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1 1. FUNÇÕES PSÍQUICAS NORMAIS Funções psíquicas são um conjunto de fenómenos interligados que permitem ao ser humano actividade psíquica, raciocínio desenvolvido, linguagem articulada, inteligência sem esquecer as dimensões biológicas, sociais, culturais e espirituais. 1.1. Funções de Síntese ou de Integração Denominam-se funções de síntese ou integração porque a alteração de uma das componentes comprometeo funcionamento de todas. Nível de Consciência: A consciência écomparada ao um palco onde decorre toda actividade psíquica.No estado vigil ou de lucidez da consciência existe uma clareza dos conteúdos da consciência.Essa clareza da consciência torna-se mais frouxa pelo cansaço e relaxamento. Orientação: capacidade do indivíduo situar-se no tempo, no espaço, em relação a si mesmo. Sabe que está num determinado sítio, de manhã, à tarde ou noite, de certo dia, há determinado tempo, onde esteve antes e para onde irá a seguir. Memória: capacidade do ser humano fixar na consciência factos acontecidos. Envolve o registo, armazenamento e recuperação da informação. Existem dois tipos a memória, a curto prazo e memória a longo prazo.A memória a curto prazo é temporária durando de segundos à alguns minutos, estando relacionada com a capacidade de prestar atenção. Atenção e Concentração: corresponde à zona iluminada do palco (consciência) por foco de luz. Atenção activa é a capacidade de captar e reconhecer estímulos significativos. Na atenção passivao indivíduo capta estímulos não significativos.Concentração é a capacidade de manter a atenção em determinado assunto. CURIOSIDADE Memorize as funções de síntese: COMA Consciência Orientação 2 Memória Atenção e concentração 1.2. Funções Cognitivas A cognição permite aos seres humanos ter informaçãodo seu mundo, interagir ultrapassar as dificuldades da vida quotidiana. O exame do estado mental pode ser avaliado pelo Mini-Mental State Examination,um dos testes que avalia um conjunto de funções cognitivas. Sensação: fenómeno psíquico elementar produzido porestímulos nos órgãos dos sentidos. Percepção: representação cortical de imagens psíquicas ou vivências dos objectos ou imagens reais, presentes no campo sensorial. Pensamento: fenómeno psíquico através do qual se exprimem as relações externas e internas entre os objectos do mundo real. Inteligência: capacidade para pensar, agir de forma racional e lógica. 1.3. Funções Afectivas Denominadas de humor, estado de ânimo, ou tímia correspondem a um sentimento sem objecto que vai colorir todos os fenómenos psíquicos. 1.4. Funções da Conduta Engloba a linguagem, a actividade motora e os hábitos (higiene,sono, alimentação e sexuais). 1.5. Julgamento ou Juízo crítico 3 Capacidade que indivíduo tem de avaliar sua realidade (mente, ambiente, outras pessoas), reconhecer que está doente, compreender que seus problemas são um desvio da normalidade, que seus comportamentos afectam terceiros, perceber que a terapêutica é útil para aliviar os sintomas. 1.6. Funções de Relação Retrata a relação do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com as coisas. Relação consigo mesmo avalia-se a auto-apreciação das qualidades positivas e negativas, o grau da consciência da doença e a figura que serviu de modelo no desenvolvimento de sua personalidade (o que você pensa de si mesmo? Como define a si próprio? Geralmente como as pessoas o definem?). Na relação com os demais pretende-se explorar e descrever o relacionamento interpessoal e não a qualidade dessas relações - sociabilidade, timidez, dependência, sobreprotecção, autoritarismo, retraimento, passividade, hostilidade, exigência, tolerância – (como são as suas relações com a família? É fácil para si conversar com estranhos? Você se considera autoritário ou persuasivo?). Nas relações com as coisas aborda-se os interesses do paciente numa ampla variedade de aspectos entre outros laborais, artísticos, filosóficos e políticos. Também explora-se os padrões e as normas de convivência bem como utilização do seu tempo e redistribuição de seus recursos monetários. 2. SEMIOLOGIA PSIQUIÁTRICA A semiologia psiquiátrica também baseia-se nas queixas ecuidadosaobservação do doente. LÉMBRA-TE Saber ouvir Saber observar 2.1. Alterações das Funções de síntese 2.1.1. Alterações do nível de consciência 2.1.1.1. Alterações quantitativas do nível de consciência 4 Correspondemà alterações do ponto de vista neurofisiológico. A medida que dimunui a clareza da consciência o indivíduo irá responder cada vez menos aos estímulos do ambiente. Sonolência: o doente boceja, há uma diminuição da energia e tendência para adormecer. ATENÇÃO Pacientes podem apresentar sonolência por causa dos efeitos colaterais dos psicofármacos(antipsicóticos, benzodiazepinas) tornando difícil a entrevista. Letargia: grau mais marcado de sonolência e diminuição de energia. Obnubilação: o doente capta apenas os estímulos fortes. Durante a entrevista o examinadorprecisa falar mais alto, repetir as perguntas e, mesmo assim, a pessoa entende com muita dificuldade. Estupor: é o estado de consciência que precede o coma. Coma: há uma abolição da actividade psíquica consciente. 2.1.1.2. Alterações qualitativas do nível de consciência Estado orinóide: neste estado junta-se realidade com fantasia. Podem existir alucinações principalmente visuais de carácter cénico onde o paciente descreve como se estivesse a assistir um filme que eleparticipa como personagem. Estado crepuscular: aconduta do paciente durante o episódio é automática que pode ser ordenada e passiva ou pelo contrário desordenada e violenta. O estado crespuscular é seguido de uma amnésia em relação ao acontecido. É frequente em pacientes com diagnóstico de epilepsia. Delírium: observa-se uma flutuação do nível de consciência acompanhado de alucinações visuais, auditivas e tácteis.Denomina-se delírium tremens quando causada por abstinência ao consumo de bebidas alcoólicas. 5 Confusão mental ou amência: há alucinações e ilusões, desorientação e incoerência psíquica e motora. Durante os ataques epilépticos: existe a súbita perda total de consciência seguida de convulsões tónico clónicas generalizadas (CTCG). Estreitamento da Consciência: diminuição da capacidade para informar-se do mundo exterior. Acontece em situações de stress e conflito psicológico. 2.1.2. Alterações da orientação A sua perturbação primária e única da orientação designa-se por desorientação. Desorientação no tempo: o indivíduo não sabe dizer o ano, mês, data e dia de semana e período do dia (manhã, tarde, noite). Desorientação no espaço: doente não é capaz de identificar a cidade, bairro ou lugar onde se encontra naquele momento. ATENÇÃO O examinador não deve durante a entrevista perguntar “porque é que está aqui no hospital”. O examinador estaria nesse momento a dar a “orientação” do paciente em relação ao lugar. Desorientação autopsíquica: o paciente não é capaz de dizer o seu nome, idade, ocupação, etc. Desorientação alopsíquica: o paciente não é capaz de dizer o nomes de seus familiares, parentes próximos, de reconhecer o enfermeiro que presta cuidados, vizinhos, colegas de profissão, etc. 2.1.3. Alterações da memória 2.1.3.1. Alterações quantitativas da memória 6 Amnésia: é a perda total das lembranças, fenómenos ou acontecimentos referentes a um determinado período de tempo. Acontece em processo orgânicos cerebrais. Na amnésia lacunar ou parcial, onde por mecanismos psíquicos, bloqueiam-se as lembranças ou factos resultando na perda de informação de um certo período, recordando outros acontecimentos ocorridos simultaneamente. Chama-se amnésia dissociativa. Os termos amnésias retrógradas e anterógradas utilizam-se com frequência nasamnésias por traumas físicos e têm como referência o momento do traumatismo. Hipomnésia: diminuição das capacidades de memóriaem lembrar factos e acontecimentos. Hipomnésias de fixação quando o indivíduo não tem capacidade de fixar (nos estados de obnubilação). Hipomnésias de reprodução quando não tem a capacidade de lembrar factos já memorizadas. Nas hipomnésias de reprodução por regra desaparecem primeiro as imagens mnésicas mais recentes e mais tarde as vivências, imagens mnésicas mais antigas. EXEMPLO Os idosos recordam-se denomes dos colegas e amigos de infância e não se lembram de nomes de últimos netos. O mesmo acontece nos quadros de demência. Hipermnésia: aumento significativo da capacidade da memória de reprodução. Observa-se nos síndromes cerebrais orgânicos agudos, síndromes paranoides esíndromes afectivos. 2.1.3.2.Alterações qualitativas da memória Fenómeno “do já visto”: o indivíduo tem a impressão de que a vivência actual já foi experimentada no passado. É frequente esquizofrenia onde identifica o médico ou o enfermeiro como uma pessoa da sua família. 7 Fenómeno “ jamais visto”: o paciente é incapaz de reconhecer ambiente e familia próxima. Confabulações: o doente preenche as suas lacunas mnésicas recordando como reais factos e acontecimentos que não ocorreram. Ilusões Mnésicas: formacão de lembranças acrescentando elementos falsos. Alucinações Mnésicas: criações imaginativas que não correspondem imagens de épocas passadas. Criptomnésia:lembranças falsas, perdendo as suas qualidades e aparecendo como factos novos. Os idosos podem contar uma história como nova, quando a mesma, poucos minutos antes, tenha sido relatada entre as mesmas pessoas. 2.1.4. Alterações da atenção e concentração 2.1.4.1. Alterações da atenção activa Distractibilidade: diminuição da atenção activa. Não presta atenção a factos e informações significativas. Ocorre quando há alucinações na depressão grave e nas psicoses. No autismo há falta de interesse em interações sociais ignorando o examinador, ocupando-se na manipulação de objectos inanimados ou em comportamentos auto-estimulativos. Ocorre também nas perturbações com défice de atenção, mania ou perturbações mentais orgânicas, incuindo o delírium. Hiperconcentração: aumentoda atenção activa . Hipoprosexia: diminuição acentuada da atenção. Comum na embriaguez alcoólica, perturbações mentais orgânicas, depressão e atraso mental. Aprosexia: asência total de atenção. Comum no atraso mental grave. 2.1.4.2. Alterações da atenção passiva Hipervigilância: aumento exagerado da atenção passiva.O doente presta atenção a estímulos não significativos como por exemplo às alucinações. 8 EXEMPLO Pacientes com alucinações auditivas, durante a entrevista paciente não presta atenção ao clínico mas às vozes (estímulo secundário). Na descrição do exame psiquiátrico registamos que o paciente está hipervigilante. 2.2. Alterações das Funções Cognitivas 2.2.1. Alterações das sensações 2.2.1.1.Alterações quantitativas das sensações A alteração está relacionada com o órgão dos sentidos afectado. As alterações quantitativas são observadas frequentemente em quadros neuróticos (neuroses ou perturbações de ansiedade). Anestesia: abolição de todas as formas de sensibilidade. Ocorre em quadros conversivos (Histeria). Hipoestesia: diminuição da sensibilidade. Assim falaremos de hipoestesia táctil, hipoacúsia, etc. Nos quadros de depressão é possível observar hipoestesia sensorial. Hiperestesia: estímulos adequados provocam sensações desproporcionalmente intensas (a luz do sol fere os olhos, o som do celular fere os tímpanos). 2.2.1.2.Alterações qualitativas das sensações Parestesias: sensações inadequadas que não tem relação com o estímulo habitual. Cenestopatias: sensações imprecisas e desagradáveis vindo de órgãos internos como por exemplo sentir calor nos rins ou formigueiro no fígado. 2.2.2. Alterações das percepções Ilusões: é a percepção deformada de um objecto real presente no campo sensorial. Metamorfose: vivência dinâmica durante a observação, onde os objectos vão aumentando ou diminuindo de tamanho, mudando forma ou posição. 9 Alteração do esquema corporal: percebe o seu corpo modificado na forma e no tamanho. Frequente na esquizofrenia. Alucinações: percepção de um objecto que não de encontra no campo sensorial do sujeito. O indivíduo acredita no fenómeno, sendo imagens nítidas, com valor emocional variável. De acordo com o órgão sensorial afectado podemos falar de alucinações auditivas, visuais, tácteis, olfactivas e gustativas. Alucinações autitivas são as mais frequentes. Podem ser simples (ruídos, zumbidos) ou complexas (voz que repete palavra ou frases completas, ou vozes que mantêm entra elas uma conversa), audioverbais. Distinguem-se três tipos de alucinações audioverbais nomeadamente a sonorização do pensamento ou eco do pensamento (ouvir os seus pensamentos); vozes dialogadas (diálogo alucinatório entre duas pessoas, que falam entre si de temas desagradáveis ou agradáveis, elogiam ou censuram o doente); vozes que interferem com a própria actividade (dando ordens ou comentadoras). Alucinações tácteis frequentes em perturbações mentais tóxicas. Os doentes sentem como que, pequenos animais como baratas, aranhas, percevejos, pulgas, piolhos e formigas sobre a pele. Acontece no delírium tremens e os doentes, durante a observação, tentam retirar esses animais e colocar sobre a mesa para mostrar ao clínico que naturalmente não os vê. Alucinações visuais características de algumas intoxicações (cocaina, álcool). Nas Alucinações liliputianasao lado percepção normal dos objectos e pessoas vê uma série de personagens minúsculas, “ visão de personagens minúsculas, homens ou mulheres, ora sós, ora acompanhadas de pequenos animais ou de pequenos objectos, móveis coloridas, geralmente mltiplas ...algumas vezes como um teatro de pequenas marionetes”. Peudoalucinação: percepção de um objecto ou fenómeno que não está no meio ambiente habitual (ouvir vozes de pessoas dentro da cabeça). 2.2.3. Alterações do pensamento 2.2.3.1.Alterações da origem do pensamento 10 Pensamento irreal ou pensamento ilógico: baseia-se em vivências irreais, sejam estas alucinatórias, despersonalizações, desrealizaões ou vivências fantásticas. Pensamento autista: o pensamento origina-se em vivências que correspondem a fantasias. 2.2.3.2.Alterações do curso do pensamento: velocidade em que se processa o pensamento. Aceleração do pensamento: as ideias cursam com rapidez,respondendo rápido às questões colocadas. É o exemplo do que acontece nos episódios de mania. Lentificação do pensamento: as ideias cursam com lentidão. A produção e o desenvolvimento das ideias é lentos. Ocorre nos síndromes e episódios depressivos. Prolixidade ou circunstacialidadedo pensamento: consiste na incapacidade de separar o essencial do secundário. O doente perde-se a todo instante em pormenores desnecessários. Fuga de ideias: forma extrema da aceleração do pensamento. Caracteriza-se por uma variação incessante do tema e uma incapacidade de exprimir o pensamento até o fim. Nos casos extremos chega a logorreia, uma verdadeira chuva de palavras. Roubo de pensamento: o doente acredita que outras pessoas lhe roubam o pensamento e encontra explicações nas influências telepáticas ou em aparelhos de rádio, internete, através dos quais são captadas no acto mesmo de serem pensados. Divulgação do pensamento: sentimento que os pensamentos são divulgados, recusando-se até de reponder as perguntas da entrevista. Preserveração do pensamento: repetição de uma ideia ou conjunto de ideias. Ao tentarmos mudar o tema da conversa, o indivíduo volta e insiste no mesmo assunto. Esta alteração está associada frequentemente a quadros orgânicos cerebrais, particularmente a demênciae as epilepsias. Incoerência do pensamento ou discurso incoerente: não há conexão lógica entre os pensamentos ou ideias apesar da construção de cada frase estar gramaticalmente correcta.Nesta alteração ainda é possível ter uma conversa ou diálogo.É frequente em quadros delirantes e na esquizofrenia. 11 Desgregação do pensamento ou discurso desagregado: conjunto incompreensível de palavras. Não é possível construir uma frase. É uma salada de palavras. Não é possível estabelecer diálogo.É sintoma fumdamental da síndrome confusional e esquizofrenia. A lesão é mais grave. 2.2.3.3.Alterações do conteúdo do pensamento Ideia sobrevalorizada: ideia real, onde o indivíduo atribui um muito valor ou importância a ideia que na verdade não tem. Ideia fixa: ideia real que aparece na consciência do indivíduo contra a sua vontade, persistentemente. É reconhecida como estranha, e a pessoa não consegue afastar-se dela. Ideia obsessiva: ideia que surge na consciência contra a sua vontade e de forma repetida. É reconhecida pelo doente como não tendo lógica. O indivíduo tem tendência a rejeitar, mas nessa luta surge a ansiedade. Exemplos de obsessões incluem pensamentos de que as mãos estão contaminadas ou que deixou o fogão ligado ou a porta aberta. Ideia fóbica: medo de um objecto ou situação que não representa um perigo real. O doente não consegue evitar a presença da ideia nem o medo. O medo é reconhecido como irracional, sendo no entanto incapacitante. Muitas vezes o paciente adopta atitudes para evitar o situação. Ideia deliranteou delírio: caracterizada por não ser real nem verdadeira, ser de conteúdo absurdo, traduzir doença, ser persistente e constante, não se corrigir pela experiência nem argumentação lógica.Quanto ao conteúdo das ideias delirantes podemos classificá-las em ideias delirantes de dano ou prejuízo onde outras pessoas conhecidas ou não querem provocar algum dano a si ou a seus familiares.Ideias delirantes de perseguição com o pensamento de perseguição a si e familiares pretendendo difamá-lo, maltratá-lo ou mesmo matá-lo.Ideias delirantes de referência onde acredita que pessoas falam sobre ele, que se riem dele. O doente passa a ser o centro das atenções.Ideias delirantes de grandeza onde o paciente sente-se superior em capacidades intelectuais e força física, acreditando ser descendente de uma ilustre família ou ocupar altos postos no exército (delírio ambicioso), ser autor de invenção de aparelhos especiais e descobertas científicas (delírio de 12 invenção). Ideias delirantes de auto-acusação em que o paciente acusa-se por crimes ou de morte de familiares chegados. Frequente na depressão grave.Ideias delirantes de negação onde doente nega a sua existência. No delírio hipocondríaco há preocupações e queixas de ser portador de doenças grave (tuberculose, tumor cerebral, SIDA) sem possibilidade de cura. Delírio de ciúmeque adquire a forma de delírio de infidelidade conjugal. Para o enfermo a sua esposa recebe cartas secretas, visita indivíduos estranhos.Na rua observa que indivíduos fazem sinais especiais para a esposa. Começa a duvidar da legitimidade dos filhos. Manifesta-se na esquizofrenia paranóide com grande significado do ponto de vista médico-legal. O delírio erótico ocorre em artistas de teatro, cantoras populares, pelos quais o doente encontra-se perdidamente apaixonado.Estão certos de que são correspondidos e, para reforçar esta crença, interpretam os gestos e o olhar do artista no palco como provas de amor. No delírio de influência, os pacientes sentem-se vítimas de influências telepáticas, de radiações, de choques elécticos, colocados à distância, referindo-se a máquinas, especialmente inventadas, com os quais os inimigos influenciam ou controlam seus pensamentos. 2.2.4. Inteligência O teste de Raven avalia o quociente de inteligência. 2.3. Alterações das Funções Afectivas 2.3.1. Alterações quantitativas do humor Atímia: abolição de resposta emocional do sujeito. Hipotímia: diminuição de resposta afectiva. Hipertímia:elevação do estado do humor. Há um estado de completa satisfação e felicidade. Observável nos episódios hipomaníacos e maníacos, na embriaguez alcoólica e demência senil. 2.3.2. Alterações qualitativas do humor 13 Euforia: estado de ânimo vivenciado com prazer e alegria. A pessoa não consegue explicar ou justificar a causa de sua alegria. Moria: estado de alegria própria dos pacientes com atraso mental severo, tumor cerebral. Tristeza patológica: diminuição do estado de ânimo. Sintoma nuclear da depressão. Ansiedade:é o sintoma/sinal ou vivência de antecipação. As manifestações subjectivas são uma sensação de opressãoprecordial, medo, insegurança, sensação de que alguma coisa desagradável vai acontecer. Disforia: estado de mal humor impreciso, de irritabilidade. Pode ser referido na epilepsia, demência e depressão. Indeferença afectiva: é a falta de resposta emocional a estímulos habituais. Embotamento afectivo: embotamento ou empobrecimento afectivo é o grau máximo de indeferença afectiva. Ambivalência afectiva: sentimentos opostos para a mesma situação ou estímulo. Dissociação ideo – afectiva: reação ou resposta emocional contrária à ideia. Anedonia: incapacidade de experimentar prazer em actividades habitualmente e anteriormente prazerosas. Frequente na depressão onde o paciente refere não sentir prazer em actividades de rotina, em estar com pessoas e com amigos, na relação sexual. 2.4. Alterações das Funções de Conduta 2.4.1.1.Alterações quantitativas da fase psicomotora da conduta Abúlia: perda total do desejoou vontadede fazer as actividades habituais embora ainda as realize. Frequente na depressão grave, esquizofrenia. Hipobúlia: diminuição do desejo emrealizar qualquer actividade. Ocorre na depressão. Hiperbúlia: aumento exagerado do desejo de fazer as coisas. Observável nos episódios de mania. 14 2.4.1.2.Alterações qualitativas da fase psicomotora da conduta Conduta alimentar, necessidades de alimentação Anorexia: perda parcial ou total do desejo de ingerir alimentos. Há uma alteração do instinto de conservação da vida. Bulímia: desejo incontrolávelem ingerircontinuamente alimentos. Coprofagia:desejoem ingerir material fecal e outras substânvias orgânicas em descompensação. Potomania: tendência a ingerir exageradamente líquidos, habitualmente água. Onicofagia: tendência a roer unhas. Pica:desejo de ingerir substâncias inorgânicas como aria, pedra, carvão etc. Mericismo: hábito de fazer com que os alimentos voltem do estômago à boca. O fenómeno é acompanhado de ansiedade pela incapacidade para inibir a repetição da regorgitação. Malácia: perversão do apetite levandoa comer coisas como cinza, madeira, papel, sabão, animais (largatixas, baratas, monhocas, vermes). Observável noatraso mental grave e na demência senil. Conduta sexual Hipererotismo: aumento do desejo sexual. Exibicionismo: exibicão publica de órgãos genitais à distância com tendência a repetir nas mesmas horas e nos mesmos locais. Muitos praticam tal acto nos elevadores, quando apercebem que uma mulher entra parao elevador sozinha. 15 Sadismo: tendência mórbida a obter satisfação sexual infligindo dor física ou moral ao parceiro. Masoquismo: tendência mórbida a obter satisfação sexual auto infligindo dor. Fetichismo: tendência mórbida em obter prazer sexual utilizando um fetiche que pode ser peça de roupa (roupa interior, fato de bombeiro etc.) ou qualquer outro objecto. Necrofilia: tendência mórbida em obter prazer sexual com cadáveres. Pedofilia: tendência mórbida em obter prazer sexual com crianças, usualmente no início da puberdade. Conduta relacionada com impulsos vitais Algofilia: perda da reacção de defesa do paciente perante objectos ou situações que ameacem ou a integridade e segurança do organismo. Pusilanimidade:exagerada reacção de defesa ante objectos e situações que ameaçam a integridade e segurança do organismo. Auto-mutilação: forma grave de diminuição da necessidade de defesa. Pode ocorrer em casos de esquizofrenia, atraso mental grave e também na histeria. Suicídio: expressão máxima de auto-mutilação. Pode ocorrer na depressão grave e esquizofrenia. 2.4.2. Alterações da fase de conduta propriamente dita ou fase de acção Alterações da linguagem verbal Bradilália: diminuição da velocidade de expressão verbal como resultado da lentificação dos processos psíquicos e do curso do pensamento. Taquilália: o doente fala rápido e muitas palavras ao mesmo tempo como resultado de uma aceleração dos processos psíquicos. 16 Logorreia: discurso rápido com muitas ideias por vezes não relacionadas. Maneira incessante de falar. Comum nos casos de agitação psicomotora, episódios maníacos e na embriagues patológica. Missitação: linguagem não perceptível em tom de voz muito baixa. Solilóquio: indivíduo desenvolve diálogo consigo próprio.Ele pergunta e responde. Coprolália: utilização de palavras ousadas no seu discurso. Ecolália: repetição, como um eco, das últimas palavras que o doente escuta. Observa-se em doentes catatónicos. Neologismos: palavras ou grupo de palavras criadas pelos doentes ou palavras já existentes que são utilizadas com outro sentido ou significado. Sintoma comumna esquizofrenia paranóide. Afasia motora: incapacidade para emitir palavras por iniciativa própria embora o paciente compreenda perfeitamente o que lhe dizem. Alterações da Linguagem não-verbal Hipermímia: aumento da energia, rapidez e duração dos movimentos mímicos. Hipomímia: redução dos movimentos expressivos da face. Comum na depressão. Amímia: ausência de expressão emocional mímica. Ocorre na demência, catatonia e estupôr. 6.4.3.1. Alterações quantitativas dos movimentos voluntários e involuntários Acinésia: perda total dos movimentos voluntários. O doente pode ficar horas na mesma posição. É elemento típico do estupor depressivo. Hipocinésia: é a diminuição, lentificação e pobreza de todos movimentos voluntários. Sintoma fundamental do síndrome afectivo depressivo de nível psicótico. Hipercinésia ou hiperactividade: aumento da actividade motora voluntária. Agitação psicomotora (APM): aumento de movimentos reflexos incoordenados e inconscientes que adquirem preponderância sobre as movimentos conscientes e voluntários. Sãomovimentos 17 incompreensíveis e desordenadose o paciente não sabe dizer porquê, como e finalidade dos actos. A APM é sintoma fundamental na confusão mental, agitação catatónica, histeria, estado crespucular. É principal motivo de consulta e de internamento em emergências psiquiátricas. Ateração dos hábitos de sono e de higiene Insónia: é a dificuldade de conseguir conciliar o sono. Hipersónia: aumento da necessidade de sono. Diminuição ou desleixo dos hábitos de higiene: abandono da rotina do banho, do vestir da limpeza do ambiente. Tem significado para o diagnóstico da esquizofrenia, demências. 6.4.3.2. Alterações qualitativas dos movimentos voluntários e involuntários Ecopráxia: repetição inconsciente dos movimentos e actos que o doente observa no à sua volta. Actos compulsivos:ritual ou sequência dos movimentos realizado para evitar ansiedade produzida por pensamentos obsessivos. Observável na perturbação obsessiva compulsiva. Actos impulsivos: são actos simples, isolados, súbitos, involuntários e sem finalidade. Maneirismos: actos ou movimentos desnecessários para a realização de uma determinada tarefa. São frequentes na perturbação esquizofrénica. Negativismo: tendência permanente e instintiva a reagir contra toda solicitação do mundo exterior. Característico dos quadros catatónicos. 6.4.4. Alteração de conduta relacionada com necessidade de relação Isolamento:distanciamento de parentes, do grupo social do paciente. É comum na depressão. Hipersocialização: aumento exagerado do contacto do paciente para com os grupos sociais. Comum nos episódios maníacos. 18 6.5. Alteração do juízo Crítico Também denominada falta de “capacidade crítica” ou “insight” é o conhecimentoerrado que o indivíduo tem da natureza dos próprios sintomas. É a falta de consciência que o indivíduo tem do seu estado de saúde. Depois desta descrição o formando está habilitado para fazer o exame psiquiátrico e o diagnóstico semiológico, juntando alietoriamente sinais e sintomas colhidos na história clínica. ATENÇÃO O exame psiquiátrico ou exame do estado mental faz parte do exame objectivo. 19 Resumo da Semiologia Psiquiátrica Funções de síntese ou de integração Consciência Nível de vigília Alto, normal, baixo Alterações quantitativas Letargia, obnubilação, estupor, coma Alterações qualitativas Estado oniróide, estado crepuscular, delírium, confusão mental ou amência, durante crise epiléptica, estreitamento da consciência, Orientação Desorientação Tempo, espaço, autopsíquica, alopsíquica Memória Alterações quantitativas Hipermnésia, hipomnésia, amnésia Alterações qualitativas Falsas recodações, confabulação, criptomnésia, ilusão mnésica, alucinações mnésica Atenção Alterações da atenção passiva Hipervigilância Alterações da atenção activa Distractibilidade, Hiperconcentração, hipoproséxia Funções de relação Relação consigo mesmo, com os demais e com as coisas Sensações Alterações quantitativas Hiperestesia, Hipoestesia, anestesia Alterações qualitativas Cinestopatias, parestesia Alterações da percepção Ilusão, alucinação, pseudoalucinação, metamorfose, alteração do esquema corporal, desrealização, despersonalização, transformação Alterações da origem Pensamento autista Lentificação, aceleração, bloqueio, fuga de ideias, perseveração, prolixidade, divagação, divulgação, roubo, discurso incoerente, discurso desagregado 20 Funções cognitivas Pensamento Alterações do curso do pensamento Alterações do conteúdo do pensamento Ideia delirante ou delírio, ideia sobrevalorizada, ideia fóbica, ideia fixa, ideia obsessiva Temas de delírio: Dano, perseguição, referência, influência, hipocondríaco, grandeza, nihilista, de autoacusação ou censura, erótico Mecanismo de produção do delírio: dedutivo, interpretativo, indutivo Alterações da Capacidade de abstração Positivas: sobreinclusão, metonimia Negativas: défice na Capacidade de abstração Alterações das operações Contradições, pensamento de Von Domarus, pensamento simétrico, pensamento mágico Funções afectivas Alterações quantitativas Hipertímia, hipotímia, atímia Alterações qualitativas Ansiedade, apatia ou indiferença afectiva, ambivalência, incongruência ou dissociação ideiafectiva, irritabilidade, euphoria, disforia, moria, tristeza patológica, embotamento ou empobrecimento afectivo, anedonia Fase psicomotora ou de acção implícita – fase de pensamento Hiperbúlia, hipobúlia, abúlia Alterações da actividade motora Alterações quantitativas Hipercinésia, agitação psicomotora, hipocinésia, acinésia Alterações qualitativas Catalépsia, esteriotipia, manerismo, negativismo, obidiência automática, 21 Funções de conduta Fase de conduta manifesta ou de ACÇÃO explícita flexibilidade cérea, compulsão, actos impulsivos Alterações das neccessidades Necessidades do sono -Dissónias:insónia,hipersónia -Parassónias: terror nocturno, pesadelos, sonambulismo -Alterações do ciclo sono- vigília Necessidades de alimentação Anorexia, bulímia, coprofagia, pica,potomania, onicofagia, mericismo, malácia Necessidade de defesa Pusilanimidade, algofilia, automutilacão, conduta suicida Necessidade sexual Hipererotismo, hipoerotismo, exibicionismo, masoquismo, sadismo, necrofilia, fetichismo, pedofilia Necessidade de relação Isolamento, hipersociabilidade Alterações dos hábitos Deterioração dos hábitos: estéticos, higiénicos, alimentares, sexuais, recreativos, laborais, interpessoais Alterações da linguagem verbal Disfémia, taquilália, bradilália, coprolália, ecolália, logorreia, mussitação, solilóquio, neologismo, afasia motora Alterações da linguagem não verbal Hipermímia, hipomímia, amímia 22 7. HISTÓRIA CLÍNICA EM PSIQUIATRIA A. Identificação: inclui o nome completo, idade, sexo, estado civil, naturalidade, residência, nível de escolaridade atingido, profissão, ocupação, nacionalidade, religião e contactos. B. Anamnese: indicar as fontes de informação. Data e Motivo da Consulta ou Internamento (Queixa principal). Assinalar se o internamento foi ou não voluntário. Antecedentes familiares: uma árvore genealógica, identificando o paciente (PI – paciente identificado), legendar com nomes e idades. Anotar doenças familiares como o alcoolismo, a epilepsia, toxicodependência e consaguinidade. Antecedentes Pessoais: Descrever a história biográfica do indivíduo com dados da gravidez (maláriana gravidez), parto, desenvolvimento psicomotor nos primeiros 5 anos de vida, saúde na infância (infecções, malária), sintomas neuróticos na infância (terrores nocturnos, crises de birras, sonambulismo, chupar os dedos, gagueira, estados de medo, enurese). Idade de início da escola, aproveitamento, relacionamento com os colegas e professores, problemas de aprendizagem com possíveis motivos, reprovações, nível atingido. Idade de início do emprego, a ordem cronológica, razões da mudança e satisfação no trabalho Mudanças, tendências, práticas sexuais e vida afectiva: idade da menarca (♀) e caracteres sexuais secundários,educação sexual, mudanças na adolescência, vícios, namoro, relação sexual, primeira gravidez, estado de saúde dos filhos, relacionamento conjugal actual. Hábitos tóxicos: bebidas alcoólicas, cannabis e outras substâncias psicoactivas. Antecedentes mórbidos: médico-cirúrgicos e psiquiátricos relevantes. Personalidade pré-mórbida: como se descreve ou o definem. História da Doença Actual (HDA): ordem cronológicados sintomas, forma de início (súbito, insidioso) e evolução. Inventário de sintomas psiquiátricos, estado actual do quadro e tratamentos efectuados.Inquirir sobre seguimento em consultas, medicaçãohabitual econsumo de bebidas alcoólicas. Fazer a revisão de sintomas gerais (febre, tosse, diarreia, vómitos, emagrecimento). 23 C. Exame objectivo: exame físico geral (sinais vitais), exame neurológico resumido e exame psiquiátrico ou exame do estado mental. O exame do estado mental começa no momento em que o clínico vê o doente pela primeira vez (entrando para o gabinete de consulta ou no leito na cama, ou mesmo na sala de espera). Na primeira parte do exame psiquiátrico regista-se o aspecto, atitude, postura, actividade, vestuário e cuidado no vestir, contacto com o olhar. Atitude refere-se à forma como o doente enfrenta a entrevista (colaborante, hostil ou demasiado íntimo). Desleixo no vetuário ocorre na depressão, mania, esquizofrenia, autonegligência (devido a demência ou psicose grave, por exemplo) ou grandes privações (sem abrigo). Depois regista-se a sequência descrita na semiologia psiquiátrica. D. Resumo: descrição de forma sequencial e lógica de todos aspectos positivos que conduzam a um diagnóstico. E. Formulação do diagnóstico: diagnóstico semiológico listandode forma arbitrária todos sinais e sintomas descritas ao longo de história; diagnóstico sindromático agrupando criteriosamente sinais e sintomas; diagnóstico nosológico segundo CID-10. F. Exames complementares: solicitar exames complementares básicos. G. Diagnóstico definitivo: diagnóstico conclusivo. H. Proposta de tratamento: medicação para a estabilização do quadro. 7.1. Relação clínico -doente O clínico deve procurar estabelecer uma relação terapêutica, comportando-se de forma profissional, sem fazer críticas, de modo que o doente se sinta à vontade para exprimir-se e partilhar informações pessoais. 7.2. Entrevista clínica Instrumento utilizado para a colheita de toda a informação para a história clínica. a. Tipo de entrevista Muita informação é obtida através de questões directas (linguagem verbal) e outra tem de ser inferida a partir do comportamento do doente (linguagem não verbal). 24 O doente delirante pode ser desconfiado ou estar assustado. Deverá assegurar-lhe que não corre perigo. É prudente manter maior distância física e menor contacto com o olhar. Um doente agitado ou violento causa medo às pessoas à sua volta. É importante transmitir ao doente que o objectivo é proteger-lhe. Todos objectos perigosos devem ser retirados e, se necessário, solicitar apoio de mais pessoal para segurança. Os doentes com depressão têm pouco interesse na entrevista. Devem ser mais estimulados. Sentem-se geralmente aliviados ao serem abordados sobre ideias de suicídio. O doente com demência pode não compreender as perguntas, podendo até tornar-se hostil como defesa para não revelar as suas dificuldades cognitivas. b. Técnica da entrevista O clínico deve saber escutar com atenção, mostrando interesse e respeito, orientando a entrevista de modo a explorar e aprofundar as múltiplas áreas alteradas, os sintomas e sinais evidentes.Deve sempre assegurar ao doente que as informações que presta são confidenciais. 25 8. GRANDES SÍNDROMES PSIQUIÁTRICOS Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que definem um quadro clínico sem etiologia específica.O conhecimento dos síndromes permite melhor orientação na conduta terapêutica, antes mesmo dos resultados dos exames complementres e do diagnóstico nosológico. LÉMBRA-TE É tarefa do TM fazer o diagnóstico sindromático das perturbações mentais agudas, descartar causas médicas ou orgânicas, estabilizar o quadro e referir para o técnico de psiquiatria ou clínico geral. 8.1. Síndromes Cerebrais Orgânicos (SCO) Nos SCOs a causa é conhecida sendo de origem infecciosa, vascular, metabólica, traumática, tumoral, etc. Orgânico porque atinje o sistema nervoso central(SNC). Os outros sintomas que acompanham a SCO são uma consequência lógica de diminuição do nível de consciência. 8.1.1. Síndromes Cerebrais Orgânicos Agudos (SCOA) A característica fundamental de todos SCOAs é a alteração do nível de consciência, desde a obnubilação até ao coma. Oquadro é reversível, tratada a causa de base, característica que os distinguem dos crónicos. Tem um início e fim súbito (horas até pouco dias). Demora no tratamento de todos SCOA pode levar amorte.Os exames complementares orientam o diagnóstico. 9.1.1.1 Sub-síndrome de obnubilação Caracteriza-se por confusão, desorientação, alternância entre irritabilidade e sonolência, dificuldade para manter a atenção, recordar e estar acordado. 9.1.1.2. Sub-síndrome confusional Caracteriza-se por desorientação, perplexidade, incoerência psíquica e motora. O discurso não é compreensível. Há uma oscilação do nível de consciência. 9.1.1.3. Sub-síndrome delírium 26 Caracteriza-se por início súbito com oscilação do nível de consciência, alucinações visuais, podendo ser tácteis, auditivas, olfactivas ou do paladar edesorientação. Uma hipertermia orientará para infeccão, hipertenção arterial para causa vascular.Nas imagens de terror o paciente estará com medo, inquieto ou mesmo agitado. O delírium é uma emergência médica. 9.1.1.4. Sub-síndrome crepuscular Os síndromes crepusculares estão relacionados coma epilepsia. A conduta do doente é automática. Existem duas variedades de conduta, nomeadamente a desorientada e violenta (agressões graves, homicídios, queda de alturas), e outra segunda ordenada e passiva. 9.1.1.5. Sub-síndrome onírico Caracteriza-se pela sensação de irrealidade, com alucinações visuais de carácter cénico fantásticas ou de terror adoptando uma conduta contemplativa. 9.1.1.6. Sub-síndrome convulsivo Tem como manifestação convulsões de tipo tónicas e clónicas generalizadas com perda de consciência. As causas das convulsões são relacionadas a epilepsia e doenças cerebrais infecciosas, tumorais, traumáticas, tóxicas. 9.1.1.7. Subs-índrome comatoso O doente não responde a nenhum estímulo externo nem a necessidades internas. Não há resposta aos reflexos (da córnra, das pu[pilas, da faringe, dos tendões). 9.1.2. Sindromes cerebrais orgânicos crónicos (SCOC) Caracterizam-se por dificuldades intelectuais e a deterioração da personalidade.O quadro é irreversível. 9.1.2.1. Sub-índrome apato-abúlico Caracteriza-se pela indiferença em relação ao que acontece à sua volta. Dificilmente o doente mostra interesse e desejo pelas coisas. Frequente nos estadios tardios da esquizofrenia. 9.1.2.2. Sub-síndrome amnésico O sintoma fundamental ou queixa é a alteração da memória. O que primeiro sofre a alteração é a memória de fixação ou recente e posteriormente a memória a factos passados. 27 9.1.2.3. Sub-síndrome demencial Demência é a perda global tardia das capacidades intelectuais. É uma situação adquirida tardiamente o que a diferencia da oligofrenia.O doente começa por ter dificuldades para pensamento abstracto, memória, execução de tarefas complexas e depois asactividades simples. 9.1.2.4. Sub-síndrome oligofrénico Diminuição congénita ou precocemente adquirida da inteligência afectando a capacidade de adaptação ao meio ambiente, e habilidades sociais. 9.2. Síndromes Delirantes O sintoma fundamental a presença de ideias delirantes. 9.2.1. Sub-síndrome paranóico É constituido por um único delírio, ou seja, bem estruturado. Não evolui paradesorganização da personalidade. O indivíduo mantém uma conduta adequada. 9.2.2. Sub-síndrome paranóide Existem vários delírios, mal estruturados. Evolui para desorganização da personalidade.Os temas mais frequentes são perseguição, dano, influência, ciúme, eróticos, culpa e de grandeza. 9.2.3. Sub-síndrome de automatismo psíquico Caracteriza-se pela presença de delírio de influência, pseudo-alucinações e despersonalização. 9.3. Síndromes Afectivos 9.3.1. Sub-síndrome depressivo O sintoma fundamental é a tristeza patológica. Na depressão de nível neuróticohá estado de ânimo abatido, ansiedade, irritabilidade, queixas imprecisas em qualquer parte do corpo, falta de sono, anorexia, pouco interesse pelo asseio pessoal, hipobúlia ou abúlia e anedonia.Na depressão de nível psicótico há inibição psíquica e motora, tristeza profunda e corporal,despertar precoce, abandono dos hábitos de higiene, choro fácil, aproséxia, memória com recordação de vivências 28 negativas,alucinaçõesauditivas, delírios de prejuízo, de negação e hipocondríacos. As ideias suicidas são mais persistentes, sendo este um dos critérios de gravidade da depressão. 9.3.2. Sub-síndrome maníaco É caracterizado por excitação psíquica, hipertímia ou alegria exagerada e excitação motora,aceleração do curso do pensamento, fuga de ideias. O doente fala, gesticula, grita, dança, corre, salta, rasga a roupa. Há hipererotismo, diminuição de necessidade do sono, delírio de grandeza, verborreia, falam em tom alto,fazem muitos planos, gastos desnecessários de dinheiro, convites a conhecidos e desconhecidos, adoptam atitudes e comportamentos ousados. 9.3.3. Sub-síndrome ansioso O sintoma fundamental é a ansiedade. A ansiedade está presente em todas perturbações neuróticas. Também pode acompanhar numerosas psicosas funcionais e numerosos quadros orgânicos agudos e crónicos. 9.4. Síndrome Hipocondríaco O paciente aprsenta numerosas queixas em diferentes partes do corpo. Ele acredita que tem uma doença grave que o vai levar amorte e por isso recorre a vários médicos, consulatam enciclopédias, mesmo depois de os provarem o contrário. 9.5. Síndrome Asténico O sintoma fundamental é o esgotamento físico e mental sem realizar alguma actividade. Pode acompanhar-se de ansiedade, irritabilidade e certa agressividade. 9.6. Síndromes Discinéticos 9.6.1. Sub-síndrome estupuroso A característica fundamental é a diminuição ou falta de toda actividade motora e verbal: Estupor catatónico: há inactividade passiva o doente não apresenta resistência às mudanças de posição. Na inactividade activa ou negativista o doente opõe-se à tentativa de mudança de posição. 29 Há retenção urinária, retenção fecal e sialorreia (por falta de deglutição). Observar-se o sinal da “almofada aérea”, manuntensão da cabeça na mesma posição depois de se retirar a almofada. Estupor depressivo: surge na depressão grave. Os doentes mantêm-se imóveis e rígidos, com mutismo e negativismo passivo. Estupor histérico: há imobilidade motora, negativismo e mutismo de causa histérica Estupor orgânico: para além da imobilidade há sintoma e sinais de uma patologia orgânica de base. 9.6.2. Sub-síndrome hipercinético Existe uma hiperactividade motora. É necessário diferenciar diferentes tipos de agitação. Agitação catatónica: movimentos excessivos desorganizados sem finalidade, hiperactividade verbal. O doente grita, corre, mexe as extermidades, faz caretas, contorsões e maneirismos. Agitação histérica: Está relacionada com situações de stress ou de contrariedade numa personalidade histriónica para inconscientemente tirar alguma vantagem pessoal. O que orienta o diagnóstico é a situação psicotraumática e a personalidade pré mórbida. Agitação maníaca: predomina a hiperactividade motora que se acompanha de aceleração do pensamento e hipertímia. Furor epiléptico: extrema agitação, destrutiva e agressiva, com amnésia em relação ao acontecido. 9.7. Síndrome Psicopático Conjunto de aspectos da condutacaracterizados pela dificuldade em adaptar-se à regras e normas da sociedade. Queixas que evidenciam permanente conflito com a lei. 9.8. Síndrome Esquizofrénico Caracterizada por sintomasde três áreas nomeadamente cognitiva, afectiva e da conduta.Sintomas de funções cognitivas incluem bloqueio do pensamento, desagregação e incoerência do pensamento, delírio e alucinações. Na função afectiva, dissociação ideio-afectiva, ambivalência e embotamento afectivo. Na àrea da conduta, mutança nos hábitos, isolamento e agressividade. 30 9.9. Síndrome de Dependência Existe um padrão desadaptativo com os seguintes critérios:tolerância (utilização de quantidades crescentes de substância para obter o mesmo efeito), abstinência (com diminição ou interupção brusca do consumo surgem sintomasdesagradáveis específicos para cada substância), alívio da síndrome de privação pelo consumo da substância em questãopara aliviar os sintomas desagradáveis (consumo como reforço negativo), impulso para consumo ou craving (desejo incontrolável para consumir), relevância de comportamento de procura e consumo da droga bem como da recuperaçãoem prejuizo das actividades sociais e laborais, estritamento do repertório dos consumosescolhendo cada vez menos substâncias, perda de liberdade (para decidir quando inicia e termina os consumos apesar de conhecer as consequências sociais, laborais e para a saúde), recaída e reinstalação de tolerância e dos sintomas de privação recomeçando todo ciclo. É aplicável ao jogo patológico, exercício físico, internete para além de consumo de substâncias psicoactivas. 31 Resumo de Síndromes Psiquiátricos Síndrome Subsíndrome 1. Síndromes Cerebrais OrgânicosAgudos - SCOA: obnubilação, delírium, oniróide, estado crespucular, confusional, ataques convulsivos, comatoso Crónicos - SCOC: oligofrénico, demencial, amnésico, apato-abúlico 2. Esquizofrénico 3. Delirante Paranoico Paranóide Automatismo psíquico 4. Afectivo Maníaco Depressivo: nível neurótico, nível psicótico Ansioso 5. Discinético Estupuroso: stupor catatónico, stupor depressivo, stupor orgânico, stupor histérico Hipercinético: agitação catatónica, agitação histérica, agitação maníaca, furor epiléptico 6. Hipocondríaco 7. Neurasténico 8. Psicopático 9. Dependência 32 10. EXAMES COMPLEMENTARES EM PSIQUIATRIA As análises de rotina em psiquiatria são o hemograma completo, hematozoário, bioquímica (ionograma, provas de função hepática) Serologia para sífilis (RPR) e para o HIV, Rx do tórax, urina II.Devem ser solicitados para discarte de causas orgânicas e para garantir o máximo de segurança quando submetidos a determinados tratamentos com psicofarmacos. 33 11. SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE DOENÇAS 11.1. CID-10 Manual de classificação internacional das doenças , traumatismos e causas de morte, uma publicação da OMS, que está na sua 10ª edição. Em uso no nosso SNS para referenciar todos os quadros de enfermidades e doenças, inclusive as Perturbações Mentais e de Comportamento. SABER MAIS Para mais detalhes, consulte o livro Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, Descrição Clínicaas e directrizes diagnósticas,Organização Mundial de Saúde, Genebra 11.2. DSM-V Manual diagnóstico estatístico de desordens mentais (DSM), uma publicação da associação americana de psiquiatrica (APA), Washington D.C, sendo a sua 5ª edição. 11.3. Classificação Clássica As perturbações psíquicas eram agrupadas em três categorias: A. Neuroses: grupo de doenças que tem como causa conflitopsicológico. Conceito de conflito,foi introduzido por Segismundo Feud para explicar como se desenvolvem e como tratar as neuroses. Nas neuroses há sintomas homólogos ou quantitativos , que podem ser vivenciados qualquer indivíduo em algum momento na vida como por exemplo reações de medo, reacções de ansiedade, reacções de excitabilidade, reacções de inibição, insónia. Os sintomas são compreensíveis, existe uma relação lógica entre a situação e a queixa ou sintoma. Pode-se estabelecer uma relação de empatia no diálogo clínico-paciente. A desorganização da personalidade é menos profunda. O indivíduonão perde o contacto com a realidade. Afecta de forma mais focalizada a afectividade, necessidades de sono alimentação e sexuais. Respondem à psicoterapia. http://pt.wikipedia.org/wiki/CID-10 http://pt.wikipedia.org/wiki/DSM_IV http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Manual_Diagn%C3%B3stico_e_Estat%C3%ADstico_de_Desordens_Mentais&action=edit&redlink=1 34 B. Psicoses: o indivíduo perde o contacto com a realidade. Existe uma profunda desorganização da personalidade. Os sintomas são heterólogos ou qualitativos, uma vez presentestraduzem doença (ideias delirantes, alucinações).Os sintomas são incompreensíveis, não existe uma relação lógica entre a causa e o sintoma.Esses sintomas não permitem estabelecer uma relação de empatia na entrevista clínica. Afecta de forma difusa os fenómenos psíquicos, incluindo esfera cognitiva, afectiva e da conduta. Respondem ao tratamento com antipsicótico. C. Psicopatia: caracteriza-se por padrão de condutas mal adaptativas.