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LEITURA E RESUMO DA OBRA: DOS DELITOS E DAS PENAS DE CESARE BECCARIA [...] Desde a sua primeira edição, em 1764, Dos Delitos e das Penas provocou (e continua provocando) as mais intensas polêmicas, devido principalmente ao seu embasamento francamente humanista. Os temas aqui discutidos - pena de morte, acusações secretas, prisão, torturas, roubo, contrabando, entre outros - continuam despertando o interesse de profissionais, pesquisadores e estudiosos, tornando esta obra, hoje clássica, uma permanente e profícua fonte de inspiração e reflexão para todos os que se preocupam com os Direitos Humanos (Dos Delitos e das Penas, 2015). [...] O milanês Cesare Beccaria (1738-1794) foi um jurista e figura importante para o humanismo, tendo alcançado prestígio por suas ousadas ideias na época conhecida como Iluminismo, isso se deve, também ao livro “Dos delitos e das penas”. Beccaria era profundamente influenciado por pensadores contemporâneos como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, por exemplo. O autor declara realizar no livro uma análise dos pareceres dos jurisconsultos, mas, somente, no âmbito criminal. Propõe-se a criticar, examinar, abusos dos séculos anteriores a ele. Retoma as fontes da moral que, pelo autor, são a Revelação, as leis e a convenção social. Beccaria propõe, como ideal, que houvesse distribuição equitativa das vantagens entre os membros da sociedade. Porém, na realidade concentram-se privilégios em poder de poucos. Assim sendo, somente as leis podem impedir ou pôr fim nestes abusos. Junta-se a isto o fato de ocorrer inércia quanto aos males que atormentam a sociedade, até os últimos extremos; e é, então, que se remetiam estes males. Essa influência levou o jurista a repensar a forma como ocorriam os julgamentos de presos. Dessas reflexões surgem importantes pensamentos que o colocam, hoje, como o fundador do direito penal. Até então, os crimes eram punidos com grande rigor, sendo comum penas de morte, torturas e humilhações que passam ao largo do estatuto do direito e da ética. Essa prática era extremamente aceita socialmente pois não se conheciam outras maneiras de punir os infratores. A seguir, uma divisão com os capítulos do livro e o pensamento do autor ao assunto abordado. II - Origem das penas e do direito de punir Segundo o autor, a lei [e a moral política] deve estar “baseada em sentimentos indeléveis do coração do homem”. Ninguém faz graciosamente o sacrifício de uma parte de sal liberdade apenas visando o bem comum. Na origem das agrupações, as liberdades foram sacrificadas para haver mais segurança; entra, então, em cena o poder soberano. O depósito destas liberdades seria a lei; a qual não é o suficiente para evitar o despotismo. Por este fato, e para este motivo, foram criadas penas a estas leis. Estas penas devem ser sensíveis, segundo o autor, pois deste modo impediriam que as paixões particulares superassem o bem comum. Por dever ser posta de lado a liberdade, escolhe-se a menor parcela dela, somente a que se faz necessária. A reunião das pequenas parcelas [de todos] fundamenta a possibilidade de punir do Direito. Quando não houver este fundamento, não haverá justiça e nem poder de direito; é um poder de fato, porém, usurpado. “As penas que vão além da necessidade de manter o deposito da salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas serão quanto mais sagradas e invioláveis forem a segurança e maior a liberdade que o poder soberano propiciar aos súditos. III - Consequência desses princípios 1º) As leis [penais] podem indicar penas de cada delito, e o direito de estabelecê-las cabe ao legislador, apenas. O magistrado não pode aplicar pena não prevista em lei (“nulla poena sine praevia lege”); ele é injusto, também, quando é mais severo que a lei, aumentando, por exemplo, o efeito da lei.2º) Deve haver intermédio do magistrado para decidir se o soberano ou o acusado está correto quanto a um determinado caso, pois a terceira pessoa é imparcial. Ao soberano não compete julgar. 3º) a crueldade nos castigos é inútil, sendo, então, odiosa e injusta. IV – Da Interpretação das leis “As leis tomam sua força da necessidade de guiar os interesses particulares para o bem geral” Beccaria, logo após essa afirmação, coloca o poder soberano como intérprete da lei; verifica-se, então, com o juiz se fora cometido algum delito. O juiz deve fazer um silogismo; a premissa maior seria a lei; a ação, a menos; e a sentença; a consequência. Se houve excesso a esta ação, há incerteza quanto ao julgamento. Para Beccaria, consultar o espírito das leis [penais] é um erro, devendo manter-se apenas às letras delas. Deve haver essa prisão ao texto da lei, pois cada homem tem uma opinião, pode haver paixões decidindo e julgando, e há frequente mudança de ideias e ideais; logo a lei assegura que o delito seja julgado e punido da mesma maneira em dois tribunais diferentes, faz com que haja uma mesma justiça. Seguindo, literalmente, a lei o cidadão é protegido de abuso de tiranos e, também, pode desviar-se da prática criminosa ao identificá-la de tal forma, pois o texto da lei diz. V – Da Obscuridade das Leis A obscuridade das leis é um mal tanto quanto é a arbitrariedade, pois aquela precisa ser interpretada. Para livrar o domínio da lei de um pequeno grupo, deve-se traduzir os códigos legais, e tornar a lei conhecida do povo; assim, com “o texto sagrado das leis nas mãos do povo”, há menos delitos. Com isso é esperado que o conhecimento e a certeza das penas freiem as paixões, que levam ao cometimento de delitos. Não haverá sociedade com forma fixa de governo pela força de um corpo político sem a disseminação do conhecimento legal, somente haverá força dos que compõe esse grupo. Se não há instante estável no pacto social, não existirá resistência quanto ao tempo e as vontades humanas. Essa disseminação é feita através da imprensa, que faz do público o depositário das leis; assim como foi, segundo o autor, a imprensa que fez a Europa deixar o estado de barbárie. Neste capítulo, Beccaria ainda critica expressivamente a nobreza e o claro. VI – Da Prisão Trata-se do direito de prender os cidadãos de modo discricionário, poder que tem o magistrado. Deste modo, a prisão continua tendo o caráter essencial que a penas à lei cade indicar, entretanto, é indicado pelo juiz. Esclarece-se aqui que a lei deve estabelecer fixamente quais indícios de delito um acusado pode ser preso. O autor afirma que serão possíveis prisões com provas mais fracas quando as penas forem mais suaves e as prisões não forem um lugar horrível de desespero e fome. Aponta-se alguns erros na justiça criminal: há emprego de força e poder, não justiça; há, na mesma prisão, detentos inocentes (suspeitos) e criminosos convictos; entre outros. “As leis e os usos de um povo estão sempre atrasados vários séculos em relação aos progressos atuais (...)” VII – Dos indícios do delito e da forma dos julgamentos Há dois tipos de provas quanto à quantidade, as de um fato que se apoiam todas entre si, e as que independem uma das outras. Às primeiras não importam o número de provas, pois destruindo uma (mais verossimilhante) as outras não valem; ao segundo tipo, quanto mais provas, melhor. Quanto à qualidade, também, há outros dois grupos, perfeitas e imperfeitas. As perfeitas não existem possibilidade de inocentar o acusado, as imperfeitas mantêm a possibilidade de inocência. Ao juiz cabe a constatação dos fatos, quando a lei é clara e exata; quando necessárias destreza e habilidade na investigação das provas, o bom senso é suficiente ao magistrado. O melhor julgamento, de fato, seria o feito por iguais, não ocorrendo, então, sentimentos de desigualdade; o julgamento deve, ainda, ser público e obter legitimidade. VIII – Das Testemunhas A confiança que se deposita em uma testemunha deve ser medida pelo interesse que ela tem em dizer ou não a verdade; deve-se, portanto, ceder à testemunha maior ou menor confiança, na proporção do ódio ou da amizade que tem ao acusado e de outras relações mais ou menos estreitas que ambos mantenham.Houve abusos diversas vezes cometidos, como considerar nulos os testemunhos de condenados e de mulheres. Arrolar testemunhas pode parecer adiar um processo, entretanto, procrastinações são necessárias, pois, assim, não há arbítrio do juiz e faz o povo entender que julgamentos são feitos formalmente e não pelo interesse. Há necessidade de que não seja apenas uma testemunha. É dada maior importância às testemunhas quanto mais atrozes os crimes. O discurso da testemunha é, também, muito importante, pois se ele tiver a intenção de incriminar e não puder ser repetido com a mesma intensidade e tonalidade não pode ser considerado. IX – Dos interrogatórios sugestivos O único interrogatório deve ser sobre a forma do cometimento do crime e de suas circunstâncias. Quem se negar a responder o interrogatório ao juiz deve sofrer pena pesada estabelecida por leis; deve ser muito pesada devido a ofensa para a justiça. Assim como as confissões não são necessárias quando provas comprovam a autoria do crime; também não são necessários interrogatórios quando se foi verificado o crime. X – Dos Juramentos O juramento é uma contradição entre leis e sentimentos naturais, não há como exigir de um acusado que diga a verdade, quando seu interesse é esconder. Destrói-se a força do sentimento religioso [ao jurar em nome de Deus]; por este motivo, entre outros, o juramento é uma mera formalidade, tanto é inútil que o juramento nunca faz com que o acusado diga a verdade. XI – Da tortura A tortura é uma barbárie consagrada pelo uso na maioria dos governos até a época de Beccaria; porém, ela demonstra o direito da força, pois infringe pena ao cidadão quando não se sabe se é inocente ou não. Pode haver crime certo ou incerto, se é certo deve ser punido pela lei fixa, se não deve ser considerado inocente. Esta prática [tortura] assemelha-se ao ordálio, usado no direito divino (Direito Canônico na Idade Média), a única diferença é que o foco da tortura é a confissão, enquanto no ordálio as marcas eram provas de crime. Este método faz o inocente “confessar” crimes também, ou seja, o meio de separação de inocentes e culpados une as duas classes. O resultado pode ser trágico quando o inocente fraco confessa e o culpado forte é tido como inocente. Portanto, o aquele está numa situação desfavorável; enquanto este, numa situação favorável. Pode ser usado para conhecer cúmplices, pois quem acusa a si mesmo acusa a outros mais facilmente. Porém, o autor acreditava que, uma vez sob o risco de serem pegos, os cúmplices manteiam-se longe do crime e a sociedade de novos atentados. Há exemplos de que isso não acontece, como no caso de grupos criminosos, onde o réu, mesmo confessando, não acusa cúmplices por medo de sanção maior do grupo. Beccaria crê que a origem tenha sido religiosa, até pelo ato da confissão. XII – Da duração do processo e da sua prescrição “Cabe tão-somente às leis determinar o espaço de tempo que se deve utilizar para a investigação das provas do crime, e o que se deve conceder ao acusado para que se defenda.” Para crimes hediondos não deve haver qualquer prescrição em favor do culpado. O tempo que é empregado na investigação das provas e o que determina a prescrição não devem ser aumentados em virtude da gravidade do delito que se persegue. Separa- se então duas categorias de delitos: Grandes e Pequenos. São separados, dentre outros critérios, pela verossimilhança, sendo o primeiro menos verossimilhante e o segundo mais. XIII – Dos crimes iniciados; dos cúmplices; da impunidade O princípio de um crime deve ser castigado, mas de forma mais branda, por se tratar da vontade de cometer um crume. Busca-se prevenir até tentativas iniciais do crime; porém, a punição deve ser mais branda para também fazer com que a pessoa que iniciou o crime não busque completá-lo. Há tribunais que oferecem impunidade para cúmplice que trair seus colegas, considerado uma covardia do legislativo e, logo, do soberano, mas que pode funcionar. A impunidade pode encorajar o povo e prevenir grandes delitos; propõe que seja feita lei geral para isto, ao invés de declaração especial num caso particular. XIV – Da moderação das penas A função dos castigos é de impedir o culpado de tornar-se futuramente prejudicial à sociedade, e afastar a sociedade do caminho do crime, ou seja, a função da pena é utilitarista. “Quanto mais terríveis forem os castigos, tanto mais cheio de audácia será o culpado em evitá-los. Praticará novos crimes, para subtrair-se à pena que mereceu pelo primeiro. ” Historicamente, verifica-se que onde as penas foram mais cruéis, foram os lugares onde cometeu-se maior número de crimes hediondos. Nota-se que para surtir efeito, o mal causado pela pena deve superar o bem retirado pelo crime. Porém, a crueldade das penas tem dois resultados: é difícil estabelecer proporção entre delito e pena, pois sempre haverá superação do limite humano; os tormentos mais terríveis podem provocar impunidade. O autor expõe que o rigor das penas deve estar de acordo com o atual estado do país. XV – Da pena de morte Esta pena não é baseada em direito algum, é, apenas, uma guerra considerada necessária contra um cidadão da sociedade; fora isto, ela nunca pôs fim ao cometimento de delitos. Este castigo tem menos efeito do que uma pena de longa duração; uma pena perpétua pode afastar o crime de qualquer cidadão. O que a pena de morte proporciona é um arrependimento fácil de última hora, a perpetuidade da pena daria uma comparação dos males praticados. Para finalizar, é dito que nenhum homem tem direito legítimo sobre a vida de outro. XVI – Do banimento e as confiscações É discutido se deve ser feita confiscação de bens devido ao banimento, a perda de bens é pena maior que o exílio. Se a lei determinar que todos os laços entre o condenado e a sociedade estão quebrados, pode haver confiscação. Porém, isto pode fazer de um inocente um criminoso. XVII – Da infâmia Não é uma pena que decorre das leis, mas do povo; deve ser rara para não abalar o poder da opinião pública, e sua própria força. Também, não deve recair sobre muitas pessoas. XVIII – Da publicidade e da presteza das penas “Quanto mais rápida for a aplicação da pena e mais de perto acompanhar o crime, tanto mais justa e útil será.” Trata-se da prisão preventiva, encarceramento tempo suficiente para a instrução do processo. Tratando do processo, o autor indica o contraste entre a demora do magistrado e a pressa do acusado. “Uma pena muito retardada torna menos estreita a união dessas duas ideias: crime e punição.” XIX – Dos asilos Para o autor, há pouca diferença entre impunidade e asilo, que é abrigo contra a ação das leis. Porém, ele entende que um crime deve ser castigado somente no país em que foi cometido. XX – Do uso de pôr a cabeça a prêmio Entre os diversos argumentos do autor, os que mais são gravados são: o que ele tece quanto a debilidade da nação que precisa de ajuda para se defender, por não ter força; e o da criação de mais cem crimes para a prevenção de um. XXI – Que as penas devem ser proporcionais aos delitos O meio utilizado pela legislação para prevenir o crime deve ser mais forte à medida que é mais danoso ao bem público. Busca-se uma proporção entre delito e pena. Se não há essa proporção não se faz na mente da população diferença entre crimes. É necessário que sejam estabelecidas divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos crimes. XXII – Da medida dos delitos A exata medida é o prejuízo causado à sociedade. A intenção não infere na grandeza do crime, pois tal sentimento varia em todos os homens e no próprio indivíduo. XXIII – Divisão dos delitos São considerados delitos somente ações que tendam à destruição da sociedade ou aos que a representam, ações que afetam o cidadão quanto à existência, bens ou honra, ou ações que executem atos contrários aos determinados em lei ou executem atos os quais a lei proíbe – visando o bem público. XXIV – Dos crimes de lesa-majestade Grande crime, prejudicial à sociedade. Deve ser considerada a moral e, também, o local do ato. XXV –Dos atentados contra a segurança dos particulares e sobretudo das violências Existem atentados contra existência, contra honra e contra propriedade. Beccaria inclui no primeiro grupo violências por parte da nobreza e dos juízes. O autor afirma que as penas devem ser as mesmas independentemente da posição social. XXVI – Das injúrias Elas são punidas pela infâmia, a punição tem força vinda da opinião pública; esta evita os males que não podem ser evitados pela lei. A injúria tem como fundamento a honra, que é algo complexo, composto tanto de ideias complexas como de ideias simples. É possível a ação da opinião pública num ambiente de extrema liberdade política, no caso, as monarquias modernas, com tirania controlada pela lei. XXVII – Dos duelos O autor defende que quem incitou o duelo deve ser castigado, enquanto o outro participante não, por, apenas, defender sua honra. XXVIII – Do roubo É feita a divisão entre roubo com violência e sem o que dá base para a diferença entre assalto e furto. O primeiro deve ser punido com pena em dinheiro, não tendo essa possibilidade – para não gerar pobreza e mais violência – pode ser punido com a escravidão. Ao segundo deve ser acrescido pena corporal. XXIX – Do contrabando O contrabando produz ofensa ao soberano e à nação, mas não deve haver infâmia, pois não afeta suficientemente o povo para provocar sua indignação. A vantagem do contrabando é diretamente proporcional ao número de direitos existentes. XXX – Das falências Faz-se diferença entre a falência por ação de má-fé e de boa-fé. Portanto, há de existir em lei a distinção entre faltas graves e leves, não se pode deixar à arbitrariedade de um magistrado. Deste modo, previnem-se as falências por fraude, e recuperam-se a economia dos homens de boa-fé. XXXI – Dos crimes que perturbam a tranquilidade pública “(...) os cidadãos devem conhecer o que precisam fazer para serem culpados, e o que necessitam evitar para serem inocentes.” XXXII – Da ociosidade Não se admite ociosidade por parte do governo, devendo ele ser partícipe nas relações sociais; porém, há um tipo de ociosidade que é aceitável e pode ser vantajosa, dando maior liberdade e riqueza ao cidadão. XXXIII – Do suicídio Embora seja um crime, o autor acredita que não é um delito que deve ser punido pelo homem, mas sim por Deus, que é o único que pode punir após a morte. Sendo assim, a pena ou lei para este delito é injusta e sem utilidade, porque a pena recairia sobre a família, que é inocente. XXXIV – De alguns delitos difíceis de serem constatados Trata-se do adultério, da pederastia e do infanticídio. O primeiro é comum porque as leis não são fixas e porque é natural a atração pelo sexo oposto, não deve haver – embora exista – quase punição, pois ela é um incentivo. A pederastia é um desvio das paixões do homem escravizado pela sociedade. As leis não procuram prevenir estes delitos com os melhores meios possíveis. XXXV – De uma espécie particular de crime Trata aqui da Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício. Diz-se que somente religiões com fundamentos pouco estáveis recorrem à força. E que, por vezes as punições religiosas perturbam a calma pública. XXXVI – De algumas fontes gerais de erros e de injustiças na legislação - E, antes de tudo, das falsas ideias de utilidade Um exemplo de falsa ideia de utilidade é observar mais as necessidades particulares que as públicas. Sendo assim, essas falsas ideias são fonte de erros e injustiça. As injustiças são próprias da sociedade, e não da natureza; o delito cometido em natureza é vantajoso, por vezes, em sociedade não há proveito no prejuízo de outrem. XXXVII – Do espírito de família É fonte de injustiças na legislação; quanto ao legislador, ele considerou a sociedade um conjunto de famílias e não de indivíduos para criar barbaridade e vícios. Pelas leis serem obras dos chefes de família, a sociedade é dividida por família, assim o espírito monárquico penetra na república. Assim como na república, os filhos numa família mantêm-se sob o domínio ou proteção dos pais pela vantagem que lhes é oferecida. XXXVIII - Do espírito do fisco Anteriormente à época do autor, as penas eram, apenas, de ordem pecuniária. A preocupação do juiz era em conseguir confissão do acusado para benefício do fisco; buscava-se, assim, um culpado no réu, e não a verdade. XL – Dos meios de prevenir crimes É preferível prevenir os delitos a puni-los, tenta-se proporcionar o máximo possível de bem aos homens e livrá-los do máximo de males. Atos não prejudiciais que são tidos como proibidos fazem, simplesmente, com que ocorra novos crimes. A melhor maneira de prevenir os delitos seria a formulação de legislação com maior clareza; a legislação exata substitui a incerteza da lei – através de revoluções. Porém, para que houvesse um permanente estado de sociedade, sem retorno à barbárie, foi preciso a utilização da religião, e a ilusão de uns poucos que erraram com boa intenção. Somente a religião seria capaz de fazer os homens obedecerem às leis a princípio. Obras Citadas BECCARA, Cesare. Dos Delitos e das Penas.