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13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 1/27 Casos práticos de direito das sucessões Prof. Gilberto Fachetti Silvestre Descrição Abordagem conceitual e prática dos institutos fundamentais do Direito de Sucessão e seus impactos patrimoniais mais importantes nas relações familiares no Brasil. Propósito Essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande viés prático e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas que você irá exercer no futuro. Preparação Antes de iniciar os estudos, tenha o Código Civil atualizado em mãos, pois você precisará consultá-lo para compreender como é a disciplina jurídica da matéria. Objetivos Módulo 1 Sucessão Legítima Reconhecer os conceitos da sucessão legítima. Módulo 2 Sucessão Testamentária 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 2/27 Identificar as disposições essenciais de um testamento. Módulo 3 Inventário e Partilha Analisar os principais elementos do inventário e partilha. 1 - Sucessão Legítima A aquisição da propriedade está na base do direito sucessório sobre a herança e tem importância nas entidades familiares, célula da sociedade. Daí a importância de compreender em detalhes como se dá a constituição do direito de herança e, também, quais suas características, pois as consequências sociais e jurídicas que podem advir dessas situações servem de campo fértil para o desenvolvimento profissional do aluno que está sendo formado. O regime jurídico da sucessão implica uma consequência prática e em alguns conceitos próprios e peculiares que permitem melhor compreender como funcionam as formas de aquisição do direito de herança e como problemas deles decorrentes devem ser resolvidos. Com o objetivo de colaborar com o futuro exercício da profissão, aqui se pretende apresentar conceitos e demonstrar como eles se aplicam para a solução de problemas que resultam dos danos decorrentes das relações hereditárias. Para isso, primeiro será apresentado um panorama dos seus elementos essenciais caracterizadores. Após, será abordada a forma de identificar os direitos e suas consequências. Por fim, será apresentado o regime jurídico dos elementos essenciais das modalidades de sucessão e seus impactos nas relações familiares, de modo a resumir e sistematizar as principais regras sobre a matéria. Introdução 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 3/27 Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos da sucessão legítima. Sucessão legal O regime da sucessão legítima Entenda a seguir sobre as regras fundamentais da sucessão legítima. Observações gerais Conforme leciona o art. 1.786 do Código Civil, a sucessão hereditária ocorre por força de lei ou por disposição de última vontade. A sucessão legítima (também chamada de legal) é aquela que ocorre em observância à ordem de sucessão hereditária prevista em lei, ao passo que a sucessão por ato de última vontade denomina-se sucessão testamentária. A sucessão legal tem lugar quando se encontram presentes herdeiros necessários (descendentes, os ascendentes e o cônjuge e companheiro), limitando a capacidade de testar à metade da herança. Além disso, não havendo sucessão testamentária, a sucessão legítima possuirá caráter supletivo. Para compreendermos melhor de que forma funciona a sucessão legítima, é necessário que antes conheçamos a ordem de sucessão hereditária prevista no art. 1.829 do Código Civil. Assim, é a ordem de preferência que o dispositivo estabelece entre os herdeiros legítimos: Os descendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro sobrevivente (exceto se estes fossem casados ou conviventes no regime da comunhão universal, separação obrigatória ou quando estes fossem casados no regime da comunhão parcial, mas o de cujus não deixou bens particulares excluídos da comunhão). Os ascendentes, em concorrência com o cônjuge ou companheiro. O cônjuge ou o companheiro sobrevivente (também chamado de cônjuge ou companheiro supérstite). Os colaterais. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 4/27 Algumas observações gerias devem ser feitas quanto ao rol estabelecido por lei. A primeira observação é a de que, havendo herdeiros de uma classe (descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro, colaterais até 4° grau), não são chamados à sucessão os herdeiros de classes seguintes. Assim, os herdeiros de classes seguintes só herdarão na falta de herdeiros que componham a classe anterior. A exceção para esta regra é a hipótese do cônjuge e do companheiro que concorrem com descendentes a depender do regime de bens do casamento (inciso I do art. 1.829 do CC) e que concorrem com os ascendentes (inciso II do art. 1.829 do CC). Em maio de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou os Recursos Extraordinários nº 646.721 e nº 878.694 e decidiu que: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”. Antes desse julgamento, a sucessão do companheiro era diferenciada e menos favorável que a sucessão do cônjuge. Era regida pelo art. 1.790 e o companheiro poderia receber frações diferentes, a depender da existência de filhos comuns ou não. Foi isso que o STF disse que é inconstitucional. A partir disso, a sucessão do companheiro foi equiparada à do cônjuge e passou a ser regida pelo art. 1.829. Assim, no art. 1.829, onde se lê apenas “cônjuge”, deve-se ler, na realidade, “cônjuge ou companheiro”. Além disso, deve-se ter em mente que, apesar de dentro de cada grau existirem regras próprias de sucessão (que devem ser bem conhecidas pelo aluno a partir da leitura atenciosa dos arts. 1.829-1.843 do Código Civil), dentro de uma mesma classe, os herdeiros de grau mais próximo preferem aos herdeiros de grau mais remoto. Essa última regra passa por uma modificação na hipótese de direito de representação. Apenas para recordar, o direito de representação trata-se de uma hipótese legal de substituição do herdeiro pré-morto (ou indigno ou deserdado) pelo seu sucessor imediato. Assim, a lei chama certos parentes de um herdeiro pré-morto a suceder em todos os direitos que possuiria sobre a herança de outra pessoa como se vivo fosse. Importa ressaltar que o direito de representação somente existe na linha reta descendente, não havendo direito de representação de ascendente. Na linha colateral, apenas existe direito de representação em favor dos filhos de irmãos do falecido, ou seja, sobrinhos. Porém, essa representação tem lugar somente se o autor da herança deixar irmãos como herdeiros. Vejamos como isto ocorre a partir de um caso prático: Exemplo Suponha que João é pai solteiro de Ana e Fátima. Fátima, por sua vez, é mãe de Pedro e Vitor, enquanto Ana é mãe de Patrícia e Júlia. Tendo Ana falecido em 2018 e João em 2019, Patrícia e Júlia representariam Ana (pré-morta) em relação à herança de João. Assim, Fátima teria 50% da herança de João (por direito próprio) enquanto Flávia e Júlia teriam direito, por representação, de 25% da herança para cada uma delas. Feitas estas considerações gerais, passemos agora a algumas observações acerca da sucessão em cada uma das classes. A ordem sucessória 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 5/27 Diferenciação entre as classes sucessórias Em primeiro lugar na ordem sucessória encontram-se os descendentes. Apesar da linha sucessória dos descendentes ser infinita (não havendo grau máximo para a fixação do parentesco), aplica-se aquia regra geral de que os graus mais próximos preferem aos mais remotos. Assim, filhos preferem aos netos, que preferem aos bisnetos e assim por diante. Além disso, deve-se sempre ter em mente a regra da plena igualdade sucessória dos descendentes. Isto quer dizer que os filhos de qualquer origem possuem os mesmos direitos sucessórios, não importa se sejam biológicos, socioafetivos, matrimoniais e extrapatrimoniais (art. 1.596 do CC). Não havendo descendentes sucessíveis, os segundos da ordem de vocação hereditária são os ascendentes. Da mesma forma como ocorre com os descendentes, não há grau máximo de parentesco na ascendência. Todavia, também se aplica aqui a regra de preferência do grau mais próximo. Nos termos do art. 1.836, §2°, do Código Civil, havendo igualdade em grau e diversidade em linha (materna ou paterna), os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra metade à linha materna. No que se refere aos direitos sucessórios dos cônjuges, não existindo descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro àquele que for sobrevivente (inciso III do art. 1.829 CC). Todavia, diante da existência destes, os cônjuges e companheiros com eles concorrerão, nos termos dos incisos I e II do art. 1.829 do CC. Acerca da concorrência de cônjuges/companheiros e descendentes, a priori esta só ocorrerá nas hipóteses de comunhão parcial, na separação total e na participação final dos aquestos. Isto porque o inciso I do mencionado dispositivo coloca como exceções à concorrência o casamento no regime da comunhão universal; no da separação obrigatória de bens ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares. Por sua vez, sobre a concorrência de cônjuges/companheiros e ascendentes (inciso II do art. 1.829 do CC), devem ser observadas 3 regras (previstas nos arts. 1.836, §2° e 1.837 do CC): I Concorrendo com ascendente em 1° grau do de cujus, caberá ao cônjuge ou companheiro um terço da herança. II Havendo um só ascendente, caberá ao cônjuge/companheiro metade da herança. III Concorrendo com os ascendentes de 2° grau, o cônjuge ou companheiro terá direito à metade da herança e a outra metade deverá ser dividida entre os ascendentes de 2° grau. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 6/27 Sobre a sucessão dos cônjuges e companheiros, cabe uma última observação disposta no art. 1.830 do Código Civil: Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge/companheiro sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente. O último inciso do art. 1.829 aponta que os últimos da ordem hereditária são os parentes colaterais. Deve-se recordar que, diferentemente do que ocorre com ascendentes e descendentes, apenas são chamados para suceder os parentes de até 4° grau. Também se aplica aqui a regra de preferência do grau mais próximo. Consoante o artigo 1.841 do Código Civil, concorrendo irmãos bilaterais (ou germanos) com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar. Parte da literatura jurídica aponta a inconstitucionalidade do dispositivo, com a afirmação de que a desigualdade de tratamento não possui guarida na Constituição e é incompatível com a disposição do art. 227, §6°, do texto constitucional. Todavia, parcela significativa dos autores afirma que tal distinção de tratamento se justifica, não havendo que se aplicar à sucessão dos colaterais o princípio da igualdade entre os filhos (que se aplica à sucessão dos descendentes). Ademais, nos termos do art. 1.844 do Código Civil, não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal. Feitas estas considerações teóricas, analise-se um caso prático em que aplicaremos os conceitos de concorrência sucessória estudados até aqui. Exemplo Imagine que João e Joana casaram-se em 2005 pelo regime de comunhão parcial de bens, não possuindo bens particulares anteriores ao casamento. São filhos do casal, nascidos em 2006, 2007, 2008, Lucas, Rodrigo e Pedro, respectivamente. Joana falece em 2015, deixando um patrimônio de R$600.000,00 (seiscentos mil reais), sem deixar bens particulares posteriores ao casamento. A sucessão de Joana se dará da seguinte forma: I João tem direito à meação (que, lembre-se, não se confunde com herança) no valor de R$ R$300.000,00. II Lucas, Rodrigo e Pedro terão direito, como herança, a uma monta equivalente a R$100.000,00 para cada um. III João não terá direito à herança, visto que não existem bens particulares a serem partilhados. Caso prático Abordagem da Teoria à Prática Para entendermos na prática os conceitos delineados neste módulo, vamos analisar o case abaixo, adaptado do Recurso Especial n°. 992.749/MS, julgado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ): 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 7/27 Após a leitura do case, perguntamo-nos: Paulo, de 55 anos, é casado no regime da separação convencional de bens com Maria desde 2020 e tem filhos de casamentos anteriores. Com Amélia, Paulo teve João. Com Marta, Paulo teve dois filhos: Ana e Luiz. Luiz, falecido em 2020, deixou três filhos: Marcos, Lucas e Mateus. Paulo faleceu em 2022 sem deixar testamento. Na habilitação para o inventário e partilha judiciais, Maria pede sua habilitação como viúva herdeira necessária. Os filhos de Paulo, porém, manifestaram-se, alegando que à viúva somente seria conferido o status de herdeira necessária – e, assim, de concorrente no processo de inventário – na hipótese de casamento pelo regime de comunhão parcial de bens. O pedido de habilitação da viúva foi julgado procedente pelo juízo de primeiro grau: “provado está que a requerente era casada com o de cujus sob o regime de separação de bens convencional, ou seja, foi feito um pacto antenupcial, não sendo o caso de separação obrigatória de bens, em que o cônjuge não seria considerado herdeiro necessário, daí resultando que concorre com os requeridos em partes iguais”. Os herdeiros descendentes agravaram para o Tribunal de Justiça da decisão do juiz, sustentando que a decisão do juiz viola o próprio regime de separação convencional de bens, que rege o patrimônio do casal não só durante a vigência do casamento, mas também quando da sua dissolução por separação, divórcio ou falecimento de um dos cônjuges. Ou seja, entendem que se o cônjuge sobrevivente for herdeiro necessário em concorrência com os descendentes, haveria uma desvirtuação do regime da separação convencional de bens, em que se quer a incomunicabilidade patrimonial absoluta, inclusive para depois da morte. O Tribunal de Justiça manteve a decisão do primeiro grau e não deu provimento ao recurso dos descendentes. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 8/27 Re�exão As decisões do juízo de primeiro grau e do Tribunal de Justiça estão corretas? Afinal, o cônjuge ou companheiro sobrevivente, casado ou convivente no regime da separação convencional, é ou não herdeiro do cônjuge ou companheiro de cujus? Para resolver esta questão, é preciso verificar a situação do cônjuge ou companheiro no art. 1.829, I do Código Civil. Segundo o inciso, são herdeiros os descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.Ou seja, observe que o cônjuge não será herdeiro (o “salvo se...” que aparece na redação): Situação A Na comunhão universal. Situação B Na separação obrigatória ou legal. Situação C Na comunhão parcial sem deixar bens particulares. Quanto à separação convencional, o inciso I é silente e aí reside a fonte de controvérsias sobre o assunto. É possível identificar quatro correntes sobre a interpretação do inciso I do art. 1.829 para fins de contemplar o cônjuge ou companheiro da separação convencional na herança do outro. Veja como foram sistematizadas pelo REsp. n°. 992.749/MS: Decorre do Enunciado nº 270 do Conselho da Justiça Federal: o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do autor da herança “quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes”. Se o cônjuge pré-morto não tiver deixado bens particulares, o sobrevivente não recebe herança; se tiver deixado bens particulares, o cônjuge herda os bens particulares e todo o acervo hereditário (nas proporções dos arts. 1.830, 1.832 e 1.837). Esta linha de pensamento é a majoritária. “A sucessão do cônjuge fica excluída na hipótese de o falecido ter deixado bens particulares”. Só há sucessão se o cônjuge não deixou patrimônio individual, ou seja, bens particulares. Assim, o cônjuge ou companheiro sobrevivente concorrerá com os descendentes, a título de herança, quanto aos bens comuns. 1ª corrente 2ª corrente 3ª corrente 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 9/27 A separação obrigatória que aparece no inciso I do art. 1.829 é um gênero do qual são espécies: 1) a separação convencional; e 2) a separação legal. “Uma [separação de bens] decorre da lei e a outra da vontade das partes, e ambas obrigam os cônjuges, uma vez estipulado o regime de separação de bens, à sua observância”. Logo, seja na separação legal, seja na separação convencional, o cônjuge ou companheiro não será herdeiro necessário do cônjuge ou companheiro pré-morto. Segundo a Relatora, se assim não for, haveria antinomia entre o inciso I do art. 1.829 e o art. 1.687, o que faria o regime de separação de bens perder seu sentido principal, qual seja, que um cônjuge não tenha acesso ao patrimônio do outro. “Por isso, entre uma interpretação que torna ausente de significado o art. 1.687 do CC/02, e outra que conjuga e torna complementares os citados dispositivos, não é crível que seja conferida preferência à primeira solução”. No próprio Superior Tribunal de Justiça, foram firmados posicionamento conflitantes acerca da matéria. A Terceira Turma, por meio do julgamento do REsp 992.749, concluiu que o regime de separação obrigatória prevista no art. 1.829, I do CC é gênero que congrega tanto a separação legal quanto à separação convencional. Em decisão mais recente, a Segunda Turma decidiu, a partir do REsp 1.382.170, que “no regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao regime de separação legal prevista no art. 1.641 do Código Civil”. 4ª corrente 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 10/27 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Pedro tem três filhos: José, João e Ana. José, por sua vez, tem Maria, Antônio e Luiz como filhos. Ana, por sua vez, tem Carlos e Glória como filhos. José falece em 2010, Ana em 2011 e Pedro falece em 2022. Exercendo o direito de representação sobre a herança de Pedro, Maria tem direito a uma quota igual a: Parabéns! A alternativa C está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%2 paragraph'%3EAten%C3%A7%C3%A3o%3A%20a%20quest%C3%A3o%20pede%20o%20percentual%20sobre%20a%20heran%C3%A7a%20de%20Pedro% Questão 2 É herdeiro legítimo: A 33,3% da herança. B 11% da herança. C 16,7% da herança. D 10% da herança. E Nenhuma porcentagem da herança. A Ex-companheiro após realizada divisão de bens da dissolução da união. B Seu companheiro. C Ex-marido após realizada divisão de bens do divórcio. D Madrinha de consideração. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 11/27 Parabéns! A alternativa B está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EO%20STF%20julgou%20nos%20Recursos%20Extraordin%C3%A1rios%20n%C2%BA%20646.721%20e%20n%C2%BA%20878.694%20que 2 - Sucessão Testamentária Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as disposições essenciais de um testamento. A sucessão por testamento Sucessão testamentária Entenda a seguir o regime da sucessão testamentária. Observações gerais A sucessão testamentária é aquela que ocorre nos termos da manifestação de vontade do testador presente nas disposições testamentárias. Na prática cotidiana, observa-se que a sucessão testamentária possui caráter secundário e residual, não sendo muito utilizada pela população E O filho do primo. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 12/27 brasileira. A sucessão testamentária parte, portanto, do testamento, que é o negócio jurídico a partir do qual o autor da herança deixa para uma ou mais pessoas quotas da sua herança, para depois da sua morte. A liberdade de testar é limitada pela figura da legítima (art. 1857, §1° do CC). Assim, havendo herdeiros necessários (ascendentes, descendentes, cônjuge ou companheiro), pertence a estes, de pleno direito, 50% dos bens da herança, podendo o testador dispor do restante disponível. Não havendo herdeiros necessários, a liberdade de testar será ampla. Devemos ter em mente que a metade do patrimônio que corresponde à legítima se refere à metade do patrimônio líquido deixada pelo autor da herança. Compreender isto é muito importante, pois é necessário saber fixar corretamente o valor da parte indisponível para poder, a partir disto, entender qual é a parte disponível da herança (nos termos do artigo 1.846 do Código Civil) que pode ser objeto de doações ou de disposições testamentárias. Além disso, para determinação da parte disponível não se pode deixar de analisar as liberalidades feitas em vida pelo autor da herança (assunto que veremos melhor mais adiante). Este, portanto, é o cálculo que deve ser realizado para a apuração da legítima: Rotacione a tela. É exatamente isto que dispõe o artigo 1.847 do Código Civil: calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos à colação. Se no testamento o autor da herança tiver estipulado, como herança ou legado, valores superiores àquilo que ele podia dispor (parte disponível), o montante excedente incide em nulidade e, portanto, haverá o dever de reduzir o excesso, evitando-se, assim, que a legítima seja comprometida. A legítima apenas pode ser objeto de testamento para que seja gravada com cláusula de impenhorabilidade, inalienabilidade ou incomunicabilidade e desde que mediante justa causa expressa no testamento. Atenção! É importante ressaltar que o testamento não cumpre apenas a função de distribuição patrimonial (art. 1857, §2° do CC). A partir do testamento, pode o testador realizar declarações de caráter civil ou familiar, como o reconhecimento voluntário de filiação, a instituição de fundação de direito privado, a nomeação de tutores para filhos menores etc. Analisemos agora alguns aspectosessenciais do testamento. Veja: Trata-se de negócio jurídico mortis causa. Ato personalíssimo (só pode ser realizado pelo autor da herança); Ato revogável a qualquer momento e por tantas vezes quanto ocorrer a modificação de vontade do testador (com exceção às declarações civis e familiares, que podem ser consideradas irrevogáveis); Negócio jurídico unilateral e gratuito. Legítima = metade do patrimônio líquido + liberalidades feitas em vida pelo de cujus (Que não tenham sido dispensadas de se Características do testamento Forma do testamento 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 13/27 Forma solene (conforme art. 166, IV e V do CC). O testamento deve (em regra) ser feito por escrito, podendo ser realizado por escritura pública ou de forma particular. Podem testar: maiores de 16 anos (independentemente de assistência), aqueles que não estejam interditados e aqueles que têm o pleno discernimento no momento de fazer o testamento. Estão incapacitados de testar: os absolutamente incapazes, os relativamente incapazes interditados e aqueles que não têm o pleno discernimento na ocasião da realização do testamento. Obs: Importa notar que a incapacidade posterior do testador (em relação à data da celebração do testamento) não o invalida (art. 1.861 do CC). Possuem legitimidade para adquirir por testamento: I. as pessoas naturais; II. os nascituros; III. as pessoas jurídicas que forem designadas pelo testamento; IV. Entidades não personificadas se existentes e designadas por testamento; V. pessoas naturais não concebidas os prole eventual; VI. Pessoas jurídicas futuras a serem constituídas via legado. Testamentos ordinários: Testamento público Testamento particular Testamento cerrado Testamentos especiais: Testamento marítimo Testamento aeronáutico Testamento militar Testamento simplificado Tipos de testamentos Diferentes espécies de testamentos e suas características Capacidade testamentária ativa Legitimidade testamentária passiva Espécies de testamento 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 14/27 Mostra-se pertinente fazermos algumas considerações acerca das espécies de testamento, apontando algumas de suas mais importantes características: Testamento Público O testamento público é lavrado em livro do Cartório de Notas, onde o testador declarará de forma livre e espontânea ao tabelião ou notário as suas últimas vontades. Para ser válido, o testamento público deve ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas instrumentárias. Trata-se de espécie de testamento dotada de ampla segurança, na medida em que o ato notarial é dotado de fé pública. Testamento particular É elaborado e subscrito pelo próprio testador, que deverá lê-lo na presença de (pelo menos) 3 testemunhas (que também o devem subscrever). Não se exige forma determinada e nem mesmo o reconhecimento de firma para que o testamento particular tenha validade. Testamento cerrado O testador elabora o testamento em documento particular (cédula testamentária). Posteriormente, para que seja o documento dotado de validade, deverá o testador levar o documento ao tabelião do Cartório de Notas para que possa ser aprovado na presença de duas testemunhas. A cédula é devidamente lacrada e entregue ao testador pelo oficial, que deverá lançar no livro de notas o lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado (art. 1.874 do Código Civil). Testamento marítimo e testamento aeronáutico São espécies testamentárias nas quais os testadores se encontram em situações excepcionais e que dificultam a realização de uma espécie ordinária de testamento. No testamento marítimo, o testamento é realizado perante o comandante na presença de duas testemunhas. Se o testador optar por adotar neste testamento forma semelhante ao testamento público, deverá o comandante registrar o ato de última vontade no diário de bordo. No caso do testamento aeronáutico, as últimas vontades do testador serão declaradas em face de pessoa designada pelo comandante, que deverá subscrever o documento juntamente com o testador e duas testemunhas. Testamento militar Pode ser feito por militar ou por civis a serviço das Forças Armadas. Para sua realização, o testador deve comprovar a sua impossibilidade na realização de uma espécie ordinária de testamento. Pode ser feito em três modalidades: i) semelhante à pública (art. 1.893 do CC); ii) semelhante ao testamento cerrado (art. 1.894 do CC) e iii) nuncupativo (art. 1.896 do CC). Testamento simpli�cado R li d i tâ i i i ( t 1 979 d Códi Ci il) t é i d t t t i f li di 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 15/27 Para que o testamento seja rompido (ou seja, se torne totalmente ineficaz), os seguintes requisitos devem ser cumulados: I O testador possui descendente sucessível que desconhece e que não é contemplado pela disposição testamentária. II O descendente sobrevive ao testador. O mesmo se aplica diante da ignorância de outros herdeiros necessários. Casos práticos Análise do caso concreto Feitas essas considerações teóricas, é pertinente analisarmos um caso prático e real sobre o tema da sucessão testamentária: O humorista Chico Anysio, famoso por vários personagens cômicos, faleceu em 23 de março de 2012, deixando os filhos Luiz Guilherme de Souza Paula, Bruno Mazzeo de Oliveira Paula, Cícero Chaves de Oliveira Paula, Francisco Anysio de Oliveira Paula Neto, Ricardo Rondelli de Oliveira Paula, Rodrigo Cardoso de Mello de Oliveira Paula e Victória Cardoso de Mello de Oliveira Paula, além da viúva Malgarete Dall Agnol de Oliveira Paula. Tornou-se público, posteriormente, que Chico Anysio realizou um testamento em 18 de agosto de 2011, no qual inventariava seus bens e os partilhava entre seus herdeiros e alguns legatários. Ocorre que nesse testamento o testador fez constar que não deixava bens para o herdeiro Luiz Guilherme de Souza Paula – cujo nome artístico é Lug de Paula e ficou conhecido por interpretar o Seu Boneco na Escolinha do Professor Raimundo –, “deserdando” seu filho. Comentário Em entrevista a Antonia Fontenelle, em um canal do YouTube, a viúva Malgarete Dall Agnol de Oliveira Paula – conhecida como Malga di Paula – alegou que Chico Anysio agiu daquela maneira no testamento porque Lug de Paula e ele se tornaram desafetos, não se falando há anos. Disse que o filho não prestou assistência e sequer visitou o pai no agravamento da doença e nos momentos finais da vida do pai. Ante essa falta de relação afetiva, Chico Anysio teria tomado essa medida para beneficiar as pessoas e filhos que estiveram com ele durante sua doença. Na Justiça Estadual do Estado do Rio de Janeiro, Lug de Paula propôs ação de nulidade do testamento do pai, a qual foi julgada procedente no 1º grau (Processo nº. 0001447-22.2013.8.19.0209). É importante deixar claro que, para que se pudesse fazer qualquer análise específica acerca do caso, seria necessário o acesso aos autos do processo e do testamento em questão, informações que não temos. Assim, considerando apenas o que foi aqui narrado, podemos realizar, em abstrato, algumas considerações sobre o assunto: Realizado em circunstâncias excepcionais (art. 1.979 do Código Civil), esta espécie de testamento possui forma livre e dispensa a presença de testemunhas. Deve ser escrito de próprio punho pelo testador e por ele subscrito. I Não há idade máxima para que se possa fazer um testamento. A restrição ao direito de testar recai sobre os incapazes e os que não tiverem pleno discernimento. Se o idoso, independentemente de sua idade, não estiver interditado (incapaz) e tem suas plenas f ld d t i ( l di i t ) ã i t l t i ã id t t 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html#16/27 faculdades mentais (pleno discernimento), não existe qualquer restrição para que o idoso teste. II Há situações em que um herdeiro pode ser excluído de receber a herança, quais sejam, renúncia (art. 1.806), indignidade (art. 1.814) e deserdação (art. 1.961). III Para que ocorra efetivamente a deserdação de um herdeiro, é necessário que se observem os seguintes requisitos: i) Declaração em testamento da deserdação com a indicação expressa da justa causa que lhe autoriza (art. 1.964 do Código Civil); ii) a prova em juízo da veracidade da causa alegada pelo testador (art. 1.965 do Código Civil). IV Conquanto reservada a parte legítima dos herdeiros necessários, conforme prescrito no art. 1.789 do Código Civil, a outra parte do patrimônio do autor da herança (parte disponível) pode ser livremente testada para outros herdeiros. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 17/27 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre as regras de disposição de bens em testamento, assinale a alternativa correta. Parabéns! A alternativa B está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%C3%89%20um%20jogo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20sistem%C3%A1tica%20com%20o%20art.%20549%20do%20C%C3% Questão 2 Maria tem 17 anos e escreveu de próprio punho, em folha de papel almaço e com caneta esferográfica, um documento a que designou “Testamento”. Nele deixava todos os seus bens para sua melhor amiga, Ana. A família de Ana praticamente criou Maria, já que esta não tem parentes vivos e nem é casada ou convive em união estável. Maria confeccionou o documento às escondidas de Ana e perante seus outros quatro melhores amigos como testemunhas. O testamento confeccionado por Maria é A O testamento que contempla descendentes como herdeiros testamentários é nulo. B Tendo filhos, um testador somente pode dispor da quantidade máxima de bens que poderia doar em vida. C Como não há prazo específico na lei para impugnar a validade do testamento, aplica-se o prazo geral 10 anos do art. 205 do Código Civil. D Quando o testamento beneficiar herdeiro necessário, sua forma ordinária deverá ser a pública. E Idosos com idade superior a 80 anos somente poderão testar com a assistência de um representante. A válido, desde que aprovado por um tabelião em até 60 dias após sua confecção. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 18/27 Parabéns! A alternativa E está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-paragraph'%3ETrata- se%20de%20testamento%20particular%2C%20o%20qual%20pode%20ser%20escrito%20de%20pr%C3%B3prio%20punho.%20Se%20escrito%20de%20 se%20de%20que%20a%20capacidade%20testament%C3%A1ria%20se%20inicia%20aos%2016%20anos.%3C%2Fp%3E%0A%20%20%20%20%20%20% 3 - Inventário e Partilha Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar os principais elementos do inventário e partilha. Procedimento de efetivação da sucessão hereditária Conceituação do inventário e partilha O papel do inventário B inválido, pois redigido a mão. C inválido, pois Maria tem menos de 18 anos e não é emancipada. D inválido, pois é exigido o número mínimo de cinco testemunhas. E válido, mesmo sem a participação do tabelião em sua confecção. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 19/27 Entenda a seguir o que é inventário, bem como sobre suas principais regras. O inventário é o procedimento de efetivação da sucessão hereditária. A partir dele, são relacionados todos os ativos (bens e créditos) e os passivos (dívidas) que o de cujus deixou, para que posteriormente seja possível a realização da partilha ou adjudicação dos bens. Para um adequado estudo da temática do inventário, o aluno deve ter sempre em mãos o Código Civil e o Código de Processo Civil. Isso porque o tema é regulado por normas heterotópicas e, portanto, encontra-se disciplinado a partir dos dois diplomas legais. Durante todo o procedimento do inventário e até a realização da partilha, o direito dos coerdeiros será indivisível e será regulado pelas normas relativas ao condomínio comum. Nos termos do artigo 611 do Código de Processo Civil: “O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte”. O artigo 617 do Código de Processo Civil elenca um rol de pessoas que podem ser nomeadas pelo juiz como inventariantes. Assim é a ordem estabelecida pelo dispostivos: I O cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da morte deste. II O herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados. III Qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio. IV O herdeiro menor, por seu representante legal. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 20/27 V O testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados. VI O cessionário do herdeiro ou do legatário. VII O inventariante judicial, se houver. VIII Pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial. Um importante e controverso tema se refere à possibilidade de relativização da ordem do rol presente no artigo em questão. Para parcela da literatura, a ordem estabelecida no art. 617 do Código de Processo Civil não é absoluta e pode ser relativizada pelo juízo a partir de justificação idônea. A razão para esta flexibilização seria garantir que o inventariante seja a pessoa mais adequada para o cumprimento das obrigações personalíssimas descritas nos arts. 618 e 619 do CPC. Todavia, há parcela dos autores que, em sentido contrário, sustenta a taxatividade do rol. Diferentes formas de inventário Modalidades de inventário São três as modalidades de inventário judicial: a) Inventário judicial pelo rito tradicional (inventário comum); b) Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário e c) Inventário judicial pelo rito do arrolamento comum. Assim pode-se esquematizar suas utilizações: Disciplinado pelos artigos 610 a 658 do Código de Processo Civil, segue procedimento especial. Em regra, é obrigatório quando houver herdeiros incapazes, quando houver testamento ou quando o testamento tiver outras finalidades distintas daquelas estritamente patrimoniais. Inventário judicial pelo rito tradicional Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 21/27 Cabível quando todos os interessados forem maiores e capazes, em relação a bens de quaisquer valores. Cabível quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a mil salários mínimos. Na hipótese em que todos os herdeiros forem plenamente capazes e estiverem de acordo quanto a todos os elementos do inventário, o inventário pode ser feito extrajudicialmente, a partir de escritura pública. Para que o tabelião lavre a escritura, deve-se observar os seguintes requisitos: Por ocasião da abertura da sucessão, não se deve apurar apenas os bens deixados pelo de cujus, mas também aqueles que, em vida, doou aos descendentes, para fins de se igualizar as legítimas. É o que se denomina de colação. Assim estipula o art. 2002 do Código Civil: “Os descendentes que concorrerem à sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida receberam,sob pena de sonegação”. São dispensadas da colação as doações que o autor da herança estipular como integrantes da parte disponível (art. 2.005 CC). Todavia, os valores dos bens doados não podem exceder o valor da parte disponível, que deve ser calculado levando em consideração o valor do bem e a parte disponível na ocasião da doação. Em adição, o art. 2.010 do Código Civil, preleciona que não virão à colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua educação, estudos, sustento, vestuário, tratamento nas enfermidades, enxoval, assim como as despesas de casamento, ou as feitas no interesse de sua defesa em processo-crime. Inventário judicial pelo rito do arrolamento comum I Os impostos devem ter sido devidamente recolhidos. II Todos os herdeiros e demais interessados devem estar assistidos por advogado ou por defensor público. III Todos os herdeiros devem ser plenamente capazes. IV Não subsistem divergências entre os herdeiros no que diz respeito à inventariança e à partilha. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 22/27 A partilha Formas de partilha A partilha é a fase final do inventário, quando bens da massa hereditária ou valores pecuniários são divididos e entregues de forma individualizada para cada herdeiro. Para aprofundar seus estudos no tema, você deve realizar uma leitura atenta dos artigos 2.013 a 2.022 do Código Civil e 1.022 a 1.030 do Código de Processo Civil. A pretensão à partilha é imprescritível, podendo ser requerida a qualquer tempo e por qualquer herdeiro, cessionário ou credor do herdeiro. Ao partilhar os bens, será observada a maior igualdade possível quanto ao seu valor, à natureza e à qualidade. A literatura jurídica aponta a existência de três formas de partilha: Será amigável a partilha quando todos os herdeiros forem capazes e concordes acerca dos termos da partilha. A partilha deverá ser judicial nas hipóteses em que os herdeiros divergem entre si quanto ao inventário e/ou quanto à partilha, ou quando algum dos herdeiros for incapaz. Trata-se da partilha realizada pelos ascendentes a descendentes, por ato inter vivos ou de última vontade, envolvendo parcela ou totalidade dos seus bens e desde que respeitada a reserva da legítima. Entre os filhos, não deve haver qualquer espécie de discriminação na herança quanto à origem, se consanguíneo, adotivo ou socioafetivo. Em relação ao cônjuge ou companheiro, por sua vez, a sucessão estará atrelada ao regime de bens estabelecido entre as partes. Vamos analisar um caso concreto? Estudo de caso Após analisarmos a função do inventário, bem como colação de bens no inventário, pergunta-se: você sabe dizer como a colação interfere na partilha de bens? Para entendermos este conceito na prática, vamos analisar o case do Recurso Especial nº. 1.298.864/SP, julgado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Leia o seguinte caso real que aqui foi adaptado para destacar o que é a função da colação de bens: Partilha amigável (extrajudicial) Partilha judicial Partilha em vida 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 23/27 Os herdeiros alegam que o irmão não faz jus à colação porque as doações ocorreram antes mesmo de sua concepção e nascimento. Além disso, caso o juiz entenda que teria direito, a parte doada pela mãe não deveria ser levada à colação, pois Pedro não é herdeiro de Maria e o que Maria doou correspondia à meação do seu casamento com Carlos. Logo, somente a parte de Carlos deveria ser levada à colação. Como na colação é levado somente 50% do valor doado em vida, ao todo, somente 25% do que os herdeiros receberam de doação deveria ser sobrepartilhado (“repartilhado”). A Justiça Estadual (1º e 2º graus) rejeitou as oposições dos herdeiros e acolheu o pedido de Pedro, estipulando, assim, que Pedro possuía o direito à colação de 50% dos bens. Atividade discursiva Prólogo Carlos era casado com Maria e tinha três filhos: Ana, casada com Luiz; Marcos, casado com Joana; e João, casado com Glória. Em 2003 Carlos e Maria doaram todo seu patrimônio para os filhos, a filha, as noras e o genro, dando um apartamento de R$1 milhão para cada. Em 2005 Carlos se envolveu em um relacionamento extraconjugal (fora do casamento) e teve um filho, Pedro, o qual foi reconhecido voluntariamente pelo pai. Em 2020 Carlos falece. Como não possuía bens a inventariar e partilhar, seus herdeiros e sua esposa, em comum acordo, procederam extrajudicialmente ao inventário negativo, o qual teve a escritura pública lavrada 30 dias após o falecimento de Carlos. Em 2021 Pedro ingressa com ação de nulidade do inventário negativo e petição de herança com pedido para que os bens doados por Carlos e Maria aos filhos sejam levados à colação, para sobrepartilha e, assim, ter direito à herança de seu pai. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 24/27 A partir dos seus conhecimentos, julgue quem tem razão no caso analisado: Pedro ou os demais herdeiros, seus cônjuges e Maria. A partir disto, estabeleça qual é a solução adequada para a lide. Digite sua resposta aqui Exibir solução Pedro possui direito à colação. A colação tem lugar quando o autor da herança (futuro de cujus) realiza doações em vida a seus herdeiros. Morto o doador, o donatário-herdeiro é obrigado a colacionar o bem recebido em doação no inventário e partilha do doador, ou seja, levar ao inventário a informação de que recebeu bens como antecipação da herança, com a finalidade de equalizar os montantes de todos os herdeiros necessários em relação ao montante da legítima. Assim, no caso em questão, Pedro possui interesse de agir no pedido de colação dos bens anteriormente doados aos filhos havidos no casamento, sendo irrelevante se o herdeiro nasceu antes ou após a doação. No que se refere ao montante a ser colacionado, a razão assiste aos demais herdeiros, seus cônjuges e Maria. Conforme o entendimento firmado pelo STJ no julgamento do REsp 1.298.864/SP, somente a parte que corresponderia a Carlos (50%) deveria ser levada à colação. Destes 50%, a sobrepartilha deveria ocorrer sobre 25% do patrimônio doado pelo de cujus. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 25/27 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 João é casado com Maria. Ambos têm dois filhos maiores de 21 anos: Ana e Marcos. Ana, recentemente, deu à luz seu primeiro filho, Luiz, hoje com seis meses. Há 15 dias, João faleceu. Maria, Ana e Marcos estão plenamente de acordo quanto à partilha de bens a ser feita. Assinale a alternativa correta. Parabéns! A alternativa E está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EN%C3%A3o%20existe%20restri%C3%A7%C3%A3o%20legal%20para%20o%20invent%C3%A1rio%20extrajudicial%20em%20raz%C3%A3o Questão 2 Assinale a alternativa correta. A O inventário deverá, obrigatoriamente, ser realizado na via judicial, pois Luiz é menor de idade e, portanto, incapaz. B O inventário deverá, obrigatoriamente, ser realizado na via judicial, pois existe cônjuge supérstite. C O inventário deverá, obrigatoriamente, ser realizado na via extrajudicial, pois não há herdeiros incapazes e todos estão de acordo quanto à partilha. D O inventário poderá ser realizado na via extrajudicial se Ana renunciar ao direito de herança de seu filho Luiz. E O inventário poderá ser realizado na via extrajudicial, pois, apesar de Luiz ser menor de idade, não será parte no inventário. A Cabe ao inventariante requerer a partilha. B Um ano após a partilha, bens que sejam descobertos não poderão ser partilhados. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessõeshttps://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 26/27 Parabéns! A alternativa C está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EArt.%202.014.%20Pode%20o%20testador%20indicar%20os%20bens%20e%20valores%20que%20devem%20compor%20os%20quinh%C Considerações �nais Vimos quais são as principais regras do Direito de Sucessão, em especial seu papel na vida patrimonial familiar e seu papel na aquisição de propriedade. A partir daí, demonstrou-se como devem ser entendidas tais tendências e quais suas consequências. A abordagem realizada foi destinada a apresentar não somente aspectos teóricos, mas, também e principalmente, os aspectos práticos. Para isso, podemos abordar alguns importantes pontos relativos à sucessão legítima, testamentária e o inventário e partilha, demonstrando ao lado da análise teórica do tema questões polêmicas do ponto de vista empírico. É preciso ter em mente que os assuntos aqui abordados são matérias frequentemente discutidas em ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação profissional. Podcast Para encerrar, ouça e entenda melhor sobre os aspectos relevantes sobre a prática do direito sucessório. C Pode o testador deliberar ele próprio a partilha. D Ao partilhar os bens, os herdeiros terão direito aos bens mais valiosos. E Ficam sujeitos a sobrepartilha os bens que se deteriorarem. Referências DIAS, M. B. Manual das sucessões. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2021. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 6 – Direito das Sucessões. 34. Ed. São Paulo: Saraiva, 2020. 13/03/2023, 20:16 Casos práticos de direito das sucessões https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04026/index.html# 27/27 FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 7 – Sucessões. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2022. GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. Vol. 6 – Direito das Sucessões. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. TEPEDINO, G.; NEVARES, A. L. M.; MEIRELES, R. M. V. Fundamentos do Direito Civil - Direito das Sucessões. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. TEIXEIRA, A. C. B.; RIBEIRO, G. P. L. (Coords.). Manual de Direito das Famílias e das Sucessões. 3. ed. Rio de Janeiro: Processo, 2017. VIEGAS, C. M. de A. R. A Colação de bens no direito sucessório. Jusbrasil, 2019. Consultado na internet em: 30 mar. 2022. Explore + Confira agora o que separamos especialmente para você! Leia os seguintes artigos: BUENO, E. F. O direito à sucessão dos filhos concebidos “post mortem” no campo da reprodução artificial. In: IBDFam. 12 jul. 2021. O artigo discute o direito sucessório no âmbito da reprodução artificial, uma vez que, tendo em vista sua lacuna legislativa, impede o aperfeiçoamento do Direito ao versar sobre conteúdo grandemente oportuno às famílias brasileiras. MADALENO, R. Testamento: expressão de última vontade. In: IBDFam. 04 jan. 2011. O artigo analisa o direito hereditário como um complexo de princípios, pelos quais é realizada a transmissão do patrimônio de alguém que deixa de existir, registrando a história dos povos, os mais acalentados debates entre juristas e filósofos, que buscavam o sentido dessa transmissão por causa da morte. TARTUCE, F. Herança digital e sucessão legítima – Primeiras reflexões. In: IBDFam. 27 set. 2018. O artigo analisa as novas tecnologias, especialmente as incrementadas pelas redes sociais e pelas interações digitais, e as repercussões para o Direito de Sucessão, surgindo intensos debates sobre a transmissão da chamada herança digital. UBILLUS, G. T.; SILVEIRA, M. INCISO XXX – DIREITO DE HERANÇA. “É garantido o direito de herança”. In: Artigo Quinto. 03 dez. 2019. O artigo analisa e discute a perspectiva da herança no Direito Constitucional, que garante que os bens na posse de alguém que venha a falecer sejam transmitidos a seus respectivos herdeiros legítimos ou testamentários.