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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE LETRAS DO CERES MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS FRANCISCA ERIK LARISSE NOGUEIRA LIMA A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: MOTE PARA UMA SUPERAÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO CURRAIS NOVOS – RN 2019 1 FRANCISCA ERIK LARISSE NOGUEIRA LIMA A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: MOTE PARA UMA SUPERAÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Unidade de Currais Novos em Rede Nacional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus de Currais Novos, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Linguagens e Letramentos. Linha de Pesquisa: Teorias da Linguagem e Ensino Orientador: Prof. Dr. Mário Lourenço de Medeiros CURRAIS NOVOS – RN 2019 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó- CERES Currais Novos Lima, Francisca Erik Larisse Nogueira. A variação linguística em sala de aula: mote para uma superação do preconceito linguístico / Francisca Erik Larisse Nogueira Lima. - 2019. 149 f.: il. color. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Letras - Profletras. Currais Novos, RN, 2019. Orientador: Prof. Dr. Mário Lourenço de Medeiros. 1. Sociolinguística - Dissertação. 2. Variação linguística - Dissertação. 3. Preconceito linguístico - Dissertação. I. Medeiros, Mário Lourenço de. II. Título. RN/UF/BSCN CDU 81'27 3 FRANCISCA ERIK LARISSE NOGUEIRA LIMA A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: MOTE PARA UMA SUPERAÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Unidade de Currais Novos em Rede Nacional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus de Currais Novos, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Aprovado em: 15 de fevereiro de 2019 BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Profº. Dr. Mário Lourenço de Medeiros (Orientador) Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) _________________________________________________________ Profª. Dra. Ana Maria de Oliveira Paz (Examinadora Interna) Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) _________________________________________________________ Profª Dra Rosângela Alves dos Santos Bernardino (Examinadora Externa) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) 4 Dedico este trabalho à minha família, a base da minha vida: Vilani (mãe), José (pai), Morgama (irmã), Anthony (filho). Obrigada pelos ensinamentos e incentivos fundamentais para o meu sucesso. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, pelas suas bênçãos durante essa caminhada. Aos meus pais, por sempre me incentivarem a estudar. A minha irmã pelo apoio constante. À amiga Fernanda pelo companheirismo, pela amizade e pela paciência. Aos amigos, por sempre estarem por perto. Ao Professor Doutor Márcio Sales Santiago, pela contribuição inicial na elaboração dessa pesquisa. Ao orientador Professor Doutor Mário Lourenço de Medeiros, pela colaboração efetiva na execução desse trabalho. Ao núcleo gestor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva, por possibilitar a realização da pesquisa. Aos professores do Profletras da Unidade de Currais Novos - RN, por compartilharem os conhecimentos. Aos funcionários do Profletras da Unidade de Currais Novos - RN pela atenção e pela prontidão. À CAPES, pelo apoio financeiro que permitiu a realização da maior parte deste trabalho. Aos professores que participaram da banca de qualificação, pelas sugestões e pelos encaminhamentos. Aos colegas de curso, o saber compartilhado e a amizade construída. Aos meus alunos do 9º Ano A, por terem participado da pesquisa. A todos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para este trabalho. 6 “Que a escola (...) saiba desenvolver a capacidade dos alunos para acolher as diferenças, com o máximo respeito por aqueles que as apresentam, sem o sentimento de que estão fazendo concessões ou sendo compassivos com os diferentes. (...)” (Antunes) 7 RESUMO Um dos principais objetivos do ensino de língua materna é ampliar as competências linguísticas e comunicativas dos discentes capacitando-os para o uso da língua em diferentes contextos. Partindo de um viés etnográfico, essa pesquisa toma como aporte contribuições da sociolinguística e tem por objeto de estudo a variação linguística e o preconceito linguístico em sala de aula. Tem por objetivo geral, por meio de um processo didático interventivo, propiciar aos alunos uma compreensão da existência de variedades linguísticas da língua considerada padrão. A partir desse objetivo propusemos uma intervenção numa sala de aula de 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual, localizada em Fortaleza-CE, cujo intuito foi esclarecer aos alunos que a língua portuguesa não se resume apenas a uma modalidade e, menos ainda, às regras da gramática prescritiva. O preconceito linguístico, a variação linguística e a noção de “erro” presentes em Bagno (1999, 2007 e 2013) e em Bortoni-Ricardo (2005) se constituem como contribuições teóricas dos estudos sociolinguísticos que ancoram nossa pesquisa. Buscamos responder à seguinte questão: como superar o preconceito linguístico em sala de aula? Entendemos que tal superação contribui para uma melhor convivência com esse fenômeno linguístico nas relações em sociedade. Para tanto propusemos atividades que abordaram o conceito de língua, a história da língua portuguesa, bem como a existência de variedades linguísticas. A metodologia seguiu os pressupostos da pesquisa-ação de Vasconcelos (2006), de cunho qualitativo utilizando-se da estratégia pedagógica da sequência didática, nos termos propostos por Dolz, Noverraz & Schneuwly (2004). Como resultado da pesquisa pudemos observar que a maioria dos alunos, nela envolvidos, ao final das etapas propostas pela sequência didática, passaram a melhor compreender os diferentes tipos e causas de variações linguísticas se constituindo tal entendimento como um fator necessário não apenas à compreensão, como também à superação do preconceito linguístico percebendo que diferentes contextos de uso permitem e até estimulam a materialização de diferentes variantes linguísticas. Palavras-chave: Sociolinguística. Variação linguística. Preconceito linguístico. 8 ABSTRACT One of the main objectives of mother tongue teaching is to increase the linguistic and communicative skills of students, enabling them to use the language in different contexts. Starting from an ethnographic bias, this research takes contributions from sociolinguistics and aims at linguistic variation and linguistic prejudice in the classroom. Its main purpose, through an interventional didactic process, is to provide students with an understanding of the existence of linguistic varieties of Portuguese in relation to its standardmodality. Aiming at that purpose, an intervention is proposed in a 9th grade classroom of a state public elementary school, located in Fortaleza - Ceará, in order to clarify to the students that the Portuguese language is not confined to a single modality, and even less, to the rules of the prescriptive grammar. The linguistic prejudice, the linguistic variation, and the notion of "error" presented in Bagno (1999, 2007 and 2013) and in Bortoni-Ricardo (2005) constitute theoretical contributions of the sociolinguistic studies that anchor our research. We seek to answer the question “how to overcome linguistic prejudice in the classroom?”. We understand that this overcoming contributes to an easier familiarity with this linguistic phenomenon when it emerges through social interactions. To do so, activities that approach the concept of language, the history of the Portuguese language, as well as the existence of linguistic varieties are proposed. This study has a qualitative nature and follows the assumptions of Vasconcelos's action research (2006), and the pedagogical strategy of the didactic sequence as proposed by Dolz, Noverraz & Schneuwly (2004). As a result, it could be observed that, after going through the stages proposed by the didactic sequence, most of the students came to better understand the different types and causes of linguistic variations, which is a necessary factor not only to comprehend, but also to overcome the linguistic prejudice, realizing that different contexts of use allow and even stimulate the production of different linguistic variants. Keywords: Sociolinguistics; Linguistic variation; Linguistic prejudice. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Figura 2 – Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Esquema de Sequência Didática........................................... Cartaz: “Aqi o preconseito nãu ten ves!”............................. Cartaz: “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito...”......................................................................... Cartaz: “Se nascemos da mistura, por que tanto preconceito: linguístico?”...................................................... Cartaz: “Vamos engolir o preconceito linguístico.”............ Cartaz: “Preconceito linguístico? Tô fora! Pego meus ‘erros’ e vô mimbora!”............................................................ 56 111 112 113 114 115 10 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Gráfico 2- Gráfico 3 - Gráfico 4 - Gráfico 5 - Gráfico 6 - Gráfico 7 - Gráfico 8 - Gráfico 9 - Gráfico 10 - Gráfico 11 - Gráfico 12 - Gráfico 13 - Gráfico 14 - Gráfico 15 - Gráfico 16 - Gráfico 17 – Gráfico 18 – Gráfico 19 – Gráfico 20 - Gráfico 21 - “Para você, o que é a língua portuguesa?”......................... “Você acha importante estudar a língua portuguesa? Por quê?”….................................................................................... “A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? O que vocês acham?”…………………………......... “O texto ‘Sñor’ é compreensível? Por quê?”....................... “O que se pode observar na escrita do texto ‘Sñor’?”...... “Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele?”................................................................ “Conversar pode conversar de qualquer jeito. Você concorda? Por quê?”.............................................................. “Segundo o ‘cumpadi’ visitante, ‘escrever tem que escrever certo’. O que você pensa sobre isso?”................. “Você fala do jeito dos ‘cumpadis’ do vídeo? Explique.”.. “Para você, a Língua Portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? Por quê?”.................................. “Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique.”............................................................... “Qual a possível escolaridade do falante?”........................ “Onde moraria, provavelmente, a pessoa que fala dessa maneira?”................................................................................ “Qual o provável poder aquisitivo desse falante?”............ “Que tipo de falante usaria a língua dessa forma?”.......... “Esse tipo de linguagem é mais adequado para...”........... “Variedades linguísticas: palavras da música x modo como os alunos falam.” ......................................................... “O que você aprendeu hoje?” .............................................. “A professora agiu corretamente?”..................................... “Chico Bento falou ‘certo’ ou ‘errado’? Por quê?”............. “O que você aprendeu hoje?”............................................... 62 64 67 70 73 76 78 80 82 85 87 89 90 91 93 95 98 101 104 106 109 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Quadro 2- Quadro 3- Quadro 4- Quadro 5- Quadro 6- Quadro 7- Quadro 8- Quadro 9- Quadro 10- Quadro 11- Quadro 12- Quadro 13- Quadro 14- Quadro 15- Quadro 16- Quadro 17- Quadro 18- Quadro 19- Quadro 20 – Organização do Módulo 1....................................................... Organização do Módulo 2....................................................... Organização do Módulo 3....................................................... “Para você, o que é a língua portuguesa?”......................... “Você acha importante estudar a língua portuguesa? Por quê?”........................................................................................ “A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? O que vocês acham?”............................................. “O texto ‘Sñor’ é compreensível? Por quê?”...................... “O que se pode observar na escrita do texto ‘Sñor’?”....... “Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele?”................................................................ “Conversar pode conversar de qualquer jeito. Você concorda? Por quê?”............................................................ “Segundo o ‘cumpadi’ visitante, ‘escrever tem que escrever certo’. O que você pensa sobre isso?”................. “Você fala do jeito dos ‘cumpadis’ do vídeo? Explique.”................................................................................. “Para você, a língua portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? Por quê?”................................... “Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique.”............................................................... “Qual a possível escolaridade do falante?”........................ “Onde moraria, provavelmente, a pessoa que fala dessa maneira?”................................................................................. “Qual o provável poder aquisitivo desse falante?”............ “Que tipo de falante usaria a língua dessa forma?”........... “Esse tipo de linguagem é mais adequado para................. Variedades linguísticas: palavras da música x modo como os alunos falam............................................................. 57 59 60 61 63 66 69 72 74 77 79 82 85 86 88 90 91 92 94 97 12 Quadro 21 – Quadro 22 – Quadro 23 - Quadro 24 - “O que você aprendeu hoje?”............................................... “A professora agiu corretamente?”..................................... “Chico Bento falou ‘certo’ ou ‘errado’? Por quê?”............ “O que você aprendeu hoje?”.............................................. 100 103 105 10713 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA Anexo A (AB, AC, An...) A1 Atividade 1 (A2, A3, An...) AP Aluno Participante HCS Heráclito de Castro e Silva M1 Módulo 1 (M2, M3, Mn...) PI Produção Inicial PF Produção Final SOC Slides Oficina de Cartazes SPL Slides Preconceito Linguístico SVL Slides Variação Linguística 14 SUMÁRIO 1 2 2.1 2.2 2.2.1 2.3 2.4 2.5 2.5.1 2.5.2 2.5.3 2.5.4 2.5.5 2.5.6 3 3.1 3.2 3.3 3.4 4 5 6 7 INTRODUÇÃO................................................................................ A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA......................................................... A SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL........................................ A HETEROGENEIDADE LINGUÍSTICA ........................................ Extralinguísticos da variação....................................................... O QUE É VARIEDADE LINGUÍSTICA? ........................................ VARIÁVEL, VARIANTE E VERNÁCULO........................................ PRECONCEITO LINGUÍSTICO...................................................... A noção de “ERRO” linguístico ................................................ Estigma x prestígio....................................................................... Mitos que fortalecem o preconceito linguístico........................ Desconstruindo o preconceito linguístico ................................ A concepção de ensino mudou? ................................................ Senso comum: ensino da língua “certa” na escola................... PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................... TIPO DE PESQUISA...................................................................... CENÁRIO DA PESQUISA.............................................................. PARTICIPANTES DA PESQUISA.................................................. CONSTRUÇÃO DOS DADOS...................................................... ANÁLISE DOS DADOS................................................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................... REFERÊNCIAS............................................................................. ANEXOS......................................................................................... ANEXO A - PRODUÇÃO INICIAL (PI) ......................................... ANEXO B - ATIVIDADE 1 – MÓDULO 1 (A1 – M1): ..................... ANEXO C - ATIVIDADE 2 – MÓDULO 1 (A2 – M1): ..................... ANEXO D - ATIVIDADE 3 – MÓDULO 1 (A3 – M1) ...................... ANEXO E - SLIDES VARIAÇÃO LINGUÍSTICA............................. ANEXO F - SLIDES PRECONCEITO LINGUÍSTICO..................... ANEXO G - SLIDES OFICINA DE CARTAZES.............................. 15 18 18 20 22 24 25 26 27 30 30 39 42 46 50 50 53 54 55 61 117 121 123 124 125 126 127 135 139 143 15 1 INTRODUÇÃO O ensino de língua materna deve partir do princípio da heterogeneidade linguística com o intuito de se ampliar as competências interacionais e comunicativas do alunado, levando em consideração as potencialidades e os conhecimentos dos educandos. É fundamental salientar questões da pesquisa no tocante à realidade educacional dos discentes, tais como: A realidade escolar perpassa o estudo da variação linguística, de acordo com os contextos de uso? Como tornar o estudo das variedades linguísticas mais adequado aos processos de letramento? Durante a atuação desta pesquisadora como docente de português de uma escola localizada na periferia do município de Fortaleza, percebemos a necessidade de adequar o estudo da língua materna à realidade dos alunos, isto é, propor ao alunado um ensino voltado para o uso da língua nos mais diversos contextos, visto que era perceptível, dentre os alunos, um conceito deturpado da língua materna, como podemos perceber, através dos seguintes comentários de alguns alunos envolvidos na pesquisa1: “a língua é uma matéria ensinada nas escolas.”; “(...) atraves do estudo da língua portuguesa podemos saber mais e fala certo sem erros na escrita ou ate mesmo em um dialogo.”; “(...) acho que devemos fala certo pra passa uma boa impressão”; “(...) um sertanejo fala de um jeito meio errado”. Dessa maneira, tornou-se fundamental avaliar se a nossa prática docente de língua portuguesa em sala de aula adequava-se à realidade dos discentes, delineando o perfil dos educandos e os métodos de ensino da língua materna. Essa análise é importante, partindo–se do princípio de que as vivências linguísticas dos discentes se relacionando à prática escolar podem influenciar no processo de ensino-aprendizagem do alunado, à medida que o modo de falar deles é valorizado, podendo associar-se às nuances das regras gramaticais, sem que haja detrimento das variedades linguísticas utilizadas pelos educandos. A pesquisa parte dos seguintes pressupostos: a) os discentes têm uma visão inadequada, em relação às variedades linguísticas; b) o estudo da variação linguística em consonância com a abordagem da variedade padrão será favorecido, a partir de atividades reflexivas sobre o conceito de língua materna, sobre a história 1 Os comentários dos discentes serão escritos, respeitando a forma como eles escreveram nas atividades propostas pela pesquisa. 16 da língua portuguesa, sobre variedades linguísticas e sobre os fatores extralinguísticos envolvidos no processo comunicativo. A partir desses pressupostos, foi elaborado o objetivo geral, bem como, os objetivos específicos dessa pesquisa. Assim, o objetivo geral é voltado para um estudo sobre o tratamento da variedade linguística em sala de aula, com o intuito de superar o preconceito linguístico. Assim, os objetivos específicos dessa pesquisa são: a) identificar se os alunos têm o conhecimento sobre o conceito de variante linguística; b) analisar se os discentes compreendem que com o passar do tempo, a Língua Portuguesa sofreu e sofre alterações; c) observar se os educandos classificam como “erro” as especificidades das variedades linguísticas; d) esclarecer como a hierarquia de valores se manifesta entre as variantes linguísticas; e) propiciar aos alunos compreender e, à medida do possível, superar em suas interações sociais o preconceito linguístico. O presente trabalho é fundamentado em discussões sobre os pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística variacionista e educacional, do ensino de língua materna, da variação linguística, do preconceito linguístico, da pesquisa com viés etnográfico e da pesquisa-ação. Essa pesquisa é desenvolvida, a partir da aplicação de atividades sequenciadas que abordarão a variação linguística em prol da superação do preconceito linguístico. O trabalho, além desse capítulo introdutório, encontra-se estruturado da seguinte maneira: no capítulo 2, apresentamos os pressupostos teóricos que embasam a pesquisa, notadamente as contribuições trazidas pelos estudos da sociolinguística, no tocante à variação linguística e ao preconceito linguístico; no capítulo 3, elucidamos os procedimentos metodológicos que dão suporte à pesquisa. O capítulo 4, por sua vez, dedica-se à análise dos dados obtidos a partir da intervenção realizada. O capítulo 5 é dedicado às considerações finais sobre o trabalho desenvolvido. Ao final apresenta as referências de obras e autores com os quais dialogamos durante a realização da pesquisa. Em seguida, os anexos estão constituídos pelos diversos materiais e atividades aplicados em diferentes fases do desenvolvimento da pesquisa. As atividades realizadas durante a pesquisa propiciaram um desenvolvimento nos conhecimentosdos discentes, no que se refere ao uso da língua materna. Este progresso ocorreu, à medida que os educandos, em sua maioria, compreenderam que a Língua Portuguesa é muito mais do que uma gramática de regras prescritivas, 17 ou seja, ela é essencial para a cultura e, consequentemente, para a identidade de um país. Desse modo, os alunos compreenderam que a Língua Portuguesa é heterogênea, possuindo, portanto, variados usos linguísticos que, antes da pesquisa, eles identificavam estas variações como sendo “erros”, mas após este estudo, eles passaram a compreender que as variedades linguísticas não são “erros” e que, devem ser respeitadas, visto que, cada uso da língua possui o seu sentido de existir em prol da função comunicativa, superando, logo, os ideais que envolvem o preconceito linguístico. 18 2 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA A língua, segundo Antunes (2007), faz parte de nós mesmos, ou seja, é a nossa identidade, é a nossa história, é o nosso lado social, visto que é, através dela, que interagimos. Essa interação ocorre, portanto, quando usamos a língua, com toda a sua heterogeneidade, de acordo com os contextos e com as situações. É esse fato de a língua sempre variar que faz com que ela seja heterogênea, variando em todas as possibilidades de usos linguísticos, fazendo com que a língua se reconstrua o tempo todo, se distanciando, cada vez mais, da homogeneidade linguística, como explica Bagno: (...) a variação e a mudança linguísticas é que são o ‘estado natural’ das línguas, o seu jeito próprio de ser. Se a língua é falada por seres humanos que vivem em sociedades, se esses seres humanos e essas sociedades são sempre, em qualquer lugar e em qualquer época, heterogêneos, diversificados, instáveis, sujeitos a conflitos e transformações, o estranho, o paradoxal, o impensável seria justamente que as línguas permanecessem estáveis e homogêneas! (BAGNO, 2007, p. 37) A variação linguística, logo, é uma realidade inevitável, ou seja, faz parte de todas as línguas, e não é viável considerá-la um problema, visto que não existem línguas perfeitas e nem homogêneas. Assim, a variação linguística é um processo “natural” que provém das interações sociais. Este capítulo discutirá sobre as seguintes temáticas: a sociolinguística variacionista e educacional; a heterogeneidade linguística; a variedade linguística; no conceito de variável, variante e vernáculo; e, o preconceito linguístico. 2.1 A SOCIOLINGUÍSTICA EDUCACIONAL A Sociolinguística, como uma ciência social, contribuiu e continua contribuindo, consideravelmente, para o âmbito educacional, visto que a partir dos anos 1970, toma a educação como sendo seu objeto de reflexão. Essa ciência parte de contribuições tanto na antropologia linguística quanto na dialetologia, ambas correntes amparadas na ação democratizadora da escola, conforme esclarece Bortoni-Ricardo: No início da segunda metade do século XX, a evolução do conceito de relativismo cultural, tanto no seio da antropologia cultural quanto da 19 linguística estruturalista, permitiu a emergência da sociolinguística. Essa nova disciplina apoiava-se em três premissas básicas: o relativismo cultural; a heterogeneidade linguística inerente e a relação dialética entre a forma e a função linguísticas. (Bortoni-Ricardo, 2005, p. 114) Dessa maneira, a primeira premissa rejeitava a ideia de que havia línguas e culturas subdesenvolvidas, apoiando, portanto, a igualdade social e a equivalência funcional entre as línguas. Enquanto que a premissa da heterogeneidade linguística primava pelo rompimento com os ideais saussurianos pautados na homogeneidade linguística, garantindo à variação linguística o seu espaço na língua. A terceira premissa, por sua vez, também rompeu com a tradição linguística, à medida que focalizava os seus estudos na função e no uso da língua, deixando em segundo plano a estrutura da língua. Focada nessas três premissas, a sociolinguística tem muito a contribuir no processo educacional. Todavia, para Bortoni-Ricardo (2005), essa contribuição precisa ser revista, a partir de determinados princípios voltados, em especial, para o ensino de língua materna. É nessa perspectiva que surge o conceito de “uma pedagogia culturalmente sensível” proposto por Frederick Erickson (apud Bortoni- Ricardo, 2005), baseado no princípio de que a pedagogia deve ter como objetivo a aprendizagem de padrões de participação social, bem como, modos de falar, além de rotinas existentes na cultura do alunado. Esse ajustamento, logo, facilita a transmissão do conhecimento nos processos interacionais, visto que a cognição dos discentes se associa aos processos sociais que lhes são familiares. Nesse sentido, reforça ainda Bortoni-Ricardo: [...] O que é preciso, de fato, é contribuir para o desenvolvimento de uma pedagogia sensível às diferenças sociolinguísticas e culturais dos alunos e isto requer uma mudança de postura da escola - de professores e alunos – e da sociedade em geral. Para tal mudança de postura, todavia, a descrição das regras variáveis é uma etapa preliminar e importante. (BORTONI- RICARDO, 2005, p.130) A busca da mudança de postura, portanto, requer o desenvolvimento de algumas ações provenientes da sociolinguística educacional. Essas ações, por sua vez, baseiam-se em seis princípios, segundo Bortoni-Ricardo (2005). Assim, o primeiro princípio considera que a influência da escola no processo de aquisição da língua deve ser analisada nos estilos formais e monitorada, visto que a escola não atua no repertório linguístico do falante, mas sim, na incorporação do estilo formal ao modo de falar dos discentes. Enquanto que o segundo princípio pauta-se na ideia de 20 que as regras variáveis que não são vistas, negativamente, pela sociedade, não são objetos de correção da escola. O terceiro princípio refere-se à inclusão da variação sociolinguística na matriz social, propiciando estratégias que facilitam o ajuste do aluno à cultura escolar e, consequentemente, à aprendizagem dos estilos monitorados da língua. Já o quarto princípio revela que os estilos formais da língua são reservados aos eventos de letramento ocorridos em sala de aula, partindo-se da dicotomia entre letramento e oralidade, ao invés de utilizar a dicotomia entre português culto e português ruim. Dessa forma, faz-se a distinção entre a língua utilizada com pessoas mais próximas e a língua utilizada para ler, escrever ou até falar, quando se fala do modo como se escreve. O quinto princípio, por sua vez, postula que a descrição da variação parte de uma análise minuciosa do significado dela no processo interacional. Por fim, o sexto princípio norteia-se pela conscientização crítica de professores e estudantes em relação à variação e à desigualdade social proporcionada por ela. Em suma, o que se espera da sociolinguística educacional é, justamente, o respeito às características do educando, em especial, no tocante às suas especificidades linguísticas e culturais, viabilizando, assim, o seu ingresso na cultura escolar, à medida que a escola reconhece e valoriza as competências comunicativas do alunado, ampliando-as no decorrer de sua formação escolar. 2.2 A HETEROGENEIDADE LINGUÍSTICA Os falantes, em especial, os letrados, acreditam que a língua possa ser homogênea e composta, apenas, por um conjunto de regras gramaticais. Entretanto, a língua não se resume a regras, ou seja, de acordo com Bagno (2007), é uma atividade social utilizada pelos seus falantes, com o propósito de interagir por meio da fala e da escrita, sendo construída e reconstruída cotidianamente, em variados contextos e situações. Assim, a língua não é um produto pronto nem acabado, pois está sempre em processo de transformação, a partir dos usos linguísticos. Esse processo de transformação é composto pelas variações e pelasmudanças que ocorrem numa língua, ao longo do tempo, propiciando a heterogeneidade, que é o estado “natural” de uma língua. Então, não se pode 21 considerar que essas variações sejam “distorções” linguísticas, pois fazem parte da construção de uma língua, visto que, estão presentes nas interações dos falantes. As interações sociais desenvolvidas, através de variações linguísticas, não ocorrem de qualquer jeito, ou seja, têm um sentido, alcançando um propósito comunicativo. Assim, essa heterogeneidade linguística é influenciada tanto por fatores linguísticos, quanto por fatores extralinguísticos. Um fator linguístico, por exemplo, conforme Bagno (2007) pode ser demonstrado através do vozeamento e do desvozeamento de fonemas, como nos seguintes vocábulos: “raspo” e “rasgo”. Esses vocábulos possuem, respectivamente, um som de [s] e um som de [z], representados pela letra S. A variação surge, porque o som de [s] da palavra “raspo” é desvozeado, visto que antecede o som de [p] que também é desvozeado; enquanto que o fonema S possui som de [z], vozeado, na palavra “rasgo”, porque antecede o /g/, que também é vozeado. Dessa mane ira, é a influência de um fonema sobre o outro que explicará a variação [s] ~ [z] condicionada linguisticamente. Um fator extralinguístico, por sua vez, ainda de acordo com Bagno (2007) pode ser demonstrado, através da pronúncia da letra S, nas palavras “raspo” e “rasgo”, apresentando ou não um chiado, isto é, há falantes que pronunciarão o fonema /s/ com chiado, representado pelo símbolo [∫]; enquanto, há outros falantes que pronunciarão o mesmo fonema sem o chiado. E é essa presença ou ausência de chiado que definirá de qual Estado brasileiro provêm esses falantes. Dessa forma, percebe-se que a variação ocorre devido à origem geográfica dos falantes, isto é, devido a um fator social, ou melhor, extralinguístico. Além disso, a heterogeneidade demonstra lógica, por exemplo, também na concordância nominal da língua portuguesa, quando se fala da seguinte maneira: a) Vou lavar aqueleS prato sujo. Essa maneira de falar é utilizada, constantemente, por falantes brasileiros, até mesmo, por falantes letrados, em situações de conversas espontâneas. Apesar de desobedecer à concordância nominal adequada, de acordo com a gramática, essa frase segue uma lógica que é a de pluralizar somente o primeiro item do sintagma, visto que não existem falas como os exemplos a seguir: b) Vou lavar aquele pratoS sujo. c) Vou lavar aquele prato sujoS. 22 Assim, é notável concluir que a heterogeneidade linguística é organizada, possui lógica e é coerente. Essa logicidade, bem como essa coerência advém do fato de a língua existir em sociedade, segundo esclarece Antunes (2007, p. 104): “(...) a língua só existe em sociedade, e toda sociedade é inevitavelmente heterogênea, múltipla, variável e, por conseguinte, com usos diversificados da própria língua.” E o mais importante é que essa heterogeneidade alcança o propósito comunicativo, propiciando a interação dos falantes de uma comunidade, ocorrendo naturalmente, visto que quem está no comando são pessoas: pessoas heterogêneas. Diante dessa realidade, em consonância com Antunes (2007), Dinah Callou (2014, p. 27) ressaltou:“ [...]. É utopia, contudo, pensar que o ensino de língua portuguesa se dará em contexto de homogeneidade e que se poderá chegar algum dia a uma globalização linguística, mesmo que em uma sociedade globalizada.” Assim fica claro que, a heterogeneidade é uma realidade que deve ser respeitada em toda a sua amplitude, visto que a homogeneidade linguística não passa de um objetivo inalcançável. 2.2.1 Fatores extralinguísticos da variação A variação linguística, segundo Bagno (2007), proporciona ao falante se adequar às diferentes situações de fala. E, geralmente, esse fenômeno é influenciado, principalmente, pelos seguintes fatores sociais: a evolução histórica da língua, a origem geográfica do falante, a classe social dos falantes, os meios de expressão da língua e a fala diferenciada de cada indivíduo. De acordo com cada fator social que influencia a variação linguística, ela pode ser denominada, respectivamente, de variação diacrônica, variação diatópica, variação diastrática, variação diamésica e variação diafásica. A variação diacrônica recebe esse nome por ser influenciada pelo desenvolvimento histórico da língua, visto que KRÓNOS significa “tempo” e DIÁ significa “através de”. Esse tipo de variação está presente em todas as línguas, pois as mudanças linguísticas ocorridas no decorrer do tempo constroem a história da língua. Esta história é perceptível, na medida em que os termos ou as expressões se modificam de acordo com os usos das gerações, como por exemplo, os termos “estar de bonde” e “ficar”, ambos têm o significado de estar se relacionando com alguém do sexo oposto, entretanto, apesar de possuírem o mesmo sentido, fizeram 23 parte das interações sociais em épocas diferentes. Em virtude dessas transformações históricas, a língua não pode ser considerada estática, mas sim, dinâmica, como ressaltam Ilari e Basso: [...] pensar na língua não como uma forma que foi estabelecida em caráter definitivo em algum momento do passado, quem sabe por decisão de uma assembleia de sábios, mas sim como uma realidade dinâmica, que está por natureza em constante mudança. (ILARI; BASSO, 2011, p. 153) A variação diatópica, por sua vez, se refere às variações que ocorrem devido à origem dos falantes, devido ao lugar em que eles moram. Assim, o termo “diatópico” significa “através de” e “lugar”, a partir dos termos DIÁ e TOPOS, respectivamente. Esse tipo de variação, portanto, é notável, a partir de diferenças que acontecem numa mesma língua, quando falada em diferentes espaços geográficos. No caso do Brasil, por exemplo, essas diferenças linguísticas não impedem o entendimento da língua portuguesa em variadas regiões do país, ou seja, a língua é compreendida, e não é difícil identificar a procedência geográfica dos falantes, de acordo com o modo como falam. Já a variação diastrática se refere ao fato de os falantes utilizarem a língua portuguesa, de acordo com a classe social à qual pertencem. Assim, a etimologia da palavra “diastrática” refere-se aos estratos sociais. O termo DIA tem o sentido de “através de”, enquanto que o termo STRATUM, proveniente do latim, significa “camada”, “estrato”, se relacionando, portanto, às classes sociais. Pode-se exemplificar esse tipo de variação através dos usos linguísticos quando se fala “figo”, ao invés de “fígado”; quando eles falam “mais mió”, ao invés de “melhor”; quando os usuários falam “as roupa mais bonita”, ao invés de “as roupas mais bonitas”; dentre outros exemplos. A variação diamésica, por sua vez, está voltada para as diferenças entre a língua falada e a língua escrita, diferenças estas que surgem devido ao fato de os falantes utilizarem mais a fala do que a escrita, e tendem a escrever, por conseguinte, do mesmo modo que falam. Dessa maneira, a palavra “diamésica” é composta pelos termos DIA, que significa “através de”; bem como pelo termo MÉSOS, que tem o sentido de “meio”, ou seja, de “meio de comunicação”. Entretanto, a sociedade exige que o texto escrito siga as regras normativas, assim sendo, não é viável escrever nos moldes da fala. Além disso, o texto escrito é planejado, é organizado, antes de ser exposto, como também fala por si; diferentemente da fala que ocorre de maneira espontânea no momento em que está 24 sendo produzida, além de poder tirar proveito das situações, através do tom de voz e do jeito de falar, por exemplo. Esse tipo de variação pode ser demonstrado nos seguintes exemplos: na fala, as pessoas dizem “né”, “ôceis”, “disséro”; na escrita, por sua vez, essas palavras devem ser escritas, respectivamente, “não é”, “vocês”, “disseram”.Ainda sobre os tipos de variação, há a variação diafásica, também conhecida como variação estilística, baseia-se nos vários modos de falar de cada indivíduo, ocorrendo nas interações, de acordo com cada situação vivida pelo falante, podendo ter maior ou menor grau de formalidade. Desse modo, a palavra “diafásica” é constituída pelos termos: DIA, que significa “através de”; e PHASIS, proveniente do grego, que possui o sentido de “fala”. Assim, cada situação exigirá do falante determinado comportamento verbal, tanto na fala, quanto na escrita. Diante disso, conclui-se que todas as pessoas variam a sua maneira de falar, monitorando seu comportamento verbal e adequando-o aos mais variados contextos. 2.3 O QUE É VARIEDADE LINGUÍSTICA? O conceito de variedade linguística, segundo Bagno (2007), se refere a um dos muitos “modos de falar” uma língua. Estes “modos de falar” se correlacionam com a idade, o sexo, a classe social, o lugar de origem dos falantes, dentre outros fatores sociais. Então, toda língua comporta um leque de variedades, sendo que cada variedade tem suas próprias características. Assim, por exemplo, nem todos os brasileiros falam o “s chiado”; há pessoas que usam o pronome “tu”, outras usam o pronome “você”. É importante frisar que toda variedade linguística tem sentido, é funcional e possui os recursos necessários para a efetivação das interações sociais, portanto todas são relevantes para a comunidade de falantes, não existindo variedades mais “certas” do que outras, visto que todas possuem uma lógica de funcionamento, todas obedecem a regras gramaticais, sendo, portanto, descritas e explicáveis, de acordo com Bagno (2007). As variedades linguísticas, assim como a variação linguística, também são classificadas por tipos e recebem nomes, tais como: dialeto, socioleto, cronoleto e idioleto. Nessas palavras, tem-se o elemento –LETO que advém do grego LÉKSIS 25 que significa “palavra, ação de falar”, de onde também advém o termo “léxico”, conforme Bagno (2007). Dialeto é um termo que se refere ao modo característico de uso da língua em um determinado lugar, estudado pela disciplina denominada de Dialetologia que, a princípio, descrevia os falares rurais e isolados, por serem considerados “puros” e “autênticos”, sem possuírem influências da vida urbana. O termo socioleto, por sua vez, baseia-se na variedade linguística utilizada por um grupo de falantes que compartilham as mesmas características socioculturais, enquanto o cronoleto, como o próprio nome já diz, tem a ver com o tempo, a partir da palavra grega “kronos”, designando a variedade linguística de determinada faixa etária, de uma geração de falantes. Já o idioleto é mais voltado para a individualidade, isto é, o modo de falar característico de cada indivíduo, suas preferências vocabulares, seu modo próprio de pronunciar as palavras. 2.4 VARIÁVEL, VARIANTE E VERNÁCULO A variável de uma língua é um elemento ou regra que pode se realizar de várias maneiras, de acordo com a variedade corrente. Sendo que cada uma dessas maneiras denomina-se de variante. Logo, variante pode ser definida, de acordo com Bagno (2007, p. 50), como “cada uma das formas diferentes de se dizer a mesma coisa” , como por exemplo, o caso do verbo “assistir”, que apresenta duas variantes, levando-se em conta a variável de sua transitividade, sendo utilizado como transitivo direto (“Eu assisti o filme”) ou como transitivo indireto (“Eu assisti ao filme”). O estado real de uma língua pode ser identificado ao estudar as regras variáveis linguísticas, o que está sendo utilizado para garantir as interações sociais, conforme Bagno explicita: O estudo das regras variáveis [...] permite que a gente conheça o estado atual, real da língua, como ela é de fato usada pelos falantes, por meio da frequência de uso da variante X e da variante Y. Descobrir quais elementos da língua se encontram em variação tem grande importância também para o entendimento dos fenômenos da mudança linguística, [...]. (BAGNO, 2007, p.51) O significado do termo vernáculo, por sua vez, segundo o linguista William Labov (2008 [1972], p.244, apud Bagno, 2007, p.51), é o estilo em que se presta o 26 mínimo de atenção ao monitoramento da fala. Assim, ressalta Bagno (2007, p. 51): “O vernáculo parece ser, portanto, a fonte mais segura para a investigação dos fenômenos de mudança linguística que afetam determinada língua num dado momento histórico [...]”. Dessa maneira, vernáculo é a variedade linguística característica de um grupo social, representando a fala menos monitorada e mais espontânea de uma comunidade, logo, com menos formalidade e mais emoção. Portanto, é através do vernáculo que se compreende as regras gramaticais mais empregadas pelas pessoas, bem como as regras que estão caindo em desuso. Apesar da variação linguística ser uma realidade da língua portuguesa, a sociedade brasileira sempre buscou um ideal, isto é, sempre buscou uma língua homogênea, uma língua única. Desse modo, essa sociedade não progrediu em relação ao respeito à pluralidade e às diferenças linguísticas, ocasionando o surgimento de um fenômeno excludente, denominado de preconceito linguístico. 2.5 PRECONCEITO LINGUÍSTICO A realidade linguística do Brasil, segundo Bagno (2011), pode ser analisada, através de três ângulos, tais como: a língua considerada “correta”, prescrita e descrita pela gramática prescritiva, não sendo, portanto, nenhuma variedade falada autêntica; o grupo das variedades linguísticas utilizadas pelos falantes de maior poder aquisitivo, de maior nível de escolarização e de maior prestígio sociocultural; e o grupo das variedades linguísticas estigmatizadas, utilizadas pela maioria dos falantes, oriundos da zona rural ou das zonas periféricas das cidades e com menor acesso à escolarização. Diante desse terceiro ângulo da realidade linguística brasileira, ou seja, do uso das variedades linguísticas estigmatizadas, é que se propaga o fenômeno conhecido pelo nome de preconceito linguístico que surgiu, a partir das incongruências existentes entre língua e gramática prescritiva. Assim, é importante compreender, adequadamente, essas incongruências, estudando como ocorre o preconceito linguístico, através de uma análise sobre a noção de “erro” na língua, sobre a estigmatização linguística e sobre os mitos preconceituosos existentes na língua. 27 2.5.1 A noção de “ERRO” linguístico A noção de “erro” linguístico, segundo Bagno (2007), está envolto de fenômenos sociais e culturais que propagam que a língua é repleta de “erros”. Entretanto, esta colocação é inadequada, visto que a língua possui, na realidade, variações linguísticas, organizadas sintaticamente, permitindo a interação social, como esclarece esse autor: [...] não existe erro na língua. Se a língua é entendida como um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana, toda e qualquer manifestação linguística cumpre essa função plenamente [...]. (BAGNO, 2007, p.61) Tudo que é considerado “certo” ou “errado”, na sociedade, é criação dos seres humanos, mais precisamente, é resultado das visões de mundo, de juízos de valor, de crenças culturais e de ideologias humanas. No tocante à língua, especificamente, o erro surgiu no mundo ocidental, a partir da língua grega, na cidade de Alexandria. Essa região, durante muito tempo, foi um centro importante para a cultura e que valorizava o que era erudito, transformando-se, então, na sede da Filosofia, como esclarece Bagno (2007, p.63): “[...] sede de escolas filosóficas e de uma famosa biblioteca, que abrigava o maior patrimônio intelectual e literário da Antiguidade [...]”. Diante dessa realidade, a língua grega tornou-se o idioma internacional no grande império grego, surgindo, assim, a necessidadede padronizar essa língua, sem se atentar para as diferenças regionais e sociais, transformando-a num instrumento unificado e homogêneo, baseado num padrão de correção. Essa atitude partiu dos “amantes da palavra”, denominados de filólogos, que trabalhavam na biblioteca de Alexandria, sendo, portanto, considerados sábios. Nesse âmbito, mais precisamente no século III a.C., foi elaborada a Gramática Tradicional que constituía um conjunto de normas para a língua e para a linguagem, mesclando intuições filosóficas e preconceitos sociais que, até os dias atuais, ainda perduram na sociedade. Nessa perspectiva, pode-se considerar que a Gramática Tradicional definiu os rumos dos estudos da língua, por mais de dois mil anos. 28 Rumos esses que podem ser resumidos nos seguintes princípios gramaticais: supervalorização da língua escrita em detrimento da língua falada; desprezo para com as variedades linguísticas não-urbanas e não-letradas; criação de um modelo idealizado de língua, baseada na literatura consagrada, diferentemente da fala real contemporânea. Então, foi a partir desses rumos linguísticos, estabelecidos pela Gramática Tradicional, que surgiu a noção de “erro” na língua. Dessa forma, segundo Bagno (2007), pode consistir “erro” linguístico todo uso da língua que foge do modelo idealizado, estabelecido pela linguagem literária consagrada; toda sintaxe, todo vocabulário e toda pronúncia que determinem a origem social desprestigiada dos falantes; todo uso linguístico que não faz parte das classes sociais letradas. Destarte, o modo de falar da maioria das pessoas sofre exclusão e, por isso, é considerado um “erro”. Assim, mesmo contestada por estudos linguísticos iniciados no século XIX, a Gramática Tradicional ainda possui uma base fortalecida até os dias de hoje, como ressalta Bagno: Os preceitos e preconceitos da Gramática Tradicional só começaram a ser questionados a partir do século XIX, com o surgimento das primeiras investigações linguísticas de caráter propriamente científico. Embora contestada pela ciência moderna, aquela visão arcaica e preconceituosa de língua e de linguagem penetrou no senso comum ocidental e ali permanece firme e forte até hoje. (BAGNO, 2007, p.69) Nesse contexto, é válido analisar a noção de “erro”, visto que o “erro de português”, de uma maneira geral, resume-se em desvio da ortografia oficial. Embora também existam inadequações gramaticais no que se refere à regência e à concordância nominal e verbal trata-se de fenômenos que constituem formas de variação linguística. É bom frisar que a ortografia oficial advém de um decreto elaborado politicamente, através de negociações de ordens geopolíticas, econômicas e ideológicas. Dessa maneira, ao falar sua língua materna, o falante consegue interagir, estabelecer a comunicação e sem cometer erros, como ressalta Bagno: Todo falante nativo de uma língua é um falante plenamente competente dessa língua, capaz de discernir a gramaticalidade ou agramaticalidade de um enunciado [...] (BAGNO, 2011, p.149) 29 Essa agramaticalidade dificilmente é cometida por falantes nativos de uma língua, visto que desrespeita as regras de funcionamento de uma língua, no caso desse estudo, a língua portuguesa. Somente quando ocorrem enunciados agramaticais, é que se pode dizer que há “erros de português”. Esses enunciados agramaticais podem ser exemplificados a partir das seguintes orações: “Eu nos vimos amanhã no trabalho.” / “Esse menina não gosta de mim.” Percebe-se, através desses exemplos, que esses erros não são cometidos no dia a dia pelos falantes, durante as interações, portanto, erros agramaticais são, praticamente, extintos da nossa língua, pois não ocorrem na fala espontânea e natural dos falantes. Quando se fala em “erro de português”, todavia, na nossa sociedade, refere- se aos erros de ortografia oficial da língua portuguesa e não de erros agramaticais, causando, então, certa confusão entre os termos português e ortografia oficial. Destarte, os “erros de português” ocorrem na língua escrita, através da tentativa dos falantes de escrever de acordo com o modo como se fala, assim, seria viável, segundo Bagno (2011), substituir o termo “erro de português” pelo termo “tentativa de acerto”, por ser a escrita uma análise da língua falada. Talvez, por isso, há constantes “erros” de ortografia, visto que a escrita provém da fala e do perfil sociolinguístico dos falantes. A língua falada, por sua vez, recebe o rótulo de “erro” quando ocorre alguma manifestação linguística, seja fonética, morfológica ou sintática, diferente das regras prescritas pela gramática normativa. Isso ocorre porque os falantes nativos adquirem, ao longo da vida, conhecimentos implícitos adequados sobre a língua materna, até mesmo sem estudarem gramática na escola, visto que essa aquisição acontece de forma natural e espontânea, através das interações sociais. Apesar da busca pela eliminação da noção inadequada de erro, isso não quer dizer que tudo vale na língua, ou seja, o uso da língua dependerá do contexto no qual será utilizada pelos falantes. Como reforça Bagno (2011, p. 155): “o uso da língua dependerá de quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito”. 30 2.5.2 Estigma x prestígio As relações sociais fazem com que as variantes linguísticas sejam denominadas como variantes de estigma ou variantes de prestígio, de acordo com os falantes que as utilizam. Todavia, essa classificação de estigma e de prestígio não é propriamente linguística, mas sim, juízos de valor lançados sobre os falantes que empregam essa ou aquela forma linguística, segundo Bagno (2007). Dessa maneira, os valores das variantes linguísticas são atribuídos socialmente, de acordo com o patamar ao qual pertence cada falante, mais precisamente, quanto maior for a escala socioeconômica e o grau de escolarização dos falantes, maior será o prestígio das variantes linguísticas usadas por eles. Assim, quando os falantes fizerem parte de uma classe social menos favorecida, bem como tiverem um menor grau de escolarização e ainda viverem na zona rural, eles terão suas variantes linguísticas mais estigmatizadas pela sociedade. Isso ocorre devido ao fato do prestígio associado ao português padrão ser uma herança colonial consolidada, conforme afirma Bortoni-Ricardo (2005). Entretanto, essa herança precisa ser questionada e até desmistificada, demonstrando os seus efeitos destrutivos em prol da perpetuação das desigualdades sociais. Nesse contexto, é notável perceber que o estigma e o prestígio, no tocante ao uso das variantes linguísticas, provêm da própria sociedade, ou seja, não é um problema linguístico, tendo em vista que, para os linguistas, as variantes são apenas diferenças, enquanto que para a sociedade, elas podem denotar “erro”, “ignorância” ou “defeito” da língua. Além disso, para a sociedade, o que está em jogo não é propriamente a língua, mas sim, a pessoa que está utilizando-a, isto é, se o falante tem ou não boa renda, se o falante tem ou não escolaridade ou se o falante vive na zona rural ou na zona urbana. 2.5.3 Mitos que fortalecem o preconceito linguístico O preconceito linguístico é muito comum no Brasil, tendo em vista que é alimentado pela mídia, por livros e por manuais tradicionais, como as gramáticas escolares produzidas, segundo o padrão Greco-latino, que buscam ensinar o que é 31 “certo” e o que é “errado” na língua portuguesa. Na maioria das vezes, esse tipo de preconceito não é perceptível, porque as pessoas, de uma forma geral, nem percebem que são preconceituosas linguisticamente. Para Bagno (2011), é necessário que o país estabeleça uma política linguística racional e transparente, visto que quando inexiste uma política linguística oficial, é fato que haja uma linguística retrógradano âmbito nacional. Ele esclarece que: O espaço social deixado vago pela inexistência de uma política linguística oficial, de âmbito nacional, acaba sendo ocupado, infelizmente, por uma linguística difusa, confusa e retrógrada, justamente aquela praticada de modo repressor, persecutório e cientificamente desinformado pelas diversas instâncias da sociedade que de um modo ou de outro se interessam pela questão da(s) língua(s): a pedagogia tradicional, as editoras de revistas e livros, as Academias de Letras, os meios de comunicação de massa, poderes executivos e/ou legislativos estaduais e municipais etc. (BAGNO, 2011, p. 25) É bem verdade que o preconceito linguístico reflete uma sociedade influenciada por dogmas linguísticos estabelecidos pelas camadas mais abastadas socialmente. Diante disso, o linguista Bagno examinou alguns mitos criados sobre a língua portuguesa que reforçam a existência do preconceito linguístico no Brasil. Assim, o mito de nº 1 existente na sociedade brasileira, de acordo com Bagno (2011), é de que o português do Brasil apresenta uma unidade surpreendente. Esse mito está enraizado na cultura do Brasil. Intelectuais, filólogos e gramáticos acreditam nessa ideia da unidade linguística brasileira. A educação do nosso país acaba sendo influenciada, portanto, por esse mito, fazendo com que os estudantes, em sua maioria, não tenham acesso à verdadeira diversidade do português falado no Brasil. Diversidade esta composta por línguas indígenas, línguas trazidas por imigrantes europeus e asiáticos, bem como línguas surgidas nas regiões fronteiriças existentes com os países vizinhos, além das línguas africanas trazidas na época do regime escravista. Logo, o multilinguismo brasileiro fica submetido à norma linguística imposta nas escolas, como sendo a língua comum entre todos os brasileiros. Segundo estudos da linguística moderna, não existe língua homogênea, como reforça Bagno: [...] O monolinguismo é uma ficção. Toda e qualquer língua humana viva é, intrinsecamente e inevitavelmente, heterogênea, ou seja, apresenta 32 variação em todos os seus níveis estruturais (fonologia, morfologia, sintaxe, léxico etc.) e em todos os seus níveis de uso social (variação regional, social, etária, estilística etc.). (BAGNO, 2011, p. 28) Apesar dos esforços dos linguistas, todavia, o mito da unidade linguística no Brasil ainda é muito difundido. Diante dessa realidade, pode-se dizer que existem brasileiros que não têm acesso a essa “língua homogênea”, ensinada nas escolas e difundida nas instituições oficiais. Essa parcela da sociedade é constituída pelos falantes que utilizam as variedades linguísticas estigmatizadas e não validadas pela sociedade. Muitas vezes, esses falantes estigmatizados, por não compreenderem a dita “língua culta”, isto é, a língua utilizada pelos órgãos públicos, eles acabam não usufruindo dos serviços, aos quais teriam direito. Diante dessa realidade, é viável perceber que a escola precisa abandonar esse mito da “unidade linguística”, como afirma Bagno: É preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da ‘unidade’ do português brasileiro e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades sem prestígio social. (BAGNO, 2011, p.32) Dessa maneira, é importante que o ensino em sala de aula priorize a existência das variedades linguísticas, com o objetivo de se ampliar e valorizar a competência comunicativa dos educandos, competência esta entendida por Chomsky (apud Bortoni-Ricardo) como consistente: [...] no conhecimento que o falante tem de um conjunto de regras que lhe permite produzir e compreender um número infinito de sentenças, reconhecendo aquelas que são bem formadas, de acordo com o sistema de regras da língua. (BORTONI-RICARDO, 2004, p.71) É importante frisar que todas as sentenças da língua portuguesa, produzidas pelos falantes, são bem formadas: tanto as sentenças consideradas da língua padrão como as sentenças de outras variedades. Portanto, as escolas não devem se distanciar da língua utilizada pelos alunos, em seus contextos interacionais do cotidiano, facilitando, assim, o processo de ensino e aprendizagem dos discentes. Isso não quer dizer que se deve, simplesmente, “aceitar” a variedade estigmatizada dos estudantes, mas sim, reconhecer a realidade linguística dos alunos, para, então, ampliar o repertório linguístico dos aprendizes, bem como fazê- 33 los adequar as sentenças linguísticas às variadas situações de interação social. Enfim, a tarefa da escola, segundo Bortoni-Ricardo (2004), é, justamente, possibilitar que o estudante desenvolva a sua competência comunicativa, passando a usar, com segurança, os recursos comunicativos adequados aos contextos sociais. Nesse contexto, a função da escola, no que tange ao ensinamento da língua materna, conforme Bagno (2011, p.33), seria: “[...], levar a pessoa a conhecer e dominar coisas que ela não sabe e, no caso específico da língua, conhecer e dominar, [...], a leitura e a escrita e, [...], outras formas de falar e de escrever, outras variedades de língua [...].” É óbvio que, dentre estas variedades, inclui-se também a variedade considerada culta, com o intuito de ampliar a inclusão social, pois esta variedade é exigida socialmente, sendo considerada, pois, um fator de inclusão social. Portanto, vale salientar que se deve tratar a heterogeneidade linguística como uma realidade na sociedade e não como um “mal social”. É nesse contexto que os Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecem a importância da diversidade linguística. Esse importante documento, publicado em 1998, reconhece que a variação faz parte das línguas humanas, independentemente de qualquer ação normativa, ou seja, os usos da língua não devem ficar subjacentes às prescrições normativas da gramática escolar. Por conta dessa busca incansável pela unidade linguística, a sociedade acaba gerando outros mitos em relação à língua portuguesa, como por exemplo, o mito de nº 2: “brasileiro não sabe português”, “só em Portugal se fala bem Português”. Essas opiniões são propagadas, na maioria das vezes, por estudiosos da gramática que afirmam que as regiões brasileiras possuem vícios de linguagem e que o português falado no Brasil é uma língua de “matutos”. É importante frisar, no entanto, que o brasileiro sabe falar português, interagindo o tempo todo, porém é um português falado diferentemente do português de Portugal, visto que o português brasileiro já é uma gramática própria de funcionamento, mas recebe o nome de “língua portuguesa”, pelo fato do Brasil ter sido colônia de Portugal. Logo, vale salientar que o português europeu é bem diverso do português brasileiro, tanto no modo de falar, quanto no vocabulário e na sintaxe. Apesar de a escrita ainda apresentar semelhanças, visto que a ortografia é praticamente a mesma entre essas duas línguas. 34 A questão, portanto, do português brasileiro ser considerado inferior ao português de Portugal é propagada pela mídia, como o que foi publicado na Folha de S. Paulo (4 jan. 2000), em Bagno (2011, p.43), ressaltando que o português brasileiro é ilógico: “Basta pensar que a língua brasileira é outra. Uma pequena mostra de erros de redação coletados na imprensa revela que o português aqui transformou-se num vernáculo sem lógica nem regras.” Como afirmar que o português brasileiro, uma língua viva e interativa, é uma língua ilógica, quando na verdade, não há vernáculo ilógico e nem sem regras, pois todos são passíveis de realizarem atos comunicativos coerentes. Outrossim, o foco central do mito em questão é apresentar a ideia de que todos os portugueses falam da mesma maneira,como se não existisse variação no português de Portugal. No entanto, Bagno explica que o português europeu não é homogêneo: [...] O português europeu, obviamente, não é nem nunca foi uma língua homogênea e uniforme: apresenta dialetos regionais bem distintos uns dos outros, além de exibir variação social [...]. Afirmar que “os portugueses” falam melhor do que nós, é imaginar uma sociedade portuguesa uniforme, indiferenciada, sem conflitos sociais. É muita ingenuidade! (BAGNO, 2011, p. 46) Então, como não existe língua uniforme, é complicado acreditar que os portugueses falam e escrevem “tudo certo” e que obedecem fielmente às regras gramaticais ensinadas nas escolas. Mesmo assim, é exatamente isso que é pregado pelos brasileiros, de uma maneira geral. Todavia, apesar dessa crença, vale salientar que o brasileiro sabe sim falar português e que o português europeu não é melhor e nem pior do que o português do Brasil, isto é, ambos possuem suas especificidades e suas variações para atenderem às necessidades linguísticas das comunidades que os usam. Apesar de os brasileiros saberem falar português, ainda há o mito de nº 3 sendo propagado no Brasil: “português é muito difícil”. Esse mito existe de acordo com o que é ensinado nas escolas, ou seja, as regras gramaticais aprendidas no ambiente escolar não refletem a língua utilizada no cotidiano dos falantes. Nesse caso, é realmente difícil decorar várias regras que acabam sem sentido para a ocorrência das interações sociais. Assim, Bagno (2011, p. 52) ressalta: “se tanta gente continua a repetir que ‘português é difícil’ é porque o ensino tradicional da língua no Brasil não leva em conta o uso brasileiro do português”. 35 Vale salientar que a expressão “português difícil” define-se como um conjunto prescritivo de normas constituindo-se, portanto, uma abordagem puramente metalinguística do idioma português, ou melhor, do “português brasileiro”. Essa abordagem persiste nas escolas, por não serem valorizados os antecedentes culturais e linguísticos dos discentes, favorecendo o surgimento das dificuldades ao se estudar a língua padrão, conforme ressalta Bortoni-Ricardo: No caso brasileiro, o ensino da língua culta à grande parcela da população que tem como língua materna – do lar e da vizinhança – variedades populares da língua tem pelo menos duas consequências desastrosas: não são respeitados os antecedentes culturais e linguísticos do educando, o que contribui para desenvolver nele um sentimento de insegurança, nem lhe é ensinada de forma eficiente a língua padrão. (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 15) É diante dessa realidade do ensino tradicional de gramática, que muitos discentes concluem o Ensino Médio, acreditando que não sabem português, e que nem sabem escrever. Isso ocorre porque a escola não procura desenvolver as habilidades de expressão oral e de escrita dos alunos, de modo a tornar as aulas de língua materna bem mais interessantes e envolvidas com a realidade dos estudantes. Ao invés disso, os docentes preferem ensinar uma infinidade de regras gramaticais, bem como nomenclaturas incoerentes. No entanto, Bortoni-Ricardo (2005) afirma que é primordial que a escola não ignore as diferenças sociolinguísticas, logo, o alunado, bem como os educadores precisam se conscientizar de que existem duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa, embora essas formas alternativas tenham propósitos comunicativos diferentes, sendo, portanto, recebidas de maneira diferenciada pela sociedade. Todavia, mesmo diante de suas peculiaridades linguísticas, os discentes precisam compreender as variedades prestigiadas socialmente, para não ficarem alheios às oportunidades oferecidas pela sociedade. Além desses mitos, ainda há o mito de nº 4 pregado no Brasil, que é o seguinte: “As pessoas sem instrução falam tudo errado”. Então, toda manifestação da língua materna, que fuja das regras gramaticais ensinadas nas escolas, é considerada errônea, principalmente quando é utilizada por falantes de classes menos abastadas e que não têm acesso à língua formal. A partir desse princípio, nota-se que não há apenas preconceito linguístico, mas há, também, o preconceito denominado de social, visto que, quando se fala, por 36 exemplo, vrido, tauba, Cráudia, é considerado “errado”. Esse linguajar, geralmente, pertence às camadas sociais desprestigiadas, principalmente porque esses falantes não tiveram acesso à escola nem tampouco aos bens culturais de elite. Portanto, é óbvio que isso vai além de um problema linguístico, ou seja, é um problema tanto político, quanto social, também. Além disso, é importante frisar que esse linguajar considerado “feio” é apenas diferente da língua ensinada nas escolas. Ainda referente à mitologia do preconceito linguístico, há o mito de nº 5 que é sobre o português falado no Estado do Maranhão, que é julgado como o melhor do Brasil. Isso se deve ao fato de a maioria dos maranhenses utilizarem o pronome pessoal tu conjugado adequadamente, como por exemplo, eles falam: tu vais, tu queres, tu comias. Enquanto que, na maior parte do Brasil, o pronome tu foi substituído pelo pronome você. Isso é esclarecido por Bagno: Ora, somente por esse arcaísmo, por essa conservação de um único aspecto da linguagem clássica literária, que coincide com a língua falada em Portugal ainda hoje, é que se perpetua o mito de que o Maranhão é o lugar ‘onde melhor se fala o português’ no Brasil. (BAGNO, 2011, p.63) Cabe pontuar, entretanto, que não existe nenhuma variedade linguística “melhor” do que outra, visto que todas concebem o ato comunicativo e, consequentemente, proporcionam as interações sociais. Além disso, cada variedade linguística possui sua história e suas especificidades, pronta para se adequar às transformações exigidas pelos falantes, em favor do propósito comunicativo. Diante disso, Bagno ressalta a importância de se abandonar o mito de que há variedade linguística “melhor” ou “pior” que outra: É preciso abandonar essa ânsia de tentar atribuir a um único local ou a uma única comunidade de falantes o “melhor” ou o “pior” português e passar a respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura. Todas elas têm o seu valor, são veículos plenos e perfeitos de comunicação e de relação entre as pessoas que as falam. [...] (BAGNO, 2011, p.67-68) O mito de nº 6 é sobre o preconceito linguístico, por sua vez, se refere ao seguinte: “o certo é falar assim porque se escreve assim”. Esse mito se relaciona ao fato de se exigir que as pessoas pronunciem as palavras do mesmo modo como elas são escritas, ampliando a valorização da escrita. Isso ocorre, geralmente, nas 37 escolas, quando os professores corrigem as falas dos alunos, ao pronunciarem, por exemplo: bêju, mininu, bisôro. É relevante ensinar a ortografia oficial, como afirma Bagno (2011), no entanto não se deve exigir uma fala “artificial”, condenando as pronúncias que provêm da história social e cultural dos falantes. Então, seria mais adequado ensinar ao aluno que existe uma ortografia oficial para cada palavra, mesmo existindo formas diferenciadas de pronunciá-las. Entre a língua escrita e a língua falada há uma relação complicada de se entender. O ensino tradicional se dedicou muito à língua escrita, deixando a língua falada de lado. Somente com o surgimento da ciência linguística é que a fala começou a ser estudada, tendo em vista que esta é aprendida nos primeiros anos de vida de cada falante, a partir do convívio familiar e social. Portanto, ambas, tanto a fala quanto a escrita, são importantes. Segundo Bagno (2011), todavia, para a gramática tradicional, somente a escrita é relevante e inserida num patamar superior em relação à fala, como se a língua literária fosse a única forma de falar e de escrever e, portanto, a única formalinguística passível de ser estudada. Diante desse ponto de vista dos gramáticos, foi que surgiu o mito de nº 7 do preconceito linguístico: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem.” Esse mito enfatiza o domínio do padrão culto da língua, através da gramática. Isso ocorre porque a gramática se transformou num conjunto de “regras”, com o intuito de representar a fala, como reforça Bagno: O que aconteceu, ao longo do tempo, foi uma inversão da realidade histórica. As gramáticas foram escritas precisamente para descrever e fixar como “regras” e “padrões” as manifestações linguísticas usadas espontaneamente pelos escritores considerados dignos de admiração, modelos a ser imitados. (BAGNO, 2011, p. 80) Desde então, a gramática passou a dominar a língua, transformando-se em um instrumento de poder, bem como, em um instrumento de controle social, ocasionando o fenômeno da exclusão social, visto que, a partir desse ponto de vista, a língua reconhecida como “pura” e “bonita” teria que emanar dos compêndios gramaticais. Assim, a língua passou a ser dependente da gramática, como se a gramática tivesse surgido antes da língua. 38 Entretanto, não tem como a gramática prescritiva reger o uso da linguagem, pois a língua é dinâmica, muda com o tempo, já a gramática prescritiva é idealizada e estática. Diante disso, linguistas e educadores pesquisam sobre a necessidade ou não de “ensinar gramática” nas escolas, levando-se em conta que esse ensino deve ser mais sintonizado com a realidade dos alunos, sem utilizar o tempo escolar para ensinar as regras estáticas e preestabelecidas da gramática prescritiva, sem objetivos claros e definidos para a vida interacional dos aprendizes, visto que o ensino da nomenclatura tradicional não contribui para formar educandos capazes de ler e de escrever com eficiência. Assim, é viável que a escola desenvolva o letramento dos alunos, como afirma Bagno (2011): A grande tarefa da educação linguística contemporânea é permitir, incentivar e desenvolver o letramento dos alunos, isto é, a plena inserção desses sujeitos na cultura letrada em que eles vivem. Este é um dever da escola e um direito de todo cidadão. [...] (BAGNO, 2011, p. 86) Dessa maneira, é a partir da leitura de textos diversos e variados que fará com que os discentes tenham habilidade para se inserirem na sociedade letrada e poderão, após de muita leitura e de muita escrita, refletirem sobre o fenômeno da língua e da linguagem, bem como observarem as regularidades do sistema linguístico. Nesse âmbito, Bagno (2011, p.88) esclarece: “(...) é infinitamente mais útil e relevante aprender a usar a língua e não aprender sobre a língua”. Por fim, para concluir a mitologia do preconceito linguístico, há o mito de nº 8: “O domínio da norma-padrão é um instrumento de ascensão social.” Logo, os professores de português estariam num patamar bem elevado na pirâmide social, porém isso é irreal. Então, esse mito não é verídico, ou seja, não basta ensinar a norma-padrão para que os alunos ascendam socialmente. Todavia, é necessário que os estudantes tenham acesso à norma-padrão, não somente para conhecer os conceitos da norma culta, como também para atender às exigências da sociedade e para proporcionar aos discentes um dos caminhos que pode proporcionar-lhes a ascensão social. Diante do que foi exposto, referente à mitologia do preconceito linguístico, é viável salientar que os oito mitos estão longe de se tornarem relevantes para as interações sociais, isto é, não passam de teorias impróprias e inviáveis que favorecem a exclusão social. 39 2.5.4 Desconstruindo o preconceito linguístico O ensino tradicional não incentiva os discentes a se expressarem com naturalidade, ou seja, acaba interrompendo o fluxo natural da expressão e da comunicação dos falantes, através de atitudes corretivas, fazendo com que as pessoas pensem que não conhecem a língua materna, achando-se incapazes e incompetentes, no tocante ao uso da língua. É importante elevar a autoestima linguística dos falantes, conforme Bagno (2011), recusando velhos argumentos que menosprezam o saber linguístico de cada indivíduo, fazendo com que cada falante seja competente no uso da língua portuguesa. Para tanto, é necessário que o professor de língua portuguesa produza seu próprio conhecimento de gramática em sala de aula, conforme explica Bagno (2011): [...] Em vez de REPRODUZIR a tradição gramatical, o professor deve PRODUZIR seu próprio conhecimento da gramática, transformando-se num pesquisador, num orientador de pesquisas a ser empreendidas em sala de aula, junto com seus alunos. Parar de querer entregar regras (mal descritas) já prontas [...]. (BAGNO, 2011, p. 142 - grifo do autor) Assim, é relevante que o docente utilize textos bem construídos, para que os discentes consigam deduzir essas regras, através da análise de textos coerentes e interessantes, tanto de língua escrita quanto de língua falada, demonstrando que a língua é dinâmica, é viva e se transforma o tempo todo. Dessa maneira, é indispensável que a gramática da língua seja apresentada como uma disciplina viva, que está em constante revisão e elaboração, não devendo ser estudada, portanto, como uma disciplina estática e absoluta. Logo, é através do ensino que se pode romper com os preceitos do preconceito linguístico, a partir de um ensino pautado, em especial, no aprendizado da leitura e da escrita, em prol do letramento. Então, deve-se deixar de lado o ensino da gramática tradicional voltado para a obsessão terminológica, classificatória e o apego à nomenclatura, visto que esse ensino apenas prejudica o desenvolvimento do letramento do alunado. Nesse âmbito, o professor deve priorizar o conhecimento linguístico, com o propósito de aprimorar os usos linguísticos do idioma pelos estudantes. 40 A maioria dos professores, no entanto, prefere se voltar para o ensino tradicional, e preocupar-se, apenas, com os “erros”, principalmente, com os “erros” ortográficos, como se a ortografia oficial fizesse parte da gramática de funcionamento da língua. A ortografia oficial é um decreto que depende dos filólogos que a estabelecem, diferentemente da gramática da língua que é natural e que faz parte dos atos comunicativos de falantes que nunca nem frequentaram a escola. Partindo-se dessa compreensão, é fundamental abandonar a ideia simplista e preconceituosa dos erros ortográficos e levar em conta, portanto, o conteúdo dos textos, ou seja, o propósito comunicativo, e não, apontar os “erros” ortográficos dos textos escritos. Para tanto, segundo Faraco (2008), a Academia Brasileira de Letras possui a incumbência de estabelecer a convenção escrita da língua portuguesa, ou melhor, de produzir o Vocabulário Ortográfico da língua materna. Todavia, além da ABL, as universidades possuem uma capacidade técnica para o estudo e o cultivo da língua. Diante dessa perspectiva, a ortografia precisa ser trabalhada em sala de aula, através dos textos, salientando os valores semânticos das palavras, sem sobrepor a ortografia oficial aos usos linguísticos dos discentes, pois ocorre exatamente, ao contrário, o uso se sobrepõe à norma gramatical, como corrobora Faraco: Em matéria de língua, não há, portanto, papas nem tribunais supremos. E os antigos já sabiam disso e diziam, com muita propriedade, que a única autoridade em língua é o uso, isto é, a maneira habitual, comum, corriqueira de falar ou de escrever [...]. (FARACO, 2008, p.100) Partindo-se deste princípio, para que os docentes aprimorem suas aulas e tornem-se bons gramáticos, precisam observar o uso da língua em sala de aula, acompanhando a dinâmica da língua na sua heterogeneidade e no seu constante processo de mudança, segundo Faraco (2008). Mais do que subjugar os estudantes perante a ortografia oficial, vale salientara essência dos textos dos alunos, verificando a coerência, a originalidade das ideias, a ética, a criticidade, a estética, o sentimento envolvido, os ensinamentos produzidos, bem como as emoções que despertam nos leitores. Isso que é educar, para Bagno, que ainda enfatiza: Eu confesso que sinto muito maior prazer ao ler (ou ouvir) um texto cheio de “erros de português” – mas com ideias originais, inovadoras, coerentes, bem expressas –, um texto isento de preconceitos e de ideias rançosas, do 41 que ao ler um texto com todas as vírgulas no lugar, com todas as regências “cultas” respeitadas, todas as concordâncias verbais e nominais, mas repleto de intolerância, de deboche, de sarcasmo, de concepções degradantes e por aí afora. (BAGNO, 2011, p. 164) É difícil abandonar de uma hora para outra as ideias preconceituosas no tocante ao uso linguístico, visto que o preconceito linguístico está enraizado na sociedade brasileira. Em vista disso, não é uma tarefa fácil, mas é viável tomar algumas atitudes que possam subverter o preconceito linguístico, tais como: formação dos professores, rumo ao aprofundamento da pesquisa linguística; crítica ativa, por parte dos docentes, no que se refere ao ensino tradicional da gramática; demonstração da evolução da ciência da linguagem; reflexão sobre algumas noções linguísticas que representam uma cisão das velhas doutrinas gramaticais. Essas cisões, conforme Bagno (2011, p. 166), são as seguintes: 1) conscientizar-se de que todo falante é um usuário competente da língua; 2) aceitar a ideia de que não existe erro de português; 3) não confundir erro de português (que, afinal, não existe) com simples erro de ortografia; 4) reconhecer que o “erro” de português (se é que existe) encontra-se nas regras tradicionais, e não nos falantes que são nativos e competentes no uso da língua portuguesa; 5) conscientizar-se de que toda língua muda e varia; 6) dar-se conta de que a língua portuguesa evolui e se transforma o tempo todo; 7) respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoa; 8) compreender que a língua permeia tudo, isto é, a língua molda o modo de ver o mundo dos falantes, bem como, o modo de ver o mundo dos falantes molda a língua materna; 9) entender que o professor de português é professor de TUDO, visto que a língua está em tudo e tudo está na língua; 10) ensinar, respeitando o conhecimento intuitivo dos alunos, valorizando o que eles já sabem do mundo e da vida, reconhecendo na língua que eles falam a própria identidade deles como ser humano. Diante do exposto, percebe-se que a desmistificação e a superação do preconceito linguístico dependerão de muitas atitudes, advindas das práticas escolares, bem como das novas concepções de língua que deverão ser compreendidas e aceitas pela sociedade como um todo. 42 2.5.5 A concepção de ensino mudou? Os linguistas brasileiros, há mais de três décadas, vêm se dedicando a pesquisas e a elaborações teóricas para compor um retrato da realidade linguística do Brasil. Essas pesquisas e teorias se transformaram, com o tempo, em material pedagógico para ser inserido nas práticas escolares, no tocante ao ensino de língua portuguesa. É fundamental, ancorando-se nesse entendimento, pautar o ensino, adotando certas compreensões das pesquisas realizadas por esse campo dos estudos da linguagem, trabalhando, portanto, com os seguintes questionamentos: Como fazer a escola deixar de ser preconceituosa linguisticamente falando, visto que é a principal fonte de letramento? Como fazer com que os docentes deixem de acreditar na existência do “erro de português”? É importante salientar que os professores têm dificuldades de aderir às novas concepções apontadas pelos estudos sociolinguísticos, isto é, para as variedades linguísticas, justamente por não agirem adequadamente diante dos “erros de português”, por não repassarem para os alunos que esses “erros”, na verdade, são frutos das variedades linguísticas existentes no Brasil. O ensino de língua portuguesa precisa levar em conta que língua e gramática não se equivalem, ou seja, saber gramática – entendida como o saber metalinguístico – não é suficiente para uma atuação verbal eficaz, conforme esclarece Antunes: [...] um dos maiores equívocos consiste em se acreditar que o conhecimento da gramática é suficiente para se conseguir ler e escrever com sucesso os mais diferentes gêneros de texto, conforme as exigências da escrita formal e socialmente prestigiada. [...] (ANTUNES, 2007, p. 53) A partir desse equívoco, os docentes acabam se apegando à explanação de cada uma das classes gramaticais, bem como à análise sintática detalhada. No entanto, isso não basta para um ato comunicativo adequado, visto que a interação verbal requer três conhecimentos fundamentais: o conhecimento do mundo, o conhecimento das normas de textualização e o conhecimento das normas sociais de uso da língua. 43 Isso não implica dizer que é errado ensinar gramática, porém não é para ensinar somente gramática, mas sim, ensinar o vocabulário da língua, isto é, o léxico. Este, por sua vez, consiste no conjunto de palavras de uma língua à disposição dos falantes, constituindo a base com que são elaborados os sentidos dos enunciados. Dessa maneira, o léxico é fundamental para a língua materna, conforme explicita Antunes: Nele estão expressas, para cada época, as marcas das visões de mundo que os falantes alimentam, ou os traços que indicam seus ângulos de percepção das coisas. Não à toa a história do percurso das palavras de uma língua se confunde com a história do percurso dessa língua. Nenhuma palavra nova se forma ou é introduzida aleatoriamente em qualquer língua. (ANTUNES, 2007, p. 42). Nesse sentido, pode-se afirmar que o léxico vai além de um repertório de palavras, ou seja, é um conjunto de maneiras de como a comunidade vê o mundo, criando o sentido de tudo, expressando, portanto, a função da língua de conferir identidade às pessoas. Diante disso é viável o professor ter como matéria-prima o léxico da língua, devido à sua importância para a identidade dos falantes, ou melhor, nesse caso, dos discentes. Assim, é relevante valorizar, justamente, as competências que os alunos trazem ao chegarem à escola. Dessa forma, eles poderiam utilizar a língua em sala de aula com eficácia, para comunicarem-se e até expressarem a personalidade com fluidez, com o objetivo de elaborarem conceitos em prol da percepção do mundo, fazendo da linguagem um instrumento de raciocínio, segundo Ilari e Basso (2011). Entretanto, ao invés de utilizarem os conhecimentos prévios dos estudantes, os docentes primam pela correção, a partir de um ensino pautado na gramática tradicional, conforme explicitam Ilari e Basso: [...] Na prática, a escola não tem trabalhado a partir de um plano voltado para enriquecer sistematicamente a competência linguística do aluno; tem se preocupado em criar no aluno uma outra competência que, supostamente, coincide com a competência linguística das classes mais cultas. Para isso, tem trabalhado principalmente (...) investindo em duas estratégias principais: a sistematização gramatical, (...) e a análise (particularmente, sintática) de sentenças mais ou menos descontextualizadas. [...] (ILARI; BASSO, 2011, p. 231). Diante dessa realidade, os professores do ensino fundamental e médio acabam desvalorizando o que os discentes produzem, quando cometem 44 inadequações no tocante à sintaxe ou à ortografia, estabelecendo, portanto, uma maneira ineficaz de ensinar a língua portuguesa. Vale salientar, no entanto, que em um dado momento de sua formação torna-se imprescindível ao aluno conhecer também as regras da chamada norma culta como uma das variantes linguísticas ou, como preferem alguns, a variante de prestígio. O domínio da chamada norma culta irá possibilitarao aluno inserir-se na comunidade letrada que utiliza tal variante em suas comunicações formais e monitoradas. Os linguistas têm contribuído bastante, no tocante ao âmbito pedagógico do ensino de língua portuguesa, no entanto, no que se refere aos estudos de variação linguística em sala de aula, ainda há muitas lacunas. É tanto que, na maioria dos livros didáticos, esse conteúdo é apresentado, inadequadamente, visto que, retrata somente a variação geográfica, reforçando os estereótipos, sem contribuir para a compreensão histórica, social e cultural dos falares urbanos e rurais, segundo Faraco (2008). Dessa maneira, a variação social é raramente trabalhada nos livros didáticos, majoritariamente, isto é, não há um trabalho profundo e continuado sobre os conflitos, as aproximações e os distanciamentos entre as variedades do português dito popular versus as variedades do português dito culto. Essa lacuna acaba proporcionando, por sua vez, a propagação de estigmas linguísticos que reforçam a cultura do erro na sociedade, conforme explicita Faraco: [...] Talvez falte um estudo sistemático mais aprofundado da variação social e uma ampla divulgação dos fenômenos linguísticos brasileiros (tarefa dos sociolinguistas). Não podemos, porém, ignorar, nesse tema, o peso que a cultura do erro tem em nosso país – peso que tem impedido uma discussão mais aberta e menos preconceituosa de nossa cara linguística real. (FARACO, 2008, p. 178). Diante dessa realidade, cabe aos educadores construírem uma pedagogia da variação linguística que reconheça que o brasileiro é multilíngue, bem como proporcione um estudo sobre a variação social do português, sem tratar os fenômenos variacionais como estereótipos, mas sim combater os estigmas linguísticos, as exclusões sociais e as culturas fundadas pela diferença linguística. Não se trata de uma tarefa fácil, visto que a sociedade, em especial a classe social considerada mais elitizada, exige a homogeneização linguística com o intuito de uniformizar os variados falares brasileiros, desconsiderando a realidade nacional, 45 que é diversificada, tanto no âmbito geográfico, quanto no âmbito social. Isso faz com que a temática sobre a variação linguística nas escolas seja um desafio pela busca de uma reconstrução pedagógica no que se refere às alternativas pedagógicas para a variação linguística e para os seus sentidos sociais e culturais. É viável que o docente de língua portuguesa se paute em um trabalho voltado para uma reeducação sociolinguística, proporcionando aos alunos a complexidade da dinâmica social, bem como a importância da linguagem para as relações pessoais. Vale lembrar que o termo é reeducação, porque a educação linguística se dá logo no início da vida dos falantes, conforme explicita Bagno: [...] Porque a educação linguística primária, primeira, primordial se dá logo no início da vida de qualquer pessoa, quando ela entra num mundo rodeado de outras pessoas que não param de falar ao seu redor. Quando (ou se) essa pessoa vai para a escola, tudo o que ela aprendeu espontaneamente até então em seu convívio familiar, comunitário, social vai se transformar em saber formalizado, sistematizado, delimitado em áreas específicas de conhecimento, rotulado por meio de conceitos, explicado com a ajuda de teorias. (BAGNO, 2007, p. 82). Em relação à língua, a criança aprende a ler e a escrever na escola, ou seja, aprende uma língua que, nem sempre, é utilizada em seu ambiente familiar, transformando-se, portanto, num objeto de estudos cheio de regras que buscam explicar o funcionamento linguístico. São, exatamente, essas regras que propiciam aos falantes um julgamento social, através do qual, as pessoas avaliam o modo de falar umas das outras, nos atos interativos. Em virtude disso, fica evidente que a língua não é apenas um “meio de comunicação”, mas sim, um instrumento de controle social, como afirma Bagno: [...] A língua não é simplesmente um ‘meio de comunicação’ – ela é um poderoso instrumento de controle social, de manutenção ou ruptura dos vínculos sociais, de preservação ou destroçamento das identidades individuais, de promoção ou de humilhação, de inclusão ou de exclusão. (BAGNO, 2007, p. 83). É diante dessa realidade que surge a importância da reeducação sociolinguística como uma forma de reorganizar os conhecimentos linguísticos, sem apoiá-los no hábito da “correção” e nem, muito menos, cultivar a cultura de substituir um modo de falar por outro. Assim, a reeducação sociolinguística deve priorizar o que a pessoa já sabe, referente à língua, que é justamente: falar bem a língua materna, de forma espontânea e eficiente, sem limitar, portanto, a perspectiva 46 pedagógica aos ensinamentos voltados para as variedades cultas em si, como sendo, um conjunto de certas características léxico-gramaticais. Assim, sem concentrar o ensino nas formas linguísticas da norma culta, os educandos ampliam o letramento, como enfatiza Faraco: Desse modo, o acesso às variedades cultas da língua não se dá por uma pedagogia concentrada no domínio de formas linguísticas, mas como subproduto de uma pedagogia articulada para garantir aos alunos a ampliação de seu letramento. (FARACO, 2008, p. 170). Cabe ao professor de língua materna, portanto, fazer com que os discentes tenham em mente que eles sabem português e que a escola servirá para que eles aprimorem esse saber linguístico, adquirindo familiaridade com as variedades linguísticas, associando-as às práticas socioculturais. Além disso, é relevante proporcionar aos alunos o conhecimento sobre variadas formas de falar e de escrever, ampliando o repertório comunicativo deles. Outrossim, é primordial garantir aos discentes uma conscientização no que tange à desconstrução do preconceito linguístico, através de argumentos bem fundamentados, alertando-os sobre as práticas de discriminação, a partir da linguagem. Ademais, possibilitar o reconhecimento da diversidade linguística como sendo uma riqueza inestimável da nossa cultura e da nossa sociedade. 2.5.6 Senso comum: ensino da língua “certa” na escola Os comportamentos sociais devem ser levados em conta na escola, ou seja, não há como fazer ciência sem reconhecer os saberes trazidos pelos discentes, saberes estes influenciados pelas interações, pelas ideologias, pelas crenças, pela cultura. Assim, toda a dinâmica social, juntamente com suas demandas e seus conflitos são relevantes para a ciência presente na escola. Dentre os valores culturais que circulam na sociedade, está a língua. E, diante disso, existe uma demanda social que exige o entendimento, por parte da sociedade, sobre a chamada “língua certa”. Nesse viés, a escola fica entre o que a ciência exige e o que a sociedade demanda. Vale ressaltar que os comportamentos sociais, ou melhor, o senso comum, é um dado importante e que se faz presente no âmbito escolar. Logo, não há como fazer escola sem levar em consideração a dinâmica social, o que acontece 47 no cotidiano de seus usuários. Entretanto, o senso comum não é o bastante para determinar o currículo escolar, isto é, também é relevante compreender a língua como um objeto científico. A língua é construída ao longo das gerações, constituindo-se uma realidade imersa num processo cultural espontâneo. Os indivíduos ao interagirem, ao se comunicarem, ao defenderem seus pontos de vista, suas compreensões de mundo, o fazem por meio da língua. É nesse processo que ela se constrói e se fortalece, passando a ser defendida, cuidada como um bem coletivo, um bem cultural. Portanto, esse bem cultural deve fazer parte da realidade escolar, tornando-se um objeto científico-pedagógico. Semelhante tarefa não é responsabilidade dos linguistas, mas sobretudo da própria escola, visto que esta instituição é o locus, onde os cidadãos, de acordo com Bagno (2007), adquirema formação intelectual. Faraco reforça o reconhecimento e a importância dos linguistas para o ensino de língua materna: Se parece claro que a intervenção dos linguistas trouxe (e continua trazendo) contribuições relevantes para a construção de uma pedagogia da língua materna, é preciso também reconhecer que a área continua – interna e externamente – contaminada pela cristalização de alguns equívocos [...]. (FARACO, 2008, p. 164) Estes equívocos se referem aos fenômenos da variação linguística, pelo fato de eles representarem questões de identidade social e de valores socioculturais. Nesse sentido, os linguistas corroboram com a ideia de que não há um padrão absoluto de correção na língua, ou seja, há, na verdade, padrões relativos às variadas circunstâncias nas quais a língua, bem como as suas variedades podem ocorrer. Dessa forma, os linguistas, ainda segundo Faraco (2008), afirmam que ter propriedade linguística, isto é, saber usar a língua de acordo com as situações interacionais, é mais importante do que balizar a língua a partir de um padrão absoluto de correção. Todavia, essa importância da propriedade linguística fica em segundo plano diante de um senso de correção exacerbado, conforme esclarece Faraco: [...] numa cultura com um viés arraigadamente normativista como a nossa, o senso de adequação se vê, constantemente, perturbado (em especial entre os segmentos altamente escolarizados) por um senso de correção exacerbadamente purista. Inverte-se, portanto, a equação empírica: a correção (tomada ilusoriamente em sentido absoluto) secundariza a adequação, quando não a condena. (FARACO, 2008, p.167). 48 Essa secundarização da adequação linguística acontece porque não há no senso comum o reconhecimento de que a norma culta é uma variedade, entre muitas outras variedades, com suas determinadas especificidades linguísticas. Em virtude dessa realidade, os fatos referentes à língua materna se resumem em certos e errados, como sendo termos absolutos. Diante disso, uma pedagogia voltada para a variação linguística não progride. A consequência desse intricado e confuso quadro é que a escola não avança no sentido de criar uma pedagogia da variação linguística e da norma culta/comum/standard. 2 Ela não tem encontrado meios para deixar de ser uma instituição meramente reprodutora dos estigmas e dos preconceitos linguísticos, da cultura do erro e de uma norma artificial. (Faraco, 2008, p. 188) A vida escolar, portanto, é afetada na medida em que as variedades populares da língua portuguesa são inseridas num segundo plano, ou seja, o estigma social protagonizado pela elite escolarizada e reproduzido no âmbito escolar acaba prevalecendo, sustentando, assim, os preconceitos. Quando a escola, na verdade, segundo Antunes (2007), deveria desenvolver nos discentes a capacidade de acolher as diferenças linguísticas, respeitando aqueles que as apresentam em suas interações sociais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs portanto, a escola precisa enfrentar o preconceito linguístico, estabelecendo o respeito aos diferentes modos de falar, livrando-se do mito de que existe uma única forma “certa” de falar e evitando corrigir a fala dos discentes em prol de uma escrita “correta”, visto que o cerne dessa questão não é a correção, mas sim, a adequação da fala às mais diversas circunstâncias de uso da língua. Dessa forma, o ensino de Língua Portuguesa deve pautar-se no conhecimento e no respeito às diferentes variedades linguísticas do português. 2 É a variedade que os letrados usam correntemente em suas práticas mais monitoradas de fala e escrita. (Faraco, 2008, p. 73) 49 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O ato de pesquisar é o resultado de um estudo em prol da ciência, que implica organização, disciplina e método, com o intuito de atingir, à medida do possível, determinação, precisão e objetividade, não perdendo de vista a sua função social e a capacidade de ampliar conhecimentos. Para atingir esses objetivos, segundo Serrano (2011), é imprescindível que o pesquisador faça o registro minucioso de todas as atividades correlacionadas com a pesquisa, anotando os avanços e as descobertas, contribuindo para otimizar ao máximo o tempo dedicado à ação de pesquisar. A metodologia adotada nesse estudo é a pesquisa-ação, um método intervencionista, diferentemente do modelo clássico, por ser baseada em atos que promovam ações sociais, isto é, a pesquisa-ação estuda um problema social, para, em seguida, agir com o objetivo de solucionar o problema abordado na referida pesquisa. Esse modelo de pesquisa vem sendo adotado por organizações, comunidades e universidades, em prol da ampliação de conhecimentos e da solução de um problema identificado. Este capítulo é subdividido em duas seções que relatam sobre o tipo de pesquisa adotado, com suas devidas características e especificidades, o cenário da pesquisa e os participantes envolvidos nesse estudo, além de apresentar como o corpus desse trabalho foi construído, através da elaboração dos módulos de atividades aplicadas aos discentes. 3.1 TIPO DE PESQUISA É uma metodologia de pesquisa intervencionista, portanto, voltada para o âmbito empírico, realizável a partir da associação com uma atividade, ou melhor, da resolução de um problema coletivo, envolvendo tanto o pesquisador quanto os participantes, numa ação conjunta que ocorre de modo cooperativo e participativo. Conforme Gil (2017), o termo pesquisa–ação foi cunhado em 1946 por Kurt Lewin, através de um trabalho que buscava integrar as minorias étnicas à sociedade norte-americana, definindo-a, portanto, como uma ação social. Dessa maneira, a 50 50 pesquisa-ação diagnostica um problema específico numa situação específica e realiza intervenção, com o intuito de alcançar um resultado prático. Segundo Gil (2017), as fases desse tipo de pesquisa não são bem ordenadas cronologicamente, devido, principalmente, ao fato de que as relações entre o pesquisador e os participantes são bem dinâmicas. Além dessa característica, pode- se dizer que a pesquisa-ação é situacional, visto que, se preocupa com o diagnóstico do problema em um determinado contexto, com o objetivo de resolvê-lo ou minimizá-lo; como também, é participativa, pois os participantes da pesquisa, direta ou indiretamente, influenciam a implementação da pesquisa; é autoavaliativa, tendo em vista que as ações práticas da pesquisa são continuamente avaliadas e modificadas, quando necessário. As práticas da pesquisa-ação podem se voltar tanto para uma mudança organizacional de uma indústria, bem como para experimentar uma nova maneira de ensinar em uma sala de aula. Referindo-se ao núcleo educacional, além de ser importante para as práticas docentes, esse tipo de pesquisa também é relevante para a elaboração de teorias voltadas para a educação e para o ensino. Assim, a pesquisa-ação pode alcançar tanto objetivos sociais quanto educacionais, de acordo com Gil (2017). Levando-se em consideração os objetivos educacionais, no tocante à sala de aula, a abordagem de pesquisa-ação pode proporcionar inovações para o processo de ensino-aprendizagem, como também melhorar a comunicação entre o professor- pesquisador e os participantes que, na maioria das vezes, são os alunos, com o propósito de atenuar possíveis problemas que dificultam o desenvolvimento dos estudantes em sala de aula. Dessa maneira, a pesquisa-ação torna-se apropriada, conforme propõem Moreira e Caleffe (2006), para melhorar os métodos de ensino, para aprimorar as formas avaliativas, para modificar o sistema de valores dos alunos em relação a alguns aspectos da vida, para desenvolver as habilidades de ensino dos docentes, para aumentar a eficiência dos professores em relação aosaspectos administrativos da vida escolar. A pesquisa-ação, para ser realizada, perpassa por determinadas fases que vão desde a seleção de um campo de trabalho, o levantamento de informações sobre o ambiente a ser estudado, bem como as características de sua população, até a devolução dos resultados. 51 Dessa maneira, esse tipo de pesquisa, segundo Vasconcelos (2006), ocorre de forma cíclica, visto que se inicia com a fase denominada de diagnóstico, seguida de uma ação conjunta entre o pesquisador e os participantes da pesquisa em prol de uma avaliação e uma nova ação construída a partir de uma reflexão realizada sobre as fases anteriores. Sendo assim, de acordo com Thiollen, a pesquisa ação: É um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLEN, 1988, p. 14 apud VASCONCELOS, 2006, p. 227) Esta definição demonstra a ênfase da pesquisa-intervenção, como também pode ser chamada, na resolução de problemas, na tomada de consciência, bem como na produção de conhecimento, com o intuito de ampliar o conhecimento dos pesquisadores e, por conseguinte, das pessoas envolvidas na pesquisa, através da prática, da reflexão e da melhoria de uma situação concreta da realidade social. Em vista disso, cabe pontuar que esse tipo de pesquisa busca adquirir um conhecimento sobre determinado aspecto da realidade com o objetivo não somente de investigá-lo para conhecê-lo, mas, principalmente, de investigá-lo para atuar transformadoramente sobre ele, como afirma Vasconcelos: [...] A pesquisa–ação pretende, simultaneamente, investigar e atuar como uma espécie de dialética do conhecimento e da ação e que tende ao mesmo tempo a criar uma mudança na situação concreta e a estudar as condições em que os resultados foram produzidos. (VASCONCELOS, 2006, p.232.) Dessa forma, esse trabalho materializa uma pesquisa-ação, com a intenção de investigar, como também, de transformar a visão que os estudantes de uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental têm sobre a língua portuguesa, mais precisamente, sobre as variações que fazem parte da sua língua materna. Essa abordagem tem como principal objetivo contribuir para superar o olhar preconceituoso que esses alunos possuem no tocante às várias formas que os falantes utilizam para estabelecer as interações pessoais, através dos atos comunicativos variados. A presente pesquisa também se pautou em dois posicionamentos metodológicos: o método quantitativo e o método qualitativo. A metodologia 52 quantitativa, por sua vez, é uma orientação que estuda o comportamento humano, a partir de fatores e estruturas internas ou externas que geram resultados em prol de levantamentos amostrais para, consequentemente, gerar resultados, focando nas variáveis dependentes e independentes do comportamento humano, operacionalizando e quantificando essas variáveis, objetivando a oportunidade para procedimentos estatísticos. Já a metodologia qualitativa, nessa pesquisa também utilizada, conforme Oliveira (2008), defende o estudo do homem, como sendo o intérprete do mundo em que vive, visto que a vida humana é tida como uma atividade interativa e interpretativa, com o intuito de construir sentidos, através das interações sociais. Diante disso, existe a pesquisa etnográfica que sendo adaptada para a área educacional, segundo Lüdke e André (1986), deve-se ter o cuidado em refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem não somente no âmbito escolar, mas também no contexto social, isto é, no que acontece fora do ambiente escolar. Nesse contexto, essa pesquisa apresenta um viés etnográfico, visto que é constituída pelos seguintes critérios: a) o problema referente ao preconceito linguístico foi descoberto em sala de aula, isto é, no próprio campo da pesquisa; b) a pesquisadora realizou o estudo em campo, pessoalmente; c) o trabalho de campo durou, praticamente, um ano letivo; d) a abordagem adotou várias técnicas de coleta, tais como: aplicação de instrumentais elaborados, a partir de um conjunto de atividades que envolviam questões voltadas para o conceito de língua, para o reconhecimento breve da história da língua portuguesa, para o uso da escrita em consonância com a fala, para o preconceito linguístico; apresentação de músicas e vídeos, orientação sobre variação linguística e preconceito linguístico e elaboração de cartazes voltados para a temática do preconceito linguístico. Essas ações possuem um viés etnográfico à medida que o problema do preconceito linguístico não ocorre apenas dentro da escola, é um problema social. Portanto, esta pesquisa, além de atenuar este fenômeno linguístico em sala de aula, propicia conhecimentos aos alunos envolvidos para que este tipo de preconceito também seja atenuado fora da escola. Dentre as técnicas adotadas, além da aplicação de instrumentais, há a da observação. Esta ocorre quando os pesquisadores buscam entender os sujeitos 53 observados, no tocante ao comportamento real deles, bem como as próprias situações e como eles constroem a realidade em que atuam, sem deixar de lado as experiências de vida, ou seja, a bagagem cultural dos pesquisados. Eu, como professora de Língua Portuguesa do ensino fundamental público do Estado do Ceará, formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em Letras: Português e Literatura. sou a pesquisadora desse trabalho. Logo, sou uma participante da pesquisa, atuante como observadora, visto que, antes de iniciar a pesquisa, conversou com os alunos, ou seja, com os participantes, sobre o trabalho que seria feito em sala de aula, propiciando aos estudantes o conhecimento referente ao caráter científico do referido trabalho, possibilitando a existência de obrigações e acordos discutidos antes do início da pesquisa. Em suma, essa pesquisa engloba características de uma pesquisa qualitativa, pois há a intenção de se interpretar a situação em estudo, a partir do olhar dos participantes. Ademais, há o foco voltado para a subjetividade, através da perspectiva dos informantes, em relação às atividades realizadas durante o trabalho. Estas atividades, por sua vez, são flexíveis, de acordo com a dinâmica do estudo em si, com o intuito de valorizar mais as situações ocorridas em todo o processo da pesquisa, demonstrando que a pesquisa não se interessa apenas pelos resultados. Além disso, a pesquisa qualitativa tem como fonte direta dos dados o próprio ambiente pesquisado que, nesse caso, é a sala de aula, buscando descrever e analisar os dados indutivamente. A pesquisa foi realizada em uma escola pública estadual localizada na periferia da capital cearense, mais precisamente no bairro João XXIII. A unidade escolar tem o nome de: Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva. O estudo, por sua vez, contou com a participação de 49 alunos de uma turma de 9º ano, pertencentes, em sua maioria, a uma classe social menos favorecida socialmente. Além destes discentes, a referida pesquisa também obteve a participação dessa pesquisadora como professora de língua portuguesa da turma. 3.2 CENÁRIO DA PESQUISA A pesquisa foi realizada em uma escola situada na periferia da capital cearense. É uma unidade escolar que possui uma estrutura razoável, mas com 54 alguns problemas de ordens elétrica e estrutural. Ela possui um total de 12 salas de aula climatizadas para comportarem cerca de 1.200 estudantes, no decorrer dos três turnos, em séries de Ensino Fundamental e Médio. A escola também possui outros ambientes pedagógicos, como: laboratório de ciências e laboratório de informática. Apesar de esses ambientes necessitarem de uma reestruturação,eles são bastante usados pelos alunos, em especial, no que concerne aos cursos de Química e de Informática. A biblioteca, por sua vez, também é muito frequentada pelos estudantes, pois possui uma boa variedade de livros e espaços para o estudo individual dos discentes. Além desses ambientes, a unidade escolar contém uma quadra poliesportiva e um pátio bem frequentados pelos estudantes, visto que são espaços que promovem o lazer e a interação. A estrutura da escola também é contemplada com uma cozinha e um refeitório, com uma sala para professores, com uma sala para o Núcleo Gestor e com uma sala para a secretaria, constituindo, assim, um ambiente educacional completo. A sala de aula do 9º ano A, por sua vez, localiza-se no primeiro pavimento da escola, sendo uma sala ampla e climatizada, mas que possui problemas no tocante à iluminação. É uma sala lotada com 49 discentes, distribuídos em kits de cadeiras e mesas, tornando, assim, o espaço um pouco apertado. Mesmo assim, os alunos curtem bastante a escola e não costumam faltar às aulas, sendo bem assíduos. Enfim, é uma escola que, apesar de necessitar de algumas melhorias, é considerada uma escola de referência para a comunidade, sendo reconhecida pela dedicação dos professores, pelos projetos e pelas aprovações dos alunos no Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM. 3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA Os envolvidos na pesquisa são uma professora de Língua Portuguesa e 49 pré-adolescentes que cursam o 9º Ano do Ensino Fundamental. Durante o meu período acadêmico, sempre tive interesse pelos estudos da Sociolinguística, principalmente, por ser proveniente do interior do Ceará e admirar bastante os modos de falar advindos do sertão cearense. 55 Os alunos participantes têm em média entre 12 e 13 anos de idade, ou seja, são pré-adolescentes e fazem parte da turma A, da série 9º ano, sendo em sua maioria, constituída por meninas. Eles são mesclados, isto é, alguns vieram da escola pública, no entanto, há também estudantes que, por falta de condições financeiras, saíram da escola particular e passaram a frequentar a escola cenário dessa pesquisa. Os estudantes, em virtude das vivências escolares anteriores, costumam valorizar as regras gramaticais prescritivas e o linguajar considerado “correto”. Em função disso, foi importante eles participarem desse trabalho e aprimorarem os conhecimentos, no tocante às variações da Língua Portuguesa. 3.4 CONSTRUÇÃO DOS DADOS O corpus do trabalho é formado por dados construídos, a partir da aplicação de atividades constituídas por questões que envolviam perguntas referentes a textos, a vídeos e a canções. Logo, de um modo geral, os questionamentos eram baseados nos variados usos linguísticos, objetivando compreender o olhar dos discentes no que concerne às variedades linguísticas, à noção de “erro” e, consequentemente, ao preconceito linguístico.A sequência didática, logo, foi utilizada como um instrumental que prevê vários momentos para a realização dessas atividades e, consequentemente, para a aplicação dos questionários, organizados em três módulos, voltados para a superação do preconceito linguístico em sala de aula. Vale salientar que sequência didática, segundo Dolz, Noverraz & Schneuwly (2004), é um conjunto de atividades escolares, agrupadas sistematicamente, em torno de um gênero oral ou escrito, que objetiva ajudar o aluno a elaborar determinado gênero textual, permitindo executá-lo numa dada situação de comunicação. Assim, o esquema da sequência didática poderá ser representado da seguinte maneira: 56 Figura 1- Esquema da Sequência Didática FONTE: https://www.google.com/search?q=esquema+sequencia+didatica&source Acesso em: 12 de dez. 2018. Embora a sequência didática (SD) tenha como foco o trabalho pedagógico em prol do desenvolvimento de um gênero textual, a SD foi utilizada como uma inspiração, sendo adaptada, de acordo com os objetivos dessa pesquisa, haja vista que esse estudo não se ateve a apenas a gênero textual. Assim, a SD foi utilizada, com o intuito de estabelecer o viés organizacional das ações desenvolvidas na pesquisa, embora estas ações não tenham como objetivo principal o aprendizado de um determinado gênero textual. A apresentação da situação, portanto, consistiu na descrição do trabalho que seria efetuado com os alunos do 9º ano A, expondo que eles realizariam algumas atividades voltadas para a temática do preconceito linguístico, com o objetivo de, ao final dos exercícios, eles terem a capacidade de elaborarem cartazes criativos em relação ao tema estudado, que seriam divulgados pelos corredores da escola participante da pesquisa, objetivando chamar a atenção dos estudantes sobre a ocorrência de ações preconceituosas em relação aos variados usos linguísticos. A exposição dos dados obtidos, portanto, é realizada a partir do corpus constituído das respostas dos alunos participantes. Estes, por sua vez, são identificados a partir do seguinte código: AP01, AP02, AP03, APn (Aluno Participante). Vale salientar que esta numeração equivale ao número que identifica os alunos em sala de aula, isto é, o número que corresponde a cada aluno, de acordo com o diário da turma do 9º Ano A, elaborado pela própria escola. As respostas deles são escritas respeitando o modo como eles escreveram. Outrossim, as respostas iguais ou semelhantes não serão expostas no texto. Assim, ao lado de cada resposta escrita, são mencionados, entre parênteses, os estudantes que tiveram o pensamento igual ou semelhante ao do aluno que obteve a declaração apresentada nessa dissertação. Após a apresentação das assertivas dos discentes, 57 a pesquisadora realizou uma análise dessas assertivas e, em seguida, elaborou um gráfico, com o intuito de apresentar, numericamente, os dados construídos na pesquisa. Vale ressaltar que, na construção dos gráficos, as declarações estudantis são agrupadas, didaticamente, de acordo com a semelhança das respostas. Esclarecemos que cada pergunta das atividades é analisada e exposta em gráficos, a partir das respostas dos alunos. Ademais, todas as atividades trabalhadas com os alunos são expostas na parte referente aos anexos dessa dissertação, sendo devidamente, codificadas no decorrer do texto da seguinte maneira: A1- PI (Atividade 1 – Produção Inicial), A1 – M1 ( Atividade 1 – Módulo 1), A2- M1 (Atividade 2 – Módulo 1), A3- M1 (Atividade 3– Módulo 1). A sequência das atividades ocorridas em sala de aula está exposta nos anexos, sendo que, para cada atividade, é disponibilizada uma página de anexo, identificada por letras do alfabeto, isto é, o primeiro anexo recebe o nome de Anexo A, o segundo anexo recebe o nome de anexo B e assim sucessivamente. A produção inicial, por sua vez, foi constituída por uma atividade que envolvia perguntas relacionadas à conceituação da língua, bem como à importância de estudar a língua portuguesa, conforme documento em anexo (p.124), sendo identificada como AA–PI ( Anexo A – Produção Inicial). A partir do cumprimento da produção inicial, elaborou-se o 1º Módulo dessa pesquisa, constituído por três atividades, conforme explicitado no quadro abaixo. Quadro 1- Organização do módulo 1 Professora Francisca Erik Larisse Nogueira Lima Ambiente Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva Nível de Ensino 9º Ano – Ensino Fundamental Modo de Intervenção Sequência Didática Gêneros Carta, diálogo e música. Tempo estimado Aproximadamente seis aulas de 50 minutos. Material Papel, lápis, data-show e caixa de som. Objetivo Geral ✓ Promover a percepção de que todas as variedades linguísticas são relevantes, ou seja, são igualmente importantes para o desenvolvimento das interações sociais. Objetivos Específicos ✓ Compreender que a língua materna sofre mudanças ao longo do tempo;✓ Favorecer o entendimento sobre a importância, tanto da 58 fala, quanto da escrita; ✓ Contribuir para a compreensão sobre as variedades linguísticas, em especial, sobre uma variedade estigmatizada socialmente: a variedade linguística utilizada por falantes que vivem no sertão. Justificativa O desenvolvimento da competência linguística em alunos do 9º anodo Ensino Fundamental do HCS a partir de gêneros textuais variados, haja vista que se configura como uma intervenção pertinente à compreensão da relevância das variedades linguísticas da língua materna, levando-os a se sobressaírem no cotidiano da interação com o outro. Fonte: elaborado pela autora (2018) A 1ª atividade, identificada como A1 – M1 (Atividade 1 – Módulo 1), inserida no anexo B (p.125), objetivou analisar se os discentes compreendiam que a língua se modificava, ao longo do tempo, através de um estudo sobre um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha. Essa atividade propôs que os estudantes respondessem perguntas sobre a alteração da língua, ao longo do tempo; sobre a compreensão do texto em análise; e sobre a escrita do trecho da referida carta. A atividade 2, do Módulo 1 (A2 – M1), presente no anexo C (p. 126), por sua vez, constituiu-se de um estudo referente à exibição de um vídeo, baseado numa conversa entre dois amigos, na qual um personagem tenta convencer o outro, a fazer uma viagem. Todavia, o personagem convidado recusa-se a viajar, devido ao seu modo de falar, que é característico de moradores da zona rural. Após o vídeo, os discentes responderam questões relacionadas ao motivo pelo qual o personagem não quer viajar; à importância da fala; à relevância da escrita; e à forma de falar dos alunos comparando-se ao modo de falar dos personagens. A terceira atividade desse módulo (A3 – M1), conforme anexo D (p. 127), pautou-se em um estudo sobre a música “Asa Branca”, composição de Humberto Teixeira e de Luís Gonzaga, através de indagações sobre a linguagem utilizada na música; sobre as possíveis alterações que os alunos fariam na letra da referida canção, levando-se em conta a escolaridade, a origem, o poder aquisitivo e a faixa etária do eu lírico; e sobre a situação interacional mais adequada para a linguagem da música ser utilizada. Dessa maneira, o Módulo 1 apresentou atividades que tinham o intuito de perceber o conhecimento dos educandos a respeito do conceito de língua, da (conclusão) 59 importância de se estudar a Língua Portuguesa na escola, da história da língua materna, do preconceito linguístico e da noção de “erro’. O Módulo 2, por sua vez, foi elaborado a partir de slides e de atividades que envolviam discussões sobre variação linguística e sobre preconceito linguístico, além de questões que envolviam o aprendizado dos discentes referente às aulas lecionadas, bem como questões envolvendo atitudes preconceituosas linguisticamente, através de uma tirinha do Chico Bento. Dessa maneira, o módulo 2 organizou-se da seguinte maneira: Quadro 2- Organização do Módulo 2 Professora Francisca Erik Larisse Nogueira Lima Ambiente Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva Nível de Ensino 9º Ano – Ensino Fundamental Modo de Intervenção Sequência Didática Gêneros Tirinha. Tempo estimado Aproximadamente quatro aulas de 50 minutos. Material Papel, lápis, data-show e caixa de som. Objetivo Geral ✓ Promover a concepção sobre variação linguística e sobre preconceito linguístico. Objetivos Específicos ✓ Compreender como as variações linguísticas são classificadas, de acordo com as especificidades de cada uma; ✓ Favorecer o entendimento sobre os mitos que envolvem o preconceito linguístico; Justificativa O desenvolvimento da competência linguística em alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do HCS a partir de um estudo sobre variação linguística e preconceito linguístico. Fonte: elaborado pela autora (2018) Os primeiros slides, presentes no anexo E (p.130 a 135), são referentes à importância da língua para a interação social, como também, à heterogeneidade linguística e aos fatores sociais que influenciam a língua. Além disso, há uma explicação sobre a classificação das variações linguísticas, através de imagens, charges, tirinhas e diálogos. Por fim, há um questionamento para identificar o que os estudantes aprenderam, a partir dessa aula. Após o estudo sobre as variações linguísticas, o preconceito linguístico foi o próximo conteúdo a ser discutido para os alunos, conforme os slides presentes no 60 anexo F (p. 136 a 142). Logo, os slides, sobre esse assunto, foram elaborados, a partir de um breve histórico sobre a noção de “erro” e de uma análise sobre alguns mitos presentes na sociedade brasileira, referentes à Língua Portuguesa. O módulo 3, por sua vez, foi constituído por uma oficina sobre a elaboração de cartazes voltados para a temática da superação do preconceito linguístico, conforme a organização abaixo: Quadro 3- Organização do Módulo 3 Professora Francisca Erik Larisse Nogueira Lima Ambiente Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva Nível de Ensino 9º Ano – Ensino Fundamental Modo de Intervenção Sequência Didática Gêneros Cartaz. Tempo estimado Aproximadamente três aulas de 50 minutos. Material Papel, lápis, data-show, folhas de papel madeira, folhas de E.V.A., pincéis atômicos, jornais e revistas para recortes, tesouras, colas, caixas de giz de cera e de lápis de cor. Objetivo Geral ✓ Promover a capacidade de elaboração de cartazes que chamem a atenção do público. Objetivos Específicos ✓ Compreender como um cartaz pode ser elaborado, tanto para chamar a atenção do público, quanto para conscientizar as pessoas sobre determinados assuntos; ✓ Favorecer o entendimento sobre a superação do preconceito linguístico, através da confecção de cartazes criativos. Justificativa O desenvolvimento da competência linguística em alunos do 9º ano do Ensino Fundamental do HCS a partir de um estudo sobre a confecção de cartazes que chamem a atenção das pessoas sobre o preconceito linguístico. Fonte: elaborado pela autora (2018) A oficina de elaboração de cartazes foi realizada a partir da apresentação de slides, conforme anexo G (p. 143 a 149), voltados para a exposição de dicas para construir cartazes que chamassem a atenção do público. Além disso, foram apresentados aos discentes variados cartazes que envolviam a temática referente ao preconceito linguístico. Após essa apresentação sobre a elaboração de cartazes, os discentes reuniram-se em grupos para confeccionarem cartazes criativos que ressaltassem a necessidade de atenuar o preconceito linguístico em sala de aula. Estes cartazes, por sua vez, foram expostos nos corredores da escola. 61 4 ANÁLISE DOS DADOS A partir das atividades propostas, à luz dos referenciais teóricos utilizados, passamos à análise do corpus constituído pelos dados levantados por ocasião da aplicação da sequência didática, para tanto, retomamos resumidamente o desenvolvimento das atividades. Assim, a produção inicial, identificada por A1 – PI (Atividade 1 – Produção Inicial), em anexo (p. 124), aplicada no dia 06 de fevereiro de 2018, foi elaborada, através de perguntas voltadas para a conceituação da Língua Portuguesa e para a importância de se estudar essa língua na escola. Antes da aplicação da atividade, as questões foram explicadas e discutidas, enfatizando que as respostas deveriam ser elaboradas a partir do que eles conheciam sobre a língua materna. Essa atividade, na qual consta a primeira pergunta: “Para você, o que é a Língua Portuguesa?”, foi resolvida por 45 alunos presentes no dia da aplicação. Os estudantes responderam da seguinte maneira: Quadro 4 - “Para você, o que é a Língua Portuguesa?” AP01:“É a língua que representa toda nossa cultura.”AP19: “Língua portuguesa, ou língua no geral, é o que nacionaliza um país ou alguns países, é o que faz ele ser único, e claro, nosso meio de comunicação, sem ele ficariamos perdidos.” (AP43) AP04:“A língua portuguesa é a nossa língua e também o nosso jeito de escrever...” (AP12, AP24, AP33 e AP41.) AP09: “Seria um dos patrimonios principais de toda a nação, o idioma.” (AP05, AP21 e AP36) AP18:“É uma ótima maneira de você fala ou interagir, mas como todos nós sabemos a língua portuguesa tem sua maneira de ser formal.” AP20: “Um meio de comunicação.” (AP02, AP03, AP07, AP11, AP13, AP16, AP22, AP23, AP25, AP26, AP28, AP29, AP35 e AP40) AP27: “É a forma linguística que usamos para nos comunicar, com diferenças de gírias e sotaques.” AP31: “é uma coisa importante, é uma língua que devemos aprender, porque sem essa língua, não tinha como nos comunicar.” (AP14, AP47, AP37 e AP44) AP32: “é um estudo da fala.” AP38: “matéria ensinada nas escolas.” AP46: “É uma língua com um gramática complicada de aprender rápido, uma língua única.” AP42:“É a língua que os brasileiros falam, e que todos aprendem na escola, no decorrer dos anos.” (AP06, AP10, AP15, AP17, AP30, AP39 e AP45) Fonte: elaborado pela autora (2018) 62 Gráfico 1- “Para você, o que é a Língua Portuguesa?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Cerca de 50% dos alunos afirmaram que a língua é um meio de comunicação. Entretanto, a partir do exposto acima, percebe-se que houve respostas peculiares no que tange ao conceito de língua, ao expressarem que a língua, na verdade, é um estudo da fala e uma matéria ensinada na escola. Além de exporem que a língua portuguesa possui uma gramática complicada e que deve ser aprendida na escola, revelando a visão de que a língua se enquadra no ambiente escolar como uma disciplina a ser estudada. Ora, vê-se aqui uma visão de língua como “gramática complicada” revelando que, no entendimento do aluno, está cristalizado o entendimento de “gramática como metalinguagem”, e não como a associação sintagmática do léxico que permite a comunicação entre os falantes da língua materna. O aluno usou sem maiores problemas a gramática da língua portuguesa para comunicar que a “a língua portuguesa possui uma gramática complicada”. Ele usa a gramática internalizada como instrumento cotidiano de comunicação para expressar sua dificuldade em utilizar a gramática prescritiva ensinada na escola ao ater-se, predominantemente, a questões classificatórias conceituais, quer dizer, metalinguísticas. Apontando, desse modo, o caráter formal da língua portuguesa, como também as diferenças existentes 63 na língua materna. Houve ainda um reconhecimento da língua como sendo a representação cultural de um povo. É notável perceber, logo, o reconhecimento dos estudantes no que se refere ao conceito de língua, levando em consideração que as respostas variaram, ou seja, apesar de a maioria dos discentes afirmar que a língua é um meio de comunicação, houve oito alunos que declararam ser a língua a fala dos brasileiros estudada na escola. Ademais, outros cinco estudantes afirmaram que se deve aprender a língua, para o ato comunicativo ser efetuado. Eles também não se esqueceram de dizer que a língua portuguesa representa o jeito de escrever, como também é um patrimônio da nação, é a cultura. Além de ser citada como sendo uma matéria ensinada nas escolas, bem como um estudo da fala. Essas assertivas esclareceram que os discentes compreendem a importância da língua para a sociedade e que é o principal meio de comunicação que proporciona a interação entre os falantes, sendo considerada, por eles, inclusive, um patrimônio cultural. A segunda questão “Você acha importante estudar a Língua Portuguesa? Por quê?”, por sua vez, abordava a importância de se estudar a língua portuguesa. Diante desse questionamento, os discentes responderam o seguinte: Quadro 5 - “Você acha importante estudar a Língua Portuguesa? Por quê?” AP01: “Sim para melhora a pronuncia das palavras” (AP39) AP18: “Sim, por que atraves do estudo da língua portuguesa podemos saber mais e fala certo sem erros na escrita ou ate mesmo em um dialogo.” (AP23) AP27:“Sim, porque assim aprendemos a melhor forma de nos expressar e principalmente escrever (sem confusões entre “agente”, “a gente” nas mensagens de texto)” (AP15 e AP43) AP37: “Sim. Por quê ás vezes erramos em textos e nós precisamo melhorar o nosso gramatical” AP38: “Sim. Para nos alfabetiza-mos, escrever e falar corretamente.” (AP04, AP05, AP22, AP40 e AP47) AP41:“Sim. Pois ensina você a melhorar sua escrita no português.” AP02: “Sim.” (AP06) AP03: “Sim, para se comunicar melhor.” (AP25 e AP26) AP12: “Óbvio. Como dito antes, é uma forma de nos comunicarmos, e sem ela não iríamos conseguir.” (AP09, AP14, AP20, AP30, AP31 e AP36) AP19:“Sim. Para que venhamos a ter uma comunicação mais ampla e limpa de erros.” AP29: “Sim, para tornar a comunicação algo mais simples e prático.” AP17: “ Sim, só pra ficar uns informando sobre o que é, é entender sobre o assunto.” AP21: “Sim, por que quanto mais aprendermos a nossa lingua sera melhor para nois e para nosso futuro.” (AP07 e AP13) AP28: “Sim, para aprendermos cada vez mais.” (AP11, AP16, AP33, AP35 e AP45) 64 AP46: “Sim, para aprender e saber sua origem, regra.” AP32: “Sim, aprender a língua portuguesa nos ajuda aprimorar o vocabulário” (AP10, AP24) AP42: “Sim, facilita muito na hora de conversar com as pessoas, e ajuda muito em algumas oportunidades de emprego”. AP44: “Sim, claro. Se você chegar na fase adulta sem ter um nível decente, você não conseguirá ser um cidadão na sociedade.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 2 - “Você acha importante estudar a Língua Portuguesa? Por quê?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Diante dos dados expostos, percebemos que os estudantes acham importante estudar a língua portuguesa para aprimorar o vocabulário e, assim, poderem se comunicar melhor, como também, para escreverem e falarem corretamente. Dentre essas respostas, 33% dos estudantes afirmaram que é relevante estudar a Língua Portuguesa pelo fato da escola ensinar o uso “correto” da fala e da escrita. Tal entendimento denota que os alunos possuem a visão de que não sabem falar, de que não sabem escrever e de que, principalmente, não sabem se comunicar. Isso é compreendido por Bagno (2011) como sendo um dos mitos: 65 “português é muito difícil.” Segundo ele, a escola acaba propagando este mito, visto que o ensino tradicional é mais pautado nas regras gramaticais do que no uso brasileiro do português. Sendo, portanto, fundamental, na visão dos discentes, frequentar a escola para conhecerem melhor a própria língua, para aprenderem mais sobre a língua portuguesa. Língua esta, que eles usam, diariamente, para interagirem com a sociedade. Em se tratando de sociedade, ainda houve um aluno que associou o estudo da língua à noção de cidadania, como se a pessoa, sem um “nível decente”, não pudesse se tornar um cidadão. De acordo com o gráfico acima, nota-se que a necessidade de falar e de escrever “corretamente” foi a mais citada pelos discentes, como um fator determinante para estudar a língua portuguesa na escola. Isso revela, de fato, que os estudantes ainda veem como “erros” as inadequações, ou melhor, as variações que ocorrem na fala e na escrita. Além disso, sete alunos ressaltaram que é importante estudar a língua portuguesa, por ser uma forma de comunicação. Outros sete alunos, por sua vez, declararam que é fundamental aprender a origem e as regras da língua portuguesa. Outros estudantes ainda apresentaram mais justificativas relevantes para o estudo da língua materna, como por exemplo: a melhoria da comunicação e o aprimoramento do vocabulário. Não se pode deixar de frisar, também, que alguns discentes demonstraram certa preocupação quantoao futuro e quanto ao alcance de um emprego, crendo, portanto, que estudar a língua portuguesa é primordial para o futuro profissional deles. A atividade possibilitou concluir que os discentes possuem a visão, até então construída e reforçada em sua trajetória escolar, do uso “correto” da língua portuguesa, tanto da fala, quanto da escrita. Esse uso “correto”, por sua vez, para eles, é proporcionado pela escola, isto é, deve ser aprendida, como se eles não soubessem utilizar a língua materna adequadamente. Afirmaram, inclusive, que a Língua Portuguesa é uma matéria ensinada nas escolas e que é difícil compreendê-la, devido a sua gramática, como ressalta o AP46: “É uma língua com um gramática complicada de aprender rápido, uma língua única.” Reitera-se aqui o entendimento da língua ensinada na escola como metalinguagem. Além disso, fazem associação do estudo da língua à garantia de um bom futuro e, consequentemente, de um bom emprego, visto que a sociedade exige que as pessoas falem e escrevam “bem”. Esta exigência, de fato, existe, e se explicita, por exemplo, a partir das competências do Exame Nacional do Ensino 66 Médio – ENEM, através das quais, exige-se que os estudantes escrevam de acordo com a ortografia da língua portuguesa para atingirem uma boa nota na redação e, consequentemente, poderem concorrer a uma vaga no nível superior de ensino. Outra situação comentada pelos discentes é sobre a relação entre um conhecimento favorável sobre a escrita adequada da língua materna e a cidadania, como afirma o AP44: “Sim, claro. Se você chegar na fase adulta sem ter um nível decente, você não conseguirá ser um cidadão na sociedade.” É importante deixar claro que esse “nível decente” refere-se a falar e a escrever “corretamente”, conforme as normas da gramática prescritiva. A primeira atividade do Módulo 1, identificada como Atividade 1 – Módulo 1 (A1-M1), realizada no dia 07 de fevereiro de 2018, com a presença de 41 estudantes, iniciou-se com a apresentação do texto “Sñor”, conforme anexo B (p.106), trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, Dom Manuel, sobre a chegada dos portugueses no Brasil. Em seguida, solicitamos que os alunos copiassem o referido texto. Enquanto copiavam, eles iam tecendo alguns comentários, como: “Professora, que texto é esse?”, “Não tô entendendo!”, “Que língua é essa?”, “É assim que se escreve mesmo?”, “Valha, que texto estranho!”. Esta atividade tinha o objetivo de apresentar aos alunos que a língua materna sofre alterações ao longo do tempo. Após a cópia do texto “Sñor”, os estudantes responderam à seguinte pergunta, conforme A1 – M1 (p. 125): “A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? O que vocês acham?” Todos os alunos responderam que “NÃO”, demonstrando reconhecerem que a língua portuguesa pode sofrer alterações ao longo do tempo. A maioria deles, além de responderem que “não”, também justificaram o posicionamento, através das explicações abaixo: Quadro 6 - “A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? o que vocês acham?” AP02: “Não, porque dar para perceber que tem algumas palavras que não tem escrita como a de hoje em dia.” AP16: “Não, só a escrita que mudou.” (AP19) AP23: “Que podemos nos comunicar e escrever melhor com outras pessoas” (AP40) AP36: “Não, pois algumas palavras eram escritas e pronunciadas diferente.” (AP21) AP03: “Não.” (AP08, AP38, AP45) AP05: “Não, no Brasil já existia a língua Tupi antes do português, porém, este também já passou e passa por várias mudanças e sotaques (Portugal – Brasil - Angola)” AP27: “Não, que ao longo do tempo com gírias e interferências de outras línguas, houve 67 auterações, assim como em distância, como a diferença linguista de Br.e Portugal.” AP30: “Não, agora não e a mesma mas e mais facil de entender por conta que já estamos acostumado.” AP42: “Não, pois existiam outras línguas e ao longo do tempo foi se aprimorando para nossa linguagem.” (AP06, AP28, AP31) AP43: “Não, ao longo do tempo ela foi aprimorada e facilitada, alem de que e la surgiu do latim que foi modificado até o português.” (AP14, AP15, AP18, AP33, AP39) AP10: “Não, ao longo dos anos a língua foi mudando, e se continuasse a mesma eu acho quer nem todo mundo entenderia o que a pessoa estava falando.” (AP24) AP13: “Não, pois teve evolução ao longo do tempo.” (AP07, AP20, AP22) AP29: “Não, ela sempre muda com o passar do tempo por causa do povo.” AP32: “Não, ela se modificou.” (AP04) AP11: sem resposta. AP25: “Não. Ela mudou bastante e até hoje costuma ser atualizada.” (AP12, AP37, AP46) AP26: “Não, com o tempo foi adicionar regras para o que servia cada palavra especificado” (AP01 e AP44) Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 3 - “A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? O que vocês acham?” Fonte: elaborado pela autora (2018) (conclusão) 68 Diante dos comentários acima, é possível concluir que os discentes compreendem a evolução da língua no decorrer do tempo, ao enfatizarem que houve mudanças tanto na fala, quanto na escrita, ressaltando que, apesar das influências de outras línguas, com o passar do tempo, a língua foi aprimorada, proporcionando uma comunicação mais fácil, ao ser atualizada. A partir da visualização do gráfico, é possível perceber que 29% dos alunos explicaram que a língua materna possui influências de outras línguas, está sempre se aprimorando e tornando-se mais fácil. Analisando as respostas dos estudantes vemos que eles acharam a leitura difícil do texto “Sñor”, concordando que a linguagem atual é mais fácil de compreender. Outros estudantes, mais precisamente, nove alunos, afirmaram que a língua portuguesa evolui com o tempo. Sete discentes, ainda, declararam que as alterações linguísticas ocorrem tanto na fala, quanto na escrita. Mais quatro estudantes, por sua vez, responderam que a língua muda bastante e está em constante atualização. Apesar de a maioria da turma esclarecer as suas afirmações, houve quatro discentes que preferiram não fornecer maiores explicações e, simplesmente, responderam que a língua não foi sempre a mesma, sem detalhar os posicionamentos deles. Para concluir, três alunos reconheceram o surgimento de regras na língua materna. Apesar dos alunos sentirem dificuldade ao interpretarem o texto “Sñor”, eles compreenderam que a língua muda com o passar do tempo, como afirmou o aluno AP10: “[...], ao longo dos anos a língua foi mudando, e se continuasse a mesma eu acho quer nem todo mundo entenderia o que a pessoa estava falando.”. Essa assertiva denota também o entendimento no tocante à mudança linguística, a partir dos contextos dos falantes, quando afirma que se a língua não mudasse, os falantes não a entenderiam, visto que a língua é construída e reconstruída cotidianamente, de acordo com os contextos das variadas interações dos falantes, conforme ressalta Bagno (2007). Após a resolução da segunda questão da A1–M1, a professora pesquisadora fez um breve relato sobre a biografia de Pero Vaz de Caminha, bem como sobre o contexto no qual a carta dele foi escrita, conforme A1 –M1, (p.125). Em seguida, através da seguinte indagação aos estudantes: “O texto ‘Sñor’ é compreensível? Por quê?”, demos início à interpretação do texto “Sñor”. Assim, seguem as respostas dos discentes: 69 Quadro 7 - “O texto ‘sñor’ é compreensível? por quê?” AP03: “Não, porque a escrita está errada.” AP06: “Não, porque tem certas palavras que é difícil traduzir, por isso eu não compreendo esse texto.” (AP10, AP20, AP31, AP45) AP07: “Não, pois a forma em que se encontra confunde os leitores.” (AP04, AP11, AP22, AP23, AP28) AP12: “Não. Como a escrita é antiga e já passou por mudanças, comparada a hoje, é bem difícil”. (AP15, AP33) AP13: “Não, pois não está escrito no idioma que falamos” (AP32) AP24: “Não, pois não consigoentender algumas palavras.” (AP42) AP36: “Não em todas as partes. Apesar de algumas palavras estarem escritas “corretamente”, a maioria está escrita errado para o português atual.” AP39: “Não porque e diferente da linguagem atual” (AP14, AP18, AP29) AP01: “Vamos dizer que é considerável. por ele ser o antigo português tem algo no qual você entende.” (AP43, AP44) AP02:“Mais ou menos; porquê tem algumas palavras que são dificeis de pronunciar.” (AP05) AP16: “Mais ou menos. Por que é muito diferente de hoje.” (AP46) AP25: “Em partes, nele há palavras que não consegui compreender.” (AP26, AP40) AP21: “Sim, a varías coisas no textos que da para comprender, por que e a lingua portuguesa a varios anos atraz.” (AP27, AP38) AP30: “Sim, porque fala como era eles.” AP37: “Sim. Em algumas palavras não se modificaram, mas outras palavras hoje em dia elas são diferentes.” (AP08, AP19) Fonte: elaborado pela autora (2018) (conclusão) 70 Gráfico 4 - “O texto ‘sñor’ é compreensível? Por quê?” Fonte: elaborado pela autora (2018) De uma forma geral, ou seja, 53% dos estudantes demonstraram não compreender o texto em análise “Sñor”, por determinados motivos, como por exemplo, o referido texto ser constituído por palavras antigas da língua portuguesa, dificultando, assim, a compreensão, por não ser um texto atualizado. Além disso, alguns estudantes afirmaram até que o texto tinha palavras “erradas” ou, até mesmo, que foi escrito em outro idioma, diferentemente do português. Todavia, alguns discentes afirmaram compreender o texto parcialmente, por ser do antigo português, apesar de conter algumas palavras incompreensíveis. Em contrapartida, ainda houve estudantes que compreenderam o texto, visto que foi escrito com o português parecido com a língua portuguesa atual. 71 Conforme está exposto no gráfico acima, é possível detectar que 24 estudantes não conseguiram compreender o texto “Sñor”, sendo subdivididos, de acordo com as seguintes explicações: sete estudantes não compreenderam, devido o texto ser escrito a partir do português antigo; outros sete alunos demonstraram dificuldade de compreensão, por não conseguirem traduzir as palavras para a língua portuguesa atual; bem como outros seis alunos não compreenderam porque o texto estava confuso; ainda houve dois discentes que não conseguiram compreender o texto, pelo fato do texto está com a escrita “errada”, demonstrando, assim, que, para eles, o diferente constitui um erro. Esta diferença, na verdade, representa as alterações pelas quais a língua passa, construindo, portanto, a própria história. Assim, segundo Ilari e Basso (2011), a língua deve ser pensada como uma realidade dinâmica e em constante mudança. Entretanto, esta visão não é muito trabalhada nas escolas, fazendo com que alguns discentes identifiquem essas mudanças como erros. Por fim, dois alunos, por sua vez, afirmaram que a falta de compreensão ocorreu porque o texto em análise estava escrito em outro idioma, diferentemente do português. Dez discentes, todavia, assimilaram parcialmente a ideia do texto, visto que este estava escrito no antigo português, segundo declararam três alunos. Contudo, mesmo havendo vocábulos difíceis, dava para entender algumas palavras, de acordo com cinco estudantes. Outros dois discentes compreenderam parcialmente, pois o texto era diferente do português atual. Além disso, sete alunos entenderam o referido texto, por conter palavras compreensíveis e por falar dos índios. Após uma análise sobre a compreensão do texto “Snõr”, os discentes fizeram observações sobre a escrita desse texto, respondendo a seguinte questão: “O que se pode observar na escrita do texto ‘Sñor’?”, conforme A1 – M1, p. 125. As respostas foram as seguintes: 72 Quadro 8 - “O que se pode observar na escrita do texto ‘sñor’?” AP01: “Que é uma escrita bem inferior nos dias de hoje, pois não tem regras de escritas que temos hoje para determinar muitas situações.” (AP44) AP06: “Que existem palavra que hoje se traduz de maneira diferente.” AP07: “que ele não está escrito na norma-padrão como estamos acostumados.” AP26:“Que atualmente, essa pessoa seria considerada analfábetica, por que as regras estão todas erradas e as palavras.” AP36:“Está escrita de forma errada para os padrões do português atualmente.” (AP20, AP23, AP32, AP37, AP40, AP46) AP38: “diferente, pois hoje estaria errado e na época estaria correta”. AP02: “A forma da escrita das palavras, e etc..” AP19: “Algumas palavras” AP04: “As pronuncias da palavras e também o modo de como escrevia” AP27:Que a forma da escrita é muito mais parecida com a sonoridade das palavras. (AP03) AP05: “sinais, objetos e letras não mais usados hoje” AP08: “Que ela não é uma escrita atual.” (AP14, AP18, AP33) AP15: “na maneira de se escrever muito diferenciado de hoje em dia a maneira de pronuciar as palavras são bem diferente.” (AP25, AP31, AP42) AP16: “Que a escrita foi se aprimorando ao decorrer do tempo.” AP30: “que tem palavras escritas da maneira que escrevemos hoje em dia e outras de antigamente.” AP10: “Que a escrita é bem diferente e difícil de entender” (AP22, AP24, AP28) AP13: “É uma escrita diferente, mas um pouco compreensível” AP21: “Que ao longo da historia a nossa lingua era bastante diferente, tanto na escrita quanto na lingua.” AP11: “Que ela é informal” AP12: “Uma carta de uma viagem que ele fez, provavelmente, para um lugar aonde havia índios.” AP29: “É mais formal do que a escrita atual.” (AP39, AP43) AP45: “que não é uma escrita muito legal” Fonte: elaborado pela autora (2018) 73 Gráfico 5 - “O que se pode observar na escrita do texto ‘sñor’?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Essas respostas revelam que os estudantes reconheceram que a escrita do texto em análise faz parte de um período remoto e que, por isso, é uma escrita diferente da escrita atual da língua portuguesa, sendo até considerada uma escrita formal. Entretanto, alguns discentes, mais precisamente 27% deles, entenderam que a escrita não era somente diferente, mas sim, “errada”, sem regras e, portanto, inferior em relação à atualidade da língua materna, deixando claro o enraizamento da noção de “erro” dos alunos perante a própria língua. Segundo Bagno (2007), o “erro” na língua consiste em qualquer situação que foge do modelo estabelecido pela Gramática Tradicional, devido a isso, os estudantes acabam desconhecendo a existência, bem como a relevância das variedades linguística Em relação à escrita do texto “Sñor”, segundo o gráfico acima, percebemos que doze discentes concluíram que a escrita está “errada”, pela falta de regras gramaticais, ou melhor, pelo acúmulo de desvios ortográficos, pois se distancia da língua idealizada pela literatura consagrada e reproduzida pelo sistema escolar. É importante ressaltar que a ortografia, de acordo com Bagno (2011), advém de um decreto elaborado a partir de negociações políticas, econômicas e ideológicas. Logo, mesmo sem seguir as regras ortográficas, os falantes conseguem estabelecer a 74 comunicação. Dessa maneira, segundo Bagno (2011): “Todo falante competente de uma língua é um falante plenamente competente dessa língua, [...].” (p.149). Outros onze discentes afirmaram que a língua possui uma escrita antiga. Ademais, houve sete estudantes que acharam o texto pouco compreensível, devido a escrita ser diferente em relação à escrita atual do português. Alguns discentes, por sua vez, afirmaram que a escrita era parecida com a fala, no entanto, outros alunos a classificaram como uma escrita formal. Além disso, dois estudantes repararam, apenas, na forma das palavras. Outrossim, ainda teve estudantes que classificaram a escrita como sendo informal e não muito legal. Por fim, um aluno descreveu a escita do texto como “uma carta de viagem”.Após os alunos terem respondido a questão sobre a escrita do texto “Sñor”, realizamos uma breve explanação sobre a história da língua portuguesa, explicando que foi originada a partir do latim, mais precisamente do latim “vulgar”, que tinha esse nome por ser considerada a língua do “povão”, transformando-se em galego- português, para transformar-se na língua portuguesa. A resolução da A1 – M1, conforme anexo B (p.125), propiciou inferir que os discentes, participantes dessa pesquisa, compreendem que a língua está, constantemente, sofrendo alterações, ou seja, eles demonstraram entender que a língua portuguesa não é estática e nem homogênea. Entretanto, alguns estudantes afirmaram que o texto “Sñor” era incompreensível, por conter uma linguagem “errada” ou até confusa, visto que era um texto antigo, segundo relata o AP07: “Não, pois a forma em que se encontra confunde os leitores.”. Assim, percebe-se que, quando um texto é escrito, diferentemente dos padrões gramaticais da língua materna atual, os alunos já o caracterizam como sendo “errado” ou com uma linguagem inferior, devido à falta de regras, como respondeu o AP01: “Que é uma escrita bem inferior nos dias de hoje, pois não tem regras de escritas que temos hoje para determinar muitas situações.” Estas assertivas dos estudantes se relacionam com o que é pregado nas escolas, isto é, com o ensinamento de que para escrever bem é necessário saber gramática. Diante disso, Bagno (2011) esclarece que as gramáticas surgiram para fixar como regras as manifestações espontâneas de escritores considerados dignos de admiração. Desse modo, a gramática prescritiva ganhou espaço e passou a dominar a língua, estabelecendo, inclusive, que a escrita é superior à fala, como se a língua literária fosse a única forma de falar e de escrever. Por vezes, até chegam a afirmar que é 75 um texto escrito em outro idioma, de acordo com o AP13: “Não, pois não está escrito no idioma que falamos” As atividades referentes à variação linguística não cessaram. No dia 06 de março de 2018, foi aplicada mais uma atividade para 40 alunos, envolvendo a exibição de um vídeo, conforme Atividade 2 – Módulo 1 (A2 – M1), inserida no anexo C (p.126), com duração total de 6 minutos e 6 segundos. O referido vídeo trata de dois casais que vivem na zona rural mineira e que são amigos. Logo, um casal vai à casa do outro para fazer um convite para uma viagem. Entretanto, o dono da casa rejeita o convite, porque se sente envergonhado devido ao modo como ele fala. Após a apresentação do referido vídeo, realizamos uma breve explanação sobre o conceito de preconceito linguístico, conforme A2 – M1 (p.126). Em seguida, os estudantes responderam a algumas questões, contidas no A2 – M1, em anexo C (p.126), tais como: “Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele?”. Esse primeiro questionamento referia-se ao motivo pelo qual o dono da casa não queria viajar. Os alunos assim se manifestaram: Quadro 9 - “Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele?” AP02: “Por que era feio o seu modo de falar”. (AP23, AP35) AP04: “Porque ele falava errado e não sabia também escrever.” AP06: “Pelo jeito dele falar, não saber falar direito o português. Não.” (AP18) AP11: “Por que ele fala errado, não por que podemos fala errado mais escrever certo é muito importante” AP24: “Pelo que ele não fala direito”. (AP39) AP41: “Pois ele acha que não pode viaja pois ele acha que não fala correto. Não, pois a minha opinião é o jeito que você escreve que importa não o jeito de falar.” (AP45) AP43: “Porque ele tem medo de que o seu jeito de falar seja errado. Não, pois o importante é ser intendido”.(AP40) AP46: “Por que ele não sabe falar certo.”(AP28) AP03: “Porque ele estava com medo do jeito que ele fala; não concordo.(AP47) AP09: “Por que ele sente vergonha/medo das pessoas julgarem ele pelo seu modo de falar.” AP10: “Por conta que ele tem medo, vergonha de viajar e as pessoas achar estranho, julgar a fala dele, o modo dele falar, e não eu não concordo.” (AP12, AP14, AP37) AP19: “Porque ele está com medo do preconceito.” AP21: “Porque ele sente medo de estar com as pessoas que tem estudo e falam direito, pois ele não sabe falar corretamente/ não, pois todos devemos ser respeitados.” AP36: “Porque tem medo de ser julgado pelo seu sotaque. Sim, as pessoas são muito preconceituosas.” AP44: “Um problema que é muito comum, a vergonha pelo modo de sua fala. O preconceito linguístico é normal, nisso o pessoal que fala “errado” tem medo de estar entre os “certo”. 76 AP16: “Por quê tem um sutaque diferente e ele estava com vergonha. Não.” (AP08, AP27) AP17: “pelo jeito dele falar, Não” (AP20, AP22, AP31, AP33, AP42) AP26: “Por que tem vergonha de falar do jeito que fala. Não, por que cada nasceu em um lugar diferente, cada um tem sotaque, tem gente que não tem chance de ir a escola.” (AP05, AP07) AP30: “por conta do jeito que ele fala, não a pessoa não precisa ter vergonha do jeito que fala já que você já nasceu assim e so procurar melhorar.” AP38: “Não. Pois não precisa ter vergonha de falar.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 6 - “Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Os estudantes, ao responderem a questão acima, demonstraram, em sua maioria, isto é, 31%, que o “cumpadi” não queria viajar, porque tinha vergonha do seu modo de falar, provocando o medo de estar entre as pessoas, em virtude de falar “estranho”, de falar “errado”, de não falar “direito”, devido ao preconceito linguístico existente na sociedade. Diante disso, um aluno até afirmou que esse preconceito seria normal e que isso faz com que as pessoas que falam “errado” tenham medo de estarem entre as pessoas que falam “corretamente”. Entretanto, eles também responderam que não concordavam com essa atitude do “cumpadi”, visto que ele não deveria ter vergonha de falar, até porque, o que importa é o modo (conclusão) 77 como se escreve e, não, o modo como se fala, deixando evidente a supremacia da escrita na visão dos estudantes. Além disso, expuseram que não se deve ter vergonha de falar e que todos devem ser respeitados. No entanto, um aluno escreveu que concordava com a atitude do referido “cumpadi”, pois as pessoas são muito preconceituosas e, por conta disso, ele seria julgado pelo seu sotaque. Como a grande maioria dos alunos afirmou que não concordava com a atitude do “cumpadi”, em não querer viajar, serão expostas na legenda do gráfico abaixo, apenas as declarações dos alunos no que se referem ao(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) o “cumpadi” desistiu de viajar. Diante dos dados do gráfico acima, é perceptível que quatorze estudantes identificaram que o principal motivo pelo qual o “cumpadi” do vídeo exibido não queria viajar era porque ele tinha vergonha do modo como ele falava, já outros doze estudantes afirmaram que o outro motivo que fazia com que o referido “cumpadi” não quisesse viajar era porque ele achava que falava “erroneamente”. Além disso, ele também tinha medo de ser julgado pelas pessoas ditas letradas, segundo a opinião de onze alunos, visto que ele falava de um modo difenciado, ou seja, ele tinha medo, justamente, de sofrer por causa do preconceito linguístico existente na sociedade. Diante dessa realidade, três estudantes concordaram que o modo de falar do “cumpadi” era feio. Ainda sobre a atividade A2 – M1 (p.126), os estudantes responderam a segunda questão: “Conversar pode conversar de qualquer jeito. Você concorda? Por quê?”. As respostas, por sua vez, seguem abaixo: Quadro 10 - “Conversar pode conversar de qualquer jeito. você concorda? Por quê?” AP11: “sim, porque muitas pessoas não reparam na forma de falar” AP16: “Sim. Por que muitas pessoas vão entender.” (AP46) AP36: “Sim. Contanto que dê para entendero que é dito.” AP07: “Porque é uma coisa informal, todos podem falar do jeito que quiserem.” AP21: “Sim, porque a pessoa não é obrigada a falar como a sociedade deseja.” AP05: “concordo, pois o modo de falar interfere em pouquíssimas coisas na vida” AP20: “sim, cada um tem sua maneira de falar e devemos respeitar” (AP04, AP10, AP17, AP18, AP24, AP28, AP37, AP38, AP43, AP45) AP26: “Sim, por que cada um aprendeu de um jeito, e nasce lugares diferentes, e nós não somos obrigados a falar de um jeito padrão.” (AP09, AP22, AP27, AP44) AP06: “Sim, a gente conversa do jeito que sabe, nem todo mundo sabem bem o português.” AP08: “Sim! Não são todas as pessoas que são alfabetizadas.” (AP02, AP23, AP35) AP12: “Sim. Pois enquanto conversamos, não percebemos se erramos ou não, mas não 78 TUDO errado.” AP19: “Sim. Pois apesar dos erros conseguimos nos comunicar” AP41: “Sim, pois o que eu acho que vai importar é o jeito que você escreve.” AP47: “também não, porque falar de qualquer jeito pode ter algumas pessoas que não vão entender” (AP03, AP14, AP31, AP33, AP39, AP42) AP30: “não, porque a pessoa precisa melhorar a fala não jugando mais precisamos aprender a maneira correta.” AP40: “A pessoa fala o que quer mas o certo é falar certo. Não, porque ele deveria procurar um jeito de falar certo.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 7- “Conversar pode conversar de qualquer jeito. você concorda? Por quê?” Fonte: elaborado pela autora (2018) A maioria dos discentes, mais precisamente 80% dos alunos, concordou que, de fato, pode-se falar de qualquer jeito, porque a fala é informal e cada pessoa tem a sua forma de falar, devendo, portanto, ser respeitada. Em relação à informalidade o aluno AP07 comentou o seguinte: “Porque é uma coisa informal, todos podem falar do jeito que quiserem.” Esta afirmação revelou que o aluno reconhece a existência de situações formais e informais, afirmando que a fala é informal durante uma conversa, visto que é espontânea no momento em que está sendo produzida, diferentemente da escrita, mais presente em situações formais, sendo planejada e organizada, antes de ser exposta, de acordo com Bagno (2007). 79 Além disso, alguns estudantes afirmaram que o mais importante é escrever “certo”, visto que o modo de falar não interfere muito nas coisas da vida. Entretanto, houve alunos que responderam que não se pode conversar de qualquer jeito, pois a fala precisa ocorrer da maneira “correta” para ser melhor compreendida pelos interlocutores. Percebe-se, a partir do gráfico acima que, de uma forma geral, os estudantes acreditam que se pode falar de qualquer jeito, visto que, para dezesseis estudantes, cada pessoa tem seu jeito de falar; já, para sete discentes, mesmo com os “erros”, a comunicação acontece; enquanto que, para quatro alunos, as pessoas irão entender os vários tipos de falas; para dois discentes, por sua vez, todos podem falar do jeito que preferirem; um aluno, no entanto, enfatizou que a fala não interfere muito na vida; e, por fim, um estudante declarou que a escrita é que realmente importa. Todavia, nove discentes afirmaram que as pessoas não podem conversar de qualquer jeito, destes, sete explicaram que os interlocutores não irão compreender; e os outros dois estudantes explicaram que é necessário falar corretamente. A A2-M1 está sendo ANEXO C (p.126), portanto, continuou sendo trabalhado em sala de aula, através do seguinte questionamento: “Segundo o ‘cumpadi’ visitante, ‘escrever tem que escrever certo’. O que você pensa sobre isso?” Diante dessa pergunta, os discentes responderam o seguinte: Quadro 11 - “Segundo o ‘cumpadi’ visitante, ‘escrever tem que escrever certo’. o que você pensa sobre isso?” AP03: “Acho certo porque se escrever errado ninguem vai entender.” (AP18, AP30, AP38, AP39, AP40, AP44) AP22:”‘escrever é claro que tem ser certo, porém se fala de um jeito ele ira escrever daquele jeito” AP26: “Acho que as pessoas não são obrigadas a saber de tudo mas pelo menos o básico para conseguir se comunicar com os outros, através da escrita.” AP27: “Coisas como ‘agente’ invés de ‘a gente’ ou ‘nós vai’ não devem ser permitidas em nenhum texto para facilitar a comunicação” AP36: “A escrita é diferente da fala, para ocorrer o entendimento é importante escrever certo” (AP19) AP05: “Concordo com o comentário.” (AP14, AP17, AP20) AP07: “Que ele está certo, fala errado todos falam e etc.” AP08: “Nem todas as pessoas sabem escrever certo. Mas sim! Tem que escrever certo.” AP10: “Sim, todos nós temos que escrever certo, mesmo não sabendo muito, temos que nos esforçar pra escrever bem.” (AP11) AP21: “Sim, eu acho que isso é super importante para as pessoas conseguirem viver em sociedade.” (AP04, AP28) AP31: “é bom por causa que vai ajudar em algo no futuro” (AP42) AP16: “É ele está certo, escrever tem que escrever certo e falar pode falar do jeito que você 80 sabe.” AP41: “Sim. O jeito de falar não vai prejudicar em nada já a escrita pode prejudicar.” AP45: “Concordo com ele, pois fala errado nos todo falamos mas na escrita temos que escrever direito” AP37: “É comum falar errado e escrever errado também é. Mas, em situações temos que escrever certo. AP43: “Sim pois na fala usamos tons de voz que ajudam e a escrita fica esquisita dessas falas.” AP46: “Escrever certo é o apropriado para escrever cartas, bilhetes, mensagens etc... pois não vai ser da mesma forma que a pessoa vai entender se ele falar.” AP47: “Escrever certo concerteza é certo e falar também é certo.” (AP12) AP09: “Sim. Por causa das normas de escrita e das regras do português.” AP35: “Eu acho errado, pois nem todas as pessoas são alfabetizadas.” (AP02, AP23) AP33: “Acho errado pois você tem que escreve do jeito que as pessoas entendam” AP24: “Acho errado.” AP06: “A gente escreve do jeito que sabe, sendo certo ou errado.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 8 - “Segundo o ‘cumpadi’ visitante, ‘escrever tem que escrever certo’. o que você pensa sobre isso?” Fonte: elaborado pela autora (2018) (conclusão) 81 A análise das respostas dos discentes proporcionou perceber que apenas uma minoria respondeu que as pessoas não precisam escrever “corretamente”, visto que as pessoas têm o direito de escrever do jeito que sabem, posto que nem todo mundo é alfabetizado. Entretanto, a maioria dos estudantes afirmou que as pessoas devem escrever de modo “correto”, porque essa atitude é a mais correta; porque escrever “corretamente” facilita a compreensão; porque a escrita “correta” proporciona um bom futuro e a vivência na sociedade. O gráfico acima apresenta as justificativas dadas pelos alunos sobre a obrigação de escrever “certo” ou não. Diante dos referidos dados, percebe-se que 34 estudantes consideraram que escrever “corretamente” é a atitude mais condizente com a realidade. Segundo Bagno (2011), a realidade linguística brasileira é baseada no ensino tradicional que se dedica muito à língua escrita, transmitindo aos estudantes a ideia de que a língua só pode ser considerada correta, quando for prescrita e descrita pela gramática prescritiva, fazendo com que os discentes acreditem nesse preceito. Dentre estes estudantes, doze alunos afirmaram que essa atitude possibilita uma melhor compreensão da comunicação; oito estudantes, simplesmente, concordaram com o comentário do “cumpadi”; cinco discentes, por sua vez, acharam que escrever “certo” é fundamental para se viver em sociedade; já três alunos afirmaram que na fala, pode-se até “errar”, porém, na escrita, não; outros três estudantes justificaram que a escrita deve ser “correta” nos gêneros textuais escritos; todavia, dois discentes expuseram que tanto escrita, quanto a fala devem ser corretas; por fim, um aluno afirmou que seria importante respeitar às regras gramaticais. Já quatro educandos demonstraram discordardessa atitude de escrever “corretamente”, expondo que nem todas as pessoas são alfabetizadas, como também, que a escrita deve ocorrer de modo que as pessoas a entendam. Vale salientar ainda que essa discussão seguiu adiante, a partir da seguinte questão do A2 – M1 (p.126): “Você fala do jeito dos ‘cumpadis’ do vídeo? Explique.” Os discentes, por sua vez, responderam a essa pergunta, da seguinte maneira: 82 Quadro 12 - “Você fala do jeito dos ‘cumpadis’ do vídeo? Explique.” AP05: “Não, pois o jeito de falar deles é mais para o sotaque da região deles” (AP08, AP10, AP11, AP27, AP30, AP31, AP41, AP42, AP43, AP45, AP47) AP14: “não, porque eles tem sotaque e nois não.” AP16: “Não. Por quê eu fui aprendendo a falar de outro jeito.” (AP18) AP26: “Não, mas eu também tenho meu sotaque cearense, eles devem ser do interior de Minas Gerais.” AP36:“Não, não tenho esse sotaque, mas de certa forma ainda falamos a mesma língua” AP02: “Não” (AP17, AP23, AP24, AP28, AP35, AP46) AP04: “Não, pois eu continuo estudando e praticando o português correto.” (AP12) AP06: “Não, pois eu já sei o português, mas tem certas palavras que erro.” AP09: “Não. É até engraçado porque eu procuro sempre falar ‘certo’, no caso a linguagem coloquial.” AP21: “Não, pois eu aprendir da forma correta” AP33: “Não, acho que devemos fala certo pra passa uma boa impressão” AP39: “Não, talvez por que eu estudei e a causa dele pode ser que ele não tenha tido.” (AP40) AP20: “Não, pois não convivi com meus parentes do interio” (AP22) AP38: “Não. Pois a fala da cidade é um pouco diferente da zona rural.” (AP03, AP44) AP19: “Não. Pois a maioria foi criado sem uma auxilio” AP07: “As vezes, talvez por está falando rápido ou algo assim” AP37: “Não muito, mas costumo sim a usar esse jeito de falar.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 9 - “Você fala do jeito dos ‘cumpadis’ do vídeo? explique.” Fonte: elaborado pela autora (2018) 83 As explicações dos estudantes, a partir do que foi exposto acima, apresentaram que 95% dos discentes não falam do modo como os “cumpadis” do vídeo apresentado interagiram. Apesar de configurarem conhecimento referente à existência de variados modos de falar, de acordo com a região dos falantes. No entanto, alguns estudantes afirmaram que não falavam do modo dos “cumpadis” do vídeo, porque tiveram acesso ao estudo, logo aprenderam a falar adequadamente. Além disso, os discentes também demonstraram certa estigmatização, ao afirmarem que não falavam daquela maneira, porque moravam na cidade e aquele modo de falar era dos moradores da zona rural. Tal concepção revela que os estudantes conseguem identificar as diferenças linguísticas advindas a partir da origem dos falantes, como, por exemplo, o comentário do aluno AP26: “Não, mas eu também tenho meu sotaque cearense, eles devem ser do interior de Minas Gerais.”. Esta assertiva refere-se ao conhecimento sobre a variação diatópica presente na Língua Portuguesa, podendo ser identificada, através do lugar de onde provém os falantes, segundo Bagno (2007). Assim, no Brasil, os falantes mineiros, por exemplo, apesar de falarem a língua portuguesa, como os demais falantes brasileiros, apresentam determinadas peculiaridades linguísticas típicas de moradores do Estado de Minas Gerais. Isso ocorre também com os falantes provenientes de outros Estados, isto é, em cada lugar do nosso país, há variações linguísticas características que representam o modo de falar dos falantes, de acordo com a procedência geográfica de cada um. As interpretações dos alunos no tocante ao modo de falar dos “cumpadis” do vídeo, em sua maioria, demonstraram que os estudantes não falam da mesma maneira que os personagens do referido vídeo, apresentando variadas justificativas. Assim, dezessete educandos declararam que não falavam do mesmo modo dos “cumpadis”, porque estes apresentavam um sotaque diferenciado em relação ao jeito de falar dos discentes. Quinze estudantes comentaram que, por frequentarem a escola, sabiam falar melhor do que os “cumpadis” do vídeo. Além disso, outros cinco alunos afirmaram que não falavam do modo desses personagens, visto que moravam em zonas urbanas. Um aluno, por sua vez, expôs que os “cumpadis” não tinham nenhum auxílio, logo falavam de forma diferenciada em relação às demais pessoas. E, por fim, dois estudantes escreveram que, por vezes, falavam igualmente aos “cumpadis”. 84 A realização dessa atividade elucidou que os discentes precisavam compreender melhor a noção de “erro”, no tocante aos variados usos linguísticos. Isso se reflete, inclusive, na fala do aluno AP06:“Não, pois eu já sei o português, mas tem certas palavras que erro.” Diante desse comentário, percebe-se que o discente conhece a língua materna, porém, afirma cometer “erros”, apresentando uma concepção estabelecida pela escola. Esta colocação, segundo Bagno (2007), é inadequada, visto que a língua não possui “erros”, mas sim, variações linguísticas, organizadas sintaticamente para permitirem a interação social. E, por conseguinte, entenderem as situações que envolvem o preconceito linguístico, visto que eles expuseram, através das respostas, que é muito importante escrever “certo”, criticando o modo de falar do “cumpadi” do vídeo assistido: “Por que era feio o seu modo de falar.” (AP02). Essa declaração enfatiza que ao invés do aluno reconhecer a variação linguística utilizada pelo personagem do vídeo, ele ainda a estigmatiza. Dessa maneira, é perceptível que a escrita é inserida em um patamar superior à fala, através de declarações dos discentes ressaltando que é preciso escrever “certo” para se viver em sociedade, ou até mesmo, para passar uma boa impressão, como afirmou o AP33: “Não, acho que devemos fala certo pra passar uma boa impressão.” A construção dos dados da pesquisa continuou a partir da Atividade 3 do Módulo1, conforme documento em anexo D (p.127). Esta atividade, por sua vez, baseou-se na música “Asa Branca” do cantor e compositor nordestino Luís Gonzaga, composta por este em parceria com Humberto Teixeira. O objetivo foi o de analisar a visão dos educandos sobre a linguagem utilizada na letra da referida canção, como também perceber se eles conseguiam relacionar o uso linguístico com a escolaridade, a origem, a classe social e a faixa etária do falante. Além disso, eles teriam que identificar em que contexto a linguagem da música poderia ser utilizada. Então, antes da aplicação desse instrumental, ocorrida no dia 15 de maio de 2018, contando com a participação de 37 estudantes, os discentes ouviram a canção “Asa Branca” e, em seguida, explanamos sobre a biografia de Luís Gonzaga, de acordo com o que está exposto na A3 – M1 (p.127). Dessa maneira, a resolução da A3 – M1 (p.127) teve início com a seguinte pergunta: “Para você, a Língua Portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? Por quê?”. Assim, os alunos responderam, conforme o que está exposto no quadro abaixo. 85 Quadro 13 - “Para você, a língua portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? por quê?” AP02: “Inadequada porque o falante não fala da maneira correta.” (AP04, AP18, AP23) AP06: “Inadequada, porque ele fala algumas palavras erradas, pois no certão la tem o sutaque diferente. (AP12, AP37, AP40, AP43, AP44) AP19: “Inadequada, pois não é a padrão” (AP25, AP36) AP30: “Inadequada, pelo motivo das escritas” AP38: “Inadequada, pois um sertanejo fala de um jeito meio errado” (AP39) AP05: “adequada, pois torna seu estudo mais dinâmico” (AP31, AP45) AP07: “adequada, por causa da pessoa que fez a música” (AP17, AP33) AP08: “Inadequada,” AP10: “Adequada, pois é a forma que ele fala, que ele canta” (AP13, AP14, AP28) AP11: “inadequada, por que ele escreve tudo da forma que fala.” (AP16) AP15: “Inadequada, Porque essa era uma linguagem utilizada antigamenteneste tempo o nível de escola para apredizagem era baixo.” (AP21) AP20: “adequada, porque essa linguagem já é utilizada na região” (AP27, AP29, AP32) AP26: “Depende, porque nem todo mundo entende o que ele fala na música então depende muito.” AP42: “Inadequada, pois poucas pessoas entendem o que ele quer dizer.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 10 - “Para você, a língua portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? Por quê?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Diante do quadro acima, percebemos que a maioria dos alunos considerou a linguagem da canção “Asa Branca” como sendo inadequada, justificando que 86 apresentava “erros” em relação à ortografia oficial, tendo em vista que o eu lírico é um sertanejo e possui um sotaque diferenciado. Essa afirmação demonstra o preconceito linguístico enraizado na educação dos alunos, diante dessa realidade, Bagno (2011) reforça a importância de haver algumas cisões nas antigas doutrinas referentes à gramática prescritiva, como por exemplo, a aceitação de que não existe “erro” na língua, isto é, não se deve confundir erro de português com simples erro de ortografia. Ademais, explicitaram que o eu lírico escrevia da forma que falava, utilizando uma linguagem antiga e difícil até de ser compreendida. Entretanto, alguns alunos afirmaram que o linguajar era adequado, pois representava a fala utilizada pela região do eu lírico e, portanto, era a forma como ele cantava. A imagem acima aborda com mais detalhes as assertivas estudantis no que se refere à primeira questão da A3 – M1 (p.127). Percebemos que 22 alunos, ou seja, aproximadamente 60% deles analisaram que a linguagem da música “Asa Branca” era inadequada, devido ser uma linguagem “errada” e antiga, bem como obter uma escrita igual à fala, além de ser incompreensível. Essa análise propicia o entendimento de que os alunos têm um determinado preconceito linguístico no tocante à variedade linguística sertaneja. Contudo, um grupo de catorze discentes afirmou que a linguagem da referida música era adequada, visto que era a forma de falar da região do eu lírico, tornando a canção mais dinâmica. Por sua vez, um estudante declarou que, como a música não era totalmente compreendida pela turma, não podia definir a língua como adequada nem como inadequada. A segunda questão da A3 – M1 (p.127): “Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique” buscou identificar se os discentes modificariam a letra da canção em análise, devido à variedade linguística nela presente. Os alunos responderam à indagação conforme exposto no quadro abaixo: Quadro 14 - “Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique.” AP02: “Faria alterações só em algumas palavras que estão erradas.(AP06, AP12, AP18, AP23, AP30, AP40, AP42, AP44) AP05: “pelas alterações em algumas poucas palavras, como ‘oiei’ ou ‘fornaia’ pois, no escrito, acaba ficando esquisito” (AP39) AP32: “eu colocaria tudo para a linguagem padrão” (AP37) AP04: “nenhuma, pois eu acho a música linda e que não precisa de nenhuma alteração.” (AP07, AP10, AP11, AP14, AP16, AP26, AP28, AP29, AP31, AP33, AP38, AP45) (continua) 87 AP13: “Nenhuma, pois é uma música que fala sobre o sertão” (AP43) AP19: “Não alteraria, pois é uma questão regional” (AP08, AP25, AP27) AP21: “Não, porquê essa música expressa a vida bem diferente da minha, algo que não conseguiria explicar” AP36: “Não faria nenhuma. Por mais que tenham erros na música, erros de escrita, eles constituem a alma da música” AP15: “Eu faria alteração de mudar um pouco a letra da música, porque a letra desta musica e diferente das de hoje.” AP17: (não respondeu) Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 11 - “Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique.” Fonte: elaborado pela autora (2018) O quadro deixa claro que 57% dos estudantes não modificaria a letra da música “Asa Branca”, pois compreenderam a essência da canção e a linguagem do eu lírico, valorizando, portanto, o conteúdo musical. Todavia, ainda houve alunos que responderam achar prudente modificar a letra da referida música, por ser constituída de palavras escritas “erroneamente”. A imagem do gráfico acima informa que a maioria dos educandos não modificaria a letra da música “Asa Branca”. Treze estudantes justificaram que a (conclusão) 88 canção era linda; quatro discentes, por sua vez, explicaram que a linguagem representava a região do eu lírico; outros dois estudantes mencionaram que a canção falava sobre o sertão; além de um aluno declarar que a canção expressava uma vida diferente da dele; por fim, um educando entendeu que os “erros” presentes na música constituíam a alma da referida canção. Um grupo de discentes, todavia, respondeu que seria necessário modificar a letra da música, visto que havia palavras “erradas”, conforme a opinião de nove discentes. Isso revela a ideia preconceituosa em relação às variedades linguísticas, sendo reconhecidas, pelos alunos, como erros, ao invés de serem reconhecidas como modos de falar diferenciados. Desse modo, a ortografia da canção acabou sendo mais valorizada do que mesmo a sua essência. Sobre isso, Bagno (2011) ressalta que a essência dos textos deve estar em primeiro plano em relação à ortografia, isto é, para ele, é mais relevante um texto repleto de “erros” ortográficos, mas com ideias originais e isentas de preconceitos, do que um texto que respeita todas as regras de uma gramática prescritiva, mas é constituído por ideias intolerantes, sarcásticas e debochadas. Além destes, mais dois estudantes, por sua vez, afirmaram que a letra da música era estranha; já outros dois educandos mudariam a letra da música para a linguagem padrão. Em seguida, os estudantes analisaram uma questão referente à possível escolaridade do eu lírico da canção em estudo, através da seguinte pergunta: “Qual a possível escolaridade do falante?” Para responder a essa questão, os discentes deveriam escolher entre as seguintes opções: sem escolaridade, com escolaridade ou não há relação entre linguagem e escolaridade. Assim, seguem as assertivas dos educandos. Quadro 15 - “Qual a possível escolaridade do falante?” Sem escolaridade (AP02, AP04, AP05, AP07, AP08 AP10, AP12, AP13, AP14, AP15, AP17, AP18, AP19, AP23, AP26, AP28, AP30, AP31, AP32, AP33, AP37, AP38, AP39, AP40, AP43, AP44, AP45) Não há relação entre linguagem e escolaridade (AP06, AP11, AP21, AP25, AP2, AP29, AP42) Com escolaridade (AP16, AP20) Sem comentários (AP36) Fonte: elaborado pela autora (2018) 89 Diante da análise da linguagem da música “Asa Branca”, 27 discentes afirmaram que o eu lírico dessa canção não possui escolaridade, evidenciando, assim, o desconhecimento da maioria dos discentes em relação às variedades linguísticas. Entretanto, alguns estudantes reconheceram que há uma relação entre a linguagem e a escolaridade do falante. Contudo, dois alunos afirmaram que o eu lírico tinha escolaridade. A exposição desses resultados, em números, está explicitada no gráfico abaixo. Gráfico 12 - “Qual a possível escolaridade do falante?” Fonte: elaborado pela autora (2018) De acordo com o gráfico acima, é perceptível que 27 alunos, mais precisamente 73% dos presentes identificaram que o eu lírico da canção “Asa Branca” não possui escolaridade, possivelmente devido à variedade linguística presente na música, vista pelos alunos, como “erros” na língua portuguesa. Em contrapartida, sete estudantes afirmaram que não há relação entre linguagem e escolaridade do falante. Entretanto, dois discentes afirmaram que o eu lírico possuía escolaridade. Seguidamente, os discentes analisaram a origem do eu lírico da música em estudo, através da seguinte indagação: “Onde moraria, provavelmente, a pessoa 90 que fala dessa maneira?”.Dentre as opções, encontram-se: área rural, área urbana e não há relação entre linguagem e lugar. Eis as respostas dos discentes. Quadro 16 - “Onde moraria, provavelmente, a pessoa que fala dessa maneira?” Área rural ( AP02, AP04, AP05, AP07, AP08, AP10, AP12, AP13, AP14, AP15, AP16, AP17, AP18, AP19, AP20, AP25, AP26, AP28, AP29, AP30, AP31, AP32, AP33, AP37, AP38, AP39, AP40, AP42, AP43, AP44, AP45) Área urbana (AP06) Não há relação entre linguagem e lugar (AP11, AP21, AP23, AP27) Não respondeu (AP36) Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 13 - “Onde moraria, provavelmente, a pessoa que fala dessa maneira?” Fonte: elaborado pela autora (2018) A maioria dos alunos compreendeu que a origem do eu lírico era a zona rural, conforme a tabela acima, devido à linguagem utilizada na canção “Asa Branca”. No entanto, alguns estudantes ainda afirmaram que a origem do falante não se relaciona com a linguagem dele. Vemos que 31 discentes, isto é, 84% dos alunos reconheceram que a variedade linguística utilizada na canção “Asa Branca” apresenta características de 91 um falante originário da zona rural. Embora, quatro estudantes não tenham compreendido que há uma relação entre a linguagem e o lugar de origem do falante. Mesmo assim, ainda houve um educando que identificou a zona urbana como sendo a origem do eu lírico. Ainda sobre a variedade linguística, os alunos analisaram uma questão sobre o poder aquisitivo do eu lírico da música “Asa Branca”, através da seguinte indagação: “Qual o provável poder aquisitivo desse falante?”. Eles responderam a esse questionamento, marcando uma das seguintes opções: baixo poder aquisitivo, alto poder aquisitivo ou não há relação entre linguagem e poder aquisitivo. Quadro 17 - “Qual o provável poder aquisitivo desse falante?” Baixo poder aquisitivo (AP02, AP04, AP06, AP07, AP08, AP10, AP12, AP13, AP14, AP15, AP17, AP18, AP19, AP23, AP26, AP28, AP29, AP30, AP32, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP40, AP43) Não há relação entre linguagem e poder aquisitivo (AP05, AP11, AP16, AP21, AP25, AP27, AP31, AP42, AP44, AP45) Alto poder aquisitivo (AP20) Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 14 - “Qual o provável poder aquisitivo desse falante?” Fonte: elaborado pela autora (2018) A maioria dos estudantes associou a linguagem do eu lírico ao baixo poder aquisitivo do falante, demonstrando, assim, que eles identificaram que a variedade 92 linguística utilizada na música “Asa Branca”, por estar em desacordo com a ortografia oficial da língua portuguesa, é de um falante que possui poucos recursos econômicos. Todavia, houve alunos que afirmaram não haver relação entre linguagem e poder aquisitivo. Além disso, ainda houve um estudante que relacionou a linguagem da referida canção a um falante que possuía um alto poder aquisitivo. Diante do exposto acima, temos 26 discentes, ou seja, 70% dos estudantes identificaram que a linguagem do sucesso de Luiz Gonzaga é de um falante que tem baixo poder aquisitivo. A sociedade estabelece a classificação das variedades linguísticas em variedades de estigma e de prestígio. Assim, quanto maior for a classe social do falante, bem como a sua escolarização, mais prestígio terá o seu modo de falar. Logo, quando o falante fizer parte de uma classe social menos favorecida, tiver baixa escolarização e, ainda por cima, viver na zona rural, as variedades linguísticas utilizadas por ele serão estigmatizadas, conforme Bagno (2007). É justamente isto que ocorre nesta questão analisada pelos discentes, isto é, as variedades linguísticas presentes na canção “Asa Branca” por possuírem peculiaridades advindas da zona rural, bem como apresentarem “erros” ortográficos, foram estigmatizadas pelos alunos e, consequentemente, eles afirmaram que o eu lírico teria um baixo poder aquisitivo. Em contrapartida, dez estudantes não associaram a linguagem ao poder aquisitivo. Um discente apenas afirmou que a linguagem dessa canção pertence a alguém que possui alto poder econômico. Após a análise da linguagem da música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira no tocante ao poder aquisitivo do eu lírico, os educandos buscaram identificar a faixa etária desse falante, através da pergunta: “Que tipo de falante usaria a língua dessa forma?”. Para responder a essa indagação, os discentes tinham que escolher uma das seguintes opções: criança, jovem, adulto, idoso ou não há relação entre linguagem e faixa etária. Assim, os discentes responderam o seguinte: Quadro 18 - “Que tipo de falante usaria a língua dessa forma?” Criança (AP06) Jovem Adulto (AP07, AP17, AP28, AP31, AP36, AP43, AP45) Idoso (continua) 93 (AP02, AP08, AP10, AP13, AP14, AP18, AP19, AP23, AP26, AP30, AP32, AP33, AP37, AP39, AP40) Não há relação entre linguagem e faixa etária. (AP04, AP05, AP11, AP12, AP15, AP16, AP20, AP21, AP25, AP27, AP29, AP38, AP42, AP44) Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 15 - “Que tipo de falante usaria a língua dessa forma?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Percebemos que a maioria dos discentes associou a linguagem da música em análise com a idade avançada, isto é, como se o eu lírico já fosse idoso, devido ao uso de determinadas variedades linguísticas. Entretanto, uma grande quantidade de alunos respondeu que a linguagem não depende da faixa etária, demonstrando que desconhecem a relação intrínseca entre língua e idade. Vale salientar que nenhum aluno afirmou que seria a linguagem de um jovem, como também, apenas um estudante considerou que a linguagem da música “Asa Branca” seria de uma criança. Ainda assim, alguns educandos declararam que um adulto seria o eu lírico da referida canção. O gráfico a seguir, por sua vez, objetiva os dados dessas assertivas. Os números expõem que quinze discentes, mais precisamente 43% dos discentes classificaram como idoso o eu lírico da canção “Asa Branca”, em virtude da presença de palavras típicas do linguajar característico da região sertaneja e que, 94 por vezes, faz parte do vocabulário dos sertanejos mais idosos. Esta visão dos discentes advém da presença de termos escritos semelhantemente à fala, distanciando-se da forma escrita considerada adequada e prestigiada repassada aos alunos durante o período escolar. Em contrapartida, quatorze educandos desconheceram que há uma relação entre linguagem e faixa etária. Além disso, sete discentes associaram a linguagem em estudo como sendo característica de um adulto. Para concluir, apenas um aluno achou que o eu lírico era uma criança. O item seguinte da A3- M1, conforme anexo, (p.127) referiu-se à situação mais adequada para o tipo de linguagem da música “Asa Branca” ser utilizada pelos falantes, através da seguinte questão: “Esse tipo de linguagem é mais adequado para: diálogo em casa, redação do ENEM, discurso de um político, recadinho para um colega, conversa pelas redes sociais, não usaria essa linguagem ou outra situação diferente das já citadas.” Diante desse questionamento, os alunos responderam o que será exposto no quadro a seguir. Quadro 19 - “Esse tipo de linguagem é mais adequado para...” Diálogo em casa (AP05, AP12, AP19, AP28, AP29, AP32, AP38, AP39, AP43) Redação do ENEM Discurso de um político Recadinho para um colega Conversa pelas redes sociais (AP11) Não usaria essa linguagem (AP02, AP06, AP08, AP13, AP14, AP15, AP16, AP18, AP20, AP21, AP23, AP25, AP27, AP30, AP31, AP36, AP37, AP40, AP44, AP45) Situação diferente das já citadas Assinalou o item, sem especificar a situação de uso da língua: (AP07, AP10, AP17, AP33) Pessoas que moram em área rural: (AP04, AP26, AP42) Fonte: elaborado pela autora (2018) 95 Gráfico 16 - “Esse tipo de linguagem é mais adequado para...” Fonte: elaborado pela autora (2018) O quadro acima apresentou quea maioria dos discentes não usaria a linguagem da canção “Asa Branca”, demonstrando o distanciamento entre a variedade linguística dos estudantes e a linguagem dessa música. Outros educandos, por sua vez, afirmaram que poderiam usar o linguajar da referida canção somente em casa. Ainda houve alunos que associaram a expressão musical de Luís Gonzaga às pessoas que moram na zona rural. Alguns estudantes não marcaram nenhuma das opções da questão, apenas assinalando o item que estava em branco, mas sem especificar a situação de uso da linguagem em estudo. Dessa maneira, é viável a elaboração de um gráfico, para expor, numericamente, as assertivas dos alunos. O gráfico acima expõe que vinte estudantes, mais precisamente 54% dos discentes, não usariam o tipo de linguagem da música “Asa Branca”, representando, portanto, a maioria da turma participante dessa atividade. Enquanto que nove discentes afirmaram que poderiam interagir, a partir da referida variedade linguística, em casa. Além disso, quatro discentes expuseram que o linguajar em estudo seria utilizado por pessoas provenientes da zona rural. Nesse contexto, vale ressaltar que nenhum aluno declarou que o modo de falar expresso na canção do “Rei do Baião” poderia ser utilizado em um discurso político nem em uma redação do ENEM. Assim, fica evidente que os educandos reconheceram que esse tipo de linguagem não está compatível com uma situação de formalidade. 96 Para finalizar a A3 – M1, conforme anexo D, (p.127), foi solicitado que os alunos preenchessem uma tabela, escrevendo as palavras da música que são pronunciadas diferentemente do modo como os estudantes falavam, além de informar o modo como eles utilizavam essas palavras cotidianamente. Dessa maneira, a tabela foi composta por duas colunas: “Palavras da música” e “Formas que eu falo”, conforme anexo (p.108). Para explicitar as assertivas dos discentes, segue o quadro abaixo, no qual serão informados os estudantes que selecionaram determinados vocábulos da música “Asa Branca”, bem como o modo como eles costumam falar essas palavras. 97 Quadro 20 – Variedades linguísticas: palavras da música x modo como os alunos falam PALAVRAS DA MÚSICA MODO COMO OS ALUNOS FALAM ALUNOS PARTICIPANTES Alazão Cavalo AP11, AP21, AP27, AP43 Alazão grandeza/grande AP26 Ardendo Esquentando AP26 Asseguro Seguro AP02, AP23, AP26, AP30 Braseiro Brasa AP20, AP26, AP30 Braseiro Brasileiro AP39 Espaiar Espalhar AP02, AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP10, AP11, AP12, AP14, AP15, AP16, AP17, AP18, AP20, AP23, AP26, AP27, AP29, AP30, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP42, AP43, AP44 Farta Falta AP02, AP04, AP05, AP06, AP08, AP10, AP11, AP12, AP13, AP14, AP15, AP16, AP18, AP21, AP23, AP28, AP29, AP30, AP36, AP37, AP39, AP40, AP42, AP43, AP44, AP45 fornaia Fornalha AP02, AP05, AP06, AP08, AP11, AP12, AP14, AP16, AP18, AP19, AP20, AP21, AP23, AP25 AP26, AP27, AP30, AP31, AP32, AP36, AP37, AP40, AP42, AP44, AP45 Inté Até AP02, AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP11, AP12, AP14, AP15, AP16, AP17, AP18, AP20, AP21, AP23, AP25 AP26, AP27, AP28, AP29, AP31, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP40, AP42, AP43, AP44, AP45 Oiei Olhei AP02, AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP10, AP11, AP12, AP13, AP14, AP15, AP16, AP17, AP18, AP19, AP20, AP21, AP23, AP25, AP27, AP28, AP29, AP30, AP31, AP32, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP40, AP42, AP43, AP45 Óios Olhos AP02, AP04, AP06, AP10, AP11, AP13, AP15, AP16, AP17, AP18, AP19, AP21, AP23, AP25 AP26, AP27, AP28, AP30, AP31, AP32, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP42, AP43, AP44, AP45 Prantação Plantação AP02, AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP10, AP11, AP12, AP13, AP14, AP16, AP18, AP19, AP20, AP21, AP23, AP25, AP26, AP27, AP29 AP30, AP31, AP32, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP40, AP42, AP43, AP45 Preguntei Perguntei AP02, AP07, AP08, AP10, AP14, AP16, AP17, AP18, AP23, AP27, AP28, AP29, AP30, AP33, AP36, AP37, AP39 Tamanha Tamanho AP08, AP30, AP37, AP40 (continua) 98 Tamanha tanto/tanta AP26 Vortá Voltar AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP10, AP11, AP17 AP12, AP13, AP15, AP16, AP18, AP19, AP21, AP25, AP26, AP27, AP28, AP29, AP30, AP31, AP32, AP33, AP36, AP37, AP38, AP39, AP40, AP43, AP44 Vortarei Voltarei AP02, AP04, AP05, AP06, AP07, AP08, AP10, AP11, AP13, AP15, AP16, AP18, AP19, AP21, AP23, AP25, AP26, AP27, AP28, AP29, AP30, AP31, AP32, AP33, AP36, AP37, AP39, AP42, AP44 Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 17 – Variedades linguísticas: palavras da música x modo como os alunos falam Fonte: elaborado pela autora (2018) O quadro apresenta a quantidade de alunos que escolheu determinado vocábulo da música “Asa Branca”, vocábulo este que tem como característica ser uma variedade linguística não utilizada pelos discentes. Dessa maneira, as palavras mais citadas foram: “oiei”, “inté” e “vortá”, evidenciando que os estudantes não costumam interagir através da linguagem apresentada na canção em estudo. Ademais, alguns alunos, embora compreendessem a interpretação da referida canção, ainda possuíam dificuldades em reconhecer o significado de determinadas palavras, como por exemplo: a palavra “alazão”. Essa palavra foi apresentada como sinônimo de “grandeza.” Além deste termo, outros termos foram citados pelos (conclusão) 99 educandos, com um significado distorcido, tais como: “braseiro”, sendo apresentado como sinônimo de “brasileiro”; bem como “tamanha”, com o significado de “tamanho”. Ainda nesse contexto, faz-se necessária a elaboração de um gráfico, com o intuito de mostrar, de maneira mais objetiva as escolhas dos discentes na última questão da atividade A3-M1. Diante da imagem acima, percebemos que 35 estudantes, ou seja, quase 100% dos alunos, de um total de 37, citaram a palavra “oiei” como sendo uma variedade que não faz parte do cotidiano deles, nos momentos de interação. Além dessa palavra, o vocábulo “prantação” também foi bem citado pelos discentes, isto é, 33 educandos o apresentaram, afirmando que não costumam falar dessa maneira. Vale ressaltar que outras variedades também obtiveram uma representação significativa na escolha dos alunos, ou seja, eles afirmaram que determinados termos da música “Asa Branca” não faziam parte do vocabulário deles. Nesse contexto, 32 discentes apontaram a palavra “inté”, enquanto que 31 participantes indicaram o verbo “vortá”. Ademais, 29 estudantes mencionaram a palavra “óios”, como também a forma verbal “vortarei”. Enquanto que os termos “espaiar” e “farta” foram mencionados por 28 e 26 estudantes, respectivamente. Para finalizar, os discentes apresentaram também os vocábulos “fornaia” e “preguntei”, totalizando 25 e 17 representações, respectivamente. A partir da atividade A3 – M1, conforme anexo D (p.123), é notável perceber que os discentes identificaram que a linguagem da música “Asa Branca” era inadequada por apresentar uma variedade linguística característica dos falantes sertanejos, denotando certo preconceito linguístico por parte deles. Todavia, a maioria deles afirmou que não alterariam a letra da referida canção, por reconhecerem a essência desse gênero musical. No tocante à relação da língua com os fatores extralinguísticos, os discentes demonstraram que não reconheciam a influência da escolaridade, da origem, da classe social e da faixa etária ao modo como os falantes falam. Entretanto, os educandos compreenderam que a linguagem da música de Luiz Gonzaga não seria adequada para uma situação de formalidade. Além disso, eles deixaram claro que não falavam como o eu lírico da música “Asa Branca”, listando algumas palavras da referida canção e apresentando como seria a escrita destas palavras, de acordo com a ortografia padronizada da língua portuguesa. 100 Diante dessa realidade, fez-se necessário lecionar duas horas/aulas com duração de cemminutos, sobre variação linguística, no dia 22 de outubro de 2018, contando com a presença de 41 alunos. Essas aulas foram lecionadas a partir da apresentação de slides, conforme anexo E (p. 130 a 135). Essa ação constitui a primeira atividade do Módulo 2, dessa pesquisa. Logo, essa ação foi identificada com o seguinte código: SVL–M2 (Slides Variação Linguística – Módulo 2). No decorrer da apresentação dos slides, os alunos interagiam, perguntando sobre os termos científicos da variação linguística, sobre as variedades linguísticas existentes entre os Estados brasileiros, sobre o modo de falar dos avós em relação ao modo deles, sobre o uso da língua em ambientes mais formais e em grupos de amigos. Com o intuito de verificar, com precisão, o que os estudantes aprenderam neste dia, a professora fez uma pergunta no último slide apresentado, de acordo com o anexo E (p. 130 a 135): “O que você aprendeu hoje?”. Assim, os discentes reponderam da seguinte maneira, de acordo com o quadro a seguir: Quadro 21 – “O que você aprendeu hoje?” AP12: “As diversas formas da língua portuguesa em lugares e ocasiões diferentes, tanto na escrita e na fala. E as mudanças que existe na língua.”(AP03, AP32) AP19:“Aprendi que os diversos modos de fala derivam através de um processo de adaptação, e onde você está inserido na sociedade, varia de contexto de onde você veio, onde você está e o que está fazendo, todos estes fatores influenciam e alteram o sistema de fala.” (AP05, AP22, AP36 e AP39) AP24: “Que as coisas variam em mesma classe social. Tem muitas variações nas palavras. Os modos de falar varia muito.” (AP33) AP26: “Eu aprendi que a língua é muito importante para se comunicar, que cada região dos países tem um sotaque diferente por causa de sua cultural e costumes. A língua muda todo o tempo porque as pessoas mudam as gírias e o modo de falar todo o tempo.” (AP01, AP07, AP18, AP23, AP29, AP37 e AP38) AP27: “Aprendi que a uma enorme diferença nos modos de falar em uma mesma língua. O que, deixa ainda mais sem sentido o fato de haver preconceito. Mas que ao escrever, deve- se ter coesão e coerência.” AP28: “Que em todo canto t em um jeito diferente de falar” (AP11, AP14, AP41, AP45 e AP47) AP30:“A lingua e usada para nos comunicar com varias formas de falar, pessoas de são paulo falam de uma maneira, do ceara outra forma e assim varia de pessoa para pessoa, uns falam em gírias outros falam de outras formas.” AP31: “Aprendi sobre a variação linguista e a forma de falar de acordo com o estados. Não devemos escrever da mesma forma que agente fala.” (AP10, AP20, AP42 e AP43) AP35:“Eu aprendi que a Língua se varia em 5 partes, a variação diacrônica, a variação diatópica, a variação diastrática e a variação diaminésia, e que a Língua muda conforme o seu estado a sua classe social e etc.” Fonte: elaborado pela autora (2018) 101 Gráfico 18 – “O que você aprendeu hoje?” Fonte: elaborado pela autora (2018) O quadro acima revela que os discentes compreenderam a importância da língua, bem como, as suas variações linguísticas de acordo com a idade, o poder aquisitivo, a classe social, a situação interacional e o tempo. Evidencia-se, portanto, que os estudantes, de uma maneira geral, assimilaram que a língua muda de um Estado para outro; que a língua sofre alterações no decorrer do tempo; que a língua diferencia-se, de acordo com a classe social; enfim, que a língua é muito importante para a comunicação e que, por isso, seja um elemento fundamental para a cultura de um país. Para concluir, uma aluna explicou com as próprias palavras que as diferenças existentes entre os modos de falar de uma língua impossibilitam o surgimento do preconceito. O gráfico esclarece o aprendizado dos discentes no que se refere à aula sobre variações linguísticas: dez estudantes aprenderam que a língua sofre mudanças, de acordo com o tempo, a classe social e a origem dos falantes; oito alunos, por sua vez, afirmaram ter assimilado que a língua faz parte da cultura e que muda o tempo todo; outros oito discentes entenderam que os modos de falar derivam dos contextos sociais; enquanto que seis educandos compreenderam que em cada lugar há um modo diferente de falar; já cinco discentes descobriram que há variações na língua e que não se deve escrever como se fala; dois alunos, portanto, 102 adquiriram o conhecimento de que a língua varia de acordo com a classe social dos falantes; um aluno, logo, recebeu a instrução de que língua é sinônimo de comunicação, obtendo várias formas de falar; e, por conter vários modos de falar, um aluno aprendeu que não deve haver preconceito linguístico, mas sim, respeitar as variedades da língua. Após o aprendizado sobre as variações linguísticas, a pesquisadora realizou um estudo sobre preconceito linguístico com os discentes participantes dessa pesquisa. Essa aula foi realizada, com o apoio de slides inseridos no anexo F (p. 136 a 142), no dia 21 de novembro de 2018, contando com a presença de 40 discentes e teve duração de cem minutos, ou seja, foram realizadas duas horas/ aulas de 50 minutos cada. A aula iniciou-se com a apresentação de uma tirinha do Chico Bento, intitulada por “Chico Bento em bom português”. A priori, a tirinha foi, apenas, lida e interpretada, para ser analisada no decorrer da aula. Em seguida, os alunos ficaram bem atentos à explicação sobre a noção de “erro”, levando-se em consideração alguns fatos relevantes, como: o surgimento da noção de “erro” em Alexandria, na Grécia; a necessidade de padronização de língua grega, sem atentar para as diferenças regionais e sociais; a criação da gramática tradicional, como um conjunto de normas, baseada em intuições filosóficas e preconceitos sociais, definindo os rumos dos estudos da língua; o conceito de preconceito linguístico, como sendo toda prática linguística que se distancia do modelo de língua idealizado, que representa a origem desprestigiada dos falantes e que, portanto, não faz parte das classes sociais ditas letradas. Essa discussão culminou com a apresentação de um vídeo, baseado no livro “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz?” do linguista Marcos Bagno, sobre oito mitos que existem na sociedade brasileira referentes ao uso da língua portuguesa no país. Durante a exibição desse vídeo, a professora o pausava para fornecer maiores esclarecimentos sobre o que estava sendo apresentado no referido vídeo. Estes mitos estão, detalhadamente explicados, na subseção 2.5.3., intitulado por: “Mitos do preconceito linguístico.” Ao final desta etapa, a professora deixou claro que, apesar da existência destes mitos, a língua materna não deixa de alcançar seu principal objetivo que é estabelecer o ato comunicativo em prol das interações sociais. 103 A aula continuou com uma análise interpretativa da tirinha de Chico Bento: “Chico Bento em bom português”, iniciando-se a partir da pergunta: “A professora agiu corretamente?”. Seguem abaixo as respostas dos discentes: Quadro 22 - “A professora agiu corretamente?” AP01: “Não porque era pra ela ter dito o jeito certo de falar com calma e paciência.” AP19: “Não, pois ela não deveria ter deixado ele de castigo e sim corrigido”(AP04 e AP21) AP32: “Não, ela como professora deveria ensinar.” (AP11) AP05: “Não, foi uma atitude exagerada.”(AP36 e AP39) AP23: “Não porque a forma que ele fala faz compreender que ele não sabe falar português.” AP37: “Não, pois Chico ele tem o hábito de falar errado, logo, ele não errado do que estava falando.” AP14: “Não.”( AP17, AP18, AP20 e AP47) AP08: “Não! Mas também agiu errada, porque talvez ela pensou que ele falava errado.” AP15: “não, pois ela foi preconceitosa e não compreendeu que era o modo dele falar.”(AP03, AP07, AP09, AP10, AP13, AP22, AP24, AP30, AP33, AP34 e AP45) AP16: “Não, por que isso é preconceito linguístico.” AP40: “Ela não respeitoua forma diferente de chico bento.”(AP29, AP42) AP49: “Não, porque ela não pode simplesmente agir com preconceito com alguém só pela forma de falar.” AP31: “não, porque não foi um ‘erro’ o jeito que ele falou.” AP38:”Não. Pois cada um tem seu jeito de falar” AP46: “Não, pois ele fala daquele modo ele cresceu com pessoas falando daquele jeito que deu influência a ele. (AP26 e AP44) Fonte: elaborado pela autora (2018) 104 Gráfico 19 – “A professora agiu corretamente?” Fonte: elaborado pela autora (2018) O quadro acima desvenda que a maioria dos discentes compreendeu que a docente da tirinha era preconceituosa por não ter compreendido o modo de falar do Chico Bento, que possui origem no sertão, conforme alguns estudantes. A partir dessa análise, concluímos que já houve um avanço, quando dezoito discentes, isto é, 44% dos alunos, reconheceram que a professora agiu de forma preconceituosa, linguisticamente, como comentou o AP15: “não, pois ela foi preconceitosa e não compreendeu que era o modo dele falar. Atitudes como esta, da professora da tirinha em análise, ocorrem por inexistir uma política linguística oficial, surgindo, portanto, uma linguística repressora e desinformada, baseada em dogmas estabelecidos pelas camadas mais abastadas da sociedade, segundo Bagno (2011). O estudante AP31 também ressaltou que o modo de falar de Chico Bento não constituía um “erro”: “não, porque não foi um ‘erro’ o jeito que ele falou”, revelando, assim, que a questão do “erro” linguístico começava a ser melhor compreendida pelos discentes. Em contrapartida, ainda houve comentários voltados para o jeito “certo” de falar, como se o referido personagem da turma da Mônica não soubesse falar português, por ser do sertão. 105 O gráfico, por sua vez, aponta, numericamente, as assertivas dos discentes quanto à questão da atitude da professora em relação ao modo de falar de Chico Bento. Desse modo, constata-se que dezoito alunos definiram como preconceito linguístico a atitude da referida docente. Outros cinco discentes, não fizeram comentários nessa atividade, apenas responderam “Não”. Enquanto isso, seis educandos ressaltaram a importância da educadora ter corrigido a fala de Chico Bento, como por exemplo, o discente AP01: “Não porque era pra ela ter dito o jeito certo de falar com calma e paciência.” É importante frisar que não há um jeito “certo” de falar, há sim, variações linguísticas, visto que os falantes são heterogêneos, são diversificados, logo, não há como existir uma língua estável nem homogênea e, nem muito menos, “correta”, de acordo com Bagno (2007). Os demais alunos, por sua vez, afirmaram que a atitude da professora foi exagerada e que o jeito do referido personagem falar foi influenciado pelas pessoas que vivem ao redor dele. Além disso, mais precisamente, três discentes comentaram que Chico Bento não sabia falar português. E, por fim, dois alunos responderam que o modo de falar do personagem em questão não deveria ser definido como “erro”. A segunda indagação referente à interpretação da tirinha “Chico Bento em bom português” foi a seguinte: “Chico Bento falou ‘certo’ ou ‘errado’? Por quê?” Esta pergunta foi elaborada com o intuito de analisar até que ponto os educandos ainda consideram a língua como sendo “certa” ou “errada”. Assim, segue o quadro com as assertivas dos discentes. Quadro 23 - “Chico bento falou ‘certo’ ou ‘errado’? por quê?” AP03: “Certo, porque é certo para ele e errado para ela.”(AP08, AP38) AP11: “ele falou certo, mas o modo de falar dele é diferente do da professora por isso ela acha errado”. (AP23, AP24, AP31) AP49: “Falou certo, porém a professora julgou como errado, por causa dos padrões que foram criados.” AP04: “O Chico falou do modo inadequado, pois ele não respeitou as regras do português, mas ele falou do jeito em que ele sabia e aprendeu com seus familiares.”(AP15, AP16, AP36, AP37) AP05: “Certo, porém inadequado, o importante é escrever certo, não falar.” AP07: “Tem inadequações na fala dele, então ele não falou nem certo, nem errado.” AP12: “Certo. Já que não existe uma forma ‘errada’ de falar, ele apenas não concordou com as palavras de correta”. AP18:“Certo, porque apesar das palavras que ele falou mesmo não estando de acordo com a gramática não quer dizer que esta falando errado”. (continua) 106 AP09: “Gramaticalmente ele falou ‘errado’, mas como não existe modo certo ou errado de se falar, diria que ele falou inadequadamente”. AP19: “Errado, por conta de sua vivência ele fala de uma forma fora da língua padrão”.(AP32, AP44) AP26: “Falou certo, por que não existe só um jeito de falar cada um tem seu sotaque, ninguém fala do mesmo jeito.” AP28: “Certo, porque é o jeito que ele fala.”. (AP10, AP13, AP14, AP17, AP20, AP21, AP34, AP40, AP45, AP46, AP47) AP27: “Certo, mesmo sendo uma inadequação linguística; este é o modo de falar dele” AP22: “Ele falou da forma que aprendeu, nem certo e nem errado”. AP29: “Certo, porque esse é o modo de fala do lugar onde ele mora.”(AP01, AP30, AP42) AP39: “errado”. Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 20 - “Chico bento falou ‘certo’ ou ‘errado’? por quê?” Fonte: elaborado pela autora (2018) O gráfico acima nos revela que a maioria dos discentes considerou correto o modo de falar do Chico Bento, mais precisamente 30 discentes de um total de 41, (conclusão) 107 mais precisamente, 73% dos presentes no dia desta atividade. Para tanto, expuseram as seguintes justificativas: era o modo de falar de Chico Bento, logo, ele não falava do mesmo jeito que a docente, sendo, portanto, discriminado por ela. Além de afirmarem que não há modo de falar errado, nem mesmo, a fala que estiver em desacordo com a gramática prescritiva, pode ser considerada errônea. Assim, podemos destacar a assertiva do aluno AP26: “Falou certo, por que não existe só um jeito de falar cada um tem seu sotaque, ninguém fala do mesmo jeito”. Este comentário refere-se ao fato da individualidade da fala, visto que, cada falante de uma língua tem seu modo de falar e é competente para interagir e se comunicar, através da língua, não devendo ser discriminado, visto que não há “erros” nos variados modos de falar. Segundo Bagno (2011), os falantes devem ser respeitados, assim como os discentes e seus modos de falar também devem ser respeitados na escola, ou melhor, o professor deve reconhecer a identidade de cada aluno, através dos variados usos linguísticos deles. Houve discentes, mais precisamente cinco estudantes, entretanto, que ainda consideraram como “errado” o jeito de falar do referido personagem da turma da Mônica, justificando que a fala não obedecia a uma linguagem padronizada. Sendo até, inclusive, considerada inadequada, por outros seis discentes, por não respeitar as regras do português. Para finalizar a aula sobre preconceito linguístico, os alunos foram questionados sobre o que eles haviam aprendido naquele dia: “O que você aprendeu hoje?”. Em suma, eles deveriam expor o que haviam aprendido a partir da apresentação dos slides, conforme anexo F (p. 136 a 142); da explicação da professora pesquisadora; bem como da interpretação da tirinha de Chico Bento. Então, eles responderam o seguinte: Quadro 24 - “O que você aprendeu hoje?” AP01: “Eu aprendi que cada pessoa tem o seu modo de falar isso ocorre por causa da região que ela vive e as pessoas que ela convive. Como a palavra vive muitas pessoas falam ‘veve’, ônibus também e õimbu e existe varias palavras que são faladas diferente do jeito que as outras pessoas pronunciam foi isso que eu aprendi” AP07: “Que não se deve julgar antes de ter um certo conceito sobre aquilo, que cada pessoa tem seu modo de falar e nem por isso significa que ele está errado”. AP11:“Aprendi que todo mundo tem um modo diferente de falar e que nãodevemos ter preconceito com isso.”(AP46) AP12: “Sobre o preconceito linguístico e as formas diferentes de falar a língua portuguesa”. AP16: “Que existe varias formas de falar, mas a gramática tem que ser a mesma, podemos falar de qualquer forma, mas escrever de um só jeito.” AP03: “eu aprendi que não existe fala errada.” (continua) 108 AP08: “Que não existe pessoas que falam errado.” AP09: “Que não existe um modo correto de falar, e sim uma forma inadequada. E que pode existir preconceito linguístico”. AP18: “Não a maneira errada de falar, as pessoas falam de acordo com sua cidade, país, bairro, e etc.” AP20: “Eu aprendi que não a uma maneira correta de se falar pois cada pessoa tem sua maneira como os baianos portugueses e etc e ate os brasileiros tem sua maneira de falar com suas diversas gírias.” AP27: “Que não a “erros” à falar.” AP36:“Aprendi sobre o preconceito linguístico, que não existe falar certo ou errado, apenas de forma inadequada pro ambiente em que você está localizado e a pessoa com que se está falando.” (AP37, AP38) AP39:“que o português e fácil e que pode ser falado de varias maneiras, as pessoas não falam de forma errada, falam de outras maneiras cada um tem sua maneira e forma de falar.”(AP43) AP04: “Aprendi que o preconceito linguístico é o que mais acontece pelo Brasil e que devemos respeitar o modo de como o povo fala, pois não sabemos de onde eles vinheram”. AP14: “Aprendi sobre preconceito linguístico e a compreensão de entender as falas de pessoas que são de outras regiões.” AP15: “Aprendi que existem vários modos de se falar e vários jeitos e que se algumas pessoas falam assim por causa de sua cultura e que nós temos que compreender que cada um tem seu modo de falar.” AP26: “Aprendi que não devemos julgar os outros pelo modo de falar, não devemos dizer que estão erradas, só por causa do sotaque. Na fala, cada um fala do seu jeito.” AP28: “Que não devemos julgar o jeito que a pessoa fala.” (AP49) AP05: “Que existe sim preconceito linguístico, principalmente com pessoas do interior, não existe falar ‘errado’ e sim inadequadamente e o importante é escrever de acordo com a gramática, não falar ‘certo’. Também aprendi a origem da gramática com os sábios da Grécia”. AP19: “Preconceito linguístico com pessoas do interior.” AP10: “Aprendi sobre o preconceito linguístico, vi também alguns mitos relacionados ao preconceito linguístico, um desses mitos é que um dos melhores português é o do pessoal do Maranhão, mas isto é um mito, pois todo português é igual.” AP17: “aprendi sobre as características sobre o preconceito linguístico.” AP21: “Eu aprendi sobre o preconceito linguístico que ainda podemos ver, mesmo que isso seja algo normal ainda podemos ver isso acontecendo e muito ainda.” AP22:“Toda sintaxe, todo vocabulário e toda pronuncia que determinam a origem social desprestigiada dos falantes, critica alguém pelo jeito dela falar e discriminação linguística.” AP23: “Preconceito linguístico é não aceitar a forma que a pessoa fala pois é diferente.” AP24: “A critica por conta que o garoto ‘errou’ coisa que é normal entre as pessoas. Vamos dizer que é uma forma de preconceito com as pessoas pelo modo de falar.” AP30:“que o preconceito linguístico algumas pessoas jugam por falar diferente de outras, por serem de algum lugar diferente e pega o sutaque de lar, ai as pessoas pensa que a maneira que você esta falando fala que e errada.”(AP32, AP44) AP33: “Aprendi que preconceito linguístico é julga sem saber o conceito dá quela coisa.” AP47:“Aprendi mais sobre o preconceito linguístico, que também pode ser praticado por um (a) professor (a). AP13: “Não existe erro. O português não é a língua mais difícil de se aprender. Não existe pronúncia errada, existe pronúncia diferente.” AP31:“Aprendi aonde surgiu a noção do erro o preconceito linguístico, gramática tradicional e o erro linguístico. Aprendi também o que é descriminação social, e o que é preconceito social.” AP34:“Eu aprendi sobre o preconceito linguístico e que ninguém que tem o sotaque diferente fala errado, como o exemplo do Chico Bento.”(AP40) AP42:“Hoje foi sobre o preconceito linguístico, que fala sobre muitas coisas, um delas é a (continuação) 109 noção de ‘erro’, que surgiu na Grécia. E foi o conjunto de normas para a língua e para a linguagem. Outro também é o ‘erro linguístico’, que é todo uso da língua que foge do modelo idealizado. O modo de falar da maioria das pessoas sofre exclusão e, por isso é considerado um ‘erro’.” AP45:“Aprendi sobre a gramática tradicional, preconceito linguístico, o erro linguístico e a noção do erro.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Gráfico 21 - “O que você aprendeu hoje?” Fonte: elaborado pela autora (2018) Diante do exposto, é notável perceber que os discentes revelaram conhecimentos referentes ao preconceito linguístico, à variação linguística e à noção de “erro”, após as aulas sobre estas temáticas. Desse modo, dezenove discentes, ou seja, 46% dos alunos afirmaram terem aprendido sobre os temas que envolvem o preconceito linguístico. Enquanto que dezesseis alunos compreenderam que há variados modos de falar, mas que, nem por isso, eles podem ser considerados errados. Por fim, seis educandos citaram que entenderam a inexistência de “erros” nos usos da língua materna. (conclusão) 110 Podemos citar, como um resumo do que foi compreendido pelos estudantes, o comentário do aluno AP26: “Aprendi que não devemos julgar os outros pelo modo de falar, não devemos dizer que estão erradas, só por causa do sotaque. Na fala, cada um fala do seu jeito”. Nesta assertiva, percebemos que houve uma compreensão sobre a importância de não julgar as variedades linguísticas, ou seja, sobre a importância de não se ter preconceito linguístico, visto que os usos linguísticos, na verdade, são variados e não errados. Diante dos usos da língua, esclarece Faraco (2008) que a autoridade maior de uma língua é, justamente, o uso dela, ou melhor, o uso habitual, comum e corriqueiro de falar ou de escrever. O Módulo 3 (M3), por sua vez, inicia-se mais precisamente no dia 26 de novembro de 2018, com a explicação de slides referentes à elaboração de cartazes, conforme anexo G (p. 143 a 149), sendo portanto a primeira atividade deste módulo (A1 – M3) . Este momento pautou-se numa apresentação sobre a estrutura básica de um cartaz, composta por: tema, slogan e imagem. Além de expor a principal função deste gênero textual que é transmitir uma mensagem ao público-alvo, através de imagens e textos que chamam a atenção. Em seguida, foram apresentados modelos de cartazes que tinham como temática o preconceito linguístico, com o intuito de aguçar a imaginação e a criatividade dos discentes para o momento em que eles fossem confeccionar os próprios cartazes. No dia 28 de novembro de 2018, ocorreu a produção final. Neste dia, os discentes foram divididos em equipes para que elaborassem cartazes, envolvendo a temática sobre preconceito linguístico. Essa ação tinha o intuito de verificar se este fenômeno linguístico havia sido superado pela turma, através da interação, da imaginação e da criatividade. Assim, os alunos confeccionaram os cartazes que serão apresentados e analisados a seguir. 111 Figura 2 – Cartaz: “aqi o preconseito nãu ten ves!” Fonte: elaborado pela autora (2018) O cartaz acima transmite uma mensagem, através do uso inadequado da ortografia da língua portuguesa à luz da chamada norma padrão ou culta, propositadamente para chocar o público, bem como chamar a atenção para a necessidade de pôr fim ao preconceito linguístico, demonstrando que a essência do texto está acima dos chamados “erros” ortográficos. Nesse contexto Faraco (2008) ressalta que se deve levar em consideração prioritariamente o conteúdo e o propósito comunicativo dos textos escritos, ao invésde simplesmente, apontar os “erros” ortográficos. 112 Figura 3 – Cartaz: “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito...” Fonte: elaborado pela autora (2018) O cartaz acima engloba a dificuldade de se dizimar as ideias preconceituosas, comparando-as à desintegração de um átomo. Além disso, há um questionamento sobre a escrita das palavras “vrido”, “trusse” e “ômi” serem consideradas erradas. Este linguajar, de uma maneira geral, segundo Bagno (2011), é mais utilizado por falantes de classes menos favorecidas e que não tiveram acesso à escola, sendo considerado, portanto, “errado” não somente por preconceito linguístico, mas também por preconceito social. 113 Figura 4 – Cartaz: “se nascemos da mistura, por que tanto preconceito: linguístico?” Fonte: elaborado pela autora (2018) A imagem apresenta a importância de se respeitar os usos linguísticos, até mesmo reforçando a existência da miscigenação quando elabora a pergunta: “Se nascemos da mistura, por que tanto preconceito: linguístico?”. Além de centralizar a palavra “respeito” e citar termos, como: “oxente”, “vamu” e “vrido”. Logo, como todas as variações linguísticas são relevantes, possuem sentido, têm uma lógica de funcionamento e são necessárias para a realização das interações sociais, conforme explicita Bagno (2007), devem ser respeitadas, visto que não existem variedades linguísticas mais “certas” do que outras. 114 Figura 5 – cartaz: “vamos engolir o preconceito linguístico.” Fonte: elaborado pela autora (2018) A criatividade da equipe está exposta na relação entre o verbo “engolir” e a imagem do prato e dos talheres, fazendo alusão à deglutinação do preconceito linguístico, apresentando, também, termos típicos do linguajar cearense. A diversidade linguística representa uma riqueza da língua materna, da cultura e da sociedade, sendo relevante ampliar o repertório comunicativo dos alunos, garantindo uma conscientização no que tange à desconstrução do preconceito linguístico, conforme ressalta Faraco (2008). 115 Figura 6 – Cartaz: “preconceito linguístico? tô fora! pego meus ‘erros’ e vô mimbora.” Fonte: elaborado pela autora (2018) Nesse cartaz há a demonstração de que é preciso ficar fora das ideias do preconceito linguístico, colocando entre aspas a palavra “erros” e escrevendo como se fala a expressão de “ir embora”, isto é, sem a preocupação com as regras ortográficas. Essa imagem deixa claro que a organização dos sons e dos significados de uma língua, embora não estejam ortograficamente “corretos”, cumprem, plenamente, com a função primordial de uma língua: a interação humana, de acordo com Bagno (2007). Os discentes conseguiram compreender, diante do exposto, que a língua portuguesa não é homogênea, que a língua pode variar no decorrer do tempo, de um lugar para outro, bem como de acordo com a classe social dos falantes. Além disso, os discentes entenderam que estas variações não significam “erros”, mas sim, variados usos linguísticos. Desse modo, ficou claro para eles que não há modo 116 “errado” de falar, mesmo que a forma de falar esteja em desacordo com a gramática prescritiva, ele não significará um “erro”, mas sim, uma maneira diferente de usar a língua. Por fim, os estudantes reconheceram que não se devem julgar as pessoas pelo modo como elas falam, mas atentar, para a essência da comunicação tanto falada, quanto escrita, em prol da principal função de uma língua que é a interação social. 117 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa contempla os objetivos do Mestrado Profissional em Letras, à medida que partiu de percepções negativas relacionadas ao uso da língua materna de alunos de uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental da escola pública estadual Heráclito de Castro e Silva, localizada em Fortaleza, no Ceará. Diante dessa realidade, a pesquisa propôs ações interventivas que abordavam o estudo da variação linguística em sala de aula, com o intuito de superar atitudes baseadas no preconceito linguístico. É importante salientar que o mestrado profissional em Letras tem como principal objetivo a melhoria dos processos de leitura e de escrita dos alunos do ensino fundamental. Assim, o PROFLETRAS, através de uma aprendizagem ativa, bem como, de um ensino centrado, possibilita um grande impacto na educação, na medida em que forma docentes habilitados para serem mediadores dos conteúdos disciplinares em sala de aula, a partir de uma intervenção baseada nas dificuldades do alunado. De acordo com o objetivo do PROFLETRAS, para realizarmos esta pesquisa, guiamo-nos por três questões: a) A realidade escolar perpassa o estudo da variação linguística, de acordo com os contextos de uso? b) Os recursos utilizados são favoráveis a um ensino de qualidade? c) Como tornar o estudo das variedades linguísticas mais adequado aos processos de letramento dos alunos? Nas atividades realizadas, procuramos enriquecer o entendimento dos discentes no tocante à ideologia de “certo” e “errado” da língua materna, pregada no decorrer da vida escolar dos estudantes. Assim, as atividades desenvolvidas com os alunos, como também a apresentação dos slides sobre variação linguística e sobre preconceito linguístico, além da elaboração de cartazes com a temática envolvendo o preconceito linguístico, objetivavam trabalhar a variedade linguística em sala de aula, com a intenção de propiciar a existência e, em seguida, uma possível superação do preconceito linguístico, analisando o conhecimento deles sobre as 118 variedades linguísticas e, consequentemente, sobre a noção de “erro” perante as diferenças linguísticas. A partir daí esclarecer a inexistência de hierarquia entre os variados usos linguísticos, enfatizando a importância do respeito diante das mais variadas ocorrências da Língua Portuguesa, compreendendo a língua materna sem uma visão preconceituosa das interações sociais. As ações desta pesquisa se inspiraram nos ideais da sequência didática. Desse modo, foram organizadas em módulos. Logo, no primeiro momento, foi solicitado que os alunos respondessem questões referentes ao conceito de língua e à importância do ensino da língua portuguesa na escola. A maioria dos estudantes reconheceu que a língua é um meio de comunicação e que precisa ser estudada na escola para que eles aprendam o uso “correto” da fala e da escrita, já demonstrando, portanto, uma visão inadequada no tocante ao uso da língua. Após esse momento, a professora pesquisadora passou a trabalhar algumas atividades voltadas para a história da língua, para a importância da escrita em relação à fala e para os fatores extralinguísticos envolvidos no processo comunicativo, a partir de um trecho de cartas antigo, da exibição de um vídeo contendo um diálogo entre dois amigos e da análise de uma canção. Diante destas atividades, os discentes classificaram as variedades linguísticas presentes nestas atividades, como sendo “erradas” e sem regras, praticadas por pessoas sem escolaridade e, ainda, deixando claro que não usariam essas variações, pois tinham estudo e utilizavam o português “correto”. Percebemos com essa realidade que seria necessário intervir na turma em análise, para amenizar, na medida do possível, estas visões deturpadas no que se refere à essência da variação linguística da língua portuguesa. A professora pesquisadora elaborou aulas sobre variação linguística e preconceito linguístico e, ao final destas aulas, procuramos saber o que os discentes haviam aprendido, inclusive, sendo trabalhada uma tirinha de Chico Bento para ilustrar a realidade do preconceito linguístico presente na escola. Então, após estes estudos, os educandos apresentaram comentários que reforçavam o que eles haviamassimilado sobre estes fenômenos linguísticos. O aprendizado dos discentes, de um modo geral, pautou-se no reconhecimento de que a língua muda o tempo todo, mudanças estas que ocorrem devido ao tempo, à classe social e à origem dos falantes. Além disso, compreenderam o conceito, bem como a existência de preconceito linguístico no 119 país. Diante disso, revelaram que atitudes preconceituosas em relação às variedades linguísticas não deveriam existir, ao contrário, deveria haver era mais respeito para com os variados modos de falar, pois, para a maioria dos alunos desta pesquisa, não há modo errado de falar, visto que cada pessoa tem seu jeito de falar para propiciar a comunicação, ou seja, as interações sociais. A última atividade realizada com os alunos baseou-se na elaboração de cartazes, cuja temática deveria ser o preconceito linguístico. Nesta ação, os discentes se empenharam, em grupos, utilizando a imaginação e a criatividade para confeccionarem cartazes criativos, com o intuito de chamar a atenção, não somente da turma de estudantes da pesquisa, mas também da comunidade escolar para este fenômeno linguístico, visto que os cartazes foram espalhados pelos corredores da escola. Os cartazes, por sua vez, foram elaborados a partir de frases de efeito contra o preconceito linguístico e a favor do respeito às variedades linguísticas, como também, transmitiam a mensagem, através de textos em desacordo com a gramática prescritiva, valorizando mais a essência dos textos do que os erros ortográficos. Podemos, diante das ações realizadas e dos resultados positivos alcançados, afirmar que os discentes obtiveram um progresso no que tange o conhecimento sobre a variação linguística em prol da superação do preconceito linguístico em sala de aula. Entretanto, ainda há muito que ser trabalhado nas escolas, sobre estes fenômenos linguísticos, em especial, no que está relacionado à metodologia dos docentes perante a inclusão de uma análise sociolinguística em sala de aula. É necessário ampliar esta pesquisa para um estudo que busque contribuir para o desenvolvimento de uma metodologia pautada nas diferenças sociolinguísticas dos discentes, propiciando uma mudança, na medida do possível, na postura dos professores e, consequentemente, das escolas, objetivando superar a supervalorização da gramática prescritiva em detrimento de um ensino que valorize as variedades linguísticas. Esta pesquisa, por fim, representou um estudo a mais sobre a variação, fenômeno este que nos cativa e que nos faz lutar por um ensino sensível ao respeito que valorize as diversas variedades linguísticas, buscando superar o preconceito linguístico presente nas salas de aula deste país, visto que o monolinguismo não existe. 120 Diante desta perspectiva, é fundamental que a escola abandone o mito da unidade linguística e reconheça, na íntegra, a diversidade da língua portuguesa utilizada no Brasil, com o intuito de propiciar ações que valorizem, não somente, as variedades ditas “cultas”, como também, as variedades consideradas desprestigiadas pela sociedade. 121 REFERÊNCIAS ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007. ______. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 54.ed.. São Paulo: Loyola, 2011. BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. ______. Nós cheguemu na escola, e agora?: sociolinguística & educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. E org. de Roxane Rojo e Glaís Sales. São Paulo: Mercado das Letras, 2004. FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2017. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2011. LÜDKE, M; ANDRÉ, M. E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MOREIRA, H; CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. R io de Janeiro: DP&A, 2006. OLIVEIRA, Cristiano Lessa de. Um apanhado teórico conceitual sobre a pesquisa qualitativa: tipos, técnicas e características. Revista Travessias: educação, cultura, linguagem e arte, v.2, n. 3, 2008. SERRANO, F. P. Pesquisar no labirinto: a tese, um desafio possível. São Paulo: Parábola, 2011. SILVIA, R. V.; SILVIA, F.B. (Orgs.). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2014. 122 SOARES, Gilvan Mateus. A variação linguística e o ensino de língua portuguesa: crenças e atitudes. 2014, 282 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Letras) – Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, 2014. VASCONCELOS, Valéria Oliveira de. Perspectivas de pesquisa – ação: investigar, atuar, formar. Revista de Ciências Humanas, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 223 – 238, jul./dez. 2006. 123 ANEXOS 124 ANEXO A - Produção inicial (pi) : Conceituando a língua portuguesa (2h/a – 100min) Contextualizando: ● Conceito: língua portuguesa. ● Importância: língua materna na escola. 1) Para você, o que é a língua portuguesa? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2) Você acha importante estudar a língua portuguesa? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ * “Língua é um organismo vivo que varia conforme o contexto e vai muito além de uma coleção de regras e normas de como falar e escrever.” (Ataliba T. de Castilho) 125 ANEXO B - Atividade 1 – Módulo 1 (A1 – M1): Os primórdios da variação linguística (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● Conhecendo um pouco sobre a história da Língua Portuguesa 1) A nossa língua foi, ao longo da história, sempre a mesma? E aí, pessoal, o que vocês acham? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha Snõr [...] “a feiçam deles he seerem pardos maneira dauerme lhados de boõs Rostros e boos narizes bem feitos. am dam nuus sem nenhuűa cubertura nem estimam ne nhuűa coussa cobrir nem mostrar suas vergonhas, e estam açerqua disso com tamta jnocemçia como teem em mostrar o Rostro. traziam ambos os beiços de baixo furados e metidos per eles senhos osos doso bramcos de compridam d huűa maão travessa e de grosura d huű fuso dalgodam e agudo na põta coma furador. [...]” Pero Vaz de Caminha 2) O texto “Sñor” é compreensível? Por quê?” ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3) O que se pode observar na escrita do texto ‘Sñor’? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Biografia de Pero Vaz de Caminha Pero Vaz de Caminha nasceu no ano de 1450, na cidade do Porto, em Portugal. Ele, como escrivão, relatou em uma carta, ao rei Dom Manuel, a chegada da esquadria de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, no ano de 1500.Três meses após deixar o Brasil, a esquadria de Pedro Álvares Cabral ancorou em Calicute, na Índia. No entanto, por não manter relações amistosas, a esquadria foi invadida por mulçumanos. Nesse ataque, morreram cerca de 30 portugueses, dentre estes, Pero Vaz de Caminha, que faleceu no dia 15 de dezembro de 1500. 126 ANEXO C - Atividade 2 – Módulo 1 (A2 – M1): Conversa entre “cumpadis”. (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● A demonstração do preconceito linguístico. * Preconceito linguístico é a discriminação existente entre os falantes de um mesmo idioma, onde não há o respeito pelas variações linguísticas, como sotaques, regionalismos, dialetos, gírias e demais diferenças da fala de determinado grupo. (https://www.significados.com.br/preconceito-linguistico/) ● Um morador da zona rural sente vergonha por falar de modo “diferente” * Exibição do vídeo, a partir do link: http://www.youtube.com/watch?v=_bakKmUjbVs. Acesso em 06 de março de 2018. 01) Por que o dono da casa não quer viajar? Você concorda com ele? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 02) “Conversar pode conversar de qualquer jeito”. Você concorda? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 03) Segundo o “cumpadi” visitante, “escrever tem que escrever certo”. O que você pensa sobre isso? ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 04) Você fala do jeito dos “cumpadis” do vídeo? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 127 ANEXO D - Atividade 3 – Módulo 1 (A3 – M1) Análise da música “Asa Branca”. (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● Música “Asa Branca” ● Biografia de Luiz Gonzaga ● Noção de “erro” na língua Música “Asa Branca” (Luiz Gonzaga) Quando oiei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu preguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Eu preguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornaia Nem um pé de prantação Por farta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão Por farta d'água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão Inté mesmo a asa branca Bateu asas do sertão Depois eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração Depois eu disse, adeus Rosinha Guarda contigo meu coração Hoje longe, muitas léguas Numa triste solidão Espero a chuva cair de novo Pra mim vortá pro meu sertão Espero a chuva cair de novo Pra mim vortá pro meu sertão Quando o verde dos teus óios Se espaiar na prantação Eu te asseguro não chore não, viu Que eu vortarei, viu Meu coração Eu te asseguro não chore não, viu Que eu vortarei, viu Meu coração Letra extraída de: https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/ Acesso em 02 de maio de 2018. Biografia de Luiz Gonzaga Luiz Gonzaga (1912-1989) foi um músico brasileiro. Sanfoneiro, cantor e compositor, recebeu o título de "Rei do Baião". Foi responsável pela valorização dos ritmos nordestinos, levou o baião, o xote e o xaxado, para todo o país. A música "Asa Branca" feita em parceria com Humberto Teixeira, gravada por Luiz Gonzaga no dia 3 de março de 1947, virou hino do Nordeste brasileiro. https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/ 128 Luiz Gonzaga foi internado no Recife, no Hospital Santa Joana, no dia 21 de junho de 1989, e no dia 2 de agosto faleceu. Em 2012, comemorou-se os 100 anos de nascimento de Luiz Gonzaga. Nesse mesmo ano, foi lançado o filme "De Pai Para Filho", no qual foi narrada a relação entre Gonzaga e Gonzaguinha. Dessa maneira, o artista recebeu várias homenagens em todo o país. Texto extraído de: (https://www.ebiografia.com/luiz_gonzaga/) Acesso em 02 de maio de 2018.(adaptado) 1. Para você, a Língua Portuguesa utilizada na música é adequada ou inadequada? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2) Que alterações você faria nessa música, caso pudesse? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3) Qual a possível escolaridade do falante? ( ) Sem escolaridade. ( ) Com escolaridade. ( ) Não há relação entre linguagem e escolaridade. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4) Onde moraria, provavelmente, a pessoa que fala dessa maneira? ( ) Área rural. ( ) Área urbana. ( ) Não há relação entre linguagem e lugar. 5) Qual o provável poder aquisitivo desse falante? ( ) Baixo poder aquisitivo. ( ) Alto poder aquisitivo. ( ) Não há relação entre linguagem e poder aquisitivo. 6) Que tipo de falante usaria a língua dessa forma? ( ) Criança ( ) Jovem ( ) Adulto https://www.ebiografia.com/luiz_gonzaga/ 129 ( ) Idoso ( ) Não há relação entre linguagem e faixa etária. 7) Esse tipo de linguagem é mais adequado para: ( ) diálogo em casa. ( ) redação do ENEM. ( ) discurso de um político. ( ) recadinho para um colega. ( ) conversa pelas redes sociais. ( ) não usaria essa linguagem. ( ) _______________________. 8) Preencha a tabela abaixo, na coluna “Palavras da Música”, com as palavras da música que são pronunciadas diferentemente do modo como você fala. Em seguida, informe, na coluna “Formas que eu falo”, essas mesmas palavras, do modo como você as usa. Palavras da música Forma que eu falo 1. 2. 3 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 130 ANEXO E - Slides Variação Linguística Módulo 2 (SVL – M2): Variação Linguística (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● A importância da língua x interação x heterogeneidade ● Língua x influência dos fatores sociais ● Classificação das variações linguísticas 131 ANEXO E - Variação linguística LÍNGUA Nossa identidade; Nossa história; Nosso lado social. INTERAÇÃO Heterogeneidade linguística contextos situações 132 Fonte:https://www.google.com.br/search?biw=1350&bih=591&tbm=isch&sa=1&ei=bXy9W9zNJcKdwA SaoqzYBg&q=tirinha+evolução+da+língua. Acesso em: 09 de out.2018 Fonte:https://www.google.com.br/search?biw=1350&bih=591&tbm=isch&sa=1&ei=8H69W-e bGYOzwATUwpyQBg&q=conversa+entre+nordestino+e+mineiro. Acesso em: 10 de out 2018 133 Fonte: https://descomplica.com.br/blog/portugues/resumo-variacao-linguistica Acesso em 22 de out. 2018. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=variação+diamésica+exemplos&source. Acesso em 09 de out. 2018 134 Fonte: https://www.google.com.br/search?biw=1350&bih=591&tbm=isch&sa=1&ei=0YK9W9GWEoHwwATlg 7HwCg&q=tirinha+fala+formal. /Acesso em: 10 de out. 2018 135 136 ANEXO F - Slides Preconceito Linguístico Módulo 2 (SPL – M2): Preconceito Linguístico (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● Breve histórico sobre a noção de “erro” ● Os mitos do preconceito linguístico 137 Fonte: https://www.google.com/search?q=chico+bento+em+o+bom+portugues Acesso em: 14 de out. 2018 138139 140 141 142 143 ANEXO G - Slides Oficina de Cartazes Módulo 3 (SOC – M2): Elaboração de Cartazes (2 h/a – 100min) Contextualizando: ● Dicas para elaborar cartazes chamativos; ● Aprese ntação de modelos de cartazes sobre preconceito linguístico. Fonte: https://www.goo gle.com/search? biw=1366&bih= 657&tbm=isch& sa=1&ei=Qfk7X KiXEIC15OUPz KuAmA8&q=dig a+n%C3%A3o+ ao+preconceito +lingu%C3%AD stico&oq=diga+ n%C3%A3o+ao+preconceito+lingu% Acesso em: 25 nov. 2018 144 145 146 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=cartazes+conscientização+preconceito+linguistico&source Acesso em : 25 nov.2018 147 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=cartazes+conscientização+preconceito+linguistico&source Acesso em : 25 nov. 2018 Fonte: https://www.googlecom.br/search?biw=1366&bih=667&tbm=isch&sa=1&ei=7FD7W- Acesso em 25 nov. 2018 148 Fonte: https://www.google.com.br/search?biw=1366&bih=667&tbm=isch&sa=1&ei=7FD7W- 3AC8SVwgSh34TgDg&q=preconceito+linguistico&oq Acesso em 25 nov. 2018 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=preconceito+linguistico&tbm Acesso em 25 nov. 2018 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=preconceito+linguistico&tbm Acesso em 25 nov. 2018 149