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Movimentodesconfiancamudancas-MeloJunior-2022

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
Linha de pesquisa: PROJETO E AVALIAÇÃO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO 
Tema(s) de pesquisa(s): efeitos observáveis e potenciais de atributos físicos do espaço 
sobre usos de áreas públicas 
 
 
 
 
 
O movimento da desconfiança 
Mudanças na forma edificada após intervenções viárias – o caso da Via Mangue, Recife. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Silvio Pereira Bezerra de Melo Junior 
Natal, 16 de março de 2022 
2 
 
Silvio Pereira Bezerra de Melo Junior 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O movimento da desconfiança 
Mudanças na forma edificada após intervenções viárias – o caso da Via Mangue, Recife. 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como 
requisito parcial para obtenção do título de Mestre 
em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da 
professora Dra. Edja Trigueiro e coorientação da 
professora Dra. Circe Maria Gama Monteiro. 
 
 
Natal, RN, 2022 
Silvio Pereira Bezerra de Melo Junior 
3 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. 
Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT 
 Melo Junior, Silvio Pereira Bezerra de. 
 O movimento da desconfiança: mudanças na forma edificada após 
intervenções viárias - o caso da Via Mangue, Recife / Sílvio 
Pereira Bezerra de Melo Junior. - 2022. 
 132f.: il. 
 
 Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura. Natal, 
RN, 2022. 
 Orientadora: Edja Trigueiro. 
 Coorientadora: Circe Maria Gama Monteiro. 
 
 
 1. Sintaxe do espaço - Dissertação. 2. Insegurança - 
Dissertação. 3. Movimento natural - - Dissertação. 4. Medo - 
Dissertação. I. Trigueiro, Edja. II. Monteiro, Circe Maria Gama. 
III. Título. 
 
RN/UF/BSE15 CDU 72 
 
 
 
 
 
Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344 
 
4 
 
O movimento da desconfiança 
Mudanças na forma edificada após intervenções viárias – o caso da Via Mangue, Recife. 
 
Aprovado em 16/03/2022 
Natal, RN 
 
 
 
Prof. Dra. Edja Bezerra Faria Trigueiro (orientadora) – UFRN 
 
 
Prof. Dra. Circe Maria Gama Monteiro (coorientadora) – UFPE 
 
 
Prof. Dr. George Alexandre Ferreira Dantas – UFRN 
 
 
Prof. Dr. Vinicius de Moraes Netto – UFF 
 
 
Prof. Dra. Lucy Donegan – UFPB 
 
 
 
5 
 
agradecimentos 
À CAPES pelo apoio financeiro fundamental para o andamento e conclusão desta 
investigação. 
Agradeço a minha orientadora, Edja Trigueiro, pelo suporte, disponibilidade e valorização do 
meu trabalho. Não arredou o pé dessa pesquisa – nem deste orientando – mesmo afirmando 
desde a nossa primeira reunião que “o crime não compensa”. Um privilégio ter sido seu 
orientando. Nossas arengas – do bem - sobre o Recife farão falta. 
A minha coorientadora Circe Monteiro que tanto auxiliou na leitura e interpretação dos 
parcos dados disponibilizados para esta investigação. Sua experiência nos estudos sobre 
configuração urbana e insegurança foram fundamentais para que a pesquisa ganhasse 
robustez. Parceria imbatível com Edja, minha querida “dupla do crime”. 
A Robson Canuto, meu querido orientador de TFG e, hoje, mais do que isso, um amigo. Sem 
sua insistência não teria nem tentado seguir a carreira acadêmica. Boa parte da minha 
trajetória só foi possível por sua ajuda. 
A Flávia, um parágrafo exclusivo ainda é pouco para demonstrar meu imenso 
agradecimento pela ajuda em absolutamente todas as etapas desta pesquisa. Espero ser 
capaz de retribuir todo o esforço e tempo dedicados a mim e a esta dissertação. 
Aos companheiros e companheiras da MUsA pelo acolhimento, discussões e cafés da tarde: 
Maria, Fabrício, Maurício, Alexandre, Andreia, Agatha e aos que não conheci pessoalmente 
mas que nas reuniões a distância também sempre se mostraram prestativos: Ugo e Camila. 
Estendo meus agradecimentos ao excelente corpo docente e os que fazem o PPGAU. 
A Lucy Donegan, Vinícius Netto e George Dantas pelos encaminhamentos na qualificação. 
Aos meus queridos amigos de PE e do RN que fizeram parte dessa caminhada de alguma 
forma. A Camilla que me auxiliou na confecção dos mapas na reta final. 
A Dmetryus pela cumplicidade e também pelas tantas discussões (sobre absolutamente 
tudo) durante o período de confinamento devido a pandemia. De alguma maneira, nossas 
conversas estão diluídas nos parágrafos abaixo. Obrigado mesmo. 
A minha família pelo apoio na empreitada de me mudar, ainda que temporariamente, para 
Natal. 
6 
 
resumo 
Este trabalho visa ampliar a compreensão sobre nexos entre forma do ambiente construído 
e indícios de insegurança. Os casos estudados, os bairros do Cabanga e de Boa Viagem, no 
Recife, Pernambuco, são apresentados a partir de uma breve revisão do processo histórico 
de ocupação focando desde o início do século XX às últimas grandes intervenções viárias em 
2016, com foco na Via Mangue, uma via expressa de 4,5km de extensão contornando os 
bairros. A investigação explora a incidência de transformações no conjunto edilício em áreas 
que sofreram mudanças mais acentuadas na estrutura espacial pela inserção da Via 
Mangue. Dados gráficos e numéricos resultantes da análise da configuração do espaço 
foram comparados a dados levantados quanto a dispositivos de segurança acoplados aos 
edifícios (câmeras, cercas eletrificadas, outros). A revisão bibliográfica revelou ideias 
dicotômicas entre permeabilidade e defensibilidade do espaço como estratégia de 
promoção de segurança, assim como o papel da configuração do espaço enquanto agente 
que fomenta ou arrefece a sensação de insegurança. Na pesquisa que fundamentou esta 
dissertação, resultados sugerem que as mudanças na estrutura espacial da cidade 
coincidiram com o recrudescimento no emprego de artifícios de distanciamento entre 
espaço privado e espaço público, seja através da própria arquitetura ou de elementos 
acoplados a ela. O mercado imobiliário, sinalizando vantagens do ganho em acessibilidade, 
vem oferecendo ali novos empreendimentos ainda mais fortificados que os preexistentes. 
Ainda que não seja uma tendência homogênea, o incremento no potencial de movimento 
verificado em algumas das vias estudadas parece ter suscitado mais desconfiança em 
relação ao espaço público, e afastamento dos princípios recomendados como favoráveis à 
segurança e animação urbanas na literatura revisada. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
abstract 
This work addresses nexuses relating built form and signs of insecurity in public spaces. The 
studied cases – the neighbourhoods of Cabanga and Boa Viagem, Recife, Brazil – are briefly 
presented in the context of their occupation history, from the early 20th century to the major 
roadworks of 2016, which introduced the Via Mangue, a 4.5Km highway bordering the 
neighbourhoods. The research explores the incidence of changes concerning insecurity signs 
in the built ensemble in areas whose spatial structure was more affected by the insertion of 
the Via Mangue. Graphic and numeric data resulting from space configuration analysis were 
compared to data gathered from the observation of insecurity signs attached to buildings 
(CCTV cameras, electrified fences, others). The theoretical framework within the literature 
review shows a dichotomy concerning permeability and defensibility of space as strategies, 
and, therefore, the role of the spatial configuration as a means to promote security. In the 
present research, results suggest that changes in the city’s spatial structure coincide with 
increasing insecurity signs aimed at setting private and public spaces apart, either through 
architecture itself or by way of elementsattached to it. The real estate market signals the 
benefits of an increase in accessibility by offering new developments in the area, these being 
yet more fortified than pre-existing ones. Although not a homogeneous tendency, the 
increase of potential movement verified in some of the area’s studied thoroughfares seems 
to have fostered further mistrust of the public space, and deviation from the principles 
recommended as favourable to urban animation and security. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
lista de figuras 
↓ Figura 1 - Foto da Rua Amaro Albino Pimentel, Boa Viagem. Junho de 2020. Foto do autor. _______________________ 21 
Figura 2 - Imagens da Rua Visconde de Jequitinhonha, nas imediações do Shopping Recife, em Boa Viagem, no ano de 2015. 
Foto do autor. ____________________________________________________________________________________ 26 
Figura 3 - Edifício Acaiaca, em Boa Viagem. Foto: Peu Ricardo/Esp. DP. ________________________________________ 33 
Figura 4 - Via Mangue em 2019. Foto: RS Drones. _________________________________________________________ 35 
Figura 5 – Boa Viagem em meados dos anos 1940. Fonte: Blog Plubambo. ______________________________________ 40 
Figura 6 – Cabanga em 1970. Vista da Praça Abelardo Rijo e da Vila Popular na parte inferior esquerda da imagem. Foto: 
Revista O Cruzeiro, Recife de Antigamente. _____________________________________________________________ 41 
Figura 7 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em 1927. Fonte: Blog Plubambo, acesso em 05 de agosto de 2021 _______ 42 
Figura 8 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em meados dos anos 1940. Fonte: Editorial Recife em Transformação do 
Jornal do Commercio. ______________________________________________________________________________ 43 
Figura 9 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em meados dos anos 1940. Fonte: Editorial Recife em Transformação do 
Jornal do Commercio. ______________________________________________________________________________ 43 
↓ Figura 10 - Mapa do Recife com divisão por bairros. Fonte: elaborado pelo autor _______________________________ 43 
Figura 11 - Comércio no térreo do Edf. Califórnia em abril de 2016. Foto: autor. ___________________________________ 46 
Figura 12 - Edf. Califórnia visto desde a rua R. Artur Muniz em abril de 2016. Foto: autor. ___________________________ 46 
Figura 13 - Edf. Califórnia visto desde a Av. Boa Viagem em abril de 2016. Foto: autor. ____________________________ 46 
Figura 14 - Edf. Acaiaca na década de 70. Fonte: Recife de Antigamente. _______________________________________ 47 
Figura 15 - Edf. Acaiaca em 2012. Fonte: Recife Arte Pública. _________________________________________________ 47 
Figura 16 - Edifício na Av. Hélio Falcão, Boa Viagem, 2015. Foto do autor. _______________________________________ 47 
Figura 17 - Edf. Holiday no fim dos anos 1960 ou início dos anos 1970, provavelmente. Fonte: G1. _____________________ 48 
Figura 18 - Edf. Holiday e entorno nos anos 2010. Fonte: G1 __________________________________________________ 48 
Figura 19 - Shopping Center Recife em 1980. Foto: Alcir Lacerda. ______________________________________________ 49 
Figura 20 - Shopping Recife em 2015. Foto: Gustavo Penteado. _______________________________________________ 49 
Figura 21 - Macrozoneamento de Boa Viagem ao longo do tempo de acordo com as legislações vigentes. Fonte: elaborado 
pelo autor._______________________________________________________________________________________ 51 
Figura 22 - Via Mangue em obras na altura do bairro do Pina, 2015. Foto: Diario de Pernambuco. ____________________ 54 
Figura 23 - Via Mangue em obras na altura do bairro de Boa Viagem, em 2015. Foto: Wikipedia. ____________________ 54 
Figura 24 - Condomínio multifamiliar. Foto do autor em abril de 2016. _________________________________________ 55 
Figura 25 - Edf. multifamiliar em Boa Viagem. Foto do autor em abril de 2016. ___________________________________ 55 
Figura 26 - Acesso a condomínio multifamiliar. Foto do autor em abril de 2016. __________________________________ 55 
Figura 27 - Edf. multifamiliar. Foto do autor em abril de 2016. ________________________________________________ 55 
Figura 28 - Interface entre condomínio multifamiliar e espaço público. Foto do autor em abril de 2016. ________________ 55 
Figura 29 - Esquina em Boa Viagem. Foto do autor em abril de 2016. __________________________________________ 55 
Figura 30 - A representação da experiência espacial dos usuários. Fonte: HILLIER; VAUGHAN, 2007, p.209 ____________ 59 
Figura 31 - Esquema que representa a relação entre configuração (C), atratores (A) e movimento (M). Fonte: Hillier et al 
(1993), editado pelo autor. __________________________________________________________________________ 60 
Figura 32 - Espaço público controlado por um conjunto de moradores no Poço da Panela, Recife. Fonte: Google Street View. 61 
Figura 33 - Esquema de decomposição espacial a partir de malha urbana. Fonte: Medeiros (2004, p.35) ______________ 62 
↓ Figura 34 - Esquema gráfico sobre Imagem de satélite do Google Earth. Fonte: Google Earth, editado pelo autor. _______ 65 
Figura 35 – (a) Alça viária sobre o bairro do Cabanga em 2020. Fotos do autor. ________________________________ 67 
Figura 36 - (c) Alça da Ponte Paulo Guerra que dá acesso a Via Mangue. (c) Túnel Josué de Castro na saída da Via Mangue. 
Fonte: Jornal do Commercio._________________________________________________________________________ 68 
Figura 37 - Mapa de segmentos NAIN global antes da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. _________________ 70 
Figura 38 - Mapa de segmentos NAIN global depois da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. ________________ 71 
Figura 39 - Mapa de segmentos NACH global antes da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. ________________ 72 
Figura 40 - Mapa de segmentos NACH global depois da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. _______________ 73 
Figura 41 - Mapa de alteração sintática de NAIN global. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. __________________________ 74 
Figura 42 - Mapa de alteração sintática de NACH global. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. _________________________ 75 
Figura 43 – Mapa de segmentos do INCITI sobre base cartográfica do ESIG. A incompatibilidade dos Sistemas de 
Coordenadas causa o desencontro entre espaço vazio onde está a linha axial e o cheio (lotes/ edificações). Este trecho do 
mapa corresponde ao Cabanga. ______________________________________________________________________ 78 
Figura 44 - Divisão das ruas do Cabanga em Perfis Espaciais. Fonte: elaborado pelo autor. _________________________ 80 
Figura 45 - Divisão das ruas de Boa Viagem em Perfis Espaciais. Traçado da Via Mangue em tracejado. Fonte: elaborado 
pelo autor._______________________________________________________________________________________ 80 
↓ Figura 46 - Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, Boa Viagem, numa tarde em março de 2021. Fonte: foto do autor. __ 86 
Figura 47 - Alça da Via Mangue sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. ____________________________ 89 
Figura 48 - Alça da Via Mangue aterrissando sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. _________________ 89 
Figura 49 - Alça da Via Mangue sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. ____________________________ 90 
Figura 50 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 91 
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file:///D:/Documentos/UFRN/0.1%20Dissertacao/Livro/volume_dissertação_8_final.docx%23_Toc105505336
9 
 
Figura 51 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solo depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor.
 _______________________________________________________________________________________________ 91 
Figura 52 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. _ 93 
Figura 53 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solo depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor.
 _______________________________________________________________________________________________ 93 
Figura 54 - Uso misto na esquina da R. Dilermano Reis com R. Bujari. Foto do autor em 2021. _______________________ 95 
Figura 55 – ANTES (2015) - Mapa de interface antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. ____________ 96 
Figura 56 – DEPOIS (2020) - Mapa de interface depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. _________ 96 
Figura 57 - Av. Saturnino de Brito 292 em 2012, com a Via Mangue em obras. Interface cambiante. - Fonte: Google Street 
View. ___________________________________________________________________________________________ 98 
Figura 58 - Av. Saturnino de Brito 292 em março de 2020, com a Via Mangue plenamente inaugurada. Interface fechada. - 
Fonte: Google Street View. __________________________________________________________________________ 98 
Figura 59 – ANTES (2015) - Mapa de quantidade de elementos de segurança antes da Via Mangue ser inaugurada. 
Elaborado pelo autor. ______________________________________________________________________________ 99 
Figura 60 – DEPOIS (2020) - Mapa de quantidade de elementos de segurança depois da Via Mangue ser inaugurada. 
Elaborado pelo autor. ______________________________________________________________________________ 99 
Figura 61- ANTES (2015) – Número de constituição por lote antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. __ 101 
Figura 62- DEPOIS (2020) - Número de constituição por lote depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 101 
Figura 63 - Casa na esquina da R. Bujari com Dilermano Réis. Foto do autor. ___________________________________ 102 
↓ Figura 64 - Chegada/ conexão da Via Mangue com a Avenida Fernando Simões Barbosa. Foto do autor. ____________ 103 
Figura 65 - Rua Amaro Albino Pimentel. O muro amarelo é de uma escolinha de futebol e o da esquerda (e todos os demais 
da rua) de edifícios multifamiliares. Foto do autor. _______________________________________________________ 105 
Figura 66 - Rua Professor Eduardo Wanderley Filho esquina com a Rua Luís de Faria Barbosa. Foto do autor. __________ 105 
Figura 67 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocup. do solo geral antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor.106 
Figura 68 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocup. do solo geral depois da inauguração da Via Mangue. Elaborado pelo autor.
 ______________________________________________________________________________________________ 106 
Figura 69 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 107 
Figura 70 - DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solo depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor.
 ______________________________________________________________________________________________ 107 
Figura 71 - (Mais um) canteiro de obras na Rua Antônio Sá Leitão, 380, Boa Viagem. Foto do autor (2020) ___________ 109 
Figura 72 - ANTES (2015) - Mapa de interface antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. ____________ 110 
Figura 73 – DEPOIS (2020) - Mapa de interface depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. __________ 110 
Figura 74 – ANTES (2015) – Qtde. de elementos de segurança antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 112 
Figura 75 - DEPOIS (2020) – Qtde. de elementos de segurança depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor.
 _______________________________________________________________________________________________ 112 
Figura 76 - ANTES - Mapa de constitutividade antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. ____________ 114 
Figura 77- DEPOIS - Mapa de constitutividade depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. ___________ 114 
↓ Figura 78 - Trecho final da Rua Antônio de Sá Leitão, Boa Viagem, 29 de junho de 2020. Foto do autor. ______________ 115 
Figura 79 - Sede do Conselho Regional de Corretores de Imóveis na Av. Saturnino de Brito, 297. Fonte: Google Street View. 125 
Figura 80 - Edifício residencial na Avenida Conselheiro Aguiar esquina com a Rua do Atlântico. Fonte: Google Street View. 128 
Figura 81 - Edifício residencial na R. Tenente João Cícero. Fonte: Google Street View. _____________________________ 128 
↓ Figura 82 - Edifício na R. Prof. José Brandão, Boa Viagem. Foto do autor. _____________________________________ 128 
 
 
file:///D:/Documentos/UFRN/0.1%20Dissertacao/Livro/volume_dissertação_8_final.docx%23_Toc105505338
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file:///D:/Documentos/UFRN/0.1%20Dissertacao/Livro/volume_dissertação_8_final.docx%23_Toc105505341file:///D:/Documentos/UFRN/0.1%20Dissertacao/Livro/volume_dissertação_8_final.docx%23_Toc105505342
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10 
 
sumário 
resumo __________________________________________________________________ 6 
abstract _________________________________________________________________ 7 
lista de figuras ____________________________________________________________ 8 
introdução _______________________________________________________________ 12 
1. o criminoso, o crime e a sociabilidade. E o Espaço? _____________________________ 17 
a. a construção da criminologia e o papel do espaço _____________________________ 17 
b. medo e violência urbana ________________________________________________ 19 
2. espaço, movimento e insegurança _________________________________________ 23 
a. as duas perspectivas de cidades seguras ___________________________________ 24 
b. as demais abordagens __________________________________________________ 28 
c. enclausuramento no espaço privado _______________________________________ 32 
d. síntese _______________________________________________________________ 35 
3. da casa de pescador ao espigão ___________________________________________ 40 
4. sobre encontros e esquivanças ____________________________________________ 58 
a. a análise sintática do espaço _____________________________________________ 58 
b. comunidade virtual e o movimento natural__________________________________ 59 
c. unidades convexa e axial ________________________________________________ 61 
d. medidas sintáticas _____________________________________________________ 63 
integração ______________________________________________________________ 63 
escolha _________________________________________________________________ 63 
5. a forma do movimento – e da insegurança __________________________________ 65 
a. Cabanga _____________________________________________________________ 88 
b. Boa Viagem __________________________________________________________ 103 
c. considerações finais ____________________________________________________ 124 
referências ______________________________________________________________ 130 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
12 
 
introdução 
Esta dissertação investiga a presença de artefatos indicadores de sensação de insegurança, 
relacionando-os a mudanças na forma urbana que alteraram a hierarquia de acessibilidade 
em porções da malha viária. As áreas estudadas estão distribuídas em trechos dos bairros 
do Cabanga e de Boa Viagem, no Recife, Pernambuco. 
Não é raro ouvir alguma história envolvendo a insegurança nas cidades. As áreas nobres, 
normalmente dotadas de infraestrutura e serviços urbanos onde se supõe haver um maior 
nível de segurança pública não escapam de relatos de vítimas de furtos e assaltos. O crime, 
especialmente a tentativa de sua prevenção - passou a fazer parte da rotina dos moradores 
das cidades através de esquemas profissionais de segurança interna, portões, guarda 
privada, muros opacos, entre outros. Entende-se como premissa que esses elementos 
funcionam mais como lembrete da sensação de insegurança e do medo do que como 
garantidores da integridade física e patrimonial propriamente dita. Os estudos que 
investigam espaço e insegurança adotam como princípio que o ato criminal é, também, 
situacional, sugerindo que a forma do ambiente construído funciona como um agente que 
atrai ou repele atos antissociais; logo mudanças na estrutura espacial da cidade implicam 
em alterações nos padrões de movimento e, por conseguinte, na relação do edifício com a 
rua. Mesmo sabendo, por dados divulgados na mídia, que o número de roubos na cidade do 
Recife vem caindo há 7 anos1, a cultura do medo e da violência é mais resiliente e segue sendo 
semeada na arquitetura que é produzida na cidade. Conjectura-se um aparente 
descompasso entre a criminalidade real e o que moradores percebem e reagem a ela 
através do ambiente construído. 
Tem-se como premissa desta pesquisa que a arquitetura, por ser impregnada de aspectos 
simbólicos, leva muito tempo até revelar mudanças que correspondem a alterações 
culturais. A paranoia da segurança, do enclausuramento e do escape à “desordem” do 
espaço público é cultivada pelo mercado imobiliário e contribui para a consolidação de uma 
característica da nossa cultura urbana. Ainda que estas decisões partam quase sempre do 
individual, o efeito é coletivo pois afeta a todos enquanto hostiliza o espaço público inibindo 
o uso da rua como locus do encontro randômico. Esses encontros são promovidos, dentre 
 
1 Pernambuco registra menor número de roubos em mais de 7 anos; queda no índice é de 47% disponível em: 
< https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/vidaurbana/2020/05/pernambuco-registra-menor-numero-de-
roubos-em-mais-de-7-anos-queda-no.html> 
13 
 
outros fatores, pelos padrões de movimento advindos da estrutura espacial da cidade, que 
está em constante modificação. 
Transformações na forma urbana acarretam em mudanças nos padrões de movimento 
fazendo com que certos espaços da cidade tenham o potencial de movimento alterado – 
para mais ou para menos – e esse movimento influenciem na relação formal do edifício com 
a rua. Essa consequência recai também no uso e na ocupação do solo, consequentemente 
na interface entre espaço público e privado, na natureza e na quantidade de artifícios de 
segurança agregados à caixa mural do edifício, como cercas eletrificadas, câmeras e grades. 
Mas esta via tem mão dupla, uma vez que essa interface também produz efeitos no uso do 
próprio espaço público como aponta a literatura abordada. O que se investiga aqui é a 
resposta arquitetural que os moradores dão às mudanças nos padrões de movimento nos 
espaços públicos, destacando-se o que parecem ser indícios de insegurança e desconfiança. 
A grande mudança na estrutura espacial avaliada nesta pesquisa é a construção da Via 
Mangue, uma via expressa de 4,5km de extensão. Foi concebida para servir como uma 
alternativa de conexão a Boa Viagem iniciando-se desde o bairro do Cabanga. 
Esta pesquisa tinha como propósito original compreender a relação entre configuração do 
espaço e ocorrência de furtos e roubos no meio urbano do bairro de Boa Viagem, no Recife, 
dando prosseguimento a investigações análogas anteriores como as de Iannicelli (2008) e 
Cavalcanti (2013). Para isso era necessário acesso aos dados atualizados e 
georreferenciados de Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVP) e dos roubos e furtos, 
organizados pela Gerência de Análise Criminal e Estatística da Secretaria de Defesa Social 
de Pernambuco (GACE/SDS-PE). Em julho de 2015 a primeira solicitação de acesso a estes 
dados foi negada mesmo acobertada pelo Lei de Acesso à Informação (LAI). Outro pedido 
foi realizado no fim de 2019, solicitando dados análogos referentes aos anos de 
2016/2017/2018 e o que recebemos foi uma tabela com informações como data da 
ocorrência, período (manhã/tarde/noite), local genérico (bar, calçada, via pública, feira livre, 
ônibus, etc.) e dia da semana2. A localização exata das ocorrências é imprescindível para a 
 
2 Foi solicitado junto a Ouvidoria da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco no dia 08/09/2015 um Pedido de Acesso à 
Informação para a obtenção de dados georreferenciados de CVLI (Crime Violento Letal Intencional), CVP (Crime Violento 
Contra o Patrimônio)e Agressão ocorridos no Recife entre 01-2009 a 07-2015. Essa solicitação foi acompanhada de um 
ofício da Universidade Católica de Pernambuco confirmando que os dados seriam usados exclusivamente para a 
elaboração do Trabalho Final de Graduação. Em 10/09/2015 o ouvidor Ricardo Lacerda respondeu a solicitação de número 
211/2015-GACE/SDS através do número 589/2015/GACE/SDS-PE elaborado pelo gerente da GACE/SDS (Gerência de Análise 
Criminal e Estatística), informando que os dados georreferenciados são classificados como informação reservada e em 
alguns casos sigilosa por isso não seriam disponibilizados. Outro pedido foi realizado no fim de 2019, solicitando dados 
análogos referentes aos anos de 2016/2017/2018 através do Pedido de Acesso à Informação registrado sob o nº 201989218 
14 
 
realização de pesquisas desta natureza. Estas negativas da SDS impossibilitam a realização 
de qualquer investigação que utilize o crime enquanto variável, sendo que as pesquisas 
acadêmicas poderiam contribuir, inclusive estrategicamente, ao inserir componentes que 
não entram na matriz de análise padrão da GACE, como características espaciais. 
Os trabalhos de Iannicelli (2008) e Cavalcanti (2013) evidenciaram a relação entre 
configuração do espaço e a ocorrência de furtos e roubos no meio público do Recife. Logo 
resolveu-se investigar se o surgimento ou recrudescimento de indícios de insegurança 
seguem-se a mudanças na estrutura espacial da cidade. Ora, se é possível assinalar que 
existe congruência entre delitos e configuração, talvez fosse possível também observar uma 
relação entre indícios de insegurança e configuração espacial. Por isso o estudo foi dividido 
em etapas que objetivam especificamente: 
1 Apresentar e discutir o papel do espaço dentro da criminologia, assim como a 
continuidade dos estudos nas ciências sociais e na arquitetura e urbanismo que 
levaram o espaço a se firmar enquanto componente de análise; 
2 Identificar o impacto global da Via Mangue sobre a configuração do espaço e 
delimitar as áreas afetadas pela transformação da forma; 
3 Investigar e espacializar características que derivam da forma urbana como uso e 
ocupação do solo, artifícios de segurança, interface entre espaço privado e público e 
acessos diretos entre estes nas áreas de análise; 
4 identificar padrões de relações entre forma do ambiente construído e indícios de 
insegurança em áreas com acessibilidade afetada pela inserção da Via Mangue. 
O trabalho está estruturado em introdução e outros cinco capítulos que respondem aos 
objetivos específicos. O primeiro capítulo, “o criminoso, o crime e a sociabilidade. E o 
espaço” trata do espaço (ou da sua desassociação) – enquanto ator e entidade – em estudos 
de criminologia e das ciências sociais (BECCARIA, 2003; LOMBROSO, 2007; DURKHEIM, 
1893/2008; SIMMEL, 2005; WIEVIORKA, 2006). Se a princípio o que se levava em 
consideração eram os protagonistas (agente ou vítima da violência), o ato criminal por si só 
e no que isso reverberava em termos de sociabilidade, o espaço foi ganhando importância 
apenas no último século e foi aí que o tema foi sendo introduzido no campo da arquitetura e 
 
e respondido em 21 de novembro de 2019 pelo relatório nº 880/2019-GACE/SDS-PE entregando uma tabela com informações 
genéricas. 
15 
 
do urbanismo. O medo e a violência urbana também são discutidos enquanto fatores que 
interagem com comportamentos sociais (ADORNO E LAMIN, 2008; TUAN, 2005; BAUMAN, 
2008). 
O segundo capítulo “espaço, movimento e insegurança” foca no espaço enquanto 
protagonista. A discussão está centrada na contradição entre engajamento e evitamento 
social como estratégias de prevenção ao crime que coexistem desde o início dos anos 1960 
(JACOBS, 1961; NEWMAN, 1972;), e na investigação de atributos qualitativos e quantitativos 
do espaço que têm reflexos na sensação de insegurança e nas características arquiteturais, 
visando aferi-los e implementa-los como forma de prevenção (HILLIER, 2004; HILLIER E 
SAHBAZ, 2008; IANICELLI, 2008; CAVALCANTI, 2013; BONDARUK, 2008; MONTEIRO, 2012; 
GREENE E GREENE, 2003; NETTO, 2006). 
O terceiro capítulo “da casa do pescador ao espigão” remonta, brevemente, ao processo 
de ocupação do bairro de Boa Viagem e do Cabanga, desde suas fases originárias enquanto 
vila de pescadores até a transformação de Boa Viagem em balneário de veraneio e em 
seguida como região adensada, verticalizada e mais integrada ao tecido urbano do Recife a 
partir das intervenções na estrutura espacial. Chegando, finalmente, na última grande obra 
viária que foi a Via Mangue que conecta o Cabanga a Boa Viagem. 
O quarto capítulo “sobre encontros e esquivanças” traz os pressupostos metodológicos. 
Apresenta-se a teoria a Análise Sintática do Espaço ou Sintaxe do Espaço (doravante 
chamada de ASE ou SE) (HILLIER E HANSON, 1984), e as categorias de análise utilizadas nesta 
investigação para caracterizar a forma urbana do Recife. A SE foi fundamental para 
visualizar o impacto em acessibilidade da Via Mangue e assim selecionar trechos da cidade 
que entrariam na análise. 
O quinto capítulo “a forma do movimento e da insegurança” apresenta as informações 
coletadas em pesquisa de campo3 e estão apresentadas em mapas e quadros descritivos. 
Neste capítulo também apresentam-se as considerações e discussões desta investigação. 
 
 
3 Esta pesquisa foi iniciada no ano de 2019, reservando 2020 e meados de 2021 para coleta de informações na pesquisa de 
campo. Desafortunadamente esse período coincidiu com a pandemia de Covid-19 no mundo que resultou com meses de 
isolamento social, instituições fechadas e a impossibilidade de se estar na rua por muito tempo sob o risco de contágio. Por 
conta disso, boa parte da coleta de dados foi feita através do Google Street View que estava atualizado com imagens de 
março de 2020. Quando necessário, foram feitas visitas de campo para informações adicionais e fotografias. 
16 
 
síntese dos objetivos 
 
GERAL 
compreender os efeitos que mudanças na forma urbana do Recife exercem na relação entre 
edifício e espaço público, analisando mudanças nos padrões de potencial de movimento e 
em indícios de insegurança 
 
 
 
 
 
 
 
ESPECÍFICOS 
1. apresentar e discutir o papel do espaço dentro da criminologia; 
2. caracterizar a estrutura espacial do Recife antes e depois das alterações (2015 x 2021); 
3. investigar e espacializar usos do solo, artifícios de segurança patrimonial e interface dos 
lotes nos polígonos de análise; 
4. identificar possíveis padrões de relações entre forma do ambiente construído e indícios de 
insegurança. 
 
 
 
 
17 
 
1. o criminoso, o crime e a sociabilidade. E o Espaço? 
O espaço desponta como elemento central desta pesquisa e por isso é substancial entender 
seu papel na construção na criminologia. A criminologia representa o conjunto de 
conhecimentos relativos ao crime enquanto fato social. Possui abordagem empírica já que 
se trata de uma investigação baseada em percepções e experiências centradas no ato 
criminal, em seus agentes, nas vítimas, no comportamento da sociedade e também no 
espaço. Tem caráter multidisciplinar porque reúne perspectivas do direito, sociologia, 
antropologia, psicologia, etc. Historicamente dividiu-se os estudos de criminologia nas 
Escolas Clássica, Positivista e Sociológica. Apesar do alto número de estudos que investigam 
a relação entre espaço, crime e insegurança, na construção da ciência da criminologia o 
componente espacial só ganhou a simpatia de pesquisadores mais recentemente. Nesta 
seção se discute o papel do espaço nos estudos sobre o crime e o criminoso através de uma 
revisão bibliográfica dos trabalhos seminais e também mostrar os desdobramentos dessas 
investigações dentro da Arquitetura e do Urbanismo. 
a. a construção da criminologia e o papel do espaço 
A Escola Clássica, meados do século XVIII, tem Cesare Beccaria (2003) como precursor,defensor da ideia de que a conduta criminosa era fruto de uma reflexão racional, onde o 
indivíduo compara as vantagens e os riscos inerentes ao ato criminoso e escolhe por realiza-
lo caso as vantagens se sobreponham aos riscos. Neste caso, trata-se do produto de uma 
escolha racionalmente avaliada cujo fruto é a irracionalidade: o crime é a escolha racional 
equivocada. 
A Escola Positivista emergiu em meados do século XIX sob um contexto de valorização da 
exatidão científica típica das chamadas “ciências duras” ou “naturais”. Os positivistas 
rechaçavam a racionalidade que os clássicos atribuíam aos criminosos, sustentando a ideia 
de que o criminoso era impulsionado por forças que ele mesmo não tinha consciência 
(CALHAU, 2008). A Escola Positivista procurava compreender quais eram os fatores internos 
e externos que levavam à conduta criminosa, sendo responsável pela abordagem biológica 
dos estudos do crime, prezando sempre o princípio da causalidade. Deste período 
destacam-se os experimentos do médico Cesare Lombroso (LOMBROSO, 2007). Sua visão 
sobre a relação entre causa e efeito apontava que a eliminação do “gene criminoso” (a 
“espécie” criminosa – a causa) livraria a sociedade do crime (o efeito). 
18 
 
As mudanças nos modos de produção trazidas pela Revolução Industrial pavimentaram o 
caminham para a chamada Escola Sociológica, no fim século XIX. O ponta pé inicial para 
esta discussão parte do conceito de solidariedade proposto por Durkheim (1893/2008), 
entendida como elemento de coesão social. O autor aponta que existem duas maneiras de 
integração social: a solidariedade por semelhanças, ou mecânica, e a solidariedade por 
diferenças, ou orgânica. Durkheim (1893/2008) insinuava que as sociedades “menos 
complexas” – ou, como prefiro chamar, pré-capitalistas – expressavam seu vínculo social a 
partir de uma consciência coletiva, definida como “O conjunto de crenças comuns à média 
dos membros de uma mesma sociedade” (DURKHEIM, 2008, P.50). Conforme os agentes e 
os grupos sociais se complexificam a partir das relações de troca impostas pelo sistema 
capitalista, a consciência coletiva por si só não é mais capaz de manter a coesão social. 
Inicia-se assim o momento de transição para a solidariedade orgânica, baseada em relações 
de complementaridade, interpendência, confiança contratual, expectativas, etc. Suassuna 
(2013) afirma que ainda que a substituição da solidariedade mecânica pela orgânica 
aconteça gradualmente, a transição não é algo acabado e finito. A contemporaneidade é 
marcada pela coexistência entre as duas solidariedades. 
A corrente sociológica se propôs a discutir as diferenças entre causa e fator, desmistificando 
a relação de causa e efeito da Escola Positivista. Pelo termo causa presume-se uma relação 
determinística, uma circunstância objetiva sem a qual o outro fenômeno não existe. Fator 
trata-se de um elemento que possivelmente colabora para sua maior ou menor incidência. 
É aqui que finalmente o Espaço ganha corpo na discussão. A ebulição dos novos fenômenos 
sociais decorrentes da mudança nos modos de produção levou a “Primeira Escola de 
Chicago” a tratar a cidade enquanto elemento que influencia o comportamento humano. 
No início do século XX a expansão da cidade de Chicago é marcada por um espaço urbano 
caracterizado por desigualdades socioeconômicas. Simmel (2005) atribui a estas 
desigualdades a ocorrência de outros problemas que tensionam a coesão social da vida 
moderna. É neste contexto que o crime passa a ser ligado ao processo de urbanização já 
que ele fragiliza as tradicionais formas de controle de até então: a escola, a igreja e a família. 
Analisar a conduta criminosa sob um ponto de vista isolado, seja biológico, psicológico ou 
sociológico é subestimar a complexidade desse comportamento. A história já mostrou se 
tratar de um equívoco colocar pessoas que cometeram atos delituosos em um grupo 
19 
 
homogêneo, logo não parece razoável esperar encontrar fatores comuns de personalidade 
ou especificidades que expliquem o ato. 
Trazendo para a realidade mais recente, Wieviorka (2006) trata da violência baseada na 
noção de sujeito, dividindo-se em duas perspectivas analisáveis: a do protagonista da 
violência ou da vítima. O autor define sujeito como a “capacidade de construir-se a si 
próprio, de proceder a escolhas, de produzir sua própria existência” e que “Sujeito é uma 
dimensão da pessoa, diferente do indivíduo. O sujeito não se torna sempre, ou facilmente, 
ou plenamente ator e é mesmo no espaço que separa o sujeito do ator que se esboça a 
violência.” Se é justamente no espaço em que esta separação ocorre, certamente é nele que 
também se impregnam elementos que se afastam, ou pelo menos tentam se afastar, da 
violência. 
A discussão sobre o espaço foi negligenciada especialmente nas escolas Clássica e 
Positivista. No caso da primeira, apesar de Beccaria (2003) apontar para uma racionalidade 
do criminoso este discurso refere-se aos riscos punitivos decorrentes do crime e não ao 
momento de execução do ato criminal – instante em que o espaço ganha mais relevância. 
Apesar de parcialmente convergentes, a diferença fundamental entre a racionalidade de 
Beccaria (2003) e a noção de sujeito de Wieviorka (2006) é que a última inclui o espaço 
como componente a ser considerado no ato da escolha ou não da execução do delito. 
b. medo e violência urbana 
Assumindo o crime como fato social que constitui parte da vida urbana, especialmente nas 
grandes cidades capitalistas, o medo do crime e da violência urbana findam por também 
fazer parte do cotidiano dos usuários das cidades. As tentativas de se prevenir do crime se 
espalham em estratégias que vão desde o nosso comportamento nas cidades até o espaço. 
Ao tratar das “falas do crime” (qualquer comentário, narrativa, conversa, piadas e debates 
a respeito da criminalidade ou do medo dela), Adorno e Lamin (2008) apontam que o anseio 
pela segurança está ligado aos espaços isolados da “desordem social” atribuída ao espaço 
público. A elevação de muros e o distanciamento simbólico entre espaço público e privado 
fragiliza as potenciais relações de troca entre habitantes da cidade. Tuan (2005) afirma que 
dessa maneira as cidades afastam-se daquilo que sempre se esperou delas: que fossem 
espaços permeados por uma ordem harmônica de laços sociais, de um pluralismo 
sociocultural e de expansão do exercício da cidadania. Adorno e Lamin (2008) demonstram 
que as sondagens públicas de opinião citam incivilidades como vandalismo, depreciação do 
20 
 
patrimônio, excesso de barulho, entre outros como atos considerados indesejáveis e que 
operam como rupturas do processo civilizatório e estimulam manifestações de medo. 
Os conceitos de violência urbana e medo estão entrelaçados pois se retroalimentam. 
Segundo Adorno e Lamin (2008), as Ciências Sociais e as Humanidades de um modo geral 
atribuem ao medo sentimentos como os relatados a seguir: 
retraimento individual ou coletivo diante de fatos, acontecimentos, 
situações ou contextos percebidos como ameaças ou agressões à 
integridade física, psíquica ou moral dos seres humanos, ao 
patrimônio privado ou público, a identidade dos grupos sociais, aos 
bens coletivos protegidos pelas leis, aos valores tidos como sagrados 
e dignos de respeito em comunidades e sociedades. 
(ADORNO E LAMIN, 2008, p.65) 
Bauman (2008) define o medo como sinônimo da incerteza de como enfrentar uma ameaça. 
O autor separa o medo em primário e derivado (ou secundário). O medo primário é aquele 
em que o sujeito é posto numa situação de risco imediato e evidente, como o medo de morrer 
durante uma guerra. O derivado é permeado por uma constante sensação de 
vulnerabilidade e de impotência que independe da ameaça imediata. Bauman (2008) 
afirma que o medo derivado afeta nossa estrutura mental cultivando uma cultura de perigo 
constante, orientando comportamentos e diminuindoas possibilidades de se pensar em 
soluções. Ainda segundo o autor, uma pessoa que tenha internalizado essa perspectiva de 
insegurança e vulnerabilidade constantes se comportará como se estivesse diante da 
ameaça real, ainda que esta não esteja ali. 
No escopo desta pesquisa, o medo da desordem social vinculada aquilo que é público é o 
exemplo mais adequado de medo derivado. Esse medo é um dos fatores que contribuem 
para o evitamento de certos espaços da cidade. O temor dessa imprevisibilidade nos conduz 
em busca de algum tipo de alívio, alguma proteção em relação ao risco. Mas esse temor não 
se encerra ao encontrar a tal proteção. Na verdade este alívio é breve e a desconfiança do 
outro se mantém como locus da insegurança moderna, rebatida na arquitetura com a 
opacificação de muros e a adoção de artifícios de segurança patrimonial, por exemplo. Em 
“Confiança e Medo na Cidade”, Bauman (2009) inclui a arquitetura como componente 
importante na busca pela recuperação da coexistência segura, pacífica e amigável nas 
cidades. 
Apesar da origem subjetiva, aqueles em situação de medo tendem a padronizar um 
comportamento quando este sentimento é compartilhado coletivamente, endossado pela 
21 
 
mídia e materializado no enclausuramento intramuros dos moradores nos espaços privados. 
Para Bauman (2008), a dissolução da solidariedade entre indivíduos define o que ele chama 
de “medos modernos”, baseados na desconfiança. 
Quando um grupo de pessoas começa a evitar certos espaços da cidade por algum histórico 
de roubos e/ou furtos, trata-se de uma alteração de um padrão comportamental da 
coletividade (violência urbana) assim como um retraimento coletivo a um perigo real ou 
percebido (medo). Em matéria veiculada em agosto de 2019 sobre assaltos que vem 
ocorrendo no calçadão da Avenida Boa Viagem, no bairro de mesmo nome no Recife, dois 
relatos chamam atenção para identificar os conceitos de medo e violência urbana. 
“O turista vem para Boa Viagem e não tem segurança, não tem boa 
recepção. [...] O pessoal tá caminhando na Avenida Boa Viagem 
com medo porque aparece gente de moto, de bicicleta, assaltando.” 
“Fiquei muito assustado. Principalmente quando ele falou que, se eu 
não entregasse os anéis, poderia acontecer algo pior para mim. 
Estou agora tentando vencer o medo para voltar a caminhar.” 
O primeiro depoimento é o de um comerciante da orla e o segundo de um morador do bairro, 
vítima de um assalto às 5h da manhã. Identifica-se no primeiro discurso o retraimento 
coletivo como descrito por Adorno e Lamin (2008), no qual os turistas da orla de Boa Viagem 
vem sofrendo pelo receio de serem abordados, segundo o entrevistado. O morador que deu 
o segundo depoimento expôs ao jornalista que alterou o trajeto da caminhada que 
costumeiramente fazia pela manhã como uma maneira de evitar outros assaltos. Uma 
mudança na rotina que se vincula à noção de violência urbana e que se expande para além 
do medo do crime. As violências urbanas relacionam-se não só com a alteração de hábitos 
cotidianos mas também com relações de sociabilidade fragilizadas e a demarcação de 
fronteiras socioespaciais materializadas nos mais diversos artifícios de proteção patrimonial 
fáceis de serem encontradas nas ruas de Boa Viagem, como na ↓ Figura 1. 
 
 
 
 
↓ Figura 1 - Foto da Rua Amaro Albino Pimentel, Boa Viagem. Junho de 2020. Foto do autor. 
22 
 
 
 
23 
 
2. espaço, movimento e insegurança 
Após anos de estudos focados no criminoso e, principalmente, nos incriminados, as 
investigações sobre crime e insegurança se voltam para o espaço principalmente na 
segunda metade do século XX. As contribuições foram desenvolvidas inicialmente nos anos 
de 1960 e 1970, discutindo aspectos da morfologia urbana que facilitam e restringem a 
criminalidade (JACOBS, 1961) e também orientando novos projetos urbanos e intervenções 
no ambiente construído no sentido de promover maior segurança (NEWMAN, 1972). Os 
trabalhos The death and Life of Great American Cities (1961) e Defensible Space (1972) escritos, 
respectivamente, por Jane Jacobs e Oscar Newman já abordavam o tema direta ou 
indiretamente. A criminalidade a qual estes trabalhos se referem equivalem ao Crime Contra 
o Patrimônio do nosso Código Penal (BRASIL, 1940), isto é, a subtração de itens pessoais sem 
o uso da violência física. 
Ainda no início dos anos 1970, aproveitando o ensejo de Jacobs (1961) e Newman (1972), Ray 
Jeffery (COZENS ET AL 2005) traz à tona pela primeira vez o termo Crime Prevention Through 
Environmental Design (CPTED), isto é, a prevenção de crimes através do projeto/ desenho 
urbano-arquitetônico (tradução livre). Trata-se de uma abordagem normativa que promete 
diminuir a vulnerabilidade a partir de uma equipe multidisciplinar formada por policiais, 
profissionais de segurança, moradores, arquitetos, etc., apontando características do 
ambiente construído e também comportamentos que atraem criminosos. Neste capítulo 
será discutida a versão brasileira do CPTED. 
Nos anos de 1980 e 1990, ampliou-se o campo de estudos sobre morfologia urbana e 
comportamento social, ou espaço e sociedade, especialmente por meio dos trabalhos de Bill 
Hillier e Julienne Hanson (HILLIER & HANSON, 1984; HILLIER, 1996), que também contribuíram 
para o entendimento do papel da forma do espaço e do movimento nas cidades na 
insegurança urbana. Embora, num primeiro momento, os estudos de Hillier e Hanson - The 
Social Logic of Space (HILLIER & HANSON, 1984) e Space Is The Machine (HILLIER, 1996) – não 
abordassem o tema em particular, apontaram relevantes aspectos da Sintaxe do Espaço 
(SE) que sustentariam investigações posteriores publicadas nos anos 2000 sobre espaço e 
crime como os textos Can streets be made safe? (HILLIER, 2004) e An evidence base approach 
to crime and urban design: Or, can we have vitality, sustainability and security all at once? 
(HILLIER E SAHBAZ; 2008). 
24 
 
No esfera dos estudos latino-americanos, destacam-se os trabalhos de Cavalcanti (2013), 
“Espaço e Crime: Desvendando a lógica dos padrões espaciais de crimes urbanos no bairro 
de Boa Viagem, Recife-PE” e o de Iannicelli (2008), “Arquitetura e Criminalidade: Uma 
Análise sobre o Padrão de Crime no Bairro de Boa Viagem” já que ambos tem o Recife 
enquanto estudo de caso. Também o trabalho de Monteiro (2012) sobre o bairro de Manaíra, 
em João Pessoa e o de Greene e Greene (2003) sobre as ruas de Santiago, Chile. Neste 
capítulo foram colacionados os resultados e as normativas dos estudos internacionais e 
locais a fim de conferir se havia convergência nos resultados, isto é: o que é inseguro lá fora, 
é inseguro aqui? 
 
a. as duas perspectivas de cidades seguras 
Nesta seção discutem-se dois trabalhos seminais que confrontam uma série de condições 
do espaço com a sensação de insegurança. Os trabalhos de Jacobs (1961) e Newman (1972, 
1996) foram marcos importantes nos estudos subsequentes pois teriam levado a uma 
bifurcação sobre os diferentes tratamentos que o espaço pode receber seguindo lógicas e 
ideias completamente distintas: a do engajamento e a do evitamento, ou ainda: da 
confiança versus desconfiança. 
 
Jacobs (1961) 
O trabalho de Jane Jacobs em The Death and Life of Great American Cities, publicado em 
1961, foi um dos primeiros a abordar a influência da morfologia urbana e da vida cotidiana 
na emergência de espaços urbanos mais seguros, chamando a atenção para a importância 
de maior relação entre os edifícios, ruas e usuários. Jacobs era crítica ferrenha dos 
planejadores urbanos que trabalhavam sob a influência do determinismo moderno que 
comumente atrelava a questão da insegurança exclusivamente às habitações precárias. No 
entanto, para Jacobs, a insegurança real e a “imaginária” dão no mesmo, já que afetam o 
comportamento das pessoas nas cidades que fazem oposição à prosperidade dos espaços 
urbanos que ela tanto preconizava. Por serescritora da vida cotidiana, Jacobs estava mais 
preocupada com o que Bauman (2008) chama de medo derivado, isto é: uma constante 
sensação de vulnerabilidade e de impotência que independe da ameaça imediata. É ele um 
dos elementos que apartam as pessoas dos espaços públicos. 
25 
 
Tanto a sensação quanto a segurança propriamente dita seriam estruturadas a partir de 
três eixos que derivam de aspectos morfológicos: (1) tornar claros os limites entre espaço 
público e privado (diferentemente do que ocorre nos subúrbios estadunidenses), (2) os “olhos 
da rua”, a ideia de que o espaço público deve estar constantemente observado através do 
maior número de usuários, de acessos, transparências nas interfaces, etc., que seriam 
responsáveis pelo que ela chama de vigilância social (Figura 2). Finalmente (3) a copresença 
de pessoas em variados horários que seria consequência da variedade de usos e da alta 
densidade populacional. A ideia de que “gente atrai gente” era muito cara a Jacobs, logo 
uma rua movimentada atrairia outras pessoas e junto com os três elementos ajudariam a 
promover a segurança urbana em espaços públicos. 
Quanto a aspectos configuracionais, segundo Jacobs (2011, p. 197), as quadras deveriam ser 
curtas para dar ao usuário a oportunidades de virar esquinas frequentemente. Isso faz com 
que a utilização das faces de quadra (de esquina a esquina) seja mais bem distribuída já 
que a distância para se chegar a um ponto da cidade pode ser a mesma através de 
caminhos variados. Essa permeabilidade estimula também a continuidade dos usos por ruas 
diferentes. A chave para a sensação e promoção da segurança para Jacobs passa pelo 
constante movimento de pessoas pela cidade. Sobre quadras longas que permitem menores 
mudanças de direção, Jacobs defende que: 
“Essas ruas não têm sentido porque raramente há um motivo 
plausível para serem usadas por um número razoável de pessoas. 
Mesmo vistos de fora, levando em conta apenas a mudança de 
perspectivas visuais quando se vai de um lugar a outro, esses 
caminhos não têm sentido porque todos os cenários são 
essencialmente idênticos.” (JACOBS, 2011. P.205): 
 
O mais importante do pensamento de Jacobs quanto à segurança é aquilo que o estrutura: 
a relação de confiança mútua e “inconsciente” entre os habitantes da cidade. A premissa 
de Jacobs (1961) era a de que cidadãos devem considerar pessoas anônimas como um 
possível recurso de segurança e não como fonte de perigo. Jacobs não retira do Estado sua 
parcela na responsabilidade pela manutenção da ordem pública. A rede intrincada dos 
elementos e agentes que compõem a vida cotidiana, aliada aos dispositivos de controle 
social (como a polícia) são mantenedores da civilidade que se almeja nas cidades. 
 
26 
 
 
 
Figura 2 - Imagens da Rua Visconde de Jequitinhonha, nas imediações do Shopping Recife, em Boa Viagem, no ano de 
2015. Foto do autor. 
Newman (1972, 1996) 
Em 1972, Oscar Newman publica Defensible Space (Espaço Defensável, tradução livre) sob 
forte influência do determinismo moderno. Seu principal trabalho, entretanto, é o livro 
Creating Defensible Space, de 1996, em que atribui ao espaço um importante papel na 
ocorrência de crimes. 
Os princípios do Espaço Defensável, publicadas em Creating Defensible Space, advém de 
conclusões realizadas pelo autor ao analisar principalmente o caso de Pruitt-Igoe4. Em uma 
interpretação moderna dos fatos, Newman (1996) atribui a insegurança do conjunto 
integralmente às suas características espaciais: tipologia edilícia, alta densidade 
populacional e grande número de espaços públicos dissociados das unidades habitacionais. 
Newman encerra concluindo que a baixa densidade populacional gera espaços mais 
seguros, assim como a maximização dos espaços privados em detrimento dos públicos junto 
com a clara separação entre eles. Esses pequenos espaços compartilhados por um menor 
número de pessoas seria melhor mantido sendo, portanto, mais fácil de ser apropriado – e 
mantido - pelos poucos moradores. 
 
4 Pruitt-Igoe foi um conjunto de habitação de interesse social construído em 1954. Seguia os princípios modernistas de Le 
Corbusier divulgados nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). A ideia de liberar o térreo dos 33 
edifícios de 11 pavimentos cada para atividades da comunidade parecia adequada no momento em que se discutia a 
salubridade das cidades, alinhada com as discussões de arquitetura moderna, como forma de maximizar os espaços livres 
públicos. Depois de poucos anos uma série de problemas emergiram no conjunto. Segundo Newman (1996), um dos 
problemas era que as áreas comuns eram desassociadas das torres e eram grandes demais. Os moradores não se sentiam 
pertencentes àqueles espaços.O térreo – projetado para se tornar um “mar de árvores” - foi tomado por lixo, ações de 
vandalismo e insegurança. 17 anos depois de sua construção, o conjunto foi demolido. 
 
27 
 
Newman (1996) argumenta que o espaço utilizado por um grande número de pessoas gera 
o anonimato que o assaltante precisa para poder agir. Com essa perspectiva de 
desconfiança, a abordagem do autor se dá a partir da reestruturação física de espaços 
urbanos como alternativa para promover a segurança, diminuindo a possibilidade de 
encontro entre pessoas anônimas. A reconfiguração da forma urbana estimularia a 
territorialidade de seus habitantes. Essa sensação de territorialidade, ou pertencimento, se 
daria a partir da repartição da cidade em porções de ruas e quadras com perfis 
socioeconômicos semelhantes, o que estimularia a convivência entre os vizinhos daquele 
espaço. Os chamados mini-neighborhoods (minibairros - tradução livre), devem conter um 
número médio de seis ruas que devem ser isoladas do restante do tecido da cidade através 
de portões controlados pelos próprios moradores, diminuindo sensivelmente a 
permeabilidade física do espaço urbano. Isso faria com que a circulação de usuários fosse 
exclusiva de moradores ou pessoas autorizadas, o que, em tese, facilitaria a manutenção e 
a segurança dos espaços públicos e comuns. Com estas proposições, Newman transfere a 
responsabilidade da segurança do Estado e seus instrumentos, como a polícia, para os 
moradores, características que delineiam um perfil de natureza neoliberal. 
Quanto às edificações Newman (1996) afirma que os acessos ao espaço privado devem ser 
visíveis e voltados para a rua e as demais edificações no entorno. Uma preocupação que 
lembra os “olhos da rua” de Jacobs ma non troppo, já que também dizia que a variedade 
de usos tornava o espaço mais perigoso uma vez que é um atrativo para o anonimato. A 
própria ideia de fragmentação sistemática da cidade em minibairros estimula a 
monofuncionalidade. A vigilancia dos espaços adjacentes ao edifício em questão também 
poderia dar-se através de circuito de câmeras, segundo depoimento de Oscar Newman no 
episódio documental “The Writing on the Wall” de 1974 (disponível em 
https://youtu.be/9OMH7N_6nCE. Acesso em 05 de março de 2021). 
O trabalho de Newman (1972, 1996) tem um traço muito bem definido: o controle. Em todas 
as suas normativas está subjacente uma noção de desconfiança no outro que desemboca 
nessas transformações urbanas e arquitetônicas. O controle no acesso de pessoas anônimas 
a ruas públicas, espaços comuns compartilhados por um baixo número de usuários, edifícios 
monofuncionais, o agrupamento de moradores por condição socioeconômica: essas 
medidas fragmentam a cidade enquanto sistema e relegam ao espaço urbano a mera 
condição de espaço de circulação entre os minibairros. 
https://youtu.be/9OMH7N_6nCE
28 
 
b. as demais abordagens 
Os trabalhos desenvolvidos após o embate crítico entre Jacobs e Newman seguiram 
caminhos mais variados, utilizando-se de outras abordagens, métricas e atributos do espaço 
que se relacionam em maior ou menor grau com indícios de insegurança. 
 
CPTED (1971) 
O CrimePrevention Through Environmental Design é um modelo teórico multidisciplinar que 
promete a diminuição da vulnerabilidade urbana ao crime através do projeto. Surge no 
contexto da discussão entre espaço e crime protagonizados pela dicotomia das ideias de 
Jacobs (1961) e Newman (1972, 1996), trazendo abordagens sobre a concepção e uso dos 
espaços com vistas à redução da criminalidade e da sensação de insegurança. Enquanto o 
Espaço Defensável de Newman (1996) se concentrava principalmente nos espaços 
habitacionais, o CPTED assumiu um caráter mais generalista e expandiu suas ideias a outros 
usos: edifícios comerciais, estacionamentos, estádios esportivos, entre outros. 
A teoria do CPTED se vale originalmente de quatro dimensões fundamentais: (1) 
territorialidade, (2) vigilância natural, (3) controle de acesso e (4) manutenção do espaço. A 
noção da territorialidade deriva das concepções de Newman (1972, 1996): à medida que 
desenvolvem a sensação de territorialidade as pessoas passam a exercer a vigilância prática 
do seu ambiente definido com barreiras físicas (muros, cercas, etc.) e simbólicas 
(domínio). A vigilância natural (2) relaciona-se entre o ver e o ser visto, pois com o 
monitoramento do entorno da edificação existe a possibilidade de se identificar pessoas 
suspeitas. Ela se materializa com acessos e janelas voltadas para a rua e a diminuição de 
barreiras visuais e pontos cegos como árvores, construções, etc. O controle de acesso (3) diz 
respeito à permeabilidade do espaço público, isto é, restringir a entrada de pessoas 
estranhas em determinados espaços, regulados por mecanismos físicos - como portões - ou 
simbólicos - como placas. Já o último aspecto aborda a manutenção do espaço (4), um 
subproduto da teoria da janela quebrada que afirma que locais que não aparentam bons 
cuidados terminam sendo estigmatizados e se tornam, por consequência, mais vulneráveis. 
Ou que a desordem geraria desordem. Ao identificar que determinados lugares são bem 
mantidos, subentende-se que exista vigilância. 
29 
 
Esses quatro princípios fundamentais surgiram no início do modelo do CPTED fortemente 
influenciados pelas ideias de Newman (1972). Mais recentemente outras abordagens vem 
sendo adicionadas ao seu escopo teórico: (5) a justaposição geográfica, (6) o fortalecimento 
dos alvos e o (7) suporte ativo. O primeiro diz respeito à situação locacional do espaço que 
se está analisando porque a acessibilidade do espaço também lhe confere maior ou menor 
vulnerabilidade. Exemplo: edificações próximas a rodovias são mais suscetíveis a assaltos. 
Este novo ponto traz uma importante reflexão para os estudos entre espaço e insegurança 
que é compreender o ato criminoso a partir de uma visão abrangente que considere o 
movimento como componente: o assaltante se utiliza da cidade para chegar até um ponto 
mais favorável à prática do crime e para evadir-se daquele espaço. O fortalecimento dos 
alvos (6) significa aumentar o esforço do criminoso para alcançar o alvo do roubo, como o 
reforço de portas com cadeados e grades. Já o último aspecto (7), ironicamente retoma as 
ideias de Jacobs (1961) ao afirmar que deve-se estimular o uso do espaço público, 
aumentando os índices de copresença, estimulando assim a vigilância natural (2). 
As ideias do CPTED ganharam versões específicas em uma série de países além dos Estados 
Unidos como Canadá, México, Austrália, Brasil, etc. Estas publicações sofriam adaptações 
relativas às especificidades de cada contexto em que seria aplicado. Bondaruk (2008) 
publica a versão brasileira intitulada A Prevenção do Crime Através do Desenho Urbano, 
onde reúne estudos que investigaram espaço e crime e denomina este campo de pesquisa 
como Arquitetura Contra o Crime. O autor traz aspectos da forma urbana - como ruas mais 
compridas que permitam campos visuais maiores – que são apontados como fatores que 
influenciam na ocorrência de crimes. 
Bondaruk (2008) assegura que o meio para estimular a vigilância natural é melhorar a 
intervisibilidade entre espaço público e privado. Quanto a territorialidade, o autor afirma que 
são os moradores que devem cuidar, vigiar e coibir atitudes antissociais nos espaços 
públicos no entorno de suas residências porque o abandono dessas áreas implica numa 
maior vulnerabilidade urbana ao crime. Essas ideias são assumidamente apoiadas nas 
noções de Newman (1972, 1996). 
Bondaruk (2008) afirma que o mercado se locupleta da sensação de medo da população 
para produzir e comercializar artigos que prometem salvaguardar o espaço privado, e que 
isso acontece porque o senso comum lança a responsabilidade da prevenção da 
criminalidade urbana exclusivamente para a polícia. O autor apoia-se em Jacobs (2011) 
30 
 
para afirmar que as pessoas ocupando os espaços públicos são mais promotoras efetivas 
de segurança – ou da sensação - do que uma viatura policial fazendo patrulha, e que esta 
vitalidade deve estar imbricada à vigilancia natural. Também alerta sobre o efeito fortaleza 
que pode surgir com o excesso de elementos de segurança patrimoniais. Muros altos, 
concertinas (rolos de arame farpado), cercas eletrificadas são, segundo o autor, prejudiciais 
ao espaço público. A adoção de gradis no lugar de muros é apontado como positivo por 
favorecer a vigilância natural, a sensação de segurança dos usuários do espaço público, não 
restringir o campo visual dos moradores, isto é, aspectos intrinsecamente ligados a 
visibilidade. 
Apesar dos diferentes apontamentos, o que prevalece nas cidades brasileiras em relação ao 
CPTED é o fortalecimento de alvos (6), seja na própria arquitetura com os muros altos ou em 
elementos acoplados a ela como circuitos fechados de câmeras (CFTV) e cercas 
eletrificadas. Reduz-se, com eles, as oportunidades de interação interpessoal. 
 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
O confrontamento entre os trabalhos de Jacobs e Newman não é uma novidade. Em Can 
streets be made safe? Hillier (2004) defende que a resposta para a indagação título de seu 
artigo são investigações através da estrutura espacial da cidade. De acordo com Hillier 
(2004), teorias têm tratado a questão do espaço e da criminalidade de maneira pontual 
enfatizando que não se pode analisar elementos de um espaço urbano e/ou arquitetônico 
isoladamente. É preciso entender a cidade como um sistema complexo produto de processos 
econômicos, relações sociais, elementos culturais, legislativos e diversos outros (HILLIER, 
1989). Hillier (2004) observa que a criação dos minibairros propostos por Newman (1996) é 
um problema urbano em si e não uma resposta espacial à questão da criminalidade. Conclui 
ainda que o uso indiscriminado desses conceitos tem sido responsável pela criação de 
espaços fragmentados, pouco utilizados, sem visibilidade por conta das superfícies opacas 
e consequentemente mais susceptíveis a insegurança. 
Hillier (2004) observou dois aspectos cruciais importantes para o entendimento das relações 
entre espaço e insegurança em cidades inglesas: visibilidade e integração. De um lado, 
verificou que a visibilidade está diretamente ligada à segurança, ao confirmar 
empiricamente que os espaços mais visíveis são, também, mais seguros. De outro, observou 
31 
 
que crimes tendem a ocorrer em espaços mais segregados, com menores índices de 
copresença. 
Em An evidence based approach to crime and urban design: Or, can we have vitality, 
sustainability and security all at once? Hillier e Sahbaz (2008) apontam que os estudos que 
prometem soluções para a segurança urbana seguem divididos entre as tentativas de 
instituir espaços fechados (autônomos e enclausurados: Newman) e espaços abertos 
(democráticos, permeáveis, acessíveis e visíveis: Jacobs). Apontam que soluções espaciais 
que visam diminuir a incidência de um tipo de crime pode estimular outros problemas. 
Exemplo: os “batedores de carteira” preferem lugares movimentados porque sesublimam 
entre os demais usuários do espaço público. A noção de segurança de Hillier perpassa pelo 
encontro de pessoas anônimas a partir da configuração da cidade, o que ele chama de 
comunidade virtual e que será melhor explicado no capítulo dedicado à metodologia (sobre 
encontro e esquivanças). 
Em síntese, neste trabalho em que Londres era o estudo de caso, Hillier e Sahbaz (2008) 
corroboram com os achados de Netto (2006) a respeito da animação urbana: 
- O edifício vertical solto no lote influencia negativamente na segurança dos espaços 
públicos, tornando o espaço mais vulnerável para a ocorrência de crimes de roubos e furtos; 
- Alta densidade populacional inibe a ação de assaltantes; 
- Áreas com maior variedade de usos concentram maior número de furtos; 
- Áreas com maior copresença (número de pessoas que utilizavam) são mais seguras 
com relação a assaltos; 
 
Cavalcanti (2013) 
O trabalho de Cavalcanti (2013) faz uma avaliação da vulnerabilidade do espaço urbano 
público à criminalidade, tendo como caso o bairro de Boa Viagem, no Recife. O estudo definiu 
fatores que foram classificados como diretamente proporcionais à sensação de segurança, 
o que significa dizer que quanto maior seu valor numérico, menos vulnerável ao crime é o 
espaço. Tal classificação está dividida entre aspectos qualitativos e quantitativos. Variedade 
de usos (diversidade de atividades), interface urbana (o que a autora considerou como 
sendo o percentual de transparência), número de constituições (acessos diretos entre 
32 
 
espaço público e privado) e densidade populacional formam os aspectos qualitativos. Os 
quantitativos dizem respeito a medidas sintáticas de integração global e integração local. 
Estes fatores em conjunto conformam o que a autora chama de “perfil espacial” e que será 
submetido à análise com relação ao número de ocorrência de crimes. Todos são analisados 
a partir de segmentos urbanos (faces de quadra) juntamente com os dados de ocorrência 
de crimes contra o patrimônio (roubos e furtos) coletados nos anos de 2010, 2011 e 2012. 
Os resultados levam à conclusão que há concentração de delitos em espaços mais 
integrados ao passo que eles não deixam de ocorrer naqueles segregados. Resultado idêntico 
ao que Iannicelli (2008) encontrou cinco anos antes na mesma Boa Viagem. Nem a relação 
positiva entre potencial de movimento e delitos parece inusitada, tendo sido confirmada por 
outros estudos em cidades brasileiras, como, por exemplo, o de Monteiro (2012), sobre o 
bairro de Manaíra, em João Pessoa. O trabalho de Greene e Greene (2003) também 
encontrou resultado similar ao que ocorre em Boa Viagem e Manaíra nas ruas de Santiago: 
a concentração de roubos/ furtos não violentos coincidia com um nível de copresença mais 
alto, destacando-se os roubos em paradas de ônibus. Já Netto (2006) encontra 
características arquiteturais que operam em favor da insegurança e – por consequência – 
do medo: a descontinuidade arquitetônica, a monofuncionalidade dos edifícios, a introdução 
de recuos que afastam atividades do espaço privado no térreo do espaço público 
 
c. enclausuramento no espaço privado 
As violências urbanas e os medos modernos podem trabalhar em favor de uma ruptura das 
formas de sociabilidade que são esperadas e desejadas nos espaços públicos. Caldeira (2011) 
afirma que a fala do crime não é só uma expressão mas também uma produção a partir do 
momento em que interfere nos comportamentos sociais, em consonância com o que Michel 
de Certeau afirma de que as narrativas antecedem as práticas sociais no sentido de abrir 
um campo para elas. Dessa maneira a narrativa da insegurança produz também o cenário 
da paisagem urbana onde esses comportamentos e interações sociais se desenvolvem, 
conforme essas narrativas integram-se ao cotidiano, as relações de sociabilidade se alteram 
e legitimam reações (CALDEIRA, 2011, p. 27). Em entrevista ao jornal Diario de Pernambuco, 
um morador do Edifício Acaiaca (Figura 3), um dos mais antigos do bairro de Boa Viagem, 
Recife, relata que a sua principal lembrança é a de um tempo em que não havia tanta 
preocupação com segurança. 
33 
 
Moro há quarenta anos aqui e esse é um ícone da arquitetura que 
faz parte da história do bairro. Foi construído sem guarita de 
segurança e lembro que podíamos ficar na calçada de frente para o 
mar, conversando com os vizinhos.5 
 
Nota-se uma consonância quanto à mudança comportamental ocasionada pelo medo e 
pela violência urbana nos discursos dos dois moradores e do comerciante. Caldeira (2011) 
diz que conforme repete-se esse tipo de narrativa, o espaço tem seu significado original 
alterado por conta da sensação de insegurança e ele sofre mudanças físicas devido a isso – 
como no caso da adição da guarita. O cenário da insegurança coletiva é ilustrado por essas 
mudanças nas relações de sociabilidade e que acham na arquitetura mais uma via para se 
expressar, como no enclausuramento – especialmente, mas não só - das classes médias e 
altas no espaço privado. 
Caldeira (2011) divide a busca por segurança em dois paradigmas: isolamento x 
engajamento. A primeira refere-se ao evitamento, isto é esquivar-se de encontros entre 
grupos sociais heterogêneos isolando-se nos espaços privados. Existem vários exemplos de 
como este paradigma se manifesta nas cidades, basta observar os elementos que fazem a 
ligação entre a casa e a rua. Destacam-se aqueles que procuram se afastar do que é público, 
do que tem movimento – especialmente o de pessoas “estranhas”. Enquanto que as 
 
5 FABRÍCIO, Mariana. Boa Viagem: o bairro da praia e dos arranha-céus. Diario de Pernambuco. Recife, p. 1-1. out. 2013. 
Disponível em: <http://goo.gl/yq6puz>. Acesso em: 05 maio 2016. 
Figura 3 - Edifício 
Acaiaca, em Boa 
Viagem. Foto: Peu 
Ricardo/Esp. DP. 
34 
 
estratégias de engajamento remetem as iniciativas de confiança e vigilância natural. Neste 
caso, as fronteiras entre aquilo que é meu e aquilo que é seu se diluem, seja nas táticas de 
apropriação mais prosaicas – como uma roda de cadeiras sobre uma calçada num fim de 
tarde – ou aquelas que parecem mais viáveis em lugares movimentados da cidade como 
uma padaria no térreo de um edifício habitacional. 
O antigo lugar de sociabilidade com vizinhos é fragmentado em espaços de passagens 
(rápidas) também por conta do medo (Figura 4). Caldeira (2011) alerta para os efeitos que 
esta fragmentação dos espaços públicos podem trazer já que alteram a vida pública. São 
processos fundamentalmente não democráticos e que vão de encontro ao interesse da 
coletividade pois reproduzem segregação, intolerância e uma vigilância desconfiada, 
enfatizando o individualismo que caracteriza estes padrões de sociabilidade. 
Firmino (2017) descreve como o uso de aparatos técnicos de vigilância e securitização está 
antes ligado a uma ordem sociotécnica que define nossa vida em sociedade e a experiência 
espacial do que como uma solução para problemas socioculturais como o enclausuramento 
no espaço privado. O autor defende que há uma associação entre o uso destes apetrechos 
e agentes ligados à produção capitalista do espaço. 
 
Do lado inteligente (smart) dessas associações, existem diversas 
possibilidades narrativas e de discurso que reificam e fetichizam 
tecnologias inteligentes de vigilância e gestão como soluções para 
quase todos os aspectos da vida urbana contemporânea, 
depositando na eficiência de processos a marca da cidade 
neoliberal e inteligente. Segundo Luque-Ayala et al. (2014), 
eficiência, conexão sem interrupções e o sonho do controle total 
tornam-se condições fundamentais para a existência de um suposto 
urbanismo inteligente, presente no próprio imaginário da chamada 
smart city. (FIRMINO, 2017, p. 24) 
 
Uma vez que estas estratégias traduzem-se em espaços (públicos) mais controláveis, as 
fronteiras e limites físicos da territorialidadese desmancham em detrimento de uma 
expansão virtual do espaço privado viabilizado pela sofisticação das tecnologias de 
monitoramento. Firmino (2017) sugere três camadas de materialização territorial, que se 
sobrepõem e se complementam. A primeira se manifesta a partir de um acordo social que 
estabelece limites espaciais claros e definidos, como os limites de um lote. A segunda 
35 
 
Figura 4 - Via Mangue 
em 2019. Foto: RS 
Drones. 
camada territorial é digitalmente construída na apreensão, codificação e gestão de dados e 
informações. 
No âmbito desta camada, informação, fluxo de pessoas e veículos, 
troca de dados entre máquinas e sistemas inteligentes, etc., são 
codificadas e comparadas com padrões de comportamento e 
resultados esperados para produzir métodos de classificação social 
e espacial e, consequentemente, controles de acesso físicos e 
digitais. Se algo desvia desses padrões, ações são desencadeadas 
nesta e também na primeira camada (em uma espécie de controle 
oficial e soberano do território). (FIRMINO, 2017, p. 27). 
 
A terceira caracteriza-se pela retórica de um suposto urbanismo inteligente, onde “redes, 
associações e práticas ligadas a um uso desregulado de tecnologias de vigilância e 
securitização coexistem e se espalham pelas cidades latino-americanas.” (FIRMINO, 2017, p. 
32). Este tipo de vigilância ultrapassa os limites do espaço privado e põe em dúvida quem é 
responsável pelo espaço público. Muros opacos, cercas eletrificadas e concertinas definem e 
reforçam limites físicos legais propostos pela primeira camada territorial, enquanto que as 
novas formas imateriais, digitais e codificadas de vigilância (CFTV inteligente, sensores, etc.) 
servem para estender fronteiras territoriais e o exercício de poder em alguns casos. O espaço 
vigiado intramuros de Caldeira (2011) é complementado pela vigilância “perimuros” de 
Firmino (2017) ao passo que as tecnologias avançam e tornam-se mais acessíveis. 
 
 
 
 
 
d. síntese 
Cada estudo apresentado levou em conta certos aspectos da morfologia urbana que 
relacionam-se com a sensação de insegurança em espaços públicos. Esses aspectos estão 
sintetizados no quadro 01 e detalhados no quadro 02, a seguir: Todos entendem o espaço 
como entidade ativa que repercute em ações sociais e antissociais, e não como mero palco. 
 
36 
 
Quadro 1 - Definições dos atributos da morfologia urbana apresentadas pelos autores estudados na revisão de literatura 
VARIEDADE DE USOS 
Variedade quanto ao uso do solo (habitação, 
comércio, serviços, etc.) 
INTERFACE 
Elemento que separa o espaço privado e o 
público 
CONSTITUIÇÕES Acessos aos espaços privados 
DENSIDADE POPULACIONAL 
Relação entre número de habitantes e 
superfície de território. 
ACESSIBILIDADE 
O potencial de se acessar um espaço através 
de um sistema de espaços livres. 
TIPOS ARQUITETÔNICOS 
“[...] conjunto de características fundamentais 
de um grupo de elementos, que nos permite 
diferenciá-lo e classificá-lo para propósitos 
específicos” (SABOYA; NETTO; VARGAS, 2019) 
PROPORÇÃO ENTRE ESPAÇO PÚBLICO E 
PRIVADO 
Equilíbrio entre áreas de propriedades públicas 
e privadas. 
VISIBILIDADE 
Abordagens quanto ao potencial de enxergar 
dentro de um espaço delimitado 
PERMEABILIDADE FÍSICA DOS ESPAÇOS 
PÚBLICOS 
Fluidez no percurso dos espaços públicos 
 
Quadro 2 - Síntese explicativa do que diz cada autor e autora quantos aos atributos da forma urbana que promovem ou 
restringem a ocorrência de delitos e a sensação de segurança. 
VARIEDADE DE USOS 
Jacobs (1961) 
A variedade de usos favorece a utilização dos 
espaços públicos ao longo de vários horários, 
colaborando para a segurança. 
Newman (1972; 1996) 
Edificações monofuncionais favorecem o 
controle social, já que diminui a presença de 
estranhos dentro do território. 
CPTED (1971) 
É importante variar os usos para promover 
atividade no espaço público e, com isso, 
vigilância social. 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
A variedade de usos é atrativa para alguns 
tipos de crime, entretanto considerando o 
número de delitos proporcionalmente ao 
número de usuários, tem-se áreas com menor 
criminalidade. 
Cavalcanti (2013) 
A variedade de usos promove atividades 
dinâmicas desde que haja uso habitacional 
para que não ocorra o fenômeno da 
sazonalidade. 
INTERFACE 
Jacobs (1961) 
Interfaces abertas estimulam a vigilância social 
e, consequentemente, a segurança. 
Newman (1972; 1996) 
CPTED (1971) 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Cavalcanti (2013) 
A transparência na interface colabora para a 
comunicação visual entre o espaço público e 
privado, potencializando a sensação de 
segurança. 
37 
 
CONSTITUIÇÕES 
Jacobs (1961) 
Newman (1972; 1996) 
O acesso ao espaço privado deve ser visível e 
voltado para a rua. Devem-se evitar acessos 
secundários. 
CPTED (1971) 
O acesso ao espaço privado deve ser visível e 
voltado para a rua. 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
O maior número de constituições torna o 
espaço mais seguro. 
Cavalcanti (2013) 
O maior número de constituições torna o 
espaço mais seguro. 
DENSIDADE POPULACIONAL 
Jacobs (1961) 
Alta densidade é essencial para gerar 
demanda para a variedade de usos. 
Newman (1972; 1996) 
A baixa densidade promove a segurança do 
espaço, já que - junto com a pouca variedade 
de usos - diminui a presença de estranhos. 
CPTED (1971) 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Em locais mais densos, os espaços públicos são 
mais utilizados e, consequentemente, mais 
seguros 
Cavalcanti (2013) A alta densidade favorece a variedade de usos. 
ACESSIBILIDADE 
Jacobs (1961) 
As quadras devem ter tamanho reduzido a fim 
de estimular as mudanças de direção 
Newman (1972; 1996) 
CPTED (1971) 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Espaços mais integrados são menos 
vulneráveis ao crime 
Cavalcanti (2013) 
Espaços mais integrados são mais vulneráveis 
ao crime 
TIPOS ARQUITETÔNICOS 
Jacobs (1961) 
Newman (1972; 1996) 
Edifícios mais altos tornam o espaço público 
mais vulnerável para o crime. 
CPTED (1971) 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Afirma que os edifícios mais altos tornam o 
espaço público mais inseguro. 
Cavalcanti (2013) 
PROPORÇÃO ENTRE ESPAÇO PÚBLICO x PRIVADO 
Jacobs (1961) 
Newman (1972; 1996) 
Maximização do espaço privado a fim de 
estimular a territorialidade. 
CPTED (1971) 
Estimular a criação de espaços comuns 
(públicos) para estimular a interação entre 
habitantes e criar uma rede de proteção. 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Cavalcanti (2013) 
VISIBILIDADE 
Jacobs (1961) 
A permeabilidade visual é fator fundamental 
para garantir a vigilancia natural 
38 
 
Newman (1972; 1996) 
As edificações devem se abrir para os espaços 
“públicos” (sendo, estes, controlados) 
CPTED (1971) 
Espaços com mais pontos cegos são mais 
vulneráveis ao crime. 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
Áreas com maior visibilidade são mais 
utilizadas pela população, consequentemente, 
mais seguras. 
Cavalcanti (2013) 
PERMEABILIDADE FÍSICA 
Jacobs (1961) 
A cidade deve ser permeável e fluida para a 
utilização proporcional dos espaços que ela 
oferece. 
Newman (1972; 1996) 
Os espaços devem ser controlados para inibir a 
presença de estranhos (inclui o controle de 
espaços públicos) 
CPTED (1971) 
Hillier (2004), Hillier e Sahbaz (2008) 
O espaço livre e permeável influencia 
diretamente na vigilância social. 
Cavalcanti (2013) 
 
As diversas investigações abordaram diferentes aspectos da morfologia urbana das cidades 
que têm reflexos na sensação de segurança e em características arquiteturais, chegando a 
conclusões nem sempre convergentes, mas todas importantes para a construção do 
conhecimento neste campo. Grande parte da literatura tem, ainda, se concentrado na 
dicotomia entre permeabilidade (engajamento/ confiança)e defensibilidade do espaço 
(evitamento/ desconfiança) como estratégia de prevenção ao crime a partir das ideias de 
Jacobs (1961) e Newman (1972), que pavimentaram o caminho para investigações 
subsequentes. O embate faz lembrar as categorias sociológicas “casa” e “rua” de DaMatta 
(2000/1984), sinalizando que aquele que passa como conhecido ou aceitável, seria “da 
casa”, em oposição aos desconhecidos, os “da rua”, sinônimo de perigo a evitar. 
Hillier (2004), pioneiro na exploração de propriedades sintáticas da acessibilidade e da 
visibilidade, chegou à conclusão de que os espaços mais visíveis e integrados – 
consequentemente mais movimentados - são mais seguros no contexto de cidades inglesas, 
achado que requer experimentação em questões de segurança e criminalidade em estudos 
mundo afora, sobretudo considerando-se a importante contribuição de Hillier para este 
campo de estudo ao reiterar a importância de se analisar a estrutura espacial e o lugar onde 
os crimes acontecem. 
A depender do contexto socioeconômico que se investiga, às vezes é possível identificar 
padrões de distribuição das ocorrências criminais na cidade de acordo com a forma urbana, 
39 
 
como no trabalho de Cavalcanti (2013). Ainda não há evidências de que seja possível 
homogeneizar características espaciais como mais ou menos seguras quanto ao crime. 
Aparentemente nas cidades latino-americanas, como no Recife, João Pessoa e Santiago, o 
movimento de pessoas não é capaz de arrefecer os roubos e furtos, diferentemente do que 
dizia Jacobs e Hillier. Parece que se chega a uma situação paradoxal porque justamente 
naqueles lugares onde há uma lógica formal que subjaz uma maior variedade de usos, 
copresença e, quase sempre, uma interface mais amistosa é onde há, também, mais roubos 
e furtos. 
Estabelece-se como premissa uma relação direta entre padrões de movimento, uso e 
ocupação do solo, orientados também pela configuração espacial, e concentração de delitos. 
Sabendo-se que alterações na estrutura espacial da cidade levam a mudanças em padrões 
de movimento e de quantidade de pessoas utilizando determinados espaços, e que tais 
fatores atuam positiva ou negativamente nas ocorrência de ações criminais, acreditamos 
ser pertinente estar atento a mudanças na estrutura espacial e, consequentemente, na 
relação entre os edifícios e a rua, e no surgimento de indícios de (in)segurança, como 
contribuição à ampliação do conhecimento sobre relações espaço e sociedade. Em um 
primeiro momento, quais mudanças configuracionais a Via Mangue trouxe? E como elas se 
relacionam com as transformações na interface entre espaço público e privado? 
 
40 
 
3. da casa de pescador ao espigão 
O estudo de caso original desta investigação era o bairro de Boa Viagem. Por força das 
transformações estruturais ocasionadas pela Via Mangue, o Cabanga apareceu como peça 
importante para compreender os efeitos da forma urbana sobre o conjunto edilício. Neste 
capítulo apresenta-se um breve histórico da ocupação do bairro de Boa Viagem e do 
Cabanga ao longo do século XX, seu crescimento e integração em direção ao núcleo de 
ocupação original do Recife. A consolidação dos bairros será discutida sob a ótica das três 
leis do objeto urbano definidas por Hillier (1989): (1) as leis do próprio objeto urbano, (2) da 
sociedade para o espaço e (3) do espaço para a sociedade. 
 
Boa Viagem e Cabanga tem origem de ocupação similar. Ambos eram singelas vilas de 
pescadores que se aproveitavam da proximidade de frentes d’água. O crescimento 
populacional do Recife ao longo do século XIX lança luz para problemas crônicos de 
abastecimento de água e tratamento de esgoto. O engenheiro sanitarista Saturnino de Brito 
vê no Cabanga uma posição estratégica para uma estação de tratamento de esgoto (ETE) 
uma vez que ficava numa “ponta” da cidade – é bom lembrar que a ocupação do Cabanga 
Figura 5 – Boa Viagem em meados dos anos 1940. Fonte: Blog Plubambo. 
41 
 
ainda era incipiente – e ainda assim próxima do núcleo mais povoado da cidade, o centro. A 
primeira das estações de tratamento de esgoto da cidade ainda está presente e em pleno 
funcionamento (MIGUEL FILHA, 2019). 
Durante os anos 1930 e 1940, o empenho do governo do estado contra moradias populares 
– os mocambos – conduziu a uma política habitacional que priorizou funcionários públicos 
de Pernambuco e viu no Cabanga o lugar ideal para se construir uma das primeiras vilas 
populares da cidade. 
No fim dos anos 1970, o Cabanga recebeu as obras do Viaduto Capitão Temudo que criou 
uma alternativa de acesso à zona sul sem que fosse necessário passar pelo centro da cidade. 
Bônus para o fluxo de veículos e ônus para o Cabanga: praticamente inviabilizou o uso da 
praça Abelardo Rijo (Figura 6) e isolou o bairro do restante da cidade. Desde então o último 
investimento público feito na área foi também de caráter viário, a Via Mangue. Até hoje o 
Cabanga preserva em sua maioria residências unifamiliares. 
Boa Viagem está localizada ao sul do município do Recife, no limite do município vizinho, 
Jaboatão dos Guararapes (↓ Figura 10). No início do século XX a ocupação da região estava 
restrita a um pequeno núcleo de pescadores no Pina (à época se chamava Ilha do Nogueira) 
e outro em volta da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Estavam isolados do que era o 
Recife urbanizado até então. Por volta de 1908 a ocupação de Boa Viagem resumia-se a 
aproximadamente sessenta casas (VAINSENCHER, 2019), algumas ocupadas o ano inteiro 
por pescadores e outras apenas nos fins de semana de verão, entre os meses de setembro e 
março. Os versos de Baltazar de Oliveira ilustram o que era a zona sul do Recife: 
Figura 6 – Cabanga em 1970. Vista da Praça Abelardo Rijo e da Vila 
Popular na parte inferior esquerda da imagem. Foto: Revista O 
Cruzeiro, Recife de Antigamente. 
42 
 
[...] No pensamento: o branco areal do Pina, ilha, então, só de 
humildes moradores... Redes ao sol... o mar canta em surdina... 
Velas pandas ao vento... pescadores... [...] 
 
A região assim se manteve até os anos 1920 quando duas obras trilharam o caminho para 
a primeira transformação da região. A primeira ocorreu em 1917, quando o sanitarista 
Saturnino de Brito previu, através dos planos de melhoramento de esgotamento sanitário e 
abastecimento de água da cidade, a ocupação de Boa Viagem como uma região passível de 
expansão do Recife. Até aquele momento, Boa Viagem era caracterizada como uma área 
rural. A segunda grande obra acontece em 1924 com a inauguração da Avenida Boa Viagem, 
antiga Av. Beira-Mar (Figura 7). A facilitação no acesso ao centro do Recife e contribuiu para 
uma ocupação mais efetiva nas quadras próximas à praia. Essas obras de infraestrutura 
viária foram fundamentais para definir a forma urbana atual do bairro, integrando-se cada 
vez mais ao centro do Recife. A transformação na forma urbana com a inserção de uma 
nova via funcionava como vetor de ocupação e desenvolvimento. 
 
 
 
Figura 7 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em 1927. Fonte: Blog Plubambo, acesso em 05 de agosto de 2021 
43 
 
 
Figura 8 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em meados dos anos 1940. Fonte: Editorial Recife em Transformação do 
Jornal do Commercio. 
 
 
Figura 9 - Av. Beira Mar, atual Av. Boa Viagem, em meados dos anos 1940. Fonte: Editorial Recife em Transformação do 
Jornal do Commercio. 
↓ Figura 10 - Mapa do Recife com divisão por bairros. Fonte: elaborado pelo autor 
 
. 
44 
 
 
45 
 
Até os anos 1950, Boa Viagem seguia como uma região ocupada por casas de veraneio, 
agora em maior quantidade conforme a região ganhava acessibilidade. A Figura 8 e a Figura 
9 mostram a orla mais ocupada por residências do que na Figura 7. Nota-se pelas imagens 
que essas residências mantinham relação amigável com o espaço público: muros baixos e 
jardins que serviam de transição da rua até a casa. Essa arquiteturaé símbolo de uma Boa 
Viagem um tanto bucólica, em que a ideia de movimento intenso de pessoas e veículos 
estava distante. Distante também porque Boa Viagem estava afastada do centro, ainda que 
cada vez mais próxima pelas obras de infraestrutura viária que paulatinamente 
transformavam a forma urbana do Recife e levavam o movimento em direção às áreas 
suburbanas. 
Enquanto o Recife se modernizava com a construção de estradas de ferro, transporte por 
bondes, o próprio plano de esgotamento sanitário de Saturnino de Brito, o quadro social se 
afastava desses avanços por apresentar aumento da insegurança, conforme pontua Arrais 
apud. Oliveira (2016, p.18): 
 
“Quase diariamente os jornais do Recife destacavam na cidade um 
crime qualificado como ‘bárbaro’: espancamentos, assassínios a 
peixaradas ou paulada. [...] Os ambientes geradores de crime 
podiam ser localizados no mapa da cidade: áreas onde se 
concentravam os mocambos, como Santo Amaro e Afogados [...]” 
(ARRAIS, 1998, p. 72). 
 
Como Boa Viagem ainda era uma região afastada do centro do Recife, separada pela bacia 
do Pina, a reverberação desse sentimento de insegurança só apareceria décadas depois 
conforme os bairros da porção sul – especialmente Pina e Boa Viagem - foram se integrando 
ao tecido urbano. A perigosa visão determinística entre espaço e crime já era noticiada no 
início do século XX, considerando os mocambos ambientes “geradores” de crime (ARRAIS 
apud OLIVEIRA, 2016), visão similar à da estigmatização das favelas na contemporaneidade. 
O fim dos anos 1950 foi marcado pela presença dos edifícios verticais que começaram a 
surgir (Figura 11, Figura 12, Figura 13). Foi na segunda metade do século XX que houve 
acelerada ocupação e urbanização em Boa Viagem. Os primeiros edifícios em altura do 
bairro são de estilo modernista como o Edifício Califórnia, de 1956, projeto de Acácio Gil 
Borsoi. Outros exemplos referenciais desta fase de edifícios modernistas no bairro são o 
46 
 
Holiday (1957), de Joaquim Rodrigues, e o Edifício Acaiaca (1958), de Delfim Amorim. O 
surgimento da habitação em altura em Boa Viagem não representou o distanciamento entre 
espaço público e privado. A proximidade com a rua das casas de veranistas do início do 
século XX foi reinterpretada pelos modernistas como no caso do edifício Califórnia (1956). 
A Lei 7.427/61 (Codificação das Normas de Urbanismo e Obras), dividiu a cidade em três 
macrozonas no Recife de 1961: urbana, suburbana e rural. Todo o bairro de Boa Viagem foi 
considerado urbano (Figura 21), apesar da ocupação ainda incipiente. Foi sob essa legislação 
que outros edifícios verticais em altura foram sendo construídos. Apesar do uso 
exclusivamente habitacional, o edifício Acaiaca também remete a um tempo de maior 
comunicação entre edifício e rua (Figura 14 e Figura 15). 
 
 
A melhor relação entre espaço privado e público dos anos 1950, 1960 e 1970 começou a se 
esgarçar e os edifícios foram se afastando cada vez mais da rua. O vetor de expansão 
urbana começa a afastar-se da faixa litorânea conforme Boa Viagem se integrava ao 
restante do território do Recife. Um dos principais fatores para esse adensamento mais longe 
da praia foi a inauguração do Shopping Center Recife em 1980 (Figura 19). O 
empreendimento privado tornou-se um vetor de crescimento reforçado posteriormente pela 
legislação. 
Figura 12 - Edf. Califórnia visto desde a 
rua R. Artur Muniz em abril de 2016. 
Foto: autor. 
Figura 13 - Edf. Califórnia visto desde a 
Av. Boa Viagem em abril de 2016. Foto: 
autor. 
Figura 11 - Comércio no térreo do Edf. 
Califórnia em abril de 2016. Foto: autor. 
47 
 
As Diretrizes de Uso e Ocupação do Solo de 1983 (Lei Nº 14.511/83) dividiu Boa Viagem em 
duas zonas: residencial 5 (ZR5) e residencial 6 (ZR6). A ZR6 era caracterizada pela maior 
densidade de ocupação, já que foi produto também da inserção da Avenida Boa Viagem. A 
ZR5 correspondia ao interior do bairro, incluindo o entorno do Shopping Center Recife, região 
com ocupação ainda relativamente rarefeita, considerada média pela legislação (Figura 21). 
 
 
Figura 16 - Edifício na Av. Hélio Falcão, Boa Viagem, 2015. Foto do autor. 
Figura 15 - Edf. Acaiaca em 2012. Fonte: Recife Arte Pública. Figura 14 - Edf. Acaiaca na década de 70. Fonte: Recife 
de Antigamente. 
48 
 
 
 
Figura 17 - Edf. Holiday no fim dos anos 1960 ou início dos anos 1970, provavelmente. Fonte: G1. 
Figura 18 - Edf. Holiday e entorno nos anos 2010. Fonte: G1 
49 
 
 
Figura 19 - Shopping Center Recife em 1980. Foto: Alcir Lacerda. 
Figura 20 - Shopping Recife em 2015. Foto: Gustavo Penteado. 
50 
 
Conforme Boa Viagem passava por essas transformações, a construção de novos edifícios 
agora se diversificaria. O entorno do Shopping Recife se consolidou cada vez mais com o 
surgimento de comércios, serviços, edifícios empresariais e hotéis que fomentavam um 
dinamismo a essa região agregando-lhe uma característica de centralidade. Paiva apud. 
Silveira Júnior (2016) aponta esta tendência já nos anos 1990: 
Passados quinze anos, o seu entorno apresenta uma tendência cada 
vez maior à densificação e à diversificação. Em uma área 
anteriormente ocupada basicamente por favelas e mangues, 
misturam-se edificações de vários usos, como hotéis, restaurantes, 
centros empresariais, edifícios comerciais e residenciais, 
caracterizando a existência de uma nova centralidade na Cidade do 
Recife (PAIVA, 1996, p.106)6. 
 
A Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS) de 1996 (Lei Nº 16.176/96) dividiu o Recife em quatro 
macrozonas, sendo a região de Boa Viagem predominantemente uma Zona de Urbanização 
Preferencial (ZUP), caracterizada como regiões que “possibilitam alto e médio potencial 
construtivo compatível com suas condições geomorfológicas, de infraestrutura e 
paisagísticas”, aplicando a região normativas que previam alto potencial construtivo 
(RECIFE, 1996). A LUOS também demarcava as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) 
contidas nos limites do bairro como a ZEIS Entra Apulso, Ilha do Destino e Borborema (Figura 
21). Segundo Reynaldo (2017, p.389-392), a LUOS de 1996 trilhou o caminho para uma brutal 
transformação do perfil da cidade através da substituição indiscriminada das edificações 
residenciais unifamiliares pela multifamiliares, principalmente em áreas da ZUP, como Boa 
Viagem. Foi com essa legislação que as unidades habitacionais em Boa Viagem começaram 
a diminuir enquanto as áreas coletivas condominiais se expandiram. Esse modelo parece 
atribuir ao espaço público a característica de espaço de passagem, de meio e não de fim. O 
espaço privado vai se tornando cada vez mais o ponto de encontro enquanto o espaço 
público é o espaço do evitamento, o meio que liga os espaços fins. Se assim o é, a 
preocupação com ele também diminui pois é sob esta legislação que se proliferam os muros 
opacos com os edifícios isolados no lote. 
 
6 PAIVA, Carla Souza de. O Shopping Center e a produção de novas centralidades urbanas. 1996. 221f. Dissertação 
(Mestrado em Desenvolvimento Urbano) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1996. 
51 
 
O Plano Diretor de 2008 (Lei Nº 17.511/2008) mantém as três ZEIS da legislação anterior e 
divide o restante do bairro entre Zona de Ambiente Construído - Controlado I (ZAC-C1) e 
Zona Especial de Centro Principal (ZECP). A ZAC-C1 compreende a maior parte do bairro e 
é “caracterizada pela ocupação intensiva, pelo comprometimento da infraestrutura 
existente, objetivando controlar o seu adensamento” (RECIFE, 2008). Já a ZECP corresponde 
ao entorno do Shopping Recife que legitima a centralidade apontada por Paiva (1996), e 
adota as prescrições urbanísticas da Zona de Ambiente Construído de Ocupação Moderada 
(ZAC-M), que é “caracterizada por ocupação diversificada e facilidade de acessos, 
objetivando moderar a ocupação, com potencialidade para novos padrões de adensamento, 
observando-sea capacidade das infraestruturas locais” (RECIFE, 2008). 
Figura 21 - Macrozoneamento de Boa Viagem ao longo do tempo de acordo com as legislações 
vigentes. Fonte: elaborado pelo autor. 
52 
 
Foi principalmente a partir dos anos 1980 que Boa Viagem se torna um território 
verticalmente adensado após sucessivas leis urbanísticas cujos parâmetros promoveram 
suas características morfológicas atuais. O território que contava com casas e edifícios mais 
próximos da rua (Figura 17) converteu-se em um espaço conformado por condomínios 
verticais fechados (Figura 18). Caldeira (2011) chama estes tipos de enclaves fortificados, 
áreas residenciais com acesso extremamente controlado onde os espaços públicos que os 
ladeiam são monitorados por circuitos fechados de TV e não mais pelos próprios moradores. 
Apesar de ter a cidade de São Paulo dos anos 1970 e 1980 como objeto empírico, as ideias 
de Caldeira (2011) são facilmente encontradas nas demais cidades brasileiras. É no processo 
de fortificação que os edifícios vão perdendo os olhos da rua (JACOBS, 2011, p. 35) e ganham 
circuitos fechados de TV que prometem a segurança dos proprietários enquanto 
comprometem a relação entre espaço público e privado, levando simultaneamente ao 
encarceramento dos moradores em seus respectivos espaços privados. 
As mudanças ocorridas nos projetos de habitações multifamiliares em Boa Viagem podem 
ser vistas em diversas áreas do bairro com significativo prejuízo para o ambiente construído, 
tendo em vista a hostilidade para com os usuários dos espaços públicos. Alicerçada sobre as 
ideias de Freyre (1936/1951), Leitão (2014) defende que o surgimento da rua como espaço 
desprestigiado remonta ao Brasil Colônia e ao Império, produzindo um ambiente hostil com 
repercussões socioespaciais que se manifestam ainda na cidade contemporânea. Entretanto 
quando se comparam, por exemplo, edifícios contemporâneos (Figura 25 e Figura 27) com 
modernistas como o Holiday, Califórnia, Acaiaca, entre outros, percebem-se muros 
condominiais completamente cegos (sem contato com o ambiente externo) - verdadeira 
negação à rua. Essas mudanças arquiteturais acompanharam o crescimento no movimento 
de pessoas e veículos em Boa Viagem, isto é, conforme o bairro ganhava a animação urbana 
que consolidaria suas centralidades – marcada por serviços e comércios - a arquitetura se 
fechava em si própria, olvidando a Boa Viagem em que era possível ficar na calçada 
proseando com vizinhos vendo o mar, conforme descreve um de seus antigos moradores. 
Transformações na forma urbana fazem parte da história de Boa Viagem desde sempre. Da 
mesma maneira que se aponta a construção da Avenida Boa Viagem como um dos pontos 
fundamentais para a ocupação efetiva do bairro ainda no início dos anos 1920, quase 100 
anos depois outro grande investimento viário foi realizado na área. 
53 
 
A alteração na forma urbana do bairro de Boa Viagem que este trabalho discute refere-se 
essencialmente à abertura da Via Mangue, considerada pela Prefeitura do Recife a mais 
importante intervenção viária das últimas décadas do Recife. 
“A Via Mangue será composta por faixas de rolamento para 
veículos, calçadas para pedestres e ciclovia. No sentido Centro/Boa 
Viagem, o corredor terá 4,5km de extensão. Já no sentido contrário, 
serão 4,37km. Esta obra engloba ainda a construção de dois 
elevados por sobre a Rua Antônio Falcão, em Boa Viagem; de oito 
pontes (sendo cinco para manutenção do mangue); uma alça de 
ligação (alargamento da Ponte Paulo Guerra), além de uma 
passagem semienterrada. [...] Com sua implantação, cria-se um 
cinturão para proteger o manguezal do Rio Pina, melhora-se o 
tráfego nos bairros de Boa Viagem e do Pina e, abre-se a 
possibilidade de implantação de um corredor exclusivo de ônibus na 
Avenida Domingos Ferreira, viabilizando o Corredor Norte-Sul.” 
(PREFEITURA DO RECIFE, 2011). 
 
Enquanto a construção da Avenida Boa Viagem procurava integrar um território segregado 
do Recife do início do século XX, a Via Mangue foi concebida para ser mais uma alternativa 
de acesso e de escoamento de dois bairros já consolidados na cidade (Figura 22 e Figura 23): 
o Pina e Boa Viagem. Se a Av. Boa Viagem serviu como vetor para uma urbanização 
incipiente, a Via Mangue surge mais como um paliativo para aliviar o intenso movimento de 
veículos da região. O objetivo com a abertura da Via Mangue era ampliar o sistema viário 
do bairro de Boa Viagem desde sua concepção. Sabe-se, no entanto, que há outros efeitos 
causados pela inserção de novas vias dentro de um sistema, inclusive em bairros vizinhos. A 
inauguração plena em 2016 alterou os padrões de movimento na cidade e também o perfil 
de alguns espaços do bairro, como ruas sem-saída que ganharam ligação com a nova Via, 
entre outras mudanças. 
Diante do exposto, esta investigação questiona: em que medida as transformações na forma 
urbana de Boa Viagem contribuem para mudanças arquiteturais que apontam para um 
evitamento ou engajamento entre espaço público e privado? Mudanças nos padrões de 
movimento levadas a cabo pela inserção da Via Mangue estão sendo respondidas com 
confiança ou desconfiança através da arquitetura? 
54 
 
 
Figura 22 - Via Mangue em obras na altura do bairro do Pina, 2015. Foto: Diario de Pernambuco. 
 
 
Figura 23 - Via Mangue em obras na altura do bairro de Boa Viagem, em 2015. Foto: Wikipedia. 
55 
 
 
 
 
Figura 27 - Edf. multifamiliar. Foto do 
autor em abril de 2016. 
Figura 25 - Edf. multifamiliar em Boa Viagem. Foto do autor em abril de 2016. 
Figura 24 - Condomínio multifamiliar. 
Foto do autor em abril de 2016. 
Figura 26 - Acesso a condomínio multifamiliar. Foto do autor em abril de 2016. 
Figura 29 - Esquina em Boa Viagem. 
Foto do autor em abril de 2016. 
Figura 28 - Interface entre condomínio multifamiliar e espaço público. Foto do 
autor em abril de 2016. 
56 
 
Em seu texto The architecture of the urban object, Hillier (1989, p.5) investigou relações 
socioespaciais e descreveu três leis subjacentes à forma espacial, que auxilia a responder os 
questionamentos anteriores. Hillier (1989, p. 5) conceitua a cidade, o objeto urbano, como 
produto de processos econômicos, relações sociais, elementos culturais, legislativos e 
diversos outros aspectos, definindo a figura da cidade para além de sua materialidade física. 
Esta visão multidimensional carrega em si a possibilidade de se desenvolver investigações 
acerca da cidade através de várias perspectivas, como a da morfologia, psicologia 
ambiental, comunicação, entre outros. Hillier (1989) afirma que já que se pode diferenciar 
cidades através de sua riqueza e densidade dos meios sociais, provavelmente isto surge a 
partir da sua materialidade física pois as identidades espaciais dos habitantes são 
consolidadas baseadas na relação entre forma urbana e meios sociais. E é com esta relação 
que se conformam as barreiras e permeabilidades do meio urbano, e que se configura a 
cultura espacial que provavelmente será reproduzida por aquela sociedade. Sendo assim, 
Hillier define as três leis do objeto urbano: (1) as leis do próprio objeto urbano, (2) leis da 
sociedade para o espaço e (3) leis do espaço para a sociedade. 
 
(1) AS LEIS DO PRÓPRIO OBJETO URBANO 
Dizem respeito ao objeto urbano e todas as suas implicações sociais, culturais e 
complexidade natural. Essas implicações geram um tipo de distribuição espacial que 
conformam a morfologia urbana, isto é, a disposição entre as quadras, edificações, espaços 
públicos e outros elementos urbano-arquitetônicos. A estrutura entre os espaços abertos e 
fechados e como esses espaços estão agregados também dizem respeito a essa lei. Hillier 
(1989) afirma que para realizar esta análise é preciso olhar para o processo histórico e 
compreender o que conformou a cultura espacial daquele lugar e como isso foi reproduzido. 
 
(2) AS LEIS DA SOCIEDADE PARA O ESPAÇOEsta lei sugere como a sociedade usa e ocupa o espaço, ou seja como a sociedade adapta 
as leis do objeto de acordo com suas demandas e necessidades. É uma espécie de 
espacialização dos diferentes tipos de relações sociais que materializa as características 
dessas relações. 
 
57 
 
(3) AS LEIS DO ESPAÇO PARA A SOCIEDADE 
Relacionam-se na maneira em que o sistema espacial exerce efeitos sobre a sociedade após 
terem suas demandas e necessidades aplicadas no espaço. Ou seja, como o espaço está 
respondendo aos processos de ocupação e usabilidade por parte da sociedade. 
 
Ao contextualizar Boa Viagem, compreende-se que ao longo da segunda metade do século 
XX, os moradores de Boa Viagem modificaram o objeto urbano conforme suas demandas, 
estabelecendo novos tipos arquitetônicos diferentes daqueles inicialmente encontrados. 
Casas de veraneio dos anos 1950 com alta e frequente visibilidade aos espaços públicos 
converteram-se em edifícios verticais, logo depois em condomínios quase sempre 
enclausurados ao longo das décadas subsequentes, mais particularmente a partir dos anos 
1980. 
A construção de importantes obras viárias de acesso e articulação do território com o centro 
do Recife conduziu a um aumento no interesse pelo local e ocorre uma mudança no perfil de 
ocupação do bairro. O edifício vertical surge na paisagem urbana de Boa Viagem (meados 
de 1950 e início dos anos de 1960) preservando e reinterpretando – na medida do possível - 
as relações que tinham as casas de veraneio. A crescente demanda por habitação foi 
corroborada pelas legislações seguintes (1983, 1996 e 2008). Ocorreu paulatina adaptação 
do espaço às novas necessidades da sociedade. Surgiram os condomínios fortificados, a 
sociedade modifica o espaço e problemáticas urbanas emergem como consequência dessas 
alterações. O trânsito intenso, problemas com infraestrutura urbana e a própria sensação 
de insegurança podem ser apontados como uma espécie de resposta do espaço para as 
demandas da sociedade. Como um contragolpe a uma dessas questões, obras de 
infraestrutura viária como a Via Mangue surgem transformando mais uma vez a forma 
urbana do bairro. 
O intuito desta reflexão é enquadrar o processo de ocupação de um bairro em um recorte 
temporal nas etapas propostas por Hillier (1989). Atentando ao fato de que a modificação da 
forma urbana é um processo contínuo, estas mudanças não estão finitas. Certamente 
características espaciais emergem por Boa Viagem ao sabor e, especificamente no caso 
desta pesquisa, ao dissabor de episódios da vida cotidiana. 
 
58 
 
4. sobre encontros e esquivanças 
Nesta parte do trabalho apresentam-se os pressupostos metodológicos utilizados nesta 
pesquisa, notadamente a Lógica Social do Espaço como aporte teórico basilar, seus 
referenciais teóricos, abordagens e categorias de análise. 
 
a. a análise sintática do espaço 
A Análise Sintática do Espaço (ASE ou SE) teve seu referencial epistemológico, conceitos e 
categorias analíticas condensadas com a publicação do livro The Social Logic of Space 
(HILLIER; HANSON, 1984) em 1984. Ela nasce a partir de discussões acerca de limitações 
teórico-metodológicas para se compreender nexos entre configuração do espaço e 
sociedade. Hillier e Hanson apontaram que a relação se revelava paradigmática ao tratar o 
espaço - até então - como desprovido de conteúdo social e da sociedade como não tendo 
conteúdo espacial. A SE tem como uma das finalidades entender objetivamente como a 
organização espacial e a sociedade se retroalimentam, ou ainda como o arranjo social se 
manifesta espacialmente e como o espaço interfere neste mesmo arranjo social. Encontrar 
a meada que une estrutura espacial e estrutura social (HILLIER; HANSON, 1984, p. 26). 
A chave para esta compreensão está no principal axioma da teoria sintática do espaço: a 
organização espacial é função da forma de solidariedade social (HILLIER; HANSON, 1984, p. 
142). Diferentes tipos de sociedade exigem diferentes padrões de encontros e esquivanças 
que representam suas hierarquias, tipos de sociabilidade, modos de vida, entre outras 
representações sociais. 
Hillier e Hanson (1984) afirmam que ao se elaborar um artefato qualquer, existem duas 
dimensões a serem conquistadas: (1) a função que aquele artefato pretende atingir e (2) o 
significado, que normalmente advém da aparência decorativa e simbólica. No caso do 
artefato arquitetônico, seja um edifício ou mesmo uma cidade, há outro fator que se une aos 
iniciais: a ordem em que os espaços vazios estão dispostos, sua configuração, as partes 
(vazios) que conformam o todo (o sistema). 
A propriedade fundamental de um edifício é, portanto, a “ordenação do espaço em sistemas 
relacionais que incorporam finalidades sociais” (HILLIER E HANSON, 1984, p. 02). Segundo os 
autores é mais comum tratar de arquitetura enquanto aparência estilística do que enquanto 
59 
 
sistema relacional que amolda relações sociais. Chega-se à ideia central na qual a SE se 
apoia: que ela interfere nos modos de vida social ao mesmo tempo em que a organização 
social já sofreu efeitos da própria arquitetura, criando um campo de possibilidades. O modo 
como cheios e vazios se articulam gera possibilidades e restrições ao movimento. Há, com 
isso, uma forte relação entre forma do espaço e a maneira como encontros são gerados e 
controlados. 
O espaço, na SE, é tratado enquanto configuração decomposto em unidades. A teoria sugere 
três tipos de representação para a análise da configuração de um sistema urbano baseadas 
na experiência espacial dos usuários: (1) as pessoas movem-se em linhas retas, (2) 
interagem em espaços convexos e (3) enxergam campos visuais (Figura 30). Os três tipos 
são formados pelo sistema de barreiras e permeabilidades. 
 
 
 
 
 
Figura 30 - A representação da experiência espacial dos usuários. Fonte: HILLIER; VAUGHAN, 2007, p.209 
Assim, os espaços de passagem são representados por linhas axiais, o menor número das 
maiores linhas possíveis capazes de cobrir o sistema. Os espaços convexos são polígonos 
em que todos os pontos presentes no interior podem ser enxergados mutuamente. 
b. comunidade virtual e o movimento natural 
As relações entre os vazios de um sistema espacial são quantificáveis e, portanto, 
comparáveis. E destas relações derivam-se outros conceitos subjacentes à ideia central da 
SE. Para entender a noção de movimento natural e das comunidades virtuais é preciso partir 
da premissa de que “a organização espacial humana, seja na forma de assentamentos, seja 
na forma de edifícios, é o estabelecimento de padrões de relações compostos essencialmente 
de barreiras e permeabilidades de diversos tipos.” (HILLIER; HANSON, 1984, p. 54). As 
barreiras ao movimento são elementos que perfazem a própria estrutura espacial da cidade: 
edifícios, lotes, interfaces, canteiros, entre outros, normalmente são barreiras ao nosso 
movimento (feito nos vazios) que se desenvolve conforme a distribuição destes cheios. 
60 
 
Ao se estabelecer um sistema de espaços abertos há, por consequência, uma hierarquização 
dos espaços gerada pela própria malha urbana capaz de facilitar ou dificultar o ir e vir, 
criando um potencial de encontros em certas regiões da cidade que Hillier e Hanson chamam 
de comunidade virtual. Segundo Hillier (1989, p.13 apud HOLANDA, 2002, p.110): 
A forma espacial cria um campo de encontros prováveis - ainda que 
nem todos possíveis – dentro do qual vivemos e nos movemos, 
levando, ou não, à interação social, tal campo é em si próprio um 
importante recurso sociológico e psicológico. [...]. Ele, portanto, 
merece um nome. Chamá-lo-ei de comunidade virtual, querendo 
dizer que ele existe, ainda que seja latente e irrealizado. A 
comunidade virtual é o produto direto do desenho espacial. 
Hillier (1989) tem como pressuposto que espaço e sociedade possuem influência entre si, 
limitada e precisa, fugindo dahipótese moderna do determinismo arquitetônico. Para 
compreender a cidade por esta vertente, é necessário relacionar aspectos sociais, culturais, 
comportamentais, entre outros, com a forma urbana, por isso nem sempre estas 
comunidades virtuais irão se efetivar empiricamente pois elas são produtos da configuração. 
Hillier (1989) destaca que a investigação das relações entre arquitetura e insegurança, por 
exemplo, só são possíveis por conta do papel que as comunidades virtuais exercem, pois 
consiste numa maneira sistemática de se investigar as relações entre estrutura espacial e 
comportamentos sociais. 
Hillier et al (1993) considera que o “gerador primário” de movimento de pedestres na cidade 
é a configuração do sistema de espaços abertos e que os usos urbanos são alocados no 
sistema como um subproduto da configuração. Hillier afirma ainda que esses usos, 
doravante chamados de atratores ou magnetos, atuam como equalizadores ou 
multiplicadores do padrão de movimento estabelecido pela configuração. Pode-se afirmar a 
partir dessa noção que o surgimento de comércios e serviços em uma determinada região 
da cidade é, dentre outros, consequência do movimento de pessoas que a malha urbana 
promoveu. 
Figura 31 - Esquema que 
representa a relação 
entre configuração (C), 
atratores (A) e 
movimento (M). 
Fonte: Hillier et al (1993), 
editado pelo autor. 
61 
 
O movimento gerado pela configuração do sistema é chamado de movimento natural, 
estabelecido a partir de uma relação entre configuração e atratores (Figura 31). Hillier frisa 
que o movimento natural está sujeito a mudanças culturais na mesma medida em que a 
configuração do espaço está sujeita também a uma ordem cultural. O movimento natural 
pode refletir características sociais, especialmente se houver controle no acesso de 
moradores e visitantes (Figura 32), conhecidos e desconhecidos dentro do sistema. 
 
Figura 32 - Espaço público controlado por um conjunto de moradores no Poço da Panela, Recife. Fonte: Google Street 
View. 
c. unidades convexa e axial 
A sintaxe descreve os espaços a partir de sua propriedade mórfica mais expressiva: o vazio, 
pois é nele que nos movemos, interagimos e enxergamos uns aos outros (Figura 30). A SE 
decompõe o sistema de espaços abertos da cidade (ou do edifício) em unidades espaciais 
de uma e duas dimensões - as unidades axiais e convexas, respectivamente - e estabelece 
representações que buscam descrever como cada parte se relaciona com o todo. Essa 
descrição é de natureza antes topológica do que métrica já que considera relações de 
contiguidade, descontinuidade, conectividade, integração, segregação, etc. Hillier et al (1993) 
sugerem que “se desejamos projetar para o bom uso do espaço urbano, não são as 
propriedades locais do espaço que são importantes, mas suas relações configuracionais com 
o sistema urbano como um todo” (tradução livre, HILLIER et al 1993, p.29). 
62 
 
O mapa convexo é criado a partir da decomposição do sistema de espaços abertos no 
menor número dos maiores espaços convexos. De acordo com Holanda (2002), “por 
definição, os espaços convexos satisfazem a condição de que nenhuma linha pode ser 
traçada entre quaisquer dois pontos do espaço que passe por fora dele” (HOLANDA, 2002, 
p. 97). Ou seja, a partir de qualquer ponto interno do espaço convexo, é possível enxergar 
todos os demais (Figura 33). Holanda (2002) exemplifica o espaço convexo como aquele que 
entendemos por “lugar” numa escala reduzida, como o trecho de uma rua ou uma praça, 
por exemplo. 
 
Figura 33 - Esquema de decomposição espacial a partir de malha urbana. Fonte: Medeiros (2004, p.35) 
O mapa axial, instrumento basilar da análise sintática, representa a configuração de 
espaços abertos e contínuos da malha urbana, por meio de suas linhas de acessibilidade 
(Figura 33). Esse mapa é representado a partir da abstração do sistema de espaços abertos 
da cidade pelo menor número das maiores linhas retas que passam através de todos os 
espaços convexos. As linhas axiais correspondem, portanto, às maiores linhas retas possíveis 
dentro do sistema de espaços abertos de uma determinada porção urbana (HILLIER; 
HANSON, 1984). Nos últimos anos com o aprimoramento da ASE começou-se a utilizar a 
representação por segmento (a partição da linha axial a cada cruzamento) uma vez que: 
(a) foram superadas as dificuldades de processamento de mapas, já que o número de 
elementos dos mapas se multiplicaram com a partição das linhas axiais; (b) a possibilidade 
de se ponderar as mudanças de direção (com a análise angular) dentro de um sistema, 
aproximando-se ainda mais a representação da realidade urbana (TURNER, 2001; HILLIER, 
2008). 
Enquanto peça gráfica, a Análise Sintática do Espaço pode ser representada a partir de um 
gradiente de cores que varia do vermelho ao azul. Os que se aproximam do vermelho são 
os espaços com as maiores medidas sintáticas (serão apresentadas no próximo tópico) e 
em azul os menores. 
63 
 
d. medidas sintáticas 
É a partir dos dois sistemas de representação (o axial e o convexo) que obtêm-se as mais 
diversas medidas sintáticas. Estas medidas vêm sendo aprimoradas e outras vem sendo 
desenvolvidas. Iremos utilizar medidas mais empregadas em estudos de múltiplas 
naturezas: as medidas de integração e escolha. 
integração 
A integração, principal medida da Análise Sintática do Espaço, mensura a distância entre 
um espaço (parte) e todos os outros do sistema (todo). Ela mede, topologicamente, quão 
próximo cada segmento está de todos os outros circunscritos ao raio de alcance analisado, 
isto é, diz respeito a quão acessível cada segmento está de todos os outros, nesse raio, e 
sugere o potencial que aquele local tem para encontro interpessoal, destino final e 
centralidades. 
O conjunto de espaços mais integrados de um sistema é chamado de núcleo integrador 
(HILLIER, 1999). Ele representa lugares com alto potencial de movimento gerados pela 
configuração, ou seja, o movimento natural afeta diversamente malha viária, de modo que 
uma ou mais porções da cidade tem maior potencial para usos e atividades que demandam 
maior copresença. Em cidades tradicionais, como é o caso do Recife, o núcleo integrador 
normalmente corresponde àqueles lugares que concentram comércios e serviços, criando 
uma ou mais centralidades. Ao mesmo tempo nas outras regiões segregadas da cidade 
normalmente não se observa esse tipo de animação, pois a probabilidade de encontros é 
menor e acaba por arrefecer a possibilidade de usos comerciais, por exemplo. 
A relação entre estas partes é topológica, se pode alcançar os espaços mais integrados 
mediante um menor número de mudanças de direção a partir de todos os demais, e os mais 
segregadas requerem mais passos topológicos ou mudanças de segmento/ direção. 
escolha 
A primeira vez que a medida de Escolha aparece nos escritos da SE foi em Hillier et al. (1987), 
se tratando portanto de um avanço da ASE que revelava importantes eixos com potencial 
de interligação do sistema. 
A medida de Escolha representa o quanto determinada linha é utilizada nos percursos para 
atingir todos os possíveis pares (origem e destino) do sistema. A Escolha leva em 
64 
 
consideração rotas mais curtas entre origem e destino. Quanto maior o valor de Escolha 
mais aquela linha é utilizada como menor caminho entre outras linhas. A medida indica o 
potencial que as linhas tem de concentrar o movimento de atravessamento pelo sistema, a 
medida também é conhecida como movimento através (through movement), identificando 
espaços com maior potencial de ligação com outras partes da cidade. 
Em síntese: a medida de Integração tende a revelar uma ou várias centralidades dentro de 
um sistema onde normalmente concentram-se comércios e serviços que se aproveitam da 
copresença de usuários. A de Escolha revela eixos de ligação que normalmente coincidem 
com importantes avenidasdas cidades por onde passam as principais linhas de transporte 
público e veículos (HILLIER et al., 1987). 
As medidas de Integração e Escolha utilizadas nesta pesquisa foram normalizadas. O 
processo de normalização destas medidas por ponderação possibilita a comparação entre 
sistemas de diferentes tamanhos (HILLIER, 2012). A medida de Interação normalizada é 
chamada de NAIN (normalised angular integration) e a de Escolha de NACH (normalised 
angular choice). 
As análises de NACH e NAIN realizadas neste trabalho foram feitas para os raios de alcance: 
Rn (global) e diferentes raios métricos (200m, 400m, 600m, 800m, 1000m, 1200m, 2400m, 
3600m, 5000m). O Rn quantifica a relação entre todos os elementos, identificando 
centralidades e eixos de atravessamento de TODO o sistema. Os raios métricos limitam a 
análise a uma distância específica e tendem a revelar, dentre outros fenômenos, 
centralidades secundárias que atendem a uma pequena região. 
 
 
 
 
 
 
65 
 
5. a forma do movimento – e da insegurança 
Ainda que o objetivo da Via Mangue fosse expandir o sistema viário e integrar uma região 
urbanisticamente consolidada, há outras consequências que vêm acompanhadas de 
transformações na forma urbana, dentre elas a arquitetura que é produzida nesses espaços, 
a relação entre espaço público e privado, as mudanças quanto ao uso do solo, entre outros. 
Com a Sintaxe do Espaço é possível vislumbrar quais regiões do Recife sofreram os maiores 
impactos em acessibilidade topológica quanto às transformações do sistema de espaços 
abertos ocasionados pela abertura da Via Mangue. 
Para fazermos a comparação entre configuração e transformações espaciais, utilizamos a 
base de dados gentilmente cedida pela rede de pesquisadores INCITI – Pesquisa e Inovação 
para as Cidades em nome da Profa. Dra. Circe Maria Gama Monteiro, coorientadora desta 
pesquisa. O mapa de representação linear, ou mapa axial, estava datado com o ano de 2015 
e foi devidamente atualizado com a inserção da Via Mangue, inaugurada integralmente em 
2016. 
A base de dados foi atualizada com a inserção da Via Expressa e de suas obras adjacentes 
que alteraram diretamente a forma urbana: (a) a alça viária sobre o bairro do Cabanga, (b) 
a alça da ponte Paulo Guerra no Pina, (c) o túnel Josué de Castro também no Pina, (d) o 
prolongamento de 6 ruas até a Via Mangue: (1) R. Tomé Gibson, (2) R. José Maria de Miranda, 
(3) R. Professor Eduardo Wanderley, (4) Rua Tenente João Cícero, (5) R. Padre Bernardino 
Pessoa e (6) Rua Maria Carolina. A ↓ Figura 34 mostra como se deu a inserção da Via Mangue 
num tecido urbano consolidado. Há mais conexões com a malha urbana pré-existente 
conforme ela vai chegando ao sul, nos números 2, 3, 4, 5, e 6 da imagem. No início e até 
metade da sua extensão ela ladeia a malha urbana sem alterá-la ou conectando-se em 
alguns poucos pontos. O “pouso” – melhor, despenque - da Via Mangue chega a ser 
dramático em pontos como no bairro do Cabanga, onde a superestrutura de um viaduto 
aterrissa sobre uma rua residencial deixando trechos residuais em seu baixio, conforme 
pode ser visto na Figura 35. 
↓ Figura 34 - Esquema gráfico sobre Imagem de satélite do Google Earth. Fonte: Google Earth, editado pelo autor. 
66 
 
 
67 
 
 
Figura 35 – (a) Alça viária sobre o bairro do Cabanga em 2020. Fotos do autor. 
68 
 
 
Figura 36 - (c) Alça da Ponte Paulo Guerra que dá acesso a Via Mangue. (c) Túnel Josué de Castro na saída da Via 
Mangue. Fonte: Jornal do Commercio. 
69 
 
Para compreender como essas mudanças nas partes alteraram o todo do sistema foram 
comparados 4 mapas de segmento: NAIN e NACH antes da Via Mangue com NAIN e NACH 
depois da via expressa inserida com as devidas alterações. Estão representados no sistema 
os principais municípios da região metropolitana: Recife, Olinda, ao norte, e Jaboatão dos 
Guararapes, ao sul. 
Ao comparar a Figura 37 e a Figura 38 percebe-se que mesmo com a inserção da Via 
Mangue não houve deslocamento do núcleo integrador do sistema. Esse potencial de 
movimento do centro topológico escorre por importantes vias que passam próximas a esta 
região como a Avenida Caxangá, Av. Abdias de Carvalho, Av. Gov. Agamenon Magalhães, 
Av. Mascarenhas de Morais e Av. Visconde de Albuquerque. Bairros como Boa Vista, Santo 
Amaro, São José e Santo Antônio conformam uma região rotulada como centro (ou cidade) 
pela população, especialmente a mais velha. Esta área está próxima mas não coincide com 
o núcleo integrador, ainda que permaneça exercendo seu papel como uma determinada 
centralidade em termos de concentração de comércios e serviços. Já os bairros do Pina e de 
Boa Viagem despontam com níveis de integração medianos tanto antes quanto depois da 
Via Mangue. 
Esperava-se que por se tratar de uma via expressa o mapa de segmentos NACH destacasse 
a Via Mangue pelo seu potencial de atravessamento do sistema, o que não aconteceu. Seu 
potencial é menor que o de outras vias estruturantes como as citadas no parágrafo anterior 
que somam-se à BR-101, Rua Imperial, Avenida Recife, Av. Dr. José Rufino e algumas outras, 
como os espaços com maiores valores de NACH do sistema . A coincidência de espaços com 
alto valor de NAIN e NACH reforça o núcleo integrador na região da Torre-Madalena. 
Tampouco os valores de NACH trazem a Boa Viagem e/ou ao Pina destaque quanto ao 
potencial de atravessamento, permanecendo apenas com valores intermediários. 
Como não foi possível perceber diferenças cromáticas que representariam mudanças nos 
padrões de movimento do sistema, outro procedimento analítico foi adotado: confeccionar 
mapas de segmentos que demonstrariam o percentual de mudanças nos índices sintáticos 
de NAIN e NACH. Foram sobrepostos os mapas pré e pós Via Mangue que deram origem a 
um terceiro. Irei chamá-lo de mapa de alterações sintáticas. Aparecem destacados nestes 
mapas em vermelho os espaços que mais ganharam acessibilidade e em azul aqueles que 
mais perderam (Figura 41 e Figura 42). 
70 
 
 
Figura 37 - Mapa de segmentos NAIN global antes da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
71 
 
 
Figura 38 - Mapa de segmentos NAIN global depois da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
72 
 
 
Figura 39 - Mapa de segmentos NACH global antes da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
73 
 
 
Figura 40 - Mapa de segmentos NACH global depois da Via Mangue. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
74 
 
 
Figura 41 - Mapa de alteração sintática de NAIN global. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
75 
 
 
Figura 42 - Mapa de alteração sintática de NACH global. Fonte: INICITI, Melo-Junior, 2020. 
76 
 
No caso do mapa de alteração sintática com raio global do NAIN (Figura 41), a Via Mangue 
incrementou o potencial de movimento de dois conjuntos de espaços bem definidos logo no 
início de sua extensão: em trechos dos bairros do Cabanga e do Pina. Já quanto ao NACH 
(Figura 42) um trecho de Boa Viagem destaca-se por mudanças quanto aos índices 
sintáticos. 
O Cabanga (1) caracterizou-se como a região que reuniu a maior quantidade de segmentos 
que aumentaram valores NAIN mas também a que mais diminuíram em NACH. 
O Pina (2) destacou-se por reunir 40% dos segmentos que ganharam NACH em seu território. 
Já Boa Viagem (3) desponta como a porção do sistema com mais espaços que ganharam 
NACH, por volta de 50,6%. É justamente nestas redondezas que a Via Mangue possui mais 
capilaridade com o tecido urbano. 
Em nenhum dos segmentos houve perda nos valores de integração (NAIN). 
 
 
Gráfico 1 - Percentual de segmentos que sofreram alterações sintáticas em cada trecho. Fonte: elaborado pelo autor. 
 
 
70,83%
29,17%
[A]
% de segmentos que 
ganharam NAIN
Cabanga Pina
9,40%
40%50,60%
[B]
% de segmentos que 
ganharam NACH
Cabanga Pina Boa Viagem
57,80%26%
16,20%
[C]
% de segmentos que 
perderam NACH
Cabanga Pina Boa Viagem
7778 
 
Adotando a premissa de que configuração do espaço, movimento e atratores estão 
associados entre si e também com a sensação de segurança, como a região do Cabanga e 
de Boa Viagem7 responderam morfologicamente a estas mudanças configuracionais 
trazidas pela Via Mangue? 
Para responder a esta pergunta, informações adicionais sobre cada trecho foram inseridas 
numa base SIG (Sistema de Informações Georreferenciadas) fornecida pela Prefeitura do 
Recife conhecida como ESIG - Informações Geográficas do Recife. Essas informações são de 
domínio público (Disponível em: <https://bit.ly/3wAOwbp>), com a possibilidade de baixar e 
manipular o mapa de acordo com informações inseridas que foram coletadas. Os resultados 
estão apresentados em duas etapas: (1) através de mapas e quadros em que se podem ver 
mudanças lote a lote, sendo possível tecer observações gerais sobre as transformações nos 
fragmentos de Boa Viagem e Cabanga. Em um segundo momento (2), apresentam-se 
gráficos que correspondem às mudanças ocorridas nos Perfis Espaciais, explicados a seguir 
no ponto 1. O procedimento desta fase da pesquisa seguiu a ordem: 
0. Limpeza e (tentativa de) compatibilização dos mapas 
A princípio tentou-se compatibilizar o mapa coletado do ESIG com o mapa axial 
disponibilizado pelo INICITI, no entanto, eles foram desenvolvidos sobre sistemas de 
coordenadas diferentes, por isso as linhas axiais do mapa do INICITI não coincidiam 
exatamente com o espaço vazio da base do ESIG (Figura 43), e a representação não 
aparece sobreposta e a compatibilização foi descartada. 
 
Figura 43 – Mapa de segmentos do INCITI sobre base cartográfica do ESIG. A incompatibilidade dos Sistemas de 
Coordenadas causa o desencontro entre espaço vazio onde está a linha axial e o cheio (lotes/ edificações). Este trecho do 
mapa corresponde ao Cabanga. 
 
7 Apesar de também se destacar enquanto região que sofreu alterações sintáticas, o Pina ficou de fora desta análise porque 
no fim de 2012 foi inaugurado o Shopping Riomar, 4 anos antes da Via Mangue. É natural que um atrator da magnitude de 
um shopping center promova transformações urbanas que vão além da configuração. Transformações estas que podem ter 
sido inclusive reforçadas com o incremento em integração e choice mas que escapam aos objetivos desta investigação. 
79 
 
 
1. Subdivisão das áreas de análises em perfis espaciais 
Um dos maiores desafios das análises urbanas está no fato de que os fatores 
investigados, quaisquer que sejam eles, não atuam isoladamente mas em conjunto. É 
praticamente impossível atribuir a causa de certos fenômenos socioespaciais a alguns 
poucos fatores. O julgamento do caminhar por uma rua como seguro ou inseguro, por 
exemplo, corresponde não só a uma série de características do ambiente construído 
mas também a fatores sociais como gênero, experiências pessoais passadas, dentre 
outras que escapam a esta investigação. Já as variáveis formais apontadas pela 
literatura e que dizem respeito ao espaço construído foram organizadas no que 
Monteiro (2010) chama de Perfil Espacial Urbano. A ideia é reunir um conjunto de 
elementos do espaço urbano a fim de verificar possíveis associações entre aspectos 
da forma urbana e fenômenos socioespaciais. 
De modo semelhante o Perfil Espacial Urbano (Spatial Profile) 
(MONTEIRO, 2010), também chamado de perfil espacial de 
segmentos urbanos, é uma metodologia que busca descrever um 
conjunto de características que identificam um local. Os diversos 
perfis de espaços da cidade podem proporcionar condições de 
descrever e até predizer as características ambientais e espaciais 
que estariam associadas, por exemplo: espaços com maior 
vitalidade urbana ou, ao contrário, com maior vulnerabilidade ao 
crime. (CAVALCANTI, 2013, p.52) 
 
As duas áreas de análise foram divididas em 34 perfis, 16 no Cabanga e 18 em Boa 
Viagem; cada perfil corresponde a uma rua/ avenida ou a trechos. Essa divisão facilita 
a leitura uma vez que certos fenômenos podem acontecer em alguns segmentos de 
quadra e em outros não. 
A Figura 44 e a Figura 45 mostram a divisão das duas áreas de análise em perfis 
espaciais, complementadas pelo Quadro 3 com o nome das vias analisadas. 
Os lotes localizados nas esquinas foram contabilizados duas vezes, uma vez que eles 
facejam duas ruas. O lote-quadra que corresponde ao Colégio Santa Maria, por 
exemplo, foi contabilizado quatro vezes pois ele faceja os perfis 22, 25, 30 e 31 (ver 
Figura 45). 
80 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 44 - Divisão das ruas do Cabanga em Perfis Espaciais. Fonte: elaborado pelo autor. 
Figura 45 - Divisão das ruas de Boa Viagem em Perfis Espaciais. Traçado da Via Mangue em 
tracejado. Fonte: elaborado pelo autor. 
81 
 
Quadro 3 – Descrição das vias analisadas e do perfil espacial correspondente. Elaborado pelo autor. 
Número do Perfil Espacial Via correspondente 
1 Rua Capitão Temudo 
C
A
B
A
N
G
A
 
2 Avenida Saturnino de Brito 
3 Rua Bituri 
4 Rua Dilermano Réis 
5 R. Comandante Arnaldo da Costa Varela 
6 R. Comandante Antonio Manhães de Matos (n. 25 – n. 195) 
7 R. Comandante Antonio Manhães de Matos (n. 27 – n. 31) 
8 R. Pe. Carlos de Barros Barreto 
9 R. Iobi 
11 R. Jequitibá 
12 R. Gutiúba 
13 R. Bujari 
14 R. Jitó 
15 R. Vila Nova da Cabanga 
16 R. Camutanga 
17 Av. Engenheiro Domingos Ferreira 
B
O
A
 V
IA
G
E
M
 
18 R. Francisco da Cunha 
19 R. Professor Julio Ferreira de Melo 
20 R. Ministro Nelson Hungria (n. 696 – n. 486) 
21 R. General Édson Amâncio Ramalho 
22 R. Poeta Zezito Neves 
23 R. Doutor Pedro de Melo Cahú 
24 R. Antônio de Sá Leitão 
25 R. Ministro Nelson Hungria (n. 402 – n.26) 
26 R. Luís de Farias Barbosa 
27 R. Amaro Albino Pimentel 
28 R. Antônio Falcão 
29 R. Maria Carolina 
30 R. Padre Bernardino Pessoa 
31 R. Professor José Brandão 
32 R. Tenente João Cícero 
33 R. Professor Eduardo Wanderley Filho 
34 R. Mamanguape 
 
 
 
 
 
 
82 
 
2. Diversidade de uso e ocupação do solo 
Para caracterizar o uso e a ocupação em cada um dos lotes foram determinadas 
classificações gerais e específicas para cada tipo de uso baseado no que estipula o 
Plano Diretor de 2008 (Lei N. 17.511/2008) e a Lei de Uso e Ocupação do Solo do Recife 
(LEI N. 16.176/1996). As informações foram coletadas pelo autor ao longo do ano de 
2019 e início de 2020: 
Quadro 4 - Classificação quanto ao uso e ocupação do solo. Fonte: elaborado pelo autor. 
USO GERAL USO ESPECÍFICO 
HABITAÇÃO 
Unifamiliar 
Multifamiliar 
Unifamiliar misto 
Multifamiliar misto 
Hotelaria e Hospedagem 
COMÉRCIO 
Varejista 
Atacadista 
Alimentação 
SERVIÇO 
Técnico / Financeiro 
Privado 
Saúde 
Público 
Clubes e agremiações 
Cinema / Teatro 
INSTITUCIONAL 
Educacional 
Religioso 
INDUSTRIAL Indústria 
SHOPPING CENTER Centro comercial 
ESTACIONAMENTO Estacionamento 
VAZIO Lote sem construção 
SEM USO Edificação sem uso 
EM OBRAS Edificação em obras 
 
Partindo do pressuposto da teoria do movimento natural8, era de se esperar 
mudanças quanto ao uso e a ocupação do solo com a inserção da Via Mangue. Essas 
mudanças estão representadas em mapas de uso e ocupação do solo de antes e 
 
8 “[...] a configuração é o gerador primário, e sem entendê-la nós não podemos compreender nem o movimento de 
pedestres, tampouco a distribuição dos atratores ou mesmo a morfologia do próprio traçado urbano" (HILLIER et al, 1993, 
p. 32, tradução própria). 
83 
 
depois da transformação na forma urbana; foi discutido se as mudanças 
acompanharam alterações nas medidas indicadoras de potencial. 
Dentre os métodos apontados pela literatura para aferir o grau de diversidade do uso 
do solo, o índice de Simpson (Jost, 2006)9 foi o escolhido para esta pesquisa. Neste 
caso o valor varia entre 0 e 1, sendo zero a mais baixa diversidade (quando o espaço 
contém apenas 1 uso do solo) e 1 a mais alta (uma grande quantidade de usodo solo 
proporcionalmente distribuídas entre as várias categorias). 
3. Caracterização da interface 
A fim de identificar características arquiteturais que apontem para um engajamento 
ou evitamento ao espaço público, nesta etapa foram levantadas as informações de 
como estavam (em 2015) e como estão (em 2020) as interfaces dos lotes antes e 
depois da Via Mangue. 
O que se chama de interface aqui é o elemento, construído ou não, que separa espaço 
público do domínio privado. O que se está buscando nesta etapa é encontrar vestígios 
que respondam ou não à “estética da segurança” apontada por Caldeira (2011), e/ou 
ainda a fuga da “desordem social” atrelada aquilo que é público (BAUMAN, 2008). 
A interface de cada lote foi georreferenciada e caracterizada de acordo com seus 
atributos físicos e o principal critério de balizamento foi a permeabilidade física e 
visual, variando entre aberta, transparente, cambiante, parcialmente fechada e 
fechada. 
 
Quadro 5 - Classificação quanto ao tipo de interface. Fotos do autor. 
ABERTA 
Inexiste elemento que separe o espaço 
público do domínio privado, sendo 
possível acessar o recuo da edificação 
 
 
9 O índice é calculado de acordo com a seguinte fórmula: 𝐷 = 1 − ∑ 𝑝𝑖²𝑆𝑖=1 
onde D = Diversidade, variando de 0 a 1, sendo 0 a mais baixa diversidade (apenas 1 uso do solo) e 1 a mais alta (maior 
quantidade de usos do solo igualmente distribuídos). S = Número total de tipos de uso do solo; i = tipo de uso do solo; pi = 
proporção do uso do solo; 
84 
 
TRANSPARENTE 
Edificações que permitem a 
visualização perene do espaço 
privado. 
 
CAMBIANTE 
Edificações que permitem a 
visualização do espaço privado 
durante certo período de tempo e que 
normalmente se fecha em outro. 
 
PARCIALMENTE 
FECHADA 
Lotes/edificações que possuem, em 
média, metade do seu perímetro 
fechado e o restante aberto e /ou 
transparente. 
 
FECHADA 
Lotes e/ou edificações que estão 
completamente opacos em relação ao 
espaço público. 
 
 
4. Elementos de segurança patrimonial 
Por diversas vezes o muro opaco que esconde o espaço privado não parece ser 
suficiente quando se busca segurança. Atrelados a caixa mural, os elementos de 
segurança patrimonial aparecem como mais um indício de insegurança e é lido neste 
trabalho como um indício de evitamento e desconfiança. 
Nesta etapa foram levantados se cada lote possuía elementos como grades nas 
aberturas, estrepes (elemento cortante incrustado no topo do muro), cerca 
eletrificada, sensor luminoso de presença, CFTV e concertina (rolo de arame farpado 
instalado no topo do muro, normalmente utilizada em presídios). 
85 
 
Normalmente o discurso é de que cada artifício serve para uma determinada 
proteção. Em suma, a finalidade de todos é a mesma: reduzir a possibilidade de 
invasão ao espaço privado. A maior quantidade de equipamentos aponta para o 
paradigma da desconfiança. 
 
Quadro 6 – Tipos de elementos de proteção patrimonial 
GRADES 
Elemento metálico que protege 
aberturas 
 
ESTREPE 
Elementos cortantes, como cacos de 
vidro ou pontas de lança em aço, 
incrustrados no topo de um muro 
 
CERCA 
ELETRIFICADA 
Barreira elétrica para repelir pessoas 
que tentem atravessar um limite 
 
SENSOR 
LUMINOSO DE 
PRESENÇA 
Dispositivo associado a uma fonte 
luminosa que é acionada ao detectar 
a presença de movimento. 
 
CFTV 
Circuito Fechado de TV, que serve 
para o monitoramento remoto de 
determinados espaços. 
 
CONCERTINA 
Consiste numa barreira de segurança 
laminada, em forma de espiral com 
lâminas pontiagudas, cortantes e 
penetrantes. 
 
86 
 
5. Número e distância entre constituições 
Na SE, diz-se que um espaço é constituído quando há ligações diretas entre o edifício e o 
espaço público (HOLANDA, 2002, p. 100). A revisão de literatura aponta que os espaços 
pouco constituídos tendem a alimentar a sensação de insegurança. A constitutividade é 
tida como favorável para a vitalidade dos espaços públicos. Dessa maneira, interpreta-
se que os lotes com maior número de constituições sugerem maior possibilidade de 
engajamento com a rua do que aqueles com menos acessos. 
Utilizamos duas maneiras de contabilizar esta variável: uma mostrando o valor absoluto 
do número de constituições por lote e outra fruto da divisão entre o tamanho da face da 
quadra pelo número de portas e portões que se abrem para ela. O resultado indica uma 
distância média entre cada constituição. Exemplo: um segmento de quadra com 100 
metros de extensão e 5 acessos tem, em média, 1 constituição a cada 20 metros. Neste 
caso, quanto menor o valor, mais constituído é aquele espaço. 
De acordo com Monteiro (2010, p. 637) “a cidade atual tem diminuído o número de 
constituições por quadra urbana, além de requalificar a conexão tornando-a mais frágil.” 
A tendência das cidades brasileiras vistas com altos níveis de crime 
é fazer conexões mais rápidas e mais distantes entre lotes e ruas. 
As portarias dos grandes edifícios são retiradas do nível do solo e 
alçadas a altura funcionando como promontórios ou panópticos 
urbanos. Os portões de garagem são abertos automaticamente 
com times ajustados para o menor período possível de abertura. 
Qualquer mudança nessa tendência atual de edifícios fechados para 
as ruas é um grande desafio, pois isso implica inverter a noção atual 
de segurança difundida entre a população, de que quanto mais 
fechado e restrito for o acesso aos seus condomínios, mais seguros 
estarão (MONTEIRO, 2010, p. 637). 
A distância entre aberturas de um lote relaciona-se com o tipo da edificação que ali foi 
erguida. Na ↓ Figura 46 nota-se a diferença na quantidade de acessos ao espaço privado 
quando se comparam edifícios residenciais verticais, na imagem a esquerda, com uma 
ocupação por habitações e pequenos comércios em lotes de menor tamanho. É 
exatamente desse tipo de ocupação que Monteiro (2010) trata como tendência nas 
cidades brasileiras. 
↓ Figura 46 - Rua Professor Eduardo Wanderley Filho, Boa Viagem, numa tarde em março de 2021. Fonte: foto do autor. 
87 
 
 
 
 
88 
 
a. Cabanga 
O trecho do bairro do Cabanga analisado neste trabalho é formado por 20 quadras, 16 perfis 
espaciais e 338 lotes dispostos entre quatro barreiras: a bacia do Rio Tejipió ao sul, a linha 
férrea desativada da Rede Ferroviária Federal a norte, o viaduto Capitão Temudo a leste e a 
grande gleba que abriga o 7° Depósito de Suprimentos do Exército Brasileiro, conhecido como 
Quartel do Cabanga, a oeste. Não fosse o total fechamento por muros da linha férrea, o 
bairro também estaria às margens da Avenida Sul, importante eixo de atravessamento. 
A estrutura urbana desse trecho é marcada principalmente pelo viaduto Capitão Temudo 
pois é a partir dele que despenca uma alça que dá início à Via Mangue. O viaduto é 
caracterizado por ser uma via expressa de intenso movimento que logo se junta a Ponte 
Paulo Guerra e dá acesso ao Pina e a Boa Viagem e consequentemente ao restante da Via 
Mangue. Junto com a Av. Saturnino de Brito formam os dois espaços que reúnem o maior 
potencial de movimento do trecho analisado. 
O cenário que se descortina no Cabanga é de uma ocupação majoritariamente residencial, 
pequenos comércios e serviços sobre terrenos que variam entre 90m2 e 400m2. Estes lotes 
estão distribuídos em ruas estreitas que conectam quadras pequenas, o que confere uma 
certa homogeneidade a esse trecho específico do bairro. Estas características morfológicas 
estão localizadas num “imprensado” entre o viaduto de maior fluxo de veículos da cidade, 
uma linha férrea que mais segrega que integra já que divide a cidade em dois, o rio e o 
quartel. A Via Mangue se anuncia por uma alça derivada do Capitão Temudo que cai sobre 
a Avenida Saturnino de Brito a pouquíssimos metros das edificações que estão nesta 
avenida, criando pontos cegos e, muitas vezes, inviabilizando usos que dependem da 
visibilidadepara a rua (Figura 47; Figura 48; Figura 49). 
Transformações na forma urbana desta natureza fazem parte da história do Cabanga desde 
a construção do Capitão Temudo nos anos 1970. A ocupação do bairro é, pelo menos, 30 
anos mais velha que o viaduto. A arquitetura produzida nos lotes que estão lindeiros ao 
viaduto é notadamente diferente daquela do miolo – onde estão os lotes menores, isso já 
desde antes da Via Mangue. Interpreta-se isso como uma resposta arquitetônica a este 
movimento intenso. Com a inauguração da via expressa em 2016, especialmente com a alça, 
o Cabanga passaria pela segunda grande mudança nos padrões de movimento. Ao mesmo 
tempo em que ruas perderam potencial de atravessamento, outros espaços – como o 
Viaduto Capitão Temudo - incrementaram seus níveis de integração. 
89 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 47 - Alça da Via Mangue sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. 
Figura 48 - Alça da Via Mangue aterrissando sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. 
90 
 
 
Figura 49 - Alça da Via Mangue sobre a Av. Saturnino de Brito. Foto do autor em 2021. 
91 
 
(a1) Uso e ocupação geral do solo em 20 quadras do Cabanga 
 
 
Figura 51 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solo depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo 
autor. 
 
Figura 50 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado 
pelo autor. 
92 
 
A Figura 50 demonstra como o uso e a ocupação do solo estavam distribuídos sobre os 338 
lotes do Cabanga pré Via Mangue. Essas informações foram levantadas com o auxílio de 
uma ferramenta do Google Street View que permitiu acessar imagens dos espaços públicos 
capturadas um ano antes da Via Mangue (inaugurada em 2016), assim como imagens 
atualizadas em março de 2020, 4 anos depois da inauguração. 
Quadro 7 - Quantidade de lotes a partir dos seus respectivos usos gerais. Elaborado pelo autor. 
USO GERAL ANTES (2015) % DEPOIS (2020) % 
habitação 287 84,91% 268 79,29% 
serviços 18 5,32% 17 5,02% 
sem uso 9 2,66% 26 7,69% 
comércio 6 1,77% 7 2,07% 
vazio 6 1,77% 5 1,48% 
sem informação 5 1,48% 3 0,89% 
depósito 6 1,77% 7 2,07% 
espaço público 2 0,59% 2 0,59% 
institucional 2 0,59% 2 0,59% 
estacionamento 1 0,29% 1 0,29% 
total 338 100% 338 100% 
 
O uso habitacional era e continua sendo majoritário no trecho do Cabanga. Entretanto há 
uma cisão nesse trecho do bairro em relação ao uso do solo. Observando a Figura 50 e a 
Figura 51 percebe-se que onde estão os lotes menores estão, também, as habitações. 
Deixando para os terrenos maiores usos que dependem, em maior ou menor grau, do 
movimento que passa em frente (e que foi incrementado com a Via Mangue). 
A informação que chama mais atenção nesse levantamento, seja na forma descritiva do 
Quadro 7 ou espacializada na Figura 50 e na Figura 51, é a quantidade de lotes sem uso. 
Depois da inauguração da Via Mangue a quantidade praticamente triplicou. A maior parte 
desses lotes que perderam seu uso estão localizados nas vias de maior movimento – defronte 
do Viaduto Capitão Temudo e na Av. Saturnino de Brito – segmentos 1 e 2, respectivamente. 
Esta última trata-se da rua onde pousa uma alça que marca o início da Via Mangue. 
 
 
93 
 
(a2) Uso e ocupação do solo específico em 20 quadras do Cabanga 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 52 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. 
Elaborado pelo autor. 
Figura 53 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solo depois da Via Mangue ser inaugurada. 
Elaborado pelo autor. 
94 
 
Os mapas apresentados na Figura 52 e na Figura 53 revelam certas nuances que os 
anteriores não mostraram, como uma maior variedade de usos distribuída entre os 
pequenos lotes do trecho analisado, onde estão as habitações. Nota-se que especialmente 
nas esquinas dessa porção do Cabanga os moradores aproveitam para abrir pequenos 
comércios que coexistem com o uso habitacional. Normalmente estas atividades estão 
atrelados ao atendimento direto das necessidades do cotidiano, como pequenas padarias, 
pequenos restaurantes (Figura 54), mercearias, mercadinhos, farmácias, etc. 
Nos lotes próximos do Viaduto Capitão Temudo e da Saturnino de Brito se concentravam 
diferentes tipos de serviços e estacionamentos (Figura 52). Mesmo antes da Via Mangue, 
essas quadras já reuniam atividades que dependem bem menos do cotidiano por se 
tratarem de serviços variados – cartório, sede de conselhos profissionais, assistências, entre 
outros. A Figura 53 mostra que alguns desses usos se foram com a inauguração da alça 
deixando uma série de edificações abandonadas ou que tiveram como destino atividades 
menos nobres, como depósitos. 
Quadro 8 - Quantidade de lotes a partir dos seus respectivos usos específicos. Elaborado pelo autor. 
USO ESPECÍFICO ANTES (2015) % DEPOIS (2020) % 
habitação unifamiliar 256 75,74% 239 70,71% 
habitação unifamiliar 
misto 
18 5,33% 15 4,44% 
serviço privado 12 3,55% 13 3,85% 
habitação multifamiliar 11 3,25% 15 4,44% 
sem uso 10 2,96% 26 7,69% 
vazio 6 1,78% 5 1,48% 
sem informação 5 1,48% 3 0,89% 
serviço técnico 4 1,18% 3 0,89% 
alimentação 3 0,89% 4 1,18% 
comércio varejista 3 0,89% 3 0,89% 
depósito 2 0,59% 5 1,48% 
espaço público 2 0,59% 2 0,59% 
religioso 2 0,59% 2 0,59% 
serviço público 2 0,59% 1 0,30% 
estacionamento 1 0,30% 1 0,30% 
habitação multifamiliar 
misto 
1 0,30% 1 0,30% 
total 338 100% 338 100% 
95 
 
 
Figura 54 - Uso misto na esquina da R. Dilermano Reis com R. Bujari. Foto do autor em 2021. 
 
96 
 
(a3) Caracterização da interface em 20 quadras do Cabanga 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 55 – ANTES (2015) - Mapa de interface antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
Figura 56 – DEPOIS (2020) - Mapa de interface depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo 
autor. 
97 
 
Diferente do que ocorreu com o uso do solo, onde as maiores mudanças acompanharam as 
transformações de potencial de movimento, no caso das interfaces abertas elas estão quase 
que restritas à porção mais reclusa do trecho, onde está concentrado o uso habitacional. A 
maior parte do perímetro dos lotes do Cabanga se caracteriza pela transparência da 
interface (Quadro 9). A maioria delas são de residências unifamiliares que estão sobre os 
menores lotes. Isso se dá provavelmente por conta do tamanho menor do terreno, já que 
quando há alguma ampliação nessas casas, ela acontece sobre o recuo frontal preexistente 
deixando que o espaço privado interno se conecte diretamente com o espaço público, antes 
intermediado por um jardim. A quantidade de polígonos laranjas na Figura 55 e na Figura 56 
está visivelmente concentrada nas quadras menores à esquerda dos mapas. Conforme se 
adentra esse conjunto e nos afastamos das esquinas, os lotes vão se tornando mais 
transparentes, garantindo – quase sempre - uma relação de intervisibilidade uns com os 
outros. 
As esquinas parecem gerar maior desconfiança já que nelas predominam interfaces 
parcialmente ou completamente fechadas. O Quadro 9 mostra que desde a inauguração da 
Via Mangue, a interface desses espaços parece sofrer uma tendência de fechamento com a 
diminuição de espaços transparentes e o crescimento de muros opacos que impossibilitam 
qualquer comunicação entre espaço público e privado. 
Quadro 9 – Perímetro das interfaces. Elaborado pelo autor 
INTERFACE ANTES (2015) % DEPOIS (2020) % 
aberta 244,06m 5,71% 294,41m 6,88% 
transparente 1620,29m 37,88% 1416,67m 33,12% 
cambiante 414,20m 9,68% 372,87m 8,72% 
parcialmente 
fechada 
941,28m 22,00% 883,81m 20,66% 
fechada 1057,82m 24,73% 1309,86m 30,62% 
total 4,277,65m 100% 4,277,65m 100% 
 
Já quanto aos lotes que concentram as atividades de serviço – e outras – não sofreramgrandes mudanças quanto a interface. Mesmo os imóveis que tinham alguma atividade que 
se perdeu após 2016 ainda não sofreram transformações com relação ao seu contato com o 
espaço público. Certamente isso também se deve à predominância de usos que dependem 
de movimento de pessoas e veículos, diferentemente do que acontece no habitacional. 
98 
 
 
Figura 57 - Av. Saturnino de Brito 292 em 2012, com a Via Mangue em obras. Interface cambiante. - Fonte: Google Street 
View. 
 
 
Figura 58 - Av. Saturnino de Brito 292 em março de 2020, com a Via Mangue plenamente inaugurada. Interface fechada. 
- Fonte: Google Street View. 
 
99 
 
(a4) Quantidade de elementos de segurança patrimonial em 20 quadras do Cabanga 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 59 – ANTES (2015) - Mapa de quantidade de elementos de segurança antes da Via Mangue ser 
inaugurada. Elaborado pelo autor. 
Figura 60 – DEPOIS (2020) - Mapa de quantidade de elementos de segurança depois da Via Mangue ser 
inaugurada. Elaborado pelo autor. 
100 
 
Quando a arquitetura parece não ser suficiente contra a desconfiança com o espaço público, 
acopla-se a ela elementos como CFTVs, cercas eletrificadas, estrepes, entre outros 
elementos já citados. No caso do Cabanga, o incremento na acessibilidade acompanhou 
uma tendência que já se observava nessa região: o enrijecimento da segurança privada nos 
lotes que estão mais próximos das vias mais movimentadas. Coincidem nesses lotes uma 
maior variedade de uso do solo que no restante do recorte, destacando especialmente o de 
serviços que acaba atraindo pessoas de outras regiões da cidade. Também nesse trecho do 
Cabanga aparecem imóveis com nenhum elemento de segurança, mas ao conferir os mapas 
de interface percebe-se que quase todos eles são completamente ou parcialmente fechados 
a rua. 
Voltando-se o olhar para os lotes menores do Cabanga, destaca-se a majoritária 
quantidade de lotes com apenas 1 elemento de segurança principalmente nas casas que 
estão ao longo das quadras, distante das esquinas. Quase sempre esse elemento é a grade 
que protege as aberturas do espaço privado. Olhando o recorte inteiro, percebe-se que 
aqueles lotes que indicam moradores mais desconfiados, por assim dizer, estão sempre nas 
esquinas ou defronte de vias de maior movimento. 
 
 
Quadro 10 - Número de lotes balizados pela quantidade de elementos de segurança patrimonial. Elaborado pelo autor 
QUANTIDADE DE 
ELEMENTOS DE 
SEGURANÇA 
PATRIMONIAL POR 
LOTE 
ANTES 
(2015) 
% DEPOIS (2020) % 
0 47 13,91% 38 11,24% 
1 215 63,61% 210 62,13% 
2 65 19,23% 72 21,30% 
3 8 2,37% 13 3,85% 
4 3 0,89% 5 1,48% 
total 338 100% 338 100% 
 
 
 
101 
 
 
(a5) Número de constituição por lote em 20 quadras do Cabanga 
 
Figura 61- ANTES (2015) – Número de constituição por lote antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 62- DEPOIS (2020) - Número de constituição por lote depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
102 
 
Tendências divergentes daquelas encontradas nos levantamentos anteriores foram 
identificadas nesta etapa do trabalho. Nos lotes menores do Cabanga – onde as interfaces 
são mais transparentes - percebe-se que existe menos constituições. Há de se considerar 
que justamente pelo tamanho menor do lote era de se esperar menos constituições. Os lotes 
nas esquinas desse mesmo trecho normalmente possuem 2 ou 3 conexões com o espaço 
público, ainda que estes mesmos terrenos tenham uma interface mais opaca e/ou mais 
equipamento de segurança. É comum nesses lotes de esquina que a entrada de pedestres – 
quase sempre com uma interface mais amigável - esteja voltada para a rua de menor 
movimento enquanto o portão de veículos envolto por um muro cego volta-se para uma rua 
com mais movimento (Figura 63). 
 
O Quadro 11 mostra uma leve tendência de abertura de conexões entre espaço privado e 
público, visto que a quantidade de lotes com apenas 1 constituição decresceu praticamente 
na mesma proporção que aqueles que tinham 2 constituições aumentou. A inauguração da 
Via Mangue acompanhou o fechamento de acessos nos lotes voltados para a Saturnino de 
Brito e Capitão Temudo. O que já era esperado devido ao aumento da quantidade de imóveis 
sem uso e de depósitos. 
Quadro 11 - Quantidade de lotes a partir do número de constituições. Elaborado pelo autor. 
CONSTITUIÇÕES POR 
LOTE 
ANTES % DEPOIS % 
0 8 2,37% 9 2,66% 
1 169 50,00% 154 45,56% 
2 138 40,83% 150 44,38% 
3 20 5,92% 22 6,51% 
4 2 0,59% 2 0,59% 
6 1 0,30% 1 0,30% 
total 338 100% 338 100% 
Figura 63 - Casa na 
esquina da R. Bujari 
com Dilermano Réis. 
Foto do autor. 
103 
 
b. Boa Viagem 
30 quadras do bairro de Boa Viagem foram analisadas. Essas quadras eram parceladas em 
299 lotes antes mesmo da obra da Via Mangue começar. Atualmente são 280 lotes devido 
ao remembramento de alguns deles, fenômeno que não aconteceu no Cabanga. Este trecho 
de Boa Viagem coincide com uma das pontas da Via Mangue, quando ela se encontra com 
três vias pré-existentes (Av. D. João VI, Av. Fernando Simões Barbosa e R. General Edson 
Amâncio Ramalho). Dentre as ruas analisadas, quatro delas eram sem-saída e foram 
estendidas até encontrarem a Via Mangue: R. Professor Eduardo Wanderley, Rua Tenente 
João Cícero, R. Padre Bernardino Pessoa e Rua Maria Carolina. 
A malha urbana desta porção de Boa Viagem se caracteriza por estar entre importantes 
eixos viários da cidade como a Avenida Domingos Ferreira que corta Boa Viagem 
longitudinalmente, a Rua Antônio Falcão que liga o bairro aos vizinhos Imbiribeira e Ipsep, 
além da própria Via Mangue que faz a conexão com o Cabanga e o centro do Recife. Os 
viadutos que foram construídos para a via expressa descem sobre ruas e avenidas largas (↓ 
Figura 64) que já apresentavam um certo caráter rodoviário, muito diferente daquilo que 
aconteceu na Av. Saturnino de Brito no Cabanga. 
Caminhando sobre esse traçado encontra-se desde um pequeno lote de 200m2 até um lote-
quadra de 18.078m2 ocupado por uma escola particular. Não há uma concentração de lotes 
habitacionais como se vê no Cabanga. Em Boa Viagem as habitações estão intercaladas por 
comércios e serviços. Essa variedade confere uma dinâmica urbana que muito difere da que 
vimos no Cabanga. Contribui para isso a grande quantidade de habitações multifamiliares 
que apesar de imprimir maior densidade sobre o solo, estabelece outro tipo de relação com 
o espaço público. 
A construção da ponte do Pina em 1920, a abertura da Avenida Boa Viagem em 1924, assim 
como a implementação da Via Mangue em 2016 foram transformações fundamentais para 
consolidar diferentes fases de ocupação de Boa Viagem. Nas próximas páginas serão 
apresentados os efeitos que as alterações no potencial de movimento e os novos tempos 
ocasionaram nessa porção do bairro. 
 
 
↓ Figura 64 - Chegada/ conexão da Via Mangue com a Avenida Fernando Simões Barbosa. Foto do autor. 
104 
 
 
 
 
105 
 
 
 
Figura 65 - Rua Amaro Albino Pimentel. O muro amarelo é de uma escolinha de futebol e o da esquerda (e todos os 
demais da rua) de edifícios multifamiliares. Foto do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 66 - Rua Professor Eduardo Wanderley Filho esquina com a Rua Luís de Faria Barbosa. Foto do 
autor. 
106 
 
(b1) – Uso e ocupação geral do solo em 30 quadras de Boa Viagem 
 
Figura 67 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocup. do solo geral antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 68 – DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocup. do solo geral depois da inauguração da Via Mangue. Elaborado pelo 
autor. 
107 
 
(b2) – Uso e ocupação específica do solo em 30 quadras de Boa Viagem 
 
Figura 69 – ANTES (2015) - Mapa de uso e ocupação do solo antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 70 - DEPOIS (2020) - Mapa de uso e ocupação do solodepois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo 
autor. 
108 
 
A oferta de comércios e serviços desse trecho de Boa Viagem está altamente concentrada 
nas vias de maior potencial de movimento: Avenida Engenheiro Domingos Ferreira e Rua 
Antônio Falcão. Desde o pequeno comerciante às grandes redes de hipermercado, os mapas 
da Figura 69 e da Figura 70 aparecem mais coloridos conforme nos aproximamos dessas 
ruas. Pequenas lanchonetes, restaurantes e comércios aparecem defronte do maior 
magneto deste trecho analisado, o Colégio Santa Maria. Já ao adentrar pelas antigas ruas 
sem saída, esta variedade vai diminuindo e o que prevalece são os edifícios multifamiliares 
monofuncionais. 
Se no Cabanga o que chamou atenção foi o crescimento no número de imóveis sem uso, em 
Boa Viagem são os novos empreendimentos residenciais que saltam aos olhos. Com a Via 
Mangue prestes a inaugurar em janeiro de 2016, essa porção do bairro já era um canteiro 
de obras com 17 condomínios sendo erguidos. Atualmente são 8 lotes em obras, alguns quase 
prontos e outros em fase de lançamento. 
Quadro 12 - Quantidade de lotes a partir dos seus respectivos usos específicos. Elaborado pelo autor. 
USO ESPECÍFICO 
ANTES 
(2015) 
% DEPOIS (2020) % 
habitação multifamiliar 118 42,14 130 46,43 
serviço privado 42 15,00 37 13,21 
comércio varejista 22 7,86 27 9,64 
edificação em obras 17 6,07 8 2,86 
habitação unifamiliar 17 6,07 14 5,00 
alimentação 15 5,36 15 5,36 
sem uso 13 4,64 15 5,36 
vazio 10 3,57 9 3,21 
educacional 8 2,86 7 2,50 
sem informação 4 1,43 4 1,43 
estacionamento 4 1,43 3 1,07 
religioso 3 1,07 3 1,07 
serviço financeiro 2 0,71 2 0,71 
serviço público 1 0,36 1 0,36 
hotelaria e hospedagem 1 0,36 1 0,36 
habitação multifamiliar misto 1 0,36 1 0,36 
comércio atacadista 1 0,36 1 0,36 
indústria 1 0,36 1 0,36 
total 280 100% 280 100% 
109 
 
 
Figura 71 - (Mais um) canteiro de obras na Rua Antônio Sá Leitão, 380, Boa Viagem. Foto do autor (2020) 
 
 
110 
 
 (b3) Caracterização da interface em 30 quadras de Boa Viagem 
 
Figura 72 - ANTES (2015) - Mapa de interface antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 73 – DEPOIS (2020) - Mapa de interface depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
111 
 
A caracterização da interface de Boa Viagem é somente mais um aspecto dramaticamente 
diferente do que vimos no Cabanga. Enquanto lá as interfaces transparentes, aquela em que 
há intervisibilidade entre espaço público e espaço privado, é o mais recorrente no caso de 
Boa Viagem são os muros cegos que tomam conta de mais da metade do perímetro das 
quadras analisadas. Aproximadamente 72% dos lotes de Boa Viagem tem interfaces 
fechadas ou parcialmente fechadas, enquanto no Cabanga esse valor é de 50%. Este 
resultado já demonstra como a tipologia edilícia relaciona-se diretamente na comunicação 
entre espaço público e privado. Mesmo a maior variedade de uso do solo de Boa Viagem 
não se traduz em intervisibilidade. 
Uma tendência que a Via Mangue parece reforçar é a concentração de lotes com interfaces 
mais abertas conforme nos aproximamos da Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, o que 
já era esperado devido à maior concentração de comércios e serviços nesta e nas vias 
paralelas e perpendiculares próximas a ela. O mesmo pode ser dito da Rua Antônio Falcão, 
com perfil de ocupação similar. Conforme nos aproximamos da Via Mangue a tendência de 
resposta em relação ao movimento é outra, a do fechamento. Os canteiros de obra se 
transformaram em um conjunto edificado que chega a fechar completamente uma quadra 
com muros cegos. 
Quadro 13 – Perímetro das interfaces. Elaborado pelo autor 
INTERFACE ANTES % DEPOIS % 
aberta 1.454,138m 10,67% 1.581,95m 11,60% 
transparente 1.736,997m 12,74% 1733,919m 12,72% 
cambiante 497,388m 3,65% 361,542m 2,65% 
parcialmente fechada 2.158,758m 15,83% 2093,827m 15,36% 
fechada 7.786,27m 57,11% 7862,313m 57,67% 
total 13.633,551m 100% 13.633,551m 100% 
 
 
112 
 
 (b4) Quantidade de elementos de segurança patrimonial em 30 quadras de Boa Viagem 
 
Figura 74 – ANTES (2015) – Qtde. de elementos de segurança antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 75 - DEPOIS (2020) – Qtde. de elementos de segurança depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo 
autor. 
113 
 
Aqui novamente a arquitetura não parece vencer a desconfiança e o uso de equipamentos 
de segurança é ainda mais recorrente. A Figura 74 mostra que existe um magneto que 
aparentemente atrai desconfiança além de movimento: colégios. Os lotes em volta do 
Colégio Boa Viagem (CBV) e do Colégio Santa Maria são mais equipados do que os demais. 
Isso parece ser um fenômeno muito peculiar do movimento de alunos já que os lotes que 
estão próximos ao Carrefour, outro poderoso atrator de movimento, não parecem responder 
com a mesma desconfiança. Este eixo de desconfiança vem sendo esticado pelos lotes que 
estão na R. Professor José Brandão e R. Professor Eduardo Wanderley em direção a Via 
Mangue. Notadamente os lotes que estão na parte superior do mapa (Figura 75) estão mais 
recheados de equipamentos e coincidem com prédios que foram entregues aos moradores 
recentemente, sugerindo que os novos edifícios vêm complexificando seu rol de artefatos de 
segurança patrimonial empregados. 
Essa tendência de fortificação é evidentemente demonstrada pelo Quadro 14, onde a 
inauguração destes novos edifícios alavancou a quantidade de lotes que contavam com 3 
equipamentos de segurança. Se no Cabanga o artefato mandatório é a grade que protege 
as aberturas das habitações unifamiliares, em Boa Viagem os edifícios verticais quase 
sempre contam com pelo menos CFTV e cerca eletrificada. 
 
Quadro 14 - Quantidade de lotes a partir da quantidade de elementos de segurança patrimonial instalados. Elaborado 
pelo autor 
QUANTIDADE DE 
ELEMENTOS DE 
SEGURANÇA 
PATRIMONIAL POR 
LOTE 
ANTES % DEPOIS % 
0 47 16,79% 31 11,07% 
1 119 42,50% 104 37,14% 
2 75 26,79% 79 28,21% 
3 38 13,57% 62 22,14% 
4 1 0,36% 4 1,43% 
total 280 100% 280 100% 
 
 
114 
 
(b5) Número de constituição por lote em 30 quadras de Boa Viagem 
 
Figura 76 - ANTES - Mapa de constitutividade antes da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
 
Figura 77- DEPOIS - Mapa de constitutividade depois da Via Mangue ser inaugurada. Elaborado pelo autor. 
115 
 
A quantidade de constituições por lote é outro parâmetro que auxilia a traçar características 
do bairro de Boa Viagem e ressaltar suas diferenças em relação ao Cabanga. 
Aproximadamente 75% dos lotes de Boa Viagem têm de duas a três aberturas para o espaço 
público (ver Quadro 15), enquanto no Cabanga 90% têm de uma a duas (ver Quadro 11). 
Ainda que os dados absolutos sugiram uma Boa Viagem mais constituída, a realidade é 
outra e isso se dá por conta do tamanho dos lotes ↓ Figura 78). Os terrenos menores no 
Cabanga traduzem-se em um maior número de aberturas num perímetro de quadra menor. 
Os edifícios verticais ocupam terrenos maiores mas dificilmente têm mais que dois ou três 
acessos, quase sempre um de pedestres e um ou dois para automóveis. 
A quantidade de constituições por lote alterou-se muito pouco desde que a Via Mangue foi 
inaugurada. Mesmo comparando os edifícios em construção com os próprios inaugurados, 
uma característica configuracional se mantém: um acesso para pedestres e outro para 
veículos. O próprio tipo edilício mais comum em Boa Viagem, o edifício vertical, é mais 
engessado no que diz respeito a esse tipo de alteração configuracional. Diferentemente do 
que acontece com uma casa onde um quarto pode tornar-se uma garagem ou um terraço 
com acesso direto à rua, por exemplo. 
 
Quadro 15 - Quantidade de lotes a partir do número de constituições. Elaborado pelo autor. 
CONSTITUIÇÕES POR 
LOTE 
ANTES % DEPOIS % 
0 13 4,64% 10 3,57% 
1 42 15,00% 42 15,00% 
2 123 43,93%122 43,57% 
3 66 23,57% 69 24,64% 
4 20 7,14% 21 7,50% 
5 3 1,07% 4 1,43% 
6 5 1,79% 6 2,14% 
7+ 8 2,86% 6 2,14% 
total 280 100% 280 100% 
 
 
 
 
 
↓ Figura 78 - Trecho final da Rua Antônio de Sá Leitão, Boa Viagem, 29 de junho de 2020. Foto do autor. 
116 
 
 
 
 
117 
 
Síntese 
Identificamos algumas tendências que vêm despontando no Cabanga e em Boa Viagem que 
estão apresentadas abaixo sinteticamente. 
 
Cabanga: 
1. Tendência ao esvaziamento de imóveis; 
2. Diminuição na quantidade de lotes de uso habitacional; 
3. Interfaces vêm se opacificando; 
4. Recrudescimento no uso de aparatos de segurança; 
5. Aumento na quantidade de aberturas/ constituições (especialmente de veículos) para 
o espaço público. 
 
Boa Viagem 
1. Tendência ao remembramento de lotes → construção de edifícios multifamiliares; 
2. As (poucas) residências unifamiliares normalmente estão rodeadas por imóveis sem 
uso ou lotes vazios; 
3. Tendência a opacificação da interface conforme se aproxima da Via Mangue; 
4. Os edifícios mais novos tendem a ser mais fechados; 
5. Lotes maiores possuem combinações mais complexas de equipamentos de 
segurança. 
 
 
 
118 
 
Análise dos perfis espaciais 
Os valores absolutos apresentados até agora nos indicam mudanças gerais nos fragmentos 
do Cabanga e de Boa Viagem. A escolha de subdividir esta análise em perfis espaciais 
facilitou a identificação de espaços específicos onde ocorreram mudanças mais 
significativas. As informações levantadas foram inseridas numa matriz de dados (Quadro 16 
e Quadro 17) com os valores correspondentes a cada um dos 34 segmentos. As variáveis 
qualitativas, como diversidade de uso do solo (habitação unifamiliar, multifamiliar, comércio 
varejista, etc.) e caracterização da interface (aberta, transparente, cambiante, etc.) foram 
transformadas em valores numéricos seguindo os critérios abaixo descritos. 
Diversidade: utilizou-se o índice de Simpson (Jost, 2006) onde os valores variam de 0, 
menos diverso, a 1, mais diverso e consequentemente melhor para a animação urbana. 
Caracterização da interface: Os dados foram normalizados dentro de um espectro que 
varia de 1 a 5: (1) fechada, (2) parcialmente fechada, (3) cambiante, (4) transparente, (5) 
aberta. Quanto menor o valor correspondente, maiores são os sinais de insegurança. 
Quantidade de equipamentos de segurança: quantidade de equipamentos encontrados em 
cada segmento dividido pelo número de lotes, chegando a uma média de quantos aparatos 
por lote cada segmento possui. Quanto maior o número, maior é o indício de insegurança. 
Distância entre constituições: dividimos o comprimento do perfil em metros pela quantidade 
de constituições que se abrem para ele, revelando a distância média que separa as 
aberturas ao longo do perfil. Quanto menor o valor, mais constituído é o espaço. 
A ideia não é criar um “índice” que reifique o conjunto de características levantadas, mas 
sim conseguir enxergar se as transformações nos espaços apontam para mudanças 
positivas ou negativas sob o ponto de vista dos indícios de insegurança e como isso se 
relaciona com a estrutura espacial. Um terceiro quadro (Quadro 18) apresenta diferença 
entre as variáveis, mostrando em quais segmentos as transformações foram mais 
significativas e se as variações fora positivas ou negativas. Devido a algumas variações 
serem muito pequenas (como a diversidade), algumas séries foram multiplicadas por um 
mesmo fator para que pudessem operar numa escala numérica próxima e assim 
aparecerem num gráfico de linha comparativo. Como a multiplicação é feita pelo mesmo 
valor, mantém-se a proporção e sem comprometer o resultado. O Gráfico 2 e o Gráfico 3 
119 
 
foram gerados a partir dos dados do Quadro 18 para inferir a influência de cada variável no 
conjunto avaliado. 
Quadro 16 - Matriz de dados do bairro do Cabanga. Elaborado pelo autor. 
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1 
ANTES 0,69 4,91 0,86 2,57 1,03 0,90 
DEPOIS 0,76 4,68 0,97 2,63 1,03 0,77 
2 
ANTES 0,81 7,23 1,44 2,79 1,09 1,02 
DEPOIS 0,83 7,33 1,82 2,82 1,19 1,03 
3 
ANTES 0,39 5,85 0,83 2,68 1,02 1,05 
DEPOIS 0,45 5,64 1,00 2,42 1,02 1,05 
4 
ANTES 0,59 6,88 1,32 2,54 0,97 0,97 
DEPOIS 0,59 5,90 1,43 2,21 0,97 0,97 
5 
ANTES 0,27 7,91 1,46 2,00 0,98 0,92 
DEPOIS 0,39 8,27 1,38 1,92 0,98 0,91 
6 
ANTES 0,65 4,44 1,81 2,63 1,08 1,04 
DEPOIS 0,70 4,18 1,94 2,38 1,08 1,04 
7 
ANTES 0,50 4,44 0,50 3,00 1,11 1,16 
DEPOIS 0,50 4,44 0,50 4,00 1,11 1,16 
8 
ANTES 0,40 3,89 1,60 2,47 0,91 0,55 
DEPOIS 0,54 3,70 1,60 2,23 0,91 0,55 
9 
ANTES 0,17 4,73 1,19 3,03 0,90 0,53 
DEPOIS 0,28 4,54 1,28 2,66 0,90 0,53 
11 
ANTES 0,25 4,93 1,14 3,22 0,91 0,58 
DEPOIS 0,30 4,47 1,19 3,14 0,91 0,58 
12 
ANTES 0,35 4,48 1,09 3,56 0,91 0,57 
DEPOIS 0,35 4,48 1,15 3,28 0,91 0,57 
13 
ANTES 0,12 4,47 1,13 2,84 0,91 0,80 
DEPOIS 0,23 4,22 1,22 2,44 0,91 0,80 
14 
ANTES 0,45 4,60 1,32 3,11 0,91 0,80 
DEPOIS 0,31 4,93 1,67 3,04 0,91 0,80 
15 
ANTES 0,74 3,05 0,50 3,40 1,02 0,89 
DEPOIS 0,58 3,05 0,50 3,40 1,05 0,87 
16 
ANTES 0,21 4,82 1,00 3,31 0,92 0,89 
DEPOIS 0,21 4,82 1,06 3,17 0,92 0,89 
 
 
 
120 
 
Quadro 17 - Matriz de dados do bairro de Boa Viagem. Elaborado pelo autor. 
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17 
ANTES 1,00 10,97 1,00 3,40 1,21 1,30 
DEPOIS 1,00 11,18 1,40 3,70 1,21 1,30 
18 
ANTES 0,99 10,42 1,71 2,61 1,10 1,07 
DEPOIS 0,99 10,31 1,88 2,78 1,10 1,06 
19 
ANTES 1,00 10,70 1,55 2,85 1,10 0,95 
DEPOIS 1,00 10,70 1,60 2,85 1,10 0,93 
20 
ANTES 0,99 10,76 1,38 2,15 1,10 0,79 
DEPOIS 0,99 11,15 1,70 2,08 1,10 0,81 
21 
ANTES 1,00 16,69 1,27 2,20 1,15 0,89 
DEPOIS 1,00 16,69 1,47 2,00 1,15 0,89 
22 
ANTES 1,00 12,92 1,88 1,50 0,97 0,84 
DEPOIS 1,00 12,53 2,00 1,50 0,98 0,82 
23 
ANTES 1,00 10,91 2,00 2,00 0,97 0,71 
DEPOIS 1,00 10,91 2,71 1,57 0,98 0,59 
24 
ANTES 1,00 11,07 1,54 1,85 0,97 0,71 
DEPOIS 1,00 10,48 1,77 2,08 0,97 0,76 
25 
ANTES 1,00 11,95 1,39 2,11 1,09 0,81 
DEPOIS 1,00 11,17 1,61 2,17 1,09 0,85 
26 
ANTES 1,00 10,08 1,24 1,95 0,97 0,46 
DEPOIS 1,00 9,35 1,81 2,05 0,97 0,70 
27 
ANTES 1,00 16,21 1,33 1,50 0,97 0,66 
DEPOIS 1,00 13,35 2,00 1,58 0,97 0,75 
28 
ANTES 1,00 9,83 1,10 3,30 1,26 1,31 
DEPOIS 1,00 9,93 1,43 3,28 1,26 1,31 
29 
ANTES 0,99 11,71 1,29 2,07 1,08 0,74 
DEPOIS 0,99 11,19 1,48 2,38 1,08 0,82 
30 
ANTES 0,99 11,09 1,34 2,80 1,09 0,89 
DEPOIS 0,99 11,09 1,59 2,80 1,09 0,86 
31 
ANTES 1,00 10,56 1,63 1,74 1,09 1,02 
DEPOIS 1,00 10,50 2,11 1,67 1,09 1,03 
32 
ANTES 1,00 10,97 1,00 3,40 1,21 1,30 
DEPOIS 1,00 11,18 1,40 3,70 1,21 1,30 
32 
ANTES 0,99 10,42 1,71 2,61 1,10 1,07 
DEPOIS 0,99 10,31 1,88 2,78 1,10 1,06 
34 
ANTES 1,00 10,70 1,55 2,85 1,10 0,95 
DEPOIS 1,00 10,70 1,60 2,85 1,10 0,93 
 
 
121 
 
Quadro 18 - Diferença entre os valores que indicam a variabilidade das varáveis. Elaborado pelo autor. 
 
P
E
R
F
IL
 
D
IV
E
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A
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F
A
C
E
 
N
A
IN
 
N
A
C
H
 
C
A
B
A
N
G
A
 
1 0,7347 -0,2300 0,1143 0,0571 0,0077 -1,2917 
2 0,2249 0,1000 0,3824 0,0294 0,9405 0,1210 
3 0,5554 -0,2100 0,1698 -0,2642 0,0077 -0,0143 
4 0 -0,98 0,1071 -0,3214 0,0072 0,0008 
5 1,1834 0,3600 -0,0769 -0,0769 0,0073 -0,1266 
6 0,4688 -0,26 0,1250 -0,25 0,0087 0,0550 
7 0 0 0 1,0000 0,0091 -0,0014 
8 1,3111 -0,1900 0 -0,2333 0,0064 0,0002 
9 1,0156 -0,1900 0,0938 -0,3750 0,0063 0,0003 
11 0,4630 -0,46 0,0556 -0,0833 0,0063 0,0002 
120 0 0,0600 -0,2778 0,0063 0,0002 
13 1,0938 -0,25 0,0938 -0,4063 0,0064 0,0005 
14 -1,4031 0,3300 -0,0357 -0,0714 0,0064 0,0005 
15 -1,6000 0 0,3500 0 0,2720 -0,2315 
16 0 0 0,0556 -0,1389 0,0064 0,0036 
B
O
A
 V
IA
G
E
M
 
17 -0,2041 0,2100 0,4000 0,3000 0,0105 0,0112 
18 -0,5102 -0,1100 0,1707 0,1707 0,0087 -0,1371 
19 0 0 0,0500 0 0,0083 -0,2398 
20 -0,5102 0,3900 0,3250 -0,0750 0,0085 0,1863 
21 -0,0255 0 0,2000 -0,20 0 0 
22 0 -0,39 0,1250 0 0,0751 -0,2788 
23 -0,1531 0 0,7143 -0,4286 0,0769 -1,2162 
24 -0,2551 -0,59 0,2308 0,2308 0,0520 0,4185 
25 -0,2041 -0,7800 0,2222 0,0556 0,0085 0,3863 
26 -0,3827 -0,7300 0,5714 0,0952 0,0451 2,3933 
27 -0,6122 -2,8600 0,6667 0,0833 0,0402 0,9077 
28 -0,0765 0,1000 0,3250 -0,025 0,0104 0,0029 
29 -0,4847 -0,52 0,1905 0,3095 0,0072 0,8119 
30 0,2806 0 0,2439 0 0,0070 -0,2619 
31 -0,5867 -0,06 0,4815 -0,0741 0,0086 0,1045 
32 -0,4592 -1,5000 0 0,0541 0,0096 0,5204 
33 -0,2296 1,4100 1,1000 -0,1000 0,0300 0,6109 
34 0,0510 1,4088 0,3571 -0,2143 0,0092 0,0030 
 
 
 
122 
 
A ideia de animação urbana é favorecida, segundo a literatura, através de interfaces mais 
abertas e permeáveis, mais constituições assim como pela maior variedade de usos. O 
Quadro 16 e o Quadro 17 nos mostram que a diversidade no uso do solo do bairro de Boa 
Viagem é consideravelmente mais alta que a do Cabanga, atingindo quase o valor absoluto 
1 do índice de Simpson, que representa uma distribuição mais equilibrada entre os usos do 
solo. Diversidade esta que, no entanto, vem caindo – indicado pelos valores negativos do 
Quadro 18 e Gráfico 3 - conforme os novos edifícios vêm sendo inaugurados. Os resultados 
apontam que o Cabanga tem se tornado mais diverso mas aqui vale fazer uma ponderação. 
O índice de Simpson representa a distribuição equilibrada entre uma série de categorias. No 
nosso caso, o uso do solo, o índice considera também aqueles nocivos à animação urbana: 
vazios, depósitos, imóveis sem uso e estacionamentos. No Cabanga os mapas (Figura 50; 
Figura 51; Figura 52; Figura 53) mostrados anteriormente deram indicadores de uma evasão 
habitacional da região em favor destes usos, o que caracteriza esse aumento de diversidade 
como um “falso positivo”. 
A distância entre constituições do Cabanga é praticamente a metade da de Boa Viagem. 
Aqui vale lembrar que os dados absolutos sugeriam que Boa Viagem era mais constituída 
pelo maior número de lotes com 2 a 3 aberturas. As quadras e lotes consideravelmente 
menores do Cabanga lhe conferem uma maior possibilidade de vigilância social ancorado 
por uma interface mais aberta e/ou transparente. O mesmo pode ser dito quanto a 
quantidade média de equipamentos de segurança acoplados a cada caixa mural. Boa 
Viagem utiliza bem mais desses recursos que o Cabanga ainda que esse venha 
recrudescendo especialmente onde os valores de acessibilidade aumentaram. 
O incremento na acessibilidade parece operar como um vetor de desconfiança no Cabanga 
(ver Gráfico 2) visto que o aumento no potencial de movimento acompanha o crescimento 
no uso de aparatos em maior grau que noutras ruas do bairro (perfis espaciais 2 e 14). A 
tendência de recrudescimento dos instrumentos de segurança fica explícita no Gráfico 2 em 
todo o Cabanga mas é ainda mais acentuada onde a acessibilidade foi privilegiada. Em Boa 
Viagem a acessibilidade parece fazer pouco efeito frente às transformações na interface, 
alguns perfis se abriram e outros se fecharam. Importante observar que os que se fecharam 
estão localizados mais próximos – geograficamente – à Via Mangue. 
123 
 
 
Gráfico 2 - Gráfico de linhas que indica a variabilidade entre as variáveis analisadas no Cabanga. Elaborado pelo autor. 
 
Gráfico 3 - Gráfico de linhas que indica a variabilidade entre as variáveis analisadas em Boa Viagem. Elaborado pelo 
autor. 
 
-2
-1,5
-1
-0,5
0
0,5
1
1,5
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Cabanga
DIVERSIDADE (1 - D) CONSTITUTIVIDADE
QTDE EQUIPAMENTOS / LOTE INTERFACE
DIFERENÇA NAIN DIFERENÇA NACH
-3
-2
-1
0
1
2
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Boa Viagem
DIVERSIDADE (1 - D) CONSTITUTIVIDADE
QTDE EQUIPAMENTOS / LOTE INTERFACE
DIFERENÇA NAIN DIFERENÇA NACH
124 
 
c. considerações finais 
A sensação de insegurança no espaço urbano não é determinada por atributos morfológicos 
do espaço nem mesmo por todos os componentes espaciais pois envolve aspectos que estão 
para além deste estudo. A criminalidade urbana é um dos problemas desencadeados 
principalmente pela fragilidade da função social da cidade, especialmente nos grandes 
centros, e de problemas sociais como desemprego e desprovimento de serviços públicos 
básicos assistenciais como saúde e educação. 
Este trabalho se propôs a investigar a relação entre transformações na configuração do 
espaço e características morfológicas que apontam para paradigmas opostos, o da 
confiança e/ ou da desconfiança. Interpreta-se aqui que mudanças na interface 
arquitetônica, ou na relação entre espaço privado e espaço público atuam enquanto 
resposta ao que acontece no espaço público. É, também, a sensação de insegurança levada 
a cabo por soluções que procuram mitigar o problema da criminalidade associadas a 
oportunidades de lucro. 
Os medos modernos de Bauman (2008) estão representados em diversos aspectos e vistos 
em qualquer grande cidade brasileira, que parecem estar acobertadas por um zeitgeist da 
desconfiança, já que o movimento mandatório que testemunhamos nas nossas cidades é o 
do enclausuramento. A busca pela proteção dentro do espaço privado se utilizando de 
tecnologias e soluções arquitetônicas de proteção (câmeras, muros, grades, etc.), visa, 
quase sempre, o encarceramento. Isso, por si só, não é novidade. Também não é novidade 
que existe uma relação diretamente proporcional entre potencial de movimento e ocorrência 
de furtos e roubos como descrito na revisão de literatura. Isto é, onde a configuração do 
espaço opera para que haja o movimento de pessoas há, também, a oportunidade para que 
delitos aconteçam. 
Acontecem no Cabanga dois movimentos que caminham em direção ao mesmo paradigma 
ainda que em velocidades diferentes. Para facilitar a compreensão, sugiro dividir o trecho 
analisado do Cabanga em dois grupos: o primeiro reúne os lotes maiores que estão lindeiros 
a Avenida Saturnino de Brito e ao Viaduto Capitão Temudo (perfis 1 e 2) – espaços de maior 
acessibilidade. O segundo grupo reúne os lotes menores distribuídos sobre vias de menor 
potencial de movimento (R. Bituri, Dilermano Reis, Camutanga, etc.). 
 
125 
 
 
 
Figura 79 - Sede do Conselho Regional de Corretores de Imóveis na Av. Saturnino de Brito, 297. Fonte: Google Street View. 
O segundo grupo representa a porção habitacional do Cabanga. É normal que em locais 
majoritariamente habitacionais a circulação de pessoas anônimas seja menor do que em 
lugares que ofertem serviços e instituições como no primeiro grupo (Figura 79). Tanto é que 
durante algumas visitas de campo notou-se um certo estranhamento por parte dos 
moradores de um “forasteiro” fotografando o local e coletando informações. Isso por si só 
indica um sinal da territorialidade defendida por Newman (1972, 1996) e Bondaruk (2008). 
Parece que a própria configuração do espaço funciona como um “enclave não-fortificado”. 
Talvez por conta dessa aparente relação de confiança entre moradores, as interfaces dos 
lotes de meio de quadra estejam mais abertas e transparentes que nas esquinas. A garantia 
da intervisibilidade entre essas residências parece funcionar como mais um dispositivo de 
segurança. Normalmente nestas esquinas as residências se fecham para as vias mais 
movimentadas dentro desse segundo grupo (as que se voltam para as R. Bituri e Dilermano 
Reis, p. ex.). O mesmo vale para a quantidade de aparatos: as esquinas mostram-se locais 
de maior desconfiança que ao longo dos meios de quadra onde as casasestão dispostas 
uma de frente a outra. Já quanto ao número de constituições por lote ocorre o oposto: nas 
esquinas existem mais constituições. O que não representa necessariamente maior 
126 
 
confiança visto que esses portões estão, normalmente, envoltos por um muro opaco voltado 
para vias mais importantes enquanto nas vias locais a interface é mais porosa. 
No bairro de Boa Viagem o que testemunhamos é algo bem diferente. Se no Cabanga o 
incremento no potencial de acessibilidade funcionou como veículo para a desconfiança e 
esvaziamento de imóveis, em Boa Viagem ele foi um catalisador de investimentos 
imobiliários. Embora muito sutil do ponto de vista sintático, o mercado nota as mudanças na 
acessibilidade e logo se apropria disso enquanto discurso para a venda de imóveis. A 
paulatina substituição de casas por edifícios verticais é uma realidade do bairro desde 
meados do século XX, entretanto parece que a Via Mangue operou como um acelerador 
desse processo ao criar uma nova “centralidade de moradia”. Em matéria veiculada em 
outubro de 201810, representantes do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado 
de Pernambuco (Sinduscon/PE) comparou o poder de atração da Via Mangue com a 
inauguração do Shopping Recife em 1980. Segundo o Sindicato, 80% dos lançamentos 
imobiliários no bairro de Boa Viagem foram nas imediações da nova via. O edifício de 
apartamentos traduz-se em redução de permeabilidade visual pela substituição de 
barreiras através das quais se pode enxergar o espaço privado – grades e muros baixos – e 
permeabilidade física – fechamento de portas, elevação de muros. As poucas residências 
que restam nesse trecho do bairro estão, quase sempre, rodeadas de imóveis sem uso ou 
lotes vazios. 
As transformações na forma urbana do Recife ao aumentar o potencial de movimento 
trazem consigo um certo temor, ao menos no Cabanga. A situação é ainda pior se isso 
ocorrer acompanhado de um novo viaduto que traz prejuízos a qualidade do ambiente 
construído ao “cortar” fachadas. Tendências não apenas brasileiras mas que podem ser 
vistas mundo afora onde viadutos já vêm sendo demolidos. 
No Cabanga, a quantidade de imóveis sem uso aumentou na mesma proporção que o 
número de habitações decresceu. Esse resultado sugere que esse aumento não parece ser 
visto como benéfico para os moradores uma vez que aqueles que não foram embora, 
caminham em direção ao enclausuramento no espaço privado (CALDEIRA, 2011). Já sob o 
ponto de vista do capital imobiliário, o aumento parece trazer muitas benesses uma vez que 
 
10 MONTEIRO, Patrícia. Via Mangue altera cenário imobiliário da Zona Sul. Diario de Pernambuco. Recife, p. 1-1. 05 out. 2018. 
Disponível em: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/economia/2018/10/via-mangue-altera-cenario-
imobiliario.html. Acesso em: 14 maio 2021 
127 
 
a construção civil dá sinais de aquecimento em Boa Viagem. O que por consequência 
também leva ao enclausuramento uma vez que as soluções de segurança e as interfaces 
entre espaço público e privado são reproduzidas com uma certa homogeneidade por parte 
do mercado. Em ambos os casos, a acessibilidade acompanhou prejuízos à relação entre 
espaço público e privado: no Cabanga pelo esvaziamento e evasão de moradores. Em Boa 
Viagem pela diminuição da diversidade do uso do solo com a construção de edifícios 
habitacionais monofuncionais atraídos especialmente pela facilidade no acesso às outras 
áreas da cidade. No contexto de um estudo morfológico de caso assoma a dimensão e 
robustez das contradições que subjazem nossas relações sociais e o modo como a sociedade 
enxerga o espaço público como fonte de vulnerabilidade. Ou, conforme o clássico de Roberto 
Da Matta (1984), a rua como locus dos outros, de indivíduos anônimos e desgarrados, regida 
por [...] leis impessoais e códigos que valem para todos [...] em oposição à [...] casa, como 
universo onde as relações predominantes são as de parentesco, compadrio e amizade [...] 
(DaMatta, 2000 [1984]:20/149-150). 
Considerado o zeitgeist das cidades brasileiras, o enclausuramento acontece em menor 
velocidade nas ruas do Cabanga onde as características morfológicas sugerem maior 
confiança e ainda parece existir um certo engajamento entre moradores nos faz pensar que 
as ideias de Jacobs (1961) de uma cidade segura não estão inteiramente alijadas da 
realidade recifense. Em Boa Viagem não vimos um conjunto edilício que lembrasse o do 
Cabanga, tampouco indícios de engajamento indicados pela literatura. 
Os indícios de insegurança vem aparecendo nas duas áreas de análise mas por iniciativas 
distintas. Em lugares com características tipológicas como as do Cabanga, com casas e 
pequenos comércios, a adoção de equipamentos de segurança e o distanciamento do 
espaço privado do público parece ser mais orgânico e ao mesmo tempo “contagioso”. As 
residências adotam esquemas de segurança muito parecidos uns com os outros. Em Boa 
Viagem os indícios vem de maneira mais homogeneizada uma vez que os prédios “nascem” 
fortificados. Quase sempre o mercado imobiliário reproduz as mesmas características 
morfológicas em diferentes projetos. Mesmo de construtores diferentes, foi difícil encontrar 
interfaces mais abertas e porosas dentro das 30 quadras de Boa Viagem. Mesmo quando a 
lei exige a transparência (RECIFE, 2008), estratégias são adotadas visando a opacificação. 
Algumas delas são previstas ainda em projeto como forma de burlar as prescrições, 
enquanto outras são adaptações feitas provavelmente por acordo condominial. A inserção 
128 
 
de um elemento transparente em frente a um muro cego (Figura 80) é um exemplo de como 
a legislação consegue ser burlada no projeto arquitetônico. A vegetação é outro recurso 
comumente utilizado para assegurar a privacidade do espaço privado (Figura 81). 
 
Figura 80 - Edifício residencial na Avenida Conselheiro Aguiar esquina com a Rua do Atlântico. Fonte: Google Street View. 
 
Figura 81 - Edifício residencial na R. Tenente João Cícero. Fonte: Google Street View. 
Certamente não é possível adotar uma “fórmula” de cidade segura. Se em um pequeno naco 
de cidade estratégias diferentes de segurança são adotadas, imagine quantas variações 
desses padrões podem ser encontrados. Serve como reflexão também ponderar até que 
ponto a arquitetura consegue evitar atos indesejáveis na cidade, como o delito. Certamente 
sozinha ela não evita e tampouco é determinística. Mas a depender da relação que é criada 
entre o espaço privado e o público – cada vez mais distante, diga-se de passagem – ela pode 
piorar e muito, como já vem acontecendo nas cidades brasileiras. 
 
 ↓ Figura 82 - Edifício na R. Prof. José Brandão, Boa Viagem. Foto do autor. 
129 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
130 
 
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