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2013
Ações, Dimensões 
e AplicAbiliDADe Do 
instrumentAl 
técnico-operAtivo Do
serviço sociAl
Prof.ª Andréia Zanluca
Prof.ª Juliana Maria Lazzarini
Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof.ª Andréia Zanluca
Prof.ª Juliana Maria Lazzarini
Prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 361.0023
Z25a Zanluca, Andréia
 
 Ações, dimensões e aplicabilidade do instrumental técnico-operativo do 
serviço social/ Andréia Zanluca, Juliana Maria Lazzarini, Vera Lúcia Hoffman 
Pieritz.
 Indaial : Uniasselvi, 2013.
 205 p. : il
 ISBN 978-85-7830-819-3
 I Serviço social como profissão. 
 1.Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Impresso por:
III
ApresentAção
Caro(a) acadêmico(a)!
Iniciamos os estudos de Ações, dimensões e aplicabilidade do 
instrumental técnico-operativo do Serviço Social. Entraremos no mundo 
intrínseco da instrumentalidade da atuação profissional do assistente social, 
no qual estudaremos as dimensões técnico-operativa, teórico-metodológica 
e ético-política do trabalho do assistente social. Para isso, vamos perpassar 
por seus aspectos históricos e estudar como se processa a aplicabilidade dos 
instrumentos e técnicas no exercício profissional do assistente social em seu 
cotidiano profissional. Veremos também alguns aspectos ideológicos que 
norteiam a aplicabilidade e o uso dos instrumentos e técnicas profissionais do 
serviço social e alguns aspectos da natureza, estratégias, particularidades e 
implicações do trabalho do assistente social nos diversos campos de atuação.
Na Unidade 1 você verá questões sobre as dimensões técnico-
operativa, teórico-metodológica e ético-política do trabalho do assistente 
social, no intuito de compreender as diversas dimensões que norteiam 
a atuação profissional do assistente social e desmistificar as diversas 
competências dos profissionais do serviço social na atualidade. Verá também 
concepções da instrumentalidade do serviço social e as diferentes linguagens 
da instrumentalidade do assistente social.
Na segunda unidade você conhecerá a ação profissional e o processo 
interventivo do assistente social no cotidiano, promovendo a reflexão 
sobre os diferentes aspectos ideológicos que permeiam a aplicabilidade dos 
instrumentos, técnicas e ações profissionais do assistente social. Será abordada 
também a questão da consciência e intencionalidade da ação profissional 
do assistente social em seu cotidiano, além da competência relacional do 
assistente social, a racionalidade da práxis profissional no serviço social e 
alguns impasses com relação à aplicabilidade do seu instrumental técnico-
operativo. Por fim, abordaremos o significado da mediação e da ação 
investigativa no serviço social .
Na terceira unidade você compreenderá a aplicabilidade dos 
instrumentos e técnicas no exercício profissional. Veremos a diferença e 
importância da teoria versus a prática profissional do assistente social e quais 
são os métodos e metodologias aplicados na práxis profissional do serviço 
social . Será abordada também qual a aplicabilidade dos instrumentos e 
técnicas no exercício profissional do assistente social.
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Pronto(a) para começar a compreender o significado da ciência 
política? Mãos à obra, então.
Bons estudos!
Prof.ª Andréia Zanluca
Prof.ª Juliana Maria Lazzarini
Prof.ª Vera Lucia Hoffmann Pieritz
V
VI
VII
UNIDADE 1 – AS DIMENSÕES TÉCNICO-OPERATIVA, TEÓRICO-METODOLÓGICA 
 E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ............... 1
TÓPICO 1 – TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL .............................................. 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 CONTEXTO GERAL DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL 
 NO BRASIL ........................................................................................................................................ 3
3 A CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO DO SERVIÇO SOCIAL ......... 8
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 10
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15
TÓPICO 2 – A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL ........................................... 17
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17
2 OS CONTEÚDOS DESSA DIMENSÃO NA TRAJETÓRIA DA PROFISSÃO: 
 O COMO FAZER A PROFISSÃO ................................................................................................... 17
3 RAZÃO E MODERNIDADE ........................................................................................................... 19
4 RACIONALIDADE DO CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL ............................................. 20
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 21
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 32
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33
TÓPICO 3 – AS COMPETÊNCIAS DO SERVIÇO SOCIAL NA 
 CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E 
INTERVENÇÃO ............................................................................................................ 35
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 35
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS COMPETÊNCIAS DO SERVIÇO 
 SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE ..................................................................................... 36
3 COMPETÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA ....................................................................... 37
4 COMPETÊNCIA TÉCNICO-OPERATIVA ...................................................................................43
5 COMPETÊNCIA ÉTICO-POLÍTICA ............................................................................................. 50
6 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS TRÊS DIMENSÕES ................................................ 54
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 57
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 62
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 64
UNIDADE 2 – A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO 
 ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO ........................................................... 65
TÓPICO 1 – ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E 
 TÉCNICAS ..................................................................................................................... 67
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 67
2 INTENCIONALIDADE E CONSCIÊNCIA DA AÇÃO PROFISSIONAL ............................. 67
2.1 A CATEGORIA “CONSCIÊNCIA” ............................................................................................ 67
sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ........................................................................................................ 74
2.2 A INTENCIONALIDADE ENQUANTO CATEGORIA TEÓRICA ...................................... 76
2.3 A INTENCIONALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL ................................................................. 81
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ........................................................................................................ 87
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 93
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94
TÓPICO 2 – NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E 
 IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ........................... 97
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97
2 A COMPETÊNCIA RELACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ............................................. 97
3 A RACIONALIZAÇÃO DA PRÁTICA DA ASSISTÊNCIA: ASPECTOS 
HISTÓRICOS ..................................................................................................................................... 101
4 RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA ................................................................ 104
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 132
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 136
TÓPICO 3 – IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS 
 INSTRUMENTOS ........................................................................................................ 137
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 137
2 O PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL .................................................. 137
3 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL ...... 140
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 142
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 146
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 147
UNIDADE 3 – A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO 
EXERCÍCIO PROFISSIONAL ................................................................................. 149
TÓPICO 1 – TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS........................................ 151
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 151
2 TEORIA VERSUS PRÁTICA ........................................................................................................... 151
3 MÉTODO E METODOLOGIA ....................................................................................................... 155
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 158
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 161
TÓPICO 2 – O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO 
 DO ASSISTENTE SOCIAL ......................................................................................... 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 163
2 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO 
PROFISSIONAL ................................................................................................................................... 163
2.1 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO DIRETOS OU 
 “FACE A FACE” ........................................................................................................................... 164
2.1.1 Observação ............................................................................................................................... 165
2.1.2 Entrevista individual e grupal .............................................................................................. 166
2.1.3 Dinâmica de grupo ................................................................................................................. 168
2.1.4 Reunião ..................................................................................................................................... 168
2.1.5 Visita domiciliar ...................................................................................................................... 169
2.1.6 Visita institucional .................................................................................................................. 170
2.1.7 Técnica de encaminhamento ................................................................................................. 171
2.1.8 Perícia social ............................................................................................................................ 171
IX
2.1.9 Parecer social ............................................................................................................................ 172
2.2 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO INDIRETOS OU 
 “POR ESCRITO”........................................................................................................................... 172
2.2.1 Atas de reunião ........................................................................................................................ 173
2.2.2 Diário de campo ...................................................................................................................... 173
2.2.3 Relatório social ......................................................................................................................... 174
LEITURA COMPLEMENTAR ...........................................................................................................176
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 177
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 178
TÓPICO 3 – OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO 
PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ......................................................... 179
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 179
2 MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ....................... 179
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ......................................................................................................... 188
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ......................................................................................................... 192
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 198
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 199
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 201
X
1
UNIDADE 1
AS DIMENSÕES TÉCNICO-OPERATIVA, 
TEÓRICO-METODOLÓGICA E 
ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO 
ASSISTENTE SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender as diversas dimensões que norteiam a atuação profissional 
do assistente social;
• desmistificar as diversas competências dos profissionais do serviço social 
na atualidade;
• entender as nuances e concepções da instrumentalidade do serviço social;
• perceber as diferentes linguagens da instrumentalidade do assistente so-
cial.
A Unidade 1 está dividida em três tópicos e, ao final de cada um deles, você 
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades 
propostas.
TÓPICO 1 – TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
TÓPICO 2 – A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL 
TÓPICO 3 – AS COMPETÊNCIAS DO SERVIÇO SOCIAL NA 
CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, 
INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
A construção histórica do serviço social passa pelas mudanças e 
transformações sociais, às quais os assistentes sociais vêm se adaptando, 
atualizando-se constantemente. Neste sentido, o projeto ético-político do serviço 
social está se moldando a estas novas realidades sociais que se apresentam pelos 
novos tempos.
A luta pela garantia de direitos foi construída e reconstruída na práxis 
deste profissional que, diante das demandas sociais, tem uma postura voltada a 
possibilitar o acesso aos direitos sociais, na construção da cidadania, parceria da 
equidade e da liberdade.
“Quem sabe o que está buscando e aonde quer 
chegar, encontra os caminhos certos e o jeito de caminhar”.
Thiago de Melo
2 CONTEXTO GERAL DA TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO 
SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
A partir do século XVII, Badinter (2001) diz que o Estado, em vários países 
como Alemanha, Inglaterra, França e Espanha, gradativamente começa a assumir 
suas responsabilidades, e o bem-estar do povo é considerado necessidade básica 
para que a cidade tenha desenvolvimento, além de outras questões políticas que 
necessitam mostrar em números o bem-estar social. 
Neste contexto o Estado atuava com ações emergenciais, que atendiam a 
população em situações de necessidades básicas e momentâneas. 
Por volta de 1870, na Inglaterra e nos Estados Unidos, foram criadas as 
Sociedades de Organização da Caridade, que coordenavam inúmeras instituições 
sociais, faziam campanhas de fundos e introduziam o controle de assistência à 
pobreza.
 Conforme afirma Martinelli (2009), neste contexto nasce o serviço social 
como profissão, apresentando uma prática humanizada aliada ao Estado e 
protegida pela Igreja, com o objetivo de controlar a sociedade.
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
4
Mas, como se DESENVOLVEU o serviço social enquanto PROFISSÃO?
Vejamos: para autores como Vieira (1989), o serviço social se desenvolveu 
conforme a realidade na qual estava inserido, mas sempre com as mesmas 
características de ajuda ou auxílio àqueles menos favorecidos. Como as condições 
de trabalho, de habitação, de alimentação etc. sofrem mudanças ao longo dos anos, 
assim também o profissional deve se transformar; então, ele deixa a caridade e, 
muito lentamente, parte para a garantia de direitos.
A partir do século XX, apareceram instituições internacionais com o 
objetivo de criar um consenso sobre “a noção de ajuda”, que já era conhecida 
internacionalmente como serviço social , mas cada país fazia de um jeito, usando 
o mesmo nome.
Assim como a noção de ajuda tinha um sentido diferente, da mesma 
forma a atuação era bastante diferenciada, segundo Vieira (1989). Na Europa de 
língua francesa, adotou-se o nome de serviço social , nos países de língua anglo-
germânica e nos Estados Unidos, o de Trabalho Social.
Vieira (1989) diz que houve uma tomada de consciência quanto ao fato 
de ajudar. Neste sentido, a palavra serviço, do latim servitium, teria o significado de ser 
escravo, enquanto a palavra trabalho, da raiz latina trabs, trales, é trave de carga que se 
coloca ao escravo para obrigá-lo a trabalhar.
Nesta linha de raciocínio, o trabalho social deve ser “a atividade realizada em benefício 
da sociedade”, enquanto serviço social é “um serviço prestado à sociedade”. Diante de 
tantos significados, teremos que falar da função do assistente social, que é a de “assistir”, 
pois a tradução do latim para a palavra assistente é “colocar-se à disposição”.
ATENCAO
Então, será que o profissional formado em serviço social deve SER 
CARIDOSO?
É claro que o fazer do serviço social se ampliou e, em alguns aspectos, 
modificou-se, através de todas as reflexões que os anos trouxeram, pois saiu da 
caridade para a garantia de direitos. Deixou de ser um serviço da Igreja para 
atingir a ação governamental, da atividade desempenhada pelos bons de coração 
passou para uma atividade profissional.
Podemos dizer que, entretanto, à medida que a profissão era inserida num 
determinado país, ou se avançava nas reflexões onde já existia, sempre surgiam 
os retrocessos, pois quando se avançava na garantia de direitos dos idosos, por 
exemplo, havia o retrocesso nas leis da previdência, e assim por diante. Aqui no 
Brasil não foi diferente.
TÓPICO 1 | TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
5
O Brasil foi colonizado por Portugal e, consequentemente, recebeu 
influências do colonizador: para um lugar ser designado cidade deveria ter uma 
capela e uma santa casa, segundo Vieira (1989), que funcionava gratuitamente e 
atendia os doentes.
ESTUDOS FU
TUROS
Você verá mais tarde, na Unidade 2 deste caderno, uma síntese histórica da 
racionalização da prática da assistência, na qual apresentaremos as diversas concepções 
históricas da prática da Assistência Social.
Então, como SURGIU o serviço social no Brasil? 
No Brasil, o serviço social surgiu na década de 1930, num momento de 
grandes transformações na sociedade brasileira, pois deixava de ser um país com 
economia agroexportadora para se tornar um país em processo de industrialização 
nacional.
Uma das mudanças ocorridas na época, conforme Miguel (1980), foi a 
transformação do sistema educacional que, impulsionado pela política educacional 
do Estado Novo, trouxe reflexos para o serviço social , como: a estruturação das 
primeiras universidades e a criação de escolas técnicas, pois assim se criava a mão 
de obra especializada e barata em favor da nação, fazendo as assistentes sociais 
refletirem sobre a forma de inserção no mundo do trabalho. 
Outra mudança foia promulgação das leis trabalhistas e a criação da 
Previdência Social, que representou um progresso para a classe trabalhadora do 
país, porém o “pobre” não escolhia, ele tinha que aceitar a “caridade”, pois na 
época predominava uma mentalidade curativo-paternalista e nunca preventiva.
Prezado(a) acadêmico(a), a mentalidade CURATIVA provém de uma filosofia 
curativa, que, em passado recente, baseava-se na prática da profissão que tratava apenas as 
sequelas dos problemas sociais, e nunca as causas dos problemas.
ATENCAO
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
6
A mentalidade PATERNALISTA advém do comportamento paternalista, ou seja: 
o PATERNALISMO, em um sentido amplo, é um sistema de relações sociais e trabalhistas, 
unidas por um conjunto de valores, doutrinas políticas e normas fundadas na valorização 
positiva da pessoa do patriarca.
Em um sentido mais concreto, o paternalismo é uma modalidade de autoritarismo, na qual 
uma pessoa exerce o poder sobre outra combinando decisões arbitrárias e inquestionáveis, 
com elementos sentimentais e concessões graciosas.
Para o Direito Constitucional, o Estado paternalista é aquele que limita as liberdades individuais 
de seus cidadãos com base em valores axiológicos que fundamentam as imposições estatais. 
Desta maneira, justifica-se a invasão da parcela correspondente à autonomia individual por 
parte da norma jurídica, baseando-se na incapacidade ou idoneidade dos cidadãos para 
tomar determinadas decisões que o Estado julga corretas. 
Ainda mais, o paternalismo é relacionado ocasionalmente com a figura papal da Igreja Católica, 
a qual se chama Santo Padre, com o fim de acentuar a supremacia, autonomia e soberania 
desta instituição. 
Podemos encontrar inclusa uma referência indireta a este termo no âmbito legal, quando 
lemos no Código Civil espanhol, em seu artigo 1903, a expressão “bom pai de família”, quando 
se enfatiza a diligência com que observarão aquelas pessoas que respondem pelas atuações 
de outras (menores ou incapacitados).
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Paternalismo>. Acesso em: 11 mar. 2010.
ATENCAO
Assim, numa mistura de mentalidades colonialistas e escravocratas, nasce 
o serviço social brasileiro, enraizado nas ideias paternalistas, com a tradição da 
caridade, misturadas aos novos ideais que estavam surgindo no país.
E, quando foi que APARECEU a PRIMEIRA ESCOLA de serviço social no 
Brasil? 
O primeiro núcleo de serviço social brasileiro foi fundado em 1932, em 
São Paulo, relata Lima (1987), local onde se concentrava a maior parte do parque 
industrial nacional e, logo depois, em 1936, surgiram as primeiras experiências 
no Rio de Janeiro.
Aos primeiros assistentes sociais brasileiros, moças de famílias abastadas, 
coube a tarefa de batalhar pela criação de instituições sociais, organizar 
e racionalizar a assistência, construir uma profissão e preparar os novos 
profissionais, sempre segundo as normas da Igreja.
A atuação da Igreja Católica ficou delimitada com a Constituição de 1937, 
já não sendo o ensino confessional uma obrigação da escola. O serviço social 
pôde, neste momento, sair da interferência do pensamento católico, embora, 
TÓPICO 1 | TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
7
conforme Badinter (2001), fosse um processo em construção e muito demorado: 
no meio do redemoinho tudo está interligado, a Igreja, a Medicina, os colegas de 
profissão que falam e reproduzem a teoria que está colocada.
E quais foram as INFLUÊNCIAS da década de 40 e da RECONCEITUAÇÃO 
do serviço social brasileiro?
A década de 40 veio marcada pelo modelo fordista de produção, que 
exigia uma nova forma de controle por parte do Estado, pautada no consenso e 
coesão entre classes, sabendo que o serviço social tinha sua atuação sob influência 
ideológica do Estado, segundo Lima (1987). Assim surgem o serviço social da 
Indústria (SESI) e o serviço social do Comércio (SESC).
Tudo devia ser iniciado e desenvolvido ao mesmo tempo, seguindo um 
modelo dos Estados Unidos, até o final da década de 50, afirma Barroco (2001), 
quando há a incorporação de novas possibilidades teóricas.
Os anos 60 vêm marcados pelo movimento de reconceituação do serviço 
social , momento em que são questionados seus referenciais, com uma necessidade 
urgente de construir um novo projeto profissional, segundo Yasbek (2008).
Neste momento de reconceituação confrontaram-se as três diferentes 
tendências profissionais, afirma Netto (2001): a vertente modernizadora, a vertente 
inspirada na fenomenologia e a vertente marxista. Mas a vertente marxista vem 
fragilizada, pois foi uma teoria traduzida pela metade e, desta forma, configurou 
a profissão até recentemente.
Já APÓS O PERÍODO DA DITADURA MILITAR, o que aconteceu com 
o serviço social ?
Os anos enfrentados pela ditadura mostraram a estreita relação entre a 
afirmação e a negação da liberdade, uma vez que a realidade brasileira tem suas 
especificidades, e neste momento aparece a fragilidade da atuação profissional, 
coloca Lima (1987), em que as divergências se mostram através dos movimentos 
da assistência/repreensão.
Até a década de 70 o profissional de serviço social tinha uma postura 
bastante assistencialista, ainda centrada no indivíduo, valorizando e exigindo 
uma postura religiosa, sem nenhuma crítica política e pouca utilização de técnicas 
científicas. 
Já a década de 70 nos mostra sua força através dos encontros e seminários, 
como o Seminário de Araxá-MG, e o de Teresópolis-RJ, que estruturam uma 
nova articulação com a sociedade, e garantiam um reconhecimento profissional 
enquanto categoria (LIMA, 1987).
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
8
Para Miguel (1980), todos os documentos resultantes desses encontros 
são, na verdade, formas de manipulação da classe trabalhadora através de uma 
ideologia da classe produtora, usando o serviço social para dar cumprimento às 
finalidades pelas quais foi contratada.
Vieira (1989), no entanto, diz ter sido um momento de grande importância 
para a profissão, pois, a partir dos seminários, os assistentes sociais começaram a 
ter ideias novas: sair do assistencialismo, avaliar e construir uma ação preventiva, 
além de o documento de Araxá apresentar um resumo da evolução do serviço 
social no Brasil, através dos sete encontros regionais feitos para avaliar o 
documento.
O serviço social nasce e cresce dentro de uma ordem do dever agir, entre 
erros e acertos, e não no dever refletir sobre a realidade econômica, política ou 
social. Assim, a profissão é marcada pela necessidade de reajustar o indivíduo à 
realidade posta. (VIEIRA, 1989).
Uma profissão, com origens num momento de crescimento do Estado 
paternalista e atuação centrada em ações imediatas, criou uma imagem de 
assistente social que cresceu e, através dos encontros, começou a mudar frente 
a algumas situações. Este não é um processo fácil de fazer e muito menos de 
aceitação por parte das instituições ligadas ao profissional.
Assim, o serviço social , após as décadas de 70 e 80, procurou encontrar e 
construir teoricamente a profissão, saber qual sua ação, qual a intervenção, qual 
sua práxis. Procurou a teorização, conforme coloca Yasbek (2008), e assim cria-se, 
em São Paulo, o primeiro curso de mestrado em serviço social , que possibilitou 
estudar mais profundamente a profissão.
NOTA
A práxis se compõe da atividade teórica (produção de conhecimento e 
finalidades) e da prática (transformação da realidade). (VIEIRA, 1989, p. 170).
3 A CONSTRUÇÃO DO REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 
DO SERVIÇO SOCIAL 
É na década de 80 que a teoria social de Marx passa a fazer parte da 
referência analítica da profissão, conforme Netto (2001). Essa introdução passa por 
vários debates e foi a geradora da construção da bibliografia de serviço social .
TÓPICO 1 | TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
9
Naquela época, a discussãose centrava nos fundamentos do serviço social 
, procuravam-se as particularidades da profissão. Hoje, porém, há uma frágil 
linha entre o processo de trabalho e suas dimensões históricas, metodológicas e 
éticas. (IAMAMOTO, 2008).
Concordando com Iamamoto, Netto (2001) mostra que a década de 
80 marca a ruptura do serviço social com o conservadorismo, porém ele não 
foi superado. Houve pequenas brechas para que os assistentes sociais se 
posicionassem criticamente, podendo haver uma reflexão sobre as ideologias 
políticas que movem o país. Algumas centenas de livros e artigos já foram 
publicados sobre o serviço social : entre eles, Netto (2001), que fala sobre a 
legitimidade da profissão que hoje perde espaço para outros profissionais que 
têm práticas muito semelhantes às do assistente social e, por causa disso, tem-se 
a necessidade de ampliar os campos de intervenção desse profissional.
NOTA
Práticas que são semelhantes às do assistente social: Psicologia social, 
Administrador de recursos humanos, Sociologias aplicadas etc.
Diante dessa constatação, o autor defende ainda que os profissionais dos 
anos 90 não estão adequadamente qualificados para o enfrentamento da nova 
realidade, pois o serviço social está com seus parâmetros teórico-ideológicos 
ultrapassados. A maioria dos profissionais docentes vive à margem dos anos da 
ditadura ou na sombra dos anos 80, e o aluno ingresso nas faculdades também 
possui um novo perfil.
NOTA
O novo perfil de aluno é de renda baixa/média e baixo nível cultural.
O final dos anos 80 e o começo dos 90, entretanto, não foram de todo 
ruins. Tivemos conquistas como a Constituição Federal de 1988, que garantiu o 
ECA, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a Lei Orgânica da Assistência Social – 
LOAS, Lei nº 8.742, de 1993, e o Sistema Único de Saúde.
Já Antunes (1997) afirma que os anos 90 trazem uma nova realidade 
econômica e social ao país, em que o serviço social é obrigado a fazer a leitura 
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
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e intervir nas novas configurações das questões sociais, que trazem temáticas 
relativas à exclusão por causa da precarização do trabalho.
Hoje o assistente social tem deveres com os demandatários principalmente 
porque, na articulação entre teoria e prática, decifra a realidade e cria alternativas 
que transcendem o individualismo, como está no Código de Ética de 1993, 
rompendo com práticas tuteladoras e ampliando os canais de cidadania e 
participação dos demandatários como sujeitos políticos.
A Lei Orgânica da Assistência Social define os objetivos da profissão, 
colocando no inciso um a proteção à família, à maternidade, à infância, à 
adolescência e à velhice; além disso, a Assistência Social deverá ser realizada de 
forma integrada a outras políticas, sempre no enfrentamento da pobreza e luta 
pela universalização dos direitos sociais. 
Toda a mudança do mundo do trabalho transformou a classe que vive do 
trabalho numa grande massa dependente de assistência, pois as questões sociais 
emergiram de forma rápida, impulsionando os profissionais a atuações urgentes.
Diante de todas as mudanças, temos que repensar o profissional que 
começou sua história no Brasil como um instrumento de repreensão por parte do 
Estado. Hoje é uma profissão que atua tanto no âmbito público como no privado, 
tendo os mais variados tipos de intervenção: desenvolveu-se nas pesquisas, 
avançou no nível acadêmico e na organização social (YASBEK, 2008).
RESGATE HISTÓRICO SOBRE O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL 
NO BRASIL
Lívia Carla de Souza Almeida
A história do serviço social está ligada aos fatos históricos, segundo Silva 
(1995), pois, “[...] não deve ser entendida como uma cronologia de fatos, mas na 
sua ligação com o contexto geral da sociedade [...] isto é, a história dos processos 
econômicos, das classes e das próprias ciências sociais.” (p. 35). 
Inicialmente, o serviço social se apresenta envolvido com os interesses da 
classe dominante, mas, antagonicamente, também está sujeito à classe subalterna, 
sendo o mediador entre ambas as classes. A contradição é uma característica 
presente em países industrializados, assim como os altos índices de pauperismo 
na zona urbana. 
Por volta da década de 30, começa a haver no Brasil uma urbanização 
crescente, e as contradições da industrialização fazem surgir as lutas reivindicativas, 
a classe trabalhadora passa a se organizar, resultando na hostilidade do outro 
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 1 | TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
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grupo. Nasce, neste momento, através do papel pacificador por parte do Estado, 
a institucionalização do serviço social que, movido pelas profundas alterações 
sociais através do processo de transição do modelo agrário-comercial para o 
modelo industrial, atua frente à “questão social” que é apresentada diante de todos. 
Segundo Iamamoto (2004, p. 18) “o debate sobre a ‘questão social’ atravessa toda 
a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem 
diante dela”. 
A Igreja Católica torna-se fundamental na abertura das duas primeiras 
escolas de serviço social : a Escola de serviço social de São Paulo, em 1936, e a 
Escola de serviço social do Rio de Janeiro, em 1937, sendo essas duas escolas as 
pioneiras do serviço social no Brasil. 
Silva (1995) afirma que, desde o ano da criação das primeiras escolas de 
serviço social até 1945, são definidos três eixos para a formação profissional do 
assistente social. São eles: 
• formação científica, na qual era necessário o conhecimento das disciplinas como 
Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favorecendo ao educando uma visão 
holística do homem, ajudando-o a criar o hábito da objetividade; 
• formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto à sua ação no 
combate aos males sociais; e a 
• formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios inerentes à 
profissão sejam absorvidos pelos alunos. 
A expansão da economia norte-americana na América Latina resultou na 
adoção do Brasil pelo desenvolvimentismo que monopolizava a economia e a 
política, havendo influência norte-americana também no serviço social .
Foi no âmbito da influência norte-americana que importamos, 
progressivamente, os métodos de serviço social de Caso, serviço social de 
Grupo, Organização de Comunidade e, posteriormente, Desenvolvimento de 
Comunidade. (SILVA, 1995, p. 41). 
No decorrer das décadas de 50 e 60, o assistente social é preparado como 
mão de obra capaz de colocar em prática os programas sociais, com grande 
importância na realização do modelo desenvolvimentista assumido pelo país. 
Em meados da década de 60, na América Latina nota-se a ineficácia da proposta 
desenvolvimentista; nasce a proposta de transformação da sociedade, onde são 
questionados a metodologia, os objetivos e os conteúdos necessários para a 
formação profissional. Como resultado, houve muitas escolas em crise ideológica. 
Surge assim o movimento de reconceituação, cujo objetivo da ação profissional 
do serviço social seriam os problemas estruturais da sociedade, não apenas 
relacionados aos problemas individuais, grupais e comunitários. 
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
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Diante do clima repressivo e autoritário, fruto das mudanças políticas da 
década de 60, os assistentes sociais refugiam-se, cada vez mais, em uma discussão 
dos elementos que supostamente conferem um perfil peculiar à profissão: objeto, 
objetivos, métodos e procedimentos de intervenção, enfatizando a metodologia 
profissional. A tecnificação eufemiza o paternalismo autoritário presente na ação 
profissional e desenvolve métodos de imposição mais sutis que preconizam a 
‘participação’ do ‘cliente’ nas decisões que lhe dizem respeito. (IAMAMOTO, 
2004, p. 33). 
Surge com o movimento de reconceituação a construção de uma teoria e 
de uma prática, compromissocom a realidade latino-americana, ação profissional, 
posição ideológica engajada na luta com a classe oprimida e explorada. As 
conquistas do movimento de reconceituação foram a interação profissional 
continental que respondesse às problemáticas comuns da América Latina sem as 
tutelas confessionais ou imperialistas, críticas ao modelo tradicional e inauguração 
do pluralismo profissional. 
O profissional do serviço social busca, no final da década de 70 e início 
da década de 80, novas práticas para atender camadas populares. Iniciam-
se novas discussões em relação à formação profissional, currículo e à questão 
metodológica (IAMAMOTO, 2004). Com a Constituição Federal de 1988, inicia-se 
um novo tempo, em que a sociedade civil avança em busca da legitimação dos 
seus direitos. O assistente social deixa de ser um agente da caridade e caminha 
em direção à execução das políticas públicas, atuando no desenvolvimento de 
práticas auxiliares, como pesquisa, aconselhamentos, esclarecendo aos seus 
usuários os seus direitos e deveres.
FONTE: ALMEIDA, Lívia Carla de Souza. Resgate histórico sobre o surgimento do serviço social 
no Brasil. Publicado em: 5 out. 2009. Disponível em: <http://www.webartigos.com/
articles/25916/1/RESGATE-HISTORICO-SOBRE-O-SURGIMENTO-DO-SERVICO-SOCIAL-
NO-BRASIL/pagina1.html>. Acesso em: 28 fev. 2010.
TÓPICO 1 | TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
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DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia e assista:
Livro: As Primeiras-Damas e a Assistência Social – 
Relações de Gênero e Poder
Autora: Iraildes Caldas Torres.
Livro: Serviço Social , Identidade, 
Alienação
Autora: Maria Lúcia Martinelli
Filme: O Nome da Rosa
Autor: Umberto Eco
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Neste tópico abordamos o surgimento da profissão do assistente social, 
no qual foram estudados os seguintes itens:
	O processo histórico.
	As interpretações dos profissionais frente à realidade.
	A relação entre o período da ditadura e a liberdade.
	A construção bibliográfica do serviço social .
RESUMO DO TÓPICO 1
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1 Descreva com suas palavras como se desenvolveu, historicamente, o serviço 
social enquanto profissão.
2 Em que década a teoria social de Marx passa a fazer parte da referência 
analítica da profissão?
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Década de 40.
b) ( ) Década de 60.
c) ( ) Década de 80.
d) ( ) Década de 90.
3 Quais são os objetivos da profissão de assistente social definidos na Lei 
Orgânica da Assistência Social?
4 No Brasil o serviço social começou vinculado a uma instituição que lhe deu 
características até meados de 1940. Qual foi esta instituição?
a) ( ) A Igreja.
b) ( ) O Estado.
c) ( ) A Família Imperial.
d) ( ) O Governo Federal.
AUTOATIVIDADE
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17
TÓPICO 2
A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A profissão de assistente social, ao longo dos anos, foi se redefinindo 
conforme as demandas foram aparecendo e exigindo deste profissional nova 
postura frente à realidade vivenciada.
A década de 60 traz à tona divergências teóricas e metodológicas entre 
os profissionais, fazendo-os refletir sobre suas teorias. Assim nascem os avanços 
e retrocessos pelos quais a profissão iria passar, que todos conheceram como 
“movimento de reconceituação”. (GUERRA, 2009).
“Para realizar grandes conquistas, devemos não 
apenas agir, mas também sonhar; não apenas 
planejar, mas também acreditar.” 
(Anatole France)
2 OS CONTEÚDOS DESSA DIMENSÃO NA TRAJETÓRIA 
DA PROFISSÃO: O COMO FAZER A PROFISSÃO
Podemos observar que na década de 70 começam os muitos 
questionamentos de como fazer a profissão?, pois faltam publicações que abordem 
a prática profissional com certo rigor, que mostrem com mais clareza a atuação 
deste profissional. Melhor dizendo, suas técnicas e habilidades. (GUERRA, 2009).
Refletir sobre as práticas foi o primeiro caminho trilhado pelo profissional, 
e, diante das crises governamentais, surgem demandas que necessitam de 
intervenções imediatas e em longo prazo. (GUERRA, 2009).
Entretanto, na década de 80 ainda não estava totalmente clara, para os 
profissionais de serviço social , toda a particularidade do momento histórico que 
o Brasil vivenciou na década de 60 e quais os resquícios que a ditadura deixou 
para trás.
Assim, muitos assistentes sociais reproduziam em suas análises “a 
visão racionalista e tecnicista que o Estado tenta imprimir às questões sociais”. 
(GUERRA, 2009, p.141).
18
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Na Constituição de 1988, o serviço social passa a ser instituído como 
profissão, introduzindo um novo conceito na seguridade social, montando o 
tripé: saúde, assistência social e previdência. 
Mas, quais as VERTENTES desta teoria para o serviço social ?
A teoria do serviço social segue basicamente três vertentes: 
	a primeira diz respeito aos profissionais que consideram a PRÁTICA como 
determinante para as ações e, neste sentido, a teoria fica para o segundo plano;
	a segunda diz respeito aos profissionais que consideram a TEORIA como 
determinante da prática; este profissional fica sem apoio teórico quando 
surgem novas demandas;
	a terceira diz respeito aos profissionais que utilizam a TEORIA para se 
referirem às práticas, porém também faltam indicativos teórico-práticos que 
quebrem com a postura conservadora da trajetória da profissão.
Assim, as três vertentes discutem sobre as possibilidades e limites das 
teorias em fornecer suporte às práticas profissionais, permitindo que a teoria 
construída e reconstruída fique mais próxima da realidade na qual será feita a 
intervenção.
Podemos afirmar que NÃO EXISTE SEPARAÇÃO ENTRE TEORIA E 
PRÁTICA, devendo uma dar suporte à outra, pois, quando intervimos, temos que 
conhecer de forma clara a situação. Neste contexto, somente a conheceremos com 
a leitura atualizada das questões sociais existentes, porém, a partir de uma nova 
intervenção teremos um novo conhecimento, uma nova história para acrescentar 
ou contribuir com a teoria.
Podemos dizer que, de forma contínua, a teoria e a prática sempre caminharão 
juntas, num processo contínuo de maturação intelectual e profissional.
ATENCAO
Mas, a que a INSTRUMENTALIDADE está se referindo?
A instrumentalidade refere-se aos instrumentos e técnicas para a ação 
profissional, que, de acordo com Guerra (2009, p. 30), [...] “refere-se à DIMENSÃO 
que o componente instrumental ocupa na constituição da profissão”. (grifo 
nosso).
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
19
[...] a complexidade e diversidade alcançadas pela intervenção 
profissional, no sentido de atender às demandas e requisitos originais 
das classes sociais, colocam-na como dimensão mais desenvolvida da 
profissão e, portanto, capaz de indicar as condições e possibilidades 
da mesma. Tais demandas e requisições exigem do profissional a 
criação e recriação, tanto de categorias intelectuais que possam tornar 
compreensíveis as problemáticas que lhe são postas, como de novos 
sistemas de mediação que possibilitem a passagem das teorias às 
práticas. (GUERRA, 2009, p. 34).
Assim, as dificuldades, limitações e constrangimentos são parte das 
situações que o profissional enfrenta no momento de coletar as informações e 
chegar próximo da intervenção, como apresenta Guerra.
3 RAZÃO E MODERNIDADE
A RAZÃO está constantemente vinculada à discussão da LIBERDADE:
Pela via da razão foi possível ao homem libertar-se das concepções 
religiosas fundamentais na razão divina, encetando uma nova 
maneira de conceber o mundo. Esta mesma razão indica ao homem 
seu horizonte e limites e porta a capacidade de explicar os processos 
que constituem e são constitutivos e constituintes da estrutura social, 
iluminando suas condições e possibilidades de autonomia. (GUERRA, 
2009, p. 41). 
Assim podemos dizer que a razão foi o grande motivo de levar o 
homem à sua superação, tirando-o do estágio de ignorância e direcionando-o à 
racionalidade. Assim nascea era moderna, quando o homem procura conhecer 
sua própria história e reconstruí-la.
Guerra (2009) expõe que a razão não está totalmente vinculada à realidade 
e, sim, à forma como o sujeito a compreende, como reconhece e estabelece uma 
relação com o objeto observado.
Dentre as discussões envolvendo a razão, tivemos Hegel com a preocupação 
com a essência, Kant com as contradições entre razão teórica e razão prática. No século XX 
vieram juntar-se à discussão Max Weber, Comte e Émile Durkheim.
ATENCAO
Sabemos que cada um dos filósofos ou sociólogos trouxe uma receita de 
como observar a sociedade, de como intervir diante dos contextos históricos, 
culturais e políticos da época.
20
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
4 RACIONALIDADE DO CAPITALISMO E SERVIÇO SOCIAL 
O trabalho nos estudos de Marx passa a ter um significado muito além 
daquele pensado até então, pois [...] “o homem transforma a natureza e, ao fazê-
lo, transforma a si mesmo e aos outros homens”. (GUERRA, 2009, p. 102).
Marx fala dos valores de uso e de troca, e mostra como isso fica definido 
na sociedade capitalista e de que forma fica o trabalho contido no valor da 
mercadoria. Assim, o trabalhador alienado e explorado acaba não entendendo 
todo o processo, além de não visualizar o valor do trabalho contido na mercadoria.
Desta forma, as questões sociais estão relacionadas ao processo de 
trabalho, que contam, ou deviam contar, com a força do Estado para minimizar 
os estragos feitos pela exploração.
Ao tratar de interesse da sociedade, trabalha-se o enfoque coletivo, com 
a articulação da Rede Social como possibilidade de enfrentamento da violência 
de forma efetiva, buscando construir espaços públicos de discussão e construção 
conjunta de encaminhamentos. (HOLANDA, 2010, p. 2).
O pensamento neoliberal diz que todos têm igualdade de oportunidades, 
porém, quando se trabalham as questões sociais, verifica-se que a cidadania é um 
direito que é composto pela desigualdade econômica.
A sociedade moderna, nas suas mais variadas dimensões, é afetada 
pela desestruturação política, sendo a esfera pública uma das 
dimensões destacadas como objeto de estudo. Para ela, a história do 
mundo moderno é a história da dissolução do espaço público, fazendo 
emergir uma sociedade despolitizada e atomizada pela competição 
e por uma instrumentalização do mundo. A fundamentação teórica 
da noção de espaço público, em Arendt, encontra suporte nas 
tradições grega e romana que puderam ressurgir nas experiências 
revolucionárias modernas. (ARENDT apud HOLANDA, 2010, p. 2).
IMPORTANT
E
A PRÁXIS é muito além da prática cotidiana, pois “[...] é uma unidade entre 
pensamento e ação na cotidianidade. (HELLER apud GUERRA, 2009, p. 180).
Observe a atuação profissional nas situações imediatas e nos fenômenos 
emergentes, pois são diferentes, com atuação específica.
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
21
O profissional de serviço social , integrante de equipe multidisciplinar, 
deve ter sua atuação efetiva, para ser efetiva, conforme disposto no 
Código de Ética, de acordo com as exigências que são próprias ao 
exercício de um serviço público baseado numa concepção de práxis 
com constantes mediações entre teoria e prática, atentando para 
a escuta da sociedade, que demanda seus serviços num contexto 
jurisdicional. [...] 
As respostas a serem dadas a essas demandas colocam o profissional de 
serviço social numa perspectiva de responder antes a si mesmo, qual 
o uso que faz do seu conhecimento profissional e de sua racionalidade 
como profissional da área de conhecimento humano-social, colocadas 
nos seguintes termos, segundo Jürgen Habermas: 
[...] racionalidade tem mais a ver com a forma em que os sujeitos 
capazes de linguagem e de ação fazem uso do conhecimento do 
que a ver com o conhecimento ou sua aquisição. No mais, não há 
duas razões, a instrumental má e a comunicativa boa. O que parece 
haver, à mesma razão no seio da modernidade, é a possibilidade de 
um direcionamento para técnica e instrumentalidade de um lado e 
direcionamento para o diálogo e consenso por outro. (HOLANDA, 
2010, p. 8).
ESTUDOS FU
TUROS
Você verá mais tarde, na Unidade 2 deste caderno, uma discussão mais 
aprofundada com relação à RACIONALIDADE da prática profissional do assistente social.
LEITURA COMPLEMENTAR
A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Yolanda Guerra
INTRODUÇÃO
À primeira vista, o tema instrumentalidade no exercício profissional 
do assistente social parece ser algo referente ao uso daqueles instrumentos 
necessários ao agir profissional, através dos quais os assistentes sociais podem 
efetivamente objetivar suas finalidades em resultados profissionais propriamente 
ditos. Porém, uma reflexão mais apurada sobre o termo instrumentalidade nos 
faria perceber que o sufixo “idade” tem a ver com a capacidade, qualidade ou 
propriedade de algo. Com isso podemos afirmar que a instrumentalidade no 
exercício profissional refere-se, não ao conjunto de instrumentos e técnicas (neste 
caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade 
constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico. 
22
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
O objetivo do texto é o de refletir sobre a instrumentalidade no exercício 
profissional do assistente social como uma propriedade ou um determinado 
modo de ser que a profissão adquire no interior das relações sociais, no confronto 
entre as condições objetivas e subjetivas do exercício profissional.
A instrumentalidade, como uma propriedade sócio-histórica da 
profissão, por possibilitar o atendimento das demandas e o alcance de objetivos 
(profissionais e sociais), constitui-se numa condição concreta de reconhecimento 
social da profissão. 
1 A INSTRUMENTALIDADE DO TRABALHO E O SERVIÇO SOCIAL 
Foi dito que a instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade 
que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela 
possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas 
profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional 
que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições 
objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num 
determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. Ao alterarem o 
cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua 
intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos existentes, e 
os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos 
profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. 
Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adéquam às condições 
existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das 
intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste 
modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social 
quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho. Por que dizer 
que a instrumentalidade é condição de reconhecimento social da profissão? 
Todo trabalho social (e seus ramos de especialização – por exemplo, o 
serviço social ) possui instrumentalidade, a qual é construída e reconstruída na 
trajetória das profissões pelos seus agentes. Esta condição inerente ao trabalho 
é dada pelos homens no processo de atendimento às necessidades materiais 
(comer, beber, dormir, procriar) e espirituais (relativas à mente, ao intelecto, ao 
espírito, à fantasia), suas e de outros homens. Pelo processo de trabalho os homens 
transformam a realidade, transformam-se a si mesmos e aos outros homens. 
Assim, os homens reproduzem material e socialmente a própria sociedade. A ação 
transformadora que é práxis (ver LESSA, 1999 e BARROCO, 1999), cujo modelo 
privilegiado é o trabalho,tem uma instrumentalidade. Detém a capacidade 
de manipulação, de conversão dos objetos em instrumentos que atendam às 
necessidades dos homens e de transformação da natureza em produtos úteis (e 
em decorrência, a transformação da sociedade). Mas a práxis necessita de muitas 
outras capacidades/propriedades além da própria instrumentalidade. Neste 
âmbito, o processo de trabalho é compreendido como um conjunto de atividades 
prático-reflexivas voltadas para o alcance de finalidades, as quais dependem 
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
23
da existência, da adequação e da criação dos meios e das condições objetivas 
e subjetivas. Os homens utilizam ou transformam os meios e as condições sob 
as quais o trabalho se realiza modificando-os, adaptando-os e utilizando-os em 
seu próprio benefício, para o alcance de suas finalidades. Este processo implica, 
pois, manipulação, domínio e controle de uma matéria natural que resulte na 
sua transformação. Este movimento de transformar a natureza é trabalho. Mas 
ao transformar a natureza, os homens transformam-se a si próprios. Produzem 
um mundo material e espiritual (a consciência, a linguagem, os hábitos, os 
costumes, os modos de operar, os valores morais, éticos, civilizatórios) necessário 
à realização da práxis. 
Se trabalho é relação homem-natureza, e práxis é o conjunto das formas de 
objetivação dos homens (incluindo o próprio trabalho), num e noutro os homens 
realizam a sua teleologia. Toda postura teleológica encerra instrumentalidade, 
o que possibilita ao homem manipular e modificar as coisas a fim de atribuir-
lhes propriedades verdadeiramente humanas, no intuito de converterem-nas em 
instrumentos/meios para o alcance de suas finalidades.
Converter os objetos naturais em coisas úteis, torná-los instrumentos 
é um processo teleológico, o qual necessita de um conhecimento correto das 
propriedades dos objetos. Nisso reside o caráter emancipatório do trabalho. 
Entretanto, tal conhecimento seria insuficiente se a ele não se acrescentasse a 
operatividade propriamente dita, a capacidade de os homens alterarem o estado 
atual de tais objetos (GUERRA, 2000). Qual a relação entre postura teleológica e 
instrumentalidade? No trabalho o homem desenvolve capacidades, que passam 
a mediar sua relação com outros homens. Desenvolve também mediações, tais 
como a consciência, a linguagem, o intercâmbio, o conhecimento, mediações 
estas em nível da reprodução do ser social como ser histórico, e, portanto, postas 
pela práxis. Isso porque o desenvolvimento do trabalho exige o desenvolvimento 
das próprias relações sociais, e o processo de reprodução social, como um todo, 
requer mediações de complexos sociais tais como: a ideologia, a teoria, a filosofia, 
a política, a arte, o direito, o Estado, a racionalidade, a ciência e a técnica. 
(LESSA, 1999; GUERRA, 2000). Tais complexos sociais (que Lukács chama de 
mediações de “segunda ordem”, já que as de primeira ordem referem-se ao 
trabalho) têm como objetivo proporcionar uma dada organização das relações 
entre os homens e localiza-se no âmbito da reprodução social. 
O que ocorre com a instrumentalidade, com a qual os homens controlam 
a natureza e convertem os objetos naturais em meios para o alcance de 
suas finalidades, é que ela é transposta para as relações dos homens entre si, 
interferindo em nível de reprodução social. Mas isso só ocorre em condições 
sócio-históricas determinadas. Nestas, os homens tornam-se meios/instrumentos 
de outros homens. O exemplo mais desenvolvido de conversão dos homens em 
meios, para a realização de fins de outros homens, é o da compra e venda da força 
de trabalho como mercadoria, de modo que a instrumentalidade, convertida em 
instrumentalização das pessoas, passa a ser condição de existência e permanência 
da própria ordem burguesa, via instituições e organizações sociais criadas com 
24
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
este objetivo. Pelas suas características, o processo produtivo capitalista detém 
a propriedade de converter as instituições e práticas sociais em instrumentos/
meios de reprodução do capital. Isso se dá por meio de profundas e substantivas 
transformações societárias, as quais não poderão ser tratadas neste texto. Cabe-
nos apenas sinalizar que num determinado tipo de sociedade, a do capital, “o 
trabalhador deixa de lado suas necessidades enquanto pessoa humana e se 
converte em instrumentos para a execução das necessidades de outrem”. (LESSA, 
1999). (Sobre a reificação das relações sociais no capitalismo maduro ver NETTO, 
1981). Em que condições sócio-históricas a instrumentalidade como condição 
necessária da relação homem-natureza se converte em instrumentalização das 
pessoas? 
SERVIÇO SOCIAL E INSTRUMENTALIDADE 
Como decorrência das formas lógicas de reprodução da ordem burguesa 
e como modalidade sócio-histórica de tratamento da chamada questão social, 
o Estado passa a desenvolver um conjunto de medidas econômicas e sociais, 
demandando ramos de especialização e instituições que lhe sirvam de instrumento 
para o alcance dos fins econômicos e políticos que representa, em conjunturas 
sócio-históricas diversas. A questão social está sendo entendida como “expressão 
do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e do seu ingresso 
no cenário da sociedade, exigindo seu reconhecimento enquanto classe por parte 
do empresariado e do Estado”. (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982, p. 77; ver 
também NETTO, 1992 e, especialmente, 2001).
É no estágio monopolista do capitalismo, dadas as características que 
lhe são peculiares, que a questão social vai se tornando objeto de intervenção 
sistemática e contínua do Estado. Com isso, instaura-se um espaço determinado 
na divisão social e técnica do trabalho para o serviço social (bem como para outras 
profissões). A utilidade social de uma profissão advém das necessidades sociais. 
Numa ordem social constituída de duas classes fundamentais (que se dividem em 
camadas ou segmentos), tais necessidades, vinculadas ao capital e/ou ao trabalho, 
são não apenas diferentes, mas antagônicas. A utilidade social da profissão está em 
responder às necessidades das classes sociais, que se transformam, por meio de 
muitas mediações, em demandas para a profissão. Estas são respostas qualificadas 
e institucionalizadas, para o que, além de uma formação social especializada, 
devem ter seu significado social reconhecido pelas classes sociais fundamentais 
(capitalistas e trabalhadores). Considerando que o espaço sócio-ocupacional de 
qualquer profissão, neste caso do serviço social , é criado pela existência de tais 
necessidades sociais e que, historicamente, a profissão adquire este espaço quando 
o Estado passa a interferir sistematicamente nas refrações da questão social, 
institucionalmente transformada em questões sociais (NETTO, 1992), através de 
uma determinada modalidade histórica de enfrentamento das mesmas: as políticas 
sociais, pode-se conceber que as políticas e os serviços sociais constituem-se nos 
espaços sócio-ocupacionais para os assistentes sociais. 
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
25
As políticas sociais, além de sua dimensão econômico-política (como 
mecanismo de reprodução da força de trabalho e como resultado das lutas 
de classes), constituem-se também num conjunto de procedimentos técnico-
operativos, cuja componente instrumental põe a necessidade de profissionais que 
atuem em dois campos distintos: o de sua formulação e o de sua implementação. 
É neste último, no âmbito da sua implementação, que as políticas sociais fundam 
um mercado de trabalho para os assistentes sociais.
Com a complexificação da questão social e seu tratamento por parte do 
Estado, fragmentando-a e recortando-a em questões sociais a serem atendidas 
pelas políticas sociais, instituiu-se um espaço na divisão sociotécnica do trabalho 
para um profissional que atuasse na fase terminal da ação executivadas políticas 
sociais, instância em que a população vulnerabilizada recebe e requisita direta e 
imediatamente respostas fragmentadas, através das políticas sociais setoriais. É 
nesse sentido que as políticas sociais contribuem para a produção e reprodução 
material e ideológica da força de trabalho (melhor dizendo, da subjetividade do 
trabalhador como força de trabalho) e para a reprodução ampliada do capital. 
Como resultado destas determinações no processo de constituição da profissão, a 
intencionalidade dos assistentes sociais passa a ser mediada pela própria lógica da 
institucionalização, pela dinâmica da instauração da profissão e pelas estruturas 
em que a profissão se insere, as quais, em muitos casos, submetem o profissional. 
Melhor dizendo: os assistentes sociais “passam a desempenhar papéis que lhes são 
alocados por organismos e instâncias [...]” próprios da ordem burguesa no estágio 
monopolista (NETTO, 1992, p. 68), os quais são portadores da lógica do mercado. 
Assim, o assistente social adquire a condição de trabalhador assalariado com todos 
os condicionamentos que disso decorrem. Por isso é importante, na reflexão do 
significado sócio-histórico da instrumentalidade como condição de possibilidade 
do exercício profissional, resgatar a natureza e a configuração das políticas sociais 
que, como espaços de intervenção profissional, atribuem determinadas formas, 
conteúdos e dinâmicas ao exercício profissional. A este respeito, considerando 
a natureza (compensatória e residual) e o modo de se expressar das políticas 
sociais (como questão de natureza técnica, fragmentada, focalista, abstraída de 
conteúdos econômico-políticos), estas obedecem e produzem uma dinâmica que 
se reflete no exercício profissional através de dois movimentos: 
1) interditam aos profissionais a concreta apreensão das políticas sociais 
como totalidade, síntese da articulação de diversas esferas e determinações 
(econômica, cultural, social, política, psicológica), o que os limita a uma 
intervenção microscópica, nos fragmentos, nas refrações, nas singularidades; 
2) exigem dos profissionais a adoção de procedimentos instrumentais, de 
manipulação de variáveis, de resolução pontual e imediata. (Ver NETTO, 
1992, GUERRA, 1995). Quais os vínculos entre as políticas sociais e o serviço 
social ? Neste contexto, assim entendida a utilidade social da profissão, 
vinculada às políticas sociais, a instrumentalidade do serviço social pode 
ser pensada como uma condição sócio-histórica da profissão em três níveis: 
26
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
1. DA INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL FACE AO PROJETO 
BURGUÊS, o que significa a capacidade que a profissão porta (dado o caráter 
reformista e integrador das políticas sociais) de ser convertida em instrumento, 
em meio de manutenção da ordem, a serviço do projeto reformista da burguesia. 
Neste caso, dentro do projeto burguês de reformar conservando, o Estado lança 
mão de uma estratégia histórica de controle da ordem social, qual seja, as políticas 
sociais, e requisita um profissional para atuar no âmbito da sua operacionalização: 
os assistentes sociais. Este aspecto está vinculado a uma das funções que a ordem 
burguesa atribui à profissão: reproduzir as relações capitalistas de produção. 
2. DA INSTRUMENTALIDADE DAS RESPOSTAS PROFISSIONAIS, no que 
se refere à sua peculiaridade operatória, ao aspecto instrumental-operativo das 
respostas profissionais frente às demandas das classes, aspecto este que permite 
o reconhecimento social da profissão, dado que, por meio dele, o serviço social 
pode responder às necessidades sociais que se traduzem (por meio de muitas 
mediações) em demandas (antagônicas) advindas do capital e do trabalho. Isto 
porque as diversas modalidades de intervenção profissional têm um caráter 
instrumental, dado pelas requisições que tanto as classes hegemônicas quanto 
as classes populares lhe fazem. Nesta condição, no que se refere às respostas 
profissionais, a instrumentalidade do exercício profissional expressa-se: 
2.1. Nas funções que lhe são requisitadas: executar, operacionalizar, 
implementar políticas sociais a partir de pactos políticos em torno dos 
salários e dos empregos (do qual o fordismo é exemplar), melhor dizendo, 
no âmbito da reprodução da força de trabalho. 
2.2. No horizonte do exercício profissional: no cotidiano das classes 
vulnerabilizadas, em termos de modificar empiricamente as variáveis do 
contexto social e de intervir nas condições objetivas e subjetivas de vida dos 
sujeitos (visando à mudança de valores, hábitos, atitudes, comportamento de 
indivíduos e grupos). É no cotidiano – tanto dos usuários dos serviços quanto 
dos profissionais – no qual o assistente social exerce sua instrumentalidade, 
o local em que imperam as demandas imediatas, e consequentemente, as 
respostas aos aspectos imediatos, que se referem à singularidade do eu, à 
repetição, à padronização. O cotidiano é o lugar onde a reprodução social 
se realiza através da reprodução dos indivíduos (NETTO, 1987), por isso 
um espaço ineliminável e insuprimível. As singularidades, os imediatismos 
que caracterizam o cotidiano, que implicam a ausência de mediação, só 
podem ser enfrentados pela apreensão das mediações objetivas e subjetivas 
(tais como valores éticos, morais e civilizatórios, princípios e referências 
teóricas, práticas e políticas) que se colocam na realidade da intervenção 
profissional. 
2.3. Nas modalidades de intervenção que lhe são exigidas pelas demandas 
das classes sociais. Estas intervenções, em geral, são em nível do imediato, 
de natureza manipulatória, segmentadas e desconectadas das suas 
determinações estruturais, apreendidas nas suas manifestações emergentes, 
de caráter microscópico. 
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
27
Nestes três casos (2.1, 2.2, 2.3) são respostas manipulatórias, fragmentadas, 
imediatistas, isoladas, individuais, tratadas nas suas expressões/aparências (e não 
nas determinações fundantes), cujo critério é a promoção de uma alteração no 
contexto empírico, nos processos segmentados e superficiais da realidade social, 
cujo parâmetro de competência é a eficácia, segundo a racionalidade burguesa. 
São operações realizadas por ações instrumentais, são respostas operativo-
instrumentais, nas quais impera uma relação direta entre pensamento e ação e 
onde os meios (valores) se subsumem aos fins. Abstraídas de mediações subjetivas 
e universalizantes (referenciais teóricos, éticos, políticos, socioprofissionais, tais 
como os valores coletivos), estas respostas tendem a percepcionar as situações 
sociais como problemáticas individuais (por exemplo: o caso individual, a 
situação existencial problematizada, as problemáticas de ordem moral e/ou 
pessoal, as patologias individuais etc.). Quais os níveis em que tem se manifestado 
a instrumentalidade do serviço social ? 
Se muitas das requisições da profissão são de ordem instrumental (em 
nível de responder às demandas – contraditórias – do capital e do trabalho e 
em nível de operar modificações imediatas no contexto empírico), exigindo 
respostas instrumentais, o exercício profissional não se restringe a elas. Com isso 
queremos afirmar que reconhecer e atender às requisições técnico-instrumentais 
da profissão não significa ser funcional à manutenção da ordem ou ao projeto 
burguês. Isto pode vir a ocorrer quando se reduz a intervenção profissional à 
sua dimensão instrumental. Esta é necessária para garantir a eficácia e eficiência 
operatória da profissão. Porém, reduzir o fazer profissional à sua dimensão 
técnico-instrumental significa tornar o serviço social meio para o alcance de 
qualquer finalidade. Significa também limitar as demandas profissionais às 
exigências do mercado de trabalho. É também equivocado pensar que para realizá-
las o profissional possa prescindir de referências teóricas e ético-políticas. Se as 
demandas com asquais trabalhamos são totalidades saturadas de determinações 
(econômicas, políticas, culturais, ideológicas), então elas exigem mais do que 
ações imediatas, instrumentais, manipulatórias. Elas implicam intervenções que 
emanem de escolhas, que passem pelos condutos da razão crítica e da vontade 
dos sujeitos, que se inscrevam no campo dos valores universais (éticos, morais e 
políticos). Mais ainda, ações que estejam conectadas a projetos profissionais aos 
quais subjazem referenciais teórico-metodológicos e princípios ético-políticos. 
Assim, na realização das requisições que lhe são postas, a profissão necessita 
da interlocução com conhecimentos oriundos de disciplinas especializadas. O 
acervo teórico e metodológico que lhe serve de referencial é extraído das ciências 
humanas e sociais (conhecimentos extraídos das áreas de: Administração, Ciência 
Política, Sociologia, Psicologia, Economia etc.). Tais conhecimentos têm sido 
incorporados pela profissão e particularizados na análise dos seus objetos de 
intervenção. Mas a profissão também tem produzido, através da pesquisa e da sua 
intervenção, conhecimentos sobre as dimensões constitutivas da questão social, 
sobre as estratégias capazes de orientar e instrumentalizar a ação profissional 
(dentre outros temas) e os tem partilhado com profissionais de diversas áreas. 
28
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Foi dito, linhas atrás, que há dimensões da instrumentalidade do exercício 
profissional e falamos de duas delas. Mas a terceira condição da instrumentalidade 
é a de ser uma mediação. Se é verdade que a instrumentalidade se insere no espaço 
do singular, do cotidiano, do imediato, também o é que ela, ao ser considerada 
como uma particularidade da profissão, dada por condições objetivas e subjetivas, 
e como tal sócio-históricas, pode ser concebida como campo de mediação e 
instância de passagem. Diferente disso, seria tomar a instrumentalidade apenas 
como singularidade, e como tal, um fim em si mesma, de modo que estaríamos 
desconhecendo suas possibilidades como particularidade. No cotidiano, como 
o espaço da instrumentalidade, imperam demandas de natureza instrumental. 
Nele, a relação meios e fins rompe-se e o que importa é que os indivíduos 
acionem os elementos necessários para alcançarem seus fins. Mas pelas próprias 
características do cotidiano, os homens não se perguntam pelos fins: a quem 
servem? que forças reforça? qual o projeto de sociedade que está na sua base?, 
tampouco pelos valores que estão implicados nas ações desencadeadas para 
responder imediata e instrumentalmente ao cotidiano. 
Por que o cotidiano é o espaço para a realização das ações instrumentais? 
A instrumentalidade do exercício profissional como mediação 
Tratar-se-á aqui da instrumentalidade como uma mediação que permite a 
passagem das ações meramente instrumentais para o exercício profissional crítico e 
competente. Como mediação, a instrumentalidade permite também o movimento 
contrário: que as referências teóricas, explicativas da lógica e da dinâmica da 
sociedade, possam ser remetidas à compreensão das particularidades do exercício 
profissional e das singularidades do cotidiano. Aqui, a instrumentalidade sendo 
uma particularidade e como tal, campo de mediação, é o espaço no qual a cultura 
profissional se movimenta. Da cultura profissional os assistentes sociais recolhem 
e na instrumentalidade constroem os indicativos teórico-práticos de intervenção 
imediata, o chamado instrumental-técnico ou as ditas metodologias de ação. 
Reconhecer a instrumentalidade como mediação significa tomar o 
serviço social como totalidade constituída de múltiplas dimensões: técnico-
instrumental, teórico-intelectual, ético-política e formativa (GUERRA, 1997), e a 
instrumentalidade como uma particularidade e, como tal, campo de mediações 
que porta a capacidade tanto de articular estas dimensões quanto de ser o conduto 
pelo qual as mesmas traduzem-se em respostas profissionais. No primeiro caso 
a instrumentalidade articula as dimensões da profissão e é a síntese das mesmas. 
No segundo, ela possibilita a passagem dos referenciais técnicos, teóricos, 
valorativos e políticos e sua concretização, de modo que estes se traduzam em 
ações profissionais, em estratégias políticas, em instrumentos técnico-operativos. 
Em outros termos, ela permite que os sujeitos, face à sua intencionalidade, invistam 
na criação e articulação dos meios e instrumentos necessários à consecução das 
suas finalidades profissionais. 
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
29
Afirmamos que, como particularidade, a instrumentalidade é campo 
de mediação, dentre elas, da cultura profissional. No exercício profissional o 
assistente social lança mão do acervo ídeo-cultural disponível nas ciências sociais 
ou na tradição marxista e o adapta aos objetivos profissionais. Constrói um certo 
modo de fazer que lhe é próprio e pelo qual a profissão torna-se reconhecida 
socialmente. Produz elementos novos que passam a fazer parte de um acervo 
cultural (re) construído pelo profissional e que se compõe de objetos, objetivos, 
princípios, valores, finalidades, orientações políticas, referencial técnico, teórico-
metodológico, ídeo-cultural e estratégico, perfis de profissional, modos de 
operar, tipos de respostas; projetos profissionais e societários, racionalidades 
que se confrontam e direção social hegemônica etc. Deste modo, a cultura 
profissional, como construção coletiva e base na qual a categoria se referencia, 
é também ela uma mediação entre as matrizes clássicas do conhecimento – suas 
programáticas de intervenção e os projetos societários que os norteiam – e as 
particularidades que a profissão adquire na divisão social e técnica do trabalho. 
Ela abarca forças, direções e projetos diferentes e/ou divergentes/antagônicos e 
condiciona o exercício profissional. Na definição das finalidades e na escolha dos 
meios e instrumentos mais adequados ao alcance das mesmas, os homens estão 
exercendo sua liberdade (concebida historicamente como escolha racional por 
alternativas concretas dentro dos limites possíveis). Tais finalidades (ainda que 
de caráter individual) estão inscritas num quadro valorativo e somente podem 
ser pensadas no interior deste quadro, entendido como acervo cultural do qual 
o profissional dispõe e lhe orienta as escolhas técnicas, teóricas e ético-políticas. 
Tais escolhas implicam projetar tanto os resultados e meios de realização quanto 
as consequências. Isso porque, no âmbito profissional, não existem ações pessoais, 
mas ações públicas e sociais de responsabilidade do indivíduo como profissional 
e da categoria profissional como um todo. Para tanto, há que se ter conhecimento 
dos objetos, dos meios/instrumentos e dos resultados possíveis. 
Com isso pode-se perceber que a cultura profissional incorpora conteúdos 
teórico-críticos projetivos. Pela mediação da cultura profissional o assistente social 
pode negar a ação puramente instrumental, imediata, espontânea e reelaborá-
la em nível de respostas socioprofissionais. Na elaboração de respostas mais 
qualificadas, na construção de novas legitimidades, a razão instrumental não dá 
conta. Há que se investir numa instrumentalidade inspirada pela razão dialética. 
O que significa reconhecer a instrumentalidade do exercício profissional 
como mediação? 
CONCLUSÃO – SERVIÇO SOCIAL E RAZÃO DIALÉTICA 
Ainda que surgindo no universo das práticas reformistas integradoras que 
visam controlar e adaptar comportamentos, moldar subjetividades e formas de 
sociabilidade necessárias à reprodução da ordem burguesa, de um lado, e como 
decorrência da ampliação das funções democráticas do Estado, fruto das lutas 
de classes, de outro, o serviço social , entretecido pelos interesses em confronto, vai 
ampliando as suas funções até colocar-se no âmbito da defesa da universalidade 
30
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICADO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
de acesso a bens e serviços, dos direitos sociais e humanos, das políticas públicas 
e da democracia. Pela instrumentalidade da profissão, pela condição e capacidade 
de o serviço social operar transformações, alterações nos objetos e nas condições 
(meios e instrumentos), visando alcançar seus objetivos, vão passando elementos 
progressistas, emancipatórios, próprios da razão dialética. Pressionando a 
profissão, tais forças progressistas (internas e externas) permitem que a profissão 
reveja seus fundamentos e suas legitimidades, questione sua funcionalidade e 
instrumentalidade, o que permite uma ampliação das bases sobre as quais sua 
instrumentalidade se desenvolve. Ao desprender da base histórica pela qual a 
profissão surge, o serviço social pode qualificar-se para novas competências, 
buscar novas legitimidades, indo além da mera requisição instrumental-operativa 
do mercado de trabalho. Este enriquecimento da instrumentalidade do exercício 
profissional resulta num profissional que, sem prejuízo da sua instrumentalidade, 
no atendimento das demandas possa antecipá-las, que habilitado no manejo do 
instrumental técnico saiba colocá-lo no seu devido lugar (qual seja, no interior do 
projeto profissional) e, ainda, que reconhecendo a dimensão política da profissão, 
inspirado pela razão dialética, invista na construção de alternativas que sejam 
instrumentais à superação da ordem social do capital.
FONTE: GUERRA, Yolanda. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. In: Cadernos 
do Programa de Capacitação Continuada para Assistentes Sociais. Capacitação 
em serviço social e Política Social. Módulo 4. Brasília: CFESS/ABEPSS – UNB, 2000. 
Disponível em: <http://www.danielafonso.com.br/files/Yolanda%20Guerra.pdf>. 
Acesso em: 10 fev. 2010.
TÓPICO 2 | A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL
31
DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você assista e leia:
- Revista Serviço Social e Sociedade 
n.54. São Paulo: Cortez, 1997, 
que trata da descentralização, 
cidadania e participação.
 - GUERRA, Yolanda. A 
instrumentalidade do serviço social . 
São Paulo: Cortez, 2005.
- Filme: Central do Brasil, de Walter 
Salles
- Filme: Casa de Areia, 2005, direção: 
Andrucha Waddington
32
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico estudamos acerca do significado da instrumentalidade do 
serviço social e foram abordados os seguintes itens:
• Reflexão sobre o fazer profissional desde a década de 70.
• As vertentes da teoria do serviço social .
• A importância da Constituição de 1988.
• O que é a instrumentalidade.
33
1 Relacione as colunas referentes às vertentes em serviço social .
(1) 1ª vertente. 
(2) 2ª vertente.
(3) 3ª vertente.
(4) 4ª vertente.
( ) Esta vertente não existe.
( ) Profissionais que utilizam a TEORIA para se referirem às práticas.
( ) Profissionais que consideram a PRÁTICA como determinantes para as ações.
( ) Profissionais que consideram a TEORIA como determinantes da prática.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A ordem correta é 1-2-3-4.
b) ( ) A ordem correta é 1-4-2-3.
c) ( ) A ordem correta é 4-3-1-2.
d) ( ) A ordem correta é 4-3-2-1.
2 Na Constituição de 1988, o serviço social passa a ser instituído como profissão 
e monta o tripé, elevando o serviço à condição de política social. (GUERRA, 
2009). Qual é o conjunto que forma o tripé?
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Saúde – Previdência – Assistência social.
b) ( ) Previdência – Assistência – Informática.
c) ( ) Comunicação – Previdência – Segurança.
d) ( ) Segurança – Assistência – Informática.
AUTOATIVIDADE
34
35
TÓPICO 3
AS COMPETÊNCIAS DO SERVIÇO SOCIAL 
NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, 
ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que atualmente existe uma exigência cada vez maior na 
qualificação e atuação profissional, seja do assistente social ou qualquer outra 
profissão. E neste sentido trabalharemos neste tópico as diversas dimensões 
que norteiam a atuação profissional do assistente social e suas competências na 
atualidade. De acordo com Guerra (1999, p. 77),
[...] a nossa profissão, ao longo da sua trajetória, vem se caracterizando 
pelo não enfrentamento de algumas problemáticas, o que [...] tem 
produzido, reproduzido e alimentado algumas insuficiências de 
natureza ÍDEO-TEÓRICAS, POLÍTICAS e PRÁTICO-OPERATIVAS 
[...]
Pretendemos desmistificar estes dilemas conceituais, para assim poder 
compreender melhor a nossa atuação profissional. Antes de qualquer coisa, 
devemos relembrar um pouco do Tópico 4, da Unidade 2, do Caderno de 
Trabalho e Contemporaneidade, que tratou da questão da formação profissional 
do assistente social na atualidade. O caderno apresentou um quadro analítico 
referente aos PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PRÁTICA 
PROFISSIONAL DO assistente social, que será apresentado por núcleos 
separados para, assim, nos aprofundarmos nesta discussão.
“Se nós não planejarmos o nosso futuro, 
outros o farão para nós, por nós ou, pior..., 
contra nós.” 
(Eliezer Arantes da Costa)
36
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS 
COMPETÊNCIAS DO SERVIÇO SOCIAL NA 
CONTEMPORANEIDADE
Se, no momento da ORIGEM do serviço social , como uma profissão 
inscrita na divisão do trabalho, era apenas a sua DIMENSÃO TÉCNICA que 
lhe garantia os estatutos de eficácia e competência profissional (isto é, era a 
forma e os resultados imediatos de sua ação que lhe garantiam legitimidade 
e reconhecimento da sociedade), o Movimento de Reconceituação buscou 
superar essa visão unilateral. No universo das diversas correntes que atuaram 
nesse movimento, a principal motivação era dar ao serviço social um estatuto 
científico.
E mais propriamente, no âmbito da corrente que Netto (2004) denominou 
de “INTENÇÃO DE RUPTURA” (que para ele significa o rompimento 
com as visões conservadoras da profissão), foi levantada a necessidade de 
que a profissão se debruçasse sobre a produção de um conhecimento crítico 
da realidade social, para que o próprio serviço social pudesse construir os 
objetivos e (re)construir objetos de sua intervenção, bem como responder às 
demandas sociais colocadas pelo mercado de trabalho e pela realidade. Assim, 
pôde o serviço social aprofundar o diálogo crítico e construtivo com diversos 
ramos das chamadas Ciências Humanas e Sociais (Economia, Sociologia, 
Ciência Política, Antropologia, Psicologia).
A partir de então, entramos no período em que os autores 
contemporâneos da profissão chamam de “MATURIDADE ACADÊMICA E 
PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL ” (NETTO, 1996), que procurou 
definir novos requisitos para o status de competência profissional. Iamamoto 
(2004), após realizar uma análise dos desafios colocados ao serviço social nos 
dias atuais, apontou três dimensões que devem ser do domínio do assistente 
social: [dimensão TEÓRICO-METODOLÓGICA, dimensão TÉCNICO-
OPERATIVA e dimensão ÉTICO-POLÍTICA].
Antes de qualquer coisa, devemos relembrar alguns aspectos históricos 
para contextualizar a nossa explanação referente às competências profissionais 
do assistente social. Neste sentido, vejamos o que Souza (2008, p. 121, grifo nosso) 
tem a nos dizer:
Caro(a) acadêmico(a), neste momento estudaremos cada uma delas, para 
compreender melhor estas competências profissionais do assistente social.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
37
3 COMPETÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA
Com relação à COMPETÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA do 
assistente social, devemos primeiramente compreender o que Yolanda Guerra 
tem estudado e refletido por inúmeros trabalhos, publicações e livros sobre a 
instrumentalidade do serviço social .
Guerra (1999, p. 79) expõe primeiramente que “as formulações teórico-
metodológicas de Marx, das quais no serviço social a vertente da intenção de 
ruptura é herdeira,entende haver uma autoimplicação entre TEORIA SOCIAL e 
MÉTODO.”
Neste sentido, qual seria o PAPEL da TEORIA na construção profissional 
do assistente social?
IMPORTANT
E
De acordo com Guerra (1999, p. 79), “o papel da teoria é o de ILUMINAR as 
estruturas e as dinâmicas dos processos sociais, as determinações contraditórias dos 
fatores e fenômenos, dissolver a positividade dos fatos pela sua negação, mas não 
oferece, nem se propõe a isso, uma pauta acerca dos instrumentos de intervenção sobre a 
realidade social.”
Mas, onde fica a questão do MÉTODO, na atuação profissional do 
assistente social?
IMPORTANT
E
De acordo com Guerra (1999, p. 79-80), “a concepção do método, no âmbito 
do referencial marxiano, [é tida] como o CAMINHO DO PENSAMENTO, a direção analítica, 
que obedece ao movimento do objeto, afasta-se muito daquela que toma o método como 
o conjunto de procedimentos e/ou regras do conhecimento ou, ainda, como meio de 
aplicação deste conhecimento.”
Ou seja, o método não é simplesmente a aplicabilidade de um instrumento 
de ação, mas é “o COMO FAZER” e a “SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA”, 
enquanto caminho analítico, advindo de uma análise teórica da realidade 
cotidiana e vivencial da questão social a ser trabalhada. 
38
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Mas, quais são as TENDÊNCIAS que permeiam a trajetória histórica da 
profissão do assistente social com relação às teorias e práticas?
Guerra (1999, p. 80) coloca-nos que “existem três tendências que 
acompanham a trajetória da profissão, as quais se vêm manifestando de maneira 
híbrida” ao longo da história do serviço social , que são:
FONTE: Pieritz (2010)
FIGURA 1 – TENDÊNCIAS QUE PERMEIAM A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA 
PROFISSÃO DO ASSISTENTE SOCIAL
PRIMEIRA TENDÊNCIA: A PRÁTICA como base de atuação profissional 
Para os profissionais do serviço social 
[...] que têm a PRÁTICA como fundamento de determinação de suas 
ações, as teorias não passam de construções abstratas, já que se situam 
secundariamente frente à prática, cabendo a esta, em última instância, 
fornecer indicativos sobre os instrumentos operativos capazes de 
possibilitar uma ação efetiva nas situações concretas. (GUERRA, 1999, 
p. 80).
Neste sentido, podemos observar que com a experiência prática do dia 
a dia, adquirida ao longo da atividade laboral do serviço social , os assistentes 
sociais desenvolvem procedimentos técnicos de atuação e intervenção. Ou seja, a 
atuação profissional do assistente social se dá por meio da acumulação empírica 
de informações obtidas cotidianamente durante as práticas profissionais, e nestas 
práticas repetitivas constituem suas ações profissionais.
SEGUNDA TENDÊNCIA: A CONSTRUÇÃO TEÓRICA como base de 
atuação profissional 
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
39
Para os profissionais do serviço social , de acordo com Guerra (1999, p. 
80), que “consideram que as CONSTRUÇÕES TEÓRICAS são determinantes da 
prática, a opção do profissional por uma teoria passa a se constituir na sua ‘camisa 
de força’ (ou se limita ao âmbito de mera declaração de princípios), uma vez que 
esta aparece como a expressão mais formalizada e completa da realidade, dela 
exigindo respostas e instrumentos capazes de colocar a ‘teoria em ação’. Mas, “o 
VALOR DA TEORIA, neste caso, consiste em construir um quadro explicativo do 
objeto que contemple um conjunto de técnicas e instrumentos de valor operacional. 
Concebidas como paradigmas “de explicação da realidade social.” (GUERRA, 
1999, p. 80).
Nesta perspectiva, podemos falar que os profissionais que adotam 
esta tendência procuram constantemente na teoria as explicações da realidade 
cotidiana, ou seja, que a teoria lhes proporcione os modelos de intervenção, de 
acordo com cada realidade enfrentada.
TERCEIRA TENDÊNCIA: Uma nova CONCEPÇÃO da TEORIA como 
base de atuação profissional
Esta vertente, segundo Guerra (1999, p. 81): 
[...] reconhece a TEORIA como processos de re-construção, de re-
figuração da realidade pelo pensamento, vinculada a determinados 
projetos de sociedades, à visão de homem e mundo, frente às quais 
o profissional assume uma posição, e a determinados métodos de 
conhecimento e interpretação da sociedade.
Assim, a atuação profissional do assistente social vem se re-configurando 
ao longo dos tempos, pois a própria teoria que embasa a sua práxis profissional 
também vem se adequando às novas realidades cotidianas. 
Mas, será que é só isto? Será que não há OUTROS ASPECTOS que nos 
possibilitem compreender melhor estas três TENDÊNCIAS que permeiam a 
atuação profissional do assistente social?
Pois bem, é óbvio que devemos compreender mais alguns aspectos 
correlacionados com a nossa atuação profissional, pois ela não é tão simples 
assim. Vejamos:
Em primeiro lugar: existe uma 
[...] REDUÇÃO na forma de CONCEBER AS TEORIAS, limitando 
suas contribuições ao nível de dar respostas imediatas às situações 
concretas e, ainda, de fornecer instrumentos para a intervenção. Neste 
caso, trata-se de ‘teorias de resultados’ e o pressuposto é o de que há 
uma relação direta e imediata entre teoria e prática. (GUERRA, 1999, 
p. 81).
40
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Em segundo lugar: algumas vertentes de assistentes sociais “NÃO 
CONSIDERAM que teoria e prática, pensamento e ação, idealidade e 
materialidade, possuem naturezas diversas.” (GUERRA, 1999, p. 81).
Em terceiro lugar: outros “NÃO PERMITEM a elucidação dos princípios 
que subjazem às noções de teoria vigentes na profissão e esta questão remete 
ao outro polo da relação, qual seja, qual a concepção que se tem do serviço social 
(arte, ciência, técnica, prática profissional.” (GUERRA, 1999, p. 81).
Não é só isto. Há mais. Também existem alguns PROBLEMAS com 
relação à teoria e prática no serviço social que precisamos compreender. 
Segundo Guerra (1999, p. 81-82), são eles:
1. No que tange à requisição dos profissionais por teorias que respondam 
às necessidades de intervenção profissional, temos a considerar que entre 
teoria e prática não há correspondência direta e imediata. A relação entre 
elas se processa por MEDIAÇÕES OU SISTEMAS DE MEDIAÇÕES que 
envolvam experiência, representações, concepções de mundo, projetos de 
sociedade, relações sociais.
2. Por que não há uma passagem direta da teoria à prática? A problematização 
desta questão requer uma remissão à premissa (na qual nos apoiamos) de 
que as teorias sociais são reflexões sistemáticas que tendem a elaborar uma 
explicação macroscópica sobre a sociedade e, neste sentido, há diferentes 
teorias e diferentes métodos que se aproximam mais ou menos da realidade 
social.
3. Se concebermos teoria como a (re)figuração dos fatos, fenômenos e 
processos, há que se considerar que esta apreensão da realidade pela via 
do pensamento se encontra repleta de mediações de diferentes naturezas: 
experiências diversas, visões de homem e mundo, projetos de sociedade, 
representações, relações sociais.
4. Quanto à natureza destas instâncias. Embora considerando teoria/prática, 
pensamento/ação, objetividade/subjetividade como DOIS POLOS de um 
mesmo movimento, não há uma identidade entre elas. Tampouco pode 
haver preponderância de uma sobre a outra.
5. NÃO se EXTRAI teoria da prática, muito menos é função das teorias sociais 
oferecer respostas e procedimentos manipulatórios às práticas profissionais 
localizadas e particulares.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
41
IMPORTANT
E
“Para que NASÇA UM CONCEITO, é necessário que as percepções importantes 
para a vida se tornem autônomas em relação à causa delas.” (LUKÁCS, 1968). Para este autor, 
o momento da conceituação se desenvolve no curso do processo de socialização dos 
homens. (GUERRA, 1999, p. 83).
Continuando nossa reflexão a respeitode algumas problemáticas na 
concepção da atuação profissional do assistente social, podemos observar que, de 
acordo com Guerra (1999, p. 83): 
[...] a ATIVIDADE PRÁTICA, por sua vez, se constitui numa ação 
racional de sujeitos reais. Neste sentido, as atividades práticas 
podem ser sistematizadas pelos sujeitos que as realizam, porém 
esta sistematização, que é um passo necessário e que antecede as 
elaborações teóricas propriamente ditas, não se constitui em teoria.
Mas, “[...] se, por um lado, PRÁTICAS PROFISSIONAIS NÃO 
PRODUZEM TEORIA, por outro, PODEM CONTRIBUIR PARA O AVANÇO NO 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO acerca de algumas questões e de determinados 
objetos de intervenção”. (GUERRA, 1999, p. 83).
IMPORTANT
E
Como podemos notar, “[...] há momentos teóricos e momentos práticos. Não 
pode haver o primado de um sobre o outro, mas uma hierarquia nas determinações em 
situações específicas. A unidade teoria/prática é dada pela REALIDADE, que é a base material 
de ambas”. (GUERRA, 1999, p. 83).
Lembre-se, “[...] as teorias que se baseiam em modelos, e até se gabam disto, não 
dão conta de explicar o movimento, as transformações, as alterações sociais, ou melhor, a 
realidade, e sequer podem ser pensadas como paradigmas, mas como tipologias, no sentido 
mais vulgar do termo”. (GUERRA, 1999, p. 83).
ATENCAO
42
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Outro fator importante nesta reflexão, segundo Guerra (1999, p. 84), é que 
existe uma 
[...] DIFICULDADE em estabelecer as mediações entre as teorias sociais 
macroscópicas, as práticas sociais e profissionais e as singularidades 
da intervenção profissional do assistente social; [isso] nos leva a 
incorrer em duas concepções ERRÔNEAS de teoria: ou como modelo 
de intervenção ou como justificação da prática, ambas amparadas na 
realidade.
IMPORTANT
E
Devemos saber que o serviço social é tido como uma especialização na divisão 
técnica do trabalho, portanto “[...] o serviço social NÃO TEM TEORIA PRÓPRIA. Baseia-se 
em concepções extraídas das ciências sociais ou da tradição marxista e um conjunto de 
procedimentos técnico-instrumentais, muitas vezes recriados pelos profissionais para 
responder à sua funcionalidade”. (GUERRA, 1999, p. 84).
Então, conforme Tavares e Pieritz (2010, p. 106), podemos concluir que:
	O domínio teórico-metodológico [do assistente social] só se completa 
e se atualiza ao ser frutificado pela história da realidade cotidiana, pela 
pesquisa rigorosa das condições e relações sociais particulares em que se 
vive.
	Que o pressuposto téorico-metodológico requer o acompanhamento das 
diversas dinâmicas dos processos sociais, como condição, inclusive, para 
a apreensão das problemáticas cotidianas que circunscrevem o exercício 
profissional.
	O domínio de uma perspectiva teórico-metodológica, desconexa com a 
realidade, o engajamento político ou uma base técnico-operativa não são 
suficientes para descobrir e imprimir novos caminhos para o trabalho 
profissional.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
43
Então, conforme Tavares e Pieritz (2010, p. 106), podemos concluir que:
IMPORTANT
E
O profissional deve ser QUALIFICADO para conhecer a realidade social, política, 
econômica e cultural com a qual trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor 
teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos 
fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades 
de construção de novas possibilidades profissionais. (SOUZA, 2008, p. 122).
4 COMPETÊNCIA TÉCNICO-OPERATIVA
No que tange às questões relativas às COMPETÊNCIAS TÉCNICO-
OPERATIVAS do serviço social , podemos verificar que na trajetória histórica da 
práxis profissional do assistente social brasileiro existe uma dimensão bastante 
expressiva dos campos de atuação profissional, pois, de acordo com o mundo 
do trabalho e as expressões das questões sociais apresentadas pela sociedade, 
advindas das relações do trabalho versus capital, o assistente social desenvolverá 
suas atividades sócio-ocupacionais baseadas em sua dimensão técnico-operativa.
Mas, nestas dimensões técnico-operativas existe certa complexidade 
de interpretação dos instrumentos e técnicas, ou simplesmente a definição das 
metodologias de ação e intervenção a serem desenvolvidas em cada caso. Como, 
por exemplo, no desenvolvimento e planejamento de um projeto ou programa 
social, devem-se buscar instrumentos e técnicas que propiciem resultados para 
aquela determinada realidade social, que é objeto de intervenção profissional do 
assistente social. Portanto, deve-se selecionar o instrumental técnico-operativo 
mais apropriado para aquela demanda social. E estes instrumentos devem ser 
analisados e adaptados conforme as necessidades e a realidade de intervenção 
profissional.
Mas, o que é realmente esta COMPETÊNCIA TEÓRICO-OPERATIVA do 
assistente social?
Segundo Souza (2008, p. 122, grifo nosso),
[...] o profissional deve CONHECER, SE APROPRIAR, e sobretudo, 
criar um conjunto de HABILIDADES TÉCNICAS que permitam 
ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população 
usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, organizações 
não-governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim 
uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às 
demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos 
estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social.
44
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
E estas ações profissionais do assistente social, baseadas em suas 
habilidades, conhecimentos e competências, propiciarão a este profissional um 
trabalho qualificado e necessário para a população e instituições, que se utilizam 
de sua competência técnico-operativa para intervirem na realidade cotidiana de 
nossa sociedade, no intuito de promoverem o bem social e a democracia.
Para Iamamoto e Carvalho (2008, p. 80),
[...] a existência de uma relação singular no contato direto com os 
usuários – “os clientes” – [...] reforça um certo espaço para atuação 
técnica, abrindo a possibilidade de se reorientar a forma de intervenção, 
conforme a maneira de se interpretar o papel profissional. A isso 
acresce outro traço peculiar ao serviço social : a indefinição ou fluidez 
do “que é” ou “do que faz” o serviço social , abrindo ao assistente social 
a possibilidade de apresentar propostas de trabalho que ultrapassem 
meramente a demanda institucional. Tal característica apreendida, às 
vezes, como estigma profissional, pode ser reorientada no sentido de 
ampliação de seu campo de autonomia, de acordo com a concepção 
social do agente sobre a prática.
Então, neste sentido precisamos compreender onde é que RESIDE esta 
complexidade da ação profissional no serviço social .
Pois bem, Toso (apud MIOTO e LIMA, 2009, p. 27) expõe que “[...] 
a complexidade das ações dos assistentes sociais reside em um conjunto de 
fatores que as tornam altamente variáveis, imprevisíveis e sujeitas a contínuas 
transformações.”
Mas, que FATORES seriam estes? Segundo Toso (apud MIOTO e LIMA, 
2009, p. 27, grifo nosso), são:
	os TIPOS DE DEMANDAS que requerem modalidades operativas 
flexíveis e personalizadas; 
	a QUANTIDADE e a MULTIDIMENSIONALIDADE dos problemas 
sociais dos quais sempre emergem novas demandas e necessidades; 
	a multiplicidade de contextos institucionais em interação com os seus 
constantes conflitos de competências e coordenação; 
	a INCERTEZA em relação aos recursos devido à grande variação da 
disponibilidade dos recursos públicos; 
	e a COMPLEXIDADE das respostas somada à INCERTEZA sobre seus 
efeitos, dado o grande número de variáveis intervenientes e da dificuldade 
em controlá-las.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃOE INTERVENÇÃO
45
IMPORTANT
E
Prezado(a) acadêmico(a), [...] aliado a esses fatores que estão articulados, pode-
se dizer que O PROCESSO INTERVENTIVO NÃO SE CONSTRÓI A PRIORI. Ao contrário, 
faz-se no seu próprio trajeto, e essa construção não depende só do assistente social, mas 
também dos outros sujeitos envolvidos, dentre eles, o espaço sócio-ocupacional no qual 
o profissional está inserido e os destinatários das ações nele desenvolvidas. (MIOTO; LIMA, 
2009, p. 27-28, grifo nosso).
Ou seja, é no dia a dia profissional que se desenvolve a competência 
técnico-operativa do assistente social, permeada por toda esta complexidade 
interventiva do cotidiano profissional do serviço social e suas habilidades de 
interpretação da realidade social brasileira ou mundial.
E nesta complexidade profissional, como fica a questão da QUALIDADE 
DE INTERVENÇÃO profissional do assistente social? 
Guerra (1999, p. 85-87) diz que existem duas perspectivas que precisamos 
compreender com relação à qualidade da atuação profissional do assistente 
social. São elas:
PRIMEIRO: AS CONDIÇÕES OBJETIVAS NAS QUAIS A 
INTERVENÇÃO PROFISSIONAL SE REALIZA:
A operacionalização de qualquer proposta passa pela exigência de 
condições objetivas, determinadas pelas relações de causalidade entre os 
processos que, dinâmica e contraditoriamente, movimentam os fenômenos 
postos na realidade. Não por outras razões, o movimento que dimana da 
institucionalização da profissão, a forma pela qual sua inserção na divisão social 
técnica do trabalho se realiza, a fluidez posta nas definições sobre a natureza 
e atribuições operacionais da intervenção profissional, já se colocariam como 
problemáticas suficientes para engendrarem constrangimentos à intervenção 
profissional e, consequentemente, constituírem-se em campo de investigação.
Porém, há mais. Sabe-se que as condições nas quais a intervenção 
profissional se processa são as mais adversas possíveis:
	pulverização e ausência de recursos de toda ordem para atendimento das 
demandas;
	exigência pelo desempenho de funções que muito se afastam do que o 
assistente social, ou qualquer outro profissional, se propõe realizar;
46
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
	baixos salários;
	alto nível de burocratização das organizações;
	fluidez e descontinuidade da política econômica;
	e, ainda, que o tratamento atribuído à questão social, através das políticas 
sociais estatais e privadas, é fragmentado, casuístico, paliativo.
Desse modo, as condições objetivas colocadas à intervenção 
profissional não dependem, apenas, da postura teológica individual dos seus 
agentes e de seus instrumentos de intervenção.
A própria lógica que move a ordem burguesa, pelas fragmentações 
e abstrações que produz e a sustentam, constrange qualquer prática que 
intencione romper com o conservadorismo que nutre esta mesma sociedade.
E neste sentido compete-nos atuar em direção do estabelecimento de 
condições materiais necessárias a uma intervenção profissional que supere a 
prática burocratizada, imediatista, reformista. Neste âmbito, a necessidade 
de reconhecer as estratégias e táticas políticas de ação secundariza a 
preocupação com o instrumental técnico.
SEGUNDO: A PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA 
MARXIANA:
Sabemos que Marx se preocupa com a lógica que movimenta um 
objeto determinado: a ordem burguesa.
A teoria marxiana consiste em (re)produzir, ao nível do 
pensamento, o movimento real do objeto, mas jamais a realidade, uma 
vez que esta é muito mais rica e plena de determinações (uma totalidade 
inacabada, um vir a ser) que as possibilidades da razão em apanhá-la.
Mas, a razão, já em Hegel, é astuciosa e segue a prática a todo o 
momento, guia-a, analisa suas transformações, formula conceitos de acordo 
com elas. O que pressupõe uma imbricação necessária entre teoria, prática e 
método.
A história, entendida como acumulação de forças produtivas, fornece 
o material para a análise da razão. As categorias extraídas da história são 
remetidas a ela; a razão se historiciza e a história se racionaliza.
Entre o conhecimento e a ação há mediações de diferentes naturezas, 
que incorporam as determinações objetivas da realidade e subjetivas, 
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
47
concorrentes aos sujeitos sociais que, embora desveladas pelo método, não 
são por eles solucionadas.
Exigir das formulações marxianas respostas num nível de intervenção 
na realidade, referente a um ramo de especialização da divisão social e técnica 
do trabalho, é transformá-las numa técnica social ou, no limite, enquadrá-las 
na lógica formal.
IMPORTANT
E
Caro(a) acadêmico(a): o que estamos tentando demonstrar aqui é que grande 
parte dos PROBLEMAS encontrados pelos assistentes sociais em sua atuação profissional 
não está correlacionada ao instrumental técnico em si, mas na sua APLICABILIDADE ou 
na sua SISTEMATIZAÇÃO.
Devemos, pois, ir além do simples cabedal de instrumentos técnico-
operativos, ou seja, ultrapassar “a dimensão que o componente instrumental 
ocupa na constituição da profissão.” (GUERRA, 1999, p. 87).
 
Então devemos:
FONTE: Adaptado de Guerra (1999, p. 87)
FIGURA 2 – NOÇÕES FUNDAMENTAIS SOBRE A COMPREENSÃO DA DIMENSÃO 
TÉCNICO-OPERATIVA
48
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Então, sempre deveremos fazer as seguintes reflexões antes de aplicarmos 
os instrumentais técnico-operativos:
PRIMEIRO: PARA QUE e com que propósito será aplicado um determinado 
instrumento? (objetivo do projeto, programa ou atuação profissional)
SEGUNDO: PARA QUEM será aplicado o determinado instrumento? 
(público-alvo, população usuária, demanda social)
TERCEIRO: ONDE será aplicado o determinado instrumento? (fator 
locacional: uma comunidade? Um município? Um bairro? Uma região específica? 
etc.)
QUARTO: E QUANDO aplicar o determinado instrumento? (fator 
temporal: data, período, ano)
Sempre e constantemente devemos realizar uma ANÁLISE da 
aplicabilidade do determinado instrumento ou técnica-operativa e se a mesma 
trará os resultados esperados para a transformação social pretendida.
Iamamoto e Simionato (apud MIOTO e LIMA, 2009, p. 28) complementam 
expondo que “nessa condição é que se busca delinear a questão da dimensão 
técnico-operativa” do assistente social.
Com relação à produção bibliográfica e ao exercício profissional, segundo 
Mioto e Lima (2009, p. 28-29), devemos observar que existem diferentes realidades, 
e nestas, diferentes sujeitos e indicadores que geram abordagens e intervenção 
profissional diferenciadas, que, no decorrer da história e do dia a dia profissional, 
colaboram para a construção teórico-metodológica, na qual destacamos os 
seguintes indicadores:
(a) os espaços sócio-ocupacionais que se diferenciam desde a natureza desses 
espaços (públicos ou privados), até as próprias instituições (judiciárias, 
hospitalares, de creches) (DE MARCO, 2000; ANDRADE, 2000; SOUSA, 
2000; CESAR, 1999; PAZ, 1999; COUTO, 1999); 
(b) as funções tradicionalmente desempenhadas pelos assistentes sociais, 
tais como, parecer social, plantão social, levantamento socioeconômico 
(SARMENTO, 2000; SILVA 2000); 
(c) as classificações a partir da sistematização ou análise das ações que 
estão sendo realizadas em áreas de inserção do serviço social – exemplo 
importante disso é a pesquisa de Costa (2000) na área da saúde; 
(d) as diferentes políticas sociais (saúde, habitação, assistência social) 
(VASCONCELOS, 2000; BRAVO 1996); 
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
49
Ou seja, diante desse cenário, devemos compreender que o assistente 
social norteia-se pelos seguintes indicadores sociais básicos:
(e) a população-alvo da atenção do assistente social, como idosos, mulheres, 
crianças e adolescentes. 
Particularmente,no campo do exercício profissional, além dos 
indicadores destacados, encontramos outro: a definição do exercício 
a partir dos instrumentos técnico-operativos (entrevistas, relatórios, 
encaminhamentos, visitas domiciliares etc.).
FONTE: Pieritz (2010)
Conforme a figura anterior, de acordo com a expressão da questão social de 
um determinado segmento, seu público-alvo e a realidade cotidiana, o assistente 
social buscará identificar em seu cabedal técnico-operativo o instrumento ou 
técnica que possibilitará responder à demanda a ser trabalhada. Veja este ciclo na 
representação gráfica a seguir:
FIGURA 3 – INDICADORES BÁSICOS DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
50
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
FONTE: Pieritz (2010)
FIGURA 4 – CICLO DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO assistente social
IMPORTANT
E
Não podemos nos esquecer de fazer os questionamentos estudados sobre 
a aplicabilidade do instrumento (para que, para quem, onde e quando fazer) e analisar a 
realidade da questão a ser trabalhada.
Sobre a competência técnico-operativa da prática profissional do assistente 
social podemos concluir, então, que, conforme Tavares e Pieritz (2010, p. 106):
	Só o domínio técnico-operativo, desconexo com a realidade, o engajamento 
político ou uma base teórico-metodológica não são suficientes para a 
atuação profissional do assistente social.
	Ao se descolar dos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos, a 
competência técnico-operativa poderá derivar em mero tecnicismo.
5 COMPETÊNCIA ÉTICO-POLÍTICA
Na competência ÉTICO-POLÍTICA, de acordo com Souza (2008, 
p.121-122, grifo nosso):
O assistente social não é um profissional “NEUTRO”. Sua prática 
se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade 
capitalista – relações essas que são contraditórias. 
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
51
FONTE: Pieritz (2010)
FIGURA 4 – CICLO DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO assistente social
Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento 
político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa 
ter clareza de qual é a direção social da sua prática. 
Isso implica assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática 
– valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos 
Assistentes Sociais, e que assumem claramente uma postura profissional de 
articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade.
Esta premissa ético-política, segundo Santos (2007, p. 75), vem para 
consolidar “os valores e princípios legitimados no atual Código de Ética e 
possibilitar apreender a prática profissional em sua dimensão teleológica.”
Mas, qual é esta dimensão TELEOLÓGICA?
NOTA
A teleologia (do grego τέλος, fin, y -logía) é o estudo dos fins últimos da sociedade, 
humanidade e natureza. Suas origens remontam a Aristóteles, com a sua noção de que as 
coisas servem a um propósito. 
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Teleologia>. Acesso em: 1 mar. 2010.
Com relação à dimensão TELEOLÓGICA, podemos observar que, 
segundo Nicolau (2004, p. 85-86):
O fazer profissional do assistente social é definido como atividade, 
ou o próprio trabalho fazendo parte de determinado processo de trabalho 
historicamente construído e socialmente determinado pelo jogo de forças, que 
articulam uma dada totalidade social.
A inserção dessa atividade em um processo de trabalho é feita segundo 
sua caracterização como forma particular de serviço que se concretiza em 
espaços institucionais, visando à reprodução material e espiritual da força de 
trabalho no processo de reprodução das relações sociais.
 Assumindo esta particularidade, o trabalho do assistente social 
incide sobre a consciência dos outros indivíduos sociais e de si próprio, 
OBJETIVANDO A MUDANÇA DE ATOS E COMPORTAMENTOS.
52
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Tais características circunscrevem, na práxis social, a posição 
teleológica deste trabalho profissional: trabalho que, ao ser midiatizado 
pelos serviços socioassistenciais demandados pelos setores público e privado, 
em respostas às diferentes expressões da questão social, concretiza-se de 
forma dominante no nível político-ideológico.
NOTA
Para Lukács (1981, p. 23), a posição TELEOLÓGICA é um “[...] momento efetivo da 
realidade material”, por fazer parte e integrar a essência do ser social.
Então, Iamamoto complementa esta análise expondo que:
A prestação desses serviços, que têm valor de uso e consumo privado 
pelos seus potenciais usuários, quando viabilizada pelos assistentes 
sociais – mediante o processo de trabalho do qual participa no 
âmbito institucional –, teleologicamente incide não só na reprodução 
material da força de trabalho desses usuários, como também na sua 
reprodução espiritual, ou seja, nas formas de consciência social em 
suas dimensões jurídicas, religiosas, artísticas ou filosóficas, por 
intermédio das quais os usuários dos serviços tomam consciência 
das mudanças ocorridas nas condições materiais de produção. (apud 
NICOLAU, 2004, p. 87).
Neste sentido podemos compreender que o “FAZER profissional” no dia 
a dia do assistente social, na complexidade do mundo de trabalho capitalista, 
não está permeado na transformação da natureza, mas na transformação do 
HOMEM, enquanto ser social, sujeito de direitos e deveres, ou seja, o fazer 
profissional do assistente social se processa no âmbito da consciência social do 
homem que vive em sociedade, e está permeado por princípios e valores ético-
morais, que conduzem às diversas formas de pensar, agir e enxergar o mundo.
Segundo Nicolau (2004, p. 87):
[...] na PRÁXIS SOCIAL, essa posição teleológica, considerada 
secundária, envolve decisões humanas, as quais são influenciadas por 
normas, símbolos, hábitos, atitudes e valores culturais que incidem 
diretamente nos atos e comportamentos dos indivíduos, no seu modo 
de viver e de trabalhar, socialmente determinado.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
53
A autora complementa ainda dizendo que “nessa posição teleológica, que 
interfere no modo de viver e de trabalhar dos indivíduos, [...] os profissionais, 
com base no conhecimento concreto da realidade vivida por esses indivíduos, 
propõem intencionalidades e objetivos a seus projetos iniciais”. (2004, p. 88).
Mas, como poderemos CONCRETIZAR as intencionalidades do agir 
profissional do assistente social?
Os objetos e intencionalidades poderão ser “concretizados pela 
MEDIAÇÃO do seu trabalho profissional específico”, pois “nesse processo 
de objetivação não só novas relações foram construídas, objetivadas, tornadas 
reais e concretas no modo de viver, de ser e existir dos indivíduos assistidos – 
mesmo que não correspondam por inteiro ao idealizado –, como também novos 
conhecimentos, novas formas de ação, novas ideias e propósitos foram construídos 
e reconstruídos no profissional que realizou tal trabalho”. (NICOLAU, 2004, p. 
88).
ESTUDOS FU
TUROS
Você verá mais tarde, na Unidade 3 deste Caderno de Estudos, o que significa a 
MEDIAÇÃO profissional do assistente social.
Mas, como fica o profissional “em si” do serviço social nesta questão da 
transformação humana pelas suas relações sociais?
Na sua INDIVIDUALIDADE, o assistente social, segundo Nicolau 
(2004, p. 88), “transformou-se, aprendeu, recriou possibilidades de uma ação 
no coletivo, com maiores condições de sociabilidade no seu interagir com 
os outros homens e com a natureza, em função do seu desenvolvimento, que 
é historicamente determinado”. Ou seja, com o seu próprio agir profissional o 
assistente social vem se transformando ao longo de sua trajetória profissional, 
e assim readequando constantemente a sua práxis profissional, pois, como 
sabemos, estamos em constantestransformações.
Portanto, após estas reflexões, qual é o CAMPO POLÍTICO-
IDEOLÓGICO da prática profissional do assistente social?
Podemos dizer que o campo político-ideológico do fazer profissional do 
assistente social, sob as concepções teleológicas, pode ser considerado, em sua 
essência, a BASE MATERIAL para a práxis profissional do serviço social . Pois, 
de acordo com Nicolau (2004, p. 88), é a partir das transformações do homem 
enquanto ser social “que se definem intencionalidades ou prévias ideações, ou 
54
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
seja, a natureza objetiva e subjetiva constituída e representada pela problemática 
daqueles indivíduos para os quais são dirigidas as ações.” Sob esta base material, 
no âmbito da consciência social, o assistente social constitui a sua intencionalidade 
de ação, ou seja, desenvolve sua intervenção junto ao público por intermédio 
das mais diversas mediações profissionais. E estas mediações devem levar em 
consideração a realidade social em que o sujeito está inserido, o referencial 
teórico-metodológico, a dimensão técnico-operativa e a base político-ideológica 
que norteia o trabalho e a práxis do assistente social.
Então, quanto ao pressuposto ético-político da prática profissional do 
assistente social, podemos concluir que:
	O serviço social dispõe de um caráter contraditório, que deriva do caráter 
das relações sociais que presidem a sociedade capitalista.
	Nesta sociedade, o serviço social inscreve-se no campo minado por 
interesses sociais antagônicos, isto é, interesses de classes distintas e em 
luta na sociedade.
	O mero engajamento político, descolado das bases teórico-metodológicas 
e do instrumental operativo para a ação profissional, é insuficiente para 
iluminar novas perspectivas para o serviço social . (TAVARES; PIERITZ, 2010, 
p. 106).
6 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS TRÊS DIMENSÕES
Segundo Souza (2008, p. 122, grifos nossos):
Essas três dimensões de competências NUNCA PODEM SER 
DESENVOLVIDAS SEPARADAMENTE – caso contrário, cairemos nas 
armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado 
histórico do serviço social (CARVALHO; IAMAMOTO, 2005).
Contudo, articular essas três dimensões coloca um desafio 
fundamental, e que vem sendo um tema de grande debate entre profissionais 
e estudantes de serviço social : a necessidade da articulação entre TEORIA 
E PRÁTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO, PESQUISA E AÇÃO, 
CIÊNCIA E TÉCNICA não deve ser encarada como dimensões separadas 
– pois isso pode gerar uma inserção desqualificada do assistente social no 
mercado de trabalho, bem como ferir os princípios éticos fundamentais que 
norteiam a ação profissional.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
55
Segundo Souza (2008, p. 122, grifos nossos):
O que se reivindica, hoje, é que a pesquisa se afirme como uma 
dimensão integrante do exercício profissional, visto ser uma condição para 
se formular respostas capazes de impulsionar a formulação de propostas 
profissionais que tenham efetividade e permitam atribuir materialidade 
aos princípios ético-políticos norteadores do projeto profissional. Ora, para 
isso é necessário um cuidadoso conhecimento das situações ou fenômenos 
sociais que são objeto de trabalho do assistente social. (IAMAMOTO, 2004, 
p. 56).
Pensar sob esse ponto de vista significa colocar o serviço social 
em um lugar de destaque, tanto no plano da produção do conhecimento 
científico (rompendo com o discurso do senso comum) como no âmbito 
das instituições públicas e privadas que, de algum modo, atuam sobre a 
“questão social”.
O assistente social ocupa um lugar privilegiado no mercado de 
trabalho: na medida em que ele atua diretamente no cotidiano das classes e 
grupos sociais menos favorecidos, ele tem a real possibilidade de produzir 
um conhecimento sobre essa mesma realidade. E esse conhecimento é, sem 
dúvida, o seu principal instrumento de trabalho, pois lhe permite ter a real 
dimensão das diversas possibilidades de intervenção profissional.
Assim, o processo de qualificação continuada é fundamental para a 
sobrevivência no mercado de trabalho. Estudar, pesquisar, debater temas, 
reler livros e textos não podem ser atividades desenvolvidas apenas no 
período da graduação ou nos “muros” da universidade e suas salas de aula. 
Se, no cotidiano da prática profissional, o assistente social não se atualiza, 
não questiona as demandas institucionais, não acompanha o movimento e 
as mudanças da realidade social, estará certamente fadado ao fracasso e a 
uma reprodução mecânica de atividades, tornando-se um burocrata, e, sem 
dúvidas, não promovendo mudanças significativas, seja no cotidiano da 
população usuária ou na própria inserção do serviço social no mercado de 
trabalho.
Mioto e Lima (2009, p. 38) complementam expondo que:
O movimento que se tem em mente consiste na articulação dialética 
entre as três dimensões referentes ao serviço social : teórica, ética e técnica. São 
considerados: 
	o conhecimento/investigação da realidade na qual se intervém; 
	o planejamento e a documentação do processo de trabalho; 
56
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
O esquema da figura a seguir permite-nos visualizar esse movimento 
encadeado:
	os objetivos, as formas de abordagens dos sujeitos a quem se destina a ação; 
	os instrumentos técnico-operativos e outros recursos implicados na ação.
FONTE: Mioto; (Lima, 2009)
Este movimento encadeado permite avaliação direta: enquanto os 
objetivos são concretos, reais, de alcance em tempo determinado e estão ligados 
ao mundo dos bens e serviços, permitindo avaliação direta.
FIGURA 5 – AÇÃO PROFISSIONAL EM MOVIMENTO: ARTICULAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES 
TEÓRICAS, ÉTICAS E TÉCNICAS DO SERVIÇO SOCIAL 
PARA QUÊ:
Marco referencial 
teórico/ analítico
PARA QUEM:
Sujeitos em situação
ONDE:
Natureza do espaço 
sócio-ocupacional
QUE AÇÃO:
Definição da ação
Objetivos
COMO FAZER:
Definição do Suporte 
teórico da ação;
escolha da abordagem;
escolha dos instrumentos 
técnico-operativos e 
demais recursos
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
57
FONTE: Mioto; (Lima, 2009)
LEITURA COMPLEMENTAR
O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL : NOVOS 
HORIZONTES PARA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE 
SOCIAL
SUGUIHIRO, Vera Lucia Tieko
BREVILHERI, Eliane Cristina Lopes
TORETTA, Ester Taube
GREGÓRIO, Francieli Jaqueline
TARDIOTO, Isaura Paris Cabanillas
PAIÃO, Ivana Célia Franco
CAMPOS, Luana Garcia
YWATA, Suzana Yuriko
MACHADO, Vanessa Rombola
O projeto ético-político profissional do serviço social no Brasil, vinculado 
a um projeto de transformação de sociedade, reitera a teoria crítica como 
fundamentação para o agir profissional. Esta teoria vai ao encontro das novas 
exigências da profissão, na medida em que possibilita novas investigações, não 
naturaliza o real e tampouco reduzindo-o ao que está posto.
O “projeto ético-político pressupõe prática que leve a transitar do reino 
das necessidades para o da liberdade, pressupõe também a capacidade de o 
homem criar valores, escolher alternativas e ser reconhecido como cidadão.” 
(BATTINI, 2008, mimeo.).
Diante de todo este movimento, pode-se constatar que o serviço social é 
uma profissão dinâmica inserida no próprio contexto sócio-histórico. Portanto, 
cabe ao assistente social modificar a sua forma de atuação profissional, em 
decorrência da demanda que lhe é colocada e da necessidade de responder às 
exigências e às contradições da sociedade capitalista. É preciso acompanhar o 
movimento da sociedade e visualizar os novos espaços como possibilidades de 
intervenção sobre uma realidade social concreta.
Na atualidade, os ajustes impostos às políticas sociais no Estado 
capitalista, por intermédio da política neoliberal,acirrada no Brasil na década 
1990, têm demandado ao assistente social uma visão crítica da realidade. Ou seja, 
cabe ao profissional ir além das fronteiras do imediatismo, com distanciamento 
necessário das funções pontuais, repetitivas e burocráticas. Cabe um constante 
investimento no processo de apreensão da realidade concreta e das mudanças 
sociais em movimento, para identificar novas possibilidades de intervenção 
profissional, por meio de qualificação continuada para desenvolvimento de novas 
competências e habilidades para atender as novas demandas postas à profissão.
Isto significa assumir o pressuposto da ação investigativa como novas 
possibilidades de intervenção, na medida em que desvela o contraditório e produz 
as condições necessárias para o enfrentamento e superação das questões sociais 
que se apresentam cotidianamente.
58
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
É a atitude investigativa que permite revelar a essência do problema e 
pensar o novo, e por isso, teoria e método, mesmo sendo elementos distintos, 
devem ser coerentes entre si. A teoria fundamenta a prática e encontra-se no 
nível da abstração, e o método, por sua vez, norteia a prática. Ambos devem ser 
incorporados no agir profissional.
Entre os assistentes sociais é frequente o discurso da dicotomia entre teoria 
e prática, o que revela resquícios de uma fragilidade de fundamentação teórico-
metodológica para uma atuação competente. Os limites se desvelam pela falta 
de clareza dos fundamentos que orientam a prática profissional, prevalecendo 
posturas conservadoras, autoritárias, discriminatórias, tecnocratas e clientelistas, 
enfraquecendo o projeto ético-político cuja defesa de liberdade e da emancipação 
dos sujeitos sociais se faz presente.
Portanto, o assistente social tem formação para trabalhar com os serviços 
sociais nas mais diversas áreas: órgãos da administração pública e privada, empresas 
e organizações da sociedade civil, com políticas sociais na área da saúde, habitação, 
educação, assistência jurídica, entre outras. E a habilidade do profissional vai além 
de ser somente executivo, inclui a capacidade de propor e implementar políticas 
sociais, e ainda, avaliar projetos na área social, realizar perícias técnicas, emitir 
pareceres, exercer funções de direção na administração de serviços sociais.
O trabalho destes profissionais deve ser realizado sob a perspectiva da 
totalidade, não visualizando apenas o indivíduo, mas as relações mais amplas, 
buscando formas de intervenção para sua transformação, a partir de atendimentos 
às demandas mais imediatas que se fazem presentes no cotidiano profissional.
Para Faleiros (2005), a construção de estratégias de ação envolve a 
disponibilidade de recursos, o poder, a organização, a informação e a comunicação, 
para o enfrentamento, pelo sujeito da ação profissional, das questões relacionais. 
A luta está centrada na capacidade de fortalecer os sujeitos sociais, por meio do 
fortalecimento da condição de cidadãos, desenvolvimento da sua autoestima, 
valorização das condições singulares de sobrevivência individual e coletiva, de 
modo a capacitá-los para a construção e projeção de sua existência social.
A disposição de estratégias de ação resultará no método de trabalho 
empregado pelo assistente social, modificando uma realidade, transformando o 
sujeito em ator e autor de sua história. Esta prática profissional é a verdadeira 
legitimação da profissão.
Deste modo, compete aos profissionais uma constante e permanente 
formação técnica capaz de garantir o aprimoramento de competência técnico-
operativa e intelectual, consolidando o compromisso político com a classe 
trabalhadora. (GUERRA, 2005).
Magalhães (2003, p. 47) afirma que “não é possível esquecer que o eixo 
técnico-operativo das profissões deve estar relacionado ao seu norte ético-político, 
pois mesmo no uso de um instrumento de apoio há uma intencionalidade”.
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
59
Assim, é preciso ir além da compreensão do instrumental como um conjunto 
articulado de técnicas que permite a operacionalização da ação profissional, o 
que Guerra (2000) denomina de “instrumentação técnica”, cuja discussão deve 
ter o sentido da instrumentalidade enquanto propriedade da profissão, com 
capacidade de construí-la e reconstruí-la no processo sócio-histórico.
O cotidiano da intervenção profissional, nos mais diversos campos 
de atuação, é marcado pelo atendimento às demandas e requisições da classe 
trabalhadora, que exige respostas diretas, na perspectiva imediata. Estas demandas 
e requisições dizem respeito ao atendimento às necessidades básicas dos sujeitos, 
para as quais se faz necessário proporcionar acessos aos direitos reclamáveis. Para 
Guerra (2000), muitas destas requisições da profissão são em nível de responder 
às demandas – contraditórias – do capital e do trabalho, colocando a intervenção 
profissional numa dimensão instrumental, o que significa reduzir a atuação 
funcional à manutenção da ordem no atendimento do projeto burguês.
Por outro lado, muitas vezes o assistente social assume as determinações, 
objetivos e práticas do setor e/ou da instituição em que atua, como se fossem 
atribuições profissionais específicas, o que pode limitar as demandas profissionais 
às exigências do mercado de trabalho. Isso impede a emancipação social e humana, 
que é a direção proposta pelo projeto ético-político profissional do serviço social 
. “Neste âmbito, a competência profissional fica restrita ao atendimento das 
demandas institucionais, e a intervenção profissional se identifica à adoção de 
procedimentos formais, legais e burocráticos”. (GUERRA, 2000, p. 12).
É necessário que, pela via do conhecimento, os assistentes sociais 
possam desenvolver estratégias capazes de fazer do imediato o seu instrumento 
de construção do projeto ético-político profissional, comprometido com a 
transformação da sociedade. Isso se dá através da articulação entre o imediato 
e o mediato, entre aquilo que representa respostas a uma expressão singular 
e respostas sociopolíticas que alavancam condições de empoderamento da 
população na construção de autonomia e protagonismo.
Magalhães (2003, p. 69) afirma que o cotidiano do trabalho “deve ser 
vivenciado de modo pleno, consciente e compromissado (política e eticamente), para 
que a ação profissional apresente-se como uma possibilidade, não de alienação, mas 
de construção de valores que deem sentido ético-político à história profissional”.
Em qualquer trabalho desenvolvido no universo institucional, é de suma 
importância uma prática consciente e refletida, que não se deixe levar unicamente 
pela cotidianidade, que, muitas vezes, configura-se como uma porta aberta para 
alienação e que só pode ser superada por meio de uma prática compromissada e 
crítico-reflexiva.
Segundo Iamamoto (2005, p. 20), “um dos maiores desafios que o 
assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a 
realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e 
efetivar direitos, a partir das demandas emergentes no cotidiano”.
60
UNIDADE 1 | AS DIMENSÕES T-O, TEÓRICO-METODOLÓGICA E ÉTICO-POLÍTICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
Nesta perspectiva, o assistente social precisa investir na aplicação de 
instrumental técnico-operativo, de forma a potencializar as ações nos níveis de 
assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, condição estimuladora 
da participação dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na defesa 
de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los. (BATTINI, 2008, mimeo.).
A instrumentalidade pode ter também a condição de mediação, ao 
ser considerada como uma particularidade da profissão, dada por condições 
objetivas e subjetivas, e portanto, sócio-históricas.
Reconhecer a instrumentalidade como mediação significa tomaro 
serviço social como totalidade constituída de múltiplas dimensões: 
técnico-instrumental, teórico-intelectual, ético-política e formativa e a 
instrumentalidade como uma particularidade e, como tal, campo de 
mediações que porta a capacidade tanto de articular estas dimensões 
quanto de ser o conduto pelo qual as mesmas traduzem-se em 
respostas profissionais. (GUERRA, 2000, p. 12).
Outro ponto a ser ressaltado é a questão da produção de conhecimento que 
parece estar distante da prática profissional cotidiana, dada a baixa tradição em termos 
de experiência acumulada em pesquisa entre os assistentes sociais. Isso decorre da 
escassa presença de investigação no cotidiano da intervenção profissional. Intervir na 
realidade de forma crítica e criativa, associada à produção de conhecimento, é o que 
garante ao profissional a capacidade da unidade entre pensamento e ação.
Portanto, é preciso que os assistentes sociais estejam permanentemente 
imprimindo, na ação e no conhecimento da realidade, uma atitude investigativa para 
garantir maior rigor e consistência teórico-metodológica no cotidiano da intervenção.
Ressaltamos que a atividade teórica, em essência, se distingue da prática, 
mas “proporciona um conhecimento indispensável para a transformação da 
realidade, ou traça finalidades que antecipam idealmente sua transformação” 
(VASQUEZ, 1977, p. 203), constituindo assim, transformações ideais, que, unidas 
à prática, geram um novo conhecimento. Por isso, pode-se afirmar que: “Toda 
práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. (VASQUEZ, 1977, p. 185).
Neste processo, atua-se sobre o objeto e se obtém resultados que refletem 
sobre o próprio agente; ou seja, imbrica-se num processo que se inicia a partir 
da apreensão dos fatos, analisados idealmente e, assim, é possível projetar uma 
resposta futura – um resultado qualitativo –, atingindo uma maior dimensão para 
aquilo que se buscava responder. Trata-se de um caminho consciente empregado 
pelo ser humano, portanto, vinculado a uma finalidade.
Ao percorrer este caminho é possível superar a aparência e alcançar a 
essência dos fatos; partir do singular (concreto aparente), mediado pelo concreto 
pensado (particular) para concretização do universal. Para Lukács (1978, p. 103), 
tomando por base Marx:
TÓPICO 3 | AS COMPETÊNCIAS DO S. S. NA CONTEMPORANEIDADE: POLÍTICA, ÉTICA, INVESTIGAÇÃO E INTERVENÇÃO
61
[...] isto é, da realidade concreta dos fenômenos singulares às mais altas 
abstrações, e destas, novamente à realidade concreta, a qual – com a 
ajuda das abstrações – pode agora ser compreendida de um modo cada 
vez mais aproximativamente exato [...] O processo de tal aproximação 
é essencialmente ligado à dialética de particular e universal: o 
processo do conhecimento transforma ininterruptamente leis que 
até aquele momento valiam como as mais altas universalidades em 
particulares modos de apresentação de uma universalidade superior, 
cuja concretização conduz muito frequentemente, ao mesmo tempo, à 
descoberta de novas formas da particularidade como a mais próximas 
determinações, limitações e especificações de nova universalidade 
tornada mais concreta. Esta última, portanto, no materialismo 
dialético, não pode jamais se fixar como sendo o coroamento definitivo 
do conhecimento, como ocorreu mesmo em dialéticos tais como 
Aristóteles e Hegel, mas exprime sempre uma aproximação, o mais 
alto grau de generalização obtido em cada etapa da evolução.
Portanto, à medida que a profissão se reconhece na divisão sociotécnica 
do trabalho, enquanto profissional com capacidade de apreender o movimento 
do singular e do universal, mediado pela particularidade do real presente na 
questão social, ampliam-se significativamente as possibilidades de uma atuação 
transformadora. Segundo Guerra (2005, p. 15):
Ao clarificar seus objetivos sociais, realizar escolhas moralmente 
motivadas, compreender o significado da profissão no contexto da 
sociedade, escolher crítica e adequadamente os meios éticos para o 
alcance de fins éticos, orientados por um projeto profissional crítico, 
os assistentes sociais estão aptos, em termos de possibilidade, a 
realizar uma intervenção profissional de qualidade, competência e 
compromisso indiscutíveis.
FONTE: SUGUIHIRO, Vera Lucia Tieko et al. O serviço social em debate: fundamentos 
teoricometodológicos na contemporaneidade. Saber Acadêmico, Presidente Prudente, 
n. 7, jun. 2009. Disponível em: <http://www.uniesp.edu.br/revista/revista7/pdf/2_
servico_em_debate.pdf>. Acesso em: 2 fev. 2010.
DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o 
seguinte livro:
ABREU, Marina Maciel. Serviço Social e a organização da cultura: perfis 
pedagógicos da prática profissional. São Paulo: Cortez, 2002.
62
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico estudamos sobre o significado das competências do serviço 
social na contemporaneidade: política, ética, investigação e intervenção, e 
foram abordados os seguintes itens:
	O serviço social era tido inicialmente como uma profissão inscrita na divisão 
técnica do trabalho e, após o Movimento de Reconceituação, ganhou cunho 
científico.
	Estudamos as dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-
política da atuação profissional do assistente social.
	Com relação à COMPETÊNCIA TEÓRICO-METODOLÓGICA do assistente 
social, estudamos que:
ᵒ	o papel da teoria na construção profissional do assistente social é o de 
iluminar as estruturas e as dinâmicas dos processos sociais, as determinações 
contraditórias dos fatores e fenômenos, dissolver a positividade dos fatos 
pela sua negação;
ᵒ	a concepção do método, no âmbito do referencial marxiano, é tida como o 
caminho do pensamento, a direção analítica, que obedece ao movimento do 
objeto;
ᵒ	existem três tendências e alguns problemas que permeiam a trajetória 
histórica da profissão do assistente social.
	No que tange às questões relativas às COMPETÊNCIAS TÉCNICO-
OPERATIVAS do serviço social , podemos verificar que:
ᵒ	o assistente social desenvolverá suas atividades sócio-ocupacionais baseadas 
em sua dimensão técnico-operativa;
ᵒ	nas dimensões técnico-operativas existe certa complexidade de interpretação 
dos instrumentos e técnicas ou simplesmente a definição das metodologias 
de ação e intervenção a serem desenvolvidas em cada caso; 
ᵒ	os instrumentos devem ser analisados e adaptados conforme as necessidades 
e a realidade de intervenção profissional;
ᵒ	é no dia a dia profissional que se desenvolve a competência técnico-operativa 
do assistente social, permeada por toda esta complexidade interventiva do 
cotidiano profissional do serviço social e suas habilidades de interpretação 
cotidiana da realidade social brasileira ou mundial;
63
ᵒ	de acordo com a expressão da questão social de um determinado segmento, 
seu público-alvo e a realidade cotidiana, o assistente social buscará identificar 
em seu cabedal técnico-operativo o instrumento ou técnica que possibilitará 
responder à demanda a ser trabalhada. 
	Na COMPETÊNCIA ÉTICO-POLÍTICA, de acordo com Souza (2008, p.121-122, 
grifo nosso):
ᵒ	o assistente social não é um profissional “NEUTRO”; 
ᵒ	sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da 
sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias; 
ᵒ	assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político 
frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter 
clareza de qual é a direção social da sua prática; 
ᵒ	isso implica assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática 
– valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos 
Assistentes Sociais. 
	Essas três dimensões de competências NUNCA PODEM SER DESENVOLVIDAS 
SEPARADAMENTE – caso contrário, cairemos nas armadilhas da fragmentação 
e da despolitização, tão presentes no passado histórico do serviço social 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2008).
64
AUTOATIVIDADE
1 Caro(a) acadêmico(a), após a leitura e o estudo deste tópico,escreva no 
quadro a seguir as principais características de cada COMPETÊNCIA da 
atuação profissional do assistente social, seus pontos positivos e negativos.
COMPETÊNCIA CARACTERÍSTICAS PONTOS POSITIVOS
PONTOS 
NEGATIVOS
TEÓRICO-
METODOLÓGICA 
TÉCNICO-
OPERATIVA
ÉTICO-POLÍTICA
65
UNIDADE 2
A AÇÃO PROFISSIONAL E O 
PROCESSO INTERVENTIVO 
DO ASSISTENTE SOCIAL NO 
COTIDIANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• reconhecer os diferentes aspectos ideológicos que permeiam a aplicabili-
dade dos instrumentos, técnicas e ações profissionais do assistente social;
• identificar a intencionalidade da ação profissional do assistente social em 
seu cotidiano;
• compreender a competência relacional do assistente social;
• compreender a racionalidade da práxis profissional no serviço social;
• conhecer alguns impasses do serviço social com relação à aplicabilidade 
do seu instrumental técnico-operativo;
• visualizar como se deu historicamente o processo de produção e reprodu-
ção social;
• compreender alguns aspectos da natureza, estratégia, particularidades e 
implicações do trabalho do assistente social, tais como o significado da 
mediação e da ação investigativa no serviço social .
A Unidade 2 está dividida em três tópicos e, ao final de cada um deles, você 
vai realizar as atividades propostas para fixar os conhecimentos.
TÓPICO 1 – ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS 
E TÉCNICAS
 
TÓPICO 2 – NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLI-
CAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL 
TÓPICO 3 – IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INS-
TRUMENTOS
66
67
TÓPICO 1
ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS 
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
“O pensamento é apenas um aspecto parcial 
de uma realidade menos abstrata: o homem inteiro.” 
Lucien Goldmann
Neste tópico entraremos numa discussão mais ideológica da atuação 
profissional do assistente social, trabalhando e desmistificando a questão da 
intencionalidade e a consciência que permeia o processo de trabalho do serviço 
social .
2 INTENCIONALIDADE E CONSCIÊNCIA DA AÇÃO 
PROFISSIONAL
Mas, antes de explanarmos o significado da intencionalidade da prática 
profissional do assistente social, devemos compreender o que significa a 
CONSCIÊNCIA enquanto categoria teórica. E posteriormente trabalharemos as 
questões relativas à intencionalidade das ações profissionais do assistente social.
2.1 A CATEGORIA “CONSCIÊNCIA”
Primeiramente devemos compreender o que é a CONSCIÊNCIA.
FONTE: Disponível em: 
<www.brasilcultura.com.br>. 
Acesso em: 24 fev. 2010. 
Segundo Fontes (2010, p. 1, 
grifo nosso), a consciência 
diz respeito
“[...] à PERCEPÇÃO 
IMEDIATA pelo sujeito 
daquilo que se passa nele 
mesmo ou fora dele.” FONTE: Disponível em: 
<www.lindarebecca.
blogspot.com>. Acesso em: 
24 fev. 2010.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
68
Ou seja, segundo a Enciclopédia Wikipédia (2010, p. 1, grifo nosso), a 
consciência é:
[...] uma QUALIDADE DA MENTE, considerando abranger 
qualificações tais como subjetividade, autoconsciência, sentiência, sapiência, 
e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. É um assunto 
muito pesquisado na filosofia da mente, na psicologia, neurologia, e ciência 
cognitiva.
Alguns filósofos dividem consciência em consciência fenomenal, que é 
a experiência propriamente dita, e consciência de acesso, que é o processamento 
das coisas que vivenciamos durante a experiência. (BLOCK, 2004). 
Consciência fenomenal é o estado de estar ciente, tal como quando 
dizemos “estou ciente”, e consciência de acesso se refere a estar ciente de algo, 
tal como quando dizemos “estou ciente destas palavras”.
Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da 
psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da 
mente, ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma 
coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo; para isso, a 
intuição, a dedução e a indução tomam parte.
NOTA
O termo sentiência foi manifestado pelo filósofo basco José Francisco Xavier 
Zubiri Apalategui (1898 a 1983), através da publicação da Inteligencia Sentiente, que foi seu 
principal trabalho sistemático e em três volumes: Inteligencia y realidad, Inteligencia y logos 
e Inteligencia y razón, no qual traduz o que pensa sobre o inteligir, conhecer e saber. 
FONTE: Disponível em: <www.sentiencia.com.br/page2.aspx>. Acesso em: 24 mar. 2010.
Mas, como NASCE a consciência?
De acordo com Sandoval (2009, p. 7, grifo nosso), “os animais tidos 
como irracionais não possuem a consciência do mundo, pois reagem segundo os 
motivos específicos que fazem com que seus instintos se mobilizem. Portanto, a 
consciência é pertinente ao homem e serve a suas necessidades.” 
Ainda segundo Sandoval (2009, p. 7), “nos primeiros Homo sapiens a 
consciência era rudimentar e servia a percepções e necessidades elementares, 
sofisticando-se a partir da evolução.” Neste sentido, “isto significa que as causas 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
69
que levam à mobilização se sofisticaram de uma forma que estes motivos passam, 
então, a agir por meio da inteligência, na medida em que também se sofisticam as 
necessidades a fim de mobilização.” (SANDOVAL, 2009, p. 7). 
Schopenhauer (1982, p. 195-196) complementa expondo que:
A terceira fórmula da causalidade motora é peculiar ao reino animal, 
constituindo a sua característica: trata-se da motivação, isto é, a 
causalidade agindo por meio da inteligência. Intervém ela na escala 
natural dos seres, no ponto em que a criatura, tendo necessidades mais 
complicadas, e consequentemente muito variáveis, não consegue mais 
satisfazê-las unicamente sob o impulso dos excitantes que ela deveria 
sempre esperar de fora; é preciso, então, que esteja apta para escolher, 
colher e também pesquisar os meios para satisfazer essas necessidades 
surgidas. 
Entretanto, a consciência SE FORMA POR INTERMÉDIO da vivência 
humana em sociedade e suas necessidades subjetivas, na sua relação com os 
demais integrantes desta mesma sociedade e na satisfação direta e indireta de 
seus desejos e anseios. 
 Então, o que é a CONSCIÊNCIA MORAL?
FONTE: Disponível em: 
<www.jornallivre.com.br>. 
Acesso em: 24 fev. 2010.
Segundo Fontes (2010, 
p. 1, grifo nosso), a 
CONSCIÊNCIA MORAL 
“[...] é uma espécie de 
"JUIZ INTERIOR" que nos 
ordena o que deve ser 
feito, desempenhando 
um papel crítico no agir.” FONTE: Disponível em: 
<www.semsofia.blogspot.
com>. Acesso em: 24 fev. 
2010. 
Mas, segundo Oliveira (2009, p. 1, grifos nossos):
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
70
Em âmbito geral, CONSCIÊNCIA significa o pensar com, compreender 
com. 
Dentro da teoria moral, consciência é uma função que permite ao ser 
humano distinguir entre o que é BOM e o que é MAU. 
Nesse sentido, a consciência é, a todo momento, provocada por interações 
maiores que ela. A partir das ciências naturais, da neurociência, entre outras, 
fala-se de uma consciência a nível cerebral. Desse modo, as patologias cerebrais 
influenciam nas interações que a consciência realiza: seja consigo mesmo, com a 
sociedade, com a igreja etc. 
Para os neurocientistas, a consciência depende, então, do estado do 
cérebro, o que nos leva a questionar o que é a consciência de Deus, de pecado, de 
transcendência etc.
IMPORTANT
E
A COMPREENSÃO DAS COISAS e dos FATOS depende do cérebro de cada um, ou 
seja, da visão de mundo e da subjetividade de cada ser humano sobre a Terra, mas sempre baseado 
nas concepções éticas e morais constituídas pela sociedade em que vive.
Neste sentido, como podemos CONTROLAR a consciência humana?
FONTE: Disponível em: 
<www.marcelocoelho.folha.
blog.uol.com.br>. Acesso 
em: 24 fev. 2010. 
Ou seja,
como podemos 
falar de uma 
CONSCIÊNCIA 
MORALCRÍTICA?
FONTE: Disponível em: <www.storita.
blogspot.com>. Acesso em: 24 fev. 
2010. 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
71
Neste sentido, como podemos CONTROLAR a consciência humana?
Vejamos:
Ao tratar da questão da consciência crítica de cada ser humano, devemos 
considerar primeiramente a visão de mundo que temos, ou seja, relativizar nosso 
conhecimento e percepção sobre as coisas que acontecem no dia a dia, em nossa 
sociedade e no mundo, para assim poder realizar uma análise crítica dos fatos, 
sob a luz da consciência moral e ética daquela região ou sociedade.
IMPORTANT
E
Lembra-se do Caderno de Estudos de “ÉTICA PROFISSIONAL DO assistente 
social”, da prof.ª Vera Lúcia Hoffmann Pieritz, que na Unidade 1 (páginas 3 a 39) trabalhou a 
questão da ética e seus fundamentos, apresentando o significado da ética e seus princípios 
norteadores e os valores morais de nossa sociedade? REVEJA ESTE MATERIAL, para assim 
compreender melhor a questão da consciência moral crítica.
Neste sentido, ao falarmos da consciência moral dos seres humanos, 
como um todo, falamos de como estes homens, mulheres, crianças, adolescentes, 
idosos, entre outros, AGEM em seu convívio em sociedade. 
Portanto, segundo Oliveira (2009, p. 1, grifos nossos):
Uma consciência crítica DESALIENADA constrói, analisa, critica a 
realidade. 
Através da análise, ela CRITICA e DENUNCIA, construindo uma 
nova realidade. 
A modernidade se identifica com o surgimento da consciência, haja 
vista o tempo do Iluminismo, do Renascimento, e suas críticas da realidade.
A consciência nasce num mundo de criatividade, saindo do 
repetitivo, dos modismos, do corriqueiro. Ao cair nos modismos, não se 
notam parâmetros de limites. Tudo se transforma com rapidez e velocidade 
assustadoras. A consciência moral não aceita o legalismo, segundo os valores 
de hoje. A consciência tem OUTROS VALORES para bem, justiça, verdade, 
responsabilidade etc.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
72
A CONSCIÊNCIA CRÍTICA é a capacidade de apreciar as atitudes não só do 
outro, mas as próprias. (OLIVEIRA, 2009, p. 1).
ATENCAO
Oliveira (2009, p. 2, grifos nossos) complementa expondo que a consciência 
moral crítica
[...] é a capacidade de JULGAR as decisões tomadas, de ter a 
CONSCIÊNCIA DE SI mesmo, de seus projetos e sonhos, pensados com 
responsabilidade. 
CONSCIÊNCIA é tudo que existe no contexto de cada sujeito, que nos 
leva a vivenciar o amor, a liberdade, pois não deve aprisionar. 
Assim, a consciência moral TEM QUE SE OPOR à alienação, à 
ingenuidade, ao aprisionamento dos que têm poderes.
A consciência funciona a partir do enfoque mental. Tem dificuldades 
em entender e compreender o que está do lado de fora da objetividade. O 
objetivo assume a condição da coisa em si. Na objetividade as coisas existem 
independentemente de nós mesmos. O momento do objeto é fixista, trabalha 
as relações consigo mesmo, com o outro, com a natureza, com a sociedade. O 
sujeito se compreende como distante do objeto, devendo conformar-se com 
a realidade. A imoralidade nasce com a conformidade da realidade, com a 
norma, a regra.
O ser humano, inserido em uma família, em uma comunidade, 
sociedade, em um contexto, desenvolve uma consciência que se desdobra 
num círculo de ideias, que tem teorias e práticas. Para alguns, fica-se mais nas 
teorias, para outros, mais nas práticas. 
Assim, a CONSCIÊNCIA É INTERPRETAÇÃO, é solução (ou ajuda 
a encontrá-la), é compreensão do que acontece no mundo. 
A nova realidade deve apontar a consciência a uma nova vida. 
Repetir respostas de perguntas antigas para perguntas novas já não mais é 
correspondido. Por isso, para se pensar novas respostas, é importante levantar 
suspeitas. E o papel de um filósofo, de um moralista, não no sentido pejorativo 
da palavra, mas daquele que estuda a moralidade, é inquietar, é levantar 
dúvidas, levantar suspeitas para gerar novos pensamentos. Para tanto, 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
73
precisa-se ter um grau de criticidade muito grande e ser consciente de que 
o SABER não é algo pronto, de que NÃO SE TEM UM CONHECIMENTO 
ACABADO. Ele está sempre em construção.
A própria capacidade pessoal de cada um, nossas praticidades para 
as coisas (para o fazer, o agir, o pensar) também têm que ser colocadas em 
suspenso. Assim, a consciência pode sair de seu lugar confortável para 
adquirir novos horizontes, novos limites, mais amplitude. 
Viver sempre com o mesmo nos acomoda, nos aquieta, nos conforta. 
Isso nos impede a buscar ou mesmo a ter medo do que é novo. 
A MUDANÇA, para muitos, torna-se algo doloroso. Há que 
se confrontar as opiniões, colocar a consciência em debate com outras 
consciências, para que se possam rever as posturas e chegar a uma conclusão 
nova ou pelo menos mais clara ou mais racional que a que se tinha. Por isso, 
abrir-se para os questionamentos ajuda a entender e interpretar a realidade 
em que estamos. 
NÃO SE PODE deixar que a consciência se acomode, principalmente, 
no poder. Temos uma grande tendência, quando no poder, de evitar as 
interpelações, os atritos e os conflitos para não se perder o status quo. O efeito 
que se gera de tais posturas é o que chamamos de autoritarismo e intolerância 
ao outro, impedindo que este questione, proponha, ajude a inovar.
Quem NÃO ABRE SUA CONSCIÊNCIA, fecha-se ainda mais em seu 
autoritarismo. Não se criam os diálogos, a intransigência é dominante e a consciência não 
encontra espaços para crescer sabiamente. (OLIVEIRA, 2009, p. 2, grifos nossos).
ATENCAO
Para finalizar esta discussão, devemos observar o que Oliveira (2009, p. 2, 
grifos nossos) tem ainda para nos expor. Ou seja,
São as MUDANÇAS que promovem diálogos, enriquecimento 
da sabedoria. Dessa forma, uma consciência fechada transmite conforto, 
tranquilidade, acomodação, mas também despreza e desvaloriza a validade 
e a autenticidade do outro. Aqui se abrem grandes sentimentos para 
RACISMOS, PRECONCEITOS, XENOFOBIAS, entre outros.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
74
Entretanto, nem toda divergência permite uma mudança. A busca de 
um meio-termo é importante nesses casos, pois o laxismo (deixar-se fazer do 
modo que mais convier, sem se preocupar tanto com a ordem e o dever, mas 
fazer como se quer, quando se quer e para quem se quer) também acarreta 
em comodismo. Nesse sentido, tem-se uma falsa sensação de liberdade de 
escolha. Portanto, a consciência não se forma fora da divergência.
LEITURA COMPLEMENTAR 1
A CONSCIÊNCIA E SUA INTENCIONALIDADE
Rafael Sandoval
Segundo vários filósofos da mente e psicólogos empiristas, a palavra 
consciência pode ser usada de várias formas. “Por vezes é utilizada para 
discriminar estímulos ou para relatar informações, ou para acompanhar estados 
internos, ou mesmo para controle do comportamento”. (CHALMERS, 2003). A 
consciência possui um caráter de intencionalidade, assim a consciência, tendo em 
vista os dados da realidade que se apresentam, e também por seu suposto papel, 
dá sentido às coisas e produz representações, todavia, é problemático confundir 
intencionalidade com intenção, pois intenção é uma forma de intencionalidade, 
mas não a intencionalidade propriamente dita, como bem acentuou John Searle. 
Intencionalidade significa que a “consciência está por outra, quando é acerca de 
outra coisa, por conseguinte, crenças e desejos são estados intencionais”. (ABATH 
2000, apud DENNET, 1987). Desse modo, a consciência possui um papel, por 
assim dizer, ativo. A consciência opera segundo “conceitos absorvidos”, ou 
a partir de experiências subjetivas conscientes – “qualias” –, criando, desse 
modo, novas representações. Há um caráter propriamente ativo da consciência, 
estando para outras, ou, outras coisas acerca do mundo, assim, significa que o 
ato de desejar significa desejar algo, imaginar significa imaginar algo.Tendo 
em vista que a consciência possui operações tanto de “recepção ativa” e, isso, 
significa ter consciência de algo, ou seja, daquilo que atravessa nossos sentidos 
criando representações e, também, criar novas representações sem um ente 
correspondente no mundo real; porém, é possível afirmar que não se trata da 
consciência propriamente dita a criar novas representações, mas faculdades 
inerentes ao sistema cognoscitivo, a consciência então ficando somente como 
mera superfície ativa de contato com os dados da realidade.
As faculdades cognoscitivas e a consciência possuem características que 
proporcionam certa reciprocidade. Com efeito, para que haja representações, é 
necessária certa quantidade de abstrações de dados da realidade. Assim é pouco 
provável os jovens, somente por mera intuição, sem nenhum contato visual e 
real com o objeto equivalente, ou mesmo conhecimento prévio, idearem a cor 
do macacão de Charlie Chaplin no filme Tempos Modernos. É, porém, possível, 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
75
tendo como exemplo um macacão do mesmo modelo; assim, retira-se do macacão 
o predicado “cor”, seja ele vermelho ou de qualquer cor que seja. Vejamos como 
modelo um macacão de cor azul que, supostamente, seria do mesmo modelo e cor 
utilizados no filme de Chaplin. Tendo em vista o conhecimento de que o macacão 
de Chaplin é azul, imagina-se (representa-se) doravante, ao assistir ao filme, que o 
macacão de Chaplin é azul, coisa que outrora não era possível. Diante disso, para 
que sejam geradas novas representações, há de haver, no sistema cognitivo, um 
número considerado de informações. Destarte, não é possível idear um caminhão 
sem ter a ideia do que é um carro, pois o caminhão igualmente está na classe 
dos veículos, pois o aparelho cognitivo ajusta-o à categoria de veículos, de que o 
carro e o caminhão fazem parte e, que, porém, até então só havia nessa categoria 
o conceito “carro”; doravante há mais um veículo, ou seja, o caminhão. Assim, 
quando o indivíduo pensa doravante em veículos, poderão sobrevir à mente, 
agora, também caminhões. Portanto, conceito e representação são distintos; há, 
no entanto, uma adequação do conceito ao fenômeno assim que se apreendem 
mais informações da realidade externa. Há uma hierarquização das funções 
cognoscitivas para que seja gerada uma representação nova. Dessa forma, a 
consciência possui intencionalidade, estando, então, como última instância ou 
palco na criação de representações. Ainda há possibilidade de hierarquizar, 
por assim dizer, de maneira um pouco rudimentar, as funções cognoscitivas 
geradoras de representações: é imediatamente necessário que a memória possua 
certa quantidade de conhecimentos e crenças, mesmo como meros conceitos, para 
que sejam criadas novas representações e estas se apresentarem na consciência. É 
também necessária a imaginação para que se consiga criá-las.
Diante do exposto, é possível afirmar que o sistema cognitivo possui 
crenças que são geradas pelo grupo social. Não obstante, mesmo o conhecimento a 
priori deriva-se de uma abstração, de um predicado dado como primário, urgente, 
caracterizador, contido no sujeito, criando, assim, uma necessidade. Das premissas: 
“Todos os homens são mortais, Sócrates é um homem, portanto, Sócrates é 
mortal”, é possível analisar (introspectivamente, mesmo sendo problemática e 
discutível essa maneira, porquanto o sujeito usa de inferências, mesmo através 
da introspecção) que o intelecto abstrai mortal, e o projeta em Sócrates, pois 
“Sócrates” “existe” na classe de homens e não se dissocia deste, constituindo, 
assim, uma crença e, também, a partir da crença preexistente de que “Todos os 
homens são mortais” (premissa maior), criar novas crenças e todo um sistema de 
crenças. Da mesma forma, sendo possível saber qual a “classe de macacões de 
Chaplin”, é possível deduzir ou mesmo imaginar a cor e, também, cores de outros 
macacões da mesma classe. Parece, portanto, que as faculdades cognoscitivas 
tendem a armazenar informações, classificando-as automaticamente (aspecto 
que veremos mais à frente nesse artigo). Destarte, é facilmente constatável tal 
função de armazenamento na imaginação de um suposto futuro se baseando em 
acontecimentos passados.
Há entre as correntes de pensamento dos filósofos da mente, que o sistema 
cognitivo tende a responder de maneira sui generis dado o aspecto da realidade 
que se apresenta:
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
76
[...] “se um determinado padrão simbólico S se forma no interior do 
aparelho representacional de um sistema cognitivo K na sequência de este ter 
sido causalmente impressionado por um dado aspecto da realidade R, então esse 
padrão simbólico S será acerca desse aspecto da realidade R. Evidentemente, é 
preciso ter algum cuidado na formulação deste ponto de vista. Nomeadamente, 
para determinar que uma dada conexão impacto causal/conteúdo representacional 
obtém, é necessário que duas outras condições suplementares se encontrem 
reunidas. A primeira é a de que apenas o aspecto da realidade R cause a emergência 
do padrão S em K. A segunda é a de que todas as instâncias de R têm que dar 
origem à constituição do padrão S sempre que exerçam um impacto causal sobre 
K”. (ZILHÃO, Antônio, 2007). 
Há também a corrente teleossemântica que procura resolver o problema 
do comportamento do sistema cognitivo frente ao dado da realidade, com uma 
anterioridade de determinado padrão desenvolvido pelo sistema para covariar 
a determinado aspecto da realidade e não com outro. Destarte, parece haver, 
a segunda corrente, uma maior compatibilidade com a conjectura descrita no 
parágrafo acima com a do “macacão de Chaplin”.
FONTE: SANDOVAL, Rafael. Investigação sobre a consciência. Instituição: Universidade Católica 
de Brasília. Data de Publicação: 19 jul. 2009. Disponível em: <http://www.notapositiva.
com/br/trbestsup/filosofia/filosmente/investigacao_sobre_consciencia.htm#vermais>. 
Acesso em: 4 mar. 2010.
Depois de compreendermos os sentidos da consciência, devemos agora 
compreender o significado da INTENCIONALIDADE enquanto categoria 
teórica, para depois entender finalmente a questão da intencionalidade da ação 
profissional do assistente social.
2.2 A INTENCIONALIDADE ENQUANTO CATEGORIA 
TEÓRICA
Pois bem, neste item proporcionaremos uma discussão acerca da 
conceituação básica e do significado da categoria “INTENCIONALIDADE”.
FONTE: Disponível em: 
<www.acafic.com.br>. 
Acesso em: 24 fev. 2010. 
A INTENCIONALIDADE, segundo 
Fontes (2010, p. 1, grifo nosso), 
diz respeito à 
“CARACTERÍSTICA DEFINIDORA 
DA CONSCIÊNCIA, enquanto 
necessariamente voltada para 
um objeto”. FONTE: Disponível em: 
<www.ludicoemsala.
pbworks.com>. Acesso em: 
24 fev. 2010. 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
77
O termo “intencional” está diretamente conectado na CAUSA real do fato 
ou do objeto, na sua intenção sobre o fato ou realidade, ou seja, no seu propósito 
de ação sobre o objeto.
De acordo com Siewert (2006, p. 6), a INTENCIONALIDADE no sentido 
filosófico “é o aspecto de estados mentais ou de eventos que consiste no seu ser 
de ou sobre as coisas (como se refere às questões: ‘Quais são as coisas que você está 
pensando?’ e ‘O que você está pensando?’).”
Intencionalidade é a SOBRIEDADE ou DIRECIONAMENTO DA MENTE (ou 
estados de espírito) para coisas, objetos, estados de coisas, acontecimentos. (SIEWERT, 
2006, p. 6, grifo nosso).
ATENCAO
Esta concepção de “DIRECIONAMENTO” da intencionalidade se refere 
diretamente ao estado de espírito e visão que temos de uma determinada situação 
social, ou seja, é como vemos aquela realidade sobre a coisa ou objeto, os seus 
acontecimentos.
 Mas que tipo de “DADE” ou “DE-DADE” ou “DIRECIONAMENTO” 
é este?
 Siewert (2006, p. 6, grifos nossos) expõe que “tem sido dito que a 
peculiaridade desse tipo de direcionamento sobre ‘DADE’ reside na suacapacidade de relacionar o pensamento ou experiência de objetos que não 
existem.” Por exemplo, “pode-se pensar em uma reunião que não tem, ou nunca 
ocorrerá; um pode pensar de Shangri La, ou El Dorado, a Nova Jerusalém; um 
pode pensar de suas ruas brilhantes, à sua total falta de pobreza, ou de seus 
cidadãos ‘roupagem peculiar’. Pensamentos, ao contrário das estradas, podem 
levar a uma cidade que não está lá.” (SIEWERT, 2006, p. 7).
Mas, que PERCEPÇÃO da realidade é esta?
No caso da percepção, segundo Siewert (2006, p. 7, grifo nosso), “o que 
torna possível a impressão de ver ou ouvir o que não está lá é uma EXPERIÊNCIA 
que pode ser de várias formas imprecisas, não verídica, sujeita à ilusão ou 
alucinação.” Ou seja, é a vivência cotidiana e a experiência empírica de vida 
que faz com que o ser humano perceba o objeto, a coisa ou o acontecimento que 
aparentemente não exista naquele momento.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
78
Segundo Husserl (apud PAIXÃO, 2010, p. 1), [...] “a ‘intencionalidade’ diz 
respeito à direitura da consciência em relação aos seus objetos, à forma como o 
conhecimento é posicionado, perspectivado e ativo, constituindo os seus objetos.” 
A teoria da “intencionalidade”, segundo Paixão (2010, p. 1, grifo nosso), 
[...] defende que a ‘PERCEPÇÃO procede por aspectos’, sendo esta sempre 
inerentemente incompleta, porque qualquer OBJETO é sempre apreendido 
a partir de um ponto de vista determinado e bem definido. Assim, aquilo 
que é observado revela-se através do ato de percepção por meio dos aspectos 
dependentes da atitude e da determinação do ponto de vista do observador. Há 
uma correlação entre esses aspectos observados e o ponto de vista do observador.
IMPORTANT
E
Na concepção de John Searle (apud SIEWERT, 2006, p. 7, grifo nosso), os 
ESTADOS INTENCIONAIS são aqueles com condições de SATISFAÇÃO. 
SATISFAÇÃO? Mas, quais são as condições de satisfação? 
Vejamos. Segundo Siewert (2006), a satisfação é tida diferentemente 
conforme a percepção do objeto, ou seja:
• no caso da CRENÇA sob um determinado fato, a condição para a sua percepção 
de satisfação se processa quando a crença é verdadeira;
• no caso da PERCEPÇÃO do objeto, a condição para a sua percepção de 
satisfação se processa na experiência sensorial quando é verídica;
• no CASO DE INTENÇÃO do ato ou da ação, a condição para a sua percepção 
de satisfação se processa quando a intenção é cumprida ou efetuada.
 
Viviani (2010, p. 2) afirma que “Husserl identifica dois momentos da 
intencionalidade.”
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
79
IMPORTANT
E
Edmund Husserl (1859-1938), filósofo alemão fundador 
da Fenomenologia, um método para a descrição e análise da 
consciência através do qual a filosofia tenta alcançar uma condição 
estritamente científica. Nasceu a 8 de abril de 1859, em Prossnitz, 
Moravia, no então Império Austríaco, hoje Prostejov, na República 
Checa, e faleceu em 27 de abril de 1938, em Freiburg im Breisgau, na 
Alemanha. (COBRA, 2010).
Mas, que MOMENTOS da intencionalidade são estes?
PRIMEIRO MOMENTO: no ato NOÉTICO, em que, segundo Viviani 
(2010, p. 2), “percepcionamos o fenômeno, dotando-lhe de sentido”. 
SEGUNDO MOMENTO: o fenômeno NOEMA, em que, segundo Viviani 
(2010, p. 2), “depois do ato noético, o preenchemos de significação, tornando-se o 
fenômeno noema”. 
Com isso, segundo Viviani (2010, p. 2), “ele afasta-se do psicologismo, 
que não diferencia esses dois momentos da atividade intencional. Em termos 
empíricos, a noese é o ato individual com o fim de conhecer determinada coisa; em 
termos transcendentais, a noese é o ato que possibilita a apreensão das significações 
pelo sujeito constituinte.” 
No exemplo husserliano da MACIEIRA EM FLOR, minha percepção 
dela é o correlato da minha vivência no mundo, “é o noema, resultando da noese, 
do ato de consciência, pelo qual se reduz à unidade de sentido a multiplicidade 
de dados da sensação (hylé). Enquanto a noese e a hylé são elementos da própria 
vivência, o noema é seu correlato intencional ou componente intencional.” 
(VIVIANI, 2010, p. 3).
No entanto, Siewert (2006, p. 8, grifo nosso) complementa expondo que:
Uma terceira maneira de conceber a IMPORTÂNCIA da 
intencionalidade, uma particularmente central para a tradição analítica 
derivada do estudo de Frege e Russell, pede-nos a centrar-se na noção 
de mental (ou intencional) de conteúdo. Muitas vezes, considera-se: 
PARA TER INTENCIONALIDADE É PRECISO TER CONTEÚDO. 
E conteúdo mental é frequentemente descrito como outra forma de 
representação ou conteúdo informacional – e ‘intencionalidade’ (pelo 
menos, como isso se aplica à mente) é vista como apenas uma outra 
palavra para o que é chamado de ‘representação mental’, ou uma 
certa maneira de rolamento ou carregando informações. 
 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
80
Mas o que se entende por “CONTEÚDO” nesta discussão referente à 
intencionalidade? 
Segundo Siewert (2006, p. 8, grifo nosso),
[...] o conteúdo do pensamento, nesse sentido, é o que é relatado ao 
responder à pergunta “O que ela pensa?” por algo do formulário, 
“Ela pensa que p”. E o conteúdo do pensamento é o que duas 
pessoas são ditas partes, quando eu disse que estão a pensar o mesmo 
pensamento. (Do mesmo modo, o conteúdo da crença é que duas 
pessoas compartilham quando têm a mesma crença.) O conteúdo é 
também o que pode ser compartilhado desta forma, mesmo enquanto 
“modos psicológicos” de estados de espírito podem ser diferentes. 
Viviani (2010, p. 3) expõe ainda que “Husserl fala também de 
intencionalidade latente ou operante, que é pré-reflexiva, anterior à temática, 
sendo esta consciência da consciência de algo.” 
A ideia da INTENCIONALIDADE LATENTE, segundo Viviani (2010), é 
tida como aquela que se perpetua no tempo, animando e revelando os significados 
dos atos ético-morais do homem no mundo.
Para finalizar a questão da concepção teórica da intencionalidade, de 
acordo com Schaefer (2010, p. 2-3, grifo nosso), devemos observar que:
A CONSCIÊNCIA É INTENCIONAL. Sempre temos consciência de 
alguma coisa. 
Husserl disse: “TODA CONSCIÊNCIA É CONSCIÊNCIA DE 
ALGUMA COISA”.
A consciência é consciência de visar àquilo que não é. A CONSCIÊNCIA 
É INTENCIONALIDADE, isto é, ela existe sobre o modo de não ser. Ao ver 
ou perceber a mesa, eu não sou a mesa. A consciência sempre se constitui 
por meio desta negativa essencial, uma vez que ela presentifica um objeto 
ausente.
A consciência NÃO TEM CONTEÚDOS. Dela não se pode 
simplesmente dizer que é. Ela não é um objeto nem uma coisa.
A consciência tem uma dimensão de IRREALIDADE e, pois, de 
LIBERDADE. Ela não está presa às coisas. Ela se destaca das coisas, delas 
se evade. Está subtraída dos determinismos espaço-temporais. O não real, o 
irreal, é, para ela, um possível. Ela é livre.
A descrição da consciência, pode-se dizer, é uma descrição – e 
descoberta – da liberdade.
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
81
Não podemos DISSOLVER as coisas na consciência. A consciência 
não é uma coisa. Ela não é as coisas das quais tem consciência. Se vejo uma 
árvore, a árvore é exterior. Ela não é eu. A consciência não é uma substância. 
É, antes de tudo, um processo.
O fato de a consciência ter a necessidade de existir como 
consciência de outra coisa que não ela mesma é chamado, por Husserl, de 
INTENCIONALIDADE.
2.3 A INTENCIONALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL 
Após estas breves considerações sobre o significado da categoria 
“intencionalidade”, precisamos compreender como se processa a intencionalidade 
da prática profissional do assistente social, ou seja, a consciência profissional no 
processo de trabalho do serviço social .
FONTE: Disponível em: 
<www.gdprette.blogspot.
com>. Acesso em: 24 fev. 
2010. 
Primeiramente, devemos 
indagar: 
O QUE PERMEIA A ATUAÇÃO 
PROFISSIONALDO 
ASSISTENTE SOCIAL?, ou 
seja, qual é a real intenção da 
ação profissional?. 
FONTE: Disponível 
em: <www.
resistenciademocraticabr.
blogspot.com>. Acesso em: 
24 fev. 2010. 
Sabemos que, de acordo com Lopes (2007, p. 1, grifo nosso), o serviço social 
IDENTIFICA-SE “como a profissão cujos profissionais COMBATEM, por ofício e 
por decisão ético-política, todas as formas de violação de direitos, discriminação 
e subalternidade.”
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
82
“Os assistentes sociais executam suas atribuições com um ensejo claro: uma 
sociedade justa, formada por homens e mulheres completos, construída como manifestação 
não só de resistência às formas de violência, de ataque à dignidade humana, mas de 
consolidação de direitos sociais”. (LOPES, 2007, p. 1).
ATENCAO
Baptista (2009, p. 1, grifo nosso) complementa expondo que “na 
ESTRUTURA do serviço social brasileiro, como profissão, sempre esteve 
presente o DESAFIO DO ENFRENTAMENTO das expressões da questão social 
gestadas pelo capitalismo, o que fez com que seus profissionais parametrassem 
suas intervenções na relação capital-trabalho.”
O primeiro número da revista Serviço Social , editado em 1993, de acordo 
com Baptista (2009, p. 3), dizia em sua apresentação:
 
O serviço social tem por finalidade primária orientar as obras sociais e 
desnudar à sociedade os seus problemas, interessando-a neles, a fim de que, com 
maiores recursos, possamos enfrentá-los. Visa também despertar a consciência 
de classe dos trabalhadores, a consciência de classe dos trabalhadores sociais, 
estabelecer contato entre eles, a fim de formar e criar um bloco cuja ação se 
caracterize pela unidade, pela visão...
Na atuação profissional do assistente social eu posso distinguir, mas jamais 
separar, a intencionalidade do resultado. (CORTEZ apud BAPTISTA, 2009, p. 3).
ATENCAO
Então, o que tem por trás da prática profissional, como tal? E qual a 
CONSCIÊNCIA ÉTICO-MORAL que norteia o projeto ético-político da ação 
profissional no serviço social ?
Vejamos. Segundo Netto (2001, p. 116), “no plano da INTENCIONALIDADE 
do serviço social , o seu projeto de intervenção, que é medularmente reformista, 
mostra-se abertamente condicionado pela perspectiva em que se põe o 
desenvolvimento capitalista.”
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
83
Neste sentido, 
Uma das questões fulcrais nas práticas do serviço social é a 
intencionalidade do ato. Isto é a consciência refletida da nossa ação 
que deve antecipar sempre, em reflexão, ainda mais quando implica 
a aplicação, sem mediação, de técnicas ou perspectivas teórico-
empíricas, cujo modelo ou modelos estão desenhados apenas “no 
papel”, ou na ilusória perspectiva salvífica que sempre podem 
encerrar. (SILVA, 2008, p. 1, grifo nosso).
Podemos expor, assim, que a intencionalidade do agir profissional do 
assistente social se processa no ATO, NA AÇÃO INTERVENTIVA da prática 
profissional.
Netto (2001, p. 116, grifo nosso) complementa afirmando que “a moldura 
da intervenção é, basicamente, ético-moral, em duas direções: na do ATOR da 
intervenção (que deve restaurar a ordem perdida) e na do PROCESSO sobre que 
age (que deve ser recolocado numa ordem melhor)”, norteado sempre pela sua 
instrumentalidade teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política.
Segundo Guerra (2000, p. 2), “a instrumentalidade é uma propriedade 
e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza 
objetivos.” Nesta perspectiva, “a intervenção tem por objetivo um padrão de 
integração que joga com a efetiva dinâmica vigente e se propõe explorar as 
alternativas nelas contidas – a ordem capitalista é tomada como invulnerável, 
sem o apelo a parâmetros pretéritos”. (NETTO, 2001, p. 116).
Por outras palavras, de acordo com Guerra (2000, p. 53), é possível dizer 
que a instrumentalidade do serviço social 
[...] possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade 
em respostas profissionais, uma vez que é por meio da instrumentalidade que 
os assistentes sociais modificam, transformam aquelas condições objetivas e 
subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes no nível do cotidiano.
Assim, Netto (2001, p. 116) expõe que: 
[...] a moldura da intervenção se desloca visivelmente: o ator 
profissional é um prestador de serviços, que reclama uma remuneração, 
e se apresenta como portador de uma qualificação técnica – sua 
intervenção é exigida pela natureza mesma pela ordem vigente, cuja 
estrutura profunda é invulnerável e, deste ponto de vista, só deve ser 
objeto de juízos de fato.
Conforme Santos (2010, p. 2):
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
84
[...] ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais 
que demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os 
instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos 
para o alcance de objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando 
instrumentalidade às suas ações.”
Netto (2001, p. 117) complementa ainda que:
[...] a intervenção pelo anticapitalismo romântico, inerente à apologia 
indireta, defronta-se muito problematicamente com os referenciais científicos 
produzidos pelas ciências sociais. De uma parte o positivismo que as enforma 
e atravessa parece-lhe repugnante; de outra, é compelida a reconhecer nelas 
um mínimo valor cognitivo – daí a sua relação ambígua com o seu sistema de 
saber: necessário, mas insuficiente.
O recurso ao sistema de saber é um tributo que se paga à ordem 
capitalista, com o seu mecanicismo e o seu materialismo; para as realidades 
essenciais da pessoa humana, a via de acesso é outra: a solidariedade, a 
comunicação individualizada – enfim, a frieza técnica deve ser subsidiária do 
animus pessoal. 
[...] na intervenção permeada pelo caldo de cultura anticapitalista 
romântico, restaurador, o desprezo pela racionalidade teórica é comandado 
não por características que acompanham a intervenção (assistematicidade, 
empirismo etc.), mas por um visceral irracionalismo.
Na medida em que os profissionais do serviço social , de acordo com 
Santos (2010, p. 2-3), 
[...] utilizam, criam e adéquam as condições existentes, transformando-
as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, 
suas ações passam a ser portadoras de instrumentalidade. Deste 
modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo o 
trabalho social quanto categoria constitutiva – um modo de ser –, de 
todo trabalho. 
Neste sentido, segundo Guerra (2000, p. 6-7, grifo nosso),
A UTILIDADE SOCIAL de uma profissão advém das necessidades 
sociais. 
Numa ordem social constituída de duas classes fundamentais (que se 
dividem em camadas ou segmentos), tais necessidades, vinculadas ao capital 
e/ou ao trabalho, são não apenas diferentes, mas antagônicas. 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
85
Netto (2001, p. 117) complementa ainda que:
A utilidade social da profissão está em RESPONDER ÀS 
NECESSIDADES das classes sociais, que se transformam, por meio de muitas 
mediações, em demandas para a profissão. Estas são respostas qualificadas e 
institucionalizadas, para o que, além de uma formação social especializada, 
devem ter seu significado social reconhecido pelas classes sociais fundamentais 
(capitalistas e trabalhadores). 
Considerando que o espaço sócio-ocupacional de qualquer profissão, 
neste caso do serviço social , é criado pela existência de tais necessidades sociais 
e que historicamente a profissão adquire este espaço quando o Estado passa a 
interferir sistematicamente nas refrações da questão social, institucionalmente 
transformada em questões sociais (NETTO, 1992), através de uma determinada 
modalidade histórica de enfrentamento das mesmas: as políticas sociais, pode-
se conceber que as políticas e os serviços sociais constituem-senos espaços 
sócio-ocupacionais para os assistentes sociais. 
As políticas sociais, além de sua dimensão econômico-política (como 
mecanismo de reprodução da força de trabalho e como resultado das lutas 
de classes) constituem-se também num conjunto de procedimentos técnico-
operativos, cuja componente instrumental põe a necessidade de profissionais 
que atuem em dois campos distintos: o de sua formulação e o de sua 
implementação. É neste último, no âmbito da sua implementação, que as 
políticas sociais fundam um mercado de trabalho para os assistentes sociais. 
Com a complexificação da questão social e seu tratamento por parte do 
Estado, fragmentando-a e recortando-a em questões sociais a serem atendidas 
pelas políticas sociais, instituiu-se um espaço na divisão sociotécnica do 
trabalho para um profissional que atuasse na fase terminal da ação executiva 
das políticas sociais, instância em que a população vulnerabilizada recebe e 
requisita direta e imediatamente respostas fragmentadas através das políticas 
sociais setoriais. É nesse sentido que as políticas sociais contribuem para a 
produção e reprodução material e ideológica da força de trabalho (melhor 
dizendo, da subjetividade do trabalhador como força de trabalho) e para a 
reprodução ampliada do capital. 
Como resultado destas determinações no processo de constituição 
da profissão, a INTENCIONALIDADE dos assistentes sociais passa a ser 
MEDIADA pela própria lógica da institucionalização, pela dinâmica da 
instauração da profissão e pelas estruturas em que a profissão se insere, as 
quais, em muitos casos, submetem o profissional. Melhor dizendo, os assistentes 
sociais “passam a desempenhar papéis que lhes são alocados por organismos e 
instâncias [...]” próprios da ordem burguesa no estágio monopolista (NETTO, 
1992, p. 68), os quais são portadores da lógica do mercado. 
Assim, o assistente social adquire a condição de trabalhador assalariado, 
com todos os condicionamentos que disso decorre.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
86
Finalizando, podemos dizer que “IGUALDADE, TRABALHO E 
EMPENHO contra todas as formas de violência e exclusão são disposições que 
atestam a importância desse profissional na reivindicação e na defesa pública 
das políticas sociais, como resultado de seu pacto com os sujeitos protagonistas”. 
(LOPES, 2007, p. 1, grifo nosso).
Portanto, o serviço social é “concebido e edificado historicamente, 
no palco de contradições sociais; o serviço social hoje é demarcado por essa 
INTENCIONALIDADE PROFISSIONAL clara, amadurecida pelas lutas e 
conquistas no campo dos direitos, tantas vezes reconhecidos, mas nem sempre 
constituídos”. (LOPES, 2007, p. 1, grifo nosso).
No entanto, segundo Lopes (2007, p. 1-2, grifo nosso):
Há um contexto também tríplice de DESAFIOS para a profissão: 
1 FORTALECIMENTO de nossas entidades organizativas. 
2 INCREMENTO NA QUALIDADE da formação profissional. 
3 EMPENHO PELA CONQUISTA DE RESPEITO profissional e 
adequadas condições de trabalho. 
De saída, é preciso confirmar que a sociabilidade que defendemos 
exige uma INTERVENÇÃO QUALIFICADA, desprovida de preconceitos, 
municiada com saberes específicos, baseada na inteligência contida nos 
princípios éticos fundamentais, a favor da equidade e da justiça social, da 
universalidade de acesso aos bens e serviços.
O compromisso do assistente social com os interesses da população usuária 
NÃO SE REALIZA sem competência técnica, ética e política. (LOPES, 2007).
ATENCAO
Lopes (2007, p. 1-2, grifo nosso) complementa:
Esse compromisso deve sempre se converter em uma INTERVENÇÃO 
direcionada na DEFESA DOS DIREITOS SOCIAIS em uma conjuntura que, 
nos dias atuais, merece destaque pela transformação em curso, capitaneada 
por um projeto de Estado que tem referência máxima na cidadania e por um 
projeto de governo que tem compromisso político-programático, fomentar a 
consolidação dos direitos sociais.
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
87
Lopes (2007, p. 1-2, grifo nosso) complementa:
Para além do discurso, [...] devemos conviver com o processo 
contemporâneo de reorganização, racionalização e ampliação de políticas 
sociais públicas que conformam hoje uma rede de proteção social no país 
nunca antes consolidada. 
O TRAÇO FUNDAMENTAL dessa história, escrita dia após dia 
no presente, é a mescla dos valores da ÉTICA, da DEMOCRACIA, da 
JUSTIÇA SOCIAL e da SOLIDARIEDADE HUMANA, com uma ação 
política republicana nascida de um pacto federativo comprometido com a 
universalização da cobertura de proteção social à população usuária de 
direitos.
Nesse sentido, SER assistente social é rebelar-se contra a história de 
predomínio da indiferença e, ao olhar para o passado, construir no presente, 
em uma trajetória de responsabilidade civilizatória, o futuro que todos 
ambicionamos.
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA NO PROCESSO 
EDUCATIVO SEGUNDO PAULO FREIRE
Paulo César de Oliveira
Patricia de Carvalho
A intencionalidade da consciência: o homem como corpo consciente
Paulo Freire constata que, na relação homem/mundo, ocorre uma 
simultaneidade entre a consciência e o mundo: a consciência não precede o mundo 
e o mundo não precede a consciência. O mundo é exterior à consciência, mas, por 
essência, é relativo a ela. A consciência do mundo implica o mundo da consciência:
Na verdade, não há eu que se constitua sem um não eu. Por sua vez, o 
não eu constituinte do eu se constitui na constituição do eu constituído. 
Desta forma, o mundo constituinte da consciência se torna um mundo 
da consciência, um percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. 
(FREIRE, 1970, p. 71).
Afirmando que “o homem é um corpo consciente” (FREIRE, 1970, p. 74), 
Paulo Freire coloca a chave para reflexão sobre a intencionalidade da consciência 
e a ação conscientizadora. Ao expor o seu pensamento sobre a intencionalidade 
da consciência, mostra conhecer a história do problema (FREIRE, 1969). Não se 
pode conceber a consciência espacialmente, como um receptáculo vazio, presente 
no homem que deve ser preenchido. A consciência intencional provoca uma 
aproximação reflexiva à realidade. Não é a realidade que entra na consciência, mas 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
88
a consciência reflexiva que tende à realidade, criando a possibilidade da práxis 
com a ação e a reflexão. É sempre uma consciência historicamente condicionada, 
sem ser uma mera reprodução da realidade.
A consciência humana se define pela sua intencionalidade; é sempre 
consciência de alguma coisa. É sempre ativa, tem sempre um objeto diante de si, 
funda o ato do conhecimento, que não deve reduzir-se a uma doxa da realidade, 
mas deve aprofundar-se para chegar ao logos, à razão do objeto a ser conhecido, 
o que só é possível quando os homens se unem para responder aos desafios que 
o mundo lhes propõe.
A consciência não é somente intencionada em direção ao mundo. 
Ela possui a propriedade de voltar-se sobre si mesma e ser consciente de sua 
consciência. A sua ação ultrapassa o nível do simples reflexo da realidade, da 
resposta a estímulos externos, para ser reflexiva, alargando-se na reflexão crítica 
sobre os seus próprios atos e na capacidade de superação de suas contradições. O 
homem tem a propriedade de transcender a sua atividade: dá sentido ao mundo, 
elabora objetivos, propõe finalidades.
A consciência permite ao homem não só separar-se do mundo, objetivá-lo, 
mas também separar-se de sua própria atividade, de ultrapassar as situações-limite.
O homem condicionado pela realidade 
O homem é um ser em situação. Pensar a sua situacionalidade é 
fundamental para a sua compreensão como um ser de práxis. Em relação 
ao mundo, o homem pode encontrar-se em três estágios diversos: imersão, 
emersão e inserção. O primeiro momento é caracterizado pelo fato de que o 
homem encontra-se totalmente envolvido pelarealidade; não consegue pensá-
la. O momento de emersão assinala a capacidade humana de distanciar-se da 
realidade, de admirá-la objetivando-a. A inserção implica o retorno do homem à 
realidade para transformá-la através de sua práxis.
O pensar a situacionalidade do homem permite a Paulo Freire falar de 
diversos níveis de consciência. Não é uma discussão teórica ou psicológica, mas 
histórica, pois visa colher o homem tal como se apresenta em um momento 
específico da sua história. (FREIRE, 1967).
O espaço geográfico de seus estudos é o Brasil que viveu, nas décadas de 
50, 60 e 70 do século XX, um especial período de transição. Tal situação encontrava 
as suas raízes no passado da história brasileira, mas que no momento apresentava 
promissoras perspectivas de mudança, com possibilidades reais de contribuição 
para autonomia e libertação do homem e da nação. Simultaneamente, havia o 
risco de agravamento da situação de dependência colonial, que reduzia o homem 
brasileiro a objeto a ser desfrutado por uma pequena elite, que se sentia a única 
responsável pela construção da história e pronúncia do mundo.
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
89
Para o Brasil, estas três décadas constituem, historicamente, um período 
marcado por um espírito nacional desenvolvimentista, que desejava implantar no 
país as estruturas industriais modernas existentes no “primeiro mundo”, sobretudo 
Estados Unidos da América e Europa. Da parte do Brasil, era uma resposta às novas 
exigências do mercado internacional, que constituía uma nova modalidade de 
operar a colonização. Internamente, o fenômeno provoca instabilidade econômica, 
social e política. A industrialização agravava o problema das migrações internas, que 
trazia consigo um processo de descaracterização do homem brasileiro que, ao vir 
para as cidades, perdia as suas raízes culturais e não encontrava uma infraestrutura 
adequada que propiciasse a sua integração no novo mundo urbano.
É este específico momento de trânsito da sociedade brasileira, com suas 
possibilidades, que permite a Paulo Freire falar de diversos níveis de consciência. 
Estes níveis podem ser percebidos quando o homem passa do estado de imersão 
para um novo estado de emersão, isto é, a passagem de uma intransitividade da 
consciência para uma transitividade ingênua (PAIVA, 1980).
Consciência intransitiva
A consciência intransitiva se caracteriza fundamentalmente pelo fato de 
que o homem tem o seu interesse voltado para as formas vegetativas de vida; a 
sua esfera de apreensão da realidade é limitada à dimensão biológica. Nesta 
fase, o homem não age em nível histórico, não se compromete existencialmente 
através da decisão, é impermeável aos compromissos que ultrapassam a esfera de 
vida vegetativa. O homem assume uma postura mágica diante do mundo e dos 
fatos; não consegue discernir a verdadeira causalidade dos eventos. É importante 
sublinhar que a situação de intransitividade não destrói no homem a sua abertura 
fundamental a ser mais; isto possibilita a passagem para o estado de transitividade.
Esta constatação justificará todo o investimento do processo educativo 
– conscientizador que se fundamenta na capacidade estrutural do homem de 
educar-se, capacidade que não foi destruída, mas apenas obscurecida. Nesta 
perspectiva, afirma Paulo Freire que:
[...] o conceito de ‘intransitividade’ não corresponde a um fechamento 
do homem dentro dele mesmo, esmagado, se assim o fosse, por um 
tempo e um espaço todo-poderosos. O homem, qualquer que seja 
o seu estado, é um ser aberto. O que pretendemos significar com a 
consciência ‘intransitiva’ é a limitação de sua esfera de apreensão. É a sua 
impermeabilidade a desafios situados fora da órbita vegetativa. Neste 
sentido, e só neste sentido, é que a intransitividade representa um quase 
descompromisso do homem com a existência. (FREIRE, 1970, p. 60).
Consciência transitiva
O homem, provocado a responder às questões que lhe são propostas, se 
impermeabiliza, instaura e aprofunda o processo de diálogo com o seu mundo e 
com os homens. As suas preocupações não são restritas à esfera vital, mas é capaz 
de comprometer-se. Esta fase se concretiza em momentos distintos: a consciência 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
90
transitiva ingênua e a consciência transitiva fanática.
A consciência transitiva ingênua é aquela que amplia o poder de captação e 
de resposta às sugestões que partem do seu contexto. Seus interesses e preocupações 
se alongam a esferas bem mais amplas que à simples esfera vital. É a consciência 
típica do homem massa que não consegue estabelecer uma progressão intensiva no 
diálogo com o mundo e com os homens.
A expressão “homem massa” quer significar a condição do homem 
que tem o seu agir determinado por forças sociais. Neste estado, o homem não 
consegue agir conscientemente, não intervém substancialmente na vida social, 
pois não estabelece uma ação reflexiva e crítica com o mundo e com os outros. É 
o homem que não cria a sua identidade, mas vive a que é atribuída pelas forças 
determinantes da sociedade.
A sua relação dialogal é caracterizada pela sua “incapacidade” de interpretar 
exaustivamente os problemas, de conhecer a causalidade dos fatos, de avançar 
a sua investigação, acomodando-se às “explicações fabulosas” da realidade e é 
caracterizada pela fragilidade da argumentação. A sua ação é preponderantemente 
emocional, não estabelece o diálogo, mas a polêmica, permanecendo marcada 
pela nota mágica, própria da intransitividade. Tende a voltar nostalgicamente 
ao passado, como se aquele tempo fosse o melhor. Despreza o homem simples e 
possui forte tendência gregária. Não é uma consciência investigadora, mas é uma 
consciência que se contenta com as experiências vividas; parte do princípio de 
que a realidade é estática. (FREIRE, 1981).
A massificação é sempre uma possibilidade para a consciência que, 
“transitivando-se”, não consegue a promoção da ingenuidade à criticidade.
 
Ela se caracteriza por um descompromisso com a existência num nível 
mais profundo que o da intransitividade. O homem age à base da emocionalidade, 
se acomoda à estrutura existente, é incapaz de realizar opções. Esta situação 
pode ser denominada de transitividade fanática, que se caracteriza por seu 
aspecto místico, preponderantemente irracional. A possibilidade de diálogo é 
praticamente suprimida. O homem se crê livre, mas é conduzido; na verdade, 
torna-se um objeto e o seu poder criador é afetado.
Ocorre constatar que o estado do homem massificado é mais grave e 
profundo que o estado do homem de consciência intransitiva. A massificação, isto é, 
a consciência fanática, é uma distorção da consciência transitiva que deveria evoluir 
para ser transitiva crítica. Esta constatação dos diversos níveis de consciência mostra 
que eles não são produto de um autodesenvolvimento da racionalidade humana, 
com momentos de uma sucessão natural, que acontece independentemente de um 
fator externo, mas são resultantes de uma confluência de fatores históricos. Isto 
leva a perguntar sobre a relação existente entre a consciência e a estrutura social.
Revela que, se os níveis de consciência são historicamente formados, 
podem ser historicamente alterados. É neste processo de amadurecimento da 
TÓPICO 1 | ASPECTOS IDEOLÓGICOS NO USO DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS
91
consciência que a educação exerce um papel decisivo: deve estar conjugada 
com o processo de mudança social. (FREIRE, 1981).
A transitividade crítica se faz conhecida pela sua capacidade de perceber 
a causalidade dos fatos. Às vezes é chamada simplesmente de consciência crítica 
e se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. A consciência 
crítica é o conhecimento ou a percepção que consegue revelar algumas razões 
que explicam a maneira como os homens estão sendo no mundo; ela conduz 
o homem à sua vocação ontológica e histórica de humanizar-se; fundamenta-se na criatividade e estimula tanto a reflexão quanto a ação do homem sobre a 
realidade, promovendo a transformação criadora.
A consciência transitiva crítica é fruto de uma educação dialogal e ativa 
que ofereça ao homem a possibilidade de tornar-se responsável no seu agir 
pessoal, social e político.
A criticidade para nós implica a apropriação crescente de sua posição 
no contexto. Implica a sua inserção, a sua integração, a representação 
objetiva da realidade. Daí a conscientização ser o desenvolvimento 
da tomada de consciência. Não será, por isso mesmo, algo apenas 
resultante das modificações econômicas, por grandes e importantes 
que sejam. A criticidade, como entendemos, há de resultar de 
um trabalho pedagógico crítico, apoiado em condições históricas 
propícias. (FREIRE, 1981, p. 61).
É interessante perceber dois elementos nestas palavras de Paulo Freire: 
primeiro, a ligação de dependência que estabelece entre conscientização, 
criticidade e educação; e segundo, a afirmação de que a conscientização é o 
desenvolvimento da tomada de consciência. Esta posição será reestruturada nas 
suas obras posteriores, reconhecendo que não existe conscientização sem práxis 
transformadora da realidade. Esta fase se caracteriza pelo estabelecimento 
maduro do diálogo, pela abertura ao novo, construído sobre o que é válido 
do velho. Ela existe nos regimes democráticos que possuem formas de vida 
interrogadoras e dialogais.
Ressalto o fato de que, para Paulo Freire, a passagem da consciência 
transitiva ingênua para a consciência transitiva crítica ocorre através de um 
trabalho educativo crítico. Nesta perspectiva, ele afirma:
[...] o que nos parecia importante afirmar é que o outro passo, o 
decisivo, da consciência dominantemente transitivo-ingênua para a 
dominantemente transitivo-crítica, não se daria automaticamente, 
mas somente por efeito de um trabalho educativo crítico com esta 
destinação. Trabalho educativo advertido do perigo da massificação, 
em íntima relação com a industrialização, que nos era e é um 
imperativo existencial. (FREIRE, 1967, p. 62).
FONTE: OLIVEIRA, Paulo César de Oliveira; CARVALHO, Patricia de. A intencionalidade da 
consciência no processo educativo segundo Paulo Freire. Paideia, Ribeirão Preto, v. 17, n. 
37, maio/ago. 2007. Disponível em: <www.scielo.br/paideia>. Acesso em: 5 mar. 2010.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
92
DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia e assista:
LIVROS:
HUSSERL – por Jean-Michel Salankis 
Coleção Figuras do Saber 
Tradução de Carlos Alberto Ribeiro de Moura 
128 p. | 14 x 21 cm 
ISBN-10: 85-7448-114-9 
ISBN-13: 978-85-7448-114-2
Introdução à fenomenologia 
Autor(es): Angela Ales Bello 
Editora: EDUSC 
Área(s): Ciências Sociais/Política, Filosofia 
ISBN: 8574603295 
108 p.
A Ideia de Fenomenologia – por Edmund Husserl 
Editora: Edições 70 
Coleção: Textos Filosóficos 
Tema: Filosofia 
Ano: 2008 
Tipo de capa: brochura 
ISBN 9789724413778 | 136 p.
Intencionalidade
de John R. Searle 
Edição/reimpressão: 2002
Páginas: 408
Editor: Martins Fontes
ISBN: 9788533617230
Colecção: Tópicos 
Idioma: Português do Brasil
FILME: BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS
Título Original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind 
Tempo de Duração: 108 minutos 
Ano de Lançamento (EUA): 2004 
Site Oficial: http://www.eternalsunshine.com/ 
Direção: Michel Gondry 
Roteiro: Charlie Kaufman, baseado em estória de Charlie 
Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth 
Produção: Anthony Bregman e Steve Golin 
Música: Jon Brion 
Fotografia: Ellen Kuras 
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Kirsten Dunst, Mark Ruffalo, 
Tom Wilkinson, Elijah Wood.
93
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico estudamos acerca do significado dos aspectos ideológicos 
no uso dos instrumentos e técnicas, como a consciência e a intencionalidade 
da ação profissional do assistente social, e foram abordados os seguintes itens:
• Estudamos a categoria “consciência”, que permeia a atuação profissional do assistente 
social.
• A consciência diz respeito à percepção imediata pelo sujeito daquilo que se 
passa nele mesmo ou fora dele.
• A compreensão das coisas e dos fatos depende da visão de mundo e da 
subjetividade de cada ser humano sobre a Terra, mas sempre baseada nas 
concepções éticas e morais constituídas pela sociedade em que vive.
• A consciência crítica é a capacidade de apreciar as atitudes não só do outro, mas as 
próprias.
• Realizamos uma discussão acerca da conceituação básica e do significado da 
categoria “intencionalidade”.
• A intencionalidade diz respeito à característica definidora da consciência, 
enquanto necessariamente voltada para um objeto.
• A intencionalidade é a sobriedade ou direcionamento da mente (ou estados de 
espírito) para coisas, objetos, estados de coisas, acontecimentos. 
• Os estados intencionais são aqueles com condições de satisfação. 
• A consciência é intencional, ou seja, sempre temos consciência de alguma coisa. 
• Como se processa a intencionalidade da prática profissional do assistente social, 
ou seja, a consciência profissional no processo de trabalho do serviço social .
• A intencionalidade do agir profissional do assistente social se processa no ato, 
na ação interventiva da prática profissional.
• É possível dizer que a instrumentalidade do serviço social “possibilita que os 
profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais, uma 
vez que é por meio da instrumentalidade que os assistentes sociais modificam, 
transformam aquelas condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e 
sociais existentes no nível do cotidiano.”
• O serviço social hoje é demarcado por essa intencionalidade profissional clara, 
amadurecida pelas lutas e conquistas no campo dos direitos.
94
AUTOATIVIDADE
Prezado(a) acadêmico(a), após a discussão relativa à consciência e 
intencionalidade da ação profissional do assistente social, solucione as seguintes 
PALAVRAS CRUZADAS:
QUESTÕES HORIZONTAIS:
1) A consciência diz respeito a quê?
2) A intencionalidade diz respeito à característica definidora do quê?
3) A intencionalidade é a sobriedade ou direcionamento da mente (ou estados 
de espírito) para o quê?
4) A consciência é ______________, ou seja, sempre temos consciência de 
alguma coisa. 
5) A intencionalidade do agir profissional do assistente social se processa no 
_______ e _______ interventiva da prática profissional.
6) É por meio da instrumentalidade que os assistentes sociais modificam, 
transformam aquelas condições _______________ e _________________ e as 
relações interpessoais e sociais existentes no nível do cotidiano.
95
7) Qual profissão é hoje demarcada por uma intencionalidade profissional 
clara, amadurecida pelas lutas e conquistas no campo dos direitos?
8) A consciência moral diz-se de uma espécie de __________________ que nos 
ordena o que deve ser feito, desempenhando um papel crítico no agir.
QUESTÕES VERTICAIS:
1) Sabe-se que a compreensão das coisas e dos fatos depende da visão de 
mundo e da subjetividade de cada ser humano sobre a Terra. Mas, elas são 
baseadas em que concepção?
2) A consciência crítica é a capacidade de apreciar as atitudes do outro, mas 
não só dele, de quem também?
3) Os estados intencionais são aqueles com condições do quê?
4) É possível dizer que a ___________________ do serviço social possibilita que 
os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais 
no seu cotidiano profissional.
5) A consciência é uma qualidade do quê?
6) A consciência se forma por intermédio da ______________ humana em 
sociedade e suas necessidades subjetivas.
7) A consciência é uma função que permite ao ser humano distinguir entre o 
quê?
8) O que nasce com a conformidade da realidade, com a norma, a regra?
96
97
TÓPICO 2
NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E 
IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
“Chega muitoperto da excelência quem 
aprende a ver nas pessoas suas verdadeiras 
dimensões. Quem consegue amar as pessoas, tanto 
pela sua riqueza como por suas promessas intrínsecas. 
Quem aprende a ver e ouvir as pessoas, a respeitar, a 
irmanar-se e a fazer parceria com elas.”
Flávio Toledo
Neste tópico discutiremos como se processa a competência relacional 
do assistente social no seu cotidiano profissional, além de apresentarmos a 
racionalidade que permeia a aplicabilidade do instrumental técnico-operativo 
do serviço social .
2 A COMPETÊNCIA RELACIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
Partindo da perspectiva de que o assistente social deve ter uma gama de 
habilidades e competências profissionais, para assim desenvolver sua prática 
profissional com objetividade, eficácia e eficiência, devemos, então, compreender 
a dinâmica de sua competência relacional no dia a dia de seu processo de trabalho.
Para tanto, segundo Türck (2010, p. 1, grifo 
nosso), esta competência relacional é 
“o EIXO GERADOR de todo o processo 
de trabalho do assistente social. Portanto, 
falar sobre competência relacional é 
remetê-la para o espaço de formação, não 
só como um processo teórico para ser 
aprendido, mas também para ser vivido”.
FONTE: Disponível em: <www.
supervisaoclinicanaenfermagem.wikidot.com>. 
Acesso em: 24 fev. 2010.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
98
Ou seja, a competência relacional é compreendida como uma habilidade 
profissional que é adquirida ao longo da história profissional do assistente social 
por meio da vivência cotidiana de sua prática profissional.
Mas o que é esta tal COMPETÊNCIA RELACIONAL?
Vejamos:
Para Türck (2010, p. 1, grifo nosso), “no desempenho QUALITATIVO de 
qualquer profissão e, mais especificamente para o serviço social , as COMPETÊNCIAS 
são fundamentais para a garantia da qualificação profissional”, ou seja, “dentre 
tantas, a competência relacional é uma das mais importantes, porque é ela que vai 
direcionar, em qualquer espaço, institucional ou não, o eixo norteador de todo o 
processo de trabalho do assistente social”. (TÜRCK, 2010, p. 1).
 
O serviço social como uma profissão, segundo Türck (2010, p. 1), que 
“enfrenta os desafios cotidianos, em que as expressões da Questão Social se 
contextualizam na vida dos sujeitos, a partir do sofrimento, causados pela 
exclusão e pela negação de direitos, necessita com certeza exercitar a competência 
relacional.” E sob esta perspectiva devemos compreender que a atuação 
profissional do assistente social, sob todos os aspectos, “implica troca, respeito, 
compartilhamento, flexibilidade e confiabilidade.” (TÜRCK, 2010, p.1). Só assim 
o profissional do serviço social , na relação cotidiana com as demandas sociais 
e seu arcabouço teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político, vem 
constituindo sua competência relacional junto aos demandatários das questões 
sociais e suas expressões no decorrer de sua história profissional.
Lembre-se: a “competência relacional não é exercitar a pieguice, mas 
APROFUNDAR O CONHECIMENTO para utilizá-lo com competência técnico-operativa 
na garantia de direitos. Não é utilizá-lo como um discurso vazio, fácil, mas utilizá-lo na 
GARANTIA DA INTERLOCUÇÃO E DO PROTAGONISMO DOS SUJEITOS do processo de 
trabalho do assistente social”. (TÜRCK, 2010, p. 1, grifo nosso).
ATENCAO
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
99
E este conhecimento, junto com a habilidade e atitude do profissional do 
serviço social , determina a sua COMPETÊNCIA de ação. Mas, de acordo com Silva 
(2007), para atingir esta competência, o profissional deve levar em consideração três 
aspectos fundamentais, que são:
• o conhecimento sobre alguma coisa ou algum fato (compreensão de conceitos, 
tecnologia, padrões e técnicas de trabalho, metodologias e instrumentos técnico-
operativos, entre outros, tendo a informação do fato, para assim saber o que e 
por que fazer);
• a habilidade para a realização de uma determinada tarefa ou ação (a técnica 
alinhada ao saber fazer);
• a atitude do assistente social que realiza a ação (o seu interesse em querer fazer 
aquela determinada ação).
 E este tripé da competência profissional está representado pela figura a 
seguir:
FONTE: Silva (2007)
FIGURA 6 – COMPETÊNCIA COM A INTEGRAÇÃO DE HABILIDADES, ATITUDES E CONHECIMENTO
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
100
IMPORTANT
E
Prezado(a acadêmico(a), lembre-se de que, para APRENDER E COMPREENDER 
a competência relacional do assistente social, é necessário primeiramente vivê-la antes 
de qualquer coisa, ou seja, vivenciar no dia a dia as relações subjetivas do sujeito e suas 
problemáticas sociais, nas mais diferenciadas expressões.
Mas, será que é fácil DESENVOLVER esta competência relacional?
De acordo com Türck (2010, p. 2), das competências do assistente social,
[...] essa é a mais difícil, porque é necessário construir com os diferentes, 
construir com os opositores, aprender com os inimigos. É necessário controlar 
sentimentos negativos que tornam os sujeitos reféns de atitudes mesquinhas, 
em que o outro é visto como possibilidade de uso. E, principalmente, aprender 
que a humanidade de cada sujeito é frágil e que está sempre sendo testada pela 
ambição de ser mais.
NOTA
Ser assistente social, segundo Türck (2010, p. 2), “não é só se apropriar de 
habilidades técnicas desprovidas do sentido humano. Por isso a competência relacional 
adquire extrema importância para o assistente social.”
ABDICAR desta competência, segundo Roca (2001, p.15), significa: 
Deixar para trás o compromisso com o novo, com a criatividade e com 
a práxis. É apropriar-se de planos, equipamentos e guias de recursos, 
enfraquecendo o “sentir com as entranhas”, permitindo que a ditadura 
dos protocolos possibilite confundir o serviço social com a gestão 
de um departamento administrativo. Assumir somente habilidades 
técnicas, sem o sentido do relacional, é transformar-se em um executor 
de tarefas, cujo processo discursivo nunca chegará à ação. Este é o 
desafio com que os profissionais assistentes sociais se deparam e que 
enfrentam nos espaços institucionais. É a dicotomia entre a teoria e a 
prática que não encontra um ponto de conexão, porque também se 
distancia da competência relacional que flexibiliza o olhar, que cria 
estratégias, que permite ousadias, que desconhece o medo. 
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
101
EXECUTOR DE TAREFAS! Será que é isto que os assistentes sociais 
devem ser? É óbvio que não, os profissionais do serviço social são muito mais 
do que executores de tarefas burocráticas. Estes profissionais, em seu dia a dia do 
processo de trabalho, lidam constantemente “com a humanidade das pessoas” 
(TÜRCK, 2010, p. 2), ou seja, com as diversas subjetividades e humanidades, e isto 
não pode ser realizado roboticamente e insensivelmente, pois todas as pessoas 
possuem sentimentos, necessidades e sonhos que desejam realizar em suas vidas. 
E isto não pode ser deixado de lado quando o assistente social desenvolver seu 
trabalho junto a estas pessoas, pois, caso contrário, não estaria realizando um 
diagnóstico coerente e realista da realidade da população usuária dos programas 
e projetos sociais.
IMPORTANT
E
Lembre-se de que é na vida cotidiana e no contexto social que a práxis 
profissional do assistente social deve ser pautada e praticada.
Segundo Roca (2001, p.15), “uma profissão, como conjunto de saberes 
socialmente instituídos, não substitui nunca os profissionais de carne e osso: por 
trás deles existe sempre uma personalidade autônoma, capacidades e aptidões 
que modulam uma determinada competência técnica.” 
Ainda de acordo com Roca (apud TÜRCK, 2010, p. 2), nasce, sim, “a 
convicção de que é necessário liberar o potencial de conhecimento e criatividade 
dos homense mulheres que escolhem as profissões sociais”, pois “a excelência 
não recai tanto sobre a profissão em si mesma, quanto nos profissionais, nas 
suas motivações e na sua identificação com seu processo de trabalho, sobre seu 
talento cooperativo e sua confiança, sobre o apoio mútuo e a capacidade de tomar 
decisões conjuntas.” (TÜRCK, 2010, p. 2).
Portanto, para Türck (2010, p. 2), “aliar a competência relacional com 
o conhecimento é construir caminhos profissionais qualificados. Porque olhar 
para si é, antes de tudo, qualificar o olhar para o outro e possibilitar a qualidade 
de vida e a garantia de direitos”.
3 A RACIONALIZAÇÃO DA PRÁTICA DA ASSISTÊNCIA: 
ASPECTOS HISTÓRICOS
Neste tópico apresentaremos, no quadro a seguir, uma breve concepção 
histórica da racionalização da prática da assistência social, ou seja, as diversas 
concepções referentes à prática profissional do assistente social.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
102
QUADRO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA PRÁTICA DA ASSISTÊNCIA 
Período 
histórico
Concepções da 
assistência
Dados históricos da racionalização da prática da assistência
Em torno de 
3000 a.C.
Ajuda
A assistência social era praticada no mundo antigo 
pelas confrarias, em especial, pelas “CONFRARIAS DO 
DESERTO”, que já faziam a assistência junto às caravanas.
Época pré-
cristã
Ajuda como: 
- Esmolas 
esporádicas e 
eventuais
- Visita domiciliar
- Concessão 
de gêneros 
alimentícios, 
roupas, calçados
As confrarias se estenderam para as cidades, buscando 
ajudar a caminhada daqueles que sofriam, seja por 
privações, pela dor, por doenças, perdas ou rupturas. 
No sentido de diminuir o sofrimento das pessoas 
necessitadas.
Com o 
advento do 
Cristianismo
Justiça social
A assistência ampliou sua base, fundamentando-se não 
só na caridade, mas especialmente na JUSTIÇA SOCIAL.
Enfatizava-se também a dimensão espiritual da assistência.
Ao lado da AJUDA MATERIAL, colocava-se a preocupação 
com as questões da vida espiritual, especialmente aos 
mais humildes.
Com a 
organização 
da Igreja 
Católica
Caridade cristã
Essa tarefa foi delegada aos Diáconos – membros leigos 
da Igreja – e logo estendida às confrarias.
Suas ações se ampliaram, passando a envolver a realização 
de INQUÉRITOS SOCIAIS, além das visitas domiciliares para 
constatação das necessidades dos solicitantes de ajuda.
A caridade para 
com os pobres
A organização da prática da assistência era tida como 
expressão da caridade cristã.
O grande organizador da doutrina cristã foi Santo Tomás de 
Aquino (1224-1274), que tinha a CARIDADE como um dos 
pilares da fé, imperativo de justiça social aos mais humildes.
Desde a era 
medieval até 
o século XIX
Controle de 
pobreza
A assistência era encarada como forma de controlar 
a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não 
detinham posses ou bens materiais.
Então:
- seja na assistência 
 prestada pela burguesia
- seja naquela realizada 
 pelas instituições religiosas
O que se buscava era PERPETUAR A SERVIDÃO, ratificar 
a submissão.
Reforma 
religiosa
Século XVI
Na qual a Igreja saiu dividida em dois campos:
o catolicismo
o protestantismo, que tem em Martim Lutero o seu criador.
O PROTESTANTISMO proclamava a supremacia da fé em relação à caridade, 
da religiosidade interna em vez das manifestações externas.
O cumprimento dos princípios da fé era responsabilidade de cada pessoa e 
a organização da prática da assistência, RESPONSABILIDADE DO ESTADO 
e não da Igreja.
Havia sempre 
outras intenções 
além da caridade.
}
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
103
QUADRO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA PRÁTICA DA ASSISTÊNCIA 
Reforma 
Luterana
Século XVI
Bases laicas
Neste período de constantes lutas religiosas, a PRÁTICA 
da assistência passou por várias alterações, das quais a 
mais significativa foi a sua organização em BASES LAICAS 
e não mais religiosas.
Após a 
reforma 
Século XVII
Confrarias e 
leigos
Na França, São Vicente de Paulo tentou restabelecer as 
bases cristãs da assistência, recuperando o esquema das 
confrarias e envolvendo os leigos em sua prática.
Revolução 
Francesa
Século XVIII
Direitos dos 
cidadãos 
A organização societária e a ordem jurídica que decorrem 
da Revolução Francesa, de natureza meramente política, 
deslocaram de novo a base da assistência, posicionando-a 
como UM DIREITO DO CIDADÃO e atribuindo a todos o 
dever de prestá-la.
A assistência foi deixada pelo ESTADO na mão de todos, 
ou seja, a assistência NÃO FICOU NA MÃO DE NINGUÉM.
Século XIX
Na tarefa de racionalizar a assistência, criou-se uma aliança entre a alta 
burguesia inglesa com a Igreja e com o Estado, onde nasceu, sob a iniciativa 
da primeira, a SOCIEDADE DE ORGANIZAÇÃO DE CARIDADE. Aí se criou a 
primeira proposta de prática para o serviço social .
Entendia-se que só COIBINDO as práticas de classes dos trabalhadores, 
impedir-se-iam as manifestações coletivas e se manteria o controle sobre a 
“questão social”, pois só assim é que se poderia assegurar o funcionamento 
social adequado (FUNÇÃO ECONÔMICA da assistência).
A FUNÇÃO IDEOLÓGICA da assistência, que aderiu fortemente à prática 
social, que se expressava por intermédio da tácita ou explícita repressão sobre 
a organização da classe trabalhadora e sobre sua expressão política – na 
tentativa de coibir as ameaças do movimento operário.
A FUNÇÃO DE CONTROLE da assistência – no sentido de exercer um controle 
rigoroso sobre o processo social e das condições de vida da massa pauperizada, 
AJUSTANDO-AS aos padrões estabelecidos pela sociedade burguesa, ora 
constituída.
Início do 
século XX
A SOCIEDADE DE ORGANIZAÇÃO DE CARIDADE era considerada a instituição 
de maior porte no âmbito da assistência social.
Sua principal bandeira de luta era a ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DA 
ASSISTÊNCIA, o que levava a uma posição bastante alienada do agravamento 
da questão social propriamente dita.
A atividade assistencial desta época:
- a visita domiciliar: que era a prática mais usual, situando-se como um 
instrumento que permitia atingir um duplo objetivo: conhecer in loco as 
condições de moradia e da saúde da classe trabalhadora e de socializar o 
‘modo capitalista de pensar’.
FONTE: Adaptado de Martinelli (2009, p. 96-106)
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
104
UNI
Olhe, caro(a) acadêmico(a), “em nome da verdade histórica, é indispensável que se 
revele que muitas práticas de exploração, de repressão e dominação política e ideológica foram 
realizadas sob a denominação de CARIDADE. (MARTINELLI, 2009, p. 97, grifos nossos).
4 RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA
Nesta discussão pertinente à racionalidade, partiremos do seu conceito 
que é apresentado pelo Dicionário Informal (2007, grifo nosso), que expõe que 
a RACIONALIDADE “significa tornar reflexivo, empregar o raciocínio para 
resolver problemas. Trata-se de uma operação mental complexa que consiste em 
estabelecer relações entre elementos e dados”.
Tradicionalmente, de acordo com Regner (2010, 
p. 1, grifo nosso), 
“o significado de ‘racionalidade’ é associado à 
nossa capacidade de discernir propriedades, 
estabelecer relações e construir argumentos 
para apresentar e defender nossas crenças, 
exibindo uma dupla e mutuamente relacionada 
dimensão. De um lado, é o exercício de uma 
faculdade cognitiva – chamemo-la ‘razão’. De 
outro, é o resultado da ação da ‘razão’ e torna-se 
a propriedade que perpassa os produtos dessa 
‘faculdade’.”
FONTE: Disponível em: 
<www.baterdocoracao.
blogspot.com>. Acesso em: 
24 fev. 2010.
Mas, o que é a racionalidade instrumental?
De acordo com Souza (2010, p. 1, grifo nosso),
a RACIONALIDADE INSTRUMENTAL é “a 
faculdade subjetiva do pensar que é a RAZÃO, 
ou seja, é a faculdade que julga, discerne, compara, 
relaciona, calcula, ordena e coordena os meios com 
os fins. Esta faculdade tornou-se, em sua evolução,um instrumento formal”. FONTE: Disponível 
em: <www.filosofonet.
wordpress.com>. Acesso 
em: 24 fev. 2010.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
105
Mas, o que é a racionalidade instrumental?
Então, o que é a RAZÃO?
Segundo Souza (2010, p. 1), a RAZÃO “não é apenas a faculdade interior 
do homem, mas ela se personificou nos próprios objetos deste mundo”.
A RAZÃO tornou-se RACIONALIDADE. (SOUZA, 2010, p. 1).
ATENCAO
Ou seja, a RAZÃO “está presente no aparelho produtivo, no aparelho 
tecnológico e científico, nas instituições políticas, no hospital, na escola, no trânsito 
e na mídia. Em todos os empreendimentos humanos há a relação calculada entre 
meios e fins. A operação, a coordenação, a ordem, o sistema, o cálculo, a busca da 
unidade definem a racionalidade em sua eficácia”. (SOUZA, 2010, p. 1).
E, quem foi que FALOU PELA PRIMEIRA vez sobre a 
RACIONALIDADE?
Pois bem, de acordo com Souza (2010, p. 1):
FONTE: Disponível em: <http://images.
google.com.br/images?hl=pt-BR&q=max%20
weber%20imagem&lr=lang_pt&um=1&ie=UTF-
8&sa=N&tab=wi>. Acesso em: 24 fev. 2010.
O primeiro pensador que desvelou o 
fenômeno da racionalidade no mundo 
ocidental foi MAX WEBER. 
Weber, em seu livro “A ética protestante e 
o espírito do capitalismo”, publicado em 
1905, diagnosticou que a característica 
fundamental específica da sociedade 
ocidental é a racionalização.
MAX WEBER entende a racionalização como uma “REGULARIZAÇÃO DA AÇÃO 
HUMANA” na busca de certos fins específicos. (SOUZA, 2010, p. 1).
ATENCAO
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
106
Em outros termos, Max Weber observou enfaticamente, em seus estudos, 
que estavam acontecendo no Ocidente alguns fenômenos culturais diferenciados 
do Oriente, e, de acordo com ele, estes fenômenos culturais estavam repletos de:
[...] DESENVOLVIMENTO UNIVERSAL em seu valor e significado. 
Por exemplo, a ideia de um Estado racionalmente organizado como 
uma entidade política, com uma Constituição racionalmente redigida, 
um direito racionalmente ordenado, uma administração orientada por 
regras racionais e com funcionários especializados somente existiu no 
Ocidente. Da mesma forma, a apropriação capitalista racionalmente 
efetuada e calculada em termos de capital. Tudo sendo feito em termos 
de balanço, onde a ação individual das partes, baseada no cálculo, só 
existiu no Ocidente. (SOUZA, 2010, p. 1, grifo nosso).
O que Max Weber faz, então? 
Segundo Freitag (1994, p. 90, grifo nosso), Weber postula “como racional 
toda a ação que se baseia no CÁLCULO, na ADEQUAÇÃO DE MEIOS E FINS, 
procurando obter com um mínimo de dispêndios um máximo de efeitos desejados, 
evitando-se ou minimizando-se todos os efeitos colaterais indesejados”. 
Mas, de onde teria NASCIDO esta racionalidade que hoje fundamenta 
toda a vida em sociedade? 
De acordo com Weber (1993), o conceito de RACIONALIZAÇÃO advém 
das concepções científicas ocidentais referentes a uma racionalização técnico-
científica dos fatos.
Então, segundo Souza (2010, p. 1-2, grifo nosso),
O desenvolvimento de uma ciência racional fundamentada em 
princípios racionais e no método científico é um produto do Ocidente. 
A ASTRONOMIA fundamentada 
 matematicamente;
a GEOMETRIA demonstrada através 
 da prova racional; 
as CIÊNCIAS NATURAIS fundamentadas 
 na observação e no método experimental; 
a MEDICINA desenvolvida empiricamente 
 com fundamentos biológicos e bioquímicos 
Esse processo de racionalização das ciências atingiu todas as esferas da vida 
social e tornou o “mundo desencantado”. Tudo o que existe poderia ser explicado 
pelo conhecimento racional. O MUNDO DEIXOU DE SER MISTERIOSO.
são 
descobertas 
da cultura 
ocidental.}
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
107
CIÊNCIA RACIONAL!!! Mas, o que é CIÊNCIA ou CONHECIMENTO 
CIENTÍFICO? E o que NÃO é ciência/científico?
Pois bem, agora delinearemos algumas considerações a respeito da 
revisão teórica sobre a problemática do CONHECIMENTO CIENTÍFICO E 
NÃO CIENTÍFICO.
UNI
Para situar-nos em relação a esta questão, primeiramente traçaremos 
considerações a respeito das visões e divisões do problema do conhecimento, perpassando 
por algumas abordagens tradicionais do conhecimento, tais como o POSITIVISMO LÓGICO 
e o PRINCÍPIO DA VERIFICAÇÃO. Na sequência serão abordadas questões do RACIOCÍNIO 
CRÍTICO E O PRINCÍPIO DE REFUTAÇÃO, além de expor considerações referentes a outras 
abordagens alternativas do conhecimento, como as REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS, de Thomas 
Kuhm, e a ANT e controvérsias científicas de Bruno Latour. Temos como propósito aplicar 
este conhecimento na constituição da racionalidade instrumental no serviço social .
Então, qual o PROBLEMA DO CONHECIMENTO, suas VISÕES E 
DIVISÕES?
Como nos mostra Mattedi (2006), o conhecimento científico ou a 
ciência diferencia-se de outros por ser sustentado numa LÓGICA RACIONAL 
que permite a verificação dos fatos e dos fenômenos da realidade de forma 
sistemática e generalizada. 
Portanto, o que diferencia o conhecimento científico do não científico é o 
MÉTODO. 
Além disso, a ciência não produz verdade porque ela está em constante 
transformação, e a pesquisa, por causa disso, é dinâmica. E toda atividade científica 
é uma atividade social.
Sobre isto vale lembrar que a ciência constitui uma forma específica de 
produção do conhecimento, que opera através da aplicação do método científico.
Como se pode visualizar na Figura 7, o conhecimento é dividido em 
científico e não científico, e no conhecimento científico temos duas correntes 
científicas, a ciência aplicada e a ciência básica; a ciência se diferencia em função 
de sua finalidade.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
108
FONTE: Adaptado de Mattedi (2006)
De acordo com Mattedi (2006), o espaço acadêmico é formado através 
da universidade tradicional e da universidade moderna, como se pode observar 
na Figura 8. Na universidade tradicional não havia pesquisa científica, a ciência 
estava fora da universidade. Já na universidade moderna é implantada a pesquisa 
científica por Alexander von Humboldt.
FIGURA 7 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E NÃO CIENTÍFICO
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
109
FONTE: Adaptado de Mattedi (2006)
FIGURA 7 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E NÃO CIENTÍFICO
UNI
ALEXANDER VON HUMBOLDT (Berlim, 1769 - idem, 
1859) 
Naturalista e geógrafo alemão. Estuda nas melhores universidades 
alemãs e prepara conscienciosamente a sua expedição científica 
à América. A viagem, que dura cinco anos, origina numerosas 
observações científicas. No regresso, instala-se em Paris até 1827 e, 
posteriormente, em Berlim. Em 1829 inicia outra expedição à Ásia. 
Estas expedições, de grande rigor científico, dão-lhe fama universal. 
Influenciado pelos grupos liberais alemães, inclina-se pela ajuda 
aos oprimidos. Como cientista investiga a conexão profunda de 
todos os fenômenos da natureza. Dentre as suas muitas obras 
destacam-se: Do Orenoco ao Amazonas, Ensaio Político sobre o 
Reino da Nova Espanha e Viagem às Regiões Equinociais do Novo 
Continente, realizada de 1799 a 1804, escrita em colaboração com 
o botânico Aimé Bonpland, em trinta volumes, onde expõe os 
resultados das suas investigações americanas.
FONTE: Disponível em: <www. http://www.vidaslusofonas.pt/von_
humboldt.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010.
FONTE: Disponível 
em: <www.library2.
binghamton.edu>. 
Acesso em: 10 mar. 
2010.
FONTE: Adaptado de Mattedi (2006)
FIGURA 8 – ESPAÇO ACADÊMICO
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
110
Como diz Mattedi (2006), as CIÊNCIAS SOCIAIS nasceram depois das 
ciências naturais e humanas, portanto as ciências sociais sofrem influência destas 
duas áreasdo conhecimento científico, de acordo com os modelos diferentes de 
compreensão e explicação de cada área.
Mas qual a DIFERENÇA entre uma ciência básica e uma aplicada? 
A CIÊNCIA BÁSICA: procura conhecer; podemos caracterizá-la como a 
parte da pesquisa científica que se propõe enriquecer o conhecimento humano 
sobre o assunto em questão. Ela não tem por objetivo modificar a sociedade. 
A CIÊNCIA APLICADA: procura ajudar o homem a agir bem, objetiva 
a aplicação da pesquisa científica visando resolver um problema de utilidade 
prática do homem.
E qual é a ABORDAGEM TRADICIONAL DO CONHECIMENTO? 
E como estabelecer uma demarcação entre conhecimento científico e não 
científico? 
Mattedi (2006) expõe que existem algumas tradições que tratam da 
questão do conhecimento científico e não científico. Vejamos:
Primeira tradição: O POSITIVISMO, que teve quatro fases: 
1ª Fase: o proto-positivismo, em que a origem do conhecimento é o intelecto e 
não a experiência; 
2ª Fase: o positivismo clássico foi um período em que as ideias foram agrupadas 
e condensadas na obra de Auguste Comte, que foi o fundador do 
Positivismo e da Sociologia; 
3ª Fase: o positivismo crítico foi um período de revisão e radicalização; 
4ª Fase: o positivismo lógico e o verificacionismo, em que o fundamental é a 
noção de verificação, ou seja, realizar um teste metodológico.
Os juízos de valores e estéticos são excluídos da ciência positivista, e a ciência 
só se preocupa com os fatos. (MATTEDI, 2006).
ATENCAO
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
111
A CIÊNCIA É DIFERENTE DA NÃO CIÊNCIA porque foram constituídas 
sobre lógicas diferentes. E a cientificidade (o conhecimento científico), segundo 
os positivistas, é única e verdadeira, porque:
• possui objetividade; 
• é metódica, porque todo experimento pode ser replicado, controlado e 
reproduzido; 
• é vista como conhecimento preciso, porque quanto mais clara e metódica, 
facilitará a crítica do conhecimento; 
• é vista como conhecimento mais perfeito, porque é a melhor invenção do 
homem; 
• é um conhecimento progressivo e cumulativo, porque sempre vamos 
aumentando o conhecimento; 
• é um conhecimento imparcial e desinteressado, porque os cientistas são 
desinteressados e imparciais, pois almejam o incremento contínuo do conhecimento 
humano. (MATTEDI, 2006).
Segunda tradição: o RACIONALISMO CRÍTICO e a FALSIFICAÇÃO: 
de acordo com Mattedi (2006), a base desta concepção advém de KARL POPPER, 
que, primeiramente, critica o método indutivo, que parte de um fato ou ideias 
específicas para o geral. O SENSO COMUM da sociedade civil é indutivo, 
portanto a maioria da ciência que é produzida advém do método indutivo. 
Mas Popper (2003) sugere que a ciência deve se fundamentar no MÉTODO 
DEDUTIVO, ou seja, devemos partir dos aspectos gerais para chegarmos aos 
específicos.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
112
UNI
KARL POPPER (Viena, 28 de julho de 1902 – Londres, 17 
de setembro de 1994) foi um filósofo da ciência, austríaco naturalizado 
britânico. É considerado por muitos como o filósofo mais influente 
do século XX a tematizar a ciência. Foi também um filósofo social e 
político de estatura considerável, um grande defensor da democracia 
liberal e um oponente implacável do totalitarismo.
Ele é talvez mais bem conhecido pela sua defesa do falsificacionismo 
como um critério da demarcação entre a ciência e a não ciência, e 
pela sua defesa da sociedade aberta.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Popper>. 
Acesso em: 10 mar. 2010.
Karl Popper (1902-
1994) definiu os 
limites da atividade 
científica
FONTE: Disponível 
em: <http://
educacao.uol.com.
br>. Acesso em: 10 
mar. 2010.
De acordo com Mattedi (2006), existem algumas ETAPAS DO MODELO 
HIPOTÉTICO-DEDUTIVO. Para Popper (2003), o método científico parte de 
um problema (P1), ao qual se oferece uma hipótese (H) explicativa, que é testada 
(T), originando o surgimento de um novo problema (P2), como se pode visualizar 
na Figura 9.
FONTE: Mattedi (2006)
FIGURA 9 – MODELO POPPERIANO
Sobre isto vale lembrar que, para Popper (2003), é através da 
FALSIFICAÇÃO (que deve haver comparação, ensaio e erro) que a ciência 
se diferencia da não ciência, ou seja, uma teoria só pode ser científica se for 
constatada com os fatos.
Vejamos agora o que Hahn, Neurath e Carnap (1986) falam sobre o 
positivismo lógico e o princípio da verificação e o que Popper (2003) expõe sobre 
o racionalismo crítico e o princípio da refutação.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
113
FONTE: Mattedi (2006)
Pois bem, com relação ao POSITIVISMO LÓGICO E O PRINCÍPIO DE 
VERIFICAÇÃO, podemos expor que, através do pensamento de Hahn, Neurath 
e Carnap (1986) referente à concepção de mundo, na qual abordam a questão da 
concepção científica de mundo sob a ótica/visão adotada pelos frequentadores do 
Círculo de Viena. Estes autores tiveram como propósito buscar uma explicação 
referente à concepção científica do mundo e convencer o leitor de que esta é a forma 
correta de ver o mundo, numa perspectiva empirista, lógica e verificável.
Hahn, Neurath e Carnap determinam que a MODERNA CONCEPÇÃO 
CIENTÍFICA do mundo deva ser desenvolvida através do desenvolvimento 
do método da construção de hipóteses e, posteriormente, o desenvolvimento 
do método axiomático e da análise lógica, o que permitiu dar à construção dos 
conceitos, clareza e rigor sempre maiores. 
Desta forma, estes autores (1986, p. 18) expõem que “a análise lógica e 
epistemológica não quer impor limitações à pesquisa científica; pelo contrário, 
põe-lhe à disposição um domínio, o mais completo possível, de possibilidades 
formais, das quais deve escolher a adequada e respectiva experiência”. 
Estas concepções mostram que esta forma de conceber o mundo está 
em sintonia com a realidade, quando Hahn, Neurath e Carnap afirmam que 
“este desenvolvimento se associa ao do moderno processo de produção, que se 
configura de um modo cada vez mais mecanizado e técnico, deixando sempre 
menos espaço a representações metafísicas”. (1986, p. 18).
Hahn, Neurath e Carnap (1986) desenvolvem sua explicação desta 
problemática, como um manifesto à sociedade, onde os seguidores da concepção 
científica do mundo procuram mostrar que é com esta forma de ver o mundo que 
o conhecimento se processa, dando origem a um movimento conhecido como 
Empirismo Lógico ou Neopositivismo. 
Os autores nos mostram que “para isso empreendeu um ataque aos 
fundamentos metafísicos do discurso filosófico, que eram descritos como sem 
sentido: não diziam nada de falso ou verdadeiro acerca do mundo e, portanto, 
em nada contribuíam para o aumento do conhecimento”. Desta forma, “os 
representantes da concepção científica do mundo [...] lançam-se confiantemente 
ao trabalho de remover do caminho o entulho metafísico e teológico dos séculos”. 
(1986, p. 18, grifo nosso).
Como método científico baseado no empirismo lógico, afirmam que, 
para que uma afirmação tenha validade científica, ela deve ser passível de 
verificação. Ou seja, a demarcação entre o pensamento sem sentido (metafísica) 
e com sentido (ciência) era estabelecida pelo princípio da verificação.
Conforme Hahn, Neurath e Carnap (1986, p. 19), 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
114
[...] presenciamos a penetração, em crescente medida, do espírito da 
concepção científica do mundo nas formas de vida privada e pública, 
do ensino, da educação, da arquitetura, e a sua contribuição na 
configuração da vida econômica e social, segundo princípios racionais. 
A concepção científica do mundo serve à vida, e a vida a acolhe.
Finalmente, buscamos a aceitação da sua teoria pela sociedade 
quando afirmamos que a concepção científica do mundo está próxima à vida 
contemporânea. 
E, do que se tratao RACIONALISMO CRÍTICO E O PRINCÍPIO DA 
REFUTAÇÃO?
No que tange ao racionalismo crítico e ao princípio da refutação, Popper 
(2003), em sua obra denominada “Conjecturas e refutações”, aborda o critério de 
demarcação científica, que é igual à cientificidade, para assim propor um critério 
de demarcação. E para isto ele afirma que o seu critério da constatação é o critério 
da falsificação.
Popper (2003) explica seu raciocínio através de dez operações. São elas: 
Primeira operação: Formulação do problema 
Na introdução, ele formula o problema, contrastando a psicanálise com 
a psicologia, e o marxismo com a relatividade geral. Mas como separar estas 
teorias?
Popper (2003, p. 63) faz o seguinte questionamento: “quando pode uma 
teoria ser classificada como científica?”, ou “existe um critério para classificar 
uma teoria como científica?” Ele “desejava traçar uma distinção entre a ciência 
e a pseudociência, pois sabia muito bem que a Ciência frequentemente comete 
erros, ao passo que a pseudociência pode encontrar acidentalmente a verdade”. 
Mas Popper (2003, p. 63) “conhecia, evidentemente, a resposta mais comum 
dada ao problema: a CIÊNCIA se distingue da PSEUDOCIÊNCIA – OU 
“METAFÍSICA” – pelo uso do método empírico, essencialmente indutivo, que 
decorre da observação ou da experimentação”. 
Através deste raciocínio, Popper (2003, p. 63) diz que “o método que, 
embora se utilize da observação e da experimentação, não atinge o padrão 
científico. Um exemplo deste método seria a astrologia, que tem um grande 
acervo de evidência empírica baseada na observação: horóscopos e biografias”. 
Mas Popper (2003, p. 64) questiona: “o que estará errado com o marxismo, a 
psicanálise e a psicologia individual? Por que serão tão diferentes da teoria de 
Newton e especialmente da teoria da relatividade?”.
Sob estas indagações, Popper (2003, p. 64) citava que o que o 
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
115
[...] preocupava, portanto, não era, pelo menos naquele estágio, o 
problema da veracidade, da exatidão ou da mensurabilidade. Sentia 
que as três teorias, embora se apresentassem como ramos da ciência, 
tinham de fato mais em comum com os mitos primitivos do que com 
a própria ciência, que se aproximava mais da astrologia do que da 
astronomia.
Popper (2003, p. 66) chega a algumas conclusões, como: 
(1) É fácil obter confirmações ou verificações para quase toda teoria; (2) 
as confirmações só devem ser consideradas se resultarem de predições 
arriscadas; (3) toda teoria científica “boa” é uma proibição; (4) a 
teoria que não for refutada por qualquer acontecimento concebível 
não é científica; (5) todo teste genuíno de uma teoria é uma tentativa 
de refutá-la; (6) a evidência confirmadora não deve ser considerada 
se não resultar de um teste genuíno da teoria; (7) algumas teorias 
genuinamente “testáveis”, quando se revelam falsas, continuam a ser 
sustentadas por admiradores, que introduzem, por exemplo, alguma 
suposição auxiliar ad hoc, ou reinterpretam a teoria ad hoc de tal 
maneira que ela escapa à refutação. 
Popper conclui dizendo “que o critério que define o status científico 
de uma teoria é sua capacidade de ser refutada ou testada”. (2003, p. 66, grifo 
nosso). 
Segunda operação: exemplos do critério da falsificação 
Popper (2003, p. 67) exemplifica o critério da falsificação com a comparação 
da teoria de Einstein e Marx. Diz que “Einstein satisfazia nitidamente o critério 
da refutabilidade” e que “a astrologia não passou no teste, os astrólogos estavam 
muito impressionados e iludidos com aquilo que acreditavam ser evidência 
confirmadora – tanto assim que pouco se preocupavam com qualquer evidência 
desfavorável”. Nas palavras de Popper (2003, p. 67):
[...] em algumas de suas formulações anteriores [...] as predições eram 
“testáveis” e foram refutadas. Mas em vez de aceitar as refutações, os 
seguidores de Marx reinterpretaram a teoria e a evidência para fazê-
las concordar entre si. Salvaram assim a teoria da refutação. E que as 
duas teorias psicanalíticas pertencem a outra categoria, por serem 
simplesmente não intestáveis e irrefutáveis. Não se podia conceber um 
tipo de comportamento humano capaz de contradizê-las.
Popper (2003, p. 68) expõe que, deste modo,
 [...] o problema que eu procurava resolver propondo um critério de 
refutabilidade não se relacionava com o sentido ou significado, a veracidade 
ou a aceitabilidade. O critério da “refutabilidade” é a solução para o problema 
da demarcação, pois, para serem classificadas como científicas, as assertivas ou 
sistemas de assertivas devem ser capazes de entrar em conflito com observações 
possíveis ou concebíveis.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
116
Terceira operação: Critérios de falsificação 
Popper vai estabelecer os critérios de falsificação e cita que “é claro que 
esse critério de demarcação – o critério de ‘testabilidade ou refutabilidade’ – está 
longe de ser óbvio; ainda hoje seu significado é raramente compreendido”. (2003, 
p. 69).
 Toda proposição genuína (ou significativa) deve ser função da verdade 
de proposição elementar ou atomística, que descreva fatos atômicos, isto é, 
fatos que em princípio podem ser verificados pela observação. As proposições 
significativas são totalmente redutíveis a proposições elementares ou 
atomísticas, afirmações simples descrevendo em possível estado de coisas que 
podem, em princípio, ser estabelecidas ou rejeitadas pela observação.
Há uma coincidência da verificabilidade, do significado e do caráter 
científico. O critério de demarcação de Wittgenstein [...] é o da verificabilidade, 
da capacidade de deduzir a teoria de afirmações derivadas da observação. 
Os membros do Círculo, no entanto, classificaram minha contribuição como 
uma proposta para substituir o critério de significado para verificação por um 
critério de significado para determinar a refutabilidade. (POPPER, 2003, p. 69-
70). 
Quarta operação: Crítica ao princípio de verificação positivista 
Popper (2003) trata da questão da indução em David Hume, para criticar 
o princípio de verificação positivista.
Conjecturas X Refutação
Ensaio X Erro
Hipótese X Teste
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
117
UNI
DAVID HUME
David Hume nasceu em Edimburgo, em 1711. Foi um 
filósofo e historiador escocês. Após frequentar estudos 
literários ainda na adolescência, foi para a França, onde 
escreveu o seu livro Investigação sobre a Natureza 
Humana. Pouco depois escreve os Essays, Moral and 
Political. Quando nomeado bibliotecário do colégio 
de advogados de Edimburgo, escreve uma História de 
Inglaterra que vai publicando pouco a pouco, o que lhe 
proporciona alguma fortuna e fama.
Viaja para França como secretário do embaixador inglês 
e, antes de se retirar para Edimburgo, é subsecretário 
de Estado. Devido à sua reputação, exerce grande 
influência sobre os estudiosos e pensadores de França 
e Inglaterra. 
A filosofia de Hume tem origem tanto no empirismo 
de Locke como no idealismo de Berkeley. Tenta reduzir 
os princípios racionais, a associações de ideias que o hábito e a repetição vão fortalecendo. 
Tal é, por exemplo, o caso do princípio de causalidade. Fazem dele uma lei sobre as coisas, 
quando na realidade não expressa mais que uma coisa que nós esperamos, uma necessidade 
completamente subjetiva desenvolvida pelo hábito. 
As leis científicas resumem a experiência passada, mas não comportam certeza alguma no 
que ao porvir se refere. A substância, seja material ou espiritual, não existe. Os corpos não 
são mais que grupos de sensações ligadas entre si pela associação de ideias. Também o eu 
é somente uma coleção de estados de consciência. Por esta via, Hume chega ao cepticismo 
e ao fenomenismo absoluto. 
FONTE: Disponível em: <http://www.pensador.info/autor/David_Hume/biografia/>. Acesso 
em: 10 mar.2010.
A teoria se sustenta até que se prove o contrário.
Popper (2003, p. 71) discutiu “o problema da demarcação detalhadamente 
porque acredita que sua solução dá uma chave para a maioria dos problemas 
fundamentais da filosofia da ciência”. 
Hume sustenta que não pode haver argumentos lógicos válidos que 
nos permitam afirmar que aqueles casos dos quais não tivemos experiência 
alguma assemelham-se àqueles que já experimentamos anteriormente”. 
A tentativa de justificar a prática da indução apelando para a experiência 
deve levar a um regresso infinito. Como resultado, podemos dizer que as 
teorias nunca podem ser inferidas de afirmações derivadas da observação, ou 
racionalmente justificadas por elas. (POPPER, 2003, p. 72). 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
118
A psicologia de Hume – que é a psicologia popular – estava errada 
em pelo menos três pontos: (a) o resultado típico da repetição; (b) a gênese 
dos hábitos; e especialmente (c) o caráter daquelas experiências e tipos de 
comportamento que podem ser descritos como “acreditar numa lei”, ou 
“esperar uma sucessão ordenada de eventos”.
Popper cita ainda que a “ideia central da teoria de Hume é a 
da REPETIÇÃO BASEADA NA SIMILARIDADE (ou ‘semelhança’)”. 
Continuando, diz que “o tipo de repetição imaginado por Hume jamais pode 
ser perfeito; os casos que ele expõe não são casos de similaridade perfeita; são 
apenas casos de semelhança. Logo, são repetições”. (2003, p. 74, grifo nosso).
Popper afirma: “[...] o que demonstra que a teoria psicológica de Hume 
nos leva a uma situação de regresso infinito”. (2003, p. 75).
Quinta operação: Objeções à teoria de Popper 
Popper (2003) descreve eventuais objeções à sua teoria e faz uma crítica do 
empirismo com base na teoria kantiana, para sustentar o modelo de ensaio e erro.
UNI
IMMANUEL KANT ou EMANUEL KANT 
(Königsberg, 22 de abril de 1724 – Königsberg, 12 de fevereiro de 1804)
Kant foi um filósofo alemão, geralmente considerado como o último 
grande filósofo dos princípios da era moderna, indiscutivelmente 
um dos seus pensadores mais influentes.
Depois de um longo período como professor secundário de 
Geografia, começou, em 1755, a carreira universitária ensinando 
Ciências Naturais. Em 1770 foi nomeado professor catedrático da 
Universidade de Königsberg, cidade da qual nunca saiu, levando 
uma vida monotonamente pontual e só dedicada aos estudos 
filosóficos. Realizou numerosos trabalhos sobre ciência, física, 
matemática etc. 
Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o Racionalismo 
continental (de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a 
forma de raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David 
Hume, John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado 
idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos 
a priori (aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do mundo, os 
quais seriam de outra forma impossíveis de determinar. A filosofia da natureza e da natureza 
humana de Kant é, historicamente, uma das mais determinantes fontes do relativismo 
conceptual que dominou a vida intelectual do século XX. No entanto, é muito provável 
que Kant rejeitasse o relativismo nas formas contemporâneas, como, por exemplo, o Pós-
modernismo.
Kant é também conhecido pela filosofia moral e pela proposta, a primeira moderna, de uma 
teoria da formação do sistema solar, conhecida como a hipótese Kant-Laplace.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant>. Acesso em: 10 mar. 2010.
Kant: filósofo que 
lançou as bases da 
ética moderna
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
119
Popper (2003, p. 76) cita que: 
A crença de que a ciência avança da observação para a teoria provoca 
muitas vezes reação de incredulidade. E que a observação é sempre 
seletiva: exige um objeto, uma tarefa definida, um ponto de vista, um 
interesse especial, um problema. Para descrevê-la, é preciso empregar 
uma linguagem apropriada, implicando similaridade e classificação 
– que, por sua vez, implicam interesses, pontos de vista e problemas. 
Além de que, de modo geral, os objetos mudam... de acordo com as 
necessidades do animal. De acordo com as necessidades e interesses os 
objetos podem ser classificados, assemelhados ou diferenciados. 
A resposta de Kant a Hume estava quase certa: a distinção entre uma 
expectativa válida a priori e uma outra, genética e logicamente anterior à 
observação, sem ser contudo válida a priori, é de fato bastante sutil. Kant tinha 
razão ao dizer que nosso intelecto não deriva suas leis da natureza, mas impõe 
suas leis à natureza. 
Muitas vezes a natureza resiste com êxito, forçando-nos a rejeitar nossas 
leis – o que não nos impede de tentar outras vezes. (POPPER, 2003, p. 78).
Sexta operação: Comportamento dogmático 
Popper (2003) procura criticar o fenômeno psicológico do pensamento-
dogmático, ou seja, o comportamento dogmático. Diz que “nossa inclinação para 
procurar regularidades e para impor leis à natureza leva ao fenômeno psicológico 
do pensamento-dogmático ou, de modo geral, do comportamento dogmático.
 Esse dogmatismo é, em certa medida, necessário [...], mas a atitude 
dogmática que nos leva a guardar fidelidade às primeiras impressões indica 
uma crença vigorosa; por outro lado, uma atitude crítica, com a disponibilidade 
para alterar padrões, admitindo dúvidas e exigindo testes, indica uma crença 
mais fraca. (POPPER, 2003, p. 79). 
Sétima operação: Distinção entre o pensamento crítico e dogmático 
Popper procura distinguir o pensamento crítico do pensamento 
dogmático. Ele afirma que:
A distinção entre o pensamento crítico e o dogmático está relacionada 
diretamente com a tendência da verificação de nossas leis e esquemas, 
buscando aplicá-los e confirmá-los sempre, a ponto de afastar as 
refutações, enquanto a atitude crítica é feita de disposição para 
modificá-los – a inclinação no sentido de testá-los, refutando-os, 
se isso for possível. O que sugere a identificação da atitude crítica 
com a atitude científica e a atitude dogmática com a que descrevi, 
qualificando-a de pseudocientífica. Acha também que geneticamente a 
atitude pseudocientífica é mais primitiva do que a científica, e anterior 
a ela: é uma atitude pré-científica. [...]. Com efeito, a atitude crítica não 
se opõe propriamente à atitude dogmática; sobrepõe-se a ela: a crítica 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
120
deve dirigir-se contra as crenças prevalecentes, que exercem grande 
influência e que necessitam uma revisão crítica. [...] A atitude crítica 
requer – como ‘matéria-prima’, as teorias ou crenças aceitas mais ou 
menos dogmaticamente. E que a ciência começa, portanto, com os 
mitos e a crítica dos mitos; não se origina numa coleção de observações 
ou na invenção de experimentos, mas, sim, na discussão crítica dos 
mitos, das técnicas e práticas mágicas. (2003, p. 80). 
No entanto, de acordo com Popper (2003, p. 80-81):
[...] o argumento lógico, o raciocínio lógico dedutivo, continua a 
.exercer uma função de grande importância na abordagem crítica; não 
porque nos permite provar nossas teorias ou inferi-Ias de afirmativas 
derivadas da observação, mas porque é impossível descobrir as 
implicações dessas teorias (para poder criticá-las efetivamente) 
empregando exclusivamente o raciocínio dedutivo.
Segundo Popper (2003, p. 81), “a crítica é uma tentativa de identificar os 
pontos fracos das teorias – pontos que, de modo geral, só vamos encontrar nas 
suas consequências lógicas mais remotas. É aí que o raciocínio puramente lógico 
desempenha um papel importante”. E que “não há nada de irracional na aceitação 
de uma teoria, como nada há de irracional na admissão de teorias bem testadas, 
para fins práticos – nenhum outro tipo de comportamento é mais racional”.Complementa citando que, “se essa é nossa tarefa, o procedimento mais racional 
é o método das tentativas – da conjectura e da refutação”. 
Deste ponto de vista, afirma que: 
Todas as leis e teorias são essencialmente tentativas conjecturais, 
hipotéticas – mesmo quando não é mais possível duvidar delas. O 
método das tentativas não se identifica simplesmente com o método 
crítico ou científico – o processo de conjecturas e refutações. O primeiro 
é empregado não só por Einstein, mas – de forma mais dogmática – 
pela ameba; a diferença reside não tanto nas tentativas, mas na atitude 
crítica e construtiva assumida com relação aos erros. (POPPER, 2003, 
p. 81).
Popper finaliza expondo que “a atitude crítica pode ser descrita como uma 
tentativa consciente de submeter nossas teorias e conjecturas, em nosso lugar, à 
‘luta pela sobrevivência’, em que os mais aptos triunfam”. (2003, p. 81).
Oitava operação: Questão da lógica da ciência 
Popper (2003) volta a discutir o problema da lógica da ciência e critica 
[...] a lógica da psicologia da experiência para nosso problema real: o problema 
da lógica da ciência. Embora algumas das coisas que comentei aqui possam 
ajudar-nos, na medida em que eliminaram certos preconceitos em favor 
da indução, o tratamento a que me proponho do problema lógico da indução 
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
121
independe totalmente da crítica que fizemos e de todas as considerações 
psicológicas expostas. Era fácil entender que o método da ciência é a crítica, 
isto é, as tentativas de refutação. (2003, p. 82).
Popper aponta algumas conclusões: 
(1) A indução – isto é, a inferência baseada em grande número de observações 
– é um mito: não é um fato psicológico, um fato da vida corrente ou um 
procedimento científico. 
(2) O método real da ciência emprega conjecturas e salta para conclusões 
genéricas, às vezes depois de uma única observação (conforme o 
demonstram David Hume e Max Born). 
(2) A observação e a experimentação repetidas funcionam na ciência como 
testes de nossas conjecturas ou hipóteses – isto é, como tentativas de 
refutação. 
(3) A crença errônea na indução é fortalecida pela necessidade de termos 
um critério de demarcação que – conforme aceito tradicionalmente, e 
equivocadamente – só o método indutivo poderia fornecer. 
(5) A concepção de tal método indutivo, como critério de verificabilidade, 
implica uma demarcação defeituosa. 
(6) Se afirmarmos que a indução nos leva a teorias prováveis (e não certas) 
nada do que precede se altera fundamentalmente. (2003, p. 83).
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
122
UNI
MAX BORN nasceu na Alemanha a 11 de 
dezembro de 1882. Foi um físico alemão naturalizado britânico. 
Ganhou o Prêmio Nobel da Física, em 1954, devido ao seu 
trabalho sobre a Teoria Quântica (conjuntamente com Walter 
Bothe).
Inicialmente educado no König-Wilhelm-Gymnasium, Born 
prosseguiu os seus estudos superiores na Universidade de 
Breslau e depois nas Universidades de Heidelberg e Zurique. 
Durante este período ele conheceu cientistas e matemáticos 
proeminentes, como Klein, Hilbert, Minkowski, Runge, 
Schwarzschild e Voigt.
Em 1909 foi nomeado professor na Universidade de Göttingen, 
onde trabalhou até 1912, altura em que foi para a Universidade 
de Chicago. 
 Em 1919, após um período no exército alemão, tornou-se 
professor na Universidade de Frankfurt am Main e, em 1921, foi novamente professor em 
Göttingen.
Durante este período, formulou a, hoje aceite, interpretação da densidade da probabilidade 
para ψ*ψ na equação de Schrödinger da mecânica quântica, pela qual recebeu o Prêmio 
Nobel de Física, de 1954, três décadas mais tarde.
Em 1933 (ano em que Hitler assumiu o poder), deixou a Alemanha para escapar ao 
antissemitismo. Foi então ensinar na Universidade de Cambridge até 1936, e posteriormente, 
na Universidade de Edimburgo. 
 Em 1954 regressou à Alemanha.
Albert Einstein era um amigo de Born e foi numa carta escrita a Born, em 1926, que Einstein 
formulou, referindo-se à mecânica quântica, a famosa frase: “Deus não joga dados com o 
universo”. 
FONTE: Disponível em: <http://www.explicatorium.com/Max-Born.php>. Acesso em: 9 mar. 
2010.
Prêmio Nobel da Física em 
1954
Nona operação: Origem do problema lógico da indução 
Popper expõe o problema lógico da indução e diz que 
[...] o problema lógico da indução se origina: (a) na descoberta de Hume 
de que é impossível justificar uma lei pela observação ou por meio de 
experiências, uma vez que ela transcende sempre a experiência; (b) no 
fato de que a ciência enuncia e usa leis todo o tempo. Acrescentaríamos 
também o princípio do empirismo, (c) o fato de que na ciência só a 
observação e a experiência podem decidir a respeito da aceitação ou 
rejeição das afirmativas, inclusive das leis e teorias. 
Hume demonstrou que não é possível inferir uma teoria de afirmativas 
derivadas da observação; mas isso não afeta a possibilidade de refutar 
uma teoria por meio de afirmativas desse tipo. (2003, p. 84).
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
123
Décima operação: Como saltamos de uma afirmativa derivada da 
observação para uma teoria? 
Popper (2003) busca responder como “SALTAMOS” de uma afirmativa 
derivada da observação para uma teoria?”. Ele diz (2003, p. 85, grifo nosso) 
que “Wittgenstein e seus discípulos sustentavam que não existem problemas 
filosóficos genuínos; de onde se conclui que eles não podem ser solucionados”. 
E que “Uma indagação que se pode fazer é a seguinte: como “saltamos” de uma 
afirmativa derivada da observação para uma teoria?”.
UNI
LUDWIG JOSEPH JOHANN WITTGENSTEIN 
(26 de abril de 1889 – 29 de abril de 1951) 
Foi um filósofo austríaco que contribuiu com numerosas colocações 
inovadoras na filosofia moderna, mais especificamente nos campos 
da lógica, filosofia da linguagem e filosofia da mente. Ele é largamente 
considerado um dos mais influentes filósofos do século XX.
FONTE: Disponível em: <www.olharvirtual.ufrj.br/2006/index.php?id_
edicao...>. Acesso em: 24 fev. 2010.
Ludwig Wittgenstein 
dedicou-se à alta 
filosofia e ao trabalho 
humilde.
Segundo Popper:
 
Há outras perguntas que são também propostas. Já se disse que o 
problema original da indução é o da sua justificação – como justificar a evidência 
indutiva. Se respondermos alegando que a chamada “inferência indutiva” é 
sempre inválida – que, portanto, não pode ser justificada – surge imediatamente 
um novo problema: como justificar o método das tentativas. A resposta será: 
esse método elimina as teorias falsas por meio de afirmativas derivadas da 
observação; sua justificação é a relação puramente lógica da dedutibilidade que 
nos permite afirmar a falsidade de assertivas universais se aceitamos a verdade 
de afirmativas singulares.
Outra pergunta que também se ouve é a seguinte: por que razão é 
razoável preferir afirmativas que não foram refutadas a outras que puderam 
ser refutadas? Tem havido respostas bastante peculiares a essa pergunta – 
por exemplo, respostas pragmáticas. Do ponto de vista pragmático, porém, o 
problema não existe, já que as teorias falsas muitas vezes são eficazes; assim, 
por exemplo, muitas das fórmulas usadas em engenharia e em navegação 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
124
são reconhecidamente falsas, mas, como oferecem excelentes aproximações e 
são fáceis de usar, são empregadas com toda confiança por pessoas que não 
ignoram sua falsidade. (POPPER, 2003, p. 86). 
Popper (2003, p. 86) cita que “a única resposta correta, portanto, é a mais 
direta: porque estamos sempre buscando a verdade (embora nunca possamos 
ter a certeza de havê-la encontrado) e porque a falsidade das teorias refutadas 
é conhecida ou aceita, enquanto as teorias ainda não refutadas podem ser 
verdadeiras”.Popper (2003, p. 87) finaliza dizendo que 
Na verdade, deveríamos dividir o problema em três partes – o 
conhecido problema da demarcação (como distinguir a ciência da 
mágica primitiva); o problema da racionalidade do procedimento 
crítico ou científico (e o papel exercido pela observação); finalmente, 
o problema da racionalidade da nossa aceitação das teorias, para fins 
práticos e científicos. Tivemos a ocasião de propor soluções aqui para 
esses três problemas.
E qual a ABORDAGEM ALTERNATIVA DO CONHECIMENTO?
Agora ressaltaremos uma visão abrangente referente a outras formas 
alternativas de conceber a cientificidade do trabalho acadêmico. Para isto 
subdividiremos a tarefa em duas etapas: primeiramente abordaremos as 
revoluções científicas, de Thomas Kuhn, na sequência mostraremos o que são 
a ANT (Actor Network Theory: o ator-rede) e as controvérsias científicas sob o 
enfoque de Bruno Latour.
Portanto, o quem tem THOMAS KUHN para nos dizer com relação às 
REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS?
Thomas Kuhn (2003), em sua obra “As estruturas das revoluções 
científicas”, aborda as dificuldades que geram o conceito de PARADIGMA, 
a aplicação do conceito de paradigma (denota a questão da cientificidade) 
e pretende dar respostas às principais objeções levantadas pelo conceito de 
paradigma. Para isto traz como problemática “as críticas ao livro”, no qual as 
estruturas das revoluções científicas se devem a dificuldades de interpretação do 
próprio conceito de paradigma.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
125
UNI
THOMAS SAMUEL KUHN 
(Cincinnati, 18 de julho 1922 - Cambridge, 17 de junho 1996) 
Foi um físico dos Estados Unidos da América cujo trabalho 
incidiu sobre história e filosofia da ciência, tornando-se 
um marco importante no estudo do processo que leva ao 
desenvolvimento científico.
Kuhn nasceu a 18 de Julho de 1922, em Cincinnati, em 
Ohio, EUA. Formou-se em Física (summa cum laude) em 
1943, pela Universidade de Harvard. Recebeu desta mesma 
instituição o grau de Mestre em 1946 e o grau de Doutor em 
1949, ambos na área de Física.
Após ter concluído o Doutoramento, Kuhn tornou-se 
professor em Harvard. Leccionou uma disciplina de Ciências 
para alunos de Ciências Humanas. A estrutura desta disciplina 
baseava-se nos casos mais famosos da História da Ciência, pelo que Kuhn foi obrigado a 
familiarizar-se com este tema. Este fato foi determinante para o desenvolvimento da sua obra.
Em 1956 Kuhn foi lecionar História da Ciência na Universidade da Califórnia, em Berkeley. 
Tornou-se professor efetivo desta instituição em 1961. Em 1964 tomou a posição do Professor 
M. Taylor Pyne, de Filosofia e História das Ciências, na Universidade de Princeton. Em 1971 
Kuhn foi leccionar para o MIT, onde permaneceu até terminar a sua carreira acadêmica.
Kuhn morreu a 17 de junho de 1996, vítima de cancro.
 FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Kuhn>. Acesso em: 9 mar. 
2010.
Kuhn (2003) demonstra seus argumentos através dos seguintes capítulos:
No prefácio de seu livro, Kuhn (2003) nos apresenta sua problemática e o 
sentido do uso do termo paradigma, que são vários: (1º sentido) – crenças, valores 
e técnicas; (2º sentido) – as soluções concretas dos problemas.
No capítulo dos paradigmas e a estrutura da comunidade, Kuhn nos traz 
a definição de PARADIGMA: “um paradigma é aquilo que os membros de uma 
comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em 
homens que partilham um paradigma”. (KUHN, 2003, p. 219).
Além de abordar dois temas da estrutura comunitária, que são: (1) “a 
transição do período pré-paradigmático para o pós-paradigmático durante o 
desenvolvimento de um campo científico; (2) a identificação biunívoca entre as 
comunidades científicas e os objetos de estudo científicos”. (KUHN, 2003, p. 222-
223).
No capítulo dos paradigmas com a constelação dos compromissos de 
grupo, Kuhn nos apresenta os dois usos do termo paradigma: (1) “o emprego 
mais global; (2) e os problemas dos exemplos compartilhados” (KUHN, 2003, 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
126
p. 226), além de apresentar os componentes da matriz disciplinar, que são: (1) 
generalizações simbólicas; (2) paradigmas metafísicos; (3) valores compartilhados; 
e (4) as predições (antecipar o que vai acontecer).
No capítulo dos paradigmas como exemplos compartilhados, Kuhn 
(2003) nos mostra como resolver os problemas, em que os paradigmas são algo 
compartilhado pelos membros de comunidades.
Afirma Kuhn (2003) que o paradigma, enquanto exemplo compartilhado, 
é um elemento central daquilo que atualmente parece ser o aspecto mais novo e 
menos compreendido. Fazendo é que compartilhamos situações, informações ou 
educações semelhantes, as quais levariam a uma certa uniformidade de sensações 
apreendidas em determinado grupo ou comunidade.
No capítulo do conhecimento tácito e intuição Thomas Kuhn (2003) 
nos mostra dois pontos essenciais a compreender: (1) as instituições não são 
individuais e, sim, compartilhadas; (2) e são passíveis de análise.
No capítulo referente aos exemplares, incomensurabilidade e revoluções 
ele nos mostra que a incomensurabilidade das teorias é justamente os saltos ou 
rupturas que ocorrem na ciência (aquilo que não podemos medir).
No capítulo referente às revoluções e relativismo, ele coloca-nos que o 
reconhecimento dos paradigmas de outras comunidades, ou seja, “reconhecer 
estes paradigmas paralelos, sugere, em certo sentido, que ambos os grupos 
podem estar certos. Esta posição é relativista, quando aplicada à cultura e seu 
desenvolvimento”. (KUHN, 2003, p. 251).
E, por fim, no capítulo referente à natureza da Ciência, Kuhn retrata a 
ciência normal como uma atividade de resolução de problemas, governada pelas 
regras de um paradigma. A ciência normal implica tentativas detalhadas de 
articular um paradigma com o objetivo de melhorar a correspondência entre ele 
e a natureza.
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos sobre as REVOLUÇÕES 
CIENTÍFICAS de Thomas Kuhn, sugerimos a leitura das páginas 217 a 257 do livro “As 
estruturas das revoluções científicas”.
 Referência: KUHN, Thomas. As estruturas das revoluções científicas. 7. ed. São Paulo: 
Perspectiva, 2003, p. 217-257.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
127
E, o que BRUNO LATOUR tem a nos dizer sobre a ANT (Actor Network 
Theory: o ator-rede) E AS CONTROVÉRSIAS CIENTÍFICAS?
Latour (2001) trata do tema “A CIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO”, que 
pode ser definida como pesquisa científica, pretendendo realizar uma crítica da 
visão tradicional das operações de descrição da ciência (o caso da epistemologia).
UNI
BRUNO LATOUR (Beaune, 22 de junho de 1947) é 
um filósofo francês.
A sua principal contribuição teórica é – ao lado de outros autores 
como Michel Callon – o desenvolvimento da ANT – Actor 
Network Theory (Teoria ator-rede) que, ao analisar a atividade 
científica, considera, enquanto variáveis, tanto os atores humanos 
como os não humanos, estes últimos devido à sua vinculação ao 
princípio de simetria generalizada.
 Conhecido pelos seus livros que descrevem o processo de 
pesquisa científica, dentro da perspectiva construtivista, que 
privilegia a interação entre o discurso científico e a sociedade, os 
de maior destaque são: Jamais Fomos Modernos e Ciência em 
Ação.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bruno_Latour>. Acesso em: 10 mar. 
2010.
Latour (2001), ao determinar a problemática, afirma que a construção 
da ciência se processa tanto ao estudar os fatos científicos em construção (ou as 
controvérsias), como o destino das máquinas é fato científico, que está nas mãos 
de seus usuários.
Para Latour existe um esquema de análise da ciência, o qual divide em 
seis etapas:
Primeira etapa: A MICROANÁLISE DA CIÊNCIA: 
Ressalta que a microanálise da ciência deve descrevera ciência como ela 
acontece na realidade, além de estudar a ciência atual. A microanálise da ciência 
utiliza-se do MÉTODO ETNOGRÁFICO, que realiza a descrição das práticas 
científicas de forma independente do que os cientistas pensam da ciência, ou seja, 
como de fato ela é na realidade.
Segunda etapa: A ANÁLISE SISTÊMICA:
Para Latour devemos analisar sistematicamente o que se faz para que 
algumas teorias sejam aceitas e outras rejeitadas. Por que um cientista acerta e 
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
128
outros se enganam? Através do pensamento de Bruno Latour, podemos dizer que 
devemos tratar da mesma forma os termos “acerto e erro”, “verdadeiro e falso”, 
pois eles possuem o mesmo valor.
Terceira etapa: IMPLICAÇÕES:
Segundo Bruno Latour, existem algumas implicações na construção 
da ciência, ou seja, há a quebra do privilégio epistemológico da ciência; existe 
um rompimento com o universo místico que norteia a ciência; e, para finalizar, 
devemos entender como a ordem científica é estabelecida a partir do caos da 
realidade.
Quarta etapa: ANT – ACTOR NETWORK THEORY:
Latour descreve a teoria ator-rede (ANT) em quatro momentos: 
a) a problematização, na qual a ciência procura definir o objeto; 
b) o interessamento, em que a criação de um sistema de alianças em 
formato de estruturas específicas que interrompam estratégias concorrentes; 
c) o envolvimento, no qual existe um mecanismo por meio do qual um 
papel é definido e atribuído a um ator que o aceite; 
d) a mobilização, na qual os atores são associados uns aos outros por meio 
de seus porta-vozes.
Quinta etapa: COMO LATOUR PENSA A CIÊNCIA:
Latour descreve os cientistas como estrategistas, negociadores, 
calculadores, mobilizadores de recursos em permanente competição. Os cientistas 
observam apenas a tradição disciplinar em que estão inseridos e os recursos 
utilizados devem ser reconhecidos por todos. A formação do conhecimento se dá 
através de dados reais e concretos, sem esquecer que a ciência também é política.
Sexta etapa: PROGRESSO DA CIÊNCIA:
A disputa entre ciência, laboratório e instituições se dá na fronteira do 
conhecimento, que é muito semelhante à esfera política e ao mercado. Quanto 
melhor o estrategista e o cientista, melhor será a sua ciência.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
129
NOTA
Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conteúdos 
sobre a A CIÊNCIA EM AÇÃO, de Bruno Latour, sugerimos a leitura das 
páginas 39 a 104 do seguinte livro: 
 Referência: LATOUR, Bruno. Literatura. In: LATOUR, Bruno. A ciência em 
ação. São Paulo: Editora UNESP, 2001, p. 39-104.
E, para FINALIZAR esta discussão referente à problemática do 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E NÃO CIENTÍFICO, podemos concluir que:
Com relação à ABORDAGEM TRADICIONAL DO CONHECIMENTO, 
através do positivismo lógico (e o princípio da verificação) e o racionalismo 
crítico (e o princípio de refutação), podemos dizer que ambas as abordagens do 
conhecimento têm em comum em que o desempate de um argumento só se dá 
através da realidade dos fatos. E que a realidade é independente das concepções 
do analista, do pesquisador, pois a realidade é neutra, independentemente do 
que achamos dela. 
A solução encontrada pelo positivismo lógico foi introduzir o princípio 
da verificação, pois o científico pode ser verificado, e no racionalismo crítico este 
princípio foi substituído pelo princípio da falsificação, no qual o fato científico 
pode ser refutado.
Quanto a outras formas alternativas de conceber a cientificidade do 
trabalho acadêmico, temos as revoluções científicas de Thomas Kuhn. Para Kuhn, 
o que determina a realidade é o mapa mental que temos (nossos paradigmas), ou 
seja, a ciência é a possibilidade de formular questões e dar respostas a elas, além 
de este desenvolvimento ser uma questão histórica e social.
Acerca das considerações sobre as controvérsias científicas, Bruno Latour 
se baseia em três princípios para a construção da ciência, ou seja, o primeiro se 
refere ao agnosticismo em relação às ciências sociais, não só da natureza como 
também da sociedade. Outro princípio trata da simetria generalizada, que afirma 
que não devemos partir de qualquer noção do que é natureza e o social. Devemos, 
sim, partir da elaboração. Para finalizar, Latour cita que o terceiro princípio para 
a construção da ciência é a livre associação.
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
130
Portanto, pode-se dizer que um conhecimento é científico, ou não, através 
do modelo de interpretação que empregarmos.
Com relação à RACIONALIDADE INSTRUMENTAL, vemos que “apesar 
de a racionalização ter começado com as ciências, foi somente com os protestantes 
que ela adquiriu valor e significado. Foi graças à ÉTICA PROTESTANTE que 
a racionalidade tornou-se universal, impulsionando o capitalismo. Com os 
protestantes o capitalismo ganhou consistência, assumiu formas e direções. Foi 
com o protestantismo que surgiu a organização capitalista assentada no trabalho 
livre. (SOUZA, 2009, p. 2, grifo nosso). 
Souza (2009, p. 2) diz que Horkheimer define mais amplamente o 
conceito racionalidade instrumental, em seu livro “Eclipse da Razão”, publicado 
em 1955. Ele distingue duas formas de razão: a razão subjetiva (interior) e razão 
objetiva (exterior). 
Mas, o que é a RAZÃO SUBJETIVA?
De acordo com Horkheimer (apud SOUZA, 2009, p. 2), “a razão subjetiva 
(instrumental) é a faculdade que torna possíveis as nossas ações. É a faculdade 
de classificação, inferência e dedução, ou seja, é a faculdade que possibilita o 
“funcionamento abstrato do mecanismo de pensamento”. Essa razão se relaciona 
com os meios e fins. Ela é neutra, formal, abstrata e lógico-matemática.
E a RAZÃO OBJETIVA, o que significa? 
“A razão objetiva se revela como a capacidade de calcular probabilidades 
e desse modo coordenar os meios corretos com um fim determinado”. 
(HORKHEIMER apud SOUZA, 2009, p. 2).
 Por sua vez, a RAZÃO OBJETIVA (logos) é
[...] conhecida desde a época clássica da história da Grécia, era 
considerada o principal conceito da filosofia. A razão não é somente 
uma faculdade mental, mas é também do mundo objetivo. Existe 
uma ordem, uma harmonia por trás do mundo, uma racionalidade 
objetiva. A razão se manifesta nas relações entre os seres humanos, 
na organização da sociedade, em suas instituições, na natureza e no 
cosmo. As teorias de Platão, Aristóteles, o escolasticismo e o idealismo 
alemão se fundamentam sobre uma teoria objetiva da razão. (SOUZA, 
2009, p. 2). 
Durante a evolução do conhecimento, segundo Souza (2009, p. 3), “a faculdade 
subjetiva do pensar foi tomando o lugar da razão objetiva.” 
ATENCAO
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
131
A FACULDADE SUBJETIVA de pensar, segundo Souza (2009, p. 3), 
“foi o instrumento crítico que dissolveu os conceitos da mitologia e da filosofia 
(razão objetiva) como mera superstição”, pois “a luta da razão subjetiva contra 
a mitologia e a filosofia, ao denunciá-las como falsa objetividade, teve que usar 
conceitos que reconheceu como válidos, como a lógica formal e a matemática”. 
(SOUZA, 2009, p. 3). Ou seja, “o resultado disso foi que nenhuma realidade 
particular pode ser vista como racional. A razão na busca de uma objetividade 
cada vez maior se formalizou. Em sua formalização a razão foi transformando o 
pensamento em um simples instrumento.” (SOUZA, 2009, p. 3). 
 
Souza complementa expondo que:
O livro “Dialética do Esclarecimento”, publicado em 1947, escrito a 
quatro mãos por Adorno e Horkheimer, também nos mostra como a razão 
emancipatória objetiva se converteu em razão instrumental subjetiva. O objetivo 
deste livro foi o de investigar a autodestruição da razão. Por que a humanidade 
através do progresso técnico e científiconão alcançou sua maioridade e, sim, 
sucumbiu a um estado de barbárie? Sua tese principal nos revela o lado oculto 
do esclarecimento, sua história subterrânea. Para Adorno e Horkheimer a razão 
não atingiu seu fim, pois a razão é, em sua própria essência, um mito: “O mito 
é esclarecimento, e o esclarecimento acaba por converter-se em mito”. Esses 
pensadores analisaram o conceito de razão em seu desdobramento dialético, 
que em sua evolução buscava se emancipar da mitologia e da metafísica, 
conduzindo à sua autonomia e à sua autodeterminação. Contudo, essa razão 
onipotente, dominadora da natureza, emancipatória, que buscava submeter a 
natureza e a sociedade à objetividade da razão não atingiu seu fim. A razão se 
transformou em mera abstração, mero instrumento formal. 
 Razão significa triunfo da máquina, do trabalho, da natureza útil e 
grátis, razão mistificada que se realiza como razão instrumental, pela qual a 
natureza, o útil-grátis, é espoliada pela máquina e pelo trabalho. Mistificada 
porque é o lado abstrato da regularidade, da disciplina do trabalho legitimador 
dessa prática de pilhagem – prática do trabalho para o capital, da exploração 
dos homens para o capital. (MATOS apud SOUZA, 2009, p. 3).
A grande CONSEQUÊNCIA da racionalidade instrumental foi a perda da 
autonomia do indivíduo. (SOUZA, 2009, p. 3, grifo nosso). 
ATENCAO
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
132
LEITURA COMPLEMENTAR
DETERMINAÇÕES LÓGICAS E ONTOLÓGICAS 
DA CATEGORIA “RACIONALIDADE”
Yolanda Guerra
Como uma das categorias intelectivas priorizadas neste estudo, temos a 
RACIONALIDADE – do latim rationalitatis – significando a qualidade do que é 
racional.
No sentido filosófico RACIONAL é “aquilo que pertence à razão ou é 
derivado dela”. (JAPIASSU; MARCONDES, 1991, p. 208).
De outra parte, pode ser designado como “aquilo que está de acordo com 
a razão” (idem, ibidem), e aqui a referência à realidade torna-se secundária.
RACIONALIDADE é, ainda, a “característica daquilo que é racional”, e 
considerando que racional é “o que se deduz da razão”, encontramo-nos diante 
de uma tautologia.
Deste modo, entendemos que a busca pela significação da palavra 
“RACIONALIDADE” acaba por limitá-la à sua definição lógico-formal e 
consensual, não nos permitindo saltar das abstrações mais simples e gerais que, 
de outro modo, a apreensão das suas determinações ontológicas nos possibilita.
Captar as determinações lógicas e ontológicas da categoria 
“RACIONALIDADE” implica não apenas estabelecer o confronto entre os 
conteúdos e significados que adquire na história, como sua vinculação ideológica, 
FONTE: Disponível em: 
<www.dreamsinmoon.
blogspot.com>. Acesso em: 
24 mar. 2010.
Nós vivemos na eterna 
CONTRADIÇÃO 
entre
PRODUTIVIDADE E DESTRUIÇÃO, 
DOMINAÇÃO E PROGRESSO, 
PRAZER E INFELICIDADE. 
Não houve a síntese libertadora de 
uma sociedade livre e feliz.
(SOUZA, 2009, p. 3).
FONTE: Disponível em: 
<WWW.meme.yahoo.
com>. Acesso em: 24 
mar. 2010.
TÓPICO 2 | NATUREZA, ESTRATÉGIAS, PARTICULARIDADES E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL
133
uma vez que não há palavras vazias de conteúdo, tampouco isentas de um 
significado ideológico e, sobretudo,
Não há ideologia inocente [...] porque a razão mesma não é nem 
pode ser algo que brota acima do desenvolvimento social, algo 
neutro ou imparcial, senão que reflete sempre o caráter racional 
(ou irracional) concreto de uma situação social, de uma tendência 
do desenvolvimento, dando-lhe claridade conceitual e, portanto, 
impulsionando-a e entorpecendo-a. (LUKÁCS, 1968b, p. 5).
Adotando uma determinada maneira de conhecer a razão, vemos que ela 
é por si só determinante, não da realidade, mas de uma forma de apreensão e 
compreensão do real.
É a via que (re)estabelece a unidade entre o sujeito que conhece e o objeto 
a ser conhecido. Esta concepção supõe uma unidade entre sujeito/objeto, que 
não se confunde com identidade, uma vez que a realidade é sempre mais rica 
de determinações que a capacidade do sujeito de apanhá-las. Mas este, dadas 
as possibilidades da razão, é capaz de (re)figurar, pela via do pensamento, a 
processualidade da realidade.
A RAZÃO é o que dá inteligibilidade aos fatos e estes constituem-
se nos seus fundamentos, ao mesmo tempo em que os fatos são constituídos, 
constitutivos e constituintes de relações racionais que obedecem aos princípios 
de causalidade e contradição.
O procedimento da razão é o “vir a ser”. Ela é uma condição ou momento 
do pensamento que busca apreender a realidade como movimento e por isso 
tem que caminhar de abstrações mais simples, dadas pelo intelecto, no sentido 
de determiná-las por meio das mediações que vinculam os fatos a determinados 
processos, saturados de determinações. Atinge seu ápice ao encontrar o substrato 
material, que é a realidade.
O conhecimento pela via da razão opõe-se ao conhecimento imediato; 
pressupõe a síntese de elementos contraditórios, numa relação de continuidade 
e rupturas, mas que mantém um núcleo imanente, sua essência ou substância.
A razão porta em seu interior não apenas as possibilidades de apreender 
as condições objetivamente dadas, como de estabelecer relações, (re)conhecer, 
(re)construir.
A razão, entendida de forma “INCLUSIVA”, incorpora tanto os elementos 
do senso comum, necessários às ações cotidianas, como aqueles fornecidos pelos 
procedimentos que o intelecto realiza, superando-o. Ela apanha as conexões 
causais da realidade na própria PRÁXIS que, ao engendrar novas conexões na 
realidade, permite a (re)figuração da realidade pelo pensamento. É na ação que a 
razão encontra sua orientação e o seu caminho. (cf. LUKÁCS, 1989, p. 35).
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
134
A “racionalidade”, ENQUANTO UMA PROPRIEDADE DA RAZÃO, 
vincula-se às formas de concebê-la; por isso, tem na razão o seu fundamento de 
determinação, que é expressão da própria realidade. A racionalidade dada pela 
razão dialética é síntese de procedimentos ativos e intelectivos e torna-se um adjetivo 
da razão que desaliena, desmistifica, nega o dado na sua aparência e é capaz de 
engendrar ações que ultrapassem a dimensão manipulatória e instrumental.
Enquanto CATEGORIA INTELECTIVA, a “racionalidade” contempla um 
nível de generalidade tal que nos possibilita captar a UNIDADE OBJETIVA dos 
processos sociais, remetê-los aos marcos do sistema capitalista, apanhar tanto as 
determinações que se matem quanto aquelas que se transformam, as conversões, 
condições e possibilidades contidas nos processos sociais. Mais ainda, por ser 
uma categoria ontológica, a racionalidade incorpora o nosso objeto de estudo – a 
instrumentalidade da intervenção profissional do assistente social –, é construída 
no seu movimento, medeia-o, articula-se a ele, expressa sua lógica de constituição.
As concepções referentes à razão, e com ela seus atributos, vêm recebendo 
distintivos tratamentos no decorrer da trajetória histórica da humanidade, pelas 
diferentes correntes do pensamento filosófico. A essas concepções vinculam-
se diferentes modos de inteligir a relação sujeito/objeto no processo do 
conhecimento, bem como diversas formas de conceber história e liberdade. Assim, 
vemos que a filosofia não se aliena dos problemas concernentes ao progresso, ao 
desenvolvimento das forças produtivas, ao desenvolvimento social e à luta de 
classes. (cf. LUKÁCS, 1968, p. 3).
Urge, pois, situar no contexto sociopolítico e cultural, em que surgem as duas 
pilastras que sustentam o pensamento filosófico da modernidade: o sistema ético-
filosófico kantiano e a filosofia especulativa de Hegel. Nossa escolha se fundamenta 
em duas ordens de razões. A primeira, para torná-las como representativas das 
polêmicas sobre as condições de possibilidades da razão antropocêntrica que 
se estabelece entre racionalistas e empiristas e dos esforços epistemológicos e 
ontológicos atribuídosà temática. A segunda, por representarem a oposição mais 
significativa no combate ao pensamento formalizador das vertentes positivistas.
FONTE: Guerra, 2009, p. 42-45
DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia o Tópico 2 “Matrizes 
fundantes das concepções da razão moderna – continuidades e rupturas” (p. 45-
54) e o tópico “O racionalismo no século XX” (p. 54-100), além de toda a Unidade II – 
“Racionalidade do Capitalismo e Serviço Social ” (p. 101 a 184), do livro: GUERRA, Yolanda. 
A instrumentalidade do Serviço Social . 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
135
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico estudamos a competência relacional e a racionalidade 
enquanto razão dialética na aplicabilidade do instrumental técnico-operativo 
do serviço social , no qual foram abordados os seguintes itens:
• Como se processa a competência relacional do assistente social no seu cotidiano 
profissional.
• O assistente social deve ter uma gama de habilidades e competências 
profissionais, para assim desenvolver sua prática profissional com objetividade, 
eficácia e eficiência.
• A competência relacional é o eixo gerador de todo o processo de trabalho do 
assistente social.
• As diversas concepções históricas da racionalização da prática da assistência 
social, ou seja, as diversas concepções referentes à prática profissional do 
assistente social.
• Como se processa a racionalidade instrumental.
• A priori, a racionalidade significa tornar reflexivo, empregar o raciocínio para 
resolver problemas.
• Estudamos que a racionalidade é uma operação mental complexa que consiste 
em estabelecer relações entre elementos e dados.
• O significado de “racionalidade” é associado à nossa capacidade de discernir 
propriedades, estabelecer relações e construir argumentos para apresentar e 
defender nossas crenças.
• A racionalidade instrumental é a faculdade subjetiva do pensar, que é a razão, 
ou seja, é a faculdade que julga, discerne, compara, relaciona, calcula, ordena e 
coordena os meios com os fins. Esta faculdade tornou-se, em sua evolução, um 
instrumento formal.
• Max Weber entende a racionalização como uma “regularização da ação 
humana” na busca de certos fins específicos. 
• Fizemos uma revisão teórica sobre a problemática do conhecimento científico e 
não científico. 
• A racionalidade instrumental só ganhou valor e significação com os protestantes.
• Foi graças à ética protestante que a racionalidade tornou-se universal, 
impulsionando o capitalismo. 
• A razão pode ser subjetiva (interior) ou objetiva (exterior).
• A grande consequência da racionalidade instrumental foi a perda da autonomia 
do indivíduo.
136
AUTOATIVIDADE
1 Pesquise a diferença entre racionalidade e razão.
2 Como você correlaciona a competência relacional do assistente social em sua 
prática profissional?
3 Quais as diferenças entre o conhecimento científico e o não científico?
4 Como você vê a racionalidade instrumental em sua profissão?
 
137
TÓPICO 3
IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS 
INSTRUMENTOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
A trajetória do serviço social no Brasil já é um fator conhecido por nós, 
pois, como vimos anteriormente, a profissão nasce dentro das normas da Igreja 
Católica, cresce subordinada às obrigações do Estado. A partir das décadas de 
70 e 80 começa a refletir sobre as suas práticas, procurando bibliografias para 
embasar sua intervenção. 
A primeira reflexão necessária para o profissional eram as questões que 
envolvem o trabalho, não só como forma de sustento da família, mas também 
como a alienação do trabalhador diante do valor de seu trabalho e o valor da 
mercadoria.
Muitos trabalhadores pensam que esta alienação não existe, porém, 
quando passamos a refletir sobre estas questões, vimos que esta é uma etapa para 
a reprodução do capital, pois quanto menos o trabalhador pensa ou sabe, menos 
o trabalhador exige.
Neste contexto passamos de forma breve sobre alguns pontos necessários 
para começar o processo de reflexão, pois repensar o capital, o trabalho, a 
mercadoria, a alienação do trabalhador não é uma tarefa fácil.
“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. 
Mas ninguém chama de violentas as margens que o 
comprimem.”
 Bertolt Brecht
2 O PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO 
SOCIAL
Você sabe o que é o capital?
É a relação social determinante que dá a dinâmica e a inteligibilidade de 
todo o processo da vida social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 30).
http://www.pensador.info/frase/NDI2MQ/
138
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
Capital é um fator de produção que representa o poder ou a capacidade 
de ser transformado ou transformar algo de maneira produtiva. Não 
representa um produto ou serviço no presente, mas a capacidade 
de produzi-lo ao longo do tempo. Seu conceito está ligado com o de 
investimento, por existir um custo de oportunidade de seu uso ou não 
uso no tempo. O capital é um estoque que pode ser convertido em 
fluxo de riquezas. (WIKIPEDIA, 2010, p. 1).
O que faz o capital para a sociedade capitalista?
Na sociedade capitalista é o CAPITAL que determina a relação social de 
produção, nos mostram Iamamoto e Carvalho (2009), pois corresponde a todo 
processo histórico de um determinado lugar.
Os meios de produção são construídos e produzidos através do capital, 
que é identificado pela forma material, assim os meios de produção e de vida, 
expressos no dinheiro, mostram e mascaram as divergências entre as classes 
sociais diferentes.
[...] após sua transformação nos fatores do processo de trabalho – em 
meios de produção, capital constante – e em capacidade de trabalho 
– em que se converteu o capital variável –, a soma de dinheiro ou 
de valor adiantado somente em si, só potencialmente é capital; e o é 
somente antes de sua transformação nos fatores do processo real da 
produção. Tão somente, dentro do mesmo, graças à incorporação real 
do trabalho vivo nas formas objetivas de existência do capital; tão 
somente, por força da absorção real do trabalho adicional é que, não só 
esse trabalho se transforma em capital, mas a soma de valor adiantado 
se transforma de capital possível, segundo sua determinação, em 
capital real e atuante. Neste processo total o operário vendeu a 
disponibilidade sobre a sua força de trabalho, para conseguir os meios 
necessários de subsistência, por um valor dado, determinado pelo 
valor de sua força de trabalho. (MARX, 2010, p. 1).
As mercadorias têm incutidos os valores da quantidade de tempo humano 
que levou para serem construídas. Assim, toda mercadoria tem seu valor atribuído 
a um valor de uso, um valor de troca e um valor social, porém esta relação social 
está mascarada atrás dos outros dois valores.
NOTA
Podemos então falar da mais-valia, que é o valor excedente que a mercadoria 
recebe ao final da produção, isto é, o valor a mais que é agregado ao produto, assim o valor 
de troca tem um valor muito maior que o de uso, ou, na sua grande maioria, o valor de uso 
nem existe. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009).
TÓPICO 3 | IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
139
Quem vende a força de trabalho?
Assim, para a pessoa sobreviver, é obrigada a vender sua força de trabalho, 
pois “o capital supõe o trabalho assalariado e este, o capital”, colocam Iamamoto 
e Carvalho (2009, p. 36), e desta forma produz e reproduz o capital: 
[...] ao trabalhador, como propriedade alheia monopolizada por 
uma parte da sociedade – a classe capitalista – não lhe resta outra 
alternativa, senão vender parte de si mesmo em troca equivalente aos 
meios necessários para sua subsistência e de sua família, expressos 
através da forma do salário. A condição histórica para o surgimento 
do capital e o pressuposto essencial para a transformação do dinheiro 
em capital é a existência no mercado da força de trabalho como 
mercadoria. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 39).
Muito bem colocado por Iamamoto e Carvalho(2010) em seu resumo 
sobreRelações Sociais e serviço social no Brasil: Esboço de uma interpretação 
histórico-metodológica.
Tendo o trabalho como potência que só se exterioriza em contato com 
os meios de produção, só sendo consumido, ele cria valor. O consumo 
dessa força de trabalho pertence ao capitalista, do mesmo modo que 
lhe pertencem os meios de produção. Onde o trabalhador sai do 
processo de produção da mesma maneira como entrou, como mera 
força de trabalho, como fonte pessoal de riqueza para outros e assim 
se verifica que até os seus meios de vida estão monopolizados também 
pela classe capitalista, onde os trabalhadores entregam diariamente o 
valor de uso de sua força de trabalho, gerando na classe trabalhadora 
uma antítese consigo mesma, os próprios meios de sua dominação, é a 
sua condição de sobrevivência. 
Assim o trabalhador sai da atividade produtiva com o desgaste de sua 
força de trabalho, o valor de uso de sua força de trabalho. O contrário acontece 
com o capital que, ao sair do processo produtivo, se transformou em capital real, 
tem um valor que se valoriza a si mesmo.
Neste contexto, o trabalho vivo somente tem um valor mediante sua 
necessidade de absorção nos meios de produção, pois é o trabalho vivo que 
mantém e aumenta o valor de troca do trabalho acumulado, pontuam Iamamoto 
e Carvalho (2009).
NOTA
Trabalho vivo é o trabalho executado pelo trabalhador, assim como o trabalho 
morto é executado pelas máquinas, e o trabalho acumulado é a mais-valia.
140
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
O trabalhador produz riqueza?
Podemos dizer então que é o trabalhador que produz a riqueza, pois 
o resultado de sua jornada de trabalho são as mercadorias, que não revertem 
em riqueza para o trabalhador e, sim, vendidas no mercado, deixam ricos os 
proprietários.
O trabalhador no final de sua jornada recebe o salário, que nada mais é do 
que o preço da força de trabalho, jamais podendo ser considerado que o salário é 
o preço do trabalho, pois este não é uma mercadoria.
O salário é o preço da força de trabalho, em que se traduz o capital 
variável do capitalismo. Mas o valor da força do trabalho é diferente do 
seu rendimento, quando colocada em ação, torna-se uma magnitude 
variável, a força de trabalho em realização é um mesmo processo 
de valorização que não só transfere o valor dos meios e produção 
ao produto, mas repõe o valor do capital variável e cria novo valor. 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 48).
Os autores colocam que o salário esconde as desigualdades existentes entre 
o tempo usado para executar um serviço e o tempo pago pelo serviço executado, 
mostrando que o lucro está em o trabalhador fazer a maior quantidade de serviço 
pelo menor preço, ou melhor, no menor tempo, pois é neste momento que aparece 
o lucro do proprietário, que fica camuflado nestas relações de tempo e preço.
NOTA
O trabalho não tem um preço, pois não é uma mercadoria, que, de acordo com 
Iamamoto e Carvalho (2009), para o trabalho ser uma mercadoria, o trabalhador deveria 
mostrá-lo antes de vendê-lo, o que é impossível, pois, assim que se coloca o trabalho em 
ação, ele deixa de pertencer ao trabalhador e passa a ser do proprietário.
3 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE 
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL
O que faz o serviço social na reprodução das relações sociais?
Assim, na reprodução das relações sociais está a reprodução da totalidade 
do processo social, momento em que o profissional de serviço social configura 
seu tipo de especialização, sua prática no conhecimento do trabalho coletivo no 
contexto da divisão social do trabalho.
TÓPICO 3 | IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
141
NOTA
Para entendermos a reprodução das relações sociais comentada por Iamamoto 
e Carvalho (2009), temos que ter claro que a reprodução é mais que a questão econômica: 
é toda uma reprodução cultural, política, religiosa, educacional.
Podemos dizer, então, que o trabalhador saudável e forte cria e recria 
a riqueza através do seu trabalho, porém, quando já não produz o excedente, 
devem ser verificadas as condições mínimas para este trabalhador retornar à 
produção anterior.
O serviço social nasce e cresce dentro de uma trajetória histórica para 
atender as demandas do capital ou do trabalho, nos mostram Iamamoto e Carvalho 
(2009); para tanto este profissional tem uma atuação mediadora e interventiva.
Com o desenvolvimento industrial o serviço social cada vez mais se 
desenvolvia enquanto profissão, por causa das “novas classes sociais emergentes”, 
assim as questões sociais se tornam a justificativa de trabalho para o profissional 
de serviço social , pontuam Iamamoto e Carvalho (2009, p. 77).
A questão social é a expressão do processo de formação e 
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário 
político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por 
parte da empresa e do Estado. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 
77).
Aqui cabe relembrar que as questões sociais aparecem no momento em 
que o trabalho escravo sai e começa o trabalho denominado livre, assim foram 
aparecendo demandas que até então eram inexistentes.
A relação trabalho x capital ficava cada vez mais longe da compreensão, 
assim aparecem os movimentos que procuram refletir sobre toda a complexidade 
das questões que estavam por detrás da aparência. 
Aqueles movimentos refletem e são elementos dinâmicos das 
profundas transformações que alteram o perfil da sociedade a partir 
da progressiva consolidação de um polo industrial, englobando-se 
no conjunto de problemas que se colocam para a sociedade naquela 
altura, exigindo profundas modificações na composição de forças 
dentro do Estado e no relacionamento deste com as classes sociais. 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 126).
Diante da complexidade das reflexões e a falta de bibliografias que dessem 
suporte à prática, os profissionais de serviço social se dividiram em dois grupos 
distintos: os conservadores e os progressistas, conforme Silva (2008).
142
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
O resultado desta divisão foi vários enfrentamentos de profissionais que 
defendiam um lado ou outro, sem conseguir mediar os próprios conflitos, porém, 
destes enfrentamentos surgiram outras reflexões que lançaram um novo olhar 
sobre a sociedade e seus conflitos.
Somente a partir da década de 30, depois da Guerra, que o Estado incorporou 
muito timidamente sua responsabilidade diante das questões sociais, na tentativa 
de garantir um mínimo à sociedade, assim como a Igreja, a partir de então, passa 
somente a cuidar dos males da alma.
Esse direito deverá independentemente da ação do Estado, integrar 
os indivíduos dentro de uma ordem comunitária em que capital e 
trabalho, consumidor e fornecedor, terão sua apetitividade pautada 
através do lucro e salário justos, a fim de atender as necessidades 
materiais e espirituais da sociedade. A economia, o livre jogo do 
mercado, deve se submeter ao direito para a preservação do bem 
comum. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 272).
O direito do trabalhador foi, na época, o mínimo a ser garantido para 
continuar a ter a mão de obra numa reprodução de capital, assim o Estado intervém 
contra a escravidão, ou melhor, a forma escrava com que alguns trabalhadores 
são tratados, para o mercado continuar no seu processo de lucros.
LEITURA COMPLEMENTAR
TRABALHO E RIQUEZA
Armando Medeiros
Dizia Marx que o trabalho é o pai e a natureza é a mãe de toda a riqueza. 
Mas nas sociedades divididas em classes, o trabalho empobrece e brutaliza o 
trabalhador e enobrece aquele que menos trabalha ou que não trabalha de forma 
nenhuma. 
Suponhamos dois senhores de escravos que possuam a mesma quantidade 
de escravos, os quais têm jornadas e produtividades de trabalho iguais; os dois 
senhores de escravos têm a mesma quantidade de terras e a mesma área cultivada. A 
terra de um deles é mais fértil do que a terra do outro.Nestas condições, ao final de 
um ano, qual dos senhores terá maior produção? O senhor que tem o solo mais fértil. 
 
Antes que a sociedade se dividisse em classes, ‘tudo’ era de todos e ninguém era 
de ninguém. 
Com a introdução da agricultura, a produtividade do trabalho aumentou, 
havendo a produção de excedente, o que permitiu a divisão do trabalho e, 
posteriormente, a troca. Surgiu a família e a propriedade privada. Já nessa fase, 
alguns homens passaram a ser propriedade de outros e nem tudo era de todos. Os 
TÓPICO 3 | IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
143
trabalhadores, os instrumentos de produção e os produtos do trabalho pertenciam 
aos senhores de escravos. Devido à baixa produtividade do trabalho, quanto mais 
escravos tivesse um senhor, mais rico ele seria, tanto porque sua produção seria 
maior quanto pelo fato de o escravo ser um bem.
No Feudalismo, o senhor feudal tinha sua propriedade fundiária e a 
propriedade comunal. Em troca de segurança, o servo trabalhava para o senhor 
feudal. Era a corveia. 
No capitalismo, o burguês é dono dos meios de produção, de parte do 
tempo de trabalho dos trabalhadores e dos produtos do trabalho. Devido à alta 
produtividade do trabalho, em razão da quantidade de trabalho morto acumulado, 
isto é, em razão do capital, quanto menos trabalhador um burguês tiver, melhor 
para ele e pior para o sistema capitalista como um todo, pois quanto menor o 
número de trabalho vivo, menor a taxa de lucro, mas, em compensação, quanto 
maior a quantidade de trabalho morto, isto é, quanto maior a composição técnica 
do capital, maior a massa de lucro. Assim, os capitalistas preferem investir mais 
em capital constante e dispensar trabalhadores, aumentando a produtividade do 
trabalho, o que lhes permite fabricar uma mercadoria em menos tempo do que 
seus concorrentes e permitindo-lhe vender mais barato do que eles.
As relações burguesas de produção ocultam a exploração do trabalhador, 
pelo fato de, na produção burguesa, a divisão do trabalho ser atômica, não 
molecular, como nos demais modos de produção pré-capitalistas, onde cada 
trabalhador produzia, por exemplo, um par de sapatos completo, do qual era 
expropriado. No capitalismo a expropriação do trabalhador não é tão visível, 
visto que ele não produz uma mercadoria completa, mas apenas um elemento 
da mercadoria. A divisão atômica do trabalho fez aumentar enormemente a 
produtividade do trabalho e a produção. 
Inicialmente a burguesia tentou justificar sua riqueza afirmando que ela 
era produto do seu trabalho. Adam Smith refutou essa ideia:
O lucro ou ganho do capital é absolutamente diverso do salário do 
trabalho. A diferença revela-se de duas formas: primeiramente, os 
lucros do capital são inteiramente regulados pelo valor dos recursos 
empregados, embora o trabalho de vistoria e de direção possa ser 
idêntico para diferentes quantias de capital. Ademais, nas grandes 
fábricas, todo o trabalho é creditado a algum empregado principal, 
cuja remuneração não está relacionada ao capital cuja gestão gerencia. 
Apesar de o trabalho do proprietário ficar nesse caso diminuído a 
quase nada, ele ainda exige lucros proporcionais ao seu capital.
Por que o capitalista determina essa proporção entre o lucro e o capital?
Ele não teria empenho em dar emprego aos trabalhadores, a não ser que 
esperasse da venda de seu trabalho algo mais do que o que é necessário 
para reembolsar os recursos por ele antecipados como salários, e não 
teria interesse em empregar uma grande soma, de preferência uma 
pequena soma, de recursos se o seu lucro não estivesse proporcional 
ao volume dos recursos aplicados.
Assim, primeiramente, o capitalista alcança um lucro sobre os salários 
e, em seguida, sobre as matérias-primas que ele adianta.
144
UNIDADE 2 | A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO
Se o trabalho próprio fosse a fonte da riqueza do capitalista, o trabalhador 
também seria rico, pois trabalha tanto quanto ou até mais do que o capitalista, isto 
quando o capitalista trabalha.
Superada essa discussão, o capitalista tentou justificar sua riqueza 
afirmando que ela era fruto do seu sacrifício. Coube a Marx demonstrar que a 
burguesia estava agindo como um cão que persegue o próprio rabo.
De acordo com Karl Marx:
[...] a acumulação do capital pressupõe a mais-valia, a mais-valia a 
produção capitalista, e esta a existência de grandes quantidades de 
capital e de força de trabalho nas mãos dos produtores de mercadorias. 
Todo esse movimento tem assim a aparência de um círculo vicioso 
do qual só poderemos escapar admitindo uma acumulação primitiva, 
anterior à acumulação capitalista (‘previous accumulation’, segundo 
Adam Smith), uma acumulação que não decorre do modo capitalista 
de produção, mas é o seu ponto de partida.
Essa acumulação primitiva desempenha na economia política um 
papel análogo ao do pecado original na teologia. Adão mordeu a maçã 
e, por isso, o pecado contaminou a humanidade inteira. ... A lenda 
teológica nos conta que o homem foi condenado a comer o pão com o 
suor de seu rosto. Mas a lenda econômica nos explica o motivo por que 
existem pessoas que escapam a esse mandamento divino. Aconteceu 
que uma elite foi acumulando riquezas, e a população vadia ficou 
finalmente sem ter outra coisa para vender além da própria pele. 
Temos aí o pecado original da economia.
 
A essa visão idílica, Marx contrapõe “o grande papel desempenhado 
na verdadeira história pela conquista, pela escravização, pela rapina e pelo 
assassinato, em suma, pela violência”. Diz que “a expropriação do produtor 
rural, do camponês, que fica assim privado de suas terras, constitui a base de 
todo o processo” na Europa Ocidental. Mas a “marcha lenta do período infantil 
do capitalismo não se coadunava com as necessidades do novo mercado mundial 
criado pelas grandes descobertas dos fins do século XV”.
Portanto, não foi o suor do rosto da burguesia, mas o suor do rosto alheio 
a fonte de sua riqueza primitiva.
Superada essa nova discussão, a burguesia tentou demonstrar que sua 
riqueza era oriunda não dos trabalhadores, mas dos consumidores, que a sua 
riqueza era originada do comércio, não da produção. Marx puxou-lhes o tapete 
alegando e provando que o lucro é extraído na produção e apenas realizado na 
circulação de mercadoria. 
FONTE: MEDEIROS, Armando. Disponível em: <www.midiaindependente.org/pt/.../445611.
shtml>. Acesso em: 27 mar. 2010.
TÓPICO 3 | IMPASSES DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS
145
DICAS
Para aprofundamento destes temas, sugiro que você leia e assista:
Filme: As irmãs de Magdalene, de Peter Mullian
Conta a história, a partir do relato de quatro mulheres, da brutalidade praticada 
em conventos irlandeses por uma ordem religiosa.
Artigo: Notas de reconstrução da história do serviço social na Região Sul I, na 
Revista serviço social & Sociedade, n. 95, 2008.
Artigo: serviço social e estratégias, saúde da família: contribuição ao debate, 
na Revista serviço social & Sociedade, n. 98, 2009.
146
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico estudamos a relação trabalho e sociedade, e foram 
abordados os seguintes itens:
• O capital como determinante da relação social de produção.
• As mercadorias têm incutidos os valores da quantidade de tempo humano que 
levou para serem construídas.
• A emersão do serviço social por causa das novas demandas.
147
1 Diante do que vimos neste tópico, de que forma você descreve o trabalho?
2 Qual era a intenção dos movimentos sociais na época de seu aparecimento? 
Existe alguma diferença com os dias atuais?
3 Complete as lacunas da sentença a seguir:
As __________ sociais aparecem no momento em que o trabalho __________ 
sai e começa o trabalho denominado __________, assim foram aparecendo 
__________ que até então eram __________.
I – questões – escravo – livre – demandas – inexistentes.
II – relações – digno – registrado – oportunidades – aparentes.
III – práticas – animal– humano – doenças – mínimas.
a) ( ) A opção correta é a III.
b) ( ) A opção correta é a II.
c) ( ) A opção correta é a I.
AUTOATIVIDADE
148
149
UNIDADE 3
A APLICABILIDADE DOS 
INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO 
EXERCÍCIO PROFISSIONAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender a diferença e importância da teoria versus a prática profis-
sional do assistente social;
• entender quais são os métodos e metodologias aplicados na práxis profis-
sional do serviço social;
• identificar a aplicabilidade dos instrumentos e técnicas no exercício profis-
sional do assistente social.
A Unidade 3 está dividida em três tópicos e, ao final de cada um deles, você 
terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades 
propostas. 
TÓPICO 1 – TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
TÓPICO 2 – O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO 
DO ASSISTENTE SOCIAL
TÓPICO 3 – OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO 
PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
150
151
TÓPICO 1
TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E 
METODOLOGIAS
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico discutiremos a polêmica discussão relativa à teoria versus a 
prática profissional, além de abordarmos a questão do método e das metodologias 
empregadas pelos assistentes sociais no seu dia a dia da práxis profissional.
“A vida consiste de três fases: 
vinte anos para aprender, vinte anos para lutar e vinte anos
para atingir a sabedoria”. 
(Provérbio chinês)
2 TEORIA VERSUS PRÁTICA
Iniciaremos esta discussão referente à teoria versus a prática fazendo uma 
reflexão sobre a seguinte história:
Certo dia, um discípulo perguntou ao mestre: 
“Quanto tempo vou levar para me tornar um sábio?” 
O mestre respondeu: “Cerca de dez anos”. 
Inconformado, o discípulo insistiu: 
“Mas eu vou estudar todos os dias e gastar cada minuto de meu tempo 
lendo e pesquisando pergaminhos e escrituras”. 
O mestre disse: “Bem, nesse caso você vai levar uns vinte anos”. 
(BARROS, 2010).
Esta história, segundo Barros (2010), nos chama a atenção para a 
importância de colocarmos os conhecimentos em prática. Para o discípulo, 
tudo era uma questão de se aprofundar na teoria, de acumular informações, 
de mergulhar nos livros e nos estudos. Nem uma única vez ele mencionou a 
prática, o desejo de colocar em ação tudo o que se dispunha a aprender.
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
152
De nada adianta transformar-se em uma enciclopédia ambulante e não ser 
capaz de concretizar uma única ideia, de usar seu conhecimento para modificar, para 
melhorar a realidade à sua volta. (BARROS, 2010).
ATENCAO
Lembre-se: “não existe empreendedor teórico. QUEM SABE, FAZ. E 
quem não sabe, aprende fazendo.” (BARROS, 2010, grifo nosso). Ou seja, não 
existe assistente social, psicólogo, pedagogo, engenheiro, administrador só com 
as bases teóricas, pois é no seu dia a dia que se constitui como tal, é no fazer 
profissional técnico-operativo e ético-político, conjuntamente com seu cabedal 
teórico-metodológico, que o profissional se especializa e se torna profissional.
Segundo Lima (2010, grifo nosso):
A tradição acadêmica é sustentada por um rígido conjunto de valores 
teóricos predefinidos. Esses valores não são explicitamente divulgados aos 
recém-chegados, mas são apreendidos através da sua experiência ao longo dos 
anos, de tal modo que é vulgar dizer “a práxis não se explica, vive-se”.
Mas será que essa TEORIA se torna uma PRÁTICA?
A sociedade atual vive uma grave crise de valores... Por um lado, NÃO 
EXISTEM atualmente CRITÉRIOS SEGUROS para distinguir o justo do 
injusto, o bem do mal, o belo do feio. Por outro lado, também não existem 
valores fortes, tudo depende das circunstâncias e dos interesses em jogo. Enfim, 
é tudo relativo, todos os meios justificam os fins.
A práxis não fica imune a esta crise de valores, uma vez que, como 
alguns a consideram, é um “reflexo da sociedade”...
A práxis perpetua VALORES tais como a solidariedade, amizade, 
união, respeito pela hierarquia e pela tradição, mas, acima de tudo, amor pela 
“capa e batina”... valores que são fruto da vivência do dia a dia.
Contudo, nestes últimos anos, estes valores sofreram um profundo 
e acentuado desgaste, fruto do individualismo excessivo e egoísta de certos 
praxistas, mas também da sua desmedida sede de poder e de protagonismo.
Não vou aqui generalizar, e tomar o todo pelas partes, não me parece 
sensato ou mesmo correto, embora seja fácil fazê-lo, porque a “parte” não é 
assim tão pequena e porque o todo também não é assim tão grande. A realidade 
é que muitos são os acadêmicos que utilizam a práxis apenas como veículo de 
afirmação social.
TÓPICO 1 | TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
153
A solidariedade é cada vez mais apenas uma utopia em práxis, 
embora muitos o tentem negar. Cada vez mais acadêmicos optam por uma 
posição egoísta em práxis, em que o “eu” predomina sobre o “nós”, e este 
último somente é usado segundo os interesses que se colocam por cima da 
mesa (ou até mesmo por baixo). Assim como também não podemos dizer 
que exista união, se o “nós” é negligenciado, deixa pura e simplesmente 
de existir como tal, uma vez que ninguém se preocupa com ele. Também 
não podemos falar em respeito no sentido amplo da palavra, uma vez que 
muitos acadêmicos apenas se lembram de o pedir e esquecem-se de o dar. 
Não existe verdadeira amizade, mas apenas uma amizade aparente, que se 
edifica para reforçar ligações de poder e de força... Nada é espontâneo ou 
verdadeiramente sentido, tudo é cuidadosamente planeado para que o “eu” e 
a vontade do “eu” não seja contrariada... A finalidade de um gesto sobrepõe-se 
ao puro e simples ato de agir.
A práxis, contrariamente àquilo que alguns afirmam, não é feita apenas 
pela elite dos mais fortes, mas também pela elite dos mais falsos, dos mais 
prepotentes, dos mais egoístas, dos mais arrogantes. 
A práxis, e engana-se quem pensa o contrário, 
VIVE DA SUA TEORIA, mas ensina a sua prática, que em 
nada reflete os valores inerentes às tradições acadêmicas. 
Teoria e prática são dois conceitos que deviam ser dependentes um do 
outro, mas que, com o passar do tempo, infelizmente, cada vez mais se afastam. 
Muitos preferem responsabilizar a sociedade e a crise de valores em 
que ela está mergulhada, mas a verdadeira culpa é das pessoas que a fazem 
e que, inertes, preferem seguir a maré de cabeça baixa, porque não têm força 
suficiente de lutar contra ela de cabeça levantada, ou porque, talvez, como 
própria experiência, são imediatamente esmagados.
O que podemos entender como TEORIA?
Segundo Ferreira (2008, p. 771), entende-se por teoria:
1) Conhecimento especulativo, meramente racional.
2) Conjunto de princípios fundamentais duma arte ou duma ciência.
3) Doutrina ou sistema fundado nesses princípios.
4) Hipótese, suposição.
Ou seja, aqui podemos compreender a teoria como sendo um CONJUNTO 
DE PRINCÍPIOS QUE FUNDAMENTAM O AGIR PROFISSIONAL DO 
assistente social.
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
154
Neste sentido, Kant (2008) diz que se chama TEORIA um conjunto de 
regras práticas que são pensadas como princípios numa certa universalidade, 
e aí se abstraem de um grande número de condições as quais, no entanto, têm 
necessariamente influência sobre a sua aplicação. 
Assim, vejamos o que Pereira (2010, grifo nosso) tem a nos dizer referente 
à questão da teoria:
De uma forma geral e abrangente, a teoria pode ser compreendida sob a 
perspectiva da ETIMOLOGIA DA PALAVRA nos dicionários.
Para o pensamento clássico, teorizar significa quase que somente 
abstrair, e, para compreender teoria, é preciso considerar a lógica e a metafísica. 
A Ciência Moderna (e seu método) pode ser compreendida em quatro etapas 
(observação, hipótese, experimentação e lei); faz, também, uma distinção entre 
indução (visão do particular para o geral) e dedução (do geral para o particular),análise (decomposição de um todo em suas partes) e síntese (reconstituição do 
todo decomposto).
Na essência, segundo Pereira (2010), para entender o que é teoria em um 
plano mais amplo, é preciso compreender várias questões afins (experiência, 
natureza, objeto, visão total da realidade, presença do homem...) que nem a 
Ciência Clássica e nem a Ciência Moderna são totalmente capazes de abordar. 
A primeira exagerou o lado da teoria da realidade como abstração, esquecendo 
a síntese (que liga pensamento e realidade), e a segunda se prendeu demais à 
experimentação do objeto concreto.
A autora discorre, ainda, sobre a teoria nas ciências empírico-
formais (física, química, biologia), ciências formais (matemática) e ciências 
humanas e enfatiza que, para falar em teoria, é necessário focalizar aquele 
significado cultural básico da ação. Esta relação implica dependência 
da teoria com referência à prática, dependência de fundamentação. 
Destarte, prática e teoria não podem ser separadas, pois se incorreria no vício 
idealista (priorizando a teoria e dissociando-a da prática) ou no do praticismo 
(acentuando ou separando a prática em detrimento da teoria), o que levaria a 
um vício ainda maior: o do senso comum, que tende a menosprezar a teoria e a 
simplificar a realidade, ou seja, ele, assim como os aspectos ideológicos, interfere 
no ato teórico.
Então o que é realmente a PRÁTICA?
Segundo Ferreira (2008, p. 647), entende-se por prática:
TÓPICO 1 | TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
155
1) Ato ou efeito de praticar.
2) Uso, exercício.
3) Rotina, hábito.
4) Saber provindo da experiência.
5) Aplicação da teoria.
6) Discurso rápido; conferência. [...]
De acordo com Kant (2008), denomina-se PRÁTICA não toda a operação, 
mas apenas a efetuação de um fim conseguida como adesão a certos princípios de 
conduta representados na sua generalidade. 
Neste sentido, podemos dizer que a PRÁTICA PROFISSIONAL do 
assistente social se processa no decorrer do seu exercício profissional, ou seja, 
na aplicação direta do seu instrumental teórico-metodológico, ético-político e 
técnico-operativo.
Então, para finalizar, podemos dizer que a TEORIA versus PRÁTICA 
nada mais é do que a construção de estratégias técnico-operativas para o exercício 
da profissão, ou seja, preencher o campo das mediações entre a base teórica já 
acumulada e a operatividade do trabalho profissional do assistente social. 
(IAMAMOTO, 2008).
3 MÉTODO E METODOLOGIA
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio (2008, p. 552), método 
e metodologia podem ser assim definidos:
MÉTODO
Procedimento organizado que conduz a um certo resultado.
Processo ou técnica de ensino.
Modo de agir, de proceder.
Regularidade e coerência na ação.
Tratado elementar.
METODOLOGIA Conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em determinada disciplina, e sua aplicação.
Então, podemos dizer que a metodologia pode ser entendida como o 
estudo do método a ser aplicado em uma determinada realidade social, ou seja, a 
metodologia nada mais é do que as etapas e procedimentos para a realização de 
um procedimento, seja ele acadêmico ou profissional.
Mas, qual a importância da metodologia?
De acordo com Becker, Kestring e Silva (apud AMARAL, 2010, grifo nosso):
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
156
A metodologia é o estudo de métodos de como fazer e relatar os feitos 
em ciência. A explicação de sua importância já vem embutida na explicação do 
que ele é. 
No caso da METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTÍFICO, quando 
se faz um trabalho, seja um artigo para um jornal, um paper, uma monografia 
para um curso, uma dissertação de mestrado, e se pretenda fazer um trabalho de 
comunicação científica, ou no caso da METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO 
PROFISSIONAL, o que menos se espera é que tenha vindo de uma inspiração 
poética. Muito menos de digressões e opiniões sobre o que foi pesquisado ou 
experimentado. 
O QUE SE ESPERA numa metodologia, seja ela de trabalho científico 
ou de intervenção profissional, é:
- que tenha um planejamento anterior; 
- que tenha um começo; 
- que tenha um meio; 
- que tenha um fim. 
Ou seja, tenha métodos de construção e que estes métodos sejam 
coerentes, conhecidos e explicitados.
 Vejamos o que significa cada um deles:
1) PLANEJAMENTO ANTERIOR – espera-se deste tipo de trabalho 
que, antes de ele ser escrito, ou colocado em prática, ele tenha sido planejado, 
tanto o modo como ele vai ser escrito, quanto o que ele vai dizer, ou seja, tanto 
sua forma quanto seu conteúdo. Pode ser que tanto um quanto outro mudem 
ao longo do caminho, mas supõe-se que ninguém parta do zero num caso deste. 
Pressupõe-se que:
a) um assunto ou um problema social tenha sido escolhido, assim como 
seu enfoque e a profundidade com que vai ser abordado;
b) que pesquisas sobre a realidade social ou para um levantamento 
bibliográfico tenham sido feitas. 
2) COMEÇO – espera-se que, de posse do material pesquisado, uma 
introdução possa ser escrita, com suas subpartes:
 
a) Apresentação do tema e justificação de sua escolha.
Aqui o tema ou a realidade social é apresentada, de maneira clara, 
através de sua história, mas uma história que contemple o recorte dado ao 
tema pelo autor. 
TÓPICO 1 | TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
157
b) Questões específicas.
Aqui você deve perguntar o que sua pesquisa deverá responder. 
São questões que deverão cercar sua principal questão, que é o item abaixo. 
Poderiam ser:
- qual era a situação daquela determinada família?
- qual era a visão dos vizinhos daquela família, com relação ao seu 
comportamento social?
- qual a implicação social destas visões?
c) Abordagem geral do problema.
As questões específicas nos levam a pensar num panorama geral da 
realidade social do trabalho científico. Na realidade, embora nunca devamos 
perder a abordagem geral de vista, o trabalho se desenvolve através do estudo 
e análise das questões específicas. 
d) Hipóteses ou pressupostos.
- A espinha dorsal de seu trabalho, o que seu trabalho quer aclarar 
ou até que ponto você poderá mediar a transformação daquela determinada 
realidade social.
e) Variáveis e/ou fatores qualitativos de análise (trabalho 
experimental).
f) Objetivos da pesquisa.
g) Definição de termos.
h) Metodologia da pesquisa ou do estudo.
- tipo de pesquisa;
- área de abrangência;
- população e amostra;
- passos da pesquisa;
- instrumentos da coleta de dados;
- tratamento de dados (trabalho experimental);
- pesquisa teórica. 
3) MEIO 
i) Desenvolvimento.
- revisão de literatura ou plano teórico;
- apresentação e análise de dados. 
4) FIM 
j) Conclusões e sugestões. 
 
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
158
Então, podemos compreender que a metodologia, com seus métodos de 
intervenção e atuação profissional, possibilitará ao assistente social um norte 
profissional para sua atuação junto à população usuária das políticas públicas e 
sociais. Além disso, cada metodologia deve levar em consideração a questão social 
a ser trabalhada e sua realidade cotidiana. E que cada instituição, seja pública ou 
privada, desenvolve metodologias específicas conforme sua cultura organizacional.
LEITURA COMPLEMENTAR
TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
Charles Toniolo de Sousa
Estudar a realidade social nunca foi tarefa fácil.
Desde a Antiguidade, filósofos, cientistas e pensadores, de um modo 
geral, se debruçam sobre as diferentes formas de organização social, de modo 
a conhecê-las. Mas, além disso, o conhecimento é uma poderosa arma para 
qualquer proposta de mudança ou transformação dessa mesma realidade. Se 
atuar no e sobre o cotidiano das populações menos favorecidas é um componente 
fundamental do serviço social , é com vistas a transformações nesse cotidiano que 
a prática profissional deve se dirigir. 
Contudo, o cotidiano cria armadilhas às quais o assistente social deve estar 
atento. O profissional trabalha com situaçõessingulares, isto é, situações que, a 
princípio, podem parecer exclusivas daquele(s) sujeito(s) que está(ão) sendo o 
alvo da intervenção do assistente social. E nesse sentido, ele (o assistente social) 
até pode produzir um conhecimento prático dessa situação imediata que aparece 
no dia a dia do seu trabalho. Mas nem tudo que aparece é o que realmente é. 
Os seres humanos são seres essencialmente sociais, ou seja, vivem em 
uma determinada sociedade. E essa sociedade é uma totalidade. 
Nenhuma situação pode ser considerada apenas em sua singularidade, 
pois senão se corre o sério risco de se perder de vista a dimensão social da vida 
humana. Portanto, qualquer situação que chega ao serviço social deve ser 
analisada a partir de duas dimensões: a da singularidade e a da universalidade. 
Para tal, é necessário que o assistente social tenha um conhecimento teórico 
profundo sobre as relações sociais fundamentais de uma determinada sociedade 
(universalidade), e como elas se organizam naquele determinado momento histórico, 
para que possa superar essas “armadilhas” que o senso comum do cotidiano prega – 
e que muitas vezes mascaram as reais causas e determinações dos fenômenos sociais. 
É na relação entre a universalidade e a singularidade que se torna possível apreender as 
particularidades de uma determinada situação. 
TÓPICO 1 | TEORIA E PRÁTICA, MÉTODO E METODOLOGIAS
159
O que acabamos de afirmar nada mais é do que chamamos de método de 
investigação – e mais especificamente, de método dialético. Existem várias formas 
de se pesquisar a realidade. Se acreditarmos que os fenômenos sociais são 
fragmentados e ocorrem sem nenhuma relação com a totalidade social (isto é, ele 
se explica em si mesmo), estaremos adotando uma determinada postura política 
e teórica, e utilizando uma determinada forma de conhecer a realidade. Porém, 
essa forma tende a empobrecer esse conhecimento, pois considera os indivíduos 
como seres atomizados, e não como seres sociais. 
Todavia, o que se propõe hoje no âmbito do serviço social é justamente 
a produção de um conhecimento que rompa com a mera aparência e busque 
apreender o que está “por trás” dela, sua essência. Para isso, é fundamental 
que o profissional sempre mantenha uma postura crítica, questionadora, não se 
contentando com o que aparece a ele imediatamente. 
De posse desse conhecimento, o profissional pode planejar a sua ação 
com muito mais propriedade, visando à mudança dessa mesma realidade. Assim, 
no momento da execução da ação profissional, o assistente social constrói suas 
metodologias de ação, utilizando-se de instrumentos e técnicas de intervenção social. 
A diferença entre método de investigação e metodologias de ação põe uma 
reflexão fundamental para quem se propõe a construir uma prática profissional 
competente e qualificada: são os objetivos profissionais que definem que 
instrumentos e técnicas serão utilizados – e não o contrário. E esses objetivos, 
planejados e construídos no plano político e intelectual, só podem ser expressos 
se o assistente social conhece a realidade social sobre a qual sua ação vai se 
desenvolver. Ou, como diz Guerra (2002): 
Se é correto que o valor do trabalho do assistente social reside na 
sua utilidade social, que é medida em termos de respostas concretas 
que venham produzir uma alteração imediata na realidade empírica 
[...], o seu resultado final, o produto do seu trabalho passa a ser o fator 
determinante da forma de realizá-lo. (GUERRA, 2002, p. 157).
É apenas a partir dessa reflexão que se faz possível discutir a 
instrumentalidade do serviço social .
FONTE: SOUZA, Charles Toniolo de. A prática do assistente social: conhecimento, 
instrumentalidade e intervenção profissional. Emancipação, Ponta Grossa, p. 122-124, 
2008. Disponível em: <http://www.uepg.br/emancipacao>. Acesso em: 15 fev. 2010.
160
Neste tópico estudamos sobre teoria e prática, método e metodologias, e 
foram abordados os seguintes itens:
• A polêmica discussão relativa à concepção de teoria versus a prática.
 
• As diferenças entre método e metodologia. 
• É importante colocarmos os conhecimentos em prática. 
• Quem sabe, faz. E quem não sabe, aprende fazendo à luz da teoria pertinente a 
cada profissão.
• Não existe qualquer profissional só com bases teóricas, pois é no seu dia a dia 
que se constitui como tal.
• A práxis profissional não se explica, vive-se-a no seu cotidiano profissional.
• Compreendemos a teoria como sendo um conjunto de princípios que 
fundamentam o agir profissional do assistente social.
• A prática profissional do assistente social se processa no decorrer do seu 
exercício profissional, ou seja, na aplicação direta do seu instrumental teórico-
metodológico, ético-político e técnico-operativo.
• A teoria e a prática nada mais são do que a construção de estratégias técnico-
operativas para o exercício da profissão, com a base teórica já acumulada pelo 
trabalho profissional do assistente social.
• A metodologia pode ser entendida como o estudo do método a ser aplicado em 
uma determinada realidade social.
RESUMO DO TÓPICO 1
161
Prezado(a) acadêmico(a), após esta discussão relativa à teoria e prática, 
método e metodologias, IDENTIFIQUE no quadro a seguir uma frase completa 
(com pontuação) correlacionada com o assunto estudado.
AUTOATIVIDADE
162
163
TÓPICO 2
O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO 
DO ASSISTENTE SOCIAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Até o século XX, o serviço social trazia um discurso muito ligado a práticas 
caritativas e de ajuda mútua, conforme já estudamos anteriormente. Porém, no 
período contemporâneo, o serviço social passa a discutir acerca da profissão 
e seu processo de trabalho, levando em consideração o conceito baseado no 
pressuposto marxista. 
Conforme Guerra (2000), no processo de trabalho do assistente social 
há a passagem do momento de pré-ideação – projeto – para a chamada ação 
propriamente dita que requer a instrumentalidade. 
Historicamente o profissional de serviço social passou por divisões e 
diferenças entre o saber e o fazer profissional, fazendo com que os assistentes 
sociais tivessem práticas distintas. Contudo, na formação profissional existem 
várias formas de conhecimento e, com o acúmulo e experiências adquiridas ao 
longo da atuação, a prática profissional vai se aperfeiçoando e ampliando os 
olhares das diferentes formas de atuação, conforme veremos a seguir.
“Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês 
qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer 
parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.” 
Che Guevara
2 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS 
NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
A aplicabilidade dos instrumentos e técnicas da ação profissional na 
prática cotidiana do assistente social responde às necessidades deste profissional 
levando em consideração os diferentes contextos e realidades sociais.
Segundo Sousa (2008, p. 131), “o instrumental é o resultado da capacidade 
criativa e da compreensão da realidade social, para que alguma intervenção 
possa ser realizada com o mínimo de eficácia, responsabilidade e competência 
profissional”. Porém, o profissional, durante sua atuação e na aplicabilidade dos 
164
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
instrumentos, independentemente de quais sejam, deve repensar sua prática, 
aperfeiçoá-la e refletir constantemente.
O principal objetivo deste tópico é apresentar de forma sucinta as técnicas 
e os principais instrumentos da ação profissional utilizados pelo assistente social 
no cotidiano de sua prática.
2.1 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO 
DIRETOS OU “FACE A FACE”
Neste item apresentaremos, em forma esquemática, como o assistente 
social aplica no seu dia a dia profissional o instrumental técnico-operativo. Ou 
seja, como são desenvolvidos e aplicados os instrumentos diretamente com a 
população usuária das políticas públicas e sociais, além dosplanos, programas e 
projetos sociais. 
Segundo Sousa (2008, p. 124, grifos nossos), a INSTRUMENTALIDADE 
DO serviço social deve seguir algumas orientações:
Expressar os objetivos que se quer alcançar não significa que eles 
necessariamente serão alcançados. 
Nunca podemos PERDER DE VISTA que qualquer ação humana está 
condicionada ao momento histórico em que ela é desenvolvida. A realidade 
social é complexa, heterogênea e os impactos de qualquer intervenção 
dependem de fatores que são externos a quem quer que seja – inclusive ao 
serviço social . Como analisa Iamamoto (1995), reconhecer as possibilidades e 
limitações históricas, dadas pela própria realidade social, é fundamental para 
que o serviço social não adote, por um lado, uma postura fatalista (ou seja, 
acreditar que a realidade já está dada e não pode ser mudada), ou, por outro 
lado, uma postura messiânica (achar que o serviço social é o “Messias”, que é 
a profissão que vai transformar todas as relações sociais). 
É importante ter essa compreensão para localizarmos o lugar ocupado 
pelos instrumentos de trabalho utilizados pelo assistente social em sua prática. 
Se são os objetivos profissionais (construídos a partir de uma reflexão 
teórica, ética e política e um método de investigação) que definem os 
instrumentos e técnicas de intervenção (as metodologias de ação), conclui-se 
que essas metodologias não estão prontas e acabadas. Elas são necessárias em 
qualquer processo racional de intervenção, mas elas são construídas a partir 
das finalidades estabelecidas no planejamento da ação realizado pelo assistente 
social. 
Primeiro, ele define “para que fazer”, para depois se definir “como 
fazer”. Mais uma vez, podemos aqui identificar a estreita relação entre as 
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
165
competências teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. Em 
outras palavras, os instrumentos e técnicas de intervenção não podem ser 
mais importantes que os objetivos da ação profissional. 
Se partirmos do pressuposto de que cabe ao profissional apenas ter 
habilidade técnica de manusear um instrumento de trabalho, o assistente social 
perderá a dimensão do porquê ele está utilizando determinado instrumento. 
Sua prática se torna mecânica, repetitiva, burocrática. Mais do que meramente 
aplicar técnicas “prontas” – como se fossem “receitas de bolo” –, o diferencial de 
um profissional é saber adaptar um determinado instrumento às necessidades 
que precisa responder no seu cotidiano. 
E como a realidade é dinâmica, faz-se necessário compreender quais 
mudanças são essas para que o instrumental utilizado seja o mais eficaz 
possível, e, de fato, possa produzir as mudanças desejadas pelo assistente 
social – ou chegar o mais próximo possível. Ora, isso pressupõe que, mais do 
que copiar e seguir manuais de instruções, o que se coloca para o assistente 
social hoje é sua capacidade criativa, o que inclui o potencial de utilizar 
instrumentos consagrados da profissão, mas também de criar outros tantos 
que possam produzir mudanças na realidade social, tanto em curto quanto em 
médio e longo prazos. Isso é primordial para que possamos desempenhar com 
competência as atribuições que foram definidas para o assistente social na Lei 
de Regulamentação Profissional. 
Vejamos: se o serviço social , em sua trajetória histórica, não tivesse 
criado novos instrumentos e novas técnicas de intervenção, teria conseguido 
sair da condição de mero executor das políticas sociais e hoje desempenhar 
funções de elaboração, planejamento e gerência das mesmas? Certamente não. 
Assim, pensar a instrumentalidade do serviço social é pensar para além da 
“especificidade” da profissão: é pensar que são infinitas as possibilidades de 
intervenção profissional, e que isso requer, nas palavras de Iamamoto (2004), 
“tomar um banho de realidade”. 
Sobre a interação face a face, podemos expor que este instrumento
[...] permite que a enunciação de um discurso se expresse não só 
pela palavra, mas também pelo olhar, pela linguagem gestual, pela 
entonação, que vão contextualizar e, possivelmente, identificar 
subjetividades de uma forma mais evidenciada. Sob esse enfoque, 
pode-se dizer que o discurso direto expressa uma interação dinâmica. 
(MAGALHÃES, 2003, p. 29).
2.1.1 Observação
A técnica de observação faz com que o profissional observe o 
comportamento e os posicionamentos apresentados pelo usuário. A observação 
participante coloca o investigador – profissional – pertencente ao grupo, 
166
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
organização ou comunidade, para que registre comportamentos, interações e 
acontecimentos. Nesta forma de observação, o investigador passa despercebido. 
Nesta direção, segundo Sousa (2008, p. 126),
[...] na medida em que o assistente social realiza intervenções, ele 
participa diretamente do processo de conhecimento acerca da realidade 
que está sendo investigada. Por isso, não se trata de uma observação 
fria, ou como querem alguns, “neutra”, em que o profissional pensa 
estar em uma posição de não envolvimento com a situação. Por 
isso, trata-se de uma observação participante – o profissional, além de 
observar, interage com o outro, e participa ativamente do processo de 
observação. (SOUSA, 2008, p. 126).
No quadro a seguir podemos compreender melhor esta técnica de bastante 
importância na atuação prática do profissional de serviço social .
O QUÊ?
Aplicar o instrumento de OBSERVAÇÃO. Ter clareza dos objetivos do que 
vamos observar. Além disso, saber que observar é muito mais que somente 
olhar.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE?
O instrumento pode ser aplicado individualmente, em grupo, organização e 
comunidade.
QUANDO?
Pode ser utilizada em conjunto com outras técnicas de aplicabilidade do 
serviço social .
POR QUÊ?
Conhecimento aprofundado das relações e comportamentos dos usuários 
observados.
COMO?
Estabelecendo uma relação social com o usuário que possui expectativa e 
necessidades quanto às intervenções. Então o profissional é observador e, ao 
mesmo tempo, observado.
FONTE: As autoras
QUADRO 2 – APLICABILIDADE DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
2.1.2 Entrevista individual e grupal
A entrevista é uma forma de relação entre o assistente social e o usuário, 
ou seja, é o momento que o profissional tem para estabelecer confiança com o 
usuário, para que este consiga realizar relatos e repassar informações importantes 
para o profissional que está no papel de entrevistador.
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
167
FONTE: As autoras
QUADRO 2 – APLICABILIDADE DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
Para Sousa (2008, p. 126):
 
A entrevista nada mais é do que um diálogo, um processo de 
comunicação direta entre o assistente social e um usuário (entrevista 
individual), ou mais de um (entrevista grupal). Contudo, o que 
diferencia a entrevista de um diálogo comum é o fato de existir um 
entrevistador e um entrevistado, isto é, o assistente social ocupa um 
papel diferente – e, sob determinado ponto de vista, desigual – do 
papel do usuário. (SOUSA, 2008, p. 126).
NOTA
Acadêmico(a), para que você possa relembrar esta técnica muito utilizada pelos 
assistentes sociais em diversas áreas de atuação, retome o Caderno de Estudos: Estratégias, 
Técnicas e Instrumentos da Ação Profissional I.
Este instrumento busca compreender, identificar ou constatar uma 
determinada situação, em que o assistente social emite sua opinião profissional 
e seu parecer. Assim, este instrumento não é uma conversa e, sim, uma ação 
teórico-metodológica que exige do profissional muito conhecimento.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de ENTREVISTA. 
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE?
O instrumento pode ser aplicado individualmente, em grupo, organização e 
comunidade.
QUANDO?
Pode ser utilizada em conjunto com outras técnicas de aplicabilidade do 
serviço social .
POR QUÊ?
Podeser estabelecida uma relação de confiança e com confidências entre o 
profissional e o entrevistado.
COMO? Procura compreender, identificar ou constatar uma determinada situação.
FONTE: As autoras
QUADRO 3 – APLICABILIDADE DA ENTREVISTA INDIVIDUAL
NOTA
Acadêmico(a), para aprofundar esta discussão você pode realizar a leitura do 
artigo “A entrevista nos processos de trabalho do assistente social”, disponível em: <http://
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/2315/3245>. Acesso em: 24 fev. 
2010.
168
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
2.1.3 Dinâmica de grupo
A dinâmica de grupo é uma técnica que pode ser aplicada de diversas 
formas, como atividade lúdica, por exemplo, através de jogos ou simulação de 
alguma vivência apresentada pelo grupo. 
O profissional de serviço social , nesta técnica, tem a responsabilidade de 
mediar e controlar o processo, além de provocar reflexões do grupo acerca de 
uma determinada temática e ter clareza dos objetivos da utilização desta técnica. 
Para Sousa (2008), a dinâmica de grupo pode ser utilizada pelo assistente 
social em diferentes momentos. Para levantar um debate sobre determinado tema 
com um número maior de usuários, bem como atender um número de pessoas 
que estejam vivenciando situações parecidas. (SOUSA, 2008, p. 126).
O QUÊ? Aplicar o instrumento de DINÂMICA DE GRUPO.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE?
Este é aplicado em grupos que apresentam vivências iguais, utilizando de espaços 
de descontração, porém com objetivo.
QUANDO?
Existir um grupo com situações e vivências que podem ser trabalhadas no 
coletivo.
POR QUÊ? Controle coletivo e provocar a reflexão do grupo. 
COMO? Um facilitador que provoca situações que levam à reflexão do grupo.
FONTE: As autoras
QUADRO 4 – APLICABILIDADE DA DINÂMICA DE GRUPO
2.1.4 Reunião
A reunião é um instrumento coletivo, apresentando uma característica 
diferenciada da dinâmica de grupo, e tem como objetivo principal a tomada de 
decisão sobre determinado assunto ou temática que envolva todos os participantes.
O espaço de tomada de decisões é um espaço essencialmente político, 
pois diferentes interesses estão em confronto. (SOUSA, 2008, p. 127).
É importante que no instrumento reunião seja apontado um líder ou 
coordenador, com o intuito de atingir o objetivo proposto. Este coordenador, 
porém, tem que ter uma posição democrática, em que todos os presentes tenham 
um posicionamento.
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
169
FONTE: As autoras
QUADRO 4 – APLICABILIDADE DA DINÂMICA DE GRUPO
O QUÊ? Aplicar o instrumento de REUNIÃO.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Em espaços de discussão coletiva.
QUANDO? Uma decisão deve ser tomada coletivamente.
POR QUÊ? Para tomar uma decisão democrática e coletiva.
COMO?
As reuniões podem ser realizadas por um grupo de usuários, comunidade ou 
profissional que tem a necessidade de estabelecer alguma decisão. 
FONTE: As autoras
QUADRO 5 – APLICABILIDADE DA REUNIÃO
2.1.5 Visita domiciliar
A visita domiciliar é um instrumento muito utilizado pelo profissional 
de serviço social , por compreender que este retrata a realidade vivenciada pelo 
usuário, e o profissional realiza o atendimento residencial. Com a aplicação deste 
instrumento é possível o profissional compreender situações que dificilmente 
identificaria com atendimento institucional, possibilitando assim realizar 
encaminhamentos para sanar a dificuldade observada. 
Podemos citar como exemplo as condições de saneamento básico, 
habitacionais, higiene e cuidados pessoais. O profissional fica capacitado para 
realizar um estudo social da família, especificando situações verificadas no 
momento da visita técnica.
Nesta direção, Sousa (2008) aponta que “é de suma importância que o 
profissional que realiza a visita tenha competência teórica para saber identificar 
que as condições de moradia não estão descoladas das condições de vida de uma 
comunidade onde a casa se localiza, e que, por sua vez, não estão separadas do 
contexto social e histórico”. (SOUSA, 2008, p. 128).
Este instrumento pode ser realizado em conjunto com outras categorias 
profissionais, como psicólogos, pedagogos ou enfermeiros.
IMPORTANT
E
Acadêmico(a)! Não se esqueça de rever a discussão realizada no Caderno de 
Estudos Estratégias, Técnicas e Instrumentos da Ação Profissional I.
Bom estudo!
170
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
O QUÊ? Aplicar o instrumento de VISITA DOMICILIAR.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Este instrumento deve ser aplicado na residência do usuário. 
QUANDO? Tem por objetivo conhecer a realidade vivenciada pelo usuário. 
POR QUÊ?
Para poderem ser observados fatos e situações impossíveis de identificar em 
atendimento em outros espaços.
COMO?
O profissional se desloca até a residência do usuário, posteriormente realiza 
relatório de visita técnica. 
FONTE: As autoras
QUADRO 6 – APLICABILIDADE DA VISITA DOMICILIAR
2.1.6 Visita institucional
A visita institucional é muito parecida com a domiciliar. A diferença é que 
este instrumento é aplicado em organizações, entidades, fundações e empresas 
privadas e públicas.
Segundo Sousa (2008), são três as motivações que levam o assistente social 
a utilizar este instrumento como atuação prática:
1. quando o assistente social está trabalhando em uma determinada 
situação singular, e resolve visitar uma instituição com a qual o usuário 
mantém alguma espécie de vínculo;
2. quando o assistente social quer conhecer um determinado trabalho 
desenvolvido por uma instituição;
3. quando o assistente social precisa realizar uma avaliação da cobertura 
e da qualidade dos serviços prestados por uma instituição. (SOUSA, 
2008, p. 129).
O profissional, quando realiza esta técnica, tem como objetivo principal 
conhecer e avaliar a qualidade e existência de políticas sociais, públicas ou 
privadas. Este instrumento pode ser aplicado em conjunto com outros, como, por 
exemplo: reuniões, entrevistas e observações.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de VISITA INSTITUCIONAL.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Em espaços públicos ou privados (ONGs, empresas, órgãos municipais).
QUANDO?
O usuário utiliza algum espaço, ou para avaliação e conhecimento de políticas 
sociais.
POR QUÊ?
Pode existir a necessidade de aprofundar conhecimentos em relação à política 
social pública e privada.
COMO? Através de visita in loco, realizando relatório técnico com objetivo bem definido.
FONTE: As autoras
QUADRO 7 – APLICABILIDADE DA VISITA INSTITUCIONAL
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
171
FONTE: As autoras
QUADRO 6 – APLICABILIDADE DA VISITA DOMICILIAR
FONTE: As autoras
QUADRO 7 – APLICABILIDADE DA VISITA INSTITUCIONAL
2.1.7 Técnica de encaminhamento
Este instrumental exige que o profissional de serviço social tenha 
conhecimento das políticas públicas existentes no município de atuação, bem 
como a rede de serviços disponíveis para poder realizar esta ação.
A técnica de encaminhamento é considerada uma ponte de ligação de 
todas as ações realizadas pelo profissional. Esta não se caracteriza como uma 
ação principal, é sempre realizada em conjunto com outros instrumentos de 
competência do assistente social.
O QUÊ? Aplicar o instrumento ENCAMINHAMENTO.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Em todos os campos de atuação profissional.
QUANDO? O profissional verificar a necessidade de acesso a políticas sociais
POR QUÊ? Para garantir acesso a bens e serviços da rede pública. 
COMO?
Através de orientação e encaminhamento para as políticas públicas como 
forma de complemento de outras ações do problema identificado. 
FONTE: As autoras
QUADRO 8 – APLICABILIDADE DO ENCAMINHAMENTO
2.1.8 Perícia social
A perícia é um instrumento utilizado por outros profissionais, como o 
contador, por exemplo, que realizaa perícia contábil. Já a perícia social é uma análise 
completa e detalhada de determinada intervenção realizada pelo profissional de 
serviço social , que tem o intuito de realizar um parecer da problemática que está 
acompanhando. 
A perícia social tem como principal finalidade propor soluções das 
intervenções e situações apresentadas ao profissional. Este instrumento é muito 
utilizado no setor judiciário, em que a Justiça fará a intervenção em caso de violação 
de direitos, identificada pelo assistente social.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de PERÍCIA SOCIAL.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Em espaços de atuação, principalmente a área jurídica. 
QUANDO? Quando existir a necessidade de uma análise detalhada da problemática. 
POR QUÊ? Quando houver a necessidade de esclarecer uma situação social. 
COMO? Através de estudos da situação social. 
FONTE: As autoras
QUADRO 9 – APLICABILIDADE DA PERÍCIA SOCIAL
172
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
2.1.9 Parecer social
O parecer social retrata não somente a descrição, como é o caso dos 
relatórios, mas, sim, uma profunda análise da situação apresentada para o 
profissional. 
Neste instrumento deve constar a opinião técnica ou diagnóstico do 
assistente social, considerando a avaliação de outros instrumentos já aplicados, 
como observação, visita domiciliar e/ou atendimentos sociais realizados para 
conhecer a situação apresentada pelo usuário. 
Segundo Sousa (2008, p. 131),
A emissão de um parecer social pressupõe a existência de um relatório 
social (interno ou externo). Por razões óbvias: um profissional só 
pode emitir uma opinião sobre um fato que foi dito, no caso, escrito. 
Assim, o parecer é a conclusão de determinado trabalho – seja de 
um atendimento individual, seja de um conjunto de instrumentos 
utilizados durante determinado processo de intervenção.
Sendo assim, este instrumento é a conclusão de um trabalho realizado 
pelo assistente social, em que este pode fazer parte de um conjunto com outros 
instrumentos utilizados durante o processo de intervenção de determinada 
situação.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de PARECER SOCIAL.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE?
Pode complementar outros instrumentos, podendo ser utilizado em todos os 
campos de atuação. 
QUANDO? O profissional necessita dar sua opinião, com análise teórica. 
POR QUÊ? Existe a necessidade de opinião técnica do profissional. 
COMO? Em conjunto com outros instrumentos é a conclusão da realização da intervenção. 
FONTE: As autoras
QUADRO 10 – APLICABILIDADE DO PARECER SOCIAL
2.2 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE 
TRABALHO INDIRETOS OU “POR ESCRITO”
Os instrumentos serão descritos a seguir; estes instrumentos têm uma 
definição de comunicação ativa, ou seja, podemos considerá-los como formas de 
registro ou documentários por escrito do trabalho realizado pelo assistente social. 
Estas técnicas aplicadas pelo profissional permitem que outros 
profissionais ou agentes tenham acesso à intervenção realizada pelo assistente 
social.
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
173
FONTE: As autoras
QUADRO 10 – APLICABILIDADE DO PARECER SOCIAL
Para Sousa (2008): 
[...] a utilização dos instrumentos de trabalho por escrito também possui 
uma fundamental importância: é aqui que se torna possível ao assistente social 
sistematizar a prática. Todo o processo de registro e avaliação de qualquer ação 
é um conhecimento prático que se produz, e que não se perde, garantindo 
visibilidade e importância à atividade desenvolvida. 
Neste item abordaremos em forma esquemática como o assistente social 
aplica no seu dia a dia profissional o instrumental técnico-operativo. Ou seja, 
como são desenvolvidos e aplicados os instrumentos INDIRETOS do seu agir 
profissional.
2.2.1 Atas de reunião
Atas nada mais são do que registros de tudo o que foi deliberado, 
comentado ou apresentado em uma reunião. Estes registros por escrito são de 
extrema importância para deixar arquivo às tomadas de decisões e até mesmo 
como arquivos ou comprovação de que a reunião ocorreu.
O profissional de serviço social deve utilizar este instrumento, pois dará 
subsídios para discussões ou definições para aplicabilidade de intervenções 
identificadas e relatadas nas reuniões. 
O assistente social deve ter como prática o registro ou atas dos atendimentos 
realizados, sejam eles individuais ou coletivos.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de ATA DE REUNIÃO.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Pode ser aplicado em conjunto com outros instrumentos.
QUANDO? Sempre que forem realizadas reuniões ou atendimentos. 
POR QUÊ? Para que sejam registradas decisões e encaminhamentos deliberados na reunião.
COMO?
Através de documentos por escrito, e, no final da reunião, devem ser lidos e 
assinados por todos os participantes. 
FONTE: As autoras
2.2.2 Diário de campo
QUADRO 11 – APLICABILIDADE DA ATA DE REUNIÃO
Este instrumental é conhecido como uma ação pedagógica, em que é 
possível fazer uma avaliação do(a) acadêmico(a), onde pode ser verificada a 
forma de descrever, relatar, refletir, sugerir e fundamentar as ações descritas, 
além de poder relacionar a teoria com a prática. Este instrumental é considerado 
fonte de informação e registro, que pode contribuir para a construção de projetos 
de pesquisas, artigos, relatórios e até mesmo do Trabalho de Graduação (TG), 
apresentado no término do curso.
174
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
De acordo com Lewgoy e Arruda (apud LIMA, 2007, p. 95),
[...] o diário consiste em um instrumento capaz de possibilitar “o exercício 
acadêmico na busca da identidade profissional” à medida que, através 
de aproximações sucessivas e críticas, pode-se realizar uma “reflexão 
da ação profissional cotidiana, revendo seus limites e desafios”. É um 
documento que apresenta tanto um “caráter descritivo-analítico”, 
como também um caráter “investigativo e de sínteses cada vez mais 
provisórias e reflexivas”, ou seja, consiste em “uma fonte inesgotável de 
construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento profissional 
e do agir através de registros quantitativos e qualitativos”.
O diário de campo são anotações realizadas pelo profissional de acordo 
com ações realizadas na sua atuação prática; nada mais é do que um relato das 
atividades que o profissional ou acadêmico desenvolveu, porém este relato tem 
fundamentação teórica e análise crítica.
O QUÊ? Aplicar o instrumento de DIÁRIO DE CAMPO.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE?
Pode ser utilizado e aplicado em todos os campos de atuação, pode ser 
aplicado por profissionais e acadêmicos. 
QUANDO? Em todas as atividades e ações desenvolvidas pelo profissional.
POR QUÊ? Como forma de registro e análise da atuação prática.
COMO? Através de registros e fundamentação teórica, relacionando teoria e prática.
FONTE: As autoras
QUADRO 12 – APLICABILIDADE DO DIÁRIO DE CAMPO
DICAS
Acadêmico(a)! Para melhor compreensão deste instrumento, que será aplicado 
durante o curso no período de estágio, vocês podem se aprofundar lendo o artigo “A 
documentação no cotidiano da intervenção dos assistentes sociais: algumas considerações 
acerca do diário de campo”.
Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/
viewFile/1048/3234>. Acesso em: 24 fev. 2010.
2.2.3 Relatório social
Este instrumental é utilizado pelo profissional para registrar informações, 
sejam elas para o próprio assistente social, ou para outros profissionais, como é 
o caso de instituições que desenvolvem trabalho com equipes multiprofissionais, 
onde todos terão acesso às informações ou histórico da intervenção realizada com 
determinada família ou usuário.
TÓPICO 2 | O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL
175
FONTE: As autoras
QUADRO 12 – APLICABILIDADE DO DIÁRIO DE CAMPO
De acordo com Sousa (2008, p. 130),o relatório social pode descrever 
todas as atividades desenvolvidas pelo profissional (relatório de atividades). Os 
diferentes relatórios sociais são os instrumentos privilegiados para sistematização 
da prática do assistente social.
Sendo assim, o relatório social não é um relatório comum. Segundo 
Souza, “repõe o debate sobre a inserção do serviço social na divisão do trabalho”, 
na qual um “profissional trabalha com as diferentes manifestações, na vida social, 
da questão social”. Ou seja, “os dados relatados são de natureza social, isto é, as 
informações que dizem respeito a essas características”. (SOUSA, 2008, p. 130).
O QUÊ? Aplicar o instrumento de RELATÓRIO SOCIAL.
QUEM? O profissional assistente social.
ONDE? Em todos os espaços de atuação profissional.
QUANDO? Sempre que tiver a aplicabilidade de instrumentos de natureza social.
POR QUÊ? Registro de informações sociais que subsidiam a compreensão profissional. 
COMO? Através de documento escrito, registrando intervenções de origem social.
FONTE: As autoras
QUADRO 13 – APLICABILIDADE DO RELATÓRIO SOCIAL
176
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
DICAS
Para aprofundamento 
dos temas abordados, sugiro que 
você leia os seguintes livros:
LEITURA COMPLEMENTAR
O ASSISTENTE SOCIAL
O profissional de serviço social realiza um trabalho essencialmente 
socioeducativo e está qualificado para atuar nas diversas áreas ligadas à condução 
das políticas sociais públicas e privadas, tais como planejamento, organização, 
execução, avaliação, gestão, pesquisa e assessoria. 
O seu trabalho tem como principal objetivo responder às demandas dos 
usuários dos serviços prestados, garantindo o acesso aos direitos assegurados na 
Constituição Federal de 1988 e na legislação complementar. Para isso, o assistente 
social utiliza vários instrumentos de trabalho, como entrevistas, análises sociais, 
relatórios, levantamento de recursos, encaminhamentos, visitas domiciliares, 
dinâmicas de grupo, pareceres sociais, contatos institucionais, entre outros.
O assistente social é responsável por fazer uma análise da realidade 
social e institucional, e intervir para melhorar as condições de vida do usuário. 
A adequada utilização desses instrumentos requer uma contínua capacitação 
profissional que busque aprimorar seus conhecimentos e habilidades nas suas 
diversas áreas de atuação. 
FONTE: Disponível em: <http://www.cressrj.org.br/>. Acesso em: 24 mar. 2010.
177
Neste tópico estudamos os instrumentos de trabalho utilizados pelo 
profissional de serviço social na sua prática cotidiana, e foram abordados os 
seguintes itens:
• Observação: faz com que o profissional observe o comportamento e os 
posicionamentos dos usuários.
• Entrevista individual e grupal: é uma relação estabelecida entre profissional 
e usuário, busca compreender, identificar ou constatar uma situação, o 
profissional emite sua opinião.
• Dinâmica de grupo: o profissional realiza a mediação e controla o processo, 
além de provocar reflexão e análise entre os participantes.
• Reunião: consiste em tomada de decisão coletiva.
• Visita domiciliar: o profissional procura compreender situações que dificilmente 
identificaria com atendimento institucional, ficando possível a realização de um 
estudo social da família.
• Visita institucional: o profissional tem como objetivo conhecer e avaliar a 
qualidade e a existência de políticas sociais em espaços institucionais.
• Técnica de encaminhamento: é uma ponte de ligação de todas as ações realizadas 
pelo profissional, não é uma ação principal.
• Perícia social: tem como finalidade propor soluções para as problemáticas 
apresentadas pelo usuário. É muito utilizada no setor judiciário.
• Parecer social: considera-se a conclusão de um trabalho realizado, faz parte de 
um conjunto de instrumentos utilizados durante a intervenção.
• Atas de reunião: dão subsídios para a discussão ou definições para intervenção 
que foram identificadas durante a reunião.
• Diário de campo: anotações da prática profissional, contendo fundamentação 
teórica e análise crítica.
• Relatório social: registro de informações e das atividades realizadas pelo 
profissional, pode ser considerada a sistematização da prática do assistente 
social.
RESUMO DO TÓPICO 2
178
AUTOATIVIDADE
1 Leia a questão proposta e responda ao que se pede.
Sou um assistente social que atua em uma comunidade de expressivas 
questões de vulnerabilidade social e econômica. Num determinado dia chega, 
para atendimento, uma mulher de aproximadamente 40 anos, mãe de 4 filhos, 
todos com menos de 14 anos e se encontram fora da escola, vítima de violência 
doméstica causada pelo marido, que a abandonou quando descobriu que sua 
mulher havia se inserido no mercado de trabalho. A usuária apresenta problema 
grave de saúde que necessita de medicação controlada e contínua, além de 
cirurgia, porém não está conseguindo realizar através do Sistema Único de 
Saúde. 
Enquanto acadêmico(a) do curso de serviço social , descreva quais são os 
instrumentos que o profissional deve aplicar e quais encaminhamentos devem 
ser realizados para garantir o direito desta usuária e o de seus filhos.
179
TÓPICO 3
OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO 
PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
“A vida é a arte das escolhas, dos sonhos, dos desafios e da ação”.
J. A. Wanderley
Agora trabalharemos outros aspectos correlacionados aos instrumentos 
da ação profissional do assistente social, como a questão da mediação.
A discussão da categoria mediação é, de acordo com Stanck (2003, p. 
25), “[...] sem dúvida, uma das discussões mais complexas já trazidas para o 
interior do serviço social e tem merecido constantes reflexões entre os principais 
teóricos da área, relacionada à tradição marxista e lukacsiana.” A categoria 
mediação é idealizada “como categoria metodológica que, ao mesmo tempo 
em que possibilita a apreensão do movimento da realidade concreta, possibilita 
transformá-la, evidenciando os processos internos, ou seja, as relações existentes 
na dinâmica da história, marcada pelo contraditório.”
2 MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NA MEDIAÇÃO 
DE CONFLITOS
Segundo Battaglia (2001, p. 1), “a mediação é uma metodologia de 
resolução de conflitos aplicável aos mais diferentes campos de atuação.” E, 
portanto, os profissionais do serviço social também o utilizam como estratégias 
de enfrentamento de conflitos sociais.
Mas, primeiramente precisamos compreender, segundo Stanck (2003, p. 
25), que a mediação “passa a ter um sentido historicamente concreto a partir das 
concepções trazidas por Marx na teoria social. Nesta teoria marxista a mediação 
é entendida como uma categoria ontológica e reflexiva”. De acordo com Pontes, 
(2000, p. 41), a mediação “é ontológica porque está presente em qualquer 
realidade independente do sujeito; é reflexiva porque a razão, para ultrapassar 
o plano da imediaticidade (aparência) em busca da essência, necessita construir 
intelectualmente mediações para reconstruir o próprio movimento do objeto”.
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
180
A mediação só existe dentro dos complexos contraditórios da totalidade. 
(STANCK, 2003, p. 26).
ATENCAO
Mas, o que é MEDIAÇÃO?
De acordo com Michelon (2001, p. 4, grifo nosso):
A MEDIAÇÃO nada mais é do que uma negociação assistida, diz a 
Dra. Zulema Wilde, juíza da Corte de Apelação Cível da Argentina e mediadora.
Mas essa assistência:
- tem de seguir UM PROCEDIMENTO;
- tem de utilizar técnicas de resolução de conflitos que procurem 
alcançar um acordo embasado nos interesses reais dos indivíduos envolvidos, 
uma vez que eles mantêm seu poder de decisão, porque são eles – e não o 
mediador – que devem chegar à solução do problema.
NEGOCIAÇÃO ASSISTIDA? Do que se trata esta negociação?
FONTE: Disponível em: <www.facadiferente.sebrae.com.br/..>. Acesso em: 24 mar. 2010.
FIGURA 10 – NEGOCIAÇÃOTÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
181
FONTE: Disponível em: <www.facadiferente.sebrae.com.br/..>. Acesso em: 24 mar. 2010.
FIGURA 10 – NEGOCIAÇÃO
Será que os assistentes sociais estão realmente preparados para realizar 
uma boa negociação? Ou uma boa mediação?
Neste sentido, o processo de negociação se encontra presente em 
praticamente todas as relações entre pessoas e entidades ou entre pessoas e 
pessoas, abrangendo as mais diversas situações da vida e do cotidiano social e 
organizacional, principalmente na mediação de conflitos, tais como citamos a 
seguir:
• entre pais e filhos; 
• entre esposa e marido;
• entre irmãos;
• entre famílias ou grupos familiares;
• entre colegas, pares, amigos, companheiros;
• entre patrões e empregados;
• entre setores de uma sociedade;
• entre quem produz e quem consome;
• entre quem tem e quem não tem;
• etc.
Como o nosso foco são as mediações de conflitos, principalmente as sociais, 
salientamos que o sucesso de qualquer profissional, seja assistente social ou não, 
está totalmente dependente da sua habilidade em negociar, principalmente de 
negociar bem para o alcance dos resultados esperados. O ambiente dos conflitos 
sociais é uma grande mesa de negociação e relacionamento, na qual os profissionais 
do serviço social estão em constante negociação. Eles negociam com os usuários 
de uma determinada política pública ou social, seus superiores institucionais e 
colegas de trabalho.
“A negociação é uma ciência na qual cada lado tenta maximizar o resultado 
para si e deixar o outro lado com a sensação de ter feito um bom negócio.” (Marcio Miranda)
ATENCAO
Precisamos estar cientes de que o êxito do assistente social em negociar 
está intimamente ligado aos resultados de sua vida profissional e pessoal, 
determinando se ele prosperará ou se terá frustrações em seu convívio profissional 
ou pessoal.
Agora, para compreendermos melhor este processo de negociação 
assistida em uma mediação de um determinado conflito social, vejamos a seguinte 
história apresentada no livro: Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, de 
Stephen Covey (2005).
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
182
O LENHADOR
Nas montanhas do Canadá, havia um mestre lenhador. Certo dia, ele 
foi procurado por um rapaz de preparo físico notável, que lhe disse:
“Quero aprender a cortar árvores, quero me tornar lenhador como o 
senhor”.
O mestre aceitou, de pronto: “Volte amanhã e vou lhe ensinar meu 
ofício”.
Lá pelo terceiro mês de aprendizado, para o espanto do mestre lenhador, 
o jovem lhe disse: “Aprendi o que tinha de aprender. Já sou um lenhador, um 
bom lenhador. Na verdade, acho que sou o melhor lenhador do Canadá”.
Diante do olhar incrédulo do mestre, foi mais longe, lançando-lhe um 
desafio. “Vamos delimitar duas glebas de terra, com a mesma quantidade de 
árvores cada, e cortar. Quem primeiro derrubar a última árvore é o mais rápido 
e, portanto, o melhor”, propôs.
E assim aconteceu.
No início, o jovem, com mais disposição e uma velocidade incrível, 
abriu vantagem sobre o mestre. De vez em quando, lançava um olhar para 
a gleba vizinha e observava intrigado que este fazia pequenas paradas para 
descansar. “Moleza. Vai ser fácil”, pensava consigo.
No entanto, o sol nem havia se posto por completo no horizonte e o 
mestre derrubava sua última árvore, enquanto o rapaz ainda tinha algumas 
pela frente. Surpreso, ele correu até o mestre:
“Como o senhor cortou mais rápido do que eu!?! É impossível, não 
consigo entender. Não parei um só minuto e vi que o mestre parava toda hora 
para descansar!!!”.
Então, o lenhador mais velho olhou nos olhos do jovem e lhe transmitiu 
sua derradeira, e talvez mais importante, lição: “Cada vez que eu parava para 
descansar, aproveitava para afiar os machados”.
Esta história mostra que nós precisamos nos preparar para negociar de 
forma profissional: desde as negociações mais simples até as mais complexas e 
vultosas, e assim contribuir para o processo de mediação dos conflitos sociais.
Outra coisa fundamental para o assistente social é o constante 
aperfeiçoamento, para ser um profissional cada vez mais qualificado em sua 
práxis profissional. Os assistentes sociais também devem realizar aperfeiçoamento 
constante em negociação e mediação, mesmo para profissionais com larga 
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
183
experiência na práxis profissional, pois as realidades sociais e seus conflitos estão 
em constantes transformações.
Nas pequenas ou grandes negociações, o que faz a diferença é a atitude. 
Você pode agir cegamente, ou se preparar, negociando de maneira metódica 
e planejada, sempre objetivando os melhores resultados para a mediação em 
que está trabalhando. A questão que se coloca é como podemos negociar com 
a máxima efetividade, de modo a trazer resultados positivos para os conflitos 
sociais.
“A negociação é um processo social utilizado para resolver conflitos em 
situações em que não existem regras, tradições, fórmulas, ‘métodos racionais’ ou o poder de 
uma autoridade.” (Marcio Miranda)
ATENCAO
As negociações acontecem no momento em que as partes envolvidas 
estejam dispostas a realizar uma troca; ela acontece o tempo todo em torno deste 
princípio, de acordo com a regra de que é preciso dar antes de receber.
IMPORTANT
E
O PONTO-CHAVE ESTÁ NAS CONCESSÕES e na premissa de que ambas as 
partes devem obter vantagens para se ter uma boa negociação.
Mas o PONTO DE CONEXÃO na mediação, segundo Battaglia (2001, 
p. 1), “ocorre na maneira de considerar as ideias das partes envolvidas. Na 
verdade, as soluções são criadas e encontradas pelas partes e não pelo mediador. 
O mediador tem somente o papel de facilitador das relações e da profusão de 
ideias criativas e exequíveis”. 
Então, podemos dizer, segundo Michelon (2001, p. 5, grifo nosso), que a 
mediação
É um processo extrajudicial de resolução de conflitos, no qual um 
terceiro, imparcial, dá assistência às pessoas em conflito, com a finalidade 
de que possam manter uma comunicação produtiva à procura de um acordo 
possível para elas.
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
184
É UM PROCESSO – porque tem um desenvolvimento lógico e 
organizado;
É EXTRAJUDICIAL – porque está fora do Judiciário, isto é, as partes 
é que escolhem o mediador. Mas, frise-se, não colide, nem compete com o 
processo judicial. É mais um meio de resolução de conflitos;
TERCEIRO IMPARCIAL – é aquela pessoa ou aquelas pessoas que, de 
maneira neutra, auxiliam as partes em conflito a buscar uma solução que seja do 
interesse de ambas;
COMUNICAÇÃO PRODUTIVA – o mediador deve levar as partes a se 
expressarem de forma clara. A explicitarem o conflito. O mediador abre o canal 
de comunicação entre as pessoas envolvidas.
Em muitos casos, tem-se observado que aquilo que ocasionou o conflito 
é a impossibilidade de conversar ou a errônea interpretação do que foi dito, por 
isso, a tarefa primeira do mediador é fazer com que as partes restabeleçam a 
comunicação. Que apareça o real interesse das partes.
É necessário, outrossim, que o mediador faça com que as partes 
entendam que uma deve ESCUTAR a outra.
ACORDO POSSÍVEL – O objetivo da mediação é que as partes cheguem 
a um acordo. Que esse acordo seja produtivo para as partes, isto é, que suas 
NECESSIDADES e INTERESSES fiquem satisfeitos.
Essas considerações devem ser levadas à mesa de negociação na primeira 
reunião, quando será dito, inclusive, que o ACORDO dependerá essencialmente 
das partes, uma vez que o mediador que ali se encontra é um mero FACILITADOR 
do processo, que o mediador não está ali para dar soluções prontas, está ali para 
auxiliá-las na busca do resultado mais produtivo para ambas.
A mediação, segundo Battaglia (2001, p. 1), “é um instrumento de resolução 
de conflitos bastante utilizado em diversos países,como Estados Unidos, Canadá, 
China, França, Inglaterra, Noruega, Espanha, Argentina, Brasil e México. Em alguns 
deles, por mais de 30 anos”. 
Mas quando o serviço social utiliza pela primeira vez a categoria 
mediação?
Segundo Stanck (2003, p. 26, grifo nosso), “o serviço social passa a utilizar-
se da categoria mediação a partir do movimento de RECONCEITUAÇÃO, 
mais especificamente a partir da década de 80, momento em que houve um 
aprofundamento teórico-metodológico da profissão, com base no método 
dialético marxista”. 
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
185
A mediação, segundo Pontes (2008, p. 95), “é introduzida inicialmente 
no discurso dos assistentes sociais pela via da análise política, da sua articulação 
no bojo das políticas sociais e de sua inserção socioprofissional. [...] enquanto 
categoria teórica”. 
Pontes (2008, p. 97) ressalta que a “categoria de mediação constitui-se 
num divisor de águas, no plano metodológico, [...] na concepção dialética é a 
existência da categoria de mediação em face da totalidade concreta que permite 
apreender o envolver dos fenômenos do real o que no quadro categorial das 
outras formulações é uma grande limitação.”
Mas, quais as CARACTERÍSTICAS da mediação?
Stanck (2003, p. 26, grifo nosso) expõe que a mediação é um 
“COMPONENTE ESTRUTURAL DO SER SOCIAL”, intrínseca nos complexos 
contraditórios, o profissional de serviço social passou a utilizá-la para explicar, 
entender e intervir em uma determinada realidade, a fim de transformá-la.
A mediação, como TÉCNICA, segundo Battaglia (2001, p. 1):
[...] vem suprir um espaço anteriormente ocupado pelas pessoas mais 
velhas da comunidade ou da família. Com as transformações na modernidade 
das organizações sociais, este espaço se tornou vazio. Além desse fato, algumas 
transformações também ocorreram tanto em relação à causa dos conflitos, 
como em relação às habilidades necessárias para solucioná-lo. 
Martinelli (1993, p. 136) expõe que:
[...] as mediações são categorias instrumentais pelas quais se processa 
a operacionalização da ação profissional. Expressam-se pelo conjunto 
de instrumentos, recursos, técnicas e estratégias e pelas quais a ação 
profissional ganha operacionalidade e concretude. São instâncias de 
passagem da teoria para a prática, são vias de penetração nas tramas 
constitutivas do real. Neste sentido, a própria prática do profissional 
é uma mediação, pois coloca em movimento toda uma cadeia de 
vínculos na relação totalidade/particularidade, tendo em vista a 
superação da realidade social concreta. 
A mediação é VOLUNTÁRIA, segundo Michelon (2001, p. 5), 
Os litigantes não são obrigados a negociar, a mediar ou a fazer acordo, 
influenciados por alguma parte interna ou externa. As partes aderem livremente 
ao processo e dele podem, também, livremente sair. Não há nenhuma norma 
legal que obrigue qualquer das partes a aderir a um processo de mediação. Nem o 
mediador tem autoridade para impor uma solução às partes.
Em relação à CAUSA DOS CONFLITOS, segundo Battaglia (2001, 
p. 1), pode-se “constatar que inicialmente eles se davam pela impossibilidade 
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
186
de consenso, enquanto atualmente ocorrem pela dificuldade de se lidar com a 
diferença”. 
Quanto às HABILIDADES DO MEDIADOR, elas “[...] se deslocam do 
antigo lugar de terceiro de bom senso que aconselha as partes ou valida uma ou 
outra, para a de facilitador que cria condições para o diálogo sempre que as partes 
envolvidas não consigam concretizá-lo sozinhas”. (BATTAGLIA, 2001, p. 1).
A mediação então
[...] torna-se um recurso confidencial, importante para a resolução de 
conflitos nas situações que envolvam diferentes interesses, assim como 
a necessidade de negociá-los. Embora, em alguns países, ocorra uma 
intimação judicial às partes para que recorram à mediação, utilizo-a 
em minha prática como um processo necessariamente voluntário, no 
qual a responsabilidade pela construção das decisões cabe às partes 
envolvidas. É exatamente neste ponto que a mediação se diferencia da 
resolução judicial, onde a decisão é transferida a um terceiro, o juiz. 
(BATTAGLIA, 2001, p. 1).
Alguns dos GRANDES BENEFÍCIOS deste recurso, segundo Battaglia 
(2001, p. 1-2), são: 
- rapidez e efetividade de resultados; 
- redução de desgaste emocional e de custo financeiro; 
- garantia de privacidade e sigilo; 
- alternativa à arbitragem e processo judicial; 
- redução de duração e reincidência dos litígios; 
- facilitação da comunicação e promoção de ambientes cooperativos; 
- transformação e melhoria das relações. 
Outro aspecto extremamente IMPORTANTE na mediação, segundo 
Battaglia (2001, p. 2), “é o fato de que suas estratégias objetivam, além da resolução 
de conflito propriamente dito, a prevenção e a aprendizagem de novas maneiras 
de resolução de conflitos, promovendo um ambiente propício à colaboração, 
possibilitando que relações continuadas perdurem de forma positiva.” 
Estas HABILIDADES, segundo Battaglia (2001, p. 2): 
[...] podem ser treinadas e utilizadas por qualquer pessoa que participe 
de contexto de conflito. Contudo, como Terapeutas da Abordagem Centrada 
na Pessoa e Facilitadores de Grupos, encontramos certamente uma maior 
facilidade na maneira de manejar o processo de mediação transformativa, quer 
seja nos âmbitos sociais, políticos, transculturais, educacionais, empresariais 
ou jurídicos.” 
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
187
A APLICABILIDADE da mediação, segundo Battaglia (2001, p. 2): 
[...] abrange todo e qualquer contexto de convivência capaz de produzir 
conflitos. Podem se beneficiar deste recurso impasses políticos e étnicos 
(nacionais e internacionais), questões trabalhistas e comerciais (locais 
ou de mercados comuns), empresas, escolas, famílias, comunidades e 
instituições. 
Os BENEFÍCIOS possíveis para os participantes de uma mediação “[...] 
serão a incorporação de novas maneiras de resolução de conflitos, onde ambos 
constroem suas próprias soluções e passam a funcionar com mais esta alternativa 
em suas vidas próprias, através de uma meta-aprendizagem”. (BATTAGLIA, 
2001, p. 2).
O MEDIADOR TEM O PROPÓSITO, segundo Michelon (2001, p. 5): 
[...] de auxiliar na resolução do problema que trazem, mas são as 
partes que devem encontrar a solução ou as soluções desse problema. Quando 
chegarem a um acordo que seja possível, será lavrado um TERMO DE 
ACORDO. Se não chegarem a um acordo, estão livres para procurar outros 
meios de resolução de disputa que considerem apropriados. 
Para o mediador, o PRINCIPAL BENEFÍCIO 
“[...] é promover a reflexão e a reformulação de sua maneira de atuar 
nas resoluções de conflito. Tornam-se mais claramente delimitados os limites 
e as possibilidades na relação entre mediador e mediado. Possibilitar maior 
autonomia, expressão pessoal e corresponsabilidade das partes na construção 
de suas alternativas e decisões passa a ser, cada vez mais, seu foco de ação”. 
(BATTAGLIA, 2001, p. 2).
Pontes (2008, p. 177) expõe que: 
 
O profissional de serviço social atua com e nas mediações. [...] o 
assistente social não é uma das mediações ou um mediador no 
fazer do serviço social , como querem alguns autores, mas sim é um 
articulador e potencializador de mediações. Numa palavra, ele atua 
nos sistemas de mediações que infibram as refrações da ‘questão 
social’ constitutivas de demandas sociais à profissão. 
O mesmo autor complementa expondo que: 
O trabalho, com as mediações e nas mediações, conduz à compreensão 
de que este movimento de dessingularização, universalizador, 
deve caminhar no sentido da particularização daquelas situações 
problemáticas. Esta particularização garante a dimensão insuprimível 
da singularidade e a necessária visão de totalidade social 
(universalidade), possibilitando ao agente garantir, em tese, tantoas 
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
188
respostas tecnicamente necessárias no plano do imediato (garantindo 
acesso aos serviços sociais) quanto desdobramentos mais mediatos no 
plano da conscientização mútua (profissional e usuário-cidadão) e da 
organização dos segmentos excluídos. (PONTES, 2008, p. 184-185). 
 Portanto, segundo Stanck (2003, p. 28): 
A compreensão da categoria mediação é imprescindível para a 
intervenção do profissional de serviço social e é a partir dela que o assistente 
social deve efetivar sua prática. Porém, o direcionamento das ações de cada 
profissional dependerá da sua leitura da realidade e do seu projeto ético-político 
e das correlações de força socioinstitucionais. Sendo assim, sua intervenção 
poderá se dar no sentido da preservação do sistema vigente, que é excludente, 
injusto, desigual, ou na busca de alternativas para a criação de uma rede de 
inclusão social, onde efetivamente possa haver justiça social.
LEITURA COMPLEMENTAR 1
MEDIAÇÕES... PARA QUÊ?
Vanessa Vasconcelos Pereira
Para o serviço social se tornam expressivas referências às mudanças no 
mundo do trabalho, ao papel do Estado e à composição e dinâmica das classes 
sociais enquanto categorias explicativas dos processos macrossociais que afetam 
e/ou determinam mudanças na experiência profissional do assistente social. 
Especificamente, esses impactos ocorrem em dois planos: um, mais visível e 
imediato, relaciona-se com questões que recaem diretamente sobre o exercício 
profissional; o outro, mais amplo e complexo, refere-se tanto ao surgimento de 
novas problemáticas que podem ser mobilizadoras de competências profissionais 
estratégicas, como a elaboração de proposições teóricas, políticas, éticas e técnicas 
que possam se apresentar como respostas qualificadas ao enfrentamento das 
questões que lhe são postas.
Cabe, ao serviço social , refazer teórica e metodologicamente o caminho 
entre a demanda e as suas necessidades fundantes, situando-as na sociedade 
capitalista contemporânea, com toda sua complexidade. “A profissão de serviço 
social , como tantas outras, é determinada socialmente a partir da relação entre 
divisão social do trabalho e atendimento de necessidades sociais” (MOTTA, 1987, 
p. 27).
Assim, as profissões se criam a partir de necessidades sociais e se 
desenvolvem na medida da sua utilidade social, vindo a institucionalizar 
práticas profissionais reconhecidas socialmente. Devem ser capazes de 
PROBLEMATIZAR as demandas para apreender o conjunto de mediações que 
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
189
expressam a vinculação entre as “reais necessidades” e as exigências do mercado 
de trabalho profissional, é o passo inicial para a construção dos objetos e 
objetivos estratégicos da ação profissional. Uma vez que se ater às demandas do 
mercado de trabalho profissional postas pela reestruturação produtiva é esquecer 
que: “as necessidades sociais referidas às demandas são mera aparência que não 
expressam as necessidades sociais reais da classe trabalhadora, e inclusive as 
transfigura em seu conteúdo.”(MOTTA, 1999, p. 35 apud HELLER, 1987, p. 82).
Para a apreensão das reais necessidades, se faz necessário que haja uma 
relação entre teoria e prática. Teoria e prática constituem aspectos inseparáveis 
do processo de conhecimento e devem ser consideradas na sua unidade, levando 
em conta que a teoria não só se nutre na prática profissional e histórica, como 
também representa uma força transformadora que indica à prática os caminhos 
da transformação. 
São indissociáveis, uma vez que a prática é o fundamento da teoria, ou 
seja, o ponto de partida e a base principal e substancial do conhecimento. O 
próprio conhecimento se desenvolve com base na prática, pois o conhecimento 
e as ciências surgem e se desenvolvem devido às necessidades da prática, às 
necessidades da vida. Na prática colocam-se à prova os conceitos e as teorias, 
estabelecem-se a sua veracidade ou falsidade, precisam-se e sistematizam-se os 
conhecimentos. Não se pode ter uma prática profissional fundamentada só na 
prática, uma vez que:
As ideias necessárias à cotidianidade jamais se elevam ao plano da 
teoria, do mesmo modo como a atividade cotidiana não é práxis [...] 
na cotidianidade a atividade individual não é mais do que uma parte 
da práxis, da ação total da humanidade que, construindo a partir de 
um dado, produz algo novo, sem, com isso, transformar em novo o já 
dado. (HELLER, 1985, p. 32).
A vida cotidiana se desenvolve em meio a muitas e variadas atividades 
econômicas, políticas, sociais e culturais; são essas atividades que preenchem 
grande parte dos seus interesses e preocupações. Essa é a nossa realidade imediata, 
nela os trabalhadores vivem situações-problema e necessidades, sempre situadas 
em um contexto econômico, político, ideológico e histórico mais amplo.
Estas necessidades, situações e tarefas que surgem da realidade imediata 
e da realidade nacional não estão separadas entre si. O trabalho, a vida cotidiana, 
a conjuntura nacional, a situação estrutural de nossa sociedade, formam um todo 
articulado.
Longe da tradição positivista, uma ação profissional reconstrói 
metodologicamente o caminho entre a demanda objetivada e as 
relações que a determinam. É este movimento que garante, na 
particularidade de cada ação profissional, a reconstrução dos seus 
objetos de intervenção e das suas estratégias de ação... até chegar ao 
ponto de partida, mas desta vez não como uma representação caótica 
do todo, porém com uma rica totalidade de determinações e relações 
diversas. (MOTA, 1999, p. 48).
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
190
O assistente social, ao aperceber-se da existência desses vínculos, de suas 
relações e contradições, enfim, desses imbricamentos, pode desenvolver a sua ação 
profissional de modo mais crítico, na medida em que supera a leitura do aparente 
imediato e dá conta da totalidade:
[...] essencialmente processual, dinâmica, cujos complexos, em 
interação mútua, possuem um imanente movimento. No limite, 
esse movimento produz uma dada legalidade social, historicamente 
determinada e determinante. Atua na particularização das relações 
entre os vários complexos do ser social. (PONTES, 2007, p. 81).
Para se conhecer essa totalidade se faz necessário partir da prática, 
teorizar sobre ela e voltar à prática para transformá-la, ou seja, partir do concreto, 
realizar um processo de abstração, entendida como “a capacidade que a razão 
humana tem de ultrapassar a imediaticidade, captando as conexões submersas 
na imediaticidade do real” (PONTES, 2007, p.69) e regressar ao concreto para 
transformá-lo, esse é o processo dialético do conhecimento. Este processo que 
vai da prática à teoria é, certamente, muito mais complexo que “fazer uma 
reflexão sobre uma ação ou situação”. Implica exercitar e desenvolver distintas 
capacidades intelectuais.
A compreensão teórica deve se verificar novamente na prática para 
confirmar sua validade e sua verdade. O conhecimento não retorna, entretanto, à 
sua antiga forma de percepção de situações isoladas, mas enriquecido com uma 
capacidade de interpretação mais rica e valiosa destes mesmos. Compreender as 
contradições nos permitirá regressar à nossa realidade imediata com elementos 
de orientação sobre o que fazer para resolvê-las. Estes elementos nos permitirão 
definir uma prática transformadora.
O agente social, ao entranhar-se com suas ações sociais no cerne das 
relações, dá-lhes uma direção de forma crítica e alienada. Ao imprimir 
uma direção alienante, tende a mistificá-las e homogeneizá-las, 
caracterizando-as de forma fetichizada e aparente, que em síntese, é 
também uma forma de desapropriação do real crítico. (OLIVEIRA, 
1988, p. 82).
O desvelamento do significado real dos serviços prestados e não 
significados, fetichizados pelos interesses docapital, apresenta-se como 
importante campo de luta para os trabalhadores em geral e para os assistentes 
sociais em particular, dada a sua inserção neste terreno. É necessário “desvelar 
e decifrar o movimento histórico-social contemporâneo da ordem burguesa; sua 
estrutura, sua dinâmica, suas tendências; o que importa é empenhar a razão teórica 
como iluminadora dos processos constituintes desta socialidade determinada”. 
(NETTO, 2001, p. 33). A compreensão dos processos e complexos inerentes a essa 
ordem pressupõe a penetração em categorias sociais cada vez mais complexas.
Aqui se localiza o DESAFIO CENTRAL PARA O assistente social, que é 
o de fazer a crítica dos fundamentos da cotidianidade tanto daquela em que ele 
se encontra inserido quanto a do cotidiano dos sujeitos sociais a quem presta 
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
191
serviços, o que significa examinar os fundamentos, analisá-los, reconhecê-los, 
para transcendê-los. O profissional consegue transcender quando se apodera da 
categoria mediação, que “dá a visibilidade panorâmica do sentido da palavra 
dialética, porque deixa transparentes as articulações categoriais do ‘núcleo’: a 
totalidade, a negatividade e a mediação se imbricam num todo complexo, lógico 
e coerente”. (PONTES, 2007, p. 56).
Cabe ressaltar que o assistente social NÃO É UM “MEDIADOR”, não 
realiza mediações, uma vez que “a categoria de mediação não é uma estrutura 
nascida nas ‘maquinagens do intelecto’, mas, de fato, [...] ela é componente 
estrutural do ser social”. (PONTES, 2007, p. 77). Não cabe ao assistente social 
“criar” mediações, uma vez que elas são expressões históricas das relações que 
o homem edificou com a natureza e, consequentemente, das relações sociais daí 
decorrentes, nas várias formações sócio-humanas que a história registrou.
“Não pode existir nem na natureza, nem na sociedade, nenhum objeto 
que neste sentido [...] não seja mediato, não seja resultado de mediações. Deste 
ponto de vista a mediação é uma CATEGORIA OBJETIVA, ONTOLÓGICA, 
que tem que estar presente em qualquer realidade, independente do sujeito.” 
(PONTES, 2007, p. 79 apud LUKÁCS, 1979).
O recurso à categoria de mediações foi presidido pela pressão das 
demandas postas pela realidade à profissão, que forçaram a necessidade de 
um amadurecimento teórico para levar a cabo a tarefa de avanço profissional, 
provocada pelos impulsos da própria realidade. A mediação permite à razão 
construir categorias para auxiliar a compreensão e ações profissionais e supera 
a dicotomia entre teoria e prática, uma vez que se processam mediações entre 
teoria e prática e vice-versa.
 MEDIAÇÃO é o que diferencia um exercício profissional crítico das 
práticas assistenciais, voluntaristas, desenvolvidas por leigos e por ações 
voluntárias. Para a superação da confusão acerca da imagem social com a ação 
prestada por leigos de “boa vontade”, deve-se fazer a crítica ontológica do 
cotidiano, de modo que possamos tornar nossa prática profissional consciente.
Ao clarificar seus objetivos sociais, [...] compreender o significado 
real da profissão no contexto da sociedade capitalista, escolher 
crítica e adequadamente os meios éticos para o alcance de fins éticos, 
orientados por um projeto profissional crítico, os assistentes sociais 
estão aptos, em termos de responsabilidade, a realizar uma intervenção 
profissional de qualidade, competência e compromisso indiscutíveis. 
(GUERRA, 2007, p. 15).
O assistente social deve perceber a realidade como totalidade, de modo 
a perseguir suas mediações, apanhar as contradições do real não como vício do 
pensamento, mas como possibilidades inerentes à própria realidade pelas quais 
o profissional poderá fazer a leitura da realidade e em tais contradições captar 
as possibilidades de intervenção e as perspectivas de seu enfrentamento. Assim, 
UNIDADE 3 | A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
192
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A AÇÃO INVESTIGATIVA NA PRÁTICA COTIDIANA DO ASSISTENTE 
SOCIAL 
Vera Lucia Tieko Suguihiro
Está sempre nos debates dos profissionais de serviço social a questão da 
busca de um projeto de intervenção que dê um novo significado à profissão, de 
modo a responder, de forma não apenas coerente teoricamente, mas também com 
eficiência, às demandas socioprofissionais que lhes são colocadas.
Essa busca de novos caminhos apoia-se na verificação de que, via de regra, 
o assistente social esgota o seu trabalho profissional na operacionalização dos 
serviços à população, sem ir além da prática instituída. Nesse caso, o profissional 
perde a oportunidade de compreender os nexos da sua intervenção, bem como 
de evidenciar os limites e as possibilidades embutidas na sua ação cotidiana, 
passíveis de dar novos contornos à sua ação profissional.
Ao longo do desenvolvimento da sua ação, os assistentes sociais têm 
enfrentado diferentes dilemas na profissão. Alguns, aos quais se pode chamar de 
“falsos dilemas”, estão atrelados às características próprias da profissão e decorrem 
de sua situação na divisão sociotécnica do trabalho na sociedade contemporânea. 
São essas atividades, as de caráter burocrático, assistencial, pragmático, que 
conformam a profissão como uma prática eminentemente interventiva.
A ênfase nessas atividades tem se traduzido em respostas profissionais 
fragmentadas, trabalhadas nos limites instituídos socialmente. Nessa perspectiva, 
o assistente social dificilmente tem uma visão totalizadora da problemática que 
enfrenta, não acionando, portanto, o seu potencial para modificar o seu modo de 
intervir.
sua prática profissional passa a se diferenciar da prática de leigos, posto que não 
se reduz a atividades burocrático-administrativas, já que o projeto lhe permite 
ter clareza da sua intencionalidade, decifrando o significado das demandas, 
captando a necessidade que subjaz a elas.
A competência ultrapassa saberes e conhecimentos, mas não se 
constitui sem eles. É necessário que haja uma intervenção reflexiva 
e eficaz, no sentido de articular dinâmicas de conhecimentos, 
saberes, habilidades, valores e posturas. Mas ela é uma concepção 
fundamentalmente inclusiva, relacional e determinada social e 
historicamente. (GUERRA, 2007, p. 28).
FONTE: PEREIRA, Vanessa Vasconcelos. Mediações... para quê? Disponível em: <http://
repensandooservicosocial.blogspot.com/>. Acesso em: 3 mar. 2010.
TÓPICO 3 | OUTRAS CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL
193
Outros dilemas têm por base a perspectiva de que a teoria dá conta de 
explicar a realidade, mas não instrumentaliza a prática cotidiana do assistente 
social. Nessa ótica, é facilmente embutida a contradição de um discurso crítico e 
uma prática baseada no senso comum e, ainda, a efetivação da relação dicotômica 
entre profissionais que “pensam” e profissionais que “fazem”.
A superação desta tensão vai demandar dos assistentes sociais 
uma disponibilidade a não mais pensarem na prática profissional em si, 
independentemente de seus fundamentos e de suas determinações, assimilando, 
ao nível da racionalidade, a necessária unidade entre a teoria e a prática, como 
determinantes complementares que incidem na ação particular dos profissionais, 
o que lhes vai possibilitar a garantia do movimento dialético pensamento/ação.
Assim, entendemos que a vida de todos os dias, se iluminada por uma 
teoria sólida, é uma fonte permanente de conhecimento capaz de gestar práticas 
sociais inovadoras. A partir dessa convicção, acreditamos que, no estudo reiterado 
e crítico das práticas cotidianas dos assistentes sociais, encontraremos um fio 
condutor para, além de conhecer e analisar as formas de pensar e agir, construir, 
com bases na teoria, as possibilidades de novas práticas.
Este processo de construção do saber profissional, a partir de uma 
dinâmica deliberada de investigação e discussões, fundamenta-se no suposto 
de que um conhecimento sistematizado

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