de seus profissionais sobre o que é a escola hoje e o que poderá vir a ser. Missão (o que a escola é, sua razão de existir) e visão (o que quer vir a ser) fazem parte da construção da CO. Não começa de uma só vez e não nasce pronto. É construída ao longo do tempo. Não é obra exclusiva do diretor, ou do professor coordenador, mas sim de um grupo que engloba, no início, coordenação, direção e corpo docente. Com o tempo, incluirá todo o coletivo escolar. Deve ser participativa e incentivar a comunicação aberta, para que permita a construção do PP. Confere identidade à escola como uma instituição que tem personalidade própria, por refletir o pensamento do seu coletivo. É definida como a personalidade da organização. Busca a construção da identidade da escola; estabelece seu direcionamento; almeja o comprometimento da comunidade escolar com uma visão comum e compartilhada de educação. A visão comum e compartilhada é a transmitida e implementada pela cultura organizacional. Se baseia nos seguintes princípios: garantia do acesso epermanência do aluno na escola; gestão democrática; valorização dos profissionais da educação; qualidade do ensino; organização e integração curricular; integração escola/família/comunidade; autonomia. Precisa dar suporte para que esses princípios sejam garantidos e realmente colocados em prática. A construção do PP servirá de base para a organização pedagógica da escola. O espaço físico precisa ser coerente com a prática pedagógica e passar de forma subjetiva os conceitos implícitos. A construção e a implementação dos planos de ação devem ser compartilhadas por todos os segmentos da escola (Figura 17). É importante que todos tenham acesso às informações sobre o planejamento e o acompanhamento das ações, evitando-se que alguns pensem e outros façam, sem saber por que o fazem. Deve ser o elo facilitador para que essas práticas aconteçam. Fonte: Adaptado do texto de PINTO (2019). Figura 17 Uma mudança deve ser planejada e compartilhada por toda a organização. Crédito: © Daniil Peshkov| 123rf.com. 29 A construção do projeto pedagógico (PP) deve ser vista como um projeto de mudança organizacional. Assim partimos das fases de elaboração propostas por Pinto (2019) e apresentamos algumas observações complementares (Tabela 5). Tabela 5 Elementos complementares à elaboração do PP para aumentar as possibilidades de sucesso na implantação de uma nova CO Fases de elaboração do PP Observações relativas ao projeto de mudança organizacional Sensibilização Não abordada nas orientações formais de elaboração e implantação de um PP Sensibilização Para que o diagnóstico aconteça de forma efetiva, a CO deve ser propícia ao compartilhamento de conhecimento e ser pautada no respeito e em uma comunicação aberta. A participação das pessoas na etapa de diagnóstico dependerá do quanto elas estiverem sensibilizadas para a elaboração do PP e de que entendam que, para construir o PP, é necessário entender qual a lacuna entre o que praticam e o que devem começar a praticar. 1ª fase – Diagnóstico Deve-se considerar os seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e jurídicos. A ideia é conhecer os problemas e identificar onde e como a escola está, discutindo a partir de três questões: - Como é a nossa escola? Informações sobre o trabalho que a escola vem realizando; - O que tem feito? Dados sobre sua realidade, e serão analisados, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, tanto os que significam dificuldades quanto os que representam sucesso; - Como tem sido feito? Contexto sócio-político-econômico, como tem sido a participação dos pais, que resultados têm sido presentados para a sociedade. Buscar o entendimento comum sobre: - Recursos humanos e financeiros disponíveis; - Como a escola funciona, como o processo pedagógico é acompanhado e avaliado; - Insatisfações de cada segmento (grupo de atores) e desejos de mudança. A comunicação sempre deve ser uma prioridade em todo o processo, além da gestão do conhecimento. É preciso manter um histórico/documentação do processo, como registro para futuras ações e como informação para os que tiveram alguma impossibilidade de estar presentes. Usar técnicas de facilitação, inclusive com recursos visuais. 2ª fase – Que identidade a escola quer construir? A escola precisa buscar uma fundamentação que oriente a ação conjunta dos seus segmentos. O grupo deve responder: - O que fazer? Levantar as concepções que o coletivo tem do trabalho pedagógico, visando propor inovações no cotidiano escolar; - Questionamento de todos a respeito de suas concepções: • Que tipo de sociedade nossa escola quer? Que cidadão nossa escola deseja formar? • O que entendemos por educação? • Que escola pretendemos construir? • Como concebemos a gestão escolar? • Qual é a nossa compreensão de currículo? Qual será a missão da nossa escola? • Qual é a visão da nossa escola sobre avaliação? • Como nossa escola encara a questão metodológica? • Que tipo de relação nossa escola quer manter com a comunidade local? • Que tipo de profissional temos e qual queremos? • De que profissionais precisamos? Resultará em um posicionamento político-pedagógico, que levará a uma definição das concepções e ações a serem compartilhadas pelos seus autores, com o objetivo de unificar o trabalho coletivo. Está se concebendo também a cultura que os diversos segmentos acreditam ser a mais efetiva para aquela escola, a partir do que ela é e com os recursos que tem. Vários elementos da CO são levantados e colocados em questionamento nas perguntas que observamos ao lado. Usar técnicas de facilitação, inclusive com recursos visuais. (continua) 30 Tabela 5 Elementos complementares à elaboração do PP para aumentar as possibilidades de sucesso na implantação de uma nova CO (continuação) Fases de elaboração do PP Observações relativas ao projeto de mudança organizacional 3ª fase – Como executar as ações definidas pelo coletivo? Uma vez estabelecidas as concepções do coletivo, é preciso definir: - As prioridades da escola; - As ações que a escola irá desenvolver; - As pessoas que irão realizá-las. É o momento de definir um plano de ação que deve conter, no mínimo: o que será feito, como será feito (método, ações, etapas), quem fará e quando. O que será feito deve ser priorizado. Normalmente o grupo chega a um número de ações maior do que a capacidade de execução, e assim é preciso definir o que é mais importante e que gerará mais resultados. Outro ponto importante é o prazo para a execução das tarefas. Com relação a quem se envolverá com cada projeto ou tarefa, o ideal é trabalhar com o voluntariado, em que cada um escolhe em que vai colocar sua energia extra. Determinar a frequência de acompanhamento do plano. Acompanhamento Não abordado nas orientações formais de implantação de um PP O plano elaborado na etapa anterior permite que haja um acompanhamento das ações. Os responsáveis pelas tarefas e pelos projetos devem reportar ao grupo o andamento do trabalho e as dificuldades encontradas com frequência determinada durante a elaboração do plano. A necessidade de avaliação permanente Responder às seguintes indagações: - Em que medida os desafios foram atendidos no projeto pedagógico? - Quais os novos desafios que estão surgindo no percurso? - As ações propostas foram desenvolvidas? - Quais são os seus efeitos? O projeto pedagógico e a cultura organizacional estão em construção constante e devem ser avaliados para gerar crescimento e melhoria contínuos. Fonte: Sonia Lopes, adaptado de PINTO (2019). Você quer aprender algumas técnicas de facilitação? Elas podem ser muito úteis para a condução de reuniões e processos decisórios quando sua escola quer ter uma cultura participativa. NASCIMENTO, Rafael. Facilitação: o que é e porque você deveria aprender. Disponível em: http://blog.adaptworks.com.br/2015/01/facilitacao-o-que-e-e-por-que-voce- deveria-aprender/. Acesso em 05/03/2019. Publicado em 15/01/2015. AUDY, Jorge. Alguns fundamentos sobre facilitação de reuniões. Disponível em: https://jorgeaudy.com/2016/09/18/alguns-fundamentos-sobre-facilitacao-de- reunioes/. Acesso em 05/03/2019. Publicado em 18/09/2016. Saiba mais 31 A proposta de que os diversos atores se envolvam no entendimento do que é a escola e na construção de uma identidade requer uma cultura aberta à participação de todos e que se crie o engajamento necessário à execução das ações, diminuindo as resistências. A construção conjunta do PP sinalizará a necessidade de mudanças no status quo da escola e na própria cultura. Usei diversas vezes a palavra “coerência” conscientemente. Isso porque é importante estarmos atentos para essa prática, pois uma cultura se torna fraca a partir da percepção dos indivíduos de que as ações estão descoordenadas e as mensagens que chegam apontam para caminhos diferentes, o que também abre espaço para subculturas e principalmente contraculturas. No caso da escola,o seu principal direcionador é o plano pedagógico. Esse é o principal elemento que deve ser alinhado com os elementos da cultura organizacional. Esse alinhamento fortalecerá ambos de forma integral. Para refletir 3.2.4 Currículo e práticas educacionais como espelhos da cultura escolar O projeto pedagógico é uma ferramenta estratégica e um instrumento político, por se comprometer com a formação do cidadão para o tipo de sociedade que se deseja. Dele saem as diretrizes relativas ao currículo e às demais práticas educacionais. O currículo deve ser construído considerando, além do plano político pedagógico, as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Suas características e ações devem ser apoiadas pela cultura organizacional. Nesse sentido, a gestão escolar assume um papel extremamente importante, principalmente considerando que vai além de atividades de planejamento, coordenação, controle e avaliação, mas assume o papel de transformar o ideal sonhado (projeto pedagógico) em práticas do dia a dia. Essa atuação é facilitada por uma gestão participativa e apoiada por uma cultura organizacional consistente. A gestão estabelecida desse modo se reveste de um caráter sociopolítico negado à administração quando esta se restringe a aspectos técnico-administrativos. 32 Para Brito (2019), durante a reorganização curricular, os diversos atores na escola esperam que o líder seja capaz de perceber os elementos pelos quais a cultura organizacional revela-se como disfuncional para a sobrevivência da organização e que seja feito um trabalho conjunto. Organizações com o exercício do poder centralizado geram, para esse gestor, uma sobrecarga enorme, pois existe a tendência de ele ser cobrado continuamente por quaisquer novos processos ou falhas que ocorram. Nesses casos, a cultura é conivente com esse comportamento e o clima repercute nessas cobranças e resistências expressas ou ocultas. Uma proposta de mudança curricular, por exemplo, pode se tornar extremamente complexa em uma cultura fechada, com dificuldades de comunicação, pouca confiança e poder centralizado. Parágrafo de Conclusão da Unidade Chegamos ao fim da Unidade 3. Nela tratamos diretamente da escola como uma organização que tem suas peculiaridades, mas à qual se aplicam os conceitos de cultura organizacional. Nesse contexto, são criticadas: relações de poder, participação dos diversos atores na gestão e na construção do projeto pedagógico, bem como nas práticas organizacionais. Esse ambiente precisa de uma cultura de confiança, cooperação e com uma comunicação aberta. 33 BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. BRITO, Regina. Reorganização curricular: gestão, cultura e clima da escola. Disponível em: http://www.anped.org.br/sites/default/files/gt12-4893-int.pdf. Acesso em 06/03/2019. COSTA, Edna et al. Possibilidades de melhoria do clima e cultura organizacional através de práticas de planejamento participativo na educação. Disponível em: http:// www.editorarealize.com.br/revistas/conedu/trabalhos/TRABALHO_EV056_MD1_SA6_ ID10076_17082016163251.pdf. Acesso em 06/03/2019. FERRAZ, Elen. Caracterização e análise da cultura organizacional existente de uma escola pública. Disponível em: https://direcionalescolas.com.br/caracterizacao-e-analise- da-cultura-organizacional-existente-de-uma-escola-publica/. Acesso em 04/03/2019. Publicado em 25/08/2014. GOUVEIA, Duarte. A gestão da escola e a participação dos atores educativos. Relatório de atividade profissional (Faculdade de Ciências Sociais) Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, p.73, 2013. LÜCK, Heloisa. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. LÜCK, Heloisa. A gestão participativa na escola. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. NÓVOA, António. Para uma análise das instituições escolares. Disponível em: https:// docplayer.com.br/4276697-Antonio-novoa-para-uma-analise-das-instituicoes-escolares. html. Acesso em 03/03/2019. NOVOS ALUNOS. Entenda os desafios para alcançar a gestão participativa na escola. Disponível em: http://novosalunos.com.br/entenda-os-desafios-para-alcancar-com-a- gestao-participativa-na-escola/. Acesso em 05/03/2019. Publicado em 03/03/2017. PINTO, Luiz. Dezesseis passos para a construção do Projeto Pedagógico. Disponível em http://www.udemo.org.br/RevistaPP_01_02Dezesseis%20Passos.htm. Acesso em 06/03/2019. SILVA, Joyce. Cultura escolar, autoridade, hierarquia e participação: alguns elementos para reflexão. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0100-15742001000100006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 05/03/2019. Publicado em mar/2001. Referências Bibliográficas 34 Sugestões de Leitura AUDY, Jorge. Alguns fundamentos sobre facilitação de reuniões. Disponível em: https:// jorgeaudy.com/2016/09/18/alguns-fundamentos-sobre-facilitacao-de-reunioes/. Acesso em 05/03/2019. BERALDO, Fernando; PELOZO, Rita. A gestão participativa na escola pública: tendências e perspectivas. Disponível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_ destaque/SU3onzBiYiLUhza_2013-6-28-15-24-32.pdf. Acesso em 05/03/2019. EDUCAÇÃO INFANTIL. Por que a relação entre escola e comunidade é importante? Entenda! Disponível em: https://educacaoinfantil.aix.com.br/por-que-a-relacao-entre- escola-infantil-e-comunidade-e-importante-entenda/. Acesso em 04/03/2019. Publicado em 15/12/2017. EI ESCOLA DA INTELIGÊNCIA. Afinal, como transmitir a cultura da escola para os demais profissionais? Disponível em: https://escoladainteligencia.com.br/afinal-como-transmitir- a-cultura-da-escola-para-os-demais-profissionais/. Acesso em 05/03/2019. ELEVA PLATAFORMA DE ENSINO. Educação do século XXI: quais os principais desafios? Disponível em: https://blog.elevaplataforma.com.br/educacao-do-seculo-xxi-quais-os- principais-desafios/. Acesso em 04/03/2019. ESCOLA WEB. Precisamos falar sobre gestão escolar participativa. Disponível em: https:// www.escolaweb.com.br/blog/precisamos-falar-sobre-gestao-escolar-participativa/. Acesso em 05/03/2019. KAGAN, Spencer. Os desafios da educação do século XXI. Disponível em: https://www. cpp.org.br/informacao/ponto-vista/item/10499-os-desafios-da-educacao-dos-seculo-xxi. Acesso em 04/03/2019. Publicado em 03/02/2017. NA PRÁTICA. 14 técnicas de facilitação que fazem a diferença no dia a dia profissional. Disponível em: https://www.napratica.org.br/tecnicas-de-facilitacao-para-dia-a-dia- profissional/. Acesso em 06/03/2019. NASCIMENTO, Rafael. Facilitação: o que é e porque você deveria aprender. Disponível em: http://blog.adaptworks.com.br/2015/01/facilitacao-o-que-e-e-por-que-voce-deveria- aprender/. Acesso em 05/03/2019. Publicado em 15/01/2015. NOVOS ALUNOS. Educação 3.0: conheça esse novo modelo de ensino. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WzbwCi8Zys4. Acesso em 05/03/2019. 1 Unidade 4 A Escola como Empreendimento 2 Unidade 4 Objetivos da Unidade Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: • perceber como as experiências de outros tipos de organizações podem ser úteis na construção da instituição escolar; • identificar possibilidades de uso e benefícios da gestão de pessoas por competências; • entender como pode melhorar sua liderança; • perceber como determinados aspectos da gestão podem influenciar a motivação dos diversos atores; • identificar caminhos possíveis para a melhoria contínua. Contextualizando Diversos tipos de organizações têm feito avanços em relação às suas práticas. Atualmente há exemplos bons e ruins em instituições dedicadas a produtos e serviços. A escola é uma organização e, como tal, pode aprender com outras experiências positivas e negativas, mas é importante lembrarmos que cada organização tem peculiaridades e mesmo a aplicação de práticas testadas deve ser feita após análise cuidadosa e visão crítica. Entendendo os Conceitos O tema desta unidadeé “a escola como empreendimento”, mas o que é um empreendimento? 3 De modo geral, associamos empreendimento, empresa e empreender com o ato de ser proprietário ou sócio de uma organização com fins lucrativos, pessoa jurídica registrada com todos os direitos e deveres resultantes dessa situação. Porém, segundo o dicionário on-line Michaelis, empreendimento é: 1. “Ato de empreender; empresa, entrepresa, interpresa. 2. Aquilo que se empreendeu; empresa, realização, cometimento. 3. Atitude de quem assume uma tarefa. 4. Entidade organizada para a realização de negócios; firma.” Ainda segundo o dicionário on-line Michaelis, empreender é: 1. “Resolver-se a praticar (algo laborioso e difícil); tentar. Exemplo: Resolveram empreender aquela escalada perigosíssima. 2. Pôr em execução; fazer, realizar. Exemplo: Conseguiu finalmente empreender uma pesquisa acadêmica. Empreender uma viagem.” Os reais significados dessas palavras nos proporcionam novas perspectivas e apontam não só a escola como um empreendimento, mas também todo diretor, coordenador ou professor como um empreendedor. Empreender pode ser definido, poeticamente, como todo o esforço necessário para transformar um sonho em realidade. Nesta Unidade apresentaremos alguns modelos testados em outras organizações que podem servir de referência para você empreender em sua escola. Por exemplo: l gestão de pessoas por competência; l estilos de liderança; l motivação; l qualidade de vida no trabalho. Também será discutido o aprendizado com a própria experiência, como melhoria contínua. 4.1 O que a Escola pode Aprender com Outras Organizações O conceito de “organização que aprende”, que foi amplamente divulgado por Peter Senge a partir da década de 1990, continua válido e necessário. No momento atual estamos vivenciando a “quarta revolução industrial”, que apresenta vários desafios relacionados 4 principalmente com a tecnologia e a agilidade. Para sermos mais ágeis, flexíveis e adaptáveis devemos estar atentos ao que está acontecendo a nossa volta e o que podemos aprender com essas experiências, o que facilitará nosso percurso. A “organização que aprende”, além da contínua disposição em adquirir conhecimento, deve também desaprender, isto é, desapegar de conceitos e práticas obsoletas, para que novas possam ser incorporadas integralmente. A organização aprende a partir de seus membros, que devem ser valorizados. O capital humano assume o protagonismo, deve estar em contínuo desenvolvimento; além disso, atrair e manter talentos passa a ser uma prática extremamente importante. Atualmente o conhecimento move a economia. Basta observar que os detentores do poder são as organizações que gerenciam dados (Figura 1). As empresas com maior valor na Bolsa de Valores não são aquelas com grandes parques industriais, imóveis e máquinas, como na época da Revolução Industrial. Figura 1 Em 2004, o Google abriu capital e arrecadou US$ 1,67 bilhão em sua IPO, uma das maiores da história. Crédito: © unitysphere | 123rf.com. O processo de aprendizagem de uma organização é contínuo, não se encerra em momento algum; ao deixar de aprender uma organização morre. Esse processo deve ser incentivado pela cultura da organização. Para Senge (2004), a construção de uma organização que aprende ocorre a partir de cinco dimensões que, se implementadas em conjunto, têm seus resultados potencializados. São elas: pensamento sistêmico, domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada e aprendizagem em equipe. 5 Vamos conhecê-las? l Pensamento sistêmico – pensar a organização como partes independentes não viabiliza a resolução dos problemas mais graves e subestima o impacto de decisões e a análise de problemas. O pensamento sistêmico ajuda a compreender a organização como um sistema interdependente. l Domínio pessoal – refere-se a um nível especial de proficiência; as pessoas com altos índices de domínio pessoal tendem a comprometer-se com o próprio aprendizado ao longo da vida. As organizações precisam incentivar esta prática; quando isso não ocorre, as pessoas perdem o brilho e se sentem desmotivadas. l Modelos mentais – influenciam nosso modo de ver e agir no mundo, são responsáveis, em muitos casos, pela resistência a mudanças. Devem ser revistos, discutidos e flexibilizados ou impedirão o aprendizado e o crescimento da organização. Para aprender é preciso estar disposto a mudar. l Visão compartilhada – não basta uma missão formal escrita em um quadro na entrada do edifício, o que mobiliza uma organização é um objetivo comum em torno do qual as pessoas se organizam e geram resultado. Essa visão compartilhada é parte de uma cultura organizacional forte. l Aprendizagem em equipe – em uma organização, quando se estimula demais a competição é comum que não haja espírito de equipe e que o que é aprendido não é compartilhado. A aprendizagem em equipe possibilita que a organização alcance resultados excelentes e que seus funcionários se desenvolvam rapidamente. Nesse contexto, a “gestão do conhecimento” assume grande importância para as organizações, pois, para Nonaka e Takeuchi, a criação do conhecimento está relacionada com a inovação contínua e a vantagem competitiva (CARVALHO, F. et al, 2019) Quer conhecer mais sobre organizações que aprendem? Acesse os links a seguir. PIRES, C. O que é e como se tornar uma organização que aprende. Disponível em: https://redeindigo.com.br/o-que-e-e-como-se-tornar-uma-organizacao-que-aprende/. Acesso em: 07/03/2019. Publicado em 16/01/2018. PIRES, C. Gestão do conhecimento e as organizações do século XXI. Disponível em: https://redeindigo.com.br/gestao-do-conhecimento-as-organizacoes-do-seculo-xxi/. Acesso em: 07/03/2019. Publicado em 28/01/2018. Saiba mais 6 Com a mudança nas relações, os novos colaboradores já não visam permanecer em uma organização por muitos anos; assim, muitas vezes, não usam o aprendizado de um projeto para fazer outro na mesma empresa, eles levam suas experiências aplicando-as em outra organização. Esse é um risco que todas as organizações estão atualmente sujeitas. 4.1.1 Gestão de pessoas por competências A vantagem competitiva de uma organização está em seus funcionários. Cada indivíduo vai para o trabalho com sua personalidade, motivações, cultura, qualidades e defeitos. Assim a gestão de pessoas se apresenta como uma área complexa devido ao gerenciamento de toda essa diversidade e que deve ser considerada em seus planos e projetos organizacionais (Figura 2). Figura 2 As organizações são formadas por indivíduos complexos e diversificados. © Orlando Rosu | 123rf.com. A inclusão da subjetividade nos estudos sobre as organizações é um grande passo para quebrar o modelo clássico que considera a organização apenas como uma entidade puramente racional. Porém essa inclusão não pode ignorar os processos racionais, também complexos e necessários. Embora ainda existam gestores que não consideram as questões subjetivas, percebe- se cada vez mais a importância de considerar de forma conjugada fatores relacionados às dimensões física, emocional e espiritual na gestão de recursos humanos (DAVEL & VERGARA, 2010). As organizações têm o desafio de identificar e manter aqueles que trabalham em cargos que são cruciais para a vantagem competitiva da instituição (BJÖRKMAN & SMALE, 2010). As dificuldades são muitas, como: reconhecer quais os funcionários mais talentosos, onde estão alocados. etc. Outro ponto importante é a avaliação do funcionário. Nela o avaliador 7 deve ser imparcial. O superior direto normalmente avalia o empregado e certamente não será uma opinião objetiva, mas impregnada de subjetividade. De acordo com Lauro (2008), uma retenção eficaz de talentos deve considerar o desenvolvimento de estratégias específicas, que podem englobar: l oferta de salários competitivos; l cuidado com o clima organizacional; l possibilidades de desenvolvimento pessoal; l Alternativasaos esquemas tradicionais de treinamento. A preocupação da organização com a retenção de talentos deve ocorrer a partir de um mapeamento de competências essenciais. Entende-se por competência (CARBONE,2006): l conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para determinadas atividades; e l desempenho do indivíduo em determinando contexto (considerando suas realizações a partir da aplicação desses conhecimentos, habilidades e atitudes no trabalho). O resultado do trabalho é, então, expresso em criação de valor econômico e social. A seguir é apresentada a definição dos três conceitos abordados anteriormente: conhecimento, habilidade e atitude (CARBONE et al., 2006). Conhecimento é saber acumulado ao longo da vida, também definido como as informações reconhecidas e integradas à memória do indivíduo e que influenciam seu julgamento e comportamento. Habilidade é a aplicação produtiva do conhecimento ou ainda a aplicação do que está na memória em ações que geram resultado. Atitude é o que determina sua conduta em relação aos outros, ao trabalho e a situações; inclui aspectos sociais e afetivos. Importante 8 Veja um exemplo, publicado por Amaral (2006). Nele observa-se que a competência “trabalho em equipe” pode ser formada por diversos conhecimentos, habilidades e atitudes (Tabela 1). Tabela 1 Competência - Trabalho em equipe e sua composição Trabalho em equipe Trabalho coletivo em que os integrantes do grupo somam suas competências em torno de um propósito único Conhecimento Habilidade Atitude Organização da informação Aprendizagem com as experiências Agilidade Relatórios Apresentação de resultados Assertividade Tecnologia da informação Influência Confiabilidade Julgamento Cooperação Liderança Criatividade Negociação Diplomacia Organização de equipes Discrição Raciocínio lógico Empatia Resolução de problemas Ética Saber ouvir Flexibilidade Trabalho sob pressão Humildade Versatilidade Motivação Visão global Observação Organização Perseverança Proatividade Respeito Segurança Seriedade Senso crítico Fonte: AMARAL (2006, p. 138). Pessoas, equipes e organizações tornam-se conhecidas por suas competências, mas deve-se lembrar que são as competências dos indivíduos que constroem as competências organizacionais necessárias para alcançar os objetivos estratégicos. Isso é gestão por competências (CARBONE et al., 2006). 9 O processo de gestão por competências se inicia com o planejamento estratégico e, no caso das escolas, também com o projeto pedagógico, definindo-se inclusive os objetivos estratégicos organizacionais e seus indicadores de desempenho e metas. Com isso é possível identificar as competências necessárias para alcançar o resultado esperado. Em seguida deve-se identificar se essas competências já estão disponíveis na organização. O mapeamento das competências deve ser feito em duas dimensões: l competências atuais ou existentes internamente; l competências desejadas ou necessárias. A identificação das lacunas entre as competências existentes na organização e as necessárias são o foco para o alcance de determinado objetivo estratégico. Em relação às competências necessárias, é importante: 1. conhecer o planejamento estratégico, incluindo missão, visão e objetivos estratégicos; 2. identificar as competências necessárias ao alcance desses objetivos; 3. coletar dados com pessoas-chave da organização em relação aos itens 1 e 2; 4. comparar o que foi levantado nos itens 1 e 2 com o resultado do item 3. Em relação às competências existentes, a partir de um mapeamento inicial pode-se ter um processo que possibilite a atualização contínua das competências dos colaboradores ativos. Após esse mapeamento, realiza-se um processo no qual a organização busca reconhecer e atestar até que ponto as pessoas ou equipes possuem determinadas competências profissionais. Gestão por competência é o alinhamento de esforços para que as competências humanas possam produzir e sustentar as competências organizacionais necessárias para o alcance dos objetivos estratégicos da organização. Importante 10 A avaliação e a validação de competências profissionais podem ser feitas por meio de diversos métodos, sendo o mais comum a Avaliação 360°, em que uma rede de pessoas registra e recebe feedback sobre seu trabalho. A rede é composta por superiores hierárquicos, pares, subordinados, clientes e fornecedores. A identificação das competências de uma organização e a compreensão sobre o que falta para o alcance dos objetivos estratégicos, além de possibilitar uma alocação mais adequada do funcionário, também orienta os processos de contratação. Quer saber mais sobre os tipos de competências? Leia o artigo indicado no link a seguir. SANTOS, D. Mapeamento de competências. Disponível em: https://www.rhportal.com. br/artigos-rh/mapeamento-de-competncias/. Acesso em: 07/03/2019. Uma visão mais geral pode ser obtida no artigo: SANTANDER NEGÓCIOS E EMPRESAS. Mapeamento de competências: o que é e como fazer? Disponível em: https://www.santandernegocioseempresas.com.br/detalhe- noticia/mapeamento-de-competencias-o-que-e-e-como-fazer.html. Acesso em: 07/03/2019. Uma boa referência é o documento disponibilizado em 2013 pela Secretaria de Gestão Pública para uso no sistema de capacitação: SEGEP. Guia de referência prático: mapeamento e avaliação de competências. Disponível em: http://www. gespublica.gov.br/sites/default/files/documentos/guia_de_referencia_pratico- mapeamento-14-08-13.pdf. Acesso em: 07/03/2019. Saiba mais 4.1.2 Liderança Entre as principais habilidades da administração geral, tem-se: liderança, comunicação, negociação, solução de problemas e influência na organização. Essas habilidades se complementam; por exemplo, um líder precisa saber se comunicar efetivamente, negociar e influenciar ações na organização. O desenvolvimento dessas habilidades ocorre, muitas vezes, simultaneamente. 11 Em diversos tipos de organização, constata-se que o indivíduo que chega a um cargo de chefia não necessariamente está preparado. Em alguns casos, há exigência de formação técnica, mas não em relação às habilidades interpessoais. Assim, esse chefe só consegue atuar por meio do exercício de seu poder hierárquico e, em alguns casos, se esquiva do poder e da tomada de decisões, refugiando-se no trabalho técnico, sua zona de conforto. Liderança é mais do que exercer uma chefia. A maioria das organizações já entendeu que, para assumir um posto de liderança, é fundamental que o indivíduo esteja preparado, desenvolva habilidades que lhe permitam influenciar a equipe. A liderança envolve sinergia, além de estabelecer direções, treinar, ser o exemplo, alinhar e incentivar pessoas (Figura 3), enquanto a gerência se preocupa em produzir resultados que atendam aos diversos envolvidos e a suas expectativas. Figura 3 O líder estabelece a direção e incentiva pessoas. Crédito: © rawpixel | 123rf.com. Liderança diz respeito ao enfrentamento da mudança inspirando pessoas a seguir novos rumos. Alguns traços são perceptíveis, como: ambição, energia, desejo de liderar, honestidade e integridade, autoconfiança, inteligência, flexibilidade e conhecimentos relevantes para o trabalho. Mas essas características não garantem que o indivíduo seja efetivamente um líder. Outra observação é que os líderes não são todos iguais, eles possuem personalidades e formas de agir muito diferentes (ROBBINS, 2004). Há teorias divergentes em relação à liderança ser nata ou não, isto é, persistem dúvidas sobre se alguém pode aprender a ser líder ou se nasce líder. O que podemos concordar é que os indivíduos podem aprender novas técnicas, e com isso melhorar suas habilidades, mas, para incorporar tudo em atitudes, o trabalho precisa ser mais profundo. De qualquer modo, pode-se melhorar o desempenho do chefe rumo à liderança. 12 Apresentaremos algumas teorias para que você possaentender um pouco mais o que os estudiosos encontraram como resultado de suas pesquisas (ROBBINS, 2007). Teoria da meta e do caminho Desenvolvida por Robert House. Segundo a teoria da meta e do caminho, cabe ao líder orientar e fornecer o apoio necessário para que o funcionário alcance suas metas e assegurar que elas estejam alinhadas com os objetivos estratégicos da organização. O líder deve ser um facilitador do caminho, removendo obstáculos e armadilhas. House identificou também quatro comportamentos de liderança: l líder diretivo – organiza o trabalho, fornece instruções precisas e deixa claro o que é esperado do liderado; l líder apoiador – é amigável e demonstra sensibilidade a partir das necessidades dos liderados; l líder participativo – consulta os funcionários e utiliza suas ideias para a tomada de decisão; l líder orientado para a conquista – estabelece metas desafiadoras e espera o melhor desempenho possível dos funcionários. Modelo da participação e liderança Desenvolvido por Victor Vroom e Phillip Yetton. Nesse modelo os pesquisadores usaram o ponto de vista da participação dos liderados, isto é, o quanto o líder permite que seus liderados participem do processo decisório. Apesar de ser um ponto de vista interessante, o modelo, conforme construído, demonstrou ser muito complexo e sofisticado, o que dificultou a sua utilização na prática. Figura 4 A participação da equipe pode ocorrer de várias maneiras e em diferentes ocasiões. Crédito: © rawpixel | 123rf.com. 13 Liderança carismática ou transformacional Pela força da capacidade pessoal, o líder pode despertar o sentimento de importância e de valor em relação às tarefas, transformando os seus liderados. Os líderes carismáticos têm características como: autoconfiança, inspiram a visão de uma meta realizada e de um futuro melhor, estão comprometidos com essa meta, comportamento não convencional percebido como novo ou contrário às normas e representam a imagem de um agente de mudança radial e não de um mantenedor do status quo. Liderança visionária É a capacidade de criar e articular uma visão de futuro realista, ativa e digna de crédito para a organização; esse tipo de líder parte de uma avaliação da situação presente e busca a melhoria. Normalmente tem facilidade em explicar sua visão aos outros, expressa-se bem verbalmente e em seus comportamentos, além de conseguir expandir essa visão a diferentes contextos de liderança. Liderança situacional Desenvolvida por Hersey e Blanchard (DUARTE; PARRA, 2011), a teoria situacional defende que o líder eficaz detém três habilidades fundamentais: diagnóstico, flexibilidade e parceria para o desempenho. Essa teoria defende que o líder muda o seu modo de atuação de acordo com a maturidade do liderado para a tarefa, e assim pode: l Delegar – alta maturidade l Apoiar – boa maturidade l Treinar ou orientar – média maturidade l Dirigir – baixa maturidade Quer saber mais sobre as teorias de liderança? Leia o artigo indicado a seguir, ele apresenta uma revisão bibliográfica muito boa. GONÇALVES, H.; MOTA, C. Liderança situacional em gestão de projetos: uma revisão da literatura. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prod/2011nahead/aop_ t6_0007_0204.pdf. Acesso em: 07/03/2019. Saiba mais 14 A maioria dos executivos, treinados sob a ótica de comando e controle, tem dificuldade de atuar como líderes. O líder deve inspirar e: l ser elemento de ligação com componentes externos, como superiores, clientes, fornecedores e pares; l solucionar problemas com a equipe, principalmente relacionados a recursos e prazos; l administrar conflitos, ajudando a resolver questões interpessoais e minimizando aspectos destrutivos dos conflitos; l treinar (quando definem papéis e expectativas), ensinar, apoiar e fazer o necessário para melhorar o desempenho do funcionário. A confiança é um elemento-chave para que o líder construa uma relação com seus liderados. É a expectativa de que a outra pessoa não vai agir de maneira oportunista: não vai puxar o seu tapete. A confiança é construída e precisa de tempo para se tornar sólida. As dimensões básicas da confiança são: integridade, competência, consistência, lealdade e abertura (ROBBINS, 2007). Como desenvolver os papéis de liderança? Figura 5 Modelo de desenvolvimento das habilidades de liderança, proposto por Quinn. Fonte: Adaptado de CAVALCANTI et al. (2005, p. 65). Na Figura 5 são apresentados os papéis de liderança dentro do círculo, que são: inovador, negociador, produtor, diretor, coordenador, monitor, facilitador e mentor. Os que estão do lado direito são direcionados para o lado de fora da equipe e às vezes da própria organização. Do lado esquerdo são apresentados os papéis direcionados à equipe e à organização. 15 Na parte de cima os papéis são mais flexíveis, e na parte de baixo, mais controladores. Esses papéis podem ser desenvolvidos conforme a necessidade e focando nos atributos centrais de cada um (CAVALCANTI et al., 2005): l inovador – adaptável a mudanças, pensamento criativo e gestão de mudança; l negociador – construção e manutenção de uma base de poder, negociação de acordos e compromissos e apresentação de ideias: apresentações orais eficazes; l produtor – trabalho produtivo, fomento a um ambiente de trabalho produtivo, administração do tempo e do estresse/equilíbrio de demandas concorrentes; l diretor – desenvolvimento e comunicação de uma visão, estabelecimento de metas e objetivos e planejamento e organização; l coordenador – gerenciamento de projetos, planejamento do trabalho e gerenciamento multifuncional; l monitor – administração de informações, por meio do pensamento crítico, administração da sobrecarga de informação e gestão de processos; l facilitador – uso de decisões participativas, administração de conflitos, estímulo a soluções integradas; l mentor – compreensão de si mesmo e dos outros, comunicação eficaz, desenvolvimento dos funcionários. A partir da consciência sobre as competências que você considera útil para o seu trabalho e quais você tem, faça um plano de desenvolvimento pessoal, saia da sua zona de conforto, participe de cursos, leia e arrisque comportamentos, estabeleça uma autocrítica, melhore, teste e incorpore. Leva tempo, mas vale a pena. Quer mais dicas para ser um líder? MOREIRA, D. 5 passos para ser um líder de sucesso. Disponível em: https://exame. abril.com.br/pme/5-passos-para-ser-um-lider-de-sucesso/. Acesso em: 07/03/2019. MOGGI, J. Onde e como aprender a ser um líder? Disponível em: https://www. adigodesenvolvimento.com.br/onde-e-como-aprender-a-ser-um-lider/. Acesso em: 07/03/2019. Saiba mais 16 4.1.3 Motivação Nesta seção abordaremos outras questões complementares, como o significado do trabalho, a gestão do sentido e o envolvimento com a tarefa, além de possibilidades de incentivo. Lembramos que consideramos a motivação como a vontade que nasce dentro do indivíduo e que os líderes podem apenas estimular, incentivar e provocar motivações em seus funcionários. O trabalho evoluiu desde a época em que éramos caçadores e coletores e o objetivo era a subsistência. Até os dias atuais pode ser visto como um esforço coletivo e planejado com muitos trabalhadores do conhecimento em uma evolução contínua da tecnologia. Nessa evolução, as gerações se relacionaram de maneiras diferentes com o trabalho e tiveram motivos diferentes para fazê-lo. O trabalho é uma atividade que contribui para a construção da identidade pessoal, ajuda a definir o tempo (dias, meses, anos) e origina a renda que custeia as necessidades humanas. Já para Adler, o trabalho são todas as atividades úteis à comunidade e não apenas as remuneradas (FADIMAN & FRAGER, 1986, p. 78). Assim, o aspecto da remuneração não seria fundamental para a definição do trabalho. Percebe-se que outros pesquisadores compartilham o mesmo princípio, tanto que se utiliza a expressão trabalho voluntário,especificando a “não remuneração”. Csikszentmihalyi (2007, p. 65) define o trabalho como “uma experiência estranha: proporciona alguns dos momentos mais intensos e satisfatórios, junto com um sentimento de orgulho e identidade, mas é algo que a maioria de nós ficaria feliz em evitar “. Se por um lado o trabalho está ligado à noção de sacrifício, esforço, algo extenuante para ser feito e também relacionado com a punição, obrigação, dever e responsabilidade; por outro, tem valor positivo: é a aplicação das capacidades humanas para o domínio da natureza, como um esforço para alcançar um determinado objetivo, a essência da condição humana. Na Reforma Protestante, o trabalho constituiu um instrumento de salvação e um meio de realizar a vontade divina (BASTOS, PINTO & COSTA, 1995). Visto assim, o trabalho pertence a uma categoria libertadora, gratificante, honrosa e santificadora, porque quem trabalha adquire direito a salário, respeito social, assistência médica e aposentadoria (MASI, 2003). Do mesmo modo, pode-se analisar a experiência de “fluxo” proposta por Csikszentmihalyi (2007), segundo a qual é importante desfrutar de todas as atividades e, quando se está motivado, não há dificuldade em fazê-lo. Em outras palavras, mesmo no trabalho, você pode entrar em êxtase. O autor argumenta que o mais importante é saber “como vivemos dentro do que fazemos”. Esse ponto de vista está diretamente relacionado à questão da motivação dos funcionários (CSIKSZENTMIHALYI, 2007). Principalmente em áreas operacionais, alguns funcionários não veem sentido no que fazem porque não conhecem o todo em que estão atuando, isto é, não compreendem como a parte que eles fazem se encaixa no produto final e qual o impacto disso na vida das outras pessoas. 17 Cabe ao líder demonstrar o valor do trabalho de cada componente da equipe. A análise da relevância deve considerar os diferentes atores, como, por exemplo: clientes, fornecedores, colegas, subordinados e comunidade. O líder nesse caso estará fazendo a gestão do sentido do trabalho para cada um, contribuindo para que os funcionários, e ele mesmo, sintam-se motivados. A aplicação prática da percepção do sentido do trabalho é o envolvimento do funcionário com a tarefa, mas para isso também devem ser considerados: l alocação de um indivíduo, considerando sua capacidade e a dificuldade da tarefa; l a estimulação da tarefa e sua realização devem aumentar a confiança do indivíduo; l definição dos parâmetros de avaliação e finalização da tarefa; l autonomia do funcionário; l estímulo à corresponsabilidade de líder e liderado pelo resultado. Por que encontramos indivíduos desanimados nas organizações (Figura 6)? Figura 6 O desânimo, se constante, pode ser sinal de doença. Crédito: © ÐлекÑандр Ермолаев | 123rf.com. O indivíduo passa cerca de 1/3 de sua vida dedicado ao trabalho. Como sabemos, ele pode ser desafiador, interessante e conferir honra, mas existem casos de sofrimento e frustração que podem ter diversas origens, como: normas extremamente restritivas, chefias que não reconhecem o esforço e não são apoiadoras, pouca transparência, inconsistência entre o discurso e a ação, relacionamento difícil, ter que agir de forma contrária a seus valores e clima organizacional ruim. Um fator que se destaca é o sentimento de não ser tratado com justiça dentro da organização. Sabemos que nem todos os momentos são positivos ou negativos, mas nesse balanço o ideal é que haja mais momentos bons. Quando o oposto ocorre, os indivíduos ficam estressados e doentes. Na próxima seção será discutida a qualidade de vida. 18 A insatisfação na relação do indivíduo com o trabalho muitas vezes tem componentes subjetivos e situacionais. A organização e os funcionários devem atuar a fim de melhorar seus resultados; ao indivíduo cabe a busca pelo desenvolvimento pessoal e encontrar novas formas para lidar com o sofrimento. Cabe ao líder e à organização incentivar um ambiente de respeito e transparência. Além disso, devem transmitir um feedback construtivo, criando oportunidades do funcionário se desenvolver, cuidar do estabelecimento de metas, reconhecer o trabalho bem feito de maneira sincera e oferecer recompensas que atendam às necessidades dos indivíduos, sem descuidar da equidade. Incentivos a partir de premiações nem sempre fazem sentido para os funcionários, e nem sempre eles querem ou precisam daquele prêmio. Vamos imaginar uma grande organização, com muitos níveis hierárquicos. Resolvem sortear um jantar com o presidente da empresa. Isso pode fazer muito sentido para um diretor que quer se aproximar do presidente, mas pode virar um problema para um funcionário operacional que ficará constrangido por não ter roupa para ir ou não saber como agir. Incentivos como “curso de inglês” podem fazer muito sentido para uns e nenhum para outros; alguém pode estar precisando de incentivo para ir à academia e não a um curso de inglês. Para que os incentivos sejam adequados a cada indivíduo, é necessária uma análise cuidadosa do que cada um precisa e o que o motivará. Na maioria das vezes as organizações não têm estrutura para trabalhar os incentivos de modo individualizado e, como consequência, não alcançam seu objetivo de estimular e incentivar o trabalhador. O homem moderno é extremamente complexo e cada vez é mais difícil lidar com ele. As variáveis são muitas: faixa etária, gênero, estado civil, número de dependentes, nível de escolaridade etc. Masi (2003) destaca a importância do equilíbrio entre trabalho, amor, família, lazer, práticas religiosas, educação e saúde. Esse equilíbrio existiu entre os gregos e os romanos, mas deu espaço ao estresse atormentador de nossos dias. Só ele possibilita que o conhecimento seja mais bem manipulado pelo cérebro e a criatividade se manifeste. 4.1.4 Qualidade de vida no trabalho e clima organizacional Cuidar do clima e da cultura organizacional tem se mostrado de extrema importância no contexto das escolas. Seus impactos podem ser percebidos direta e indiretamente no desempenho dos alunos, que percebem o alinhamento da instituição e podem se envolver mais no cotidiano da escola. O clima, quando positivo, é reconhecido como um componente importante de escolas bem-sucedidas e eficazes, e a cultura guia os colaboradores na definição e na identificação do que é importante para eles na vida organizacional influenciando no clima organizacional pelo impacto direto que ela tem sobre o ambiente de trabalho (PEREIRA, 2013). Assim, clima e cultura estão diretamente relacionados com a satisfação e a motivação para o trabalho e, como consequência desses últimos, com a qualidade de vida do funcionário. 19 Estamos vivendo em uma sociedade extremamente complexa e debater a qualidade de vida do funcionário abrange muitos elementos que não temos a pretensão de explorá-los aqui. Cada período na evolução do trabalho e da produção teve suas próprias doenças e problemas. Na revolução industrial a força era física e os problemas de saúde também; na era do conhecimento a produção é intelectual, alguns problemas surgem devido ao sedentarismo, mas há um enorme aumento dos problemas psicológicos e mentais. Figura 7 A integração do trabalho homem—máquina pode ser observada em fábricas de produção pesada ou em trabalhos mais intelectuais. Essa integração causa desgaste ao indivíduo. Crédito: © pasiphae | 123rf.com. Atualmente, no ambiente corporativo, exigem-se resiliência, empatia e inteligência emocional, e os indivíduos vivenciam exaustão mental e estresse. Consequentemente, depressão, ataques de pânico etc. passam a ser frequentes. Quer saber mais sobre depressão? LIMA, A.; FLECK, M. Qualidade de vida e depressão: uma revisão da literatura. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rprs/v31n3s0/v31n3a02s1.pdf. Acesso em: 09/03/2019. Saiba mais 20 As mudanças são mais frequentes e mais significativas a partir do século XXI, e o funcionárioprecisa se adaptar, quase diariamente, a uma nova realidade. Isso traz consequências, principalmente, psicológicas e distúrbios mentais. Outro ponto a ser considerado é a realidade que a tecnologia oferece; a utilização do smartphone como instrumento de trabalho e produção é considerada tão disruptiva que é comparada com a descoberta do fogo. Pode-se trabalhar de qualquer lugar, a qualquer momento; muitos indivíduos são requisitados a ficarem conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana. No contexto de mudanças rápidas no mundo e adaptação às tecnologias, todos os profissionais são pressionados a aprender algo novo sempre. Afinal, o cliente muda e é necessário buscar maneiras de atendê-lo. O professor também passa por esse mesmo tipo de pressão, ele deve entender a mudança e se preparar rapidamente para atuar na “nova escola” que está surgindo. A qualidade de vida está relacionada à saúde, ao estilo de vida, à satisfação com o trabalho e ao bem-estar do indivíduo. O desgaste físico e mental acomete grande massa de trabalhadores de diversos setores, e ainda há questões públicas que contribuem para a vulnerabilidade do indivíduo, como: qualidade dos transportes públicos, falta de segurança e sistema de saúde pública ineficiente. No caso dos professores, o problema também tem vários elementos. Para Rego e Oliveira (2018) “os professores da educação básica estão expostos a condições de trabalho vulneráveis, à rotina de trabalho excessiva, ao desgaste físico, mental, profissional e emocional que acarretam à categoria doenças psicológicas” (Figura 8). OLIVEIRA, T. Depressão a doença do século XXI. Disponível em: http://www. cartaeducacao.com.br/entrevistas/a-doenca-do%E2%80%A8-seculo-xxi/. Acesso em: 09/03/2019. Publicado em 03/10/2014. MINHA VIDA. Depressão: sintomas, causas, tratamento e tem cura? Disponível em: https://www.minhavida.com.br/saude/temas/depressao. Acesso em: 09/03/2019. 21 Figura 8 A sala de aula é apenas um dos ambientes em que o professor atua e que exige dele controle emocional e disposição física. Crédito: © Wavebreak Media Ltd | 123rf.com A grande questão para as diferentes organizações: funcionário doente falta ao trabalho (absenteísmo) ou, mesmo presente, não tem condições de produzir adequadamente (presenteísmo), isto é, traz prejuízo para a empresa (Figura 9). Portanto, cuidar da qualidade de vida de seus funcionários deveria ser uma das prioridades das organizações. Mesmo que suas intenções fossem melhorar a produtividade, se o profissional estivesse mais feliz já seria muito bom, porém essa questão não é considerada. Figura 9 A exaustão física e mental acarreta desempenho abaixo do esperado, o que gera insatisfação do aluno, da instituição e do próprio professor, que percebe que não está conseguindo “fazer o seu melhor”. Crédito: © alphaspirit | 123rf.com 22 Já falamos sobre o sentido do trabalho. Nesse quesito o professor parece estar em desvantagem. No Brasil ele não é valorizado e nem respeitado, tanto sob o ponto de vista financeiro como profissional que forma novos profissionais. Transtornos como a depressão ou síndrome do pânico podem surgir de situações críticas e prolongadas de estresse, podem evoluir para a exaustão, seguida de transtornos psicofisiológicos. Ribas-Prado et al. (2016) mostram que diversas pesquisas indicam a relação entre estresse e transtornos mentais (Figura 10). Figura 10 A doença física surge e ocasiona o afastamento da sala de aula em muitos casos. Crédito: © 9nong | 123rf.com. Conheça um pouco mais sobre os problemas que afetam professores no Brasil: TOSTES, M. et al. Sofrimento mental de professores do ensino público. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v42n116/0103-1104-sdeb-42-116-0087.pdf. Acesso em: 09/03/2019. ANDRADE, V. Qualidade de vida e depressão em docentes da área da saúde do Campus de São Cristovão da Universidade Federal de Sergipe. Dissertação (Mestrado em Ciências Aplicadas à Saúde) - Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, 2016. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UFS-2_72729a2fee056d9b56c9b572 16efc0e5. Acesso em: 09/03/2019. Saiba mais 23 Embora a maioria dos estudos sobre o estresse em ambientes escolares trate da realidade do professor, ressalta-se que os temas qualidade de vida, sentido do trabalho e motivação devem ser objeto de atenção para todos os membros da organização, sabendo que cada tipo de trabalho tem suas exigências específicas. Esse cuidado deve ser tomado, principalmente porque, ao trabalhar com crianças e jovens, todos na organização são exemplos para os futuros cidadãos (Figura 11). Figura 11 Instituição escolar, gestores e pais muitas vezes atuam como elementos de pressão para o professor. Crédito: © gstockstudio | 123rf.com. Descubra a visão dos administradores sobre a qualidade de vida: KENOBY. Qualidade de vida no trabalho: qual a sua importância afinal? Disponível em: http://www.kenoby.com/blog/qualidade-de-vida-no-trabalho/. Acesso em: 16/03/2019. Publicado em set/18. MANCINI, S. et al. Qualidade de vida no trabalho e responsabilidade social. Disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT12/sergio_mancini. pdf. Acesso em: 16/03/2019. Publicado em 2004. De olho 24 Se fizermos um exercício de empatia, podemos perceber que o estresse acontece de maneiras diversas em vários campos de atuação. Vários profissionais estão sendo pressionados a se adaptarem rapidamente às novas tecnologias para não perderem seus empregos; há os que trabalham em áreas de risco etc. Se pensarmos em profissionais de saúde que trabalham em hospitais públicos podemos identificar uma série de motivos para que o desequilíbrio físico e mental se instale nesses indivíduos. Pequenas mudanças no ambiente de trabalho podem ajudar os profissionais de diversas áreas a se sentirem melhor. Alguns itens parecem óbvios, mas muitas vezes esquecemos deles em nosso dia a dia. Em relação ao espaço físico: l locais para refeições, lanche ou um simples café longe do burburinho geral; l local silencioso em que possa ser feito um trabalho que exija atenção, como a preparação de aula, por exemplo; l ambiente físico seguro e saudável, limpo e arejado, preferencialmente com luz natural; l oferecimento de recursos tecnológicos para uso do professor; l cultivar o sentimento de pertencimento de todos os atores em relação ao espaço físico, inclusive estimulando seu cuidado. Muitas empresas priorizam essas questões. Não faltam exemplos de espaços físicos de descompressão, por exemplo, do qual o funcionário pode desfrutar. Muitos são exagerados e não compatíveis com o ambiente escolar, mas podem inspirar soluções mais simples e adequadas à escola. Ficou curioso em relação aos espaços de descompressão? Leia o artigo indicado a seguir. RS DESIGN. O que são espaços de descompressão? Disponível em: https://www. rsdesign.com.br/o-que-sao-salas-de-descompressao/?campanha=PSQ_-_DSA &palavra= &gclid=CjwKCAjwvbLkBRBbEiwAChbckcM6K0RdAuUmKaaVMoomfQOVedfGX9PQ_ NqReTNzU6OJH0zOBglzFxoCowEQAvD_BwE. Acesso em: 16/03/2019. Saiba mais 25 Ao lidar com o indivíduo, a demonstração de respeito é essencial, por exemplo: l ao cobrar algo de alguém, isso deve ser feito com tom de voz adequado e sem usar palavras ofensivas; l ouvir o outro e demonstrar que o ouvimos, construindo um diálogo construtivo; l criar uma cultura de empatia, “colocar-se no lugar do outro” para entender seu ponto de vista. Alguns estudos específicos para o ambiente escolar: BRANCO, N. et al. Qualidade de vida no trabalho dos professores das escolas públicas: caso da Escola Municipal Therezinha de Jesus Pereira da Silva. Disponível em: http://www.inovarse.org/sites/default/files/T16_060.pdf. Acesso em: 16/03/2019. MURER, E. et al. Qualidade de vida e sua importância no ambiente escolar. Disponível em: https://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/deafa/qvaf/livro_afqv_cap3.pdf.Acesso em: 16/03/2019. PEREIRA, E. et al. O trabalho docente e a qualidade de vida dos professores na educação básica. Disponível em: https://scielosp.org/pdf/rsap/2014.v16n2/221-231/ pt. Acesso em: 16/03/2019. Importante Outras questões também devem ser consideradas por uma organização que se preocupe com a qualidade de vida de seus funcionários, como: l jornada de trabalho adequada; l normas e rotinas claras, comunicação efetiva; l possibilidade de crescimento profissional; l igualdade de oportunidades; l relacionamentos sociais e intergrupais; l privacidade pessoal. 26 4.2 O que e como Aprender com a Própria Experiência Viver uma experiência não significa aprendizado. Em muitos casos pessoas repetem os mesmos erros como se fosse a primeira vez. Alguns geriatras dizem que nem todos os idosos são sábios. Você já pensou sobre isso? E por que isso acontece? A aprendizagem do adulto ocorre por meio de uma reflexão crítica sobre o que foi vivenciado, gerando significados. O processo perpassa a experiência e a reflexão sobre a experiência vivida, chegando à proposta do que deverá ser feito a partir daí. Muitas vezes, para ser efetivo, o processo de aprendizagem faz com que o adulto acesse suas emoções, seu sistema cognitivo, suas relações sociais e até sua espiritualidade. (SANTOS e SILVA, 2012) Diversas empresas desenvolvem a cultura de melhoria contínua, que tem por objetivo obter resultados cada vez melhores, seja nas relações e nos processos internos ou nos produtos e serviços que levam ao mercado. Para que isso seja possível utilizam alguns métodos e boas práticas. De modo geral, como podemos proceder? O que precisamos fazer? l identificar o que queremos melhorar – processo, serviço, produto etc. l saber onde estamos e para onde queremos ir – mapear o que queremos melhorar, definir o objetivo e calcular o quanto estamos distantes dele; l definir como saber que chegamos lá – precisamos medir nosso desempenho, e para isso são criados indicadores. Muitas vezes a escolha do processo de melhoria contínua gera uma complexidade tão grande e muito mais trabalho para os envolvidos, o que ocasiona desistência. Mas existem soluções e processos mais orgânicos e intuitivos. Vejamos! Em um processo mais orgânico, pode-se usar o conhecido conceito de PDCA (Figura 12): l PLAN – planejar; l DO – fazer; l CHECK – verificar; l ACT – atuar corretivamente. 27 Figura 12 O ciclo PDCA é usado como base para o desenvolvimento de diversos métodos. Crédito: © basketman23 | 123rf.com. Quer saber mais sobre PDCA? Acesse o link a seguir. DEMA-UFSCAR. Melhoria contínua: como fazer? Disponível em: http://www.dema. ufscar.br/materiaisjr/melhoria-continua-como-fazer/?gclid=CjwKCAjwvbLkBRBbEiwAC hbckVq-mWLsMBClBq9OWcqerFPN25ZbQwbQBzvXn7gNwAa9ax3tJMlwpxoCnHsQA vD_BwE. Acesso em: 16/03/2019. Publicado em set. 2018. Um pouco mais sobre o conceito de melhoria contínua: SANTOS, V. Melhoria contínua. Disponível em: https://www.fm2s.com.br/melhoria- continua/. Acesso em: 16/03/2019. Publicado em mar. 2017. Saiba mais Outra estrutura que tem sido divulgada recentemente é conhecida como DMAIC (Figura 13), método desenvolvido pela Motorola e que hoje diversas organizações também usam. Significa: l DEFINE – defina o escopo; l MEASURE – meça a situação atual (onde estou, o que está ocorrendo); l ANALYSE – identifique a causa raiz do problema; l IMPROVE – desenvolva e teste mudanças; l CONTROL – implemente as mudanças e monitore a aderência do grupo. 28 Figura 13 DMAIC – processo linear implantado para questões específicas de melhoria, mas não necessariamente de melhoria contínua, como o PDCA. Crédito: © nicoelnino | 123rf.com. Quer saber mais sobre DMAIC? Acesse o link a seguir. PETENATE, M. O que é o roteiro DMAIC no Lean Six Sigma. Disponível em: https:// www.escolaedti.com.br/roteiro-dmaic/?gclid=CjwKCAjwvbLkBRBbEiwAChbckXEuporTj Vxdit-ayAfzMyXaeapMtaZaCXbyg5jpU9gn2MwUvqqtmhoCEH0QAvD_BwE. Acesso em: 16/03/2019. Publicado em jan. 2013. Saiba mais Hoje em dia, nas organizações, ouve-se muito a respeito de métodos ágeis. Mas, do que se trata? Métodos ágeis são um conjunto de procedimentos que têm alguns princípios comuns, como: l ciclos curtos de trabalho (1 a 4 semanas); l cada ciclo desenvolve um pouco mais o produto elaborado anteriormente, agregando valor; l inspeções (pontos de controle e acompanhamento) frequentes; l possibitar adaptações rápidas; l melhoria contínua. 29 As equipes normalmente têm autonomia e auto-organização, sendo mais produtivas. Os ciclos de trabalho são organizados de modo que cada um tenha um objetivo e a equipe combina como deve proceder em relação às atividades e quais são prioritárias. Todos sabem qual o objetivo a ser alcançado e devem atuar para que o grupo alcance esse objetivo. Em um dos métodos, chamado SCRUM, diariamente o grupo se reúne para compartilhar como o trabalho avançou e o que eles percebem que pode dar errado. Ao final do ciclo, o processo adotado e o trabalho elaborado são avaliados e são propostas melhorias para o próximo ciclo. Quer saber mais sobre métodos ágeis. Acesse o link a seguir: BRASILEIRO, R. Métodos ágeis: o que é e porque você deve saber o que é. Disponível em: http://www.metodoagil.com/metodos-ageis/. Acesso em: 16/03/2019. Saiba mais Para usar essas ou outras técnicas, você deverá se aprofundar um pouco mais, porém nosso objetivo é mostrar que há caminhos já testados que tornam a melhoria contínua possível e que ela pode ser um grande diferencial para sua escola. Parágrafo de Conclusão da Unidade Chegamos ao fim da Unidade 4. Nela aprendeu-se que experiências de organizações de outros tipos podem ajudar o gestor escolar a construir uma instituição melhor, seja melhorando sua habilidade de liderança, desenvolvendo atividades que despertem a motivação dos diversos atores, trabalhando a gestão de pessoas a partir de suas competências e cuidando da qualidade de vida no ambiente escolar. Por fim, foram apresentados processos consagrados de melhoria contínua, nos quais a escola pode aprender com a própria experiência. 30 AMARAL, R. Desenvolvimento e aplicação de um método para o mapeamento de competências em inteligência competitiva. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). São Carlos: UFRSCar, 2006. 207p. BASTOS, A.B.; PINTO, A. M.; COSTA, C. A. Significado do trabalho: um estudo entre trabalhadores inseridos em organizações formais. RAE - Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 6, p. 20-9, nov/dez de 1995. CARBONE, P. et al. Gestão por competências e gestão do conhecimento. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. CARVALHO, F. et al. A gestão do conhecimento e a inovação: abordagens do atual estado da arte. Disponível em: https://www.academia.edu/6558351/A_GEST%C3%83O_DO_ CONHECIMENTO_E_A_INOVA%C3%87%C3%83O_ABORDAGENS_DO_ATUAL_ESTADO_ DA_ARTE. Acesso em: 07/03/2019. CAVALCANTI, V. et al. Liderança e motivação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005. CSIKSZENTMIHALYI, M. Aprender a fluir. 5.ed. Barcelona: Kairós, 2007. DAVEL, E.; VERGARA, S. C. Gestão com pessoas, subjetividade nas organizações. 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Disponível em: http://revista.uepb.edu.br/index.php/qualitas/ article/view/1521 acesso em 09/03/2019. Qualit@s Revista Eletrônica, 2013, v. 14, n. 1. REGO, A.; OLIVEIRA, A. Qualidade de vida no trabalho de professores da educação básica: revisão integrativa. Disponível em DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2446-6549. v3n11p375-388. Acesso em: 09/03/2019. Publicado em 2018. RIBAS-PRADO, M. et al. Stress, depressão e qualidade de vida em beneficiários de programas de transferência de renda. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/psicologia/ article/view/35133/31288. Acesso em: 09/03/2019. Publicado em 2016. ROBBINS, S. P. Fundamentos do comportamento organizacional. 7.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. ROBBINS, S. P. Comportamento Organizacional. 9.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SANTOS, G.; SILVA, A. O papel da experiência na aprendizagem de alunos do curso de administração. Disponível em: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2012_EPQ1155.pdf. Acesso em: 16/03/2019. 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