Prévia do material em texto
Indaial – 2020 ElEmEntos do ProcEsso civil, PEnal E trabalhista Prof. Hector Luiz Martins Figueira 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Hector Luiz Martins Figueira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F475e Figueira, Hector Luiz Martins Elementos do processo civil, penal e trabalhista. / Hector Luiz Martins Figueira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 187 p.; il. ISBN 978-65-5663-047-2 1. Processo civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 340 III aPrEsEntação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Elementos do Processo Civil, Penal e Trabalhista. Esta disciplina tem como objetivo trazer um grande apanhado dos temas mais principais afetos ao eixo principal da processualística brasileiro. Vale dizer, que para quem pretende advogar, conhecer processo é de suma importância para o realizar de um bom trabalho na defesa do direito das pessoas, bem como na compreensão das burocracias do funcionamento da máquina pública. Por isso, é indispensável o seu estudo. Na Unidade 1 estudaremos os princípios e regras aplicáveis ao processo civil, lembrando que o processo civil é de onde partem todas as regras primárias do processo, influenciando e sendo usado pelo processo penal e do trabalho. Será, portanto, necessário, compreendermos o conceito de jurisdição primeiramente, para entender o funcionamento e construção do processo de conhecimento, para assim, visualizarmos as ações civis na prática. Na Unidade 2 estudaremos o processo penal e seus principais institutos, como o inquérito penal — sistemas inquisitorial e acusatório. E ainda a ação penal e suas diversas e diferentes classificações, o que será de suma relevância para quem pretende ingressar nesta área. Na Unidade 3, nós dedicaremos o nosso estudo para entender as peculiaridades do processo do trabalho e seu funcionamento no âmbito de uma justiça especializada. Este processo usa o processo civil como fonte subsidiária, mas é um mecanismo mais célere. Seja muito bem-vindo ao módulo de elementos do processo civil, penal e do trabalho, será um prazer acompanhar você nesta caminhada de construção do conhecimento. Boa leitura e bons estudos! Prof. Hector Luiz Martins Figueira IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL ................................................1 TÓPICO 1 – DIREITO E PROCESSO ....................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL .........................................................................5 3 DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL ...........................................................................................7 3.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL .......................................................................................................7 3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL ....................................................................................................8 3.3 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ....................................................................................8 4 EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO .................................................8 5 INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL ......................................................................................9 6 CONSTITUIÇÃO E PROCESSO .......................................................................................................13 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ......................................................15 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................17 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................18 TÓPICO 2 – PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR ..................21 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................21 2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO........................................................................21 3 JURISDIÇÃO: CONCEITO E ESPÉCIES .........................................................................................23 4 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA: QUADRO ESQUEMÁTICO ..................25 4.1 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA .....................................................................................................26 4.2 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ........................................................................................................27 5 PROCESSO DE EXECUÇÃO ..............................................................................................................27 6 PROCESSO CAUTELAR .....................................................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................34 TÓPICO 3 – AÇÃO PROCESSUAL CIVIL .........................................................................................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................37 2 RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL .............................................................................................373 ATOS PROCESSUAIS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E FORMA .........................................40 4 NULIDADES PROCESSUAIS ...........................................................................................................43 5 SENTENÇA – ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA ........................................................45 6 COISA JULGADA: ORIGEM, CONCEITO E ESPÉCIES DE COISA JULGADA ...................47 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................55 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................56 UNIDADE 2 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................59 TÓPICO 1 – PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................................61 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................61 2 APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL ................................................................................62 sumário VIII 3 A LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO E NO TEMPO .........................................................64 4 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL .............................................................................................65 5 SISTEMAS PROCESSUAIS - ACUSATÓRIO (PRIVADO E PÚBLICO), INQUISITÓRIO E MISTO ....................................................................................................................................................69 5.1 SISTEMA ACUSATÓRIO CLÁSSICO/PRIVADO .......................................................................69 5.2 SISTEMA INQUISITIVO/INQUISITÓRIO ...................................................................................69 5.3 SISTEMA ACUSATÓRIO MODERNO/PÚBLICO ......................................................................70 5.4 SISTEMA MISTO .............................................................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................73 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................74 TÓPICO 2 – INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77 2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO POLICIAL .........................................78 3 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL......................................................................85 4 NOTITIA CRIMINIS .............................................................................................................................86 5 CONCEITO DE AÇÃO PENAL E CONDIÇÕES DA AÇÃO ......................................................87 6 AÇÃO PENAL PÚBLICA ....................................................................................................................89 7 AÇÃO PENAL PRIVADA ...................................................................................................................93 7.1 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA ..........................................................95 7.2 AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA ..........................................................................96 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................98 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................99 TÓPICO 3 – DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA ..............................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 DENÚNCIA E SEUS REQUISITOS ................................................................................................102 3 QUEIXA CRIME ..................................................................................................................................104 4 JURISDIÇÃO .......................................................................................................................................105 5 COMPETÊNCIA E CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO ............................................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................114 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115 UNIDADE 3 – ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................117 TÓPICO 1 – HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO ..................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................122 3 FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO .........................................................124 4 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E PECULIARIDADES NO PROCESSO DO TRABALHO ..........................................................................................................127 5 VARAS DO TRABALHO ..................................................................................................................136 6 TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO ................................................................................138 7 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO .....................................................................................139 8 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ...................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................143 IX TÓPICO 2 – COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA ..................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 COMPETÊNCIAS E TIPOS DE COMPETÊNCIA TRABALHISTA .........................................148 3 PARTES, REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL, PROCURADORES E TERCEIROS .............150 3.1 PARTES............................................................................................................................................151 3.2 LITISCONSÓRCIO ........................................................................................................................151 3.3 CAPACIDADE PROCESSUAL ....................................................................................................151 3.4 REPRESENTAÇÃO........................................................................................................................153 4 AÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO NOS DISSÍDIOS INDIVIDUAIS .......................153 4.1 PETIÇÃO INICIAL .......................................................................................................................155 4.2PROCEDIMENTOS .......................................................................................................................156 4.3 DISSÍDIOS INDIVIDUAIS ............................................................................................................158 5 AUDIÊNCIA TRABALHISTA .........................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 TÓPICO 3 – RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO .......................................................................................................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 RECURSOS TRABALHISTAS .........................................................................................................165 3 EXECUÇÃO TRABALHISTA – LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA .............................................168 4 DISSÍDIO COLETIVO ......................................................................................................................170 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................177 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................178 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................181 X 1 UNIDADE 1 ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos de processo e sua historicidade; • estudar a organização e funcionamento dos sistemas processuais; • analisar os conceitos as ações processuais de cada área; • entender o funcionamento da jurisdição; • pensar sobre os conceitos e natureza jurídica de cada área processual. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIREITO E PROCESSO TÓPICO 2 – PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR TÓPICO 3 – AÇÃO PROCESSUAL CIVIL Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DIREITO E PROCESSO 1 INTRODUÇÃO O conceito de Direito Processual deve ser compreendido como sistema de princípios e normas legais que se interagem entre si com o intuito de regularem o processo, servindo, ainda, para disciplinar as ações dos sujeitos interessados na prestação jurisdicional. Já a divisão do Direito Processual de ser analisada sobre o prisma da jurisdição, que é una e isso decorre do poder estatal que também é uno no formato de federação. Assim, dando origem a um direito processual igualmente uno, dotado de um sistema de princípios e regras para o exercício da jurisdição. Assim, o direito processual, como um todo, se origina dos grandes princípios e garantias constitucionais pré-existentes, inclusive de outros países (Portugal, Itália e Alemanha) e em nosso país se subdivide em três categorias, a saber, processo civil, processo penal e processo do trabalho, que dialogam com o direito constitucional. O Direito Processual Civil, modernamente deve ser entendido conjuntamente com as premissas estruturantes do Direito constitucional, sendo estes dois o processo e Constituição Federal de 1988, envolvidos e relacionados com o que a doutrina denomina de direito material levado à apreciação do judiciário, este direito que está sendo discutido pelas partes. Em termos processuais, pode-se denominar termo jurídico. Assim, o processo civil existe no ordenamento mediante a interface com o direito constitucional, por ser a Carta Maior a estrutura fundamental do direito brasileiro. A teoria do Direito Constitucional tem se desenvolvido a tal ponto que o movimento do neoconstitucionalismo ultrapassa o direito material e passa a promover uma mudança fática contemporânea para o Direito Processual Civil, instaurando uma nova ordem jurídica em sede de processo. A introdução ao estudo e à compreensão do Direito Processual Civil brasileiro, inicialmente, pode ser entendido como mero resultado de leis e de um processo metafísico, que se reduz ao ponto de vista da subsunção: aplicação legal de causa e efeito, respeitando a tradição jurídica ocidental da civil law. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 4 A evolução do sistema jurídico foi tamanha, que a construção jurídica é diferenciada e sofisticada a cada processo/demanda que se inicia nos Tribunais de todo país. Principalmente, em razão da flexibilidade dos dispositivos normativos, que possibilitam a solução incisiva do caso concreto em tela. Em síntese, o processo é o principal instrumento concretizado de direitos disponíveis, assim, resulta daí a importância de seu estudo. O processo pode ser compreendido por três dimensões distintas, a saber: • Processo como método de criação de normas jurídicas. • Processo como ato jurídico complexo (procedimento). • Processo compreendido como relação jurídica. Ainda, vale ressaltar em termos introdutórios que procedimento também é uma denominação muito recorrente em direito processual civil, e a doutrina majoritária o define como "ato-complexo de formação sucessiva", ou seja, o processo e o procedimento existe por meio de um conjunto de atos jurídicos e processuais, que se relacionam entre si, e que possuem como objetivo ordinário, realizar a prestação jurisdicional. Assim, podemos concluir que o procedimento é gênero e o processo é espécie. Em outras palavras, processo é o procedimento estruturado em contraditório conforme manda a legislação prevista. Desse modo, podemos identificar a existência de um direito fundamental ao processo, decorrente do acesso à justiça, nessa toada, o acesso ao processo justo, deve estar garantido pela ampla defesa e pelo contraditório, ambos princípios insculpidos na Constituição Federal e corroborados em sede de processo civil. Tais princípios garantem de modo individual os direitos civis fundamentais. a) Processo como método de criação de normas jurídicas. Compreende o processo legislativo, o administrativo e o jurisdicional de criação da norma jurídica. b) Processo como ato jurídico complexo (procedimento). São os atos procedimentais, que formam o processo judicial e servem para prestação judicial. c) Processo compreendido como relação jurídica. A relação jurídica deve ser estabelecida e analisada por meio do caso concreto. QUADRO 1 – CONCEITO DE PROCESSO FONTE: O autor Por fim, vale destacar as importantes características do pensamento jurídico contemporâneo-processual, a saber: TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 5 • Reconhecimento da força normativa da Constituição: a Constituição é a norma hipotética fundamental, que prevê centralmente o processo civil e estrutura seu funcionamento na ordem jurídica atual. • Desenvolvimento da teoria dos princípios: reconhece a eficácia normativa, deixando de ser o princípio considerado como técnica de integração do Direito e passa a ser espécie de norma jurídica. • Transformação da hermenêutica jurídica: o direito por meio das leis e do processo de atuação de direito deve ser criativo e interpretativo com vistas à prestação jurisdicional e na melhor solução dos conflitos,neste sentido a intepretação das normas pelos juízes de acordo com o princípio da proporcionalidade e razoabilidade é imprescindível. • Expansão e consagração dos direitos fundamentais: com o advento das constituições escritas, o direito positivo traz um conteúdo ético mínimo que respeita a dignidade da pessoa humana, por meio da eficácia horizontal dos direitos fundamentais e humanos no bojo das relações privadas. Tendo em vista os conceitos explorados anteriormente, podemos, de modo bem resumido, dizer que o direito é o pressuposto de ordem de um ordenamento jurídico, e que através do seu arcabouço jurídico de normas constitucionais e infraconstitucionais, consegue organizar a vida social. Para que todas as normas e garantias sejam colocadas em prática, é fundamental a existência de um processo e de um procedimento, que garanta o cumprimento de todos os direitos previstos no ordenamento. 2 DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL O direito material, deve ser reconhecido e compreendido na teoria como bens jurídicos tutelados por uma pessoa de direito processual. Este último, por sua vez, se apresenta como conjunto de regras e princípios que regulamentam a melhor forma para a aplicação do direito material. Ou seja, um precisa do outro para existir fisicamente. Assim, em que pese a existência de diferenças, o direito processual e o direito material caminham juntos trilhando um movimento de cooperação, o direito processual é o instrumento utilizado por juízes e advogados, para se chegar a concretização do direito material. Exemplo: • Eu tenho um crédito a receber – direito material. • Eu ingresso com uma ação de cobrança contra o devedor – direito processual. O direito material, será, portanto, o conjunto de normas que conferem direitos aos cidadãos, regulará as relações entre as partes, é o interesse primário delas, ou seja, a própria relação subjetiva. Outros exemplos: o direito à vida, o direito ao nome, o direito à propriedade etc. Caso esses direitos sejam violados, UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 6 desrespeitados, não cumpridos, você se valerá do direito processual. Esse conjunto de regras previstas e organizadas que serviram de instrumento para buscar e viabilizar o reparo da violação sofrida referente ao direito material. Logo, o processo é um interesse secundário, também conhecido por ser uma relação triangular, tendo em vista que o juiz intermedia o conflito entre as partes. FIGURA 1 – DIREITO MATERIAL X DIREITO PROCESSUAL FONTE: O autor Historicamente, nem sempre o direito processual foi compreendido como um ramo autônomo. No primeiro momento, denominada fase de sincretismo, o direito processual era visto como um direito adjetivo. Explica-se: a ação processual era o próprio direito material, se lesado, gerava a possibilidade ao ofendido de buscar a reparação pelos danos causados e a sua concretização. Adiante, teve-se a segunda fase, denominada de autonomista ou conceitual, seu início foi com a construção e a demarcação de um conceito para a ciência processual, mas que ainda visualizava o direito processual como um corriqueiro instrumento técnico à serviço da ordem jurídica material vigente, sem qualquer construção crítica e reflexiva acerca da sua finalidade. Como terceira fase, tem-se o que chamamos de fase instrumentalista, a fase processual moderna. Nesse caso, o processo atinge elevados níveis de desenvolvimento e passa a ser estudado e aprendido em seu contexto fático como um instrumento necessário para a efetivação da justiça social, analisando seu fim e sua funcionalidade em meio à convivência social. Desse modo, compreende-se a instrumentalidade do processo, pois ele não é um fim em si mesmo, mas um meio de se alcançar um fim, um meio pelo qual a parte concretiza o seu direito de ação, e busca a aplicação da jurisdição pelo Estado, através do juiz, a fim de que se pacifique determinado conflito. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 7 No processo civil o princípio da instrumentalidade das formas pressupõe que, mesmo que o ato seja realizado fora da forma prescrita em lei, se ele atingiu o objetivo, esse ato será válido. Leia o Art. 188, CPC. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. DICAS 3 DIVISÃO DO DIREITO PROCESSUAL O direito processual existe por meio de algo que a doutrina chama de jurisdição: que se trata do poder que o Estado detém para aplicar o direito a um determinado caso específico, visando solucionar conflitos de interesses e com isso proteger a ordem jurídica e a autoridade da lei. No Brasil, a jurisdição é uma, isso quer dizer que é a total expressão do poder estatal também uno por meio de uma Federação. Isso quer dizer também, que direito processual será uno. Ou seja, existirá como um sistema de princípios e normas para o exercício da jurisdição. Mas importa destacar que o direito processual como um todo, origina-se dos principais princípios e garantias constitucionais presentes na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Podemos compreender ainda, em nosso ordenamento jurídico, a existência de uma subdivisão da processualística em: civil, penal, e do trabalho. Sabe-se da existência de outros processos, como o tributário e o constitucional, contudo não serão objetos deste estudo. 3.1 DIREITO PROCESSUAL CIVIL O Direito Processual Civil é classificado um ramo do direito público — pois o Estado é detentor do processo, e sua composição se dá por um conjunto de princípios e normas jurídicas que guiam os processos de natureza civil. Ajudando, ainda, na solução de conflitos de interesses e fazendo valer o respeito às leis de forma definitiva e coativa. O objetivo do processo civil é instrumental, ou seja, tenta a efetividade das leis materiais. Assinala o meio legal para acesso das partes aos tribunais, em determinado conflito de ordem privada e também auxilia a tramitação do acesso à justiça. Esse processo é gerido pelas regras comuns do Direito Civil (nomeadamente pelo Código de Processo Civil e complementarmente pelo Código Civil). UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 8 O novo CPC traz consigo novos objetivos que merecem destaque: como a celeridade processual e a segurança jurídica. O novo código tenta prestigiá- las, coibindo dois dos piores vícios do processo civil atual: a morosidade e a insegurança da justiça brasileira. 3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL O Direito Processual Penal também denominado de Direito Processual Criminal é a área de estudo voltada à atividade de jurisdição de um Estado soberano, no julgamento de pessoas acusadas por pratica de condutas criminosas previamente tipificadas em lei. O procedimento de legitimação do direito estatal de punir, chamado de processo penal é uma área de constante crescimento devido aos elevados e alarmantes índices de criminalidade do país. Ainda podemos dizer que, a matéria processual tem por finalidade trazer a matéria penal da teoria para a realidade, oferecendo as ferramentas necessárias para que este possa ser aplicado na sua integralidade. Com esse objetivo delineado, sua finalidade será a de fixação da relação jurídica nascida do ilícito penal provocado, após sua ocorrência. Desse modo, pode o Estado mediante provocação, revogar determinados direitos do indivíduo criminoso. 3.3 DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO O Direito do trabalho, desde sempre, possui sua função de proteção aos trabalhadores, renegados sempre a uma condição de miséria e penúria em nossos país, devido à força e opressão dos conglomerados empresários no fator exploração de mão-de-obra. A função social e o objetivo do Direito processual do trabalho é dar vida a esta proteção prevista no direito material. Por meio de uma reclamação trabalhista, pode o trabalhador, reclamar o direito de receber férias não pagas, aviso prévioindenizado, buscar uma indenização por assédio moral oriundo da relação laboral, entre outros pedidos. A parte hipossuficiente — empregado — tem a sua disposição, mecanismos processuais para fazerem valerem seus direitos constitucionais e celetistas que lhe são cabíveis. 4 EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO E NO ESPAÇO A eficácia da lei é ensinada na disciplina de Introdução ao Estudo Do Direito, como sendo a aptidão para que uma lei possa produzir efeitos jurídicos. Logo, os efeitos da lei, podem ser limitados a um determinado local (espaço) ou a um determinado período de tempo. Tal limitação se sobrepõe, inclusive, à lei processual. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 9 No que se refere ao espaço, a lei processual é regulada pelo princípio da territorialidade. Importa ressaltar, que a lei processual tem eficácia apenas no território brasileiro. Isso ocorre, pois, a norma processual possui como objetivo disciplinar a atividade do estado-juiz. E essa atividade é a revelação do poder soberano do Estado, assim pode-se afirmar que leis estrangeiras não podem regular normas processuais nacionais. Em termos normativos, as leis processuais estão geridas pela Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro — LINDB (Decreto-Lei n° 4.657/1942). Em regra, as novas leis sancionadas pelo presidente da república, só começam a viger após o período de vacatio legis, quarenta e cinco dias depois de publicada, caso não venha prevendo outro prazo na lei, conforme art. 1º da referida lei. No Brasil, ainda relacionado a ideia do tempo, nosso país adotou o sistema do isolamento dos atos processuais. Ou seja, a lei processual tem validade geral e posterior, não podendo retroagir. Desse modo, os atos processuais praticados na vigência da lei antiga não serão afetados por nova lei que sobrevier. Não se pode esquecer que o processo penal excepcionou esta regra: lá retroagirá a lei para beneficiar o réu. A lei processual terá validade imediata e geral “respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido” (BRASIL, 1942, Art. 6º). ATENCAO 5 INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL Sabe-se que interpretar uma lei constitui em obter o sentido e o alcance da norma jurídica, procurando considerar o conteúdo que o texto possui com relação à realidade fática. Noutras palavras, pode-se afirmar que o exercício de interpretação incide em determinar o conteúdo expresso na lei, fixando o significado do enunciado legal. No perfeito ensinamento de Carlo Maximiliano (2002, p. 3): [...] interpretar é explicar, esclarecer; dar o significado de vocábulo atitude ou gesto; reproduzir por outras palavras um pensamento exteriorizado, mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair, de frase, sentença ou norma, tudo o que na mesma se contém. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 10 No âmbito da dogmática jurídica, a atividade de interpretação é dada na maioria das vezes ao juiz, para que ele diga como e quando devo aplicar aquela lei. A interpretação é tão marcada no nosso país, que ela pode se dar de forma monocrática, podendo, cada juiz, ter uma interpretação diferente sobre o mesmo caso concreto. Contudo, todos os operadores do direito interpretam a lei. A interpretação se caracteriza então por meio do provimento do juiz e o discurso retórico e teórico dos advogados e dos promotores. Pode auxiliar ainda o estudo jus filosófico de muitas pessoas da academia. Nesse sentido, depreende- se que a hermenêutica, como meio de se interpretar, está fortemente relacionada à Filosofia do Direito. A Escola da Exegese foi a fonte principal e mais tradicional para se buscar a excelência na interpretação de leis e tentava-se, ainda, entender o que estava pensando o legislador ao escrever tal norma. Tem-se essa escola como marco inicial da ciência do direito moderno, já que apenas com o aparecimento da codificação o Direito admite suas nuances como ciência, na definição epistemológica da palavra. Assim, durante muito tempo se acreditou que a finalidade principal do jurista seria desvendar o significado da lei, através de um meio declaratório — como se os juízes fossem portadores de uma verdade real e absoluta e tivessem a missão de fazer grandes revelações. Assim, cabia ao juiz explicar as palavras do legislador da forma mais clara possível, mesmo que isso implicasse em um exercício de adivinhação, deveria sempre o jurista buscar manter a vontade do legislador, ou ao menos dizer o que ele pretendeu. De modo crítico e reflexivo, poderia dizer que a escola da exegese via na lei a única fonte do direito, a lei era o fim em si mesmo. Pode-se afirmar que para tal escola "a lei e o direito constituem a mesma realidade, pois a única fonte do direito é a lei e tudo que estiver estabelecido na lei é direito" (DINIZ, 1995, p. 46). Aplicando-se a teoria da escola da Exegese, o intérprete não precisaria buscar outros elementos além do próprio texto legal para sua compreensão. Não se levaria em conta a realidade fática, nem os princípios do direito por exemplo, já que a lei, externada na forma de códigos, era apresentada como um compêndio que previa e disciplinava toda e qualquer conduta humana. Diante das definições estabelecidas, a doutrina e os magistrados tinham uma importância diminuta, como tudo já estava previsto pela lei, os juízes deveriam ser na maioria, senão em todos os casos, meros declaradores de direitos e aplicadores da lei, no direito francês estes juízes ficaram conhecidos por serem simplistas declaradores de la bouche de la loi, ou “a boca da lei”, como falamos aqui no Brasil. Desta maneira, conclui-se que a tarefa do magistrado consistiria em um simples exercício silogístico. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 11 Nesses casos, para a obtenção da melhor justiça, deveria o juiz partir de duas premissas para chegar a uma conclusão e só assim proferir a sentença. A saber: a premissa maior seria a lei, e a premissa menor a situação de fato, o caso concreto. E a sentença seria a conclusão de tal silogismo: a aplicação da regra geral à situação real, como demonstrado a seguir: FIGURA 2 – NORMA E CASO CONCRETO FONTE: O autor É possível perceber que todo esse percurso delineado no esquema da Figura 2, retrata a natureza material e processual de uma lei e todo o seu processo interpretativo. Nesses casos, e em outros, a lei terá a natureza jurídica de norma processual por servir como regulamentação da atuação das pessoas na esfera e no decorrer do processo. Assim, clara é a colaboração esclarecedora de Moacyr Amaral Santos (1994, p. 34): Mas, repita-se, as leis processuais, em sua essência, regulam as atividades dos órgãos jurisdicionais no exercício da função jurisdicional, isto é, aquelas atividades, não só dos juízes como das pessoas que com estes colaboram, destinadas à atuação da lei aos concretos e determinados conflitos de interesses. Não poderíamos deixar de lembrar que as normas processuais possuem natureza de normas de direito público, ou seja, decorrer do Estado. Na regra geral, não podem ser descumpridas por vontade das partes envolvidas no conflito, sendo, portanto, normas de aplicação e cumprimento obrigatório. Podemos ainda acrescentar que a arte de interpretar é extrair um sentido, mas obter o sentido dentro de uma ordem normativa da própria esfera processual, é não só descobrir a razão e o sentido de ser do texto, como também seu significado dentro do sistema de princípios e da realidade operada por todos os atores judiciários. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 12 A tarefa interpretativa, constituirá a missão de trazer à luz todo o conteúdo da norma, a fim de desnudar o que ali se contém. Importa esclarecer que vontade descrita na lei, não demonstra apenas a vontade do legislador, mas traduz dos fatos e circunstâncias da época — regidas pelo binômio local e tempo — expressando o sentimento de uma determinada sociedade. Como as sociedades mudam com o tempo, as leis também deveriamacompanhar este dinamismo. De tal modo, vê-se que interpretar é determinar o valor, buscando o significado e o alcance da lei em dado momento da história. Lembre-se de que a interpretação das leis processuais deve sempre ser visualizada e entendida como um instrumento para aplicação do direito material, e tem por fim principal a obtenção de justiça e a pacificação dos conflitos. Caminhando para o fim, deve-se ressaltar que não existem regras ou métodos interpretativos determinados para análise das normas processuais. Recomenda-se que ao efetuar a interpretação de lei processual, o ordenamento jurídico deve ser visualizado no todo, realizando sempre uma interpretação sistematizada, levando em conta os princípios informativos e constitucionais do processo, como, por exemplo, a instrumentalidade, a efetividade, a ampla defesa, e contraditório. Art. 5º, LV, CRFB: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. IMPORTANT E Ainda, sobre tal temática, não poderia deixar de trazer a brilhante e esclarecedora lição de Pontes de Miranda, na qual, a principal regra jurídica de interpretação do direito processual é a que se pode formular do seguinte modo: A regra jurídica processual há de entender-se mera regra para que se realize o direito objetivo e, pois, no sentido de não atingir o direito material. Se, em algum ponto, há derrogação a esse, em vez de (ou) junto à regra jurídica processual está a regra de direito material, heteretópica, a que se deve tal derrogação (MIRANDA, 1995, p. 68-69). Ao final, podemos dizer que para as leis processuais não se aplicam regras próprias de interpretação a serem aplicadas, basta que sejam razoavelmente compreendidas e reveladas, levando em consideração as finalidades do processo e sua característica. Por isso, se faz tão importante uma interpretação sistemática da lei processual de forma honesta e coerente. TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 13 6 CONSTITUIÇÃO E PROCESSO Atualmente, se faz muito importante o estudo do Direito Processual Civil integrado com o Direito Constitucional. Por isso é fundamental toda uma compreensão acerca dos direitos fundamentais, principalmente dos principais direitos fundamentais processuais que se apresentam no art. 5º da CRFB. E ainda, compreender através das chamadas “dimensões de direitos fundamentais” toda esta classificação histórica. Sobre isso, podemos acrescentar que “o juiz não pode se limitar ao que o legislador infraconstitucional estabelecer devendo ater-se, principalmente, ao que foi estabelecido pela Constituição” (MARINONI, 2010, p. 55). Amaral de Souza (2008, p. 104) ensina que “O processo deve seguir à risca o que a Constituição Federal para ele estabeleceu, principalmente no que se refere à tutela dos direitos fundamentais: imunizar e reparar, quando preciso, o direito [...] de acordo com os preceitos e valores inseridos na Constituição Federal”. Deste modo, a análise dos princípios processuais previstos na Constituição é de suma importância. Um dos mais relevantes é o princípio do Contraditório, que se trata de uma garantia fundamental prevista no rol do art. 5º da Constituição da República. “O princípio do contraditório significou a obrigação de audiência bilateral, de comunicação do ajuizamento da causa e dos atos processuais, bem como a possibilidade de impugnar tais atos” (GRECO, 2005, p. 547). Com o propósito de melhor compreender o tema proposto, é necessário ressaltar a diferença entre o Direito Constitucional Processual e o Direito Processual Constitucional. Nas lições de Daniel Mitidiero (2011, p. 39): No plano das relações entre processo e Constituição, ressalta-se a existência do “direito processual constitucional”, que constitui a condensação metodológica e sistemática dos princípios constitucionais do processo. Essa colocação metodológica e sistemática revela ao processualista dois sentidos vetoriais em que se pode sentir as relações entre processo e Constituição: de um lado, na via Constituição- processo, tem-se a tutela constitucional deste e dos princípios que devem regê-lo, alçados a nível constitucional; de outro, na perspectiva processo-Constituição, a chamada jurisdição constitucional, voltada ao controle de constitucionalidade das leis e atos administrativos e à preservação de garantias oferecidas pela Constituição. Assim, o Direito Constitucional Processual se relaciona com as normas processuais previstas na CF/88 e aos princípios processuais constitucionais, como por exemplo, o Princípio do Devido Processo Legal (due process of law) e do Juiz Natural, os quais são aplicados ao processo, em geral, e que veremos de forma mais detalhada na próxima seção. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 14 Ainda vale lembrar, que, modernamente, os estudos do Direito Processual também foram influenciados por uma nova corrente de estudos denominada neoconstitucionalismo, que propõe uma renovação do pensamento jurídico. Guilherme Botelho (2010, p. 39), sobre o neoconstitucionalismo esclarece: Trata-se de um movimento umbilicalmente ligado ao Estado Constitucional. Correto afirmar que corresponde ao próprio Estado Constitucional de Direito em funcionamento ou, ainda, o Estado Constitucional em prática. Em suma: é o modo de pensar próprio do Estado Constitucional; sua consequência lógica e previsível. Um método baseado na lógica argumentativa, em correspondência à adoção de constituições ricas em enunciados normativos fundamentais de conceitos de abertura semântica que passam a exigir do jurista maior conhecimento inter-relacional das diversas ramificações do direito, e não apenas ele. Neste sentido, com o advento do neoconstitucionalismo, passou a ter maior atenção ao direito processual e uma grande mudança principalmente na perspectiva da atuação do juiz. Obrigando que o magistrado profira suas decisões baseadas, preponderantemente, na Constituição Federal. E, para que isso fosse alcançado, passou a adotar conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais, que bem conhecemos como o princípio da boa-fé objetiva. Esses princípios por sua vez, imprimem uma marca de flexibilidade, e evita a rigidez das soluções, permitindo ao juiz maior liberdade na sua função decisória e ainda exige dele um maior conhecimento do direito. Assim, o processo passa a ser estudado e entendido a partir de uma premissa constitucionalizada atentando-se aos princípios gerais do Direito, que, somado a uma preparação específica, permitindo aos atores do campo jurídico uma ação do direito através de novas técnicas, tais como o respeito aos princípios gerais de direito. Além do mais, a Constituição passou a ser o requisito para aplicação das legislações infraconstitucionais, diversos fatores influenciaram esse novo modo de pensar e agir processualmente. Isso só foi possível, pois buscou-se compreender que a Constituição não é apenas um limite a esse poder político, sendo mais do que isso, é um conjunto de normas fundamentais hipotéticas que devem ser cumpridas para o bem-estar da população e para o reforço da cidadania e do estado democrático de Direito. Sabe-se que existem diversas manifestações dessas mudanças na forma de pensar a relação entre o processo e a Constituição, conforme lição de Fredie Didier Jr. (2009, p. 98), neste sentido destacamos algumas: a) parte-se da premissa de que a Constituição tem força normativa e, por consequência, também têm força normativa os princípios e os enunciados relacionados aos direitos fundamentais; b) desenvolvimento de uma nova hermenêutica constitucional (com a valorização dos princípios e o desenvolvimento dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade). TÓPICO 1 | DIREITO E PROCESSO 15 7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL Os ensinamentos basilares que constituem e orientam a formação dos sistemas que compõem o Direito ProcessualCivil. Dentro dessa seara, podemos destacar os seguintes princípios: a) Princípio da Imparcialidade do Juiz: para que a decisão proferida pelo juiz seja justa e válida, é preciso que o magistrado atue de forma imparcial. Ele não pode preferir e privilegiar nenhuma das partes. O juiz deve se posicionar entre as partes e acima delas, esta é a primeira condição para que possa exercer a sua função judicante. A princípio da imparcialidade do juiz é pressuposto lógico para que a relação processual se instaure e seja válida, senão ele poderá ser considerado suspeito ou impedido para prosseguir naquele caso. b) Princípio da Igualdade: os advogados e as partes devem ter tratamento isonômico pelo juiz. Esse princípio encontra-se previsto no art. 5° da CF. Isso ocorre, porque as partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, assim gozaram das mesmas oportunidades de fazer valer em juízo os seus questionamentos. c) Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: na relação processual é basilar e de conhecimento de todos, que ambas as partes no processo devem ter direito de se manifestar sobre o que está em juízo e de se defender de quaisquer afirmações que lhes forem imputadas. Nesse sentido, ensina Leonardo Greco (2010, p. 539) que: O princípio do contraditório pode ser definido como aquele segundo o qual ninguém pode ser atingido por uma decisão judicial na sua esfera de interesses, sem ter tido a ampla possibilidade de influir eficazmente na sua formação em igualdade de condições com a parte contrária. d) Princípio da ação: também denominado princípio da demanda, diz que compete à parte a iniciativa de provocar à jurisdição. Chama-se ação o direito de demandar nos órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de um direito. A jurisdição sempre será inerte e, para a sua movimentação ela deve ser provocada. e) Princípio da disponibilidade e da indisponibilidade: refere-se ao poder que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. No Direito Processual tal poder é ratificado pela possibilidade de apresentar ou não sua pretensão em juízo, bem como de apresentá-la da maneira que melhor lhes couber e renunciar a ela ou a certas situações processuais. De modo contrário, prevalecerá no processo criminal o princípio da indisponibilidade, já que o cometimento de um crime se trata de uma lesão irreparável ao interesse coletivo e a pena deve ser obrigatoriamente cumprida para a restauração da ordem jurídica que fora infringida. f) Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas: verdade formal e verdade real: o princípio do dispositivo determina que o juiz depende da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações da decisão, para fazer a instrução da causa. Cabe ao juiz ter acesso e mandar produzir todas as provas cabíveis e necessárias para se conseguir a verdade real. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 16 g) Princípio da economia e instrumentalidade das formas: como o processo se trata de um instrumento, não se pode permitir um gasto exagerado com relação aos bens que estão em disputa, logo, deve existir uma necessária proporção e razoabilidade entre fins e meios, para equilíbrio do binômio custo-benefício daquilo que está sendo tratado. E jamais desperdiçar recursos públicos do poder judiciário e tempo dos jurisdicionados. h) Princípio do duplo grau de jurisdição: muito criticado por algumas pessoas, ele garante a possibilidade de revisão, por meio de um recurso, das causas já julgadas pelo juiz em primeira instância, que um novo juiz (de grau superior), também denominada de segunda instância faça a reapreciação da matéria. O princípio do duplo grau de jurisdição se fundamenta na possibilidade de a decisão de primeiro grau não ser adequada, errada ou até mesmo injusta. Podendo se desdobrar a necessidade de permitir sua reforma em grau de recurso em instância superior. i) Princípio da publicidade: a publicidade norteia a maioria dos processos, exceto aqueles que correm em segredo de justiça. A presença do público nas audiências e sendo possível o exame dos autos por qualquer pessoa concebem o mais seguro instrumento de fiscalização popular sobre o trabalho dos magistrados, promotores públicos e advogados. Por fim, o povo é o juiz dos juízes, conforme é no júri popular e em direito penal. j) Princípio da motivação das decisões judiciais: todas as decisões judiciais devem, obrigatoriamente, ser motivadas pelo magistrado, fundamento jurídico e principiológico são as bases do direito brasileiro. Art. 371 do CPC - “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. NOTA Para saber mais do assunto leia os textos indicados. • A atuação do juiz no novo Código de Processo Civil, de Benedito Corezzo Pereira Filho, para o site Consultor Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/ benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil. • O papel do Juiz no processo civil moderno, de Otacílio José Barreiros. Disponível em: http://www.revistajustitia.com.br/artigos/2w2a27.pdf. DICAS https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil https://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil http://www.revistajustitia.com.br/artigos/2w2a27.pdf 17 Neste tópico, você aprendeu que: • O conceito de Direito Processual deve ser compreendido como sistema de princípios e normas legais que se interagem entre si com o intuito de regularem o processo, servindo ainda, para disciplinar as ações dos sujeitos interessados na prestação jurisdicional. • O processo pode ser compreendido por três dimensões distintas, a saber: processo como método de criação de normas jurídicas; processo como ato jurídico complexo (procedimento); processo compreendido como relação jurídica. • O direito processual e o direito material caminham juntos trilhando um movimento de cooperação, o direito processual é o instrumento utilizado por juízes e advogados, para se chegar a concretização do direito material. • O direito processual existe por meio de algo que a doutrina chama de jurisdição: que se trata do poder que o Estado detém para aplicar o direito a um determinado caso específico, visando solucionar conflitos de interesses e com isso proteger a ordem jurídica e a autoridade da lei. • A Eficácia da lei é ensinada na disciplina de Introdução ao estudo do direito, como sendo a aptidão para que uma lei possa produzir efeitos jurídicos. Logo, os efeitos da lei, podem ser limitados a um determinado local (espaço) ou a um determinado período de tempo. Tal limitação se sobrepõe, inclusive, à lei processual. • Interpretar uma lei constitui em obter o sentido e o alcance da norma jurídica, procurando considerar o conteúdo que o texto possui com relação à realidade fática. • O processo deve seguir à risca o que a Constituição Federal para ele estabeleceu, principalmente no que se refere à tutela dos direitos fundamentais: imunizar e reparar, quando preciso, o direito RESUMO DO TÓPICO 1 18 1 O processo compreendido como ato jurídico complexo, refere-se ao(s): a) ( ) Atos procedimentais, que formam o processo judicial e servem para prestação judicial. b) ( ) Atos legislativos, que formam o processo legislativo. c) ( ) Caso concreto que deve ser analisado pelo juiz. d) ( ) Atos procedimentais, que se formam no âmbito da administração pública direta e indireta. 2 De acordo com a eficácia da lei processual no tempo e a previsão da LINDB, é correto afirmar que: a) ( ) A lei processual não possui validade imediata após sua aprovação, precisando de sanção presidencial. b) ( ) A lei processual não possui validade imediata após sua aprovação, precisando de sanção dos ministros do STF. c) ( ) A lei processual terá validade imediata e geral respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgadae o direito adquirido. d) ( ) A lei processual terá validade mediata e genérica respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o devido processos legal. 3 “O juiz não pode se limitar ao que o legislador infraconstitucional estabelecer devendo ater-se, principalmente, ao que foi estabelecido pela Constituição”. Essa premissa , modernamente, refere-se: a) ( ) A uma visão do processo inquisitorial. b) ( ) A uma visão global e universal do direito processual. c) ( ) A uma visão internacional do direito processual. d) ( ) A uma visão constitucionalizada do direito processual. 4 O princípio do duplo grau de jurisdição encontra guarida na alternativa: a) ( ) Garantia de possibilidade de revisão, por meio de um recurso, das causas já julgadas pelo juiz em primeira instância. b) ( ) Decisão de uma questão incidente sem resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. c) ( ) É o pronunciamento por meio do qual o juiz, põe fim à fase cautelar do procedimento comum, bem como extingue a execução. d) ( ) Decisão de uma questão incidente com resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. AUTOATIVIDADE 19 5 O código de processo civil aduz que: “O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento”. Neste sentido o princípio em destaque é: a) ( ) Juiz Natural. b) ( ) Ampla Defesa. c) ( ) Contraditório. d) ( ) Da motivação das decisões judiciais. 20 21 TÓPICO 2 PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos estudar, processo de conhecimento: é aquele em que o juiz decide qual das partes tem razão na lide e todo o desdobramento sobre ele como a audiência de instrução e julgamento. Adiante, veremos o processo cautelar como sendo o processo que tem por finalidade proteger o objeto da ação principal. E, por fim, ainda estudaremos o processo de execução e as novidades trazidas pelo Novo Código de Processo Civil, que esclarece que não haverá mais o processo cautelar autônomo. O diploma processual existente será a existência de medidas e providências com as mesmas características cautelares, mas que não darão origem a um processo autônomo. 2 AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO As audiências de instrução e julgamento, também denominadas (AIJ) pelos juízes, serventuários e advogados, se caracteriza por ser a parte mais importante do processo de conhecimento. É uma sessão pública, logo pode ser assistida por todos, e trata-se de um ato solene presidida pelo órgão jurisdicional competente, com a presença e participação das partes, advogados, testemunhas e auxiliares da justiça. O objetivo principal da AIJ é de tentar conciliar as partes, produzir se possível prova oral, dando oportunidade para se debater e posteriormente decidir a causa da forma mais justa. É denominada como de "instrução e julgamento", por serem estes seus objetos centrais: instruir (produzir provas); julgar (decidir) oralmente; tentativa de conciliação; debate (alegações finais). Entretanto, apesar de todas estas atribuições, não se trata de ato essencial dentro do processo, podendo ser dispensada quando cabível julgamento antecipado do mérito conforme prevê o artigo 355 do CPC. As principais atividades desenvolvidas na audiência de instrução e julgamento são: tentativa de conciliação; arguição do perito; produção de prova oral; apresentação de alegações finais; prolação de sentença. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 22 Assim, pode-se dizer que a audiência de instrução e julgamento é um ato processual solene e serve, principalmente, para colher a prova oral (depoimento de partes e/ou testemunhas). Tem sua forma e função delimitadas no Código de Processo Civil, nos artigos 358 a 368, vide: Art. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberta a audiência de instrução e julgamento e mandará apregoar as partes e os respectivos advogados, bem como outras pessoas que dela devam participar. Art. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem (BRASIL, 2015, s.p.). Importa destacar, ainda, que qualquer audiência exige dos advogados argumentação jurídica em defesa do seu cliente. Por acontecer de forma muito dinâmica, a AIJ é uma das que mais deixa os advogados atentos e após o novo CPC é preciso estar atento a possibilidade de se valer dos métodos consensuais de resolução de conflitos. Sobre estes métodos e tentativas conciliatórias todo o destaque deve ficar com o art. 358 do CPC no dia e hora anteriormente denominados pelo juiz, serão apregoadas as partes e seus advogados para dar início à AIJ. Toda vez que tiver início a audiência, o juiz deve, antes de passar à produção de provas, buscar conciliar as partes. A conciliação já era situação prevista no antigo Código de Processo, contudo, após 2015, ela foi favorecida e incrementada com sua previsão em diversos dispositivos. No entanto, a novidade contida no novo CPC refere-se aos métodos de conciliação. O novo código determina que a tentativa de conciliação pelo magistrado deve ocorrer independentemente de prévias e eventuais soluções consensuais do conflito, já tentadas anteriormente. Fora isso, para além do instituto da conciliação, outras formas para solução de conflitos podem ser empregadas, como é o caso da mediação e da arbitragem. Mesmo que já tenha acontecido anteriormente uma audiência de mediação, conciliação e arbitragem, deve o juiz, de acordo com a nova redação, realizar novamente a tentativa para solução do conflito entre as partes, valendo- se de quaisquer técnicas previstas para a resolução do conflito. O novo código também trouxe uma alteração com relação a AIJ, antigamente ela não poderia ser fragmentada, agora, esta hipótese está prevista, de maneira excepcional no Artigo 365 do novo CPC. Assim ficou redigido: TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 23 Art. 365. A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justificadamente cindida na ausência de perito ou de testemunha, desde que haja concordância das partes. Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento para a data mais próxima possível, em pauta preferencial (BRASIL, 2015, s.p.). Vale esclarecer, que, muito embora, a parte final do dispositivo exija a concordância das partes para fragmentação da audiência, existem casos em que bastará a decisão fundamentada do juiz, ainda que dela as partes não concordem. Não se pode olvidar do Artigo 362 do Código de Processo Civil, que autoriza o adiamento da audiência de instrução e julgamento nas hipóteses ali elencadas. Os exemplos são: por convenção das partes (Inciso I) ou ausência de testemunhas devidamente justificadas (Inciso II e III). Quando se chegar ao final da audiência de instrução e julgamento, importa lembrar que ainda pode ser requisitado a apresentação de alegações finais de forma oral (o que não é muito comum e usual no direito brasileiro — geralmente usa a linguagem escrita), passada esta fase, não existindo mais nada superveniente (como suspensão e impedimento de partes, advogados ou juiz) deverá só aguardar a sentença. A AIJ tem papel muito importante para o desdobramento da ação judicial, pois nela podem ser produzidas provas importantes referentes ao caso, devendo o profissional (advogado das partes) que nela participa estar atento para não cometer erros. NOTA 3 JURISDIÇÃO: CONCEITO E ESPÉCIES Na lição de Wambier, Almeida e Talamini (2002), jurisdição, no campo do processo civil, é a função de resolver os conflitos que a ela sejam dirigidos. Não importando, se estes conflitos, se deram por pessoas naturais,jurídicas ou entes despersonalizados. Já no dizer de Galeno Lacerda, apresentada por Carneiro: Jurisdição é a atividade pela qual o Estado, com eficácia vinculativa plena, soluciona a lide declarando ou realizando o direito em concreto. Trata-se, pois, de atividade pela qual o Estado-Juiz, em substituição às partes, e com desinteresse na lide (terzietà) decide a quem cabe o direito, declarando-o ou fazendo-o ser concretizado, possuindo poderes coercitivos para tanto. Neste mister, o Estado-Juiz emprega a legislação, produto do Poder Legislativo, como fonte fim para a atividade jurisdicional (CARNEIRO, 2001, p. 98). UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 24 O objetivo da jurisdição versa sobre a realização dos interesses que ficaram insatisfeitos, buscando a integração do direito atingido. Confere-se, que a jurisdição, teria por objeto substituir as partes e satisfazer a pretensão delas, e ao mesmo tempo que reintegra a eficácia do direito lesado, assegura ao o cumprimento da lei. São características da jurisdição: a jurisdição age por provocação — é inerte; deve ser requeira perante o Estado-Juiz; atividade pública; monopólio do Poder Judiciário e a jurisdição possui autoridade de coisa julgada. Vale dizer, que embora exista decisão de contenciosos administrativos, estas não impedem a atuação ou exercício da atividade jurisdicional, conforme disposição constitucional prevista no Artigo 5º, XXXV, CF/88. Mais uma extraordinária característica da jurisdição é a sua atividade substitutiva, ou seja, para realizar a vontade concreta da lei, o Estado-Juiz substitui as partes para uma solução possível à lide. Assim, nasce a indeclinabilidade da atividade jurisdicional, que dever ser exercida por um juiz natural, com investidura e competência para resolver a lide. Segundo a doutrina majoritária, a jurisdição se divide em duas grandes espécies: a contenciosa e a voluntária. A jurisdição contenciosa ainda se subdivide em: Jurisdição Comum e Jurisdição Especial. a) A jurisdição comum: compreende a civil e a penal. No combo da jurisdição civil, encontram-se também as demandas de natureza comercial, previdenciária e administrativa. A Jurisdição Comum atua nas esferas federal, estadual e distrital. b) A jurisdição especial: divide-se em trabalhista, militar e eleitoral. A jurisdição trabalhista pertence à Justiça Federal, salvo lugares menores, onde não haja justiça do trabalho, e o juiz estadual comum exercerá as funções própria do magistrado trabalhista. Ressalta-se que em termos de organização judiciária, todas estas jurisdições possuem primeira e segunda instâncias, possibilitando análise das decisões pelos Tribunais Superiores (STJ, TST, STM, TSE, STF) competentes a cada decisão conforme a competência da matéria tratada em cada uma delas. Já a jurisdição voluntária, é a função exercida pelo Estado, por meio do juiz, mediante um processo, no qual busca-se solucionar causas que lhe são submetidas sem existir conflito de interesses entre duas partes, conforme procedimento descrito no art. 719 do CPC. No modelo e previsão de jurisdição voluntária, os interessados buscam o judiciário para obterem determinada decisão que lhes interessam para aquisição de determinado bem da vida. Não há nessa espécie procedimental um litígio constituído. TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 25 Na jurisdição voluntária, não há também coisa julgada, logo pode se interpretar que não há jurisdição. Observa-se então, a existência de deficiências da jurisdição voluntária para uma concepção do que venha a ser jurisdição, mas este é tema para outro debate. Caminhando para o fim desta parte, pode-se afirmar que a jurisdição, como visto, consiste em uma atividade pública, substitutiva às partes, que pretende colocar fim a um processo, satisfazendo os interesses ainda insatisfeitos, reintegrando o direito objetivo, e coroando com o cumprimento da vontade concreta da lei. Por fim, a jurisdição “[...] é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2006, p. 145). 4 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA E VOLUNTÁRIA: QUADRO ESQUEMÁTICO Como visto, a jurisdição é o poder que o Estado tem de resolver os conflitos que lhe são submetidos a apreciação, substituindo a vontade das partes e impondo essa decisão estatal com base nas normas jurídicas. Isso ocorre para proibir a autotutela dos interesses individuais objetivando a pacificação social. A essa função do Estado dá-se o nome de jurisdição contenciosa, que, em síntese, “tem por objetivo a composição e solução de um litígio” (BORGES, 1997, p. 211). As diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa são importantes de serem demarcadas: a jurisdição voluntária tem caráter administrativo, resolvendo um negócio judicial com a participação do juiz, a jurisdição contenciosa tem caráter jurisdicional, com objetivo a pacificação social, substituindo a vontade das partes que, se não for cumprida, pode ser aplicada de modo coercivo. Ainda no quesito diferenças, a jurisdição voluntária não apresenta conflito de interesses, logo não existe uma coisa a ser julgada. Dessa maneira, não existe uma sentença, mas sim um procedimento, ao contrário da jurisdição contenciosa, na qual o juiz age a partir de um conflito de interesses, julgando um processo e decidindo o que deve ser feito. Verifique estas diferenças no quadro esquemático a seguir: UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 26 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA ATIVIDADE Jurisdicional Administrativa CAUSA Lides Ato ou negócio jurídico SUJEITOS Partes Interessados INICIATIVA Ação Requerimento FORMA Processo Procedimento COISA JULGADA Há Não há CRITÉRIO DE JULGAMENTO Legalidade estrita Legalidade ou equidade QUADRO 2 – TIPOS DE JURISDIÇÃO FONTE: O autor 4.1 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA A jurisdição contenciosa tem as seguintes características: • Estabelecida quando existem partes antagônicas, havendo, de um lado, o autor, que busca conseguir uma solução judicial a um conflito de interesses e, do outro, o réu, que é a pessoa sobre a qual se pressupõe atitudes que vão contra o interesse e a ordem social. • Possui um processo judicial e uma sentença que vai favorecer uma das partes em detrimento da outra, sendo comum e rotineiro que haja litigiosidade. • A sentença judicial, proferida pelo juiz, determina a ação a ser tomada, substituindo a vontade das partes em litígio e é obrigatória, devendo ser cumprida, já que foi tomada com base em dados e fatos comprovados, tendo como respaldo a legislação pertinente ao processo. • A jurisdição contenciosa apresenta uma solução independentemente da vontade dos litigantes, sendo imperativa, de observância compulsória e, se necessário, até mesmo forçada. Notar que as diferenças estão retratadas em lei e doutrina, por isso reforço que a leitura do material deve sempre estar acompanhada do Código de Processo Civil. IMPORTANT E TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 27 4.2 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA No procedimento da jurisdição voluntária as regras a cumprir estão de acordo com o art. 720 e seguintes: • Instaura-se o processo por petição inicial por provocação do interessado, do Ministério Público ou da Defensoria Pública com atribuição de valor da causa e identificação da providência judicial almejada (Artigo 720). • As despesas processuais são antecipadas pelo requerente e rateadas entre todos os interessados; os interessados têm o prazo de quinze dias para poder manifestar-se (Artigo 721). • A Fazenda Pública será sempre ouvida, nos casos em que tiver interesse (Artigo 722). • O Ministério Público será ouvido, apenas nos casos do art. 178 do CPC (Artigo 721). • O pedido será resolvido em dez dias, por sentença, que é apelável (Artigos 723 e724). • Os pedidos que tramitam pelo procedimento comum de jurisdição voluntária estão regulados pelo Artigo 725. Por fim, são procedimentos especiais de jurisdição voluntária de acordo com o novo CPC: • Notificação, interpelação e protesto (Artigo 726-729). • Alienação judicial (Artigo 730). • Homologação de divórcio e separação consensuais; homologação de extinção consensual da união estável; alteração consensual de regime de bens do matrimônio (Artigos 731-733). • Abertura de testamento e codicilo (Artigos 735-737). • Arrecadação de bens da herança jacente (Artigos 738-743). • Arrecadação de bens dos ausentes; (Artigos 744-745). • Arrecadação de coisas vagas (Artigo 746). • Interdição (Artigo 747-758) • Disposições Comuns à Tutela e à Curatela (Artigos 759-762). • Organização e fiscalização das fundações (Artigos 764-765). • Ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo (Artigos 766-770). 5 PROCESSO DE EXECUÇÃO A Lei 11.232/05, alterou essa sistemática do processo civil e sua subdivisão, uma vez que agora o processo de execução limitou-se a servir apenas para a satisfação dos títulos executivos extrajudiciais. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 28 A nova lei sepultou a necessidade de um processo autônomo (chamado de processo de execução) para as hipóteses de títulos executivos judiciais. Ocorreu uma união do processo de conhecimento com o de execução, surgindo apenas uma fase no processo de cognição chamada de cumprimento de sentença. Veja como ficou: FIGURA 3 – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA FONTE: O autor Mesmo que a sentença tenha várias determinações, por exemplo: obrigação de fazer e obrigação de pagar quantia certa, a forma de sua efetivação seguirá o rito do art. 498 e art. 509, do CPC. Desta forma, existirá tantos procedimentos quanto houver obrigações a serem cumpridas. O processo de execução está disciplinado a partir do art. 771, CPC veja: Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva (BRASIL, 2015, s.p., grifo nosso). A execução abarca duas modalidades, de maneira que são definidas quanto ao título que está sendo executado: • Primeiro, execução que tem como fundamento a execução de título extrajudicial. • A execução cujo objeto é o título judicial é denominada cumprimento de sentença. O que interessa saber é que a estrutura das duas espécies se dá pelo título. O credor precisa ter um título para executar em juízo exatamente o que determinar seu conteúdo. Importa esclarecer que o título precisa ser líquido, com valor devidamente estipulado; de modo certo e ainda exigível, ou seja, estar vencido e não houver sido pago. TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 29 Dentro do processo de execução, não está previsto modalidade de defesa para o devedor. O meio apropriado de defesa do devedor se dá fora do processo de execução e por meio dos embargos do devedor. ATENCAO A seguir serão demostradas as modalidades de execução previstas no novo código de processo civil, destacando o respectivo artigo de cada uma destas modalidades para melhor fixação e conhecimento do conteúdo. • Toda execução é real – Artigo 789 CPC – A execução se consumará sempre sobre o patrimônio do devedor. Existe uma exceção a este princípio, que é o chamado patrimônio mínimo. Pois alguns bens são considerados como mínimo existencial à pessoa, o mínimo para garantir o direito fundamental da dignidade da pessoa humana e por isso não podem ser executados. Vide a literalidade do artigo: O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei. • A execução deve ser útil – Artigo 836 CPC – Toda execução deve possuir um sentido de ser e existir dentro da matéria processual. Vide o artigo na íntegra: Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução. • A execução deve ser econômica – Artigo 805 CPC – Ou seja, sempre será feita do modo mais barato para evitar ônus para quem está sendo executado. Íntegra: Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único: Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados. Por fim, vale lembrar da livre disponibilidade da execução pelo credor prevista no Artigo 755, CPC, isso quer dizer que “o exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”. Quem define o que é um título executivo extrajudicial é o sistema normativo, mais precisamente o art. 784, NCPC. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 30 “A penhora eletrônica realizada pelo convênio firmado entre Banco Central do Brasil e Poder Judiciário (BacenJud), hoje prevista no artigo 854/CPC, nasceu como um instrumento a conceder mais efetividade ao processo de execução [...]”. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+ de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial>. Acesso em: 2 mar. 2020. IMPORTANT E 6 PROCESSO CAUTELAR Com a reforma do CPC em 2015, houve também uma evidente modificação no regramento das cautelares como um todo. Possibilitando à extinção do processo cautelar autônomo e ainda viabilizando a unificação do procedimento pelo qual elas deveriam ser pleiteadas em juízo. Vale dizer, que as modificações trazidas ajudaram no processo de simplificação a tramitação das cautelares e, ao mesmo tempo em que acrescentaram valor ao estudo do tema, necessitam de compreensão de noções relativas ao objeto das cautelares e aos requisitos legalmente estipulados para sua aplicação no caso concreto que for apresentado em juízo. O que se teve foi a generalização da atipicidade da tutela antecipada, seja na modalidade conservativa ou satisfativa. Agora, estando presentes os requisitos genéricos para sua concessão, o juiz poderá determinar: arresto; sequestro; busca e apreensão ou qualquer outra medida conservativa. E também poderá, presentes os requisitos genéricos, conceder a tutela antecipada satisfativa. Vale lembra que essa concessão dependerá do caso concreto, não havendo mais requisitos casuísticos. Não podemos deixar de falar que com a reforma do CPC foram extintos o procedimento cautelar incidental, que era conhecido como a figura do apensamento dos autos do procedimento cautelar aos do principal. Foi extinta também a possibilidade de concessão de medidas cautelares de ofício pelo juiz. Diante de tais alterações, a nova legislação processual demonstrou a tendência sólida na retirada da autonomia do processo cautelar, transformando sua concessão em uma técnica processual esperada à preservação do resultado útil do processo, desde que sejam atendidos os requisitos legitimamente previstos para tanto. Acerca do tema, Daniel Amorim Assumpção Neves afirma que: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301252,91041-Efetividade+da+acao+de+execucao+evolucao+legislativa+jurisprudencial TÓPICO 2 | PROCESSO DE CONHECIMENTO, DE EXECUÇÃO E CAUTELAR 31 O processo autônomo cautelar desaparece, e, como nunca houve um processo autônomo de tutela antecipada, é possível afirmar que deixa de existir o processo autônomo de tutela de urgência. Há tratamento diversos quanto à natureza da tutela de urgência pretendida quando o pedido for feitode forma antecedente (NEVES, 2016, p. 67). A letra da lei trazida pelo atual Código estabeleceu o regime das tutelas provisórias em livro próprio, as quais contam com disposições gerais comuns previstas nos Artigos 294 a 299; tutela de urgência prevista nos Artigos 300 a 310; e tutela de evidência prevista no Artigo 311, todos do referido diploma — que devem ser artigos de leitura obrigatória para todos os alunos. Ao ler os referidos artigos, fica evidenciado a existência de alteração referente à desnecessidade de requerimento expresso da parte para que sejam concedidas as denominadas tutelas provisórias. Nesse contexto, destaca-se o posicionamento de Daniel Amorim Assumpção Neves (2016, p. 68) que, em comparação com o Código de Processo Civil revogado, afirma: No Novo Código de Processo Civil não há previsão expressa condicionando a concessão de tutela provisória de urgência a pedido expresso da parte, afastando-se, assim, da tradição do art. 273, caput, do CPC/73. Por outro lado, também não existe um artigo que expressamente permita a sua concessão de ofício, ainda que em situações excepcionais, como ocorria no CPC/1973 com o art. 797. Ainda é preciso dizer que as tutelas provisórias se dividem em tutela de evidência e de urgência. A tutela provisória é gênero, do qual a tutela de urgência e a tutela de evidência são espécies. TUTELA DE URGÊNCIA TUTELA DE EVIDÊNCIA - A tutela de urgência exige demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado do processo. - Artigo 300, CPC. - A tutela da evidência independe de tais requisitos, porque ela é uma tutela “não urgente”. - Artigo 311, CPC. QUADRO 3 – TIPOS DE TUTELA FONTE: O autor A tutela de urgência comporta uma subdivisão ainda: • Tutela provisória de urgência antecipada ou satisfativa: asseguram a efetividade do direito material, aqui o direito material está em risco. • Tutela provisória de urgência cautelar: asseguram a efetividade do direito processual, aqui a efetividade futura do processo estará em risco. UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 32 Já as tutelas da evidência não possuem uma subdivisão em espécies. Contudo, é possível perceber que a sua concessão prevista nos quatro incisos do artigo 311 do NCPC, ocorre segundo dois critérios básicos: • Quando o direito material da parte que pleiteia a tutela é evidente. • Quando uma das partes está, declaradamente, protelando o processo ou abusando do exercício do seu direito de defesa. Devendo juiz da causa ficar atento para estes fatos que são factíveis de ocorrer em sede de processo. Para saber mais do assunto leia os artigos indicados. • A audiência una como uma possível solução para o problema da morosidade do processo civil brasileiro, de Rodrigo Cunha Ribas, para o site Migalhas, disponível no endereço: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI306273,101048-A+audiencia+una +como+uma+possivel+solucao+para+o+problema+da. • Novo CPC traz mudanças no cumprimento definitivo de sentença, de José Rogério Cruz e Tucci, disponível em : https://www.conjur.com.br/2015-nov-17/paradoxo-corte- cpc-traz-mudancas-cumprimento-definitivo-sentenca. DICAS https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI306273,101048-A+audiencia+una+como+uma+possivel+solucao+para+o+problema+da https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI306273,101048-A+audiencia+una+como+uma+possivel+solucao+para+o+problema+da https://www.conjur.com.br/2015-nov-17/paradoxo-corte-cpc-traz-mudancas-cumprimento-definitivo-sentenca https://www.conjur.com.br/2015-nov-17/paradoxo-corte-cpc-traz-mudancas-cumprimento-definitivo-sentenca 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • As audiências de instrução e julgamento, também denominadas (AIJ) pelos juízes, serventuários e advogados se caracterizam por ser a parte mais importante do processo de conhecimento. • Jurisdição, no campo do processo civil, é a função de resolver os conflitos que a ela sejam dirigidos. Não importando, se estes conflitos, se deram por pessoas naturais, jurídicas ou entes despersonalizados. • A jurisdição comum: compreende a civil e a penal. No combo da jurisdição civil, encontram-se também as demandas de natureza comercial, previdenciária e administrativa. A Jurisdição Comum atua nas esferas federal, estadual e distrital. • A jurisdição especial divide-se em trabalhista, militar e eleitoral. A jurisdição trabalhista pertence à Justiça Federal, salvo lugares menores, onde não haja justiça do trabalho, e o juiz estadual comum exercerá as funções própria do magistrado trabalhista. • A jurisdição voluntária tem caráter administrativo, resolvendo um negócio judicial com a participação do juiz, a jurisdição contenciosa tem caráter jurisdicional, com objetivo a pacificação social, substituindo a vontade das partes que, se não for cumprida, pode ser aplicada de modo coercivo. • A Lei 11.232/05, alterou essa sistemática do processo civil e sua subdivisão, uma vez que agora o processo de execução limitou-se a servir apenas para a satisfação dos títulos executivos extrajudiciais. • Ocorreu uma união do processo de conhecimento com o de execução, surgindo apenas uma fase no processo de cognição chamada de “cumprimento de sentença”. • Pode haver a extinção do processo cautelar autônomo e ainda viabilizando a unificação do procedimento pelo qual deveriam elas ser pleiteadas em juízo. 34 1 Sabe-se que a AIJ é ato processual solene, conduzido pelo juiz, de acordo com o Código De Processo Civil, é correto dizer: a) ( ) Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes, independentemente do emprego anterior de outros métodos de solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem. b) ( ) Instalada a audiência, o juiz tentará analisar as provas e dará a sentença na hora. c) ( ) Instalada a audiência, o juiz habilitará os credores e tomará o depoimento das partes e das testemunhas arroladas. d) ( ) Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as partes por meio da mediação e da arbitragem, não conseguindo êxito, proferirá a sentença. 2 Jurisdição é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça, neste sentido ela se classifica em: a) ( ) Adversarial e Inquisitorial. b) ( ) Cooperativa e participativa. c) ( ) Contenciosa e Voluntária. d) ( ) Comum e Complexa. 3 É modalidade de procedimento especial de jurisdição voluntária de acordo com o novo CPC, exceto: a) ( ) Arrecadação de bens da herança jacente. b) ( ) Arrecadação de bens dos ausentes. c) ( ) Arrecadação de terras devolutas. d) ( ) Interdição. 4 O novo CPC sepultou a necessidade de um processo autônomo (chamado de processo de execução) para as hipóteses de títulos executivos judiciais. Ocorreu uma união do processo de conhecimento com o de execução, surgindo apenas uma fase no processo de cognição chamada de: a) ( ) Cumprimento de sentença. b) ( ) Processo de execução. c) ( ) Processo cautelar. d) ( ) Processo executório pró forma. AUTOATIVIDADE 35 5 As tutelas provisórias se dividem em tutela de evidência e de urgência, neste sentido, sobre elas, é correto afirmar de acordo com o CPC: a) ( ) A tutela da evidência depende de provar o perigo, porque ela é uma tutela urgente e emergente. b) ( ) A tutela da evidência depende de provar a probabilidade de perigo e dano porque ela é uma tutela “não urgente”. c) ( ) A tutela de urgência não exige demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado do processo. d) ( ) A tutela de urgência exige demonstração de probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado do processo. 36 37 TÓPICO 3 AÇÃO PROCESSUAL CIVIL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A ação processual civil é um desdobramento prático que existe em decorrência do processo para salvaguardar o direito material dos jurisdicionados.Tendo em vista o grande número de processos no Brasil, é fundamental de que o mecanismo processual seja bem arranjado e dotado de celeridade e economia. Vale ainda observar que para a realização das ações é fundamental que exista a jurisdição consolidada bem como a atuação dos juízes, serventuários, advogados e membros do ministério público, todas estas pessoas de alguma forma estão envolvidas na viabilidade de sucesso das ações processuais. Ademais, o Estado juiz deve ser o grande garantidor, para que as partes em juízo obtenham uma solução satisfativa para seus conflitos. Por isso, modernamente se pensa o processo de modo colaborativo ou cooperativo. O processo cooperativo a partir de agora é uma realidade a ser praticada em nosso ordenamento processual civil por meio dos juízes e o despertar de consciência em todos aquele que usam a máquina judiciária. 2 RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL Sabe-se, de longa data, no estudo das disciplinas de processo que toda relação jurídica processual se dá por meio de uma ação, o que é doutrinariamente concebida como um direito público abstrato de requerer a tutela jurisdicional do Estado (WAMBIER et. al. 2001). Anteriormente, pensava-se que a ação era inseparável do direito material, ou seja, todo processo seria considerado a instrumentalização de um direito material previamente positivado. Atualmente, com a ideia consolidada de que a ação consiste num direito autônomo, concluiu-se a persuasão desta teoria civilista, até porque tal teoria seria insustentável diante de uma sentença que julga improcedente o pleito de um direito material existente, e ainda por cima que esteja devidamente positivado. 38 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Simultaneamente, a entrada em vigência do Novo Código de Processo Civil de 2015, a concepção de relação processual fi cou antiquada, tendo em vista que o conceito de relação processual como dependência das partes em relação ao Juiz foi substituído por uma vinculação de cooperação através dos três agentes, dando, afi nal, uma plena autonomia para as partes. Em síntese, afi rma a doutrina que a relação jurídica de direito processual é formada por: FIGURA 4 – RELAÇÃO JURÍDICA FONTE: O autor Trata-se de uma composição mínima, podendo existir excepcionalmente processo sem a presença de um autor em caso de demandas iniciadas de ofi cio pelo juiz. Pode, também, vir a ter em caráter de exceção demanda sem réu (processo objetivo). Assim, a estrutura da Figura 4 é a que normalmente vemos no caso concreto diariamente. A doutrina majoritária também denomina essa relação como tríplice e triangular, na qual a relação entre os sujeitos é indireta, passando sempre pelo estado-juiz. Há muitas teorias sobre as posições dos sujeitos processuais. A relação jurídica processual é indiscutivelmente trilateral, no entanto, há defensores da doutrina angular que asseguram não subsistir nenhuma relação através do autor e do réu, porquanto tudo realizado por meio do Juiz e há os defensores da teoria triangular que afi rmam que existe sim relação entre as partes e entre as partes e o juiz, por exemplo, a obrigação de lealdade e o direito e o dever à veracidade. A doutrina também faz uma outra divisão em relação ao sistema, dividindo-os em dois tipos: • Inquisitorial: possui um protagonismo do juiz — produção dos objetivos do estado maior. • Adversarial/dispositivo: o juiz não interfere, ele tem a participação condicionada à vontade das partes, que determinam não só a existência e extensão do processo, como também o seu desenvolver-se, que dependerá de provocação para que prossiga. Antes da alteração em 2015, o Brasil utilizava um modelo muito mais inquisitorial do que adversarial, como ainda perdura no processo penal. Nestes casos o juiz age no processo em nome do Estado, exercendo uma autoridade soberana. A relação entre o juiz e as partes é tipicamente de direito público com uma conformação vertical e hierarquizada. Agora, o novo Código de Processo TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 39 Civil rompeu com esse modelo, estabelecendo um sistema que estamos chamando de cooperativo e que traz uma hibridez na atuação a fim de usar o que tem de melhor nos dois sistemas. O princípio da cooperação por sua vez, já é muito discutido em países como Portugal e Alemanha, ambos da tradição civil law também, que também são voltados essencialmente à ação do juiz no processo, estão também se afastando da figura emblemática do juiz que funcionará agora tão somente como um distante fiscal da observância das regras legais. Com a implantação deste novo sistema não haverá mais que se falar em protagonismo do juiz e não há mais subordinação das partes. Assim, o termo relação processual utilizado durante anos, não fica mais tão adequado aqui. Ainda levará um tempo, em termos práticos para a superação da teoria inquisitorial, mas se pode afirmar que com esse novo sistema denominado cooperativo, o juiz e as partes tem a mesma importância. Vale destacar que este modelo cooperativo de processo surge em razão do advento do Estado Constitucional e das construções doutrinárias a fim de estimular a todos os ramos do direito a se constitucionalizar. Se trata de um modelo que exprime um processo assentado na cooperação/ participação dos integrantes da relação processual, por isso há tanta relevância para os métodos autocompositivos como mediação, conciliação e arbitragem. Um processo que busca assegurar e garantir os direitos, constitucionais especialmente direitos fundamentais. Agora o processo pode ser visualizado como um modelo estruturado por meio de pressupostos sociais com participação e diálogo das partes. E o fomento à argumentação e a fundamentação ética da boa-fé objetiva e busca pela verdade real. Este último tem por base principiológica os princípios da colaboração, do contraditório, do devido processo legal e da boa-fé objetiva conforme já viram em outras aulas. O processo cooperativo a partir de agora é uma realidade a ser praticada em nosso ordenamento processual civil por meio dos juízes e o despertar de consciência em todos aquele que usam a máquina judiciária. A CF/88 dá sustentação para a sua implementação. No novo Código de Processo Civil está repleto de dispositivos que dão respaldo às regras de cooperação que tanto falamos aqui. O novo CPC deixa evidente a predominância do princípio do dispositivo, de forma a ser vontade das partes a fonte de determinação do procedimento. Dessa forma, o processo não é mais uma relação processual e sim um procedimento que se desenvolve por meio do princípio do contraditório — procedimento é a produção de um ato de poder que nesse caso tem que se desenvolver em contraditório, ou seja com antíteses, para se chegar a uma conclusão. 40 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL O Código Civil de 73 deixa claro o protagonismo do juiz diante da relação e da ação processual, com a entrada em vigor do novel diploma, o termo relação processual provavelmente não será mais empregado, tendo em mente, diante do que se aprendeu, que não há mais uma relação de subordinação declarada das partes perante o juiz. Por fim, viu-se que o processo se torna cooperativo neste novo código, onde o juiz e as partes possuem a mesma importância. Tal mudança de entendimento possibilita que o processo civil possua uma construção de decisões melhores e um processo mais legitimo e eficiente para todos aqueles que se utilizam do sistema. Essa mudança foi de relente importância para o processo civil contemporâneo. Momento em que o processo será a tradução das relações estabelecidas entre as partes e o juiz para resolução do conflito da melhora forma. E lembrando que as bases para estas decisões serão a boa fé e a coparticipação, acreditando e buscando um resultado com uma decisão construída consensualmente e que não vai surpreender nenhuma das partes envolvidas. Sobre Cooperação no novo CPC (primeira parte): os deveres do juiz,acesse o site do Migalhas no endereço: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI226236,41046- Cooperacao+no+novo+CPC+primeira+parte+os+deveres+do+juiz. DICAS 3 ATOS PROCESSUAIS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E FORMA Inicialmente, cabe esclarecer que os atos processuais se referem às movimentações que podem ser denominadas de: declarações, petições, decisões, entre outras e ocorrem durante o desenrolar do processo. Em primeiro lugar, os atos processuais podem ser definidos como ações praticadas no decorrer de um processo. Noutras palavras, trata-se das petições, das ações, dos recursos, dos movimentos que impulsionam toda a marcha processual e vão produzindo consequências jurídicas. Exemplo: quando há interposição de um recurso poderá, ou não, suspender um processo. Assim, este ato praticado — interposição do recurso — conduzirá o processo em direção a uma decisão de mérito. Mesmo podendo ser proferida uma decisão sem resolução de mérito, o objetivo de toda lide é que o seu mérito seja analisado de modo competente. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI226236,41046-Cooperacao+no+novo+CPC+primeira+parte+os+deveres+do+juiz https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI226236,41046-Cooperacao+no+novo+CPC+primeira+parte+os+deveres+do+juiz TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 41 Em um segundo momento, o tempo e o local dos atos processuais são determinados a partir das necessidades específicas de cada tipo de ato. Desse modo, dependerá do gênero e da espécie e a competência, e ainda do prazo processual. Por fim, deve-se ter em mente, que o que se pretende é a melhor proteção do direito material em litígio. Caminhando para o fim, é importante que seja considerado o princípio do devido processo legal. Quando pensamos e estudamos os atos processuais, os critérios de comunicação são de alta importância — como os atos de citação e de intimação. Desta feita, quando as previsões legais para a prática desses atos não são respeitadas, eles podem ser invalidados. E, junto deles, o processo na integralidade. É imprescindível fazer algumas advertências em relação à maneira como os atos processuais devem ser conduzidos, conforme o novo CPC. O Artigo 188, prevê a liberdade das formas, isso significa que, exceto quando houver exigência expressa da lei por uma determinada forma, todos os atos poderão ser conduzidos com qualquer forma, desde que atendam a sua finalidade e desde que observem seus requisitos essenciais. Vide literalidade: “Artigo 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial” (BRASIL, 2015, s.p.). Já o Artigo 189, traz sobre a publicidade dos atos processuais. Desse modo, qualquer pessoa pode ter acesso a eles, à exceção dos processos que correm em segredo de justiça, cujos autos somente as partes e seus procuradores podem examinar. O Artigo 192, por sua vez, exige o uso obrigatório de língua portuguesa. Veja: Artigo 192. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa. Parágrafo único. O documento redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntado aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (BRASIL, 2015, s.p.). Visto isso, podemos, agora, passar para a análise dos atos processuais do juiz são divididos em três grupos: • Despachos: ato judicial — pronunciamento que não põe fim ao processo, apenas delibera sobre alguma matéria. • Decisões interlocutórias: um dos atos praticados pelo magistrado dentro de um processo em que decide uma questão incidental sem a resolução do mérito. • Sentenças: é o pronunciamento que encerra a fase cognitiva do processo e é dado pelo juiz. 42 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Seguindo na análise de artigos importantes sobre os atos processuais, não podemos olvidar do Artigo 239, do CPC que fala sobre a citação: a citação do réu ou executado é indispensável para que o processo seja coberto de validade, ainda que o comparecimento automático supra a falta do ato. Neste sentido: Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. § 1º O comparecimento espontâneo do réu ou do executado supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à execução. § 2º Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo de: I - conhecimento, o réu será considerado revel; II - execução, o feito terá seguimento (BRASIL, 2015, s.p.). Além do mais, o despacho da citação tem o efeito de interromper o prazo decadencial ou outros de caráter extintivo, retroativamente à data em que a ação foi proposta conforme demonstrado no Artigo 240, parágrafo 1º, desde que a parte forneça todos os elementos necessários para a concretização do ato. Dessa forma, a parte não é prejudicada por um atraso pelo qual o judiciário é o único responsável. A citação será feita diretamente à pessoa do citado e pode ser concretizada em qualquer lugar em que ele se encontre, muito embora o Novo CPC liste algumas exceções. Existem cinco meios possíveis, a saber: • Envio pelo correio. • Entrega em mãos, por meio de oficial de justiça. • Entrega em mãos, por meio de escrivão ou chefe de secretaria, se a parte citada comparecer ao cartório. • Por edital. • Por meio eletrônico, seguindo as determinações da legislação, especialmente da Lei 11.419/2006. Sobre o elemento tempo, o novo CPC decide que os atos processuais devem ser realizados em dias úteis, das 6h às 20h (Artigo 212). Em regra, não se realizam atos nas férias forenses e nem nos feriados (Artigo 214). O que se denomina recesso forense. No entanto, existem ressalvas para preservar os direitos materiais das partes. Assim, se um ato for iniciado antes das 20h, existindo prejuízo no adiamento, ele deverá ser concluído no mesmo dia, mesmo que após o prazo, como é a determinação pelo Artigo 212 §1º. No caso dos processos eletrônicos, os atos podem ser realizados até às 24h do último dia do prazo processual, o que garante algumas horas a mais, conforme disposto no Art. 213. Vejam os respectivos diplomas na íntegra: TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 43 Art. 212. Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas. § 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano. Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo. Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento do prazo (BRASIL, 2015, s.p.). O regulamento para o local dos atos processuais é estabelecido no art. 217 do CPC, de acordo com o qual eles devem ser efetivados na sede do juízo. São aceitadas exceções, porém, se: existir motivo de deferência, ou seja, respeito a alguém: Exemplo: tomar depoimento do Presidente da República na sua residência ou local de trabalho: • For de interesse da justiça. • For exigido pela natureza do próprio ato. • Houver algum obstáculo para as partes. No último caso, deve ser feita uma argumentação justificando a realização do ato em outro local, com acolhimento do pedido pelo juiz para que tudo transcorra da melhor maneira possível. 4 NULIDADES PROCESSUAIS O presente tópico visa pontuar as invalidades dos atos processuais, apresentando conceitos e o embasamento legais sobre as nulidades relativas e absolutas, as irregularidades e os atos inexistentes. Importa esclarecer, que a invalidade do ato processual acontece no momento em que o ato processualmente defeituoso é concretizado,logo se diz que ele não pode ser reaproveitado para a continuidade e prática do processo que estava ocorrendo. Acerca do tema Ovídio A. Baptista da Silva ensina que: Os atos processuais, como todos os atos jurídicos, podem apresentar certos vícios que os tornem inválidos e ineficazes. No campo do processo civil, estes vícios em geral, decorrem da inobservância de forma por meio da qual um ato determinado deveria realizar-se. Observe-se que o conceito de forma, aqui deve corresponder ao modo pelo qual a substância se exprime e adquire existência, compreendendo, além de seus requisitos externos, também as circunstâncias de tempo e lugar, que não deixam de ser igualmente modus por meio dos quais os atos ganham a existência no mundo jurídico (BAPTISTA, 2006, p. 98). Desta forma, o ato defeituoso permanecerá a produzir seus efeitos no campo do processo, isto ocorrerá até o mesmo ter sua invalidade determinada. A invalidade do ato processual ao ser decretada, poderá ser feita de ofício, ou por provocação das partes e sempre terá um caráter de sanção/punição. 44 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL No âmbito do processo civil, para que um referido ato seja considerado inválido, ele deve, concomitantemente, ser defeituoso em termos processuais e ocasionar em prejuízo. Por prejuízo, compreende-se a capacidade do defeito para impedir que a finalidade do ato seja atingida, ou seja, não há nulidade processual sem prejuízo, como bem determina a doutrina majoritária. O Código de Processo Civil de 2015, traz importantes artigos sobre a temática, que são os 281 a 283 referente as nulidades processuais que merecem uma leitura atenta: Artigo 281. Anulado o ato, consideram-se de nenhum efeito todos os subsequentes que dele dependam, todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam independentes. Artigo 282. Ao pronunciar a nulidade, o juiz declarará que atos são atingidos e ordenará as providências necessárias a fim de que sejam repetidos ou retificados. § 1o O ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte. § 2° Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta. Artigo 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais. Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte (BRASIL, 2015, s.p.). De acordo com a regra geral, os atos das partes poderão ser invalidados apenas quando não possuir coisa julgada material. Os atos podem, ainda, ser declarados inválidos de oficio pelo juiz, ou por simples peticionamento do mesmo. As exceções a essa regra em que a invalidade pode ilidir a própria coisa julgada, estão previstas no Artigo 485, VIII, do CPC. Sendo assim, podemos afirmar que a nulidade se define como um defeito do ato, podendo ser de duas formas: • Intrínseco: nulidade no próprio ato. • Extrínseco: se trata de vício ocorrido antes do ato ser praticado, mas que viciou todos os atos seguintes. As invalidades processuais podem também ser classificadas de acordo com a sua gravidade, veja: • Nulidade relativa: desobedece à exigência estabelecida pelo ordenamento legal infraconstitucional, colocada no interesse predominante das partes. • Nulidade absoluta: norma que viola preceito constitucional, precisamente, princípios constitucionais (ampla defesa, contraditório etc.). TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 45 Assim, em linhas finais, ainda se poder dizer que a nulidade relativa emana de ofensa a uma norma dispositiva, ou seja, ela se origina da afronta a uma norma que tutela um interesse disponível da parte. Toda nulidade depende de arguição da parte interessada, não será possível a sua decretação de ofício, tendo como regra geral o prazo de cinco dias, previsto no Artigo 218, § 3º do CPC. 5 SENTENÇA – ELEMENTOS E EFEITOS DA SENTENÇA Tendo em vista o Artigo 203, parágrafo 1º, do Código de Processo Civil, "sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos Artigos 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução". Dessa forma, a sentença é considerada como o ato do juiz que extingue o processo com ou sem resolução de mérito. A sentença pode ainda, rejeitar ou acolher os pedidos do autor. Nesses termos, sentença pode ser definida como a decisão do juiz sobre os pedidos formulados na petição inicial, ainda que o processo tenha andamento. De acordo com o art. 489 do CPC, os elementos essenciais da sentença são: • Relatório: parte que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com o resumo do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências, se houver, no andamento do processo. • Fundamentos: em que o juiz analisará as questões de fato e de direito. • Dispositivo: em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. Neste momento, para compreendermos melhor as interfaces que envolvem a sentença, vamos analisar os dispositivos legais afetos ao tema. Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, veja os incisos do art. 489, §1º, CPC na íntegra: I- se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II- empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III- invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV- não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V- se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI- deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento (BRASIL, 2015, s.p.). 46 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Visto isso, ainda se pode mencionar com base nos §2º e §3º do referido 489 do CPC que: “no caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão” (BRASIL, 2015, s.p.). E que: “a decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé” (BRASIL, 2015, s.p.). . No Artigo 490 do CPC, está decretado que: “O juiz resolverá o mérito acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, os pedidos formulados pelas partes” (BRASIL, 2015, s.p.). Tendo, o magistrado que fazer esta seleção na sua atividade judicante. Ademais, no Artigo 491 percebe-se que: Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I - não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II - a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. § 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. § 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença (BRASIL, 2015, s.p.). Prosseguindo com a análise dos dispositivos legais, vê-se que o Artigo 492 estipula a seguinte redação: “É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida,bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado” (BRASIL, 2015, s.p.). Ou seja, não se pode existir sentença, citra petita, ultra petita e extra petita. Sendo assim, segue o parágrafo único do mesmo artigo, esclarecendo que: “A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional” (BRASIL, 2015, s.p.). Segundo o Artigo 493, se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a decisão. Assim, de acordo com o parágrafo único do mesmo diploma: “Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir” (BRASIL, 2015, s.p.). De acordo com o Artigo 494, após publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la em dois casos, a saber: a) para corrigir lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; b) por meio de embargos de declaração, conforme estipula os incisos em lei. TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 47 Por fim, o Artigo 495, vai nos dizer que a decisão que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo de hipoteca judiciária: § 1º A decisão produz a hipoteca judiciária: I - embora a condenação seja genérica; II - ainda que o credor possa promover o cumprimento provisório da sentença ou esteja pendente arresto sobre bem do devedor; III - mesmo que impugnada por recurso dotado de efeito suspensivo. § 2º A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração expressa do juiz ou de demonstração de urgência. § 3º No prazo de até 15 (quinze) dias da data de realização da hipoteca, a parte informá-la-á ao juízo da causa, que determinará a intimação da outra parte para que tome ciência do ato. § 4º A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro. § 5º Sobrevindo a reforma ou a invalidação da decisão que impôs o pagamento de quantia, a parte responderá, independentemente de culpa, pelos danos que a outra parte tiver sofrido em razão da constituição da garantia, devendo o valor da indenização ser liquidado e executado nos próprios autos (BRASIL, 2015, s.p.). Desse modo, vimos todas as peculiaridades processuais referente à sentença, o que servirá para compreensão do processo civil, penal e do trabalho em alguma medida, guardadas as diferenças de cada área. Por último, analisaremos a coisa julgada. 6 COISA JULGADA: ORIGEM, CONCEITO E ESPÉCIES DE COISA JULGADA A coisa julgada se trata de um instituto protegido pela Constituição, que, conjuntamente aos institutos do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, previstos no rol dos direitos fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro, mas que também possui sua origem no direito romano, como a sentença. A coisa julgada, ainda busca consagrar os princípios constitucionais da segurança e da certeza jurídica. Por último, ela pode ser considerada como cláusula pétrea, não podendo ser abolida por Emenda Constitucional. Em resumo, se poderia pensar a coisa julgada como sendo uma exigência de ordem social, política, prática, para buscar sempre a solução para as incertezas. De acordo com o Artigo 502 do CPC de 2015, “denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso” (BRASIL, 2015, s.p.). Vale ressaltar, que o CPC de 1973, por sua vez, conceituava, no art. 467, a “coisa julgada material como sendo a eficácia, 48 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário” (BRASIL, 2015, s.p.). Assim, o termo “sentença”, previsto na legislação pretérita, foi trocado pela expressão “decisão de mérito”, o que abarca também as decisões interlocutórias de mérito. Importante, também é a classificação da coisa julgada, que se divide em formal e material: • Coisa julgada formal: trata-se da impossibilidade de modificação da decisão judicial dentro do mesmo processo, decorrente da preclusão dos recursos. Entretanto, o tema atingido pela coisa julgada formal poderá ser arguido em nova relação jurídica processual. Decisões, de mérito ou não, sempre terão coisa julgada formal • Coisa julgada material: trata-se da impossibilidade de modificação da decisão judicial dentro do mesmo processo ou em qualquer outro, tendo em vista que os seus efeitos se irradiam para além do processo no qual foi decidida a questão. Com base na classificação anterior, depreende-se o raciocínio de que apenas as decisões judiciais de extinção do processo com resolução de mérito fazem coisa julgada material. Assim, de acordo com o Artigo 486, caput, do CPC, “o pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação” (BRASIL, 2015, s.p.). Assim sendo, os pronunciamentos judiciais sem resolução de mérito permitirão a nova discussão da lide em outro processo, desde que a parte corrija o vício que levou à sentença sem resolução do mérito nos casos de extinção por litispendência, por exemplo. Relevante lembrar a novidade trazida no Artigo 488 do CPC de 2015, ao prescrever que, “desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485” (BRASIL, 2015, s.p.). Tal dispositivo, evidencia uma grande preocupação do legislador para que o mérito seja imediatamente decidido, formando a coisa julgada material e evitando a propositura de novas ações judiciais. Cumpre dizer que os requisitos da coisa julgada devem ser observados. Referente à coisa julgada formal, basta o trânsito em julgado da decisão proferida pelo juiz no processo, independente do exame ou não do mérito da lide, bem simples. Assim, como já visto, os seus efeitos estão adstritos ao processo no qual foi proferida a decisão. Por outro lado, para a configuração da coisa julgada material, os requisitos são mais complexos, porque envolvem, concomitantemente: TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 49 • A existência de um processo constituído de forma válida e regular. • O adequado exercício do direito de ação. • A prolação de uma decisão de mérito, nos termos do art. 487 do novo CPC. • O trânsito em julgado dessa decisão judicial, ou seja, a impossibilidade da interposição de recursos. Prosseguindo agora, com o estudo dos artigos referentes a coisa julgada, importa esclarecer que no Artigo 503 está disposto que a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida: § 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I dessa resolução depender o julgamento do mérito; II a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. § 2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial (BRASIL, 2015, s.p.). De acordo com o Artigo 504 do CPC: Art. 504. Não fazem coisa julgada: I os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença (BRASIL, 2015, s.p.). Outra situação importante, está prevista no Artigo 505 do CPC de2015, e não pode deixar se ser mencionado, pois é afeto a conduta do juiz perante a lide: Artigo 505: nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I- se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II- nos demais casos prescritos na lei (BRASIL, 2015, s.p.). Dessa forma, com a formação da coisa julgada, há a preclusão sobre a possibilidade de rediscussão dos argumentos suscitados pelas partes, conforme previa o Artigo 474 do CPC/1973: “passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido” (BRASIL, 2015, s.p.). Contudo, a regra, foi mantida também no Artigo 508 do novo CPC, com pequena modificação, com substituição do termo “sentença” pelo termo “decisão”. Referente aos efeitos subjetivos da coisa julgada, a regra do Artigo 506 do CPC de 2015 é clara de que “a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros” (BRASIL, 2015, s.p.), a inovação aparece porque no art. 472 do CPC de 1973, previa que “a sentença faz coisa julgada às 50 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros, salvo nas causas relativas ao estado da pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados” (BRASIL, 1973, s.p.) Logo, a nova redação difere da anterior. Assim, ressalta-se ser é proibido às partes discutir, no curso do processo, as questões já decididas a cujo respeito e operou a preclusão, conforme explicitado no Artigo 507 do CPC. Por fim, tem-se a análise das exceções à coisa julgada. Por fim, as principais exceções à coisa julgada, citadas pela doutrina e pela jurisprudência, são as seguintes: • O cabimento da ação rescisória, que permite a modificação da decisão no prazo de até 2 (dois) anos do seu trânsito em julgado, desde que preenchidos os requisitos legais. • As decisões proferidas em relações de caráter continuado, como o pagamento de pensão alimentícia, que não transitam em julgado caso haja alteração da situação fática que ensejou a sua prolação. • A possibilidade de modificação das sentenças em processos de investigação de paternidade, proferidas anteriormente à existência do exame de DNA, uma vez que, de acordo com entendimento do STJ, o exame de DNA constitui “documento novo” para fins do ajuizamento da ação rescisória. • Erros materiais e de cálculo, que também não transitam em julgado, podendo ser corridos de ofício pelo juiz ou a requerimento da parte interessada (SILVEIRA, 2018). Para resumir o exposto, alguns limites à coisa julgada pensados pela doutrina e jurisprudência são: a possibilidade do ajuizamento de ação rescisória, das relações de caráter continuado, nos casos de investigação de paternidade que envolvam novas técnicas (como o exame de DNA), e a existência de erros materiais ou de cálculo, como muito foi colocado nas letras acima. Para saber mais do assunto leia o artigo. • Qual o modelo de processo foi adotado pelo Novo CPC? Publicado por Flávia Teixeira Ortega no site Jusbrasil. Disponível em: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/ noticias/333505542/qual-o-modelo-de-processo-foi-adotado-pelo-novo-cpc. DICAS https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/333505542/qual-o-modelo-de-processo-foi-adotado-pelo-novo-cpc https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/333505542/qual-o-modelo-de-processo-foi-adotado-pelo-novo-cpc TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 51 LEITURA COMPLEMENTAR Conceito processual de sentença no novo Código de Processo Civil Marcos de Araújo Cavalcanti Natália Peppi Cavalcanti O conceito processual de sentença tornou-se um dos temas mais discutidos nos últimos anos, muito em razão da alteração legislativa promovida pela Lei 11.232/2005, que modificou a redação do parágrafo 1° do artigo 162 do CPC/1973. De acordo com a redação original desse dispositivo, a “sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”. Isto é, nos termos da redação originária do CPC/1973, consideravam-se as consequências e os efeitos do pronunciamento do juízo para sua definição de sentença. Destarte, para um pronunciamento do juízo ser uma sentença, deveria extinguir o processo com ou sem resolução do mérito. Parte da doutrina criticava o critério estabelecido na redação original do parágrafo 1° do artigo 162 do CPC/1973, o que levou o legislador a alterar o dispositivo, especialmente para compatibilizá-lo com a reforma da execução de título judicial, que passou a ser feita através de cumprimento de sentença como mera fase do processo. Após a reforma feita pela Lei 11.232/2005, o processo passou a ser sincrético, sem a ruptura legal que existia entre o processo de conhecimento e o processo de execução. Por essa razão, a Lei 11.232/2005 alterou a redação do artigo 162, parágrafo 1º, dispondo que “sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos art. 267 e 269 desta Lei”. A interpretação literal do artigo 162, parágrafo 1°, do CPC/1973 dava a entender que a consequência do ato judicial (encerramento do processo) teria deixado de ser critério essencial para sua definição como sentença. O critério legal seria apenas o conteúdo da decisão, de modo que, se o juízo decidisse com fundamento nas situações previstas nos artigos 267 e 269 do CPC/1973, estava decidindo por sentença. No entanto, o CPC/1973 estabelecia de forma rígida que a sentença seria recorrível por apelação, as decisões interlocutórias por agravo de instrumento ou retido e os despachos seriam irrecorríveis. Diante da nova redação, surgiram ideias no sentido de que seria cabível “apelação por instrumento” quando o juízo decidisse com fundamento nos artigos 267 ou 269 do CPC/1973, mas não ocorresse a extinção do processo. Seria a situação, por exemplo, de o juízo reconhecer a ilegitimidade passiva de apenas um dos litisconsortes, sem, contudo, determinar a extinção da demanda. No entendimento minoritário da doutrina, como a decisão abrangia o conteúdo do inciso VI do artigo 267 do CPC/1973 (ilegitimidade passiva), o pronunciamento teria natureza jurídica de sentença e, portanto, seria cabível 52 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL recurso de apelação, devendo ser interposto “por instrumento”, já que não havia como ser determinada a subida dos autos ao tribunal, pois o processo ainda precisaria prosseguir com o seu rito normal em relação aos demais litisconsortes não excluídos dos autos. Importante destacar que, apesar de a Lei 11.232/2005 ter alterado a redação do parágrafo 1° do artigo 162 do CPC/1973, não houve modificação dos parágrafos 2° e 3° do mesmo artigo. Tais dispositivos estabeleciam, no diploma revogado, os conceitos legais de decisão interlocutória e de despacho. Nos termos do parágrafo 2° do artigo 162: “Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente”. Portanto, não houve alteração da definição legal relativa à decisão interlocutória, que não era definida por seu conteúdo e exigia que a decisão fosse proferida no curso do processo, antes de sua extinção. Destaque-se, ainda, que a mesma lei não excluiu a expressão “extingue-se o processo” presente no artigo 267 do CPC/1973, assim como também não retirou o termo “extinção do processo” do Título III, Capítulo VI, Livro I (processo de conhecimento). Assim, mesmo com a alteração legislativa da Lei 11.232/2005, o CPC/1973 continuou a levar em consideração a finalidade do ato para fins de definição dos pronunciamentos jurisdicionais. Por essa razão, Nelson Nery Junior afirmou que o critério de conteúdo não foi o único estabelecido pela Lei 11.232/2005. A finalidade dopronunciamento, como o seu conteúdo, continuava necessário para sua definição, pois se manteve a ideia de extinção do processo. Nessa perspectiva, mesmo com as alterações legislativas promovidas, a sentença continuou a ser compreendida como o pronunciamento jurisdicional que indicava situações previstas nos artigos 267 e 269 do CPC/1973 e que determinasse a extinção do processo. Acontece que nem sempre uma decisão com conteúdo dos artigos 267 e 269 do CPC/1973 acarretava a extinção do processo. Daí porque a doutrina passou a identificar a existência de decisões interlocutórias com conteúdo de sentença. Isto é, embora o conteúdo da decisão fosse de sentença, o pronunciamento jurisdicional era proferido no curso do processo, não o extinguindo por inteiro. Por exemplo, a decisão que excluía um litisconsorte facultativo do processo (artigo 267, VI, do CPC/1973); ou que indeferia o processamento da reconvenção, prosseguindo a causa originária (artigo 267, I, CPC/1973); são pronunciamentos que, embora possuíssem conteúdo de sentença, eram tidos como decisões interlocutórias, especialmente para fins de recorribilidade. Portanto, a doutrina majoritária entendia cabível o agravo de instrumento. O CPC/2015, atento às discussões doutrinárias e jurisprudenciais relativas ao tema, estabeleceu uma melhor e mais clara definição para os pronunciamentos jurisdicionais (sentença, decisão interlocutória e despacho). De acordo com o parágrafo 1° do artigo 203 do CPC/2015, “sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução”. O CPC/2015 estabelece, portanto, que a sentença será definida por seu conteúdo (situações arroladas nos artigos 485 e 487) e por sua finalidade (encerrar a fase do processo de conhecimento http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art485 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art487 TÓPICO 3 | AÇÃO PROCESSUAL CIVIL 53 ou extinguir a execução). O CPC/2015 não exige mais a extinção do processo para que o pronunciamento jurisdicional seja definido como sentença. Tanto isso é verdade que o artigo 485 do CPC/2015 não faz referência à expressão “extingue- se o processo” como fazia o antigo Artigo 267 do CPC/1973. A sentença, portanto, encerra apenas uma fase (a do processo de conhecimento). Em seguida, outra fase será iniciada, a fase de cumprimento de sentença. Na execução, de outro modo, a sentença é o próprio pronunciamento que encerra o processo de execução. Portanto, nos termos do parágrafo 1° do artigo 203 do CPC/2015, são dois os critérios para definição de um pronunciamento jurisdicional como sentença: (a) a decisão deve ter por conteúdo uma das situações previstas nos Artigos 485 ou 489 do CPC/2015; e (b) deve determinar o encerramento da fase do processo de conhecimento ou do processo de execução. Na verdade, tecnicamente, a sentença nem sempre extingue a fase de conhecimento ou a execução definitivamente, pois os legitimados podem ainda interpor recursos ao tribunal, havendo um prolongamento dessas fases. A sentença somente irá extinguir a fase de conhecimento ou a execução se não houver recurso para o tribunal, pois, caso contrário, o acórdão proferido pelo tribunal que julgar o último recurso é que irá encerrá-las. Desse modo, sentença é o pronunciamento jurisdicional que tem por conteúdo umas das situações previstas no Artigo 485 ou 487 do CPC/2015 e que determine o encerramento da fase do processo de conhecimento ou a extinção da execução na primeira instância. Por outro lado, decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre como sentença, nos termos definidos no parágrafo 1° do Artigo 203 do CPC/2015. Ou seja, ainda que a decisão tenha por conteúdo as matérias dos Artigos 485 e 487 do CPC/2015, se não houver o encerramento da fase do processo de conhecimento ou a extinção da execução, o pronunciamento jurisdicional será decisão interlocutória. Para fins de recorribilidade, é cabível agravo de instrumento. Aliás, o Inciso II do Artigo 1.105 do CPC/2015 deixa claro que o recurso de agravo de instrumento pode ser interposto para atacar decisões de mérito. Destaque-se que o CPC/2015 admite a possibilidade de julgamento antecipado parcial do mérito. Assim, obedecidos os requisitos legais, o juízo pode proferir decisão parcial de mérito antes mesmo do pronunciamento final (sentença). De acordo com o Artigo 356 do CPC/2015, o juiz decidirá parcialmente o mérito: (a) quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles mostrar-se incontroverso; (b) quando não houver necessidade de produção de outras provas; ou (c) quando o réu for revel, tiver ocorrido o efeito material da revelia e não houver requerimento de prova. Nessas situações, o juízo profere decisão parcial de mérito, prosseguindo o processo em relação aos demais pedidos que ainda não estão maduros suficientemente para julgamento. Apesar de serem decisões de mérito, o recurso cabível é o agravo de instrumento, nos termos dos Artigos 356, Parágrafo 5°, e 1.015, II, do CPC/2015, exatamente porque as decisões são parciais, não tendo ocorrido o encerramento da fase de conhecimento no juízo de primeiro grau. 54 UNIDADE 1 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Por fim, vale dizer que o Parágrafo 3° do Artigo 203 do CPC/2015 define despachos como todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. Trata-se de um conceito residual. Se o pronunciamento jurisdicional não for sentença nem decisão interlocutória, será despacho. FONTE: <https://www.conjur.com.br/2017-out-22/opiniao-conceito-processual-sentenca-cpc>. Acesso em: 2 mar. 2020. https://www.conjur.com.br/2017-out-22/opiniao-conceito-processual-sentenca-cpc 55 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A ação consiste num direito autônomo, concluiu-se a persuasão desta teoria civilista, até porque tal teoria seria insustentável diante de uma sentença que julga improcedente o pleito de um direito material existente, e ainda por cima que esteja devidamente positivado. • No sistema inquisitorial há um protagonismo do juiz – produção dos objetivos do estado maior. No adversarial/dispositivo, o juiz não interfere, ele tem a participação condicionada à vontade das partes, que determinam não só a existência e extensão do processo, como também o seu desenvolver-se, que dependerá de provocação para que prossiga. • Os atos processuais se referem às movimentações que podem ser denominadas de: declarações, petições, decisões, entre outras e ocorrem durante o desenrolar do processo. • Os conceitos importantes são: Despachos: ato judicial – pronunciamento que não põe fim ao processo, apenas delibera sobre alguma matéria. Decisões interlocutórias: um dos atos praticados pelo magistrado dentro de um processo em que decide uma questão incidental sem a resolução do mérito. Sentenças: é o pronunciamento que encerra fase cognitiva do processo e é dado pelo juiz. • A nulidade dos atos processuais significa a invalidade do ato processual ao ser decretada, poderá ser feita de ofício, ou por provocação das partes e sempre será terá um caráter de sanção/punição. • Sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos Artigos: 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. • A coisa julgada se trata de um instituto protegido pela Constituição, que, conjuntamente aos institutos do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, previstos no rol dos direitos fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro, mas que também possui sua origem no direito romano, como a sentença. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar tua compreensão. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.CHAMADA 56 1 Uma relação jurídica será formada essencialmente por três partes, são elas: a) ( ) Autor, réu e juiz. b) ( ) Autor, réu e advogados. c) ( ) Estado-juiz, advogados e serventuários da justiça. d) ( ) Autores, Juiz e promotor. 2 O novo Código De Processo Civil, possui uma dimensão mais constitucionalizada dos seus dispositivos, isso revela a aplicação de um sistema processual em um modelo: a) ( ) Adversarial. b) ( ) Inquisitorial. c) ( ) Cooperativo. d) ( ) Constitucionalizado. 3 Sobre os atos e os termos processuais, de acordo com a literalidade da lei, posso afirmar que: a) ( ) Os atos e os termos processuais dependem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. b) ( ) Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente exigir, considerando-se inválidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. c) ( ) Os atos e os termos processuais dependem de forma determinada, cumprindo o que a lei expressamente exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. d) ( ) Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. 4 O conceito de sentença de acordo com a legislação vigente, está melhor delineado na alternativa: a) ( ) É o pronunciamento por meio do qual o juiz, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. b) ( ) Decisão de uma questão incidente sem resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. c) ( ) É o pronunciamento por meio do qual o juiz, põe fim à fase cautelar do procedimento comum, bem como extingue a execução. d) ( ) Decisão de uma questão incidente com resolução do mérito, isto é, sem dar uma solução final à lide proposta em juízo. AUTOATIVIDADE 57 5 De acordo com o Código De Processo Civil, a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso, denomina-se de: a) ( ) Despacho. b) ( ) Sentença. c) ( ) Decisão interlocutória. d) ( ) Coisa Julgada. 58 59 UNIDADE 2 ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o direito processual penal e sua gama de princípios estrutu- rantes; • conhecer os critérios dos sistemas processuais brasileiros; • analisar os requisitos do inquérito policial e da ação penal; • diferenciar queixa crime de denúncia; • distinguir jurisdição e competência em matéria processual penal. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL TÓPICO 2 – INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL TÓPICO 3 – DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 60 61 TÓPICO 1 PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Durante toda a humanidade e os diversos graus de desenvolvimento do povo e da civilização, diversos valores de convivência foram inseridos em variados contextos. Como a proteção à vida, à liberdade, entre outros, até mesmo proteção no intuito de punir o infrator que violasse as normas individualizadas de cumprimento obrigatório. Quando o Estado cria normas de condutas, se criaram, também, normas sancionadoras, que se destinam a punir possíveis e prováveis transgressores do sistema penal posto. Com a vedação da autotutela (olho por olho, dente por dente — que vença o mais forte!), o Estado chamou para si a tutela jurisdicional e, assim, no que tange à esfera criminal, passou a ser o titular exclusivo do jus puniendi, ou seja, do direito de punir. Por este motivo o processo penal sempre será propriedade do Estado. Destaca-se que mesmo quando se tratar de ação penal privada, o Estado delega ao particular tão somente o poder de iniciar a ação penal, conservando para si a exclusividade do jus puniendi. Essa é uma dica demasiadamente importante! Esse direito de punir é, em um primeiro momento, genérico, abstrato e impessoal, pois dirigido à coletividade. Entretanto, passa a se tornar concreto quando determinado indivíduo comete uma infração penal. Surge, então, um conflito de interesses entre Estado, que tem a pretensão de punir e o infrator, que visa defender-se, instalando-se, assim, a chamada lide penal (lide — conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida). Assim, essa pretensão concreta de punir, chama-se pretensão punitiva, que será muito vista ao longo do curso. Entretanto, para viabilizar essa pretensão punitiva é imprescindível que haja um processo regular, que respeite todos os direitos e garantias individuais, tendo em vista que estamos sob o regime de um Estado Democrático de Direito. Assim, tal jurisdição será exercida por meio do processo, que se apresenta, portanto, como um instrumento imprescindível ao seu exercício. O processo, em sentido objetivo, pode ser definido como um conjunto de atos ordenados destinados a um fim. A essa sequência de atos, denominamos procedimento ou rito, o qual se divide em comum ou especial. O procedimento comum, por sua vez, se subdivide em: UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 62 • Ordinário: sanção máxima igual ou superior a quatro anos de pena privativa de liberdade. • Sumário: sanção máxima inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade. • Sumaríssimo: infrações penais de menor potencial ofensivo (Lei 9.099/95) — contravenções e penas que não excedam a dois anos. Em sentido subjetivo, o processo pode ser visto como uma relação jurídica que se forma entre os sujeitos processuais (juiz e partes), aplicando-se a eles os princípios constitucionais do processo, garantindo-lhes o direito ao contraditório, à ampla defesa, ao juiz natural, entre outros. Tal noção de processo constitucional, que prima por inúmeras garantias conferidas ao réu, é característica própria de uma ordem democrática, diferentemente do que ocorre no Estado totalitário, em que há supressão de tais direitos. É com base nisso que podemos falar dos diferentes sistemas processuais. 2 APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL É comum no campo do direito, afirmarmos que a aplicação da lei está diretamente relacionada com a eficácia da mesma. A eficácia, por seu turno, é a aptidão para que se possa produzir efeitos jurídicos dentro de um sistema legal. Deste modo, uma lei terá eficácia, quando produzir efeitos no mundo exterior. Os efeitos de uma lei específica podem ser limitados a um território definido (chamado de espaço) ou período de tempo definido. Tal limitação aplica-se também à lei processual penal. No que tange ao espaço, a lei processual penal é gerida pelo princípio da territorialidade. Conforme o Artigo 1º do Código de Processo Penal, a lei penal é possível de ser aplicada “em todo território nacional”. Desse modo, a lei processual penal tem eficácia em todo o território nacional. Pode-se assim dizer, que o CPP regulará todos os processos que vierem a ocorrer no Brasil, decorrentes de infrações cometidas por aqui, isso ocorre em respeito ao princípio do locus regit actum, que significa dizer que o local rege o ato. Assim, em conformidade com o disposto no Artigo 1º, desta vez em seu Inciso I, essa aplicação poderá também comportar algumas exceções. Dentre elas, quando existirem tratados e convenções internacionais adotadas pelo país — nestes casos, especificadamente, o código de processo penal, a lei processual penalvigente aqui, não será aplicada, bem como em outros casos, que merecem a leitura da lei: TÓPICO 1 | PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 63 Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade; III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial; V - os processos por crimes de imprensa. Além dos casos envolvendo os tratados e convenções internacionais, temos os casos das prerrogativas do presidente, dos ministros de estado e do STF, os processos da justiça militar e tribunal especial e ainda dos crimes de imprensa. Além dessas, outra exceção é referente a uma lei especial regulando a matéria, com base no princípio da especialidade, a lei especial deve sempre ser aplicada em detrimento da regra geral. Em casos como este, o código de processo penal terá aplicação apenas de forma subsidiária. As leis processuais são regulamentadas pela Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro — LINDB (Decreto-Lei no 4.657/1942). Deste modo, em regra, começam a viger após o período de vacatio legis (45 dias depois de publicada), caso outro prazo não seja estipulado. Assim, essa lei processual terá validade imediata e geral “respeitando o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido” conforme o Artigo 6º da LINDB. O Artigo 2º da LINDB, estabelece como regra a aplicação imediata das leis processuais penais, sem prejuízo dos atos praticados sob a vigência da lei anterior, isso é o que denominamos de princípio do tempus regit actum — a lei a ser aplicada deve ser a que vigorava na época da prática do ato. A lei, ao entrar em vigor, será aplicada desde logo, mesmo referente aos processos em curso, sem prejuízo dos atos já praticados na vigência da lei anterior. Pode-se, portanto, afirmar que a lei processual penal nova não retroage. De acordo com o art. 5º da CRFB, inciso XL – “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Não confunda com a lei processual penal, que não possui efeitos retroativos – aplicação imediata das normas” (BRASIL, 1988, s.p.). ATENCAO UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 64 3 A LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO E NO TEMPO Cabe a todo magistrado no Brasil, que esteja investido na sua jurisdição, julgar e deliberar sobre condutas ilícitas, nestes casos, ele deve obrigatoriamente aplicar o processo penal brasileiro. Pois, diferentemente do processo civil, no processo penal, o juiz deve sempre usar o processo penal para julgar os delitos, que chegue ao seu conhecimento. Nesse caso vigorará o princípio territorial exclusivo ou absoluto, ou seja, exclui a aplicação de uma lei de fora em nosso país. O enfoque processual deste princípio é de suma relevância, pois seria improvável e estranho, processar um cidadão fora do país em que ele cometeu o crime. “O juiz de um Estado soluciona as pretensões punitivas exclusivamente de acordo com a norma penal pátria; ou, em outras palavras, a jurisdição penal tem limites que correspondem precisamente aos de aplicação da própria norma penal material” (TOURINHO FILHO, 2003, p. 136). Desse modo o juiz representa a força do estado, e consequentemente desvela a soberania da nação. “Sendo, pois o processo penal o meio de que se valem os órgãos jurisdicionais do Processo Penal na resolução de suas lides e tendo em vista que integram a parte jurídica do Poder Soberano, não podem exercer seu poder punitivo além de sua soberania” (TOURINHO FILHO, 2003, p. 136). Ao pensar se houve ou não aplicação das normas processuais penais brasileiras, não se discute acerca da nacionalidade do infrator, da vítima ou do bem jurídico lesado. Bem como, não se questiona sobre a área em que o crime for cometido — território nacional ou estrangeiro — se observar se o ato ilícito é de menor potencial ofensivo ou atentatório à comunidade internacional. Assim, será analisado, pela aplicação da lei penal pátria. É importante nunca esquecer de que, nem toda discussão penal será resolvida por dispositivos conhecidos do famoso Código de Processo Penal. O Processo Penal, forma compositiva de litígios penais, continua sendo disciplinado pelas normas estabelecidas no Código de Processo Penal, que é a principal fonte de nosso direito processual penal. Ao seu lado, contudo, complementando-o, há essas leis extravagantes, alterando, modificando ou dispondo de maneira especial a respeito do processo e julgamento (TOURINHO FILHO, 2003, p. 156). Para finalizar essas notas iniciais, podemos dizer que a lei processual penal, uma vez inserida no mundo jurídico, terá aplicação imediata, atingindo inclusive os processos que estão em curso, pouco importando se traz ou não situação gravosa ao imputado (Princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata). Dessa forma, os atos já praticados antes da vigência da nova lei continuam válidos. TÓPICO 1 | PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 65 Novamente, para reforçar esta questão, a lei penal, não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. No processo penal ela não retroage nunca, pois a aplicação da lei processual penal é informada pelo princípio da territorialidade absoluta, logo, tem aplicação a todos os processos em trâmite no território nacional. Por fim, de modo geral, podemos dizer que as normas processuais têm aplicação imediata. Desde que sejam respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada conforme os seguintes dispositivos: Constituição Federal, Artigo 5º, XXXVI; Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), Artigo 6º; e Código de Processo Penal (CPP), Artigo 2º. 4 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL Muitas vezes faz-se necessária a definição etimológica de uma determinada palavra para a sua correta compreensão. Assim, para que possamos compreender os princípios que regem o processo penal, mister se faz a definição da palavra princípio. Princípio é a base de tudo, o esteio, de onde partem as coisas, sua nascente. Princípio é o local de origem, desta forma, os princípios que regem o direito processual penal constituem o marco inicial de construção de toda a dogmática jurídico-processual penal, sem desmerecer e reconhecer os princípios gerais do direito que lhe antecedem. Os princípios são de elevada importância, pois muitas respostas para determinados problemas que surgem no curso de um processo criminal estão, muitas vezes, nos princípios que o informam, porém, o intérprete ou aplicador da norma não os visualiza, dando interpretações ou aplicando normas em contraposição aos elementos primários de constituição do processo. Em se tratando de princípios da Constituição, são eles: • Princípio da inocência (não culpabilidade): tem por objetivo considerar toda e qualquer pessoa presumidamente inocente, ou seja, é inocente até que seja declarada culpada, por sentença condenatória transitada em julgado, conforme o Artigo 5º, Inciso LVII da CRFB. • Princípio do devido processo legal: seu objeto é disciplinar a atividade do Estado para apurar e punir determinados atos em face das garantias constitucionais previstas, pois de acordo com o Artigo 5º, LIV da CRFB, “ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. • Princípio do juiz natural ou constitucional: versa sobre a aplicação da lei pelo juiz competente, deste modo, o Artigo 5, LIII da CRFB aduz que: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”, o que, por conseguinte, afasta a possibilidade de existência de Juízo ou Tribunal de exceção conforme o Artigo 5º, XXXVII da CRFB. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 66 • Princípio da legalidadeda prisão: se representa por diversos postulados garantidores da liberdade individual, de modo que “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança” segundo previsto no art.5º, LXVI da CRFB. Se assim for, “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”, de acordo com o Artigo 5º, LXV da CRFB. • Princípio da individualização da pena: tem por condão garantir que a pena imposta pela conduta faltosa, não passará dos limites pessoais do condenado. De acordo com a legislação em vigor, “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação da perda de bens, ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido” conforme Artigo 5º, XLV da CRFB. Assim, “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição de liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos”. Art. 5º, XLVI da CRFB: mas “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis” (BRASIL, 1988, s.p.). IMPORTANT E Superados os princípios de matriz constitucional, adentraremos aos princípios de matriz processual, que são de elevada importância tendo em vista sua larga aplicabilidade aos casos concretos. • Princípio inquisitório ou investigatório: é uma característica muito própria do sistema processual penal brasileiro, pois inexiste em diversos países. É por ele que se mantém o inquérito policial na fase persecutória das investigações como fundamento para instauração da ação penal e está previsto no Artigo 5º do CPP. • Princípio da legalidade: por meio dele, os órgãos oficiais estão obrigados a tomar providências para a apuração de crimes cometidos no brasil bem como investigar quem é o autor em defesa e proteção da sociedade. Não possível o Estado instaurar o inquérito ou o processo segundo as conveniências momentâneas, conforme os Artigos 5º e 24 do CPP. Ainda, decorrente desse princípio temos outros dois, que são: • Princípio de indisponibilidade da ação penal pública: é por ele que se torna obrigatória a persecução penal nos crimes de ação penal pública ou pública condicionada à representação. TÓPICO 1 | PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 67 • Princípio da disponibilidade ou da oportunidade: destina-se às ações penais privadas e públicas condicionados à representação ou requisição ministerial, nestes casos, elas só serão instauradas conforme a conveniência do ofendido ou de seu representante legal, de acordo com os Artigos: 30, 33 e 34 do CPP. Veja a literalidade da lei: Artigo 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada. [...] Artigo 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem com os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal. Artigo 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal (BRASIL, 1941, s.p.). • Princípio da iniciativa das partes: de acordo com ele, cabe às partes postular a prestação jurisdicional, ou seja, existe presunção de inércia da função jurisdicional, logo “O juiz não poderá proceder de Ofício”. • Princípio da oficialidade: no Brasil, o processo é propriedade e monopólio do Estado, logo, somente ele possui pretensão punitiva. Toda e qualquer punição deve ser exercida através dos órgãos oficiais. • Princípio da publicidade: a publicização dos atos públicos é resultado da necessidade e exigência de transparência da justiça, fazendo com que todos os atos processuais, salvo algumas exceções, sejam públicos, sendo franqueadas as audiências (públicas) e sessões (de julgamento), dado o interesse social. Estando disponível no Artigo 792 CPP. Artigo 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designados (BRASIL, 1941, s.p.). • Princípio do livre convencimento: é um dos princípios mais polêmicos que temos, pois ele confere ao órgão julgador, o poder de apreciar a prova colhida, de acordo com seu convencimento, advertindo-se que toda decisão deve ser fundamentada para a prolação da sentença. Ressalta-se não haver prova com valor absoluto, sendo todas de valor relativo. Ainda importa destacar que para o juiz togado, vigora o princípio da livre convicção, para os jurados ou juízes leigos, vigora o princípio da íntima convicção. • Princípio da verdade real: busca extrair a essência das provas, pois exige ampliada investigação dos fatos, para fundamentação da sentença. Nesses casos, não poderá o juiz se satisfazer com a verdade formal (provas documentais por exemplo), pois todas as provas podem ser relativizadas, até mesmo a confissão judicial ou policial, que precisa ser considerada em face de outros elementos probatórios de convicção. A confissão do acusado não supre a falta de perícia nas infrações que deixam vestígios, por exemplo. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 68 • Princípio do contraditório ou ampla defesa: amplamente difundido na seara constitucional, assim, todo réu que tomar conhecimento da acusação que lhe é imputada, terá amplo direito de defesa. Desse modo, a prova colhida no procedimento inquisitorial não pode embasar juízo condenatório, por mais convincente que ela seja, sob pena de violação das garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Vide Artigos 261 e 263 CPP. Artigo 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada. [...] Artigo 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação. Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz (BRASIL, 1941, s.p.).. • Princípio do “favor rei” ou do “favor libertatis”: trata-se de um princípio doutrinário de fácil compreensão, segundo o mesmo, nos casos de interpretações antagônicas de uma norma processual, do julgador, deve escolher a interpretação mais favorável ao acusado, ou em favor do mesmo. • Princípio da imparcialidade do juiz: trata-se de outro princípio polêmico, tendo visto na prática a dificuldade de se conseguir essa imparcialidade. Entretanto, ao existir, ele representará uma boa garantia, possibilitando um julgamento limpo, trata-se de um dos mais importantes princípios relativos aos órgãos julgadores, e que se refere a pessoa física do juiz. “A imparcialidade é uma atitude desonesta. De duas uma: ou o imparcial está mentindo, traindo acaso as suas mais legítimas preferências, o então não passa de um exato robô, mero boneco mecânico sem opinião pessoal, sem nada de humano”. FONTE: QUINTANA, M. Da preguiça como método de trabalho. 3. ed. São Paulo: Globo, 1994, p. 80. NOTA TÓPICO 1 | PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 69 5 SISTEMAS PROCESSUAIS - ACUSATÓRIO (PRIVADO E PÚBLICO), INQUISITÓRIO E MISTO Sistema processual é o conjunto de princípios e regras que estabelecem as regras a serem seguidas quando da aplicação do direito material ao caso concreto, ou seja, o conjunto de normas que irá regero processo. 5.1 SISTEMA ACUSATÓRIO CLÁSSICO/PRIVADO Surge na Antiguidade, em uma época em que o processo tinha um caráter privado (pertencia às partes). O órgão julgador era escolhido dentro da própria sociedade (membros mais antigos) e era inerte (precisava ser provocado pela vítima). Nesse sistema, eram comuns a oralidade e a publicidade (o processo acontecia em praça pública). O órgão julgador julgava com livre convicção sem que houvesse a necessidade de justificar a decisão. Cabia à vítima e ao acusado produzir provas. Não havia equilíbrio entre as partes, posto que geralmente a vítima era de uma casta alta e o acusado era da classe dominada (a maioria dos crimes eram patrimoniais), além disso, por ser a vítima da casta alta, ela acabava indicando o órgão julgador. As características principais do Sistema Acusatório Clássico/ Privado: • Órgão julgador inerte e imparcial (em tese, pois as classes dominantes indicavam). • Feudalismo — descentralização do poder — o processo era das partes; relação triangular, em que a vítima era a acusação, havia um órgão julgador e o acusado. • Havia contraditório e ampla defesa, a despeito do desequilíbrio entre as partes • Liberdade probatória absoluta (não havia qualquer limitação). • Julgamento por íntima convicção. • Excesso de publicidade. 5.2 SISTEMA INQUISITIVO/INQUISITÓRIO A partir da centralização do poder, tendo seu auge na Idade Média, passa- se a entender que direito de punir não é da vítima, mas do Estado, já que o crime lesaria toda a sociedade. Isso vem acompanhado do surgimento da escrita e apenas o clero dominava a escrita com a profundidade necessária, logo, ao clero cabia definir as regras do processo. Daí surge o sistema do processo inquisitivo, que se opõe totalmente ao anterior. Aqui, a vítima não seria mais detentora do direito de punir, necessitando provocar um órgão que fizesse a acusação. Acontece que o próprio juiz era quem deflagrava o processo e colhia provas, comprometendo sua imparcialidade. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 70 O juiz concentrava em suas mãos as funções de acusar, defender e julgar, assim, a sua imparcialidade, visto que o próprio órgão que investiga é o mesmo que pune (não há separação de funções). Daí ter recebido este nome, uma vez que faz uma analogia ao antigo tribunal eclesiástico, que investigava e punia os crimes contra a fé. Era a chamada inquisição (inquirir = indagar, investigar). O processo, em regra, era sigiloso, não havia direito ao contraditório e à ampla defesa, já que o indivíduo não era sujeito de direitos, mas tão somente objeto de investigação/do processo. O juiz tinha amplos poderes para determinar de ofício a colheita de provas, ou seja, era dotado de ampla iniciativa probatória, o que comprometia ainda mais a sua imparcialidade. Utilizava-se o sistema da prova tarifada ou prova legal (a lei atribuía um valor a cada prova), ou seja, a cada prova atribuía-se um valor. Além disso, permitia-se que o acusado fosse torturado para que uma confissão fosse obtida, já que esta era considerada a rainha de todas as provas. Assim, resta claro que tal sistema é incompatível com o Estado Democrático de Direito, em que são assegurados direitos e garantias individuais. Perceba as principais características deste sistema a seguir: • Sistema linear (concentração das funções no órgão julgador). • O réu passa a ser mero objeto de investigação. • Não há contraditório nem ampla defesa. • Processo escrito e sigiloso. • Sistema de prova legal ou tarifada (o valor das provas estava na lei). • O julgamento passa a ser uma espécie de cálculo matemático. 5.3 SISTEMA ACUSATÓRIO MODERNO/PÚBLICO Com a evolução da sociedade e o surgimento do iluminismo, os pensadores (Rousseau e Montesquieu) começam a criticar a prática de tortura como meio para obtenção de provas, começa-se a pensar em divisão das funções do Estado. Assim, as três funções do processo deveriam ser divididas, não mais concentradas nas mãos do órgão julgador. Surge então a figura do MP (Ministério Público) como representante do Estado, responsável por deflagrar o processo penal, resguardando assim a imparcialidade do juiz. Observa-se que, apesar de existir no Brasil a ação penal privada, ela só acontece em caráter excepcional e cabe à vítima apenas iniciar a ação penal, não retirando o jus puniendi do Estado. Nesse sistema é possível observar a divisão das funções de acusar, defender e julgar, desse modo, há de se falar em contraditório e ampla defesa, notadamente porque o indivíduo não é mero objeto do processo e passa a sujeito de direitos. TÓPICO 1 | PROPEDÊUTICA DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 71 Aqui, as provas devem ser produzidas pelas partes para tentarem convencer o juiz (Sistema de apreciação da prova: íntima convicção/livre convicção), que se apresenta como verdadeiro garantidor das regras do jogo, estando assim em posição de passividade. Ao contrário do sistema inquisitorial que, em regra, era sigiloso, no sistema acusatório, a regra é a da publicidade. Verifique a seguir as principais características: • Processo triangular. • Órgão julgador inerte e imparcial. • Igualdade de partes. • Contraditório e ampla defesa. • Publicidade, mas só com a finalidade de controle da sociedade sobre os atos processuais e não mais como uma espécie de show público. • Liberdade de provas, mas não em caráter absoluto (existem restrições – provas ilícitas). • Sistema de apreciação da prova: livre convicção motivada (fundamentação) / persuasão racional. 5.4 SISTEMA MISTO Este sistema mistura características dos outros dois, apresentando duas fases: uma primeira, tipicamente inquisitorial, com instrução sigilosa e sem possibilidade de contraditório, objetivando-se apurar a autoria e a materialidade do fato delituoso (o magistrado era responsável pela colheita de provas e pelas investigações, o que comprometia sua imparcialidade). A segunda fase possui caráter acusatório, visto que o órgão acusador (MP) inicia a ação penal, o réu se defende (contraditório) e o juiz julga. Repare que ambas as etapas são de natureza processual (diferente do Brasil — inquérito é procedimento pré-processual de natureza administrativa, sendo ainda, dispensável. Pode ter processo, sem inquérito. Ex.: França, Argentina). Em nosso país, há nítida controvérsia na doutrina a respeito de qual sistema é adotado. A primeira corrente entende que seria o sistema inquisitório, posto que existem diversos dispositivos no CPP que permitem atos de ofício do juiz, como determinar a produção antecipada de provas (Artigo 156, I, CPP) e até mesmo requisitar a instauração de inquérito (Artigo 5º, II, CPP). Por outro lado, a corrente majoritária entende que o sistema adotado no Brasil é o acusatório posto que atribui ao MP a função de iniciar a ação penal, determina que, em regra, as partes devam ser responsáveis pela produção de provas e são assegurados direitos e garantias individuais ao réu. Essa corrente deve predominar de fato, pois apesar de não podermos falar em um sistema acusatório puro, já que na fase das investigações ainda predominam algumas UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 72 características inquisitoriais (sigilo, ausência de contraditório), não é possível a coexistência de um sistema inquisitório com os direitos e garantias individuais assegurados constitucionalmente. Assim, mesmo que no inquérito não haja contraditório e ampla defesa, o indiciado possui direitos assegurados constitucionalmente (Ex.: direito de saber a identidade dos responsáveis por sua prisão ou interrogatório – Artigo 5º, LXIV, CF, Artigos 288 e 291, CPP; direito ao silêncio – Artigo 186, § único, CPP). No sistema acusatório, a fase investigatória fica a cargo da Polícia Civil, sob controle externo do Ministério Público (CF, art. 129, VII), a quem, ao final, caberá propor a ação penal ou o arquivamento do inquérito. Convém mencionar que, com a reforma processual penal, passoutambém a ser possível ao juiz, ofício, a faculdade de “ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida” (art. 156, I, CPP). Assim, é possível perceber que a produção de provas ex officio só é possível em casos excepcionais. IMPORTANT E Por fim, vale ressaltar que os modelos inquisitórios e acusatórios acima explicados, recebem essa denominação a partir de definições e redefinições históricas, podendo características tradicionalmente elencadas em um dos eixos por sua afinidade lógica ao modelo histórico, não serem essenciais ao seu modelo teórico. Para além disso, quando se pretende elencar características indispensavelmente constitutivas de determinado sistema processual penal, se parte, inevitavelmente, “de juízos de valor em razão da conexão que indubitavelmente pode ser instituída entre sistema acusatório e modelo garantista e, por outro lado, entre sistema inquisitório, modelo autoritário e eficiência repressiva” (FERRAJOLI, 2002, p. 766). 73 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe o sentido objetivo e subjetivo do processo penal. • Possuem três tipos de procedimento no processo penal, ordinário, sumário e sumaríssimo. • Pode haver a aplicação da lei processual no tempo, no que tange ao espaço, a lei processual penal é gerida pelo princípio da territorialidade, vale em todo território nacional. • Pode haver a aplicação da lei processual no espaço e a lei penal, não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. • Os princípios do processo penal constitucional são imprescindíveis para o ordenamento. • Os princípios do processo penal propriamente ditos devem ser respeitados e aplicados. • O sistema processual acusatório se subdivide em público e privado. • O sistema processual inquisitório é um sistema linear (concentração das funções no órgão julgador); o réu passa a ser mero objeto de investigação; não há contraditório nem ampla defesa e o processo escrito e sigiloso. • O sistema processual pode ser misto uma primeira, tipicamente inquisitorial, e a segunda fase possui caráter acusatório. 74 AUTOATIVIDADE 1 O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados os casos de: a) ( ) Casos de guerra declarada. b) ( ) Restrição de liberdade por meio de decretação de estado de sítio. c) ( ) Tratados, ratificados no Brasil. d) ( ) Processos de competência da justiça militar. 2 “Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”, de acordo com o texto constitucional, estou diante do princípio: a) ( ) Do contraditório. b) ( ) Da ampla defesa. c) ( ) Do juiz natural. d) ( ) Da inércia da jurisdição. 3 De acordo com a literalidade do código de processo penal e referente aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, é correto afirmar que: a) ( ) Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. b) ( ) Acusado, sem prerrogativa de foro, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. c) ( ) Todo acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. d) ( ) Qualquer acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. 4 Pedro foi julgado em um processo triangular com órgão julgador inerte e imparcial, havia igualdade de partes e garantidos o contraditório e ampla defesa, neste caso o sistema de julgamento do país que Pedro foi julgado parece ser: a) ( ) Sistema misto. b) ( ) Sistema inquisitorial. c) ( ) Sistema acusatório público. d) ( ) Sistema acusatório privado. 75 5 Um processo penal que seja tipicamente inquisitorial, com instrução sigilosa e sem possibilidade de contraditório inicialmente e logo após passa a possuir um caráter acusatório, visto que o Ministério Público inicia a ação penal, o réu se defende e depois o juiz julga, pode ser considerado um: a) ( ) Sistema inquisitorial. b) ( ) Sistema misto. c) ( ) Sistema acusatório público. d) ( ) Sistema acusatório privado. 76 77 TÓPICO 2 INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O inquérito policial, por sua vez, se caracteriza na doutrina pátria como um procedimento administrativo informativo, seu objetivo é a apurar a existência de infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal disponha de elementos suficientes para promovê-la. Noutras palavras, o inquérito é o mecanismo utilizado pela autoridade policial para elucidar a pratica de infrações penais e sua autoria (art. 4º CPP). A expressão "infrações penais" engloba tanto crime/delito como as contravenções penais tendo em vista a ideia bipartida de infrações penais. Pode-se dizer ainda, que o inquérito, se trata de uma instrução provisória, preparatória e informativa, em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante, exames periciais, entre outros. Outro tema a ser tratado neste tópico é a ação penal, que se caracteriza por ser a atividade que impulsiona a jurisdição penal, sendo ela pública. A jurisdição em atividade também é ação judiciária. A ação penal se materializa no processo penal. Exercendo a jurisdição, o juiz declara direito, satisfaz direito declarado ou assegura o direito. Importa destacar em linhas iniciais, que a ação penal se divide em ação penal pública que pode ser de duas espécies: a) ação penal pública incondicionada à representação: essa é a regra geral, que se aplica todas as vezes que a legislação não mencionar a necessidade de queixa, representação ou requisição do ministro da justiça. A única exceção ocorre quando o crime for praticado contra o patrimônio da União, Estado ou Município; b) ação penal pública condicionada à representação: como o próprio nome sugere, o ajuizamento da ação penal pelo Ministério Público fica condicionado à representação do ofendido. Por fim, importa demonstrar que a ação penal pode ser também uma ação penal privada, que possui três espécies: a) ação penal privada exclusiva ou propriamente dita; b) ação penal privada personalíssima; c) ação penal privada subsidiária da pública, como veremos a seguir. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 78 2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO POLICIAL O surgimento do inquérito no direito brasileiro ocorreu com a reforma processual de 1871, através da Lei 2.003, cujo regulamento nº 4828, em seu art. 42, estabelecendo que o inquérito consistia: “na realização de todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de sua circunstância e dos seus autores de cumplices” (MACHADO, 2010, p. 88). Assim, por meio da reforma processual de 1871, o processo penal brasileiro rompeu com o “policialismo judiciário” que havia se instalado 30 anos antes, em 1841, e que atribuída funções judiciárias à polícia. Assim, com a reforma processual, “a polícia assumiu funções puramente investigatórias, desenvolvidas no âmbito desse procedimento, que passou a se chamar inquérito policial” (MACHADO, 2010, p. 88). O inquérito policial faz parte da persecução penal ou persecutio criminis (perseguição do crime): todo e qualquer ato desenvolvido com a finalidade de encontrar a autoria e materialidade do crime. É o caminho que percorre o Estado para satisfazer a pretensão punitiva. FIGURA 1 – PERSECUTIO CRIMINIS FONTE: O autor O agente responsável pela persecução na fase pré-processual é o delegado e na fase processual é, em regra, o Ministério Público (que chamaremos de MP ao longo deste material). A persecução na fase pré-processual (investigações), em regra, se dá por meio do Inquérito policial (que chamaremos de IP), que é a atividade de investigação da polícia. Ressalta-se que pode haver casos em que não haverá inquérito (Ex.: investigação pelo próprio MP), de modo que o IP é dispensável,como veremos depois. Em regra, a investigação, se desenvolve na maioria dos casos através do inquérito, que a atividade investigação da polícia, logo, essa é uma atividade de persecução penal. A persecutio criminis não se esgota na atividade de investigação penal. A atividade policial muitas vezes deflagra a persecução penal. O inquérito policial é um procedimento administrativo presidido pela autoridade de polícia judiciária de caráter informativo e inquisitivo (não há contraditório e ampla defesa). Segundo Rangel o inquérito policial é “o TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 79 instrumento pelo qual o Estado se vale na persecução penal, através da polícia judiciária, na pessoa da Autoridade Policial, sendo tal atividade integradora das funções típicas de Estado” (RANGEL, 2011, p. 102). O inquérito policial trata-se de um mecanismo utilizado pelo Estado brasileiro na busca de juntar elementos de informação para a investigação, sendo ele presidido pela autoridade policial, afim de que o titular da ação possa ingressar em juízo. Segundo Capez o inquérito policial pode ser definido como: “É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, Artigo 4º)” (CAPEZ, 2006, p. 72). O inquérito policial vem a ser o procedimento administrativo, preliminar; presidido pelo delegado de polícia, no intuito de identificar o autor do ilícito e os elementos que atestem a sua materialidade (existência), contribuindo para a formação da opinião delitiva do titular da ação penal, ou seja, fornecendo elementos para convencer o titular da ação penal se o processo deve ou não ser deflagrado (TÁVORA; ALENCAR, 2012. p. 100-101). De acordo com o Artigo 4º, CPP na sua parte final esclarece que inquérito policial “terá, por fim, a apuração das infrações penais e da sua autoria” (BRASIL, 1941, s.p.). Ou seja, pretende-se colher prova da infração e indício suficiente da autoria. Muito se fala que a finalidade do IP é instruir e viabilizar a ação penal. Instruir é verdade, mas viabilizar não é tão verdade, pois nem sempre o MP irá oferecer denúncia (Ex.: autor da infração morreu), logo, não podemos vincular a finalidade do inquérito a viabilizar a ação penal. A finalidade precípua (principal) é colher prova da infração e indício da autoria — a ação penal é uma consequência disso. O inquérito policial possui natureza jurídica de procedimento administrativo (não há ordem na prática dos atos do Artigo 6º — discricionariedade do delegado). Não se caracteriza como um processo, porque processos são formais. O inquérito tem suas formalidades, mas não há publicidade como no processo, visto que é um procedimento investigatório. O delegado, enquanto agente administrativo do Estado, desenvolve atos de natureza administrativa. Ressalta-se que o inquérito não segue um conjunto ordenado de atos como no processo (o juiz segue uma sequência ordenada de atos, pré-estabelecida pela lei, recebimento da denúncia, citação etc.). Por isso fala-se que processo formal e inquérito não, pois o delegado irá conduzir as investigações de acordo com o desenrolar desta. É certo que o Artigo 6º do CPP estabelece uma série de atos a serem praticados pelo delegado, porém, destaca-se que ele não precisa seguir tudo o que está escrito no artigo nem a ordem como aparece, pois, depende dos indícios UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 80 que aparecerão ao longo da investigação. A atuação do delegado depende da sua discricionariedade, diferente do juiz, que terá que seguir à risca os atos como determinados pela lei. O delegado colherá indícios que levarão a presunções, o que não é suficiente para uma condenação. Os atos do Artigo 6º, CPP são os chamados atos de interdição. O fato é que o inquérito não é formal, pois não segue uma sequência rígida de atos a serem cumpridos, por isso não é processo, mas sim procedimento (conjunto de atos administrativos). Diante do explicitado, pode-se dizer que a natureza jurídica do inquérito é de procedimento administrativo, por isso não precisa garantir contraditória e ampla defesa. Observa-se que o Artigo 5º, LV da CF garante contraditório e ampla defesa aos litigantes em processos judiciais e administrativos. Não devemos confundir processo administrativo com procedimento administrativo. Processo administrativo é para aplicação de sanções a servidores públicos. No inquérito não há sanções a serem aplicadas pelo delegado, não há litigantes nem acusados (somente indiciados). No inquérito, o indiciado tem diversos direitos (silencio; direito de ter advogado, apesar de não exercer ampla defesa — terá direito de petição, acompanhamento do inquérito; não produção de provas contra si mesmo etc.), o objeto da investigação é o fato criminoso, não o indiciado; no inquérito quem colhe provas é o delegado, mas ele não julga. A semelhança entre um e outro é a ausência de contraditório e ampla defesa e o sigilo, mas de resto há grandes diferenças, logo, não podemos falar que o inquérito é igual ao sistema inquisitório. Conforme o Artigo 144 da CF, a titularidade para exercer o inquérito é do órgão policial, este, por sua vez, exerce atividade de polícia ostensiva (policiamento de segurança, segurança pública; Polícia Militar, sem prejuízo das especializadas como a Polícia Rodoviária; policiamento pré-crime, conduz aquele que está em flagrante até a polícia judiciária) e Polícia judiciária (pós crime, é uma polícia repressiva, exerce atividade investigativa — atividade exercida no inquérito policial — não pertence ao judiciário, mas ao executivo. A Polícia ostensiva cuida da segurança pública — pré-crime — Polícia Militar (§5º), Polícia Rodoviária (§2º) e Polícia Ferroviária (§3º), Polícia Judiciária (repressiva) — atividade investigativa; pós-crime. Polícia Federal (§1º) e Polícia Civil (§4º), exceção: investigação no caso de inquérito policial militar — presidido pela Polícia Militar A competência está prevista no Artigo 4º, CPP — circunscrições (áreas territoriais) — a autoridade policial investiga fatos ocorridos nos limites da sua circunscrição, salvo se houver delegacia especializada (Artigo 4º, § único). TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 81 Na alteração do CCP de 1995 — na qual trocou a palavra “jurisdição” por “circunscrição” —, uma vez que delegado não exerce função jurisdicional (sua função é administrativa). A jurisdição é a atividade por meio da qual o Estado, em substituição das partes, aplica a vontade da lei ao caso concreto. A investigação, num primeiro momento, ocorre no local em que ocorreu o fato, mas há delegacias especializadas (homicídio, antissequestro, antifurto etc.) que permitem a investigação fora da circunscrição onde ocorreu o fato (Artigo 4º, Parágrafo Único). Como inquérito não é processo, não há que se falar em nulidades, logo, quando o delegado de circunscrição diversa apura fato ocorrido fora da sua circunscrição, não trará prejuízos para eventual processo futuro. Em regra, os vícios no inquérito são meras irregularidades, salvo quando se tratar de prova obtida por meios ilícitos (Ex.: mediante tortura). O IP é mera peça de informação, cujos atos não contaminam a ação penal. Artigo 22. Nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição, o delegado poderá atuar fora dos limites dessa. Cabe, neste momento, comentar sobre o destinatário do IP, ele será, portanto, o titular da ação penal (MP ou ofendido), o inquérito irá fornecer ao titular da ação penal elementos para propô-la (Destinatário imediato). Importante destacar que DESTINATÁRIO é diferente de para quem é REMETIDO o IP — Artigo 10, §1º — remetido ao juiz (não é o juiz quem faz a primeira análise do inquérito, cabe ao MP fazer a primeira análise para oferecer ou não denúncia). Distribui-se o inquérito para uma vara, concluído o prazo do inquérito, vai ao juiz e caso oMP não tenha se manifestado, o juiz irá remeter diretamente ao MP para que este analise o inquérito, decidindo se é caso de oferecer denúncia, voltar à DP (delegacia de polícia) para diligências ou requerer o arquivamento. Prosseguindo neste caminho, o juiz irá analisar depois o IP quando o MP oferecer a denúncia ou requer o arquivamento (O Destinatário mediato — secundário — é o juiz, analisa o inquérito depois do titular da ação penal). O MP funciona também como custus legis, notadamente porque tem o papel de controle externo da atividade policial (Artigo 129, VII da CF). De acordo com o Artigo 39, §5º do CPP, o IP é dispensável, visto que é uma peça acessória. O MP pode conseguir provas da infração e indício da autoria por outra forma (Ex.: CPI – também é meio de investigação). O IP tem valor meramente informativo tendo por objetivo a instrução da ação penal. Após o recebimento da denúncia, as provas serão colhidas sobre o crivo do contraditório e da ampla defesa. A lei prevê que juízes não podem julgar com base exclusivamente no IP (Artigo 155 do CPP), poderão tão somente se reportar a elementos colhidos no IP, mas é preciso que esses elementos sejam corroborados por provas colhidas durante UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 82 o processo, que tenham sido submetidas ao contraditório e à ampla defesa. Sobre o tema, o posicionamento majoritário é que não pode haver condenação com base exclusivamente em IP, mas pode haver absolvição. Há quem entenda que nem uma coisa, nem outra. Questiona-se, portanto, qual a diferença entre atos de prova e atos de investigação? Somente os atos de prova permitem um juízo de certeza — passam pelo crivo do contraditório e da ampla defesa. Na investigação, colhe-se tão somente indícios que levam apenas a presunções, ou seja, juízo tão somente de probabilidade. Em IP fala-se em colheita de provas, mas é em sentido amplo. Prova em sentido estrito é tão somente aquela colhida sob o crivo do contraditório e ampla defesa. No tocante à dispensabilidade do IP, vimos que o MP não depende do IP para oferecer a denúncia. Aproveitando o ensejo, vale fazer algumas considerações no que tange ao MP. A primeira observação que podemos fazer diz respeito à competência do MP para realizar o controle externo da atividade policial conforme Artigo 129, VII da CF. Não há lei específica regulamentando a matéria, tomando-se por base a Lei Complementar 75/1993, que tratou de definir as premissas básicas do controle externo sobre a atividade policial no âmbito da União. A referida lei é aplicada pelos Estados que não possuem regulação própria. Controle externo é igual ao controle no trâmite dos IP, cumprimento das diligências requisitadas, respeito às garantias individuais dos investigados, entre outros, previstos no Artigo 2º, Lei Complementar 75/93. O controle externo da atividade policial pelo Ministério Público tem como objetivo manter a regularidade e a adequação dos procedimentos empregados na execução da atividade policial, bem como a integração das funções do Ministério Público e das Polícias voltada para a persecução penal e o interesse público, atentando, especialmente, para o Art. 3º da referida lei: Artigo 3º. O Ministério Público da União exercerá o controle externo da atividade policial tendo em vista: a) o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados na Constituição Federal e na lei; b) a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio público; c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder; d) a indisponibilidade da persecução penal; e) a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública (BRASIL, 1993, s.p.). O controle no máximo ocorre quando o MP recebe o inquérito. O inquérito policial é remetido ao juiz (Artigo 10), o juiz encaminha ao MP, pois ele é o titular da ação penal e quem exerce o controle externo da atividade policial, assim, o TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 83 MP verifica se estão presentes as condições da ação e logo o MP decide entre: se vai oferecer denúncia, devolver à delegacia para novas diligências, ou requerer o arquivamento. Quando devolve à delegacia, começa um novo prazo para conclusão do IP. A dispensabilidade do inquérito policial ocorre também porque o inquérito não é a única modalidade investigativa que existe; o inquérito é uma espécie do gênero investigação. Existem outras formas de investigação criminal, a saber: • Inquérito pela polícia judiciária. • Inquérito pelas autoridades militares (apuração de infrações de competência da justiça militar). • Investigações pelas CPIs (art. 58, §3º da CF). • Inquérito civil público (instaurado pelo MP Artigo 129, III da CF): investiga infrações relacionadas a interesses difusos e coletivos, passíveis de ensejar uma futura ACP, entre outras. Existe grande discussão em relação à possibilidade de investigação direta por parte do Ministério público. Neste sentido, existem duas correntes, a dos que são contrários e os que são a favor, é o que vamos ver agora: Contrária à investigação direta, a literalidade do art. 144, VI da CF: compete à polícia federal “exercer com exclusividade as funções de polícia judiciária da União” (BRASIL, 1988, s.p.). O MP é o titular da ação penal, mas também exerce função de custus legis, logo, é preciso preservar sua imparcialidade que permeia tal função. Assim, se ele assume a investigação, sua função como custus legis acabaria comprometida, pois confundiria com a sua função como parte (comprometimento na função de custus legis). Não há no CPP previsão legal acerca da possibilidade de investigação direta pelo MP, logo, seria muito difícil saber quais são seus limites (não há regras definidas para a investigação por parte do MP). O STF por meio do informativo 671 – RE592737/MG: Lembrou o Artigo 4º do CPP, a impor que a apuração das infrações penais e de sua autoria seria atribuição da polícia judiciária [...]. Nesse sentido, a investigação e a preservação dos meios de prova seriam tarefas de polícia judiciária. Quanto ao organismo competente para exercer essa atividade, reportou-se ao Artigo 144, § 1º, I, II, IV, e § 4º da CF (BRASIL, 2012, s.p.). Defende a investigação direta: Majoritária — a Constituição federal não entregou a privatividade da investigação nas mãos da polícia. Embora o §1º do Artigo 144, em seu Inciso IV falar em exclusividade, está falando que a atividade policial é exclusiva da polícia, mas não fala que a investigação é só deste órgão, já que existem outras formas de investigação. Exemplos: UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 84 • Artigo 58, §3º: CPI — investigação por parte do MP nos casos de prerrogativa de função. • Artigo 129, III: Inquérito Civil Público é do MP. • Artigo 129, VI e VIII: MP pode requisitar informações e diligências de diversas instituições o que seria uma forma de investigação. • Artigo 129, VII: controle externo da atividade policial pelo MP — quem pode o mais pode o menos, já que pode controlar e requisitar diligências ao delegado, pode ele mesmo fazer. • Artigo 4º, CPP: não exclui a atuação do MP. O Ministério Público sempre soube equilibrar as suas duas funções como parte e como custus legis, então ele saberá atuar mesmo fazendo a investigação. O procedimento (regras) seriam as mesmas aplicadas ao inquérito. Assim, o MP só investigará em casos excepcionais, como o de comprometimento da polícia. De qualquer forma, o MP pode notificar entidades públicas e privadas, requerendo informações, conforme preceitua o Artigo 8º, LC 75/93, vide a literalidade: Artigo 8º – Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência: I- notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de II- ausênciainjustificada; III- requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades da Administração Pública direta ou indireta; IV- requisitar da Administração Pública serviços temporários de seus servidores e meios materiais necessários para a realização de atividades específicas; V- requisitar informações e documentos a entidades privadas; VI- realizar inspeções e diligências investigatórias; VII- ter livre acesso a qualquer local público ou privado, respeitadas as normas constitucionais pertinentes à inviolabilidade do domicílio; VIII- expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquérito que instaurar (BRASIL, 1993, s.p.) Assim, a posição majoritária adotada pela jurisprudência é pela possiblidade, o que fez cair a PEC 37 que tinha por intenção vedar a atividade investigatória do MP, sustentando que seria atividade privativa da polícia. Sugeria a inclusão de um parágrafo único ao Artigo 144, com a seguinte redação: “A apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste artigo, incumbem privativamente às polícias federal e civil dos Estados e do Distrito Federal” (BRASIL, 1988, s.p.). Em resumo, podemos dizer que há possibilidade de investigação direta pelo MP em casos excepcionais, como no Inquérito Civil Público. A proposta de emenda à constituição — PEC 37 —que conferia privativamente o poder investigativo à Polícia judiciária foi derrubada. Assim, a jurisprudência vem reconhecendo a possibilidade do MP exercer atos de investigação, como requisitar diligências e informações (não está investigando sozinho, apenas pratica atos de investigação; às vezes tais informações chegam ao MP sem ele ter solicitado, então, não haveria problema em solicitar). TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 85 3 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL O inquérito possui características próprias, por esse motivo é fundamental que elas sejam conhecidas em sua totalidade. São elas: • Dispensável: o IP é uma peça de informação e pode ser substituído por outras peças de informação (Exemplo: Artigos 12, 27, 39, §5º e 46, §1º, CPP). O MP pode promover a sua denúncia sem o IP. • Inquisitivo: não há contraditório nem ampla defesa. • Sistemático: o IP não é formal no sentido de não haver uma ordem predeterminada para a prática dos atos pelo delegado. Entretanto, é importante que seja respeitada uma cronologia na ordem dos acontecimentos, logo, o IP é sistemático. • Unidirecional: foi instaurado para apurar determinado fato. As vezes durante a investigação surgem provas de outros crimes, mas não poderá ser apurado este novo fato no mesmo IP; terá que instaurar novo IP. Se forem conexos, terá que oficializar que a partir de agora o IP também terá aquele objeto. • Escrito: Artigo 9º, CPP. • Indisponível: a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito — Art. 17, CPP. “Cabe ao MP (destinatário do IP) mandar arquivar. Não cabe ao juiz, que apenas irá proferir a decisão de arquivamento (vamos ver mais a frente)”. • Sigiloso: Artigo 20 CPP — o sigilo não alcança a figura do advogado. Em regra, “o IP é sigiloso, mas não para o advogado”. Esse sigilo tem dupla finalidade: garantir a efetividade da investigação; garantia do indiciado (não tornar as suspeitas públicas e macular a imagem da pessoa que está sendo investigada). FIGURA 2 – CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL FONTE: O autor UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 86 4 NOTITIA CRIMINIS A notícia-crime, nada mais é do que o conhecimento de um fato criminoso com a respectiva indicação e possível qualificação de quem é provável autor do crime. A notícia crime possui diversas classificações, vamos assim, elucidar cada modalidade. • Notícia direta ou espontânea: a instauração do inquérito se dá com a notícia do crime, (notitia criminis), que pode ser de cognição imediata. Se dará pelo conhecimento direto da polícia através do corpo do delito, ou também pelo atendimento da vítima com traumatismos ou lesões em hospital, e ainda por meio de telejornais ou de qualquer outra forma capaz de levar o conhecimento da infração à polícia. Atualmente, a internet também é grande portadora desse tipo de notícia, que se classifica como direta ou espontânea. • Notícia indireta ou provocada: já a notícia de cognição mediata vem através da vítima ou quem tenha capacidade para representá-la, por meio da população ou por requisição do juiz ou ainda dos membros do Ministério Público. A notícia de cognição mediata também pode ser denominada segundo a doutrina de provocada. A notícia recebe a nomenclatura de delatio criminis quando realizada pelo ofendido ou pela população conforme o Artigo 20, § 3º do CPP. Desta forma, qualquer cidadão do povo que tiver notícia da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, avisar à autoridade policial. Após verificar a procedência das informações, poderá se instaurar o inquérito. A delatio criminis se classifica em: simples — quando existe apenas a mera comunicação da infração ou postulatória — quando informa a infração e realiza o requerimento para o início regular da investigação criminal. • Notitia criminis coercitiva: esta modalidade se dá por meio de instauração obrigatória. Temos notitia criminis coercitiva quando junto à notícia existir a obrigatoriedade do início imediato do inquérito, o exemplo clássico é o caso da prisão em flagrante. • Notícia anônima: a notitia criminis anônima é também denominada de apócrifa ou inqualificada. O procedimento destes casos é: antes da polícia instaurar o regular procedimento de apuração (inquérito policial) deve-se fazer pesquisas com o fim de averiguar se o fato tem verossimilhança e só depois instaurar o inquérito. Ressalta-se que notícia apócrifa, por si só, não pode dar início ao inquérito, salvo se ela se configurar no próprio corpo de delito (a polícia recebe provas com a materialidade da infração). O Supremo Tribunal Federal — STF — aceita a instauração de inquérito policial e a futura persecução penal fundada em delação anônima, desde que a autoridade policial ratifique, em apuração sumária e preliminar, a verossimilhança do crime supostamente cometido. Conforme essa jurisprudência, uma vez apurados indícios de possível cometimento de delito, pode ser instaurada a persecução penal, agora baseada em fatos que se sustentam independentemente do relato anônimo. TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 87 As autoridades públicas não podem começar qualquer medida de persecução seja ela penal ou disciplinar, baseando-se, unicamente, com este fim, em peças apócrifas ou em escritos anônimos. É por este motivo que o escrito anônimo não autoriza, desde que separadamente considerado, a imediata instauração de persecutio criminis.. Por este motivo, as peças apócrifas não podem ser formalmente incorporadas a procedimentos instaurados pelo Estado, ressalvados os casos em que forem produzidas pelo acusado. Ou nos casos, delas próprias, constituírem o corpo de delito (como sucede com bilhetes de resgate no crime de extorsão mediante sequestro, ou como ocorre com cartas que evidenciem a prática de crimes contra a honra. 5 CONCEITO DE AÇÃO PENAL E CONDIÇÕES DA AÇÃO Incialmente cabe dizer que a ação penal é um instituto do Código de Processo Penal — CPP — que garante ao Estado a tão comentada persecução penal dos indivíduos que violam a norma penal. Para além disso, se trata de uma garantia que o infrator não passará impune por crimes praticados no ambiente da sociedade. O estudo da ação penal, seja ela pública condicionada ou incondicionada, seja ela privada exclusiva, personalíssima ou subsidiária da pública se faz de extrema importância para a compreensão da matéria basilar de processo penal. De acordo com o entendimento de Nestor Távora e Fábio Roques, a ação penal é considerada: “direito público subjetivo, autônomo e abstrato, com previsão constitucional de exigir do Estado-juiza aplicação do Direito Penal Material ao caso concreto para solucionar crise jurídica [...]” (TÁVORA; ROQUE, 2015, p. 54). Sua finalidade precípua é dar esteio para a vida em sociedade, reforçando o devido processo legal, que constitui, em termos legais, o meio mais adequado e indispensável para que se sustente a condenação criminal de alguma pessoa, permitindo que se atinja o contraditório e a ampla defesa. As condições da ação, são os requisitos básicos mínimos que permitem a validade da ação processual pena. Sendo assim, veja agora de modo sucinto as condições da ação penal (genérica) são: UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 88 FIGURA 3 – CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL FONTE: O autor Cada doutrinador entende de uma forma as condições da ação, mas basicamente temos o interesse de agir, a necessidade, a utilidade e adequação. No processo civil é a necessidade, utilidade e adequação — a tutela jurisdicional será útil e necessária quando imprescindível para solucionar determinado conflito de interesse (existem outros meios alternativos para solucionar). Analisa-se a adequação no sentido de a via escolhida ter sido adequada. No processo penal, somente o Estado tem o direito de punir, logo, a tutela Jurisdicional será sempre útil e necessária. A adequação pode ser analisada em relação ao procedimento utilizado. Parte da doutrina entende que a adequação no processo penal deve analisar se a conduta praticada está adequada a determinado tipo penal. O que vai ajudar nessa verificação são as provas da materialidade da infração e indícios da autoria. Além disso, no que tange à utilidade, deve-se analisar se não há causa extintiva da punibilidade, uma vez que não há mais interesse do Estado em punir o agente. A possibilidade jurídica do pedido corresponde à viabilidade de procedência da ação penal. Para tanto, é necessário que a conduta imputada na inicial acusatória seja descrita em lei como crime ou contravenção penal. Logo, esta primeira condição da ação penal exterioriza-se por meio da imputação de um fato típico (tipicidade). Havendo demonstração de que não se trata de infração penal, desrespeitado está o princípio da legalidade (Artigo 5º, XXXIX, CF: “não há crime sem lei que o defina nem pena sem lei que a comine”) e é impossível o pedido feito. TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 89 6 AÇÃO PENAL PÚBLICA Em regra, ação penal pública (Artigo100, CP) se classifica em incondicionada ou condicionada (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça). Como exemplo, podemos dizer que a ação penal pública condicionada — depende da representação do ofendido: crimes contra a liberdade sexual (Artigos 213-218), salvo quando a vítima for menor (ação penal pública incondicionada); Artigo 156, §1º, CP/requisição do Ministro da justiça: Artigo 145, § único, início, CP. Para tanto, são necessários conhecer os seguintes princípios: • Oficialidade: órgão oficial (MP). • Oficiosidade: MP deve agir de ofício nas ações penais públicas incondicionada. • Obrigatoriedade. • Indisponibilidade. • Divisibilidade (corrente majoritária). • Intranscendência. A legitimidade ativa do Ministério Público deve ser levada em conta, sendo que ela será legitimidade ordinária: MP (regra: ação penal pública) e legitimidade extraordinária: ofendido (ação penal privada — em nome próprio pleiteia direito alheio). É importante destacar que, em regra, a legitimidade extraordinária exclui a ordinária, ou seja, quando o crime é de ação penal privada, o MP não pode oferecer denúncia. Então, em regra, cada crime irá prever o legitimado para ingressar com a ação penal (ou a ação penal será iniciada pelo MP ou pelo ofendido). A exceção será quando houver a possibilidade de a ação penal ser iniciada tanto pelo MP como pelo ofendido). Regra: no processo penal, a legitimidade extraordinária exclui a ordinária, ou seja, quando o crime é de ação penal privada, o MP não pode oferecer denúncia. Será uma legitimidade extraordinária exclusiva. Exceções: crime contra a honra do funcionário público — Súmula 714, STF — ambos (MP e ofendido) possuem legitimidade. ATENCAO UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 90 Na ação penal privada subsidiária da pública — Artigo 100, §3º, CP e Artigo 29, CPP — após o prazo para oferecimento da denúncia (Artigo 46, CPP: 5 dias preso e 15 dias solto), se o MP fica inerte, surge para o ofendido a possibilidade de iniciar a ação penal, dentro do prazo decadencial de 6 meses (prazo da queixa). Durante o período de 6 meses, passa-se a ter uma legitimidade concorrente entre o MP e o ofendido (vale quem entrar primeiro) — o MP pode iniciar a ação penal mesmo após o prazo do Artigo 46, desde que ainda não esteja extinta a punibilidade pela prescrição. A perda do prazo do Artigo 46 tem como consequência a possibilidade do ofendido oferecer a sua queixa-subsidiária (ação penal privada subsidiária da pública), como veremos melhor adiante. Ressalta-se que quando versar sobre crime contra a honra do funcionário público (calúnia, difamação e injúria contra funcionário público — Artigos 138- 140, CP e Artigo 141, II, CP c.c. Artigo 145, § único, CP e Súmula 714, STF) a regra será de ação penal pública condicionada (Art. 145, § único, CP), entretanto, o STF em sua súmula 714, determina a possibilidade de legitimidade concorrente, (ofendido — ação penal privada; ou MP — ação penal pública condicionada), a critério do ofendido. Em resumo, o Código de Processo Penal prevê que nos crimes contra a honra do funcionário público a ação será pública condicionada, mas o STF estabeleceu a possibilidade do ofendido escolher se prefere representar ao MP para que este ofereça a ação penal (pública condicionada) ou se prefere ele mesmo iniciar a ação penal (ação penal privada), o que significa que o STF determina a possibilidade de uma legitimidade concorrente (a ação penal pode ser iniciada pelo MP ou pelo ofendido — ambos são legitimados ativos). É importante se atentar ao prazo: Artigo 46, CPP (5 dias solto; 15 dias preso) — ressalvados prazos previstos em leis especiais. Tal prazo é impróprio, pois o seu escoamento não acarreta preclusão. Poderá o MP ajuizar a ação penal a qualquer tempo, desde que antes de extinta a punibilidade do agente (Artigo 107, CP). Estando o réu preso, terá que ser posto em liberdade após o prazo de 5 dias. No Artigo 29, CPP — Ação penal privada subsidiária da pública — findo o prazo do Artigo 46, surge para o ofendido a possibilidade de iniciar a ação penal, oferecendo a sua queixa-subsidiária, dentro do prazo decadencial de 6 meses (legitimidade concorrente). IMPORTANT E TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 91 A ação penal pública condicionada, possui a necessidade obrigatória de representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça. A sua natureza jurídica se baseia nas condições específicas da ação ou nas condições de procedibilidade da ação. De acordo com o Artigo 39 do CPP não exige forma específica, basta haver a vontade inequívoca da vítima na instauração da ação penal. A representação pode sofre extensão, o que se denomina (eficácia objetiva): a representação refere-se ao fato, logo, o MP pode oferecer denúncia contra agente não mencionado pela vítima (evitar vingança pessoal) — corrente majoritária. A titularidade será, portanto, do ofendido, representante legal ou, em caso de morte ou ausência do ofendido, a legitimidade para a representação será do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (Artigo 24, §1º do CPP — sucessão processual), nesta ordem. De acordo com o Artigo 39, CPP — a representação pode ser feita também por procurador com poderes especiais. Ressalta-se que o ofendido incapaz sem representante legal ou com interesses colidentes — será nomeado curador especial (aplicação analógica do Artigo 33 do CPP). Atenção par o prazo de 6 meses previsto no Artigo 38 do CPP (após o decurso do prazo, ocorrerá a decadência e a consequenteextinção da punibilidade — Artigo 107, IV do CP) Se a vítima for incapaz, o prazo decadencial a contar do conhecimento da autoria do crime só flui para o representante legal. Não exercendo a representação, o prazo para o ofendido só começa a contar a partir do momento que se tornar capaz. O instituto da retratação previsto no Artigo 25 do CPP (não poderá retratar- se após o oferecimento da denúncia, logo, antes do oferecimento da denúncia é possível a retratação). Oferecida a representação pela vítima e a sua retratação, antes do oferecimento da denúncia, é possível que desista da retratação e novamente exerça seu direito de representação, visando a instauração da ação penal (retratação da retratação)? Sobre este questionamento, tem-se duas correntes. 1° é possível a retratação da retratação, desde que dentro do prazo decadencial de 6 meses; 2° não é possível, pois a retratação da representação importa em verdadeira renúncia do direito de representação, levando à extinção da punibilidade do agente, que não pode ficar à mercê da indecisão do ofendido. A retratação da representação só será possível até o ajuizamento da ação penal (aplicação do Artigo 25, CPP), apesar das divergências. IMPORTANT E UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 92 É possível, também, se falar na renúncia da representação prevista na Lei 9.099. As partes comparecem à audiência preliminar, na qual será feita uma tentativa de acordo (Artigo 72). Sendo possível o acordo, ocorrerá a renúncia do direito de representação (Artigo 74), não havendo a possibilidade de ajuizar a ação penal. Não sendo possível o acordo, o ofendido poderá exercer seu direito de representação na audiência ou dentro do prazo de 6 meses (Artigo 76). Já a renúncia da representação prevista na Lei 11.340/06 (casos de violência doméstica contra a mulher), o Artigo 16 aduz que só será admitida a renúncia perante o juiz em audiência especialmente designada para este fim; “o magistrado deve tornar bem claro à desistência e as consequências do seu ato, advertindo-a novamente dos benefícios e medidas de proteção trazidas por esta lei” (BRASIL, 2006, s.p) — só para crimes de ação penal pública condicionada (Ex.: ameaça). A ADI 4.424 – STF decidiu que nos casos de violência doméstica, os crimes de lesão corporal independem de representação da vítima (ação penal pública incondicionada). Veja mais em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6393143. IMPORTANT E Existe uma discussão sobre a possibilidade de ocorrer apenas renúncia (antes da representação) ou se abrange também a retratação (depois da representação – desistência). Deve-se entender renúncia em sentido amplo, abrangendo as duas hipóteses. O Ministério Público não estará obrigado a oferecer denúncia havendo a representação do ofendido; irá analisar se estão presentes elementos suficientes para a propositura da ação penal, uma vez que é seu titular. Bem como o MP não estará obrigado a ajuizar a ação penal, dependendo da existência de indícios de autoria e prova da materialidade do crime, mesmo existindo divergência doutrinária. Por fim, últimas observações acerca da ação penal nos crimes contra a dignidade sexual após a alteração pela Lei 12.015/09. Antes da alteração legislativa, tais crimes, em regra, estavam submetidos à ação penal privada. Após a edição da Lei 12.015/09, o Artigo 225, CP determina que tais crimes se procedem por meio de ação penal pública condicionada à representação do ofendido, exceto em casos de vítima menor de 18 anos ou vulnerável (Ex.: sem discernimento mental), quando a ação penal será pública incondicionada (parágrafo único). http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6393143 TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 93 Em relação à Súmula 608, STF, grande parte da doutrina entende que esta súmula está prejudicada, uma vez que foi editada à época em que a regra era que os crimes contra a dignidade sexual se procediam mediante ação penal privada, não fazendo mais sentido hoje, uma vez que o legislador determinou que a regra é que a ação penal seja pública condicionada (deve-se respeitar a vontade da vítima). O prisma da ação penal pública — condicionada ou incondicionada — volta-se ao interesse da sociedade na apuração e punição do infrator. Quando se permite ao ofendido o direito de representar, legitimando o Ministério Público a atuar, nada mais se faz que resguardar a mescla de interesses: público e privado. Nos crimes contra a dignidade sexual, de ação pública condicionada à representação da vítima, vislumbra-se interesse público, como a punição do estuprador, mas também se pretende proteger a intimidade da pessoa ofendida, quando não deseja se expor. 7 AÇÃO PENAL PRIVADA O titular da ação penal privada será ofendido ou seu representante legal, caso seja incapaz, conforme previsão do Artigo 30 do CPP. No caso de incapaz, basta um dos representantes (pai ou mãe), não precisa que os dois ajuízem a ação penal conjuntamente. Vide os seguintes casos dispostos em lei sobre a titularidade: • Artigo 31, CPP: no caso de morte ou ausência do ofendido, a legitimidade passa a ser do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, nesta ordem (Artigo 36, CPP) — sucessão processual. • Artigo 33, CPP: será nomeado curador especial caso o ofendido não tenha representante legal ou haja colisão de interesses. • Artigo 34, CPP: revogado após o Código Civil de 2002, que estabeleceu a maioridade aos 18 anos. • Artigo 37, CPP: (quando o ofendido for pessoa jurídica) — Ex.: crime de concorrência desleal, crime contra a patente etc. — Lei 9279/96 (regula direitos e obrigações referentes à propriedade industrial). As partes: querelante (polo ativo) e querelado (polo passivo) terão o prazo decadencial de 6 meses, contados do dia em que vier a saber quem foi o autor do crime, conforme o Artigo 38, CPP. Se o ofendido for incapaz a fluência do prazo para ele se dá a partir do momento em que cessar a incapacidade (Ex.: completou 18 anos). Para o seu representante legal, conta-se do conhecimento do autor do crime. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 94 Na ação penal privada os princípios que devemos estar atentos são: • Oportunidade/conveniência: cabe ao ofendido decidir se quer ou não ajuizar a ação penal (não há obrigatoriedade) — renúncia expressa ou tácita. • Disponibilidade: o ofendido pode desistir da ação penal (perdão, perempção). • Indivisibilidade: embora o ofendido não esteja obrigado a ajuizar a ação penal, se o fizer, deverá ajuizá-la contra todas as pessoas que concorreram para a prática do crime. Art. 48, CPP e Art. 49, CPP (a renúncia, expressa ou tácita, a todos se estende). Evitar o uso da ação penal como instrumento de vingança pessoal. • Intranscendência: nenhuma pena passará da pessoa do condenado (Art. 5º, XLV, CF). Importante observar ainda o princípio da indivisibilidade, ou seja, percebendo que o ofendido não mencionou todos os agentes na sua queixa, poderá o juiz intimar o querelante para aditar a queixa, sob pena de extinção (esse aditamento pode se dar após o prazo de 6 meses). Sendo assim, questiona-se se pode o MP aditar a queixa? • Pode o MP aditar a queixa, inclusive para incluir outros acusados, segundo os Artigos 45 e 48 do CPP, devendo o aditamento ser feito no prazo de 3 dias (Art. 46, §2º, CPP). • Pode o MP aditar a queixa apenas para a inclusão de dados faltantes, não podendo incluir outros réus, uma vez que não é o titular da ação penal. • Não pode o MP aditar a queixa para qualquer finalidade, já que a titularidade da ação penal é exclusiva do ofendido, não devendo ser aplicada a norma do Artigo 45. O MP velará pela indivisibilidade da ação penal apenas para informar ao magistrado acerca da necessidade de aditamento da queixa, o que deverá ser feito pelo ofendido. O entendimento dos Tribunais varia entre as duas primeiras correntes. O princípio da oportunidade/conveniência deveser observado acerca da possibilidade da renúncia, que pode ser expressa ou tácita, é corolário (expressão) do princípio da oportunidade/conveniência. A Renúncia está prevista no Artigo 49 e 50 do CPP. É ato unilateral, não depende de aceitação do acusado. A corrente majoritária entende que pode se dar até o momento anterior ao recebimento (queixa já oferecida, apenas aguardando o juiz despachar) da queixa pelo juiz. Possui natureza jurídica de ato impeditivo do processo criminal. Se o ofendido renunciar ao seu direito de queixa em relação a um dos agressores, a todos se estenderá, conforme preceitua o Artigo 49 (princípio da indivisibilidade), levando à extinção da punibilidade de todos os agentes. Quanto à forma, pode ser expressa (Artigo 50) ou tácita (Ex.: deixa escoar o prazo, deixa aditar a denúncia para incluir outro réu quando instado pelo juiz a fazer etc.) No Artigo 50, § único — prejudicado a partir da entrada em vigor do CC/02, que TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 95 equiparou a maioridade civil e penal aos 18 anos (o artigo fala em menor que completou 18 anos). Artigo 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Artigo 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro (BRASIL, 1941, s.p.). Por último, deve-se levar em conta o princípio da disponibilidade do direito, desta maneira, o perdão e a perempção são expressões do princípio da disponibilidade. Perdão (Artigos 51–59): É ato bilateral, pois depende de aceitação do acusado. Ocorre depois do recebimento da queixa, obstando o prosseguimento da ação penal. Pode ser concedido a qualquer tempo, desde que antes do trânsito em julgado da sentença (Artigo 106, §2º, CP). O perdão oferecido a um dos agentes, a todos se estenderá, não produzindo efeitos apenas em relação àquele que o recusar, conforme disposto no Artigo 51 (princípio da indivisibilidade). Após ser oferecido o perdão, o acusado terá 3 dias para aceitar ou recusar, sendo certo que o seu silêncio importará em aceitação (Artigo 58), restando extinta a punibilidade do agente. De acordo com o Artigo 53 — querelado incapaz (enfermo, doente mental) e sem representante ou com interesses colidentes — juiz nomeia curador, que estará encarregado do aceite. Quanto à forma, pode ser expresso ou tácito (Ex.: começa a namorar o acusado). Sendo expresso poderá ser processual (na presença do juiz) ou extraprocessual (Ex.: no escritório do advogado). A perempção prevista no Artigo 60, CPP, consiste na perda do direito do querelado de prosseguir com a ação penal, diante da sua inércia, sendo, portanto, ato unilateral. Ocorre nas hipóteses previstas no Artigo 60, CPP. A perempção tem como consequência a extinção da punibilidade do agente, não sendo possível ao querelado ajuizar novamente a ação penal (no processo civil, a perempção também impede o ajuizamento do processo, uma vez que o autor já deu causa à extinção do processo por três vezes). 7.1 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA Nos crimes de ação penal pública, quando o MP não se manifesta, ou seja, não oferece denúncia no prazo legal, cabe ação penal privada, subsidiária da pública. O prazo seria do Artigo 46 (5 dias preso ou 15 dias solto), ao ofendido surge a possibilidade de oferecimento da queixa subsidiária, dentro do prazo decadencial de 6 meses (Artigo 38), contados da data em que se esgotar o prazo do MP. Salvo os prazos previstos em leis especiais. UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 96 O prazo do MP é impróprio, logo, poderá oferecer denúncia mesmo após o seu escoamento, dando ensejo, portanto, à legitimidade concorrente (MP e ofendido). No período compreendido entre o decurso do prazo previsto no Artigo 46 e o decurso do prazo de 6 meses, a ação penal poderá ser ajuizada tanto pelo MP como pelo ofendido. Ao final do prazo de 6 meses sem que o ofendido tenha oferecido a queixa subsidiária, volta a ser exclusiva a legitimidade do MP para o oferecimento da denúncia, que poderá se dar até a extinção da punibilidade do agente. De acordo com o art. 29, CPP o MP poderá aditar a queixa, repudiá-la, oferecendo denúncia substitutiva, o MP é o verdadeiro titular da ação penal. O MP poderá repudiar a queixa e oferecer denúncia substitutiva, por exemplo, no caso de inépcia da queixa. No que se refere à natureza jurídica da ação penal privada subsidiária da pública, diz-se que se trata da pública (os princípios desta são aplicados), salvo o princípio da oportunidade ou conveniência. Por isso que os institutos da renúncia, perempção e perdão do indivíduo (causas extintivas da punibilidade na ação penal privada propriamente dita) não são aplicados na ação penal subsidiária da pública. 7.2 AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA A ação penal só poderá ser ajuizada pelo próprio ofendido (não poderá o representante legal, cônjuge, ascendente, descendente nem o irmão). Se o ofendido for incapaz (Ex.: problemas mentais), não poderá o seu representante legal oferecer a queixa. O ofendido terá que aguardar até que cesse a incapacidade para oferecer a queixa. Se houver o falecimento ou a ausência do ofendido, estará extinta a punibilidade do agressor, pois não há possibilidade do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão oferecerem a queixa. A Ação Penal Privada Personalíssima é diferente, pois a ação somente pode ser proposta pela vítima. Somente ela tem esse direito. Não há representante legal nem a possibilidade dos legitimados no Artigo 31 do CPP. Se o ofendido falecer, extingue-se a punibilidade. E se a vítima, em ação privada personalíssima, tiver menos de 18 anos? Deverá esperar ela alcançar a maioridade, e, neste tempo, o prazo decadencial não correrá. Exemplo de um caso de Ação Privada Personalíssima está previsto no Artigo 236 do Código Penal: TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL E AÇÃO PENAL 97 Artigo 236. Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena. detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento (BRASIL, 1940, s.p.). Tendo em vista tudo que fora abordado até agora sobre as ações, pensamos em fazer um resumo para sua melhor elucidação do que fora explicado: Ação Condenatória – Artigo 100, CPP • Pública (regra) — Artigo 100, §1º, CP — promovidas pelo MP; incondicionada ou condicionada (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça); petição inicial: denúncia. • Privada — Artigo 100, §2º e §4º, CP — promovida pelo ofendido ou seu representante; petição inicial: queixa. • Privada subsidiária da pública — Artigo 100, §3º, CP — inércia do MP (o crime é de ação penal pública); não ofereceu denúncia no prazo do Artigo 46, CPP (5 dias preso/15 dias solto). Quando se tratar de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, o tipo penal indicará. Ex.: Artigo 153, §1º, CP (representação); Artigo 145, caput, CP (queixa); Artigo 145, § único, CP (requisição). 98 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O inquérito policial é um procedimento administrativo presidido pela autoridade de polícia judiciária de caráter informativo e inquisitivo (não há contraditório e ampla defesa). • O inquérito policial possui natureza jurídica de procedimento administrativo (não há ordem na prática dos atos do art. 6º - discricionariedade do delegado). • As características do inquérito policial, como ser indispensável, inquisitivo, sistemático, escrito etc. • A notícia-crimee suas modalidades: notícia direta ou espontânea; notícia indireta ou provocada, notitia criminis coercitiva e notícia anônima. • A ação penal é considerada: direito público subjetivo, autônomo e abstrato, com previsão constitucional de exigir do Estado-juiz a aplicação do Direito Penal Material ao caso concreto para solucionar crise jurídica. • O conceito de ação penal pública se classifica em incondicionada ou condicionada (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça). • A legitimidade ativa do Ministério Público deve ser levada em conta, sendo que ela será legitimidade ordinária: MP (Regra: Ação penal pública) e legitimidade extraordinária: Ofendido (Ação penal privada – em nome próprio pleiteia direito alheio). • A ação penal privada subsidiária da pública, se o MP fica inerte, surge para o ofendido a possibilidade de iniciar a ação penal, dentro do prazo decadencial de 6 meses (prazo da queixa) • A ação penal pública condicionada, possui a necessidade obrigatória de representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça. • A ação penal privada personalíssima, só poderá ser ajuizada pelo próprio ofendido (não poderá o representante legal, cônjuge, ascendente, descendente nem o irmão). 99 AUTOATIVIDADE 1 Sabendo que o inquérito policial é um procedimento administrativo presidido pela autoridade de polícia judiciária de caráter informativo e inquisitivo, marque a incorreta sobre o instituto: a) ( ) O inquérito policial trata-se de um mecanismo utilizado pelo o Estado brasileiro na busca de juntar elementos de informação para a investigação. b) ( ) É presidido pela autoridade policial, a fim de que o titular da ação possa ingressar em juízo. c) ( ) Constitui conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria. d) ( ) Trata-se de procedimento judicial comandado pelo ministério público e do juiz da vara de execução penal. 2 São princípios inerentes ao inquérito policial: a) ( ) Indispensável, inquisitivo, sistemático e sigiloso. b) ( ) Dispensável, inquisitivo, sistemático, unidirecional, escrito, indisponível, sigiloso. c) ( ) Dispensável, inquisitivo, sistemático, unidirecional, verbal, indisponível. d) ( ) Indispensável, inquisitivo, sistemático, sigiloso e público. e) ( ) Indispensável, inquisitivo, sistemático, sigiloso e acusatório. 3 Em qual das afirmativas a seguir eu encontro a melhor definição de ação penal, conforme o ordenamento jurídico brasileiro: a) ( ) É o direito do Estado-acusação ou da vítima de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. b) ( ) É o direito da vítima somente de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. c) ( ) É o direito do Estado somente de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. d) ( ) É o direito do delegado de polícia de ingressar em juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. 4 De acordo com o Código de processo penal, nas ações penais privadas subsidiárias da pública, findo prazo do Ministério Público, poderá o ofendido oferecer sua queixa-subsidiária dentro do prazo: 100 a) ( ) Decadencial de três meses. b) ( ) Decadencial de um ano. c) ( ) Decadencial de seis meses. d) ( ) Prescricional de seis meses. 5 De acordo com o entendimento do STF e seus conhecimentos acerca das ações penais, é correto afirmar que: a) ( ) Nos casos de violência contra idosos, os crimes de lesão corporal independem de representação da (ação penal pública incondicionada). b) ( ) Nos casos de violência contra menores os crimes de lesão corporal independem de representação da (ação penal pública incondicionada). c) ( ) Nos casos de violência doméstica, os crimes de lesão corporal independem de representação da (ação penal privada personalíssima). d) ( ) Nos casos de violência doméstica, os crimes de lesão corporal independem de representação da (ação penal pública incondicionada). 101 TÓPICO 3 DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O Ministério Público, diante dos elementos contidos no inquérito policial, ou mediante outras peças informativas, verificando a existência de fato que, em tese, caracteriza crime e indícios de autoria, forma sua convicção e inicia a ação penal pública com o oferecimento da peça inicial, definida no Artigo 24 do CPP e é denominada de denúncia. Importante destacar já na introdução a diferença entre a denúncia e a queixa-crime no âmbito do processo penal, haja vista que ambas possuem como objetivo maior a inauguração de uma ação criminal em face de um suposto agente causador. Com relação a esta diferença, o insigne professor, Fernando Capez (2008, p. 202), assim ensina: “A denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal pública (condicionada ou incondicionada) (CPP, Artigo 24); a queixa, peça acusatória inicial da ação penal privada”. Nos dias de hoje, o Estado possui o monopólio punitivo, cabendo-lhe, com exclusividade, o processamento dos casos criminais e a imposição das respectivas sanções. A Jurisdição deve ser um poder-dever de realização de Justiça estatal, por órgãos especializados do Estado. O processo penal, em síntese, deve conhecer da pretensão acusatória e de seu elemento objetivo, qual seja, o caso penal. A jurisdição, assim, sob a ótica da Constituição Federal atual, só se realiza se efetivas as garantias e princípios do processo penal. Por fim, sobre o tema da competência em processo penal, o Código de Processo Penal traz no bojo do seu Artigo 69 sete critérios para fixação da competência, quais sejam: I. lugar da infração; II. domicílio ou residência do réu; III. natureza da infração; IV. distribuição; V. conexão ou continência; VI. prevenção; VII. prerrogativa de função. 102 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 2 DENÚNCIA E SEUS REQUISITOS No artigo 24 do Código de Processo Penal há a definição de denúncia. De acordo com a previsão legal, o Ministério Público, perante os elementos contidos no inquérito policial, ou diante de outras peças informativas, verificando a existência de fato que, em tese, caracteriza crime e indícios de autoria, formará sua convicção, (que a doutrina denomina de opinio delicti), e somente após o cumprimento destes requisitos, iniciará a ação penal pública com o oferecimento da peça inicial. Entretanto, se faz importante mostrar a diferença entre a denúncia e a queixa-crime no âmbito do processo penal, haja vista que ambas possuem como objetivo maior a inauguração de uma ação criminal em face de um suposto agente causador. Referente a esta diferenciação, Fernando Capez assim esclarece: “A denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal pública (condicionada ou incondicionada) (CPP, Artigo 24); a queixa, peça acusatória inicial da ação penal privada” (CAPEZ, 2008, p. 148). Observa-se, portanto, existirem mais de um tipo de ação penal no direito brasileiro. As regras basilares ao redor de sua classificação estão previstas no caput do Artigo 100, e seus parágrafos, do Código Penal Brasileiro, atendando-se para a “qualidade do sujeito que detém a sua titularidade” (CAPEZ, 2008, p. 113). De acordo com este conceito, Fernando Capez (2008, p. 114) explica que “as ações penais poderão ser públicas ou privadas, conforme seja promovida pelo Ministério Público ou pela vítima e seu representante legal, respectivamente”. Dentro deste contexto de direito penal e processual penal, vários são os conceitos utilizados atualmente para a descrição da denúncia, variando-se de acordo com a preferência de cada autor. [...] o ato processual por meio do qual o Representante do MinistérioPúblico leva ao conhecimento do Juiz, respaldado em provas colhidas no inquérito ou em outras peças de informação, a notícia de uma infração penal, diz quem a cometeu e pede seja instaurado o respectivo processo em relação a ele (TOURINHO FILHO, 2002, p. 138.). Na mesma linha de raciocínio que “a denúncia, na técnica processual brasileira, significa a peça inaugural da ação penal, quando promovida pelo Ministério Público” (TOURINHO FILHO, 2002, p. 403.). TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 103 Nesta toada, propõe de forma sintética a seguinte formulação: Assim, a denúncia é o ato processual por meio do qual o Estado- Administração, pelo seu órgão competente, que é o Ministério Púbico, dirige-se ao Juiz, dando-lhe conhecimento de um fato que reveste os caracteres de infração penal e manifestando a vontade de ver aplicada a sanctio júris ao culpado (TOURINHO FILHO, 2002, p. 403.) Pautado nesta mesma compreensão, contudo, de forma um pouco mais ampliada, Hidejalma Muccio estabelece o seguinte conceito de denúncia: A denúncia constitui o ato processual escrito ou oral do órgão do Ministério Público que, em nome do Estado-Administração, nos crimes de ação penal pública, seja incondicionada, ou condicionada à requisição do Ministro da Justiça, ou à representação do ofendido ou de quem legalmente o represente, desde que presente a condição (representação ou requisição), invoca perante o Estado-Juiz a prestação da tutela jurisdicional, deduzindo-lhe com observância dos requisitos previstos no Art. 41 do Código de Processo Penal e demais outros decorrentes do próprio ordenamento jurídico processual penal, a pretensão punitiva, dano início à ação (ao processo) contra o autor da infração penal, objetivando sua responsabilização e a aplicação do Direito Penal objetivo (MUCCIO, 2001, p. 17). Já no compreender de Deocleciano Torrieri Guimarães (2005, p. 243) a denúncia é definida como sendo o “ato de imputar a alguém a prática de uma infração penal”. Prosseguindo com nossas definições doutrinárias, válida é a lição de Julio Fabbrini Mirabete, que vem no seguinte sentir: A denúncia é uma exposição, por escrito, de fatos que constituem em tese um ilícito penal, ou seja, de fato subsumível em um tipo penal, com a manifestação expressa da vontade de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a indicação das provas em que se alicerça a pretensão punitiva (MIRABETE, 2006, p. 111 e 112). Valendo-se da analogia com Direito Civil, o doutrinador José Frederico Marques (2001, p. 135) explicita que “a denúncia está para a ação penal pública como a petição inicial para a ação civil. Uma e outra constituem o instrumento formal da apresentação do pedido em juízo para ser dado início à ação”. Assim, ela será instaurada, após a citação do acusado. Na visão do autor, a denúncia seria, portanto, “o ato processual em que se formaliza a acusação, ou ato instrumental para início da actio poenalis de caráter público” (MARQUES, 2001, p. 135). Ao final, de forma sintética e não menos correta, podemos dizer que a denúncia é a peça acusatória que inicia a ação penal. Nela deverá conter a exposição, por escrito, dos fatos que, em teoria constituem o ilícito penal ocorrido. Para além disso, deve conter a expressa manifestação da vontade de que se aplique a lei processual penal ao possível autor dos fatos e a ainda se indique as provas em que se alicerça a pretensão punitiva. 104 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL Na lição de Reis (2006, p. 29), pode-se dizer que: “assim, apesar de sucinta, a denúncia deve conter todos os dados para que seja possível ao leitor entender o que se passou, bem como as circunstâncias através das quais o delito foi cometido”. Em termos legais, o Código de Processo Penal – CPP, no artigo 41, traz os requisitos indispensáveis para a elaboração da denúncia. Conforme o citado artigo, a denúncia deve conter “a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas” (BRASIL, 1941, s.p.). Na compreensão de Hidejalma Muccio (2001), dentre os requisitos previstos no mencionado Artigo 41, há os essenciais e os que não são essenciais. Ressalta ainda que o ordenamento jurídico-processual penal, ao ser analisado como um todo, recomenda a observância de outros e possíveis requisitos par melhor interpretação do caso concreto. Segundo o mencionado e a divisão em requisitos essenciais e não essenciais ficaria desta maneira: • Requisitos essenciais: a exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, bem como a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo. Endereçamento ou cabeçalho, requerimento de citação e condenação do acusado, ser a inicial escrita em vernáculo, ser subscrita em pelo promotor de justiça com atribuição legal. • Requisitos não essenciais: a classificação do crime e o Rol das testemunhas. Desse modo, para melhor análise dos requisitos para a elaboração da denúncia, deve-se observar a seguinte divisão, respeitando os requisitos: • Descrição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. • Qualificação do acusado com dados que possibilitem sua identificação. • Classificação do crime. • Rol das testemunhas. • Requisitos intrínsecos. 3 QUEIXA CRIME A queixa crime é um instrumento de denúncia, contudo se difere em termos técnicos, por não ser realidade por iniciativa estatal. A denúncia é oferecida pelo Ministério Público, ao passo que a queixa crime é oferecida pelo cidadão (um particular). TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 105 A queixa crime consiste na petição realizada por um particular ofendido no âmbito da ação penal privada, com o intuito de denunciar fato criminoso cometido para a punição do culpado. De modo que a queixa-crime seja recebida pelo juiz, para instauração do inquérito policial, será necessário que ela preencha aos requisitos previstos no Artigo 41, do Código de Processo Penal. Assim, deverá respeitar a presença dos seguintes requisitos de acordo com o referido artigo: • A exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. • A qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá- lo. • A classificação do crime. • O rol das testemunhas. Para maior elucidação da temática queixa crime fizemos a seleção de alguns artigos que podem ser de elevada relevância para o seu estudo. Não deixe de checá-los: • Código de processo penal – Artigos 12, 29, 31, 33, 34, 36, 38, 41, 44, 45, 46, Parágrafo 2º, 48, 49, 50, Parágrafo único, 60, dentre outros. • Código penal – Artigos 100, Parágrafos 2º e 4º, 103, 104, 105, 107, V, 117, I, 145. 4 JURISDIÇÃO É uma função do Estado (função jurisdicional), mediante a qual este se substitui às partes para buscar a pacificação social, aplicando o direito ao caso concreto. A jurisdição deve ser vista também como poder, sendo expressão da soberania estatal devido à capacidade de impor suas decisões. Além disso, pode ser encarada como atividade, diante do conjunto de atos praticados pelo juiz no processo. Deste modo, veremos os princípios, as características e a classificação da jurisdição. Os princípios são: • Juiz natural: a demanda será apreciada por um juiz imparcial e independente, indicado pelas normas constitucionais e legais; Artigo 5º, LIII e XXXVII (veda Tribunais de Exceção), CF. • Investidura: a jurisdição só será exercida por quem tenha sido regularmente investido (concurso de provas e títulos ou nomeação) na função de juiz. • Indelegabilidade: é vedado ao juiz delegar a função jurisdicional, podendo delegar tão somente a execução de atos processuais. Ex.: carta precatória para outro juízo interrogar testemunha (cooperação entre os órgãos do judiciário). 106 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL • Inafastabilidade/indeclinabilidade:garante a todos o acesso ao judiciário. Art. 5º XXXV, CF “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Assim, o juiz, uma vez provocado, não pode deixar de exercer jurisdição; não pode recusar-se a julgar. • Inevitabilidade: não podem as partes se recusarem a cumprir aquilo que foi determinado pelo juiz, ou seja, as partes devem se submeter à decisão judicial. • Unidade: a jurisdição, como manifestação da soberania estatal, é una e indivisível. A divisão entre os diversos juízes (competência) é apenas o fracionamento do exercício da jurisdição, visando uma maior eficiência. • Improrrogabilidade: salvo em situações excepcionais expressamente previstas, um juiz não pode invadir a competência de outro. • Nula poena sine judicio: não haverá aplicação da pena sem processo anterior (vedação: a autotutela e o Estado não pode autoexecutar a sanção penal). As características são: • Substitutividade: exercendo a jurisdição o Estado substitui a atividade das partes resolvendo, de forma imparcial, os conflitos sociais (vedação à autotutela). • Inércia: os órgãos jurisdicionais são inertes, dependendo de provocação. No processo penal, hoje, não há nenhuma exceção a este princípio, ao contrário do que ocorre no processo civil, esfera na qual, em determinados casos, é facultado o agir ex officio. • Definitividade/imutabilidade dos atos jurisdicionais: após o trânsito em julgado a sentença se torna imutável (coisa julgada). A classificação: • Quanto à sua graduação: a jurisdição poderá ser inferior (primeira instância de julgamento) ou superior, abrangendo as demais instâncias. • Quanto à matéria: classifica-se segundo a natureza da causa a ser julgada (penal, eleitoral, militar) • Quanto ao organismo jurisdicional: a jurisdição poderá ser federal quando houver interesse da União ou estadual, nas demais hipóteses. 5 COMPETÊNCIA E CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO Competência pode ser definida como o limite dentro do qual juízes e tribunais exercem jurisdição (é a medida da jurisdição). A natureza jurídica: pressuposto processual de validade (juízo competente e juiz imparcial). A inobservância leva à nulidade do processo. A competência, pode ser dividida em competência absoluta e relativa: TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 107 • Competência absoluta: é aquela que não admite prorrogação, ou seja, em caso de incompetência, deve o processo ser remetido ao juiz natural da causa, sob pena de nulidade. Ex.: competência em razão da matéria e competência funcional. • Competência relativa: é aquela que admite prorrogação, ou seja, caso o vício de incompetência não tenha sido alegado pela parte, torna-se competente o juiz que recebeu a causa, não cabendo posterior alegação de nulidade. Ex.: competência territorial (no processo penal não tem competência em razão do valor da causa). É imprescindível analisar as regras contidas na CF, no CPP, nos Códigos de organização judiciária e nos Regimentos Internos dos Tribunais. As regras de fixação de competência são: Artigo 69, CPP: a) RATIONE MATERIAE (EM RAZÃO DA MATÉRIA): • Competência da justiça especial: ᵒ Eleitoral: apura crimes eleitorais — Art. 118 a 121, CF c.c. Lei 4.737/65 — (Código Eleitoral), dentre outras leis extravagantes. ᵒ Militar: apura crimes militares previstos no Código Penal Militar — Art. 124 e 125, §4º, CF. • Competência da justiça comum: ᵒ Federal: apura crimes praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas (Art. 109 da CF). ᵒ Estadual: aplicação residual (apura todos os crimes que não sejam de competência da justiça especial eleitoral ou militar nem da justiça comum federal). • A justiça do trabalho não possui competência criminal (crimes contra o empregado ou praticado por este é competência da justiça comum estadual; se for crime praticado algum órgão trabalhista será competência da justiça comum federal — Art. 109, VI, CF). • Súmula 522, STF: tráfico interno de drogas é da justiça estadual e não da federal (apenas tráfico internacional de drogas). IMPORTANT E 108 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL • Competência do Tribunal do Júri: Art. 5º, XXXVIII, d, CF c.c. Art. 74, §1º, CPP homicídio (Art. 121); induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio (Art. 122); infanticídio (Art. 123) e aborto (Artigos 124–127), consumados ou tentados, bem como os crimes conexos a estes. • Competência do JECRIM: infrações de menor potencial ofensivo (Art. 61, Lei 9.099/95). b) RATIONE PERSONAE (EM RAZÃO DA PESSOA) Competência originária (foro privilegiado). Tais regras geralmente estão previstas na Constituição Federal ou na Constituição Estadual. Exemplos: TJ – Art. 96, III, CF; TJ – Art. 29, X, CF (prefeitos), vide súmula 702, STF — só para prefeitos (Ex.: se for crime federal será de competência do TRF); TRF – Art. 108, I, a, CF; STJ – Art. 105, I, a, CF; STF – Art. 102, I, b e c, CF. • Crimes de responsabilidade: Presidente, Ministros, Governadores. Lei 1.079/50; Prefeito e Vereador Decreto-Lei 201/67. Observar a súmula 721, STF – Ex.: vereador (CE não pode ser retirar dele prerrogativa constitucional que é ser julgado pelo júri, mesmo que a pessoa não queira tal garantia) — Art. 5º, XXXIII, CF. Se a pessoa tem prerrogativa assegurada na CF, prevalecerá perante o júri, pois é como se esta tivesse criado uma exceção a si mesma. c) RATIONE LOCI (EM RAZÃO O LUGAR): ARTS. 70 E 71, CPP De acordo com o art. 70, CPP em regra, a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração (teoria do resultado). Quando se tratar de tentativa, verifica-se o foro competente no local onde se deu o último ato executório. O criminoso tem que ser preso no local onde praticou o crime visando com isso dar uma resposta à sociedade local, além de servir como exemplo para outros criminosos. • Crime continuado: (Art. 71, CP): várias condutas com vários resultados (Ex.: rouba várias casas, que ficam em municípios distintos). • Crime permanente: uma conduta, cujo resultado se prolonga no tempo (Ex.: sequestro cuja vítima é mantida em cárcere privado; a vítima pode ter ficado em vários cativeiros enquanto o bandido fugia da polícia) – É um crime único, mas sua consumação se prolonga no tempo. Atenção aos crimes plurilocais, nestes casos adota-se a teoria da ubiquidade/ mista — competência do lugar onde se consumou a infração, ou seja, onde ocorreu o resultado (regra do Art. 70, CPP) ou do lugar da prática dos atos. A doutrina não é unânime. Ex.: A atira em B visando matá-lo. Pega o corpo e joga em um rio na cidade vizinha. B é resgatado ainda vivo e vem a falecer no hospital da cidade B. Em relação aos crimes de homicídio os Tribunais vêm entendendo que a competência deve ser do lugar da prática dos atos, uma vez que facilita a instrução probatória e a busca pela verdade real. Nos termos do Art. 70 do CPP, a competência para o processamento e julgamento da causa, será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumou a infração. TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 109 Todavia, a jurisprudência tem admitido exceções a essa regra, nas hipóteses em que o resultado morte ocorrer em lugar diverso daquele onde se iniciaram os atos executórios, determinando-se que a competência poderá ser do local onde os atos foram inicialmente praticados. Tendo em vista a necessidade de se facilitar a apuração dos fatos e a produção de provas, bem como garantir que o processo possa atingir a sua finalidade primordial, qual seja, a busca da verdade real, a competência pode ser fixada no local de início dos atos executórios [...] (STJ, HC 95.853/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 11/09/2012, s.p.). Crime qualificado pelo resultado quando a conduta ocorre em um lugar e o resultado que qualifica o crime se consuma em outro (crime preterdoloso) — o legislador descreve a conduta típica e acrescenta um resultadocuja ocorrência acarreta o agravamento da pena. Exemplo: estupro seguido de morte (Art. 213, §2º, CP), a vítima é estuprada na cidade A e, após ser resgatada, é levada para a cidade B para tratamento, onde acaba falecendo. O que se pretendia não era a morte, mas sim o estupro — crime principal — isso é o que difere da primeira hipótese. Importa saber então, sobre competência: • A competência será do local onde ocorreu a conduta delituosa, pois facilita a colheita de provas, além de dar uma satisfação para a população local. • A competência será do local onde se consumou o resultado que qualifica o crime, conforme a literalidade do Art. 70 do CPP (a competência é determinada pelo lugar em que se consumar a infração). • Competência no Juizado Especial Criminal: Art. 63, Lei 9.099/95: é determinada pelo lugar em que foi praticada a infração, o que gera divergências: a) considera- se praticada a infração no lugar onde ocorreu a ação ou omissão, sendo este o foro competente (Teoria da atividade); b) considera-se praticada a infração tanto no lugar da ação ou omissão como no lugar do resultado, conforme determina o Art. 6º do CP (teoria da ubiquidade/mista). Por fim, é importante destacar que após a fixação da competência ( Perpetuatio jurisdicionis), são irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente (exemplo: mudança de endereço das partes, mudança do estado civil, mudança da nacionalidade etc.), salvo quando suprimir o órgão judiciário (acabar a vara) ou houver alteração na competência em razão da matéria ou hierarquia (Ex.: virou vara cível), aplicando-se, por analogia, ao processo penal, a regra do Art. 87 bem como a do Art. 263, ambos do CPC. De acordo com o Artigo 87 do CPP, determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria (uma vara que era criminal passou a ser cível; desclassificação do crime no procedimento do júri — remessa ao juiz competente) ou da hierarquia (prerrogativa de função). 110 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL LEITURA COMPLEMENTAR Não percebemos o quanto nosso processo penal é primitivo e inquisitório Aury Lopes Júnior Pela imersão no problema, não somos capazes — muitas vezes — de fazer o esforço do afastamento, do estranhamento, em relação ao ritual judiciário brasileiro, especialmente na esfera penal. Não percebemos o quanto nosso processo penal é primitivo e inquisitório. Que falta uma preocupação com a "estética" de imparcialidade, uma "aparência" de estranhamento e afastamento de quem julga em relação a quem acusa (problemática já consagrada na jurisprudência do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em vários julgados). Quando o acusador se senta ao lado do julgador, e ambos, afastados da defesa, isso é sintoma de um processo penal primitivo, retrógrado e tendencioso. Não se pode diminuir a importância da luta pelo fim desse "espaço cênico", porque isso é fundamental para mudar comportamentos e a cultura judiciária. Em nenhum sistema judicial minimamente democrático e processualmente evoluído uma cena assim é admissível. Dar mais importância ao "ritual judiciário" é fundamental para melhorar a própria estrutura do processo penal brasileiro, nitidamente inquisitório, ainda que alguns insistam em pensar que o conceito de "sistema processual misto" dê conta ou os imunize. Na mesma linha da insuficiência conceitual estão aqueles que sustentam que basta a "mera separação inicial" das funções de acusar e julgar para que o processo seja acusatório. Ora, isso não funda nada, ainda mais quando se permite que o juiz, depois de iniciado o processo, faça o que quiser, atuando de ofício (e ferindo de morte o ne procedat iudex ex officio, a estrutura dialética, o contraditório e, por fim, mas não menos importante, a imparcialidade), ou mesmo condenando sem pedido (!!), como autoriza o artigo 385 do CPP. O atuar de ofício (juiz-ator-inquisidor) está autorizado e tolerado pelos tribunais superiores (que nunca veem "prejuízo" em nada, ainda que seja um atroz atropelo das regras do devido processo, pois sedados pelo consequencialismo e uma equivocada concepção de instrumentalidade). Portanto, é elementar que a separação inicial das funções, quando não seguida de uma separação até o final, com cada parte ocupando o seu espaço demarcado pela dialética de actum trium personarum, é absolutamente insuficiente para salvar o processo do primitivismo inquisitório. Dizer que o processo penal brasileiro é misto é não dizer nada, pois na atualidade todos o são (tipos processuais puros são históricos). Ainda que "misto", há que se questionar (como ensina a exaustão e em inúmeros trabalhos, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho) diretamente o núcleo do sistema, onde está o "princípio fundante", que é a gestão da prova. Se a gestão da prova estiver nas mãos das partes, temos a observância do Princípio Dispositivo (ou acusatório); mas se a gestão da prova estiver nas mãos do juiz (um juiz-ator, portanto), está consagrada a adoção do Princípio Inquisitivo, que funda um sistema inquisitório. TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 111 Não é preciso mais do uma rápida leitura do Artigo 156 do CPP ou mesmo do Artigo 385 para ver ali consagrada a adoção do Princípio Inquisitivo na fase processual, ou seja, a assunção de que o processo penal brasileiro é inquisitório, em absoluto desprezo ao modelo acusatório-constitucional-convencional. Mas, minha intenção não é seguir na discussão teórica dos sistemas, pois outros já a fizeram com mais brilho e também porque dela estou um pouco estafado, senão alertar para a necessidade de — com urgência e de forma radical — mudar o próprio ritual judiciário brasileiro. Especialmente no que tange a uma estética, a uma aparência de debate acusatório com um juiz efetivamente estranho à arena das partes. Não existe a imparcialidade do juiz — que é o Princípio Supremo do Processo, ensinam Werner Goldschmidt e Pedro Aragoneses Alonso — sem um real e efetivo distanciamento entre julgador-acusador no processo e no ritual judiciário. Isso é óbvio! Mas não para nós brasileiros, imersos na cultura inquisitória e pródigos em aceitar como normal o anormal funcionamento da Justiça Criminal. Por conta desse perigoso processo de dessensibilização, é preciso reeducar nosso sistema imunológico, recorrendo ao olhar do 'estrangeiro'. Vivemos quase um romance do absurdo, tomando emprestada a lição de Alberto Camus. O advogado australiano Geoffrey Robertson, que atuou como observador estrangeiro no "caso do triplex" e a condenação de Lula, já deu uma importantíssima contribuição para nosso debate. Deixemos de lado a questão política-polarizada do ex-presidente e nos centremos no relato que o observador fez, pois o que ele assistiu e criticou é o que ocorre todos os dias em todos os tribunais brasileiros (sendo, portanto, irrelevante para o problema aqui analisado o fato de o acusado ser o ex-presidente Lula): "Cheguei ao tribunal esperando assistir a um julgamento justo, mas vi o promotor sentado com os juízes, tomando café, passando o tempo e almoçando juntos. Inacreditável. Visualmente, é uma corte tendenciosa. Tenho de dizer: o Brasil tem um sistema primitivo no qual não há juízes independentes [...]”. Experimentei uma sensação de espanto igual, mas em sentido inverso, quando passei uma semana no Chile (com um grupo de juristas brasileiros) assistindo a julgamentos e fazendo o curso de capacitação Herramientas para La Implementación de un Sistema Acusatorio en Brasil, promovido pelo Centro de Estudios de Justicia de las Americas (Cejas) e o Justice Studies Center of the Americas (JSCA). Uma sala de audiências completamente diferente, com três juízes (julgamento colegiado já em primeiro grau) sentados de frente para duasmesas, iguais e postas lado a lado, onde estavam advogados de defesa e acusadores públicos. No primeiro momento, com o olhar viciado pelo anacronismo inquisitório brasileiro, não identifiquei quem era quem, tamanha a igualdade estética e de tratamento. Para completar, advogados e promotor entraram juntos, pela mesma cancela e 112 UNIDADE 2 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL pela mesma porta da sala de audiência (nada de promotores entrando com juízes pela porta privativa). E essa é a prática recorrente, nada isolado, da dinâmica das relações. E por aí seguiu o ritual judiciário, inclusive nas audiências de custódia, com el juez de garantias (sim, lá eles não se envergonham de ter um "juiz das garantias" que jamais atuará na fase processual, pois obviamente juiz-prevento é juiz contaminado, que não pode julgar). Os julgadores, que nada conheciam do caso penal (a tão buscada "originalidade cognitiva" já tratada aqui) e tampouco tiveram acesso aos autos da investigação preliminar (sim, a minha "utópica" luta para excluir fisicamente os autos do inquérito policial), assistiram atentamente a todas as oitivas (lembram do fator "atenção" da teoria da dissonância cognitiva do Schünemann?). Para nosso espanto (grupo de juristas brasileiros), absolutamente nenhuma pergunta foi feita pelos magistrados chilenos em toda a instrução (feita inteiramente em um dia). No intervalo, uma aula de "esclarecimentos" sobre o julgamento e uma pergunta sintomática de Jacinto Coutinho: "Mas vocês não fizeram nenhuma pergunta. Vocês não têm vontade de perguntar?". Depois de olhares incrédulos (deles) que sequer compreendiam nossa preocupação, veio a resposta: "Excepcionalmente, mas muito excepcionalmente, podemos fazer alguma pergunta sobre algo que não tenhamos entendido, mas isso é muito raro. A produção das provas é ato das partes, a elas compete a produção da prova, não aos juízes". Bingo (diria Streck), eles sabiam o que realmente era um sistema acusatório e, principalmente, o que era uma cultura da oralidade e do processo acusatório. Mas no júri brasileiro então? Sejamos honestos: alguém realmente acredita que a estética do júri brasileiro é adequada para um processo penal democrático e acusatório? Para um julgamento justo? Elementar que não. Considerando que temos sete jurados leigos, suscetíveis aos "argumentos de autoridade", existe de largada um imenso prejuízo decorrente do lugar do acusador (ao lado do juiz) e do discurso que está legitimado a fazer, eis que se autodenomina acusador público "imparcial". Parênteses: quem sustenta que o Ministério Público é uma "parte- imparcial" desconhece a impossibilidade semântica da expressão e ainda ignora a origem e o lugar do MP (é preciso ler Carnelutti, Mettere il publico ministero al suo posto, só para começar). Ou, se sabedor, o faz por conveniência punitiva, uma pura manipulação discursiva para "manter o jurado em crença". De qualquer forma, deprecia a própria instituição do Ministério Público, que se vê reduzida no seu fundamental papel na estrutura acusatória. A partir daí, segue-se um jogo absolutamente desigual e inadmissível para o que se espera de um processo penal constitucional, democrático e em pleno Século XXI, com ausência de produção de provas em plenário (a regra é interrogatório e debates, com a prova sendo produzida na primeira fase), um sistema problemático de quesitação e, principalmente, com os jurados decidindo TÓPICO 3 | DENÚNCIA X QUEIXA E JURISDIÇÃO X COMPETÊNCIA 113 por íntima convicção (a la Idade Média) e sem fundamentar (o que é completamente inadmissível e perfeitamente corrigível em qualquer reforma legislativa). Mas, para salvá-lo, por que não se muda o júri brasileiro? Porque não se quer; porque não existe choque cultural para romper com essa estrutura inquisitória; porque é conveniente manter-se hígida estrutura inquisitória (afinal, são mais de 700 anos de tradição). Então, lutar por um processo penal democrático e acusatório é muito mais do que ficar discutindo se historicamente (e cada um conta a sua história da história) o processo romano admitia ou não a iniciativa probatória do juiz; é muito mais do ficar no reducionismo de que basta a mera separação inicial das funções; é muito mais do que pensar que oralidade é simplesmente gravar a oitiva das testemunhas e (raramente) ter um debate oral ao final. É preciso romper com a cultura inquisitória vigente, e despertar desse ingênuo sono de que as coisas vão bem no processo penal brasileiro. Fazer um exercício de estranhamento. Vivemos em situação similar àquela descrita por Platão na "alegoria da caverna". Sair da caverna, romper com os grilhões que culturalmente nos aprisionam a um processo penal primitivo e ver que existe (muita) vida inteligente fora. Que, sim, é possível fazer o ritual judiciário e o julgamento de forma completamente diferente. Muita gente vem tentando mostrar o mundo exterior, mas acaba sendo incompreendido e ridicularizado pelos que permaneceram presos na caverna. E, provavelmente, não será muito diferente agora, com esta coluna. É compreender o sistema acusatório no Século XXI, dentro da sua complexidade, como uma estrutura dialética que realmente crie condições de possibilidade para termos um juiz imparcial (com a compreensão ampla de tudo que isso exige e representa); que radicalize na busca por um procedimento em contraditório (Fazzalari); que se paute pela oralidade e a originalidade cognitiva do juiz; que não transija no tratamento igualitário entre as partes; que faça uma recusa ao consórcio de justiceiros (relação — incestuosa — entre julgador e acusador tão "naturalizada" entre nós) e que não descuide nunca da estética do ritual judiciário, com partes sendo partes e juiz sendo juiz. Seria um bom começo para deixarmos de ter um processo penal primitivo. FONTE: <https://www.conjur.com.br/2018-mar-16/limite-penal-processo-penal-brasileiro- primitivo-inquisitorio>. Acesso em: 21 fev. 2020. https://www.conjur.com.br/2018-mar-16/limite-penal-processo-penal-brasileiro-primitivo-inquisitorio https://www.conjur.com.br/2018-mar-16/limite-penal-processo-penal-brasileiro-primitivo-inquisitorio 114 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal pública (condicionada ou incondicionada) (CPP, art. 24); a queixa, peça acusatória inicial da ação penal privada. • Os requisitos essenciais da denúncia são: A exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, bem como a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo. Endereçamento ou cabeçalho, requerimento de citação e condenação do acusado, ser a inicial escrita em vernáculo, ser subscrita em pelo promotor de justiça com atribuição legal. • A diferença entre denúncia a queixa-crime. A queixa crime é um instrumento de denúncia, contudo se difere em termos técnicos dela, por não ser realidade por iniciativa estatal. A denúncia é oferecida pelo Ministério Público, ao passo que a queixa crime é oferecida pelo cidadão (um particular). • A jurisdição uma função do Estado (função jurisdicional), mediante a qual este se substitui às partes para buscar a pacificação social, aplicando o direito ao caso concreto. A jurisdição deve ser vista também como poder, sendo expressão da soberania estatal devido à capacidade de impor suas decisões. • A Competência absoluta: é aquela que não admite prorrogação, ou seja, em caso de incompetência, deve o processo ser remetido ao juiz natural da causa, sob pena de nulidade. Ex. competência em razão da matéria e competência funcional. • Competência relativa: é aquela que admite prorrogação, ou seja, caso o vício de incompetência não tenha sido alegado pela parte, torna-se competente o juiz que recebeu a causa, não cabendo posterior alegação de nulidade. Ex: competência territorial (No processo penal não tem competência em razão do valor da causa) Ficou alguma dúvida? Construímosuma trilha de aprendizagem pensando em facilitar tua compreensão. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. CHAMADA 115 1 O ato processual por meio do qual o Representante do Ministério Público leva ao conhecimento do Juiz, respaldado em provas colhidas no inquérito ou em outras peças de informação, a notícia de uma infração penal, diz quem a cometeu e pede seja instaurado o respectivo processo em relação a ele, denomina-se: a) ( ) pronúncia. b) ( ) queixa-crime. c) ( ) inquérito policial. d) ( ) denúncia. 2 Não constitui um requisito da denúncia de acordo com o código de processo penal: a) ( ) Descrição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. b) ( ) Qualificação do acusado com dados que possibilitem sua identificação. c) ( ) Classificação do crime. d) ( ) Verossimilhança da alegação. 3 Marque a alternativa correta em relação a competência em matéria processual penal: a) ( ) De acordo com o código de processo penal, em regra, a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração (teoria do resultado). Quando se tratar de tentativa, verifica-se o foro competente no local onde se deu o último ato executório. b) ( ) De acordo com o código de processo penal, em regra, a competência será determinada pelo lugar em que se iniciar a infração. Quando se tratar de tentativa, verifica-se o foro competente no local onde se deu o último ato executório. c) ( ) De acordo com o código de processo penal, em regra, a competência será determinada pelo lugar em que tiver a delegacia e o juízo criminal mais próximo. Quando se tratar de tentativa, verifica-se o foro competente no local onde se deu o último ato executório. d) ( ) De acordo com o código de processo penal, em regra, a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração (teoria do resultado). Quando se tratar de tentativa, verifica-se o domicílio do réu. AUTOATIVIDADE 116 4 “Mário é empregado de uma empresa de pneus e amortecedores, teve uma briga terrível com seu superior hierárquico Adalberto, nessa ocasião, Mauro, sem saber o que fazer, desferiu dois tiros contra Adalberto, que também estava armado, automaticamente dispara sua arma quando foi alvejado e fere Mário. Neste caso concreto, sobre competência responda: a) ( ) ambos responderão na justiça do trabalho. b) ( ) ambos responderão na justiça comum estadual. c) ( ) Adalberto responderá na justiça comum, pois é empresário e Mauro na justiça do trabalho porque é empregado. d) ( ) não houve crime, pois trata-se de legítima defesa. 5 São características da jurisdição: a) ( ) Horizontalidade, inércia, mutabilidade. b) ( ) Juiz natural, inércia e unidade. c) ( ) Improrrogabilidade, inércia e imutabilidade. d) ( ) Substitutividade, inércia e imutabilidade. 117 UNIDADE 3 ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos de processo do trabalho e sua historicidade; • estudar a organização e funcionamento da justiça trabalhista; • analisar a competência trabalhista e do dissídio individual; • entender o funcionamento do procedimento trabalhista; • compreender os conceitos de recurso trabalhista, execução trabalhista e dissídio coletivo. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO TÓPICO 2 – COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA TÓPICO 3 – RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 118 119 TÓPICO 1 HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO O direito processual do trabalho é um ramo do direito público, autônomo, contendo normas e princípios, cujo objetivo é pacificação social dos conflitos levados à justiça do trabalho, bem como a disciplina e funcionamento deste ramo do Poder Judiciário. Logo, o direito processual do trabalho, está inserido na esfera do direito objetivo e processual, por estabelecer a regulação da atividade processual que objetiva dirimir os conflitos sociais relativos às relações individuais e coletivas de trabalho, tanto no aspecto na relação de emprego como de trabalho. Este ramo do direito dispõe sobre o exercício de jurisdição, em sua função de solucionar as controvérsias decorrentes da relação de emprego, bem como de outras relações de trabalho inseridas na competência da Justiça do Trabalho. Dito isso, no âmbito do Direito Processual do Trabalho há o modo de como será a organização e a competência da Justiça do Trabalho, a forma como o processo deve ser pautado e estruturado, os meios procedimentais que devem ser observados e o proceder das partes na relação processual. Neste tópico, compreenderemos a organização Judiciária do Processo do Trabalho. Nesse aspecto analisaremos que a Justiça Nacional se divide em Justiça Especial e Comum. A República Federativa do Brasil possui três Justiças Especiais ou Especializadas, e, a Justiça do Trabalho se encontra nesta divisão. O Artigo 111, da Carta da República aduz quais são os órgãos da Justiça do Trabalho e sua subdivisão. Tal estudo se faz fundamental para a compreensão do procedimento trabalhista. Abordaremos o aspecto normativo da organização judiciária, sua estrutura, bem como as principais alterações advindas da Lei 13.467/2017. Com a EC 45/2004 implementou algumas mudanças na organização da Justiça do Trabalho, temos a seguir sua aplicação. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 120 Com o advento da Justiça do Trabalho objetivou-se criar uma Justiça de livre acesso a todos e para isso compreendeu-se que a Composição Paritária seria a melhor opção. Esta era compreendida pela composição das Juntas de Conciliação e Julgamento que possuía dois Juízes Classistas que possuíam a atribuição de representar empregados e empregadores e um Juiz Togado que era submetido a concurso público. Esta composição perdurou até o advento da Emenda Constitucional 24/99 que extinguiu a representação classista, e, a partir de então denominou-se Vara do Trabalho composta por um Juiz do Trabalho. Identificaremos com clareza o nascimento de toda a normatização que deu nascituro ao modelo de organização judiciária atualmente adotada pela Justiça Laboral, bem como ao regime de competências a ela aplicado. Analisaremos os métodos jurídico-sociológico e jurídico-teórico, votando- se para um enfoque diferenciado e mais humanístico da Justiça do Trabalho, buscando inseri-la no contexto social e na constante vigilância aos direitos do trabalhador, razão de ser do angular princípio da proteção. Serão abordadas, ainda, a título de melhor compreensão do organograma da Justiça Laboral, algumas considerações acerca da jurisdição, seus princípios, com destaque para o duplo grau de jurisdição. São órgãos da Justiça do Trabalho, conforme Artigo 111, da Carta da República: o Tribunal Superior do Trabalho (TST); os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs); o os juízes do trabalho. FIGURA 1 – ESTRUTURA JUSTIÇA DO TRABALHO FONTE: <https://pt.slideshare.net/direitoturmamanha/competencia-35607654>. Acesso em: 26 fev. 2020. https://pt.slideshare.net/direitoturmamanha/competencia-35607654 TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 121 O judiciário trabalhista, portanto, é dividido em três graus de jurisdição, quais sejam: TST (terceiro grau de jurisdição), TRTs (segundo grau de jurisdição) e os juízes do trabalho(primeiro grau de jurisdição, que exercem a jurisdição nas Varas do Trabalho). O Artigo 116 prevê que, nas Varas do Trabalho, a jurisdição é exercida por um Juiz singular. A Justiça do Trabalho concilia e julga as ações judiciais entre trabalhadores e empregadores e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como as demandas que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive as coletivas. Há 24 (vinte e quatro) Tribunais Regionais do Trabalho que são compostos por Desembargadores e representam a Segunda Instância da Justiça do Trabalho. Vide agora os artigos citados: Os artigos 111 e 111–A da Constituição Federal, este último incluído na Constituição Federal pela EC nº 45, de 2004, dispõe sobre a organização da Justiça do Trabalho: Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho: I - o Tribunal Superior do Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juízes do Trabalho Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. § 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do Trabalho. § 2º Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho. I a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira; II o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões terão efeito vinculante. § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões (BRASIL, 1988, s.p.). UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 122 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO É imperioso ressaltar, que as formas de trabalho existentes eram desprovidas de direitos trabalhistas. O Estado não possuía nenhuma preocupação na Legislação, posto que tivemos ao longo da história a escravidão, servos no regime feudal, corporações de ofício e a revolução francesa que possuía como premissa as ideias de igualdade, liberdade e fraternidade. Nessa linha, após a liberação do mercado na época da Revolução Industrial que culminou em problemas para os empregados, quais: jornadas excessivas, labor em condições insalubres e salários extremamente reduzidos. Em vista disso, os empregados iniciaram greves, as quais não tinham qualquer amparo legal, todavia demonstravam, de forma explicita, o escopo de apresentar a insatisfação dos trabalhadores pelas condições de trabalho sub- humanas. Por este contexto, começaram a aparecer as primeiras legislações, apesar de esparsas, que visavam garantir regras para certas categorias em dadas localidades. Com esse sentir, alguns países, tais como: Inglaterra, França, Espanha e Alemanha começaram a normatizar a matéria trabalhista. Num giro temporal podemos, em termos mínimos, apresentar uma linha cronológica do direito laborativo, veja: Em 1917, no México, surge a primeira Constituição Federal a disciplinar sobre normas de direito do trabalho, frisa-se que foi também, a primeira constituição a mencionar o termo previdência social no corpo normativo. Já em 1927, foi editada a Carta de Lavoro havendo a representação classista de empregados e empregadores e o poder normativo da justiça do trabalho (poder de estabelecer condições de trabalho no conflito coletivo). Vale informar, aquele fora o fato imperador e a base para o surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de 1943. No Brasil, tendo em vista a presença da escravidão, leis com intenção de proteção trabalhista foram sendo elaboradas. Entrementes, já existiam autorização normativa na nossa constituição desde 1922, todavia, na prática inexistia a aplicação da norma em relação aos trabalhadores. Foram criados, em 1922, os Tribunais Rurais no Estado de São Paulo, os quais tinham como primado: debater valores salariais. Já a sua composição era feita pela composição, tendo de um lado os representantes dos colonos e do outro os fazendeiros, que deliberavam e executavam as decisões no âmbito laborativo desses. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 123 Na Era Vargas, apesar de ser um governo marcado pelo autoritarismo, que tinha laços ideológicos com o modelo da época italiano, foi o percurso dos diretos trabalhistas no Brasil, ou seja, a partir daquele governo surgiu a CLT. Foram criadas, em 1932. as Juntas de Conciliação e Julgamento com a atribuição de julgar dissídios individuais e as Comissões de Conciliações mistas para julgar dissídios coletivos. Tratava-se de órgãos administrativos, integrantes do Ministério do Trabalho, Indústria e Comercio. Nota-se, quando do surgimento das juntas de conciliação e julgamento e das comissões de conciliação mista, sempre se manteve o direto à igualdade da composição paritária, isto é, ambas as partes havia representantes das categorias envolvidas. As Juntas e Comissões foram substituídas pelo Conselho Nacional do Trabalho. Sendo certo que, em 1934, a Carta da República começa a prever esta estrutura. Em 1937 há uma similitude enorme da nossa Carta da República pela Constituição Federal de 1927 da Itália. Durante a vigência da Constituição Federal de 1937 há a vigência do Decreto 1237/39 que trouxe o ponto inicial para despontar a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que passa a ter vigência em 1943. Com o raiar da Constituição de 1946, a qual aparecia de forma inovadora a Justiça do Trabalho como um órgão do Poder Judiciário, que culminou numa grande mudança, já que aquela passou de mero órgão administrativo para ser um órgão do poder judiciário, que até o presente se mantém inalterada. Com a criação da Justiça do Trabalho estria-se a existência de Juntas de Conciliação e Julgamento como órgãos de primeira Instância, que era composta por: Juiz do Trabalho, concursado público, e dois Juízes Classistas, indicados, e que representavam empregados e empregadores, e, tendo sem mandato de tempo determinado. A Lei 5.584/70 altera os Artigos 14 e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho, para estabelecer que a assistência judiciária gratuita deve ser prestada pelos sindicatos aos empregados. Nesse contexto social, a Constituição Federal de 1988 foi inovadora em trazer no seu bojo o direito do trabalho como um direito social e o tema processual nos Artigos 111 até 117. Vale evidenciar, que no ano de 1999 fora promulgada uma Emenda Constitucional nº 24 que extinguiu a representação classista, com isso, as varas do trabalho apenas têm sua atuação pautada pelo juízo único, ou seja, juiz do trabalho (podendo ter o auxílio de um juiz togado substituto). Assim, passando a nomenclatura de Junta de Conciliação e Julgamento para Vara do Trabalho. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 124 A competência em razão das pessoas na criação da Justiça do trabalho era para dirimir conflitos entre empregados e empregadores, ou seja, relação de emprego. Todavia, no ano de 2004, houve uma significa alteração, através da EC 45, que alterou o Artigo 114, da CRFB, que ampliou a competência da justiça dotrabalho para, então, dirimir conflitos de relação de trabalho, qual seja: trabalhador e tomadores de serviços. Já recentemente, em 2017, ocorreu o que fora chamado de reforma trabalhista que trouxe diversas alterações no direito processual do trabalho, questão que surgiu com a lei nº 13.467 que será traçada no decorrer do curso. 3 FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Podemos caracterizar que fontes do Direito são “os meios pelos quais se formam ou se estabelecem as normas jurídicas. É tudo o que dá origem, que produz o direito”. As fontes podem ser classificadas da seguinte forma: • As fontes materiais são os fatos relevantes (sociais, políticos, econômicos etc.) que impulsionam o legislador na elaboração da norma, ou seja, as manifestações sociais que podem ou não criar uma norma jurídica. A fonte material é o acontecimento do dia a dia que pode insuflar um parlamentar a editar a lei. Logo, são todas as influências externas, em determinado momento, que levam à formação das normas jurídicas. Nessa mesma linha de pensamento, vale aduzir, que muitas vezes não há a formação da norma jurídica, ou seja, você pode compreender a fonte material como por exemplo uma manifestação, passeata que pode demonstrar apenas o inconformismo social ou de uma categoria específica. Em algumas situações cria a norma jurídica e se transforma em fonte formal e em outras, apenas demonstra uma inquietude. • Já as fontes formais são atos-regra, de outro modo, atos normativos que tem como critério abstração (tem sua incidência não sobre uma situação determinada, mas sim sobre uma hipótese) e a generalidade (pode ser imputada a todos de forma indistinta), enfim, aquelas criam a regra jurídica, aferindo-lhe o ar de Direito Positivo. As fontes materiais resumem na manifestação social que pode ou não gerar a norma jurídica. Outrossim, as fontes formais são caracterizadas na exteriorização do direito, ou seja, criação da norma jurídica. Em vista disso, as fontes formais como já mencionado caracterizam-se pelas leis, normas coletivas etc. em outra linha, as fontes materiais podem ser os fatores que acarretam a origem de normas, envolvendo fatos e valores. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 125 Neste caminhar, as fontes do Direito se dividem em duas espécies: heterônomas ou autônomas. a) As heterônomas são as impostas por terceiros, ou seja, agentes externos que criam a norma jurídica, como por exemplo um artigo da Constituição Federal ou uma Lei. b) Já as autônomas são as elaboradas pelos próprios envolvidos na relação do direito pretendido (costume, convenção e acordos coletivos etc.). Em relação à origem, as fontes podem ser: estatais (leis, sentença normativa etc.); não estatais (ou extraestatais), quando emanada dos grupos e não do estado (regulamento de empresa, contrato de trabalho etc.); profissionais, são estabelecidas pelos trabalhadores e empregadores interessados (convenção e acordo coletivo de trabalho). Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser: voluntárias (contrato de trabalho, convenção e acordo etc.) e imperativas- normativas, (Constituição, leis etc.). As fontes dividem-se em diretas ou imediatas e indiretas ou mediatas. São fontes formais diretas do Direito do Trabalho à Constituição, as leis em geral (incluindo decretos, portarias, regulamentos, instruções etc.), os costumes, as sentenças normativas, os acordos e convenções coletivas, os regulamentos de empresa e os contratos de trabalho. A lei é fonte formal por excelência. O termo surge do verbo latino ligare, resumindo é aquilo que liga, aquilo que vincula, aquilo que obriga. O Direito tem como fonte básica a lei, ela é a norma geral e abstrata exalada pelo poder democrático competente e provida de força obrigatória a todos. O costume, como fonte de Direito, se origina na prática de uma determinada conduta pela sociedade. Os costumes surgem no dia a dia da própria empresa, fazendo com que os usos atinentes a um grupo de empregados passem a ser normas que aderem aos contratos de trabalho. Também pode se originar no seio da própria categoria econômica e profissional. Os costumes podem em resumo, serem considerados padrões reiterados de comportamento. Quanto à jurisprudência, corresponde à reiterada interpretação das normas jurídicas realizadas pelos tribunais, a partir do julgamento de casos concretos levados ao Poder Judiciário. No âmbito da Justiça do Trabalho temos enunciados, precedentes normativos e precedentes jurisprudenciais da seção especializada em dissídios individuais, todos de lavra do colendo Tribunal Superior do Trabalho. Aos tribunais regionais cabe a uniformização da sua jurisprudência (Artigo 896, §3° da CLT). Neste contexto, não é um ato-regra, destina-se de forma especifica a um caso particular levado à julgamento. A Constituição é a principal fonte do Direito, é a norma ápice, ou seja, fundamento de validade de todas as demais normas infraconstitucionais, que no presente trabalho vale destacar os Artigos 111º e 114º daquela. No direito do https://www.portaleducacao.com.br/cursos/administracao-1/curso-livre/direito/direito-do-trabalho/593 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 126 trabalho, a Constituição Federal deve sempre prevalecer, mas se houver norma infraconstitucional melhor para o trabalhador, elas que devem ser aplicadas. É a aplicação interpretativa do princípio da isonomia material juntamente com o Princípio Protetor e a caracterização da norma mais favorável. O art. 8º da CLT deve ser estudado com cuidado, tendo em vista que prevê o julgamento dos casos trabalhistas levando-se em conta: à jurisprudência, a analogia, a equidade, os princípios e normas gerais de Direito. No entanto, a equidade e a analogia são técnicas de integração de normas, empregadas apenas para suprir as eventuais omissões existentes na lei. A convenção coletiva (sindicato dos empregados e sindicato patronal) e o acordo coletivo (sindicato dos empregados e empresa) também constituem importante fonte do Direito do Trabalho. Tendo como base o Artigo 769 da CLT, percebe-se a possibilidade de aplicação subsidiária do Artigo 126 do CPC, onde está disposto que o juiz não está dispensado de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade. Portanto, não pode o magistrado se furtar de julgar. Contemporaneamente, o vocábulo equidade significa interpretar de forma abrandada a lei para aplicação em situações para as quais não existe nenhuma norma e haja necessidade de uma distribuição justa do direito. Assim, a diferença da analogia, pelo fato desta última ser uma operação lógico-comparativa realizada pelo operador do direito quando há lacunas normativas, buscando preceito adequado que exista no ordenamento jurídico. Esta é efetivamente a concretização da integração jurídica, que retrata a importância das fontes do direito, que auxiliam de maneira significativa nesse processo. Em resumo, podemos assim formular: • Fontes materiais: o conjunto de fontes materiais se apresenta como o berço da norma jurídica “formalizada”, isto é, “são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, compreendendo fatos e valores”. Melhor dizendo, são as fontes potenciais do processo trabalhista, e surgem do próprio direito material do trabalho. Logo, são consideradas fontes materiais os acontecimentos sociais em sentido amplo, os fatores econômicos, os traços culturais, as construções éticas e morais de uma sociedade, além das nuances políticas, fontes essas que quando ensejo para dar origem e pressionar, alternada e reciprocamente, o surgimento e a criação de uma normatividade jurídica. • Fontes formais: as fontes formais são o resultado da “pressão” das fontes materiais, que surgem da situação concreta e efetiva delas, isto é, são “o fenômeno de exteriorização final das normas jurídicas, os mecanismos e modalidades https://www.portaleducacao.com.br/cursos/administracao-1/curso-livre/direito/direito-do-trabalho/593TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 127 mediante os quais o Direito transparece e se manifesta” (DELGADO, 2015, p. 142). Em vista disso, essa modalidade de fonte também apresentam uma divisão específica, alcançando as fontes formais diretas, que abrangem a lei em sentido genérico, as fontes formais indiretas, que tem sua origem na doutrina e na jurisprudência e, por fim, as fontes formais de explicitação, cujas expressões mais importantes são a analogia e a equidade. Como fonte formal direta primordial do Direito Processual do Trabalho, temos as normas constitucionais, que serão seguidas pelas leis complementares, ordinárias, as medidas provisórias, os decretos legislativos e as resoluções do Congresso Nacional, bem como os decretos-leis. Por fim, vale advertir que os princípios do novo Código de Processo Civil geram grandes impactos na justiça do trabalho, visto que a Consolidação das Leis Trabalhistas é repleta de lacunas, envelhecimento e inadequações de suas normas. É importante que o CPC e a CLT andem de mãos dadas, de forma compatível entre suas normas para melhor efetivação e eficácia de direitos e justiça social. De acordo com Schiavi, (2015, p. 1). A chegada do Novo Código de Processo Civil provoca, mesmo de forma inconsciente, um desconforto nos aplicadores do Processo Trabalhista, uma vez que há muitos impactos da nova legislação nos sítios do processo do trabalho, o que exigirá um esforço intenso da doutrina e jurisprudência para revisitar todos os institutos do processo do trabalho e analisar a compatibilidade, ou não, das novas regras processuais civis. Ainda para Schiavi, (2015, p. 2) “As regras do Código de Processo Civil somente podem ser aplicadas ao Processo do Trabalho, se forem compatíveis com a principiologia e singularidades do Processo Trabalhista”. Tendo em vista o aparecimento do Novo Código de Processo Civil, manifesta-se uma dúvida de que quais regras poderiam ser aplicadas no processo trabalhista, mas a resposta já vem na própria legislação e são dadas na CLT e no próprio CPC, que serão expressas abaixo para um melhor compreensão. 4 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E PECULIARIDADES NO PROCESSO DO TRABALHO Tendo em vista a existência de abordagens díspares, surge a necessidade de se fazer uma escolha de ordem metodológica, adotando-se uma linha teórica de análise. Nesse sentido, a esfera principiológica, será aqui analisado aqueles princípios que possuem maior incidência em provas e concursos da área. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/174276278/lei-13105-15 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 128 a) Princípio da proteção do empregado hipossuficiente O processo laboral, enquanto mecanismo instrumental, é, sem sombra de dúvidas, permeado por desigualdades históricas que norteiam a relação de forças envolvendo o capital e o trabalho. Nesse sentido ratifica Rodriguez (1997, p. 30) “[...] o direito do trabalho surgiu como consequência de que a liberdade de contrato entre pessoas com poder e a capacidade econômica desiguais conduzia a diversas formas de exploração. Inclusive as mais abusivas e iníquas”. Emerge a intervenção do Estado nas relações sociais, atendo-se nas relações de trabalho para limitar a autonomia de vontade nos contratos de trabalho, bem como estabelecendo um rol de direitos mínimos que devem ser observados por ambas as partes nas contratações. Martins (2013) evidencia que o princípio base do processo trabalhista é o da proteção, devido a este, no caso de dúvida, a interpretação deve ser realizada sempre a favor do economicamente fraco, que é o empregado, na hipótese de estar em litígio com o empregador. Nesse sentido, corrobora Rodriguez (1997, p. 30) “[...] no Direito do Trabalho a preocupação central parece ser a de proteger uma das partes com o objetivo de, mediante essa proteção, alcançar-se uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes”. Dessa forma, por meio de uma visão principiológica protetora, este princípio parte da premissa que como o empregador é detentor do poder econômico, logo, tendo, em tese, uma situação privilegiada, já o empregado será conferido de uma vantagem jurídica que buscara equalizar esta diferença. Exemplo deste equilíbrio entre os litigantes, de modo que o empregado não esteja em posição desigual, está expressamente elencado no §3º do Artigo 790 da CLT: a gratuidade do processo, com dispensa do pagamento de custas, beneficiando o empregado em desfavor do empregador. Outrossim, na maioria dos casos, há a inversão do ônus da prova ou são aceitas presunções que só favorecem o empregado. Ademais, o empregado poderá ajuizar a ação sem o auxílio de advogado, diante do Artigo 791 da CLT, podendo propô-la até mesmo oralmente (Artigo 840 da CLT). É proporcionando o acesso fácil à justiça pelo trabalhador, aqui estamos diante do instituto jus postulandi. b) Princípio da igualdade ou isonomia O princípio da igualdade ou isonomia está esculpido no Artigo 5º, caput, da CF, que assim dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]”. Este princípio prega que todos, homens e mulheres, possuem igualdade em direitos e obrigações. No direito do trabalho brasileiro, que ingressa com ação e quem é executado, possui as mesmas obrigações. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 129 Este princípio não deve ser aplicado de maneira irrestrita, mas em sentido amplo, ou seja, somente haverá igualdade ou isonomia quando houver tratamento igual entre iguais. Ou seja, para ocorrer a igualdade processual material temos que tratar os desguiais nas medidas das suas desigualdades. Logo, haverá flagrante desigualdade se proporcionarmos tratamento igual a desiguais. No processo trabalhista, existem certas exceções à aplicabilidade do princípio da isonomia, como, por exemplo, o prazo concedido à Fazenda Pública e ao Ministério Público para contestar e para recorrer (Artigo 188 do CPC). Deve-se observar, por fim, que o princípio da igualdade, na esfera processual do trabalho é aplicável tanto nos dissídios individuais quanto nos dissídios coletivos. c) Princípio do contraditório e da ampla defesa O princípio do contraditório encontra-se estabelecido no Artigo 5º, LV, da CF, onde diz: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. No direito do trabalho, não pode haver desequilíbrio entre as partes, haja vista a reciprocidade de obrigações, logo, o princípio do contraditório por exemplo, deve ser aplicado para ambas as partes, reclamante e reclamado. Alexandre de Moraes (2005, p. 31), sobre o princípio do contraditório, salienta que “a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de se opor ou de dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor”. O princípio da ampla defesa previsto no Artigo 5º, LV, da CF,é parte integrante do princípio do contraditório. Este é direcionado ao réu, em regra geral é unilateral (com exceção nos casos de reconvenção, quando o princípio da ampla defesa deverá ser aplicado também ao autor da ação). O objetivo desse princípio é viabilizar ao réu as condições necessárias ao esclarecimento da verdade. d) Princípio da imparcialidade do juiz O Artigo 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, ensina em sua obra que toda pessoa tem direito, em condições de plena igualdade, de ser ouvida publicamente e com justiça por um tribunal independente e imparcial, para a determinação de seus direitos e obrigações ou para o exame de qualquer acusação contra ela em matéria penal. Continuando, ele ensina que sem essa imparcialidade não há, para as partes, garantia de justiça (ONU, 1948). UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 130 Dentro do processo, o juiz, como autoridade prolatora da sentença, não poderá agir de forma tendenciosa, mas deverá cumprir seu mister de modo imparcial, o que pode ocorrer é a distribuição diversa da prova, ou seja, mesmo que a prova deva ser produzida pelo reclamante o magistrado pode imputar o reclamado a fazer a prova, se diante do caso ficar mais fácil da produção por este em relação àquele (Artigo 818, §1º da CLT). Para preservar o princípio da imparcialidade, a Constituição Federal, em seu Artigo 95, I a III, garante aos magistrados as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. O Código de Processo Civil, em seu Artigo 135 e incisos, prevê os casos em que o juiz deve declarar-se suspeito (caso o juiz não faça, a parte interessada poderá provocar a exceção de suspeição – Artigo 312 do CPC). e) Princípio da motivação das decisões O Artigo 93, IX da CF dispõe: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. O objetivo deste princípio é, portanto, evitar decisões arbitrárias. f) Princípio do devido processo legal O princípio do devido processo legal encontra amparo no Artigo 5º, LIV da CF, in verbis: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Melhor dizendo, ninguém será privado de sua liberdade e bens a não ser pela tutela jurisdicional do Estado que deverá se utilizar de normas previamente elaboradas, vedando, assim, os tribunais de exceção. g) Princípio do duplo grau de jurisdição O princípio do duplo grau de jurisdição tem por fim atender e viabilizar o interesse e a possibilidade da parte de recorrer a uma instância superior, se decisão lhe for adversa. Referente à norma jurídica, existe divergência doutrinária acerca deste princípio, havendo duas correntes acerca do assunto. Parte da doutrina entende que o princípio em tela está em patamar constitucional, apontando, para tal, o Artigo 5º, LV, que diz: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (grifo nosso). TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 131 A segunda corrente tem entendimento oposto, colocando este princípio como simples regra de organização judiciária. São recorríveis, em regra, todos os atos decisórios do juiz que prejudiquem a parte. No processo civil pode-se recorrer das decisões interlocutórias e das sentenças. Em sentido contrário, no aspecto processual trabalhista, apenas das sentenças, uma vez que não existe a figura do agravo retido, como no cível. h) Princípio da inafastabilidade de jurisdição O princípio em tela encontra-se estabelecido no Artigo 5º, XXXV, da CF, onde se lê: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. A Constituição Federal veda qualquer ato que limite o acesso ao Judiciário, salvo e especificamente quando do aspecto ligado à justiça desportiva, que deve ter seu esgotamento em primeiro momento. No âmbito trabalhista, o acesso ao Poder Judiciário poderá dar-se de três modos: individual (dissídios individuais), coletivo (dissídios coletivos) e pela atuação do Ministério Público do Trabalho (ação civil pública). i) Princípio do dispositivo ou da demanda Este princípio tem base legal no Artigo 2º do CPC, que diz: “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais”. Na esfera cível o processo somente tem seu início com a provocação da parte interessada. No direito do trabalho em regra, a parte interessada poderá ajuizar a ação de modo verbal (que será reduzida a termo) ou escrita, conforme previsão dos Artigos. 786 e 787 da CLT. Existe uma exceção à regra que está prevista no Artigo 39, caput, da CLT. j) Princípio inquisitivo ou do impulso oficial Este princípio está consagrado no Artigo 262 do CPC, o qual diz: “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial”. Uma característica singular do processo trabalhista é a possibilidade de o juiz promover a execução ex officio, conforme preconiza o Artigo 878, caput, da CLT, que diz: “Artigo 878. A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado”. Dentro desse pensamento é mais cabível que o juiz trabalhista determine o arquivamento provisório dos processos, quando o autor não promover, após a publicação da sentença, a liquidação e a execução e ainda podendo ocorrer a prescrição intercorrente. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 132 k) Princípio da instrumentalidade O princípio em tela está esculpido nos Artigos. 154 e 244, ambos do CPC, que assim prevê: Artigo 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. [...] Artigo 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. Exemplo deste princípio ocorre quando o reclamado, sem ser notificado para comparecer à audiência designada, comparece espontaneamente, aperfeiçoando, assim, a citação. l) Princípio da impugnação especificada O princípio em tela está esculpido no Artigo 341 do CPC, que assim dispõe: “Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial”. Deve o réu impugnar especificadamente cada ponto da petição inicial, sob pena, de se presumir verdadeiros os fatos não contestados, salvo as exceções previstas nos incisos do artigo citado. m) Princípio da estabilidade da lide Este princípio está inserido no Artigo 329 do CPC, que assim dispõe: Artigo 329. O autor poderá: I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir. No processo civil, uma vez proposta a ação, o autor poderá modificar o pedido antes da citação do réu; com a citação realizada, somente com a anuência do réu. Após o despacho saneador, nenhuma modificação é permitida. No processo do trabalho, entretanto, não há a figura do despacho saneador, dessemodo, caso haja necessidade de aditamento da petição inicial, deverá o juiz designar nova audiência para que o réu possa adequar a contestação, a menos que tal aditamento não traga prejuízo para a defesa. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 133 n) Princípio da preclusão Preclusão é comumente definhada pela doutrina como a perda de uma faculdade ou direito processual por não ter sido exercido no devido tempo. Para Carlos Henrique Bezerra Leite (2019), preclusão “é ‘o andar para frente’, sem retornos a etapas ou momentos processuais já ultrapassados”. Humberto Theodoro Júnior (2002, p. 28) ensina que “a preclusão consiste na perda da faculdade de praticar um ato processual, quer porque já foi exercitada a faculdade processual, no momento adequado, quer porque a parte deixou escoar a fase processual própria, sem fazer uso de seu direito”. Na sistemática processual civil, o princípio da preclusão está previsto no Artigo 278 e 507 ambos do CPC. Já no sistema processual trabalhista, este princípio está explicitamente inserido no Artigo 879, §2º, da CLT, que assim prevê: “Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir às partes prazo comum de oito dias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão”. o) Princípio da oralidade O princípio da oralidade não é um princípio de processo, mas de procedimento processual. Não há no CPC e na CLT uma norma expressa sobre o princípio em tela. A lei dos juizados especiais (Lei 9.099/95) em seu Artigo 2º diz que: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”. No processo do trabalho o princípio da oralidade tem ampla utilização: a reclamação poderá ser verbal (reduzida a termo posteriormente) — Artigo 840, caput, da CLT. p) Princípio da lealdade processual Segundo os ensinamentos de Carlos Henrique Bezerra Leite ( 2019, p. 90), este princípio “tem por escopo impor aos litigantes uma conduta moral, ética e de respeito mútuo, que possa ensejar o curso natural do processo e levá-lo à consecução de seus objetivos: a prestação jurisdicional, a paz social e a justa composição da lide”. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 134 O princípio da lealdade processual está esculpido no Artigo 5º do CPC, que diz: “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. q) Princípio da proteção O princípio da proteção é básico do direito do trabalho e colocar as partes em pé de igualdade na hora de ingressarem com ações na justiça do trabalho. Por óbvio, tende a proteger mais e integralmente e obreiro. Ao aplicarmos o princípio da proteção no processo do trabalho amenizamos esta diferença econômica entre os litigantes. Podemos demonstrar a aplicação deste princípio na seara processual trabalhista nos seguintes exemplos: • A gratuidade de justiça, geralmente, é concedida apenas ao empregado, conforme Artigo 790, §§ 1º e 3º da CLT. • O comparecimento à audiência é tratado de forma diferenciada pela CLT em seu Artigo 844. Se a ausência for do demandante (autor) a ação trabalhista será arquivada, o que proporciona ao autor, normalmente o empregado, a oportunidade de ajuizar uma nova ação perante a justiça especializada. Já a ausência do demandado, normalmente o empregador, importará em revelia, além de confissão quanto à matéria de fato. • Nos casos de recursos, o depósito recursal é exigido apenas do empregador, quando este for o recorrente, conforme Artigo 899, § 4º da CLT. Em vista disso, nota-se na seara processual trabalhista, tratamento diferenciando entre empregado (parte, geralmente, hipossuficiente) e empregador, fazendo justiça ao tratar pessoas desiguais de forma desigual, visando, num primeiro momento, proteger aquele que é o menos capaz economicamente, o empregado. r) Princípio da finalidade social O Artigo 5º da LINDB dispõe: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige, e às exigências do bem comum”. A justiça do trabalho é, primordialmente, uma justiça social. Carlos Henrique Bezerra Leite (2019, p. 67) ensina que: A diferença básica entre o princípio da proteção, acima referido, e o princípio da finalidade social é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença. Exemplo deste princípio está no fato de que o juiz, ao condenar uma empresa a pagar as verbas rescisórias a um empregado, deverá verificar se a força desta decisão não irá afetar terceiros, como acontece nos casos em que a empresa TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 135 não está bem financeiramente e o impacto da decisão judicial poderá acarretar demissões ou o fechamento da mesma. Nesta situação o juiz trabalhista pode ter uma situação ativa, diferente do juiz cível que está mais enrijecido na letra da lei. s) Princípio da busca da verdade real Este princípio decorre do princípio da primazia da realidade, aplicada ao direito material do trabalho. Há divergência doutrinária quanto a especificidade deste princípio no direito processual do trabalho. Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite (2019, p. 87), é “inegável que ele é aplicado com maior ênfase neste setor da processualística do que no processo civil”. Tal entendimento baseia-se no Artigo 765 da CLT que diz, in verbis: “Os juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas”. Os defensores deste princípio na seara cível apontam o Artigo 131 do CPC, que prevê, in verbis: “O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”. t) Princípio da conciliação O princípio da conciliação, na justiça do trabalho, está esculpido no Artigo 764, caput, da CLT, que prevê: “Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”. No procedimento ordinário do processo trabalhista, a proposta de conciliação é feita pelo juiz laboral em dois momentos distintos: • Na abertura da audiência, conforme previsão do Artigo 846 da CLT que assim prevê: “aberta a audiência, o juiz ou presidente proporá a conciliação”. • Antes da sentença, após as razões finais, conforme preceitua o Artigo 850, caput, da CLT, que diz: “Terminada a instrução, poderão as partes aduzir razões finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovará a proposta de conciliação, e não se realizando esta, será proferida a decisão”. No procedimento sumaríssimo da justiça do trabalho, há uma observação importante a fazer quanto ao momento da conciliação. Segundo o Artigo 852-E da CLT, a conciliação poderá ocorrer em qualquer fase da audiência, como se verifica a seguir: “Aberta a sessão, o juiz esclarecerá às partes presentes sobre as vantagens da conciliação e usará os meios adequados de persuasão, para a solução conciliatória do litígio, em qualquer fase da audiência”. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 136 A não observância, pelo juiz, da proposta de conciliação acarretará nulidade dos atos posteriores praticados no processo. Na justiça do trabalho o termo de conciliação é irrecorrível e tem força de coisa julgada, essa ocorre no momento em que o juiz homologa o acordo, conforme entendimento do Artigo 831, parágrafo único, da CLT que diz: “no casode conciliação, o termo que for lavrado valerá como decisão irrecorrível, salvo para a previdência social quanto às contribuições que lhe forem devidas”. u) Princípio da normatização coletiva O princípio da normatização coletiva está baseado no Artigo 114, § 2º, da CF que diz, in verbis: Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite (2019, p. 267): A Justiça do Trabalho brasileira é a única que pode exercer o chamado poder normativo, que consiste no poder de criar normas e condições gerais e abstratas [...], proferindo sentença normativa [...] com eficácia ultra partes, cujos efeitos irradiarão para os contratos individuais dos trabalhadores integrantes da categoria profissional representada pelo sindicato que ajuizou o dissídio coletivo. O direito coletivo sempre foi uma bandeira da justiça do trabalho, seu interesse nada mais é do que proteger a classe dos trabalhadores, processualmente falando possui eficácia ultra partes. 5 VARAS DO TRABALHO As Varas do Trabalho são órgãos da primeira instância que julgam os dissídios individuais e foram criadas em substituição às Juntas de Conciliação e Julgamento. Conforme redação do Artigo 116 da Constituição Federal, “nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exercida por um juiz singular”. Este deverá ser previamente aprovado em concurso público. Taciane Agner de Faria Rodrigues (2014, p. 23 apud SOUSA, 2017, s.p.) diz que “as Varas do Trabalho processam e julgam dissídios individuais oriundos da relação de trabalho, conforme disposição do Artigo 114 da Constituição Federal, tendo jurisdição local podendo abranger ainda alguns municípios próximos, nos termos do Artigo 650, caput, da CLT”. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 137 As Varas do Trabalho são consideradas Instâncias Ordinárias e possuem competência nas Comarcas que possuem sua localização, sendo certo que somente por lei podem ter sua abrangência estendida ou reduzida. Vale ressaltar, que nas localidades em que não existem Varas do Trabalho, os Juízes de Direito possuem competência para apreciar as demandas trabalhistas, consoante dispõe os artigos 111 c/c 112, da Carta Magna e Artigo 614, c, da Consolidação das Leis do Trabalho. Os juízes do trabalho ingressam na carreira como Juízes Substitutos, até atingirem, gradativamente, a titularidade de uma Vara Trabalhista. Devem, ainda, na ocasião da investidura no cargo, consoante com o que dispõe o Artigo 93, inciso I do Texto Maior, ter, pelo menos, três anos de atividade jurídica e idade no intervalo temporal de 25 a 45 anos. A posse é assinada pelo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho a qual o juiz está vinculado. Assevera Martins (2016, p. 131): Os juízes do trabalho ingressam na magistratura do trabalho como juízes substitutos. Os juízes substitutos são nomeados após aprovação em concurso público de provas e títulos realizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da região respectiva [...]. O candidato deve ser Bacharel em Direito. Deve ter, no mínimo, três anos de atividade jurídica (Artigo 93, I, da Constituição). Por óbvio, imiscuído de um juízo meramente opinativo da presente pesquisa, tem-se que os juízes do trabalho detêm não apenas mais legitimidade que os extintos classistas, mas representam, sobretudo, a pujança da decisão trabalhista, formulada por quem tem a isenção de assim fazê-lo sem a interferência, pelo menos em tese, de interesses de classes. Consecutivamente, vale frisar que apesar de a Justiça Trabalho alocar-se no âmbito federal da Justiça pátria, nem sempre, em razão da robustez territorial do Brasil e da insuficiente dotação orçamentária anual, a jurisdição trabalhista é exercida, na fase inaugural (primeiro grau) por juízos laborais legalmente constituídos. No tocante ao assunto, leciona Martins (2016, p.130): “A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-las aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho (art.112 da Constituição). A lei mencionada é a ordinária federal”. Em verdade, a possibilidade excepcional de um juiz de direito versar sobre matéria trabalhista tem amparo no princípio processual da inafastabilidade da jurisdição, como já abordado anteriormente. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 138 6 TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO Os Tribunais Regionais do Trabalho são divididos no Brasil em 25 regiões e são aptos a exercer a segunda instância laboral, revisando as decisões emanadas do julgador monocrático das Varas do Trabalho. A instalação destas Cortes tem fundamento constitucional no Artigo 115 da Carta Magna, o qual depreende: Artigo 115: Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I- um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no Artigo 94; II- os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente. § 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo- se de equipamentos públicos e comunitários. § 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo”. Os Tribunais Regionais, que sucederam os Conselhos Regionais do Trabalho, são compostos, em regra, por, no mínimo, sete juízes escolhidos no primeiro grau de jurisdição da respectiva região, avalizados pelo Presidente da República entre brasileiros com mais de 35 anos e menos de 65 anos. Os membros dos Tribunais Regionais denominam-se Desembargadores e, diferentemente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), consoante será oportunamente estudado, não necessitam de qualquer controle por parte do Poder Legislativo Federal. Com relação ao segundo grau de jurisdição na esfera trabalhista também segue a lógica da Justiça Comum no tocante ao propalado “quinto constitucional”. Tal fenômeno corresponde à possibilidade de ingresso de integrantes de outras carreiras jurídicas aos quadros do Tribunal Regional, notadamente advogados e procuradores do trabalho com mais de dez anos de atividade, escolhidos mediante lista sêxtupla formulada pela Ordem dos Advogados do Brasil e/ou pelo Ministério Público do Trabalho (no caso dos Tribunais do Trabalho), lista está reduzida a condição de tríplice pelo Tribunal Regional e remetida ao Chefe do Poder Executivo, in casu o Presidente da República, que escolherá um dentre os três. A noção de quinto constitucional no Brasil surgiu com a Carta de 1967 e tinha o intuito de “democratizar” os Tribunais do país, inovação recepcionada pela Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 94. Referente ao quinto constitucional, leciona Schiavi (2016, p.190): TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 139 Nos Tribunais Regionais do Trabalho e no Tribunal Superior do Trabalho, há o chamado quinto constitucional, vale dizer: um quinto das vagas desses tribunais será ocupada por advogados e membros do Ministério Público do Trabalho, ambos com mais de dez anos de exercício profissional, de notório saber jurídico e reputaçãoilibada, que não prestam concurso, sendo nomeados pelo Presidente da República em listas sêxtuplas elaboradas pelos próprios tribunais. A inclusão de ministros provenientes da Advocacia e do Ministério Público foi ordenada pela Constituição de 1967 (Artigo 141, § 12, a, da EC nº 1, de 1969), estendendo a tradição prevalente nos demais Tribunais à Justiça do Trabalho, e mantida pela Carta Constitucional de 1988. A existência do quinto constitucional é fundada na democratização dos Tribunais em razão do ingresso de membros oriundos de outras esferas jurídicas que podem contribuir para o aperfeiçoamento da Instituição. Já a maioria dos outros ocupantes, serão ocupados por juízes de carreira no primeiro grau de jurisdição, considerando os critérios de promoção por antiguidade e merecimento, nos termos do que preconiza o Artigo 115, Parágrafo Único, Inciso I da Constituição. 7 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO O Tribunal Superior do Trabalho é disposto no Artigo 111-A da Constituição da República Federativa do Brasil, representando a máxima instância da Justiça do Trabalho. A Corte é composta por 27 juízes, denominados Ministros, escolhidos pelo Presidente da República (e referendados por maioria absoluta do Senado Federal) dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos. A composição da Corte Superior Trabalhista também, a luz do princípio da simetria, comporta o quinto constitucional. Estruturalmente, O TST editou a Resolução Administrativa 1295/2008, definindo, em seu art. 59, os órgãos que compõem o próprio TST, quais sejam: o Plenário, representando a totalidade dos 27 ministros da Corte; o Órgão Especial — composto por 14 Ministros, sendo o Presidente, o Vice-Presidente, o Corregedor, os sete Ministros mais antigos e outros sete eleitos pelo Pleno —, responsável por se manifestar acerca das arguições de inconstitucionalidade em controle difuso; a Seção Especializada em Dissídios Individuais — SDI; a Seção Especializada em Dissídios Coletivos — SDC; oito Turmas; três Comissões Permanentes (Regimento Interno, de Jurisprudência e Precedentes Normativos e de Documentação). 8 MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO O Ministério Público no Brasil, em suas diversas searas funciona como fiscal da lei, o que lhe legitima para a prática de variados atos. Segundo Leite (2002, p. 29): UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 140 No início, a figura do Ministério Público relacionava-se à dos agentes do rei (les gens du roi), isto é, à “mão do rei” e, atualmente, para manter a metáfora, à “mão da lei”. A expressão parquet, bastante utilizada com referência ao Ministério Público, advém da tradição francesa, assim como magistratura de pé e les gens du roi. Com efeito, os procuradores do rei, antes de adquirir a condição de magistrados e ter assento ao lado de juízes, ficavam, inicialmente, sobre o assoalho (parquet) da sala de audiências, e não sobre o estrado, lado a lado à magistratura sentada. O Ministério Público do Trabalho tem agasalho no Artigo 128 da Constituição Federal e atua como custo legis em matéria trabalhista. Cabe ao MPT o manejo de ações civis de caráter público, nos limites da Justiça do Trabalho, objetivando a defesa irrestrita dos interesses coletivos, em ocasiões em que restarem desrespeitados direitos de ordem constitucional dos trabalhadores. Em outras palavras, o MPT é o fiscal da lei em questões trabalhistas. O quadro de carreiras do MPT, esculpido no artigo 86 da Lei Complementar nº 75/93, compreende os seguintes cargos: o Procurador do Trabalho, investido através de concurso e dotado de: como os magistrados, de vitaliciedade; o Procurador Regional do Trabalho que atua junto aos Tribunais Regionais do Trabalho; e o Subprocurador Geral do Trabalho, o cargo mais alto do MPT. O Procurador do Trabalho, diferentemente do Juiz do Trabalho, quando adentra no quadro funcional de seu órgão já é efetivado no ato de sua posse, inexistindo a figura do Procurador do Trabalho substituto. No entendimento do renomado MARTINS (2016, p. 220): A carreira do Ministério Público do Trabalho será constituída pelos cargos de Subprocurador Geral do Trabalho, Procurador Regional do Trabalho e Procurador do Trabalho. O cargo inicial da carreira é o de Procurador do Trabalho e o do último nível o de Subprocurador Geral do Trabalho. As promoções são feitas, alternadamente, por merecimento e antiguidade. Em outro giro, O MPT está integrado ao Ministério Público da União, tendo sua operacionalização regida pelos ditames da Lei Complementar nº 75/93, dispositivo que revogou tacitamente os Artigos 736 a 757 da CLT. FIGURA 2 – ORGANOGRAMA MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO FONTE: <http://twixar.me/7vsT>. Acesso em: 26 fev. 2020. TÓPICO 1 | HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO E ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 141 O princípio do devido processo legal no processo do trabalho Raimundo Simão de Melo De acordo com a Constituição Federal brasileira, ninguém será privado da liberdade ou dos seus bens sem o devido processo legal (Artigo 5º, Inciso LIV). Eis a sede do princípio do devido processo legal, gênero do qual todos os demais princípios constitucionais do processo são espécies. O alcance desse princípio é amplo, abrangendo, como consta do preceito constitucional supra a vida, a liberdade e a propriedade, o qual tem aplicação também no Direito do Trabalho. Esse princípio abrange o sentido material-substancial e o processual, manifestando-se em todos os campos do Direito no seu aspecto substancial. No sentido processual, significa esse princípio: a) direito à citação e ao conhecimento da acusação; b) direito a um juiz imparcial; c) direito ao arrolamento de testemunhas e à elaboração de perguntas; d) direito ao contraditório (contrariar provas, inclusive); e) direito à defesa técnica; f) direito à igualdade entre acusação e defesa; g) direito de não ser acusado ou processado com base em provas ilícitas; h) privilégio contra a autoincriminação. Quanto ao processo civil, o devido processo legal manifesta-se: a) na igualdade das partes; b) na garantia do jus actionis; c) no respeito ao direito de defesa; e d) no contraditório. Portanto, significa esse princípio a possibilidade efetiva de a parte ter acesso à Justiça, deduzindo pretensão ou se defendendo do modo mais amplo possível. FONTE: <https://www.conjur.com.br/2019-jan-25/reflexoes-trabalhistas-principio-devido- processo-legal-processo-trabalho>. Acesso em: 26 fev. 2020. INTERESSA NTE https://www.conjur.com.br/2019-jan-25/reflexoes-trabalhistas-principio-devido-processo-legal-processo-trabalho https://www.conjur.com.br/2019-jan-25/reflexoes-trabalhistas-principio-devido-processo-legal-processo-trabalho 142 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • A evolução histórica do processo trabalhista no contexto mundial passou por diversas transformações ao longo do tempo até chegarmos no Brasil, com a grande reforma de 2017. • As características das fontes processuais do direito do trabalho são inerentes para a compreensão de todas as relações jus laborais. • As diferenças entre as fontes materiais que estão dispostas na realidade e as formais que decorrem de lei. • A classificação dos princípios gerais referente a matéria processual, tendo o princípio da primazia da realidade e da proteção como principais e de grande relevância jurídica. • Os princípios afetos a disciplina de processo do trabalho se fazem imprescindíveis para a compreensão da lei e para a aplicabilidade do Direito. • A organização judiciária da justiça do trabalho é feita de modo hierárquico respeitando os estratos federal, estadual e municipal. • A competência e finalidade das varas trabalhistas são determinadas por lei e por este motivo devem ser respeitadas. • A função dos tribunais regionais do trabalho é para julgar os recursos oriundos das varas do trabalho. • A função do tribunal superior do trabalho que se situa em Brasília e julga recursos específicos.A competência e finalidade do Ministério Público do Trabalho é fiscalizar a legislação trabalhista e atuar em casos de crime envolvendo o trabalho, como o caso de trabalho análogo à escravidão. 143 1 Sobre a Justiça do Trabalho, assinale a alternativa correta: a) ( ) São órgãos da Justiça do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho, as Juntas de Conciliação, os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho. b) ( ) A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal de Justiça. c) ( ) O Tribunal Superior do Trabalho será composto de, no mínimo, trinta e três ministros. d) ( ) Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho. 2 Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho, exceto: a) ( ) manifestar-se em qualquer fase do processo trabalhista, acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse público que justifique a intervenção. b) ( ) propor as ações cabíveis para declaração de nulidade de cláusula de contrato, acordo coletivo ou convenção coletiva que viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais disponíveis dos trabalhadores. c) ( ) funcionar nas sessões dos Tribunais Trabalhistas, manifestando-se verbalmente sobre a matéria em debate, sempre que entender necessário, sendo-lhe assegurado o direito de vista dos processos em julgamento, podendo solicitar as requisições e diligências que julgar convenientes. d) ( ) instaurar instância em caso de greve, quando a defesa da ordem jurídica ou o interesse público assim o exigir. 3 O Tribunal Superior do Trabalho é composto por: a) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com mais de 35 (trinta e cinco) anos e menos de 65 (sessenta e cinco) anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação de 1/3 (um terço) do Senado Federal. b) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com idade entre 35 (trinta e cinco) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, nomeados pelo Presidente da República após aprovação da maioria absoluta do Congresso Nacional. c) ( ) 27 (vinte e sete) ministro com mais de 35 (trinta e cinco) anos e menos de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, nomeados pelo Presidente da República após aprovação da maioria absoluta do Senado Federal. d) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com idade entre 35 (trinta e cinco) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, todos indicados pelo Tribunal Superior do Trabalho e nomeados pelo Presidente da República. AUTOATIVIDADE 144 4 De acordo com a CRFB/88, Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo_______________, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo____________________ dentre brasileiros com mais de__________ e menos de____________ anos. Complete: a) ( ) sete juízes, presidente da república, trinta e sessenta e cinco. b) ( ) nove juízes, presidente da república, trinta e sessenta e cinco. c) ( ) sete juízes, presidente do senado, trinta e sessenta e cinco. d) ( ) sete juízes, presidente da república, trinta e sessenta. 5 São órgãos da justiça do trabalho de acordo com a CRFB/88: a) ( ) I - Tribunal Superior do Trabalho; II - Tribunais Regionais do Trabalho; III - Varas do Trabalho. b) ( ) I - Tribunal Superior do Trabalho; II - Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juízes do Trabalho. c) ( ) I - Tribunal Superior do Trabalho; II - Tribunais Regionais do Trabalho; III – Juízes e varas do Trabalho. d) ( ) I - Supremo Tribunal Federal; II - Tribunais Regionais do Trabalho; III - Varas do Trabalho. 6 O advogado Hermes pretende utilizar uma medida processual que não está prevista na Consolidação das Leis do Trabalho para defender os interesses da empresa reclamada em uma reclamação trabalhista. Nessa situação: a) ( ) não poderá utilizar desta medida porque a Consolidação das Leis do Trabalho apresenta todas as regras do processo do trabalho. b) ( ) somente poderia se valer de medida processual estranha à Consolidação das Leis do Trabalho se estivesse na defesa dos interesses do empregado, em face do princípio da proteção ao trabalhador. c) ( ) poderia utilizar de medida processual prevista no Código de Processo Civil apenas na fase de execução da sentença, porque na fase de conhecimento deve se valer apenas das regras contidas na lei processual trabalhista. d) ( ) nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas do processo judiciário do trabalho. 7 Marque a alternativa CORRETA. O Tribunal Superior do Trabalho é composto por: a) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com mais de 35 (trinta e cinco) anos e menos de 65 (sessenta e cinco) anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação de 1/3 (um terço) do Senado Federal. b) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com idade entre 35 (trinta e cinco) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, nomeados pelo Presidente da República após aprovação da maioria absoluta do Congresso Nacional. 145 c) ( ) 27 (vinte e sete) ministro com mais de 35 (trinta e cinco) anos e menos de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, nomeados pelo Presidente da República após aprovação da maioria absoluta do Senado Federal. d) ( ) 27 (vinte e sete) ministros com idade entre 35 (trinta e cinco) e 65 (sessenta e cinco) anos de idade, todos indicados pelo Tribunal Superior do Trabalho e nomeados pelo Presidente da República. 8 Analisando o instituto das fontes do direito processual do trabalho, esclareça se o dissídio coletivo é considerado: a) ( ) Fonte material. b) ( ) Fonte material autônoma. c) ( ) Fonte material heterônoma. d) ( ) Fonte formal heterônoma. e) ( ) Fonte formal autônoma. 9 O princípio da oralidade é próprio do Direito Processual Civil, embora no Processo do Trabalho ele tenha maior destaque. A doutrina NÃO considera subprincípio derivado da oralidade o princípio da: a) ( ) Identidade física do juiz. b) ( ) Concentração dos atos processuais em audiência. c) ( ) Perpetuatio jurisdictionis. d) ( ) Imediatidade do juiz na colheita da prova. 10 O princípio da conciliação, na justiça do trabalho, está esculpido no Artigo. 764, caput, da CLT, neste sentido, ele pode ser aplicado para: a) ( ) Somente para dissídios coletivos. b) ( ) Somente para dissídios individuais. c) ( ) Para ações com assistência do sindicato. d) ( ) Para dissídios coletivos e individuais. 146 147 TÓPICO 2 COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, compreenderemos o conceito de competência. Nesse aspecto analisaremos que a competência material trabalhista é específica e prevista no Artigo 114, da Constituição da República Federativa do Brasil. Tal estudo se faz fundamental para a compreensão de quais matérias podem ser apreciadas na Justiça do Trabalho. Você sabia que o direito processual do trabalho passou por uma grande transformação em relação a competência material em 2004? A Emenda Constitucional 45/2004 alterou o Artigo 114, da Carta da República para ampliar a competência material trabalhista. Compreenderemos também o conceito de partes no processo do trabalho. Nesse aspecto analisaremos que as alterações advindas na Lei 13.467/2017. Através dos novos dispositivos legais estudaremos a representação processual, jus postulandi, suas limitações e inovações. Além disso, analisaremos os procuradores e a intervenção de terceiros no processo do trabalho. Além disso, vamos estudar honorários advocatícios e gratuidade de justiça, suas implicações e inovações na seara trabalhista. Prosseguindo, compreenderemos o conceito deação, condições e pressupostos no processo do trabalho. Nesse aspecto analisaremos que as alterações advindas na Lei 13.467/2017. Através dos novos dispositivos legais estudaremos o processo trabalhista e seus procedimentos nos dissídios individuais. Estudaremos, as peculiaridades do procedimento ordinário, sumário, sumaríssimo e especial e suas implicações e inovações na seara trabalhista. Por fim, analisaremos a audiência trabalhista e algumas ações especiais de suma importância para o processo do trabalho. 148 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 2 COMPETÊNCIAS E TIPOS DE COMPETÊNCIA TRABALHISTA O estudo da competência da Justiça do Trabalho exige, primeiramente, um olhar sobre o significado e as implicações do termo jurisdição. Isso porque essa expressão significa, concomitantemente, poder, função e atividade, de modo que não representa apenas o dizer do direito, mas também sua efetivação material (LEITE, 2019). Vale asseverar, que a jurisdição, por ser una, não comporta divisões. Apesar disso, torna-se possível que o seu exercício seja distribuído entre os diversos órgãos jurisdicionais, inclusive como forma de maior eficiência no desempenho dessa função estatal, permitindo a existência de órgãos com atribuições jurisdicionais especializadas em certas matérias. Dentro desse contexto, quando submetido o caso concreto ao juiz, investido do poder jurisdicional, ele aplica o direito à situação específica dentro dos limites de sua atuação, sendo que, para ser investido como juiz, deve haver necessariamente a existência da jurisdição. Podemos dividir os sistemas jurídicos em: • Unificados: concentram em um só órgão a competência para julgar as questões trabalhistas e todas as correlatas, como previdenciárias e acidentárias. Por exemplo: Espanha e Itália. • Fragmentados: separam as competências para julgamento dessas matérias em órgãos distintos. Por exemplo: Brasil (PISCO, 2009, p. 1). Como visto, o Brasil adota o Sistema Fragmentado: a matéria trabalhista é julgada pela Justiça do Trabalho; a matéria previdenciária, pela Justiça Federal; e a matéria acidentária, pela Justiça Estadual. Justamente por isso, há a separação em: • Competência própria: originária ou específica (esta última definição adotada por Amauri Mascaro do Nascimento), relativa àquela competência natural, derivada da própria Constituição. • Competência imprópria: derivada ou decorrente relativa àquelas competências que foram fruto da vontade do legislador ordinário (PISCO, 2009, p. 2). A EC 45, entretanto, sem alterar a estrutura do nosso sistema, ampliou os limites de competência da Justiça do Trabalho, alterando a redação do Artigo 114 da Carta da República. A competência ainda pode ser: • Competência absoluta: decorre de fatores cogentes, de ordem pública, de modo que pode e deve ser objeto de verificação até mesmo de ofício pelo Magistrado. • Competência relativa: se baseia em aspectos de interesse exclusivo ou preponderantemente das partes, devendo ser objeto de arguição de forma prevista na lei processual, para ser conhecida. TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 149 Tratando-se de competência relativa caberá a parte interessada arguir na forma do artigo 800, da Consolidação das Leis do Trabalho ou como preliminar de contestação. Não havendo a arguição tempestiva ocorrerá o fenômeno denominado prorrogação da competência que somente poderá acontecer perante um Juízo relativamente incompetente, nos moldes dos Artigos 54 e 65 do Código de Processo Civil. Ainda sobre o assunto competência precisamos compreender outras classificações: • Competência em razão da matéria: é a que se funda na natureza das causas ou conflitos, como, por exemplo, a competência para matérias criminais, de família, de relações de trabalho. • Competência em razão da pessoa: é estabelecida em decorrência da presença de certos entes na demanda ou no processo, por exemplo, a União, nas ações de competência da Justiça Federal. É necessário evidenciar que o Artigo 114 da CF, abrange tanto a competência em razão da matéria como a competência em razão das pessoas. • Competência funcional: decorre das funções exercidas pelo Juiz em determinado processo, de acordo com as suas fases, ou seja, no decorrer do procedimento, inclusive quanto ao grau de jurisdição. Nesse sentido, a competência hierárquica é uma espécie de competência funcional por se referir à competência originária para conhecer e decidir a causa, bem como à competência recursal, ou seja, para o julgamento do eventual recurso. • Competência em razão do lugar ou territorial ou de foro: leva em conta os aspectos relacionados à localização, como o local em que o fato ou o dano ocorreu, o domicílio do réu, o local da prestação de serviços. A Lei 13.467/2017, inseriu significativa mudança alusiva a arguição da incompetência relativa na Justiça do Trabalho. Conforme o Artigo 800 da referida lei, o momento oportuno para a apresentação da exceção de incompetência territorial é no prazo de cinco dias da notificação citatória trabalhista. • Competência em razão do valor da causa: refere-se ao ajuizamento e processamento das ações perante distintos Juízos levando em conta o valor do pedido. Na Justiça do Trabalho, o valor da causa determinará o procedimento adotado àquela demanda, qual seja, ordinário, sumário, sumaríssimo ou especial. Em consonância com o Artigo 62, do Código de Processo Civil, considera-se competência absoluta, a competência determinada em razão da matéria, pessoa ou função. Nesse interim, mister ressaltar, que não poderão ser tais competências convencionadas pelas partes. Enquanto a competência em razão da matéria, pessoa e funcional são de ordem pública, e, portanto, absolutas, segundo o Artigo 62, do Código de Processo Civil, a competência territorial é relativa, e, senão arguida pela parte interessada, ensejará no fenômeno da prorrogação da competência. ATENCAO 150 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO A competência trabalhista em razão da matéria é fixada por meio da causa de pedir e do pedido deduzido, situação pacificada no Supremo Tribunal Federal e incorporada a diversos precedentes do STF. Neste sentido, a competência absoluta da Justiça do Trabalho será definida, portanto, a partir do que denominamos de filtragem da peça processual inicial, a qual deverá ter causa de pedir e pedido assentados numa relação de trabalho abrangida e tutelada pelo texto que já se encontra pacificado. Para além da competência material original, têm-se ainda a competência atribuída à Justiça Laboral de maneira derivada, tendo como fundamento legal o Inciso IX do Artigo 114 da Constituição, o qual dispõe que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. Logo, dois são os requisitos para que a competência seja considerada material derivada da Justiça Obreira: a) a existência de uma lide decorrente da relação de trabalho; b) inexistência de lei que afaste de maneira expressa que a competência para apreciação seja da Justiça do Trabalho (LEITE, 2019). Sobre conflito de competência, haverá casos em que dois juízes simultaneamente se consideram competentes para apreciar determinada causa. O Artigo 114, Inciso V, da Constituição Federal assegura à competência da Justiça do Trabalho o julgamento e o processo de conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, salvo o disposto no Artigo 102, Inciso I, que garante ao STF conflitos de competência entre o STJ e quaisquer tribunais superiores (inclusive o TST). 3 PARTES, REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL, PROCURADORES E TERCEIROS No que concerne a representação processual, deve-se verificar a capacidade para ser parte e a necessidade de representação de acordo com as regras do novo código de processo civil. Devendo o incapaz ser representadoou assistido, por um tutor ou curador. A capacidade em direito é competência determinada pela ordem jurídica ao gozo e exercício de um direito por seu titular, assim, nem sempre o indivíduo está habilitado para exercer determinado direito em sua totalidade. A nomeação de procuradores é essencial, pois é através deles que se possibilita o início do processo na justiça e se salvaguarda os interesses das partes envolvidas. TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 151 3.1 PARTES A relação jurídica processual é aquela que se forma através de três vértices: juiz, autor e réu e o processo, enquanto exercício da atividade jurisdicional do Estado, é iniciado, na maioria das vezes, por iniciativa das partes. Diz-se, então, que partes são as pessoas que pedem, ou em relação às quais se pede, a tutela jurisdicional, isso é, conforme afirma Leite (2019, p. 483) “as partes do processo são, de um lado, a pessoa (ou ente) que postula a prestação jurisdicional do Estado, e de outro, a pessoa (ou o ente) em relação à qual tal providência é pedida”. No mesmo sentido, discorre Nascimento (2012, p. 458) “as partes dinamizam o processo, imprimindo-lhe o movimento que será desenvolvido com a prática de determinados atos que cumprem em observância às regras próprias”. Sob esse viés, o autor destaca que parte, na seara obreira, pode ser definida como toda pessoa capaz, que está no pleno gozo de seus direitos. Destaca-se que, no processo trabalhista, a nomenclatura é diferente levando em conta o nível em que se está o processo: a) A parte ativa é denominada de reclamante (autor), já a passiva, de reclamado (réu). b) Na execução trabalhista a CLT emprega exequente e executado c) Enquanto nos dissídios coletivos, suscitante e suscitado. 3.2 LITISCONSÓRCIO Quanto à posição dos litisconsortes, pode se dar tanto no polo ativo quanto no passivo, ou até mesmo ser misto (Artigo 113 do CPC). O ativo figura-se quando dois ou mais sujeitos se reúnem para ajuizar a ação em face de uma única pessoa. No entanto, se uma só pessoa ajuizar a ação em face de duas ou mais, tem-se um caso concreto de litisconsórcio passivo. Ocorre litisconsórcio misto quando há a pluralidade de indivíduos nos dois polos da ação (LEITE, 2019). 3.3 CAPACIDADE PROCESSUAL Para Martins (2018, p. 89) “a capacidade em direito é competência determinada pela ordem jurídica ao gozo e exercício de um direito por seu titular, assim, nem sempre o indivíduo está habilitado para exercer determinado direito em sua totalidade, ou seja, pode ter capacidade de ser parte e não a capacidade processual”. 152 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Estas duas últimas expressões possuem características que as tornam inconfundíveis, como será possível evidenciar a seguir. Todas as pessoas, sem exceção, têm capacidade de ser parte, uma vez que são titulares de direitos e obrigações. É como bem coloca Leite (2019, p. 474) “ser humano tem capacidade para ser parte, independentemente de sua idade ou condição psíquica e mental, seja para propor ação, seja para defender-se. É, pois, um direito universal conferido a toda pessoa humana”. Há que se destacar que “a lei processual estende a capacidade de ser parte a alguns entes despersonalizados, por entender conveniente para a postulação ou defesa de determinados interesses em juízo” (GONÇALVES, 2016, p. 166). Já a capacidade processual, ou capacidade de estar em juízo é determinada pelo direito positivo às pessoas que possuem capacidade civil (Artigo 70 do CPC), a qual pode ser entendida como faculdade que tem o indivíduo de praticar todos os atos da vida civil, além de administrar seus bens. Assim, a princípio, aquele que tem capacidade de ser parte também terá capacidade processual (LEITE, 2019). Já a capacidade postulatória – Jus Postulandi é a capacidade para atuar em juízo. O ordenamento jurídico confere essa capacidade a determinadas pessoas para a prática de atos processuais (LEITE, 2019). Em regra, ela é conferida aos advogados, salvo exceções estabelecidas em lei. O advogado é procurado, bem como o sindicato também poderá atuar como procurador do empregado. No processo do trabalho, a capacidade postulatória está facultada diretamente ao empregado e empregador, de modo que sejam praticados pessoalmente todos os atos autorizados para o exercício do direito de ação, independentemente do patrocínio de advogado, conforme o art. 791 da CLT (MARTINS, 2018). Entretanto, a Lei 13.467/2017 inseriu na Consolidação das Leis do Trabalho o processo de Jurisdição Voluntária para a homologação de acordo extrajudicial. Nesse caso há a previsão legal que cada parte terá que estar representada, e, por isso não será possível a utilização do jus postulandi. O Jus Postulandi se caracteriza pela capacidade postulatória, ou seja, a ausência de necessidade de ser representado por advogado, conforme dispõe o Artigo 791, CLT. A partir do momento que o Artigo 855-B, Parágrafos 1 e 2, da CLT, estabelecem a necessidade de advogados para cada parte, exclui-se, consequentemente o jus postulandi. TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 153 3.4 REPRESENTAÇÃO O termo representar tem por objetivo conceituar a atuação em nome de outrem, conforme a vontade do representado, substituindo-lhe. a) A primeira, a legal, que decorre, como o próprio nome aduz, da previsão legal, expressa na lei. Exemplo disso, é a representação que ocorre com a pessoa jurídica (Artigo 75, VIII), assim como o sindicato que representa a categoria em juízo (Artigo 8º, III, da Constituição e 513, a, da CLT). b) A segunda espécie é a representação convencional, que é verificada quando a parte se fazer representar em juízo, sendo que este tipo ocorre quando o empregador é representado pelo preposto, no âmbito do dissidio individual ou coletivo (MARTINS, 2013). A representação no processo laboral pode ser dividida também em geral ou parcial. A geral é o total exercício da legitimatio ad processum para todos os atos processuais, por exemplo, a representação do incapaz, pelo pai, tutor ou curador, enquanto que a parcial é aquela que se detêm em alguns atos ou fases processuais, como ocorre na representação somente para a audiência de empregado doente ou que possua motivo poderoso (NASCIMENTO, 2012). A Súmula 377 do TST disciplina que: “exceto quanto à reclamação do empregado doméstico o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado”. NOTA 4 AÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO NOS DISSÍDIOS INDIVIDUAIS É importante conceituarmos inicialmente o que é ação, bem como o direito de ação. Podemos conceituar ação como o poder ou direito de exercício da jurisdição, por meio do qual aquele que entende ser titular de um direito subjetivo pleiteia ao Poder Judiciário um provimento que lhe conceda ou assegure o bem jurídico pretendido. A ação é ajuizada perante o Poder Judiciário, contendo a pretensão, e dá origem ao processo. O Artigo 5º, Inciso XXXV, da Carta da República de 1988 assegura o direito fundamental de inafastabilidade do controle jurisdicional. A ação provoca a jurisdição (atividade jurisdicional), a qual é exercida no processo judicial. 154 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO O processo judicial tem início em razão do ajuizamento da ação. A ação provoca a jurisdição, à qual é exercida no âmbito do processo. Há autonomia do direito de ação perante o direito subjetivo material, pois mesmo sendo exercido o direito de ação, pode ocorrer de ser o pedido rejeitado, significando a ausência do direito material postulado. A ação tem natureza de direito público subjetivo, exercido contra o Estado, embora possa produzir efeitos na esfera jurídica do demandado. A doutrina processual vem destacando, ainda, o enfoque do direito de ação como direito à tutela jurisdicional. Esta pode ser entendida,conforme José Roberto dos Santos Bedaque (2001, p. 123), como “a proteção que se dá a determinado interesse, por via jurisdicional, assegurando direitos ou a integralidade da esfera jurídica de alguém”. Sobre os elementos da ação, podemos identificá-la por meio de três elementos essenciais: partes, a causa de pedir e o pedido. Esses elementos são relevantes para se verificar a existência de litispendência e da coisa julgada entre duas ações, conforme dispõe o Artigo 337, Parágrafos 1º a 4º do Código de Processo Civil, assim como a conexão ou continência entre demandas, para fins de competência: • Partes: as partes são denominados autor e réu, ou reclamante e reclamado, sendo certo que se caracterizam pela parte que pede em face de que se pede. • Causa de pedir: a causa de pedir engloba os fatos e fundamentos jurídicos, dos quais decorre o pedido. A causa de pedir pode ser próxima (fundamentos jurídicos) e remota (fatos). • Pedido: o pedido é o objeto do processo, ou seja, a pretensão formulada. O pedido pode ser imediato e mediato. As ações trabalhistas podem ser classificadas como ação de conhecimento, ação cautelar e ação de execução: • Ação de conhecimento: é a ação de conhecimento que tem, pôr fim, a criação, modificação ou a extinção de uma relação jurídica, sem estatuir qualquer condenação do réu ao cumprimento de uma prestação, produzindo efeitos ex tunc ou ex nunc. Ação de conhecimento é aquela na qual se pleiteia que o mérito da pretensão seja julgado, por meio da atuação do direito objetivo no caso concreto. A ação de conhecimento se subdivide em ação declaratória, constitutiva e condenatória. • Ação cautelar: a ação cautelar, na atualidade prevista como tutela provisória de urgência de natureza cautelar (Artigos 294 e 301, do Código de Processo Civil), tem natureza instrumental, pois visa a assegurar o resultado útil do processo (quanto ao pedido principal), quando houver perigo em razão da demora deste, e probabilidade do direito material alegado (Artigo 300 do Código de Processo Civil). TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 155 • Ação de execução: a ação de execução tem como objetivo a satisfação concreta do direito reconhecido no título executivo, isto é, a efetivação do direito constante do título executivo. Sobre as condições da ação podemos ser conceituá-las como: “requisitos processuais essenciais para o regular trâmite processual e eventual julgamento do mérito. Em caso de ausência de qualquer uma das condições da ação, teremos a carência da ação, causa de extinção do processo sem julgamento de mérito” (FILHO, 2015, s.p.). Por força do Artigo 769 da CLT, os juízes do trabalho aplicam a teoria tricotômica das condições da ação e a teoria da asserção. Portanto, podemos aduzir que para ingressar com uma ação trabalhista é necessário que haja: • Possibilidade jurídica do pedido: pedido do autor tem que estar amparado por uma norma material que o assegure. • Interesse de agir: interesse da parte de recorrer ao judiciário para a obtenção do reconhecimento de um direito ameaçado ou violado • Legitimidade da parte: deve haver identidade da pessoa que faz o pedido com a pessoa a que alei assegura o direito material. O mesmo ocorre no polo passivo da ação, deve ser proposta contra a pessoa que nega o direito pretendido pelo autor. Os pressupostos processuais subjetivos se subdividem quanto às partes e ao juiz. Os pressupostos processuais subjetivos relativos ao juiz são a jurisdição, a competência e a capacidade subjetiva (imparcialidade). Os pressupostos processuais subjetivos relativos à capacidade postulatória. Os pressupostos processuais objetivos são o pedido (formulado ao juiz, por meio da petição inicial), a citação (do réu) e a inexistência de fato impeditivo (como a litispendência e a coisa julgada) 4.1 PETIÇÃO INICIAL A petição inicial trabalhista é o ato processual por meio do qual a ação é ajuizada dando início ao processo. Em razão de sua importância, certos requisitos devem ser observados pelo autor ao formular a petição inicial, uma vez que ela contém o pedido ou pretensão a ser objeto de decisão pelo juiz. A Consolidação das Leis do Trabalho, no Artigo 840, estabelece os requisitos da petição inicial. A Justiça do Trabalho é uma Justiça Especializada que possui algumas peculiaridades, entre as quais destacamos os elementos fundamentais estruturantes da sua inicial, os quais se encontram descritos no Artigo 840, da CLT. Desde já, diga-se que é imprescindível que nosso estudo esteja aqui amparado nas recentes alterações legais trazidas pela Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista). 156 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO A reclamação apresentada por escrito deverá observar os requisitos do §1º, art. 840, da CLT. Observe-se que esse dispositivo legal traz seis requisitos essenciais da inicial trabalhista. São eles: designação do juízo a quem é dirigida, qualificação das partes (reclamante e reclamado), breve exposição dos fatos, pedido (certo, determinado e com indicação de seu valor), data e assinatura do reclamante (ou de seu representante legal). Com a reforma trabalhista há uma inversão, e a regra de exceção se transforma em regra geral e passa a exigir que o valor dos pedidos conste expressamente na petição inicial, sendo natural que o valor da causa corresponda ao somatório dos mesmos, sob pena de extinção sem julgamento do mérito, conforme § 3º que a reforma introduz no Artigo 840, da CLT. Ajuizada a ação, se o juiz verificar que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos, ou não foi instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, deve determinar que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 15 dias indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado, nos termos do Artigo 321, do CPC. Portanto, somente se o autor não cumprir a diligência é que o juiz deve indeferir a petição inicial (Artigo 321, Parágrafo Único, CPC). Há situações em que a petição inicial apresenta defeitos que acarretam a necessidade do seu indeferimento do seu indeferimento liminar, com a consequente extinção do processo sem resolução do mérito, segundo consta o Artigo 485, Inciso I, do CPC. O Artigo 330 do CPC dispõe que a petição inicial deve ser indeferida quando: for inepta; a parte for manifestamente ilegítima; o autor carecer de interesse processual; não atendidas as prescrições dos Artigos 106 e 321, CPC. 4.2 PROCEDIMENTOS Assim, conforme Schiavi (2016, p. 69) “o procedimento é o aspecto extrínseco (exterior) do processo pelo qual se instaura, desenvolve-se e determina. É o caminho percorrido pelo processo (conjunto de atos sucessivos), a forma pela qual o processo se exterioriza”. Na esfera cível, há dois tipos de procedimento: comum, de aplicação geral e que se subdivide em ordinário e sumário, e especial, que é aplicado às ações de cognição específica. Da mesma forma, o processo trabalhista também engloba esses dois tipos de procedimentos, sendo que há o procedimento comum, que na seara trabalhista se divide em ordinário, sumário e sumaríssimo, e o procedimento especial, aquele adotado para as ações especiais previstas na própria CLT (LEITE, 2019). TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 157 Conforme já dito, o procedimento comum é o rito “comum” ou “padrão” dos processos trabalhistas. Subdivide-se em ordinário, sumário e sumaríssimo, de acordo com as regras a seguir explicitadas. Os procedimentos existentes na justiça trabalhista podem ser assim visualizados: • Ordinário: diz-se que, até o início dos anos 1970, o rito ordinário era o único no processo laboral, tendo como sua marca principal a concentração dos atos processuais em um único procedimento, isso, conforme o Artigo843 da CLT preceitua, as ações individuais trabalhistas devem ser solucionadas numa única audiência (LEITE, 2019). Esse rito está regulado nos Artigos 837 a 852 da CLT. Todavia, na prática, com o passar dos anos e em razão do aumento substancial do número de processos e da complexidade dos novos conflitos, essa norma deixou de ter eficácia, sendo que, hodiernamente, as audiências realizadas nos processos sob o rito comum ordinário trabalhista passaram a ser divididas em três partes: a) audiência inaugural de conciliação, na qual tenta-se um acordo entre as partes, com base no Artigo 846 da CLT, e em caso de insucesso, o réu apresentará sua defesa; b) audiência de instrução, que ocorrerá caso não haja conciliação na primeira oportunidade, com o intuito de serem ouvidos os depoimentos pessoais, inquiridas as testemunhas e requeridas eventuais novas provas; c) audiência de julgamento que, em regra, jamais ocorre, sendo apenas um prazo para que o juiz publique a sentença, do qual as partes ficam intimadas e começa a fluir o prazo para eventual interposição de recursos (LEITE, 2019). Se, até 15 minutos após a hora marcada, o Juiz não houver comparecido, os presentes podem se retirar, devendo o ocorrido constar do livro de registro das audiências (Artigo 815, Parágrafo Único, CLT). NOTA • Sumário: dentre os ritos processuais, este recebe inúmeras críticas pelo fato de ofender o princípio constitucional do duplo grau de jurisdição (uma vez que é cabível a esse procedimento apenas um pedido de revisão, não um recurso em si). Está disciplinado no Artigo 2º, § 3º e 4º da Lei nº 5.584/70. Quanto ao valor da causa, será não excedente a dois salários mínimos para fins de alçada, salvo se versarem sobre matéria constitucional, não caberá nenhum recurso das sentenças nos dissídios de alçada (LEITE, 2019). Nesse sentido, a Súmula nº 356 do TST dispõe: o Artigo 2º, § 4º, da Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970, foi recepcionado pela CF/1988, sendo lícita a fixação do valor da alçada com base no salário mínimo. 158 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO • Sumaríssimo: o procedimento sumaríssimo abrange apenas dissídios individuais e foi introduzido no processo laboral pela Lei nº 9.957, de 12 de janeiro de 2000, que acrescentou os Artigos 852-A a 852-I, na CLT. Nesse sentido, ratifica Almeida (2015, p. 161) “em conformidade com o disposto no Artigo 852-A, acrescido à CLT pela Lei nº 9.957/2000, o procedimento sumaríssimo só pode ser observado no dissídio individual, sendo, por via de consequência, vedada a sua adoção nos dissídios coletivos”. Muitos dos artigos concernentes a este procedimento tomaram por base a Lei nº 9.099/95, anteriormente citada, sendo que alguns estão disciplinados em sua literalidade (MARTINS, 2013). O primeiro dispositivo dessa inovação da CLT, estabelece que, os dissídios individuais cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo vigente na data do ajuizamento da reclamação fica submetido ao procedimento sumaríssimo. O principal objetivo deste rito é o atendimento ao princípio da celeridade processual, que pode ser evidenciado pela redução das formalidades, das provas, além da maior liberdade do magistrado na condução do processo, visando de tal modo, a solução do litígio o mais breve possível (NASCIMENTO, 2012). 4.3 DISSÍDIOS INDIVIDUAIS É sabido que alguns direitos materiais prescindem de procedimentos especiais para que haja a exteriorização da relação processual e, especialmente, pela evidente da omissão da CLT quanto a esses procedimentos especiais, temos a aplicação subsidiária do CPC conforme o Artigo 769, no que concerne à utilização de determinados procedimentos especiais, compatibilizados como a matéria de processo do trabalho, são eles: a) Inquérito judicial para apuração de falta grave (Artigos 853/855 da CLT). b) Ação de consignação em pagamento (Artigo 890 e seguintes do CPC). c) mandado de segurança. d) ação de cumprimento. e) ação rescisória. 5 AUDIÊNCIA TRABALHISTA A audiência trabalhista, de acordo com a literalidade do Artigo 849, da CLT, deve ser una ou contínua, buscando a consolidação do princípio da celeridade processual. No entanto, a audiência poderá ser dividida por motivo de força maior. Nesses casos, ela terá continuação no dia seguinte, independente de nova notificação das partes. TÓPICO 2 | COMPETÊNCIA TRABALHISTA, PARTES, AÇÃO, PROCEDIMENTOS, DISSÍDIO INDIVIDUAL E AUDIÊNCIA TRABALHISTA 159 FIGURA 3 – AUDIÊNCIA TRABALHISTA FONTE: <https://thaisbrasileiro.com.br/wp-content/uploads/2019/06/esquema- audi%C3%AAncia-trabalhista-300x253.png>. Acesso em: 26 fev. 2020. Já no Artigo 814, da CLT, há a exigência de que às audiências estejam presentes todos os atores processuais, dentre eles: escrivães ou chefes de secretária. Tais serventuários da justiça ficarão responsáveis por coordenar a audiência e redigir o respectivo termo que pode ser chamado de assentada também. Neste sentido, a OJ 245, da SDI-1, do TST, não possibilita tolerar atraso das partes na audiência. No mesmo sentido, o Artigo 815, da CLT, prevê que se o magistrado se atrasar por período superior a quinze minutos, as partes podem se retirar da sala de audiência, fazendo constar na ata o evento ocorrido. No processo do trabalho o Artigo 843, CLT, estabelece que as partes devem estar presentes na audiência. A falta das partes à audiência inaugural do processo trabalhista é disciplinada no Artigo 844, da CLT. Tal dispositivo legal, em questão sofreu alterações relevantes com a reforma trabalhista de 2017, sendo assim, é necessário que o advogado seja prudente à nova legislação para melhor orientar seu cliente. Desse modo, a ausência do reclamante (autor) na audiência, implicará na extinção do processo sem a resolução de mérito. A diferença é que após a reforma, impõe-se ao reclamante ausente o pagamento das custas, a serem sempre calculadas com base no valor da causa. Vale observar que a condenação, acontecerá ainda que se esteja diante de beneficiário da justiça gratuita, o que é objeto de dissenso na doutrina. O pagamento referente às custas, será o pressuposto para que o reclamante possa fazer a distribuição de uma nova ação, conforme §3º, do Artigo 844, da CLT, devendo ser observado de pronto. O reclamante ausente pode evitar a condenação, se no prazo de quinze dias do arquivamento comprovar que sua falta à audiência se deu por motivo legalmente justificável. Sobre o reclamado, a sua ausência implicará em revelia, isto nada mais é do que confissão dos fatos apontados na inicial pelo reclamante, consequentemente apontando a possibilidade de julgamento antecipado do mérito. https://thaisbrasileiro.com.br/wp-content/uploads/2019/06/esquema-audi%C3%AAncia-trabalhista-300x253.png https://thaisbrasileiro.com.br/wp-content/uploads/2019/06/esquema-audi%C3%AAncia-trabalhista-300x253.png 160 UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO De acordo com a lógica trazida pelo novo CPC o Juiz do Trabalho deverá propor a conciliação, de acordo com o previsto no Artigo 846, CLT. Quando as partes aceitam a proposta conciliatória, o juiz do caso, poderá homologar o termo de conciliação, tornando-o um título executivo judicial. Neste título deverá constar os valores, condições de pagamento, prazos e multas, em caso de eventual descumprimento das partes. Vale destacar, que o Juiz do Trabalho não está obrigado a fazer a homologação do acordo judicial, pois se trata de uma liberalidade do Magistrado, não existindo razão para interposição de mandado de segurança (S. 418, TST). Neste caso, se for proposta a conciliação, e se as partes não aceitarem, será recebida a resposta do réu — contestação (Artigo 847, CLT). As modalidades de resposta do réu são três: exceção e a contestação e autores que citam a reconvenção estas são espécies de defesa, palavra que aparece na CLT como gênero para se referir as modalidades de resposta do réu. As custasprocessuais impostas pela reforma trabalhista e a Constituição Federal de 1988 –no âmbito do processo do trabalho, a reforma trabalhista impacta profundamente e de forma negativa os trabalhadores, que buscam a Justiça do Trabalho sob a alegação de irregularidade patronal. A mensagem da reforma é no sentido de evitar o litígio e não o conflito trabalhista, pois se antes bastava ao trabalhador declarar a condição econômica social e financeira para obter o pleno acesso ao Estado/justiça, com a reforma, Artigos 789 a 791-A, surgiram novas exigências como faculdade do juiz, renda salarial não superior a 40% do benefício teto da previdência social, comprovação de insuficiência de recursos, pagamento de perícias ainda que beneficiário da justiça gratuita e uma possível dívida com a união por dois anos, após o transito em julgado da ação, além do pagamento de honorários ao advogado patronal no caso de não comprovação pelo trabalhador de suas afirmações iniciais. Ao justificar o projeto de lei que colocou fim a diversos direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores, o Congresso brasileiro não se propôs a ouvir e considerar inúmeros estudos acadêmicos, representantes de trabalhadores, juízes, pesquisas e obras sobre os direitos fundamentais do ser humano, o que contrariou o Artigo 7º da Convenção 154 da OIT, ratificada pelo decreto 1.256, de 29 de setembro de 1994. Na verdade, os legisladores que aprovaram a reforma trabalhista apenas fizeram valer os interesses de pequena parcela social, o empresariado, que "acredita" que os direitos trabalhistas, bem como o direito fundamental do pleno acesso à justiça, são um mal a ser extirpado da sociedade brasileira. O Estado brasileiro, ao se refundar a partir da Constituição de 1988, buscou o contrário do estabelecido pela lei 13.467/17, ou seja, ouvir e dialogar com os atores sociais que representavam a sociedade, o que foi e é um princípio vetor da Constituição Federal. A então chamada "colcha de retalhos" pelos liberais e conservadores da época, ousaram dizer, inviabilizaria o país. FONTE: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271690,61044-As+custas+processuais +impostas+pela+reforma+trabalhista+e+a>. Acesso em: 26 fev. 2020. IMPORTANT E https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271690,61044-As+custas+processuais+impostas+pela+reforma+trabalhista+e+a https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI271690,61044-As+custas+processuais+impostas+pela+reforma+trabalhista+e+a 161 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A competência da justiça do trabalho e suas diversas classificações se subdividindo em absoluta e relativa. • As partes do processo do trabalho são denominadas de reclamante e reclamado e que na maioria das vezes precisam estar representadas. • A ação trabalhista possui como requisito a petição inicial, uma vez que ela contém o pedido ou pretensão a ser objeto de decisão pelo juiz. • O procedimento para os dissídios individuais pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo. • A audiência trabalhista, conforme Artigo 849, da CLT, deve ser una ou contínua, visando a concretização do princípio da celeridade processual. • As modalidades de resposta do réu (termo defesa), citado pela CLT, é gênero que tem como espécies a exceção e a contestação. 162 AUTOATIVIDADE 1 Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações: a) ( ) Oriundas de relações de trabalho, inclusive aquelas que decorrem de uma relação de natureza estatutária dos servidores públicos, apenas ficando excepcionadas as demandas que competem à Justiça Federal comum. b) ( ) Oriundas de relações de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. c) ( ) Que envolvam o exercício do direito de greve, inclusive dos servidores públicos civis e militares da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. d) ( ) Sobre representação sindical, entre sindicatos e entre sindicatos e empregadores, ficando excepcionadas as ações entre sindicatos e trabalhadores. 2 A empresa “R” Móveis foi notificada para comparecer à audiência em reclamação trabalhista movida por seu ex-empregado, Thor. Em relação ao preposto que irá representar a reclamada: a) ( ) Não precisa ser empregado, por força de dispositivo legal. b) ( ) Não precisa ser empregado, quando se tratar de empregador doméstico. c) ( ) Não precisa ser empregado, mas nesse caso, as suas declarações não obrigarão o proponente. d) ( ) Deve ser empregado ou gerente que tenha conhecimento dos fatos. 3 O pedido, nas reclamações trabalhistas enquadradas no procedimento sumaríssimo: a) ( ) Deverá ser certo ou indeterminado e indicará o valor correspondente. b) ( ) Deverá ser certo ou determinado e indicará o valor correspondente. c) ( ) Deverá ser incerto ou determinado e indicará o valor correspondente. d) ( ) Deverá ser certo ou determinado, não havendo necessidade de indicação do valor da causa. 4 Consoante disposição legal constante da Consolidação da Leis do Trabalho (CLT), é correto afirmar que: a) ( ) O não comparecimento do reclamado importa revelia, além de confissão quanto à matéria de fato quando o litígio versar sobre direitos indisponíveis. b) ( ) Ausente o reclamado, mesmo que presente o advogado na audiência, não serão aceitos a contestação e os documentos eventualmente apresentados. c) ( ) A parte deverá apresentar defesa escrita pelo sistema de processo judicial eletrônico até a audiência. 163 d) ( ) Não havendo acordo, o reclamado terá 20 (vinte) minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por ambas as partes. 5 São modalidades de resposta do réu, no processo trabalhista: a) ( ) Exceção, contestação e reconvenção. b) ( ) Apenas reconvenção. c) ( ) Suspeição e impedimento. d) ( ) Exceção e contestação, apenas. 164 165 TÓPICO 3 RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, compreenderemos os recursos trabalhistas, hipóteses e prazos no processo do trabalho. Nesse aspecto, analisaremos que as alterações advindas na Lei 13.467/2017. Através dos novos dispositivos legais estudaremos os pressupostos recursais extrínsecos e intrínsecos. Ainda veremos o funcionamento da execução trabalhista, hipóteses e prazos no processo do trabalho. Olhando também para os novos dispositivos legais, como por exemplo, estudaremos o momento da liquidação de sentença e as peculiaridades, bem como os recursos cabíveis em execução. Por fim, veremos o dissídio coletivo, suas hipóteses de cabimento. Nesse sentido, analisaremos também as alterações advindas na Lei 13.467/2017. Através dos novos dispositivos legais estudaremos o processamento e as peculiaridades, bem como os recursos cabíveis. 2 RECURSOS TRABALHISTAS Recurso pode ser definido como um instituto jurídico apropriado para o reexame da decisão atacada e que se quer a reforma ou modificação dela, seja pela própria autoridade prolatora da decisão (embargos de declaração). Sendo um direito constitucional o duplo grau de jurisdição um direito fundamental inquestionável. Vale dizer, que todo recurso é voluntário, e tem por objetivo e consequência o prolongamento do exercício do direito de ação no processo. É garantido à parte em sucumbência, ou no caso de sentença parcial são possibilitadas a ambas as partes. Vale destacar ainda que os principais fundamentos dos recursos são três, a saber: a) aprimoramento das decisões judiciais; b) inconformismo da parte sucumbente; e c) falibilidade humana. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 166 O princípio da taxatividade é inerente aos recursos tendo em vista o Artigo 22, I, da Constituição Federal brasileira atribui expressamente à União a competência exclusiva para legislar sobre processo. Desta determinação deriva o entendimento doutrinário de que só podemser utilizados recursos previstos em lei, o que significa dizer, em outras palavras, que o rol de recursos é taxativo. Já o princípio da singularidade ou da unirrecorribilidade determina que para cada decisão judicial cabe um único recurso. Para estas hipóteses de existência de dúvida objetiva não pacificada na doutrina ou na jurisprudência, é possível que o juiz ou tribunal receba um recurso pelo outro, com base no princípio da fungibilidade. Quarto e último dos princípios do processo do trabalho, o Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus prevê que o reexame de uma decisão judicial somente poderá resultar decisão que reduza esse prejuízo ou o mantenha, mas não que o agrave. De acordo com Artigo 899 da CLT os recursos serão interpostos por simples petição e terão, em regra, efeito meramente devolutivo. Não obstante, a regra no direito processual laboral seja a presença unicamente do efeito devolutivo, importa tratar também dos outros efeitos que, como exceções, podem caracterizar a interposição das diferentes espécies recursais. No efeito devolutivo, que ocorre quando a questão for devolvida pelo juiz da causa a outro juiz ou tribunal. Já o efeito suspensivo provoca a paralisação dos efeitos da sentença, contra a qual foi interposto o recurso, impedindo o início da execução, mesmo que provisória. Em regra, os recursos passam por um duplo juízo de admissibilidade recursal, que se submete ao preenchimento dos seguintes pressupostos: reflete o juízo de admissibilidade, o poder do qual está dotado o juiz a quo de examinar se o recurso atende aos pressupostos objetivos e subjetivos para poder subir ao Tribunal Superior, ou seja, para que o recurso interposto possa ser conhecido. Agora veremos os recursos cabíveis no processo do trabalho: a) AGRAVO DE INSTRUMENTO: no processo do trabalho o agravo de instrumento é cabível quando na primeira admissibilidade é negado seguimento ao recurso pela ausência dos pressupostos de admissibilidade. Este recurso é regulado nos Artigos 893 e 897, "b", §§ 2° e 4º da CLT c/c Instrução Normativa TST nº 16 de 19 de maio de 2003, c/c Artigo 227 do Regimento Interno do TST. O agravo de instrumento tem aplicação restrita no processo do trabalho, pois, em regra as decisões interlocutórias que não extinguem o feito são irrecorríveis. É cabível no processo do trabalho para destrancar recurso ordinário, de revista, extraordinário e de agravo de petição, e ainda, de decisões que negam seguimento ao recurso de embargos ou de embargos infringentes. O prazo de TÓPICO 3 | RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO 167 interposição, em geral, de 8 dias úteis, e, de 10 dias para despacho denegatório de Recurso Extraordinário. b) AGRAVO DE PETIÇÃO: é o recurso cabível em execução no processo do trabalho (impugnação de matéria e valores). Possui previsão nos Artigos 893 e 897, "a", §§ lº e 3º da CLT. O prazo para interposição são 8 dias úteis. c) AGRAVO REGIMENTAL OU INTERNO: previsto no Artigo 1.021 do CPC, na Lei nº 7.701/88 c/c Artigos 3º, II, a e 5°, c, e nos Regimentos do Tribunal Superior (Artigo 235) e Tribunais Regionais do Trabalho. Cabível para impugnação de decisão proferida pelo relator, visando a análise do órgão colegiado. No Tribunal Superior do Trabalho esse recurso e admissível contra despacho que denegar seguimento a recurso de embargo, contra despacho que suspender execução de liminares, contra decisão concessiva do mandado de segurança, dentre outras. O prazo depende do regimento interno no tribunal, em geral, é de 8 dias. d) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO À SDI: a previsão legal está inserida no Artigo 3º, III, "b" da Lei nº 7.701/88 c/c Artigo 228 e 231 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. A sua forma de interposição é por simples petição nos autos. Cabível para verificar divergência jurisprudencial das turmas do Tribunal Superior do Trabalho. e) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: previsão legal, Artigo 897-A da CLT, permanecendo a aplicação subsidiária ao processo trabalhista do Artigo 1.022 e seguintes do CPC. É o recurso cabível com a finalidade de esclarecer a sentença ou acórdão que contém contradições, obscuridades e omissões. f) EMBARGOS INFRINGENTES: Embargos Infringentes ou de Divergência - Recurso de decisão não unânime de órgão fracionário (Artigo 1.043 do CPC). Na área trabalhista, é regulamentado em sede de dissídio coletivo, previsto na CLT, Artigo 893 e 894, I, na Lei nº 7.701/88; Artigo 2°, II, "c"; e art. 232 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Prazo 8 (oito dias). A sua forma de interposição é por simples petição nos autos. g) RECURSO ADESIVO: o recurso adesivo está previsto no Artigo 997, §§ 1º e 2º do CPC. Aplica-se aos casos em que autor e réu fiquem vencidos parcialmente. Sendo vencidos, parcialmente, autor e réu, qualquer deles podem aderir ao recurso interposto pelo outro. A parte que não estiver firmemente disposta a recorrer pode aguardar, em sua indecisão, que a outra recorra, para só então requerer o reexame da matéria. h) RECURSO EX OFFICIO: não constitui, em sua essência, um recurso. E cabível para reapreciação de toda matéria nas sentenças contrárias à Fazenda Pública (U, E, DF, M, inclusive suas autarquias e fundações). Vide súmula 303 do TST. i) RECURSO DE REVISTA: regulado na CLT, Artigos 893, III, 896, 896-A a 896- C e §§; na Lei n° 7.701/88, Artigo 5°,"a"; e Artigo 226 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho. Cabível quando a decisão atacada violar literalmente dispositivo de lei federal ou estadual ou que de interpretação divergente à lei, convenção coletiva de trabalho, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento de empresa de observância obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do TRT prolator no prazo de 8 dias. Interposição perante o TRT prolator do acórdão mediante petição e com razões endereçadas ao TST. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 168 j) RECURSO EXTRAORDINÁRIO: admite-se o recurso extraordinário no processo do trabalho, quando demonstrada ofensa direta da Constituição da República, quando houver a necessidade de se declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal ou quando julgar válida lei ou ato do governo local contestado em face da Constituição. É necessário prequestionamento no prazo para interposição 15 dias. k) RECURSO ORDINARIO: possui previsão legal, Artigo 895, Incisos I e II da CLT. É cabível contra das decisões definitivas das varas e juízos de direito, com competência trabalhista. É possível também a interposição contra decisões interlocutórias de caráter terminativo, conforme dispõe a Súmula 214, c, TST. Além disso é possível contra decisões terminativas, como por exemplo, arquivamento dos autos em razão do não comparecimento do reclamante à audiência. O prazo para interpor o Recurso Ordinário é de oito dias. 3 EXECUÇÃO TRABALHISTA – LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA A parte processual referente ao processo de execução trabalhista é fundamental, pois trata da fase final de uma demanda judicial, especialmente porque ocorre quando a parte perdedora não cumpre de forma espontânea a sentença final. Existe controvérsias por parte de alguns doutrinadores acerca de que a execução trabalhista seria considerada um processo autônomo, e para outros estudiosos, se trata de mera fase do processo trabalhista. Desta forma, a fase chamada de liquidação de sentença, ainda que se encontre prevista no capítulo da execução, seria uma parte da fase de conhecimento do processo, para assim tornar líquido e certo o título judicial que vier a ser executado. De tal modo, a CLT prevê no Artigo 879, in verbis: “Sendo ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos”. Não fica, portanto, qualquer dúvida com relação a liquidação da sentença trabalhista. Importa destacar, que a Lei 13.467/2017 alterou o Parágrafo2, do Artigo 879, CLT, para definir que o Juiz do Trabalho deverá abrir vista às partes na liquidação de sentença sob pena de preclusão. Mais uma importante alteração, refere-se aos índices de liquidação e está inserido na nova redação do Parágrafo 7, do Artigo 879, CLT que merece leitura cautelosa. Veja as seguintes modalidades: • Liquidação por cálculo: forma mais utilizada na Justiça do Trabalho, pois a apuração do quantum sempre estará disponível nos autos do processo e será apurada por simples cálculos aritméticos, e encontra-se no Artigo 879 da CLT. TÓPICO 3 | RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO 169 • Liquidação por arbitramento: ocorre quando a sentença condenar o pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á a sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor, “por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação” (Artigo 509, I, do CPC). Importa destacar, que a Lei nº 13.467/2017 trouxe consequências fundamentais afetadas pelo valor da causa: as custas processuais e os honorários advocatícios de sucumbência. Em melhores termos, tanto as custas judiciais quanto os honorários a serem pagos ao advogado do perdedor (seja ele do empregado, seja ele do empregador) serão calculados de acordo com o valor exato dos pedidos realizados, o que exige que não se faça mais um pedido com valor “a liquidar”. Ainda afeto ao tema execução trabalhista, válido o conhecimento do Artigo 876, CLT, foi alterado pela Lei 13.467/2017 para estabelecer que são títulos executivos extrajudiciais: • Termo de comissão e conciliação prévia (Título executivo extrajudicial). Esse termo é constituído no âmbito de empresa e sindicato. • Termo de ajuste de conduta: emitido pelo MPT. O MPT fiscaliza as irregularidades da empresa e ajusta com ela o termo. Se a empresa não ajustar, esse TAC serve como título executivo extrajudicial. • Nota promissória e o cheque. • Já os títulos executivos judiciais são: ᵒ acordo homologado em juízo (título executivo judicial); ᵒ sentença judicial terminativa ou definitiva. A competência material trabalhista está estabelecida no Artigo 114, da Carta da República e a territorial no Artigo 651, caput e parágrafos da CLT como já analisamos anteriormente. Também houve uma alteração na propositura da ação trabalhista. Antes a redação do Artigo 878, CLT estabelecia que o Juiz de ofício poderia iniciar a execução. Agora há uma alteração que a execução pode ser promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representados por advogado (Artigo 878, CLT). Por fim, quando o executado garante o juízo, ele poderá apresentar os embargos à execução no prazo de 5 dias a contar da notificação da penhora, conforme Artigo 884, CLT. Se o juízo não tiver garantido, não tem possibilidade de o executado embargar à execução. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 170 Pessoas que não precisam garantir o juízo para opor embargos à execução: Artigo 884, § 6º, CLT. A exigência da garantia ou penhora não se aplica às entidades filantrópicas e ou àquelas que compõem ou compuseram a diretoria dessas instituições (incluído pela reforma trabalhista). Caberá igual prazo para o exequente apresentar a impugnação aos embargos à execução. 4 DISSÍDIO COLETIVO Nos dizeres de Saraiva e Manfredini (2015, p. 256), o conceito de dissídio coletivo de trabalho nada mais é do que “[...] uma ação que vai dirimir os conflitos coletivos de trabalho por meio do pronunciamento do Poder Judiciário do Trabalho [...]”, enfatizando sobre a necessidade da intervenção do Estado. Trata- se, portanto, de um processo judicial que visa a solução dos conflitos coletivos econômicos ou jurídicos existentes. Dissídio coletivo é uma espécie de ação coletiva conferida a determinados entes coletivos, geralmente os sindicatos, para a defesa dos interesses cujos titulares materiais não são pessoas individualmente consideradas, mas sim grupos ou categorias econômicas, profissionais ou diferenciadas, visando à criação ou interpretação de normas que irão incidir no âmbito dessas mesmas categorias (LEITE, 2019, p.198). Seguindo a classificação adotada por Carlos Henrique Bezerra Leite (2019, p. 201), podemos classificar os dissídios coletivos da seguinte forma: a) Econômicos – são aqueles que se destinam a criação de ou modificação das normas gerais de trabalho, que não foram acordadas previamente, através da representação dos interessados por meio dos sindicatos. b) Jurídicos – têm como finalidade a interpretação, assim como a declaração do alcance da norma jurídica existente, sendo sentenças normativas, instrumento de negociação coletiva, acordos e convenções coletivas, entre outros. c) Originários ou iniciais – quando não houver sido estipulada data base da categoria, pela inexistência de norma coletiva anterior. d) Revisionais – são aquelas que visam modificar norma anterior. e) Extensão – quando buscam entender uma norma a trabalhadores que por ela não tinham sido alcançadas. Porém, no trabalho ora realizado, trataremos com maior profundidade os dissídios de natureza econômica. No tocante às partes, pontua com sabedoria o professor Amauri Mascaro Nascimento (1998. p. 340) ao diferenciar os dissídios individuais com o processo coletivo, mencionando que: “No processo coletivo, (as partes) são grupos econômicos e profissionais, abstratamente considerados, representados por organizações, para a solução de conflitos de natureza coletiva”. No caso dos sindicatos, o mesmo pode figurar como legitimado no polo ativo para a propositura do dissídio coletivo por expressa vinculação legal, contida no Artigo 857 da CLT. Neste sentido, vale ressaltar que a competência para TÓPICO 3 | RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO 171 processar, conciliar e ainda julgar os dissídios coletivos de trabalho é originalmente dos Tribunais, representado pelos Tribunais Regionais do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho. A competência originária está, portanto, adstrita ao TRT se a controvérsia estiver conectada aos limites territoriais do Tribunal. Sobre a petição inicial nos dissídios coletivos, deverá ser apresentada obrigatoriamente (de acordo com o Artigo 856 da CLT, na forma escrita. Deverá ainda, do mesmo modo ser apresentada com a peça vestibular, a denominação e qualificação das entidades suscitadas, e ainda a indicação da delimitação territorial de representação das entidades sindicais, conforme manda a constituição. Ao receber, será protocolada a inicial, estando com a devida forma, será designando audiência de conciliação no prazo de 10 (dez) dias, determinando a notificação via postal dos dissidentes, conforme determina a lei. Para instauração do dissídio deverá ser respeitado o prazo dos sessenta dias que antecedem seu término, para que possa ter aplicação no dia imediato a seu termo, conforme dispõe Artigos 616, § 3° e 867, § único, todos previstos na Consolidação. Por fim, a sentença normativa terá como prazo máximo de validade quatro anos, conforme menciona Artigo 868, parágrafo único da CLT, todavia, a praxe vem estabelecendo o prazo de vigência de um ano. Quanto ao cabimento de recursos em sede de decisão normativa de dissídio coletivo, o procurador do trabalho Raimundo Simão de Melo (2002, p. 33) posiciona-se no sentido de que “[...] em nosso entendimento é de que o duplo grau de jurisdição nas sentenças normativas é excepcional e está explícita e restritivamente elencado na lei, como se verá em seguida”. Somente com o trânsito em julgado da sentença normativa é que começa a fluir o prazo prescricional da ação de cumprimento correspondente. Súmula 350 do TST – PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO. SENTENÇA NORMATIVA (mantida) – Resolução 121/2003, DJ 19, 20 e 21/11/2003. O prazo de prescriçãocom relação à ação de cumprimento de decisão normativa flui apenas da data de seu trânsito em julgado. ATENCAO UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 172 LEITURA COMPLEMENTAR Acordo coletivo: como ficou 2 anos após a reforma trabalhista Marcelo Roubicek Número de negociações caiu, e representantes de sindicato e do patronato divergem sobre os motivos. Veja no segundo texto da série sobre os dois anos das mudanças nas leis trabalhistas A reforma trabalhista, aprovada em 2017, completa dois anos de vigência em novembro de 2019. As alterações nas leis do trabalho no Brasil, que foram uma das principais pautas na agenda do então presidente Michel Temer (MDB), tinham o objetivo de flexibilizar a lei para gerar empregos e modernizar a legislação brasileira. A forma de contratar e demitir foi alterada. O número de ações trabalhistas na Justiça caiu consideravelmente com a vigência das novas regras. Além disso, a reforma abordou e reformulou a forma como empregados negociam salários, horas e férias com seus empregadores. No segundo texto da série “Como ficou”, que trata dos dois anos de vigência da reforma trabalhista, o Nexo mostra o que aconteceu com as negociações coletivas – tanto as convenções como os acordos – e como os sindicatos foram afetados pelas mudanças na legislação do trabalho. A diferença entre convenções e acordos CONVENÇÕES COLETIVAS São os acordos travados entre o sindicato dos trabalhadores e o sindicato dos empregadores. As convenções acontecem uma vez por ano e têm validade máxima de dois anos. A convenção estabelece regras – direitos e deveres – para ambas as partes. Vale para todos os trabalhadores representados pela entidade que negocia e para todas as empresas representadas pelos sindicatos patronais. ACORDOS COLETIVOS Assim como as convenções, os acordos coletivos são normativos – estabelecem direitos e deveres para empregado e empregador. Da mesma forma, eles também têm vigência máxima de dois anos. A diferença dos acordos coletivos é que, ao contrário das convenções, eles não acontecem com participação de uma entidade representativa dos empregadores. Neste caso, a negociação acontece entre o sindicato e uma ou mais empresas, valendo apenas para os empregados dessas firmas. TÓPICO 3 | RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO 173 O que mudou nas negociações Antes da reforma, a lei estabelecia que as negociações coletivas poderiam estabelecer termos diferentes daqueles previstos na legislação, desde que eles fossem mais favoráveis ao trabalhador do que a lei. Assim, existia a garantia legal de um patamar mínimo para o empregado no que diz respeito a salários, benefícios, jornada de trabalho e correlatos. Com a aprovação da reforma trabalhista, o panorama de negociações coletivas foi alterado. Desde novembro de 2017, qualquer acordo firmado entre empregado e empregador passa prevalecer sobre a lei. Isso significa que os termos da negociação podem ser inferiores ao que a lei estabelece. Além disso, aquilo que é estabelecido na negociação não pode ser contestado na Justiça depois. Mas nem tudo pode ser flexibilizado. Alguns benefícios como o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e o 13° salário não podem ser objeto de acordo, prevalecendo a lei. Da mesma forma, a jornada pode ser rearranjada, mas com limites: no máximo 12 horas diárias, que devem ser seguidas de 36 horas de descanso; 48 horas semanais, sendo 4 horas extras; e 220 horas mensais. Com isso, o objetivo da reforma era incentivar as negociações coletivas. No entanto, o que se observou após a lei entrar em vigência foi uma redução no número de acordos e convenções coletivas. QUEDA APÓS A REFORMA Considerando os primeiros nove meses do ano, a queda no total de negociações coletivas foi de 23,3% em 2018 em relação a 2017. Em 2019, houve um aumento de 5,1% em relação ao ano anterior, mas ainda 19,4% abaixo do total observado em 2017. UNIDADE 3 | ELEMENTOS DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 174 As quedas nos acordos e nas convenções foram parecidas no período observado. A arrecadação sindical Outra alteração promovida pela reforma trabalhista foi o fim da contribuição sindical obrigatória. Antes da reforma, um dia do ano do salário do trabalhador ia oficialmente para entidades sindicais. A contribuição era cobrada no salário de março e paga em abril. A mudança fez com que a arrecadação dos sindicatos despencasse. • R$ 2,04 bilhões: foi o valor total de arrecadação sindical em 2017, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia • R$ 283 milhões: foi o valor total de arrecadação sindical em 2018, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia • 86,1%: foi o tamanho da queda na arrecadação sindical em 2018, quando comparada com 2017 Duas análises sobre os acordos coletivos e a arrecadação sindical O Nexo conversou com duas pessoas ligadas a sindicatos e a associações patronais para entender o movimento recente de redução nos acordos coletivos e na arrecadação sindical. • João Guilherme Vargas Netto, consultor de entidades sindicais. • Luciana Freire, diretora executiva jurídica da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). De que maneira a redução da arrecadação da contribuição sindical melhorou ou piorou a situação do trabalho no Brasil? JOÃO GUILHERME VARGAS NETTO - Piorou fortemente. A estrutura sindical, como qualquer estrutura, se apoia em recursos. A extinção pela reforma trabalhista de uma fonte certa, que era a contribuição sindical, produziu uma queda muito significativa de receita. Isso prejudica a ação sindical de forma direta. Para o trabalhador, isso se traduz de diferentes formas. Num primeiro momento, há uma visão intuitiva e errada de alívio da contribuição. Ninguém gosta de contribuir. Num segundo momento há uma preocupação a respeito das regressões que ele sofre. Então é contraditório. TÓPICO 3 | RECURSOS TRABALHISTAS, EXECUÇÃO TRABALHISTA E DISSÍDIO COLETIVO 175 Há um elemento que foi muito sagazmente explorado pelo Rogério Marinho [ex-deputado do PSDB-RN, relator da reforma trabalhista e hoje secretário especial de Previdência e Trabalho], que é o do alívio. Mas num segundo momento há aquela preocupação: estou sendo agredido, quem vai me defender? Nós tivemos claramente um primeiro momento de lamento e confusão. E num segundo momento há uma volta à procura pelos sindicatos, que é o que estamos vivendo hoje. LUCIANA FREIRE - O impacto foi grande nos sindicatos. Muitos só sobreviviam da contribuição sindical. Hoje, os sindicatos têm que se reinventar, criar novas oportunidades de prestação de serviços para seus representados. Agora, eles têm que ter mais criatividade, mais vontade de prestar serviços para seus representados. Isso vale tanto para os sindicatos patronais como laborais (dos empregados). Eles devem oferecer serviços que atraiam o representado, para que ele veja contrapartida no recolhimento da contribuição. A contribuição sindical não foi extinta: ela passou a ser espontânea. A vontade do trabalhador e da empresa devem ser preservadas; não existe mais uma obrigação, uma compulsoriedade. Se o empregado se sente bem representado – percebe que o sindicato presta serviços, oferece uma representação efetiva, traz negociações coletivas, tem serviços de atendimento ao empregado e sua família – ele vai autorizar que seja feito o recolhimento da contribuição na folha de pagamento. No nosso entender, é muito importante que isso continue sendo feito de forma espontânea. Porque o sindicato tem um papel fundamental na representação dos trabalhadores e na representação empresarial. Uma negociação coletiva legítima e bem-feita leva vantagens para trabalhadores e empregadores. No meu entendimento, as relações de trabalho devem melhorar com mais possibilidades de negociações coletivas, e foi isso que a reforma trouxe. A que se deve a queda