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TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO (Teorias da Administração) Alice Carneiro de Castro; Erica Sarraf Fernandes Biondo; Flaviana Totti Custódio dos Santos. Os antecedentes históricos da ciência da administração UNIDADE 1 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Os antecedentes históricos da ciência da administração 3 Apresentação da unidade A administração é uma ciência nova, se comparada, por exemplo, à astronomia, que é a ciência mais antiga de todas, com mais de cinco mil anos de registros. São pouco mais de cem anos de pesquisas e de estudos específicos sobre gestão de empreendimentos e seus impactos na vida das pessoas. No entanto, o ato de administrar é ainda mais antigo que a astronomia, pois está presente evidentemente na vida humana desde as primeiras civilizações, há cerca de seis mil anos, isso porque diversos aspectos da administração foram necessários para a organização das primeiras comunidades e cidades, conforme esta unidade apresentará. Ao evoluir com o ser humano, o ato de administrar foi adquirindo mais ferramentas e aprendizados, integrando mais elementos para lidar com civilizações, cidades, países, organizações e instituições formais (como exército e igreja, por exemplo), até chegarmos à Revolução Industrial e suas mudanças na história do mundo, representando a necessidade da administração, principalmente com o surgimento de empresas de maior porte e com mais elementos de tecnologia e produção em massa. Durante essa jornada, o pensamento administrativo foi sendo ampliado e modificado, adquirindo características, linguagem e significados próprios. Por conta disso, temos hoje metodologias e modelos variados, que se aplicam aos mais diversos tipos de organização. Nesta unidade, você vai conhecer as origens do pensamento administrativo e como o homem foi aprendendo a arte de administrar ao longo do tempo. Para Maximiano (2015), objetivos e recurso são conceitos centrais na definição de organização. Administrar consiste em tomar decisões sobre o uso do recurso para realizar objetivos. As decisões são agrupadas em quatro processos principais: planejar, organizar, liderar e controlar. Um quinto processo (executar) seria o efeito prático dos anteriores. Essa é uma adaptação da definição feita por Henri Fayol, divulgada em 1911. Fayol é um dos teóricos que estudaremos nesta unidade. Também aprenderemos sobre o fordismo e sua linha de montagem, sobre Fayol e a administração científica e sobre a burocracia de Max Weber. Tenha ótimos estudos e bom aprendizado! 4 1.1 A administração na antiguidade Para chegarmos ao que temos hoje, em relação a estudos organizacionais, muitas civilizações praticaram e aprenderam sobre gestão. Segundo Maximiano (2015), os antecedentes da administração atual são os seguintes: Quadro 1.1: Antecedentes da administração moderna Antecedentes Período Contribuição para os estudos da administração R e v o l u ç ã o Urbana 4000 a.C. Administração de grandes projetos de construção: cidades, pirâmides, templos, canais de irrigação e formação de uma classe de funcionários públicos. Grécia 500 a.C. Democracia, ética, método científico, qualidade. Roma 700 a.C. a 400 d.C. Administração de império multinacional, formação de executivos, grandes empresas privadas e exército profissional. Renascimento Século XVI – 1500 a 1600 d.C. Retomada dos valores humanistas, grandes empresas de comércio, invenção da contabilidade, Maquiavel. R e v o l u ç ã o Industrial Século XVIII – 1700 a 1800 d.C Invenções das fábricas, surgimento do moderno trabalhador industrial e dos sindicatos, início da administração como disciplina. Fonte: Adaptado de Maximiano (2015). a.C e d.C. são siglas que abreviam as expressões “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, sendo utilizadas para apresentar as datas considerando o nascimento de Jesus Cristo como marco divisório na história. O calendário adotado no Brasil, assim como na maioria dos países do mundo, considera que estamos no ano de 2018 depois de Cristo. Saiba mais 5 Vamos agora aprender sobre cada um desses antecedentes, começando pela Revolução Urbana, por volta de 4000 anos a.C., na região da Mesopotâmia, hoje conhecida como Oriente Médio, quando se instalou a primeira civilização da qual se tem registro: os sumérios. 1.1.1 Suméria Os sumérios viveram entre os rios Tigre e Eufrates. Segundo Chiavenato (2014), os sumérios foram um dos primeiros povos a se fixar em um território, pois antes deles as comunidades eram nômades, ou seja, ficavam acampadas em algum espaço enquanto ali havia alimento disponível e depois se mudavam para outro local, vivendo em constante mudança de habitação. Ao se estabelecer em um espaço fixo, os sumérios desenvolveram técnicas de agricultura, pois começaram a escolher onde plantar os alimentos, e não apenas colher e partir para outro lugar. Também é deles a autoria da primeira urbanização, com a criação de cidades na região da Mesopotâmia. Um fator que contribuiu muito para o sucesso administrativo dos sumérios foi a abundância de água em seu território. Tal condição possibilitou a esse povo formar pequenas comunidades autossuficientes, interligadas pelo sistema de irrigação que inventaram na época. Sua escrita, a cuneiforme, também é considerada a mais antiga já registrada na história da humanidade. Na história dos sumérios, podemos perceber alguns aspectos de gestão que são muito conhecidos hoje por nós, como a coordenação das atividades laborais realizada pelos sacerdotes, sediados em templos que eram verdadeiros centros administrativos. Eles comandavam a gestão das comunidades em suas necessidades gerais (MAXIMIANO, 2015). Laborais: atividade desenvolvidas durante o trabalho. Atividade laboral é sinônimo de trabalho. Curiosidade Uma das características da administração é a formalização, ou seja, o registro de fatos e atos, e os sumérios iniciaram essa prática, tanto que foi possível conhecer sobre essa civilização devido aos registros deixados em placas de argila que resistiram ao tempo, nas quais estão lapidados livros primitivos de contabilidade, em 6 que registravam a entrada, a armazenagem e a saída de materiais de seus locais de armazenagem. Foi esta transição – de uma sociedade nômade para uma sociedade fixa – que exigiu novas modalidades de gestão e administração social. Junto da escrita e da contabilidade primitiva, os sumérios criaram a administração pública, com funcionários e procedimentos burocráticos que continuam sendo estudados por nós (MAXIMIANO, 2015). Com o declínio do império sumério, houve a ascensão da Babilônia e da Assíria. Suas histórias e legados serão abordados a seguir. Perceba que, ao aprender a lidar com a água e a terra, o homem começa a plantar e deixa de mudar de ambiente para procurar o que comer, interagindo de forma diferente com a natureza. De lá para cá, o uso de recursos naturais tornou-se a base da indústria e de quase todos os produtos que consumimos, mas hoje a sociedade tem mais clareza da importância da preservação para que as civilizações continuem evoluindo. E você, como tem preservado os recursos naturais em suas atividades diárias? Reflita 1.1.2 Babilônia A história da Babilônia registra um grande desenvolvimento social, econômico e político. Maximiano (2015) relata que herdamos dos babilônios o princípio de que a responsabilidade não se delega. A prova disso pode ser vista em uma mensagem do rei, ordenando que dez homens construíssem uma ponte e, caso o serviço não fosse satisfatoriamente executado, a responsabilidade seria do mestre de obras. Falar da Babilônia é também falar do famoso rei Hamurabi, um habilidoso homem que conquistou várias cidades ao redor. Para governá-las, criou severas leis conhecidas como o Código de Hamurabi. Uma das leis mais famosas é a chamada lei de talião, baseada na máxima “olho por olho, dente por dente”, ou seja, a pessoa que cometia um crime era punidada mesma forma e com a mesma intensidade. 7 Durante o governo de Hamurabi, a Babilônia tornou-se uma das regiões mais ricas daquele período. São também dessa época algumas das construções mais luxuosas do mundo antigo e as cidades babilônicas, a exemplo das sumérias, administradas pelos sacerdotes, que também tinham a função de tomar conta das finanças do governo. Após a morte de Hamurabi, a Babilônia foi invadida e conquistada por diversas tribos da região. Em 605 a.C., os babilônicos, sob o comando do rei Nabucodonosor, voltaram a ampliar suas áreas de domínio e influência. O rei ordenou a construção de muralhas em volta da cidade e de luxuosos templos e palácios. Conta a história que, para sua esposa, Nabucodonosor mandou construir os famosos Jardins Suspensos da Babilônia, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo. 1.1.3 Egito O Egito era formado por diversos povoados espalhados pelo nordeste da África. Somente por volta do ano 3100 a.C. foi unificado em um poderoso império sob a direção de um único comando. Da unificação até os primórdios da Era Cristã, quando foram dominados pelos romanos, em 30 a.C., os egípcios mantiveram um modo de vida estável, fundamentado no ciclo da inundação, cultivo e seca do Rio Nilo. Essa época foi caracterizada como um período de paz. (MAXIMIANO, 2015). Em termos de gestão dos recursos naturais, os egípcios foram exemplares. Em função da regularidade das inundações do Nilo, desenvolveram uma linha de raciocínio prático, orientada para o planejamento de longo prazo. O ciclo das inundações era calculado pelos egípcios com o auxílio da estrela Sirius. Como os intervalos entre o surgimento de Sirius eram separados por 365 dias, os egípcios criaram um calendário solar de 12 meses, com 30 dias cada, e mais cinco dias de festa (MAXIMIANO, 2015) – o calendário solar que, praticamente, é utilizado até hoje no Brasil. A organização social dos egípcios dá-nos uma ideia de como eles faziam a gestão de seu território, forma que influenciou a teoria da administração que você está estudando. A sociedade egípcia era organizada por meio de fundamentos religiosos e econômicos. O faraó ocupava o topo da hierarquia na condição de chefe de Estado e era considerado a encarnação de um deus. Em seguida, na hierarquia, encontravam- se os sacerdotes, responsáveis pelos cultos e festividades religiosas. Depois, vinham os nobres e os escribas, que realizavam as tarefas burocráticas para a manutenção do Estado egípcio. Na base da hierarquia, ficavam os soldados, mantidos pelo Estado para proteger o poder faraônico. Abaixo dos soldados ficavam os camponeses e os artesãos, responsáveis pelas plantações e colheitas. Eles também serviam de mão 8 de obra para as construções públicas necessárias ao desenvolvimento agrícola e comercial. Hierarquia: estrutura das relações de subordinação entre os membros de um grupo, com graus sucessivos de poderes, de situação e de responsabilidades. Saiba mais As pirâmides do Egito são outra fonte de inspiração para as modernas ferramentas de gestão. Chiavenato (2014) afirma que as pirâmides são os mais fabulosos testemunhos das aptidões administrativas dos egípcios. Para construir as pirâmides, os egípcios precisaram lidar com grandes problemas de gestão que até hoje são enfrentados por nós, tais como a administração de mão de obra numerosa e um planejamento logístico para aquisição e transporte dos materiais necessários. Figura 1.1: Registros do Egito Fonte: Plataforma Deduca (2018). Outra prova da excelência administrativa dos egípcios encontra-se em sua organização militar. Pensando na segurança do império, eles criaram um exército profissional, formado por soldados assalariados, e construíram uma rede de fortalezas, com muros de pedras e grandes celeiros, suficientes para alimentar centenas de homens durante um ano. 9 1.1.4 China A China é um grande exemplo de sociedade que empregava soluções inovadoras na administração de seu território. Prova disso é que foram os chineses os primeiros a utilizarem o princípio de assessoria para obter mais eficiência na administração das vastas terras de seu império: o imperador nomeava, em cada região do império, uma pessoa responsável por analisar a situação econômica sob sua responsabilidade e relatar suas conclusões aos funcionários do imperador. Essa técnica de assessoria tornou-se tradicional na administração pública da China. A China se notabilizou também pelas grandes guerras que travou para expandir suas fronteiras e manter sob seu domínio os territórios conquistados. Para tanto, desenvolveu estratégias bem fundamentadas de ataque e defesa, que podem ser estudadas no livro “A arte da guerra”, de Sun Tzu, muito utilizado nas escolas de administração. Esse livro é um manual de recomendações militares que sobreviveram por séculos e que abordam temas de planejamento, comando, controle e doutrina, reconhecidos como úteis à administração dos mais variados tipos de organizações. (MAXIMIANO, 2015). Alguns dos princípios apresentados no livro “A arte da guerra” são utilizados até hoje em ferramentas da administração, tais como: “conheça a ti mesmo” (forças e fraquezas), “conheça teu inimigo” (ameaças) e “conheça o campo de batalha” (oportunidades). A Matriz FOFA une esses princípios e é uma das ferramentas mais utilizadas pelos administradores. Curiosidade 1.1.5 Grécia A Grécia foi o berço da filosofia, uma forma de conhecimento fundamental para nós atualmente. As indagações dos filósofos levaram ao desenvolvimento das ciências, tão importantes hoje. Prova disso é que estamos estudando uma delas, a ciência da administração. Conforme Maximiano (2015), o século V a.C. foi o período mais produtivo da Grécia, em termos de conhecimentos que viriam a influenciar a administração de organizações de todos os tipos. Foi quando se desenvolveram conceitos como democracia, igualdade de todos perante a lei, ética na administração, planejamento, raciocínio metódico etc. 10 A democracia grega orientava-se pelo princípio de que todos são iguais perante a lei e que o povo tem o direito de governar a si mesmo. Por isso, a democracia é conhecida como o governo do povo. Vale destacar que esses direitos eram válidos apenas para o cidadão grego. Os escravos, por exemplo, não eram considerados cidadãos e não tinham esses direitos. Cidadão grego: homens livres e nascidos nas cidades-estados. Possuíam boa condição econômica e social e eram os únicos que possuíam direitos políticos. Saiba mais Dessa forma, os cidadãos gregos podiam participar das chamadas assembleias, expondo suas ideias sobre assuntos como paz e guerra, impostos, obras públicas etc. Outro princípio que fundamentava a democracia grega era o da representação direta: todo cidadão tem o direito de dar pessoalmente sua opinião nas assembleias. Assembleia: é o conjunto de representantes de uma comunidade que detêm o poder legislativo; também pode ser uma reunião de pessoas no mesmo local para discutir um assunto de interesse em comum. Saiba mais Além da democracia, a ética também é um forte legado dos gregos – tanto em nossa forma de pensar, como na forma de gerenciar atualmente. Segundo Maximiano (2015), Platão acreditava que a responsabilidade fundamental dos políticos era promover a felicidade dos cidadãos; e, para isso, era fundamental, então, administrar a cidade com ética absoluta, de acordo com os interesses destes. A ética normativa – aquilo que é estabelecido como norma, que deve ser seguido pelas pessoas – tem impacto na vida social, ou seja, o dever ético cabe a todos, para que a sociedade fique em paz e para que as pessoas sejam felizes. A ética diz respeito ao comportamento do ser humano nessa sociedade. Os gregos também deixaram como contribuição importante o método de investigação sistemática, isto é, em vez de aceitarem as explicações da mitologia, crença muito 11 forte dos povos anteriores, buscaram o conhecimento por meio da naturezae do ser humano. (MAXIMIANO, 2015). Outro conceito grego que é muito reforçado até hoje nos estudos da administração é o da qualidade. Para os gregos, a qualidade reflete o melhor que se pode fazer em qualquer campo de atuação. (MAXIMIANO, 2015). Qualidade e excelência caminham juntos e tal ideia vem de Platão até nossos dias, provocando o sujeito a ser melhor a cada dia e aproveitar seus talentos para melhorar também os ambientes por onde passa. Também é atribuído aos gregos o conceito de estratégia como a “arte dos generais”, a forma de se planejar para alcançar a vitória, hoje com diversos métodos e ferramentas. Esses e outros aspectos da sociedade grega influenciaram nossas formas atuais de viver em sociedade e de gerir os negócios. 1.1.6 Roma Conforme Maximiano (2015), a história do Império Romano cobre o período que vai do século VIII a.C. até o século IV d.C. Seu fim marca o começo da Idade Média. Roma precisou desenvolver eficientes formas de administração para manter o poder e a ordem durante os 12 séculos de sua existência. O domínio do Império Romano compreendeu as terras da Inglaterra e do Oriente Próximo - região da Ásia próxima ao Mediterrâneo, a oeste do Rio Eufrates e do norte da África. Assim, podemos perceber que a capacidade dos romanos em construir e manter o império é uma evidência de suas impressionantes habilidades administrativas. (MAXIMIANO, 2015). A experiência romana constituiu-se no primeiro caso no mundo de organização e administração de um império multinacional. Outras civilizações também conquistaram vastos territórios e incorporaram múltiplos povos, mas os romanos o fizeram de uma maneira diferente. Para conseguir administrar um império tão extenso, os romanos desenvolveram formas eficientes de controle dos territórios anexados, como coleta de impostos, implantação de sistemas de transporte e manutenção de funcionários burocráticos e militares. Os romanos criaram várias hierarquias e cargos que foram distribuídos pelos territórios conquistados e todos tinham que se reportar a Roma. Era um sistema de gestão que exigia organização, planejamento, comando e controle, detalhes que veremos nas próximas unidades. 12 Figura 1.2: Carruagem romana Fonte: Plataforma Deduca (2018). Após analisar o impacto dos modelos administrativos da antiguidade na administração atual, vamos ver como a estrutura das organizações militares e religiosas acabaram por ser absorvidas no âmbito empresarial. 1.2 Administração na igreja e nas forças armadas Ao dominar um território, o Império Romano levava o catolicismo como religião oficial, o que permaneceu depois de sua dissolução. Sem uma coordenação única, os nobres se fecharam em castelos e fortalezas, cada um com sua propriedade, servos e guerreiros, para defender-se dos bárbaros e saqueadores. No campo político, nesse período, a administração geográfica herdada dos romanos transformou-se em sistema feudal. Para se proteger, as pessoas se agrupavam em torno dos chamados senhores feudais, que, por sua vez, agregavam-se ao redor dos soberanos. Para Maximiano (2012), o principal aprendizado desse sistema para a ciência da administração é a importância do interesse comum, princípio que faltou aos senhores feudais. Isolados, tornaram-se frágeis para manter seu domínio. 13 O período que se estende da queda do Império Romano até o fim do século XV, chamado de Idade Média, foi marcado pelas crenças da Igreja Católica e pela forma de produção econômica conhecida como feudalismo. Feudalismo: o nome é derivado dos feudos (ou vilas), unidades de habitação e produção que eram características do período. Havia um castelo ou casa principal do senhor feudal, sua fazenda para trabalho e uma vila de servos ao seu entorno. Curiosidade Permaneceram como união a religião e os laços familiares – relações de sangue ou casamentos para ampliar o poder das famílias, bem como a soberania de alguns reis que venciam outros com seus exércitos, dando origem assim a algumas nações, sempre com o apoio da igreja. Nesse período, a Igreja Católica administrava os territórios europeus utilizando muitas ferramentas administrativas herdadas dos romanos. A igreja dividiu o território sob seu comando em dioceses e províncias e a isso acrescentou uma poderosa administração central, com diversas assessorias, criadas ao longo dos dez séculos de seu domínio. De acordo com Chiavenato (2014, p. 51), “ao longo dos séculos, a Igreja Católica estruturou sua organização com uma hierarquia de autoridade, um estado-maior (assessoria) e a coordenação funcional para assegurar integração”. Todo esse aparato administrativo estava a serviço da propagação da fé, da preservação da doutrina e da formação dos sacerdotes, ancorando-se fortemente na hierarquia, na disciplina, na divisão de tarefas e na centralização de comando. Simples e eficiente, essa estrutura possibilitou à igreja se espalhar pelo mundo todo, praticamente sem concorrência. (MAXIMIANO, 2015). Também é importante destacar a contribuição da organização militar para a administração, pois há mais de três mil anos os exércitos vêm criando soluções para a administração de grandes contingentes de pessoas envolvidas em operações complexas e arriscadas. Conceitos sobre estratégia, planejamento, logística e hierarquia, que são utilizados hoje não apenas nas forças armadas, mas também em todos os tipos de empreendimentos, nasceram com os militares de um passado distante. (MAXIMIANO, 2012). 14 Figura 1.3: Hierarquia militar Estratégico - General Tático - Oficiais Operacional - Soldados Fonte: Elaborada pelas autoras (2018). Vejamos alguns princípios que vêm da organização militar, segundo Chiavenato (2014): Unidade de comando Cada subordinado só pode ter um superior. Hierarquia Escala de níveis de comando de acordo com o grau de autoridade. Direção Ordens e normas para que todo soldado saiba o que se espera dele e o que deve fazer. A seguir, veremos as mudanças de pensamento que ocorreram no fim da Idade Média e sua influência na administração. 15 1.3 Contribuições do Renascimento, Mercantilismo e Protestantismo para a administração Após o fim da Idade Média, emerge o Renascimento, sob o qual artes e ciências humanistas florescem. O Renascimento é o período que marca a transição da Idade Média para a chamada Idade Moderna. A Idade Moderna apresenta grandes avanços em relação ao conhecimento que temos sobre o mundo. Isso fica evidente se você olhar o período que ficou conhecido como Iluminismo. Idade Moderna: período histórico que se inicia em 1453, com a ocupação de Constantinopla pelos turcos otomanos, e extingue- se com a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789. Curiosidade O Iluminismo representou a defesa da razão como a verdadeira forma de chegar-se ao conhecimento, opondo-se às crenças de todos os tipos, colocando em cheque o domínio que a Igreja Católica tinha sobre todos os aspectos da sociedade. São expoentes dessa época grandes filósofos que influenciaram o desenvolvimento das ciências sociais e das ciências da administração, tais como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, Adam Smith e Immanuel Kant. Com essas mudanças de pensamento, o espaço de compra e venda de mercadorias – chamado mercado – foi ampliando e dando oportunidade de enriquecimento não só aos senhores feudais, mas a outras pessoas que não eram de origem nobre. A reforma protestante e o surgimento de outras religiões cristãs na Europa também auxiliaram a enfraquecer a tradição de concentração de riqueza em heranças familiares, trazendo a prosperidade para todos. Um dos teóricos marcantes do chamado período mercantil foi Adam Smith, que mostrou grande interesse por questões de natureza administrativa. Suas ideias exerceram muita influência sobre a burguesia europeia, fundamentando-se “no princípio de que o mercado transforma o egoísmo de cada um em um bem coletivo” (GIL, 2016, p. 206). 16 Adam Smith disseminou o liberalismo econômico,no qual defendia total liberdade econômica para que a iniciativa privada pudesse se desenvolver de forma autônoma e sem a intervenção do Estado. Assim, o mercado se regularia sozinho pela livre concorrência, o que levaria à queda de preços e à busca por inovações tecnológicas para melhorar a qualidade dos produtos e potencializar o ritmo de produção. Assim, do Renascimento à Revolução Industrial, houve grande desenvolvimento do conhecimento humano sobre matemática, mecânica, física e eletricidade, ciências que mudaram para sempre a história da humanidade. 1.4 Administração e Revolução Industrial Conforme relatado por Maximiano (2015), a Revolução Industrial foi fortemente marcada por dois eventos: o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a vapor. As organizações, a partir de então, tornaram-se centrais na sociedade. Antes, quem ocupava lugar de destaque eram os impérios, países, cidades, governantes, exércitos e organizações religiosas. Após o século XVIII, o desenvolvimento das forças produtivas concedeu à organização, do tipo empresa industrial, papel fundamental na modernidade. A Revolução Industrial representou uma enorme mudança nas formas de produção de mercadorias. Inicialmente, os comerciantes reuniam os trabalhadores em galpões para poder exercer maior controle sobre seu desempenho, visando ao aumento da produtividade. Com produtividade maior, conseguiriam baratear os preços do produto final. Embora o controle sobre os trabalhadores tenha contribuído para o nascimento do sistema fabril, o que marca o início da Revolução Industrial é a invenção da máquina a vapor, que possibilitou o avanço do ritmo de produção, impactando em toda economia da época. A necessidade de mão de obra tornou-se um assunto urgente: no fim do século XVIII, os trabalhadores eram continuamente trazidos da zona rural para as fábricas. Essa migração da área rural para os centros industriais fez crescer as cidades e, consequentemente, a necessidade de infraestrutura. (MAXIMIANO, 2015). No início da Revolução Industrial, as práticas de gestão eram precárias e a qualidade dos produtos variável: vigorava o princípio de que cabia ao comprador inspecionar o que adquiria. Os salários eram baixos e os capatazes garantiam a produtividade 17 com uso de força bruta. Com o tempo, no entanto, novos caminhos foram trilhados e a administração encontrou as condições ideais para se transformar em um corpo organizado de conhecimentos, alcançando a estatura de uma disciplina tal qual conhecemos atualmente, com destaque para a busca da eficiência (MAXIMIANO, 2015). A Revolução Industrial criou a demanda necessária por técnicas e conceitos que pudessem que pudessem ser utilizados por um contingente de pessoas que precisavam de treinamento especializado: os administradores profissionais de organizações (CHIAVENATO, 2014). Conforme Maximiano (2015), os Estados Unidos reuniram as condições mais favoráveis para essa tendência, uma vez que sua tecnologia industrial se desenvolveu mais do que em outros países. Assim, em 1881, a Universidade da Pensilvânia criou a primeira escola de administração do mundo. Na passagem para o século XX, surge, então, a administração científica, uma abordagem sobre as diferentes funções necessárias para a boa gestão, que você estudará a partir da próxima unidade. 2. Primeiras teorias da administração do século XX No início do século XX, dois importantes engenheiros desenvolveram os primeiros trabalhos a respeito da administração: o americano Frederick Winslow Taylor, considerado pai da administração e criador da escola da administração científica, com ênfase no estudo dos tempos e movimentos; e o francês Henri Fayol, que desenvolveu a chamada teoria clássica, com a aplicação de princípios gerais da administração em bases científicas. Figura 2.1: Base da administração Fonte: Plataforma Deduca (2018). 18 Taylor foi responsável pela proposição dos chamados princípios da administração científica e pelo estudo dos tempos e movimentos para a melhoria do processo produtivo, a redução de custos e o aumento de produtividade. Por sua vez, Fayol preocupou-se em melhorar o processo administrativo, por meio da formulação de seus famosos princípios: planejar, organizar, comandar e controlar. Segundo Maximiano (2015), Taylor defendeu que sempre haverá um método mais fácil e rápido de executar uma tarefa. Para tanto, esse engenheiro empreendeu o estudo dos tempos e movimentos na produção. Tal fato evidenciou que, com observação e análise de dados, a organização poderia produzir mais para o “patrão”, bem como melhorar, ao máximo, a prosperidade do empregado. Essa abordagem de Taylor ficou conhecida como organização racional do trabalho, transformando os métodos de trabalhos empíricos em métodos científicos. De acordo com Chiavenato (2014), essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares por métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT), que se fundamenta nos seguintes aspectos: a. Estudo dos tempos e movimentos: o trabalho é metodicamente analisado, em sua totalidade, visando à eliminação de movimen- tos desnecessários. Nesse estudo, os movimentos úteis são sim- plificados, a fim de diminuir o tempo médio que o operário leva para desenvolver uma tarefa. Nesse tempo médio, são acrescen- tados os tempos considerados mortos, como, por exemplo, o tem- po de espera pela matéria-prima (com finalidade de padronizar o método de trabalho) e, também, o tempo destinado à execução desse trabalho. Conforme Chiavenato (2014), Taylor observou as seguintes vanta- gens no desenvolvimento de um método padrão de produção: • elimina desperdício de esforço humano e movimentos inúteis; • facilita e racionaliza a seleção e o treinamento de operários e melhora a eficiência e o rendimento da produção pela especiali- zação das atividades; • distribui uniformemente o trabalho e evita períodos de falta ou de excesso de trabalho; • define métodos e estabelece normas para execução do traba- lho; 19 • estabelece base uniforme para salários equitativos e prêmios de produção. b. Estudo da fadiga humana com base na anatomia e na fisiologia humana: possui dupla finalidade: • evita movimentos inúteis na execução de tarefas, do ponto de vista fisiológico; • reduz a fadiga para aumentar a eficiência. c. Divisão do trabalho e especialização do operário: há eliminação de movimentos desnecessários, economizando, assim, energia e tempo, consequentemente, elevando a produtividade do operário. d. Desenho de cargos e de tarefas: tem como finalidade criar, proje- tar e combinar cargos para que uma tarefa seja executada com os demais cargos existentes dentro da organização. A simplificação no desenho de cargos permite algumas vantagens, tais como: • admissão de empregados com qualificações mínimas, o que reduz os custos de produção; • minimização de custos de treinamentos; • redução de erros na execução do trabalho. e. Incentivos salariais e prêmios de produção: o operário é estimula- do a produzir mais e também a ganhar mais pelos seus serviços, uma vez que a remuneração é baseada na produção. f. Condições ambientais de trabalho: a eficiência depende não so- mente do método de trabalho e do incentivo salarial, mas de um conjunto de condições que garantam o bem-estar do trabalhador, o que inclui: • a adequação de instrumentos e ferramentas de trabalho e equi- pamentos de produção para minimizar o esforço do operador; • o arranjo físico das máquinas e equipamentos para racionali- zar o fluxo de produção. 20 g. Padronização: o objetivo é minimizar a variabilidade no processo produtivo e, consequentemente, eliminar desperdícios, aumentan- do, assim, a eficiência. Cabe observar, conforme Chiavenato (2014), que a Organização Racional do Trabalho, maior contribuição de Taylor à teoria administrativa, é, sobretudo, uma forma de executar melhor as tarefas, tendo como referência a observação no chão de fábrica.Ao desenvolver esses princípios, Taylor, de acordo com Chiavenato (2014), tinha como objetivo tornar a empresa mais eficiente e mais produtiva, algo que, para a época, era impensável. Foi também uma preocupação de Taylor desenvolver uma forma de aplicar esses princípios na prática administrativa das fábricas, porque, para ele, a ferramenta administrativa era uma prática estruturada que ajudaria a desenvolver não só o processo de administração, mas também a qualidade decisória das organizações. Chiavenato (2014) define que a preocupação de racionalizar, padronizar e prescrever normas de conduta ao administrador levou os engenheiros da administração científica a pensar que tais princípios pudessem ser aplicados em todas as situações possíveis. Dentre a profusão de princípios defendidos pelos autores, os mais importantes são: 1. Princípios de planejamento: substituir a improvisação por méto- dos baseados em procedimentos científicos, por meio de planeja- mento. 2. Princípio de preparo: os trabalhadores são selecionados de acor- do com suas aptidões e, então, é necessário prepará-los e treiná- -los para produzir mais e segundo o método planejado. 3. Princípio do controle: controlar o trabalho para certificar que es- teja sendo executado de acordo com os métodos estabelecidos e segundo o plano previsto. 4. Princípios da execução: distribuir atribuições e responsabilidades para que a execução do trabalho seja disciplinada. Posteriormente, o século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações. Um exemplo disso foi o grande desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, no início do século, em virtude do sucesso do modo de produção fordista, idealizado por Henry Ford. Também, em meados desse século, Max Weber, nos seus estudos sobre a ação social, descreveu as formas de autoridade 21 e de legitimidade que lhe permitiram refletir sobre as características da burocracia que se encaixariam em um tipo de autoridade racional-legal e que contemplariam alguns princípios centrais, como a impessoalidade, o profissionalismo, a hierarquia, o formalismo etc. O século XX foi marcado por grandes mudanças no ambiente econômico e social das organizações, tendo como grande exemplo o desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, decorrente da mudança no modo de produção. Atenção Observe no quadro a seguir as principais ideias da administração no século XX. Quadro 2.1: Principais ideias da administração no século XX Ideias/Enfoques/ Teorias 1900-1925 1925-1950 1950-1975 1975-2000 Produção em massa, preocupação com eficiência (ênfase na eficiência dos processos produtivos). Administração científica, linha de montagem. Popularização do fordismo. Sistema toyota de produção. Modelo japonês, empresa de classe mundial, “Seis Sigma”, redesenho de processos. Humanismo, enfoque comportamental, escola das relações humanas (ênfase nas pessoas e na condição humana). Características individuais. Relações humanas, dinâmicas de grupo, liderança. Administração participativa. Gestão de pessoas, qualidade de vida no trabalho, ética. Escola da qualidade (ênfase na uniformidade, na conformidade e na adequação ao uso). Controle estatístico da qualidade. Administração da qualidade. Qualidade total, qualidade no Japão. Sistemas da qualidade, qualidade garantida, normas ISO. 22 Enfoque no processo administrativo (ênfase no papel dos gerentes e no processo de administrar organizações). Enfoque funcional da administração, políticas de negócios. Processo decisório, estruturação das grandes empresas, política de negócios, administração por objetivos. Planejamento estratégico. Administração de projetos, administração por processos, cadeia de suprimentos, papéis e competências gerenciais. Teorias das organizações (ênfase no entendimento da natureza das organizações). Tipo ideal de burocracia. Teoria das organizações. Modelos de organização. Imagens das organizações, aprendizagem organizacional. Pensamento sistêmico (ênfase na compreensão de totalidades e nas relações entre as partes). Aplicação do pensamento sistêmico na concepção de processos produtivos, especialmente na linha de montagem. Teoria geral dos sistemas. Pensamento sistêmico influenciando todas as ideias da administração. Fonte: Maximiano (2015). 2.1 A linha de montagem e o fordismo Segundo Chiavenato (2014), Henry Ford nasceu em 30 de julho de 1863, na cidade norte-americana Springwells. Em 1903, superando inúmeras adversidades, fundou a “Ford Motors Company”, com mais 11 acionistas, ficando com 25% das ações. Com o passar dos anos, comprou as ações dos demais investidores e, em 1919, passou a ser o controlador da companhia. Sua grande ambição sempre foi construir um carro para o povo e, então, em 1913, inaugurou a primeira fábrica com linha de produção em série. 23 Figura 2.2: Linha de produção Fonte: Plataforma Deduca (2018). Ford foi pioneiro no que ficou conhecido como linha de montagem e produção em série. Produzir em série significa fabricar produtos iguais, em grande quantidade, fato que reduz os custos de produção e aumenta sua velocidade. Pensando nisso, Ford entendeu que seria vantajosa a fabricação de automóveis padronizados. 2.1.1 O fordismo O processo produtivo inventado por Henry Ford ficou conhecido como fordismo e funcionava da seguinte maneira: o automóvel passava por uma esteira de montagem em movimento, e os operários colocavam as peças. Isso era possível em função da especialização dos funcionários, ou seja, cada um executava uma função específica (ou única) no processo. Por exemplo: alguns operários trabalhavam com a pintura; outros colocavam os pneus; alguns retificavam os motores, e assim por diante. Em apenas 98 minutos, o automóvel ficava pronto. O modelo de automóvel “T” foi o mais famoso produzido por Henry Ford. Também conhecido como “Ford Bigode”, esse veículo foi o mais vendido no fim do século XIX. Desse tempo, é famosa a frase de Ford a seus clientes, de que poderiam pedir a cor que quisessem para seus automóveis, desde que fosse preta. (MAXIMIANO, 2015). 24 Figura 2.3: Modelo Ford “T” Fonte: Plataforma Deduca (2018). Segundo Chiavenato (2014), foi utilizando as abordagens da administração científica que Henry Ford aplicou de forma intensiva o novo conceito de linha de montagem na sua indústria “Ford Motors Company”. Esse sistema revolucionou o mercado, em virtude da produção em massa, tornando os automóveis mais baratos. Cabe destacar que as inovações de Ford permitiram eliminar quase todos os movimentos desnecessários às atividades dos trabalhadores. Para Ford, era importante organizar o trabalho de forma a requerer o mínimo possível de força e de esforço físico dos trabalhadores. O sucesso do invento de Ford foi tão grande que, na década de 1920, chegou a produzir dois milhões de automóveis por ano. O sistema de produção de Ford foi muito importante para a sociedade, uma vez que democratizou o acesso à aquisição de automóveis. A estratégia de negócio no fordismo era produzir o automóvel o mais rápido possível e vendê-lo no mercado no menor prazo. A rapidez nesse processo é um fator importante, pois, quando a linha de montagem está parada, não gera lucros, o que deve ser evitado. Isso também requer um estoque de peças de reposição indispensáveis para que a linha de montagem não pare. Com essa forma de produção, Ford desenvolveu um sistema de pagamento com base em bônus, que crescia à medida que a produtividade aumentava. 25 O taylorismo e o fordismo são sistemas de trabalho que visavam à racionalização extrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. O sucesso desses dois modelos fez com que várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por Taylor e Ford, sendo utilizadas até hoje por algumas indústrias. O fordismo se baseou nas propostas do taylorismo e desenvolveualguns avanços. Assim, enquanto Taylor focava a divisão eficiente e racional das tarefas dentro da fábrica, Ford buscava colocar seus trabalhadores em posições fixas no sistema produtivo. Conforme Maximiano (2015), cabe destacar, ainda, que o fordismo era visto como um modelo de gestão da produção; mas, a partir de 1930, passou a ser concebido como um modelo técnico-econômico, irradiando-se pelo mundo no pós-guerra. Antes do fordismo, a produção de veículos era artesanal, dependente da habilidade técnica da mão de obra disponível e sem padronização. Outro fator importante que contribuiu para as ferramentas de gestão diz respeito à aplicação dos princípios da administração científica no sistema fordista de produção, que levou à redução da complexidade das tarefas e à padronização e ao controle do processo produtivo: o processo saiu das mãos dos trabalhadores e passou para a gerência, levando até às últimas consequências a ideia de separação entre o planejamento (engenheiros) e a execução (operário). A administração clássica de Taylor e o fordismo recuperaram o ideário do homem “economicus”, ou seja, o homem é um ser racional que toma suas decisões com base no conhecimento de todas as possibilidades de ações viáveis, bem como de suas consequências. Segundo Maximiano (2015), esse modelo de homem, reduzido e simplificado, serviu de fundamento para a construção de uma teoria da administração que tinha como base a concepção de um homem racional e previsível, que se satisfazia com incentivos financeiros, vigilância e treinamento. Investir nesses quesitos, portanto, auxiliaria a aumentar a produtividade esperada. Como consequência dessa visão de homem, os pensadores clássicos – Taylor, Fayol e Ford – compartilhavam da ideia de que o comportamento humano não era um problema em si. Isso quer dizer que, quando os gerentes percebiam nos trabalhadores 26 um comportamento inadequado, deduziam que o problema decorria de defeitos na estrutura da organização ou no processo produtivo. 2.2 Aportes de Fayol à Administração científica Henri Fayol nasceu em 1841, em Istambul, e faleceu em 1925, em Paris. Ele foi um importante pesquisador da chamada escola clássica da administração. Fayol dedicou-se a disseminar os princípios da administração, com base em seus anos de aprendizado prático na indústria. Para esse engenheiro, a administração compreende, basicamente, cinco funções: • planejamento; • organização; • comando; • coordenação; • controle. De acordo com Maximiano (2015), para Fayol, a administração é uma atividade que pode ser encontrada em todos os empreendimentos humanos, como a família, os negócios, as religiões e os governos, exigindo, mesmo que não nos demos conta, o uso de, pelo menos, alguma das cinco funções supracitadas. Fayol propôs a divisão das organizações em seis estruturas de operações específicas, mas que se relacionam mutuamente: • Técnica: produção, manufatura. • Comercial: compra, venda, troca. • Financeira: empréstimos, capital de giro. • Segurança: proteção da propriedade privada e das pessoas. • Contabilidade: registro de estoques, custos, estatísticas. • Administração: planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Observe, na figura a seguir, as funções da empresa. 27 Figura 2.4: Funções da empresa EM PR ES A Função comercial Função financeira Função de administração Função de segurança Função de contabilidade Função técnica Planejamento Organização Comando Coordenação Controle Fonte: Maximiano (2015, p. 68). Lembre-se de que cada área empresarial tem, sob sua responsabilidade, diferentes funções. A área administrativa demanda planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Atenção Perceba que, para Fayol, o conceito de administração está ligado ao ato de administrar, englobando as funções de administrador, as quais estão descritas a seguir, de acordo com Maximiano (2015): • prever o futuro e traçar o programa de ação; • organizar, isto é, constituir o duplo organismo material e social da em- presa; • comandar, o que significa dirigir e orientar o pessoal; • coordenar: ligar, unir e harmonizar todos os atos e esforços coletivos; • controlar compreende garantir que tudo ocorra de acordo com as re- gras estabelecidas e as ordens dadas. Chiavenato (2014) acha importante informar que nenhuma organização pode fazer mais do que permitem seus principais administradores, afinal de contas, o gargalo está sempre na parte superior da garrafa. De todas as tarefas de uma organização, a mais difícil, mas também a mais importante, é estruturar sua alta administração. 28 2.2.1 O nível gerencial As atividades para o nível gerencial são a essência da administração. Sua característica principal é conseguir resultados por meio de terceiros. Chiavenato (2014) afirma que as atividades gerenciais são divididas em três níveis, cada um com responsabilidades específicas, conforme apresentamos a seguir. Gerência geral Comando geral do processo produtivo e acionamento dos recursos disponíveis para a realização dos objetivos fixados pelo nível de direção. Gerencia unidades complexas, englobando mais de uma função. Às vezes, esses gerentes são responsáveis por empresas subsidiárias. Gerência média (ou funcional) Comando das atividades de operações especializadas, como: finanças, marketing, recursos humanos, manutenção etc. Supervisão imediata Comando da realização propriamente dita e das tarefas, implicando contato direto com os executores. São os supervisores de primeira linha. Ainda de acordo com Chiavenato (2014, p. 34-35): O papel dos gerentes é fundamental para obter a cooperação dos subordinados, para os quais ele representa a empresa e deve ser capaz de 29 motivá-los e fazê-los “vestir a camisa”. Por outro lado, deve ser capaz de levar aos níveis superiores as aspirações, os desejos e as necessidades do seu pessoal. Um gerente que não prestigia os subordinados não consegue mantê-los dedicados. 2.3 A burocracia de Weber Max Weber nasceu no dia 21 de abril de 1864, na Alemanha. Foi um sociólogo que se preocupou com o estudo da organização burocrática e, por isso, propôs a teoria da burocracia. (CHIAVENATO, 2014). Conforme Maximiano (2015), o ponto central dos estudos de Weber é a investigação sobre a ação social. Para esse sociólogo, as normas que compartilhamos na sociedade só se tornam concretas quando se manifestam em cada um de nós, sob forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo, orientando-se pela tradição, por interesses racionais ou pela afetividade. Figura 2.5: A ação social Fonte: Plataforma Deduca (2018). Para Weber, a ação social consiste na conduta humana, dotada de sentido e orientada pela ação de outros, apresentando quatro formas distintas: 30 1. Ação racional com relação a fins: determinada pela expectativa de alcançar os objetivos racionalmente avaliados e perseguidos. 2. Ação racional com relação a um valor: definida pela crença cons- ciente no valor (moral, religioso e estético) de uma determinada conduta. 3. Ação afetiva: ditada por afetos ou por estados sentimentais e emocionais. 4. Ação tradicional: ditada pelos hábitos, pelos costumes e pelas crenças. Chiavenato (2014) afirma que a aplicação da burocracia de Weber levou, em muitos casos, a um excesso de normas e de regulamentos impessoais, não condizentes com a agilidade e a flexibilidade das organizações modernas. No entanto, ainda é empregada em grandes administrações públicas, por falta de substitutos eficazes para alguns casos. Para Weber, a burocracia deveria ter as seguintes características: 1. organização contínua de cargos, limitados por normas escritas, às quais estão subordinados os detentores de poder, o sistema administrativo e os dominados; 2. divisão de trabalho definida e sistemática, com áreas específicas de competência; 3. cargos organizados segundo o princípio hierárquico; 4. regras e normas técnicas claramente definidas porescrito; 5. separação entre propriedade e administração, ou seja, as ativida- des administrativas deverão ser exercidas por profissionais con- tratados em virtude de suas qualificações técnicas. Ainda na visão de Weber, as ênfases da burocracia serão as seguintes: 31 1. formalização (obediência a normas, rotinas, regras, regulamentos etc.); 2. divisão do trabalho; 3. hierarquia; 4. impessoalidade; 5. profissionalização e competência técnica dos empregados. De acordo com Chiavenato (2014), a descrição de Weber sobre a burocracia não levou em conta a chamada organização informal nem o excesso de formalismo, que é fonte das denominadas disfunções da burocracia. Vamos verificar quais são as características das disfunções da burocracia. 2.3.1 Disfunções da burocracia Quando as características da burocracia são levadas ao extremo, o excesso de rigidez e a falta de flexibilidade fazem surgir as disfunções da burocracia: no lugar de propiciar segurança e qualidade, acaba por emperrar o andamento dos serviços e a produção de bens, ou seja, é como se o sistema criasse vida própria. É a burocracia pela burocracia, que perde sentido e finalidade, beirando o absurdo, ao exigir carimbos e comprovantes desnecessários. Confira a seguir as principais características e disfunções da burocracia, conforme colocado por Chiavenato (2014). Quadro 2.2: Características e disfunções da burocracia 32 Engessamento de regras e regulamentos No modelo ideal de burocracia de Weber, as regras e os regulamentos têm objetivo de normatizar os procedimentos, ajudando, assim, a aumentar a produtividade e a melhorar a qualidade do que é produzido e realizado. No entanto, a falta de flexibilidade na aplicação de regras e regulamentos faz com que estes deixem de ser um meio para se atingir um dado fim, transformando-se em um objetivo em si mesmo: é o momento em que as pessoas cumprem regras e regulamentos sem saber o motivo pelo qual estão cumprindo. Excesso de documentação Para formalizar tudo e controlar a qualidade e a produtividade, é produzida uma quantidade excessiva de documentos, que geram perda de tempo – tanto no preenchimento de formulários e papéis quanto no resgate de informações. Despersonalização de relacionamentos Como nos sistemas burocráticos o poder está no cargo, e não nas pessoas, as relações interpessoais ficam em segundo plano. No entanto, o ser humano necessita de interações sociais. A despersonalização pode provocar estresse excessivo. Autoridade aparente Como a autoridade é exercida pelo cargo, busca-se exibir sinais exteriores que reforcem tal posição, como uniformes, crachás de identificação com o cargo em destaque, placas na porta etc. Autoridade descontrolada Como a pessoa está em um cargo de autoridade, passa a utilizar esse poder de maneira agressiva. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). 33 Sintese Nesta unidade, aprendemos que a administração acompanha o ser humano há séculos e que as teorias que hoje estudamos têm origem nas civilizações antigas e vêm evoluindo com a humanidade. Desde os sumérios (3000 a.C) à Revolução Industrial (1800 d.C), o homem vem mudando sua forma de viver e produzir. Saindo da vida nômade, fixou-se em comunidades e aldeias, necessitando administrar as famílias, organizar as rotinas e aprender a cultivar a terra. A partir desse aprendizado e estudando os astros e as águas, começou a desenvolver técnicas de agricultura e irrigação, o que possibilitou a instalação das primeiras cidades, gerando uma necessidade de hierarquia e ordenação social. Essas escolhas de comando surgiram com base na religião e/ou na força física e foram se solidificando ao longo do tempo (lembre-se do faraó que acreditavam ser encarnação de um deus), passando de geração em geração. As lideranças das comunidades também queriam proteger seu poder e, para tanto, foram criando organizações militares para manter o comando, desenvolvendo também diversas técnicas gerenciais para controlar as forças armadas. Nos conflitos entre os povos, ocorreram muitas invasões e dominações, dando origem a impérios poderosos, como o egípcio e o romano, que tinham lideranças únicas para muitas pessoas, ou seja, precisavam de ferramentas administrativas para coordenar tudo isso. Tanto isso é verdade que a queda do Império Romano se deu justamente pela perda de controle das fronteiras e pela invasão de terras por parte dos bárbaros germânicos. Sem um comando central, os mais ricos cercaram suas propriedades para se proteger das invasões e levaram consigo servos e guerreiros. Nessas propriedades, chamadas de feudos, a atividade rural era a principal. Vendas e trocas eram realizadas em espaços separados, chamados de mercado. Com a evolução do pensamento sobre a ciência, a liberdade do mercado e o questionamento de ideias religiosas, os comerciantes passaram também a fabricar produtos em maior quantidade e a contratar pessoas para suas pequenas fábricas. 34 Dessa forma, começaram a enriquecer e a dominar os meios de produção, tornando as organizações formais as principais referências na sociedade, não mais as famílias ou a igreja. Essa nova estrutura, somada a avanços na tecnologia de produção, deu origem à Revolução Industrial: a indústria é o novo império. Para gerenciar esse novo mundo, com empresas e empregados, máquinas e produtos, técnica e ciência, surgem os estudos da administração científica no início do século XIX, que veremos na próxima unidade. Estudamos a abordagem clássica da administração, com ênfase nos seguintes tópicos: • As primeiras teorias da administração do século XX. • A administração científica de Frederick Winslow Taylor, com destaque para os conceitos relacionados à padronização das ferramentas e ao estudo dos tempos e movimentos. • O modelo de produção fordista, entendido e aplicado por Henry Ford, com sua linha de montagem e de inovação. • Os processos administrativos liderados por Henri Fayol, por meio da abordagem da estrutura das organizações, dos princípios da adminis- tração e do papel dos gerentes nas organizações. • A teoria da burocracia de Max Weber e suas disfunções. Conheça mais sobre o que foi e como aconteceu a Revolução industrial por meio deste documentário do canal “History Channel Brasil”: <https://www.youtube.com/watch?v=feO4X3_EgtU>. Acesso em: 15 jun. 2018. Conheça mais sobre as divergências e convergências entre os princípios da administração pública brasileira e os princípios de Henri Fayol. Acesse: <http://periodicos.uesc.br/index.php/ reflexoeseconomicas/article/view/1324/1493>. Saiba mais 35 Referências CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. GIL, A. C. Teoria geral da administração: dos clássicos à pós-modernidade. São Paulo: Pioneira, 2016. MAXIMIANO, A. A. Introdução à administração. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ______. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. MAXIMIANO, A. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. A abordagem humanística da administração UNIDADE 2 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. A abordagem humanística da administração 3 Apresentação da unidade Nesta unidade, você conhecerá os fatores que contribuíram para o surgimento da teoria das relações humanas, bem como os motivos que a levaram a contrapor-se à administração científica, sobretudo a Taylor e a Ford. Falaremos sobre temas básicos relacionados à abordagem humanística, com destaque para a análise do trabalho e a adaptação do trabalhador ao trabalho. Dentro dessa perspectiva, você conhecerá os assuntos predominantes, como o estudo da personalidade do trabalhador e do chefe; a motivação e os incentivos dotrabalho; a liderança; as comunicações; e as relações interpessoais e sociais dentro da organização. Nomes como Hugo Münsterberg, Ordway Tead, Mary Parker Follett e Chester Barnard foram marcantes para a construção desse pensamento, em uma linha do tempo que vai de 1860 a 1961, com suas ideias sobre a transição do classicismo para o humanismo. Você conhecerá também os principais fatos que deram origem à abordagem humanística, tais como a necessidade de humanização e democratização, o desenvolvimento das ciências humanas, as ideias de John Dewey e de Kurt Lewin e, principalmente, as conclusões da experiência de Hawthorne, que será tratada com mais detalhes, pois apresentaremos suas quatro fases: estudos da iluminação; condições de trabalho; entrevistas e pagamento por produtividade. Serão apresentados os fatores que contribuíram para o surgimento da teoria estruturalista e a sua importância para a Administração. Nesse sentido, veremos que essa corrente teórica representou certo avanço em relação à teoria burocrática de Max Weber, bem como teve uma aproximação com a teoria das relações humanas de Elton Mayo, ocasionando uma visão relativamente crítica da organização formal. No desenvolvimento dessas teorias, a abordagem estruturalista surgiu como um experimento de conceber a organização como um todo social complexo. Tendo isso em vista, você terá, nesta unidade, a oportunidade de conhecer os principais conceitos relacionados a essa abordagem, de maneira a identificar suas importantes contribuições para a ciência da Administração. 4 1.1 Relações humanas nas organizações Por conta do grande impacto causado pelos estudos de Taylor, Fayol e Ford nos processos produtivos, houve, também, a necessidade de voltar a atenção para o elo dessa corrente, o ser humano em sua complexidade, e não somente como um recurso a ser maximizado. Assim, conforme Maximiano (2015), o surgimento da escola humanista foi uma crítica à escola clássica da administração e resultado de estudos relacionados à Sociologia e à Psicologia. A escola humanista também questionou a necessidade da produtividade a qualquer preço, bem como estudou a influência dos sindicatos que lutavam por maior justiça e melhores condições de trabalho nas organizações. Chiavenato (2014) observa que, com a teoria das relações humanas, criada em 1930, nos Estados Unidos, a administração sofreu uma verdadeira revolução. Antes, a ênfase estava voltada para a tarefa (Taylor e Ford) e a estrutura organizacional (Fayol), ou seja, para os aspectos técnicos e formais. A partir da abordagem humanista, o foco passou a ser as pessoas e o seu grupo social, isto é, os aspectos psicológicos e sociológicos. Figura 3.1: Humanismo Fonte: Plataforma Deduca (2018). 5 Nos primeiros anos da emergência da teoria das relações humanas, dois assuntos básicos ocuparam duas etapas de seu desenvolvimento: a análise do trabalho e a adaptação do trabalhador ao trabalho. A análise do trabalho diz respeito à eficiência produtiva, por meio da verificação das características humanas que cada tarefa exige. Como decorrência desse interesse, a seleção dos empregados passa a ser científica, com a utilização de testes para identificar as características desejadas. A adaptação do trabalhador ao trabalho, por sua vez, diz respeito à crescente atenção voltada para os aspectos individuais e sociais do trabalho, sendo os temas predominantes: • O estudo da personalidade do trabalhador e do chefe. • A motivação e os incentivos do trabalho. • A liderança. • As comunicações. • As relações interpessoais e sociais dentro da organização. Liderança Essa palavra pode ser aplicada tanto nas situações em que o líder não tem nenhuma autoridade formal sobre os liderados quanto no caso dos chefes, que ocupam posições com autoridade formal. A liderança representa o papel que algumas pessoas desenvolvem por determinado espaço de tempo. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.2: Liderança Fonte: Plataforma Deduca (2018). 6 De acordo com Chiavenato (2014), alguns pensadores devem ser mencionados por conta do importante papel que exerceram na transição entre o classicismo e o humanismo na administração. Vamos conhecê-los? Quadro 3.1: Transição classicismo para humanismo Hugo Münsterberg (1863-1916) Introduziu a psicologia nas organizações e o uso de testes de seleção de pessoal. Ordway Tead (1860-1933) Tratou da liderança democrática na organização. Mary Parker Follett (1868-1933) Rejeitou qualquer fórmula única e padronizada e introduziu a lei da situação: é a situação concreta que deve determinar o que é certo e o que é errado. Toda decisão depende de conhecer o contexto em que está inserida. Chester Barnard (1886-1961) Trouxe a teoria da cooperação nas organizações. As limitações pessoais podem ser resolvidas por meio do trabalho em conjunto. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). De acordo com Chiavenato (2014), a abordagem humanística teve origem nos seguintes fatos: • A necessidade de humanizar e democratizar: a abordagem humanís- tica configurou-se como um movimento direcionado a democratizar conceitos administrativos, estando voltada, sobretudo, para os novos padrões de vida dos americanos. • O desenvolvimento das ciências humanas: a proposta, na época, era provar que os princípios da teoria clássica eram inadequados. Houve grande enfoque no desenvolvimento da Psicologia (sua influência inte- lectual e suas aplicações em empresas do ramo industrial). • As ideias da Filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia dinâ- mica de Kurt Lewin: as ideias desses pensadores foram muitos impor- tantes para a fundamentação da abordagem humanística na adminis- tração. Dewey e Lewin foram fundamentais para a concepção da teoria das relações humanas. 7 • As conclusões da experiência de Hawthorne: datadas do período entre 1927 e 1932, tais conclusões se destacaram sobre os principais argu- mentos da teoria clássica. Figura 3.3: Abordagem humanística Fonte: Plataforma Deduca (2018). As conclusões obtidas por meio da experiência de Hawthorne foram marcantes e decisivas para a abordagem humanística. A partir de agora, convidamos você a conhecer um pouco mais sobre essa experiência! Atenção 1.2 A experiência de Hawthorne Segundo Chiavenato (2014), a teoria das relações humanas surgiu nos Estados Unidos como consequência imediata das conclusões obtidas por meio da chamada experiência de Hawthorne, desenvolvida por George Elton Mayo e seus colaboradores. Foi basicamente um movimento de reação e de oposição à teoria clássica da administração, para a qual a tecnologia e o método de trabalho eram as mais importantes preocupações do administrador. 8 Figura 3.4: George Elton Mayo Fonte: Wikimedia Commons (2018). George Elton Mayo nasceu em 1880, em Adelaide, Austrália. Foi sociólogo, psicólogo e pesquisador das organizações. Em 1923, foi para os Estados Unidos lecionar na “Harvard Business School”. Ele faleceu em 7 de setembro de 1949, em Guildford, Reino Unido. Curiosidade Por meio da experiência de Hawthorne, ficou evidente a importância de considerar os fatores sociais implicados nas situações de trabalho. Concluiu-se, também, que o trabalho é uma atividade essencialmente coletiva, ou seja, o operário reage como membro de um grupo, e não isoladamente. Então, para elevar a produtividade, é necessário descobrir e satisfazer às necessidades psicológicas dos indivíduos. Logo, a chave para os conflitos sociais estaria nas relações humanas. Os estudos de Elton Mayo representaram um importante ponto de mudança para a área da administração. A experiência de Hawthorne, realizada na fábrica “Western 9 Eletric Company”, em 1927, tinha como objetivo principal verificar a influência da iluminação na produtividade, no índice de acidentes e na fadiga dos trabalhadores. Vejamos algumas imagens da experiência de Hawthorne: Figura 3.5: Experiência de Hawthorne Fonte: Teoria das Relações Humanas (2012). Figura 3.6:Parque industrial de Hawthorne Fonte: Leal (2010). Essa experiência, conforme relata Maximiano (2015), revelou a influência de fatores psicológicos e sociais no resultado do trabalho e na produtividade. Com isso, a escola 10 das relações humanas contribuiu, sobremaneira, para destacar a importância dos grupos informais no âmbito das organizações. Conforme dito anteriormente, o objetivo principal da experiência de Hawthorne era verificar se a iluminação do ambiente de trabalho (ou a falta dela) tinha relação com a produtividade dos funcionários. Assim sendo, essa experiência ampliou os estudos sobre acidentes de trabalho, fadiga, rotatividade de funcionários e produtividade. (CHIAVENATO, 2014). A experiência de Hawthorne foi desenvolvida em quatro fases, de acordo com Chiavenato (2014): 1ª fase: a primeira fase estava direcionada aos estudos da iluminação. O objetivo era identificar o impacto da iluminação no rendimento dos operários. Dois grupos foram formados, colocados em salas diferentes, com iluminação também diferente (uma sala tinha iluminação variável e a outra sala tinha iluminação constante). Constatou- se, então, que a produtividade não estava diretamente relacionada à iluminação, mas que o fator psicológico imperava sobre o fisiológico, ou seja, os operários produziam mais quando a intensidade da luz aumentava, por conta de suposições pessoais (achavam que eram obrigados a produzir mais quando a luz ficava mais intensa). 2ª fase: foi criado um grupo experimental para observações. Havia dois grupos, um de referência (sujeito a mudanças nas condições de trabalho) e outro de controle (trabalho em condições constantes). O grupo de referência era composto por seis mulheres, separadas do restante do departamento por meio de uma divisória de madeira. As participantes eram informadas sobre as medidas a que estariam sujeitas, tais como: aumento salarial, intervalos de descanso com durações variadas, redução das horas trabalhadas. Essas mulheres tinham conhecimento dos objetivos e dos resultados do experimento. A segunda fase contou com 12 períodos de observação da produção. Mesmo com o conhecimento das medidas tomadas e dos resultados esperados, o impacto na produção foi mínimo, portanto, verificou-se que as condições de trabalho não eram fatores determinantes para o rendimento dos operários. No entanto, um fator psicológico, que já havia aparecido na primeira fase da experiência, voltou a surgir, proporcionando as seguintes conclusões: • a sala em que estavam trabalhando era mais divertida, pois a super- visão era mais branda (ao contrário da sala de controle, em que a su- pervisão era mais rígida), consequentemente, tinham mais liberdade e menos ansiedade; 11 • o ambiente era amistoso, sem pressão e permitia conversas; • o supervisor era visto como um orientador, não havia mais temor em relação a essa figura; • houve interação social, pois as operárias estavam fazendo amizade en- tre elas, ou seja, tornaram-se uma equipe, consequentemente, aumen- taram a produção, mesmo sendo orientadas a trabalhar normalmente. Comunicação Desenvolver a competência da comunicação deve ser um objetivo básico dos administradores de organizações e das pessoas de forma geral, o que compreende a recepção e a transmissão de informações e de significados. Em qualquer processo de comunicação, sempre há os seguintes elementos: emissor, receptor, mensagem, canal de comunicação, ruídos e feedback. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.7: Comunicação Fonte: Plataforma Deduca (2018). 3ª fase: essa foi a fase das entrevistas. Como foi observado que as mulheres do grupo separado por uma divisória de madeira se comportavam de maneira diferente das outras operárias, o enfoque deixou de ser o aspecto físico e passou a ser a perspectiva das relações humanas. Verificaram que, no grupo de controle, as operárias percebiam a supervisão como vigilante e constrangedora. Como a fábrica detinha pouco conhecimento sobre os fatores determinantes das atitudes das operárias, passaram a entrevistá-las para investigar melhor esse ambiente de produção. 12 Por conseguinte, um programa de pesquisas foi realizado. Percebeu-se, então, que há uma forma de organização informal dos operários que visa à proteção desse grupo contra as ameaças que podem vir da empresa. Logo, a organização passou a ter maior conhecimento sobre a lógica operária, no que diz respeito à empresa, à supervisão, aos equipamentos de trabalho, a sentimentos, atitudes, ouvir opiniões, entre outros aspectos. 4ª fase: o foco foi a análise da organização informal dos operários. Novamente, ocorreu a formação de um grupo experimental, constituído de nove operadores, nove soldadores e dois inspetores, assistido por um pesquisador e eventualmente entrevistado por outro. Para esse grupo, o pagamento tinha como base a produtividade, ou seja, quanto maior a produção, maior a remuneração. Durante a observação, quanto atingiam a produção ideal, verificou-se que os operários diminuíam o padrão de trabalho, ou seja, quando os operários julgavam ter alcançado o padrão normal de produção, diminuíam o ritmo, apresentando, assim, certa padronização de sentimentos e solidariedade grupal. Se alguém tentasse produzir mais do que o grupo determinou como padrão, era punido socialmente ou moralmente. Dessa forma, foi possível analisar a relação entre a organização formal da fábrica e a organização informal dos operários. O experimento foi suspenso em 1932 por conta da recessão ocasionada pela “Crise de 1929” nos Estados Unidos. Veja no quadro a seguir um resumo das fases da experiência de Hawthorne. Quadro 3.2: Fases da experiência de Hawthorne 1ª fase Estudos da iluminação Constatou-se que a produtividade dos operários não estava diretamente ligada à iluminação, mas que o fator psicológico imperava sobre o fisiológico. 2ª fase Condições de trabalho Verificou-se que as condições de trabalho não eram fatores determinantes para o rendimento dos operários. No entanto, percebeu-se a influência de fatores psicológicos. 13 3ª fase Entrevistas (divisória de madeira) Verificou-se que, no grupo de controle, as operárias percebiam a supervisão como vigilante e constrangedora. Percebeu-se, também, que há uma forma de organização informal dos operários que visa à proteção desse grupo contra as ameaças que podem vir da empresa. 4ª fase Pagamento por produtividade Quando atingiam a produção ideal, verificou-se que os operários diminuíam o ritmo de trabalho. Se alguém tentasse produzir mais do que o grupo determinou como padrão, era punido socialmente ou moralmente. Padronização de sentimentos e solidariedade grupal. Fonte: Adaptado de Chiavenato (2014). Vamos recapitular o que vimos até agora sobre a experiência de Hawthorne? Quais foram as decorrências dessa experiência? De acordo com Maximiano (2015), foi verificado que a integração social define o nível de produção, em detrimento da capacidade física, ou seja, o homem é um ser social, necessita da convivência com outras pessoas para poder produzir e não responde somente a benefícios econômicos. A conduta do ser humano está apoiada no grupo, que determina o que deve ser feito, pois os indivíduos não agem singularmente. Nesse sentido, são os grupos informais – não aqueles determinados pelas organizações – que ditam as regras de comportamento, surgindo de forma intrínseca, de acordo com a identificação por objetivos comuns, personalidades e amizades. Logo, esse é um fator crucial para as relações de confiança entre colegas de trabalho. Em função da observação dessa organização informal, foram revistos o conteúdo e a natureza do trabalho. A partir dos resultados dessa experiência, as organizações passaram a implementar seus métodos de trabalho tendo um perfil de trabalhador em vista, no intuito de que este esteja de acordo com a função e execute suas tarefas com motivação. 14 Motivação Estado psicológico de disposição, interesse ou vontadede perseguir ou realizar uma tarefa ou meta. Dizer que uma pessoa está motivada para o trabalho significa dizer que apresenta uma disposição favorável ou positiva para o labor; possui três propriedades principais: direção, intensidade e permanência. (MAXIMIANO, 2015). Figura 3.8: Motivação Fonte: Plataforma Deduca (2018). O trabalhador começa a ser visto como um ser humano complexo, e não somente como um recurso humano. Nesse sentido, suas emoções não devem ser ignoradas. Um dos pontos mais importantes trazidos à tona pela escola das relações humanas foram os grupos informais. Por meio dessa abordagem, ficamos sabendo que os grupos informais são inerentes à organização e são compostos por pessoas em interações sociais de amizade, inimizade, simpatia, antipatia etc., em busca de identidade, liderança e subordinação. Na dinâmica desses grupos, pode ocorrer, muitas vezes, a chamada “rádio peão”, que consiste em boatos que se espalham pela empresa, podendo causar, em alguns casos, desmotivação e apatia. Diante disso, caro(a) aluno(a), como você atuaria diante do desafio dos grupos informais? De que maneira você pensa que eles podem ser importantes para uma empresa? Reflita 15 Nesta unidade, vimos a abordagem humanística nas organizações e a importância dos estudos relacionados à experiência de Hawthorne. Na próxima unidade, trataremos da abordagem estruturalista da administração. 2. Teoria estruturalista Chiavenato (2014) afirma que, no fim da década de 1950, a teoria das relações humanas entrou em declínio. A oposição entre essa teoria e a teoria clássica criou um impasse dentro da Administração que nem mesmo a teoria da burocracia teve condições de superar. Desse modo, a teoria estruturalista significou um desdobramento da teoria da burocracia, aproximando-se levemente da teoria das relações humanas e representando uma visão crítica da organização formal. Chiavenato (2014) apresenta a teoria estruturalista como uma corrente baseada na sociologia organizacional, que procura consolidar e expandir os horizontes da administração. Ainda de acordo com Chiavenato (2014, p. 286), a origem da teoria estruturalista na administração teve como pressupostos: 1. A oposição que surgiu entre a teoria clássica e a teoria das relações humanas Elas são incompatíveis entre si. Então, tornou-se necessária uma posição mais ampla, compreensiva e que integrasse os aspectos que eram considerados por uma e omitidos por outra, e vice-versa. A teoria estruturalista pretendeu ser uma síntese da teoria clássica (formal) e da teoria das relações humanas (informal), inspirando-se na abordagem de Max Weber e, até certo ponto, nos trabalhos de Karl Marx. 2. A necessidade de visualizar a organização como uma uni- dade social grande e complexa Nessa unidade social grande e complexa, interagem grupos sociais que compartilham alguns dos objetivos da organização (como a viabilidade econômica), mas que podem incompatibilizar com outros (como a maneira de distribuir os lucros). Assim, o diálogo maior da teoria estruturalista foi com a teoria das relações humanas. 16 3. A influência do estruturalismo nas ciências sociais e sua repercussão no estudo das organizações O estruturalismo sofreu forte influência da Filosofia, da Psicologia (Gestalt), da Antropologia (Claude Lévi-Strauss), da Matemática (Nicolas Bourbaki) e da Linguística, chegando até a teoria das organizações (Thompson, Etzioni e Blau). 4. Novo conceito de estrutura O conceito de estrutura é bastante antigo. Heráclito, nos primórdios da história da Filosofia, concebia o “logos” como uma unidade estrutural que domina o fluxo ininterrupto do devir, tornando-o inteligível. A estrutura é o conjunto formal de dois ou mais elementos, permanecendo inalterada mesmo nas mudanças. A mesma estrutura pode ser apontada em diferentes áreas, bem como sua compreensão. Para iniciar nossos estudos e reflexões sobre o tema, observe a afirmação de Chiavenato (2014, p. 256): Embora tivesse escrito sobre a burocracia décadas antes, foi somente com a tradução do alemão para o inglês, em 1947, que Max Weber – considerado o fundador do movimento que se iniciou na sociologia – passou a ser conhecido e discutido nos meios acadêmicos e empresariais. A abordagem estruturalista é um movimento que provocou o surgimento da sociologia das organizações e que iria criticar e reorientar os caminhos da teoria administrativa. Para Taylor e Fayol, o homem era um ser econômico. Já para Elton Mayo, o homem seria um ser social. No entanto, para a teoria estruturalista, segundo Chiavenato (2014), o foco está voltado para o homem organizacional, ou seja, aquele que cumpre diferentes papéis, em inúmeras organizações. De acordo com Chiavenato (2014), para ser bem-sucedido, esse homem organizacional precisa ter as seguintes características: • Flexibilidade: para enfrentar as mudanças bruscas e a diversidade de papéis/funções, bem como novos relacionamentos. • Tolerância emocional: por causa do desgaste do enfrentamento dos conflitos gerados por necessidades individuais e organizacionais. 17 • Capacidade de adiar as recompensas: compensar o trabalho rotineiro em detrimento de preferências e vocações pessoais. • Permanente desejo de realização: garantir a conformidade das normas que controlam e asseguram o acesso às posições de carreira dentro da organização. Figura 4.1: Mapa mental da teoria estruturalista Sociedade de organizações • Etapa da natureza • Etapa do trabalho • Etapa do capital • Etapa da organização Análise das organizações (abordagem múltipla) • Organização formal x informal • Recompensas materiais x sociais • Enfoque racional x natural • Níveis de organização • Diversidade de organizações • Análise interorganizacional Conflitos organizacionais • Conhecimento x hierarquia • Coordenação x comunicação livre • Disciplina burocrática x especialização • Planejamento centralizado x iniciativa • Linha x assessoria (staff) Objetivos organizacionais • Visão da situação futura • Fonte de legitimidade • Padrões de desempenho • Unidades de medidas Apreciação crítica da teoria estruturalista • Convergência de abordagens divergentes • Ampliação da abordagem • Dupla tendência teórica • Análise organizacional mais ampla • Inadequação das tipologias organizacionais • Teoria da crise, transição e mudança Tipologias de organizações • Coercitivas • Utilitárias • Normativas • Benefícios mútuos • Interesses comerciais • Serviços • Estado Fonte: Chiavenato (2014). Lacombe e Heilborn (2015) afirmam que a teoria estruturalista surgiu a partir de críticas relacionadas à rigidez e à impessoalidade da teoria da burocracia, que tendia a transformar as organizações em sistemas fechados. A seguir, você terá a oportunidade de estudar algumas abordagens da teoria estruturalista. 18 2.1 Organizações contemporâneas Para os estruturalistas, a sociedade moderna e industrializada é uma sociedade de organizações, das quais o homem passa a depender para nascer, viver e morrer. De acordo com Chiavenato (2014, p. 288): Essas organizações são diferenciadas e requerem dos seus participantes determinadas características de personalidade que permitem a participação simultânea das pessoas em várias organizações, nas quais os papéis desempenhados variam. O estruturalismo ampliou o estudo das interações entre os grupos sociais – iniciado pela teoria das relações humanas – para as interações entre as organizações sociais. Da mesma forma como os grupos sociais interagem entre si, as organizações também interagem entre si. Figura 4.2: Os grupos sociais Fonte: Plataforma Deduca (2018). As organizações constituem a forma dominante de instituição da sociedade moderna, em que predomina uma manifestação altamente especializada e interdependente, caracterizada por um crescente padrão de vida. As organizações permeiam todos os aspectos da vida moderna e envolvem a participação de numerosas pessoas. Cada organizaçãoé limitada por recursos escassos e, por isso, não pode tirar vantagens de todas as oportunidades que surgem. É dessa realidade que surge o problema de determinar a melhor alocação de recursos. A eficiência é obtida quando a organização aplica seus recursos naquela alternativa que produz melhores resultados. (CHIAVENATO, 2014, p. 290). 19 A teoria estruturalista concentra-se no estudo das organizações, na sua estrutura interna e na sua interação com outras. As organizações são contempladas por um conjunto de relações sociais estáveis e deliberadamente criadas, com a explícita intenção de alcançar objetivos ou propósitos. Assim, a organização é uma unidade social dentro da qual as pessoas alcançam relações estáveis entre si, no sentido de facilitar o alcance de um conjunto de objetivos ou metas. (CHIAVENATO, 2014). Ainda de acordo com Chiavenato (2014), as organizações passaram por um processo de desenvolvimento ao longo de quatro etapas: Da natureza Os elementos da natureza eram a base única de subsistência da humanidade. O papel do capital e do trabalho era irrelevante nessa etapa inicial da história da civilização. Do trabalho A partir da natureza, surgiu um fator perturbador que iniciou uma verdadeira revolução no desenvolvimento da humanidade: o trabalho. Elementos naturais passaram a ser transformados pelo trabalho e, rapidamente, passaram a condicionar as formas de organização da sociedade. Do capital O capital prevaleceu sobre a natureza e o trabalho, tornando-se um dos fatores básicos da vida social. Da organização Nessa etapa, a natureza, o trabalho e o capital se submetiam à organização, que sempre existiu, mas de forma rudimentar. A partir desse momento, a organização passou a revelar um caráter independente em relação às outras etapas, utilizando-se deles para alcançar seus objetivos. No próximo tópico, conheceremos mais profundamente o conceito de organização formal e informal. 20 2.1.1 As organizações Chiavenato (2014) afirma que, de acordo com a abordagem estruturalista, as organizações são sistemas complexos, e suas características são permanentes. Elas possuem uma estrutura interna e interagem com outras, em um contexto no qual são criadas como unidades sociais, intencionalmente construídas e reconstruídas, para que assim possam atingir objetivos específicos. Por sua vez, Lacombe e Heilborn (2015, p. 21) explicam que as organizações são a forma que assume toda associação humana para atingir um objetivo comum. Edgard Schein (apud LACOMBE, 2006, p. 118) define as organizações como a “coordenação racional das atividades de certo número de pessoas, que desejam alcançar um objetivo comum e explícito, mediante a divisão das funções e do trabalho, por meio da hierarquização da autoridade e da responsabilidade”. Figura 4.3: Organizações informais Fonte: Plataforma Deduca (2018). A teoria clássica caracteriza o “homo economicus”. Já a teoria das relações humanas e a teoria estruturalista focalizam o “homem social”, que desempenha diferentes papéis, em várias organizações. (CHIAVENATO, 2014). Nesse contexto, temos, então, o modelo de organização formal e o modelo de organização informal. 21 Organização formal O padrão de organização é determinado pela administração, assim como o esquema de divisão de trabalho, o poder de controle, regras e regulamentos de salários e o controle de qualidade. Exemplo: empresas mais conservadoras que, ao longo do tempo, no mercado, passam a ter algumas características peculiares, tais como prêmios e punições. Organização informal Esse tipo de organização refere-se ao relacionamento interpessoal, isto é, às relações sociais que se desenvolvem espontaneamente entre o pessoal e o profissional, acima e além da formalidade (trabalham em equipe e são amigos). Exemplo: empresas que estimulam a criatividade e o relacionamento entre as pessoas, dando ênfase à motivação, como é o caso da empresa “Google”. Nos próximos tópicos, vamos perceber que o equilíbrio entre as duas formas de organização (formal e informal) resultou em uma análise mais aprofundada das organizações. 2.1.2 A análise das organizações Sobre a análise das organizações, Chiavenato (2014, p. 291) explica: Os estruturalistas utilizam, para estudar as organizações, uma análise organizacional mais ampla do que a de qualquer teoria anterior, pois pretendem conciliar a teoria clássica e a teoria das relações humanas, baseando-se, também, na teoria da burocracia. Chiavenato (2014) relata ainda que a análise das organizações, do ponto de vista estruturalista, é realizada a partir de uma abordagem múltipla, que envolve principalmente: • Organização formal e informal: como ponto de equilíbrio entre os clás- sicos mecanicistas (formais) e os humanistas (informais). • Recompensas materiais e sociais: significam o uso de recompensas salariais e tudo que possa ser incluído nos símbolos de posição/status. 22 • Diferentes enfoques da organização: organizações segundo duas dife- rentes concepções: modelo racional e modelo do sistema natural. • Níveis da organização: as organizações se caracterizam por uma hierar- quia de autoridade e pela diferenciação de poder, desdobrando-se em três níveis: institucional (mais elevado), gerencial (intermediário) e técnico ou operacional (mais baixo). • Diversidade de organizações: ampliação do campo de análise das or- ganizações, a fim de expandir a classificação que existia nas teorias anteriores. • Análise interorganizacional: tornou-se significativa a partir da crescen- te complexidade ambiental e da interdependência das organizações. 2.1.3 Tipologias de organizações Nunca haverá duas organizações idênticas, elas sempre serão díspares e apresentarão grande multiplicidade. Porém, podem apresentar algumas características que permitem classificá-las em certos grupos ou tipologias, denominados tipologias de organizações. Para facilitar a análise comparativa das organizações, muitos estudiosos do estruturalismo desenvolveram tipologias de organizações (CHIAVENATO, 2014). Como já mencionado, Chiavenato (2014, p. 286) afirma que o estruturalismo sofreu forte influência da Filosofia, da Psicologia (Gestalt), da Antropologia (Nicolas Bourbaki) e da Linguística, chegando até a teoria das organizações (Thompson, Etzioni e Blau). No âmbito das ciências sociais, teve influência das ideias de Lévi-Strauss (estruturalismo abstrato), de Gurwitch e Radcliff-Brown (estruturalismo concreto) e de Karl Marx (estruturalismo dialético). Vamos estudar com mais detalhes algumas delas: • Tipologia de Etzioni: definiu uma tipologia das organizações, classi- ficando-a com base no uso e no significado da obediência. É muito utilizada devido à consideração sobre os sistemas psicossociais das organizações. No entanto, não dá muito importância à estrutura, à tec- nologia e ao ambiente externo. No quadro a seguir, apresentamos um resumo da classificação das orga- nizações, buscando capturar sua identidade caracterizadora (personali- dade organizacional). 23 Quadro 4.1: Tipologia de Etzioni – uso e significado de obediência Organizações Poder Controle Envolvimento Exemplos Coercitivas Força física Prêmios ou punições Alienativo Campos de concentração, entre outros Utilitárias Material Incentivos econômicos e vantagem desejada Calculista Comércio Normativas Consenso Objetivos e métodos da organização Moral Igrejas, universidades, hospitais, entre outros Fonte: Chiavenato (2014). • Tipologia de Blau e Scott: baseia-se nas dimensões comuns a várias organizações, ou seja, na interação das organizações com o meio ex- terno. É importante lembrar que as organizações servem para propor- cionar benefícios à comunidade/sociedade. Segundo Chiavenato (2014), Blau e Scott apresentam uma tipologia de organizações voltada para esses benefícios, apresentando quatro categorias de participantes que se beneficiam com uma organização formal, a saber: • os próprios membros da organização; • os proprietários,dirigentes ou acionistas da organização; • os clientes da organização; • o público em geral. Chiavenato (2014) explica, ainda, os quatro tipos básicos de organização. Vamos conhecê-los a seguir. 24 Associações de benefícios mútuos Os beneficiários são os membros da organização. Exemplos: cooperativas, sindicatos, consórcios etc. Organizações de interesses comerciais Os proprietários e os acionistas são os principais beneficiários da organização. Exemplos: sociedade anônima ou empresas familiares. Organizações de serviços Um grupo de clientes é o beneficiário. Exemplos: hospitais, universidades, ONGs, organizações religiosas etc. Organizações de Estado O beneficiário é o público em geral. Exemplo: organização militar, Correios, segurança pública, saneamento básico etc. A administração considera nossa sociedade composta por infinitas organizações, cada uma com seu papel diferente na comunidade. Cada um de nós exerce muitos papéis nas organizações de que participa. Agora, pense nas características dos papéis que o homem organizacional desempenha nas organizações, a fim de ser bem-sucedido, ou seja, a flexibilidade, a tolerância emocional, a capacidade de adiar as recompensas e o permanente desejo de realização. Nas organizações atuais, isso acontece? Você concorda? Sim ou não? Por quê? Reflita 25 2.1.4 Objetivos organizacionais Chiavenato (2014) informa que a definição de objetivos é intencional, mas nem sempre racional. Trata-se de um processo de interação entre a organização e o ambiente. Figura 4.4: Os objetivos nas organizações Fonte: Plataforma Deduca (2018). Os objetivos servem como unidade de medida para o estudioso de organizações, que tenta verificar e comparar sua produtividade. Eles são fundamentais para que a organização possa transformar seus ideiais em realidade. Nesse sentido, Chiavenato (2014) chama a atenção para quatro categorias de objetivos organizacionais, a saber: Quadro 4.2: Categorias de objetivos organizacionais 1 Objetivos da sociedade O ponto de referência é a sociedade em geral, preenchendo as necessidades da sociedade. Exemplo: manter a ordem pública. 2 Objetivos de produção O ponto de referência é o público que entra em contato com a organização. Exemplo: serviços a empresas. 3 Objetivos de produtos O ponto de referência são as características de bens e serviços produzidos. Exemplo: ênfase na variedade de produtos. 4 Objetivos derivados O ponto de referência são os usos que a organização faz do poder originado na consecução de outros objetivos. Exemplo: serviços comunitários. Fonte: Chiavenato (2014). 26 Chiavenato (2014) informa também que as organizações podem alterar seus objetivos durante o processo de ajustamento a problemas e situações emergenciais e imprevisíveis. Essas alterações criam novas necessidades de mudanças, exigindo ajustes adicionais. Assim, fatores internos ou externos podem provocar mudanças nos objetivos organizacionais. 2.1.5 Ambiente organizacional As organizações existem em um contexto social, político e econômico, denominado de ambiente, dependendo umas das outras para seguir seu caminho e atingir seus objetivos. Essa interação, entre organização e ambiente, é fundamental para a compreensão do estruturalismo. Figura 4.5: O ambiente organizacional Fonte: Plataforma Deduca (2018). Os estruturalistas criticaram o fato de que conhecemos muito a respeito de interação entre pessoas, alguma coisa sobre interação entre grupos e pouquíssimo sobre interação entre organizações e seus ambientes. Os estruturalistas ultrapassaram as fronteiras da organização para ver o que existe externamente ao seu redor: as outras organizações que formam a sociedade. (CHIAVENATO, 2014). Assim, o importante não é somente a análise organizacional, mas também a análise interorganizacional, que está voltada para as relações entre uma organização e outras organizações no ambiente externo. Para Chiavenato (2014), dois conceitos são importantes para a análise interorganizacional, a saber: 27 1. Interdependência das organizações com a sociedade: toda orga- nização depende de outras e da sociedade para poder sobreviver. Algumas consequências da interdependência das organizações são: mudanças frequentes nos objetivos organizacionais, influen- ciadas por mudanças no ambiente externo; e certo controle am- biental sobre a organização, o que limita a liberdade de agir. 2. Conjunto organizacional: toda organização possui interações com uma cadeia de organizações em seu ambiente, formando um con- junto organizacional. Com essas definições, os estruturalistas formaram um ciclo na teoria administrativa: o gradativo desprendimento daquilo que ocorre dentro das organizações para aquilo que ocorre fora delas. A ênfase sobre o ambiente começa aqui. 2.1.6 Estratégia organizacional Os estruturalistas também desenvolveram conceitos de estratégia organizacional, quando começaram a focar no ambiente e nas suas relações com a organização, ou seja, a estratégia seria a maneira de a organização lidar com as adversidades desse ambiente, com o qual cada organização precisa desenvolver estratégias para lidar. Essas estratégias foram definidas por Chiavenato (2014) como: competição, ajuste, coopção ou coalização. Competição Forma de rivalidade entre duas ou mais organizações, mediada por um terceiro grupo; no caso de uma indústria, o terceiro grupo pode ser o comprador ou o fornecedor. Ajuste (ou negociação) Estratégia que busca negociações para um acordo quanto à troca de bens ou serviços entre duas ou mais organizações; é uma decisão sobre o comportamento futuro que for satisfatório para os envolvidos. 28 Coopção (ou cooptação) Processo para absorver novos elementos estranhos na liderança ou no esquema de tomada de decisão de uma organização, como um recurso para impedir ameaças externas à sua estabilidade ou existência. Coalização Refere-se à combinação de duas ou mais organizações para um objetivo comum; agem como uma só com relação a determinados objetivos. 2.1.7 Conflitos organizacionais Para Chiavenato (2014, p. 304), os estruturalistas discordam que haja harmonia de interesse entre patrões e empregados (como afirmava a teoria clássica) ou de que essa harmonia deva ser preservada pela administração, por meio uma atitude compreensiva e terapêutica (como afirmava a teoria das relações humanas). Para os estruturalistas, os conflitos – embora nem todos desejáveis – são elementos geradores de mudanças e da inovação na organização. Figura 4.6: Os conflitos na organização Fonte: Plataforma Deduca (2018). 29 Chiavenato (2014, p. 304) diz também que conflito e cooperação são elementos integrantes da vida em organização. Esses elementos são abordados pelas recentes teorias administrativas, o que não existia nas teorias anteriores, sendo hoje considerados da seguinte maneira: “cooperação e confronto como dois aspectos da atividade social, ou, melhor ainda, dois lados de uma mesma moeda”. (CHIAVENATO, 2014, p. 304). Para esse autor, “o propósito da administração deve ser o de obter cooperação e sanar os conflitos, ou seja, criar condições em que o conflito possa ser controlado e dirigido por canais úteis e produtivos”. (CHIAVENATO, 2014, p. 304). Figura 4.7: O continuum das fontes de conflito Completa incompatibilidade de interesses Colisão frontal Interesses diferentes, mas não necessariamente incompatíveis Rivalidade e concorrência Fonte: Chiavenato (2014). Nesta unidade, estudamos que a teoria estruturalista inaugurou os estudos acerca do ambiente, trabalhando o conceito de que as organizações são, de fato, um sistema aberto, pois interagem com o ambiente. Podemos dizer que seus aspectos direcionam para a teoria dos sistemas, que abordaremos na próxima unidade. 30 Síntese Nesta unidade, você viu que: • o surgimento da escola humanista partiu de uma crítica à escola clás- sica da administração, que enfatizava apenas o aspecto econômico; • a experiênciade Hawthorne demonstrou que uma maior atenção dis- pensada aos trabalhadores motiva a produzir mais; • a experiência de Hawthorne passou por quatro fases: estudos da ilu- minação, das condições de trabalho, entrevistas e pagamento por pro- dutividade. • O principal objeto de estudo da teoria estruturalista são as organiza- ções, com base na sua estrutura interna e na interação com outras or- ganizações. • A teoria estruturalista possui um processo dinâmico de transição, bus- cando constantemente um modelo ideal de teoria organizacional e re- solvendo os impasses criados pelas organizações atuais. • Os estruturalistas desenvolveram conceitos sobre estratégia organiza- cional, com foco no ambiente e na interdependência entre organização e ambiente. • O sistema social é construído e reconstruído porque as organizações são sistemas em constante mutação e o homem organizacional vive conflitos que são inevitáveis. A teoria das relações humanas fez emergir uma nova concepção acerca da natureza do homem (o homem social), tendo como base, para tanto, algumas premissas. Para conhecê-las, leia o segundo capítulo do livro “Administração geral e pública: provas e concursos”, de Idalberto Chiavenato, disponível em: <http://bit. ly/2KwgCvn>. Saiba mais 31 Saiba mais sobre o tema lendo o artigo do professor Fernando C. Prestes Motta, no link a seguir: <http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0034-75901970000400002&script=sci_arttext>. Saiba mais 32 Referências CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. LACOMBE, F. Teoria geral da Administração. São Paulo: Saraiva, 2006. LACOMBE, F.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. LEAL, M. A experiência de Hawthorne. Blog Teoria das Relações Humanas, 2010 . Disponível em: <http://teoriaderh.zip.net/>. Acesso em: 30 jun. 2018. MAXIMIANO, A. A. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS. A experiência de Hawthorne, 2012. Disponível em: <http://bit.ly/2lIMfXL>. Acesso em: 30 jun. 2018. WIKIMEDIA COMMONS. Father of human resource managementt.jpg, 2018. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Father_of_human_resource_ managementt.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 30 jun. 2018. A abordagem sistêmica da administração UNIDADE 3 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. A abordagem sistêmica da administração 3 Apresentação da unidade Nesta unidade, você conhecerá um pouco mais sobre a teoria dos sistemas, desde seu idealizador até seus princípios teóricos de fundamentação. Você verá os sistemas quanto ao tipo e à natureza, os elementos que os compõem e as relações da equifinalidade, sinergia e entropia. Por fim, você terá uma visão geral sobre sistema no âmbito do Sistema Integrado de Gestão (SIG), como meio de aplicação às organizações. Serão apresentados os fatores que propiciaram o surgimento da abordagem neoclássica. Além disso, falaremos sobre as contribuições dessa teoria para a administração. Chiavenato (2014) nos remete ao período compreendido entre 1960 e 1970, época em que ocorreu o apogeu da teoria neoclássica. Nesse contexto, o mundo dos negócios não era mais estável, previsível e conservador, como no início do século XX. Além disso, não apresentava as características e mudanças dos dias atuais. As soluções apresentadas pelos autores neoclássicos, no que diz respeito aos tipos de organização, foram adequadas para a época, quando ainda imperava a formalização. A organização do tipo linha-staff tornou-se o formato estrutural típico das empresas em todo o mundo, modelo que prevalece até hoje. 4 1.1 Teoria dos sistemas De acordo com Maximiano (2010), o principal idealizador da teoria dos sistemas foi Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972), biólogo austríaco que estudou o metabolismo celular e sua relação de trocas com o ambiente externo. Chiavenato (2002, p. 410) discorre sobre o fato de Bertalanffy ter elaborado uma teoria interdisciplinar para transcender os problemas exclusivos de cada ciência e proporcionar princípios gerais (sejam físicos, biológicos, sociológicos, químicos etc.) e modelos gerais para todas as ciências envolvidas, de modo que as descobertas efetuadas em cada uma pudessem ser utilizadas pelas demais. A teoria dos sistemas tem por finalidade identificar as propriedades, os princípios e as leis dos sistemas em geral, independentemente do tipo de sistema estudado. Mas, antes de continuar acompanhando a abordagem sobre a teoria dos sistemas, pense na seguinte questão: o que é sistema? Conforme Chiavenato (2002, p. 188), “[...] é um conjunto de elementos que estão dinamicamente interligados para formar um todo [...]. São características que existem no sistema como um todo e que não existem em seus elementos em particular”. Como exemplo de sistema, o autor cita as características da água, que são totalmente diferentes das características dos elementos isolados que a compõem: o hidrogênio e o oxigênio. Como exemplo de sistema, podemos citar o aparelho respiratório do nosso corpo, que é composto por vários órgãos, dentre eles: pulmão, faringe, traqueia, laringe, cavidade bucal, fossas nasais etc. Se você tampar as fossas nasais e a cavidade bucal, o aparelho respiratório do nosso corpo funcionará normalmente? Se o sistema está interligado e inter-relacionado, o sistema respiratório será afetado pela influência externa se esses órgãos forem tampados, não é mesmo? A partir desse exemplo, podemos fazer um paralelo com a ideia de organização como sendo um sistema composto de várias partes. Reflita sobre isso! Reflita Podemos entender que um sistema é um conjunto de unidades relacionadas para alcançar um objetivo. Desse conceito, de acordo com Chiavenato (2014), decorrem duas características: o propósito e o globalismo. 5 Propósito Diz respeito ao fato de que todo sistema existe para alcançar objetivos. Suas partes/elementos, bem como seus relacionamentos, definem um arranjo que visa sempre a um objetivo ou a uma finalidade. Globalismo Todo sistema tem uma natureza orgânica. Mas o que isso significa exatamente? Significa que uma ação que produzir mudanças em uma de suas partes produzirá mudanças em todas as outras. Em última instância, qualquer estímulo, em qualquer unidade, afetará as outras unidades por conta do relacionamento que existe entre elas. O efeito fará um ajustamento em todo sistema. À medida que o sistema sofre mudanças, esse ajuste será contínuo. Cabe ainda destacar que todo sistema é constituído de subsistemas (partes) que integram um sistema maior (suprassistema). Há uma hierarquia de sistemas: cada sistema tem subsistemas e faz parte de um suprassistema. Nesse sentido, podemos verificar que o conceito de sistema pode ser aplicado a vários níveis: desde um microssistema até um suprassistema, indo, por exemplo, desde a célula até o universo. A figura a seguir ilustra essa questão. Figura 5.1: Sistema, subsistema e suprassistema Suprassistema Sistema Subsistema Subsistema Fonte: Maximiano (2010). 6 Vamos a um exemplo prático? Podemos ilustrar dizendo que o suprassistema seria uma fábrica de automóveis que tem como objetivo fabricar peças e realizar montagem de automóveis. Esse suprassistema (fábrica de automóveis) é composto por outros sistemas, dentre eles, está o sistema automóvel, que tem como objetivo transportar passageiros e cargas. Esse sistema (automóvel) é constituído pelos subsistemas motor, caixa de marchas, suspensão, pneus, carroceria, dentre outros. Ficou mais clara essa hierarquia dos sistemas? Além da hierarquia entre sistemas, subsistemas e suprassistemas, é importante observar as tipologias de sistemas, bem como sua classificação. Chiavenato (2014) distingue os tipos de sistemas conforme sua composição. São eles: • a. Sistemas físicos ou concretos:são compostos de equipa- mentos, maquinarias, objetos e coisas reais. São denominados de hardware e podem ser descritos em termos quantitativos. • b. Sistemas abstratos ou conceituais: são compostos de con- ceitos, filosofias, planos, hipóteses e ideias abstratas. Os símbo- los representam atributos e objetos que, muitas vezes, só existem no pensamento das pessoas. São denominados de software. Ainda conforme Chiavenato (2014), há interdependência entre as tipologias de sistemas. Os sistemas físicos (hardware), assim como as máquinas, precisam dos sistemas abstratos (programação/software) para desempenharem suas funções. Outrossim, os sistemas abstratos somente se realizam quando aplicados a algum sistema físico. Um exemplo que podemos citar e que faz parte do cotidiano é uma escola, que é dotada de um sistema físico (salas de aula, carteiras, iluminação etc.) para desenvolver um programa de ensino (sistema abstrato). Atenção Quanto à classificação dos sistemas conforme sua natureza, Chiavenato (2014) faz a seguinte distinção: 7 • a. Sistemas fechados: não fazem intercâmbio com o ambiente que os circunda, pois são herméticos a qualquer influência am- biental. Sendo assim, não recebem influência do ambiente e tam- bém não influenciam o ambiente. • b. Sistemas abertos: apresentam amplas relações de intercâmbio com o ambiente, por meio de inúmeras entradas e saídas, pelas quais trocam matéria e energia regularmente. São adaptativos e, para so- breviver, devem reajustar-se constantemente às condições do meio. Essa adaptabilidade é um aprendizado constante dentro das organi- zações. Podemos citar, como exemplo, o aparelho respiratório do ser humano. Se fecharmos a boca e o nariz, o ar não entrará nos pulmões, consequentemente, o sistema respiratório será prejudicado, certo? Ou seja, estão relacionados. 1.1.1 A organização como um sistema aberto Conforme Chiavenato (2002), as organizações são sistemas criados pelo homem e mantêm uma dinâmica de interação com o meio externo através do contato com clientes, fornecedores, concorrentes, entidades sindicais, órgãos governamentais e outros agentes externos, por isso, caracterizam-se como sistemas abertos. Podemos visualizar essa ideia na figura a seguir. Figura 5.2: Ambiente do sistema organizacional ORGANIZAÇÃO Mercado Mão de obra Concorrência Consumidor Comunidade TecnologiaSindicatos Sistema financeiro Fornecedores Governo Fonte: Maximiano (2010). 8 Isso acontece porque a organização influencia o meio ambiente, mas também recebe influência dele. Além disso, como já vimos, a organização é um sistema integrado por diversas partes relacionadas entre si, que trabalham em harmonia umas com as outras, com finalidade de alcançar objetivos, tanto dela mesma como de seus participantes. Quadro 5.1: Principais diferenças entre sistemas vivos e organizados Sistemas vivos (organismos) Sistemas organizacionais (organizações) Nascem, herdam traços estruturais. São organizados, constroem sua estrutura. Morrem, seu tempo de vida é limitado. Podem ser reorganizados, têm uma vida ilimitada e podem ser reconstruídos. Não podem transformar a própria estrutura. Podem transformar a própria estrutura – morfogênese. Concretos – elementos físicos e químicos. Abstratos – elementos psicológicos e sociológicos. Doença = distúrbio no processo vital. Problema = desvio nas normas sociais. Fonte: Chiavenato (2002, p. 479). Em resumo, Chiavenato (2002) afirma que um sistema aberto pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação e interdependência, constituindo um todo sinérgico, sendo o todo maior que a soma das partes, orientado para determinados propósitos ou comportamentos, em relação de interdependência com o ambiente externo. Essa visão diz respeito a uma abordagem sistêmica, por abordar as organizações como sistemas. A abordagem sistêmica representou grande avanço para a teoria administrativa, por disseminar a ideia de que cada organização é composta por diversas partes, que possuem funções específicas e interdependentes, mas também por permitir o estudo da interação entre organização e ambiente externo, fato importante para a compreensão dos processos de mudança e competitividade. 9 De acordo com Maximiano (2015), Bertalanffy propôs como características básicas da teoria dos sistemas: • tendência para a integração nas várias ciências naturais e sociais; • tal integração parece orientar-se para uma teoria dos sistemas; • essa teoria proporciona princípios unificadores que atravessam verti- calmente os campos científicos. As organizações possuem as características de sistemas abertos, conforme descrito por Chiavenato (2002), a saber: • Comportamento probabilístico e não determinístico: como todos os sistemas sociais, as organizações são consideradas sistemas aber- tos por serem influenciadas constantemente por fatores externos. Por esse motivo, seu comportamento não é totalmente previsível. • As organizações como partes de uma sociedade maior e constituídas de partes menores: como já visto anteriormente, as organizações são vistas como sistemas dentro de sistemas, em que os sistemas são considerados complexos e que interagem entre si. • Interdependência das partes: a organização é um sistema social com- posto por partes independentes, porém, inter-relacionadas. Ou seja, uma mudança ocorrida em uma das partes vai impactar as outras. Ne- nhuma parte pode ser mudada sem que haja efeito sobre as outras. • Homeostase ou “estado firme”: seria um estado de equilíbrio, quando a unidirecionalidade e o progresso são atingidos. • Unidirecionalidade ou constância de direção: quer dizer que, apesar das mudanças do ambiente, os mesmos resultados são alcançados, pois o sistema continua direcionado para o mes- mo objetivo. • Progresso em relação ao fim: o sistema mantém, em relação ao fim desejado, um grau de progresso dentro dos limites defini- dos como toleráveis. 10 Ainda sobre a homeostase, segundo Chiavenato (2002, p. 481), a organização precisa conciliar dois processos opostos e imprescindíveis para sua sobrevivência: • Homeostasia: é a tendência do sistema em permanecer em equilíbrio, mantendo-se inalterado. • Adaptabilidade: é a mudança do sistema a fim de se ajustar aos padrões requeridos em sua interação com o ambiente externo. • Fronteiras ou limites: é a linha que demarca e define o que está dentro e o que está fora do sistema ou subsistema, ou seja, nessa fronteira, mesmo não existindo fisicamente, há a possibilidade de um indivíduo participar de duas organizações simultaneamente, organização A e B, por exemplo. É por meio da fronteira que existe uma interface, que se trata de um canal entre diferentes componentes de um sistema por meio do qual a informação é transferida ou o intercâmbio de energia, matéria ou informação é realizado. (CHIAVENATO, 2002, p. 481). • Morfogênese: diferentemente dos sistemas mecânicos (uma máqui- na não pode mudar suas engrenagens) e dos sistemas biológicos (um animal não pode criar uma cabeça a mais), o sistema organizacional possui a capacidade de modificar a si próprio e sua estrutura por meio de um processo cibernético (os membros da organização comparam os resultados desejados com os resultados obtidos e, ao detectar er- ros, fazem a correção para modificar a situação). • Resiliência: segundo a linguagem científica, resiliência é a capacidade de superar um distúrbio imposto por um fenômeno externo. As organi- zações, consideradas um sistema aberto, são capazes de superar per- turbações externas provocadas pela sociedade, sem perder seu poten- cial. A resiliência determina o grau de defesa ou de vulnerabilidade do sistema a pressões ambientais externas. Na figura a seguir, é possível observar a resiliência da árvore para se adaptar ao ambiente e continuar sua jornada. 11 Figura 5.3: Exemplo de resiliência e adaptabilidade Fonte: Plataforma Deduca (2018). Os estudos de Bertalanffy foram adaptados para muitasciências naturais e humanas. No caso das ciências humanas/sociais, o chamado “modelo dos sistemas abertos” mostrou-se bastante profícuo em função de sua abrangência e flexibilidade. Nesse sentido, o conceito de ambiente, apresentado por Maximiano (2010, p. 221), é o seguinte: [...] ambiente do sistema é o conjunto de elementos que não pertencem ao sistema, mas qualquer alteração no sistema pode mudar seus elementos e qualquer alteração nos seus elementos pode mudar o sistema. Para melhor compreensão dos elementos básicos que integram todos os sistemas, bem como a interação entre esses elementos, veja a figura a seguir. Figura 5.4: Elementos do sistema Processo de transformação Controle e avaliação Entradas Saída Retroalimentação Objetivos Fonte: Maximiano (2010). 12 Já temos a visão do que é o sistema como um todo. Agora, vamos entender um pouco sobre cada parte que o constitui. • Objetivos: é a própria razão de ser do sistema, ou seja, é a finalidade para a qual o sistema foi criado. • Entradas (input): insumos, materiais e energia que são fornecidos ao sistema para que possa ocorrer o processamento e gerar um resultado ou produto. • Processo de transformação: transformação do insumo em produto. O processo é a maneira pela qual os elementos dos sistemas interagem no sentido de produzir a saída/produto. • Saída (output): são os resultados do processo de transformação. As saídas representam a consolidação dos objetivos do sistema e, nesse sentido, podem ser avaliadas para saber se os objetivos foram ou não cumpridos. • Controle e avaliação: trata-se de verificar se os objetivos foram cum- pridos. Para que possa ocorrer uma avaliação, é necessária a definição de uma medida de desempenho do sistema, uma medida padrão. • Retroalimentação (feedback): consiste em um processo de comunica- ção que reage a cada entrada de informação incorporada pelo sistema, gerando uma ação-resposta, bem como uma alteração no sistema. Se- ria o feedback do sistema. A retroalimentação visa manter o desempe- nho de acordo com o padrão ou critério escolhido. Ao ser apropriada pela Administração, a teoria dos sistemas permitiu que as organizações fossem vistas em sua totalidade, e não apenas no somatório de cada uma de suas partes. Assim, a partir dessa teoria, a organização passou a ser entendida como um conjunto de áreas ou setores que, de maneira separada, não sobrevivem. No entanto, estando unidos, têm o objetivo de manter a empresa viva e em condições de buscar cumprir seus objetivos organizacionais. 13 A teoria dos sistemas utiliza o conceito do “homem funcional” em contraste ao conceito do “homem econômico” da teoria clássica, do “homem social” da teoria das relações humanas, do “homem organizacional” da teoria estruturalista, do “homem administrativo” da teoria comportamental. Na teoria dos sistemas, o indivíduo se comporta em um papel dentro das organizações, inter-relacionando-se com os demais indivíduos, como um sistema aberto. (CHIAVENATO, 2002, p. 491). Essa teoria ampliou a visão acerca das problemáticas organizacionais, diferentemente da antiga abordagem dos sistemas fechados. Quando falamos em relações da equifinalidade, sinergia e entropia negativa, podemos utilizá-las em um contexto metafórico para compreendermos os pressupostos da atual administração nas organizações. Equifinalidade Figura 5.5: Equifinalidade Fonte: Plataforma Deduca (2018). Refere-se a um “sistema aberto, o resultado de seu funcionamento independe do ponto de partida, ou seja, o equilíbrio é determinado pelos parâmetros do sistema; diferentes condições iniciais geram igualdade de resultados e diferentes resultados podem ser gerados por diferentes condições iniciais.” (GOMES et al., 2014, p. 8). Sinergia Figura 5.6: Sinergia Fonte: Plataforma Deduca (2018). “A interação dos elementos do sistema é chamada de sinergia.” (GOMES et al., 2014, p. 8). 14 Entropia Figura 5.7: Entropia Fonte: Plataforma Deduca (2018). “A entropia é a desordem ou ausência de sinergia. Um sistema pára de funcionar adequadamente quando ocorre entropia interna” (GOMES et al., 2014, p. 8). Ao mesmo tempo em que esses três conceitos estão inter-relacionados, percebemos que também têm uma ligação direta com os elementos que compõem o sistema. Com isso, nos levam a compreender os pressupostos da administração nas organizações nos dias de hoje. 1.2 Aplicação da teoria dos sistemas nas organizações Segundo Maximiano (2015), a abordagem sistêmica contribuiu de maneira decisiva para a evolução do pensamento administrativo. Dentre as contribuições, está a facilitação: • do estabelecimento dos objetivos organizacionais; • de uma análise mais estruturada da organização como um todo: de suas partes e de seu ambiente. Para Maximiano (2010, p. 228), o Sistema de Informações Gerenciais (SIG) “é o processo de transformação de dados em informações que são utilizadas na estrutura decisória da empresa, proporcionando, ainda, a sustentação administrativa para aperfeiçoar os resultados esperados”. Além disso, o gerente precisa estar ciente de que o SIG se presta a fornecer informações seguras para as tomadas de decisões que resultem nos objetivos estabelecidos. Cabe observar também que o SIG pode contribuir para trazer uma grande vantagem competitiva à organização, à medida que propicia a integração de todos os subsistemas 15 principais em um único sistema. Em função disso, necessita incorporar informações necessárias para o planejamento e o controle, buscando sempre a maior proximidade com o processo decisório, conforme esquematizado a seguir. Figura 5.8: Interação da informação com o processo decisório Ação corretiva necessária Comparação com os padrões Efeito sobre empresa Efeito sobre ambiente (externo) Tomada de decisão Informação relevantes para decisões Fontes de informação externa Fontes de informação interna Fonte: Maximiano (2010). Para Maximiano (2010), a tomada de decisão significa a transformação das informações analisadas em ação. Os desafios impostos conduzem os gerentes a buscarem informações que representem a realidade das organizações, para que o processo decisório seja efetuado de forma eficaz e contribua para o alcance dos objetivos estabelecidos. São vários os elementos que compõem o processo decisório, tais como: condições de incerteza, riscos, objetivos almejados, melhor estratégia, dentre outros. Maximiano (2015) entende que o processo decisório compreende as seguintes fases, representadas na figura a seguir: 16 Figura 5.9: Fases do processo decisório Escolha: julgamento e avaliação de alternativas Frustração, ansiedade, dúvida, curiosidade Diagnóstico: busca de entendimento Concepção de alternativas: processo criativo Problema Diagnóstico Alternativas De cis ão Avaliação Fonte: Maximiano (2015, [s.p.]). Dessa forma, destacam-se as seguintes fases: • identificação do problema ou oportunidade; • diagnóstico; • geração de alternativas; • escolha de uma alternativa; • avaliação da decisão. 17 Segundo Maximiano (2010), o SIG apresenta uma variedade de benefícios às organizações, tais como: • redução dos custos das operações; • melhoria no acesso às informações, pois estão todas na máquina, dis- poníveis para consulta; • melhoria nos serviços realizados e oferecidos, pois o SIG possibilita que a organização conheça os gostos e as preferências dos clientes; • ligação entre empresa e fornecedor, facilitando e agilizando pedidos; • melhoria nas tomadas de decisões, devido a informações mais rápidas e precisas; • aumento do nível de motivação das pessoas envolvidas, em função da diminuição do trabalho e do volume de papéis a serem manipulados. Os benefícios citados por Maximiano (2010) nos revelam a importância de um bom sistema de informação gerencial para as organizações. Assim, é possível perceber que o SIG vai além de ser apenas um sistema de coleta de dados. Ele é um grande auxiliador dastomadas de decisões e do cumprimento dos objetivos organizacionais. Interessante as metáforas que Gareth Morgan tece sobre as organizações poderem ser “lidas” como máquinas, como organismos, como cérebros, como culturas, dentre outras. Para conhecer essa visão do autor, acesse: <https://pt.slideshare.net/ ALevy/imagens-da-organizao-de-gareth-morgan>. Curiosidade 18 2.1 Teoria neoclássica da administração No início dos anos 1950, a teoria administrativa passou por uma remodelação. Nessa época, estava terminando a Segunda Guerra Mundial, e o mundo passava por um surto de desenvolvimento econômico e industrial, com surgimento da televisão, do motor a jato etc. A partir daí, o mundo organizacional, com certeza, não seria mais o mesmo. Figura 6.1: Remodelação da teoria administrativa nos anos 1950 Fonte: Plataforma Deduca (2018). Considerando esse contexto, aqui faremos uma lembrança. Coelho (2007, p. 25) destaca que [...] as empresas, tal qual as conhecemos hoje, surgiram após a Revolução Industrial. Tão logo a máquina começou a auxiliar o homem no processo produtivo, as empresas começaram a crescer. Esse foi um fenômeno novo para o mundo daquela época, mas a lógica que impulsionou o crescimento das primeiras organizações empresariais era muito simples. O trabalho do artesão foi substituído pela máquina, inicialmente na fiação e na tecelagem dos fios de algodão e, depois, gradativamente, em quase todos os tipos de fabricação. Chiavenato (2014, p. 497) define a teoria neoclássica como um retorno à premissa clássica, por meio de uma perspectiva de inovação e de adaptação às mudanças, com a utilização de princípios que podem ser universalmente aplicados, realçando a administração como um conjunto de processos básicos que visam à eficiência e à eficácia dos objetivos organizacionais. 19 Chiavenato (2014) apresenta a teoria neoclássica como uma abordagem fundamentada em velhos conceitos, realçando princípios básicos e focando na eficiência e na eficácia dos objetivos organizacionais. Atenção Chiavenato (2014, p. 150) ressalta ainda que a abordagem neoclássica está fundamentada nos elementos apresentados no quadro a seguir. Quadro 6.1: Fundamentos da abordagem neoclássica 1 A administração é um processo operacional composto por funções como: • planejamento; • organização; • direção; • controle. 2 Como a administração envolve uma variedade de situações organizacionais, precisa se fundamentar em princípios básicos que tenham valor preditivo. 3 A administração é uma arte que, como a medicina ou a engenharia, deve se apoiar em princípios universais. 4 Os princípios da administração, a exemplo dos princípios das ciências lógicas e físicas, são verdadeiros. 5 A cultura e o universo físico e biológico afetam o meio ambiente do administrador. Como ciência ou arte, a teoria da administração não precisa abarcar todo o conhecimento para servir de fundamentação científica aos princípios de administração. Fonte: Chiavenato (2014, p. 150). A partir dessa introdução sobre a teoria neoclássica, apresentaremos, a seguir, as características dessa abordagem. 20 2.1.1 Características da teoria neoclássica A teoria neoclássica apresenta alguns conceitos administrativos, conforme destacamos no Quadro 6.2. Quadro 6.2: Conceitos administrativos da teoria neoclássica Planejamento Organização Direção Controle Nesta etapa, são definidas as atividades a serem realizadas, bem como quais serão os resultados a serem alcançados. Essa etapa consiste em organizar os recursos disponíveis. São distribuídas tarefas e recursos materiais entre os membros da organização. Essa função consiste em dirigir a execução do que foi planejado. Analisar os resultados obtidos, monitorando as atividades e determinando se a organização está no caminho correto para atingir suas metas. Fonte: Elaborado pelas autoras (2018). A teoria neoclássica nunca descuidou dos conceitos teóricos da administração. Segundo Chiavenato (2014), os autores neoclássicos desenvolveram seus conceitos de forma prática e utilizável. Observe a seguir os tipos de organização formal, que têm como base a lógica e a racionalidade. Organização linear • Autoridade linear e única. • Linhas formais de comunicação. • Centralização das decisões. • Aspecto piramidal. Organização funcional • Autoridade funcional e dividida. • Linhas diretas de comunicação. • Descentralização das decisões. • Ênfase na especialização. 21 Organização linha-staff • Fusão da estrutura linear com a funcional. • Comunicações tanto formais como diretas. • Separação entre operação e suporte. • Hierarquia x especialização. Funções de staff • Prestação de serviços. • Consultoria e assessoria. • Apoio e suporte. • Monitoração. • Planejamento e controle. Apreciação crítica dos tipos de organização • Falta de flexibilidade. • Conservantismo. • Introspecção. • Nenhuma preocupação com o mundo exterior. Chiavenato (2014) resume também as principais características da teoria neoclássica: • Ênfase na prática da administração: a teoria neoclássica tem como base a ênfase nos aspectos práticos da administração, tendo desen- volvido seus conceitos de modo a facilitar sua aplicação. • Reafirmação relativa dos postulados clássicos: de acordo com Chia- venato (2014), a teoria neoclássica foi uma reação à enorme influência das ciências do comportamento no campo da administração. Uma das grandes características dos neoclássicos é colocar todas as coisas em seus devidos lugares. Para atingir esse objetivo, utilizaram grande parte da teoria clássica, mas reestruturando de acordo com as necessidades da época, por meio de uma configuração mais ampla e mais flexível. 22 • Ênfase nos princípios gerais da administração: os autores neoclássi- cos se preocuparam em estabelecer os princípios gerais utilizados na administração, pois são esses os princípios capazes de orientar o ad- ministrador no desenvolvimento de suas funções (planejar, organizar, dirigir, controlar etc.). • Ênfase nos objetivos e resultados: de acordo com Chiavenato (2014, p. 155), toda organização existe para alcançar objetivos e produzir resul- tados, e é em função deles que a organização deve ser dimensionada, estruturada e orientada. • Ecletismo nos conceitos: apesar de ter como base a teoria clássica, a abordagem neoclássica também absorveu alguns elementos de outras teorias administrativas mais recentes. • Quanto aos objetivos: as organizações não vivem para si, são meios, órgãos sociais que visam à realização de uma tarefa social. A sobrevi- vência – típica da espécie biológica – não é um objetivo adequado. Os objetivos de uma organização estão fora dela, e são sempre uma con- tribuição específica para o indivíduo e a sociedade. Se as organizações não definirem claramente seus objetivos, não terão como avaliar seus resultados. • Quanto à administração: as organizações são diferentes em seus obje- tivos e propósitos, mas possuem algumas semelhanças, por exemplo: exigem que muitas pessoas atuem em conjunto para a realização de um resultado comum. 23 2.2 Implicações da teoria neoclássica A demasiada ênfase na estrutura organizacional é uma das características marcantes da teoria neoclássica. Chiavenato (2014) explica que cada organização cria uma estrutura específica em função de seus objetivos, de seu tamanho, da conjuntura que atravessa e da natureza dos produtos que fabrica ou dos serviços que presta. Nesse sentido, não há duas organizações idênticas. Apesar de todas as diferenças, os autores clássicos e neoclássicos definiram três tipos tradicionais de organização: linear, funcional e linha-staff. Cada tipo tem sua racionalidade. Raramente, são encontrados em seu estado puro, isto é, dentro do modelo teórico apresentado, de modo que seus conceitos devem ser considerados com bastante relatividade. A seguir, vamos apresentar cada tipo de organização. 2.2.1 A organização linear É a forma estrutural mais simples e antiga, tendo suaorigem na organização dos antigos exércitos e na organização eclesiástica dos tempos medievais. Há aqui o princípio da autoridade linear, que utiliza linhas diretas e únicas de autoridade, bem como a responsabilidade entre superior e subordinado. As linhas de comunicação são rigidamente estabelecidas quando cada gerente recebe e transmite tudo o que se passa na sua área de competência. Conforme Chiavenato (2014, p. 188), esse tipo de organização possui as seguintes características: • Autoridade linear ou única: cada subordinado se reporta única e exclu- sivamente ao seu superior direto e recebe ordens apenas dele. A auto- ridade linear é uma autoridade de comando. • Linhas formais de comunicação: as comunicações entre órgãos ou cargos são feitas unicamente por meio das linhas existentes no orga- nograma. Todo órgão ou cargo (com exceção daquele situado no topo e no rodapé do organograma) possui dois terminais de comunicação: um orientado para cima, que o liga exclusivamente ao órgão ou cargo superior (representando sua responsabilidade), e outro orientado para baixo, que o liga exclusivamente ao órgão ou cargo diretamente subor- dinado (representando sua autoridade). 24 • Centralização das decisões: a autoridade linear centraliza o comando de toda a organização no topo do organograma, e os canais de respon- sabilidade são conduzidos por meio dos níveis hierárquicos, de forma convergente, até ali. • Aspecto piramidal: a organização linear apresenta um formato pira- midal devido à centralização da autoridade no topo da organização e da autoridade linear de cada superior em relação aos subordinados. À medida que a escala hierárquica sobe, o número de cargos ou órgãos diminui. Figura 6.2: Funções básicas na organização linear de uma pequena empresa Empresa industrial Produção Vendas Finanças Fonte: Chiavenato (2014). 2.2.1.1 Vantagens da organização linear Chiavenato (2014) lista as vantagens da organização linear: • É uma estrutura simples e de fácil compreensão: devido ao pequeno número de cargos ou órgãos, o subordinado só se relaciona formal- mente com seu supervisor. As opções de comunicação e de relações formais são mínimas e restritas. • Clara delimitação das responsabilidades dos órgãos e notável precisão da jurisdição: atribuições e responsabilidades são claramente definidas e delimitadas, isto é, nenhum órgão ou cargo intervém em área alheia. • Facilidade de implantação: o pequeno número de relações formais, a estrutura simples e a clara delimitação das responsabilidades elimi- nam qualquer dificuldade em fazer funcionar esse tipo de organização. 25 • Estabilidade: graças à centralização do controle (decisões de um lado e rígida disciplina de outro), o funcionamento fica mais fácil de entender. • Tipo de organização indicado para pequenas empresas: pela facilidade de sua operacionalização e pela economia de sua estrutura simples. 2.2.1.2 Desvantagens da organização linear Chiavenato (2014) também nos apresenta as desvantagens e as limitações da organização linear: • Estabilidade e constância das relações formais: a rigidez e a inflexi- bilidade da organização linear dificultam a inovação e a adaptação a novas situações ou a condições externas. • Autoridade linear baseada no comando único e direto: devido à rigidez, pode bitolar as pessoas, dificultando a cooperação e a iniciativa. • Exagero na função de chefia e de comando: como cada chefe se trans- forma em uma espécie de gargalo de entrada e de saída de comuni- cações, ele se torna generalista e não pode se especializar em nada, assumindo todos os assuntos de sua área, tanto principais como se- cundários. • A empresa cresce e a organização linear provoca o congestionamento das linhas formais de comunicação, principalmente na cúpula que cen- traliza as informações. Por essas comunicações serem lineares, tor- nam-se demoradas, sujeitas a intermediários e a distorções. 2.2.2 A organização funcional A organização funcional aplica a especialização de funções, em que o mestre de produção vira um especialista em assuntos da área, deixando de ser procurado pelos operários para cuidar de outros problemas. 26 Figura 6.3: Organização funcional Fonte: Plataforma Deduca (2018). Chiavenato (2014) destaca que o princípio funcional separa, distingue e especializa, sendo este o germe do staff. Você entende que a especialização de cargos conseguiu diminuir os problemas das organizações? Você concorda com a afirmação de Chiavenato (2014), segundo a qual o princípio funcional separa, distingue e especializa, sendo este o germe do staff? Reflita 27 2.2.2.1 Características da organização formal Chiavenato (2014) define as características da organização formal: Autoridade funcional ou dividida Na organização funcional, existe a autoridade funcional ou dividida, que é relativa e baseada na especialização. É uma autoridade do conhecimento. Nada tem de linear, de hierárquica ou de comando. Cada subordinado se reporta a muitos superiores, de modo simultâneo, porém, somente nos assuntos da especialidade de cada um. Nenhum superior tem autoridade total sobre os subordinados, mas parcial e relativa, decorrente de sua especialidade. Isso representa uma negação do princípio da unidade de comando ou da supervisão única, tão importante para Fayol. Linhas diretas de comunicação As comunicações entre os órgãos ou cargos na organização são efetuadas diretamente, sem necessidade de intermediação. A organização funcional busca maior rapidez nas comunicações entre os diferentes níveis. Descentralização das decisões As decisões são delegadas a órgãos ou cargos especializados que possuem o conhecimento necessário para melhor implementá-las. Não é a hierarquia, mas, sim, a especialidade que promove as decisões. A organização funcional caracteriza-se pela descentralização, ou seja, pelo deslocamento e pela distribuição das decisões aos órgãos ou cargos adequados para sua tomada e implementação. Ênfase na especialização A organização funcional prima pela especialização de todos os órgãos ou cargos, em todos os níveis da organização. Há uma separação das funções de acordo com as especialidades envolvidas. Cada órgão ou cargo contribui com sua especialidade para a organização. As responsabilidades são delimitadas de acordo com as especializações. 28 2.2.2.2 Vantagens da organização funcional Sobre as vantagens da organizacional funcional, Chiavenato (2014, p. 192) afirma: • Proporciona o máximo de especialização nos diversos órgãos ou car- gos da organização. Isso permite a cada órgão ou cargo concentrar- -se total e unicamente sobre seu trabalho e sua função, livre de todas as demais tarefas acessórias ou subsidiárias. • Permite a melhor supervisão técnica possível, com especialização em todos os níveis, pois cada órgão ou cargo reporta-se a experts em seu campo de especialização. • Desenvolve comunicações diretas, sem intermediação, mais rápidas e menos sujeitas a distorções de transmissão. A organização funcional permite contatos diretos entre os órgãos ou cargos interessados, sem necessidade de seguir os canais formais e indiretos de comunicação. • Separa as funções de planejamento e de controle das funções de exe- cução. Há especialização do planejamento e do controle, bem como da execução, permitindo uma concentração maior em cada atividade, sem necessidade de voltar a atenção para as demais. O órgão que faz o pla- nejamento realiza essa atividade para todos os demais órgãos. O órgão que executa só faz a execução. Cada órgão realiza especificamente sua atividade, sem ter de acompanhar os demais. 2.2.2.3 Desvantagens da organização funcional • Diluição e consequente perda da autoridade de comando: a obediência e a disciplina, aspectos da organização linear, como não são o ponto forte da organização funcional, trazem como consequência a dificulda- de dos órgãos ou cargos superiores em controlar o funcionamento dos órgãos ou cargos inferiores. • Subordinaçãomúltipla: existe perigo de o subordinado buscar orienta- ção do especialista menos indicado para o problema, causando perda de tempo e confusões imprevisíveis. 29 • Tendência à concorrência entre os especialistas: levando-se em consi- deração que os órgãos ou cargos são de especialidade nas atividades, a tendência é a imposição do ponto de vista do especialista à organiza- ção. Isso gera uma tendência para a competição e concorrência entre os especialistas, ocasionando distorções danosas à organização. • Tendência a tensões e conflitos dentro da organização: a competição e a concorrência entre os especialistas podem ocasionar tensões e conflitos dentro da organização. Com base no que apresentamos sobre organização funcional e organização linear, Chiavenato (2014, p. 193) ilustra as principais diferenças entre elas. Observe a figura a seguir: Figura 6.4: Diferenças entre organização linear e organização funcional • Princípio funcional • Autoridade funcional ou dividida ou variedade de comando • Especialização • Princípio da autoridade linear • Autoridade única ou unidade de comando • Generalização Organização linear Organização funcional Fonte: Chiavenato (2014, p. 193). 30 2.2.3 A organização linha-staff É o resultado dos tipos de organização linear e funcional. Seu objetivo é incrementar as vantagens e reduzir as desvantagens entre esses dois tipos de organização, a fim de alcançar um tipo organizacional mais completo e complexo. Figura 6.5: A assessoria linha-staff Fonte: Plataforma Deduca (2018). Na organização linha-staff, os órgãos mantêm relação entre si. Os órgãos de linha e os de assessoria têm como característica a autoridade linear e o princípio escalar, enquanto os órgãos de staff prestam assessoria e serviços especializados. Chiavenato (2014, p. 194) descreve os critérios existentes para distinguir os órgãos de linha dos órgãos de staff: Relacionamento com os objetivos da organização Segundo esse critério, as atividades de linha estão direta e intimamente ligadas aos objetivos básicos da organização ou do órgão do qual fazem parte, e as atividades de staff estão ligadas a eles indiretamente. Podemos exemplificar: se o objetivo principal da organização é produzir, somente a área de produção é considerada de linha, e todas as demais de staff; no entanto, se o objetivo da organização também é vender, a área de vendas também é considerada de linha, juntamente à área de produção, representando as atividades básicas da empresa, a atividade-fim. Todas as demais serão de staff, entendidas como complementares, as atividades-meio. 31 Tipos de autoridade Nesse caso, os órgãos de linha têm autoridade para decidir e executar as atividades principais ou vinculadas diretamente aos objetivos da organização (autoridade linear); já os órgãos de staff têm a autoridade de assessoria, planejamento, controle, consultoria e recomendação (autoridade funcional). Listamos no quadro a seguir as quatro principais funções de staff. Quadro 6.3: Principais funções de staff 1 Serviços Atividades especializadas como: contabilidade, compras, pessoal, pesquisa e desenvolvimento, processamento de dados, propaganda etc. Atividades realizadas e executadas pela linha de staff. 2 Consultoria e assessoria Atividades especializadas como: assistência jurídica, métodos e processos, consultoria trabalhista oferecida pela linha de staff (como orientação e recomendação). 3 Monitoração O staff geralmente é responsável por levantamento de dados, elaboração de pesquisas e relatórios, acompanhamento de processos etc. Não intervém nem influencia na atividade exercida. 4 Planejamento e controle As atividades de planejamento e de controle são delegadas aos órgãos de staff. São exemplos: planejamento e controle financeiro ou orçamentário, planejamento e controle de produção, planejamento e controle de manutenção de máquinas e equipamentos etc. Fonte: Chiavenato (2014). 2.2.3.1 Características da organização linha-staff As características desse tipo de organização são mais complexas, conforme apresentadas a seguir: 32 • Na organização linha-staff, existem, simultaneamente, características lineares e funcionais, em que cada órgão se reporta apenas a um órgão superior: esse princípio é chamado de autoridade única ou unidade de comando, típico da organização linear. No entanto, cada órgão recebe também a assessoria e os serviços especializados de diversos órgãos de staff. Existirá sempre uma autoridade funcional de um órgão de staff em relação aos demais órgãos da organização. • A rede de comunicações da organização linha-staff é formada por: li- nhas formais de autoridade e de responsabilidade lineares e linhas di- retas de assessoria e prestação de serviços de staff. • Separação entre os órgãos operacionais (linha) – os órgãos executivos das operações básicas da organização – e os órgãos de apoio (staff) – órgãos de assessoria e consultoria que prestam serviços internos e se dedicam a atividades que requerem estudo e pesquisa e concentram sua atenção em assuntos de planejamento e solução de problemas do negócio ou organização. • Há forte predominância de aspectos lineares na organização linha-s- taff, pois estes mantêm o princípio da hierarquia (cadeia escalar), ni- velando graus de autoridade, sem deixar de lado a especialização. A função da hierarquia (linha) assegura a disciplina e o comando, en- quanto a parte especializada (staff) fornece os serviços de consultoria e assessoria. 33 2.2.3.2 Vantagens da organização linha-staff Sobre as vantagens da organização linha-staff, destacamos: • Os órgãos de staff promovem serviços especializados, considerados fatores importantes para um contexto de competição e especialização. Os especialistas não podem interferir na autoridade dos órgãos para os quais prestam serviços e assessoria, tendo a vantagem de oferecer os serviços de assessoria, com predomínio da estrutura linear, conser- vando o princípio da autoridade única. Chiavenato (2014) afirma que os especialistas prestam serviços, mas os serviços que oferecem são apenas recomendados e não precisam ser aceitos quando a linha pode adotá-los à sua maneira. Assim, o staff alivia a linha das tarefas aces- sórias e especialistas, permitindo-lhe concentrar-se em suas princi- pais atividades e responsabilidades. • A atividade acontece conjuntamente e coordenadamente entre os ór- gãos de linha e de staff. Os órgãos de linha são responsáveis pelas atividades básicas da organização (produzir e vender); já a execução dos serviços especializados (financiar, comprar, gerir recursos huma- nos, planejar e controlar etc.) fica sob a responsabilidade dos órgãos de staff. 2.2.3.3 Desvantagens da organização linha-staff Chiavenato (2014, p. 199) apresenta as desvantagens e as limitações da organização linha-staff: • Existência de conflitos entre os órgãos de linha e de staff. Como o asses- sor de staff não tem autoridade linear sobre os executores e o gerente de linha não tem tempo nem preparo profissional para se especializar, surgem conflitos entre linha e staff, com as seguintes características: a. O assessor de staff é um técnico com preparo profissional, e o homem de linha é um homem de prática. Um trabalha com o co- nhecimento e o outro com a experiência. 34 b. O assessor tem melhor formação escolar, mas menor experiência. O homem de linha subiu na hierarquia por conta da experiência adquirida ao longo dos anos. Essa diferença de formação e de ida- de ocasiona a rejeição de ideias do staff pelo pessoal de linha. c. O pessoal de linha pode acreditar que os assessores pretendem roubar cada vez mais a autoridade, a fim de aumentar o seu pres- tígio e a sua posição. Essa situação propicia o surgimento de con- flitos, pois, diante de qualquer dificuldade, o assessor pode asse- gurar que seu plano falhou devido à falta de habilidade do pessoal da linha de execução; por sua vez, o pessoal da linha de execução pode argumentar que o plano erateórico e que não tinha chance de dar certo. • A organização linha-staff pode acarretar inevitáveis conflitos e distor- ções, pois os especialistas costumam forçar suas sugestões e impor suas ideias, provocando, com isso, o enfraquecimento da linha ou a divisão de autoridade. Esses conflitos e distorções podem ser evitados, se os especialistas tiverem seu campo de ação definido e delimitado. • O pessoal de linha tem preocupação com os custos financeiros da con- tribuição do staff. Isso leva os assessores a apresentarem trabalho na forma de planos e ideias com o objetivo de justificar o seu custo. Pode- mos entender esses conflitos de duas maneiras: danosos, quando pro- vocam ações negativas ou sabotadoras; ou úteis e positivos, quando trazem uma competição sadia, o desejo de cooperar, a troca de ideias e experiências. Existe um confronto organizacional entre o pessoal de linha e o staff, um julgando o outro com relação a ser custo para a empresa. Temos de entender que cada área de staff possui utilidade dentro da corporação. Curiosidade Para complementar nossos estudos sobre as estruturas dos diferentes tipos de organização, observemos a figura a seguir. 35 Figura 6.6: Diferenças entre estrutura linear, funcional e linha-staff Estrutura linear Estrutura funcional Estrutura linha-staff Diretor Diretor Diretor Gerência Gerência Gerência Gerência GerênciaStaff Execução Execução Execução Execução ExecuçãoAssessoria Predomínio da autoridade linear Predomínio da autoridade funcional Combinação de autoridade linear e autoridade funcional Fonte: Chiavenato (2014, p. 199). 36 Síntese Nesta unidade, aprendemos que: • Sistema é um conjunto de partes integrantes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário, com determinados objetivos, efetuando determinadas funções. • A teoria dos sistemas pressupõe que a organização seja vista como um sistema composto basicamente por objetivos, entradas, processa- mento, saídas e retroalimentação. • Há uma relação entre equifinalidade, sinergia e entropia, o que nos leva a um novo olhar sobre as organizações contemporâneas. Aprendemos também sobre a teoria neoclássica da administração, vimos especialmente: • características da teoria neoclássica, com ênfase na prática da admi- nistração; • reafirmação relativa dos postulados clássicos; • ênfase nos princípios gerais da administração e nos objetivos e resul- tados; • ecletismo nos conceitos. E estudamos qual é a implicação da teoria neoclássica, bem como suas formas de atuação, sendo: • organização linear; • organização funcional; • organização linha-staff. 37 Referências CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. São Paulo: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. COELHO, M. A essência da administração: conceitos introdutórios. São Paulo: Saraiva, 2007. ______. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. GOMES, L. B. et al. As origens do pensamento sistêmico: das partes para o todo. Pensando famílias, v. 18, n. 2, p. 3-16, 2014. Disponível em: <http://bit.ly/2u1sUp8>. Acesso em: 8 jul. 2018. MAXIMIANO, A. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ______. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. A abordagem comportamental da administração UNIDADE 4 SST Copyright © 2023. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. A abordagem comportamental da administração 3 Apresentação da unidade Nesta unidade, você vai estudar os princípios da teoria comportamental, desde seu idealizador, Herbert Simon, até seus principais pesquisadores: Abraham Maslow, Frederick Herzberg e Douglas McGregor. Apresentaremos as principais diferenças entre a teoria das necessidades básicas, a teoria dos dois fatores (higiênicos e motivacionais) e as teorias X e Y. Estudaremos a origem e os principais conceitos relacionados à abordagem contingencial das organizações. Por meio de uma perspectiva teórica, veremos que não existe uma única e melhor maneira de administrar e de organizar. Conheceremos também que fatores como o ambiente externo e a tecnologia influenciam fortemente uma organização, bem como as pessoas que nela trabalham e sua estrutura. Bons estudos! 4 1.1 A teoria comportamental nas organizações A teoria comportamental, também conhecida como teoria behaviorista da administração, emergiu em meados do século XX, com objetivo de oferecer uma nova direção à teoria administrativa, no que diz respeito ao estudo dos indivíduos no âmbito do contexto organizacional. Os principais representantes dessa abordagem são: • Abraham Maslow. • Kurt Lewin. • Douglas McGregor. • Herbert Simon. • Rensis Likert. • Chris Argyris. Sobre os idealizadores da teoria comportamental, veja o quadro a seguir. Quadro 7.1: Idealizadores e contribuições da teoria comportamental Idealizadores Ano Principais contribuições Herbert Alexander Simon 1947 Desenvolveu uma ciência do comportamento isenta da consideração dos valores. Abraham Maslow 1954 Criou o modelo de “hierarquia de necessidades” para explicar as origens da motivação humana (estudo revisto e consolidado em 1970). Frederick Herzberg 1959 Estudou a motivação no trabalho, separando os “fatores de higiene” – que estão fora do controle dos funcionários – e os “fatores de motivação” – que estão sob controle dos funcionários. Também estruturou o processo de enriquecimento de tarefas. Douglas McGregor 1960 Estudou duas formas opostas de administrar: “teoria X” – mecanicista e pragmática – e “teoria Y” – comportamento humanístico. 5 Idealizadores Ano Principais contribuições David Clarence McClelland 1961 Estabeleceu que o clima organizacional é resultante dos estilos de liderança e de administração, bem como da estrutura organizacional. Chris Aryris 1962 Interligou a competência interpessoal e a afetividade das organizações. William Ouchi 1982 Estabeleceu a “teoria Z”, segundo a qual o envolvimento e a participação seriam a chave do aumento da produtividade. Fonte: Maximiano (2010). Nesta unidade, dos representantes dessa teoria, estudaremos apenas seu idealizador, Herbert Simon (1947), além de Abraham Maslow, Frederick Herzberg e Douglas McGregor (1954 a 1960). A seguir, conheceremos as origens das principais contribuições da corrente comportamentalista para a ciência da administração. 1.1.1 Origens da teoria comportamentalista O movimento behaviorista, ou comportamentalista, surgiu como uma espécie de contraposição à escola das relações humanas, com base na recusa da concepção de que a satisfação do trabalhador geraria, de forma intrínseca, eficiência no trabalho. Assim, conforme a teoria comportamentalista, nem sempre os funcionários seguem comportamentos racionais ou fundamentados na satisfação, o que exigiu a elaboração de uma nova teoria administrativa sobre o comportamento humano. (MAXIMIANO, 2015). De acordo com os preceitos da teoria comportamental, o gerente precisa conhecer as necessidades das pessoas, compreender o comportamento humano e motivar os funcionários. A teoria comportamental propôs também a valorização do trabalhador, em qualquer organização, por meio de um novo entendimento sobre as relações humanas no âmbito dos estudos da administração. Nesse sentido, foi influenciada por outras ciências, tais como antropologia, psicologia e sociologia. Saiba que os conceitos adquiridos dessas áreas foram adaptados para a administração, fornecendo uma visão mais ampla sobre o que motivaria as pessoas a se comportarem de determinado modo, conforme situações específicas. 6 Vamos conhecer um dos principais idealizadores dessa abordagem? Herbert Alexander Simon, principal idealizador da teoria comportamental, nasceu em 15 de junho de 1916, nos Estados Unidos. Desde criança, demonstrava grande interesse pela ciência, devidoà influência de um tio, estudioso de economia. Figura 7.1: Herbert Alexander Simon Fonte: Wikiberal ([s.d.]). Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Chicago, onde estudou ciências sociais e matemática. Seus estudos sobre a decisão e o comportamento humano influenciam o campo da administração até hoje. Para esse teórico, administrar significa tomar decisões. Assim sendo, Simon contribuiu expressivamente para a análise do processo decisório nas organizações. (MAXIMIANO, 2015). 1.1.2 Origem e conceitos do Desenvolvimento Organizacional (DO) A partir da teoria comportamental, a intensa concorrência no ambiente econômico passou a exigir das organizações esforços crescentes em relação a aprendizado e a planejamento. Nesse cenário turbulento, uma das forças em transformação é o papel exercido pelos profissionais dentro das organizações. Foi nesse contexto de instabilidades e de mudanças que emergiu, a partir da década de 1960, o conceito de Desenvolvimento Organizacional (DO), articulando um conjunto de teorias a respeito do homem, das organizações e do ambiente. 7 O movimento do Desenvolvimento Organizacional, conforme Chiavenato (2002), decorreu da teoria comportamental, opondo-se aos defensores do mecanicismo organizacional, que tratavam os processos organizacionais de maneira isolada e estática. Assim, para Chiavenato (2014), os precursores do Desenvolvimento Organizacional adotaram uma posição antagônica em relação ao conceito tradicional de organização, salientando as diferenças fundamentais existentes entre os sistemas mecânicos e os sistemas orgânicos. Nesse sentido, o DO buscou aplicar o conhecimento e as técnicas de ciências do comportamento humano para melhorar tanto o desempenho das organizações quanto a vida das pessoas que nelas trabalham. Essa ferramenta de gestão visava ao estudo do processo de mudança planejada das organizações, que são entendidas como sistemas sociais complexos, caracterizadas por processos e estruturas. (SILVA, 2008). Desse modo, é importante entendermos o que significa mudança organizacional. Figura 7.2: Conceito de mudança Mudança organizacional Alterações no ambiente de trabalho (visão sociotécnica) Fonte: Silva (2008). Para Silva (2008), a mudança organizacional consiste em um conjunto de alterações na situação ou no ambiente de trabalho de uma organização, considerando fatores técnicos, sociais e culturais. De maneira sucinta, desenvolvimento organizacional pode ser entendido como mudança organizacional planejada, visando a “[...] um conjunto de alterações no ambiente de trabalho de uma organização”. (SILVA, 2008, p. 373). Sobre o conceito de Desenvolvimento Organizacional, Bennis (1969 apud SILVA, 2008, p. 374) diz o seguinte: [...] Desenvolvimento Organizacional é uma estratégia educacional adotada para trazer à tona uma mudança organizacional planejada, exigida pelas demandas organizacionais e que enfatiza comportamento com base da experiência. Para melhor compreensão dessa ideia, observe a figura a seguir. 8 Figura 7.3: Conceito de Desenvolvimento Organizacional Desenvolvimento Organizacional Estratégia educacional Mudança planejada Comportamento baseado na experiência Fonte: Silva (2008). O Desenvolvimento Organizacional (DO) é um processo de mudança planejada, envolvendo todos que trabalham na organização. Segundo a teoria X, as pessoas são resistentes a mudanças; já para a teoria Y, as pessoas assumem responsabilidade pela necessidade de mudanças. Estudaremos essas teorias mais adiante. No entanto, comece a refletir sobre a seguinte questão: qual dessas duas teorias corresponde a um DO eficaz? Reflita Para Silva (2008), é importante ficar atento aos tipos de alterações no ambiente de trabalho que caracterizam o DO. Esse autor explica que existem pelo menos dois tipos fundamentais de alterações que merecem atenção, quais sejam: estruturais e comportamentais. Nesse caso, cabe sublinhar que esses tipos de alterações são interdependentes, pois uma mudança de comportamento leva, necessariamente, a uma mudança organizacional, e vice-versa. Por isso, os gestores precisam estar atentos para tirar o melhor proveito possível das situações de mudança. Silva (2008, p. 364) indica que os gestores atentem para as etapas do Desenvolvimento Organizacional, conforme figura a seguir. 9 Figura 7.4: Etapas do Desenvolvimento Organizacional Planejamento da ação (métodos de mudança, sequência) Implementação e follow-up Avaliação Situação real Diagnóstico Situação desejada Fonte: Adaptada de Silva (2008). Vamos entender melhor essas etapas? Silva (2008) caracteriza essas etapas como diagnóstico, planejamento de ação, implementação e avaliação de resultados. Diagnóstico Identificação do problema e das expectativas relacionadas à sua resolução. O objetivo dessa etapa é fornecer uma situação inicial da organização. Planejamento de ação A definição das estratégias de mudança deve ter como base o diagnóstico realizado. Assim, o plano de ação deve levar em consideração as metas, os prazos e os resultados esperados. Implementação Compreende a aplicação dos procedimentos necessários para colocar em prática o planejamento. 10 Avaliação de resultados É a última etapa e consiste em comparar o desempenho antes e depois do processo de mudança. Portanto, identificamos o problema, realizamos um diagnóstico da situação, fomos buscar alternativas para resolvê-lo, escolhemos a mais adequada e avaliamos se a decisão foi a mais assertiva. 1.2 Maslow, Herzberg e McGregor Os estudos sobre o comportamento humano incluem pesquisas sobre as necessidades humanas e os níveis de motivação. Nesse tema específico, destacamos o psicólogo Abraham Harold Maslow. (CHIAVENATO, 2014). Figura 7.5: Abraham Harold Maslow Fonte: História da Administração ([s.d.]a). Abraham Maslow estudou as necessidades humanas e verificou que existe uma hierarquia das necessidades básicas, a qual define o nível de motivação dos indivíduos e, consequentemente, o de produtividade. De acordo com Chiavenato (2014), Maslow identificou cinco necessidades básicas dos indivíduos no ambiente de trabalho. Observe a figura a seguir. 11 Figura 7.6: Hierarquia das necessidades básicas segundo Maslow Necessidades humanas básicas Autorrealização Autoestima Sociais Segurança Fisiológicas Fonte: Plataforma Deduca (2018). As necessidades estão expostas, a seguir, em ordem de relevância, iniciando-se pelas mais essenciais. • Necessidades fisiológicas: questões básicas de sobrevivência, como ali- mentação e horas de sono, que influenciam diretamente o comportamen- to dos indivíduos. • Necessidades de segurança: ocorrem quando as necessidades fisiológi- cas já estão sanadas. Referem-se à prevenção contra doenças, acidentes, desemprego etc. • Necessidades de amor e/ou relacionamentos: são as sociais, atinentes aos relacionamentos dos indivíduos, como amizade, amor etc. • Necessidades de autoestima: relacionadas ao autorrespeito, ao prestí- gio dos níveis sociais etc. • Necessidade de realização pessoal: os seres humanos buscam reali- zação pessoal e profissional, bem como autodesenvolvimento. 12 Hierarquia das necessidades básicas As necessidades humanas se organizam em níveis, desenhando uma hierarquia de importância e de influência. As três primeiras são as que sustentam a sobrevivência dos indivíduos, e as duas últimas representam as necessidades de motivação. Outro importante estudioso do tema foi Frederick Herzberg. Figura 7.7: Frederick Herzberg Fonte: História da Administração ([s.d.]b). Herzberg concluiu que a satisfação potencializa o nível de motivação dos indivíduos; todavia, a insatisfação não diminui o nível de motivação. Isso posto, organizou em dois fatores a questão de satisfação/insatisfação. (MAXIMIANO, 2010). Vejamos a seguir: • Fator de motivação (intrínseco): é o que define o nível de satisfação. Está relacionado à percepção e reação que os indivíduos têm perante o traba-lho realizado na organização, isto é, o que sentem em relação a isso. Por exemplo: se certa atividade ou trabalho dentro da organização trouxe realização e crescimento pessoal. • Fator de higiene (extrínseco): é o que define o nível de insatisfação, as- sim sendo, não impulsiona o desenvolvimento pessoal, mas atua no in- tuito de evitar a deterioração do profissional. Por exemplo: segurança no trabalho ou questão salarial. 13 Por conseguinte, Herzberg entendeu que o fator de higiene, e tudo que é inerente a isso, é essencial para a sustentação do trabalho, tais como: tarefas desafiadoras, ambientes climatizados, suporte da gerência etc. Teoria dos dois fatores Ambos os fatores são independentes, não havendo vínculos entre eles. Fatores responsáveis pela satisfação são distintos dos fatores responsáveis pela insatisfação. Além dos teóricos citados, também foram importantes os estudos de Douglas McGregor. Figura 7.8: Douglas McGregor Fonte: Eduardo (2017). Esse pesquisador preocupou-se em comparar dois estilos opostos de administração: • De um lado, um estilo fundamentado na teoria tradicional e mecanicista (teoria X); • De outro, um estilo fundamentado nas concepções modernas a respei- to do comportamento humano (teoria Y). 14 Assim, a teoria X caracterizou-se por apresentar um estilo autoritário de gestão, similar ao da abordagem taylorista, tendo como pressupostos do comportamento humano a preguiça, a resistência a mudanças e a indisciplina. A administração é orientada pelos seguintes aspectos: • Responsabilidade pelos recursos da empresa; • Direção dos esforços das pessoas para o bem da organização; • Políticas de persuasão; • Recompensas e punição. A teoria Y, estruturada em uma concepção de administração moderna, possui alguns aspectos principais: o homem não é preguiçoso por natureza, as pessoas não são resistentes às mudanças e às necessidades da empresa, as pessoas têm comportamentos adequados e capacidades para assumir responsabilidades. Além disso, a teoria Y desenvolveu um estilo democrático, por meio do qual administrar é um processo de criar oportunidades. Para tanto, propôs os seguintes aspectos: • Proporcionar condições para que as pessoas desenvolvam o potencial de desenvolvimento e responsabilidade; • Criar condições operacionais por meio das quais possam atingir objetivos pessoais; • Orientar esforços em direção aos objetivos da empresa. Assim, enquanto a teoria X expressou um estilo administrativo de fiscalização e de controle rígido, limitando as capacidades de participação e de desenvolvimento de habilidades, a teoria Y sugeriu que a organização libere o potencial humano, rumo ao autodesenvolvimento. De acordo com McGregor, um dos pressupostos dos indivíduos, conforme a teoria X, é a preguiça. Para esse autor, essa é uma característica natural dos seres humanos, o que nos faz esperar comportamentos predeterminados. 15 Teorias X e Y Opostos e antagônicos, os estilos X e Y de administrar. Enquanto o estilo X nos faz pensar em tradição, mecanicismo e pragmatismo, o estilo Y nos orienta a um formato mais moderno a respeito do comportamento humano. Outra contribuição importante dos estudos comportamentais foram as pesquisas sobre clima organizacional, conforme Maximiano (2010, p. 162), ou seja, o “[...] resultado da análise de como as pessoas se sentem em relação à organização, com seu modelo de administração, bem como os relacionamentos interpessoais existentes”. Para melhor compreensão da relação entre clima organizacional e ambiente, veja a figura a seguir. Figura 7.9: Influência do clima organizacional Clima organizacional Valores Comportamentos Atitudes Moral Fonte: Maximiano (2010). Assim sendo, podemos afirmar que o clima organizacional está associado a fatores como valores, nível de moral, comportamentos e atitudes. Valores Correspondem a questões éticas, como princípios e crenças, os quais a organização deve respeitar e fortalecer. 16 Nível de moral Corresponde ao conjunto de regras de conduta na convivência em sociedade. Comportamentos Conjunto de atitudes e reações de cada indivíduo. Atitudes Explicitação do modo de agir e de se posicionar de cada indivíduo. Via de regra, o clima organizacional deve ser analisado por meio de pesquisas estruturadas que reconheçam as causas das frustrações, tensões e ansiedades, bem como as alegrias e as satisfações das pessoas que trabalham nas organizações. Portanto, depois de realizar o levantamento do clima organizacional, é necessário aprimorar as políticas e as diretrizes da organização, ou seja, as mudanças necessárias ao bem-estar dos funcionários. Vale ressaltar que a realidade tem demonstrado que, apesar do quadro apresentado, muitas organizações ainda têm receio ou não conseguem aplicar os resultados de pesquisas relacionadas ao clima organizacional. 17 2.1 Teoria contingencial Chiavenato (2014) destaca que a teoria contingencial enfatiza que não há nada de absoluto nas organizações ou na abordagem administrativa. Tudo é relativo, tudo depende. A teoria contingencial explica que existe relação funcional entre as condições do ambiente e as técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos das organizações. Nesse estudo, Chiavenato (2014) nos apresenta o teórico Alfred Chandler, que pesquisou como as estruturas das empresas se adaptam e se ajustam continuamente às suas estratégias organizacionais. Esse processo envolve quatro fases, a saber: • Acumulação de recursos. • Racionalização do uso de recursos. • Continuação do crescimento. • Racionalização do uso de recursos em expansão. Depois de Alfred Chandler e de suas contribuições para a teoria contingencial, surgiram os pesquisadores Tom Burns e George Stalker, dois sociólogos que investigaram indústrias inglesas, a fim de verificar a relação entre as práticas administrativas e o ambiente externo, chegando à conclusão de que existem dois tipos de organização: a mecanicista e a orgânica. Figura 8.1: Mecanicista e orgânica Fonte: Plataforma Deduca (2018). 18 Estudo realizado por Alfred Chandler concluiu que grandes empresas da época passaram por ajustes nas áreas de acumulação de recursos, racionalização do uso de recursos, continuação do crescimento e racionalização do uso de recursos em expansão. Atenção Figura 8.2: Abordagem contingencial Ações administrativas Características situacionais Resultados organizacionais São continentes das: Para obter: Fonte: Chiavenato (2014). Na sequência, Chiavenato (2014) dá ênfase à pesquisa de Paul Lawrence e de Jay Lorsch sobre organização e ambiente. Esses teóricos concluíram que os problemas organizacionais básicos são a diferenciação e a integração. Diferenciação A organização é fragmentada em subsistemas ou departamentos, cada um realizando uma tarefa especializada para um determinado contexto. Caso haja diferenciação nos ambientes de tarefa, consequentemente aparecerão diferenciações na estrutura e na abordagem dos departamentos. Integração É um processo oposto à diferenciação, gerado por pressões oriundas do ambiente da organização, no sentido de adquirir esforços e coordenação entre vários subsistemas da organização. As empresas que mais se aproximam das características que o ambiente impõe terão mais chances de sucesso em relação às organizações que se afastam dessas características. 19 Joan Woodward, pesquisadora e socióloga industrial, realizou um estudo para avaliar as práticas em cem empresas de ramos e tamanhos diversos. Essa autora classificou as organizações pesquisadas em três grupos de tecnologia de produção, conforme quadro a seguir. Quadro 8.1: Os três grupos de tecnologia de produção Tecnologia de produção Tecnologia utilizada Resultado da produção Produção unitária ou oficina • Habilidade manual ou operação de ferramentas. • Artesanato. • Pouca padronização e pouca automatização. • Mão de obra intensiva e não especializada. • Produçãoem unidades. • Pouca previsibilidade dos resultados e imprevisibilidade quanto à incerteza das operações. Produção em massa • Máquinas agrupadas em baterias do mesmo tipo (seções ou departamentos). • Mão de obra intensiva e barata, utilizada com regularidade. • Produção em lotes e em quantidade regular conforme cada lote. • Razoável previsibilidade dos resultados. • Certeza quanto à sequência das operações. Produção contínua • Processamento contínuo por meio de máquinas especializadas e padronizadas, dispostas linearmente. • Padronização e automação. • Tecnologia intensiva. • Pessoal especializado. • Produção contínua e em grande quantidade. • Forte previsibilidade dos resultados. • Certeza quanto à sequência das operações. Fonte: Chiavenato (2014, p. 510). A partir dos tipos de tecnologia de produção, os pesquisadores identificaram as consequências de cada tecnologia apresentada. Observe no quadro a seguir. 20 Quadro 8.2: Tecnologia e suas consequências Tecnologia de produção Previsibilidade Níveis hierárquicos Padronização e automação Áreas predominantes Produção unitária ou oficina. Baixa previsibilidade dos resultados. Poucos níveis hierárquicos. Pouca padronização e automação. Engenharia (pesquisa e desenvolvimento). Produção em massa. Média previsibilidade dos resultados. Médio número de níveis hierárquicos. Média padronização e automação. Produção (operações). Produção contínua. Elevada previsibilidade dos resultados. Muitos níveis hierárquicos. Muita padronização e automação. Marketing (vendas). Fonte: Chiavenato (2014, p. 510). Lacombe e Heilborn (2015, p. 114) enfatizam que a essência dos estudos de Woodward, principal autora da teoria contingencial, é que não existe uma maneira certa e única de montar uma estrutura organizacional: há sempre várias alternativas, e a melhor depende de cada caso, sendo que um aspecto importante é a conclusão de que as condições do ambiente é que causam as transformações no interior das organizações. Além disso, não há como conseguir um alto nível de sofisticação organizacional por meio da aplicação de um único modelo, isto é, o melhor estilo gerencial e as melhores decisões dependem, em cada caso, de fatores que estimulem os administradores a diagnosticar cuidadosamente as situações antes de tomar decisões. Os três tipos de tecnologia (produção unitária, mecanizada e automatizada) envolvem diferentes abordagens de manufatura de produtos, pois a tecnologia perpassa toda a produção, influenciando a empresa inteiramente. As conclusões de Woodward foram as seguintes: • o desenho organizacional é afetado pela tecnologia utilizada pela or- ganização; • há forte correlação entre estrutura organizacional e previsibilidade das técnicas de produção; • as empresas com operações estáveis necessitam de estruturas dife- rentes das organizações que possuem tecnologia mutável; • sempre há predomínio de alguma função na empresa. 21 Chiavenato (2014) define o ambiente como o contexto que envolve externamente a organização (ou o sistema), isto é, a situação dentro da qual está inserida. Como a organização é um sistema aberto, ela mantém transações e intercâmbios com o ambiente externo. Isso permite que tudo que ocorra externamente no ambiente passe a influenciar internamente a organização. As medidas apresentadas por Chandler, Burns, Stalker, Lawrence, Lorsch e Woodward revelaram como as organizações dependem da relação de seus ambientes com as tecnologias adotadas. Ou seja, as características de uma organização não depende dela própria, e sim de sua interação com o ambiente e a tecnologia que utiliza. Observe que os resultados desses estudos produziram uma nova concepção de organização: a estrutura de uma organização e o seu funcionamento são dependentes da interface com o ambiente externo. Então, segundo Chiavenato (2014), ficou provado que não há uma única e melhor forma de organizar (the best way), conforme preconizava Frederick Taylor, idealizador da abordagem científica da administração. Os estudos dos autores da escola contingencial sugerem que duas variáveis principais determinam a organização da empresa e os relacionamentos entre suas partes. São elas: • o ambiente; • a tecnologia. Figura 8.3: O ambiente e a tecnologia Fonte: Plataforma Deduca (2018). 22 2.1.1 O mapeamento ambiental Chiavenato (2014) discrimina como ambiente aquilo que é extremamente vasto e complexo. As organizações não podem absorvê-lo, conhecê-lo e compreendê-lo em sua totalidade e complexidade, o que seria inimaginável. Nesse sentido, o ambiente é um contexto externo que apresenta diversas condições variáveis e complexas, difíceis de serem abordadas em seu conjunto e analisadas com objetividade. Assim, as organizações precisam tatear, explorar e discernir o ambiente para reduzir as incertezas a seu respeito. O mapeamento ambiental não é feito pela organização em si, mas por pessoas – sujeitas ao subjetivismo e às diferenças individuais – que são seus dirigentes. Esse autor destaca, ainda, a seleção ambiental e a percepção ambiental. • Seleção ambiental: as organizações não têm capacidade de compreen- der as variáveis do ambiente de uma só vez. Sendo assim, selecionam os ambientes e passam a visualizar seu mundo exterior apenas nas partes escolhidas e selecionadas desse enorme conjunto. Essa ação das empresas é chamada de seleção ambiental, em que o ambiente significativo para a organização é descrito por meio de informações selecionadas. • Percepção ambiental: as organizações percebem seus ambientes de maneira subjetiva, de acordo com expectativas, experiências, proble- mas, convicções e motivações, interpretando, de forma própria e pecu- liar, o contexto ambiental. Com base nessas informações, temos que as teorias da administração apresentam um continuum em relação ao ambiente. Observe a figura a seguir e compreenda melhor essa ideia. Figura 8.4: Continuum das teorias da administração em relação ao ambiente Ênfase intraorganizacional Clássica Relações humanas Burocracia Comportamental Estruturalista Sistemas Desenvolvimento organizacional Contingência Ênfase no ambiente Fonte: Chiavenato (2014, p. 512). 23 2.1.1.1 Ambiente geral Podemos entender o ambiente geral como um ambiente genérico e comum a todas as organizações, isto é, o macroambiente. Tudo que acontece nesse ambiente afeta de alguma forma todas as organizações, sendo constituído de um conjunto de condições comuns. Chiavenato (2014) explica essas condições, que são sete. Vamos conhecê-las: Condições gerais O desenvolvimento que ocorre nas organizações influencia profundamente outras organizações, principalmente quando se trata de tecnologia sujeita a inovações, ou seja, dinâmica e de futuro imprevisível. As organizações precisam incorporar a tecnologia que provém do ambiente geral, a fim de não perderem competitividade. Condições legais Constituem a legislação vigente, que afeta direta ou indiretamente as organizações. Essas leis são de caráter comercial, trabalhista, fiscal, civil etc. São os elementos normativos para a vida das organizações. Condições políticas São decisões e definições políticas tomadas em nível federal, estadual e municipal que influenciam as organizações e orientam as condições econômicas. Condições econômicas Constituem a conjuntura que determina o desenvolvimento econômico ou a retração econômica. A inflação, a balança de pagamentos do país, a distribuição de renda interna, entre outros, são aspectos que não devem ser ignorados pelas organizações. 24 Condições demográficas Taxas de crescimento, população, raça, religião, distribuição geográfica, distribuição por sexo e idade, entre outros, são aspectos demográficos que determinam as características do mercado atual e futuro das organizações. Condições ecológicas Relacionadas com o quadro demográfico que envolve as organizações. O ecossistema é o intercâmbio entreos seres vivos e o meio ambiente. No caso das organizações, existe a chamada ecologia social: as organizações influenciam e são influenciadas por aspectos como poluição, clima, transportes, comunicações etc. Condições culturais A cultura de um povo penetra nas organizações por meio das expectativas de seus participantes e de seus consumidores. 2.1.1.2 Ambiente tarefa Chiavenato (2014) entende como sendo o ambiente mais próximo e imediato de cada organização. Constitui o segmento do ambiente geral do qual as organizações extraem suas entradas e depositam suas saídas. É o ambiente de operações de cada organização, constituído por: Fornecedores de entradas São os fornecedores de todos os tipos de recursos que uma organização necessita para trabalhar: matérias-primas, financeiros, humanos etc. Clientes ou usuários Consumidores das saídas da organização. 25 Concorrentes Empresas concorrentes quanto a recursos e consumidores. Entidades reguladoras Cada entidade tem várias outras organizações que trabalham para regular ou fiscalizar suas atividades. Como exemplo, podemos citar: sindicatos, associações de classe, órgãos regulamentadores do governo, órgãos protetores do consumidor etc. É por meio do reconhecimento do ambiente tarefa que conseguimos identificar quais elementos podem ser oportunidades ou ameaças para as organizações. Nessa análise, podemos nos perguntar: • Quais são os clientes reais e potenciais para a empresa? • Quais são os fornecedores reais e potenciais? • Quais são os concorrentes? • Quem são os elementos regulamentadores? Chiavenato (2014) afirma que cada um desses elementos ambientais poderá ser uma organização, grupo ou indivíduo. Essa característica de ser uma ameaça ou oportunidade dependerá do papel que cada elemento vai desempenhar no ambiente. A incerteza da organização é a de conseguir identificar quais as oportunidades e ameaças existentes no ambiente e como utilizá-las ou evitá-las. 26 Figura 8.5: Ambiente geral e ambiente tarefa Condições tecnológicas Condições culturais Condições ecológicas Condições demográficas Condições econômicas Condições políticas Condições legais Ambiente tarefa Concorrentes Clientes Entidades reguladoras Fornecedores Empresa Fonte: Chiavenato (2014, p. 514). 2.1.1.3 Tipologia de ambientes Sabemos que o ambiente é um só, mas cada organização está exposta a apenas uma parte dele. Para facilitar a análise ambiental, o ambiente tarefa foi classificado em tipologias de ambientes. Conheceremos a seguir algumas dessas classificações: • Quanto à estrutura: podem ser classificados em homogêneos e hete- rogêneos: Ambiente homogêneo Quando há pouca segmentação ou diferenciação nos mercados; composto por fornecedores, clientes e concorrentes semelhantes. 27 Ambiente heterogêneo Quando há muita diferenciação nos mercados, o que provoca uma diversidade de problemas para as organizações. • Quanto à dinâmica: podem ser classificados em estáveis e instáveis: Ambiente estável Caracterizado por pouca ou nenhuma mudança, sendo um ambiente tranquilo e previsível. Ambiente instável Dinâmico e caracterizado por muitas mudanças, o que gera instabilidade e incerteza para as organizações. 28 2.2 Construindo vantagens competitivas Chiavenato (2014) explica que o maior influenciador do funcionamento das organizações é a tecnologia, com início a partir da Revolução Industrial. A invenção do computador, que ocorreu na segunda metade do século XX, permitiu as atuais características de automatização e automação de atividades, sem ele, não seria possível administrar grandes organizações. A informática é a disciplina que lida com o tratamento racional e sistemático da informação, segundo Chiavenato (2014). Não devemos confundir informática com computadores, pois a primeira é a parte da cibernética que trata das relações entre as coisas e suas características, de maneira a representá-las por meio de suportes de informação, sendo um dos fundamentos da teoria e dos métodos que fornecem as regras para o tratamento da informação. 2.2.1 As consequências da informática na administração Marcando o início da era eletrônica nas organizações, está a cibernética, que, até então, era restrita a máquinas elétricas ou a manuais associados ao conceito de automação. Com a Revolução Industrial, o esforço muscular do homem foi transferido para a máquina. A segunda Revolução Industrial, provocada pela cibernética e pela informática, está substituindo o cérebro humano por softwares cada vez mais complexos, em uma gama crescente de atividades. Chiavenato (2014) afirma que os equipamentos automatizados podem cuidar das funções de observação, memorização e decisão, abrangendo três setores bem distintos: • integração em cadeia contínua de diversas operações realizadas sepa- radamente, como o processo de fabricação, a automação bancária, a automação no comércio, por exemplo; 29 • utilização de dispositivos de retroação e regulagem automática para que as próprias máquinas corrijam seus erros, como é o caso da indús- tria petroquímica e da robotização; • utilização do computador ou de rede de computadores para acumular volumes de dados em bancos de dados; a análise é feita por meio de operações lógicas complexas, com incrível rapidez, inclusive nas to- madas de decisão programadas, como é o caso do cadastro de clientes dos bancos e de contribuintes da Receita Federal. Na era da informação, a tecnologia passou ser a principal ferramenta a serviço do homem, tendo como função o armazenamento, a recuperação e o processamento de informações. É a informação instantânea, com ela, tudo muda rapidamente. Na sua opinião, essa rapidez é somente benéfica ou temos algo a mudar para melhorar? Reflita Na era digital, o uso de tecnologias gera soluções para e-business e e-commerce, conforme destacamos na figura a seguir. Figura 8.6: Soluções da era digital para e-business e e-commerce Entradas Fornecedores e parceiros do negócio Organização interna Saída Clientes e consumidores Supply chain Enterprise resource management Customer relationship management e-business Business information management (BIS) Fonte: Chiavenato (2014, p. 431). 30 Chiavenato (2014) lembra que a administração científica enfatizou o homo economicus; a escola das relações humanas enfatizou o homem social; o estruturalismo enfatizou o homem organizacional; e a teoria comportamental enfatizou o homem administrativo. Não é de se estranhar que muitos autores estejam falando atualmente do homem digital, cujas transações são realizadas por intermédio do computador e da internet. 2.2.2 Apreciação crítica da tecnologia e administração Desde os tempos da cibernética até os tempos atuais, a tecnologia trouxe muitas contribuições para a administração, facilitando a vida do administrador de maneira geral. Essas contribuições vão desde conceitos básicos de sistemas, como entrada, saída, processamento, retroação, homeostasia, informação, sinergia, entropia e informática, passando por tecnologia da informação, integração do negócio, inteligência competitiva, e-business e organização digital e virtual. Isso tudo é possível graças à área de Tecnologia da Informação (TI), que contribuiu para o mundo todo ficar mais próximo e acessível, gerando a era da informação. A palavra “cibernética” tem origem no grego “kybernytiky”. Segundo a mitologia grega, Teseu, herói ateniense, em viagem à Ilha de Creta, conduzido por dois pilotos de barco pelo mar, glorificou o feito por meio de uma festa aos “cibernéticos”, isto é, aos pilotos. Curiosidade 31 Figura 8.7: Era da informação Fonte: Plataforma Deduca (2018). Chiavenato (2014) alerta que, hoje em dia, o capital não se acumula mais no dinheiro, mas, sim, na informação. Quem tem informação tem poder. Antes da Revolução Industrial, o moinho de vento representava o mundo agrário e primitivo, enquanto a máquina a vapor e a lâmpada elétrica marcaram a era industrial.O emblema do mundo, atualmente, é o computador. A informática é a responsável pela reestruturação do capitalismo. É ela que dinamiza os processos de produtividade, competitividade, circulação de mercadorias, administração de organizações, respondendo pelo fenômeno da globalização do mercado, fato que não seria possível sem a rede de conexões entre os agentes econômicos e financeiros do mundo todo. O volume crescente de informações que cruzam o planeta na velocidade da luz serve para organizar a vida humana em todos os setores. O sucesso da informática reside no espetacular aumento da eficácia de todas as operações que dependam dela. A informática é um poderoso instrumento de produção e de dinamização das informações. 32 Síntese Nesta unidade, aprendemos que: • Os estudos de Abraham Maslow sobre a pirâmide das necessidades básicas humanas contribuíram muito para a evolução da teoria admi- nistrativa. • Frederick Herzberg foi um importante representante da teoria compor- tamentalista. Esse autor defendeu que a satisfação das necessidades humanas potencializa o nível de motivação dos indivíduos. Nesse sen- tido, propôs dois fatores que geram satisfação/insatisfação: fator de motivação (intrínseco) e fator de higiene (extrínseco). • Douglas McGregor foi um psicólogo comportamental que se preocupou em comparar dois estilos opostos de administração: de um lado, um es- tilo fundamentado na teoria tradicional e mecanicista (teoria X); de outro, um estilo fundamentado nas concepções modernas a respeito do com- portamento humano (teoria Y). Vimos que não existe nada absoluto nas organizações ou na teoria administrativa; tudo é relativo, conforme orientação da teoria da contingência. Estudamos sobre a organização e o ambiente de trabalho, bem como conhecemos o ambiente geral que tem na sua constituição as: • condições gerais; • condições legais; • condições políticas; • condições econômicas; • condições demográficas; • condições ecológicas; e • condições culturais. Além disso, vimos que o ambiente tarefa é constituído por fornecedores de entradas, clientes ou usuários, concorrentes e entidades reguladoras. Finalizamos, ainda, com a tipologia de ambientes e as vantagens competitivas após a tecnologia de informação. 33 Vimos que fazem parte da teoria comportamentalista pesquisadores como Maslow, com sua hierarquia das necessidades básicas humanas; McGregor, com suas teorias X e Y; e Herzberg, com sua teoria dos dois fatores. Essas abordagens nos ajudam a compreender melhor a importância da motivação nos ambientes de trabalho. Para complementar seus estudos, leia o texto “Motivação no Trabalho” e reflita sobre a relação entre essas teorias e a satisfação nos ambientes organizacionais. Acesse: <http://susanacosta.files.wordpress.com/2006/12/ motivacao.pdf>. Saiba mais Apresentamos a gestão do conhecimento como uma vantagem competitiva para as organizações modernas. Essa prática é relevante para a conquista de diferenciais frente à concorrência. Veja o link: <http://periodicosfmg.granbery.edu.br/index.php/ CAT/article/view/30/28>. Saiba mais 34 Referências CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. ______. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. EDUARDO, B. Douglas McGregor: Teoria X e Teoria Y. MD Treinamento. 17 mai. 2017. Disponível em: <http://www.brunoeduardo.com/artigos/personalidades/douglas- mcgregor-teoria-x-e-teoria-y/>. Acesso em: 3 ago. 2018. LACOMBE, F.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO. Abraham Hardol Maslow. [s.d.]a. Disponível em: <http://www.historiadaadministracao.com.br/jl/gurus/73-abraham-harold- maslow>. Acesso em: 3 ago. 2018. ______. Frederick Herzberg. [s.d.]b. Disponível em: <http://www.historiadaadministracao. com.br/jl/gurus/65-frederick-herzberg>. Acesso em: 3 ago. 2018. MAXIMIANO, A. A. Introdução à administração. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ______. Fundamentos de administração: introdução à teoria geral e aos processos da administração. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira, 2008. WIKIBERAL. Herbert A. Simon. [s.d.] Disponível em: <https://www.wikiberal.org/wiki/ Herbert_A._Simon>. Acesso em: 3 ago. 2018. Teoria Geral da Administração CAPA.pdf E-book completo _ Teoria Geral da Administração CAPA.pdf E-book_Teoria Geral da Administração_Unidade 1_Delínea.pdf E-book_Teoria Geral da Administração_Unidade 2_Delínea.pdf E-book_Teoria Geral da Administração_Unidade 3_Delínea.pdf E-book_Teoria Geral da Administração_Unidade 4_Delínea.pdf