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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Rolim, Luiz Antonio 
Instituições de direito romano / Luiz Antonio Rolim. - 2. ed. rev. - São Paulo: Editora 
Revista dos Tribunais, 2003. 
ISBN 85-203-2386-3 
1. Direito romano I. Título. II. Série. 
03-0941 CDU-34(37) 
índices para catálogo sistemático: 1. Direito romano 34(37) 
LUIZ ANTONIO ROLIM 
INSTITUIÇÕES 
DE DIREITO 
ROMANO 
2. a edição revista 
Ri? EDITORA 
REVISTA DOS TRIBUNAIS 
INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
© desta edição: 2003 
E D I T O R A R E V I S T A D O S T R I B U N A I S L T D A . 
Diretor Responsável: CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO 
Visite o nosso site: www.rt.com.br 
CENTRO DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR: Tel. 0800-11-2433 
e-mail de atendimento ao consumidor: sac@rt.com.br 
Rua do Bosque, 820 • Barra Funda 
Tel. (Oxxll) 3613-8400 • Fax (Oxxl 1) 3613-8450 
C E P 01136-000 - São Paulo, SP, Brasil 
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qual-
quer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, 
reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação to-
tal ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de 
processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da 
obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e 
parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações 
diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). 
Impresso no Brasil (04 - 2003) 
ISBN 85-203-2386-3 
2. a edição revista 
LUIZANTON.OROL.M | 
/.««fíçãa- 2000. 
http://www.rt.com.br
mailto:sac@rt.com.br
A LEIA, 
minha esposa 
eFERNANDA, 
FÁBIO, 
CLÁUDIA 
e RENATA 
- meus filhos! 
"Só uma mínima parte daquilo que 
aconteceu e que foi dito foi também escrito; 
e só uma mínima parte do que foi 
escrito permaneceu." 
GOETHE 
SUMÁRIO 
LISTA DE ABREVIATURAS 25 
PRIMEIRA PARTE 
O DIREITO R O M A N O - HISTÓRIA E FONTES 
Introdução 29 
1. ÉPOCA DA REALEZA: PERÍODO DO DIREITO R O M A N O ARCAI-
CO - JUS CIVILE OU DIREITO QUIRITÁRIO 31 
1.1 Evolução sócio-política da Roma antiga 31 
1.1.1 A fundação de Roma 31 
1.1.2 A importância da religião na sociedade romana 33 
1.1.3 As diferentes classes sociais 35 
1.1.3.1 Os patrícios 35 
1.1.3.2 Os clientes 37 
1.1.3.3 Os plebeus 38 
1.1.3.4 Os escravos 38 
1.1.4 Instituições políticas da Realeza 39 
1.1.4.1 Ore i 39 
1.1.4.2 O senado romano 40 
1.1.4.3 As assembléias populares (comitia) 40 
1.2 O Direito Romano arcaico: jus civile ou direito quiritário 41 
1.2.1 A importância da classe sacerdotal 41 
1.2.1.1 O Colégio dos Augures 42 
1.2.2 O jus civile ou direito quiritário 43 
1.2.2.1 Direitos exclusivos dos patrícios 44 
1.2.2.2 O jus civile - um direito não escrito (jus non 
scríptum) 44 
1.3 Fontes do jus civile ou direito quiritário 45 
1.3.1 O costume 45 
1.3.2 As leis régias (leges regiaé) 45 
10 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
2 . É P O C A D A R E P Ú B L I C A : PERÍODO D O DIREITO R O M A N O 
PRÉ-CLÁSSICO - DIREITO PRETORIANO E DIREITO DAS GEN-
TES 47 
2.1 Evolução sócio-política de Roma na República 47 
2.1.1 Instituições político-administrativas 47 
2.1.1.1 Magistratura ordinária 48 
2.1.1.2 Magistratura extraordinária 51 
2.1.1.3 O senado romano 52 
2.1.1.4 As assembléias populares (comitia) 52 
2.2 O Direito Romano no período da República: o direito pretoriano ou 
direito honorário 53 
2.2.1 O direito pretoriano 53 
2.2.2 O direito das gentes (jus gentium) 55 
2.3 Fontes do Direito Romano pré-clássico 56 
2.3.1 O costume 56 
2.3.2 A Lei das XII Tábuas 56 
2.3.2.1 O descontentamento dos plebeus 57 
2.3.2.2 Tribuno da plebe 62 
2.3.3 As leis comiciais 63 
2.3.4 Edito dos magistrados 64 
2.3.5 Senatos-consultos 65 
2.3.6 Plebiscito 65 
2.3.7 lurisprudência 65 
3 . ÉPOCA DO IMPÉRIO: PERÍODO DO DIREITO R O M A N O C L Á S -
SICO - DIREITO JURISPRUDENCIAL 68 
3.1 Período do Principado (de 27 a.C. a 284 d.C.) 68 
3.1.1 Evolução sócio-política 68 
3.1.2 Instituições político-administrativas do Principado 70 
3.1.2.1 O príncipe 70 
3.1.2.2 A magistratura 71 
3.1.2.3 O senado 72 
3.1.2.4 As assembléias populares (comitia) 72 
3.2 O direito jurisprudencial 72 
3.2.1 Jus respondendi ex auctoritate principis 73 
3.2.2 Jurisconsultos famosos 73 
3.2.3 Escolas doutrinárias 74 
3.3 Fontes do Direito Romano no Principado 74 
3.3.1 O costume 74 
S U M Á R I O 11 
O DIREITO CODIFICADO 86 
4.1 Codificações pré-justinianéias 87 
4.1.1 Codificações particulares 87 
4.1.1.1 Fragmenta Vaticana 87 
4.1.1.2 Collatio legum mosaicarum et romanarum 
(Comparação das leis romanas e mosaicas) 87 
4.1.1.3 Livro de direito siro-romano 88 
4.1.1.4 Consultado veteris cuiusdamjurisconsulti (Re-
pertório de consultas dadas por um antigo 
jurisconsulto) 88 
4.1.1.5 Código Gregoriano (Codex Gregorianus) 88 
4.1.1.6 Código Hermogen iano {Codex Hermoge-
nianus) 88 
4.1.2 Codificações oficiais 88 
4.1.2.1 Código Teodosiano {Codex Theodosianus) 89 
4.1.2.2 Leis romanas "bárbaras" 89 
4.2 Codificação justinianéia 90 
4.2.1 O Corpus Júris Civilis 91 
3.3.2 A l e i 75 
3.3.3 As constituições imperiais (constitutiones) 75 
3.3.3.1 Rescripta (reescritos) 75 
3.3.3.2 Decretum 76 
3.3.3.3 Editos imperiais 76 
3.3.3.4 Mandata (mandatos) 76 
3.3.4 Senatos-consultos 76 
3.3.5 Editos dos magistrados 76 
3.3.6 Jurisprudência 77 
3.4 A influência grega no Direito Romano 77 
3.4.1 A influência de Aristóteles 79 
3.5 Período do Dominato (de 284 a 565 d.C.) 81 
3.5.1 Evolução sócio-política 81 
3.5.2 Instituições políticas do Dominato 83 
3.5.2.1 Cargos da magistratura 83 
3.5.2.2 O senado 84 
3.5.2.3 As assembléias populares 84 
3.5.3 Fontes do Direito Romano no período do Dominato 84 
3.5.3.1 Constituições imperiais (leges) 84 
3.5.3.2 Jurisprudência 84 
3.5.3.3 Costume 85 
12 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
4.2.1.1 O novo Código de Justiniano ou Codex Vetus 
(Código Velho) 91 
4.2.1.2 Quinquaginta decisiones (Cinqüenta decisões) 92 
4.2.1.3 O Digesto ou Pandectas 92 
4.2.IA As Instituías ou Instituciones 93 
4.2.1.5 O Código novo (Codex Justinianus repetitae 
praelectionis) 94 
4.2.1.6 As Novelas 94 
4.3 As grandes invasões 95 
5. O DIREITO ROMANO PÓS-CLÁSSICO (476 a 1453 d.C.) 96 
5.1 A Idade Média no Império Romano do Oriente 96 
5.1.1 O direito jus t inianeue o direito bizantino 96 
5.1.2 Paráfrase de Teófilo (Paraphrasis Institutionum) 97 
5.1.3 Egloga legum compendiaria 97 
5.1.4 As Basílicas 97 
5.2 A Idade Média no Ocidente 98 
5.2.1 A decadência do Direito Romano 98 
5.2.1.1 O desvirtuamento do latim clássico 99 
5.2.1.2 O Direito Romano e o direito "bárbaro" 100 
5.2.1.3 Tentativa de Justiniano 101 
5.2.2 O direito medieval: o costume do feudo 102 
5.2.2.1 Os ordálios ou juízos de Deus 103 
5.2.3 A influência da Igreja 105 
5.2.3.1 A influência de Santo Agostinho no Direito Ro-
mano 107 
5.2.3.2 A Igreja na Idade Média 107 
5.2.3.3 O direito canónico 108 
6. O RENASCIMENTO DO DIREITO ROMANO 110 
6.1 Renascimento do Direito Romano na Europa ocidental 110 
6.1.1 Escola dos Glosadores ou de Bolonha 111 
6.1.2 Escola dos Pós-glosadores (Bartolistas) 113 
6.1.3 A presença de Santo Tomás de Aquino no renascimento 
do Direito Romano 113 
6.1.3.1 Guilherme de Ockham (1290-1349) 114 
6.2 O "segundo" renascimento do Direito Romano 114 
6.2.1 Fontes do direito no Absolutismo 116 
6.2.2 Escola Humanista 116 
6.2.3 Escola dos Práticos (séculos XVI e XVII) 117 
S U M Á R I O 13 
SEGUNDA PARTE 
INSTITUIÇÕES DO DIREITO R O M A N O 
CONCEITO DE DIREITO (JUS) 129 
1.1 Conceito de direito 129 
1.2 Ojuseofas 130 
1.3 Dias fastos e dias nefastos 130 
1.4 O conceito de justiça 131 
1.5 Direito objetivo e direito subjetivo 131 
1.6 Classificaçãodo direito objetivo 131 
1.6.1 Quanto à forma: jus scríptum e jus non scriptum 131 
1.6.2 Quanto ao interesse: direito público e direito privado 132 
1.6.2.1 Jus civile (direito civil) e direito pretoriano ou ho-
norário 132 
1.6.2.2 Direito das gentes (jus gentium) 133 
1.6.2.3 Direito natural (jus naturale) 133 
DIREITO DAS PESSOAS 135 
2.1 Pessoa física ou natural. Conceito 135 
2.1.1 Pressuspostos de existência da pessoa natural 135 
2.1.2 Os direitos do nascituro 136 
2.1.3 Extinção da pessoa física 137 
2.1.4 Capacidade jurídica e capacidade de fato 138 
2.1.5 Causas restritivas da capacidade de fato 138 
2.1.5.1 A idade 138 
2.1.5.2 O sexo 139 
2.1.5.3 Enfermidades físicas e mentais 140 
2.1.5.4 Prodigalidade 141 
2.1.5.5 Outras causas restritivas da capacidade de fato .. 141 
6.2.4 Escola de Direito Natural (Escola Naturalista ou Jusnatu-
ralista) 117 
6.2.5 Escola Histórica (princípios do século XIX) 118 
6.2.6 Escola de Pandectas ou Romanistas (século XIX) 118 
A RECEPÇÃO DO DIREITO R O M A N O PELOS DIREITOS NACIO-
NAIS 119 
7.1 A recepção do Direito Romano no Ocidente 119 
7.2 A recepção do Direito Romano pelo direito português 122 
7.3 A recepção do Direito Romano pelo direito brasileiro 125 
14 INSTITUIÇÕES DE DIREITO R O M A N O 
3. O STATUS NO DIREITO ROMANO: O STATUS LIBERTATIS 142 
3.1 O status no Direito Romano 142 
3.2 Status libertatis. Conceito 142 
3.3 A escravidão 143 
3.3.1 Causas da escravidão 143 
3.3.2 Outras causas de escravidão 144 
3.4 Situação dos escravos libertos 144 
3.4.1 Obsequium 145 
3.4.2 Operae 145 
3.5 Manumissão ou alforria 145 
3.5.1 Formas solenes de manumissão 146 
3.5.1.1 Pervindicta 146 
3.5.1.2 Pelo censo 146 
3.5.1.3 Por testamento 146 
3.5.2 Formas não solenes de manumissão 146 
3.5.2.1 Inter amicus 147 
3.5.2.2 Per epistolam 147 
3.5.2.3 Per mensam 147 
3.5.2.4 In sacrosanctis ecclesiis 147 
3.5.2.5 Pileum 147 
3.6 Estados de quase-servidão 147 
3.6.1 Addictus 148 
3.6.2 Colonos 148 
3.6.3 Redemptus 148 
3.6.4 Auctoratus 148 
3.6.5 Pessoas in mancipio 149 
3.6.6 Homoliberbonafi.de serviens 149 
4. STATUS CIVITATIS - A CIDADANIA ROMANA 150 
4.1 Status civitatis. Cidadania romana. Conceito 150 
4.1.1 Peregrinos 150 
4.1.2 Latinos 151 
4.2 Aquisição do status civitatis 152 
4.3 Perda do status civitatis 153 
5. STATUS FAMILIAE 154 
5.1 Status familiae e a família romana. O status familiae na sociedade 
romana 154 
5.2 As pessoas sui júris e alieni júris 155 
http://Homoliberbonafi.de
S U M Á R I O 15 
5.3 Parentesco. Agnatos e cognatos 156 
6. CAPITIS DEMINUTIO 157 
6.1 Capitis deminutio. Conceito 157 
6.2 Capitis deminutio máxima 157 
6.3 Capitis deminutio media 158 
6.4 Capitis deminutio minima 158 
7. O CASAMENTO NO DIREITO ROMANO 159 
7.1 O casamento no Direito Romano. Histórico 159 
7.2 Espécies de casamento: cum manu e sine manu 160 
7.2.1 Casamento cum manu 160 
7.2.1.1 Confarreatio 160 
7.2.1.2 Coemptio 161 
7.2.1.3 usus 161 
7.2.2 Casamento sine manu 161 
7.3 As esponsálias (sponsalia) 162 
7.3.1 Arras esponsalícias (arrhae sponsaliciae) 162 
7.4 Requisitos para o casamento 163 
7.4.1 Jus connubium 163 
7.4.2 Puberdade 163 
7.4.3 Consentimento 163 
7.5 Impedimentos matrimoniais 164 
7.5.1 Impedimentos absolutos 164 
7.5.2 Impedimentos relativos 164 
7.6 O matrimônio nos primeiros séculos da Era Cristã 165 
7.6.1 Alterações introduzidas por Justiniano 165 
7.7 Dissolução do casamento 165 
7.7.1 Dissolução do casamento cum manu 166 
7.7.2 Dissolução do casamento sine manu 166 
7.8 O repúdio 166 
7.9 O divórcio 167 
7.9.1 O divórcio no direito justinianeu 168 
7.9.1.1 Divórcio por mútuo consentimento (communi 
consensú) 169 
7.9.1.2 Divórcio unilateral ou por justa causa 169 
7.9.1.3 Divórcio bona gratia 169 
7.9.1.4 Repúdio sem justa causa (repudium sine justa 
causa) 169 
INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
TUTELA 170 
8.1 Tutela. Conceito 170 
8.2 Espécies de tutela 172 
8.2.1 Tutela legítima 172 
8.2.2 Tutela testamentária 172 
8.2.3 Tutela dativa ou honorária 172 
8.3 Poderes e deveres do tutor 172 
CURATELA 173 
9.1 Curatela. Conceito • 173 
9.2 Causas da curatela 173 
9.2.1 Loucos de todo o género ¡ 173 
9.2.2 Pródigos 174 
9.3 Poderes e deveres do curador 174 
9.4 Curatela dos menores de vinte e cinco anos 175 
9.5 Outras formas de curatela 175 
9.6 A venia aetatis 175 
PESSOAS JURÍDICAS 177 
10.1 Pessoas jurídicas. Conceito 177 
10.2 Universitas personarum 178 
10.2.1 Universitas personarum de direito público 178 
10.2.2 Universitas personarum de direito privado 178 
10.3 Universitas rerum - Conjunto ou agrupamento de coisas (bens) 179 
10.4 Herança jacente (hereditas jacens) 179 
DIREITO DAS COISAS 180 
11.1 Conceito de coisa (res) 180 
11.2 Classificação 180 
11.2.1 Res extra patrimonium 180 
11.2.1.1 Res divini júris 180 
11.2.1.2 Res humani júris 181 
11.2.2 Res in patrimonio 181 
11.2.2.1 Resmancipi 181 
11.2.2.2 Res nec mancipi 181 
11.2.2.3 Res corporales 182 
11.2.2.4 Res incorporales 182 
11.2.2.5 Res mobiles (coisas móveis) 182 
11.2.2.6 Res immobiles (coisas imóveis) 182 
11.2.2.7 Resfungibiles (coisas fungíveis) 182 
S U M Á R I O 17 
11.2.2.8 Res infungibiles (coisas infungíveis) 182 
11.2.2.9 Res divisibiles (coisas divisíveis) 182 
11.2.2.10 Res indivisibiles (coisas indivisíveis) 183 
11.2.2.11 Res principales (coisas principais) 183 
11.2.2.12 Res accessorias (coisas acessórias) 183 
12. DIREITOS REAIS SOBRE COISAS PRÓPRIAS. O DIREITO DE PRO-
PRIEDADE 184 
12.1 Propriedade. Conceito. Histórico 184 
12.2 Espécies de propriedade 185 
12.2.1 Propriedade quiritária (dominium ex jure quiritium) 185 
12.2.2 Propriedade pretoriana ou bonitária 186 
12.2.3 Propriedade provincial 186 
12.2.4 Propriedade peregrina 187 
12.3 A propriedade no direito justinianeu 187 
12.4 Direitos inerentes ao direito de propriedade 187 
12.4.1 Jus utendi ou usus 187 
12.4.2 Jusfruendi 188 
12.4.3 Jus disponendi (jus abutendi) 188 
12.5 Propriedade e domínio 188 
12.6 Limitações ao direito de propriedade 189 
12.6.1 Limitações de interesse público 189 
12.6.2 Limitações de interesse privado 189 
12.7 Condomínio. Co-propriedade 189 
13. M O D O S DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE 191 
13.1 Modos convencionais de aquisição da propriedade 191 
13.1.1 Mancipatio (mancipação) 191 
13.1.2 ln jure cessio (cessão em juízo ou abandono da coisa peran-
te o juiz) 192 
13.1.3 Tfàdiçâo (iraditiò) 192 
13.2 Modos não convencionais de aquisição da propriedade 194 
13.2.1 Ocupação 194 
13.2.1.1 Resnullius 194 
13.2.1.2 Resderelicta 195 
13.2.2 Acessão 195 
13.2.2.1 Acessão entre coisas móveis 196 
13.2.2.2 Acessão de móveis a imóveis 196 
13.2.2.3 Acessão de coisas imóveis entre si 197 
18 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
13.2.3 Especificação 198 
13.2.4 Adjudicação : 198 
13.2.5 Usucapião 199 
13.2.5.1 Requisitos para a usucapião 199 
13.2.5.2 A praescríptio longi temporis 200 
13.2.5.3 A praescríptio longissimi temporis 200 
13.2.6 A defesa da propriedade 201 
13.2.6.1 Ação reivindicatória (reivindicatio) 201 
13.2.6.2 Ação negatoria (actio negatoria) 202 
13.2.6.3 Cautio damni infecti 202 
13.2.6.4 Operis novi nunciatio (nunciação de obra 
nova) 202 
13.2.6.5 A interdictum quod vi aut clam 202 
14. POSSE 203 
14.1 Conceito de posse 203 
14.2 Elementos da posse 204 
14.3 Modalidades de posse 204 
14.3.1 Posse natural (possessio naturalis) 204 
14.3.2 Posse civil (possessio civilis) 204 
14.3.3 Posse pelos interditos (possessio ad interdicta) 205 
14.4 Aquisição da posse 205 
14.5 Perda da posse 205 
14.6 Proteção da posse 206 
14.6.1 Interditos de manutenção da posse 206 
14.6.1.1 Interdito uti possidetis 206 
14.6.1.2 Interdito utrubi 206 
14.6.2 Interditos de recuperação da posse 207 
14.6.2.1 Interdito unde vi 207 
14.6.2.2 Interdito de clandestina possessione 207 
14.6.2.3 Interdito de precario 207 
15. DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA 20815.1 Histórico e conceito 208 
15.2 Servidões prediais: Conceito. Classificação 208 
15.2.1 Servidões prediais urbanas (Servitutespraediorum urba-
norum) 209 
15.2.2 Servidões rústicas 209 
15.2.2.1 Servidão de passagem 210 
S U M Á R I O 19 
15.2.2.2 Servitus aquaeductus 210 
15.2.2.3 Servitus aquae hauriendae 210 
15.2.2.4 Servitus arena fondiendae 210 
15.3 Servidões pessoais. Conceito. Classificação 210 
15.3.1 Usufruto 210 
15.3.2 Uso 211 
15 .33 Habitação 211 
15.3.4 Serviços de escravos e de animais 211 
15.4 Superfície 211 
15.5 Enfiteuse 212 
15.5.1 Direitos e deveres do enfiteuta 212 
16. DIREITOS REAIS DE GARANTIA SOBRE COISA ALHEIA 214 
16.1 Alienação fiduciária (fiducia cum creditore) 214 
16.2 Penhor 214 
16.3 Hipoteca 215 
16.3.1 Pluralidade de credores hipotecários 216 
17. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 217 
17.1 Conceito de obrigação 217 
17.2 Elementos essenciais das obrigações 218 
17.3 Modalidades de obrigações 218 
17.3.1 Obrigação de dar (dare) 218 
17.3.2 Obrigação de fazer ifacere) 219 
17.3.3 Obrigação de não fazer (nonfacere) 219 
17.3.4 Obrigação de prestar (praestare) 219 
17.4 Fontes das obrigações 219 
18. OS CONTRATOS NO DIREITO ROMANO. OBRIGAÇÕES QUE SE 
ORIGINAM DOS CONTRATOS 220 
18.1 Os contratos no Direito Romano arcaico 220 
18.1.1 Nexum 220 
18.1.2 Sponsio 221 
18.2 Classificação dos contratos 221 
18.2.1 Contratos verbais 221 
18.2.1.1 Stipulatio 221 
18.2.1.2 Dotisdictio 222 
18.2.1.3 Promissio jurata Uberti 222 
18.2.2 Contratos literais 222 
18.2.2.1 Nomina transcripticia 222 
2 0 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
18.2.2.2 Chirographum 223 
18.2.2.3 Syngraphum 223 
18.2.2.4 Contratos reais 223 
18.2.2.5 Contratos consensuais 223 
18.2.2.6 Contratos inominados 223 
18.3 Elementos de validade dos contratos 224 
19. CONTRATOS REAIS 225 
19.1 Conceito de contratos reais 225 
19.2 Mútuo 225 
19.2.1 Casos especiais de mútuo 226 
19.3 Comodato 227 
19.4 Depósito 227 
19.4.1 Modalidades de depósito 227 
19.4.1.1 Depósito necessário 228 
19.4.1.2 Depósito irregular 228 
19.4.1.3 Depósito-seqüestro 228 
19.5 Penhor 229 
19.6 Fidúcia 229 
19.6.1 Fiducia cum creditore 229 
19.6.2 Fiducia cum amicum 229 
20. CONTRATOS CONSENSUAIS 230 
20.1 Conceito 230 
20.2 Contrato de compra e venda 230 
20.2.1 Elementos do contrato de compra e venda 231 
20.2.1.1 A coisa objeto da transação 231 
20.2.1.2 O preço (pretium) 231 
20.2.1.3 O consentimento das partes 232 
20.2.2 Arras ou sinal 232 
20.2.3 Obrigações do vendedor 232 
20.2.4 Pactos adjetos ao contrato de compra e venda 233 
20.2.4.1 Pacto comissório (lex commisoria) 233 
20.2.4.2 Pacto de adjudicação ipactum in diem addictio). 233 
20.2.4.3 Pacto de preferência (pactumprothymeseos)... 233 
20.2.4.4 Pacto a prova {pactum displicentiae) 234 
20.2.4.5 Pacto de retrovenda (pactum de retrovendendó) 234 
20.3 Contrato de locação. Conceito e espécies 234 
20.3.1 Locação de coisas (locatio rei) 234 
S U M Á R I O 2 1 
20.3.2 Locação de serviços (locatio operarum) 235 
20.3.3 Locação de obra (locatio operis facienti) 235 
20.4 Contrato de sociedade. Conceito 235 
20.4.1 Elementos do contrato de sociedade 236 
20.4.2 Extinção do contrato de sociedade 236 
20.5 Contrato de mandato 236 
20.5.1 Obrigações do mandatário 237 
20.5.2 Extinção do mandato 237 
2 1 . CONTRATOS INOMINADOS 238 
21.1 Conceito 238 
21.2 Classificação 239 
21.3 Contrato de permuta 239 
21.4 O aestimatium ou contrato estimatório 239 
21.5 O precarium ou contrato de precário 240 
21.6 Transação 240 
22. PACTOS 241 
22.1 Conceito de pactos. Espécies 241 
22.2 Pactos pretorianos (pacta praetoria) 242 
22.2.1 Recepta 242 
22.2.2 Pacto de juramento 242 
22.2.3 Pacto de constituto 243 
22.3 Pactos legítimos. Conceito 243 
22.3.1 Pacto de compromisso (compromissum) 243 
22.3.2 Promessa de doação (pactum donationis) 243 
22.3.3 Promessa de dote (pactum dotis) 243 
22.4 Pactos adjetos. Conceito 243 
23. OS QUASE-CONTRATOS 244 
23.1 Quase-contratos. Conceito 244 
23.2 Espécies de quase-contratos 245 
23.2.1 Gestão de negócios (negotiorum gestio) 245 
23.2.2 Enriquecimento injusto 246 
23.2.2.1 Condictio. Modalidades de ação 246 
23.2.3 Comunhão acidental (communio incidens) 247 
23.2.4 A administração da tutela e da curatela 247 
24. O DELITO E O QUASE-DELITO COMO FONTES DE OBRIGAÇÕES . 248 
24.1 Delito. Conceito e espécies 248 
22 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
24.2 Delitos públicos 249 
24.3 Delitos privados 249 
24.3.1 Características dos delitos privados 250 
24.3.2 Espécies de delitos privados previstos pelo jus civile 250 
24.3.2.1 Furto 250 
24.3.2.2 Rapina 251 
24.3.2.3 Damnum injuria datum 251 
24.3.2.4 Injúria 252 
24.3.3 Espécies de delitos privados previstos pelo direito preto-
riano 253 
24.3.3.1 Violência 253 
24.3.3.2 Dolo 253 
24.3.3.3 Fraude contra credores 253 
24.3.4 Quase-delito. Conceito. Obrigações dele decorrentes 254 
25. INEXECUÇÃO DE OBRIGAÇÕES 256 
25.1 Inexecução de obrigações por dolo 256 
25.2 Inexecução por culpa 257 
25.3 Modalidades de culpa 257 
25.4 Caso fortuito e força maior 258 
25.5 Mora 258 
26. GARANTIAS DE EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 259 
26.1 Garantia pessoal. Conceito 259 
26.2 Espécies de obrigações pessoais 260 
26.2.1 Adstipulatio 260 
26.2.2 Fiança (adpromissio) 260 
26.2.2.1 Sponsio 260 
26.2.2.2 Fideipromissio 260 
26.2.2.3 Fideijussio 261 
26.3 Outras modalidades de garantia pessoal 261 
26.3.1 Mandatum pecuniae credendae 261 
26.3.2 Pacto de constituto de dívida alheia (debiti aliení) 261 
26.3.3 Cláusula penal 261 
26.4 Arras (arrha) 262 
27. TRANSMISSÃO DE OBRIGAÇÕES 263 
27.1 Conceito e histórico 263 
27.2 Formas de transmissão de obrigações 263 
27.2.1 Novação por substituição do credor 263 
S U M Á R I O 2 3 
27.2.2 Mandatum in rem suam 264 
28. EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 265 
28.1 Conceito 2 6 5 
28.2 Modos de extinção das obrigações ipso jure 265 
28.2.1 Solutioper aes et libram 266 
28.2.2 Acceptilatio 266 
28.2.3 Pagamento (solutio) 266 
28.2.4 Dação em pagamento (beneficium dationis in solutum).... 266 
28.2.5 Consignação em pagamento (obsignatio) 267 
28.2.6 Novação (novatio) 267 
28.3 Modos de extinção das obrigações exceptionis ope 268 
28.3.1 Compensação 268 
28.3.2 Transação 269 
28.3.3 Pacto de não pedir 269 
28.3.4 Praescriptio longi temporis 269 
29. DIREITO DAS SUCESSÕES 270 
29.1 Histórico do direito das sucessões 270 
29.2 Sucessão testamentária 270 
29.2.1 O testamento no jus civile 271 
29.2.2 Espécies de testamento no jus civile 271 
29.2.2.1 Testamentum calatis comitiis 271 
29.2.2.2 Testamentum in procinctu 271 
29.2.2.3 Testamentum per aes et libram 272 
29.2.3 O testamento no direito pretoriano 272 
29.2.3.1 Testamento pretoriano 273 
29.2.3.2 Testamento hológrafo 273 
29.2.4 O testamento no direito justinianeu 273 
29.2.5 Condições de validade dos testamentos 273 
29.2.6 Capacidade jurídica do herdeiro 273 
29.2.7 A instituição do herdeiro 274 
29.2.8 A substituição do herdeiro 274 
29.2.9 Invalidade dos testamentos 275 
29.2.10 Liberdade para testar 275 
29.3 Codicilo 276 
29.4 Colação 276 
29.5 Legados 276 
29.5.1 Formas de legado 277 
24 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
29.5.1.1 Legado per vindicationem 277 
29.5.1.2 Legado per damnationem 277 
29.5.1.3 Legado per praeceptionem 277 
29.6 Herança jacente 277 
29.7 Herança vacante 277 
29.8 Monte ou espólio 278 
30. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO 279 
30.1 Conceito 279 
30.2 A sucessão legítima no jus civile 279 
30.2.1 Heredessui 280 
30.2.2 Agnados 280 
30.2.3 Gentiles (gentis) 281 
30.3 Sucessão legítima no direito pretoriano 281 
30.3.1 Bonorum possessio unde liberi 281 
30.3.2 Bonorum possessio unde legitimi 281 
30.3.3 Bonorum possessio unde cognati 281 
30.3.4 Bonorum possessio unde vir et uxor 282 
30.4 Sucessão legítima no período do Dominato 282 
30.5 Sucessão legítima no direito justinianeu 282 
30.5.1Descendentes 283 
30.5.2 Ascendentes 283 
30.5.3 Colaterais privilegiados 283 
30.5.4 Colaterais ordinários 283 
30.5.5 O cônjuge sobrevivente 283 
BIBLIOGRAFIA •••• 285 
LISTA DE ABREVIATURAS 
C.ouC.I - Código Justiniano 
D. ou Dig. - Digesto ou Digesta 
Fr. Vat. - Fragmentos do Vaticano 
G. - Gaio 
I. ou Inst. - Instituías ou Institutiones 
Paul - Paulo 
Post. - Póstumo 
Pomp. - Pompônio 
Pr. - Proêmio 
Ulp. - Ulpiano 
PRIMEIRA PARTE 
O DIREITO ROMANO 
- HISTÓRIA E FONTES 
Introdução 
1. Época da Realeza: período do Direito Romano arcaico - jus 
civile ou direito quiritário 
2. Época da República: período do Direito Romano pré-clássi-
co - direito pretoriano e direito das gentes 
3. Épocado Império: período do Direito Romano clássico-di-
reito jurisprudencial 
4. O direito codificado 
5. O Direito Romano pós-clássico (476 a 1453 d.C.) 
6. O renascimento do Direito Romano 
7. A recepção do Direito Romano pelos direitos nacionais 
INTRODUÇÃO 
É impossível dissociar o direito da História: ambos caminham jun-
tos, interligados, entrelaçados pelas mais variadas mutações da vida em 
sociedade. O direito, essencialmente dinâmico, adapta-se sempre às trans-
formações sócio-político-culturais havidas no decorrer da história do 
homem. 
Durante os vinte e dois séculos de sua vigência (de 753 a.C. até 1453 
d.C.) o Direito Romano não permaneceu imutável em seus princípios ou 
invariável em seus fundamentos, mas passou por inúmeras transformações: 
o Direito Romano do período da Realeza (jus civile) não foi o mesmo que 
vigorou na época da República (direito pretoriano), no Império (o direito 
jurisprudencial) ou após Justiniano (o direito justinianeu e direito bizanti-
no) . Seus princípios e normas foram se amoldando às circunstâncias de cada 
época. Pode-se, portanto, afirmar que não existe apenas um Direito Roma-
no mas diversos, cada qual com suas características próprias.* 
Não há, pois, um critério único, fixo e preestabelecido para o estudo 
de suas fontes e instituições. 
Nesse nosso trabalho, com o intuito de apresentarmos o tema de uma 
forma que julgamos mais didática, analisamos, por primeiro, as mutações 
sócio-político-culturais do povo romano nos diversos períodos de sua his-
tória, entrelaçando-as, ao depois, com o estudo das fontes e o desenvolvi-
mento do direito propriamente dito, nos mesmos períodos. Assim, numa 
análise sincrónica, dividimos esse nosso trabalho em três grandes perío-
dos da história romana: 
n "Não se pode confundir a sociedade e a cidade-estado arcaica com a vida polí-
tica e civil da Roma de Augusto ou de Justiniano. Não se pode confundir o di-
reito civil antiquíssimo com o pretoriano ou imperial, ou os juristas-sacerdotes, 
inventores e intérpretes de rígidas fórmulas negociais e processuais, com os 
jurisconsultos tardo-republicanos e 'clássicos' ou com os professores de Berito". 
BRETONE, Mario. História do direito romano. Lisboa : Editorial Estampa, 
1990. p . 3 1 . 
30 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
I — Período do Direito Romano arcaico 
Época da Realeza (de 753 a 510 a.C.) 
II - Período do Direito Romano pré-clássico 
Época da República (de 510 a 27 a.C.) 
III - Período do Direito Romano clássico 
1 - Época do Principado (de 27 a 284 d.C.) 
2 - Época do Dominato (de 284 a 565 d.C.) 
IV - Período do direito justinianeu e direito bizantino 
(de 565 a 1453 d.C. - de Justiniano até a queda de Constanti-
nopla). 
ÉPOCA DA REALEZA: 
PERÍODO DO DIREITO 
ROMANO ARCAICO -JUS CIVILE 
OU DIREITO QUIRITÁRIO 
SUMÁRIO: 1.1 Evolução sócio-política da Roma antiga: 1.1.1 A funda-
ção de Roma; 1.1.2 A importância da religião na sociedade romana; 1.1.3 
As diferentes classes sociais; 1.1.4 Instituições políticas da Realeza - 1.2 
O Direito Romano arcaico: jus civile ou direito quiritário: 1.2.1 A impor-
tância da classe sacerdotal; 1.2.2 Oyitóriví/e ou direito quiritário - 1 . 3 Fontes 
âojuscivile ou direito quiritário: 1.3.1 Ocostume; 1.3.2 As leis régias (leges 
regiae). 
1.1 Evolução sócio-política da Roma antiga 
1.1.1 A fundação de Roma 
Inexistem elementos convincentes que possam reproduzir de forma 
exata a realidade histórica da fundação de Roma, pois desse importante fato 
não restaram documentos ou textos escritos. O que dele sabemos foi obti-
do através de tradições literárias livres, transmitidas oralmente no decor-
rer dos séculos. "Só uma mínima parte daquilo que aconteceu e que foi dito 
foi também escrito; e só uma mínima parte do que foi escrito permaneceu", 
nos diz Goethe.1 
Conta a lenda que, em meados do ano 1184 a.C, Enéias, filho da deusa 
Vénus e de Anquises, último rei de Tróia, chegou à região do Lácio e lá se 
estabeleceu, instaurando um regime monárquico. Um de seus descenden-
tes, o rei Numitor, teve uma filha, Réia Sílvia, que se casou com o deus Marte, 
<" GOETHE. Maximen und Reflexionen (910). Werke 12. 6. ed., Hamburg, 1967. 
p. 494. 
32 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
tendo com ele dois filhos: Rómulo e Remo. Por intrigas de Amúlio, um tio-
avô usurpador da coroa, ambos foram abandonados nas águas do rio Tibre 
e recolhidos por uma loba, que, carregando-os para uma gruta conhecida 
como lupecal, situada no monte Palatino, amamentou-os durante um certo 
período, salvando-os, assim, da morte certa. Algum tempo depois, um ca-
sal de pastores, Faustulus e Aca Larentia, encontrou as duas crianças e pas-
sou a criá-las como se filhos fossem, até a adolescência. Os gêmeos, então 
fortes e vigorosos, foram à procura de Amúlio, o rei usurpador, mataram-
no e devolveram a coroa ao tio-avô Numitor. Este, em gratidão, os recom-
pensou com uma grande área de terras situadas na região do Monte Palatino, 
onde Rómulo fundou Roma. 
Um dia Rómulo estava construindo um muro para proteger a cidade e 
Remo, passando pelo local, achou que aquele muro não suportaria nem 
mesmo uma simples chuva, e passou a rir da precariedade da construção 
do irmão. Rómulo não gostou da brincadeira e, irado, matou Remo: sem 
nenhum outro competidor mais sério, tornou-se depois o primeiro rei de 
Roma. Já no poder, aos poucos foi conquistando toda a região vizinha e 
promoveu o famoso "rapto das sabinas" porque faltavam mulheres em sua 
comunidade. Depois de algum tempo desapareceu, arrebatado aos céus 
durante uma tempestade, transformando-se no deus Quirino ou Quirites, 
protetor de todos os romanos. Esta é a romanesca história criada pela tradi-
ção literária para explicar as origens sobrenaturais da cidade de Roma e de 
seus primeiros habitantes. 
A tradição histórica, entretanto, aponta para outra origem bem dife-
rente: pastores oriundos da região do Rio Danúbio se estabeleceram na 
peninsula itálica, numa pequena planície delimitada a oeste pelo mar 
Tirreno, a leste pelos Apeninos, ao norte pelo Rio Tibre e, ao sul, pelos 
Montes Albanos: a região do Lácio. A região era circundada por sete coli-
nas denominadas Quirinal, Viminal, Capitolino, Célio, Esquilino, Monte 
Palatino e Monte Aventino. Ali se instalou a pequena população latina que 
passou a conviver com pastores seminômades que já habitavam o local, 
dentre os quais os sabinos. Construíram as suas cabanas inicialmente no 
topo de uma das colinas, isolados dos seus vizinhos. Ao norte vivia o povo 
etrusco, de origem asiática, e ao sul, na denominada Magna Grécia, se en-
contrava uma aldeia grega cujos habitantes haviam chegado à região por 
volta do século IX a. C. 
Os latinos acabaram unindo-se aos sabinos tanto para fins religiosos e 
comerciais como para fazerem frente às ameaças de invasão do povo 
etrusco. Vieram se unir a eles, posteriormente, as demais aldeias que vivi-
É P O C A D A R E A L E Z A 33 
am nas outras colinas, formando-se, então, uma espécie de "federação" ou 
"liga" conhecida como septimontium, união dos povos que habitavam os 
"sete montes". 
Durante todo esse período Roma foi governada por quatro reis: dois 
de origem latina (Rómulo e Numa Pompilio) e dois de origem sabina (Túlio 
Hostílioe Anco Márcio). 
Os etruscos, vizinhos do norte, que por lá se haviam instalado por vol-
ta do ano 900 a.C, já haviam fundado inúmeras cidades por toda a região, 
tal como Volterra, Veios, Arezzo, Perugia, Fiesole, Orvieto, Populônia, 
Tarquínia. No início do século VII a.C, invadiram o vizinho Lácio, esta-
belecendo estruturas governamentais mais sólidas e transmitindo novos 
conhecimentos ao povo invadido, principalmente os de natureza agríco-
la. No topo do Monte Palatino foi instalada, então, a capital do novo domí-
nio, denominada Roma quadrata, que abrangia as demais colinas circun-
dantes. 
Por volta do ano de 625 a.C., o vale que unia as sete colinas foi drenado 
e pavimentado, transformado-se num local (fórum) de comércio, de reuni-
ões e de cremação ou sepultamento dos mortos, passando a ser o centro 
comercial e político de Roma. 
1.1.2 A importância da religião na sociedade romana 
O homem é naturalmente religioso. Sempre almeja o absoluto e busca 
a razão de sua existência naquele algo mais que não consegue apreender 
ou entender. Mesmo que não confesse abertamente, nas profundezas de seu 
coração acolhe a idéia da existência de um Ser Supremo. Não existe um 
ateu integral. A idéia de Deus existe em todos os corações humanos. 
Todos os povos da Antiguidade desenvolveram esse sentimento reli-
gioso, criando deuses específicos para cada necessidade humana. Os ro-
manos não fugiram a essa regra imutável e tinham deuses para todos os 
gostos e para todas as horas: Marte, para a guerra; Vénus, para o amor; Diana, 
para as colheitas; Baco, para as bebedeiras de fins de semana, e assim por 
diante. Ninguém saía de casa sem antes pedir a proteção a seu deus predi-
leto (mais ou menos o que acontece hoje, com muitas pessoas que não saem 
de casa sem antes consultar o horóscopo). 
O romano primitivo era também extremamente supersticioso: só saía 
de casa com o pé direito, só cortava os cabelos durante a lua cheia, pendu-
rava no pescoço amuletos e fazia inscrições mágicas nas paredes de sua casa 
para garantir a proteção dos deuses. "Ele conhece fórmulas para evitar 
34 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
doenças, e outras mais para curá-las; mas era indispensável repeti-la vinte 
vezes e cuspir, de cada vez, de maneira diferente".2 
Para espantar os fantasmas que assombravam a sua moradia, o propri-
etário levantava-se à meia-noite e andava descalço por toda a casa, fazen-
do estalar o dedo médio da mão. Ao mesmo tempo, colocava vagens pretas 
na boca e as lançava, uma a uma, por toda a residência dizendo: "Aqui tens 
o que te dou; por essas vagens me resgato". (Dizem que os fantasmas apa-
nhavam as vagens e iam embora...). E quem assim agia não era só o pobre-
zinho ignorante, "o homem do povo, o homem de espírito débil que a mi-
séria e a ignorância conservavam na superstição, (mas também) o patrício, 
o homem nobre, poderoso e rico. Esse patrício (que era) alternadamente 
guerreiro, magistrado, cônsul, agricultor ou comerciante; por toda a parte, 
e sempre, ele é sacerdote e tem o seu pensamento fixo nos deuses". 3 
Vivendo em constante contacto com a natureza, os romanos compa-
nhavam com atenção as mudanças diárias do tempo: acolhiam com satis-
fação a chuva que beneficiava as colheitas, amendrontavam-se com as tem-
pestades e temiam os raios e trovões. Face a face com os inexplicáveis e 
atemorizantes eventos naturais (e ainda sem a concepção de um único Ser 
Criador), passaram a atribuir-lhes natureza divina, multiplicando, dessa 
forma, os seus deuses. 
Os romanos que morriam também adquiriam certo grau de divindade; 
se tivessem sido bons, virtuosos e honestos em vida, eram cultuados com 
saudade e alegria depois da morte. Se tivessem sido desonestos, corruptos 
e prepotentes, logo eram desprezados e colocados no rol das divindades 
esquecidas. 
Cada família tinha seus próprios deuses, que eram cultuados como 
propriedade exclusiva. "Contavam-se milhares de Jupiters diferentes; ha-
via toda uma multidão de Minervas, de Dianas, de Junos, muito pouco se 
parecendo umas com as outras. Elaboradas pelo trabalho livre de cada um 
dos espíritos, todas essas concepções eram, de algum modo, sua proprie-
dade, acontecendo, portanto, que esses deuses se mostravam aos homens 
durante muito tempo, independentemente uns dos outros, cada qual ganhan-
do sua lenda particular e seu culto". 4 
Se a família prosperava na política e nos negócios, os seus deuses, por 
conseqüência, passavam a ser considerados poderosos protetores e adquiri-
(2> CATÃO. De res. rust. 160. 
< 3 ) COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Estudos sobre o culto, o direito e as 
instituições da Grécia e de Roma. 12. ed. São Paulo : Hemus, 1996. p. 176. 
( 4 ) COULANGES, Fustel. Ob. cit., p. 98. 
ÉPOCA D A R E A L E Z A 35 
am grande prestígio junto à população, de tal forma que toda a cidade tam-
bém queria adotá-los e prestar-lhes culto para conseguir os mesmos favo-
res. 
Em meio a tão arraigada religiosidade, nenhum romano podia ocupar 
qualquer cargo público, fosse o de rei ou de magistrado, se não fosse pela 
vontade dos deuses. Quando vagava algum cargo público, um sacerdote 
passava toda a noite anterior consultando os astros (auspicia) para desco-
brir a vontade dos deuses. Enquanto olhava para o céu, repetia mentalmente 
o nome dos candidatos. No dia seguinte, perante a assembléia do povo, ele 
comunicava os nomes daqueles que haviam sido indicados pelos deuses 
para o cargo, e o povo então votava. Se o nome de algum candidato fosse 
omitido, era porque os deuses não o queriam naquela função. 
Acontecia, por vezes, de os sacerdotes indicarem nomes de pessoas que 
eram odiadas e detestadas por todos, mas mesmo assim neles o povo tinha 
de votar, pois não existiam outros candidatos. "O povo a quem se apresen-
tassem candidatos que lhe fossem odiosos podia, quando muito, para ex-
pressar a sua cólera, retirar-se sem votar; mas no recinto ficavam sempre 
cidadãos suficientes para a votação". 5 Esse modo de eleição foi observado 
até os primeiros séculos da República. 
Toda a vida romana, portanto, quer sócio-política, quer econômica, e 
notadamente o seu direito, foi diretamente marcada pelo sentimento reli-
gioso de seu povo, e a religião foi a base da constituição de sua sociedade 
e o alicerce de todo o seu ordenamento jurídico. 
1.1.3 As diferentes classes sociais 
A sociedade romana, nos primeiros séculos, era constituída por clas-
ses sociais bem definidas, separadas num sistema hierárquico determina-
do pelo nascimento, fortuna e domicílio da pessoa. Assim, o povo que ha-
bitava a pequena aldeia de Roma era dividido nas seguintes categorias so-
ciais: patrícios, clientes, plebeus e escravos. 
1.1.3.1 Os patrícios 
Pertenciam à categoria dos patrícios os descendentes das antigas fa-
mílias fundadoras de Roma, pessoas que por primeiro haviam-se estabele-
cido no local. Eram também conhecidos como quintes.6 Descendendo de 
(5> TITO LÍVIO. II, 42; 43 . 
( 6 ) Os patrícios julgavam-se descendentes de Rómulo, que, após a morte, teria se 
tornado um deus, o deus Quirites. 
36 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
antepassados divinos, tinham seus próprios deuses e eram agrupados em 
gens. "Os membros dos geris eram conhecidos por gentiles e o conjunto 
destes formava as gentes, ou seja, todo o patriciado, que era a classe domi-
nante." 7 
Cada família patrícia era indivisível e perpetuava-se através de seus 
membros. Seu chefe era o pater familiae, que exercia amplos poderes, de 
vida ou morte, sobre os demais. Todos lhe eram subordinados. Os pater 
familiae atuavam como um rei, sacerdote e juiz no âmbito familiar, deci-
dindo sobre o destino de seus membros. 
Somente os patrícios tinham direitos, pois eram os únicos que tinham 
o status civitatis, qualidade que lhes conferia o título de cidadãos roma-
nos. Era considerado um cidadão aquele indivíduo que pudesse cultuar 
os deuses da cidade e os antepassados da família, jurando-lhes respeito, 
obediência e veneração - ou seja, os membrosda classe patrícia. "Se qui-
sermos definir o cidadão dos tempos antigos pelo seu atributo mais essen-
cial, é necessário dizer-se que cidadão é todo homem que segue a religião 
da cidade, que honra os mesmos deuses da cidade; aquele que tem o direi-
to de aproximar-se dos altares e, podendo penetrar no recinto sagrado onde 
se realizam as assembléias, assiste às festas, acompanha as procissões, e 
participa dos panegíricos, participa dos banquetes sagrados e recebe sua 
parte das vítimas. Assim esse homem, no dia em que se inscreveu no re-
gistro dos cidadãos, jurou praticar o culto dos deuses da cidade e por eles 
combater."8 
Como cidadãos romanos, os patrícios podiam votar e ser votados, ser-
vir nas legiões romanas (com direito ao saque, após as vitórias), ser propri-
etários, ter um patrimônio e tornar-se titulares de direitos. Os patrícios 
constituíam uma "nobreza de sangue, herdeira, com seus privilégios polí-
ticos e religiosos, seus emblemas e seus hábitos, da antiga cavalaria dos 
reis etruscos, concentrava nas próprias mãos não apenas a posse das terras, 
mas também a direção pública e a administração da justiça". 9 
Quando necessário, os pater famílias se reuniam para discutir os pro-
blemas da comunidade, fato esse que deu origem ao senado romano. 
<7> MATOS, Peixoto. Curso de direito romano, citado por Mario Curtis Giordano, 
História de Roma. Antigüidade clássica, 11. ed., Rio de Janeiro: Ed. Petrópolis, 
1998. 
<8> COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 155. 
( 9 ) BRETONE, Mário. História do direito romano. Lisboa: Editorial Estampa, 1990. 
p . 62. 
É P O C A D A R E A L E Z A 37 
1.1.3.2 Os clientes 
Clientes eram estrangeiros que viviam às expensas dos patrícios, sob 
sua dependência e proteção. Como estrangeiros, não tinham (e nem podi-
am aspirar a ter) a cidadania romana. Não sendo descendentes das antigas 
famílias patrícias, não tinham, conseqüentemente, o "sangue puro" roma-
no. Não podiam nem mesmo cultuar os mesmos deuses que os romanos, 
que "só queriam receber orações e oferendas do cidadão (romano) e repe-
liam todo homem estrangeiro". 1 0 Aliás, a simples presença de um estran-
geiro durante as cerimônias religiosas romanas era considerada um gran-
de sacrilégio. Virgílio conta que, durante o culto, o sacerdote romano era 
obrigado a cobrir a cabeça para que não pudesse ver o rosto de um estran-
geiro: isso perturbaria os "auspícios". 1 1 
Os romanos, no entanto, recebiam os estrangeiros de braços abertos, 
pois muitos deles traziam consigo novos conhecimentos, sendo muitas 
vezes mais ricos que os próprios patrícios. Surgiu, então, a clientela, ou 
seja, classe de cidadãos de segunda classe, composta por clientes (estran-
geiros) que se tornavam protegidos dos patrícios. Apesar de não terem a 
cidadania romana, passaram a gozar de alguns benefícios legais: podiam 
se ligar à religião do patrício protetor e participavam com ele das mesmas 
festas, cultos e comemorações, sendo considerados membros de suas fa-
mílias. Em contrapartida, deviam-lhes obrigações e obediência. Para os 
patrícios, por sua vez, era interessante viver rodeados de clientes, pois, 
quanto mais deles tivessem, mais reconhecidos seriam na sociedade ro-
mana. 
"Já de manhã cedo, o patrono recebia a visita da clientela pressurosa, 
que ia em busca quer dos seis sestércios diários (sportula), quer de outro 
qualquer auxílio em alimentos ou presentes. Para que o cliente se apresen-
tasse em trajes compatíveis, o patrão lhe oferecia uma toga. Em troca dos 
dissabores provocados pela clientela, o patrão usufruía do prestígio que a 
mesma lhe emprestava, pois não se admitia a experiência de um magnata 
sem a correspondente turba de protegidos".1 2 
Em troca dos favores recebidos os clientes deviam sempre defender o 
patrício protetor, acompanhando-o à guerra, quando necessário, e jamais 
testemunhando ou litigando contra o seu patrono. "Quando eclodia uma 
<1 0 ) COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 156. 
("> VIRGÍLIO. Eneida. 111,406. 
< l 2 ) GIORDANO, Mario Curtis. História de Roma. Antiguidade Clássica / / . l l . ed. 
Rio de Janeiro : Ed. Petrópolis, 1998. p. 193. 
38 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
revolução, era o senador (patrício) que, assustado, buscava, então, amparo 
na humilde casa de seu cliente e ali esperava que passasse a borrasca." 1 3 
1.1.3.3 Os plebeus 
Pertenciam à categoria dos plebeus as pessoas que, provenientes de 
outras regiões e não descendentes da estirpe patrícia, fixavam residência 
na cidade de Roma, dedicando-se ao comércio, agricultura e ao artesanato. 
"Provavelmente se constituíam, também, dos vencidos que ficavam sob a 
proteção do Estado, dos clientes de famílias patrícias que se extinguiram e 
dos estrangeiros aos quais o Estado protegia." 1 4 
Os plebeus não eram considerados "cidadãos romanos" e nem mesmo 
eram considerados como parte do povo romano. Não podiam residir na 
cidade de Roma, mas sim no asilo, um bairro fechado localizado nas en-
costas dos montes Capitolino e Aventino. "O plebeu era rejeitado pelos 
deuses. Entre o patrício e o plebeu há toda uma distância que a religião pode 
demarcar entre dois homens. A plebe é uma população desprezível e abje-
ta, fora da religião, fora da lei, fora da sociedade e da família."15 
Os plebeus não tinham direito algum, quer público, quer privado. Ge-
ralmente não possuíam fortuna ou propriedades nem tinham direito ao culto 
ou à religião dos patrícios. "A plebe era composta da gentinha sem capital 
declarável e contábil."1 6 
1.1.3.4 Os escravos 
Os escravos eram considerados uma "coisa" (res), um objeto, e não 
gozavam de qualquer espécie de direito. Eram comprados e vendidos como 
simples mercadorias e seus proprietários (dominus) podiam abandoná-los, 
fustigá-los e mesmo matá-los, pois tinham sobre eles o poder de vida e 
morte. Varrão os definia como simples "instrumentos capazes de falar". 
"Meu pai - dizia Galeno - sempre me ensinou a não encarar tragicamente 
as perdas materiais; (portanto) sempre que morre um boi, um cavalo ou um 
escravo, não faço disso um drama." 
<"> Idem.p . 193. 
< l 4 ) MOREIRA ALVES, José Carlos. 6. ed. Direito romano. Rio de Janeiro: Foren-
se, 1998. p . 11. 
"5> COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 195. 
< l 6 ) CARCOPINO, efe. Mario Curtis Giordano, ob. cit., p. 194. 
ÉPOCA D A R E A L E Z A 39 
Conforme se verá mais adiante, só no tempo da República e sob a in-
fluência de novos conceitos a escravidão foi sendo atenuada e os escravos 
passaram a gozar de algumas pequenas regalias, tais como o direito de se 
unirem num matrimônio específico, denominado contubérnio, o direito de 
assistirem aos cultos dos seus senhores, o de receberem um pecúlio (uma 
espécie de arrendamento de bens) etc. 
1.1.4 Instituições políticas da Realeza 
1.1.4.1 Orei 
Desde suas origens até o ano 510 a.C, o regime político de Roma foi o 
da Realeza, tendo sido seus reis: Rómulo (754 a 717 a.C), Numa Pompílio 
(716 a 673 a.C), Túlio Hostílio (672 a 641 a.C.) e Anco Márcio (639 a 616 
a.C), todos latinos. 
A dinastia etrusca se iniciou com Tarquinio Prisco (616 a 579 a.C), 
sucedendo-lhe Sérvio Túlio (578 a 535 a.C.) e Tarquinio, o Soberbo (534 
a510a .C) . 
Sérvio Túlio foi o primeiro monarca a reorganizar politicamente a ci-
dade, determinando a realização de um recenseamento. De posse dos re-
sultados, dividiu a população de Roma de acordo com suas posses, dimi-
nuindo, desta forma, a diferença social existente entre as classes, pois al-
guns plebeus haviam amealhado maior fortuna que muitos integrantes do 
patriciado. 
Tarquinio, o Soberbo (534 a 510 a.C.) encerrou a fase da realeza ro-
mana, tendo sido implantado depois dele o regime republicano. 
a) Poderes do rei - O cargo de rei não era hereditário e seu titular era 
inicialmente indicado pelo senado romano. Na vacância do cargo era es-
colhido um senador para substituí-lo, por cinco dias (interrex). Nesse 
interregnum era consultada a vontade dos deuses (auspicius). Somente 
depois disso o novo monarca eraindicado. 
A figura do rei confundia-se com a do sumo sacerdote, pois ele era ao 
mesmo tempo chefe de Estado e chefe supremo da religião. "Essa confu-
são entre sacerdócio e poder nada tem de surpreendente. Encontramo-la 
na origem de quase todas as sociedades, seja porque, na infância dos po-
vos, só a religião pode obter a obediência, seja porque a nossa natureza sente 
a necessidade de não se submeter a outra autoridade que não seja a concep-
ção moral." 1 7 
" 7 ) COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 141. 
40 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Revestido desses poderes, o rei detinha o imperium, ou seja, o poder 
absoluto nos assuntos temporais civis, militares e religiosos, e um crime 
cometido contra ele era considerado um sacrilégio, passível da pena de 
morte. Competia-lhe organizar o Estado, declarar a guerra e firmar a paz, 
comandar o exército, convocar e presidir os comícios ou assembléias po-
pulares e designar os membros do senado. 
Apesar de seus plenos poderes tanto no campo temporal como no es-
piritual, não competia ao rei "criar" o direito (jus dicere), mas sim, aplicar 
as sentenças (jus dare), sempre de acordo com a vontade dos deuses, esses 
sim, os que criavam o direito através os sacerdotes. "O rei judicava no foro, 
não nos templos ou em palácios, mas em palco especial, a tribuna. Senta-
va-se na sedia curulis, ao lado os litores, na frente as partes. Abria e dirigia 
o processo; pronunciava a sentença ouvindo seus conselheiros; não escu-
tava defensores, não havia advogados. A arte de defesa não pode vingar 
enquanto o direito se confunde com costumes religiosos (fas), quando o 
rei - juiz e pontifex- não aplica a lei, mas os costumes religiosos cujo co-
nhecimento lhe é a priori atribuído por força de sua própria e exclusiva 
investidura."1 8 
1.1.4.2 O senado romano 
O senado era composto pelos pater famílias, chefes das famílias 
patrícias escolhidos diretamente pelos monarcas, que tinham a função de 
"conselheiros do rei", auxiliando-o quando necessário. Possuíam a aucto-
ritaspatrum, ou seja, a prerrogativa de ratificarem todas as decisões toma-
das nas assembléias populares (comitia). Fiscalizavam as despesas públi-
cas, deliberavam a respeito do recrutamento de tropas e sobre as relações 
de Roma com os povos estrangeiros. Aos plebeus, até o ano 578 a.C, foi 
vedado o acesso ao cargo de senador. 
1.1.4.3 As assembléias populares (comitiaj 
a) Comitia curiata - Rómulo havia dividido o povo romano em três 
tribos: a dos ramnes, cujos membros moravam no monte Palatino; a dos 
tities, no monte Esquilino, e a tribo dos lúceres, no monte Célio. Cada tri-
bo era dividida em 10 cúrias. Os representantes dessas cúrias, todos per-
( 1 8 ) MADEIRA, Hélcio Maciel França. História da advocacia - Origens da profis-
são de advogado no direito romano. São Paulo: RT, 2002. p. 28 
É P O C A D A R E A L E Z A 41 
tencentes à categoria dos patrícios, se reuniam duas vezes por ano em as-
sembléias populares denominadas comitia curiata para discutir fatos po-
líticos e votar algumas questões de menor relevância para a vida romana; 
os assuntos de maior importância eram decididos diretamente pelo rei, com 
posterior ratificação do senado. Nessas assembléias populares também eram 
discutidas e votadas as leis propostas exclusivamente pelos reis e decidi-
dos diversos assuntos de ordem privada, tais como a adoção, a aprovação 
de testamentos, convocações militares, dispensa de penalidades em favor 
de condenados ou cobrança de impostos. 
b) Comitia calata - Por vezes, as assembléias populares (comitia 
curiata) eram convocadas pelo rei somente para a comunicação de uma 
declaração de guerra ou a celebração de um tratado de paz. Nesse tipo de 
reunião nada se votava e nada se discutia; elas eram apenas informativas, 
daí a denominação de comitia calata, ou seja, assembléias caladas. 
c) Comitia centuriata - Por volta do ano 540 a.C. Sérvio Túlio esten-
deu também aos plebeus o direito de participar das votações nas assem-
bléias populares, surgindo, então, as denominadas comitia centuriata, ou 
seja, uma assembléia mista, composta de patrícios e plebeus. 
1.2 O Direito Romano arcaico: jus civile ou direito quiritário 
Todos os direitos da antiguidade foram conseqüência direta da reli-
gião de seus povos e a essa regra não fugiu o Direito Romano. "O direito 
não nasceu da noção de justiça, mas brotou da idéia de religião, e não po-
dia ser concebido fora desse ângulo. O direito nada mais era do que uma 
das faces da religião. Sem comunidade de religião não podia haver comu-
nidade de lei." 1 9 
1.2.1 A importância da classe sacerdotal 
Os sacerdotes exerceram importantíssimo papel na aplicação do jus 
civile nos primeiros tempos de Roma. Naquele contexto social místico eles 
gozavam de extraordinária importância na aplicação da justiça. Eram eles 
os que tinham a sagrada missão de interpretar a vontade dos deuses, tanto 
nos assuntos referentes ao Estado como nos referentes à aplicação da jus-
tiça. Eles eram os árbitros do divino e do humano e intervinham constante-
mente como intérpretes e conselheiros em todos os casos da vida civil, tais 
"9> COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 154. 
42 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
como litigância entre vizinhos, demarcação de terras, casamentos de filhos, 
assuntos relativos a heranças etc. 2 0 Respondiam (responderé = responder) 
às consultas jurídicas a eles formuladas pelos patrícios e "asesorando so-
bre actos jurídicos a cumplirse por los particulares (cavere) y suministrando 
las fórmulas procesales (agere), os pontífices crearon una verdadera 
jurisprudencia que por mucho tiempo influyó en grado sumo en el sistema 
jurídico romano". 2 1 
Dizia-se mesmo que ninguém podia ser um bom pontífice se não co-
nhecesse o direito, e nem ser um bom jurista se não conhecesse a religião. 
"O motivo pelo qual os mesmos homens eram, ao mesmo tempo, pontífi-
ces e jurisconsultos, resulta do fato de direito e religião se confundirem 
formando um todo. Daí se originou a antiga definição de que a jurispru-
dentia est rerum divinarum atque humanorum notitia (a jurisprudência é 
o conhecimento das coisas divinas e humanas).2 2 Os sacerdotes pertenci-
am ao Colégio dos Pontífices, que era presidido pelo pontífice máximo 
(pontifexmaximus), cargo criado por Numa Pompílio, segundo rei de Roma, 
e exerciam também a função de guardiães dos arquivos religiosos, onde 
eram consignados todos os acontecimentos importantes da vida romana. 
A predominância dos sacerdotes na aplicação da justiça durou mais de dois 
séculos, decaindo somente após a implantação do regime republicano em 
Roma. 
• 
1.2.1.1 O Colégio dos Augures 
Ao Colégio dos Augures pertenciam os aurúspices ou augures, espé-
cie de feiticeiros que descobriam a vontade dos deuses "lendo" as entra-
nhas dos animais, principalmente o fígado, os sinais celestes (auspicia 
coelestia) e o vôo e o pio das aves (auspicia ex avibus). 
A interpretação do direito em todo o período arcaico competiu, pois, 
exclusivamente, aos que detinham o poder religioso, e os seus veredictos 
determinavam e orientavam a administração da justiça. 
( 2 ( " "Recorriam a eles em qualquer dificuldade, de natureza religiosa ou profana; 
eles forneciam o apoio seguro de seus conselhos, no Senado e nas assembléias 
populares, nas causas de amigos, em paz e em guerra". CÍCERO. De. Or. 3,33, 
132-134. 
( 2 1 1 ARGUELLO, Luis Rodolfo. Manual de derecho romano - Historia e institucio-
nes, p. 44. 
<22» C O U L A N G E S , F u s t e l d e . O b . c i t . , p . 151. 
ÉPOCA D A R E A L E Z A 43 
1.2.2 O jus civile ou direito quiritário 
A modalidade de Direito Romano que vigorou em Roma desde suas 
origens até meados do século IV a.C. é também conhecida como jus civile 
(direito civil) ou direito quiritário, que era um misto de humano e divino, 
confundindo moral com religião. O jus, o direito criado pelos homens, 
confundia-se com ofas, o direito divino, que era revelado pelos deuses por 
meio dossacerdotes. 
O jus civile era um direito extremamente formal e rigoroso. As partes, 
quando se dirigiam ao magistrado ou quando iam realizar qualquer negó-
cio jurídico, deviam fazer exatamente os gestos simbólicos exigidos e re-
petirem rigorosamente, ipsis litteris, as palavras solenes predeterminadas 
(verba certa). As formas do processo eram sacramentais. Se alguém pro-
nunciasse palavras incorretas ou agisse de forma diferente da preceitua-
da, perderia a ação ou o negócio seria nulo. Assim, por exemplo, no 
stipulatio (contrato verbal no qual o contratado prometia pagar uma pres-
tação), ambos, contratante e contratado, deviam comparecer a um templo 
e, na frente da estátua de um dos deuses celebrar solenemente o acordo. O 
contratante, então, devia perguntar em alta voz: Spondesl (prometes fa-
zer isso que estás prometendo?) e o outro devia lhe responder, também em 
alto e bom som: spondeo (assim o prometo), e assim ficava selado o com-
promisso com todas as implicações legais. O que comprometia os homens, 
na realidade, era a fórmula sagrada pronunciada solenemente por ambos, 
na frente dos deuses. 
Quando o credor conduzia o devedor inadimplente perante o magis-
trado, tinha que lhe dirigir palavras específicas, tais como: Ex sponsione, 
te mihi decem milia sesterciorum dare oportere aios id postulo ais an ne-
gas (Por causa de tua promessa, tu deves entregar-me 10.000 sestércios. 
Peço-te que afirmes ou negues). Se o devedor contestava a cobrança, o cre-
dor devia perguntar novamente: quando tu negas, te praetor, judicem 
arbitrumve postulo uti des. (Visto que negas, peço-te, ó pretor, que desig-
nes um juiz ou um árbitro). 
O jus civile não exigia somente fórmulas rígidas; era necessária tam-
bém a presença de sinais exteriores, gestos específicos que consolidavam 
o acordo. Assim, sempre que alguém fosse comprar algum objeto era ne-
cessário que o tocasse com as mãos (mancipatio). 
Esse apego exagerado a fórmulas e ritos do jus civile foi sendo modi-
ficado ao correr dos tempos, conforme veremos mais adiante. 
44 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
1.2.2.1 Direitos exclusivos dos patrícios 
O jus civile ou direito quiritário tutelava somente os direitos da classe 
patrícia. Os patrícios, e somente eles, eram cidadãos romanos e detinham, 
portanto, com exclusividade, todos os direitos na Roma antiga, quer os 
privados (jura privata), quer os políticos (jura publica). Aquele patrício 
que possuísse todos os direitos civis e políticos era um "cidadão romano 
completo" (civis romanus óptimo jure). Todas as demais pessoas, perten-
centes a outras categorias sociais, quer plebeus, clientes ou estrangeiros, 
não tinham direito algum reconhecido oficialmente, sendo deixados fora 
da proteção jurídica do Estado romano. 
O jus civile (direito civil) conferia exclusivamente aos patrícios os 
seguintes direitos: 
• Jus sufragii - direito de votarem e de serem votados; 
• Jus honorum - direito de ocuparem cargos públicos; 
• Jus militiae - direito de serem os comandantes das legiões romanas; 
• Jus sacerdotii - direito de serem sacerdotes e integrarem os colégi-
os sacerdotais; 
• Jus occupandi agrum publicum - direito de tomarem posse das ter-
ras conquistadas; 
• Jus connubii - direito de contraírem matrimônio legítimo (justas 
nuptias); 
• Jus commercii - direito de realizarem qualquer tipo de negócio jurí-
dico; 
• Jus actionis - direito de fazerem valer seus direitos na Justiça. 
Os patrícios tinham, ainda, o direito exclusivo de usarem três nomes 
(tria nomina): o praenomen, o nomen e o cognomen, como, por exemplo, 
Marco Túlio Cícero. 
1.2.2.2 O jus civile - um direito não escrito (jus non scriptumj 
O jus civile era um direito não escrito que se transmitia oralmente de 
geração em geração. Cabe aqui ressaltar que aos primeiros romanos, assim 
como a outros povos da antiguidade, repugnava a forma escrita. Apesar de 
já conhecerem os caracteres escritos nos pergaminhos, tabuinhas de cera 
ou no bronze, muitos consideravam a forma escrita um perigo para a edu-
cação e formação intelectual dos jovens. "As letras dispensam do exerci-
ÉPOCA D A R E A L E Z A 45 
cio a memória, e deste modo produzirão o olvido nas almas daqueles que 
as tenham aprendido", j á dizia Platão.2 3 "Quando falamos da escrita, de uma 
lei como de um livro, referimo-nos a uma coisa tão natural para nós, que é 
difícil imaginá-lo como um problema. Na civilização antiga é diferente. 
Para a civilização antiga a escrita constituiu um problema ainda muito tempo 
depois de sua invenção. Pensou-se acerca de sua utilidade ou inutilidade, 
vendo nela ora um meio de progresso ora um perigo para a educação e for-
mação intelectual e para a organização política". 2 4 
Por esses e outros motivos, muito pouca coisa do original jus civile 
chegou ao conhecimento dos estudiosos das coisas do direito. 
1.3 Fontes do jus civile ou direito quiri tário 
1.3.1 O costume 
Desde as mais remotas origens até por volta do ano 400 a.C, a única 
fonte do Direito Romano arcaico, ou jus civile, foi o costume {consuetudo, 
mores maiorum, mos), ou seja, uma observância reiterada, contínua e es-
pontânea, durante um largo período de tempo, de um determinado com-
portamento social (inveterata consuetudo ou diuturna consuetudo). 
1.3.2 As leis régias fleges regiaej 
A grande maioria dos autores é unânime em considerar o costume como 
a única e exclusiva fonte do direito romano em seu primeiros séculos de 
existência. Alguns romanistas, no entanto, incluem também como fontes 
do direito nesse período da história as leges regiae (leis régias). Teriam sido 
elas instruções escritas dos primeiros reis de Roma sobre direito civil e 
direito sacral. De fato, àquela época, alguns dos reis tiveram o costume de 
comunicar à comitia ou assembléia as suas resoluções referentes a coisas 
sagradas e religiosas.2 5 Essas instruções teriam sido as leis régias. 
Pompônio, historiador romano, teria se referido a essas "leis régias" 
no seguinte trecho de sua obra: "No início a nossa cidade vivia sem lei nem 
direito certo; tudo era governado pela vontade dos reis. Depois, crescendo 
(23> PLATÃO. Phaedrus. 275 a. 2-5. 
< 2 4 ) BRETONE. Ob. cit., p. 63. 
< 2 5 ) Carolus Georgius Bruns teria identificado 47 leis atribuídas aos reis; Dirksen, 
2 1 , e Joseph Voigt, 14 (MEIRA, Silvio. Curso de direito romano - História e 
fontes. São Paulo : LTr, 1996. p. 37). 
46 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
a cidade, diz-se que o próprio Rómulo a dividiu em trinta partes, que deno-
minou cúrias, pois a esse tempo o governo da nação se exercia pelas suas 
resoluções. E ele próprio propôs leis curiatas ao povo. Da mesma forma 
agiram os reis que o sucederam e as leis todas se acham compendiadas no 
livro de Sexto Papírio, varão dos mais ilustres da época em que reinou 
Soberbo, filho de Demarato Corinto. Esse livro, a que nos referimos, é cha-
mado Jus Civile Papirianum, não por ter Papírio ali incluído alguma coisa 
sua, mas por ter colecionado as leis que antes eram esparsas". 2 6 Esse tre-
cho de Pompônio, segundo alguns autores, comprovaria a existência das 
leges regiae. 
Não existe, no entanto, comprovação histórica da existência de um 
jurista de nome Papírio e muito menos prova confiável da autenticidade 
desse Jus Civile Papirianum, motivo pelo qual a maioria dos escritores não 
considera essas possíveis leis régias como fontes do direito romano arcai-
co (jus civile ou direito quiritário). 
( 2 « POMPÔNIO. Digesto I, II, 2,1,2. 
ÉPOCA DA REPÚBLICA: 
PERÍODO DO DIREITO ROMANO 
PRÉ-CLÁSSICO - DIREITO PRETORIANO 
E DIREITO DAS GENTES 
SUMÁRIO: 2.1 Evolução sócio-política de Roma na República: 2.1.1 Ins-
tituições político-administrativas - 2.2 O Direito Romano no período da 
República: o direito pretoriano ou direito honorário: 2.2.1 O direito 
pretoriano; 2.2.2 O direito das gentes (jus gentium) - 2.3 Fontes do Direito 
Romano pré-clássico: 2.3.1 O costume; 2.3.2 A Lei das XII Tábuas; 2.3.3 
As leis comidá is ; 2.3.4 Editodos magistrados; 2.3.5 Senatos-consultos; 
2.3.6 Plebiscito; 2.3.7 lurisprudência. 
2.1 Evolução sócio-política de Roma na República 
Por volta do ano 500 a.C. os romanos já haviam conquistado a penín-
sula itálica de norte a sul e Roma havia se tornado a Urbs, ponto de conflu-
ência de milhares de pessoas provenientes das regiões conquistadas. O 
regime monárquico fora substituído por uma nova forma de governo: a 
República. 
A Realeza teria caído por diversos motivos, dentre os quais o descon-
tentamento do patriciado contra os desmandos dos reis de origem etrusca, 
em especial Tarquinio, o Soberbo, que havia realizado reformas político-
sociais beneficiando os plebeus em detrimento dos privilégios da classe 
patrícia. Em 510 a.C. o último rei romano foi deposto e substituído por dois 
cônsules, Bruto e Tarquinio Colatino, que inauguraram o regime político 
republicano. 
2.1.1 Instituições político-administrativas 
Desaparecida a figura do rei, a estrutura político-administrativa da 
República ficou assim constituída: 
48 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
1 - Magistratura (ordinária e extraordinária) 
2 - Senado 
3 - Assembléias do povo (comitiá) 
No regime republicano a magistratura era o órgão estatal revestido de 
grandes poderes, cabendo-lhe cuidar de todos os assuntos de interesse da 
República: omnia cura rerum publicarum} 
Os magistrados eram investidos em honores, ou seja, funções políti-
cas distribuídas entre os diversos cargos da magistratura, conforme se verá 
adiante. 
A magistratura era dividida em "ordinária" e "extraordinária": 
2.1.1.1 Magistratura ordinária 
• Cônsules 
• Pretores 
• Censores 
• Edis 
• Questores 
a) Cônsules 
No lugar do rei o povo, reunido numa comitia centuriata, passou a ele-
ger dois cônsules concomitantemente, ambos com mandato anual e com 
plenos poderes (imperium) para administrar os destinos de Roma. Um dos 
cônsules se encarregava da gestão dos negócios públicos enquanto ao ou-
tro cabia o comando das legiões romanas, tanto na paz como na guerra. 
A influência da religião ainda continuou a se fazer sentir, de forma 
intensa, nessa estrutura política da República, confundindo num mesmo 
indivíduo a autoridade política com a religiosa. Além das atividades ad-
ministrativas regulares, os cônsules exerciam também as relativas à fun-
ção sacerdotal. O cônsul "tem nas mãos os auspícios, os ritos, a oração, a 
( 1 ) O termo magistrado, nos dias de hoje, significa o membro do Poder Judiciário 
que tem as funções de julgar, de decidir os litígios a ele apresentados. Na Idade 
Média, porém, era magistrado todo aquele que exercia alguma função adminis-
trativa, dentre as quais, também, e algumas vezes, a de julgar litígios. Exemplo: 
o pretor urbano e o pretor peregrino. 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 49 
proteção dos deuses. O cônsul é algo mais que homem: é o intermediário 
entre o homem e a divindade. A sua sorte está ligada à sorte da coletivida-
de; o cônsul é como que o gênio titular da cidade". 2 
Antes de assumir seu cargos os cônsules deviam prestar culto aos deu-
ses. No dia designado, o povo todo comparecia em frente ao fórum. Lá os 
cônsules eleitos imolavam as vítimas (cordeiros, carneiros etc.) com as 
próprias mãos enquanto o povo fazia um silêncio religioso e o tocador de 
flauta tocava uma melodia sagrada.3 
Eles também presidiam o senado romano e convocavam as assembléi-
as populares. Tinham, ainda, a jurisdição, ou seja, a competência judiciá-
ria para ouvir as partes em litígio e indicar um juiz para julgar a demanda e, 
além disso, a cognitio, poder de julgamento das causas criminais. Quando 
uma pessoa era condenada à morte, tinha o direito ao provocatio ad 
populum, ou seja, o direito de apelação às assembléias populares (comitia 
centuriata).4 
Quando os cônsules saíam às ruas, iam acompanhados por doze lictores 
que carregavam ofasces (um feixe de varas significando união). Quando 
estavam fora da cidade de Roma, os lictores carregavam, além dos fasces, 
as denominadas secures (machadinhas), que significavam o poder de vida 
e morte sobre as demais pessoas. 
b) Pretores 
O cargo de pretor teve grande importância no desenvolvimento do 
direito romano. O cargo de pretor urbano (praetor urbanus) foi criado no 
ano de 367 a.C. e tinha como atribuição apreciar os litígios que ocorressem 
somente entre cidadãos romanos. Os estrangeiros não eram tutelados pela 
lei. Visando sanar essa ilegalidade, em 241 a.C. foi criado o cargo de pretor 
peregrino {praetor peregrinus), que passou a ter a função específica de 
decidir as lides que ocorriam entre cidadãos romanos e os estrangeiros e as 
desavenças havidas entre os estrangeiros entre si. O número de pretores foi 
posteriormente aumentado para quatro, seis e até oito elementos. 
Em Roma, quando dois cidadãos entravam em litígio, procuravam antes 
o pretor, que, após ouvir as partes envolvidas, declarava quais as regras de 
( 2 ) COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 145. 
<3> CÍCERO. De leg. agr. II, 34. 
< 4 ) Esse recurso às assembléias populares foi instituído pela Lex Valeria Horatia de 
provocatione, datada de 508 a.C. 
50 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
direito que deveriam ser aplicadas ao caso pelos juízes escolhidos. Eles não 
julgavam diretamente o litígio; apenas declaravam a lei a ser aplicada. Os 
juízes (judex) não eram funcionários do Estado, mas sim particulares indi-
cados pelo próprio pretor, ou pelas partes de comum acordo, para a solu-
ção dos conflitos. 
Quando os magistrados eram eleitos, publicavam um édito, uma espé-
cie de programa de trabalho que iriam desenvolver durante a sua gestão. 
Os pretores, em especial, faziam constar de seus éditos os princípios de 
direito que iriam nortear as suas decisões jurídicas. O conteúdo desses éditos 
dos magistrados deu origem ao denominado direito pretoriano ou direito 
honorário, que veio a amenizar a rigidez do jus civile dos primeiros tem-
pos, conforme veremos mais adiante. 
c) Censores 
O cargo de censor foi criado por volta de 312 a.C. e seus titulares eram 
eleitos pelas comitia centuriata.. Eram suas atribuições a realização de 
recenseamentos de cinco em cinco anos e o policiamento da vida e dos 
costumes da população (regimen morum), o que lhes propiciava a oportu-
nidade de realizar uma verdadeira devassa na vida das famílias.5 
Era deles também a atribuição de inscrever no denominado álbum 
senatorium o nome dos cidadãos romanos que eles julgassem ter qualida-
des de se tornar futuros senadores. Se qualquer daquelas pessoas viesse a 
ser considerada pelos próprios censores como indigna de ocupar cargos 
públicos, o seu nome seria de imediato riscado do álbum, o que, certamen-
te, colocaria aquela pessoa no ostracismo. Daí pode-se deduzir a impor-
tância que passaram a ter os censores na sociedade romana. Eles tinham, 
também, o poder de declarar infame qualquer cidadão romano. O indiví-
duo assim considerado perdia o direito de voto em assembléias e era ex-
cluído da prestação do serviço militar (o que era uma honra para os roma-
nos). 
< 5 ) "Podiam devassar a vida dos cidadãos até mesmo nas mais íntimas particulari-
dades. O luxo, os maus exemplos, as filosofias exóticas e perniciosas eram de-
nunciadas pelos censores nas assembléias públicas. O cidadão cuja culpabilida-
de em algum ato oprobrioso fosse comprovada era punido com a nota censória, 
reprimenda inscrita na lista dos cidadãos priva.ido o acusado dos direitos à elei-
ção até o término do lustro. Os censores podiam excluir um cidadão do senado, 
das centúrias e das tribos, privando-o do direito de voto, motivo por que, sendo 
inaplicável esta sanção às mulheres, não estavam elas sujeitas à nota censória." 
GIORDANO. Ob. cit., p. 93 . 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 51 
Os censores também zelavam pelas finanças públicas e controlavam a 
receita e a despesa. 
d) Edis 
Os edis eram uma espécie de vereadores daquela época e exerciam as 
seguintes atividades: 
l)cura orbis- manutenção e conservaçãode ruas e praças, regulamen-
tação do trânsito, combate a incêndios e vigilância noturna; 
2) cura annonae - abastecimento urbano, vigilância dos preços, fis-
calização da venda de escravos e animais; 
3) cura ludorum - promoção de espetáculos públicos. 
Cícero referiu-se a eles como os "zeladores da cidade, da alimentação 
e dos jogos solenes". 6 
Em 494 a.C. foi criada a figura do edil da plebe (aediles plebis), ocu-
pada por plebeus, com funções auxiliares na administração da cidade. Ini-
cialmente em número de dois, os edis da plebe auxiliavam também os 
tribunos da plebe em suas atribuições e serviam como guardiães do tem-
plo de Ceres, onde ficavam arquivados os plebiscita, ou seja, as decisões 
tomadas pelos plebeus nas assembléias populares. 
e) Questores 
Os questores eram escolhidos livremente pelos cônsules para servirem 
como seus auxiliares. Inicialmente em número de quatro (dois para cada 
cônsul), esse número foi posteriormente aumentado para quarenta. Eles 
eram os chefes do erário público (aerarium populi romani), convocavam 
os devedores para que viessem pagar seus débitos e os denunciavam à jus-
tiça quando inadimplentes. 
2.1.1.2 Magistratura extraordinária 
Em casos excepcionais e urgentes (guerras, calamidades, problemas 
sociais graves) o povo elegia os denominados magistrados extraordinári-
os, que substituíam, pelo tempo necessário, todos os demais cargos da 
magistratura ordinária. Como exemplo deles podemos citar os ditadores, 
os decênviros (decenviratus legibus scribundis, que foram eleitos especial -
( 6 ) CÍCERO. De legibus. III, 3. 
52 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
mente para a elaboração da Lei das XII Tábuas) e os praefectus urbi, que 
substituíam o cônsul em exercício, quando de sua ausência de Roma. 
2.1.1.3 O senado romano 
Na época da República o senado romano era composto somente de 
senadores oriundos da classe dos patrícios, escolhidos diretamente pelos 
magistrados. Os senadores desfrutavam de diversos privilégios e prerro-
gativas e tinham como atribuições o controle das finanças públicas, a ad-
ministração das províncias, as negociações com povos estrangeiros, a com-
petência para declarar cidadãos/ora da lei etc. Não tinham o poder legisla-
tivo, mas sim a competência de ratificar as leis que eram votadas pelas as-
sembléias populares (comicia curiata ou centuriatá). 
Já no fim do período da República os plebeus conseguiram o direito 
de serem admitidos no senado como "senadores plebeus" (conscripti), com 
poderes reduzidos; tinham o direito de voto mas não o de fazer uso da pa-
lavra durante as sessões. 
As decisões do senado romano sobre assuntos de direito público eram 
denominadas senatos-consultos e se tornaram importante fonte do Direito 
Romano pré-clássico, conforme se verá adiante. 
2.1.1.4 As assembléias populares (comitia) 
Na época da República o povo continuou a se reunir nos três tipos de 
assembléias populares: comitia curiata, comitia centuriatá e concilia 
plebis: 
a) Comitia curiata: assembléia que era composta exclusivamente por 
patrícios e que, no tempo da República, teve suas atribuições restringidas 
somente para confirmar, através da lex curiata de império, a eleição dos 
cônsules, pretores e ditadores; 
b) Comitia centuriatá: essas assembléias populares, mais importan-
tes e solenes que as outras, eram integradas tanto por patrícios como por 
plebeus. Eram convocadas pelos magistrados e cabia-lhes, dentre outras 
atribuições, aescolhados censores e dos pretores. Cabia-lhes, também, votar 
as leis referentes à declaração de guerra ou à conclusão de tratados de paz 
com outros povos. Funcionavam, ainda, como corte de apelação nos pro-
cessos que tratavam de pena de morte ou exílio (recurso provocatio ad 
populum). 
c) Concilia plebis: eram assembléias nas quais tomavam parte somen-
te os plebeus, sob a presidência do tribuno da plebe. "Essa assembléia, 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 53 
composta exclusivamente de plebeus, em virtude do mesmo princípio que 
havia presidido a organização separatista da plebe, possuía, como as as-
sembléias do Estado, uma tríplice competência: eleitoral, legislativa e ju-
diciária; elegia os tribunos, a partir do plebiscito de Publílio Volero (em 
471, segundo a tradição), votava decisões ou plebiscitos e julgava certos 
casos, sob a reserva geral de que essas resoluções, emanadas somente da 
plebe, só eram válidas para a própria plebe e não comprometiam, sob título 
algum, o Estado romano". 7 
A partir de meados do século IV a.C. os plebeus, depois de longos sé-
culos de luta, passaram a colher os primeiros frutos na luta, pela conquista 
de seus direitos: em 449 a.C, por força da Lex Valeria Horatia, os concíli-
os da plebe {concilia plebis) passaram a ser reconhecidos pelo Estado ro-
mano; em 339 a.C. a Lex Publilia e, em 289 a.C, a Lex Hortênsia conferi-
ram validade aos plebiscitos (plebiscita) e tornaram obrigatório o seu cum-
primento por todos os cidadãos romanos. 
2.2 O Direito Romano no período da República: o direito pretoriano 
ou direito honorário 
2.2.1 O direito pretoriano 
Toda a Península Itálica já era romana desde o ano 500 a.C. e a partir 
de então as conquistas foram se sucedendo: norte da Africa, a Grécia, a 
Península Ibérica. Por volta do século III a.C. os romanos já eram os se-
nhores de todas as regiões às margens do Mediterrâneo, por eles orgulho-
samente chamado mare nostrum (nosso mar). Roma se transformara no 
"centro do mundo", um extraordinário pólo econômico e cultural para onde 
afluíam pessoas das mais variadas partes do mundo então conhecido. Esse 
intenso desenvolvimento em todas as frentes fez surgir um novo conceito 
de relacionamento entre os povos e a necessidade de novas regras jurídi-
cas que viessem a regular as sempre crescentes relações comerciais. 
Nesse contexto as regras rígidas e formais do jus civile (direito roma-
no arcaico) que ainda vigoravam, e que eram voltadas unicamente para os 
interesses da classe patrícia, passaram a se chocar com a nova realidade dos 
fatos. Surgiu, então, uma nova modalidade do Direito Romano - o direito 
pretoriano ou direito honorário -, um direito mais flexível, adaptado à 
realidade sociopolítica de então. 
< 7 ) GIORDANO, Mario Curtis. Ob. cit., p. 100. 
54 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Cada magistrado, ao assumir o cargo, devia apresentar ao povo roma-
no a sua meta de trabalho, as diretrizes que iriam pautar o seu comporta-
mento e as normas de direito que iria fazer cumprir durante o seu mandato. 
Escrevia tudo isso num édito, que lia, em voz alta, na frente do fórum, fi-
xando-o posteriormente nas portas do senado para conhecimento de todos. 
Esse édito vigia durante toda a sua gestão. 
Desde a implantação da República a aplicação da justiça deixou de ser 
uma atribuição específica dos cônsules e foi, pouco a pouco, passando a 
ser uma atribuição dos pretores (praetor). 
Os pretores não julgavam diretamente as causas a eles levadas pelos 
litigantes. Numa primeira fase, denominada in jure, eles recebiam os quei-
xosos, ouviam as pessoas envolvidas, e declaravam a lei e os princípios de 
direito que deveriam ser aplicados (em consonância com as metas de tra-
balho contidas no seu édito); em seguida, encaminhavam as partes a um 
juiz (judex), normalmente escolhido por eles (ou pelas partes, em comum 
acordo), dentre os senadores ou pessoas de grande saber. Iniciava-se, en-
tão, a segunda fase do processo, denominada in judicio, quando o juiz no-
meado decidia a questão conforme a indicação dada pelo pretor. 8 
Os editos dos magistrados (dos pretores, em especial), amoldavam-se 
às novas necessidades sociais e políticas da época e eram influenciados, 
também, por diferentes costumes e conceitos filosóficos trazidos pelos 
povos estrangeiros que comerciavam com Roma. 
Como, de acordo com éditos, era aplicada a justiça, eles foram aos 
poucos modificando e abrandando os rigorosos conceitos do arcaico jus 
civile ou direito quiritário. Transformaram-se numa novafonte de direito 
e deram origem a uma nova modalidade de Direito Romano, denominada 
direito pretoriano, ou seja, aquele que, "por razão de utilidade pública, os 
pretores introduziram para ajudar ou suprir ou corrigir o direito civil" 
(adjuvandi, vel supplendi, vel corrigendi júris civilis gratia).9 
O direito pretoriano, portanto, é o conjunto de princípios jurídicos que 
derivaram diretamente da autoridade jurisdicional dos magistrados, espe-
< 8 ) "Não estando subordinado a qualquer estrutura hierárquica, o iudex que não lo-
grasse formar convicção a respeito de determinada causa poderia simplesmente 
declarar sibi non liquere (não me parece claro), ensejando que as partes retor-
nassem ao magistrado para a escolha de novo julgador. Também se procedia a 
nova nomeação quando o iudex escolhido apresentava excusatio (CRU Z E 
TUCCI, José Rogério e AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do pro-
cesso civil romano. São Paulo : RT, 1996. p. 59). 
"> Digesto 1,1,7,1. 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 55 
cialmente dos pretores, e que vieram a dar maior eficácia ao jus civile. Ele 
é tambémconhecido como Direito Honorário, uma vez que os pretores eram 
investidos de honores, ou seja, em funções públicas. 
As principais modificações introduzidas pelo direito pretoriano ou 
honorário foram nas fórmulas processuais. Os princípios básicos de direi-
to, no entanto, continuaram a ser os mesmos do jus civile, de forma abran-
dada. As alterações se restringiram a "meios temporários de defesa judici-
ária para situações de fato, ou seja, (o direito pretoriano) foi um conjunto 
de máximas destinadas a disciplinar a prática judiciária e não (um conjun-
to de regras) para regular diretamente as relações de direito substancial entre 
os privados". 1 0 
2.2.2 O direito das gentes (jus gentium) 
Diariamente chegavam a Roma pessoas provenientes e das mais dis-
tantes regiões do Império: da Gália, da Ilíria, Germânia ou Mauritânia; 
caravanas carrregadas com especiarias vinham da Mesopotâmia, Cirenaica 
ou Palestina. Essa nova realidade trazida com a expansão das fronteiras, o 
crescente mercado, a diversidade de línguas, usos e costumes dos povos 
estrangeiros conquistados, tudo isso fez com que o Direito Romano se fos-
se globalizando, deixando de ser um direito específico dos patrícios para 
se tornar num direito internacional (jus gentium = direito das gentes). 
"Fundando-se em praxes do comércio internacional, era o jus gentium 
informado por concepções radicalmente opostas às do jus civile: ao for-
malismo e materialismo deste contrapunha-se aquele sancionando atos 
praticados sem a observância de formalidades, e respeitando a boa fé (fides), 
ou seja, a lealdade à palavra empenhada."" 
Enquanto o jus civile tinha como fonte os usos e costumes tradicio-
nais do povo romano, o jus gentium era fundamentalmente alicerçado nos 
princípios do direito natural. "Todos os povos que se regem por leis e cos-
tumes utilizam, em parte um direito que lhes é próprio, (e) em parte um 
que é comum a todos os homens; na verdade, aquele direito que o próprio 
povo institui para si mesmo é-lhe próprio e chama-se direito civil (direito 
dos cidadãos) como direito próprio da cidade (jus civile); no entanto, aquele 
que é instituído entre todos os homens pela razão natural, esse é observa-
do em geral entre todos os povos e chama-se direito das gentes, como di-
reito de todas as nações. E assim o povo romano usa um direito que em 
<10> BRETONE, Mário. Ob. cit., p. 112. 
<"> MOREIRA ALVES, José Carlos. Ob. cit., vol. I, p. 70. 
56 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
parte lhe é próprio (jus civile) e em parte comum a todos os homens (direi-
to das gentes)." 1 2 
O período do jus gentium foi o da universalização do Direito Romano, 
conotação essa que deu origem ao direito internacional de nossos dias. 
2.3 Fontes do Direito Romano pré-clássico 
Foram fontes do Direito Romano nesse período pré-clássico: 
• Costume 
• Lei das XII Tábuas 
• Leis comiciais (leges rogatae, datae, dictaé) 
• Édito dos magistrados 
• Senatos-consultos 
• P l e b i s c i t o 
• Jurisprudência 
2.3.1 O costume 
Os costumes dos antepassados (mos maiorum) continuaram a servir 
como fonte do direito e alicerce para as decisões judiciais também durante 
todo esse período pré-clássico do Direito Romano. 
2.3.2 A Lei das Xll Tábuas 
Até o século V a.C. ainda não existiam leis escritas no Império Roma-
no. As que existiam eram transmitidas oralmente, de geração a geração. 
Os patrícios ou quirites continuavam sendo, ainda, nessa época, os 
únicos detentores de direitos, ocupando todos os cargos na magistratura 
ou no senado e decidindo os destinos da nação em suas assembléias espe-
cíficas. Tal estado de coisas, como já se viu, acarretava uma grande insa-
tisfação entre os plebeus, que continuavam a pugnar pelo reconhecimento 
de seus direitos, embora não tivessem até então obtido qualquer êxito ex-
pressivo neste intento. 
No ano de 452 a.C. os patrícios constituíram uma comissão composta 
pelos cidadãos romanos Postúmio, Mânlio e Sulpício, que foram enviados 
<l2> CÓDIGO TEODOSIANO (438 d . C ) , 1.4.3, apud John Gilissen, Introdução 
histórica do direito, Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 96. 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 57 
à Magna Grécia para estudar os princípios jurídicos gregos e, em especial, 
os ensinamentos de Sólon.1 3 Após o retorno dessa missão foi constituído, 
no ano de 451 a.C., um grupo composto de 10 pessoas (decenvirato), os 
decemviri legibus scribundis, com a incumbência de escrever uma lei que 
contivesse todos os princípios e preceitos do Direito Romano. Estes ma-
gistrados extraordinários assumiram o poder e, no final de um ano, apre-
sentaram a "Lei Decenviral", contida em doze tábuas ou capítulos, que foi 
aprovada pelas comitia centuriata, ou assembléia das cúrias e das centúrias 
(maximus comitatus), no ano de 451 a.C. Veio, então, à luz, o primeiro 
ordenamento legal romano - a Lei das XII Tábuas -, âfons omnis publici 
privatque jus (a fonte de todo o direito público e privado), segundo Tito 
Lívio. Esse primeiro arcabouço jurídico romano, no entanto, mesmo ten-
do consignado diversas normas de conduta, quer no civil, quer no penal, 
ainda se apegava ao sistema consuetudinário arcaico ainda subsistente. Era, 
por outro lado, um texto de lei rígido, lacônico e formal e com conteúdo 
incompleto, uma vez que não amparava os direitos da classe plebéia. "O 
texto da lei continha normas e institutos que não eram a favor dos plebeus: 
por exemplo, a servidão por dívidas e a proibição de contraírem matrimô-
nio com os patrícios."1 4 
2.3.2.1 O descontentamento dos plebeus 
Os plebeus, alijados de todas as prerrogativas da cidadania romana, 
continuavam a não ter direito algum; desamparados, inclusive, pela Lei das 
XII Tábuas. Continuavam párias da sociedade romana, dedicando-se ao 
comércio, à vida no campo e à artesania, mas sempre submissos às deter-
minações emanadas da classe patrícia que detinha o poder. 
Por mais que trabalhassem e produzissem, não faziam parte dos qua-
dros da cidade, apesar de residirem nela, e não podiam participar do culto 
aos deuses protetores de Roma e nem mesmo sepultarem seus mortos no 
mesmo local que os patrícios. Para discutirem seus problemas reuniam-se 
em assembléias populares próprias (conciliaplebis) e nelas tomavam suas 
decisões (plebiscita), que, no entanto, não eram reconhecidas pelo patri-
ciado, não tendo qualquer valia no contexto político e jurídico romano. 
O casamento entre plebeus e pessoas da classe patrícia era terminante-
mente proibido. Casavam-se entre eles mesmos numa cerimônia nupcial 
< l 3 ) "Os primeiros decênviros foram escolhidos (pelo menos noventa por cento) en-
tre os patrícios." BRETONE, Mário. Ob. cit., p. 62. 
( 1 4 ) BRETONE, Mário. Ob. cit., p. 62. 
58 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
própria e específica denominada coemptio. Também não podiam fazer parte 
do exército, e, assim, não tinham direitoaos saques após as vitórias nem à 
repartição das terras conquistadas aos vencidos. 
Tal estado de coisas foi gerando um crescente descontentamento soci-
al, forçando os plebeus a se unirem na defesa de seus interesses c,paripassu, 
alguns direitos lhes foram concedidos. 
O primeiro rei que rompeu com a rigorosa separação de castas na soci-
edade romana e possibilitou aos plebeus ingressarem no exército romano 
- honra essa até então só reservada aos patrícios - foi Tarquinio, o Antigo, 
de origem etrusca. Esse rei decidiu dessa forma, não porque morresse de 
amores pelos plebeus, mas porque o número dos patrícios e clientes que 
lutavam nas legiões romanas havia diminuído consideravelmente, devido 
às perdas ocorridas nas constantes guerras de conquista, e o Estado roma-
no sentia a necessidade de aumentar seus efetivos militares: "O cerco à 
cidade de Veios, primeira grande empresa de Roma fora do Lácio, fez ne-
cessária a admissão em massa de plebeus nas fileiras do exército". 1 5 Tal 
fato, se por um lado constituiu um benefício para a classe plebéia, por ou-
tro veio agravar ainda mais o conturbado panorama social: os plebeus se 
viam obrigados a lutar com heroísmo nas batalhas, mas continuavam im-
pedidos de galgar postos de comando no exército. Qualquer direito à pro-
moção nas legiões romanas lhes era negado. Por outro lado, para se enga-
jarem nas legiões romanas, os plebeus se viam obrigados a abandonar seus 
campos e negócios, fato que os levava quase sempre à situação de extrema 
penúria financeira, vendo-se obrigados a tomar dinheiro emprestado dos 
patrícios ricos. Endividados e explorados por juros altíssimos, tornavam-
se praticamente escravos do patrício credor. 
O sucessor de Tarquinio, Sérvio Túlio, com o intuito de aumentar a 
arrecadação de impostos, introduziu outras modificações na estrutura so-
cial de Roma: determinou que fossem realizados recenseamentos da po-
pulação a cada cinco anos, para que fosse conhecido o número exato dos 
integrantes de cada família e a totalidade dos seus bens, escravos e animais. 
Desta forma, tomando por base a riqueza de cada cidadão, "ele dividiu os 
habitantes de Roma em duas grandes categorias: numa estavam aqueles que 
possuíam alguma coisa de seu, na outra os que nada tinham. A primeira 
dividiu-se em cinco classes, nas quais os homens foram distribuídos se-
gundo o montante de seus bens. Sérvio adaptou esta divisão da população 
romana ao serviço militar. Antes dele, se os plebeus combatiam, não o fazi-
<l5> GIORDANO, Mario Curtis. Ob. cit., p. 182. 
É P O C A D A R E P Ú B L I C A 59 
am nas fileiras da legião. Mas, como agora eles poderiam ser proprietários 
e cidadãos, podiam também fazer parte do exército como legionários. Desde 
então, o exército não foi exclusivamente composto dos homens das cúrias 
porque todos os homens livres, todos aqueles que, pelo menos, possuíam 
alguma coisa, dele fizeram parte, e só os proletários continuaram sendo dele 
excluídos. De futuro, não foi a condição de patrício ou de cliente que pas-
sou a determinar a armadura de cada soldado e o seu posto de batalha; o 
exército estava dividido em classes conforme a riqueza, exatamente como 
a população. Nessa reforma, Sérvio Túlio colocou ao lado do nascimento, 
a fortuna e o domicílio como princípios, por assim dizer, niveladores dos 
patrícios e plebeus, encontrando-se, aí, o germe das futuras reivindicações 
e vitórias da plebe através da História da República".1 6 
2.3.2.1.1 Os direitos resguardados na Lei das XII Tábuas - Diz a lenda 
que, descontentes e insatisfeitos por não terem seus direitos resguardados 
na recém-promulgada Lei das XII Tábuas, todos os plebeus de Roma se 
retiraram da cidade, indo acampar no topo de uma das colinas vizinhas (o 
Monte Albano). Lá em cima montaram suas barracas e se negaram a retornar 
às suas atividades no comércio, na artesania e na agricultura enquanto seus 
direitos não fossem explicitamente contemplados na nova lei. Dizem al-
guns que eles pretendiam, mesmo, fundar uma outra cidade à parte. 
No início, tal fato não preocupou os patrícios, mas tão logo os alimen-
tos começaram a escassear, eles passaram a sentir a ausência dos plebeus 
"grevistas", uma vez que eles eram os únicos que sabiam plantar e colher 
os alimentos necessários a toda a comunidade. Com a fome batendo às suas 
portas, os patrícios resolveram atender às reivindicações da classe plebéia, 
e acabaram aceitando que lhes fossem reconhecidos alguns direitos. Foi 
então formada uma outra comissão de magistrados extraordinários e este 
segundo decenvirato - agora integrado por alguns plebeus - apresentou, 
um ano depois, mais duas tábuas, reconhecendo, desta feita, alguns dos 
direitos da classe plebéia. 
Uma outra versão, mais confiável, explica que os decênviros - aque-
les magistrados extraordinários que haviam sido escolhidos para a elabo-
ração da lei - gostaram tanto do poder que não mais queriam deixá-lo após 
o término de sua tarefa. Foram, portanto, expulsos pelo povo, que, por este 
motivo, deixou de aprovar a primeira versão da Lei das XII Tábuas. Foram 
eleitos, então, dois outros cônsules - Valério e Horácio -, que, no ano de 
< 1 6 ) COULANGES, Fustel de. Ob. cit., p. 97. Citado por Mario Curtis Giordano, ob. 
c i t . ,p . 180. 
60 INSTITUIÇÕES DE DIREITO R O M A N O 
449 a.C, mandaram afixar o texto completo da lei, contendo os doze capí-
tulos, nas paredes do fórum romano, passando a lei a vigorar em todo o 
Império. 1 7 
( 1 7 ) Exemplos daLei dasXIITábuas: TÁBUA I - D O S CHAMAMENTOS A JUÍZO. 
1) Se alguém é chamado a Juízo, compareça; 2) Se não comparece, aquele que o 
citou tome testemunhas e o prenda; 3) Se procurar enganar ou fugir, o que o citou 
pode lançar mão sobre (segurar) o citado; 4) Se uma doença ou velhice o impede 
de andar, o que o citou lhe forneça um cavalo; 5) Se não aceitá-lo, que forneça um 
carro, sem a obrigação de dá-lo coberto; 6) Se se apresenta alguém para defender 
o citado, que este seja solto; 7) O rico será fiador do rico; para o pobre qualquer 
um poderá servir de fiador; 8) Se as partes entram num acordo em caminho, a 
causa será encerrada; 9) Se não entram em acordo, que o pretor as ouça no comitium 
ou no fórum e conheça da causa antes do meio-dia, ambas as partes presentes; 
10) Depois do meio-dia, se apenas uma parte comparece, o pretor decida a favor 
do que está presente; 1 1 ) 0 pôr-do-sol será o termo final da audiência; 12) Aque-
le que confessa a dívida perante o magistrado ou é condenado, terá 30 dias para 
pagar; 13) Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja agarrado e levado à 
presença do magistrado; 14) Se não paga e ninguém se apresenta como fiador, 
que o devedor seja levado pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e pés com 
cadeias com peso até o máximo de 15 libras; ou menos, se assim o quiser o cre-
dor; 15) O devedor preso viverá à sua custa, se quiser; se não quiser, o credor que 
o mantém preso dar-lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a seu critério; 16) Se 
não há conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias, durante os quais será 
conduzido em 3 dias de feira ao comitium, onde se proclamará em altas vozes o 
valor da dívida; 17) Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia 
de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credo-
res, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão 
vender o devedor ao estrangeiro, além do Tibre; 18) Aqueles que foram presos 
por dívidas e as pagaram, gozam dos mesmos direitos como se não tivessem sido 
presos; 19) Se alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento ao 
ano, que seja condenado a devolver o quádruplo. (...) TÁBUA IV - DO PÁTRIO 
PODER E DO CASAMENTO: 1) É permitido ao pai matar o filho que nasce 
disforme, mediante o julgamento de cinco vizinhos; 2) O pai terá sobre os filhos 
nascidos de casamento legítimo o direito de vida e de morte e o poder de vendê-
los; 3) Se o pai vendeu o filho3 vezes, que esse filho não recaia mais sob o poder 
paterno; 4) A mulher que residiu durante um ano em casa de um homem, como se 
fora sua esposa, é adquirida por esse homem e cai sob o seu poder, salvo se se 
ausentar da casa por 3 noites (consecutivas). 5) Se alguém quer repudiar a sua 
mulher, que apresente as razões desse repúdio. (...) TÁBUA VII - DOS DELI-
TOS: 1) Se um quadrúpede causa qualquer dano, que o seu proprietário indenize 
o valor desse dano ou abandone o animal ao prejudicado; 2) Se alguém fere a 
outrem, que sofra a pena de talião, salvo se houver acordo; 3) Aquele que arran-
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 61 
Os plebeus, destaforma, foram conquistando seus direitos. Em 451 a.C, 
após a promulgação da Lei das XII Tábuas e depois de muita luta, as con-
quistas foram se sucedendo uma após a outra, até estarem igualados em 
direitos com a classe patrícia. Em 445 a.C. a Lei Canuléia autorizou o ca-
samento entre plebeus e patrícios; em 421 a.C. eles passaram a ser admiti-
dos como questores; em 367 a.C. a Lex Licínia de Consulatu conferiu a eles 
o direito de ocuparem os cargos de cônsul e, em 364 a.C, a função de edil 
curul. Em 351 a.C. passaram a ocupar o cargo de censor e, em 337 a.C, o 
cargo de pretor. Em 356 a.C Marco Rutilo foi o primeiro plebeu a ocupar 
o cargo de ditador. 
No ano 287 a.C. os plebeus alcançaram uma grande vitória: a Lex 
Hortênsia conferiu valor jurídico às decisões tomadas em suas assembléi-
as próprias (plebiscita), impondo a obrigatoriedade de sua observância em 
todo o Império Romano. 
A igualdade plena de direitos e a total integração das duas classes so-
ciais, no entanto, somente ocorreu em 254 a.C, com a nomeação de um 
plebeu - Tibério Corucânio - para o cargo de pontífice máximo (pontifex 
maximus). 
A Lei das XII Tábuas, também conhecida como "Lei Decenviral", foi, 
pois, a primeira lei escrita do mundo romano. Não se tratava propriamente 
car ou quebrar um osso a outrem deve ser condenado a uma multa de 800 asses, 
se o ofendido é um homem livre; e de 150 asses, se o ofendido é um escravo; 4) 
Se alguém profere um falso testemunho, que seja precipitado da rocha Tarpéia; 
5) Se alguém matou um homem livre e empregou feitiçaria e veneno, que seja 
sacrificado com o último suplício; 6) Se alguém matou o pai ou a mãe, que se lhe 
envolva a cabeça, e seja colocado em um saco costurado e lançado ao rio; 7) Se 
uma mulher bebe vinho ou comete um ato vergonhoso com homem estrangeiro, 
que o marido e a família dessa mulher a julguem e a punam; e se é surpreendida 
em adultério, que o marido tenha o direito de matá-la; 8) Que as mulheres órfãs e 
solteiras fiquem sob a tutela do seu irmão ou do agnado mais próximo; 9) Não é 
permitido o casamento entre patrícios e plebeus. (...) TÁBUA VIII - DOS DI-
REITOS PREDIAIS: 1) A distância entre as construções vizinhas deve ser de 
dois pés e meio; 2) Que os sócios façam para si os regulamentos que entenderem, 
contanto que não prejudiquem o interesse público; 3) Se caem frutos sobre o ter-
reno vizinho, o proprietário da árvore tem o direito de colher esses frutos. (...) 
TÁBUA IX - DIREITO PÚBLICO: 1) Se um juiz ou um árbitro indicado pelo 
magistrado recebeu dinheiro para julgar a favor de uma das partes em prejuízo 
de outrem, que seja morto; 2) Se alguém promove em Roma assembléias notur-
nas, que seja morto; 3) Se alguém insuflou o inimigo contra a sua pátria ou entre-
gou um concidadão ao inimigo, que seja morto (...). 
62 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
de um código, mas sim de uma compilação seca e formal das normas então 
vigentes, trazidas pelos costumes no decorrer dos séculos. "O conhecimento 
que dela temos - um conhecimento fragmentário mas não limitado, depende 
das citações dispersas por toda a literatura latina, nos juristas como nos 
gramáticos, nos mestres da retórica como nos historiadores e arqueólo-
gos." 1 8 
Não é correto, pois, afirmar-se que a Lei das XII Tábuas é a única "fon-
te de todo o direito público e privado". Antes dela, como já foi visto, o cos-
tume havia sido a única fonte do Direito Romano, continuando a sê-lo, es-
pecificamente do direito público, até fins do século III, quando viu reduzi-
da sua importância. 
Não se sabe ao certo se a Lei das XII Tábuas foi inscrita em madeira, 
mármore ou bronze. E certo, porém, que todas as tábuas foram destruídas 
num incêndio, no ano de 399 a.C, quando Roma foi invadida pelos gauleses. 
2.3.2.2 Tribuno da plebe 
Por volta de 494 a.C, e como resultado das lutas dos plebeus pelo re-
conhecimento de seus direitos, foi oficialmente criada a figura do tribuno 
da plebe, com a função precípua de defender os direitos da classe plebéia 
contra aqueles que, no poder, se olvidavam das leis em detrimento da co-
munidade. Eram os intermediadores entre o povo e os detentores do poder, 
levando ao governo os anseios dos plebeus. Os tribunos da plebe tinham o 
poder de fazer perguntas, possibilitando aos cidadãos comuns o direito de 
conhecerem os destinos da República. "Sem tribunato não há República", 
afirmou Cícero, fato que bem demonstra a importância dessa instituição 
na vida romana. 
Os tribunos da plebe, em número de dois, eram eleitos pela assembléia 
da plebe (conciliaplebis), dentre os plebeus. Competia-lhes, dentre outras 
atividades, convocar as assembléias e lutar pela igualdade de direitos en-
tre patrícios e plebeus. Tinham, também, a atribuição de defender os ple-
beus contra seus ofensores, punindo estes últimos, inclusive, e conforme o 
caso, com a pena de morte. Os tribunos da plebe não podiam pernoitar fora 
da cidade de Roma, devendo deixar sempre as portas abertas para receber, 
a qualquer hora do dia ou da noite, quem quer que deles necessitasse. 
Os tribunos da plebe tinham o jus intercessionis, ou seja, o direito de 
veto (intercessio tribunicia) nas discussões do senado romano. Não podi-
am ser senadores nem tinham o direito de ingressar nas salas das sessões 
<'» BRETONE, Máíió. ©b f «it,,;p. 6,9. 
É P O C A D A R E P Ú B L I C A 63 
onde o senado (integrado somente por patrícios) discutia as leis. Ficavam 
na entrada do edifício, onde lhes era destinada uma cadeira, ouvindo as 
discussões travadas no Plenário. Ao final dos debates, se não estivessem 
de acordo com a votação dos senadores, os tribunos da plebe se manifesta-
vam contrariamente, em alta voz, gritando a palavra veto (do verbo vetare 
= vetar, ser contra). Quando isso ocorria, os senadores tinham o dever de 
retomar as discussões, apreciando obrigatoriamente as razões do veto apos-
to pelo tribuno plebeu. 
2.3.3 As leis comiciais 
Lei comicial, segundo definição de Gaio, "é aquela que o povo manda 
e estabelece" (lex est quodpopulus iubet atque constituit).19 Era a lei dis-
cutida e votada pelo povo reunido em assembléia (comitia centuriata). O 
projeto da lei era exposto pelo magistrado ao povo reunido (rogatio) e, 
durante três semanas (trinundinum), o assunto era amplamente debatido 
por todos. Ao final desse período, os cidadãos votavam verbalmente, apro-
vando ou rejeitando a propositura. 
Na segunda metade do século II a.C. o voto passou a ser escrito e se-
creto: ao eleitor eram distribuídas tabuinhas cobertas com cera e nelas eles 
faziam constar o seu voto. Quando se tratava de uma eleição, escreviam o 
nome do seu candidato. Quando se tratava da votação de um projeto de lei, 
se fossem favoráveis escreviam nas tabuinhas as letras u.r, que significa-
vam uti rogas (como pedes) e o projeto era aprovado; se fossem contrári-
os, escreviam as letras a.q. r. (anti quod rogas), ou seja, "contra aquilo que 
pedes", e o projeto de lei era rejeitado. Quando o eleitor pretendia se abster 
de votar, escrevia a sigla "NL" - non liquet.20 
m Instituías, 1.3. 
(20) " p a r a votarem os cidadãos se organizavam em cúrias, centúrias e tribos, confor-
me a espécie de assembléia. O local da votação chamava-se ovile e estava divi-
dido em cercados (saeptà). O ovile possuía diversas entradas acessíveis por meiode passagens estreitas chamadas pontes. A unidade do voto era a cúria, a centúria 
e a tribo. Dentro de cada uma dessas categorias, os cidadãos votavam individu-
almente para a apuração do voto da categoria como tal. A data do comício era 
anunciada por meio de um edictum com a antecedência de, pelo menos, dezessete 
dias, durante os quais o povo discutia, nas contiones, os projetos de lei ou os nomes 
dos candidatos. Os comícios iniciavam suas atividades depois do nascer do sol; 
o magistrado fazia uma prece e oferecia um sacrifício, passando-se, depois, aos 
debates e à votação." GIORDANO. Ob. cit., p. 103. , 
64 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
As leis comiciais dividiam-se em leges rogatae, leges datae e leges 
dictae: 
• Leges rogatae (leis rogadas, solicitadas) eram aquelas que haviam 
sido discutidas e votadas pelo povo diretamente, reunido nas assembléias 
populares. 
• Leges datae (leis dadas, outorgadas) eram as expedidas diretamen-
te pelos magistrados, nas colônias e províncias, após autorização expressa 
ou tácita das assembléias populares. 
• Leges dictae eram normas para a administração de bens do Estado e 
dos municípios. 
As leges rogatae, em especial, tornaram-se preciosa fonte do direito a 
partir da fase republicana. 
2.3.4 Edito dos magistrados 
Conforme já visto anteriormente, os editos dos magistrados eram pro-
gramas de trabalho e das atividades que os magistrados (cônsules, pretores, 
censores, governadores de província etc.) pretendiam desenvolver duran-
te o período de suas investiduras nos cargos. No início de suas gestões (que 
eram anuais), esses magistrados estabeleciam os critérios que iriam nortear 
suas atuações, as metas que almejavam alcançar e as fórmulas processuais 
que seriam empregadas na solução dos litígios entre os cidadãos. 
Esses editos ou planos de trabalho eram anunciados pelos próprios 
magistrados, oralmente, da tribuna do senado romano. Os editos eram pos-
teriormente escritos com tinta preta em tábuas de fundo branco (álbum) e 
afixados nas paredes do fórum, para conhecimento de todos. O título era 
escrito com tinta vermelha ou rubra, advindo daí o termo rubrica. 
Os editos eram das seguintes espécies: 
• Edictum perpetuum (édito perpétuo) era aquele que durava um ano, 
ou seja, durante todo o tempo que o magistrado permanecia no cargo. Ces-
sado o período, cessavam também os efeitos do edito. 
• Edictum repentinum (édito repentino) era aquele que o magistrado 
editava durante o seu mandato, geralmente contendo normas de caráter 
administrativo ou político. 
• Edictum translatitium (édito translatício) era o edito que se trans-
mitia ao sucessor. 
Os editos dos magistrados se tornaram uma importante fonte do direi-
to romano, notadamente na época da República. 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 65 
No ano 130 d.C, em face da importância dos editos dos magistrados 
como fonte do direito e também devido à existência de grande quantidade 
deles, o Imperador Adriano determinou a Sálvio Juliano, jurisconsulto da 
época, que fizesse uma compilação de todos os que existiam até aquela 
época. Esse trabalho recebeu a denominação de Edito Perpétuo. 
2.3.5 Senatos-consultos 
Senatus consultum est quod senatus jubet atque constituit (senato-
consulto é aquilo que o senado manda e constitui). 2 1 Eram as decisões, 
resoluções e acordos do senado romano que regulavam assuntos de direito 
público. A partir do período do Principado, os senatos-consultos tiveram 
grande importância e passaram a constituir-se em fonte do direito privado 
romano. Nessa época, o imperador Tibério retirou o poder legislativo das 
assembléias populares e a força dos plebiscitos, transferindo-o unicamen-
te para o senado romano. A partir de então, os senatos-consultos passaram 
também a regular diversos assuntos de direito civil. 
Os senatos-consultos eram conhecidos pelos nomes dos imperadores 
ou cônsules que os haviam proposto, "como o senatoconsulto Claudiano, 
que castigaba con la perdida de la liberdad a la mujer libre que mantuviera 
relaciones concubinarias con un esclavo".2 2 
2.3.6 Plebiscito 
Como já visto anteriormente, os plebeus se reuniam em assembléias 
próprias (concilia plebis) e nelas decidiam (plebiscita) assuntos de seus 
interesses. No início, essas plebiscita eram desvestidas de qualquer valor 
para os patrícios e para o governo romano, tendo valia somente entre a classe 
plebéia. Posteriormente, a partir de 287 a.C, por força da Lex Hortênsia, 
os plebiscitos passaram a ter força de lei, equiparando-se às leges rogatae 
e tornando-se de cumprimento obrigatório não só para os plebeus como 
também para todo o povo romano. 
2.3.7 Jurisprudência 
Nos primeiros séculos da história de Roma, somente os sacerdotes eram 
os intérpretes do direito consuetudinário, os únicos que podiam aconse-
(21) Instituías, 1,2,5. 
( 2 2 ) ARGUELLO, Luis Rodolfo. Ob. cit., p. 99. 
66 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
lhar os cidadãos romanos nas coisas do direito. Só um pontífice podia ser 
jurista. 
A partir do final do século IV a.C, no entanto, pessoas de grande saber 
passaram a aconselhar os magistrados, os juízes e os próprios cidadãos a 
respeito das coisas do direito, surgindo assim a denominada "corrente ju-
risprudencial laica", em contraposição à "jurisprudência pontifical" que 
existia nos primeiros tempo de Roma. Essas pessoas conhecedoras do di-
reito eram "prudentes", tanto nas coisas da vida como nas coisas do direi-
to, tendo, pois, condições de aconselharem os demais. Daí a denominação 
júris prudentes, ou seja, o direito dos prudentes ou o direito ensinado pe-
los prudentes. Exerciam os jurisconsultos as seguintes atividades: 
• responderé - aconselhamento sobre questões diversas; 
• cavere - instruir as partes sobre as formas legais que deviam ser 
usadas para garantir um direito; 
• agere - acompanhar os clientes ao fórum para defender-lhes os di-
reitos perante o juiz; 
• scribere - escrever tratados sobre temas jurídicos; 
• instruere - formar discípulos e ensinar o direito. 
O trabalho dos jurisconsultos era gratuito mas os colocava em posição 
de grande destaque perante a sociedade e o governo constituído, propici-
ando-lhes a oportunidade de ocupar elevados cargos públicos. Nessa épo-
ca a jurisprudência deixa de ser localizada, restrita a Roma, e se torna de 
alcance universal, atingindo até os confins do Império Romano. 
Nos séculos II e I a.C. um cidadão romano gozava de grande prestígio 
se fosse muito rico, eloqüente e um grande jurista. "Um verdadeiro jurista 
é aquele que é perito em leis e em normas consuetudinárias que os cida-
dãos observam como privadas; e emprega sua competência quer para dar 
opiniões, quer para preparar esquemas de negócios ou processuais."2 3 
Os jurisconsultos dessa época provinham das classes abastadas da 
população (patriciado) e pertenciam à classe senatorial, motivo pelo qual 
são conhecidos como "juristas aristocráticos". Os conselhos por eles da-
dos eram considerados uma "dádiva divina" por quem os recebia, o que 
fazia com que, já de madrugada, dezenas de pessoas interessadas se reu-
nissem às suas portas para ouvi-los falar. Então, "sentavam-se numa ca-
deira magnífica e antiga e, assim, escutavam os visitantes".2 4 
<23> CÍCERO. De Ord. 1,48,212. 
<24> CÍCERO. Idem. 
ÉPOCA D A R E P Ú B L I C A 67 
Destacaram-se, nessa época, os jurisconsultos Quinto Múcio Cévola, 
Aquílio Galo, Alfeno Varo, Trebácio Testa, Sérvio Sulpício Rufo. 
Os "juristas aristocráticos" foram pouco a pouco cedendo lugar aos 
chamados "juristas-funcionários", jurisconsultos contratados pelo príncipe 
para assessorá-los nas coisas do direito.2 5 
De fato, a partir do século I d.C. começaram a surgir juristas perten-
centes, também, a outras camadas sociais e provenientes de outras regiões 
do Império, destacando-se, dentre eles, Ulpiano, Papiniano, Paulo etc. 
Jurisprudência é, pois, a responsaprudentium, ou seja, a resposta dos 
jurisconsultos às consultas a eles formuladas. Seus pareceressobre os mais 
variados assuntos jurídicos passaram a ser importante fonte do Direito 
Romano. 
(25> BRETONE, Mário. Ob. cit., p. 161. 
3 
ÉPOCA DO IMPÉRIO: 
PERÍODO DO DIREITO 
ROMANO CLÁSSICO -
DIREITO JURISPRUDENCIAL 
SUMÁRIO: 3.1 Período do Principado (de 27 a.C. a 2 8 4 d . C ) : 3.1.1 Evolu-
ção sócio-política; 3.1.2 Instituições político-administrativas do Principa-
do - 3.2 O direito jurisprudencial: 3.2.1 Jus respondendi ex auctoritate 
principis; 3.2.2 Jurisconsultos famosos; 3.2.3 Escolas doutrinárias - 3.3 
Fontes do Direito Romano no Principado: 3.3.1 O costume; 3.3.2 A lei; 
3.3.3 As constituições imperiais (constitutiones); 3.3.4 Senatos-consultos; 
3.3.5 Editos dos magistrados; 3.3.6 Jur i sprudênc ia -3 .4 A influência gre-
ga no Direito Romano: 3.4.1 A influência de Aristóteles - 3.5 Período do 
Dominato (de 284 a 565 d .C) : 3.5.1 Evolução sócio-política; 3.5.2 Insti-
tuições políticas do Dominato; 3.5.3 Fontes do Direito Romano no período 
do Dominato. 
3.1 Período do Principado (de 27 a.C. a 284 d.C.) 
3.1.1 Evolução sócio-política 
Desde o início do ano 100 a.C. a República romana se viu em meio 
a uma severa crise sócio-político-econômica, motivada pelas reiteradas 
guerras civis (a de Mário contra Sila, de 92 a 89 a.C, e a de Pompeu contra 
César, de 48 a 40 a.C), seguidas pelo assassinato de César em 44 a.C. 
Devido aos reiterados confrontos militares, instalara-se na República um 
verdadeiro caos financeiro, com elevada inflação e incontrolável corrupção. 
Instalara-se, também, uma total inversão de valores, com o povo se 
afastando cada vez mais da religião e das tradições dos antepassados, 
tudo isso em meio a um aumento sempre crescente do fluxo de estran-
geiros que se fixavam em território romano, oriundos das mais variadas 
É P O C A D O IMPÉRIO 69 
regiões do Império. O exército se tornara de tal forma profissionalizado 
que dependia do apoio dos soldados a indicação dos governantes do 
próprio Estado romano. 
Tal estado de coisas propiciou o surgimento do Principado, uma fase 
de transição entre a República romana decadente e o absolutismo emer-
gente. No ano 27 a.C. a República romana viu surgir a figura do príncipe, 
com poderes ampliados, que deveria partilhar o governo com o senado 
romano. 
Nos anos 31 e 23 a.C. Otávio foi eleito e reeleito cônsul em Roma. Em 
31 a.C. derrotou Marco Antonio na famosa batalha de Ácio e no ano de 36 
a.C, devido aos seus serviços prestados à nação, foi-lhe conferido, pelo 
senado, a tribunitia potestas, ou seja, o direito de ministrar diretamente a 
justiça.1 Em 27 a.C os soldados o proclamaram imperador, que significa-
va o "comandante supremo de todas as forças militares", tanto em Roma 
como nas províncias.2 
Além de ter o título de imperador oficialmente reconhecido, o senado 
romano lhe conferiu, ainda, o título de "príncipe" (princeps), que signifi-
cava "o primeiro dos cidadãos". Otávio passou, então, a ter assento, em 
cadeira superior à dos cônsules, no senado romano. 
No dia 13 de janeiro de 27 a.C, Otávio declarou publicamente que 
considerava encerrado seu trabalho de restabelecimento da ordem na na-
ção romana e devolveu todos os seus poderes ao senado. Queria retornar à 
vida privada. Essa sua renúncia, no entanto, não foi aceita pelos senado-
res, que lhe rogaram que permanecesse no cargo. Otávio aceitou continuar 
mediante as seguintes condições: que as províncias fossem divididas em 
províncias senatoriais (aquelas onde reinava a paz, sem necessidade da 
( 1 ) "Além da tribunitia potestas, o príncipe celebrava a paz e declarava a guerra, 
concluía tratados, fundava e organizava colônias, concedia aos estrangeiros di-
reito de casamento legítimo (jus conubií) e a cidadania, convocava o Senado, 
cunhava moedas e tinha jur isdição civil (em grau de recurso) e c r iminal . " 
MOREIRA ALVES, José Carlos. Ob. c i t , p. 33. 
( 2 ) O termo imperium, de origem etrusca, significava o poder de comandar, de che-
fiar, poder esse que era concedido aos magistrados diretamente pelo povo roma-
no reunido em assembléia. Imperator, portanto, designava o chefe de Estado que 
detinha o poder civil, militar e judiciário. Caesar designava inicialmente a ori-
gem familiar (cognomen), passando a indicar, posteriormente, o herdeiro pre-
suntivo do império. Augustus indicava que o imperador era sagrado por design io 
divino. 
70 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
permanência do exército) e em províncias imperiais (nas quais eram cons-
tantes as agitações sociais, necessitando da intervenção mais severa das 
legiões romanas). Exigiu, também, permanecer em suas novas funções 
durante mais dez anos. Todas as suas exigências foram aceitas pelo senado 
romano, que, como acréscimo, ainda lhe conferiu o título de augusto, que 
significava "sagrado por desígnio divino", aquele que possuía uma natu-
reza sobre-humana e o presságio de que ele teria sob suas mãos o império 
do mundo. 
Em 25 a.C. Otávio recebeu o título de pai cia Pátria, sem qualquer li-
mitação de poderes, tornando-se o único detentor das funções administra-
tivas e judiciárias, tanto em Roma como em todas as demais províncias 
romanas espalhadas pelo mundo, o comando supremo dos exércitos, a 
inviolabilidade pessoal e direito de veto em todas as decisões dos demais 
magistrados. No ano 21 a.C. foi-lhe ainda conferido o título de praefecta 
morum, o censor máximo dos costumes e, no ano 11 a.C, o título depontifex 
maximus - o chefe religioso supremo. As suas decisões passaram a ter for-
ça de lei: "Quodprincipi placuit, legis habet vigorem", disse a respeito 
Ulpiano. 3 
Dessa forma, surgiu em Roma o denominado período do Principado, 
com os poderes enfeixados nas mãos de um príncipe que governava com a 
ajuda de funcionários por ele mesmo nomeados ou demitidos. No período 
do Principado, o senado e os demais cargos da magistratura, próprios do 
regime republicano, continuaram a existir, mas com atribuições drastica-
mente reduzidas. 
O regime do Principado durou até o século III d.C Em 284 d.C insta-
lou-se em Roma o Dominato, que vigorou até 565 da era cristã. Deve-se 
ressaltar aqui que o Principado e o Dominato (que o sucedeu) não foram 
"novas formas" de governo romano, mas sim variações da República Ro-
mana que perdurou, com estas novas roupagens, até a queda de Constanti-
nopla, no ano de 1453. 
3.1.2 Instituições político-administrativas do Principado 
3.1.2.1 O príncipe 
O príncipe tinha amplos poderes na paz e na guerra: o de convocar o 
senado romano, o de publicar éditos, interpretar o direito e responder às 
«» ULPIANO. D. 1,4,1, pr. 
É P O C A D O IMPÉRIO 71 
consultas jurídicas a ele formuladas. Juntamente com o senado, tinha o 
direito de julgar as apelações e recursos. Como chefe do exército, cabia-
lhe nomear todos os seus comandantes e decidir sobre a paz ou a guerra nas 
províncias romanas. Tinha, também, o direito de indicar os nomes dos can-
didatos aos cargos da magistratura (commendatio). 
3.1.2.2 A magistratura 
Durante o período do Principado continuaram a existir os mesmos 
cargos que compunham a magistratura romana, mas todos com suas anti-
gas atribuições sensivelmente diminuídas: 
a) Consulado - Tornou-se "uma sombra vã do consulado republica-
no", diz Emilio Costa, "pois privado de qualquer poder fora da Itália, mes-
mo no território italiano, não dispunha de comando militar e seus poderes 
civis (eram) limitados pelapotestas tribunicia do Príncipe".4 
No auge da República o consulado tinha a duração de um ano; esse prazo 
foi diminuído para quatro meses, depois para três e, por último, passou a 
ter duração bimestral. 
b) Pretura - A pretura persistiu, ainda, durante todo o Principado. O 
pretor urbano continuou a ter o jurisdição nas lides entre cidadãos roma-
nos e o pretor peregrino continuou a resolver as desavenças havidas entre 
cidadãos romanos e entre estrangeiros entre si. 
c) Censura - Foram retiradas todas as atribuições dos antigos censo-
res, restando-lhes somente a funçãode coordenarem os recenceamentos 
realizados pelos magistrados municipais. 
d) Questura - Durante o Principado os questores foram transforma-
dos em simples auxiliares ou secretários do príncipe (quaestoresprincepis). 
e) Edilidade curul e da plebe - Passaram a ser encarregados da arma-
zenagem de mantimentos. 
f) Tribunato da plebe - Esse importantíssimo cargo no período da 
Realeza teve suas atribuições transferidas para o príncipe, restando-lhe 
somente funções de ordem administrativa como, por exemplo, a vigilân-
cia de sepulturas. No século IV D.C., o instituto do tribunato ressurgiu nos 
municípios romanos, intermediando os interesses do povo frente aos en-
tão detentores do poder. 
< 4 ) COSTA, Emilio. Storia del diritto romano pubblico. p. 287. 
72 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
3.1.2.3 O senado 
O senado continuou com posição de destaque durante o período do 
Principado, tendo, no tempo de Augusto, o número de senadores diminu-
ído para 600 senadores, eleitos entre os ex-magistrados.5 
Depois que o imperador Tibério suprimiu as assembléias populares 
(comida centuriata), o poder legislativo passou a ser exclusivo do senado 
romano. Os senadores repartiam com o imperador a função de julgar os 
recursos e passaram a supervisionar o erário público e os serviços admi-
nistrativos tanto de Roma como das províncias. 
3.1.2.4 As assembléias populares (comitia) 
As funções legislativas, judiciárias e eleitorais das antigas assembléi-
as populares foram sendo transferidas, pouco a pouco, para o príncipe e para 
o senado romano. A única atividade dessas assembléias passou a ser a de 
aprovarem, por aclamação, as denominadas lex de império. Essas leis eram 
propostas pelo senado e conferiam maiores poderes ao príncipe. 
As assembléias populares foram definitivamente suprimidas pelo im-
perador Tibério. 
3.2 O direito jurisprudencial 
Já vimos que, desde suas origens, o Direito Romano passou por várias 
alterações, sempre se amoldando às circunstâncias sócio-político-econô-
micas de cada época; daí não se poder afirmar que existe um único Direito 
Romano, mas diversas modalidades dele. 
Nos primórdios de Roma vigorou o jus civile, também denominado 
direito quiritário, um misto de religião e de direito, preso a uma rígida for-
malidade e tutelando somente os interesses patrícios. Essa rigidez formal 
foi atenuada pelo direito pretoriano ou direito honorário, nova mentali-
dade de justiça que foi introduzida pelos magistrados romanos, em espe-
cial os pretores, já na época da República. Na época do Império, notadamente 
no período do Principado, desenvolveu-se o direito jurisprudencial, origi-
( 5 ) "No principado, o Senado perdeu, em favor do príncipe, os poderes fundamen-
tais que detinha na República. Assim, a direção da política externa. De outra parte, 
no entanto, absorveu as funções eleitorais e legislativas dos comícios, embora, 
ainda nisso, enorme fosse a influência exercida pelo princeps." M O R E I R A 
ALVES, José Carlos. Ob. cit., p. 321. 
ÉPOCA D O IMPÉRIO 73 
nado da intensa atividade jurídica dos jurisconsultos romanos, com frutí-
fera produção jurídica nesse período. 
A fase do direito jurisprudencial teve início aproximadamente no ano 
100 a.C, com o jurisconsulto Quinto Múcio Cévola, e se prolongou até por 
volta do ano 300 d.C. Foi uma época de intensa atividade criadora do direi-
to e um período de universalização do sistema jurídico romano. 
Até meados do século II a.C. os juristas provinham exclusivamente da 
aristocracia, pertencendo, na quase totalidade, à classe senatorial, composta 
pelos patrícios. Eram os "juristas aristocráticos". No fim da República, 
porém, começaram a surgir pessoas de grande saber jurídico nas outras 
camadas sociais e, também, provenientes de outras regiões do Império. 
Essas pessoas eram procuradas tanto por particulares como pelo próprio 
príncipe para aconselhamentos jurídicos. Assim, "o jurista aristocrático da 
República cedeu lugar, pouco a pouco, ao jurista-funcionário e conselhei-
ro do príncipe". 6 
3.2.1 Jus respondendi ex auctoritate principis 
O imperador Augusto conferiu a alguns jurisconsultos o jus respon-
dendi ex auctoritate principis, ou seja, autoridade para emitirem parece-
res em seu próprio nome, com forçaobrigatóriaemjuízo. A concessão desse 
privilégio fez com que os pareceres dos jurisconsultos adquirissem força 
de lei, passando a ser aplicados pelos juízes em suas decisões. "Só os ve-
redictos dos juristas 'autorizados' foram adquirindo uma imediata inci-
dência prática... e eles orientavam ou vinculavam os tribunais em suas de-
cisões." 7 
Essa intensa atividade jurídica dos jurisconsultos romanos fez surgir 
essa nova modalidade de direito, mais ampla, mais racional e abrangente, 
que persistiu através dos séculos: o direito jurisprudencial. 
3.2.2 Jurisconsultos famosos 
Dezenas de jurisconsultos famosos despontaram nesse período do 
Direito Romano clássico, entre eles Papiniano (Aemilius Papinianus), Paulo 
< 6 ) BRETONE, Mário. Ob. cit., p. 161. 
< 7 > Idem, p. 163. No apogeu do Direito Romano (séculos II e III d.C.) o Império ro-
mano chegou a ter mais de 60 famosos jurisconsultos. Mais da metade deles re-
cebeu o jus respondendi ex auctoritate principis. 
74 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
(Paulus), Ulpiano (Domitius Ulpianus), Modestino (Herennius Modesti-
nus), Gaio (Gaius), Sabino, Sálvio Juliano, Pompônio etc , que deixaram 
clássicas monografias e estudos sobre diversas instituições de Direito 
Romano. 
Vários outros jurisconsultos famosos despontaram nesse período do 
Direito Romano clássico, todos exarando pareceres sobre os mais varia-
dos assuntos. Ninguém foi impedido de exprimir opiniões ou de escrever 
livros jurídicos o que tornou extremamente profícua essa época da juris-
prudência romana. 
3.2.3 Escolas doutrinárias 
Fruto da intensa atividade dos jurisconsultos, surgiram escolas dou-
trinárias famosas, tais como a dos Sabinianos e a dos Proculeianos. "Es-
sas escolas assemelhavam-se mais a simples clubes de discussão onde os 
júris prudentes ensinavam - oralmente e sem textos - grupos de discípu-
los reunidos à sua volta." 8 
A "Escola Proculeiana" foi fundada por Marcus Antistius Labeo, nas-
cido em 50 a.C., que recusou o cargo de cônsul para melhor se dedicar ao 
estudo do direito. A "Escola Sabiniana" foi fundada por Caius Ateius 
Capito, que ocupou o cargo de cônsul em 5 d.C, e formaram elas as duas 
maiores correntes de direito na época clássica, tendo opiniões divergentes 
sobre vários aspectos do direito público e privado. 9 
3.3 Fontes do Direito Romano no Principado 
O costume, a lei, os senatos-consultos, os éditos dos magistrados, as 
constituições imperiais e a jurisprudência foram as fontes do direito roma-
no nesse período. 
3.3.1 O costume 
O costume passou a ser considerado uma fonte secundária do direito 
na época do Principado, tendo em vista a concentração de poderes nas mãos 
do príncipe. 
( 8 ) CRUZ, Sebastião. Da "Solutio" II, Coimbra, 1972. 
( 9 ) Uma das divergências era a relativa ao início da puberdade: enquanto os sabinia-
nos entendiam que para se comprovar a puberdade do homem era necessária uma 
inspeção corporal (inspectio corporís), os proculeianos a fixavam aos 14 anos. 
ÉPOCA DO IMPÉRIO 75 
3.3.2 Alei 
O poder legislativo ainda continuou a ser competência das assembléi-
as populares, até estas serem suprimidas pelo imperador Tibério. A partir 
de então, as leis passaram a ser da iniciativa exclusiva do imperador, época 
na qual se tornaram a principal fonte de direito. 
3.3.3 As constituições imperiais (constitutiones) 
As constituições imperiais eram medidas de ordem legislativas ema-
nadas diretamente do imperador, tais como decisões, pareceres e consul-
tas. 10 Na realidade, quem elaborava essas constituições imperiais eram os 
membros do "Conselho do príncipe" (consiliumprincipis), composto por 
jurisconsultos romanos. 
As constituições imperiais foram, pouco a pouco, crescendo de impor-
tânciano cenário político-jurídico romano até se tornarem a única fonte de 
direito, na época do Dominato. 
As constituições imperiais emanadas dos príncipes eram dos seguin-
tes tipos: 
3.3.3.1 Rescripta {reescritos) 
Eram pareceres dados pelo príncipe em resposta a indagações a ele 
formuladas por particulares ou pela comunidade. Eram divididos em duas 
categorias: 
a) Subscriptiones - Respostas a quesitos jurídicos formulados direta-
mente ao príncipe por particulares ou pela comunidade. Essas respostas 
(subscriptiones) ou eram dadas diretamente ao interessado ou publicadas 
para conhecimento geral. As consultas eram formuladas através de uma 
petição (petitio) assinada pelo interessado. 
b) Epistula - Era a resposta, em forma de carta, dada a uma questão 
jurídica formulada por um funcionário, por um magistrado ou pela assem-
bléia comicial. As consultas (consultado ou suggestio) eram formuladas 
por escrito pelo interessado.1 1 As rescripta podiam ter força de lei. 
< l 0 ) "A constituição do príncipe é o que o imperador constitui por decreto, por édito 
ou por epístola. Nunca se duvidou que isso não tenha força de lei, já que o próprio 
imperador recebe o poder em virtude de uma lei". GAIO. 15 . 
( , , ) "Compreendi, no meu inquérito sobre o caso que decorreu entre Cláudio e Evaristo, 
o que se segue. Cláudio, filho de Lupo, enquanto os companheiros reunidos paia 
76 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
3.3.3.2 Deeretum 
Era uma sentença exarada pelo príncipe num litígio entre duas partes. 
3.3.3.3 Editos imperiais 
Ao contrário dos editos dos magistrados, que vigoravam somente du-
rante um ano, os éditos imperiais não perdiam sua eficácia mesmo depois 
que o príncipe ou imperador tivesse deixado seu cargo. 1 2 
3.3.3.4 Mandata (mandatos) 
Eram instruções do príncipe aos funcionários imperiais e aos gover-
nadores das províncias. 
3.3.4 Senatos-consultos 
Durante o Principado o senado romano ainda era detentor de grandes 
poderes, repartindo com o príncipe a incumbência de dirigir os destinos da 
nação romana. Devido a isso, suas decisões, os senatos-consultos, conti-
nuaram a ser fonte do Direito Romano. 1 3 
3.3.5 Editos dos magistrados 
O Principado foi um período de exceção na estrutura da República 
romana, mas todos os cargos da magistratura continuaram a existir, apesar 
um banquete se divertiam a lançá-lo ao alto com um cobertor estendido, foi tão 
mau apanhado por culpa de Mário Evaristo, que morreu no espaço de cinco dias. 
Mostrou-se claro que não existia qualquer inimizade entre Evaristo e ele. Toda-
via, eu acreditei que o autor de um comportamento tão desenfreado deveria ser 
igualmente punido, para corrigir os outros jovens da sua idade. Portanto, bani Mário 
Evaristo durante cinco anos de Roma, da Itália e da Bética, e ordenei que pagasse 
a soma de dois mil ao pai de Cláudio, dado que a sua pobreza era manifesta." 
Epistula de Adriano a uma consulta formulada por um procônsul da Bética. 
( , 2 ) Édito de Caracala (212 d . C ) : "Outorgo a todos quantos se achem no orbe a cida-
dania romana, sem que ninguém fique sem cidadania, exceto os deditícios..." 
( l 3 ) Senatusconsultum Claudianum (52 d . C ) : "(...) por força do senatos-consulto 
Claudiano, seja reduzida a escrava toda a cidadã romana que mantiver relações 
concubinarias com um escravo alheio, contra a vontade do seu dono e depois de 
ele a ter admoestado". (Obs.: Se o escravo fosse da cidadã romana, ela não sofria 
qualquer sanção.) 
ÉPOCA D O IMPÉRIO 77 
de terem suas funções paulatinamente modificadas e diminuídas. Os 
pretores tiveram suas atribuições de ministrar a justiça divididas com o 
príncipe, fato que contribuiu para a decadência dos éditos dos magistrados 
como fonte de direito. A essa época o direito pretoriano não tinha mais a 
força de criar o direito: praetor jus faceré non potest (o pretor não pode 
criar o direito mas sim observar o direito antigo). A partir de então, os 
pretores limitaram-se a copiar os éditos dos seus antecessores. 
3.3.6 Jurisprudência 
Conforme visto acima, a jurisprudência alcançou seu auge no decor-
rer dos séculos II e III da era cristã com o surgimento de brilhantes juris-
consultos que vieram imprimir novos destinos ao Direito Romano. Tor-
nou-se, nesse período, a principal fonte do Direito Romano, em sua moda-
lidade de direito jurisprudencial. O período do Principado foi a época da 
"jurisprudência clássica", que vigorou até o término da dinastia dos Seve-
ros, por volta do século III d.C. 
3.4 A influência grega no Direito Romano 
O Direito Romano é um direito autônomo, único, sui generis, que 
nasceu unicamente da força criativa de seu povo ou teria sofrido influ-
ências dos direitos de outros povos? Há controvérsias sobre isso entre 
os romanistas. Alguns o consideram original, enquanto outros entendem 
que foi grande a influência da filosofia grega em sua formação. "A 
propalada criação autóctone do direito em Roma (que parecia lisonjear 
os romanistas) não teria conduzido seus juristas e magistrados além de 
certos limites primitivos, como os das XII Tábuas", diz a respeito Aloysio 
Ferraz Pereira.1 4 
Os romanos, na realidade, sempre tiveram contactos culturais e comer-
ciais (nem sempre amistosos) com os gregos. Estes, inclusive, os auxilia-
ram militarmente, por volta do ano 505 a.C, na luta pela independência 
contra os etruscos. Confrontaram-se, posteriormente, em campos de bata-
lha, quando os gregos, comandados por Pirro, haviam-se fixado em terras 
da Itália meridional, na denominada Magna Grécia. 
Os gregos, por sua vez, foram notáveis em diversas áreas do saber mas 
nunca foram grandes juristas. Nunca houve um "direito grego", nem obras 
jurídicas de destaque. Cada cidade aplicava a justiça de acordo com seus 
( i4 ) PEREIRA, Aloysio Ferraz. O direito como ciência, p. 15. 
78 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
próprios usos e costumes, que diferiam de região para região. Nunca hou-
ve uma única lei que se aplicasse a todos os gregos, indistintamente. 
Mas, se não houve influência do "direito" grego no Direito Romano, 
foi intensa a influência da sua filosofia na formação do sistema jurídico de 
Roma. Já na época da Realeza o povo romano certamente não desconhecia 
os conceitos do "justo" e do "injusto" trazidos da Grécia pelos poetas da 
tragédia grega, Sófocles, Ésquilo, Eurípedes e Aristófanes, dentre outros. 
Os romanos entendiam o direito como a arte do bom e do equitativo 
(jus est ars boni et aequi) e concretizavam essa arte com a rígida observân-
cia de três princípios básicos, um misto de direito e moral: honeste vivere, 
alterum non laedere, suum cuique tribuere (viver honestamente, não pre-
judicar a outrem, dar a cada um o que é seu). 1 5 Ora, esses conceitos apre-
sentam características específicas da filosofia grega. 
Quando os decênviros romanos elaboraram a Lei das XII Tábuas, 
espelharam-se também, com toda a certeza, no conceito de justiça vigente 
nas cidades gregas, notadamente em Atenas, que, dentre as outras, foi a que 
mais se destacou na aplicação de um direito democrático. São de Atenas a 
Lei de Dracon (621 a.C.), que tornou obrigatório o recurso aos tribunais 
quando ocorressem conflitos entre os clãs, e as Leis de Sólon (594-593 a.C.), 
que estabeleceram a igualdade civil, suprimiram a escravidão por dívidas 
e limitaram o poder patriarcal. 
Hermodoro de Éfeso, um filósofo grego exilado em Roma, teria mes-
mo assessorado os decênviros na elaboração da Lei das XII Tábuas, con-
forme assevera Pompônio. 1 6 
Cícero, por diversas vezes, aludiu à influência helénica na elaboração 
da Lei das XII Tábuas: "Até parece que as cidades gregas invadiram o ter-
ritório dos bárbaros, porque, antes de seu estabelecimento, só dois povos 
haviam conhecido o mar: os etruscos e os cartagineses, aqueles mercado-
res, estes, piratas". 1 7 No mesmo sentido, Pompônio: "As outras disposi-
(15) Ut eleganter Celsus definit, jus est ars boni et aequi. (Digesto, I, l , l , p r . e § 1.) 
Júris praeceptasunt haec: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique 
tribuere. ULPIANO, (Digesto I, 1,1) (Instituías, I, 1,3). 
( 1 6 ) " a l g u n s autores fazem remissão a Hermodoro, emigrado de Éfeso, que teria 
prestado grande ajuda aos decênviros na tradução e interpretação de trechos gre-
gos, tanto assim que a sua estátua foi erguida em Roma, em sinal de agradeci-
mento. É o testemunho de Plínio, História naíural, 3 4 , 2 1 , e Pompônio, D. 1,2,2, 
4 . " MEIRA, Silvio. Ob. cit., p. 7 1 . 
<17> CÍCERO. De rep. 2, IV. 
É P O C A D O IMPÉRIO 79 
ções da Lei das XII Tábuas que visam a diminuir as despesas dos funerais 
e as lamentações são quase inteiramente vertidas das leis de Sólon". 1 8 
Foi especialmente intensa a influência do pensamento estóico e epi-
curista na formação do Direito Romano, através dos filósofos Panécio e 
Posidônio, que, inclusive, introduziram em Roma uma "escola estóica". 
Os ensinamentos transmitidos por eles transformaram-se, segundo Miguel 
Reale, na filosofia da elite romana: "Entrando em contacto com a filosofia 
helénica", nos diz ele, "era natural que os romanos fossem levados a con-
templar os quadros de sua maior criação (o direito) à luz dos ensinamentos 
ético-políticos desenvolvidos desde Pitágoras até os estóicos e, através da 
especulação filosófica, a "dar-se conta" da esfera específica de cultura por 
eles revelada".1 9 No mesmo sentido Laferrière, quando afirma que "os ju-
risconsultos romanos subordinaram-se profundamente ao pensamento 
estóico (...) e foi sob a influência deste pensamento que o direito civil de 
Roma tomou o nome próprio de Direito Romano". 2 0 
3.4.1 A influência de Aristóteles 
A formação jurídica dos jurisconsultos romanos no período clássico 
do direito (do séc. I a.C. ao séc. III d.C.) foi decisivamente influenciada pelo 
conceito de direito natural de Aristóteles. Na aplicação do direito específi-
co ao caso concreto eles analisavam, de forma objetiva, tanto as circuns-
tâncias presentes como as tendências naturais, próprias da natureza huma-
na, que envolviam o fato colocado sub judice. Empregavam, pois, o méto-
do dialético, próprio do direito natural, e, assim o fazendo, os romanos 
buscavam aquilo que era "justo", e não a aplicação pura e simples de qual-
quer regra já estatuída, que muitas vezes não se adequava à realidade dos 
fatos examinados. Para Ercílio Antonio Deny, o método empregado pelos 
jurisprudentes romanos era o dialético ou "quase dialético", específicos 
da filosofia grega. "O método antigo dos juristas não é só feito de retórica 
ou de dialética. Não estando ligado ao modelo da ciência (epistema) parti-
cipa tanto da retórica quanto da dialética. Procede e deriva seja da procura 
do justo no caso concreto nos tribunais, seja de um justo mais abstrato, 
objeto do estudo dos filósofos. Ele é um intermediário entre a retórica e a 
( i s ) POMPÔNIO. De legibus. II, XIII. 
( 1 9 ) REALE, Miguel. Horizontes do direito e da história. 2. ed. São Paulo : Saraiva, 
1977. p . 65. 
( 2 0 ) LAFERRIÈRE. Histoire du droit civil du Rome et du droit civilfrançais. Paris : 
1886. vol II, p. 192. Cfe. Miguel Reale, ob. cit. 
80 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
dialética. Isto faz com que se pesquisem os seus caracteres fundamentais 
(...) A dialética faz chegar a conclusões gerais (horói). Assim, o método 
dos antigos juristas deve seus caracteres essenciais aos modelos da retóri-
ca e, mais ainda, aos da dialética. Poder-se-ia mesmo dizer que ele é "quase 
dialético". 2 1 
Na procura objetiva da justiça os jurisconsultos romanos conferiam 
real importância à eqüidade, procurando sempre a justiça entre os extre-
mos, empregando, desta forma, nada mais, nada menos que o in médium in 
rebus de Aristóteles (a justiça não está nos extremos mas sim no meio das 
coisas). "A doutrina aristotélica do direito natural faz do 'justo', resoluta-
mente, a alma e a essência mesmo do 'direito'", ensina-nos Michel Villey , 2 2 
O Direito Romano clássico, portanto, constituiu um caso particular de 
aplicação ou concretização da teoria aristotélica do direito natural em seu 
sentido autêntico. "De toda a herança que os romanos receberam dos gre-
gos e à qual juntaram o seu próprio gênio nativo, o bem de maior valor, a 
idéia de mais profunda conseqüência, foi, sem laivo de dúvida, a teoria 
aristotélica do direito natural. As definições de direito, da justiça, do con-
junto de estudos jurídicos (jurisprudência) e as classificações de fenôme-
nos, instituições e conceitos jurídicos que devemos aos romanos, só ad-
quirem plena inteligibilidade e coerência quando passamos a referi-las às 
significações da ciência e do direito natural aristotélico."23 
O cidadão romano, por outro lado, era considerado não como um indi-
víduo isolado de tudo e de todos, mas como parte de um todo, inserido numa 
sociedade e, conseqüentemente, o direito deveria visar ao bem estar dessa 
mesma sociedade. Assim sendo, as leis deveriam provir do próprio meio 
social e não, ao contrário, ser coercitivamente impostas à sociedade. O di-
reito deveria nascer da e na sociedade e não de uma análise isolada de uma 
pessoa individualmente considerada: non ex regula jus sumatur, sed exjure 
quod est regula fíat. "O direito romano, (portanto) além de se não fundar 
sobre o direito subjetivo descansa sobre urna filosofía objetivista, vale di-
zer, social do direito, largamente tributáriade Aristóteles, (...)", ensina-nos 
Aloysio Ferraz Pereira, que finaliza: "O direito natural de inspiração 
aristotélica foi a alma do direito romano clássico".2 4 
< 2 I ) DENY, Ercilio. Modos clássicos de interpretação do direito - Leitura do direito 
romano e do medieval (glosadores e bartolistas) feita por Michel Villey. Revista 
Impulso n. 15. Piracicaba : Ed. Unimep, 1994. p. 2 1 . 
<22> VILLEY, Michel. Philosophie du droit. 2. ed. Paris : Dalloz, 1982. p. 7. 
< 2 3 ) PEREIRA, Aloysio Ferraz. Ob .c i t . , p . 12. 
< 2 4 ) PEREIRA, Aloysio Ferraz. Ob. cit., p. 12. 
É P O C A D O IMPÉRIO 81 
3.5 Período do Dominato (de 284 a 565 d.C.) 
3.5.1 Evolução sócio-polüica 
No terceiro século da era cristã Roma ainda mantinha sua importância 
como capital do Império Romano, mas "com conotação mais turística do 
que política, abrigando uma população ociosa, dada a prazeres e descom-
promissada com o trabalho".2 5 
Novas rotas comerciais haviam surgido, notadamente às margens do 
Rio Danúbio, e as mercadorias começaram a ser transacionadas diretamente, 
sem mais passarem por Roma; esse fato diminuiu enormemente sua im-
portância como principal entreposto comercial do Império. 
Os imperadores romanos dessa época foram despreparados para o car-
go, fracos e venais, dedicando-se mais em aumentar os impostos do que 
sanar as irregularidades do governo. A diferença entre ricos e pobres acen-
tuou-se gravemente, gerando constante tensão social. Existia uma enorme 
distância entre os "bem nascidos" e seus inferiores, com os membros das 
classes superiores procurando diferençar-se das demais através de um es-
tilo de cultura e vida diferente. 
A inflação descontrolada levou o erário público à insolvência e os 
imperadores começaram a enfrentar dificuldades para pagar os soldos dos 
soldados, fato que gerou descontentamento e indisciplina entre as tropas 
romanas. Com o intuito de solucionar esse impasse, Alexandre Severo, por 
volta do ano 240 d.C, resolveu distribuir terras e implementos agrícolas 
aos comandantes e soldados, terras essas situadas nas longínquas frontei-
ras do império. Os comandantes assim agraciados, juntamente com suas 
tropas, fixavam-se nas novas regiões construindo fortificações para a de-
fesa contra os povos invasores. Surgiram, desta forma, inúmeros núcleos 
populacionais circundados por resistentes muralhas - o embrião dos feudos 
da Idade Média. "La frontera dei império habia sido durante mucho tiempo 
incierta, oscilante, invisible; una zona de protectorado marcaba la transicion 
entre el império y el inimigo. Ahora, em cambio, todo el império escomo 
una ciudad rodeada de murallas".2 6 
A providência de distribuição de terras às legiões, se por um lado re-
solveu o problema econômico imediato e o de defesa das fronteiras contra 
( 2 5 ) LOT, Ferdinand. O fim do mundo antigo e o princípio da idade média. Lisboa : 
Edições 70. p. 109. 
(20) p i G A N I O L , André . Historia de Roma. Buenos Aires : Eudcba - Editorial 
Universitária de Buenos Aires, 1971. p. 283. 
82 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
os povos invasores, enfraqueceu, por outro lado, os exércitos romanos. Os 
soldados passaram a se dedicar mais à agricultura, deixando de lado o es-
merado preparo militar de antigamente. Tal fato foi decisivo quando teve 
início a onda de invasões contra o Império Romano do Ocidente. 
Os generais romanos, agora na posição de grandes senhores de terras e 
investidos de excepcionais poderes em seus feudos, e, ainda mais, apoia-
dos incondicionalmente por seus soldados, passaram a decidir diretamen-
te o que fazer, sem se importarem muito em prestar contas de suas ações às 
autoridades em Roma. 
Nesse período de caos político-social, o cargo de imperador chegou 
mesmo a ser leiloado, tendo seu titular permanecido no cargo, por maior 
ou menor tempo, de acordo com seu grau de liderança ou valentia.27 
Esse cadinho de acontecimentos propiciou o surgimento do Dominato, 
regime de cunho absolutista que efetivamente se instalou com Diocleciano, 
no ano de 284 d.C. Soldado enérgico e autoritário, Diocleciano foi procla-
mado imperador por seus soldados em novembro de 284 d.C. Julgando-se 
investido de uma missão divina e contando com o apoio do exército e dos 
burocratas romanos, empreendeu a regulamentação de toda a vida políti-
ca, econômica e religiosa do império combalido. 
Inicialmente separou o poder civil do militar e partilhou o governo com 
Maximiano. Dividiu o império em duas partes: o império ocidental (pars 
ocidentis), com capital em Milão, sob o governo de Maximiano, e a parte 
oriental (pars orientis), onde ele próprio permaneceu, fixando sua capital 
em Nicomédia. Em 286 nomeou outros dois governadores, Constantino 
Cloro e Galério, o primeiro encarregado das regiões da Britânia, Gália e 
Espanha, e o segundo, da Ilíria e da Grécia, implantando assim um sistema 
de governo que se convencionou chamar de tetrarquia. 
Essa divisão do Império Romano, no entanto, teve apenas caráter ad-
ministrativo, facilitando a introdução das reformas na estrutura do Estado 
romano. Juridicamente ele continuava uno e indivisível, sob o comando 
único de Diocleciano. 
A reforma burocrática por ele introduzida consistiu na criação de inú-
meros cargos públicos submetidos a rígido princípio hierárquico. O impe-
rador enfeixou todos os poderes em suas mãos, tornando-se o senhor abso-
< 2 7 ) Após a morte do imperador Pertinax, como nâo houvesse ninguém para sucedê-
lo, o cargo de imperador foi leiloado. Dídio Juliano deu o maior lance e se tornou 
o imperador. 
É P O C A D O IMPÉRIO 83 
luto, com poderes de vida e morte sobre todos os cidadãos do Império. 
Abaixo dele ficavam os demais funcionários subalternos, num sistema de 
pirâmide, submetidos a rígida obediência. 
3.5.2 Instituições políticas do Dominato 
Os funcionários administrativos foram classificados de acordo com as 
dignitates que possuíam: dignitates palatinae e dignitates do Estado. 
Possuíam dignitates palatinae os funcionários do mais alto escalão e 
ligados diretamente ao imperador, tais como os chefes militares, civis e 
religiosos. Esses funcionários integravam o consistório, espécie de "con-
selho de estado" e que era composto dos seguintes cargos: quaestor sacri 
palatii (espécie de ministro dajustiça); comes sacrarum largitionum (mi-
nistro das finanças); comes rerum privatarum (administrador da fortuna 
pessoal do imperador); magister militum (comandante militar). Os mem-
bros do consistorium se pronunciavam sobre questões políticas, adminis-
trativas e judiciárias, agindo como membros de uma suprema corte de jus-
tiça. 
As dignitates do Estado eram os cargos ocupados pelos funcionários 
civis em geral e classificavam-se em: 
• praefectus praetorio (prefeito do pretório), que era o chefe da guar-
da pretoriana; 
• praefectus urbi (prefeito da cidade), que era o encarregado da admi-
nistração e do policiamento de Roma; 
• praefectus vigilum, responsável pelo policiamento noturno da cida-
de; 
• praefectus annonae, era o encarregado do abastecimento da cida-
de; 
• praefecti aerarii, o administrador do tesouro público. 
3.5.2.1 Cargos da magistratura 
Os antigos cargos da magistratura continuaram a existir, porém com 
importância reduzida: o cargo de cônsul ficou apenas com funções buro-
cráticas municipais; os pretores e os questores passaram a ter somente a 
incumbência de organizar os jogos populares. 
Os cargos de edis e de tribunos da plebe foram extintos na época da 
dinastia dos Severos. 
84 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
3.5.2.2 O senado 
O senado romano foi bipartido por Diocleciano: um ficou sediado em 
Roma e outro em Bizâncio, mas, apesar de assim dividido, continuou ain-
da a ter grande peso político no início do Dominato. 
3.5.2.3 As assembléias populares 
O povo já não tinha mais poder decisório. As assembléias populares 
foram extintas, como instituição, no fim do primeiro século da era cristã. 
3.5.3 Fontes do Direito Romano no período do Dominato 
O despotismo imperial do regime do Dominato, com a concentração 
de poderes nas mãos do imperador, fez com que a produção jurídica so-
fresse sensível diminuição. As constituições imperiais passaram, então, a 
ser a principal fonte do direito em todo o Império romano. 
3.5.3.1 Constituições imperiais (leges) 
As constituições imperiais, também conhecidas como leges, eram re-
gras e preceitos legislativos elaborados diretamente pelos imperadores 
romanos, sem a interferência de qualquer outro órgão público, e traduziam 
a vontade imperial que a tudo orientava e dominava. 2 8 Tinham força de lei 
e a sua inobservância acarretava severas sanções ao infrator. Durante todo 
o período do Dominato foram as principais fontes do Direito Romano. 
3.5.3.2 Jurisprudência 
O jus respondendi ex auctoritate principis (direito de responder em 
nome do príncipe) havia sido concedido a alguns jurisconsultos romanos 
no período do Principado, e os havia tornando extremamente importantes 
e influentes em todo o Império romano. 
O imperador Constantino, tão logo assumiu o cargo no ano 306 d.C, 
resolveu diminuir a demasiada influência daqueles jurisconsultos e can-
celou-lhes aquelas prerrogativas, arrogando para si o direito de fazer leis 
diretamente, sem a interferência do senado ou do povo. A partir dessa me-
( 2 8 ) ULPIANO. Quodprincipi placuit legis habet vigorem (O que agrada ao prínci-
pe tem força de lei). Digesto, 1,4,1. 
É P O C A D O IMPÉRIO 85 
dida, a jurisprudência foi paulatinamente perdendo sua importância como 
fonte do Direito Romano. 
Os antigos pareceres dos jurisconsultos, seus julgados e ensinamentos 
continuaram, entretanto, a servir como fonte de consulta para a aplicação 
da justiça e a elaboração das constituições imperiais. 
3.5.3.3 Costume 
O costume continuou ainda a ser fonte do Direito Romano no período 
do Dominato, mas em posição secundária às demais, servindo apenas para 
preencher as lacunas que ocasionalmente pudessem ocorrer na aplicação 
das constituições imperiais.2 9 
(29) "Não £ desprezível a autoridade dos usos e costumes, mas não valerá até o pon-
to de prevalecer sobre a lei e sobre a razão." Constituição de Constantino, ano 
312 d.C. 
O DIREITO CODIFICADO 
SUMÁRIO: 4.1 Codificações pré-justinianéias: 4.1.1 Codificações parti-
culares; 4.1.2 Codificações oficiais - 4.2 Codificação justinianéia: 4.2.1 O 
Corpus Júris Civilis - 4.3 As grandes invasões. 
A partir do período do Dominato acentou-se a decadência do estudo 
do direito no Império Romano do Ocidente. O Direito Romano foi aos 
poucos deixando de ser considerado uma ciênciaautônoma e passou a ser 
ensinado nas escolas apenas como parte do trivium, ou seja, embutido no 
estudo da Retórica, da Gramática e da Medicina. Isso proporcionou uma 
simplificação de conceitos jurídicos, uma confusão das noções clássicas e 
uma desordem na exposição da matéria.1 
O abandono do estudo do direito, aliado ao escasseamento de juriscon-
sultos, veio acarretar sérias dificuldades aos juízes, que, para fundamenta-
rem suas decisões, iam buscar os ensinamentos dos antigos juristas roma-
nos, adaptando-os às necessidades do caso sub judice. No entanto, fruto 
dos dez séculos anteriores da história de Roma, existiam milhares de leis, 
preceitos e normas (leges), bem como uma imensa quantidade de teorias, 
pareceres e doutrinas jurídicas arespeito dos mais variados assuntos (jura). 
Era grande, também, o número de constituições imperiais de lavra, tanto 
dos imperadores do Ocidente como do Oriente, e tudo isso estava contido 
em milhares de papiros e rolos de pergaminho espalhados por todo o Im-
pério. Esse conteúdo jurídico "formava milhares de volumes que o mais 
rico homem não poderia adquirir e a inteligência mais vasta não poderia 
conter e que tornava impossível um estudo completo, e assaz dificultava a 
aplicação clara das regras jurídicas". 2 
<" CRUZ, Sebastião. Da "Solutio". Ob. cit., p. 17-19. 
( 2 ) DEL GIGLIO, Alfredo José. Manual elementar de direito romano. São Paulo : 
José Bushatsky Editor, 1970. p. 38. 
O DIREITO C O D I F I C A D O 87 
Essa profusão de ensinamentos jurídicos, aliada à falta de preparo dos 
aplicadores do direito, propiciava um sério problema nos meios judiciári-
os. "A invocação de normas jurídicas constantes das obras dos juristas 
antigos acarretou um grande inconveniente: advogados habilidosos indu-
ziam em erro os juízes com citações capciosas ou falsas, que eram atribu-
ídas àqueles jurisconsultos".3 
Tal estado de coisas mostrou a necessidade de ser reunido todo o ma-
terial esparso; as leges e os iura deveriam ser compilados em volumes es-
pecíficos para mais fácil consulta e manuseio. Surgiram, desta forma, os 
primeiros códigos (codex ou códices), que nada mais eram do que um con-
junto de cadernos costurados, os primeiros embriões dos livros tal como 
hoje os conhecemos. 
4.1 Codificações pré-justinianéias 
4.1.1 Codificações particulares 
Algumas codificações surgiram de iniciativa particular e continham 
tanto as leges como os jura. São elas: 
• Fragmenta Vaticano (Fragmentos do Vaticano) 
• Collatio legum mosaicarum et romanarum 
• Livro de direito siro-romano 
• Consultado veteris cuiusdam jurisconsulti 
• Código Gregoriano (Codex Gregorianus) 
• Código Hermogejniano (Codex Hermogenianus) 
4.1.1.1 Fragmenta Vaticana 
Essa compilação particular é conhecida como "Fragmentos do Vati-
cano" porque foi encontrada pelo cardeal Angelo Maio, em 1821, nas bi-
bliotecas do Vaticano. Em ordem cronológica contém, além de leis e cons-
tituições imperiais, diversos pareceres de jurisconsultos que se destacaram 
no Direito Romano, tais como Paulo, Papiniano e Ulpiano. 
4.1.1.2 Collatio legum mosaicarum et romanarum (Comparação das 
leis romanas e mosaicas) 
Essa compilação, também conhecida por Lex Dei (a Lei de Deus) é 
datada de 313 d.C. e traça um paralelo entre os ensinamentos do Direito 
< 3 ) MOREIRA ALVES, José Carlos. Ob. cit., p. 44. 
88 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Romano e os ensinamentos contidos na Bíblia hebraica (Lei Mosaica). 
Contém trechos de Papiniano, Gaio, Ulpiano, Paulo e Modestino e algu-
mas constituições imperiais. 
4.1.1.3 Livro de direito siro-romano 
Trata-se de um manual de Direito Romano que teve grande aceitação 
na Síria, Armênia e Etiópia. Foi escrito por autor desconhecido, provavel-
mente entre os anos 476 e 480 da era cristã, e contém constituições imperi-
ais de Constantino, Teodósio e fragmentos doutrinários de Ulpiano. 
4.1.1.4 Consultatio veteris cuiusdam jurisconsulto (Repertório de 
consultas dadas por um antigo jurisconsulto) 
Contém uma série de consultas feitas a um jurisconsulto romano des-
conhecido que teria vivido na Gália, provavelmente no século V ou VI. 
Além de seus ensinamentos, contém fragmentos de citações de Paulo e tre-
chos dos Códigos Hermogeniano, Teodosiano e Gregoriano. 
4.1.1.5 Código Gregoriano (Codex Gregorianus) 
O Código Gregoriano foi compilado pelo jurista Gregório, provavel-
mente no ano 291 d.C. É dividido em quinze livros e contém todas as cons-
tituições imperiais promulgadas de 196 d.C. (épocado imperador Adriano) 
até o ano de 291 d.C, ordenadas cronologicamente. 
4.1.1.6 Código Hermogeniano (Codex Hermogenianus) 
Foi elaborado por Hermógenes em 295 d.C. e é um complemento do 
Código Gregoriano. É composto de um só livro contendo as constituições 
promulgadas por Diocleciano, nos anos 293 e 294 da era cristã. 
4.1.2 Codificações oficiais 
• Código Teodosiano (Codex Theodosianus) 
• Leis romanas "bárbaras": 
- Lex Romana Visigothorum ou Breviarium Alaricianum 
- Lex Romana Burgundionum 
- Edictum Theodorici 
O DIREITO C O D I F I C A D O 89 
4.1.2.1 Código Teodosiano (Codex Theodosianus) 
Foi o primeiro código de direito considerado oficial, uma vez que sua 
elaboração foi ordenada pelo imperador Teodósio II. Contém todas as cons-
tituições imperiais promulgadas a partir de Constantino até a época de 
Teodósio II. Reúne dispositivos de direito civil, administrativo, penal, as-
suntos eclesiásticos e militares, direito fiscal, normas processuais etc. Foi 
promulgado em 15 de fevereiro de 438 d.C. 
4.1.2.2 Leis romanas "bárbaras" 
São assim denominadas as leis promulgadas pelos imperadores "bár-
baros" que a partir do ano 476 d.C. dominaram o Império Romano do Oci-
dente. Roma foi invadida diversas vezes por povos de origem germânica 
(visigodos, ostrogodos etc), cada qual trazendo sua tradição, sua cultura e 
seu sistema jurídico. Alguns dos invasores pretenderam impor a obediên-
cia das próprias leis e costumes ao povo conquistado. No entanto, em con-
fronto com os sólidos princípios do ordenamento jurídico romano, acon-
teceu exatamente o contrário: foram seus próprios direitos que receberam 
a influência do Direito Romano. 
A maioria dos povos invasores, contudo, adotou o denominado "sis-
tema de personalidade das leis", pelo qual os "bárbaros" continuavam, na 
região conquistada, a ser regidos pelas suas próprias leis e costumes, en-
quanto o povo vencido continuava a serregido pelo seu próprio direito local, 
no caso, o Direito Romano. Assim aconteceu na Espanha, no sul da Fran-
ça, Itália e Portugal. 
A aplicação do "sistema de personalidade da lei" e o fato de os juízes 
desconhecerem totalmente as regras do Direito Romano fez com que surgis-
se a necessidade de uma compilação da legislação romana que vigorava na-
quelas regiões conquistadas. Surgiram, então, as denominadas leis romanas 
"bárbaras", uma vez que foram codificadas pelos governos invasores. 
Dentre elas destacam-se: 
a) Lex Romana Visigothorum (Lei Romana dos Visigodos), também 
conhecida por Breviário de Alarico ou Breviário Alariciano - Em 476 
Alarico II, imperador visigodo, nomeou uma comissão de jurisconsultos 
romanos, chefiada por Gojarico, com a finalidade de codificar as leis (leges) 
e a jurisprudência romanas (jura) até então existentes. 4 Surgiu, assim, a 
( 4 ) "Há necessidade de sistematizar as leis, dar-lhes mais clareza e afastar a obscu-
ridade do direito antigo." Trecho do commonitorium, ou seja, a introdução aos 
trabalhos da comissão que elaborou a Lex Romana Visigothorum. 
90 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Lex Romana Visigothorum, também conhecida por Breviário de Alarico 
em homenagem ao imperador visigodo. Essa lei foi promulgada em Aire, 
na Gasconha, em 506 da era cristã, e continha trechos dos Códigos Teodo-
siano, Hermogeniano, Gregoriano, das Sentenças de Paulo, de Papiniano, 
e das Instituías de Gaio. 
A Lei Romana dos Visigodos vigorou em toda a região conquistada 
pelos visigodos - sul da França, Espanhae Portugal -, que ali permanece-
ram por mais de quatrocentos anos, deixando raízes profundas. Pode-se, 
portanto, afirmar que, de forma indireta, alguns dos ensinamentos nela 
contidos vieram a vigorar no Brasil, muitos anos depois, embutidos nas leis 
portuguesas de então, as denominadas Ordenações do Reino. 
b) LexRomana Burgundionum (Lei Romana dos Burgúndios) -O povo 
Burgúndio conquistou parte do Império Romano que compreendia o leste 
da França e parte da atual Suíça. Em 517 d.C., por ordem do rei Gondebaldo, 
foi elaborada essa compilação oficial, que, a exemplo do Breviário de 
Alarico, continha trechos dos Códigos Gregoriano e Teodosiano, das Sen-
tenças de Paulo e das Instituías de Gaio, tudo isso mesclado com princí-
pios do direito burgúndio. 
c) Édito de Teodorico (Edictum Theodorici) - No ano 500 d.C, Teo-
dorico, imperador dos ostrogodos, logo após ter conquistado a Península 
Itálica, resolveu fazer uma codificação do Direito Romano, determinando 
que ele deveria ser obedecido tanto pelos ostrogodos como pelos romanos. 
Conhecida como Edictum Theodorici, essa compilação era também alicer-
çada nos Códigos Gregoriano, Teodosiano, nas Sentenças de Paulo e num 
trabalho de Ulpiano intitulado De officio proconsulis. Esse Código vigo-
rou até o ano 554 d.C. na Península Itálica, quando o imperador romano 
Justiniano logrou expulsar os ostrogodos da região. 
4.2 Codificação justinianéia 
Justiniano, cujo nome era Upranda, nasceu aos 11 de maio de 483 d.C, 
na pequena aldeia de Tauresium, situada nas fronteiras da Ilíria e da Trácia. 
Filho de camponeses, teve infância e adolescência obscuras até que seu tio 
Justino tornou-se o imperador romano do Oriente. Sem filhos, esse impe-
rador fez do sobrinho o seu herdeiro e, em 1.° de agosto de 527 d .C, 
Justiniano sucedeu ao tio como imperador do Império Romano do Orien-
te, permanecendo no cargo por 38 anos, até o ano 565 da era cristã. 
Enquanto a parte ocidental do Império desaparecia em meio às inva-
sões dos povos estrangeiros, Justiniano fortaleceu o Império Romano do 
Oriente, estruturou o seu governo, enfrentou os invasores e determinou a 
O DIREITO C O D I F I C A D O 91 
elaboração da mais famosa codificação do Direito Romano, o Corpus Juris 
Civilis. 
4.2.1 O Corpus Juris Civilis 
Em 528 d.C. Justiniano formou uma comissão de dez juristas com a 
finalidade de, numa primeira etapa, elaborarem uma compilação de todas 
as leis (leges) ou direito novo (jus novus), leis e constituições imperiais mais 
importantes, e, ao depois, apresentarem uma codificação conjunta de todo 
o Direito Romano, contendo tanto as leges como os jura (direito velho), 
ou seja, os ensinamentos, doutrinas e jurisprudência até então existentes e 
espalhados pelos quatro cantos do Império. 
Os trabalhos da comissão começaram no ano de 528 e continuaram até 
o ano 533 d.C, com a apresentação da maior obra de Direito Romano até 
então existente: o Corpus Juris Civilis.5 
"A codificação justinianéia tinha que substituir e substituiu todos os 
antigos livros de direito, tanto na literatura como na legislação. Deste modo, 
Justiniano esperava tornar o direito uniforme em todo o Império, fazendo 
desaparecer a massa dispersa de material jurídico, que havia causado tanta 
confusão". 6 
O Corpus Juris Civilis é assim dividido: 
• Novus Justinianus Codex ou Codex Vetus (528-529) 
• Quinquaginta decisiones 
• Digesto ou Pandectas (530-533) 
• Instituías (533) 
• Codex Justinianus repeíiíae praelecíionis (534) 
• Novelas (534-565) 
4.2.1.1 O novo Código de Justiniano ou Codex Vetus (Código Velho) 
Essa obra, primeira etapa dos trabalhos da comissão presidida por 
Triboniano, é constituída por doze livros contendo as leges, isto é, todas as 
leis e constituições imperiais anteriores a Justiniano, desde os primórdios 
( 5 ) A denominação Corpus Juris Civilis (Código de Direito Civil) foi dada pelo 
romanista francês Dionísio Godofredo, em 1583. 
( 6 ) CRUZ, Sebastião. Direito romano (ius romanum). Introdução. Fontes. 4. ed. 
Coimbra, 1984. p . 4 5 3 . 
92 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
do Direito Romano e já contidas nos códigos anteriores, notadamente no 
então desatualizado Código Teodosiano. Foi elaborado por uma comissão 
composta por dez membros, dentre os quais se destacaram Triboniano, seu 
presidente, Teófilo, professor da escola de direito de Constantinopla, e 
Leôncio, professor da escola de direito de Berito. "Esse novo código devia 
distinguir-se do (código) Teodosiano, composto exclusivamente de leges 
generales, não só pelo seu caráter mais moderno, mas sobretudo por duas 
razões especiais: a) nele deveriam figurar as matérias dos Códigos Grego-
riano e Hermogeniano, e, portanto, conter também leges speciales; b) dele 
seriam excluídas todas as constituições já não vigentes, porque, explicita-
mente ou só implicitamente, tinham sido abolidas por constituições poste-
riores." 7 
Os trabalhos foram concluídos em 528, tendo o código sido promul-
gado por Justiniano em abril de 529. E ele também conhecido como Codex 
Vetus (Código Velho), pois foi revisado quatro anos depois e substituído 
por outro, então denominado Código Novo. 
4.2.1.2 Quinquaginta decisiones (Cinqüenta decisões) 
Enquanto os membros da comissão de trabalho desenvolviam seus tra-
balhos de compilação, Justiniano continuou a legislar, tendo sancionado 
nesse período cerca de cinqüenta novas constituições imperiais, que fo-
ram reunidas provisoriamente nessa coleção denominada quinquaginta 
decisiones, publicada no ano 530 d.C. 
4.2.1.3 O Digesto ou Pandectas 
Para a consecução dessa segunda e maior etapa dos trabalhos da 
Codificação Justinianéia foi constituída uma outra comissão, no ano 530, 
composta de dezesseis juristas, também presidida por Triboniano, que, aos 
16 de dezembro de 533, concluiu os trabalhos com a apresentação do 
Digesto ou Pandectas* 
( 7 ) CRUZ, Sebastião. Direito romano..., p. 444. 
< 8 ) O imperador Justiniano encarrega Triboniano de organizar o Digesto: "O impe-
rador César Flávio Justiniano Pio, Feliz, Célebre, Conquistador e Triunfador, 
sempre Augusto, a Triboniano seu questor, saúde. 1 - . . . atendendo a que não se 
pode encontrar em todas as coisas nada tão digno de respeito como a autoridade 
da lei decretada (...) e embora nós encontremos todo o curso de nossos estatutos 
assim como vieram desde a fundação da cidade de Roma e desde os dias de 
Rómulo, num estado de confusão que alcança uma dimensão infinita e ultrapas-
O DIREITO C O D I F I C A D O 93 
O Digesto é composto de 50 livros que contêm uma compilação de todos 
os jura, ou seja, codificação de toda a jurisprudência antiga do Direito 
Romano, existente desde o fim da República, no ano 27 a.C, até a época de 
Justiniano. 9 
Foram consultados cerca de 1.625 livros e lidos cerca de três milhões 
de linhas. Foi escrito em latim e grego, daí a dupla denominação, Digesto 
ou Pandectas (Digesto, do latim digerere, que significa pôr em ordem, e 
Pandectas, do grego pandékoma, que significa "recolho tudo"). 
4.2.1.4 As Instituías ou Institutiones 
Trata-se de um manual para os estudantes da escola de direito de Con-
stantinopla, contendo um resumo das principais leges e jura. Foram 
dedicadas "à juventude desejosa de estudar leis" (cupidae legum juventud) 
e publicadas, com força de lei, em 30 de dezembro de 533. 1 0 
sa os limites de toda a capacidade humana (...) é nosso primeiro desejo começar 
com os mais sagrados imperadores dos velhos tempos, corrigir os seus estatutos 
e colocá-los numa ordem clara, de tal maneira que possam ser coligidos num só 
livro; e, sendo expurgados de todas as repetições supérfluas e da maior parte das 
iníquas discordâncias, possam oferecer a todo o género humano o completo re-
curso do seu caráter íntegro. (...) 3 - (assim sendo) Encarregamo-vos (Triboniano) 
antes de qualquer outro, deste trabalho adicional (...) e ordenamo-vos que escolhais 
como companheiros no vosso trabalho quem quer que penseis servir de entreo 
número dos competentes professores como de entre os mais eloqüentes homens 
de toga do foro, homens da mais honrosa posição. As pessoas acima, tendo sido 
reunidas e tendo sido apresentadas no nosso palácio e favoravelmente aceites 
por nós ao abrigo do vosso testemunho, encarregamo-las da execução de todo o 
plano, estando todavia entendido que tudo será organizado sob a orientação do 
vosso muito avisado espírito (...). Justiniano. (The digest of Justinian. Trad. in-
glesa de CH. H. Monro. Cambridge: University Press, 1009. Apud PEDRERO-
SÁNCHEZ, Maria Guadalupe, História da idade média, textos e testemunhas. 
São Paulo: Unesp, 2000. p. 50. 
( 9 ) Segundo BLUHME, citado por Sebastião Cruz (ob. cit., p. 469), a matéria conti-
da em cada título do Digesto está dividida em quatro grupos ou massas (Teoria 
das Massas): a) grupo sabiniano (que contém material retirado do antigojus civile 
romano); b) grupo edictal (contendo fragmentos do direito pretoriano ou direito 
honorário); c) grupo papiniano ou grupo da casuística, que contém fragmentos 
de obras de Papiniano; e d) appendix ou varia, que contém fragmentos de doze 
outras obras secundárias. 
do) p r o e m ¡ 0 , r a s instituías ou Institutiones de Justiniano: "Em nome de Nosso Se-
nhor Jesus Cristo. À juventude ávida(doestudodasleis),oImperadorCésaiT ; lávio 
94 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
4.2.1.5 O Código novo (Codex Justinianus repetitae praelectionis) 
Durante os trabalhos de compilação do Digesto e das Instituías ficou 
constatada a desatualização do primeiro Código de Justiniano - o Código 
Velho. Com o intuito de sanar essas irregularidades, Justiniano houve por 
bem determinar a organização de um outro código atualizado, surgindo, 
então, o Codex repeíiiae praelectionis ou Código Novo, como é chamado. 
Ele é, portanto,uma reedição do Novus Justinianus Codex (Código Veíus) 
publicado em 529 d.C. 
4.2.1.6 As Novelas 
As novelas contêm as leis (constituições imperiais) promulgadas di-
retamente por Justiniano, após a promulgação do Digesío. Foram redigidas 
em grego e latim. 
Justiniano, Alamânico, Gótico, Frâncico, Germânico, Antico, Alânico, Vandá-
lico, Africano, Pio, Feliz, ínclito, Vitorioso e Triunfador, sempre Augusto. (...) 
Convocados o magnífico Triboniano, mestre e ex-questor do nosso sacro palá-
cio, com os varões ilustres Teófilo e Doroteu, nossos antecessores (dos quais já 
conhecemos, entre muitas coisas, a habilidade, a ciência das leis e a fidelidade às 
nossas ordens), ordenamos-lhes especialmente que compusessem sob a nossa 
autoridade e os nossos conselhos, as Institutiones, para que vos seja possível 
discernir as fontes primeiras das leis, não pelas antigas fábulas mas através do 
esplendor imperial; (...) Portanto, depois dos cinqüenta livros das Digesta ou 
Pandectas, nos quais todo o direito antigo está coligido e que fizemos graças ao 
mesmo excelso varão Triboniano e aos outros homens ilustres e fecundidíssimos, 
ordenamos que as mesmas Institutiones fossem divididas em quatro livros para 
que se tornassem os primeiros elementos de toda a legítima ciência. (...) Nos quais 
(livros) se expõe com brevidade tanto o que anteriormente se conhecia como o 
que posteriormente, ensombrecido pelo desuso, foi pela decisão imperial ilumi-
nado. (...) 6 - O s quais (livros), formados por todas as antigas Instituições e prin-
cipalmente pelos comentários de nosso Gaio, tanto os das Institutiones como os 
das coisas quotidianas e de outros muitos comentários, foram-nos apresentados 
pelos supraditos varões prudentes. Lemos, tomamos conhecimento e concede-
mos-lhes a força das nossas Constituições mais plenas. 7 - Aceitai, pois, estas 
nossas leis com a maior diligência e o mais cuidadoso estudo e mostrai-vos de tal 
forma eruditos que vos favoreça a belíssima esperança de, uma vez completado 
todo o vosso estudo das leis, poderdes também governar a nossa república nas partes 
que vos forem confiadas. Dado em Constantinopla, no undécimo dia das Calendas 
de dezembro, no terceiro consulado do Divino Justiniano, Pai da Pátria, Augusto" 
(em The institutes de Justinian. 7. ed. Trad. inglesa com introdução e notas de T. C. 
Sandars. London, 1883 - apud Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, ob. cit., p. 52. 
O DIREITO C O D I F I C A D O 95 
O Corpus Juris Civilis permaneceu vigindo no Império Romano do 
Oriente até 1453. No Ocidente, contudo, permaneceu completamente des-
conhecido durante quase toda a Idade Média, escondido em bibliotecas 
empoeiradas de alguns mosteiros. 
4.3 As grandes invasões 
A partir de meados do século IV da nossa era as crises internas do Im-
pério Romano se viram agravadas pela intensa atividade dos denomina-
dos povos "bárbaros" junto às fronteiras, notadamente nas situadas ao norte 
e leste da Europa. 
Visando a fortalecer o império, o imperador Teodósio I (379-395) re-
solveu desmembrá-lo, novamente, em duas partes - Império Romano do 
Oriente e Império Romano do Ocidente - e, tentando contemporizar com 
os godos, que ameaçavam as fronteiras do norte, permitiu que eles se fi-
xassem em território romano e que soldados godos passassem a fazer parte 
do exército romano; algum tempo depois, um grande número de "bárba-
ros" já estava ocupando os mais altos escalões nas legiões, romanas e mui-
tos dos cargos públicos na administração do Império. Tal fato acarretou 
um debilitamento do sentimento patriótico que antes unia os exércitos ro-
manos, enfraquecendo as legiões, que passaram a lutar sem a mesma dedi-
cação e valentia de antigamente. 
O povo romano também estava descontente, tanto pelos aumentos 
exorbitantes de impostos como pela crescente inflação e escandalosa de-
sorganização administrativa. A situação chegou a tal ponto que os própri-
os romanos, espoliados e sofridos, passaram a ansiar pela invasão de ou-
tros povos na esperança de que a situação melhorasse. 
No ano de 401 d.C. os visigodos venceram as enfraquecidas legiões 
romanas e invadiram o norte da Itália, chegando a Milão e Verona. Em 406 
os burgúndios conquistaram parte da Gália. Em 416 e 418 os visigodos 
conquistaram a Península Ibérica e os vândalos se fixaram na Espanha e na 
África. Em 476 os hérulos, comandados por Odoacro, depuseram Rómulo 
Augustulus, o último imperador romano do Ocidente. 
O DIREITO ROMANO 
PÓS-CLÁSSICO (476 a 1453 d .C. ) 
SUMÁRIO: 5.1 A Idade M e d i a n o Império Romano do Oriente: 5.1.1 O 
direito justinianeu e o direito bizantino; 5.1.2 Paráfrase de Teófilo (Para-
phrasis Institutionum); 5.1.3 Egloga legum compendiaria; 5.1.4 As Basí-
licas - 5.2 A Idade Média no Ocidente: 5.2.1 A decadência do Direito Ro-
mano; 5.2.2 O direito medieval: o costume do feudo; 5.2.3 A influência da 
Igreja. 
5.1 A Idade Média no Império Romano do Oriente 
5.1.1 O direito justinianeu e o direito bizantino 
Após a queda de Roma em 476 d.C. e o conseqüente esfacelamento da 
parte ocidental do império, o Império Romano do Oriente, com sede em 
Constantinopla, se manteve ainda coeso e forte até 1453, quando foi inva-
dida pelos turcos. Até essa data o Direito Romano continuou a ser o único 
direito aplicado em todo o Império bizantino. Os seus princípios básicos, 
suas doutrinas e ensinamentos (jura) e todas as suas leis e constituições 
(leges) estavam contidos no Corpus Juris Civilis compilado por Justinia-
no, e tinham vigência obrigatória em toda a região abrangida pelo Império 
Romano do Oriente. 
Sempre existiram profundas diferenças socioculturais entre Roma e 
Constantinopla, apesar de constituírem um império único e sob um só go-
verno. Os usos e os costumes eram distintos e divergentes, os conceitos 
religiosos se chocavam frontalmente e cada povo se expressava em língua 
diferente: o grego era o idioma principal na parte oriental e o latim a língua 
falada no Ocidente. O ordenamento jurídico a reger os destinos de todo o 
Império, no entanto, tanto na parte ocidental como na oriental, sempre foi 
o Direito Romano, em que pesem as diferenças que havia entre os povos.O DIREITO R O M A N O P Ó S - C L Á S S I C O 97 
O direito que vigorava no Império Romano do Oriente, entretanto, foi 
paulatinamente sendo adaptado às influências e peculiaridades culturais 
da região, resultando no denominado direito bizantino que vigorou após a 
morte de Justiniano em 565, e que perdurou até a conquista de Constanti-
nopla em 1465. Já não era mais aquele Direito Romano clássico autêntico, 
mas uma modalidade dele, acentuada pelas peculiaridades da vida orien-
tal, "um direito que representa uma evolução do direito justinianeu, no qual 
se acentuam, decisivamente, as influências orientais".1 
Com o passar do tempo, as normas tipicamente romanas contidas no 
Corpus Júris Civilis foram sendo ultrapassadas pelas concepções socio-
políticas daquela época e região: "No Corpus Júris Civilis havia normas 
de direito romano clássico em desuso ao lado de preceitos jurídicos vigen-
tes" 2 e o Digesto, especificamente, era muito extenso e de difícil compre-
ensão, o que tornava enfadonho e complicado o seu estudo. 
Por esses motivos, após a morte de Justiniano o texto original do Corpus 
Júris Civilis começou a ser simplificado e adaptado às conveniências da 
época bizantina, tendo surgido, então, os denominados índices e comentá-
rios a respeito de seu conteúdo, dentre os quais se destacam: 
5.1.2 Paráfrase de Teófilo (Paraphrasis Institutionum) 
Trata-se uma tradução comentada, em grego, das Instituías de Justi-
niano. 
5.7.3 Egloga legum compendiaria 
Trata-se de uma compilação abreviada e mais acessível da legislação 
j ustinianéia, determinada pelo imperador Leão e publicada no ano 740 d.C. 
5.1.4 As Basílicas 
Basílio, que foi imperador da Macedónia no período de 867 a 886, pre-
tendendo atualizar o Corpus Júris Civilis e expurgá-lo das normas e prin-
cípios em desuso, determinou uma compilação nesse sentido. Seu filho 
Leão, cognominado "o Filósofo", terminou o trabalho, denominando-o 
Basílicas em homenagem ao pai. Essa obra é composta de 60 livros escri-
tos em grego e reproduzem trechos do Código de Justiniano, das Insliluías, 
"> MOREIRA ALVES, José Carlos. Ob. cit., p. 56. 
( 2 ) Idem. Ob. cit., p. 57. 
98 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
do Digesto e das Novelas. As Basílicas tiveram grande repercussão no 
Império Bizantino, notadamente em fins do século X. Posteriormente sur-
giram os Escólios, que eram comentários ao texto original das Basílicas. 
O Direito Romano contido no Corpus Júris Civilis, portanto, parcial-
mente modificado na modalidade de direito bizantino ou direito justinia-
neu, vigorou em todo o Império Romano do Oriente até a queda de sua 
capital, Constantinopla, diante dos turcos, no dia 29 de maio de 1453, data 
que se convencionou fixar como o fim da Idade Média e início da denomi-
nada Idade Moderna. 
Por um paradoxo da História, entretanto, durante todos os longos anos 
da Idade Média o Corpus Júris Civilis não exerceu qualquer influência sobre 
o direito feudal, consuetudinário e rudimentar, que então vigorava na Eu-
ropa ocidental; esse importante documento jurídico permaneceu esqueci-
do numa estante empoeirada de algum mosteiro cristão durante séculos. 
"E um paradoxo que a obra de Justiniano, que estaria destinada a exercer 
maior influência na Europa ocidental - o Digesto ou Pandectas - nunca 
estivesse estado vigente no Ocidente e tivesse permanecido tantos séculos 
praticamente desconhecida até o século XI", comenta a respeito Sebastião 
Cruz. 3 
5.2 A Idade Média no Ocidente 
5.2.1 A decadência do Direito Romano 
Nos últimos séculos do Império Romano do Ocidente, as conseqüên-
cias da decadência de suas instituições políticas também se fizeram sentir 
em seu sistema jurídico. O Direito Romano, que tinha alcançado seu maior 
esplendor na época do Principado, foi aos poucos sendo vulgarizado, mes-
clando-se com os usos e costumes dos povos invasores. Os jurisconsultos, 
extremamente fecundos nos séculos II e III, foram escasseando e deixando 
de ter importância durante o Dominato, e a decadência do ensino do direi-
to se fez sentir em todo o império. Os últimos grandes juristas dessa época 
foram Papiniano, Ulpiano e Paulo, que assessoraram os imperadores nos 
assuntos jurídicos e na elaboração de leis. 4 Além deles, nenhum outro ju-
rista se projetou, contentando-se os que os sucederam em repetir os ensi-
< 3 ) CRUZ, Sebastião. Direito romano (Ius romanum), p. 97, citando H. J. Wolff. 
Introducción histórica al derecho romano. 
< 4 ) Papiniano foi assassinado, por ordem do imperador Caracala, em 212 d . C , e 
Ulpiano foi assassinado em 224 d.C. pelos soldados pretorianos. 
O DIREITO R O M A N O P Ó S - C L Á S S I C O 99 
namentos de seus antecessores. Faltava-lhes, no entanto, a autoridade 
(auctoritas) dos grandes jurisconsultos de épocas passadas. 
Nesse contexto foram se confundindo a precisão e o rigor dos concei-
tos e instituições do direito romano clássico. Tornou-se ele um "direito 
vulgar", corrompido, nascido da mistura dos mais diversos e esdrúxulos 
sistemas jurídicos trazidos por povos estrangeiros, culturalmente inferio-
res direito romano. 5 
5.2.1.1 O desvirtuamento do latim clássico 
O latim sempre foi o veículo oficial do governo, do povo e do Direito 
Romano. A partir do século II da era cristã, entretanto, a língua latina co-
meçou a sofrer profundas alterações. A declinação das palavras deixou de 
existir e não era mais obedecida a ordem indireta como antigamente. O 
permanente contacto com idiomas estrangeiros fez com que o povo roma-
no, na sua grande maioria, passasse a falar um latim vulgar, mesclado de 
vocábulos oriundos de línguas e dialetos estranhos. O latim clássico ainda 
existia, mas era falado cada vez mais raramente, figurando somente em 
documentos oficiais. "Uma nova língua ia tomando forma, algo obscura-
mente, no seio do povo, a qual, contudo causava horror às pessoas cultas 
que, sendo cada vez mais raras eram, consequentemente mais exigentes".6 
A decadência da língua latina chegou a tal ponto que o comandante 
romano Syagrius, à frente do exército romano na região do Vale do Loire, 
dirigia-se a sua tropa "romana" falando alemão! 7 
< 5 ) A. Santos Justo aponta, também, como causas da corrupção do Direito Romano 
clássico, além da decadência da jurisprudencia, os Volksrechte (a aplicação de 
direitos locais, consuetudinários, tecnicamente inferiores ao direito romano); o 
Provinzialrecht (a adaptação do Direito Romano às especiais condições de apli-
cação da just iça de cada uma das diversas províncias romanas); os direitos 
germânicos (primitivas formas de aplicação de justiça existentes nesses direi-
tos, tais como os "juízos de Deus" e os "ordálios"); o naturalismo (aplicação de 
princípios de direito natural não elaborados juridicamente); o utilitarismo (pre-
domínio do aspecto prático sobre o aspecto lógico e a desordem na exposição 
das matérias); o escolasticismo (verbosidade retórica no ensino do direito); o 
cristianismo (com o abrandamento de inúmeros conceitos rígidos do Direito 
Romano); o surgimento do direito codificado e o intervencionismo estatal no 
âmbito fiscal (confusão de conceitos e de institutos relativos a impostos). Fases 
do desenvolvimento do direito romano. Coimbra, 1994, p. 32. 
( 6 ) LOT, Ferdinand. Ob. cit., p. 404. 
< 7 ) Idem. Ob. cit., p. 403. 
100 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
5.2.1.2 O Direito Romano e o direito "bárbaro " 
Com as invasões dos "bárbaros" no século V, e o conseqüente desapa-
recimento do Império Romano do Ocidente, o choque entre o Direito Ro-
mano e os demais direitos dos povos invasores foi inevitável. 
Cada povo invasor trazia consigo o próprio direito, geralmente rudi-
mentar, não escrito, transmitido oralmente de geração a geração e funda-
mentado unicamente em seus costumes ancestrais. "Eram direitos rudimen-
tares, eivados de superstição e atrelados a um temor irracional das forças 
divinas." 8 
Quando num mesmo território coabitam duas populações com siste-
mas jurídicos diferentes,ensina-nos John Gilissen, duas soluções são teo-
ricamente possíveis: ou o vencedor impõe o próprio direito ao povo venci-
do ou, (por ser culturalmente inferior ou por conveniência), aceita que o 
povo vencido continue a viver segundo o direito próprio (sistema da per-
sonalidade das leis), convivendo, vencidos e vencedores, cada qual com 
seu próprio sistema jurídico. 
O direito trazido pelos povos germânicos invasores era consuetudiná-
rio, não escrito, e restringia-se a considerar a pessoa como indivíduo isola-
do, sem levar em conta a sua condição de membro da sociedade, ou seja, a 
pessoa era regida pelas leis de sua nacionalidade, independentemente do 
lugar onde estivesse. "Possuem os invasores uma concepção do direito 
diversa da dos romanos. Os direitos entre os povos teutónicos adscrevem-
se aos indivíduos, como pessoas, sem tomar em conta a sua condição de 
membros do Estado; o direito faz parte de sua personalidade e acompanha-
o onde quer que seja, sem que se modifique na sua essência e sem que se 
possa abandoná-la."9 
O Direito Romano, escrito, com princípios e instituições racionais, 
muito melhor estruturado que os demais, continuou a ser observado na 
( 8 ) Apenas alguns poucos textos escritos dessa época são conhecidos, tais como a 
Lex Sálica, Lex Alamanorum, Lex Frisionum, mas "essas leges não são verda-
deiros códigos, longe disso; não são sequer leis, no sentido atual do termo; são 
mais registros escritos de certas regras jurídicas, com origem no costume pró-
prio deste ou daquele povo. São compilações muito incompletas, espécie de 
manuais oficiais para uso dos agentes da autoridade e dos membros dos Tribu-
nais". GILISSEN, John. Introdução..., p. 172. 
&) GETTEL, Raymond G. História das idéias políticas, p. 123, apud Walter Vieira 
do Nascimento, Lições de história do direito, 5. ed., Rio de Janeiro : Forense, 
1990, p. 175. 
O DIREITO R O M A N O P Ó S - C L Á S S I C O 101 
íntegra pelos povos mais romanizados, tais como os que habitavam a re-
gião das penínsulas Ibérica e Itálica, assim como os do centro-sul da Fran-
ça, do sudoeste da Alemanha, da Suíça e da Áustria. Esses povos continu-
aram a viver secundum legem romanam ainda durante vários séculos. 
Exemplo dessa coexistência pacífica entre o Direito Romano e o di-
reito dos povos invasores ocorreu nas regiões da Península Ibérica e nas 
situadas ao sul da França. Na Espanha e Portugal, Alarico, rei dos visigodos, 
não impôs a observância de seu direito aos povos conquistados mas publi-
cou a Lex Romana Visigothorum (Breviário de Alarico) para observância 
específica pelo povo romano vencido. A população visigoda continuou a 
ser regida pelas leis e costumes próprios. Na Borgonha, sul da França, com 
a Lex Romana Burgundionum, promulgada por Gondebaldo, ena Itália, com 
o Edito de Teodorico - ambas eminentemente romanas - ocorreu o mesmo 
fenômeno. Os romanos, embora submetidos ao domínio dos invasores, 
continuaram a ser regidos pelo Direito Romano compilado nessas leis "bár-
baras" (sistema da personalidade das leis). 
O mesmo não ocorreu nas regiões situadas mais ao norte da Europa, 
menos romanizadas, tais como as do norte da França, norte da Alemanha, 
Inglaterra etc. Lá, o direito não escrito e consuetudinário trazido pelos povos 
invasores foi aos poucos sobrepujando o Direito Romano, que paulatina-
mente foi sendo esquecido em toda a região. "Esta fronteira (norte-sul) que 
separava os povos romanizados marcará na Idade Média e nos tempos 
modernos a separação entre os 'países de direito consuetudinário', mais 
influenciados pelo direito germânico, e os 'países do direito escrito', que 
permaneceram sob a influência romana." 1 0 
5.2.1.3 Tentativa de Justiniano 
Em 5 3 3 d.C. o imperador Justiniano, do Império Romano do Oriente, 
ainda tentou salvar a parte ocidental do império, reconquistando as terras 
invadidas pelos "bárbaros", e conseguiu expulsar os invasores do norte da 
África, da Sardenha, Sicília, da Itália e das costas da Espanha. De imedia-
to, obrigou a observância do Direito Romano em toda aquela região recon-
quistada, proibindo terminantemente a vigência de qualquer outro orde-
namento jurídico estrangeiro. Esse domínio bizantino no ocidente, no cu 
tanto, durou pouco. Três anos após a morte de Justiniano a Iláli;i foi 111 IVI 
mente invadida, desta feita pelos Longobardos. A pari ir de cnlao, divn -
<10> GILISSEN,John .Ob .c i t . , p . 168. 
102 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
pequenos países foram se formando no que restara do antigo Império Ro-
mano do Ocidente. 
5.2.2 direito medieval: o costume do feudo 
Na época medieval a atividade legislativa desapareceu no Ocidente. 
Os reis, distantes da vida dos feudos, não eram mais capazes de adminis-
trar diretamente os destinos de seus súditos e o poder de ditar normas de 
conduta e de punir os infratores passou a ser dos suseranos, 
agora senhores supremos em suas terras. "Embora (o rei) esteja no topo da 
hierarquia feudal, não tem muito poder sobre ela; a maior parte do reino 
está nas mãos dos grandes senhores, tais como o conde de Flandres, o du-
que da Normandia, o conde poder está desmembrado 
em benefício desses grandes vassalos. próprio judicial passou das 
mãos do rei para a dos seus vassalos e 
 Direito Romano foi sendo esquecido em toda a região e sendo subs-
tituído pelas normas nascidas do costume de cada povo invasor. Nada mais 
era escrito, nem mesmo as decisões dos juízes ou cláusulas dos contratos 
de venda e compra ou de transmissão de direitos de propriedade. "direi-
to" que passou então a vigorar era o do costume do 
Os costumes dos feudos variavam de aldeia para aldeia, e como havia 
uma infinidade delas, existia também uma infinidade de conceitos do que 
era justo ou injusto, fazendo com que o direito fosse aplicado diferente-
mente em cada região. Na Inglaterra, por volta de foi costume (e di-
reito) que as mulheres só podiam se casar após o consentimento do suserano 
(além de terem de passar a primeira noite com ele). As viúvas que preten-
dessem continuar no estado de viuvez deveriam pagar elevadas multas ao 
senhor das "Alice, condessa de Warwick, presta contas de li-
bras e palafréns para que lhe seja permitido continuar viúva por tanto 
tempo quanto o desejar, e não ser obrigada a casar pela vontade do 
Todos os feudos eram divididos em duas partes: uma área maior de 
terras para uso exclusivo do senhor ou suserano e uma outra, menor, que 
era distribuída aos servos, na forma de "arrendamento". Por esse 
 GILISSEN, John. Ob. p. 190. 
 único direito escrito que existia na época era o direito (direito da Igreja), 
mas regulamentando apenas as relações entre os eclesiásticos. 
 of original of history. IV, 
 III, p. 22 (Departamento de História da Universidade de Pensilvânia, 
 DIREITO R O M A N O 103 
 eles recebiam um "título de posse", que era transmitido a seus her-
deiros. 
Os servos dependiam totalmente do senhor das terras e a eles deviam 
obediência e lealdade. Ambos, por sua vez, deviam lealdade ao rei e devi-
am defendê-lo com a vida, se necessário fosse. Nasceu, assim, o denomi-
nado "sistema de lealdades". conceito de "propriedade" foi desapare-
 deixando lugar à "propriedade feudal". 
 suserano não trabalhava suas terras, não plantava nem colhia. Os 
servos "arrendatários" é que tinham a obrigação de fazê-lo; além de traba-
lharem na sua própria parte arrendada, tinham a obrigação de trabalhar 
gratuitamente nas terras do senhor, dois ou três dias por semana. Eram os 
chamados "dias de dádiva". "Jamais houve dúvida quanto à terra mais 
i A propriedade do senhor tinha que ser arada primeiro, semeada 
primeiro e ceifada primeiro. Uma tempestade ameaçava fazer perder a co-
lheita? Então era a plantação do senhor a primeira que deveria ser salva. 
Chegava o tempo da colheita, quando a ceifa tinha que ser rapidamente 
concluída? Então, o camponês deveria deixar seus campos e segar o cam-
po do senhor. Havia qualquer produto postode lado para ser vendido no 
pequeno mercado local? Então, deveriam ser o grão e o vinho do senhor os 
que o camponês conduzia ao mercado e vendia - 
 "título de posse" da área arrendada era transmitida aos herdeiros do 
servo mediante o pagamento de uma taxa. Leo cita um trecho 
dos anais do Tribunal do Feudo de Bradford, datado de 1349, que dizia o 
seguinte: "Robert, filho de Roger, filho de Richard, que possuía um terre-
no de 3 hectares de terra arrendada, está morto. E logo John, seu irmão e 
herdeiro, tomou posse das terras (arrendamento), para si e seus herdeiros, 
de acordo com o costume e paga ao senhor 3 de multa 
por 
 Os ordálios ou juízos de Deus 
A justiça passou a ser aplicada segundo o costume do povo e a "vonta-
de de Deus". Aliás, os juízes nem mesmo sabiam ler os parcos textos jurí-
dicos. "À parte alguns clérigos, ninguém sabia ler ou escrever; havia pou-
 H U B E R M A N , Leo. História da riqueza do homem. 20. ed. Rio de Janei ro 
Zahar, p. 14. 
 Trecho retirado dos anais do Tribunal do Feudo de Bradford de 1349-
1358), Leo Huberman, ob. p. 17. 
 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 escolas; os juízes (por exemplo, os vassalos, reunidos num tribunal 
feudal) eram incapazes de ler textos jurídicos. A justiça era feita, a maior 
parte das vezes, apelando para Deus, com a ajuda dos ordálios ou de duelos 
 
Ordálios eram os "juízos de Deus", ou seja, acreditava-se que Deus 
sempre protegia o inocente, evitando que ele sofresse ou que lhe ocorresse 
qualquer mal. Assim, o juiz, antes de exarar uma sentença, submetia o acu-
sado ou à "prova do fogo" ou à "prova da água". Pela "prova do fogo" o 
acusado era obrigado a segurar nas mãos nuas uma barra de ferro incan-
descente. A seguir sua mão era enfaixada sem qualquer medicamento. Se 
depois de alguns dias a mão estivesse infeccionada, o acusado era ab-
solvido, porque Deus o tinha protegido. 
A "prova da água" consistia em colocar o braço do acusado num cal-
deirão com água fervente. Se nada lhe acontecesse era considerado inocente, 
porque Deus o havia protegido das queimaduras. Se o acusado fosse um 
nobre ou gozasse de elevada posição social permitido indicar um 
servo para submeter-se, em seu lugar, às provas da água ou do 
Muitas vezes os litigantes desistiam de procurar as autoridades e re-
• 
solviam eles mesmos as próprias desavenças, através do duelo. "Era co-
mum os litigantes desistirem de encontrar o soberano (para os julgar) e 
escolherem a meio caminho um árbitro para resolver a causa pendente. 
Preferiam, por vezes, arcar, desde logo, com os azares do combate singular 
(duelo), fazendo-o a cavalo, com lança e escudo, ou a pé, com clava, bor-
dão ou porrete, conforme fossem fidalgos ou 
Em certas regiões da Europa, a parte que perdia uma causa podia, em 
forma de apelação, desafiar o próprio juiz sentenciante para um duelo, co-
locando nas mãos de Deus a decisão final: se fosse vencido, a sentença te-
ria sido justa. 
Outra forma de julgamento que se tornou comum por volta do século 
XIV foi o da "inquirição por turba": quando surgia alguma dúvida se o ato 
ou fato submetido a julgamento estava em consonância com os costumes 
locais, era reunido um grupo de pelo menos dez homens, escolhidos den-
tre os mais honrados da localidade. Esse grupo (representantes da turba) 
 191. 
 GONZAGA, João Bernardino. A em seu mundo. 8. ed. São Paulo 
Saraiva, 1994. 
 HERCULANO, Alexandre. História de Portugal, Lobo da Costa e 
Luiz Carlos Azevedo, Estudos de história do processo - Recursos, p. 60. 
 DIREITO R O M A N O 
deveria "dizer o costume", isto é, decidir se o fato estava ou não em conso-
nância com o costume do feudo vigente. 
Como se pode notar, durante todo o período medievo toda a solidez, 
razão e objetividade do Direito Romano foram substituídos por um sis-
tema rudimentar de aplicação subjetiva do direito, em que as provas 
racionais foram substituídas por provas irracionais, a Deus 
para resolver os conflitos individuais. A Europa ficou "sepultada por 
muitos séculos em barbaridades, ignorância, diminuída apenas em alguns 
clérigos e monges a quem não era lícito nem permitido estudar letras 
profanas, e se pôs o Direito Civil de Justiniano em desuso e quase geral 
 
5.2.3 A influência da Igreja 
Para se entender o crescimento da Igreja e a grande influência que ela 
passou a exercer durante toda a alta e a baixa Idade Média, necessário é 
retroceder no tempo, até o ano da nossa era, quando, pelo Édito de Milão, 
o imperador Constantino permitiu total liberdade de culto ao cristianismo 
em todo o Império Romano. 
Constantino, tão logo assumiu o cargo de imperador, reunificou o 
império que antes fora dividido por Diocleciano e transferiu sua capital para 
a cidade de Bizâncio, no Oriente, que passou a ser denominada Constanti-
nopla, em sua homenagem. Continuou as reformas administrativas inicia-
das por seu antecessor e, influenciado pelo cristianismo, passou a incenti-
var o trabalho evangélico da Católica, protegendo-a de seus perse-
guidores. 
Constantino também mandou devolver aos cristãos todos os bens que 
lhes haviam sido anteriormente confiscados, mesmo que já tivessem sido 
vendidos a Determinou o repouso obrigatório aos domingos, 
 F I G U E I R E D O , José Anastácio. Memórias da literatura portuguesa. Lisboa 
Academia Real de Ciências, p. 262. 
 Edito de Mi l ão - ano 313: "Eu, Constantino Augusto, e eu também, Licínio 
Augusto, reunidos felizmente em Milão para tratar de todos os problemas que se 
relacionam com a segurança e o bem público, cremos ser o nosso dever tratar 
junto com outros assuntos que merecem a nossa atenção para o bem da maioria, 
tratar t ambém daqueles assuntos nos quais se funda o respeito à divindade. (...) 
E, além disso, no que diz respeito aos cristãos, decidimos que lhes sejam devol-
vidos os locais onde anteriormente se reuniam, sejam eles de propriedade do nosso 
fisco, ou tenham sido comprados por particulares, e que os não tenham 
 INSTITUIÇÕES DE DIREITO R O M A N O 
1 
autorizou a de escravos mediante uma declaração da Igreja e 
autorizou-a a receber Concedeu o poder de jurisdição civil aos 
bispos e autorizou os litigantes a transferirem seus processos de um tribu-
nal civil para um tribunal eclesiástico, sob a presidência do bispo. A Igreja 
Católica, então, de uma minoria perseguida passou, pouco a pouco, a ser 
uma maioria todo-poderosa, influenciando de modo intenso a vida na Eu-
ropa até início da Idade Moderna. 
A influência da Igreja no direito se fez notar de modo marcante. "É de 
ter-se presente que a influência dos dogmas cristãos sobre a legislação no 
início do IV não transformaria a estrutura do tradicional ordenamento 
jurídico, mas, de qualquer modo, é inconstestável que o pensamento e a 
moral da passaram a integrar e a concorrer com os princípios do di-
 pagar por eles nenhuma classe de indenização (...) E como consta que os cris-
tãos possuíam não só locais de reunião habitual, mas também outros pertences à 
sua comunidade (...) ordenamos que lhes sejam devolvidos sem nenhum tipo de 
equívoco nem de oposição (...) (Lactâncio Introd. 
trad. espanhola e notas de R. Teja. Madrid: Gredos, 1982. XLVIII. p. 2-3. Cf. 
Maria Guadalupe ob. p. 28). 
 Doações do imperador Constantino à Igreja: "Concedemos ao nosso Santo Pa-
dre Silvestre, Sumo Pontífice e Papa Universal de Roma e a todos os pontífices 
seus sucessores que até o fim do mundo reinarem na sede de São Pedro, o nosso 
imperial palácio de Latrão (o primeiro de todos os palácios do mundo), depois o 
diadema, isto é, nossa coroa e ao mesmo tempo o gorro quer dizer, a tiara 
e o manto que os imperadores cos tumam usar (...) Queremos que todos os 
reverendíssimos sacerdotes que servem à Santíssima Igreja Romana nos seus 
diferentes graus tenham distinção, potestade e proeminência das quais gloriosa-
mente se adorna o nosso ilustre Senado, quer dizer, que se em patrícios 
e cônsules e sejam revestidosde todas as demais dignidades imperiais. (...) De-
cidimos igualmente que nosso venerável Pai, o Sumo Pontífice Silvestre e seus 
sucessores, usem o diadema (...) à semelhança da que usamos em nossa cabeça 
(...) Concedemos ao já mencionado Pontífice Silvestre, Papa universal, e deixa-
mos e estabelecemos em seu poder, por decreto, como possessões de direito da 
Santa Igreja Romana, não só nosso palácio, como já foi dito, mas também a cida-
de de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália e do Ocidente. Por 
isso, consideramos oportuno transferir nosso Império e o poder do Reino para o 
Oriente e fundar na província de Bizâncio, lugar ótimo, uma cidade com nosso 
nome e estabelecer ali nosso governo, porque é justo que o imperador terre-
no reine onde o imperador celeste estabeleceu o principado do sacerdócio e a 
cabeça da Papam. Em Migne, 
P.J., VIII. Apud Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, ob. p. 127). 
 DIREITO R O M A N O 
 os traços do cristianismo são individuados a todo momento nas leis 
de 
 A influência de Santo Agostinho no Direito Romano 
Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro a introduzir um conceito 
subjetivista ao Direito Romano. Para ele somente seria justa a lei que se 
conformasse com a Lei Divina, pois a justiça verdadeira provém de Deus, 
é uma ordem inerente ao amor de Deus para com os homens, e não prove-
niente de um direito puramente É Deus quem imprime na alma do 
homem, já ao nascer, as suas leis, dotando-o de razão e capacidade de 
discernimento para escolher entre o e o mal. A lei moral e a lei do amor 
cristão devem, portanto, sempre estar situadas acima das leis temporais 
humanas (e, obviamente, dos princípios e regras do Direito Romano). 
Santo Agostinho demonstrava, dessa forma, uma injustiça do Direito 
Romano que, obviamente, deveria sempre estar subordinado à vontade de 
Deus. Aceitava, provisoriamente, "argumentar a partir da fórmula roma-
na, pela qual a justiça seria a cada um o que é Mas como seria 
então justo o direito romano desconhecendo o primeiro dos deveres, o de 
retribuir a Deus o amor que lhe é 
Santo Agostinho conferiu um caráter mais subjetivo ao Direito Roma-
no, que antes buscava objetivamente o "justo" no bem da sociedade. Ago-
ra, o homem, como filho de Deus, é que deveria ser valorizado como sujei-
to de direitos e não ser mais encarado apenas como fruto da sociedade em 
que vivia. 
Esse conceito subjetivo do direito foi posteriormente encarado sob 
outro prisma por Santo Tomás de Aquino, outro filósofo luminar do cristi-
anismo, que, por volta do século XIII, propiciou um renascimento dos con-
ceitos objetivos do Direito Romano clássico. 
 A na Idade Média 
Durante toda a Idade Média, a Igreja Católica foi a única instituição 
que se manteve com extraordinário todo o mundo ocidental. "Ser 
membro dessa associação era teoricamente voluntário e praticamente 
 José Rogério Cruz e AZEVEDO, Luiz Carlos de. Lições de história do 
processo civil romano. São Paulo RT, 1996. p. 153. 
 VILLEY, Michel. Ob. p. 12. 
108 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
obrigatório. Ser desligado de sua comunhão era castigo tamanho que, até o 
século XVI, os próprios reis tremiam diante da ameaça de excomunhão. 
Da menor das aldeias, com sua igreja paroquial, à maior das cidades, com 
sua catedral, suas numerosas seus mosteiros e santuários, a 
estava presente em todas as suas torres eram o 
primeiro objeto que o viajante divisava no horizonte e sua cruz era o últi-
mo símbolo levantado diante dos olhos do agonizante. Numa cultura assi-
nalada por espantosas diversidades de dialeto, direito, culinária, pesos e 
medidas, cunhagem, a Igreja oferecia uma morada comum, na verdade um 
abrigo universal: o mesmo credo, os mesmos ofícios, as mesmas missas, 
realizadas os mesmos gestos, na mesma ordem, o mesmo fim, de 
um a outro extremo da 
5.2.3.3 direito 
A era regida por um sistema jurídico próprio o direito 
- que passou a vigorar em paralelismo ao Direito Romano. Direito especí-
fico da Católica, originou-se do termo grego kanoon regula, re-
gra) e foi empregado nos primeiros séculos da Igreja para designar as deci-
sões dos concílios. Foi considerável a sua influência em toda a Europa 
ocidental, notadamente nos séculos XII e XIII, quando se "instalou, real-
mente, um sistema dualista - um direito laico e um direito religioso - que 
vai manter-se até o século 
A influência do direito se deve, dentre outros motivos, a ter 
sido ele o único direito escrito na Europa ocidental, entre o fim do século 
IX e o século XIII, e ao fato de ter sido atribuída aos tribunais eclesiásticos 
a competência exclusiva em numerosos assuntos da vida privada. 
Desde o início da Idade Média a Igreja passou a exercer o poder 
jurisdicional sobre diversos assuntos. "Em matéria penal, especificamen-
te, os imperadores romanos reconheceram, nos séculos IV e V, a compe-
tência dos bispos para todas as infrações puramente religiosas ou espiritu-
ais, isto é, para tudo aquilo que dissesse respeito à fé, ao dogma, aos sacra-
mentos, à disciplina no seio da Igreja. Os canonistas dirão mais tarde: a 
matéria a clavibus, aquela que diz respeito às da 
 Lewis. A cidade na história, suas origens, transformações 
pectivas, São Paulo, 1982, p. 290, citado por João Bernardino Gonzaga , A 
inquisição em seu mundo. 8. ed., São Paulo Saraiva, 1994. 
 GILISSEN, John. Ob. p. 126. 
 Idem. Ob. p. 139. 
 DIREITO R O M A N O 109 
Do século X ao século XIV os tribunais eclesiásticos foram compe-
tentes para julgar, penal e civilmente, todos os eclesiásticos (pessoas que 
pertencessem à hierarquia da Igreja), os cruzados e os membros das 
universidades (professores e alunos) uma vez que todas essas institui-
ções pertenciam à Igreja até o século XVI. Tinham também o poder de 
julgar as ou seja, as viúvas e órfãos que lhe 
pedissem proteção. 
Os tribunais eclesiásticos eram também competentes para julgar ma-
térias pertinentes a casamentos, separações, divórcios, legitimação de fi-
lhos e os casos de não cumprimento de juramentos, uma vez que eles eram 
feitos em nome de Deus. 
6 
 RENASCIMENTO DO DIREITO ROMANO 
 Renascimento do Direito Romano na Europa ocidental: 
 Escola dos Glosadores ou de Bolonha; Escolados 
 A presença de Santo Tomás de Aquino no renascimento 
do Direito Romano - 6.2 "segundo" renascimento do Direito Romano: 
 Fontes do direito no Absolutismo; 6.2.2 Escola Humanista; 6.2.3 
Escola dos Práticos (séculos XVI e XVII); 6.2.4 Escola de Direito Natural 
(Escola Naturalista ou Jusnaturalista); 6.2.5 Escola Histórica (princípios 
do século XIX); 6.2.6 Escola de Pandectas ou Romanistas (século XIX). 
 Renascimento do Direito Romano na Europa ocidental 
No início do ano ocorreu em toda a Europa medieval um êxodo 
rural de grandes proporções. Muitos dos antigos servos já se dedicavam à 
 confeccionando e vendendo seus produtos. Esses artesãos, bem 
como aqueles que aspiravam a se dedicar a tal mister, passaram a lutar pe-
los próprios direitos e por uma maior independência em relação a seus se-
nhores. Afinal de contas eles não se consideravam mais simples servos da 
gleba, mas sim "colaboradores" dos senhores feudais. Passaram a se reu-
nir em confrarias, também conhecidas como "comunas", para melhor lu-
tarem pelos seus direitos. Nesse contexto, a lealdade passou a ser para com 
a classe e não mais para com o suserano. A luta e conseqüente fortaleci-
mento da classe burguesa foi num crescendo até por volta do século XV. 
É originário dessa época o termo "burguês" (proveniente do latim 
burgens habitante dos burgos ou das comunas), palavra que passou a 
designar aqueles que viviam nas cidades, exigindo cada vez mais o respei-
to por seus direitos e pugnando por melhores condições de comércio. 
termo comunal ou comuna passou, então, a ser utilizado tanto para desig-
nar o juramento entre eles de se defenderem mutuamente, como para indi-
car o local onde se reclamava o direitode trabalhar e comerciar livremen-
 R E N A S C I M E N T O DO DIREITO R O M A N O 111 
 Assim fortalecidos, os burgueses passaram a lutar pelo direito de ela-
borarem suas próprias leis, independentemente das normas emanadas do 
senhor do feudo. Conseguiram tal intento e nas cidades passaram a vigo-
rar, também, as normas preconizadas por seus habitantes. 
Com o intuito de serem aumentadas as populações das comunas, a li-
berdade passou a ser concedida a todos aqueles que morassem por mais de 
ano e dia dentro das muralhas. Tal fato incentivou o camponês, que ainda 
vivia na zona rural, a transferir domicílio para as cidades, lá passando a tra-
balhar como aprendiz até completar o tempo de considerado um homem 
livre. Esses fatos foram ocasionando, aos poucos, um aumento considerá-
vel na população das cidades. 
 fortalecimento da classe burguesa, imbuída de novas idéias de liber-
dade e de fez frutificar um sentimento de valoração do ser 
humano como sujeito de direitos. Surgiu um novo conceito de "direito de 
propriedade", que, ainda de forma incipiente, beneficiava somente os pro-
prietários. esboço de um direito comercial ou mercantil começou tam-
bém a ser delineado, ainda fundamentado nos costumes de cada região e 
disciplinando, inicialmente, as causas entre comerciantes, passando a re-
gular, depois, qualquer causa em que o comerciante estivesse envolvido. 
 direito foi denominado mercantil porque criado pela classe mercantil e 
não porque regulava as atividades 
 intenso intercâmbio comercial entre cidades fez também surgir a 
figura de um incipiente "contrato" jurídico, ainda distante daquele do Di-
reito Romano, mas que "passou a ser entendido como um instrumento para 
a aquisição de novas 
6.1.1 Escola dos ou de Bolonha 
 Direito Romano permaneceu desconhecido em grande parte da 
Europa ocidental durante quase toda Idade Média. No ano 1090, Irnério, 
 SCAFF, Fernando Facury. A responsabilidade do estado intervencionista. São 
Paulo Saraiva, 44. 
 GALGANO, Francesco. Historia derecho mercantil. Barcelona Ed. Lara, 
1980. 
 figura do contrato, como se entende hoje, a instituição do contrato relaciona-
do à liberdade de troca, tem sua origem mais imediata não na Roma antiga, mas 
na Idade Média, pelo menos no Ocidente. (...) que conhecemos hoje como 
contrato está relacionado com o desenvolvimento da sociedade capitalista." 
FERRAZ Tércio Sampaio. Revista do Advogado-AASP n. 9. 
112 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 
que era monge, professor de gramática e de dialética in artibus) 
em Bolonha, descobriu um manuscrito do Digesto numa biblioteca de 
 e passou a estudá-lo por partes, inserindo notas explicativas entre 
as linhas ou nas margens do texto estudado. Com essas notas ele procu-
rava atualizar e adaptar as normas de Direito Romano ao direito consu-
etudinário e ao direito então vigentes. A Irnério vieram juntar-
se outros estudiosos formando-se, então, um grupo de estudos denomi-
nado Escola dos Glosadores, porque as notas que eles inseriam às mar-
gens dos textos eram chamadas glosas, palavra originária do grego que 
significa "uma breve explicação de uma palavra difícil". As glosas mais 
curtas eram escritas entre as linhas do manuscrito interlineares) 
e as que eram mais longas eram colocadas à margem dos mesmos (glosas 
 marginais). 
Destacaram-se dentre os "glosadores", além do próprio Irnério, Búl-
garo, Martinho, Hugo, Vacário, Azo e Acúrsio. Este último escreveu a 
Magna Glosa, obra que continha as principais glosas de seus antecessores. 
 método de estudo do Direito Romano estudado pelos glosadores "aca-
bou se espalhando, em breve, por toda a Europa, onde se criaram idênticos 
estudos de jurisprudência, em Paris, Oxford, Montpellier, Valencia, 
Salamanca, e a Europa medieval pôde constatar que 
o Direito Romano, desconhecido e esquecido por tantos anos, era um di-
reito completo, muito mais racional e evoluído, que poderia servir de mo-
delo aos ordenamentos jurídicos então vigentes. 
A partir de então, o Direito Romano passou a ser considerado um "di-
reito comum" a todos os povos e começou a preencher lacunas existentes 
nos diversos direitos locais. Em algumas regiões ele substituiu integral-
mente o direito local existente e "em lugar de provas entre as 
quais se conta a intervenção de Deus ou de outros elementos sobrenaturais 
 tem etc), 
(passou-se) a estabelecer a verdade por meios de prova (inqué-
ritos, testemunho, atos reduzidos a escrito 
 "Esse precioso manuscrito do Digesto, que data dos fins do VI, esteve em 
Pisa até 1406, ano em que foi trazido como troféu da derrota dessa cidade para a 
Biblioteca Lamenciana de Florença, onde se encontra. Em virtude desses fatos é 
conhecido por littera piscina, mas sobretudo por littera florentina." Sebastião 
Cruz, Direito p. 96. 
 LOBO da COSTA, AZEVEDO, Luiz Carlos. Ob. p. 84. 
 GILISSEN, John. Ob. p. 205. 
 
 R E N A S C I M E N T O DO DIREITO R O M A N O 
 Escola dos (Bartolistas) 
No século XIII surgiu na o movimento dos Bartolistas, também 
conhecidos por Comentadores ou Liderados por 
 era formado por estudiosos do direito que reagiram contra 
o método dos glosadores, que eles consideravam demasiadamente analíti-
co, e defendiam nova forma de interpretação do Direito Romano. 
Direito Romano, para eles, deveria ser estudado através de pequenas 
notas explicativas mas sim, através de longos comentários com-
parativos entre o Direito Romano clássico, o direito e os direitos 
de cada região. Desse estudo comparativo deveriam ser retirados os prin-
cípios gerais que deveriam ser aplicados na solução do problema real. Se-
guiam, desta forma, os princípios da dialética escolástica, método utiliza-
do na teologia por influência de Santo Tomás de Aquino. 
Esse método preconizado pelos pós-glosadores para o estudo do di-
reito foi seguido em numerosas universidades da Europa ocidental, den-
tre as quais a de Praga, Viena, Heidelberg, Lovaina etc., e in-
 os pesquisadores do Direito Romano da época, notadamente na 
Itália. 
As obras dos pós-glosadores, entretanto, além do estilo gongórico, 
demonstravam desconhecimento da história e literatura latinas e utiliza-
vam-se dos textos romanos sem levar em conta a época e circunstâncias 
cm que haviam surgido. 
Apesar dessas falhas, a Escola dos Pós-glosadores é considerada a pre-
cursora da verdadeira ciência jurídica moderna e foi um dos principais re-
dutos do saber jurídico daquela época. jurista nisi sit Bartolista, era 
 que se dizia então, ou seja, "ninguém é se não for Bartolista". 
 A presença de Santo Tomás de Aquino no renascimento do Direito 
Romano 
Santo Tomás de Aquino (1225-1274) é considerado o maior filósofo 
 escolástica medieval. Profundo estudioso do Direito Romano, ele 
buscou harmonizar a fé cristã e a razão e se afastou da concepção 
 do direito, pregada por Santo Agostinho. Nessa época de 
 do estudo do Direito Romano, iniciado pelos estudos da 
 dos Glosadores, Santo Tomás de Aquino fez ressurgir o conceito 
aristotélico de direito como "arte jurídica que tem como fim próprio a 
 da justa entre coisas exteriores partilhadas entre 
 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 Ele preconizava que o direito deveria ser essencialmente natu-
ral, objetivo, voltado para a consecução de uma justa ordem social, e que 
o conceito filosófico de direito natural de Aristóteles deveria ser o ali-
cerce para a aplicação do Direito Romano. 
Santo Tomás de Aquino fez assim reviver, dentro do movimento 
renascentista do Direito Romano, a concepção de que o direito deveria ser 
sinônimo de justiça direito). "No primeiro renascimento, ou seja, 
no século XIII, Santo Tomás de Aquino, alicerçado no conhecimento do 
direito romano, tinha já erguido a grande ponte sobre que havia se passar à 
idade moderna, a lição aristotélica sobre o direito conforme a 
 Guilherme de (1290-1349) 
Em meio às efervescentes idéias de liberdade, de e do 
fortalecimento daclasse burguesa, germinaram proficuamente as idéias do 
teólogo franciscano Guilherme de Ockham, que, seguindo as pegadas de 
Santo Agostinho, conferia um caráter mais subjetivo ao direito. Para ele, o 
homem devia ser considerado um sujeito de direitos e não apenas encara-
do como um simples fruto da sociedade. Essas idéias de Ockham agasa-
lharam perfeitamente o direito burguês então incipiente e cimentaram as 
bases para a de um direito eminentemente subjetivo que já 
despontava. 
 direito subjetivo, provindo de Ockham, tornar-se-ia pedra angular 
do individualismo burguês, desde Hobbes até agora. A noção de direito 
subjetivo era, em Roma, inexistente ou de mínima importância quando a 
comparamos ao grandiloqüente papel que lhe estava destinado no sistema 
moderno... Esta nova época, em que floresceu Guilherme de Ockham e se 
lançaram as bases ao direito subjetivo, foi a vitória da teologia sobre a filo-
sofia 
6.2 renascimento do Direito Romano 
A partir de o contexto da sociedade medieval pas-
sou por uma considerável mudança com a centralização de poderes nova-
mente nas mãos do rei. monarca, que antes se transformara 
 PEREIRA, Aloysio Ferraz. A influência da teologia no direito. Revista Impulso 
n. 15, Editora Unimep, 1994. p. 17. 
 PEREIRA, Aloysio Ferraz. direito como ciência. São Paulo RT, p. 
 direito p. 13 e 17. 
 R E N A S C I M E N T O DO DIREITO R O M A N O 115 
 pares, isolado em seu castelo e dividindo seu governo com os susera-
 e com os membros dos denominados "Estados Gerais", passou a ter 
seus poderes novamente concentrados em suas mãos e isso pelos seguin-
 motivos: 
• a necessidade de criação e manutenção de um exército único, sob o 
comando do monarca. custo da mantença de exércitos particulares sob 
as expensas de cada suserano, a exemplo do que ocorrera na Alta Idade 
Média, se tornara extremamente elevado. Isso impossibilitou os nobres de 
continuarem a manter, cada qual e isoladamente, o seu exército, transfe-
rindo essa responsabilidade para o 
• retornou ao rei o poder de cobrar tributos; 
• o monarca passou a ser o único aplicador da justiça, passando a lhe 
caber a última palavra nas lides entre seus súditos; 
passou a ser da livre discrição do monarca a escolha dos membros dos 
Estados Gerais (França, Países Parlamento (Inglaterra) ou Cortes 
(Espanha); 
• a burguesia foi pouco a pouco perdendo a posição de destaque que 
havia alcançado no seio da sociedade; 
• cristalizou-se o entendimento de que o monarca era investido em suas 
funções por vontade divina; 
• o poder de legislar voltou a ser atributo exclusivo dos soberanos. 
Todas essas circunstâncias fizeram com que o rei voltasse a ter enfei-
xado em suas mãos poderes ilimitados no exercício de suas atribuições 
legislativas, executivas e judiciárias. 
A partir do século XV, com o surgimento de inúmeras nações indepen-
dentes, surgiu também o sentimento de c o conceito de um 
"direito nacional" para cada povo. "Surgiram nações, as divisões nacio-
nais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu apareci-
mento, e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regu-
lamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e 
até mesmo Igrejas 
Os homens passaram a dever fidelidade não mais ao suserano ou à ci-
dade mas sim ao monarca que representava toda a nação. 
Implantou-se, dessa forma, em toda a Europa, um regime de concen-
tração absoluta dos poderes nas mãos dos reis - o período do Absolutismo 
que persistiu até fins do século XVIII. 
 Leo. Ob. p. 79. 
116 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 Fontes do direito no Absolutismo 
Até o século XIII a única fonte do direito feudal havia sido o costume, 
conforme visto acima. Como existiam diferentes costumes em diferentes 
regiões, coexistiam também inúmeros "direitos", que eram aplicados por 
cada suserano em sua região. 
A partir do fortalecimento do poder dos monarcas e o conseqüente 
surgimento do regime absolutista, lei começou a suplantar o costume como 
fonte do direito local. Não mais a lei do suserano, do senhor das terras, mas 
sim a lei promulgada diretamente pelo monarca, como dirigente supremo 
da nação. Em cada Estado multiplicaram-se os preceitos legais emanados 
diretamente do rei. 
Como eram muitas as normas e os preceitos, surgiu a necessidade de 
um estudo mais aprofundado do direito de cada país e de uma reunificação 
de todas as normas jurídicas existentes, escritas e não escritas. "Uma vez 
que a monarquia se tornara absoluta, em certos países, todos os poderes 
estavam nas mãos do príncipe, que procurava unificar o direito de seu país 
e suprimir os particularismos costumeiros com a ajuda de uma atividade 
legislativa que invadia cada vez mais 
Nesse contexto ganhou novo impulso o estudo do Direito Romano, 
notadamente do Digesto, com os estudiosos se reunindo em diversas cor-
rentes ou escolas doutrinárias que vieram propiciar um segundo "renasci-
mento" do Direito Romano na Europa ocidental. 
6.2.2 Escola Humanista 
No começo do século XVI surgiu na Alemanha a denominada Escola 
Humanista, conhecida como Escola Culta ou Elegante, formada 
por pessoas cultas, conhecedoras do grego e do latim e que entendiam que 
o Direito Romano deveria ser estudado mais profundamente em suas ori-
gens, tal como ele era aplicado nos tempos da Roma antiga, sem compara-
ções com o direito moderno. Os integrantes dessa escola buscavam a 
reconstituição do Direito Romano clássico, estudando e pesquisando os 
documentos históricos da Antigüidade, notadamente o Digesto. 
Desenvolveram, assim, um estudo do Direito Romano puro e estabe-
leceram o sentido original e verdadeiro de grande número de regras jurídi-
cas romanas. 
 GILISSEN, John. Ob. p. 302. 
 R E N A S C I M E N T O DO DIREITO R O M A N O 117 
A Escola Humanista iniciou com Alciato um professor 
italiano que foi o primeiro a ensinar o Direito Romano de com esse 
novo método. Seu principal representante, no entanto, foi Jacques Cujas, 
Cujácio que teve grande sobre os juristas de seu 
tempo e que "aliava à profunda erudição em filosofía e historia o agu-
do senso jurídico. Seu trabalho de pesquisa e interpretação dos jurispru-
dentes romanos foi completado por seu rival Doneau ou Donellus 
 que, preocupando-se mais com a jurídica do que com o seu 
objeto, o jurídico (leis, costumes etc.), legou-nos exposi-
ção generalizada e sistematizada do direito romano, uma 
fisionomia que Roma e seus juristas não lhe tinham A influência 
dos humanistas se estendeu também para a França e a Itália e esse período 
foi considerado como o de um "segundo renascimento" do estudo do Di-
reito Romano clássico. 
6.2.3 Escola dos Práticos XVI e XVII) 
Essa Escola teve grande importância nos séculos XVI e XVII e seus 
integrantes pretendiam o usus modernus pandectarum, ou seja, a adapta-
ção do Digesto ou Pandectas à prática forense da época. 
6.2.4 Escola de Direito Natural Naturalista ou 
A Escola de Direito Natural se desenvolveu na Europa nos séculos 
XVII e XVIII e teve como principais defensores Hugo Grocio (Hugo de 
Groot, 1583-1645), Thomas Hobbes (1588-1679), e 
Leibniz, entre outros. Influenciados pelas idéias do Iluminismo, preconi-
zavam o estudo do direito na natureza e na razão, pregando o regresso ao 
equilíbrio entre o direito natural e o direito positivo. Entendiam eles que o 
direito era um produto da razão humana e que, devido a isso, deveria ser 
igual para todos os povos do mundo, em todos os tempos e lugares. 
Esse entendimento racionalista do direito veio a favorecer a idéia de 
uma codificação de todas as normas jurídicas, ou seja, o surgimento de um 
direito codificado, imutável, baseado na razão natural das coisas. Nesse 
novo direito deveriam vigorar princípios do Direito Romano clás-
sico, desde que não se chocassem com princípios do direito natural. Os 
próprios reis não poderiam a esse direito, fundamentado nas leis 
naturais, fundamentais, universais,permanentes, imutáveis, que decorrem 
 PEREIRA, Aloysio Ferraz. direito como ciência, p. 3. 
118 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
da natureza humana; assim podia ser combatida a tendência para o absolu-
tismo real, baseada no direito 
6.2.5 Escola Histórica (princípios do século XIX) 
A Escola Histórica surgiu em princípios do século XIX e seus defen-
sores entendiam que, ao contrário do que pregavam os jusnaturalistas, o 
direito era um produto histórico, um fenômeno social, fruto da consciên-
cia popular, e não unicamente nascido da vontade arbitrária de um legisla-
dor. direito deveria, portanto, ser investigado e estudado diretamente em 
suas origens históricas, daí defenderem eles um retorno ao estudo das ori-
gens históricas do Direito Romano, sem as abstrações do direito natural. 
A Escola Histórica teve como fundadores Frederico Carlos de 
(1779-1861), Gustavo Hugo (1764-1844), Puchta, Gans, Keller e 
 Escola de Pandectas ou Romanistas XIX) 
Os pandectistas ou romanistas defendiam a tese de que o Direito Ro-
mano deveria ser adaptado às concepções jurídicas modernas. Surgiu no 
século XIX e seus principais defensores foram Windscheid, e 
Waechter. 
 GILISSEN, John. Ob. p. 364. 
7 
A RECEPÇÃO DO DIREITO 
ROMANO PELOS 
DIREITOS NACIONAIS 
SUMÁRIO: A recepção do Direito Romano no Ocidente 7.2 A recep-
ção do Direito Romano pelo direito português - 7.3 A recepção do Direito 
Romano pelo direito brasileiro. 
7.1 A recepção do Direito Romano no Ocidente 
Entende-se como recepção do Direito Romano a sua adoção em diver-
sos países, ou em caráter definitivo, substituindo o direito local 
tente, ou como um direito suplementar, destinado apenas a suprir as lacu-
nas do direito em vigor em cada região. a admissão voluntária de partes 
essenciais ou principais de um ordenamento jurídico estranho estran-
geiro ou extinto) por um povo, sem que este tenha sido dominado ou sub-
metido por aquele povo a quem de alguma forma pertence esse tal ordena-
mento 
A partir do século XIII, começaram a surgir no Ocidente os "estados 
nacionais", países com língua, literatura e culturas próprias e, conseqüen-
temente, com um direito próprio. Esses direitos atinham-se precipuamente 
aos usos e costumes de seu respectivo povo - um direito consuetudinário 
não escrito. 
Nessa época, o Direito Romano já era conhecido e estudado nas gran-
des universidades da Europa como um direito erudito, e a coerência, soli-
dez e objetividade de seus princípios, normas e preceitos começaram a ser 
comparados com aqueles direitos consuetudinários, passando a servir de 
modelos para eles. E, pouco a pouco, teve início o fenômeno da sua recep-
ção pelos demais direitos nacionais. 
 CRUZ, Direito p. 95. 
120 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
A recepção do Direito Romano por outros países significa, pois, que 
ele passou a servir como alicerce, como base, como uma "bíblia jurídica", 
auxiliando a aplicação do direito nacional local. Foi uma "fase de infiltra-
ção que, muitas vezes, durou três ou quatro séculos, do século XII ao XV, 
sucedendo-se em vários países o reconhecimento legal do jus -
o direito romano tal como era ensinado nas universidades, como direito 
supletivo das leis e costumes; servindo para preencher as lacunas do direi-
to em 
Mesmo publicação de "códigos civis" nos diversos países não dimi-
nuiu a importância do Direito Romano, mas, muito pelo contrário, consa-
grou-o. "Essa consagração é feita pelos dois melhores códigos civis da 
Europa: o Francês, de de quem Windscheid afirma - uma síntese 
 admirável dum bom manual de Direito e o Alemão, de 1900, de 
 quem Gierke diz - as de Windscheid transformadas em 
 Como é sabido, estes dois códigos vão depois influenciar os 
códigos de quase todo o mundo. Do Código Francês receberam influência, 
dentre outros, o Código Italiano (de o Português (de o Ro-
meno (de o Egípcio (de o Espanhol (de e vários códi-
gos das Américas do Sul e Central; o Código Alemão, o Código Suíço (de 
 o Brasileiro (de 1916), o Chinês (de 1929), o Grego (de 1940) etc. 
 desta maneira, os princípios do Jus direta ou indi-
retamente, em maior ou menor grau, informam todos ou quase todos os 
códigos da 
É de se ressaltar que não foi o Direito Romano clássico que foi adota-
do como direito supletivo nos países da Europa, mas sim o direito justinia-
neu, contido no Corpus Civilis, com as observações e comentários 
dos glosadores e "A efetuou-se principalmente 
através dos alunos que se tinhamformado jurídica) nas 
universidades de Bolonha e Perusa; e portanto o direito como com 
os olhos de seus 
A recepção do Direito Romano foi rápida e profunda em alguns Esta-
dos e mais demorada em outros, e não foi simultânea. Na Itália, Portugal, 
Espanha e sul da França - regiões mais romanizadas, nas quais havia vigo-
rado por longo tempo as denominadas leis "bárbaras" Romana Visigo-
 e Edito de Teodorico) - a recepção do Direito 
 351 . 
 CRUZ, Sebastião. Direito p. 91 . 
 Idem. Ob. p. 95. 
A R E C E P Ç Ã O D O S DIREITOS R O M A N O S PELOS DIREITOS N A C I O N A I S 121 
Romano se deu de forma incontestada e rápida, suprindo facilmente as la-
cunas do direito local vigente. Mesmo com as alterações ocorridas durante 
a Idade Média, a influência do Direito Romano não havia desaparecido de 
todo na região. Na Itália a ocorreu em fins do século XI e início 
do século XII; na França, no século XII; e, na Espanha e em Portugal, no 
século XIII. 
Nos países que integravam o Sacro Império a re-
cepção do Direito Romano também não encontrou Essa pron-
ta recepção teve seus motivos: Irnério, o monge que havia descoberto um 
volume do Digesto na Biblioteca de Pisa e que fundara a Escola dos 
Glosadores, era consultor do imperador do Sacro Império Romano e, com 
a autoridade de seu cargo, lançou a idéia de que os imperadores do Sacro 
Império eram os sucessores dos imperadores romanos. Assim sendo e 
logicamente, o Direito Romano deveria, também, ser o direito a reger os 
destinos desse Império, sucessor das glórias do primeiro. 
Em contraposição, esse também foi o motivo do repúdio inicial do 
Direito Romano no norte da França, norte da Alemanha e na Inglaterra, 
países eram opositores políticos do Sacro Império 
Se eles recepcionassem o direito dos romanos como direito comum, im-
plicitamente estariam também reconhecendo a soberania de seus inimigos 
políticos. 
Esse foi o motivo pelo qual Felipe Augusto, rei de França, proibiu, em 
 o ensino do Direito Romano na Universidade de Paris. Felipe III, seu 
sucessor, não deixou por menos e, em 1278, proibiu os advogados france-
ses de se referirem à normas do Direito Romano nos casos em que o direito 
consuetudinário francês estivesse em vigor. 
Na Alemanha a assimilação do Direito Romano ocorreu nos séculos 
XVI e XVII e se deu mais lentamente que nos demais países europeus. 
direito que vigia em todo o seu território era o direito nacional alemão, 
consuetudinário e não escrito, que resistiu um pouco mais para receber a 
influência do "direito comum" romano. Em 1495 o Tribunal Imperial Ale-
mão aceitou a aplicação do Corpus Civilis somente quando ele não 
se chocasse com as leis locais. 
Nos países eslavos a infiltração do Direito Romano como direito su-
pletivo foi mais lenta e difícil. 
A Inglaterra resistiu e não aderiu à influência do Direito Romano. 
direito anglo-saxão é um direito eminentemente consuetudinário, fruto de 
decisões judiciais reiteradas, de precedentes judiciais, e não de um direito 
escrito. é um um direito jurisprudencial, 
122 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
elaborado pelos juízes reais e mantido graças à autoridade reconhecida aos 
precedentes judiciários. Salvo na época da sua formação, a lei não desem-
penha qualquer papel sua Este é um dos motivos pelo qual 
o Direito Romano - um direito escrito - pouca influência exerceu sobre o 
direito inglês, mesmo que supletivamente. 
7.2 A recepção do Direito Romano pelo direitoportuguês 
Os visigodos, após terem conquistado a Itália e a Península Ibérica, não 
aboliram a aplicação do direito romano nas regiões conquistadas. Respei-
taram a sua sua coerência, superioridade e racionalidade, e a legislação 
romana continuou a reger os destinos do povo conquistado. imperador 
Alarico II promulgou, em 506, a Lex Romana Visigothorum (Lei Romana 
dos Visigodos) ou Breviário de Alarico, que nada mais era do que um ex-
trato do Código Gregoriano, dos cinco primeiros livros do Código Teodo-
siano, partes do Código Hermogeniano e continha, ainda, inúmeros pare-
ceres de jurisconsultos 
A Lex Romana Visigothorum vigorou por mais de anos, manten-
do vivos os princípios do Direito Romano em toda aquela região, até sécu-
los depois do desaparecimento do grande Império dos Césares. 
No ano 600 da era cristã os mouros invadiram a Península Ibérica e 
chegaram até o sul da França, mas souberam respeitar os costumes e o di-
reito do povo conquistado. direito em vigor, no entanto, não era mais 
exatamente aquele contido na Lex Romana Visigothorum, mas um direito 
bastante modificado pelos hábitos e costumes medievais do povo: "Se o 
direito romano não desaparecera por completo, sofrera no decorrer daque-
les séculos o alúvio dos direitos paralelos, oriundos estes mais das práticas 
costumeiras, do que de disposições 
No século XIII Portugal surgiu como Estado autônomo e independen-
te, mas o seu direito continuou a ser o mesmo que vigorava no restante da 
 GILISSEN, John. Ob. p. 208. 
 "Neste corpo estão contidas leis e textos de ius (direito doutrinal) selecionados 
do Código Teodosiano ou de diversos livros, como se ordenou, o que se fez no 
ano 22 do reinado do senhor rei Alarico, por ordem do ilustre varão, conde 
 Por isso te prover que no teu tribunal não se tente citar ou rece-
ber qualquer outra lei ou fórmula do ius. Pois se acaso se fizer isso, será com o 
risco tua cabeça ou com perda dos bens que se saiba pertencerem-te" ário 
de Alarico - praescriptio conteúdo e proibição de usar outro direito). 
 LOBO DA COSTA, Moacyr e AZEVEDO, Luiz Carlos de. Ob. p. 63 . 
A R E C E P Ç Ã O D O S DIREITOS R O M A N O S PELOS DIREITOS N A C I O N A I S 
Península Ibérica: um direito feudal rudimentar, adaptado aos usos e cos-
tumes medievais de seu povo, apenas com resquícios dos princípios do 
Direito Romano contidos na desaparecida lei visigótica. conhecimento 
jurídico, nesse período da história portuguesa, ainda era restrito a uma eli-
te culta constituída especialmente por membros que possuía uma 
cultura jurídica "baseada no conhecimento do código visigótico, de for-
mas notariais visigóticas, dos cânones conciliares hispânicos e das Etimo-
logias isidorianas e em tradições jurídicas comunitárias de influência 
visigótica e 
Após a guerra da reconquista, no século XIII, que expulsou os árabes 
do território lusitano, Portugal se fortaleceu como nação livre e indepen-
dente. Nessa época, a cidade de Bolonha já havia se transformado num 
grande centro de estudos do Direito Romano, por obra e graça da Escola 
dos Glosadores, comandada pelo monge Irnério. Estudantes de toda a 
Europa, inclusive de Portugal, para lá acorreram para se aprofundar no 
estudo, notadamente do Digesto e das A coroa portuguesa tam-
bém investiu na formação jurídica, contratando juristas glosadores e pós-
Glosadores como "conselheiros" na formação jurídica da nação lusitana. 
 Direito Romano, dessa forma, ressurgiu em Portugal, mas, inicial-
mente, apenas como um direito erudito, supridor das lacunas existentes no 
direito tradicional, ainda consuetudinário e não escrito. Durante o reinado 
de D. Diniz a influência de seus princípios e preceitos se fez notar de forma 
mais intensa, notadamente nos contratos, escrituras e demais negócios da 
vida civil portuguesa. 
"Apesar de já ter sido introduzido em época anterior, é entretanto, a 
partir do reinado de D. Diniz que o direito romano adquire notoriedade como 
fonte superior na formação do direito lusitano, particularmente em virtude 
da fundação da Universidade de Lisboa de março de 1290), onde o di-
reito de Justiniano passou a ser ensinado ao lado do direito 
Na Universidade de Coimbra passou a existir uma cátedra específica de 
 "Lego à Igreja do Porto os meus Decretos e as Instituições e Novela segundo estão 
(encardenados) num volume e a suma dos Decretos e das Instituições e do Códi-
go inseridos noutro volume (...) Lego Braga o meu Código e o Digesto 
Velho e o Novo em três partes como Esforçado e o saltério glosado." (Testamen-
to do bispo D. Fernando Martins, datado de GOMES DA SILVA, 
Nuno E. História do direito português. Lisboa, 1985. p. 156. 
 GILISSEN, John. Ob. p. 369. 
 COSTA, Lobo da e AZEVEDO, Luiz Carlos de. Ob. p. 67. 
 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Direito A partir de então, de forma lenta e gradual, o Direito 
Romano passou a ser um direito comum, com aplicação em terras portu-
guesas. 
Em foram concluídas e mandadas publicar pelo Rei Afonso V as 
denominadas Ordenações Afonsinas, uma compilação do direito tradicio-
nal português que veio a antigos florais, espécie de cartas atra-
vés das quais se concediam foros, privilégios e isenções aos súditos portu-
gueses. As Ordenações Afonsinas con-
tendo todas as leis, regras e normas até então existentes, além de trechos 
do direito e do Direito Romano interpretados pelos glosadores. 
 seu Título IX do Livro II determinava que as leis e o direito tradicional 
(os costumes) deveriam ser supridos por outras fontes de direito, tais como 
os "santos cânones, a Magna Glosa, de Accursio, e a opinião de Bartolo", 
ou seja, o Direito Romano interpretado pelos juristas pertencentes às Es-
colas dos Glosadores e dos passou a ser oficialmente re-
conhecido como um direito subsidiário ao direito português. As orienta-
ções contidas no Digesto persistiram, também, nas outras ordenações do 
reino: as Ordenações Manoelinas (século XVI) e as Ordenações Filipinas 
(século XVIII). 
A partir do século XVIII o Direito Romano teve reduzida sua influên-
cia, concomitantemente com a redução da influência do direito 
fato esse motivado pela dos jesuítas de terras portuguesas pelo 
Marquês de Pombal. Continuou, no entanto, a ser considerado um direito 
subsidiário, subordinado, entretanto, da Boa Razão, que dispunha que 
ele seria aplicado "apenas quando estivesse conforme com os princípios 
"Ordenou Rei Dom João III que os letrados, que houvessem de tomar para 
Desembargadores, estudassem em Coimbra em direito ou Civil doze 
anos ou menos, ou tivessem oito anos, e quatro de serviço de juizes de fora, 
Ouvidores, ou Corregedores, ou Procuradores da Casa da E que os 
que houvessem de procurar, ou advogar, tivessem oito anos na dita Universida-
de. E que o que visasse o ofício de julgar, ou procurar, ou advogar, não tendo o 
dito tempo, pagasse pela primeira vez cinquenta cruzados, a metade para quem 
o acusasse e a outra metade para a arca da E pela segunda vez con-
correria na mesma pena, e poderia visar os ditos cargos, posto que acabasse 
de estudar os dito oito anos, daí a dois anos depois que os acabasse de estudar." 
Leis extravagantes, cf. Duarte Nunes de Leão, Lisboa, 1796. 
 FERREIRA, Waldemar. História do direito brasileiro. Paulo: Freitas Bas-
tos, n. 293. 
A R E C E P Ç Ã O D O S DIREITOS R O M A N O S PELOS DIREITOS N A C I O N A I S 
 Instituti del diritto processo n. 4, 
p . 499 . 
 GILISSEN, John. Ob. p. 370. 
eternos do direito natural, com o das leis nacionais e com as neces-
sidades e circunstancias do 
 advento do liberalismo trouxe consigo idéia de codificação do 
direito, ocasionando sucessiva publicação de códigos. 
então, sobretudo no do direito privado, época positivista, 
voltada para a exegese ou para a construção dogmática-conceitual do di-
 
7.3 A recepção do Direito Romano direito brasileiro 
Desde o descobrimento e até mesmo após a o direito 
que vigorou noBrasil foi o direito contido nas Ordenações do 
Reino: Afonsinas, Manoelinas e Filipinas - códigos de leis que tinham 
raízes eminentemente romanas, conforme visto anteriormente. 
 ordenamento jurídico brasileiro tem, pois, as mesmas origens e ca-
racterísticas do direito português, podendo-se mesmo afirmar que as nor-
mas contidas na antiga Lex Romana ou Breviário de Alarico 
vigoraram no de forma indireta, através das Ordenações do Reino, 
que aqui vigeram durante o período 
Toda a estrutura do direito civil brasileiro - seus princípios, critérios, 
classificações, métodos e ritos processuais portanto, são eminentemen-
te construções romanas. Dos artigos do Código Civil, cerca de 
deles provêm, direta ou indiretamente, do Direito Romano contido no 
Digesto. 
Após a independência, o direito brasileiro foi criando características 
próprias, diferenciando-se aos poucos do direito português e dos demais 
direitos europeus. Sua origem, no entanto, permanece nos ensinamentos 
contidos secularmente no Digesto, compilado pelo imperador Justiniano, 
no longínquo ano de 533 depois de Cristo. 
I 
,c* 
I 
SEGUNDA PARTE 
I N S T I T U I Ç Õ E S 
D O D I R E I T O R O M A N O 
 Conceito de direito (jus) 
2. Direito das pessoas 
3. status no Direito Romano: o status 
4. Status civitatis - A cidadania romana 
5. Status familiae 
6. Capitis 
7. casamento no Direito Romano 
8. Tutela 
9. Curatela 
10. Pessoasjurídicas 
 Direito das coisas 
12. Direitos reais sobre coisas próprias 
13. Modos de aquisição dapropriedade 
14. Posse 
15. Direitos reais sobre coisa alheia 
16. Direitos reais de garantia sobre coisa alheia 
17. Direito das obrigações 
 Obrigações que se originam dos contratos 
19. Contratos reais 
20. Contratos consensuais 
21. Contratos inominados 
22. Pactos 
23. 
24. delito e o como fontes de obrigações 
25. Inexecução de 
INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
26. Garantias de execução das obrigações 
27. Transmissão de obrigações 
28. Extinção das obrigações 
29. Direito das sucessões 
30. Sucessão legítima ou ab intestato 
CONCEITO DE DIREITO (JUS) 
SUMÁRIO: Conceito de direito - 1.2 jus e o - 1.3 fastos e 
dias nefastos - 1.4 conceito de justiça - 1.5 Direito objetivo e direito 
subjetivo - 1.6 Classificação do direito objetivo: Quanto à forma: jus 
 e jus non 1.6.2 Quanto ao interesse: direito público e 
direito privado. 
1.1 Conceito de direito 
Os homens sempre tiveram preceitos éticos, morais, religiosos e ju-
rídicos a lhes disciplinar a em sociedade. Os romanos, certamente, não 
fugiram a essa regra universal e traduziam o conjunto dessas normas regu-
ladoras da vida em sociedade pela palavra jus (o que é reto, o que é confor-
me a linha reta, o que é ordenado, 
"Direito é a arte do bom e do justo" (jus est ars boni et aequi), definiu 
Celso (Dig. pr.), e Ulpiano, deixando entrever a relação íntima que 
existia entre direito e moral, afirmou que os deveres que o direito impunha 
aos indivíduos estavam contidos, basicamente, em três preceitos fundamen-
tais honeste vivere, non laedere e 
 direito, ius, é tomado, em primeito lugar, em sentido genérico e como um 
objeto. É entendido como o justo, aquilo que é justo, a justa, o estado de 
coisas que aparece como justo: et é também o que é útil: quod 
 est. Ademais, o gênero ius comporta várias espécies: direito natural, das 
gentes, civil... Em segundo lugar, o termo ius tem ainda várias significações de 
menor importância in quo ius Mas em correlação com o obje-
to ius, sobreleva, entre todos os demais significados, ius enquanto conhecimen-
to, discernimento do que é justo, ação de separar o que é justo do que é injusto: a 
arte do justo: ars boni et aequi." PEREIRA, Aloysio Ferraz. direito como ciên-
cia. Paulo RT, 1989. p. 23. 
130 DE DIREITO R O M A N O 
 jus devia sempre estar em consonância com fas e, assim, qualquer 
decisão, ato ou negócio, quer no âmbito público, quer no privado, devia 
sempre ser antecedido de uma consulta aos auspícios, ou seja, à vontade 
 dos deuses. Os sacerdotes (aurúspices) eram os encarregados de descobrir 
a vontade divina, estudando atentamente as entranhas dos animais, o vôo 
ou o pio das aves. Foram eles os primeiros interpretadores do direito, os 
primeiros jurisprudentes, os que conheciam as coisas divinas e humanas e, 
também, a ciência do justo e do 
7, 
1.3 Dias fastos e dias nefastos 
 Colégio dos Pontífices era o das regras de conduta da socie-
dade romana e também tinha a incumbência de estabelecer quais os fastos 
e quais os dias nefastos. 
Fastos eram os dias propícios à realização das audiências nos tribunais, 
à celebração de negócios jurídicos e àrealização das assembléias populares. 
Nos dias nefastos, por serem consagrados aos deuses, nenhuma decisão 
importante devia ser tomada. 
Esse misto de religião e direito começou a desaparecer com o surgi-
mento dos jurisprudentes laicos, na época da República. A partir de então, 
o direito foi sendo pouco a pouco secularizado e os conceitos de jus e os de 
fas passaram a ter bem definidas e diferenciadas. 
 "A palavra direito traduz jus, mas não vem de jus; jus e derectum afiguram-se-
nos desde logo palavras totalmente diferentes. Jus corresponde a díkaion quod 
Díke e significa igualmente Justitia Portanto, Justitia não é 
um simples precedente de jus; muito menos a palavra é origem etimológica de 
jus. Na romana, a deusa Justitia é a geradora do jus, como a 
grega era de CRUZ, Sebastião. Direito p. 29. 
 est atque notitia, justi atque injusti 
scientia. 
cuique ou viver honestamente, não prejudicar os outros e dar 
a cada um o que é seu. (Dig. 
1.2 jus e o 
Nos primeiros tempos de Roma, o direito um misto de direito divino 
(jus e direito humano (jus humanum). jus era o direito criado 
pelo homem e fas, o direito ditado pelos deuses. Ambos se confundiam na 
sociedade romana. 
C O N C E I T O DE DIREITO 131 
1.4 conceito de justiça 
Justiça pode ser conceituada como a vontade constante de dar 
a cada um aquilo que é seu: Justitia est constans et perpetua voluntas jus 
 cuique (Ulpiano. Dig. 1,1,10). É uma disposição objetiva 
de adequar uma situação à ordem natural das coisas. "A justiça um 
rei ou mesmo in rebus, é um justo meio nas 
1.5 Direito objetivo e direito subjetivo 
Entendemos hoje o direito objetivo agendi) como o conjunto 
de normas, gerais e abstratas, impostas coercitivamente pelo Estado para 
disciplinar a conduta dos homens na sociedade. Essas normas estão conti-
das nos ordenamentos legais 
Na sociedade romana as regras de conduta eram tanto nos 
costumes (mos, consuetudo) como eram ditadas pelo Estado, tais como as 
leis, éditos dos magistrados, jurisprudências, constituições imperiais, 
senatos-consultos e plebiscitos. 
Direito subjetivo (facultas agendi) era a possibilidade que tinha uma 
pessoa de fazer tudo aquilo que o direito objetivo não proibisse e, também, 
de exigir que seu direitos fossem 
1.6 Classificação do direito objetivo 
1.6.1 Quanto forma: jus scriptum e jus non 
a) jus scriptum era o direito contido em normas escritas, "na lei, nos 
plebiscitos, senatos-consultos, constituições dos imperadores, édito dos 
magistrados e respostas dos jurisconsultos". 1,2,3.) 
b) jus non scriptum era aquele originado dos costumes do povo ro-
mano. Não escrito, era seguido transmitido de geração em geração. Con-
suetudo, em latim, significa "costume", "uso", "hábito", daí o direito não 
 PEREIRA, Aloysio Ferraz. direito como p. 25. 
 Teoria normativa do direito. 
 Michel Villey defende o ponto de vista de que os romanos não faziam uma dis-
tinção rígida entre direito e direito subjetivo. Eles, práticos por excelên-
cia, aplicavam o direito específico ao caso concreto, preocupando-se com as 
pessoas, as coisas e as ações em si mesmas, e não com as relações que ti-
nham com o sujeito de direito. 
132 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A NO 
escrito ser também conhecido como direito consuetudinário, aquele que 
é derivado dos usos e costumes, "aquele que o uso convalidou, pois os 
costumes constantes, aprovados pelo consentimento dos que os seguem, 
assemelham-se à lei". 
1.6.2 Quanto ao interesse: direito público e direito privado 
a) direito público (jus publicum) era aquele que dizia respeito aos 
interesses do Estado, da civitas romana. Continha as normas emanadas do 
Estado, tanto para disciplinar a vida da sociedade romana como para orga-
nizar a estrutura e o funcionamento do próprio Estado e, ainda, para regu-
lar as relações que o Estado tinha com os particulares. (Publicum jus est 
quod ad rei romanae spectat. - Dig. 
b) Direito privado (jus privatum). Subdivisão. 
 direito era constituído pelas normas jurídicas que diziam res-
peito essencialmente aos interesses dos particulares (privatum ad singu-
 utilitatem Inst. 
Os jurisconsultos romanos divergiam em relação à subdivisão do di-
reito privado. Alguns o bipartiam em jus civile (direito civil) e jus gentium 
(direito das enquanto outros acrescentavam, ainda, outra modali-
dade: a do direito natural (jus 
1.6.2.1 Jus civile civil) e direito pretoriano ou honorário 
a) jus civile (direito civil) foi a modalidade de direito que vigorou 
nos primeiros tempos de Roma. Era mescla de direito e humano, não 
escrito e constituído por regras originadas dos costumes do povo e de raros 
textos legais emanados do governo romano. Suas normas eram rígidas, 
formais e solenes, sendo diretamente interpretadas pelos pontífices. 
 jus civile só se aplicava àqueles que tinham o status civitatis, ou seja, 
aos cidadãos romanos. Era, pois, um direito específico da classe patrícia, 
motivo pelo qual era também denominado direito quiritário. 
b) direito pretoriano (ou honorário). Em 367 a.C, a incumbência 
de ministrar a justiça passou aos pretores, espécie de magistrados roma-
nos, que, através de seus éditos, foram amenizando a rigidez e formalidade 
 Ulpiano o direito jus gentium naturale: privatum 
jus est, collectum est ex naturalibus praeceptis, aut gentium, 
aut civilibus (Inst. 1,1,1,3). 
C O N C E I T O DE DIREITO 133 
 antigo jus civile. Surgiu, então, outra modalidade do Direito Romano, o 
direito pretoriano, mais brando e informal que o jus civile, que passou a 
dirimir os conflitos não só entre os cidadãos romanos mas, também, entre 
 e os demais estrangeiros. Ser pretor ou qualquer outra espécie de ma-
gistrado era uma honra para os romanos, daí o direito pretoriano 
ser também conhecido como direito honorário, aquele que "veio comple-
mentar, e corrigir o direito civil" (Jus est, quodpraetores 
 adjuvandi supplendi, corrigendi civilis gratia 
propter utilitatem - Papiniano, Dig. I, 
1.6.2.2 Direito das gentes (jus gentium) 
A expansão do Império romano até as regiões mais distantes apressou 
o surgimento de uma nova modalidade jurídica que viesse a disciplinar as 
relações entre os romanos e os povos conquistados e, também, o relacio-
namento entre os estrangeiros entre si. Surgiu, assim, o jus gentium, o di-
reito das gentes, para tutelar o direito daqueles que, por não terem a cida-
dania romana, não eram amparados pelo jus civile. 
 jus gentium tinha seu fundamento no direito natural, ou seja, nas re-
gras que decorriam da própria natureza das coisas. Ele foi o precursor do 
direito internacional de nossos dias. 
1.6.2.3 Direito natural (jus naturale) 
Direito natural (jus naturale) é aquele que é inerente ao próprio ho-
mem, o que decorre da própria natureza das coisas. conceito de direito 
natural dos romanos foi fortemente influenciado pela 
 jus honorarium, embora teoricamente não pudesse revogar as normas do 
jus civile, nem criar novos preceitos jurídicos, na realidade alcançava esses dois 
resultados: quando o magistrado se recusava a conceder a alguém ação que pro-
tegia direito decorrente do civile, estava negando a deste; e, quan-
do concedia ação para tutelar situações não previstas no jus civile, estava su-
 lacunas dessa ordem jurídica. Nesse terreno destacou-se sobremaneira 
o pretor urbano, o mais importante dos magistrados com funções judiciárias." 
MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano. 6. ed. Rio de Janeiro Fo-
rense, 1998. p. 70. 
 direito natural de inspiração aristotélica foi a alma do direito romano clássi-
co" (...) "As definições de direito, da justiça, do conjunto de estudos jurídicos 
(jurisprudência) e as classificações de fenômenos, instituições, conceitos jurídi-
cos que devemos aos romanos, só adquirem plena inteligibilidade e coerência 
134 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Cícero definiu o direito natural como "uma lei verdadeira, segundo a 
natureza, espalhada entre todos os homens, constante e eterna (Est 
vera naturae in omnes, constans, 
Ulpiano, influenciado pela filosofia estóica, entendia que o direito natural 
era aquele "que a natureza ensina a todos os animais" natura 
animalia docuit), definição essa que confundia funções biológicas dos ani-
mais irracionais com o exercício da razão, exclusivo do ser humano. Gaio, 
por sua vez, definiu direito natural como aquele que era comum a todos os 
homens, aquele que era observado da mesma maneira por todos os povos. 
Para Justiniano, o direito natural traduzia aquilo que era justo e bom e que, 
portanto, era uma espécie de providência divina (divina 
A proximidade dos conceitos de direito natural e de direito das gentes 
fez com que alguns jurisconsultos romanos subdividissem o direito privado 
em direito civil (jus civile) e direito das gentes (jus pois entendi-
am que o direito natural se confundia jus gentium, uma que ambos 
tinham a característica da sendo pois comum a todos os ho-
mens. 
quando passamos a referi-las às significações da ciência e do direito natural 
aristotélico." PEREIRA, Aloysio Ferraz. direito como p. 12 e 20. 
 CÍCERO. De Republica (3, 22, 33). 
"Há estreita vinculação entre o jus gentium e o jus Com efeito, o jus 
 - conceito da filosofia estóica - é um conjunto de normas di-
tadas ao homem pela sua natureza racional, e em conformidade com a 
justiça. Daí, o que caracteriza o jus naturale é a sua universalidade. Pois bem, se 
o jus gentium é o direito existente em todos os povos conhecidos dos romanos, e, 
portanto isso quer dizer que é ele uma do jus naturale, por-
quanto, em virtude de sua universalidade, é fruto da própria natureza do homem. 
Com base nisso, alguns juristas romanos identificaram o jus gentium com o jus 
naturale, e o direito privado em dois termos apenas: o jus civile e o 
jus gentium." MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito romano. 6. ed. Rio de 
 Forense, I, p. 80. 
DIREITO DAS PESSOAS 
SUMÁRIO: 2.1 Pessoa física ou natural. Conceito: 2.1.1 Pressupostos de 
existência da pessoa natural; Os direitos do nascituro; Extinção 
da pessoa física; Capacidade jurídica e capacidade de fato; Cau-
sas restritivas da capacidade de fato. 
2.1 Pessoa física ou natural. Conceito 
A assistência a espetáculos teatrais era a forma comum de dos 
povos antigos, notadamente entre gregos e romanos. Os atores se apresen-
tavam de viva voz perante milhares de pessoas que lotavam os anfiteatros, 
construídos especialmente para esse fim. Devido às grandes dimensões do 
local e ao fato de os espetáculos serem apresentados ao ar livre, os atores 
tinham de se esforçar para serem ouvidos por todos os espectadores. Com 
o intuito de se fazerem entender até pelos mais distantes, eles passaram a 
usar personas, ou seja, máscaras, que só ampliavam a voz mas tam-
bém expressões de alegria, tristeza ou horror às personagens que 
encarnavam. 
 vocábulo "pessoa", portanto, se originou de palavra de 
origem etrusca que significava máscara de teatro e pessoa 
física, natural propriamente dito. Assim, et nome 
de uma peça de Esopo, não significava "a raposa e a pessoa trágica" mas 
sim a raposa e a máscara da tragédia. 
Com o tempo,persona passou a significar o ser humano, sujeito de 
direitos e obrigações. 
 Pressupostos de existência da pessoa natural 
 homem, para ser considerado pessoa, sujeito de direitos e obriga-
ções, deveria preencher os seguintes 
• ter nascido com vida 
136 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
• ter vida extra-uterina 
• ter a forma humana 
a) Ter nascido com vida. Para ter "nascido com vida" era necessário 
que o recém-nascido tivesse demonstrado, inequivocamente, determina-
dos "sinais" visíveis. A questão de quais deveriam ser esses "sinais" divi-
diu a opinião dos juristas romanos durante muito tempo. Os sabinianos 
entendiam que, para tanto, bastava a criança ter respirado. Os proculeianos, 
por sua vez, entendiam que não bastava ter respirado; para ser considerado 
"vivo" o recém-nascido deveria, também, ter soltado um vagido. Essa pen-
dência durou séculos e só foi resolvida muito mas tarde, por Justiniano, 
que decidiu pela primeira hipótese: bastava somente a respiração. 50, 
 -Cod. 
b) Ter vida extra-uterina. A vida extra-uterina consistia na separação 
total do feto do organismo materno, com o rompimento do cordão umbili-
cal. Enquanto o recém-nascido permanecesse ligado à mãe, não teria vida 
própria mas seria, ainda, parte de suas entranhas; 
c) Ter a forma humana. Por o recém nascido teria "nascido com 
vida" se tivesse a "forma humana", ou seja, não apresentasse qualquer anor-
malidade física. Se fosse portador de qualquer malformação, não seria con-
siderado um ser humano, mas sim um monstro ou prodígio, podendo ser 
morto pelo 
 Os direitos do nascituro 
Nascituro era aquele que ainda não tinha nascido, aquele que, conce-
bido, ainda se encontrava no ventre da mãe. A legislação romana lhe prote-
gia os direitos: "Protege-se aquele que se encontra no útero como se 
encontrasse entre os nascidos, sempre que se trate de seus interesses" (Qui 
in est, perinde ac si in rebus esset custoditur, quotiens de 
commodis Essa proteção aos direitos 
do nascituro era especialmente importante no direito sucessório. Exemplo: 
o pai de sangue, possuidor de bens, falecia deixando a esposa grávida. Seus 
bens deveriam ser repartidos com o feto, o nascituro, em igualdade de con-
dições com os filhos 
 Código Civil brasileiro: "Art. A personalidade civil da pessoa começa do 
nascimento com vida..." 
 a salvo desde a concepção os direitos do nascituro". 
DIREITO D A S P E S S O A S 137 
2.1.3 Extinção da pessoa física 
Com a morte se extingue a pessoa Para os romanos, no entan-
to, a personalidade do falecido permanecia em seus bens até que sua he-
rança tivesse sido repartida entre os herdeiros. Enquanto a divisão não 
ocorria, havia uma herança jacente. herança jacente conserva a perso-
nalidade do defunto (hereditas jacens sustinet personam defuncti - Dig. 
41,1,34). 
 é a situação de morte concomitante de duas ou mais 
pessoas. nesses casos, se morreram na mesma ocasião e sem indí-
cios de quem faleceu antes, não se entende que um tenha sobrevivido 
ao outro" in quibus casibus si pariter decesserint appareat quis 
ante spiritum non videtur alter alteri - Dig. 43.5.18 
(19) 
Os casos de comoriência de pessoas da mesma família acarretavam 
um sério dilema para os juristas romanos: a partilha dos bens de qual 
dos falecidos deveria ser realizada em primeiro lugar? Quem teria fale-
cido por primeiro? problema acarretou acirrados debates entre os 
jurisconsultos, tendo prevalecido, por fim, no direito o 
seguinte entendimento: se tivessem morrido ao mesmo tempo o pai e um 
filho impúbere, presumia-se que o filho impúbere teria morrido em 
primeiro lugar, pois seria o mais fraco dos dois. Se, ao contrário, tives-
sem morrido o pai e um filho adulto, presumir-se-ia que o pai teria 
morrido por primeiro, visto ser o mais velho e, conseqüentemente, o 
mais fraco. si impubes cum perierit, creditur pater 
supervixisse, nisi et hic approbetur (Se um filho impúbere 
tivesse morrido juntamente com seu pai, admite-se que o pai morreu 
depois, a não ser que se prove o contrário) 34.5.9.4). "Cum 
filio mater naufragio periit: cum non possit, uter prior 
exstinctus sit, est credere diutius vixisse "(Quando uma 
mãe perece num naufrágio com o filho púbere e não é possível averi-
guar-se quem faleceu antes, é mais humano crer que o filho tenha vivido 
por mais tempo) 34.5.22). 
 CC: "Art. A existência da pessoa natural termina com a morte". 
 CC: "Art. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se 
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-
 simultaneamente mortos". 
138 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
2.1.4 Capacidade jurídica e capacidade de fato 
Capacidade jurídica ou de direito é a aptidão jurídica ou legal de uma 
pessoa para ser titular de direitos e obrigações. É uma capacidade inerente 
ao ser humano que nasce com ele e com ele permanece até o fim de sua 
existência. 
Capacidade fato, por sua vez, é a aptidão que a pessoa tem para pra-
ticar diretamente os atos da vida civil, sem a necessidade de autorização 
ou interferência de quem quer que a. Essa capacidade pode se 
no decorrer da vida do homem. 
Muitas vezes pode acontecer de uma pessoa ter capacidade jurídica 
mas não de Um menor de idade, por exemplo: ele tem capacidade 
jurídica para ser proprietário de bens, mas não pode exercer pessoal e dire-
tamente o direito de aliená-los, a não ser através de seu representante legal. 
 apenas relativamente capaz. Por outro lado, quem tem, ao mesmo tem-
po, o pleno exercício da capacidade jurídica e da capacidade de fato é uma 
pessoa absolutamente capaz. 
2.1.5 Causas restritivas da capacidade fato 
 Direito Romano previa diversas causas restritivas da capacidade de 
fato: a idade, o sexo, enfermidades físicas e mentais, a prodigalidade, a 
 a turpitude e a religião. 
2.1.5.1 A idade 
Os menores de idade eram considerados incapazes para os atos da vida 
civil e necessitavam de um tutor (ou curador) para representar seus inte-
resses na sociedade. Conforme a idade, eles eram classificadas em infan-
tes e impúberes: 
a) Infantes. Eram assim considerados aqueles que "ainda podiam 
falar" possunt) e que, por conseqüência, "não tinham consci-
ência de seus atos". Eram, portanto, considerados absolutamente incapa-
zes. Direito Romano entendia que a infância ia até os sete 
anos de idade. Dos sete anos até a puberdade, os menores eram considera-
dos relativamente incapazes, necessitando de um tutor para lhes 
trar os bens. 
b) Impúberes. Eram aqueles que ainda não apresentavam o desenvol-
vimento físico necessário para o casamento. 
DIREITO D A S P E S S O A S 139 
Nos primórdios do Direito Romano, os menores do sexo masculino 
eram submetidos a uma "inspeção corporal" para que 
 comprovada sua puberdade. Tal costume durou algum tempo mas, 
paulatinamente, foi sendo Tornava-se, de fato, degradante para 
os rapazes serem "inspecionados", e constrangedor, para os fiscais, reali-
zarem a inspeção. Assim, resolveu-se fixar a idade para o início da puber-
dade: aos 14 anos para os homens e aos 12 anos para as mulheres. 
Quando os rapazes completavam 14 anos, festejavam o seu ingresso 
na idade comparecendo às Liberalias, festas celebradas todos o anos, 
no dia 17 de março. Deixavam, então, de usar a toga pretexta (de lã branca, 
com bordas vermelhas) e passavam usar a toga virilis, que era inteiramente 
branca e indicava a adolescência. 
No ano 190 a.C, a Lei Plaetoria fixou a maioridade dos homens aos 
25 anos. A partir de eles adquiriam a plena capacidade de 
 sexo 
As mulheres eram consideradas incapazes para a prática dos atos da 
vida civil; necessitavam, sempre, de um tutor que lhes representasse os 
direitos na sociedade romana perpétua). Jamais podiam ocupar 
qualquer cargo público. 
Se eram solteiras, eram consideradas e permaneciam su-
jeitas ao pátrio poder do chefe (pater) de sua família de sangue. 
 CC: "Art. São incapazes, relativamentea certos atos, ou à maneira de os exer-
cer: os maiores de (dezesseis) e menores de (dezoito) anos; II - os ébrios 
habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o 
discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental 
completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regu-
lada por legislação especial". 
"Art. A menoridade cessa aos (dezoito) anos completos, quando a pessoa 
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, 
para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na 
falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de 
çãojudicial, ou por sentença do juiz, o tutor, se o menor (dezesseis) 
anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público 
 IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabe-
lecimento civil ou comercial, ou pela existência de de emprego, desde 
que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha econo-
mia própria." 
140 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Quando se casavam, saíam da esfera do poder do pater de sua 
mas ficavam submetidas ao (autoridade) do marido; se o marido 
fosse, também, o pater (chefe) de sua família, a sua mulher passava a ser 
considerada sua "filha" filia no lugar de filha), ficando em igualda-
de de condições com os próprios filhos. Se o chefe da nova família fosse o 
sogro, ela passava a ser considerada sua "neta" (loci nepotis). 
Quando a mulher fosse sui ou seja, não estivesse sob o poder 
paterno potestas), nem marital (manus), ficava mesmo assim sub-
metida a uma "tutela perpétua", por ser mulher (tutela mulierum), sendo 
considerada relativamente capaz. De fato, disse Ulpiano, "em muitos arti-
gos de nosso direito, é pior a condição das mulheres que a dos varões" (in 
 iuris articulis deterior est 
 (D.h.t.9). 
Essa situação de dependência da mulher só desapareceu no direito jus-
tinianeu. 
2.1.5.3 Enfermidades físicas e mentais 
Algumas espécies de enfermidades físicas e mentais influíam na ca-
pacidade jurídica das pessoas: 
a) Enfermidades físicas: alguns males considerados permanentes (vitio 
laborantes) acarretavam a perda da capacidade de fato. Assim, no Direito 
Romano aqueles que eram castrados (castrati) ou esteriliza-
dos (spadones) não podiam se casar ou adotar filhos. Os cegos não podiam 
fazer testamentos válidos se não observassem um procedimento especial. 
Os surdos-mudos também eram impedidos de testemunhar e de fazer tes-
tamentos orais. 
b) Enfermidades os romanos classificavam os doentes men-
tais e mentecaptus. 
 era o alienado que tinha, vez ou outra, momentos de luci-
dez "Nos momentos de lucidez o furiosus é plenamente 
capaz, mas o furor sobrevindo, pode-se recear que ele dissipe os seus bens 
e comprometa dessa forma os direitos dos seus herdeiros 
Assim, ele era considerado absolutamente incapaz, não podendo gerir 
o próprio patrimônio; um curador administrava em seu lugar. 
Mentecaptos e dementes (dementes) eram os loucos 
irrecuperáveis, necessitando de um curador permanente. 
 MEIRA, Silvio Instituições de direito romano. 3. São Paulo Max 
 p. 206, 
DIREITO D A S P E S S O A S 141 
2.1.5.4 Prodigalidade 
Pródigo era o esbanjador dos próprios bens, o gastador 
imoderado que fazia perigar seu próprio direito e o de seus herdeiros legí-
timos. Era considerado relativamente capaz, necessitando de um curador 
para a administração de seus bens. 
2.1.5.5 Outras causas restritivas da capacidade fato 
a) Infâmia - Os romanos tinham em grande conta a honra do indiví-
duo, sua conduta no meio social. Qualquer pessoa que praticasse um ato 
considerado ofensivo à dignidade pública era considerado infame e tinha 
diminuída sua capacidade jurídica. Era assim considerado infame: 
a) o que fosse condenado pela prática de bigamia, por proferir calúni-
as e injúrias ou por furto ou roubo; 
b) os comerciantes falidos e as viúvas que se casassem antes de termi-
nar o prazo de luto, ou seja, um ano após a morte do marido; 
c) a pessoa que exercesse determinadas profissões que eram conside-
radas imorais e desonestas, tais como a de ator, a de usurário ou proprietá-
rio de casas de prostituição; 
d) as mulheres surpreendidas em flagrante adultério; 
e) o tutor 
A infâmia era declarada por lei ou por um édito do pretor e quem fosse 
assim considerado não mais podia ser procurador, servir como testemu-
nha, ocupar cargos públicos ou servir no exército romano. 
A pecha de infame só podia ser retirada pelo imperador ou pelo senado 
romano, através da denominada restitutio in integrum. 
 Turpitude (vitae turpitudo) - Era o comportamento indecoroso que 
ofendia o bom conceito do indivíduo na sociedade. Aquele que vivesse em 
desacordo com a moralidade pública de então era considerado uma pessoa 
 (persona turpis), tendo assim diminuída sua capacidade de fato. 
c) Religião - A partir de Constantino, os não-cristãos passaram a so-
frer uma capitis deminutio media, ou uma diminuição na sua capaci-
dade de praticarem determinados atos da vida civil. Os ateus, os apóstatas, 
 e os hereges de modo geral não puderam mais ser testemunhas ou 
herdeiros. Os judeus, especificamente, não podiam exercer qualquer car-
go público, possuir escravos cristãos e nem contrair matrimônio com cris-
 
 STATUS NO DIREITO ROMANO: 
 STATUS LIBERTATIS 
SUMÁRIO: status no Direito Romano - 3.2 Status libertatis. Con-
 3.3 A escravidão: Causas da escravidão; 3.3.2 Outras causas 
de escravidão - 3.4 dos escravos libertos: 3.4.2 
 ou alforria: 
3.5.2 Formas não solenes de manumissão - 3.6 Estados de 
 3.6.2 Colonos; 3.6.3 3.6.4 3.6.5 
Pessoas 3.6.6 Homo 
3.1 status no Direito Romano 
Eram considerados cidadãos ou seja, absolutamente ca-
pazes para a prática de todos os atos da vida civil, aqueles que possuíssem 
determinados status na sociedade. 
A palavra status, para os romanos, não tinha o mesmo sentido que nos 
dias de hoje. Significava um conjunto de qualidades que o indi-
víduo deveria ter para ser considerado plenamente capaz de exercer todos 
os seus direitos, quer na vida pública quer na vida privada. 
Para ser absolutamente capaz, um cidadão jure, a pessoa deve-
ria ser titular, concomitantemente, de três espécies de status: o status 
civitatis, o status libertatis e o status familiae. 
3.2 Status libertatis. Conceito 
• 
 status libertatis era a situação de ser livre. A liberdade era conside-
rada o bem maior do ser humano e aquele que a perdesse sofria uma degra-
dação máxima, perdendo todos os direitos e tornando-se absolutamente 
incapaz para exercer qualquer ato na vida A perda da liberdade equi-
valia à própria morte da pessoa. 
 STATUS NO DIREITO R O M A N O : 143 
Uma das causas principais da perda do status era a escravi-
dão. 
• 
3.3 A escravidão 
Os escravos, como já visto anteriormente, eram considerados como 
"coisa um objeto e, como tal, não gozavam de qualquer espécie de 
direito. Eram comprados e vendidos como simples mercadorias e seus pro-
prietários (dominus) tinham sobre eles o poder de vida e morte, podendo 
abandoná-los, fustigá-los ou mesmo matá-los. Varrão os definiacomo sim-
ples "instrumentos capazes de 
 rigor do sistema escravagista só foi atenuado no período da Repú-
 quando os escravos passaram a gozar de pequenas regalias, tais como 
o reconhecimento extra-oficial de suas uniões conjugais, denominadas 
 o direito de assistirem aos cultos dos seus senhores e o de 
poderem receber uma espécie de arrendamento de bens, denominado pe-
cúlio. 
3.3.1 Causas da escravidão 
Uma pessoa podia se tornar escrava pelos seguintes motivos: 
a) Pelo nascimento. A regra era de que os seguiam a condição da 
mãe no momento do parto. Se o pai fosse um escravo e a mãe livre, o filho 
seria livre; por outro lado, era considerado escravo o filho de mãe escrava, 
mesmo que seu pai fosse umlivre cidadão romano. No entanto, se ficasse 
provado que a mãe escrava, durante algum momento da gestação, tivesse 
sido livre, o filho também poderia ser considerado livre. 
b) Pelo cativeiro. Qualquer pessoa que fosse aprisionada em guerra 
(captivi) passava automaticamente à condição de escravo, e essa regra tam-
bém se aplicava aos cidadãos romanos: se fossem aprisionados pelo ini-
migo, passavam a assim ser considerados, a não ser que tivessem caído 
prisioneiros de piratas, ladrões ou em conseqüência de uma guerra civil. 
A Lei de data incerta, veio atenuar esse rigorosismo do jus 
 romano e criou a figura do postliminium, uma ficção jurídica que 
 aplicava nos seguintes casos: 
 "Meu pai sempre me ensinou a não encarar tragicamente as perdas materiais; 
(portanto) sempre que morre um boi, um cavalo ou um escravo, faço disso 
um drama" (Galeno). 
144 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
a) se um romano retornasse a Roma porque tivesse sido libertado pe-
los seus captores, ou porque deles tivesse fugido, era reintegrado na sua 
situação jurídica anterior, como se nada tivesse acontecido; 
b) se, porventura, morresse em cativeiro, pelo jus postliminium podia-
se presumir que ele tivesse morrido no momento de sua captura, quando 
ainda era livre, tornando-se, portanto, válido o testamento que porventura 
tivesse deixado. 
3.3.2 Outras causas de escravidão 
Diversos outros fatores faziam com que a pessoa perdesse seu status 
 conduzindo-a à condição de escravo: a condenação a penas ca-
pitais ou aos trabalhos forçados, a inadimplência. Tornavam-se também 
escravos os ladrões flagrados pela vítima, os desertores das legiões roma-
nas e aqueles que se recusavam a inscrever seu nome no censo (incensus). 
Passavam, também, à condição de escravas, as mulheres que estives-
sem mantendo relações sexuais com um escravo e que não atendessem à 
três intimações consecutivas do proprietário do escravo, para que rompes-
sem com aquele relacionamento ilícito. 
Como simples "coisas" os escravos podiam ser vendidos pelos 
seus senhores. mesmo ocorria com os cidadãos romanos que perdiam o 
status libertatis pelos motivos acima apontados. jus civile, no entanto, 
não permitia que eles fossem vendidos em solo romano, exatamente por 
terem o status de "cidadãos" romanos. problema foi resolvido permitin-
do-se que eles fossem vendidos ou seja, além do Rio Tibre, 
que demarcava a fronteira da cidade. 
3.4 Situação dos escravos libertos 
Os homens livres eram classificados pelo jus civile em ingênuos e li-
bertos. Os ingênuos eram aqueles que haviam nascido livres e 
que jamais tinham perdido a liberdade est is, que ut natus 
est, est (Dig. 1,5,5,2. Gaio, Libertos (libertinus) es-
cravos que haviam sido manumitidos ou alforriados. 
Os libertos, no entanto, apesar de adquirirem o status libertatis, con-
tinuavam a sofrer algumas restrições em seus direitos: não podiam ocu-
par determinados cargos públicos nem ingressar na classe sacerdotal e, 
ainda, passavam a dever favores a seus antigos senhores (obsequium, 
operae e bona). 
 STATUS NO DIREITO R O M A N O : STATUS 145 
3.4.1 
Também chamado ou honor, era a obrigação de respeito e 
deferência com que o liberto deveria tratar o seu ex-senhor. Não podiam 
ingressar com qualquer processo contra eles, a não ser em casos excepcio-
nais, e assim mesmo com autorização expressa de um magistrado. 
3.4.2 Operae 
Era a obrigação que o liberto tinha de continuar prestando serviços ao 
ex-senhor. Dividia-se em: 
a) operae realização de trabalhos domésticos; 
b) operae fabriles: obrigação de o liberto prestar apoio financeiro ao 
ex-senhor, quando isso se fizesse necessário. Esse apoio era prometido antes 
da manumissão, através de um juramento religioso. 
c) bona: era uma espécie de obrigação alimentícia recíproca entre li-
berto e ex-senhor. Essa obrigação, posteriormente, deu origem à presta-
ção de alimentos, tal qual a conhecemos no direito 
Cabia aos ex-escravos, ainda, a obrigação de visitarem os ex-senhores 
duas vezes por dia: uma de (statutatio), e outra à noite. Esse costu-
me caiu em desuso no final da Realeza. 
 liberto que não fosse obsequioso, ou não cumprisse suas obri-
gações para com o ex-senhor, podia ser retirado da sua lista de legatários, 
ficar proibido de ser sepultado na tumba da família do ex dominus e ser 
considerado um ingrato, sendo condenado publicamente, por isso, à pena 
de bastonadas. Em casos graves, a sua liberdade podia até mesmo ser cas-
sada por ingratidão (revocatio in 
3.5 Manumissão ou alforria 
Manumissão era a alforria, a liberdade concedida ao 
escravo pelo seu senhor e podia ser concedida de forma solene 
ou não solene. A libertação de um deles era considerado um mérito, mas 
não um dever. 
 CC: 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns 
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível 
com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua 
educação". 
146 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 
 Formas solenes de 
• Per vindicta 
• Pelo censo 
• Por testamento 
3.5.1.1 Per vindicta 
 
Vindicta, em latim, significa "varinha". proprietário do escravo 
 acompanhado de um amigo e do escravo que pretendia li-
bertar, comparecia perante um magistrado. Lá, o amigo (adsertorlibertatis) 
tocava o escravo com a varinha e dizia: "Declaro este homem livre". 
Se o dominus nada retrucasse, era porque concordava com a concessão 
da liberdade e, a partir de o escravo era considerado homem livre. 
Esse costume de se conceder a liberdade originou, na Idade Média, o 
costume de os reis sagrarem os cavaleiros, tocando seus ombros com 
uma espada. 
 Pelo censo 
A cada cinco anos a lei determinava um recenseamento em todo o 
Império Romano. Nessas ocasiões, quando o dominus recebia a visita do 
censor, se pretendesse libertar um escravo, inscrevia seu nome como um 
dos membros de sua A partir desse ato o escravo era um homem 
livre. 
3.5.1.3 Por testamento 
Dentre as cláusulas de seu testamento o dominus constar sua von-
tade de libertar determinado escravo escrevendo textualmente: "Quero 
meu escravo fulano seja livre". 
3.5.2 Formas não solenes de manumissão 
• Inter amicus 
• Per epistolam 
 
• 
• In ecclesiis 
• Pileum 
 STATUS NO DIREITO R O M A N O : 0 STATUS 147 
3.5.2.1 
Como o próprio nome indica, a liberdade do escravo era concedida 
"entre amigos". Numa reunião íntima, sem qualquer outra formalidade, o 
 manifestava em alta voz o seu desejo de alforriar seu escravo. 
3.5.2.2 Per epistolam 
Epistola, em latim, significa "epístola", "carta", e essa era a forma pela 
qual o dominus manifestava sua vontade de alforriar um consig-
nava tal fato numa carta. 
3.5.2.3 
Após um banquete, cercado por seus convidados, o senhor anunciava 
em alta voz que, a partir daquele momento, tal escravo era considerado li-
vre. 
3.5.2.4 In sacrosanctis 
Ecclesia é palavra de origem grega que Durante uma 
 religiosa, o sacerdote, com a concordância do dominus ali pre-
sente, anunciava que o escravo tal, a partir daquele momento, era conside-
rado libertado. Essa forma de manumissão surgiu em Roma por influência 
do cristianismo. 
3.5.2.5 
 uma espécie de barrete vermelho. o escravo acompanhas-
se o enterro do falecido senhor, com um pileum na cabeça, tal fato signifi-
cava publicamente que, por vontade do falecido senhor, ele havia obtido a 
liberdade. barrete vermelho (ou barrete frígio) passou a ser um símbolo 
de liberdade e como tal foi usado pelos rebeldes franceses durante a Revo-
lução Francesa. 
3.6 Estados de quase-servidão 
Existiam algumas situações nas quais uma pessoa livre se encontrava 
numa condição de quase-servidão, dependente de e submissa a outrem: 
situação de addictus, de colonos, de redemptus, de auctoratus, de pessoas 
in e de homo bona fide serviens. 
148 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
3.6.1 Addictus 
Eram os devedores que ficavam submetidosao credor até o pagamen-
to efetivo da dívida. Alguns eram condenados por sentença judicial (judi-
 outros se vinculavam livremente ao credor, na condição de escra-
vos, através da celebração de um contrato (nexum), até o pagamento de seu 
débito. Se pagassem o devido, revogava-se o contrato. Se não pagassem, 
os credores aprisioná-los em cárcere doméstico por sessenta dias. 
Depois desse prazo os credores podiam até mesmo matá-los, se assim o 
desejassem, ou vendê-los como escravos no estrangeiro, do Tibre 
(transTiberim). Essa prisão por dívidas foi abolida por Teodósio I, no ano 
388 
3.6.2 Colonos 
Eram homens livres que se transformavam voluntariamente em ver-
dadeiros servos da terra (servi terrae), ou vinculavam-se às terras que 
cultivavam, mediante o pagamento uma renda ao proprietário. Não eram 
escravos do proprietário, mas sim das terras que cultivavam. Delas não 
podiam se afastar, e, se o as pretendesse alienar, não as podia 
vender sem eles. 
3.6.3 
Era um ex-prisioneiro de guerra que havia sido resgatado com uma 
quantia em dinheiro, fornecida por terceiros. Depois da libertação, empe-
nhava o seu próprio corpo ao credor pignoris) até o pagamento 
da quantia dada em resgate por sua liberdade. No ano 409 d.C, sob o reina-
do de Honório e Arcádio, ficou fixado o período de cinco anos no qual o 
redemptus ficaria vinculado ao seu credor. 
3.6.4 Auctoratus 
 a forma qual um homem se colocava sob as ordens um 
empresário (lanista), para lutar como gladiador nos jogos do circo roma-
no. gladiador era livre, mas ficava em estado de quase-servidão perante 
o empresário: até o término de seu contrato, devia participar de todos os 
jogos do circo e dar a própria vida, se assim fosse necessário. Constantino, 
no ano 325, aboliu essa modalidade de contrato. 
 STATUS NO DIREITO R O M A N O : 0 STATUS L1BERTATIS 149 
3.6.5 Pessoas in mancipio 
Era a forma pela qual um pater familiae podia vender o próprio filho, 
até três vezes, como garantia de uma dívida, ou entregá-lo para trabalhar 
para outrem, mediante pagamento. uma espécie de locação do filho para 
prestação de serviços a outrem. 
 podia, também, entregar o filho como reparação de algum dano 
causado a terceiros. Era o denominado "abandono (noxa repara-
ção do dano). filho, nessas condições, não perdia a liberdade nem a cida-
dania, mas era considerado como um servi, um quase-escravo. 
3.6.6 Homo bona fide serviens 
Um homem livre, ingenuamente e de boa fé, se julgava escravo de 
outrem, e passava a servi-lo nessa condição. Isso podia acontecer, por exem-
plo, quando um escravo era libertado sem o saber, e continuava a trabalhar 
para o ex-senhor, sem saber que lhe havia sido concedida a alforria. 
STATUS 
A CIDADANIA ROMANA 
SUMÁRIO: Status civitatis. Cidadania romana. Conceito: Pere-
grinos; 
civitatis. 
4.1 Status civitatis. Cidadania romana. Conceito 
Status civitatis era a qualidade de cidadania, a condição que ligava o 
indivíduo à civitas, ao Estado romano. Aqueles que detinham esse status 
eram considerados cidadãos e, como tal, titulares de direitos públicos e 
privados na sociedade romana. Só podia ter o status civitatis aquele que 
tivesse, concomitantemente, o status Um pressupunha o outro. 
 status civitatis (cidadania) conferia a seu titular o direito de votar 
nas assembléias populares (jus sufragii), de candidatar-se a cargos públi-
cos (jus honorum), de adquirir e alienar propriedades em Roma e celebrar 
contratos (jus commercium), de contrair casamento com mulher romana 
(jus de ingressar com ações em juizo (jus actionis), de fazer 
testamentos e receber herança de terceiros em testamentos (jus testamenti 
factio) e, ainda, de ingressar na classe sacerdotal (jus sacerdotii). 
Somente os cidadãos romanos tinham, também, o direito de usar um 
conjunto de três nomes: o prenome, o nome gentílico e o cognome, como, 
por exemplo, Marcus Tulius Cicero. 
Quem não era romano era considerado peregrino, latino ou pertencente 
a um povo "bárbaro". 
4.1.1 Peregrinos 
Eram peregrinos todos os estrangeiros que habitavam pa-
íses com os quais Roma havia celebrado acordos e tratados. "Bárbaros", 
STATUS C I D A D A N I A R O M A N A 151 
por outro lado, eram todos os outros povos com os quais os romanos não 
mantinham qualquer espécie de aliança. 
Nos primeiros tempos de Roma os peregrinos eram considerados hos-
tis (inimigos) e não eram amparados pelo jus civile. Com o passar do tem-
po, o incremento comercial com outros povos fez com que Roma se tor-
nasse um grande centro urbano, para onde acorriam pessoas de todas as 
nacionalidades. Os contactos entre romanos e estrangeiros se estreitaram 
e o intenso intercâmbio comercial fez com que o sentimento de hostilidade 
fosse diminuindo, acarretando um abrandamento no rigorismo das leis 
romanas contidas no jus civile. 
A partir de então, mesmo sem adquirirem a cidadania, alguns direitos 
passaram a ser conferidos aos peregrinos, tais como o de celebrarem casa-
mentos reconhecidos pelas leis romanas, o de serem proprietários e con-
 obrigações comerciais válidas em solo romano. 
Os peregrinos eram classificados em: 
a) Peregrinos ordinários alicujus Eram aqueles 
provenientes dos municípios, ou seja, das regiões e cidades autônomas que 
haviam celebrado tratados com Roma, mas que continuavam a ser regidas 
por normas jurídicas e estrutura política próprias. 
b) Peregrinos deditícios (dedititio rendição). Eram os estrangeiros 
provenientes de regiões subjugadas, que não gozavam de qualquer auto-
nomia, permanecendo subordinadas diretamente às leis e instituições ro-
manas. Não era permitido aos peregrinos deditícios habitarem em Roma, 
mas somente a mais de 50 quilômetros da cidade. 
4.1.2 Latinos 
Entre os dois opostos - cidadãos romanos e peregrinos - existia a ca-
tegoria dos latinos, que eram os descendentes dos habitantes do antigo 
Lácio. Tinham autonomia e gozavam de certas regalias em Roma. Os lati-
nos eram divididos em três categorias: 
a) Latinos veteres ou prisci (vetus arcaico, antigo). Eram os latinos 
mais velhos, descendentes diretos das primeiras famílias de seu povo. Ti-
nham o direito de adquirir e de transferir propriedades (jus de se 
casar e de fazer testamentos (jus e testamentifactio) e o jus sufragii 
(direito de voto). Não tinham, entretanto, o jus ou seja, o direito 
de ocupar cargos públicos. 
b) Latinos coloniários. Eram os habitantes de algumas regiões mais 
distantes de Roma, que, embora não descendentes dos latinos veteris, goza-
152 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 de alguns direitos. Para se casarem, no entanto, necessitavam de ex-
pressa autorização das autoridades romanas. 
c) Latinos Eram os ex-escravos que haviam adquirido a li-
berdade sem a observância das prescrições legais. A eles era permitido 
somente adquirir e transmitir bens (jus commercii). Quando morriam, en-
tretanto, seus bens retornavam ao patrimônio do seu ex-senhor. Os latinos 
junianos não adquiriam o status civitatis. 
4.2 Aquisição do status civitatis 
A cidadania romana (status civitatis) se adquiria: 
a) Pelo nascimento. Ao contrário do critério do jus pelo qual a 
pessoa adquiria a nacionalidade do solo onde tivesse nascido, independen-
temente da nacionalidade dos pais, o Direito Romano adotava critério do 
jus sanguinis, pelo qual a pessoa adquiria a nacionalidade de seus pais de 
sangue, independentemente do país de seu nascimento. 
Mas qual das nacionalidades deveria prevalecer: a do pai ou a da mãe 
do recém-nascido? Esse problema acarretou longas discussões entre os 
jurisprudentes romanos, ficando, ao final, decidido, na época de Justinia-
no, que a nacionalidade que deveria prevalecer seria sempre a da mãe, na 
hora do parto. 
b) Por benefício da lei. Adquiria-se, também, a cidadania por força de 
lei. Os cidadãos romanos, reunidos em assembléia, discutiam e votavam a 
proposta de cidadania para uma determinada pessoa, apresentada por um 
magistrado pelo imperador. Se aprovada,a proposta 
referendada pelo senado romano. 
c) Pela naturalização. Direito Romano possibilitava que o status 
civitatis, ou cidadania, fosse concedido tanto a uma só pessoa como, de 
forma coletiva, a todos os habitantes de uma região. 
Populusfundus era a região na qual as leis romanas continuavam a ser 
rigorosamente obedecidas, mesmo após ter sido concedida a cidadania a 
todos os seus habitantes. 
 por outro lado, era a cidade que continuava a ser regida 
pelas suas próprias leis, com autonomia do Império Romano, mesmo após 
seus habitantes terem obtido a cidadania romana. Seus habitantes passa-
vam a ser chamados de 
d) Pela manumissão. Conforme visto anteriormente, o proprietário 
podia conceder a liberdade a seus escravos, que adquiriam, a partir de en-
tão, o status civitatis, com restrições. 
STATUS C I D A D A N I A R O M A N A 153 
Com o passar dos anos, e mercê das constantes modificações 
político-econômicas pelas quais passava o Império Romano, o status 
 passou a ser atribuído também a outros povos. Em 123 a.C, por 
força da Lex Atilia Repetundarum, todos os estrangeiros que denuncias-
sem os magistrados corruptos podiam se tornar cidadãos romanos. No ano 
90 a.C, a Lex Julia a concedeu aos latinos (habitantes da região do Lácio) 
e, no ano seguinte, a Lex Plautia Papiria a estendeu a todos os que fossem 
aliados de Roma. Por fim, em 212 d.C, o imperador Caracala, através da 
Constitutio Antoniniana, atribuiu a cidadania romana à quase totalidade 
dos habitantes do 
4.3 Perda do status civitatis 
Perdia o status civitatis o cidadão que fosse levado à condição de es-
cravo, que se naturalizasse cidadão de outro Estado e, também, quando 
sofresse a pena de deportação. 
• 
 Os que estão no mundo romano se fizeram cidadãos romanos por uma constitui-
ção do imperador Antonino (Caracala) (In orbe romano ex constitutione 
Imperatoris Antonini romani effecti sunt - Dig. 
STATUS FAMILIAE 
 Status familiae e a família romana. status familiae na 
sociedade romana - 5.2 As pessoas juris e juris - 5.3 Parentesco. 
Agnatos e cognatos. 
 Status familiae e a família romana. status familiae na sociedade 
romana 
Status familiae era a condição que a pessoa tinha dentro da própria 
família: ou era sui juris (não subordinada a ninguém e, portanto, livre para 
a prática direta de qualquer ato na vida civil), ou alieni juris (submetida a 
qualquer espécie de autoridade familiar, necessitando, pois, de seu consen-
timento para a prática de qualquer ato na sociedade romana). 
 nos primórdios do Direito Romano, significava tanto o con-
junto de pessoas que viviam sob a dependência de um chefe (o pater 
 como a totalidade dos bens que constituíam a sua propriedade. 
"A palavra família está, certamente, entendida com variedade, porque se 
aplica às coisas e às pessoas", definiu Ulpiano. 
Como reunião de pessoas, a família romana foi eminentemente patri-
arcal nos tempos da Realeza e do Império, todos os seus membros 
sujeitos ao poder do paterfamilias, que era, sempre, o ascendente mascu-
lino mais antigo e que, enquanto vivesse, tinha sobre os demais o poder de 
vida e morte (jus vitae necisque). 
As esposas, os filhos, noras, genros ou escravos - todos eram subordi-
nados ao chefe de suas famílias, e os bens por eles adquiridos integravam-
se automaticamente ao patrimônio 
 poder do paterfamilias sobre seus descendentes só foi diminuído no século IV 
d . C , quando foi criado o peculium castrense, que permitiu que os filhos que 
ocupassem cargos na corte imperial pudessem administrar diretamente os seus 
STATUS 155 
Os exerciam os seguintes poderes no âmbito familiar: a 
 potestas sobre todos os filhos; o ou potestas maritalis sobre 
a mulher casada, no casamento a potestas sobre os 
escravos e o mancipium sobre os homens livres que viviam, provisoriamen-
te, em condições de escravidão. 
Ele era o senhor absoluto e também o sacerdote do culto familiar. Cada 
família possuía seus deuses próprios e manus) que eram transmiti-
dos de geração a geração. Se uma família obtivesse sucesso na política e 
nos negócios, tal progresso era atribuído a seus deuses, que, desta forma, 
ganhavam notoriedade, sendo "adotados", então, por outras famílias, e, 
conforme o grau de sucesso, até mesmo como protetor de toda a cidade. 
Para ser era necessário somente ser do sexo masculino 
e não estar subordinado a um outro ascendente masculino. Assim, um ór-
fão, solteiro e sem descendentes, podia ser pater de si mesmo. 
Evidentemente, essas condições impediam as mulheres de galgarem essa 
posição na família romana. 
Os poderes do paterfamilias somente se extinguiam com a sua morte. 
Quando ele morria, a família se multiplicava em tantas novas famílias 
quantos fossem os descendentes do sexo masculino, que, por sua vez, se 
transformavam em novos 
Esse rigorismo do patriarcado romano só começou a ser amenizado no 
período do Principado, influenciado pelas novas idéias trazidas pela filo-
sofia grega e, principalmente, pelo cristianismo. No Dominato os poderes 
do foram sendo absorvidos pelo Estado, que passou a ditar 
as normas de convivência e relacionamento no seio familiar. 
5.2 As pessoas e alieni 
Com relação ao familiae, o Direito Romano classificava as pes-
soas em duas classes distintas: sui e alieni 
a) era o que não estava subordinado a qualquer poder 
familiar, tendo plena capacidade jurídica para praticar todos os atos da vida 
 sem depender de quem quer que fosse. Geralmente eram os cidadãos 
que não tinham nenhum ascendente do sexo masculino ou que haviam sido 
liberados do poder paterno através a emancipação Os sui 
 possuíam o status familiae. 
bens, sem o consentimento de seus pais; e no século V d . C , quando foi permiti-
do que os advogados e eclesiásticos pudessem exercer diretamente seus direitos 
sobre os próprios bens, mesmo que seus pais continuassem vivos. 
156 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
b) Alieni eram os relativamente incapazes, os que estavam sub-
metidos ao poder familiar, dependendo dos pater tutores ou 
curadores para celebrar os atos da vida civil; como exemplo, podemos ci-
tar os menores de idade e as mulheres. Os não podiam contrair 
matrimônio o consentimento do pater, e os bens que adquirissem eram 
incorporados ao patrimônio do chefe da família. 
5.3 Parentesco. Agnatos e cognatos 
Os romanos conheciam duas relações de parentesco: a agnação (agna-
 e a cognação (cognatio). 
Agnação era o parentesco que não se fundamentava em laços de san-
gue, mas na sujeição da pessoa um mesmo Eram, pois, 
agnatos todos aqueles que, mesmo não descendendo diretamente uns dos 
outros, pertenciam uma mesma família, sujeitos 
Assim, os parentes por afinidade: na linha ascendente, o sogro e a sogra 
(socer e socrus), o padrasto e a madastra e, na linha 
descendente, o genro (gener) e a nora (nurus), o enteado e a 
enteada e ainda, na linha colateral, o cunhado e a cunha-
da 
Cognação era o parentesco natural, ligados pelos laços de sangue. 
parentesco cognatício em linha reta compreendia o filho e a filha (fdius, 
filia), o neto e a neta (nepos e neptis), o bisneto e a bisneta e 
 o trisneto e a trisneta e abneptis), e também o avô e a 
avó e avia), o bisavô e a bisavó o trisavô (abavus 
e em linha colateral eram cognatos o tio e a tia paternos 
e o tio e a tia maternos (avunculus e e os primos (conso-
 consobrinae). 
 jus - modalidade de Direito Romano que vigorou durante os 
períodos da Realeza da República- considerava parentes para efeitos 
somente os agnatos. Desta forma, somente eles tinham direito à sucessão 
dos bens deixados pelo pater Os cognatos, apesar de serem pa-
rentes de sangue do falecido, estavam fora do direito sucessório. 
Esse rigorosismo do jus civile foi abrandado em fins da República pelo 
direito pretoriano, que, aos poucos, foi concedendo direitos hereditários 
também aos cognatos. 
Os privilégios do parentesco agnatício foram abolidos por Justiniano,por volta de 570 A partir de então, passaram a ser considerados paren-
tes, para efeitos sucessórios, somente os cognatos. 
CAPITIS DEMINUTIO 
S U M Ä R I O : Capitis deminutio. - 6.2 Capitis deminutio 
maxima - 6.3 Capitis deminutio media - 6.4 Capitis deminutio minima. 
6.1 Capitis Conceito 
Capitis deminutio era a mudança ou alteração que a pessoa sofria em 
qualquer dos três status civitatis Ela podia ser má-
xima, média ou mínima, dependendo do motivo e circunstâncias do fato. 
6.2 Capitis deminutio 
A liberdade era o bem de maior valia para os romanos e o indivíduo 
que por qualquer motivo a perdesse sofria uma capitis deminutio 
Tal lhe acarretava, por conseqüência, a perda dos outros dois 
status (o civitatis e o que significava a total incapacidade jurí-
dica do indivíduo, equivalendo à sua morte civil. 
 rigorismo desse entendimento foi posteriormente atenuado pelo jus 
postliminium e a Lei que, no entanto, restabeleciam somente os 
direitos do ex-cidadão romano capturado pelos inimigos, mas não recons-
tituíam os fatos, ou seja, não reconstituíam situações e negócios jurídicos 
que haviam sido rompidos ou desfeitos quando o indivíduo se tornara ca-
tivo. 
 postliminium era o direito que o ex-cidadão romano cativo tinha de recupe-
rar seus direitos, perdidos pela escravidão, se conseguisse fugir do cativeiro ou 
se fosse libertado pelo seu captor. 
A Lei Cornélia, por sua vez, determinava que, se o romano morresse 
em presumir que ele morrera antes da prisão, quando ainda 
era livre, portanto, a posteriori restituídos todos os seus direitos. 
158 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
6.3 Capitis deminutio media 
Ocorria quando o indivíduo perdia sua condição de cidadão romano, 
mas conservava a sua liberdade. status civitatis podia ser alterado ou 
modificado por diversos motivos de ordem natural ou social, tais como o 
sexo, a idade, enfermidades físicas ou mentais, a religião, e fatos desabo-
 de sua conduta social. 
6.4 Capitis deminutio minima 
Era uma alteração ou modificação do familiae do indivíduo, que, 
no entanto continuava a ter o seu status libertatis e o seu status civitatis. 
Exemplo: quando a mulher se casava, saía da esfera de poder do pater 
familiae de seu grupo familiar e entrava, com seus bens, na esfera de poder 
do pater da família de seu marido. Ocorria, então uma capitis deminutio 
minima, que, no entanto, não implicava necessariamente em 
do status, mas até mesmo numa melhoria no conceito da sociedade roma-
na. mesmo ocorria na emancipação, quando a pessoa deixava de alieni 
juris para ser juris. 
 CASAMENTO NO DIREITO ROMANO 
SUMÁRIO: casamento no Direito Romano. Histórico - 7.2 Espé-
cies de casamento: cum manu e sine Casamento cum 
7.2.2 Casamento sine manu - 7.3 As esponsálias (sponsalia): Arras 
esponsalícias - 7.4 Requisitos para o casamento: 
 Jus 7.4.2 Puberdade; 7.4.3 Consentimento - 7.5 Impe-
dimentos matrimoniais: Impedimentos absolutos; 7.5.2 Impedimen-
tos - 7.6 matrimônio nos primeiros séculos da Era Cristã: 
Alterações introduzidas por Justiniano - 7.7 Dissolução do casamento: 
 Dissolução do casamento cum manu; 7.7.2 A dissolução do casa-
mento sine manu - 7.8 repúdio - 7.9 divórcio: divórcio no 
direito justinianeu. 
7.1 casamento no Direito Romano. Histórico 
Os romanos sempre foram monogâmicos e o casamento para eles, além 
de ser a forma legal de coabitação de duas pessoas de sexos distintos, com 
a intenção de procriar e educar os filhos, constituía também uma comuni-
dade absoluta de vida: matrimônio é uma união do homem e da mulher, 
um consórcio completo de vida, uma associação de direito divino e huma-
no" et vitae, 
 No mesmo sentido, as 
Justiniano reforçavam a perenidade que deveria haver nos relacionamen-
tos matrimoniais e definia o casamento como a união do homem e da mu-
lher, implicando uma comunhão indivisível de vida. 
Nos primórdios da história romana, o casamento era celebrado segun-
do os costumes das gentes (famílias patrícias) e tinha caráter 
 Modest ino, século III (Dig. 23, 2, est et mulieris 
conjunctio, individuam vitae (matrimônio é a união 
entre o homem e a mulher com a intenção de formar uma comunidade de vida 
indissolúvel) - 1,9,1) 
160 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
so. Antes das cerimônias da celebração, por primeiro eram consultados os 
arúspices (sacerdotes) e invocados os deuses familiares. Somente se os 
auspícios fossem favoráveis passava-se à celebração propriamente dita, 
sempre na presença do sumo sacerdote e de testemunhas. 
Somente os membros da classe patrícia tinham o jus (di-
reito ao matrimônio), daí decorrendo a impossibilidade de os plebeus se 
casarem com patrícios, e vice-versa. Somente após longos anos de acirra-
das reivindicações os plebeus passaram a ter seus direitos reconhecidos pelo 
direito vigente. 
7.2 Espécies de casamento: cum manu e sine manu 
7.2.1 Casamento cum manu 
Era a espécie de casamento pela qual a mulher saía da esfera de poder 
do pater do seu grupo familiar, e ingressava na esfera de poder do pater da 
família do seu marido poder do pater sobre a mulher 
casada). 
No casamento cum manu havia uma relação de subordinação da mu-
lher em relação ao pater da família de seu Todos os bens por ela 
trazidos integravam-se ao patrimônio da família do marido, que passava a 
ser o administrador dos bens da mulher. 
Nesse tipo de casamento, se o marido fosse o chefe (pater) de sua fa-
mília, a mulher passava a ser considerada sua filha (loco filiae - no lugar 
da filha) e, conseqüentemente, passava a ser considerada "irmã" dos seus 
próprios filhos. Como tal, dependia totalmente do marido e, se este mor-
resse, seus bens seriam repartidos em proporções iguais entre a mulher e 
seus próprios filhos. 
Se o marido fosse ou ainda dependente do poder de 
seu pai, a mulher passava a ser considerada do seu sogro (loco nepotis) 
e "filha" do seu marido. 
Existiam três tipos de casamento cum manu: confarreatio, e 
 
7.2.1.1 Confarreatio 
Era o tipo de casamento cum manu mais antigo, exclusivo da classe 
patrícia, e se revestia de grande solenidade. Consultados os arúspices e 
 C A S A M E N T O NO DIREITO R O M A N O 161 
recebida a aprovação dos deuses, os noivos e familiares desfdavam pelas 
ruas da cidade e se dirigiam até o templo de Júpiter, onde, na presença do 
sumo sacerdote e de dez testemunhas, era celebrado o casamento. Após a 
cerimônia começava uma grande festa, onde se consumia uma espécie de 
bolo de cereais denominado farreus panis, o precursor do "bolo de noiva" 
dos nossos dias. 
 confarreatio desapareceu em fins do século I 
7.2.1.2 
 coemptio era a espécie de casamento exclusivo dos ple-
beus. Nele a mulher era "vendida" simbolicamente ao marido. 
Os noivos, acompanhados por cinco testemunhas, compareciam pe-
rante o uma espécie de funcionário público que portava uma 
pequena balança. Nela, de forma simbólica, era pesado o pagamento que o 
noivo fazia ao pai da noiva, pela entrega de sua fdha. 
 coemptio desapareceu nos primeiros séculos depois de Cristo. 
7.2.1.3 Usus 
Não era um casamento propriamente dito, mas uma preparação para 
ele. Consistia numa espécie de posse da mulher, pelo marido, durante um 
determinado período de tempo. 
A mulher saía da casa de seu pai e passava a coabitar com o homem na 
residência deste, durante um ano consecutivo. Após esse período o casa-
mento era automaticamente legalizado. No entanto, se nesse lapso de tem-
po a mulher passasse três noites (trinoctium) consecutivas fora da casa, 
perderia todos os seus direitos, podendo ser expulsa pelo homem sem 
maiores 
 usus desapareceu por volta do primeiro século antes de Cristo. 
7.2.2 Casamento sine manu 
Nessa espécie de casamento a mulher não se subordinava ao marido 
ou a qualquer membro da nova família, mas continuava a manter a relação 
de subordinação anterior que tinha em sua família de sangue. 
 homem podia passar fora de casaquantas noites quisesse, sem que isso lhe 
acarretasse maiores 
162 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
No casamento sine manu havia direitos e deveres recíprocos, mas sem 
subordinação. Era necessário apenas o maritalis, ou seja, a inten-
ção de serem marido e mulher. 
 casamento sine manu era geralmente celebrado com separação de 
bens. A mulher, apesar da posição secundária no casamento, se fosse sui 
 (não estivesse subordinada ao pater de sua família de sangue), podia 
administrar, através de seu tutor, os bens ou seja, aqueles que 
possuísse antes do casamento. Os bens que fossem adquiridos após o casa-
mento seriam administrados pelo marido. 
No século III depois de Cristo o casamento sine manu substituiu defi-
nitivamente o casamento manu. 
7.3 As 
• 
Era uma espécie de pacto antenupcial, um contrato celebrado pelos 
noivos, ou pelos respectivos pater familias, antes do casamento. Era uma 
promessa oficial de casamento (Dig. 23,1,1). 
As poderiam ser celebradas a partir dos sete anos de idade 
dos futuros "noivos", que eram, representados pelos pais no acor-
do. Se ambos fossem sui o noivo respondia por ele mesmo, mas a 
mulher necessitava da intermediação de seu tutor. Se ambos fossem 
 quem representava os nubentes eram os respectivos pater familias. 
As viúvas também podiam celebrar jus civile lhes per-
mitia casarem novamente somente após transcorridos dez meses de luto. 
Tal medida era exigida para evitar a turbatio sanguinis. Assim, elas podi-
am celebrar esse tipo de contrato prometendo o casamento após aquele 
período. 
A parte que não cumprisse o prometido nas poderia ser 
processada por perdas e danos, pagar uma elevada pena pecuniária 
 outra parte poena) pr). ação de e 
danos foi posteriormente abandonada, pois se chocava com o conceito de 
liberdade que deveria existir no instituto do matrimônio romano. Criou-
se, em seu lugar, as denominadas "arras esponsalicias". 
7.3.1 Arras esponsalicias 
Era uma espécie de sinal, em dinheiro, dado pelos noivos como garan-
tia da promessa de casamento. Aquele que rompesse o contrato, além de 
perder o sinal dado, pagaria à outra parte o quádruplo do sinal dado. Poste-
 C A S A M E N T O NO DIREITO R O M A N O 163 
 o direito justinianeu diminuiu essa pena para o dobro da quan-
tia dada como sinal. 
Para se unirem em matrimônio, os noivos deveriam preencher certos 
requisitos essenciais: terem o jus connubium, serem púberes e demonstra-
rem livre consentimento. 
7.4.1 Jus connubium 
Era a aptidão legal para se casarem, direito que, até meados da Repú-
 somente possuíam os que fossem cidadãos romanos, os antigos lati-
nos e aqueles a quem a cidadania havia sido legalmente 
7.4.2 Puberdade 
Era a aptidão física para o matrimônio, ou a sexual para a 
procriação. 
Durante o período da República (506 a 27 os proculeianos e os 
sabinianos discutiram muito sobre quando ocorria a puberdade. Os sabi-
 eram de opinião de que deveria haveruma inspeção física 
corporis) no cônjuge masculino. Dada à situação constrangedora de tais 
"exames", foi fixada uma idade limite para o início da puberdade: anos, 
para os homens, e 12 anos para as mulheres. 
7.4.3 Consentimento 
Era um dos requisitos essenciais para o casamento. Direito Romano 
não admitia que alguém se casasse coagido. 
Do século I ao século III depois de Cristo era exigido, além do con-
sentimento dos noivos, também o consentimento dos pais. "As núpcias 
não podem subsistir, se não consentirem todos, isto é, os que se unem e 
aqueles sob cujo poder consen-
 id est, qui coeunt quorumque in potestate sunt - Paulo, Dig. 
A mulher, antes dos 25 anos, mesmo que fosse sui não podia se 
casar sem o consentimento do pai e, na falta deste, da mãe, ou ainda, na falta 
7.4 Requisitos para o casamento 
 
 
Somente no ano 445 a.C. a Lex permitiu o casamento entre patrícios e 
plebeus. 
 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
desta e subsidiariamente, o consentimento dos parentes mais próximos. Se 
o pai porventura fosse alienado mental ou o consenti-
mento para o casamento da filha deveria ser dado por um juiz. 
A Lex Julia de maritandis ordinibus (18 possibilitou aos noivos 
o direito de recurso quando os pais negassem o consentimento sem justo 
motivo. 
7.5 Impedimentos matrimoniais 
Existiam diversos impedimentos para o casamento, divididos em ab-
solutos e relativos. 
 Impedimentos absolutos 
Não podiam se casar os homens que sofressem de impedimentos físi-
cos os castrados (castrati) e os esterilizados 
Também eram motivos de impedimento absoluto para o matrimônio a es-
 de um dos cônjuges e o voto de castidade das ordens maiores. 
casamento entre um homem livre e uma escrava passou a ser permitido 
somente no Direito Justinianeu 7.6.1.9; Nov. 
 Impedimentos relativos 
 grau de parentesco podia constituir um impedimento relativo para o 
exercício do jus connubium. Pelo civile não podiam casar-se entre si os 
parentes em linha reta até o infinito e os da linha colateral até o 
imperador Constantino (306 - 337) proibiu o casamento entre parentes 
colaterais até o grau. 
Não podiam casar-se entre si também os parentes por afinidade. As-
sim, o padrasto com a enteada e a madastra com o enteado. mesmo ocor-
ria entre cunhados. 
No ano 17 a.C, a Lex Julia de proibiu o casamento entre a 
adúltera e seu cúmplice. tutor somente podia se casar com sua pupila 
depois de ter prestado contas de sua função oficialmente. raptor também 
não podia se casar com a raptada. 
 49 o imperador Cláudio autorizou o casamento entre tios paternos e suas 
sobrinhas. Desta forma legalizou seu próprio casamento com sua sobr inha 
Agripina... 
 C A S A M E N T O NO DIREITO R O M A N O 165 
7.6 matrimônio nos primeiros séculos da Era Cristã 
 instituto do matrimônio permaneceu estável durante toda a época 
do Dominato, passando depois a ser fortemente influenciado pelo cristia-
nismo. Os ritos pagãos foram sendo paulatinamente suprimidos e o casa-
mento passou a ser abençoado pela Igreja. 
Foram estabelecidas novas formalidades para o casamento: além do 
consentimento livre e sem coação de ambos os cônjuges (desponsatio), 
tornou-se necessária a redação de um documento que regulava os bens de 
cada um dos nubentes e, ainda, que a celebração fosse coroada pela bênção 
nupcial dada numa igreja cristã. Essas formalidades, no entanto, não eram 
obrigatórias, ficando ao alvedrio dos nubentes. 
Nos primeiros séculos da era cristã, a modalidade de casamento 
manu foi desaparecendo aos poucos, prevalecendo o casamento sine manu 
como a única forma de matrimônio legal. 
 Alterações introduzidas por Justiniano 
 imperador Justiniano (527-548) introduziu substanciais modifica-
ções no instituto do matrimônio: 
a) estendeu o direito de casamento a todas as pessoas, independente-
mente de classe social, nacionalidade ou religião. Bastava apenas o 
 ou seja, o consentimento de ambos os nubentes; 
b) determinou a obrigatoriedade de prestação de alimentos entre os 
cônjuges; 
c) estabeleceu o dever de fidelidade entre os esposos; 
d) determinou que os pais deveriam constituir um dote em favor das 
filhas (bens dotais). Esses bens, após o casamento, passavam a ser admi-
nistrados pelo marido em benefício do casal e não podiam ser alienados 
sem o consentimento de ambos. Em caso de separação ou divórcio, esses 
bens dotais seriam à mulher ou seus herdeiros. mesmo ocor-
ria com as doações ou seja, aquelas que haviam sido fei-
tas pelo marido à esposa após o casamento. 
7.7 Dissolução do casamento 
 matrimônio somente era dissolvido pela morte ou cativeiro de um 
dos cônjuges, pelo divórcio ou por outras causas de servidão: "Dissolve-
se o matrimônio pelo divórcio, pela morte, pelo cativeiro ou por outra ser-
vidão que a qualquer dos cônjuges 
166 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
 morte, captivitate alia contingente utrius -
 Dig. 
A morte era uma causa natural para a dissolução do matrimônio e o 
cativeiro,conforme visto anteriormente, era uma 
acarretando ao indivíduo as conseqüências da morte civil. Se um cidadão 
romano, legalmente casado, caísse prisioneiro dos inimigos, automatica-
mente passava a ser considerado divorciado em Roma. Essa regra draco-
niana foi amenizada pelo instituto do postliminium, uma ficção jurídica que 
restaurava os direitos patrimoniais do indivíduo mas não o seu 
nio. jus lhe possibilitava casar-se novamente com a ex-es-
posa, se esta ainda o quisesse. 
 Dissolução do casamento 
A separação dos casamentos cum manu era muito rara mas, conforme 
visto acima, o marido podia repudiar sua mulher, e excluí-la da sua famí-
lia, quando ocorressem infrações graves, comprovadas após um compe-
tente processo 
 casamento cum manu era anulado 
a) espécie de divórcio. Era a cerimônia inversa do con-
farreatio, com a presença de testemunhas para comprovarem a efetiva se-
paração do casal. 
b) Forma de repúdio nos tipos de casamento coemptio e 
usus. marido, se comprovados os motivos para o repúdio, "vendia" a 
mulher para outra pessoa. 
7.7.2 A dissolução do casamento sine manu 
 casamento sine manu era anulado pelo divórcio sepa-
ração consensual do casal, sem maiores formalidades. Bastava a vontade 
de um ou do outro. A mulher também podia requerer o divórcio, desde que 
fosse Quando fosse cabia a seu pater promover a se-
paração. 
7.8 repúdio 
Apesar de o casamento ser considerado um elo permanente, não era 
considerado indissolúvel pelo Direito Romano, podendo ser rompido 
 Em caso de flagrante adultério, o marido podia até mesmo matar sua esposa, sem 
sofrer qualquer punição. 
 C A S A M E N T O NO DIREITO R O M A N O 167 
 por iniciativa de um ou de ambos os cônjuges: "Desde antiga-
mente se determinou fossem livres os matrimônios" (Libera matrimonia 
esse determinava uma Constituição do imperador Ale-
xandre Severo (222 - d.C). Não havia, pois, qualquer restrição à von-
tade dos cônjuges em dissolverem seu casamento. 
Nos primeiros tempos de Roma somente o homem podia repudiar a 
mulher e, assim mesmo, em casos raros. jus civile fixava quais eram os 
justos motivos para tal comportamento: 
a) adultério; 
b) aborto criminoso, desconhecido pelo marido; e 
c) quando a mulher fosse ébria contumaz. 
 consumo de bebidas alcoólicas era vedado às mulheres; se elas se 
embriagavam, deduzia-se que haviam se embebedado indevidamente na 
adega do marido vinaria) ou o haviam feito fora de casa, o que cons-
tituía uma infração gravíssima, tanto ao marido como à sua família. Quan-
do o marido abandonava a mulher por outros motivos, devia entregar-lhe 
metade de seus bens; a outra metade devia doar aos deuses. A intenção de 
repúdio devia ser transmitida oral e diretamente pelo marido à mulher, ou 
então através de uma carta (per littera), sem qualquer possibilidade de 
defesa. A carta de repúdio continha uma ordem para a mulher abandonar o 
lar conjugal com os seguintes dizeres: Tuas habeto; boetito foras, ou 
seja, "Toma tuas coisas; sai daqui". 
No ano 17 a.C, por força da Lex Julia de adulteriis, o repúdio somente 
era possível com uma declaração formal do marido, na presença de sete 
testemunhas. 
7.9 divórcio 
 divórcio, que era muito raro nos primórdios de Roma, devido ao 
rigorismo dos costumes então vigentes, tornou-se corriqueiro a partir de 
meados do período da República. A partir do século I a.C, os valores mo-
rais e religiosos foram sendo relegados a um segundo plano, substituídos 
pela licenciosidade e inversão dos valores deixados pelos antepassados. 
Novos deuses e costumes, lutas fratricidas e acorrupção no poder, tudo isso 
fez com que a tradição, o patriotismo e o respeito pela família romana fos-
sem sendo olvidados pelo 
 mais alta sociedade toda ligação amorosa acarretava um pagamento da amada 
pelo amante; a matrona que enganava o marido recebia do amante uma grande 
168 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Nesse contexto, os casamentos passaram a diminuir e os divórcios 
começaram a se multiplicar perigosamente, obrigando o Estado romano a 
regulamentar mais severamente a separação dos casais, determinando ca-
sos específicos para sua ocorrência. Com o intuito de diminuir o número 
 uma 
censura pública àqueles que se divorciavam sem razão. 
Visando à restauração dos valores da família e também a incrementar 
o aumento demográfico, o imperador Augusto fez aprovar um verdadeiro 
"código matrimonial", contido na Lex Julia de ordinibus, 
em e Lex Julia et Papia Poppaea, que obrigavam todos os homens 
de 25 a 60 anos e as mulheres de 20 a 50 anos a se casarem e terem 
filhos. Essas leis fixaram severas penas aos infratores, tais como: os 
que permanecessem solteiros ficavam impedidos de adquirir quaisquer 
bens por herança (incapacitas os casais sem filhos somente 
teriam direito à metade da parte que lhes cabia na herança, cedendo a 
outra parte a outros herdeiros que tivessem filhos e, na falta destes, ao 
fisco romano. 
Penalidades também foram impostas às viúvas e aos divorciados que 
não contraíssem novas núpcias dentro de, no máximo, dois anos após a 
morte do marido ou a separação do outro cônjuge. 
Essas duas leis também criaram privilégios para os que se casavam e 
tinham filhos: podiam ocupar cargos públicos antes da idade prevista e 
aqueles que tivessem no mínimo três filhos em Roma ou quatro filhos na 
Itália ficavam anistiados do pagamento de determinados tributos. As mu-
lheres que se casassem e tivessem três ou mais filhos eram também benefi-
ciadas com a cessação da tutela perpétua. 
Essas leis vigoraram até 540 d.C, quando foram revogadas por Justi-
niano. 
 divórcio no direito justinianeu 
 imperador Justiniano classificou o divórcio em quatro classes dis-
tintas: 
soma, quando o galã não lhe concedia uma renda anual. Havia uns grosseirões 
que retiravam a doação em caso de rompimento, e os juristas se viam obrigados 
a interferir. Não se tratava de mas de salário: a matrona não se dava 
porque lhe pagavam, mas recebia porque se dera, e a mais amorosa era a mais 
bem recompensada" da vida privada, I, p. 148). 
 C A S A M E N T O NO DIREITO R O M A N O 169 
7.9.1.1 Divórcio por mútuo consentimento 
Ocorria quando ambos os cônjuges concordavam na dissolução do 
vínculo conjugal. Deviam, no entanto, obter a autorização dos pais, se eles 
ainda fossem vivos. 
7.9.1.2 Divórcio unilateral por justa causa 
Esse tipo de divórcio somente era possível se ficassem comprovados 
fatos graves causados pelo outro cônjuge, tais como, dentre outros, o adul-
tério, tentativa de homicídio, abandono do domicílio conjugal. 
Se a culpa fosse da mulher, ela poderia ser num convento; se 
o culpado fosse o marido, ele seria condenado a pagar penas pecuniárias 
que variavam de acordo com a gravidade do delito. 
7.9.1.3 Divórcio gratia 
Era o divórcio motivado por causas não imputáveis às partes, tais como 
um voto religioso (voto de castidade, por exemplo), loucura, o cativeiro e 
impotência incurável. 
Se o cônjuge estivesse cativo, enquanto houvesse notícias dele o casa-
mento estaria mantido. Se as notícias cessassem por um período de cinco 
anos, sua morte era presumida e o cônjuge sobrevivente poderia casar-se 
novamente. (Novela 22). 
7.9.1.4 Repúdio sem justa causa (repudium sine justa causa) 
Era o repúdio unilateral, o abandono de um cônjuge pelo outro sem 
 justificado. Quem assim agisse, era condenado a pagar elevada pena 
pecuniária ao cônjuge repudiado. 
8 
TUTELA 
 
SUMÁRIO: Conceito - 8.2 Espécies de tutela: le-
gítima; 8.2.2 Tutela testamentária; 8.2.3 Tutela dativa ou honorária - 8.3 
Poderes e deveres dos tutores. 
Um indivíduo que estivesse na plena posse de todos os seus direitos (o 
status civitavis, o status e o status familiae) era considerado um 
cidadão romano jure), absolutamente capaz de praticar, por 
si mesmo, todos os atos da vida Muitas pessoas, no entanto, por di-
versos motivos, eram consideradas relativa ou absolutamente incapazespara a prática desses atos. Possuíam capacidade jurídica, mas não capa-
cidade de fato, sendo consideradas juridicamente incapazes de administra-
rem diretamente, sem a intervenção de terceiros, os seus próprios interesses. 
Essa incapacidade relativa ou absoluta para a prática dos atos da vida 
civil variava conforme o sexo, idade, prodigalidade, físicas 
e mentais. Visando assegurar e proteger os interesses dessas pessoas fo-
ram criados os institutos da tutela e da curatela. 
8.1 Tutela. Conceito 
 tueris, tueri, -
que significa "proteger", "guardar" - era o instituto que visava a proteção 
dos interesses patrimoniais das pessoas consideradas incapazes para a prá-
tica dos atos da vida em razão da idade e do sexo. Paulo, citando 
Sulpicio, dizia que a tutela era como a força e o poder dados e permiti-
dos pelo direito civil, sobre uma pessoa livre, para proteger ao que, pela 
sua idade ou sexo, não podia defender-se 
 Paulo: tutela, ut vis ac potestas 
capite libero, ad qui aetatem suam se 
 jure civili data ac permissa. 
T U T E L A 171 
Assim sendo, os pupilos ou tutelados somente podiam realizar qual-
quer negócio quando devidamente representados pelo tutor. 
 tutor deveria sempre zelar pelos interesses de seus pupilos: "Não lhe 
competia ter zelo excessivo; lhe competia tomar a decisão de investir 
e fazer o pupilo correr riscos; tampouco devia fazer liberalidades em nome 
do pupilo, mesmo que fosse para ampliar a reputação social dessa criança; 
ao contrário, o tutor tinha, como primeiro dever, colocar à venda os bens 
perecíveis (casas mobiliadas, que podiam pegar fogo, e escravos que po-
diam morrer) para aplicar o dinheiro nos únicos valores seguros: bens de 
raiz e ouro, que devia emprestar a 
Eram colocados sob tutela: 
 os impúberes dos dois sexos (tutela 
Os impúberes eram os menores de idade ainda não considerados aptos 
fisicamente o matrimônio. Assim eram os homens menores de 14 anos 
e as mulheres com idade inferior a 12 anos. 
 mulheres púberes: 
As mulheres, quer fossem alieni ou sui sempre necessita-
vam de tutor, pois estavam sob o regime de uma tutela relativa. Desde os 
primórdios do Direito Romano, ainda como reminiscência do patriarcado, 
elas sempre foram consideradas inaptas para realizarem negócios por si 
mesmas, sem a presença de um representante legal. Elas sempre foram 
submetidas a uma "tutela perpétua" (tutela mulierum). As únicas mulhe-
res consideradas capazes para celebrarem os atos da vida civil por si mes-
mas, sem o acompanhamento de um tutor, eram as vestais, sacerdotisas do 
templo de Vesta. 
A mulher sui podia administrar seus bens, mas, no entanto, para 
aliená-los, fazer testamento, constituir dotes e assumir obrigações na vida 
civil, deveria sempre estar assistida por seu tutor. 
Segundo Gaio, existiam diversos motivos para essa posição secundá-
ria das mulheres na vida civil: debilidade física em razão do sexo 
sexus), falta de seqüência de raciocínio lógico (infirmitas consilii) e 
inconstância de caráter (levitas (Gaio, I, 144). 
Esse conceito machista de discriminação feminina foi desaparecendo 
aos poucos. Imperador Augusto, em a.C, através da Lex Julia de 
 liberou da tutela perpétua as mulheres que tivessem 
t rês ou mais filhos. A extinção definitiva da tutela perpétua das mulheres, 
no entanto, só desapareceu em 410 
 Histórias da vida privada. Ob. p. 157. 
172 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
8.2. Espécies de tutela 
 Tutela legítima 
Era aquela que decorria de lei, em razão de parentesco com o tutelado. 
Eram chamados como tutores os parentes do sexo mas-
culino, mais próximos do tutelado. A Lei das XII Tábuas já conferia 
essa tutela ao parente mais próximo, na linha masculina 26,4,6, 
Paulo e 1,15). 
8.2.2 Tutela testamentária 
Era a tutela instituída diretamente pelo pai do menor, em testamento, 
para que valesse após a sua morte (Dig. 26,2,3, Ulpiano e Inst. 
8.2.3 Tutela dativa ou honorária 
Era assim denominada a tutela determinada um magistrado (pretor), 
quando o incapaz ficava sem tutor pela inexistência de uma tutela legítima 
ou testamentária. Aquele que fosse nomeado tutor não podia se escusar 
desse encargo, a não ser alegando motivos relevantes, tais como a idade 
avançada, enfermidade, residência distante, pobreza, ignorância ou a exis-
tência de outras tutelas. Eram também dispensados da tutoria os professo-
res de retórica, gramática, filosofia, de direito e de medicina, dentre outras 
funções (Inst. 1,25 e Dig. 17,1). 
8.3. Poderes e deveres do tutor 
 tutor, que fazia as vezes de pai de seu tutelado ou pupilo, devia ad-
ministrar e proteger os seus bens e assisti-lo na prática de atos jurídicos, 
sempre de forma honesta e desinteressada. Para tanto devia, no início de 
sua função, fazer um inventário dos bens do tutelado para deles prestar 
contas quando cessasse a tutela. Os magistrados podiam, conforme o caso, 
exigir o depósito de uma quantia em dinheiro como garantia do ressarci-
mento de um possível que viesse ser causado pelo tutor ao patrimônio 
do tutelado. 
A função de tutor sempre foi exclusiva dos homens. Na época do Im-
perador Constantino, por influência do Cristianismo, passou a ser também 
uma atribuição das mulheres. 
CURATELA 
SUMÁRIO: Curatela. Conceito - 9.2 Causas da curatela: Loucos 
de todo o gênero; 9.2.2 Pródigos - 9.3 Poderes e deveres do curador - 9.4 
Curatela dos menores de vinte e cinco 9.5 Outras formas de curatela -
9.6 A aetatis. 
9.1 Curatela. Conceito 
Curatela (do verbo curare cuidar, olhar, velar) era o instituto de Di-
reito Romano que visava à proteção e assistência das pessoas que se torna-
vam incapazes em razão de enfermidades físicas, mentais ou, ainda, pela 
reiterada dilapidação de seus bens, em prejuízo de seus herdeiros. A curatela 
surgiu no bojo da Lei das XII Tábuas e era "um instituto destinado 
a proteger os maiores juridicamente incapazes, em geral, por causa de do-
 propter Rigorosamente podia-se dar de curatela a mes-
ma definição de tutela, permutando-se apenas a expressão -
por propter 
9.2 Causas da curatela 
Eram colocados sob curatela os loucos de todo o gênero e os pródigos. 
 Loucos de todo o gênero 
Eram assim considerados os furiosus e os mentecaptus ou 
insanus). 
a) Furiosus era aquele que intercalava momentos de loucura com mo-
mentos de lucidez momentos nos quais recuperava sua 
 TABOSA, Agerson. Direito romano. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1999. 
p . 191. 
174 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
plena capacidade para agir. Nos momentos de loucura deveria estar assis-
tido por um curador. 
b) Mentecaptus eram aqueles que sofriam de loucura permanente e, de 
acordo com o tipo de insanidade mental, poderiam ser considerados de-
mentes ou insanos. Eram considerados absolutamente incapazes para a 
prática de atos na vida civil, necessitando, pois, de um curador permanente 
para representá-los na vida em sociedade. 
9.2.2 Pródigos 
Eram aqueles que dilapidavam desbragadamente o seu patrimônio, em 
flagrante prejuízo de suas famílias. A curatela dos pródigos visava, espe-
cificamente, a evitar a ruína econômica da pessoa e, conseqüentemente, a 
proteção dos interesses dos seus herdeiros legítimos. 
Constatada a prodigalidade de uma pessoa, o pretor declarava oficial-
mente sua qualidade de "pródigo", tornando-o incapaz de administrar o 
próprio patrimônio, e lhe nomeava um curador 
"Já que desperdiças, por tua inconsciência, os bens de teu pai e avô, 
levando teus filhos à miséria, decreto a interdição, pelo bronze, de ti e dos 
atos para a disposição de tuas coisas" (Quando tibi avitaque 
 tua disperdis, liberosque tuos ob tibi 
aere interdico - Sentenças de Paulo, a 7). 
Para que a prodigalidade fosse declarada oficialmente, deviam fazer-
se presentes dois requisitos essenciais: a) que o esbanjador tivesse filhos e 
b) que os seus bens tivessem sido recebidos em herança de seus antepassa-
dos. Se o esbanjador fosse solteiroou tivesse adquirido livremente seus 
bens, poderia espoliá-lo a seu bel-prazer, não cabendo, nesse caso, a sua 
interdição. 
Decretada a curatela, o pródigo podia administrar somente aqueles 
negócios que acarretassem benefícios ao seu patrimônio. Aqueles que a ele 
fossem prejudiciais seriam considerados nulos de pleno direito, se reali-
zados sem a presença do curador. 
9.3 Poderes e deveres do curador 
 curador era o administrador dos bens do curatelado e sua função 
assemelhava-se à do tutor. Por vezes, quando exigido pelo magistrado, ele 
devia prestar caução antecipada, com o fim de resguardar os interesses do 
C U R A T E L A 175 
curatelado, quando se extinguisse a tutela. curatelado, por sua vez, dis-
punha do direito de hipoteca legal sobre os bens do curador. 
A função de curador era considerada um público, e, se ele fosse 
infiel no cumprimento de seus deveres, podia ser destituído do cargo e res-
ponder civil e penalmente pelo seu delito. 
9.4 Curatela dos menores de vinte e cinco anos 
A puberdade chegava com os quatorze anos de idade e, a partir de 
então, os jovens romanos tornavam-se aptos juridicamente para a prática 
dos atos da vida civil. Até os vinte e cinco anos, no entanto, eles eram 
ainda considerados inexperientes para a celebração de contratos ou 
negócios jurídicos mais importantes, correndo o risco de serem prejudi-
cados em seus interesses. Incumbia ao Estado protegê-los e a seu 
patrimônio. Assim sendo, no ano 191 foi publicada a Lex Plaetoria, 
que instituiu uma curatela especial dos menores de vinte e cinco anos 
 quinque A partir de então, os menores dessa 
idade que fossem celebrar algum negócio considerado importante podi-
am solicitar a presença de um curador especial (curator certam cau-
sam) que lhes assistisse na realização do ato. Mesmo assim, se fossem 
ludibriados, tinham uma restitutio in propter aetatem, ou seja, 
o direito à restituição integral do prejuízo 
A Lex Plaetoria também definiu como crime o fato de alguém ludibri-
ar a boa fé de um adolescente. Quem assim agisse seria declarado oficial-
mente infame e deveria pagar elevada pena pecuniária à vítima. 
9.5 Outras formas de curatela 
 Direito Romano comtemplava, ainda, outros tipos de curatela para 
casos considerados especiais, tais como: 
a) curator - que visava assegurar os direitos do nascituro; 
b) curator - para defender e cuidar dos bens do ausente; 
c) curator impuberis - que consistia na nomeação de um curador es-
pecial para defender os interesses de um menor impúbere quando o seu tutor 
padecesse de alguma enfermidade física ou mental. 
9.6 A aetatis 
Os homens menores de vinte e cinco anos e as mulheres que já tives-
sem completado dezoito anos poderiam solicitar a aetatis, ou seja, 
176 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
"dispensa de idade", que afastava a necessidade da nomeação um curador 
especial quando fossem realizar qualquer negócio jurídico. Essa dispensa 
de idade era concedida desde que mostrassem "decência de costumes". 
No entanto, mesmo dispensados da presença do curador, não podiam alie-
nar ou fazer doações de bens móveis ou imóveis de grande valor. 
10 
PESSOAS JURÍDICAS 
SUMÁRIO: 10.1 Pessoasjurídicas. C o n c e i t o - 10.2 Universitas persona-
rum: público; 10.2.2 Universitas 
personarum de direito privado - 10.3 Universitas - Conjunto ou 
agrupamento de coisas (bens) - Herança jacente jacens). 
10.1 Pessoas jurídicas. Conceito 
Até a época da República os romanos entendiam como pessoa somen-
te o ser humano, visível e concreto, que nascia, vivia e morria no seio da 
sociedade. Práticos e realistas, não podiam conceber que pudesse existir 
uma pessoa abstrata, incorpórea, sujeito de direitos e obrigações. Desta 
forma, o jus civile, que continha os fundamentos do Direito Romano, só 
entendia como sujeito de direitos uma pessoa física. 
Um indivíduo sozinho, isolado, no entanto, nem sempre pode admi-
nistrar grandes negócios nem enfrentar grandes desafios. É necessário se 
unir a outros para, juntos, administrarem melhor seus interesses. Essas 
uniões surgiram naturalmente também na Roma antiga. Pessoas passaram 
a se organizar e a trabalhar em equipes, formando corporações e associa-
ções visando a um interesse comum. Nasceram, desta forma, as pessoas 
jurídicas, ou seja, uma coletividade de pessoas ou de coisas devidamente 
organizadas que passou a ter vida adquirindo direitos e contra-
indo obrigações em seu próprio nome, independente dos indivíduos que 
as 
 "Se algo se deve a uma corporação, não se deve a cada um dos indivíduos, nem 
o que a corporação deve é vido por cada um deles quid universitati debetur, 
singulis non debetur, quod debet universitas, singuli Dig. 
3 , 4 , 7 1 ) . 
178 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
Pessoas jurídicas são, portanto, conjuntos de pessoas ou de coisas com 
personalidade jurídica e, portanto, sujeitos de direitos e obrigações. 
Conforme a natureza de seus componentes, as pessoas jurídicas foram 
classificadas em duas grandes categorias: universitas e 
 rerum. 
10.2 Universitas personarum 
Universitas personarum era o conjunto ou agrupamento de pessoas 
devidamente organizado, capaz de adquirir direitos e contrair obrigações 
em seu próprio nome. 
"Ao se integrar ao grupo, cada pessoa física - membro do grupo -
como que se despersonaliza, formando a unidade jurídica imediatamente 
maior - a pessoa jurídica - formando uma unidade 
As universitas personarum podiam ser de direito público e de direito 
privado. 
 Universitas personarum de direito público 
a) Estado romano, também denominado populus romanus, ro-
mana e respublica, que compreendia a nação romana politicamente orga-
nizada, abrangia também as províncias, municípios, cidades, prefeituras, 
colônias etc. 
b) Fisco ou compreendia o tesouro público. 
 Universitas personarum de direito privado 
Eram assim consideradas as sociedades de pessoas que visavam a ob-
jetivos comuns. Eram os collegia, os sodalicia, a societas? 
Esse tipo de sociedade começou a surgir após a promulgação da Lei 
das XII Tábuas. 
 CRETELLA JR. José. Curso de direito romano. ed. Rio de Janeiro Foren-
se, 1989. p. 85. 
 "Dentre as principais corporações, estavam as ou sodalicia, de cará-
ter religioso ou os collegia (de auxílios mútuos); os cultorum 
(para a prática religiosa); funeraticios (para realizar funerais); as societas 
 (para cobrança de impostos); e as corpora (de 
exploração de ouro); (de sal); (de músicos), tictorum (de 
pintores) etc." (TABOSA, Agerson. Ob. cit. p. 138). 
P E S S O A S J U R Í D I C A S 179 
Inicialmente, a formação de sociedades era desvestida de qualquer 
exigência formavam-se independentemente de autorização do Esta-
do romano. A partir do imperador Augusto, no entanto, por força da Lex 
Julia de Collegii, a existência de pessoas jurídicas passou a depender de 
prévia autorização do senado romano. 
10.3 Universitas - Conjunto ou agrupamento de coisas (bens) 
Eram pessoas jurídicas formadas não por pessoas, mas sim por coisas 
 As principais delas eram instituições fundadas ou pelo 
Estado ou por particulares visando à consecução de determinados objeti-
vos comuns. Nos primórdios de Roma, o objetivo das fundações era emi-
nentemente beneficente e caritativo, tendo então surgido os hospitais 
(nosocomia), os orfanatos (orphanotrophia), os hospícios (xenodochia) e 
os asilos para velhos (gerontocomia) (Nov. 131, 12). 
10.4 Herança jacente (hereditas 
Era uma outra espécie de pessoa jurídica, que consistia no espólio do 
de até a sua repartição definitiva entre os herdeiros. Para os romanos, 
a pessoa do falecido sobrevivia até a repartição de seus bens entre os her-
deiros: "A herança jacente representa a pessoa do defunto" (Hereditas 
 personam sustinet - Ulpiano. Dig. 
11 
DIREITO DAS COISAS 
SUMÁRIO: Conceito de coisa (res) - Classificação: Res 
extra patrimonium; Res in 
11.1 Conceito de coisa 
 vocábulo coisa (res), emsentido amplo, é tudo aquilo que existe na 
natureza e que pode ser conhecido pelo homem. Em sentido po-
rém, coisa é tudo aquilo que é susceptível de apropriação pelo homem e 
que se torna objeto de direito porque tem valor econômico; é o mesmo que 
"bens", nos dias de hoje. 
11.2 Classificação 
 Direito Romano não se preocupava com sistematizações ou classi-
ficações rígidas e imutáveis. Assim, existiam diversas classificações de 
coisas, de acordo com o critério adotado. Justiniano, nas as di-
vidia em res extra patrimonium e res in paírimonio. 
 Res extra patrimonium 
Eram aquelas que estavam fora do comércio, que não podiam ser ven-
didas ou compradas porque eram insusceptíveis de fazer parte do patrimônio 
do particular. Dividiam-se em: 
11.2.1.1 Res divini 
Eram as coisas santificadas ou consagradas aos deuses. Esses bens, por 
sua vez, eram divididos em res sacrae, res religiosae e res 
a) Res sacrae (coisas os templos, os objetos dos cultos, es-
tátuas dos deuses etc. Nos primeiros tempos de Roma esses bens con-
DIREITO D A S C O I S A S 181 
sagrados pelos pontífices (consecratio) tornando-se, então, definitivamente 
inalienáveis. 
 imperador Justiniano permitiu que esses objetos fossem vendidos 
para pagamento de dívidas da para o pagamento de resgate dos ca-
tivos a compra de alimentos os pobres, em épocas de fome. Antes 
de serem alienados, no entanto, esses bens eram desconsagrados 
ratio ou 
b) Res religiosae (coisas religiosas): túmulos e tudo o mais dedicado 
aos 
c) Res sanctae (coisas santas): bens que, embora não consagrados, 
estavam colocados sob a proteção dos deuses que por eles zelavam. Eram 
assim considerados os muros, as portas e as muralhas da cidade, bem como 
os limites das propriedades limitati). 
11.2.1.2 Res 
Eram os bens de uso comum do povo e se dividiam em: 
a) Res publicae (coisas públicas): os bens de uso comum do povo, tu-
telados pelo Estado romano, tais como os rios, os portos, as estradas etc. 
b) Res communes (coisas comuns): as que, pelo direito natural, perten-
ciam a todos os homens, romanos ou não. Assim o ar, o mar, a água corren-
te 
11.2.2 Res in 
Nessa categoria encontravam-se os bens que podiam ser negociados 
pelos seus proprietários, integrando o patrimônio particular. 
Classificavam-se em: 
 
Eram os bens considerados de maior valor, propriedade se trans-
mitia de forma formal e solene, através do mancipatio ou transcriptio. 
Assim eram considerados os terrenos, as construções, os aquedutos, os 
escravos e os animais de carga. 
 mancipi 
Eram as coisas cuja propriedade se transmitia mediante a tradição 
 ou seja, a simples troca de mãos. 
182 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
11.2.2.3 Res corporales 
Nessa categoria encontravam-se as coisas concretas, aquelas que po-
diam ser percebidas pelos sentidos, ou seja, podiam ser pesadas, medidas 
e tocadas hae sunt quae Exemplos: um veí-
culo, a moeda, um livro, um escravo etc. 
 Res incorporales 
Coisas incorpóreas eram abstratas, não podiam ser sentidas ou tocadas 
materialmente, tais como a honra, o afeto, um crédito, o direito de proprie-
dade, o usufruto e as obrigações em geral. 
 Res mobiles (coisas móveis) 
Eram aquelas que podiam ser transportadas de um lugar para outro sem 
perder sua integridade, forma ou substância. 
 Res immobiles (coisas imóveis) 
Eram as coisas que não podiam ser transportadas de um 
lugar para outro, sem perder sua integridade, substância ou forma. Por exem-
plo, um terreno. 
Era conhecida, também, a categoria dos semoventes, coisas que se 
moviam de um lugar para o outro por seus próprios meios, como por exem-
plo, os animais. 
11.2.2.7 Res fungibiles (coisas fungíveis) 
Eram aquelas que podiam ser substituídas por outra da mesma catego-
ria e espécie, tais como um veículo, o vinho, o arroz, o dinheiro etc. 
 Res infungibiles (coisas infungíveis) 
Eram aquelas que não podiam ser substituídas por outra da mesma 
espécie, pois tinham uma individualidade inconfundível. Exemplos: uma 
obra de arte, um escravo. 
11.2.2.9 Res divisibiles (coisas divisíveis) 
Eram as coisas que podiam ser divididas sem ser destruídas, permane-
cendo cada fração com as próprias características do todo. 
DIREITO D A S C O I S A S 183 
11.2.2.10 Res indivisibiles (coisas indivisíveis) 
Eram as que não podiam ser fracionadas, divididas ou separadas sem 
ser destruídas ou danificadas. Exemplos: um animal, uma pintura. 
 Res principales (coisas principais) 
Eram aquelas que existiam por si mesmas, que não dependiam de ne-
nhuma outra para ter utilidade. 
 Res accessorias (coisas acessórias) 
Eram consideradas acessórias aquelas coisas que não tinham existên-
cia por si mesmas, que dependiam de outra coisa principal, a qual eram 
subordinadas. Sem as principais, as coisas acessórias não tinham real uti-
lidade sequitur 
12 
S U M Á R I O : Propriedade. Concei to. Histórico - 12.2 Espécies de 
propriedade: Propriedade ex 
 Propriedade pretoriana 12.2.3 Propriedade provincial; 
 Propriedade peregrina A propriedade no 
12.4 Direitos inerentes ao direito de propriedade: Jus utendi ou 
12.4.2 12.4.3 Jus ou jus - 12.5 Proprie-
dade e domínio - 12.6 Limitações ao direito de propriedade: Limi-
tações de interesse público; 12.6.2 Limitações de interesse privado - 12.7 
Condomínio. Co-propriedade. 
12.1 Propriedade. Conceito. Histórico 
Não há uma definição exata do que propriedade no Direito Roma-
no. Proprietas, mancipium, dominium - tudo é originário da palavra latina 
 ou seja, o que pertence a alguém, o que é próprio da pessoa. 
Os romanos não tinham um conceito claro do que fosse propriedade, 
tal como hoje o conhecemos. As grandes áreas de terra pertenciam ao Esta-
do (agerpublicus) mas podiam serutilizadas pelos cidadãos romanos para 
fins de agricultura. ager publicus era assim classificado: 
a) ager eram os pastos e bosques arrendados pelo Es-
tado, mediante o pagamento de determinada importância denominada 
 
b) ager eram os terrenos baldios que o Estado podia entre-
gar a particulares a título precário e para uso durante um determinado pe-
ríodo de tempo; 
c) ager eram as terras cultivadas que podiam ser distribuí-
das gratuitamente pelo Estado. No final do da Monarquia, os reis 
DIREITOS REAIS SOBRE 
COISAS PRÓPRIAS 
 DIREITO DE PROPRIEDADE 
DIREITOS REAIS S O B R E C O I S A S P R Ó P R I A S 185 
iniciaram uma verdadeira reforma agrária, distribuindo pequenos lotes do 
ager publicus aos plebeus, que sobre eles passavam a ter não a proprieda-
de, mas apenas uma posse precária. 
Por volta do ano 500 foi concedida aos plebeus uma espécie de 
direito de propriedade sobre as terras a eles arrendadas, direito esse conhe-
cido como quiritium. A partir de então, nessas áreas arrendadas 
se formando pequenas populações rurais. 
A maior parte das terras do Estado estavam em mãos das famílias 
patrícias (gens) e formavam grandes propriedades coletivas. Essas áreas 
de terras eram divididas em: a) saltus, que compreendiam os pastos e os 
bosques, e b)fundus ou que eram os terrenos cultiváveis. 
Era comum os patrícios aumentarem suas propriedades 
se de nullius, ou seja, das terras "sem dono", passando a ter sobre elas o 
jus (direito de posse). 
 direito de propriedade sofreu diversas modificações nas diversas 
fases do direito, sempre se adaptando às constantes alterações 
tico-econômicas ocorridas durante a história do povo romano. Como con-
seqüência da conquista de outros povos, o ager publicus cresceu conside-
ravelmente e os patrícios (depois os plebeus) passaram a ter o direito de 
ocupá-las para fins agrícolas. Aquele que permanecesse algum tempo nes-
sas terras longínquas, arrendadas pelo Estado, passava a ter sobre elas o 
possessio (direito de posse) e, posteriormente, o dominium, que significa-
va o poder absoluto sobre a coisa possuída. 
12.2 Espécies de propriedade 
Na época da República o direito romano conhecia as sequintes espé-
cies de propriedade:a propriedade quiritária (regulada pelo jus civile), a 
propriedade pretoriana ou bonitária (prevista pelo direito pretoriano), a 
propriedade provincial e a peregrina, que surgiram com o jus 
 Propriedade quiritária (dominium ex jure quiritium) 
A propriedade quiritária era aquela que já existia nos primeiros sécu-
los de Roma. Era regulada pelas normas rígidas e formais do jus civile ou 
direito daí a sua 
Para ser considerada legal, a propriedade quiritária exigia a observân-
cia dos seguintes requisitos: 
a) só podia recair sobre as res mancipi, bens móveis e imóveis que es-
tivessem situados em solo romano (in solo não podia existir 
186 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
propriedade quiritária de bens situados nas províncias. Posteriormente, a 
Lei das XII Tábuas permitiu que esse tipo de propriedade se estendesse, 
também, para as terras transtiberim, ou fora dos limites da cidade de 
Roma; 
b) só se adquiria a propriedade quiritária de um bem res atra-
vés mancipação uma res nec mancipi através da traditio, 
do jure cessio, do usucapião (usucapio), da adjudicação (adjudicatio), 
todas formas legais rígidas e solenes previstas pelo jus 
c) o titular de uma propriedade quiritária devia ser obrigatoriamente 
um cidadão romano, ou seja, gozar do status civitatis. Aos estrangeiros 
(peregrinos e latinos) era vedado ser proprietários em solo romano. 
72.2.2 Propriedade pretoriana ou bonitária 
Esse tipo de propriedade surgiu com o direito pretoriano, ou seja, já no 
período da República, e veio amenizar o rígido conceito de propriedade 
previsto pelo jus civile. 
A propriedade pretoriana ou bonitária podia ser adquirida não só pe-
los cidadãos romanos mas também pelos estrangeiros e os modos de aqui-
sição nem sempre eram aqueles solenes e formais exigidos pelo jus civile. 
Muitas vezes uma pessoa adquiria pela simples tradição (traditio), 
ou seja, simples troca de mãos, sem a observância das formalidades sole-
nes da ou do in jure cessio, exigidas pelo antigo Direito Ro-
mano. 
Quando ocorria a venda de um bem pela tradição, o jus civile conside-
rava o adquirente como mero possuidor da coisa comprada, o que possibi-
litava ao ex-proprietário o direito de reivindicá-lo posteriormente como 
coisa sua. Devido a essa insegurança, os pretores passaram a considerar 
definitivamente consumada a transação, desde que as partes, adquirente e 
vendedor, tivessem agido de boa-fé (in bonis 
12.2.3 Propriedade provincial 
Os bens situados nas províncias eram de propriedade exclusiva do 
Estado romano ou do imperador (in eo solo (provinciali) populi 
romani est Caesaris - Gaio, 2,7), mas podiam ser usados pelos particu-
lares através do usus, do possessio ou habere possidere. 
 possuidor dessas terras, no entanto, deveria pagar ao Estado, pelo 
seu uso, um tributo anual denominado agri stipendiarii ou agri tributarii. 
DIREITOS REAIS S O B R E C O I S A S PRÓPRIAS 
12.2.4 Propriedade peregrina 
Os peregrinos não o jus commercii. Assim, quando adqui-
riam qualquer bem, móvel ou imóvel, não tinham sobre eles um direito 
de propriedade, mas somente a posse. Com o intuito de sanar essa flagran-
te injustiça, os pretores passaram a proteger os interesses dos peregrinos, 
considerando-os legítimos proprietários de suas terras quando situadas 
fora de Roma, nas províncias, denominando-as "propriedades peregri-
nas". 
12.3 A propriedade no direito justinianeu 
 imperador Justiniano fez cessar a distinção existente entre as diver-
sas espécies de propriedade pretoriana e provincial) e unificou 
o conceito de dominium ou proprietas. direito de propriedade passou a 
ser então considerado uma plena in re potestas, ou o pleno poder so-
bre a coisa. 2,4,4: finitus fieri usufructus, revertitur 
scilicet ad proprietatem, et ex eo tempore nudae proprietatis dominus 
 in re 
12.4 Direitos inerentes ao direito de propriedade 
 direito de propriedade compreende, unificadamente, um conjunto 
de poderes sobre a coisa adquirida: o jus utendi, o e o jus 
 ou 
12.4.1 Jus utendi ou usus 
É o direito, contido no direito de propriedade, que possibilita a seu 
detentor a utilização imediata e direta do bem. É o direito de posse, de uso 
da coisa adquirida. Desse direito decorre o jus vindicandi, que é aquele 
que tem o proprietário de reclamar o objeto de quem o detenha indevida-
mente. 
 "Essas expressões usadas pelos glosadores não foram por eles criadas. As duas 
primeiras - jus utendi e jusfruendi - aparecem na definição de usufruto de Pau-
lo, constante do Digesto e transcrita nas de Justiniano (Dig. Pau-
lo; I, A terceira - jus abutendi - foi utilizada em fragmento de Ulpiano, 
referente aos direitos do possuidor de boa-fé utendi et abutendi re sua 
5,3,25,11, Ulpiano) (Cf. Tabosa, ob. p. 226). 
188 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
12.4.2 Jus fruendi 
É a faculdade que tem o proprietário de gozar de todas as vantagens 
que a coisa oferece. É o direito de obter e recolher os frutos que o bem pro-
duz. 
12.4.3 Jus disponendi (jus abutendi) 
É o direito de dispor, de alienar, de abusar do bem de sua propriedade. 
 abuso, aqui, é entendido como o direito que a pessoa tem de consumir o 
bem de sua propriedade, ou seja, fazer dele o que bem entender (demolir, 
consumir, vender, doar etc.) e não o de cometer abusos que venham a ofen-
der o direito de outra 
12.5 Propriedade e domínio 
 proprietário que, ao mesmo tempo e conjuntamente, está exercendo 
sobre um bem de sua todas as faculdades compreendidas no 
direito de propriedade (o jus o jus fruendi e o jus disponendi) tem 
sobre o bem, além da propriedade, também o domínio: dominium est jus 
utendi, fruendi et abutendi re sua, quatenus ratio patitut (domínio é 
o direito de usar, fruir e dispor da própria coisa, até onde o permita a razão 
do direito). 
 proprietário, no entanto, pode abrir mão de uma dessas faculdades 
de seu direito de propriedade. Isso ocorre, por exemplo, na locação, quan-
do o proprietário transfere ao locatário o jus utendi, a posse, o direito de 
uso do bem, permanecendo com ele apenas as outras faculdades, o jus 
fruendi - direito de receber os alugueres - e o jus disponendi - direito de 
alienar o bem (devendo, nesse último caso, comunicar ao locatário tal in-
tento, para que este, querendo, faça uso do seu direito de preferência). Nes-
se caso, o proprietário não tem mais o domínio sobre o bem, pois abriu mão 
de um de seus direitos (jus utendi) em favor do locatário. 
 proprietário pode, também, transferir para terceiros somente o jus 
diponendi de um bem, reservando para si o uso (jus utendi) e o fruto (jus 
fruendi). Nesse caso, ele transfere a nua propriedade do bem ao terceiro, e 
reserva para si o usufruto do mesmo, denominando-se usufrutuário. 
 CC: proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa 
e o direito de do poder de quem quer que injustamente a possua ou dete-
nha". 
DIREITOS REAIS S O B R E C O I S A S PRÓPRIAS 189 
12.6 Limitações ao direito de propriedade 
 direito de propriedade sempre sofreu diversas limitações, ora de 
caráter público, ora de caráter privado. 
12.6.1 Limitações de interesse público 
a) Quando a via pública estivesse em reparos, os proprietários de ter-
renos deveriam permitir o trânsito de pessoas e de carros pelas suas terras, 
enquanto durassem os trabalhos de reparação (Dig. 8,6,14,1). 
b) Os proprietários de terrenos às margens de rios tinham a obrigação 
de permitir o uso de suas margens pelo público em geral, e deviam aceitar 
que nelas os barqueiros atracassem suas embarcações e secassem suas re-
des usus publicus - Dig. 
c) A altura máxima das edificações não poderia ultrapassar 70 pés (na 
época de Augusto) e 60 pés (na época de Trajano). 
d) Ninguém podia cremar cadáveres em sua propriedade, se ela esti-
vesse situada dentro da cidade (Cícero, de 2,24,61). 
e) Ninguém podia demolir seu edifício sem autorização do Estado nem 
deixar entulhos na via pública. 
12.6.2 Limitaçõesde interesse privado 
a) proprietário de um prédio devia suportar que os galhos da árvore 
de seu vizinho pendessem sobre o seu terreno, desde que a uma altura de 
 pés (Lei das XII Tábuas, 7,9). 
b) proprietário deveria permitir que seus vizinhos entrassem em seu 
terreno, um dia sim, um dia não quoque die), para recolher os frutos 
caídos das suas árvores (Lei das XII Tábuas, 
c) proprietário de um terreno devia deixar seu vizinho transitar pela 
sua propriedade, se este não tivesse outro acesso à via pública. 
d) Na época do Dominato não era permitido que alguém construísse 
seu edifício de forma a obscurecer o prédio do vizinho. 
12.7 Condomínio. Co-propriedade 
Era a situação jurídica na qual duas ou mais pessoas se tornavam pro-
prietárias um mesmo Cada possuía uma 
190 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
quota ideal sobre o mesmo bem. Se, porventura, algum deles abandonasse 
sua parte, esta acrescia às demais (jus 
 condomínio podia ser voluntário ou incidental. Ocorria o condomí-
nio voluntário quando provinha de um acordo de vontade das partes. 
Incidental, por outro lado, ocorria por causas externas, independentes da 
vontade dos condôminos. Exemplo: o recebimento de uma herança ou le-
gado. 
13 
MODOS DE AQUISIÇÃO 
DA PROPRIEDADE 
SUMÁRIO: 13.1 convencionaisdeaquisiçãodapropriedade: 13.1.1 
Mancipatio In jure cessio (cessão em juízo ou aban-
dono da coisa perante o juiz); Tradição 13.2 Modos não 
convencionais de aquisição da propr iedade: Ocupação ; 13.2.2 
Acessão; 13.2.3 Especificação; 13.2.4 Adjudicação; 13.2.5 Usucapião; 
 A defesa da propriedade. 
A propriedade de um bem podia ser adquirida por modos convencio-
nais, ou através de acordo ou convenção entre as partes (proprietário 
e adquirente) e por modos não aqueles que dispensavam 
qualquer acordo ou consenso entre as partes. 
13.1 Modos convencionais de aquisição da propriedade 
 proprietário de alguma coisa quer aliená-la e por ela pede um preço; 
o pretendente, por sua vez, regateia e se decide por comprá-la. Ambos, 
vendedor e comprador, chegam a um acordo e a propriedade do bem é 
transferida de um para outro. Houve um acordo, um consenso entre ambos, 
e a propriedade do bem foi transferida através de um acordo de vontades. 
Nos primeiros tempos de Roma, notadamente no período da Monar-
quia, no entanto, não bastava somente um simples acordo de vontades en-
tre vendedor e comprador. Era necessário que esse acordo fosse concreti-
zado de modo formal e solene, através da mancipatio ou da jure cessio, 
modos solenes e formais de transmissão da propriedade, ou através da 
traditio (tradição). 
13.1.1 
Mancipatio ou mancipação foi a forma mais antiga de transmissão de 
propriedade das res mancipi, qual a propriedade da coisa era transferida 
192 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
ao adquirente durante um cerimonial formal e solene. Era necessária a pre-
sença de oito pessoas para a sua o vendedor, o comprador, 
o libripens (portador de uma balança) e mais cinco testemunhas. com-
prador, na presença de todos, pesava simbolicamente o objeto da venda 
numa balança de bronze trazida pelo libripens, e dizia solenemente: "Eu 
digo que essa coisa é minha em virtude do direito dos Quirites e que a ad-
quiro por meio dessa balança e dessa moeda de bronze". Se o vendedor 
permanecesse em silêncio, a propriedade era transferida para o comprador 
 por meio do bronze e da balança" (per aes et libram). 
Gaio I, descreve minuciosamente a cerimônia do 
mancipatio de um escravo: reuniam-se o vendedor, o comprador, o escra-
vo e cinco testemunhas, sendo uma delas o chefe (antestatus) e outra, o 
 (libripens). adquirente declarava em alta voz: "Declaro 
que este homem é meu, segundo o direito dos Quirites, porque o comprei 
 este bronze e com esta balança" (Hunc ego hominem 
 esse aio emptusque esto hoc aere aeneaque libra). Dito isso, o 
comprador batia com um pedaço de bronze na balança e o entregava ao 
vendedor, como pagamento simbólico pelo escravo comprado (Gaio, 
120. 19,3 ss). 
Só os cidadãos romanos podiam adquirir pela mancipatio e somente 
as mancipi podiam ser vendidas dessa forma, ou seja, as terras itálicas, 
as construções, os escravos e os rebanhos. 
 In jure cessio em juízo ou abandono da coisa perante o juiz) 
Era um outro modo convencional e solene de transferência do direito 
de propriedade que se concretizava com o abandono da coisa (cessio) pe-
rante o magistrado (in jure). Esse modo de aquisição de propriedade já era 
conhecido desde aLei de 
Vendedor e comprador compareciam perante o magistrado e, diante dele, 
o adquirente dizia: "Digo que essa coisa é minha pelo direito dos Quirites" 
(Hanc ego esse meum ex jure Quiritium). vendedor, que a tudo ou-
via, fícavacalado. A partir de então, a propriedade do bem estava transferida 
para o adquirente, com todos os direitos a ela atinentes. 
 jure in cessio foi pouco a pouco sendo abandonado no período clás-
sico do Direito Romano. 
13.1.3 Tradição (traditio) 
Tradição era o modo de aquisição da propriedade que se realizava sem 
qualquer formalidade. Bastava a simples entrega material da coisa pelo seu 
M O D O S D E A Q U I S I Ç Ã O D A P R O P R I E D A D E 193 
proprietário (tradens), que tinha a intenção de aliená-la, à outra pessoa 
 que tinha a intenção de adquiri-la. A coisa passava a ser pro-
priedade do adquirente pela simples "troca de mãos". 
 vocábulo tradição é originário do verbo latino tradere (entregar). 
Eram alienadas dessa forma as nec (Traditio est 
alienatio nec mancipi - Ulpiano. Rg. 19, 7). 
Para que a tradição se efetivasse legalmente era necessária a observân-
cia dos seguintes requisitos: a transferência da posse, a intenção recíproca 
de alienar e de adquirir o bem objeto da tradição, e justa causa. 
a) A transferência da posse ou a entrega efetiva do objeto vendido po-
dia ocorrer das seguintes maneiras: 
- tradição brevi quando a coisa alienada era passível de ser re-
cebida materialmente pelo adquirente. Se fosse um objeto móvel, peque-
no, era entregue efetivamente, de mão a mão, pelo tradens (vendedor) para 
o accipiens 
- tradição longa manu, quando a coisa estivesse longe, mas pudesse 
ser divisada pelas partes. Nos primeiros tempos do Direito Romano, se a 
coisa alienada fosse um bem um terreno, por exemplo - alienante 
e adquirente deviam percorrê-lo em toda a sua extensão. Por volta da épo-
ca da República, os romanos tornaram-se mais práticos e a obediência res-
trita a essa regra não foi mais necessária. Tornou-se, então, suficiente que 
ambos os interessados subissem a uma elevação e de lá descortinassem 
toda a extensão do imóvel objeto da venda - era a traditio longa 
"Não é necessário tomar a posse corporalmente e com a mão, senão que 
também se toma com a vista e a intenção" (non est corpore et tactu 
necesse apprehendere sed etiam oculis et affectu - Dig. 
 2); 
- transmissão simbólica, quando a coisa era representada apenas por 
um fragmento ou algo que a Exemplo: a chave de uma casa. 
b) Intenção recíproca de alienar e de adquirir o objeto. Comprador e 
vendedor deviam demonstrar inequivocamente a intenção recíproca de 
alienar e de adquirir o objeto da transação. 
c) Justa causa. causa se traduzia no negócio jurídico propria-
mente dito, ou na venda, na doação, na permuta etc , antes da transfe-
rência efetiva da posse. "A tradição nua nunca transfere o domínio, senão 
se a preceder venda ou outra justa causa, em razão da qual se lhe siga a en-
trega". (Nunquam nuda tradictio praecesserit, propter tradictio 
sequeretur- Dig. 41, 
194 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
13.2 Modos não convencionais de aquisição da propriedade 
Era a maneira de se adquirir a propriedade de uma coisa por meios 
naturais ou artificiais, sem um precedente acordo de vontades entre as par-
tes. Não havia uma transferência direta e voluntária do direito de proprie-
dade do alienante para o adquirente. 
Os modos não convencionaisde aquisição da propriedade eram os 
seguintes: ocupação, acessão, especificação, adjudicação, confusão, 
comistão e o usucapião. 
13.2.1 Ocupação 
Ocupação era o modo não convencional de uma pessoa se tornar pro-
prietária de uma nullius (coisa sem dono) ou de uma (coi-
sa abandonada). Bastava que quem as encontrasse delas se apossasse com 
a intenção de tê-las para si. 
13.2.1.1 Res nullius 
Eram consideradas res nullius (coisas sem (Quod nullius 
est id ratione naturali occupanti Gaio). 
a) a caça e a pesca, ou os animais selvagens (ferae bestiae) e ou-
tros que desfrutassem de liberdade natural. Eram também "coisas sem dono" 
os animais domesticados que tivessem perdido o costume de retornar aos 
seus antigos proprietários (Dig. 41, 1, 5, 5). 
E se a caça ferida fugisse do caçador e fosse morrer no terreno do vizi-
nho? Quem seria o seu proprietário: o vizinho ou o caçador? 
Muito se discutiu sobre isso e Trebácio, um jurisconsulto dos tempos 
da República, apresentou a solução: a caça seria propriedade do caçador se 
este, depois de ter ferido o animal, o tivesse perseguido até encontrá-lo. 
Nesse caso, o proprietário do imóvel onde o animal fosse encontrado teria 
direito a um ressarcimento pelos danos porventura causados pela caça ou 
pelo caçador; 
b) eram também consideradas "coisas sem dono" as res hostium, ou 
seja, os bens pertencentes aos inimigos capturados; 
c) as coisas achadas às margens e no fundo do mar (res inventae in litore 
 e as ilhas oceânicas (insula in 
 CC: 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire 
a propriedade, não sendo essa ocupação defesa em lei". 
M O D O S D E A Q U I S I Ç Ã O D A P R O P R I E D A D E 195 
13.2.1.2 
Eram consideradas res derelicta ou coisas abandonadas, os tesouros e 
as coisas escondidas há longo tempo, sem condições de se lhes identificar 
o proprietário. Quem as achasse era o "inventor" e a coisa encontrada, o 
"invento". 
Paulo definiu o tesouro como "um certo depósito antigo de dinheiro, 
do qual não resta memória, de modo que já não tenha dono" est 
vetus depositio pecuniae, cujus non extat memoria, ut iam 
dominum non habeat - Dig. Era necessário, no entanto, que a 
descoberta fosse por acaso, que não se conhecesse o proprietário ou que o 
mesmo fosse de difícil 
As circunstâncias do achado fizeram surgir diversas quan-
do alguém encontrasse um tesouro em terreno de propriedade de outra pes-
soa? achado seria seu ou do proprietário do terreno? 
Tal situação acarretou muita discussão entre os jurisprudentes roma-
nos e a solução foi apresentada pelo imperador Adriano, que decidiu da 
seguinte forma 2, 39): 
a) se o inventor encontrasse um tesouro em suas próprias terras, o te-
souro todo seria seu; 
b) se a coisa fosse encontrada em terras de terceiros, pertenceria meta-
de ao inventor e metade ao dono das terras; 
c) se o invento fosse encontrado em terras do Estado Cesaris), 
metade seria do Estado e a outra metade, do 
13.2.2 Acessão 
Ocorria a acessão quando uma coisa aderia à outra, de tal modo que 
passava a dela fazer parte integrante, constituindo um todo. Os romanos 
tinham uma regra básica para explicar a acessão: accesio 
ou seja, o acessório sempre segue o principal. Desta forma, o proprietário 
 CC (Do achado do tesouro): "Art. 1.264. depósito antigo de coisas preciosas, 
oculto e de cujo dono não haja memória, será dividido por igual entre o proprie-
tário do prédio e o que achar o tesouro casualmente". 
 CC: 1.265. tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se 
for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro autorizado". 
"Art. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual 
entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja 
o descobridor". 
196 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
da coisa principal se tornava, também, o proprietário da coisa acessória a 
ela agregada. 
A acessão podia acontecer de maneira natural ou artificial entre bens 
móveis e imóveis, somente entre bens móveis ou entre imóveis. No entan-
to, acessão de um bem imóvel a um móvel era impossível, uma vez que o 
imóvel sempre é o principal em relação ao bem móvel. 
 Acessão entre coisas móveis 
Ocorria quando duas coisas móveis se juntavam, se agregavam, pas-
sando a fazer parte de um todo. Os romanos classificavam essa acessão de 
bens móveis da seguinte forma: 
 ou adplumbatio 
ocorria esse tipo de acessão quando a um objeto de ferro ou chumbo eram 
soldadas outras partes do mesmo material. Exemplo: se um pedaço de fer-
ro de propriedade de uma pessoa fosse soldado a uma estátua de ferro de 
propriedade de outra pessoa, passava a ser propriedade deste último (Dig. 
6,1,23,5); 
b) textura: o pano era o principal em relação ao bordado. A linha que 
constituía este último passava a fazer parte do tecido, como um todo; 
c) tinctura: o corante tornava-se parte integrante do tecido e passava a 
ser propriedade do proprietário deste 
d) scriptura: um romano possuía o papiro. Aquele que nele escreves-
se alguma coisa perdia, em proveito daquele, o escrito (Gaio, 1,77; 
 Dig. Dig. 
e) pictura: alguém era proprietário de uma tela; outro, das tintas. Qual 
seria a coisa principal e qual a acessória? Paulo entendia que a pintura ace-
dia à tela (Dig. Gaio, no entanto, entendia de modo contrário: a 
tela era o bem acessório e a pintura, o principal (2, 78). Prevaleceu esse 
último entendimento, pois seria ridículo a obra de um artista ser conside-
rada um bem inferior a uma simples tela de tecido ou de madeira que a con-
tivesse (vilissima tabula) (Inst. Dig. 1, 
13.2.2.2 Acessão de móveis a imóveis 
Regra pertence ao solo tudo o que se une a ele (superfícies solo 
cedit). Assim, a acessão de coisas móveis a coisas imóveis ocorria nos se-
guintes casos: 
a) Satio - passava a fazer parte integrante do solo a semente nele 
semeada (Gaio, 2,75; Inst. 2,1,32 e Dig. 
M O D O S D E A Q U I S I Ç Ã O D A P R O P R I E D A D E 197 
b) - quem plantava em terreno alheio perdia a plantação para 
o proprietário do imóvel até mesmo após ter ela sido arrancada; 
c) - quem construía em terreno alheio perdia a constru-
ção para o proprietário do 
13.2.2.3 Acessão de coisas imóveis entre si 
Aluvião - Era o tipo de acessão pelo qual alguém tinha aumentada a 
sua propriedade pela sedimentação lenta e natural de outras terras trazidas 
pela correnteza de um 
Avulsão - Ocorria quando uma porção de terra era arrancada de um 
imóvel, de forma violenta, pelo ímpeto do rio - vis - 
do-se ao outro. 
Ilhas fluviais influmine nata) - Quando uma ilha surgia natu-
ralmente num rio, passava a pertencer aos proprietários ribeirinhos, de 
acordo com a testada de cada qual (metragem de frente), e a partir do eixo 
central do 
 abandonado (alveus derelictus) - Quando um rio ou lago seca-
va, ou se desviava de seu curso, o leito seco passava a pertencer aos propri-
etários marginais, também de acordo com a testada de cada qual. 
 Dig. 
 CC: "Art. A acessão pode dar-se: (...) por plantações ou construções". 
 CC (Aluvião): "Art. Os acréscimos formados, e imperceptivel-
 por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou 
pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem 
 
 CC: "Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares 
pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguin-
tes: I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevin-
dos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção suas 
testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II - as que se for-
marem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos 
terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; III - as que se formarem pelo 
desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários 
dos terrenosà custa dos quais se constituíram". 
 CC (Do álveo abandonado): "Art. 1.252. álveo abandonado de corrente per-
tence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indeniza-
ção os donos dos terrenos por onde as águas novo curso, entendendo-se 
que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo". 
198 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
13.2.3 Especificação 
Era o modo não convencional de se adquirir a propriedade de uma coi-
sa nova nova), originada de matéria prima diferente. Exemplos: 
Vinicius transforma a cana-de-açúcar, de propriedade de Marco Túlio, em 
açúcar refinado (ou a uva em vinho, ou o mármore bruto numa estátua). A 
quem deveriam pertencer as espécies o açúcar, o vinho e a estátua? 
Esse dilema provocou acirradas discussões entre os juristas romanos. 
Os sabinianos entendiam que o proprietário da matéria prima deveria ser, 
também, o proprietário da espécie nova. Os proculeianos, por sua vez, 
defendiam ponto de vista contrário: a pessoa que havia produzido a espécie 
nova (o deveria ser o proprietário dela. A solução, por 
foi dada por Justiniano fundamentado em parecer de Paulo 
- se a espécie nova pudesse retornar ao estado primitivo, pertenceria 
ao proprietário da matéria prima. Este, por sua vez, deveria indenizar o 
especificador; 
- no entanto, se a espécie nova não pudesse retomar a forma primitiva 
anterior, pertenceria ao especificador, que, por sua vez, deveria indenizar 
o proprietário da 
13.2.4 Adjudicação 
Ocorria a adjudicação (adjudicatio) quando alguém se tornava propri-
etário de alguma coisa por decisão judicial 4,17,4-7).Isso ocorria 
geralmente nas ações divisórias de bens: 
a) nas ações de partilhas de heranças (familiae 
dividir 
 CC (Especificação): "Art. Aquele, que trabalhando em matéria-prima em 
parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder resti-
tuir à forma anterior". 
"Art. 1.270. Se toda matéria for alheia, e se puder reduzir à forma prece-
dente, será do especificador de boa fé a espécie nova. § Sendo praticável a 
 ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de má-fé, perten-
cerá ao dono da § Em qualquer caso, inclusive o da pintura em 
 à tela, a escultura, escritura e outro qualquer trabalho gráfico em 
à a espécie nova será do especificador, se o seu valor exceder con-
sideravelmente o da matéria-prima." 
"Art. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. e se ressar-
cirá o dano que sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § do 
artigo antecedente, quando irredutível a especificação." 
M O D O S D E A Q U I S I Ç Ã O D A P R O P R I E D A D E 199 
b) nas ações de prédios limítrofes regundorum) 
(regere fines traçar limites). 
13.2.5 Usucapião 
Usucapião (de usucapere adquirir pelo uso) era o modo de aquisi-
ção da propriedade de uma coisa, após a pessoa ter tido a posse pacífica da 
mesma durante um determinado lapso de tempo. A que já era 
conhecida dos romanos desde Lei das XII Tábuas, era definida Ulpiano 
como "a aquisição do domínio por continuação da posse por um ou dois 
 para as coisas móveis, um ano, as imóveis, dois anos" (Usucapio 
est adeptio possessionis anni biennii; 
mobilium anni, immobilium biennii - Ulpiano. Reg. 19, 8). 
A usucapião era um instituto do jus civile (ou direito quiritário), o que 
equivale dizer que, nos primórdios de Roma, somente dela podiam fazer 
uso os que fossem cidadãos romanos. Ficavam excluídos desse direito os 
plebeus, os estrangeiros e os peregrinos, injustiça que só foi abolida nos 
primeiros séculos depois de Cristo. 
13.2.5.1 Requisitos para a usucapião 
Para que ocorresse a usucapião, era necessário que estivessem presen-
tes os seguintes requisitos: 
a) coisas possíveis de ser usucapidas. 
Nem todas as coisas podiam ser objeto de usucapião, mas somente as 
 mancipi, ou seja, os imóveis que estivessem situados em solo da Itália. 
Não podiam serusucapidas as coisas do comércio (extra-commercium), 
as coisas furtadas furtivae) ou substraídas pela violência (vis posses-
sae), quer fossem móveis ou imóveis. Também não podiam ser objeto de 
usucapião os bens das igrejas, dos menores ausentes e os bens doados pe-
los governadores das províncias (Dig. 48, 8); 
b) titulus: era necessário um "justo título" ou causa", ou seja, 
qualquer documento ou motivo que justificasse a transferência da proprie-
dade, mesmo que esse documento, por irregularidade de forma, não tives-
se força Uma pessoa, por exemplo, que tivesse adquirido um bem 
sem a observância das formalidades legais (a falta do mancipatio ou do jure 
in legalmente, não tinha ocorrido a transferência do direito de pro-
priedade; 
200 INSTITUIÇÕES D E DIREITO R O M A N O 
c) (boa-fé): o pretendente à usucapião devia demonstrar que 
estava requerendo a propriedade da coisa, com a honesta convicção de que 
a mesma realmente lhe pertencia; 
d) possessio (posse ou uso): o pretendente deveria demonstrar que 
estivera, realmente, no uso e na posse do bem pretendido durante um de-
terminado tempo; 
e) deveria provar, também, que estivera na posse ininterrupta 
do bem durante o lapso de tempo necessário, fixado em lei. A Lei das XII 
Tábuas fixou esse tempo em um ano, no caso de bens móveis, e em dois 
anos, quando imóveis. Se durante esse lapso de tempo a posse tivesse sido 
interrompida, o prazo deveria recomeçar a ser contado, a partir da inter-
rupção. 
Com o passar do tempo, e diante da enorme expansão do Império Ro-
mano, o prazo para a aquisição por usucapião foi sendo gradativamente 
aumentado. 
13.2.5.2 A praescriptio temporis 
Por volta do século I o Império Romano já havia se por 
toda a Península Ibérica, Gália, Grécia e regiões do Oriente Médio. Roma, 
a essa época, era a urbe, a capital do mundo, e para ela afluíam pessoas de 
todas as regiões. Em face dessa verdadeira globalização de usos e costu-
mes, o jus civile foi ficando ultrapassado, pois amparava somente o direito 
daqueles que eram cidadãos romanos, excluindo os peregrinos e os demais 
estrangeiros. 
Para fazer frente às diversas situações que envolviam interesses dos 
peregrinos, o imperador Caracala criou, em d.C, uma nova forma de 
aquisição da propriedade semelhante à usucapião: a longi 
temporis, que atribuía a propriedade a pessoas que estivessem na posse de 
um imóvel por um prazo mais longo que o da usucapião - dez anos, quan-
do os interessados residissem na mesma província, e vinte anos, quando se 
encontrassem em províncias diferentes. 
13.2.5.3 A praescriptio longissimi temporis 
 imperador Constantino, por sua vez, criou a praescriptio longissimi 
temporis, ampliando o prazo de posse para quarenta anos, mesmo que a 
pessoa não tivesse o justo título nem boa-fé. 
Por volta do ano d.C, Justiniano fundiu as formas de usucapião, 
as previstas no jus civile com a da praescriptio longissimi temporis, e fi-
M O D O S D E A Q U I S I Ç Ã O D A P R O P R I E D A D E 201 
xou novos prazos, de acordo com a natureza dos bens: para os bens mó-
veis, três anos, e, para os imóveis, dez anos, se os interessados residissem 
na mesma província, e vinte anos, quando fossem de províncias diferen-
tes. Se o bem pretendido em usucapião pertencesse ao fisco, à igreja ou ao 
Estado, o tempo de uso deveria ser de quarenta 
13.2.6 A defesa da propriedade 
 Direito Romano colocava à disposição do proprietário vários tipos 
de ações em juízo para defender sua propriedade, quando invadida ou 
ameaçada de invasão, para protegê-la contra danos causados por 
terceiros. 
13.2.6.1 A ação reivindicatória 
Era a ação colocada à disposição do proprietário de um bem para 
recuperá-lo quem ilicitamente o possuísse. Ao detentor da posse 
cabia a ou a oposição à pretensão do autor. 
 CC: "Art. 1.238. Aquele que, por 15 (quinze) anos, sem interrupção, nem oposi-
ção, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente 
dé título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença,a 
qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágra-
fo único. prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a 10 anos se o possuidor 
houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras 
ou serviços de caráter produtivo". 
"Art. 1.239. Aquele que, sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, 
possua como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem área de terra 
em zona rural não superior a 50 (cinqüenta) hectares, tornando-a produtiva por 
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, a proprie-
dade." 
"Art. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até 250 (duzentos e 
cinqüenta) metros quadrados, por 5 (cinco) anos ininterruptamente e sem oposi-
 utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, 
desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural." 
"Art. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, e 
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 (dez) anos. Pará-
grafo único. Será de 5 (cinco) anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel hou-
ver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo 
cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem esta-
belecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econô-
mico." 
202 INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
13.2.6.2 Ação negatória (actio negatória) 
A ação negatória tinha por objeto a declaração de inexistência de qual-
quer ônus ou gravame sobre a propriedade. Assim, porexemplo, se alguém 
alegasse que tinha o direito de servidão ou o usufruto sobre uma proprie-
dade alheia, o proprietário desta podia lançar mão da ação negatória para 
que fosse declarada oficialmente a inexistência do usufruto ou da servidão 
propagada (Dig. 8,5,2,pr.). 
13.2.6.3 Cautio damni infecti 
Essa ação era uma garantia que o proprietário de uma construção em 
ruínas ou em reformas dava, de que ressarciria todos os prejuízos que a 
reforma ou as ruínas porventura viessem a causar no imóvel do vizinho 
(Dig. 39,2,2). 
13.2.6.4 Operis novi nunciatio (nunciação de obra nova) 
A ação de nunciação de obra nova estava à disposição de um proprie-
tário que tivesse seus direitos de propriedade ofendidos por uma constru-
ção vizinha. Se a obra nova (construção vizinha) estivesse prejudicando a 
sua propriedade, ele poderia fazer uso da "ação de nunciação de obra nova" 
para impedir o prosseguimento da obra. Se o construtor não obedecesse à 
ordem de paralisação e prosseguisse nos trabalhos, o vizinho podia reque-
rer ao pretor urbano a interdictum ex operis novi nunciatione, ou seja, a 
demolição da construção. 
13.2.6.5 A interdictum quod vi aut ciam 
A interdictum quod vi aut ciam era uma variedade da ação de 
nunciação de obra nova pela qual o autor de trabalhos nocivos a outrem 
era compelido a repor as coisas em seu estado anterior e a indenizar os 
prejuízos ocasionados, isso se os trabalhos nocivos continuassem a ser 
realizados, pela força (vi) ou clandestinamente, sem seu conhecimento 
{ciam) (Dig. 43,24,16,2). 
14 
POSSE 
SUMÁRIO: 14.1 Conceito de posse - 14.2 Elementos da posse - 14.3 
Modalidades de posse: 14.3.1 Posse natural (possessio naturalis); 14.3.2 
Posse civil (possessio civilis); 14.3.3 Posse pelos interditos (possessio ad 
interdicta)-14.4 Aquisição da posse-14.5 Perda da posse- 14.6 Proteção 
da posse: 14.6.1 Interditos de manutenção da posse; 14.6.2 Interditos de 
recuperação da posse. 
14.1 Conceito de posse 
Posse era o poder de fato que uma pessoa exercia sobre determinada 
coisa corpórea, mediante sua apreensão ou subordinação física. 
A Lei das XII Tábuas já falava em "uso" (usus) de um bem por uma 
pessoa, mas a regulamentação do instituto da posse somente ocorreu nos 
primeiros séculos depois de Cristo, no período do Direito Romano clás-
sico. 
O vocábulo "posse" vem de pos-sedere, ou seja, "poder fixar-se, sen-
tar-se numa coisa". Para os romanos significava a apreensão de uma coisa 
por uma pessoa que dela podia dispor segundo sua vontade, como se dela 
fosse o proprietário. 
É necessário, no entanto, distinguir entre posse e propriedade, que são 
dois institutos diferentes (separata esset debet possessio a proprietate -
Dig. 43,17,1,2). 
Muitas vezes posse e propriedade se confundem numa mesma pessoa, 
como no caso de alguém ser proprietário de uma coisa e ter ao mesmo tem-
po a sua posse. Assim, por exemplo, o proprietário que ao mesmo tempo 
mora na própria casa. Pode ocorrer, no entanto, que o proprietário de uma 
coisa não tenha a sua posse, como um proprietário de uma casa que a aluga 
para outra pessoa, transferindo assim a posse a seu locatário. Pode ocorrer, 
204 INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
ainda, que uma pessoa tenha somente a posse de uma coisa, sem ser o seu 
proprietário. Exemplo: uma cadeira em sala de aula. 
14.2 Elementos da posse 
Para que a posse fosse legalmente protegida era necessário que nela se 
aglutinassem dois elementos essenciais: o corpus (o objeto) e o animus (a 
intenção). 
a) Corpus - era o elemento objetivo, o corpo, a matéria, o objeto físi-
co. 
b) Animus - era o elemento subjetivo, a intenção, a vontade, a ânimo 
de possuir a coisa. 
Quando a pessoa tinha o animus e o corpus concomitantemente, tinha 
juridicamente a posse da coisa; podia acontecer, porém, que a pessoa ti-
vesse somente o corpus, sem o animus, ou seja, possuísse a coisa sem a 
intenção de tê-la para si, como, por exemplo, um depositário, que apenas 
guardava a coisa para outrem. 
Quando o proprietário de uma casa a aluga, transfere a sua posse para 
o locatário, que se torna, assim, o possuidor da mesma. Nesse caso, o pro-
prietário já não tem mais o domínio sobre o bem (as três faculdades do di-
reito de propriedade ao mesmo tempo, qual seja o jus utendi, o jus fruendi 
e o jus disponendi), pois abriu mão da posse (jus utendi) para o locatário. 
14.3 Modalidades de posse 
14.3.1 Posse natural (possessio naturalis) 
Era a mera apreensão da coisa sem a intenção de possuí-la como pró-
pria. Era a detenção do corpus (objeto) sem o animus (a intenção de tê-la 
para si). Como exemplo podemos citar o caso do depositário de uma coisa 
que a guarda para o depositante. Essa espécie de posse é precária, cessando 
quando o bem for reclamado pelo seu proprietário. 
14.3.2 Posse civil (possessio civilis) 
Era a posse que se fundamentava em atos jurídicos. O detentor desse 
tipo de posse podia pleitear a propriedade da coisa possuida através da 
usucapião. Para tanto deveria provar em juízo que tinha o objeto (corpus) 
em seu poder por um determinado período de tempo, sempre com a inten-
ção de um verdadeiro proprietário (animus domini). 
POSSE 205 
14.5 Perda da posse 
A posse podia ser perdida quando não se achassem mais presentes os 
seus dois elementos essenciais: o animus e o corpus. Perdia-se, pois a pos-
se: 
a) pelo abandono da coisa; 
b) quando o possuidor não desejasse mais possuí-la; 
( l ) CC: "Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível 
o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade". 
14.3.3 Posse pelos interditos (possessio ad interdicta) 
Por esse tipo de posse o possuidor mantinha a posse da coisa {animus 
possidendi), mas sem a intenção de tornar-se dela o seu proprietário (não 
havia o animus domini). 
À época de Justiniano, convencionou-se reduzir em apenas duas as 
espécies de posse: a posse natural e a posse civil, incorporando-se a posse 
pelos interditos nessa última espécie. 
14.4 Aquisição da posse 
• 
Podia-se adquirir a posse de uma coisa pessoalmente pela apreensão 
direta e material do objeto. Nesse caso, o possuidor dela se apossava com 
animnus domini. 
Quando a coisa, pelas suas grandes proporções (um terreno, por exem-
plo), não podia ser apreendida, tomada diretamente nas mãos, o possuidor 
devia demonstrar publicamente a sua intenção de possuí-la como se dela 
fosse o proprietário {animusdomini), entrando no terreno, pisando-o, que-
brando galhos, expulsando intrusos. 
Com o correr dos tempos, foram surgindo outras formas de aquisição 
da posse, tais como: 
a) tradição simbólica - que era a transferência da posse simbolizada 
por qualquer ato visível, tal como a entrega de uma chave; 
b) tradição longa manu - quando a coisa a ser possuída fosse uma área 
de grandes proporções, o possuidor deveria subir a uma região elevada e 
de lá vislumbrar todo o imóvel, indicando-o com a mão, como se fosse seu 
proprietário.' 
206 INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
c) quando o possuidor transferia a posse para outra pessoa; 
d) quando o possuidor perdia a coisa possuída. 
Existiam, certamente, exceções a essas regras. Assim, por exemplo, 
quando o possuidor deixava de usar uma pastagem durante todo o inverno, 
perdia, nesse período, o corpus sobre o bem, mas continuava com o animus 
domini sobre todo o pasto.2 
14.6 Proteção da posse 
Quando a posse era ameaçada ou violada, o possuidor procurava • 
protegê-la ou reavê-la através de ações específicas, denominadas "interdi-
tos possessórios", que nada mais eram que ordens oficiais do pretor que 
determinavam que a posse fosse mantida ou que fosse devolvida ao verda-
deiro possuidor. Os interditos tinham a força dos mandados judiciais de 
hoje em dia e continham uma obrigação de fazer ou de não fazer. 
Os interditos eram de duas espécies: 
• 
14.6.1 Interditos de manutenção da posse 
Os interditos de manutenção da posse (retinendae possessionis) eram. 
as decisões dos pretores que determinavam que o possuidor fosse mantido 
na posse da coisa. Eram de duas espécies: 
14.6.1.1 Interdito uti possidetis 
Era destinado a manter a posse de bens imóveis. O pretor definia quem 
era o verdadeiro titular da posse, no momento do pedido, e ordenava que a 
mesma não fosse perturbada por terceiros. Para que obtivesse esse benefí-
cio, no entanto, o possuidor deveria provar que não havia adquirido a pos-
se do imóvel de modo violento, precário ou clandestino (vi, precário, ciam). 
14.6.1.2 Interdito utrubi 
Era o interdito para a defesa de bens móveis. Assegurava a posse da 
coisa àquele que a tivesse possuído por mais tempo, no ano anterior ao 
pedido. 
< 2 ) CC: "Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do 
possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196". 
POSSE 207 
14.6.2 Interditos de recuperação da posse 
Os interditos de recuperação da posse perdida (interdicta recuperandae 
possessionis) eram ordens do pretor para que fosse restituída ao possuidor 
a posse da coisa que lhe havia sido arrebatada, ou por violência, ocupação 
clandestina ou concessão temporária. Existiam três tipos de interditos para 
recuperação da posse perdida: 
14.6.2.1 Interdito unde vi 
Era concedido ao possuidor que tivesse sido despojado de sua posse, 
de forma violenta. Era de dois tipos: 
a) de vi cottidiana: esse tipo de interdito beneficiava o possuidor que 
tivesse sido despojado da posse de uma coisa de forma violenta, mas sem 
o uso de armas; 
b) de vi armata: ao contrário do anterior, esse interdito amparava o 
possuidor quando o despojamento da posse tivesse ocorrido por força de 
armas. 
14.6.2.2 Interdito de clandestina possessione 
A ordem do pretor era emitida contra aquele que havia se apossado da 
posse de alguém de forma clandestina, aproveitando-se da ausência do 
possuidor. 
14.6.2.3 Interdito de precario 
Era concedido ao possuidor que havia cedido a posse a um terceiro, 
por determinado tempo, sem que este lha devolvesse no prazo combina-
do. 3 
( 3 ) CC "Art. 1.210. O possuidor tem o direito a ser mantido na posse em caso de 
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver jus-
to receio de ser molestado. § 1.° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá man-
ter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de 
defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou 
• restituição da posse". 
DIREITOS REAIS 
SOBRE COISA ALHEIA 
SUMÁRIO: 15.1 Histórico e conceito - 15.2 Servidões prediais. Concei-
to. Classificação: 15.2.1 Servidões prediais urbanas (servitudespraediorum 
urbanorum); 15.2.2 Servidões rústicas - 15.3 Servidões pessoais. Concei-
to. Classificação: 15.3.1 Usufruto; 15.3.2 Uso; 15.3.3 Habitação; 15.3.4 
Serviços de escravos e de animais -15.4 Superfície -15.5 Enfiteuse: 15.5.1 
Direitos e deveres do enfiteuta. 
• 
15.1 Histórico e conceito 
Além dos direitos reais sobre o próprio patrimônio (jura in ré), o Di-
reito Romano previa também a existência de direitos reais sobre coisas 
alheias (jura in re aliena). 
Nos primórdios de Roma existiam somente as servidões prediais, ou 
seja, direitos reais que recaíam sobre um bem imóvel (serviente), limitan-
do seu uso em benefício de outro bem imóvel (dominante). Um bem imó-
vel servia a outro imóvel, (servitus = submissão). 
Por volta de 530 d.C. surgiram as servidões pessoais, ou seja, direitos 
reais que recaíam também sobre uma coisa, mas em benefício de uma pes-
soa. Assim o usufruto, o uso, a habitação e o trabalho escravo e dos ani-
mais (operae servorum et animalium). 
Podemos, pois, dividir os direitos reais sobre coisas alheias em dois 
grandes grupos: as servidões prediais e as servidões pessoais. 
15.2 Servidões prediais. Conceito. Classificação 
As servidões prediais são ônus impostos sobre um imóvel (prédio 
serviente) em benefício de outro imóvel (prédio dominante). Tomemos, 
como exemplo, o proprietário de um terreno encravado, ou seja, situado 
no meio de um terreno maior, de outro proprietário. Certamente ele tem 
DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA 209 
necessidade de passar pelas terras do vizinho para ter acesso à estrada pú-
blica. Se tal acesso lhe é vedado, ele pode pleitear em juízo o seu direito 
real de transitar pelas terras alheias, ou seja, fazer valer o seu direito sobre 
a propriedade vizinha. O proprietário do terreno vizinho, por sua vez, per-
de, em benefício do proprietário do terreno encravado, o direito de uso (jus 
utendi) da parcela de sua propriedade necessária à passagem do proprietá-
rio do terreno encravado. 
Características das servidões prediais: 
a) as servidões prediais tornam-se parte integrante do imóvel serviente, 
acompanhando-o mesmo quando alienado; 
b) os prédios serviente e dominante devem ser vizinhos; 
c) as servidões prediais têm a característica da perpetuidade, ou seja, 
somente se extinguem com o desaparecimento da coisa serviente ou do-
minante, pelo desaparecimento do titular, pela renúncia e pelo seu não uso. 
De acordo com sua localização, as servidões prediais podiam ser ur-
banas ou rústicas. 
15.2.1 Servidões predicas urbanas (servitutes praediorum urbanorum) 
Eram aquelas que recaíam sobre imóveis situados nas cidades e visa-
vam a proteger os direitos de vizinhança. Eram dos seguintes tipos: 
a) servitus oneris ferendi: direito de apoiar uma construção na parede 
do vizinho; 
b) servitus tigni immitendi: direito de colocar vigas nas paredes do 
vizinho; 
c) servitus altius non tollendi: direito de impedir o vizinho de fazer 
construções mais altas, com prejuízo do prédio dominante; 
d) servitus prospiciendi: direito de impedir que a construção vizinha 
diminua a luminosidade ou a vista do imóvel dominante; 
e) servitus stillicidii velfluminis recipiendi: direito de obrigar o pré-
dio vizinho (serviente) a receber as águas servidas que correm, ou aos pou-
cos (stillicidii) ou na forma de pequeno córrego (flumen); 
f) servitus cloacae: direito de exigir o escoamento de esgoto pelo ter-
reno vizinho. 
15.2.2 Servidões rústicas 
Eram aquelas que recaíam em bens imóveis situados nos campos, des-
tinados às atividades agrícolas. Surgiram da necessidade imposta pela inten-
210 INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
sa atividade agrícola dos primeiros tempos do Império Romano. As servi-
dões rústicas eram classificadas em: 
-
15.2.2.1 Servidão de passagem 
1) Iter:direito de transitar pelo terreno vizinho a pé, a cavalo ou de 
liteira; 
2) Actus: direito de transitar com animais ou rebanhos; 
3) Via: direito de transitar a pé, com animais ou com veículos pelo ter-
reno vizinho. 
15.2.2.2 Servitus aquaeductus 
Direito de canalizar água pela propriedade vizinha. (Dig. 8,3,1, pr. e 
Inst. 2,3, pr.) 
• 
15.2.2.3 Servitus aquae hauriendae 
Direito de retirar água do terreno vizinho. 
15.2.2.4 Servitus arena fondiendae 
Direito de retirar areia da propriedade vizinha.1 
15.3 Servidões pessoais. Conceito. Classificação 
As servidões pessoais eram ônus que recaíam sobre um bem móvel ou 
imóvel em benefício de uma pessoa. Ao contrário das servidões prediais, 
as servidões pessoais eram instituídas em benefício de pessoas e não de 
prédios ou terrenos. Elas surgiram no período do direito justinianeu e clas-
sificavam-se em usufruto, uso, habitação e serviços de animais e de escra-
vos (operae servorum et animalium). 
15.3.1 Usufruto » 
Era o direito real que recaía sobre uma coisa em benefício de uma pes-
soa (usufrutuário), conferindo-lhe o direito de usar (jus utendi) a coisa e 
( l ) CC: " Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o prédio dominante, e 
grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e constitui-se mediante 
declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subseqüente regis-
tro no Cartório de Registro de Imóveis". 
DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA 211 
de receber todos os frutos (jusfruendi) que aquela coisa produzisse. "É a 
servidão pessoal pela qual uma pessoa pode usar uma coisa de outro e dela 
receber os frutos, sem alterar sua substância" (Usufructus est jus alienis 
rebus utendi, fruendi, salva rerum substantia-Dig. 7,1,1, pr; Paulo). 
O proprietário da coisa serviente permanecia somente com o direito 
de aliená-la (jus disponendi ou abutendi), direito esse que podia ser exer-
cido sem prejuízo do usufrutuário, ou seja, mesmo alienado a servidão 
continuava onerando o imóvel.2 
15.3.2 Uso 
Uso (usus) era o direito real que transferia a alguém (usuário) somente 
o uso (jus utendi) de coisa alheia, e não os seus frutos (jusfruendi), que 
continuavam a ser do proprietário. Era uma espécie de usufruto limitado 
(utipostest, frui non potest - Dig. 7,8,2, pr.). 
15.3.3 Habitação 
Habitação (habitatio), à época de Justiniano, era o direito que uma 
pessoa tinha de habitar ou mesmo alugar casa de propriedade alheia, du-
rante determinado lapso de tempo (C. 3,33,13; Inst. 2,5,5).3 
15.3.4 Serviços de escravos e de animais 
Os serviços de escravos e de animais (operae animalis vel servi) con-
sistia no direito de utilização do trabalho dos escravos e dos animais per-
tencentes a outra pessoa. O beneficiário podia mesmo alugá-los e perma-
necer com os frutos (aluguel, arrendamento etc). (Dig. 7,7,1,3 - Gaio: in 
hominis usufructu operae sunt, et operas, mercedes (os serviços c*o escra-
vo ficam em usufruto, e também os rendimentos dos serviços). 
15.4 Superfície 
A superfície, surgida no período do direito justinianeu, era o direito 
real, transmissível e alienável que atribuía a alguém (o superficiário) o di-
( 2 ) CC: "Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imó-
veis, em um patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em 
parte, os frutos e utilidades". 
( 3 ) CC: "Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa 
alheia, o ti tular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente 
ocupá-la com sua família". 
212 INSTITUIÇÕES DE DIREITO ROMANO 
reito de gozo sobre um edifício construído em terreno alheio. O superficiário 
não era o proprietário do edifício, mas exercia sobre ele todos os direitos 
de propriedade, como se proprietário fosse. Podia até mesmo destruir ou 
alienar o edifício sem o consentimento do proprietário do solo onde ele 
estivesse construído. 
O superficiário, quando convencionado, pagava ao proprietário do solo 
uma espécie de aluguel (pensio ou solarium).4 
15.5 Enfiteuse 
A origem da enfiteuse é remota. O Estado romano sempre foi proprie-
tário de imensas porções de terras (coloniae, municipia), geralmente situ-
adas nas províncias, e, atendendo às necessidades agrícolas, passou a 
arrendá-las a particulares (enfiteutas), por longos prazos, mediante o pa-
gamento de uma pensão anual denominada vectigal, mais os impostos que 
incidissem sobre o imóvel. Se decorressem três anos sem pagamento do 
vectigal, a enfiteuse era revogada. A terra assim recebida era denominada 
ager vectigalis e o enfiteuta passava a ter sobre ela o jus emphyteuticum. 
Definição: a enfiteuse (originária do grego emphyteusis=planta.ção), 
era um direito real, alienável e transmissível a herdeiros, pelo qual o pro-
prietário transferia a outra pessoa (enfiteuta, foreiro, caseiro) o direito de 
cultivar um imóvel de sua propriedade, durante um largo período de tem-
po, mediante o pagamento de uma pensão anual. 
Com o tempo, a exemplo do Estado, particulares que eram proprietá-
rios de grandes extensões de terras começaram também a fazer uso do ins-
tituto da enfiteuse, tendo ele se tornado freqüente no Império Romano. 
A enfiteuse era celebrada através de um contrato firmado entre o pro-
prietário e o interessado. 
15.5.1 Direitos e deveres do enfiteuta 
A enfiteuse podia ser transferida a terceiros, por ato inter vivos e cau-
sa mortis. O enfiteuta podia, também, alugar ou onerar o imóvel com ser-
vidões e hipotecas. No entanto, se pretendesse alienar a enfiteuse, devia 
( 4 ) CC: "Art. 1.369.0 proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou 
de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública 
devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis". Parágrafo único. O 
direito de superfície não autoriza obra no sub-solo, salvo se for inerente ao obje-
to da concessão". 
DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA 213 
comunicar tal intenção ao proprietário das terras, que tinha sobre elas o 
direito de preferência, desde que em igualdade de preço. Se o proprietário 
não se interessasse, devia autorizar a sua transferência para terceiros. Se o 
proprietário não se pronunciasse a respeito da transação dentro de dois 
meses, a venda poderia ser efetuada pelo enfiteuta, mas o proprietário ti-
nha o direito de receber de dois a cinco por cento sobre o total do valor re-
cebido (laudemium).5 
O enfiteuta era obrigado a pagar todos os tributos que pesassem sobre 
o imóvel e poderia propor as ações necessárias para a defesa de seus direi-
tos. 
Ao final do contrato deveria restituir as terras nas mesmas condições 
em que as havia recebido. 
Era também seu dever pagar pontualmente ao proprietário a pensão 
anual devida (pensio, reditus, cânon). 
< 5 ) Laudêmio provém do latim laudare, que significa "aprovar" o negócio realiza-
do. 
DIREITOS REAIS DE GARANTIA 
SOBRE COISA ALHEIA 
-
SUMÁRIO: 16.1 Alienação fiduciária (fiducia cum creditore) - 16.2 Pe-
nhor- 16.3 Hipoteca: 16.3.1 Pluralidade de credores hipotecários. 
Direitos reais de garantia eram aqueles que o credor passava a ter so-
bre uma coisa de propriedade de outrem para assegurar-se do recebimento 
de seu crédito. O Direito Romano conheceu três tipos desses direitos reais 
de garantia: a alienação fiduciária, o penhor e a hipoteca. 
16.1 Alienação fiduciária {fiducia cum creditore) 
Foi a forma mais antiga de garantia. O devedor, como garantia de seu 
débito, transferia a propriedade de um bem de sua propriedade ao credor, e 
este se comprometia a devolvê-la quando o devedor saldasse seu débito. 
A alienação fiduciária era efetuada de forma solene, perante o magis-
trado, inserindo-se no contrato (pactum fiduciae) uma cláusula mediante a 
qual o credor se comprometia a devolver o imóvel quando da satisfação do 
débito. O credor passava a ter sobre a coisa um direito real e dela seria o 
legítimo proprietário se a dívida não fosse saldada no prazo pré-fixado. 
16.2 Penhor 
O penhor (pignus datum) era

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