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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Prof.ª Andréa Carla Machado CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. M149d Machado, Andréa Carla Deficiência intelectual. / Andréa Carla Machado – Indaial: UNI- ASSELVI, 2018. 114 p.; il. ISBN 978-85-53158-60-7 1.Deficientes - Educação – Brasil. 2.Educação especial – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.9 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Contexto Histórico e Bases Legais nos Sistemas de Apoio e Classificação da Deficiência Intelectual ................................07 CAPÍTULO 2 A Importância do Desenvolvimento Padrão Infantil para o Entendimento dos seus Desvios e Atrasos .............................31 CAPÍTULO 3 Selecionando Abordagens e Ferramentas para o Ensino Inclusivo .......................................................................................53 APRESENTAÇÃO Desde a fundação, a American Association on Mental Retardation (AAMR) tem conduzido o campo da Deficiência Intelectual (DI) ao entendimento, definição e classificação. Da primeira à última versão foram lançados desafios que perpassam as questões avaliativas e os programas estruturados de intervenção, bem como a importância do monitoramento do processo de aprendizagem dos indivíduos com deficiência intelectual. Assim, o campo da DI está atualmente em um estágio de fluxo com relação não apenas a um entendimento mais pleno da condição desta deficiência, mas à linguagem e ao processo usados na nomeação, definição e classificação. Por exemplo, estamos no meio de discussões sobre a natureza da inteligência e o comportamento adaptativo; a implementação do paradigma dos apoios; a melhor maneira de conceituar as condições de efeitos da terminologia da vida dos indivíduos. Esse estágio de fluxo é, ao mesmo tempo, desafiador porque proporciona a oportunidade de incorporar o entendimento atual e em evolução da condição da deficiência intelectual e dos fatores que influenciam as vidas das pessoas acometidas por esta deficiência em suas sociedades. Nessa direção, a condição da deficiência intelectual está sendo pensada de maneira diferente no mundo todo. É nessa perspectiva padrão ouro, ou seja, baseada nas mais recentes pesquisas e programas educacionais, que essa disciplina tem o intuito de oferecer aos alunos um panorama da deficiência intelectual perpassando desde os conceitos históricos, bases legais brasileiras e serviços de apoio dentro das instituições educacionais. Para isso é necessário o conhecimento sobre os marcos biológicos do desenvolvimento padrão infantil, consequentemente, torna-se mister, neste contexto, direcionar a proposta para o entendimento das abordagens inclusivas vigentes e da importância da organização para o ensino individualizado desses indivíduos. Prof.ª Andréa Carla Machado CAPÍTULO 1 CONTEXTO HISTÓRICO E BASES LEGAIS NOS SISTEMAS DE APOIO E CLASSIFICAÇÃO DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Entender as bases históricas e legais que fundamentam as defi nições e conceitos da defi ciência intelectual. Conscientizar-se da importância de protocolos e roteiros para o desenvolvimento de serviços de apoio. Visualizar e extrair dos casos apresentados as características da defi ciência intelectual apresentadas nas bases teóricas. Ter conhecimento de protocolos e roteiros baseados nos casos clínicos apresentados para a formulação de programas de intervenção futuros. 8 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 9 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A defi ciência intelectual é, na sua essência, uma alteração grave que se manifesta como uma defi ciência do desenvolvimento das funções abstrativas do conhecimento e da adaptação. Esse aspecto psicopatológico é básico e central, mas não único, porque a ele se podem associar transtornos de comportamento, da linguagem, das funções perceptivas e motoras, como também pequenas ou grandes malformações somáticas, sintomas tanto centrais do prejuízo adaptativo, quando concomitantes a ele, mas resultados de fatores distintos, genéticos, lesionais ou ambientais. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento intelectual (APA, 2014) complexo, que compromete de modo duradouro, e, muitas vezes, permanente, a conquista das funções elevadas da espécie humana, funções essas que nos permitem como espécie um pensamento fundamentado na interiorização da experiência e, especialmente, na capacidade de abstrair dela as leis que ligam os acontecimentos, as relações de causa e efeito, as capacidades de formular hipóteses e deduções, as capacidades de distinguir os limites restritivos do mundo real. Na defi ciência intelectual, o pensamento fi ca intimamente dependente da experiência e da sua representação, as percepções não conseguem se generalizar, o movimento é imitativo, com difi culdade de originalidade expressiva e construtiva, a linguagem é defi citária ligada à representação imediata, ocasionando desvios do processo evolutivo, isto é, o que é esperado para a idade dentro dos padrões normais, deteriorando o ciclo de desenvolvimento do indivíduo acometido por essa defi ciência. Assim, este capítulo trata do entendimento das bases históricas e legais da defi ciência intelectual, sobre os conceitos e sua classifi cação atual e, por fi m, a importância dos sistemas de apoios para as instituições educacionais. 2 BASES HISTÓRICAS E LEGAIS DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA A concepção ecológica social da defi ciência intelectual se refl ete nas publicações atuais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também da Classifi cação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que é 10 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL descrita como tendo impedimentos das funções e estruturas do corpo, na limitação de atividades e participação restrita nos contextos pessoais e ambientais. Segundo Almeida (2012), a importância dessa mudança evolutiva na construção da defi ciência intelectual é deixar para trás a concepção de total incapacidade. A construção ecológica social da defi ciência intelectual acaba por exemplifi car a interação entre a pessoa e seu meio ambiente e concentra-se no papel do suporte individualizado muito importante para os sistemas de ensino, os quais veremos no terceiro capítulo desta disciplina. De acordo com Almeida (2012), a mudança do termo “defi ciência/retardo mental” para “defi ciência intelectual” fez com que o termo se tornasse menos ofensivo às pessoas com defi ciência, além de: estar mais consistente com a tecnologia utilizada internacionalmente e enfatizar o fato de que a defi ciência intelectual não é mais considerada um traço absoluto e invariável de uma pessoa. Diante disso, os profi ssionais devem se direcionar para a prestação de apoios adaptados. Mas antes de adentrar aos apoios, mesmo porque eles serão a temática do nosso terceiroitem deste capítulo, retornemos ao tempo dos primórdios (aos anos de 1930) da educação brasileira. No século XX, a medicina infl uiu em diferentes áreas do conhecimento fortemente até os anos de 1930, mas foi substituída pela psicologia, principalmente devido à infl uência de Helena Antipoff nos cursos de formação de professores. Com ela, veio todo o empenho em arregimentar interessados pela área por meio das sociedades Pestalozzi, a ampliação da refl exão atingindo também os mais dotados, a preocupação com a adequação ao mercado de trabalho das pessoas defi cientes (JANUZZI, 2006). A sociedade civil vai se organizando nessa direção, surgiram as APAEs nos anos de 1950. Ambulatórios congregando profi ssionais da saúde para reabilitação e também professores para o ensino são implementados. E, posteriormente, nos anos de 1960, são criadas as campanhas para educação de cegos, surdos e defi cientes intelectuais (na época dito “mentais”). Em 1973, em razão do crescimento de movimentos nacionais e internacionais, tivemos o primeiro órgão nacional para ditar a política de educação especial, o CENESP. Ele nasceu forte junto à Presidência da República e sempre permaneceu ligado ao MEC; sofreu transformações e em um determinado momento esteve subordinado ao SENEB, voltando logo como 11 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 Secretaria da Educação Especial, agora no momento se encontra com o mesmo nível de subordinação ao MEC, somente com o nome de Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Segundo Januzzi (2006), a organização da estrutura citada vem fi rmando a aceitação da especifi cidade e importância de órgãos federais, os quais, após a Declaração de Salamanca (1994), enfatizaram a inclusão desse alunado na rede regular de ensino. Ofi cialmente se reconhece o direito de apoio especializado, sala de recursos, serviços especializados, quando necessário (LDB nº 93/1996, capítulo V, artigo 58, parágrafo 1-2, Política da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, 2008; CNE, 2001 e 2009), suportes de saúde, previdência social que lhes segure a igualdade dentro da equidade, ou seja, o apoio especializado que lhe é assegurado pelos documentos normativos citados, visando possibilitar a apropriação de conceitos essenciais ao domínio do conteúdo escolar. Temos, atualmente, um número signifi cativo de dissertações, teses, artigos em revistas científi cas, livros e vídeos sobre as diversas defi ciências (BELLO, 2009), cuja designação ofi cialmente apresenta um respaldo signifi cativo para qualquer tomada de decisão, seja no ensino, seja na aprendizagem dessa população, especialmente, defi cientes intelectuais. Sob o ponto de vista de formação de professor, apesar de orientações legais nesse sentido, podemos conferir na prática difi culdades em gerenciar planejamentos que incluem o alunado, tanto os que precisam de simples ajustes e adaptações quanto os que precisam de fl exibilizações mais complexas. Pode- se inferir que a produção de conhecimento específi co nas diversas categorias venha facilitar essa procura do que é geral, necessitando então de diálogo entre pesquisadores e docentes da área da Educação Especial e regular. Nessa direção, estamos em um tempo de parcerias, as quais são indispensáveis e têm sido estimuladas e imprescindíveis para facilitar e promover indicadores, como: contratação e formação de pessoal docente; serviços externos de apoio; participação da comunidade e recursos necessários. Sob essas condições de direcionamento de parcerias e direitos adquiridos, lembremos o Decreto nº 6.571-2008, o Parecer CNE n° 13/2009 e a Resolução CNE nº 4/2009, que são marcos delineadores da implantação de uma política de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva consolidando propostas contempladas no documento elaborado pela SEESP/MEC em 2008, cujas adequações foram realizadas em 2011 pelo Decreto n° 7.611/2011 – Educação 12 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Especial. Foi publicado e divulgado para implantação das diretrizes e normas das medidas dispostas nesses documentos o Subsidiário para implementação de normas técnicas das políticas da educação na perspectiva da educação inclusiva (MEC, 2015), que esclarece os princípios, propostas e estratégias e recursos da ação em detrimento do aluno com necessidades educativas especiais. Lê-se alunos com necessidades educativas especiais (NEE) todos os alunos com difi culdades referentes a sua aprendizagem dentro da escola, seja ele público-alvo da educação especial ou não, ou seja, pertencentes à educação inclusiva. Consolidando essa parte, refl itamos: qual é a justifi cativa de planejar uma disciplina sobre um tema tão extensamente tratado, como tem sido a defi ciência intelectual? Para que serve acrescentar mais “conhecimento” ao já existente nos livros e artigos científi cos sobre esse tópico? Os dilemas apresentados por essas duas perguntas – e tantas outras que poderiam ser feitas – são resolvidas no momento em que podemos trazer luz à teoria pela prática, prática essa que poderemos construir à medida que vamos adentrando nesta temática por meio desta disciplina. Portanto, a questão não é somente “aumentar” um pouco o conhecimento, mas organizar ou sistematizar uma parte do que se conhece, selecionando aquilo que é considerado pela experiência e prática – tanto em nível teórico quanto prático. Isso signifi ca que este capítulo não pretende repetir o que tão obsessivamente já foi escrito ou dito sobre defi ciência intelectual, mas que esse texto seja útil para que todas aquelas pessoas que cursam essa disciplina possam movimentar outras formas de perceber e trabalhar com as pessoas com defi ciência intelectual. Na próxima seção deste capítulo, vamos fazer uma elucidação sobre os conceitos, classifi cação e os serviços que devem ser conhecidos e assegurados a todos os alunos com defi ciência intelectual. 13 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 3 DEFINIÇÃO, CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO ATUAL DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A terminologia utilizada para designar o que hoje se conhece como transtorno do desenvolvimento intelectual – Defi ciência Intelectual, DI (APA, 2014), inicia-se na França com Binet (TEIVE et al., 2017), que avalia a inteligência das crianças francesas em idade escolar – de acordo com os resultados que obtêm no teste Binet-Simon – e classifi ca as diagnosticadas como “defi cientes mentais” em quatro categorias: idiota, imbecil, débil e retardada. Todo esse panorama se complica ainda mais quando, dentro desse transtorno gnosiológico, é preciso fazer divisões em termos e níveis de DI. Alguns se baseiam no quociente intelectual (QI) e/ou na idade mental (IM), outros se apoiam nos períodos piagetianos do desenvolvimento cognitivo, outros o enfocam no ponto de vista cognitivo do processamento da informação e outros, a partir das bases neurológicas. Tal disparidade de pontos de vista é justifi cada devido à complexidade dessa “incapacidade”, que requer tanto um diagnóstico quanto uma avaliação para uma intervenção ou tratamento multiprofi ssional. Então, a questão não é reduzir a expressão linguística para que não sejam utilizados sinônimos, mas que o termo verbal ou escrito de um conceito corresponda ao que ele rigorosamente signifi ca. Em psicologia e pedagogia nos interessam três paradigmas de avaliação, cuja temática trataremos no capítulo seguinte, que deveriam formar um conjunto de possibilidades que permitiriam estabelecer um diagnóstico, sempre realizado pelo médico. Outros profi ssionais contribuem para a construção do caso, enfatiza- se aqui, mais efi caz ou adequado para as necessidades dos DI. Esses três paradigmas giram em torno dos seguintes pontos: 1- O défi cit na inteligência e o nível de defi ciência – determinados basicamente peloQI ou pelos estágios piagetianos de desenvolvimento, como prejuízos no raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem, pela experiência confi rmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados. 14 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 2- A difi culdade na conduta adaptativa que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação à independência pessoal e responsabilidade social, como: atividades social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade. 3- Início dos défi cits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento. Com fi nalidade de direcionar o aluno ao esclarecimento sobre a temática da defi ciência intelectual, é importante descrevermos os critérios de diagnóstico da defi ciência intelectual. Tais critérios são necessários para o planejamento do repertório de práticas que poderão ser desenvolvidos em um futuro Plano Educacional Individualizado (PEI), o qual veremos no último capítulo dessa disciplina. De acordo com o Manual Diagnóstico dos Transtornos mentais – DSM-V (APA, 2014), o termo diagnóstico defi ciência intelectual equivale ao diagnóstico do Código Internacional de Doenças (CID-11) de transtornos do desenvolvimento intelectual. Assim, a DI é o termo de uso comum por médicos, educadores e outros além de pelo público em geral e grupos de defesa dos direitos. CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS, CID 11 MANUAL DIAGNÓSTICOS DSM- V NÍVEL* 317 (F70) Leve 318.0 (F71) Moderada 318.1 (F72) Grave 318.2 (F73) Profunda QUADRO 1 – CÓDIGOS E NÍVEIS RELACIONADOS AO CID-11 E DSM-V FONTE: DSM-V (APA, 2014) Nota* Especifi car a gravidade atual, (ver Quadro 3 no fi nal dessa seção). Nesta perspectiva, também é importante compreender melhor a associação do desenvolvimento da espécie (fi logenia) e o do indivíduo (ontogenia). Vamos adentrar nesses elementos e entender melhor as condições prejudicadas no indivíduo com defi ciência intelectual no decorrer desse texto. A fi logenia permitiu ao ser humano moderno, mediante o desenvolvimento cerebral e dos genes, chegar a uma notável complexidade de adaptação ao ambiente por meio dos sinais de alarme e dos mecanismos de defesa, que constituem grande parte da vida mental. Mas, sobretudo, permitiu o desenvolvimento de sofi sticados aparatos de previsão, que permitem a programação do comportamento e certo grau de originalidade como resposta a 15 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 estímulos imprevistos. Essas capacidades constituem uma função superior da espécie, que chamamos inteligência, na ausência da qual o ser humano moderno não é mais moderno, mas assume caracteres arcaicos, inadequados à vida atual. O desenvolvimento individual das funções superiores (capacidades intelectuais que devem estar preservadas para um indivíduo poder aprender) é, portanto, certamente guiado pelos fatores genéticos, conquistados exatamente por fi logenia, mas atuado por uma série de condicionamentos sociais: os modelos humanos de identifi cação, os afetos como veículos de mensagens, as relações intersubjetivas primárias (descritas pela chamada “teoria da mente”, a qual enfatiza que nós, seres humanos, temos a capacidade de nos colocar no lugar do outro), as confi rmações sociais, as informações acadêmicas, a cultura do tempo e do lugar. Existe uma soma de fatores coessenciais que pode entrar em crise e agravar o quadro da DI: a manifestação pela genética alterada ou, então, com as causas e fatores de risco (pré “antes”, peri “durante” e pós-natal “depois”) de aparatos executivos (especialmente do sistema nervoso). De acordo com Pfanner e Marcheschi (2008), os primeiros processos mentais que emergem do nível biológico no desenvolvimento da criança são os de integração, interperceptivo, perceptivo-motor etc. Assim, toda defi ciência intelectual está ligada a um nível de défi cit dessas sínteses básicas, tanto as que dão origem às capacidades de abstração e à compreensão como as ligadas à identidade e à adaptação social. Naturalmente, uma defi ciência intelectual sempre induz uma compensação psicológica global: pelo desenvolvimento desarmônico de outras funções mentais não integradas e pelo grave impacto com o ambiente, que considera a pessoa com defi ciência intelectual desajustada no ambiente, esse sintoma é importante no diagnóstico clínico, cujos desdobramentos veremos mais adiante. O papel do ambiente é um aspecto que deve ser considerado atentamente, pois, como já vimos, o que se associa ao défi cit cognitivo é a difi culdade de adaptação. Um ambiente exigente pode encontrar uma resposta adequada em um cérebro sadio e maduro, mas também pode ser muito “difícil” determinar um quadro de desorganização, inércia ou regressão de certas condutas. Na defi ciência intelectual, as capacidades de elaboração são sempre inferiores às exigências do ambiente e, por isso, manifestam-se sintomas de desadaptação, como estereotipias, por exemplo. 16 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Lembre-se: défi cit cognitivo não é sinônimo de DI. É um dos elementos que está prejudicado na pessoa com DI e por sua vez difi culta a aprendizagem. Estudo de Caso: A história de Lúcio As exigências do ambiente e as primeiras difi culdades Lúcio nasceu em 26/03/2003, numa cidade do interior paulista. Foi uma gravidez inesperada, uma vez que a fi lha caçula do casal já estava com a idade de 7 anos e o mais velho com 11 anos. No entanto, após a surpresa da gravidez, o bebê foi esperado e os pais e familiares se prepararam com grande expectativa para o seu nascimento. O bebê nasceu bem e a mãe estava com 35 anos e o pai com 40 anos de idade. O pai possui ensino superior e exerce a função de técnico-administrativo em uma faculdade privada e, nas horas vagas, dedica-se à profi ssão de fotógrafo. A mãe, com ensino médio completo, dedica-se às tarefas da casa e não exerce função profi ssional. Lúcio nasceu a termo e de parto cesariana. No entanto, apresentou atrasos no decorrer de seu desenvolvimento neuropsicomotor, características de pouco interesse nas interações próprias aos meses iniciais de um bebê e aos oito meses começou a apresentar ocorrências de crises convulsivas, levando ao atraso no desenvolvimento motor, como controle cervical, manutenção da postura ereta para início de marcha, e apenas com dois anos e meio começou a andar. O desenvolvimento da linguagem apresentou-se bastante comprometido e com atraso considerável nas etapas de evolução infantil. Em relação ao comportamento, observaram-se características autísticas devido ao pouco interesse de interação, não sustentação do olhar, obsessões por movimento e objetos circulares. Também se tornaram notáveis alguns adenomas. A observação dos pais em relação aos aspectos apresentados impulsionou a busca de especialistas para um diagnóstico e encaminhamento para atender adequadamente às necessidades apresentadas por Lúcio. Os exames médicos e clínicos indicaram a presença da Síndrome de Bourneville- Pringle, também conhecida como Esclerose Tuberosa ou Epiloia. Trata-se de 17 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 uma síndrome rara e de difícil diagnóstico, o que compromete o tratamento de seus sintomas. É caracterizada por uma tríade clínica: crises convulsivas, adenoma sebáceo e defi ciência intelectual; embora o atraso mental esteja presente em aproximadamente 50% dos casos, portanto, é possível encontrar relatos de inteligência média e apenas convulsões ou lesões cutâneas. Algumas características são variáveis e não é incomum manifestações de comportamento autístico. Lúcio foi diagnosticado aos três anos de idade e imediatamente pôde contar com uma equipe multidisciplinar compostapor psicóloga, fonoaudióloga, fi sioterapeuta, terapeuta ocupacional e pedagoga. A equipe se dedicou ao atendimento à criança e a sua família, a qual recebeu atendimento terapêutico na psicologia e orientações sistemáticas das outras áreas. Por orientação da pedagoga e apoio de toda a equipe, a família foi orientada a matricular Lúcio em uma escola comum de Educação Infantil. Assim, de 2007 a 2009, frequentou uma escola de educação infantil e continuou a receber apoio da equipe multidisciplinar. Foi estabelecido um diálogo colaborativo e sistemático entre a equipe da escola e a multidisciplinar para estabelecer pautas de trabalhos conjuntos e nas adequações à proposta escolar que pudessem atender suas necessidades e, ao mesmo tempo, mantê- lo em companhia das demais crianças. Inicialmente o processo educacional foi bastante difícil, mas as equipes – escolar e multidisciplinar – puderam observar avanços signifi cativos em todas as áreas do desenvolvimento, em suas funções cognitivas (percepção, atenção, memória, raciocínio e linguagem), nas funções motoras e mesmo na área emocional e social. Em 2010, Lúcio é encaminhado ao 1º ano do Ensino Fundamental e sua escola e, especifi camente, sua professora, passam a receber orientações pedagógicas da equipe, com ênfase na questão escolar e curricular e apoio no Serviço de Apoio Pedagógico Especializado (SAPE) da própria escola e a articulação entre o SAPE e o professor da classe comum favorece notoriamente seu desenvolvimento escolar e a superação de muitas difi culdades escolares. Atualmente, na mesma escola, frequenta o 6º ano do Ensino Fundamental e, embora ainda apresente difi culdades signifi cativas em seu desenvolvimento curricular, a decisão foi a de que Lúcio deveria acompanhar seus colegas no processo de escolarização e os professores deveriam, nas disciplinas em que isto fosse necessário, realizar adequações curriculares. Não está plenamente alfabetizado, reconhece as sílabas, sabe construir algumas palavras, lida razoavelmente com frases pequenas (mais na leitura do que na escrita), o que traz uma difi culdade e uma exigência da realização 18 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL de adequações nas aulas de Língua Portuguesa. Gosta de ler, embora saiba fazê-lo em textos simples, de pequena extensão e ainda utilizando o recurso da fi gura como suporte interpretativo para a leitura e compreensão da história. Reconhece algumas tipologias textuais e sabe diferenciar folhetos variados, gibis, livros de histórias e reconhece a estrutura de poesias. Com ajuda, elabora textos orais, conta histórias e relata fatos. Em relação à matemática, compreende o sistema numérico decimal e reconhece números até 100. Faz operações simples de adição e subtração com uso de material concreto e opera apenas com duas casas decimais. Compreende inteiro e metade no concreto, medidas de comprimento e massa de forma funcional, para medir ou pesar no contexto de uma atividade prática. Reconhece formas geométricas planas. FONTE: A autora É importante salientar alguns sintomas que alteram e difi cultam a operacionalização das funções corticais superiores, e assim, os aspectos cognitivos, afetivos e adaptativos, esses sintomas que serão apresentados a seguir são frequentes, mas nem sempre constantes, e podem ter importância e gravidade diferentes. - Défi cit de assimilação das experiências, isto é, de informação e de elaboração perceptiva. O processo perceptivo é insufi ciente, vagaroso, incompleto e inexato (falta de percepção), não por anomalia dos órgãos periféricos de sentido (visão, audição e tato), mas por um défi cit das capacidades de análise, de comparação e de integração cerebrais. A pessoa com defi ciência intelectual não sabe colocar qualquer nova percepção no exato contexto espacial e temporal, não consegue separar a experiência anterior, fi xada na memória, da nova, e disso muitas vezes deriva uma percepção rígida, pouco móvel, estereotipada, muito modelada sobre os traços das lembranças. - Défi cits de organização motora ou insufi ciências psicomotoras, que comprometem a capacidade de programar o movimento no espaço e no tempo e tornam desajeitado e desarmônico. Na maioria das vezes, os comportamentos parasitários (tônicos e cinético) da motricidade infantil persistem até a idade avançada, tornando, frequentemente, lentos ou instáveis esses sujeitos. - Défi cits na linguagem, que podem ser transtornos de pronúncia, articulação e/ou ritmo, mas mais constantemente são défi cits de desenvolvimento das atitudes de base que orientam a formação da linguagem. Disso deriva uma falta de expressão: a frase é frequentemente 19 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 elementar, pouco articulada, estereotipada, com respostas inadequadas ou incoerentes em relação às perguntas. - Impossibilidade de ter acesso ao pensamento abstrato, défi cit essencial que separa uma criança normal de uma com defi ciência mental. Todos os conteúdos do pensamento permanecem, mesmo após a puberdade, ligados ao concreto, à experiência, às impressões sensoriais (próprios dos pré-operatório e então lógico-operatório). O sujeito não consegue estabelecer relações complexas entre os objetos, carente de toda forma de previsibilidade da ação. - Défi cit cognitivo, existem áreas de funcionamento mais ou menos desenvolvidas, mas é muito raro encontrar áreas de funcionamento totalmente normais. Portanto, pouco integrativas num comportamento cognitivo (ver os chamados Savants). Estão comprometidos especialmente os mecanismos cognitivos voluntários, enquanto o funcionamento dos processos automáticos é relativamente independente da inteligência geral, portanto, mais preservado. - Défi cit de autoconsciência, isto é, difi culdade especial na “gestão consciente” dos próprios conhecimentos, que leva a um défi cit na utilização da experiência e nos mecanismos de autocontrole. Grande parte das experiências de vida dos indivíduos com DI é marcada por falta de êxito, e sua relação com a realidade é dominada por uma expectativa de insucesso, preliminar a toda ação e, em parte, inevitável. Compromete- se, assim, a motivação, favorecendo até mesmo comportamentos sistemáticos de renúncia e de evitação. - Aprendizagem mais lenta pelos vários aspectos da inteligência, de que derivam desarmoniosas lacunas, e interpretações do mundo descompensadas e, às vezes, hipertrofi as do perfi l intelectual. A lentidão é geral progressiva até uma estagnação no momento da adolescência. Além disso, o pensamento da pessoa com DI é caracterizado com uma certa severidade de restrição, assim, as condições de aprendizagem são notadas com evoluções tardias. O sujeito com DI regride, mais fácil e frequentemente em relação ao normal, a modelos anteriores de pensamento e raciocínio, dos quais tem um costume mais consolidado (observações feitas todos dias no plano escolar, pelos professores), isto é, perde competências que pareciam adquiridas. - Retardos afetivos e desarmonias da personalidade, por emotividade superfi cial e incontrolada e por elaboração insufi ciente dos estímulos. O comportamento lembra o de fases anteriores do desenvolvimento. Muitas vezes está presente uma ansiedade profunda, ligada, ou não a sintomas depressivos, como apatia, cansaço fácil, inibição, sentimento de insegurança. Há difi culdade de identifi cações de objetos, de pessoas, a 20 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL rejeição das leis e das normas próprias do adulto podem adiar e difi cultar o desenvolvimento do juízo moral e das capacidades de controle diante dos impulsos instintivos. - Transtornos de conduta. As desarmonias do caráter e do comportamento aparecem ligadas ao jogo complexo de interações com o ambiente. O défi cit tem um sentido profundo para a família e isso tem uma infl uência determinante sobre a evolução e a adaptação. Na família, podemos observar uma rejeiçãoinconsciente, sentimentos de culpa, acusações muito projetivas em relação à escola ou então uma superproteção, com manutenção da criança no estado de manipulação. No Brasil, são também chamados de “Sábios defi cientes”, indivíduos prodigiosos como o personagem Funes, o Memorioso, do livro de Jorge Luis Borges, ou Forrest Gump, interpretado no cinema por Tom Hanks. Até aqui foram descritos os sintomas mais frequentes da defi ciência intelectual, que abrangem défi cits perceptivos, psicomotores e psicolinguísticos de abstração, de aprendizagem, de vida afetiva e de conduta. Esses desajustes não permitem o desenvolvimento do pensamento abstrato. Nessa perspectiva, a seguir, encontra-se um caso elucidativo dos prejuízos citados anteriormente e um roteiro (protocolo) de competência que pode auxiliar o profi ssional educacional a desenvolver um plano individualizado. Estudo de Caso: A história de Valter Uma defi ciência intelectual com maiores comprometimentos Valter nasceu em 30/09/2001, numa cidade do interior paulista. A mãe relata que foi uma gravidez planejada e muito desejada pelo casal. Ao nascer a criança, a mãe estava com 27 anos e o pai 31 e foi o 1º fi lho do casal. A mãe é professora e possui ensino superior e o pai, carteiro com ensino médio completo. O casal vivia em harmonia e ansiava pelo nascimento do bebê sem a preocupação com o gênero da criança. Valter nasceu no tempo certo e de parto cesariano. A mãe conta que não ocorreram problemas pré, peri ou pós- natais. 21 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 No entanto, o desenvolvimento do bebê não se deu de forma esperada, ele se apresentava como um bebê muito agitado e chorão. Apresentou difi culdades de amamentação, não se acalmava com facilidade e parecia não se tranquilizar nem mesmo no aconchego da mãe. Também foram observados atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, não engatinhou, sentou-se com apoio aos oito meses, andou com dois anos. Em relação à linguagem, apresentou pouco balbucio e sua apresentou vocalização de fala foi bastante incipiente. Suas solicitações se davam por meio de gestos de apontamento, monossílabos e chorava quando não atendido ou compreendido. Ficava bastante nervoso nestas situações e o choro era tão intenso que chegava a perder o ar. Aos dois anos e seis meses foi matriculado na educação infantil e devido ao seu comportamento diferenciado, como balanceio, isolamento do mundo, difi culdades de interação e de brincar com outras crianças e fala monossilábica, a escola solicita que a família procure uma avaliação clínica da criança. Foram momentos muito difíceis para a família, que se viu peregrinando entre médicos e especialistas sem a prescrição de um diagnóstico e sem concordâncias entre as diferentes especialidades: médicos, neurologistas, psiquiatras, psicólogos. A primeira sugestão para um apoio na área da Educação Especial por causa dos problemas relatados, principalmente na linguagem e na interação, ocorreu quando a criança completou quatro anos de idade, ainda na educação infantil. A clínica especializada que frequentou emitiu um diagnóstico indicando atraso de linguagem como parte de um quadro de um possível autismo (TEA) e encaminhou Valter para a APAE, embora também permanecesse na escola de educação infantil. Outra consequência da hipótese diagnóstica é o abandono da família pelo pai, que diz não ter estrutura psicológica para cuidar de um fi lho autista. Os avós maternos acolhem a fi lha e neto e passam a ter uma relação muito intensa com o neto, principalmente com o avô, que o leva para passear, brincar, fazer natação e equoterapia. Torna-se mais calmo na presença do avô. A família continua em busca de um diagnóstico mais específi co, pois Valter mantém difi culdades na linguagem e comportamento agressivo e de pouca interação. Recebem as hipóteses diagnósticas de X-Frágil, e apenas mais tardiamente, com sete anos de idade, num Centro Avançado de Diagnóstico a família recebe a confi rmação de Transtorno do Espectro Autista. A família decide mantê-lo na APAE, no período inverso da escola e ele é matriculado no 1º ano do Ensino Fundamental, em 2008. No entanto, do 1º ao 3º ano vive um período escolar bastante conturbado, devido à difi culdade da escola em lidar com suas particularidades e uma das medidas foi, infelizmente, a redução de sua presença em sala de aula. 22 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Em 2010 a família decide desvinculá-lo da APAE e insistir no processo inclusivo na escola comum. Procura um centro de apoio e Valter passa a ter atendimento regular na fonoaudiologia e na pedagogia. Os profi ssionais iniciam um processo de orientação à família e à escola, com reuniões sistemáticas com a equipe escolar oferecendo suporte pedagógico para realização de adequações curriculares e um programa individual de trabalho com aumento gradativo de sua inserção em sala de aula até conseguir se manter na sala durante o período de aula integral. Em 2011, quando Valter frequentava o 4º ano escolar, seu avô faleceu em um acidente de carro. O menino fi cou muito revoltado, teve difi culdade em aceitar a morte do avô e conviver com sua ausência e tornou-se agressivo e desatento na escola, tendo uma queda em seu desempenho escolar. A mãe, a avó, a fonoaudióloga e a equipe escolar estabeleceram um acordo para que todos mantivessem uma postura carinhosa e compreensiva, mas ao mesmo tempo fi rme e sem ceder aos seus caprichos. Desde 2010, no 3º ano escolar, recebe apoio especializado, por meio do Serviço de Apoio Pedagógico Especializado (SAPE) da própria escola e a articulação entre o SAPE e o professor da classe comum favorece notoriamente seu desenvolvimento escolar e a superação de muitas difi culdades escolares. Atualmente, na mesma escola, frequenta o 7º ano do Ensino Fundamental e ainda apresenta especifi cidades em seu processo interacional e escolar. Seu desempenho em História e Geografi a é o esperado para este ano escolar, na matemática é um pouco mais fraco, mas com ajuda e orientações detalhadas consegue realizar ao menos o mínimo esperado para este nível de escolarização. Suas difi culdades maiores concentram-se na área da Língua Portuguesa, apresentando maiores difi culdades na escrita de textos autobiográfi cos e narrativos, preferindo os textos jornalísticos, pois lhe permite concentrar-se na realidade objetiva da notícia, uma vez que não lida bem com a subjetividade, não percebe as intenções de um texto, não faz inferências, não levanta hipóteses e não percebe as fi guras de linguagem. É melhor na leitura do que na escrita, embora prefi ra os textos jornalísticos, científi cos e descritivos do que os literários ou poéticos. Recusa-se a realizar leitura oral e em rodas de leitura mantêm-se quieto, sem participação em grupo, dirigindo-se diretamente a dois ou três colegas mais próximos. Não apresenta difi culdades interacionais com a professora da disciplina. 23 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 Em relação à escrita, embora esteja alfabetizado, possui um texto simples e direto, com poucos parágrafos e sempre utilizando uma linguagem direta, pouco expressiva ou interpretativa e sem se estender nas argumentações linguísticas. Do ponto de vista gramatical, usa os verbos sem distinção de tempo verbal, ausência do uso de pronomes, não apresenta variedade linguística, difi culdades no uso de conectivos e de continuidade textual. Ainda apresenta erros na escrita de palavras mais complexas ou desconhecidas e é resistente ao uso do dicionário para esclarecer o sentido ou a gramática de algumas palavras que surgem no texto escrito proposto pela professora. FONTE: A autora A seguir apresentamos um protocolo para direcionar o professor para levantamento de informações necessárias para desenvolver um plano educacional especializado como será explicado no Capítulo3 desta disciplina. Competência Realiza Não realiza Observa ao seu redor, como crianças brincando ou ao assistir a um desenho animado ou fi lme. Responde a estímulos auditivos, como atender a chamados e ouvir uma música. Imita gestos ou comportamentos, demonstrando aprender por imitação. Concentra-se intencionalmente em uma atividade que seja do seu interesse. Demonstra ter capacidade para aprender a ler. Demonstra ter capacidade para aprender a escrever. Demonstra ter capacidade para aprender a fazer cálculos simples. Comunica-se para pedir ajuda na resolução de um problema cotidiano. QUADRO 2 – ATIVIDADES BASEADAS NA LISTA DE HABILIDADES DO PROTOCOLO PARA AVALIAÇÃO DE ESCOLARES COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 24 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Resolve simples problemas simples do seu cotidiano. Pede ajuda ao um adulto para resolver um problema do seu cotidiano. Inicia e termina uma única tarefa. Inicia e termina uma tarefa em grupo. Entende mensagem faladas. Identifi ca expressões faciais. Entende ordem simples: “pegue um lápis”. Entende ordens sequenciais: “pegue o lápis e traga aqui”. Compreende o signifi cado de gestos e sinais. Consegue descrever o contexto de um desenho ou de uma foto. Transmite uma mensagem. Nomeia objetos Faz perguntas. Produz mensagem oral com menos de dez palavras. Produz mensagem oral com mais de dez palavras. Produz signifi cado e atribui signifi cado. Produz desenho com detalhes e mais elaborados. Inicia conversa. Mantém uma conversa. Demonstra irritação ao se contrariado. 25 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 É capaz de permanecer sentado para a feitura de uma atividade. É capaz de segurar com os dedos e mãos um objeto grande, uma bola, por exemplo. É capaz de segurar com os dedos e mãos um objeto pequeno. É capaz de segurar com os dedos e mãos um objeto pequeno, um lápis (movimento pinça). Anda curtas distâncias desviando-se. Consegue se alimentar com quantidade e horários certos. Consegue promover conforto físico, como tirar uma blusa quando está calor. Relaciona-se socialmente com as outras crianças e o meio. Relaciona-se socialmente com as outras crianças, adultos e o meio. Estabelece contato com estranhos. Participa de jogos e brincadeiras com colegas. Demonstra entender e respeitar regras. Conclui tarefas sequenciais como escolher um brinquedo, usá-lo e guardá-lo. Sobe e desce escadas. Lava e seca as mãos. Escova os dentes. Veste e desveste as roupas 26 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Calça meias e sapatos. Come coordenando as várias ações: cortar, levar a boca e mastigar. Bebe coordenando as várias ações: abrir, sugar e tomar. FONTE: A autora Pode-se propor uma síntese dos vários critérios de classifi cação para uma previsão da evolução nas várias faixas etárias. Esse critério evolutivo nos parece útil para fi ns prognósticos e assistenciais. É importante recordar que a defi ciência intelectual se inicia precocemente, mas dura por toda a vida; por isso os profi ssionais envolvidos devem ter ideia de como um determinado caso vai proceder no tempo. A seguir encontra-se o quadro que contém um modelo da classifi cação evolutiva da defi ciência intelectual. Idade 0-6 anos Idade 6-18 anos Idade: idade adulta Nível I - Retardos sensório- motor e da linguagem leves. - Aprendizagem escolar discreta no ensino fundamental. - Difi culdade de aprendizagem no ensino médio. - Autonomia sufi ciente. - Permanência na fase da inteligência operatória concreta (9-11 anos). - Capacidade de adaptação social e profi ssional discretas com treinamento apropriado. - Necessidade de ajuda em situações difíceis e traumatizantes. Nível II - Desenvolvimento motor sufi ciente. - Linguagem e funções simbólicas pobres e com amadurecimento lento. - Aquisições escolares iniciais. - Persistência de imaturidade expressiva. - Autonomia sufi ciente. - Permanência na fase das operações concretas simples (7-9 anos). - Aprendizagem de um trabalho elementar. - Autonomia discreta. - Necessidade de ajuda em situações de vivência mais elaboradas. QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO EVOLUTIVA DO RETARDO MENTAL 27 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 Nível III - Desenvolvimento motor elementar com esquemas relacionais pobres. - Linguagem muito reduzida. - Aquisições de hábitos elementares, mas sem aprendizagem escolar - Comunicação verbal limitada; algum interesse afetivo e relacional - Pouca autonomia - Permanência da fase da inteligência representativa pré- operatória (2-6 anos) - Autonomia parcial, necessidade de ambiente monitorado. Nível IV - Retardo motor grave. - Nenhum desenvolvimento das funções simbólicas. - Nenhum desenvolvimento da linguagem. - Desenvolvimento sensório-motor limitado. - Ausência de linguagem relacional. - Nenhuma autonomia. - Permanência na fase da inteligência sensório- motor (0-2 anos). - Necessidade de assistência e monitoramento total. FONTE: AMAAR (2006) Nessa perspectiva é mister salientar sobre o conceito de defi ciência leve, deve-se observar que, se para o diagnóstico no baseamos somente em QI (Quociente intelectual) e não em uma avaliação multidimensional (que inclua também os parâmetros qualitativos da inteligência e os afetivos), podemos ser induzidos ao erro, pois, podemos, então, confundir sujeitos que na adolescência desenvolvem um pensamento lógico ou operatório concreto com outros que permanecem no nível representativo ou pré-operatório. Por isso, parece-nos necessário distinguir com avaliações aprofundadas os casos que adquiriram ou não a capacidade de realizar operações mentais (por exemplo, classifi car, ordenar e numerar). 4 SISTEMAS E SERVIÇOS DE APOIO DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NOS CONTEXTO INSTITUCIONAIS Com o surgimento do movimento dos testes mentais, as defi nições de defi ciência intelectual passaram a dar ênfase à mensuração do funcionamento intelectual do indivíduo em testes de QI. Mais tarde, com os estudos de Grossman (1983 apud ALMEIDA, 2012) viu-se também a necessidade da avaliação do funcionamento intelectual relacionado à maturação, aprendizagem e ao ajustamento social, ou seja, comportamento adaptativo, e assim, a importância da indicação dos tipos de suportes e apoios para possíveis programas de intervenção (ALMEIDA, 2012). 28 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Assim, a prestação de suporte fi cou defi nida em quatro níveis: - Apoio intermitente: oferecido conforme as necessidades do indivíduo, em períodos curtos durantes transições, por exemplo, emprego. Esse tipo de apoio pode ser de alta ou baixa intensidade. - Apoio limitado: é caraterizado por consistência ao longo do tempo. O tempo é limitado, porém mais prolongado com mais de um profi ssional em atendimento. Exemplo desse apoio seria a transação da vida escolar para vida adulta. - Apoio amplo: é um apoio regular, por exemplo, apoio nas atividades de vida diária. - Apoio permanente: apoio de alta intensidade e constância. É oferecido nos ambientes onde a pessoa vive. No entanto, mostra-se também importante explicitar as oportunidades de prevenção existentes em muitos níveis. Em geral, podem ser identifi cados três tipos de prevenção: - Primária: envolve prevenção da condição que, do contrário, resultaria em defi ciência intelectual. Por exemplo, evitar o uso do álcool durante a gravidez. - Secundária: ações como evitar uma condição existente, exemplo, manejo da dieta de um indivíduo nascido com fenilcetonúria (FCU). - Terciária: ações para minimizar a gravidade de incapacidades funcionais associadas com etiologia ou para prevenir condições secundárias, por exemplo, a cirurgia corretiva precoce para défi cits cardíacos em crianças com síndrome de Down paraprevenir defi ciências funcionais posteriores. APOIOS À PREVENÇÃO: CATEGORIAS 1- Apoio nutricional Biomédico 2- Tratamento médico cirúrgico 3- Apoio familiar 4- Treinamento profi ssional dos pais Social 5- Desenvolvimento das habilidades dos pais 6- Tratamento para alcoolismo Comportamental 7- Prevenção da violência domestica 8- Envolvimento na intervenção precoce Educacional 29 C. H. E B. LEG. NOS SIST. DE APOIO E CLASSIFI. DA D. I. Capítulo 1 Diante do exposto, podemos realizar uma atividade que auxiliará na fi xação das informações apresentadas ao longo do capítulo. 1- Tendo como base a análise de trabalhos recentes no campo, parece haver consenso em relação às seguintes características da defi nição e da classifi cação da Defi ciência intelectual. Faça um quadro elucidando esses elementos. 2- De acordo com os dois casos expostos, escolha um deles e preencha o protocolo de avaliação dado. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste capítulo foram apresentados a natureza das defi nições, conceitos no processo histórico da Educação Especial e da Defi ciência intelectual, também a demonstração de um protocolo para o entendimento das funções prejudicadas nos indivíduos com DI. Foram apresentadas as classifi cações e, por fi m, os tipos de apoio e a diversidade de serviços preventivos diante desse transtorno. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. A. Defi ciência Intelectual: realidade e ação. São Paulo: Núcleo de apoio pedagógico especializado, CAPE, 2012. AMERICAN ASSOCIATION ON MENTAL RETARDATION (AAMR). Retardo mental: defi nição, classifi cação e sistemas de apoio. Porto Alegre: Artmed, 2006. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2014. BELLO, S. F. 2009. Interfaces educação especial e fonoaudiologia: um estudo bibliométrico baseado na produção científi ca de dissertações e teses. Dissertação (Mestrado). Programa de pós-graduação em Educação Especial. São Carlos, 2009. 30 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL BRASIL. Orientações para implementação da política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, 2015. BRASIL. MEC/CNE. Proposta de diretrizes para a formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível superior. Última versão. Brasília, 2001. ______. LDBN, Lei de Diretrizes e Bases Nacional (9396/96). MEC – Ministério da Educação e Cultura: Brasília, 1996. JANNUZZI, G. de M. A educação do defi ciente no Brasil: dos primórdios ao início do século XXI. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. PFANNER, P; MARCHESCHI, M. Retardo mental: uma defi ciência a ser compreendida e tratada. São Paulo: Paulinas, 2008. SÃO PAULO (ESTADO), SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. NÚCLEO DE APOIO PEDAGÓGICO ESPECIALIZADO – CAPE. Defi ciência intelectual: realidade e ação. Organização Maria Amelia Almeida, SE, 2012. TEIVE, H. A. G. et al. Alfred Binet: Charcot’s pupil, a neuropsychologist and a pioneer in intelligence testing. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 75, n. 9, p. 673-675, Sept. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0004-282X2017000900673&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 ago. 2018. VALLE, J.W.; CONNOR, D. J. Ressignifi cando a defi ciência: da abordagem social às práticas inclusivas na escola. Porto Alegre: Penso, 2014. CAPÍTULO 2 A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO PADRÃO INFANTIL PARA O ENTENDIMENTO DOS SEUS DESVIOS E ATRASOS A partir da perspectiva do saber fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: Entender os marcos biológicos no desenvolvimento infantil. Ter conhecimento dos instrumentos de triagem para avaliação geral do desenvolvimento. Fazer: Determinar os marcos biológicos que são esperados para cada etapa do desenvolvimento (idade/escolaridade). 32 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 33 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O transtorno do desenvolvimento intelectual (APA, 2014) compromete de modo duradouro, e muitas vezes permanente, a conquista das funções que nos permitem como espécie um pensamento fundamentado na interiorização da experiência e, especialmente, na capacidade de abstrair dela as leis que ligam os acontecimentos, as relações de causa e efeito, as capacidades de formular hipóteses e deduções, as capacidades de distinguir os limites restritivos do mundo real, como foi apresentado no primeiro capítulo. Na defi ciência intelectual, o pensamento fi ca intimamente dependente da experiência e da sua representação, as percepções não conseguem se generalizar, o movimento é imitativo, com difi culdade de originalidade expressiva e construtiva, a linguagem é defi citária ligada à representação imediata, ocasionando desvios do processo evolutivo, isto é, o que é esperado para a idade dentro dos padrões normais, deteriorando o ciclo de desenvolvimento do indivíduo acometido por essa defi ciência. Dessa forma, a aquisição progressiva das habilidades é uma tarefa primordial no sistema nervoso central (SNC) e o refl exo do amadurecimento é denominado desenvolvimento. O desenvolvimento, neste caso, é considerado o resultado de ações simultâneas de fatores genéticos e ambientais que se modifi cam mutuamente. Segundo Olivier, Antoniuk e Bruck (2018), o desenvolvimento é a história de como cada criança atravessa momentos críticos de transformação, consolidando aquisições que a conduzem a níveis cada vez mais complexos de funcionamento. Assim, este capítulo trata da importância da compreensão que o professor e profi ssional devem ter sobre o desenvolvimento padrão para poder entender os desvios e atrasos que porventura possam ocorrer durante esse processo do indivíduo que está sob sua investigação ou intervenção. MARCOS BIOLÓGICOS NAS ÁREAS DOMÍNIOS DO DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento signifi ca o processo de amadurecimento do ser humano desde o nascimento até a idade adulta. Este processo está dividido em crescimento físico e desenvolvimento funcional, e caracteriza-se por aquisições e aperfeiçoamento de funções e capacidades que a criança executa progressivamente. 34 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O desenvolvimento infantil apresenta três aspectos importantes, são eles: padrões universais, diferenças individuais e infl uências ambientais e ocorre normalmente numa sequência, ou ritmos semelhantes, e que é previsível, o que justifi ca a utilização de instrumentos para sua avaliação devido aos padrões considerados normais do desenvolvimento infantil (BEAR, 2004). O instrumento de avaliação é valioso durante o processo de desenvolvimento e verifi cação na área de saúde e educação, e permite ao profi ssional orientar a família quanto à estimulação adequada para a fase específi ca da vida em que se encontra a criança, contribuindo para que o desenvolvimento se processe da melhor maneira possível (BELLO; MACHADO, 2018). O desenvolvimento biológico ocorre por meio de mudanças ordenadas nas estruturas físicas e orgânicas, e o desenvolvimento psicológico apresenta-se por mudanças progressivas no comportamento biológico resultante de eventos ambientais socioculturais. O desenvolvimento infantil é um processo de caraterísticas multifatoriais e para que ele ocorra adequadamente devem ser oferecidas as condições favoráveis acrescidas às condições biológicas inerentes ao ser humano. O desenvolvimento será o produto de fatores positivos e negativos atuantes durante a vida. Assim, os fatores de risco têm efeito cumulativo sobre o indivíduo, fator importante no estudo do desenvolvimento da criança.Nessa perspectiva, um indivíduo com defi ciência intelectual precisará de suportes de apoio já mencionados no capítulo anterior, bem como necessitará de estrutura educacional, que será explicitada no capítulo seguinte. DETERMINANTES BIOLÓGICOS E PSICOLÓGICOS NAS ÁREAS DOMÍNIOS LINGUAGEM SOCIOEMOCIONAL Os avanços dos estudos de genética molecular caminham para o conhecimento sob a infl uência genética no processo do desenvolvimento humano. Por conseguinte, os novos conhecimentos indicam que os fatores genéticos não obedecem a um modelo de herança monogenética, e que devem existir múltiplos genes agindo associados aos fatores ambientais determinando os processos O desenvolvimento infantil apresenta três aspectos importantes, são eles: padrões universais, diferenças individuais e infl uências ambientais. O desenvolvimento infantil é um processo de caraterísticas multifatoriais. 35 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 cognitivos humanos (LOPES-CENDES, 2006). Assim, segundo os autores referenciados anteriormente, a formação do SNC obedece a estágios sucessivos de desenvolvimento: formação do tubo neural, clivagem ou segmentação, proliferação neuronal, migração, diferenciação, formação de sinapses e circuitos neurais, morte celular programada e mielinização. Cada série de etapas críticas dentro deste processo deve ser cumprida corretamente para que o cérebro atinja sua estrutura normal. Os períodos de proliferação e migração celular são os mais vulneráveis às infl uências ocorridas no organismo materno. A formação de circuitos neurais se caracteriza pelo estabelecimento de conexões sinápticas com outros neurônios. Concomitantemente a este processo, é importante ter em mente que novas células do córtex cerebral continuam sendo geradas até por volta de 40 semanas e que as sinapses continuam se estabelecendo até a idade de cinco anos e, posteriormente, mesmo que em ritmo mais lento, até aos 18 anos. No entanto, a maior formação de sinapses ocorre mais intensamente após o nascimento. A plasticidade ocorrida durante o desenvolvimento compreende três estágios sobrepostos no curso do desenvolvimento sináptico e sua manutenção subsequente (GONÇALVES; MACHADO, 2012). • Formação das sinapses: ocorre nas etapas precoces do desenvolvimento e está sob controle dos processos genéticos. • Afi nação das sinapses recém-desenvolvidas: ocorre durante períodos críticos do desenvolvimento, em geral estabelecida por estímulos ambientais. • Regulação da efi cácia sináptica: pode ser a longo prazo ou transitória, ocorrendo diariamente durante toda a vida e é determinada pela experiência. Os momentos nos quais ocorrem mudanças muito rápidas no desenvolvimento humano são conhecidos como período crítico. Em tais períodos, efeitos deletérios podem interferir na sequência normal do desenvolvimento cerebral. A determinação do início e fi m de cada período crítico é de natureza complexa e dependente de eventos celulares e modulares delicados (FERRARI, 2006). No nascimento, o organismo traz consigo todo um repertório histórico ou de desenvolvimento que é essencialmente fi logenético, prevalecendo inicialmente a determinação genética do comportamento, seguida da infl uência ambiental e da interação do indivíduo com seu meio, ao qual responderá atuando sobre seu ambiente físico, social e cultural, constituindo esta a porção do conhecimento. Podemos dizer que a interação entre os fatores biológicos e ambientais 36 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL será expressa como comportamento. Esta interação entre as características genéticas próprias de cada ser humano e as mudanças no comportamento promovidas pelo meio ambiente resumem de maneira geral o que se compreende como aprendizagem, que se caracteriza como um processo de aquisição do conhecimento por meio da experiência, observação ou imitação, processo este pelo qual o ambiente, de natureza epigenética, agindo sobre a base genética, altera o comportamento. Como vimos no capítulo anterior, os indivíduos com defi ciência intelectual apresentam prejuízos em todos esses elementos citados. Como uma condição básica da necessidade de sobrevivência da espécie humana, a criança demanda os cuidados de um adulto para alimentar-se, dar proteção, conforto e segurança. Esta sobrevivência se desenvolve e é iniciada a partir da busca de proximidade e contato com uma fi gura específi ca com quem é feito um vínculo que permite a sensação de segurança (BEE, 2006). A forma de vinculação é denominada apego, explicado por Bee (2006) como sendo uma variação de vínculo afetivo quando existe a necessidade de presença do outro, e que se traduz por uma sensação de segurança quando este está presente. A criança vincula-se afetivamente aos pais e, quando sente segurança, torna-se apta a explorar o mundo e outros relacionamentos. Normalmente o vínculo inicial acontece entre a mãe e o bebê, e a qualidade desta relação vai resultar em apego seguro ou inseguro na criança, dependendo deste a sua saúde mental. Este vínculo é mais intenso com o cuidador primário. Além disso, a criança mantém relações de apego com fi guras subsidiárias, que não têm as mesmas características que aquelas exercidas pelo cuidador primário (BOWLBY, 1990). Com a capacidade de locomoção e fala, as crianças arriscam distanciar-se de suas mães, até o momento em que se sentem ameaçadas, quando procuram novamente a presença da mãe com a fi nalidade de que a tranquilidade volte a reinar. Este comportamento vai se tornando menos frequente à medida que a idade vai passando e a criança vai se tornando mais competente socialmente, uma consequência do desenvolvimento de autoconfi ança proveniente do apego seguro. A competência e a cognição social combinam as áreas perceptiva, cognitiva, social, emocional e do desenvolvimento da personalidade, o que inclui pensar sobre o que as pessoas deveriam fazer e como elas sentem. 37 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 Com aproximadamente nove meses as crianças já demonstram sinais específi cos de formação de apego social. E o vínculo com a mãe resulta em previsibilidade e o desenvolvimento da permanência dos objetos e especialmente da mãe, tornando-se um pré-requisito cognitivo para o apego. O aprendizado social ocorre na medida em que a sequência angústia-alívio se repete. Esta repetição é importante para a formação da cognição social e dos laços de apego, possibilitando o aprendizado por meio desta repetição da transição do estado de desprazer para o de prazer, associando a pessoa com o resultado prazeroso que ela produz (BEE, 2006). O desenvolvimento sociocognitivo se inicia com o processo da separação do indivíduo e conexão emocional com o outro, e no início do segundo ano as crianças já são capazes de reconhecer e categorizar as pessoas e dimensioná-las de forma diferente, de acordo com os modelos representacionais estabelecidos por meio de estruturas cognitivas baseadas em experiências vividas por elas. Estes modelos são dependentes da memória e da atenção, afetando o comportamento, implicando em cada novo relacionamento na reprodução do padrão com que a criança está familiarizada. A mudança sequencial e previsível nos padrões de comportamento de um organismo é o que serve de base para a construção do desenvolvimento neuropsicomotor. Assim, o desenvolvimento do SNC da criança é demonstrado por meio das várias etapas do desenvolvimento neuropsicomotor. Veremos mais sobre a importância das etapas no quadro de aquisições neuropsicomotoras que será apresentado no tópico a seguir, área muito importante para observamos o desenvolvimento de uma criança, ou seja, o que é esperado para cada idade. Nessa perspectiva, é um elemento relevante para os profi ssionais e professores que trabalham com crianças e, principalmente, um caminho com direção científi ca para suspeitasde atrasos e hipóteses para uma possível defi ciência intelectual. MODELOS DE AVALIAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O desenvolvimento é uma transformação complexa, dinâmica e progressiva. Portanto, para o bom desenvolvimento da criança, as condições e o bem-estar físico, emocional e social se fazem necessários. A importância dos primeiros meses e anos de vida na constituição do sistema nervoso da criança é fundamental. 38 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL As aquisições no desenvolvimento neuropsicomotor de uma criança seguem uma determinada ordem, como no exemplo em que a sustentação do tronco se faz necessária para o caminhar. Sendo o desenvolvimento uma sucessão de avanços obtidos pela maturação e interação com o meio, os primeiros anos de vida são de conquistas e aperfeiçoamento de várias habilidades que se benefi ciam e partilham desse aprendizado, incluindo os campos do cognitivo, social, afetivo, motor e linguagem. O desenvolvimento ocorre de forma gradativa e rapidamente, a criança vai adquirindo habilidades que lhe permitirão oportunidades de aprendizagem e interação com o mundo que a cerca. Para que o desenvolvimento e o crescimento aconteçam de forma satisfatória, são necessárias condições básicas, sustentadas em três pilares: • saúde, proteção e segurança; • oportunidade de aprendizagem adequada; • interações positivas. A qualidade do desenvolvimento na primeira infância terá infl uência nos resultados e na saúde na vida adulta, assim, aos profi ssionais da saúde e educação cabem o empenho e a responsabilidade do conhecimento e entendimento aprofundado dos marcos/fases do desenvolvimento, conhecendo o comportamento e desempenho da criança, identifi cando e possibilitando a prevenção e a intervenção de possíveis atrasos ou riscos ao desenvolvimento. A seguir é apresentado um quadro com algumas aquisições neuropsicomotoras defi nindo o desenvolvimento por idade, o que pode auxiliar de modo signifi cativo os profi ssionais da área. Idade da criança Área Motora Área Linguística Área Comportamental Recém- nascido Hipertonia fl exora dos quatro membros Refl exo de preensão Refl exo palmar Reconhece as vozes da mãe e do pai Pode seguir objetos com olhos Explora com olhos e ouvidos Enxerga melhor de 20 cm a sua frente 3 meses Segura a cabeça com fi rmeza Refl exos primitivos ainda presentes: sucção, mão-boca Firma o pescoço Movimenta a cabeça Junta as duas mãos na linha média O olhar responsivo Sorri socialmente Reconhece sua voz Faz gorjeios Reconhece seu rosto Adquire a noção de profundidade Inicia gargalhadas QUADRO 1 – DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR 39 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 6 meses Rola nas duas direções quando deitada Estica o braço para pegar objetos e os põe na boca Senta com apoio Muda de decúbito Vira na direção de som e vozes Atende pelo nome Faz vocalizações Imita sons Pode puxar objetos em sua direção, inicia permanência de objeto Está pronta para alimentos Retira pano do rosto “cuti” 9 meses Fica de pé segurando em algo Anda segurando nos móveis Fica em pé sozinha por alguns segundos Diz “papa”, “mama” para pessoa certa Palavras de sílabas repetidas com signifi cado. Pega objetos em cada mão e bate um contra o outro Troca preensão manual de pinça superior em escada. 12 meses Dá alguns passos Anda bem Pinça superior individualizada Localiza a fonte sonora Usa palavras corretamente e produz jargão Participa de brincadeiras Entende instruções simples Bebe líquidos no copinho 18 meses Corre Chuta bola Aponta e nomeia partes do corpo nela e no outro Fala 50% compreensível Capaz de nomear quatro fi guras Controle vesical diurno iniciando 24 meses Equilíbrio estático Sobe escada com apoio Arremessa bola com mão acima da cabeça Enriquece o vocabulário com signifi cados diferentes Frases com duas palavras Pede o que quer comer, água, brinquedo Consegue comer usando colher Faz torre de quatro cubos Garatuja, faz garranchos Consegue pôr e tirar sapatos e meias Começa a ser sociável com outras crianças 36 a 48 meses Equilibra-se em cada pé por cinco segundos; Marcha com a ponta de um pé Consegue construir frases usando verbos Defi ne três objetos pelo seu uso Imita linha vertical Copia círculo Desenha boneco com três partes Sabe que há meninos e meninas e a qual grupo pertence Escova os dentes com supervisão 60 meses Controle motor adequado para as atividades motoras: andar, correr, subir pular, empurrar, escrever, recortar e realizar atividades funcionais Seu vocabulário já consta de qual mil palavras e usa com desenvoltura e fl uidez. Faz analogias: se o cavalo é grande, o rato é... Controle completo vesical e anal Descobrimento das letras, o aprimoramento da coordenação, o abstrato se faz presente, nomeia cores, copia quadrado, desenha uma pessoa com seis partes FONTE: A autora 40 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O quadro apresentado servirá de base para possíveis observações, o que deve ocorrer principalmente em creches e instituições de saúde e educacionais que recebem e assistem crianças dessa faixa etária. É mister ressaltar que tais aquisições são marcos para o desenvolvimento, dessa forma, precisamos analisar cada caso dentro do padrão esperado. Salienta-se também que quando uma criança tem a condição de ser assistida pelos três pilares citados, com certeza seus prejuízos podem ser amenizados. Uma criança com diagnóstico de defi ciência intelectual se benefi ciará da observação apurada do profi ssional que com ela trabalhará. Nessa perspectiva, considerando que o desenvolvimento infantil é ameaçado por fatores de risco, sejam biológicos ou ambientais, a implantação de programa de intervenção precoce, com acompanhamento sistemático, deve ser reconhecida e considerada como ação de prioridade nas políticas públicas dos vários países, inclusive o Brasil. Diagnósticos e intervenções precoces são essenciais para minimizar os efeitos e consequências dos riscos aos quais algumas crianças, famílias e sociedade estão expostos. A prevenção dessas condições e suas possíveis consequências negativas na primeira infância constitui-se em ação prioritária para a educação e saúde infantil. Essa prevenção é chamada por Figueiras et al. (2005) como “vigilância do desenvolvimento”, caracteriza-se por todas as atividades relacionadas à promoção de desenvolvimento normal e à detecção de problemas no desenvolvimento durante a atenção primária à saúde da criança. Tal ação engloba a prevenção, a detecção de anormalidade e a promoção de atitudes que favoreçam o desenvolvimento, tendo como fi nalidade o encaminhamento adequado para avaliação detalhada, orientação das famílias em relação ao desenvolvimento infantil e o monitoramento do efeito das intervenções. Os programas de atendimento e vigilância às crianças devem ser sustentados por três pilares, como já mencionado. Essa vigilância do desenvolvimento infantil acontece nas visitas sistemáticas e programadas ao pediatra, recomendadas nos primeiros anos de vida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma das atividades centrais desses acompanhamentos é o monitoramento do crescimento e do desenvolvimento psicomotor das crianças, a fi m de realizar uma detecção correta e, se necessário, uma intervenção para todas as crianças que apresentem desvios. 41 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 Apesar da frequência das visitas, muitos problemas de desenvolvimento escapam, principalmente a detecção de fatores múltiplos de natureza sutil, como no caso do Transtorno do Desenvolvimento Intelectual (DI). A falta de tempo nas consultas, a carência de ferramentas validadas e adaptadas à nossa população, ou pela não utilização dos instrumentos detriagem recomendados e de fácil manuseio, confi ando os profi ssionais da saúde somente em seu exame clínico, podem ser fatores de não identifi cação precoce de riscos ao desenvolvimento (LOPES; LOPES, 1999). Com o objetivo de atender crianças em situação de risco para seu desenvolvimento, realizando o acompanhamento longitudinal do crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor, foram introduzidos no Brasil, na década de 80, os programas de follow-up. Junto com eles fez-se necessária a aplicação de instrumentos de triagem e avaliação para o acompanhamento e registro da evolução das crianças (FORMIGA; PEDRAZZANI; TUDELLA, 2004). O Ministério da Saúde (MS) instituiu, para utilização pelos pediatras no acompanhamento de qualquer criança, a fi cha de acompanhamento do desenvolvimento e o manual de vigilância do desenvolvimento infantil no contexto da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), para identifi cação precoce de alterações no desenvolvimento infantil (OMS, 2005; OPAS, 2005). A Academia Americana de Pediatria (APP) recomenda que todas as crianças, mesmo as sem fatores de risco, devem ser submetidas a testes de triagem padronizados com nove, 18, 24 e 30 meses. Eickman (2008) reforçou a importância desses programas, mostrando que esses devem ser um processo contínuo e fl exível de avaliação da criança, incluindo a observação direta, a valorização dos familiares, um exame neurológico sistematizado, assim como a avaliação dos marcos de desenvolvimento neuromotor com a realização de testes de triagem. Diferentes testes e escalas de avaliação e triagem podem ser aplicados em crianças de zero a cinco anos, permitindo comprovar o desenvolvimento das áreas cognitivas, motora, da linguagem e social de forma segura e rápida. As primeiras publicações que se tem sobre avaliação e escalas do desenvolvimento psicomotor foram encontradas com data de 1877, mas somente em 1920 é que o tema despertou interesse do meio científi co. Muitos estudos e instrumentos de avaliação foram desenvolvidos deste então, alguns dos quais são utilizados até hoje, como o método de avaliação do desenvolvimento de Gesell e o Teste de triagem de desenvolvimento de Denver (DDST), por exemplo (BAYLEY, 2017). 42 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor pode ser entendida como a aplicação de um método com critérios explícitos de análise com vistas a conhecer, medir, determinar e julgar o contexto ou o estado em que se encontra uma criança, a fi m de estimular e facilitar processos de aprendizagem e de desenvolvimento. A avaliação tem um objetivo de identifi car transtornos específi cos do desenvolvimento que afetam a criança, possibilitando estabelecer quocientes de desenvolvimento (EICKMAN, 2008). Segundo a mesma autora, o monitoramento do desenvolvimento passa pelo processo fl exível, contínuo e cumulativo, por meio do qual profi ssionais de saúde e educação podem, utilizando várias fontes, reconhecer crianças em risco para transtornos do desenvolvimento. O conceito de avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor foi incorporado à promoção do desenvolvimento infantil pelo setor público tanto na saúde como na educação, com ações de vigilância do desenvolvimento, englobando a prevenção e detecção de possíveis alterações, bem como a promoção e antecipação de questões relacionadas a esse processo. De uma forma ou de outra, todas as avaliações infantis envolvem a busca de informações na tentativa de melhor compreender e apoiar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. Os resultados esperados de uma avaliação podem descrever alguns detalhes informativos do que essas crianças sabem e podem fazer, mas nunca totalmente retratar quem são ou serão como indivíduos. Ao avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor, é importante distinguir entre as crianças que apresentam desenvolvimento típico e as que apresentam desenvolvimento atípico. Basear-se apenas na impressão clínica pode ser inefi ciente. Diante do exposto, a realização de testes de triagem para detecção de alterações do desenvolvimento deve ser concebida como complementar às ações de vigilância mencionadas. Para a realização de uma avaliação signifi cativa, o profi ssional deve ater-se no planejamento e na escolha do instrumento entre os disponíveis. É necessário conhecer e discutir as várias fi nalidades, tipos e métodos que o instrumento dispõe para que seja realizada a avaliação. É importante considerar algumas implicações, como: a) a realização de uma avaliação completa e signifi cativa requer compreensão familiar e a obtenção de informações dos pais sobre o desenvolvimento da criança, a história pregressa e atual, a rotina da família, sua situação socioeconômica e cultural, seguida do exame físico da criança, englobando o neurológico e clínico e, se possível e com permissão, realizar visitas domiciliares; 43 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 b) ao realizar a avaliação em crianças pequenas, é preciso ser fl exível, devendo fazer parte do planejamento as variáveis como fadiga, sono, doença e o próprio temperamento da criança, horário, material, entre outros fatores situacionais que podem facilmente ofuscar as habilidades e o desempenho da criança; c) as crianças aprendem fazendo e demonstram suas habilidades por meio de ações lúdicas e atividades orientadas. Assim, aplicar a avaliação nessas atividades, rotinas e interações do dia a dia pode produzir um resultado mais fi dedigno; d) planejar o objetivo que deve ser alcançado com os resultados da avaliação, devendo-se coletar somente as informações que realmente são úteis para a intervenção. Os instrumentos formais de avaliação são ferramentas para a coleta de informações fi dedignas, mensuráveis e quantifi cáveis, padronizadas para determinada população. Portanto, o profi ssional deve conhecer bem o instrumento e manejá-lo com destreza, confi ança e de acordo com as regras e normas estabelecidas. Deve saber selecionar os instrumentos, optando pelo que é mais indicado conforme a sua realidade e fi nalidade, levando em consideração: • a confi abilidade do teste; • a validade; • a sensibilidade, que é a habilidade do teste em identifi car corretamente os indivíduos que apresentam disfunções; • a efi ciência, o custo e tempo para a aplicação. O profi ssional deve considerar, ainda, se o instrumento escolhido está correlacionado com o outro teste ou instrumento “padrão-ouro”. No Brasil, entretanto, são poucos os instrumentos traduzidos, validados e padronizados para sua realidade. A maioria dos testes e escalas utilizados na prática clínica, nos programas de follow-up em pesquisas são protocolos publicados em língua inglesa (SANTOS; ARAÚJO; PORTO, 2008). Padrão-ouro é um teste padrão que serve de comparação por parte de outros testes, com a fi nalidade de avaliar a exatidão dos mesmos, em resultados que assegurem o máximo de acertos de forma a estabelecer o diagnóstico real. 44 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Os instrumentos de avaliação são classifi cados conforme suas fi nalidades em triagem, diagnóstico, avaliação instrucional e de programas de acompanhamento: a) Instrumento de triagem: identifi car problemas potenciais no desenvolvimento e assegurar se o desenvolvimento está de acordo com o esperado; b) instrumentos de diagnóstico: efi cazes para diagnosticar os pontos fortes e áreas de necessidade de apoio à instrução, desenvolvimento e/ou comportamento, para diagnosticar a gravidade e a natureza das necessidades especiais e para estabelecer a elegibilidade do programa; c) avaliação instrucional: informar, apoiar e monitorar a aprendizagem. Utilizados na maioria das vezes em escolas e centros de capacitação; d) avaliação para programas de acompanhamento: fornecer dados para prestação de contas e resultados, visando o aperfeiçoamento e a melhoria de um programa. Éessencial diagnosticar e detectar difi culdades específi cas das crianças, atendendo e compreendendo as características de desenvolvimento para orientar de forma efi ciente as condutas e fazer intervenções necessárias (BAYLEY, 2017). Vários são os instrumentos de triagem e avaliação que são utilizados para acompanhamento de crianças pequenas, os quais poderão ser selecionados pelo profi ssional conforme a necessidade e conduta a ser aplicada (MACHADO; ALMEIDA, 2018). A seguir, o Quadro 2 apresentado demonstra uma lista com alguns instrumentos conhecidos e utilizados. Salienta-se que a vantagem de cada instrumento depende, principalmente, da experiência do examinador, conhecimento de suas indicações, qualidades psicométricas e limitações. Instrumentos Idade Descrição Exame neurológico do recém-nascido a termo 38-42 semanas de vida Avaliar o estado de consciência do neonato em cinco estados de comportamento. Escalas de desenvolvimento infantil de Bayley (versão brasileira 2018) 15 dias a 42 meses Teste padronizado e referenciado do desenvolvimento motor grosso e fi no, cognitivo, de linguagem expressiva e receptiva e comportamental. Triagem de desenvolvimento infantil – Denver 1 semana a 6 anos e 6 meses Utilizado para referenciar o desenvolvimento para os aspectos pessoal-social, motor fi no, adaptativo, linguagem. QUADRO 2 – TRIAGEM E AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO BRASIL 45 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 Avaliação pediátrica do inventário de incapacidades 6 meses a 7 anos e 6 meses Entrevista realizada com os pais ou cuidadores avaliando o desempenho funcional na rotina diária de crianças com defi ciência. Escala “Child Behavior Checklist” (CBCL) 2 a 3 anos e 4 a 18 anos Uma medida padronizada amplamente utilizada em psicologia infantil para avaliar problemas de comportamento e emocionais adaptativos. Ficha de avaliação do desenvolvimento infantil do Ministério da Saúde Nascimento até a adolescência Ficha de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento na atenção básica visando descrever o comportamento esperado. Indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento infantil (IRDI) 0 a 12 meses Observa atividades básicas dos bebês nos primeiros meses. M- CHAT 18 meses Avaliar crianças com perturbações na relação da comunicação, o registro é uma observação clínica cujas informações são fornecidas pelos pais. FONTE: A autora Isso posto, neste capítulo foi apresentada a importância do desenvolvimento padrão infantil para o entendimento dos possíveis atrasos e desvios que venham, porventura, a aparecer. Nessa mesma perspectiva, os marcos biológicos, psicológicos e comportamentais foram explicitados, bem como as aquisições neuropsicomotoras por faixa etária. Toda essa temática exposta neste capítulo deve fazer parte da formação dos profi ssionais que atuarão com crianças, principalmente aqueles que serão público-alvo da Educação Especial, como é o caso da defi ciência intelectual. 46 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Estudo de Caso: A história de Lúcio As exigências do ambiente e as primeiras difi culdades Lúcio nasceu em 26/03/2003, numa cidade do interior paulista. Foi uma gravidez inesperada, uma vez que a fi lha caçula do casal já estava com a idade de sete anos e o mais velho com 11 anos. No entanto, após a surpresa da gravidez, o bebê foi esperado e os pais e familiares se preparam com grande expectativa para o seu nascimento. O bebê nasceu bem e a mãe estava com 35 anos e o pai com 40 anos de idade. O pai possui Ensino Superior e exerce a função de técnico-administrativo em uma faculdade privada e, nas horas vagas, dedica- se à profi ssão de fotógrafo. A mãe, com Ensino Médio completo, dedica-se às tarefas da casa e não exerce função profi ssional. Lúcio nasceu no tempo de parto cesariana. No entanto, apresentou atrasos no decorrer de seu desenvolvimento neuropsicomotor, características de pouco interesse nas interações próprias aos meses iniciais de um bebê, e aos oito meses começou a apresentar ocorrências de crises convulsivas, levando ao atraso no desenvolvimento motor, como controle Diante do exposto, vamos realizar mais uma atividade que auxiliará na fi xação das informações distribuídas ao longo do capítulo. Utilizaremos novamente os casos já expostos no Capítulo 1. No entanto, eles estão logo abaixo, para melhor realização da tarefa. 1- Faça um quadro com os dois casos expostos, nele você deve: a-) em cada um dos casos, fazer a marcação das aquisições realizadas pelas crianças; b-) apontar nos casos a faixa etária da criança em cada uma das áreas, baseando-se no Quadro 1. Lembre-se, essa atividade é de caráter para fi xação do conteúdo deste capítulo. 47 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 cervical, manutenção da postura ereta para início de marcha, e apenas com dois anos e meio começou a andar. O desenvolvimento da linguagem apresentou-se bastante comprometido e com atraso considerável nas etapas de evolução infantil. Em relação ao comportamento, observaram-se características autísticas devido ao pouco interesse de interação, não sustentação do olhar, obsessões por movimento e objetos circulares. Também tornam-se notáveis alguns adenomas. A observação dos pais em relação aos aspectos apresentados impulsionou a busca de especialistas para um diagnóstico e encaminhamento para atender adequadamente necessidades apresentadas por Lúcio. Os exames médicos e clínicos indicaram a presença da Síndrome de Bourneville-Pringle, também conhecida como Esclerose Tuberosa ou Epiloia. Trata-se de uma síndrome rara e de difícil diagnóstico, o que compromete o tratamento de seus sintomas. É caracterizada por uma tríade clínica: crises convulsivas, adenoma sebáceo e defi ciência intelectual; embora o atraso mental esteja presente em aproximadamente 50% dos casos, portanto é possível encontrar relatos de inteligência média e apenas convulsões ou lesões cutâneas. Algumas características são variáveis e não são incomuns manifestações de comportamento autístico. Lúcio foi diagnosticado aos três anos de idade e imediatamente pôde contar com uma equipe multidisciplinar composta por psicóloga, fonoaudióloga, fi sioterapeuta, terapeuta ocupacional e pedagoga. A equipe se dedicou ao atendimento à criança e à sua família, a qual recebeu atendimento terapêutico na psicologia e orientações sistemáticas das outras áreas. Por orientação da pedagoga e apoio de toda a equipe, a família foi orientada a matricular Lúcio em uma escola comum de Educação Infantil. Assim, de 2007 a 2009 frequentou uma escola de Educação Infantil e continuou a receber apoio da equipe multidisciplinar. Foi estabelecido um diálogo colaborativo e sistemático entre a equipe da escola e a multidisciplinar para estabelecer pautas de trabalhos conjuntos e nas adequações na proposta escolar que pudessem atender suas necessidades e, ao mesmo tempo, mantê-lo em companhia das demais crianças. Inicialmente o processo educacional foi bastante difícil, mas as equipes – escolar e multidisciplinar – puderam observar avanços signifi cativos em todas as áreas do desenvolvimento, em suas funções cognitivas (percepção, atenção, memória, raciocínio e linguagem), nas funções motoras e mesmo na área emocional e social. 48 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Em 2010 Lúcio é encaminhado ao 1º ano do Ensino Fundamental e sua escola e especifi camente sua professora passam a receber orientações pedagógicas da equipe, com ênfase na questão escolar e curricular e apoio no Serviço de Apoio Pedagógico Especializado (SAPE) da própria escola, e a articulação entre o SAPE e o professor da classe comum favorece notoriamente seu desenvolvimento escolar e a superação de muitas difi culdades escolares. Atualmente, na mesma escola, frequenta o 6º ano do Ensino Fundamentale, embora ainda apresente difi culdades signifi cativas em seu desenvolvimento curricular, a decisão foi a de que Lúcio deveria acompanhar seus colegas no processo de escolarização e os professores deveriam, nas disciplinas em que isto fosse necessário, realizar adequações curriculares. Não está plenamente alfabetizado, reconhece as sílabas, sabe construir algumas palavras, lida razoavelmente com frases pequenas (mais na leitura do que na escrita), o que traz uma difi culdade e uma exigência da realização de adequações nas aulas de Língua Portuguesa. Gosta de ler, embora saiba fazê-lo em textos simples, de pequena extensão e ainda utilizando o recurso da fi gura como suporte interpretativo para a leitura e compreensão da história. Reconhece algumas tipologias textuais e sabe diferenciar folhetos variados, gibis, livros de histórias e reconhece a estrutura de poesias. Com ajuda, elabora textos orais, conta histórias e relata fatos. Em relação à matemática, compreende o sistema numérico decimal e reconhece números até 100. Faz operações simples de adição e subtração com uso de material concreto e opera apenas com duas casas decimais. Compreende inteiro e metade no concreto, medidas de comprimento e massa de forma funcional, para medir ou pesar no contexto de uma atividade prática. Reconhece formas geométricas planas. Estudo de Caso: A história de Valter Uma defi ciência intelectual com maiores comprometimentos Valter nasceu em 30/09/2001, numa cidade do interior paulista. A mãe relata que foi uma gravidez planejada e muito desejada pelo casal. Ao nascer a criança, a mãe estava com 27 anos e o pai com 31, e foi o primeiro fi lho do casal. A mãe é professora e possui Ensino Superior, e o pai carteiro, com Ensino Médio completo. O casal vivia em harmonia e ansiavam pelo nascimento do bebê sem a preocupação com o gênero da criança. Valter nasceu no tempo certo e de parto cesariano. A mãe conta que não ocorreram problemas pré, peri ou pós-natais. 49 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 No entanto, o desenvolvimento do bebê não se deu de forma esperada, ele se apresentava como um bebê muito agitado e chorão. Apresentou difi culdades de amamentação, não se acalmava com facilidade e parecia não se tranquilizar nem mesmo no aconchego da mãe. Também foram observados atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, não engatinhou, sentou-se com apoio aos oito meses, andou com dois anos. Em relação à linguagem, apresentou pouco balbucio e sua vocalização de fala foi bastante incipiente. Suas solicitações se davam por meio de gestos de apontamento, monossílabos e chorava quando não atendido ou compreendido. Ficava bastante nervoso nestas situações e o choro era tão intenso que chegava a perder o ar. Aos dois anos e seis meses foi matriculado na Educação Infantil e devido aos seus comportamentos diferenciados, como balanceio, isolamento do mundo, difi culdades de interação e de brincar com outras crianças e fala monossilábica, a escola solicita que a família procure uma avaliação clínica da criança. Foram momentos muito difíceis para a família, que se viu peregrinando entre médicos e especialistas sem a prescrição de um diagnóstico e sem concordâncias entre as diferentes especialidades: médicos, neurologistas, psiquiatras, psicólogos. A primeira sugestão para um apoio na área da Educação Especial por causa dos problemas relatados, principalmente na linguagem e na interação, ocorreu quando a criança completou quatro anos de idade, ainda na Educação Infantil. A clínica especializada que frequentou emitiu um diagnóstico indicando atraso de linguagem como parte de um quadro de um possível autismo (TEA) e encaminhou Valter para a APAE, embora também permanecesse na escola de Educação Infantil. Outra consequência da hipótese diagnóstica é o abandono da família pelo pai, que diz não ter estrutura psicológica para cuidar de um fi lho autista. Os avós maternos acolhem a fi lha e neto e passam a ter uma relação muito intensa com o neto, principalmente com o avô, que o leva para passear, brincar, fazer natação e equoterapia. Torna-se mais calmo na presença do avô. A família continua em busca de um diagnóstico mais específi co, pois Valter mantém difi culdades na linguagem e comportamento agressivo e de pouca interação. Recebem as hipóteses diagnósticas de X-Frágil, e apenas mais tardiamente, com sete anos de idade, num Centro Avançado de Diagnóstico, a família recebe a confi rmação de Transtorno do Espectro Autista. A família decide mantê-lo na APAE, no período inverso da escola, e ele é matriculado no 1º ano do Ensino Fundamental, em 2008. No entanto, do 1º ao 3º ano vive um período escolar bastante conturbado, devido ao fato da difi culdade da escola em lidar com suas particularidades, e uma das medidas foi, infelizmente, a redução de sua presença em sala de aula. 50 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Em 2010 a família decide desvinculá-lo da APAE e insistir no processo inclusivo na escola comum. Procura um centro de apoio e Valter passa a ter atendimento regular na fonoaudiologia e na pedagogia. Os profi ssionais iniciam um processo de orientação à família e à escola, com reuniões sistemáticas com a equipe escolar oferecendo suporte pedagógico para realização de adequações curriculares e um programa individual de trabalho com aumento gradativo de sua inserção em sala de aula, até conseguir se manter na sala durante o período de aula integral. Em 2011, quando Valter frequenta o 4º ano escolar, seu avô faleceu em um acidente de carro. O menino fi ca muito revoltado, teve difi culdade em aceitar a morte do avô e conviver com sua ausência e tornou-se agressivo e desatento na escola, tendo uma queda em seu desempenho escolar. A mãe, avó, fonoaudióloga, equipe escolar estabeleceram um acordo para que todos mantivessem uma postura carinhosa e compreensiva, mas ao mesmo tempo fi rme e sem ceder aos seus caprichos. Desde 2010, no 3º ano escolar, recebe apoio especializado, por meio do Serviço de Apoio Pedagógico Especializado (SAPE) da própria escola, e a articulação entre o SAPE e o professor da classe comum favorece notoriamente seu desenvolvimento escolar e a superação de muitas difi culdades escolares. Atualmente, na mesma escola, frequenta o 7º ano do Ensino Fundamental e ainda apresenta especifi cidades em seu processo interacional e escolar. Seu desempenho em História e Geografi a é o esperado para este ano escolar, na Matemática é um pouco mais fraco, mas com ajuda e orientações detalhadas, consegue realizar ao menos o mínimo esperado para este nível de escolarização. Suas difi culdades maiores concentram-se na área da Língua Portuguesa, apresentando maiores difi culdades na escrita de textos autobiográfi cos e narrativos, preferindo os textos jornalísticos, pois lhe permitem concentrar-se na realidade objetiva da notícia, uma vez que não lida bem com a subjetividade, não percebe as intenções de um texto, não faz inferências, não levanta hipóteses e não percebe as fi guras de linguagem. É melhor na leitura do que na escrita, embora prefi ra os textos jornalísticos, científi cos e descritivos do que os literários ou poéticos. Recusa-se a realizar leitura oral e em rodas de leitura mantém-se quieto, sem participação em grupo, dirigindo-se diretamente a dois ou três colegas mais próximos. Não apresenta difi culdades interacionais com a professora da disciplina. 51 A IMP. DO DESEN. P. I. PARA O ENT. DOS SEUS D. E A. Capítulo 2 Em relação à escrita, embora esteja alfabetizado, possui um texto simples e direto, com poucos parágrafos e sempre utilizando uma linguagem direta, pouco expressiva ou interpretativa e sem se estender nas argumentações linguísticas. Do ponto de vista gramatical, usa os verbos sem distinção de tempo verbal, ausência do uso de pronomes, não apresenta variedade linguística, difi culdades no uso de conectivose de continuidade textual. Ainda apresenta erros na escrita de palavras mais complexas ou desconhecidas e é resistente ao uso do dicionário para esclarecer o sentido ou a gramática de algumas palavras que surgem no texto escrito proposto pela professora. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American Psychiatric Association, 2013. BAYLEY, N. 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FIGUEIRA, A. C. et al. Manual para vigilância do desenvolvimento infantil no contexto AIDPI, OPAS, 2005. 52 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL FORMIGA, C. K. M. R.; PEDRAZZANI, E. S.; TUDELLA, E. Desenvolvimento motor de lactantes pré-termo participantes de um programa de intervenção fi sioterapêutica precoce. Revista Brasileira de Fisioterapia, n. 8, v. 3, p. 239-245, 2004. GONÇALVES, A.; MACHADO, A. C. A importância das causas na defi ciência intelectual para o entendimento das difi culdades escolares. São Paulo (Estado), Secretaria da Educação. Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado – CAPE. Defi ciência intelectual: realidade e ação. Organização Maria Amelia Almeida, SE, 2012. LOPES-CENDES, I. Determinantes genéticos da cognição e do desenvolvimento cerebral humano. IN: MOURA-RIBEIRO, M. L.; GONÇALVES, V. M. Neurologia do desenvolvimento da criança. Rio de Janeiro: Revinter, p. 13-15, 2006. LOPES, S. M. B.; LOPES, J. M.A. Follow-up do recém-nascido do alto risco. 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CAPÍTULO 3 SELECIONANDO ABORDAGENS E FERRAMENTAS PARA O ENSINO INCLUSIVO A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: Conhecer as abordagens inclusivas que contribuem para o desenvolvimento da criança e jovem DI na escola; Conhecer o Plano Educacional individualizado – PEI. Fazer: Saber diferenciar as abordagens inclusivas; Saber reconhecer um Plano de Ensino Individualizado. 54 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 55 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A história do campo das difi culdades específi cas de aprendizagem está bem documentada em textos universitários e periódicos educacionais. Ela é frequentemente contada como uma história do contínuo progresso científi co, levando à descoberta de uma patologia infantil que, por sua vez, pode ser identifi cada e tratada. Durante a primeira metade do século XX, as crianças com inteligência aparentemente “normal” que apresentavam difi culdades signifi cativas para aprenderem a ler e escrever tornaram-se objeto de estudo de oftalmologistas, neurologistas, psicólogos e educadores. “Em resposta a essa emergente pesquisa científi ca, o campo das difi culdades específi cas de aprendizagem foi ofi cialmente estabelecido em 1963, em uma conferência patrocinada pelo Fundo para as crianças com defi ciências sensoriais” (VALLE; CONNOR, 2014, p. 34). Assim, os professores devem ter conhecimento do funcionamento da aprendizagem de seus estudantes e também da relação com as últimas pesquisas da área. Nessa perspectiva, esse capítulo tem o objetivo de apresentar algumas abordagens inclusivas que contribuem para o desenvolvimento da criança e jovem com defi ciência intelectual na escola e demonstrar um Plano Educacional Individualizado – PEI. Diante do que será exposto neste capítulo, é importante também estarmos cientes de que a ciência tem proporcionado diversos avanços de aplicação clínica e educacional voltados tanto ao levantamento de funções comprometidas na aprendizagem, bem como à intervenção para os estudantes com DI. No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer, há muito a se descobrir e evoluir, sobretudo no Brasil, em relação a instrumentos e técnicas para serem aplicadas na área educacional e na área clínica. É de extrema importância que tanto os profi ssionais da área de saúde quanto os da educação estejam continuamente atentos às novas descobertas, sempre com um olhar crítico e pautado em conhecimento científi co. 56 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ABORDAGENS INCLUSIVAS E A ORGANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Uma boa maneira de abordar o ensino de forma inclusiva é pensar em termos de design universal. Não é de se surpreender que o conceito de design universal traduza a noção de “criado com todas as pessoas em mente”. O uso original do conceito provém da arquitetura e surgiu na década de 1960, com exigência de se criar novos prédios acessíveis aos cidadãos com restrições de mobilidade. Entretanto, essa abordagem visa repensar como os prédios eram tradicionalmente confi gurados para realmente benefi ciar a todos os usuários. A ideia de criar ambientes acessíveis desde a origem, em vez de readaptar os designs existentes, é muito poderosa quando aplicada à instrução de sala de aula. Usado na educação, o design universal ajuda os professores a planejar currículos e lições acessíveis, quando aplicado à aprendizagem em sala: Em termos de aprendizagens, o design universal signifi ca o planejamento de materiais e atividades instrucionais que tornam as metas de aprendizagem possíveis para indivíduos mais comprometidos em suas capacidades de ver, ouvir, mover-se, ler, escrever, compreender a língua, organizar, envolver-se e lembrar. O design universal para a aprendizagem é alcançado por meio de materiais e atividades curriculares fl exíveis, que proporcionam alternativas para os alunos com diferentes capacidades. Essas alternativas são incorporadas ao design instrucional e aos sistemas operacionais de materiais educacionais (VALE; CONNOR, 2014, p. 36). Muitas vezes, professores experientes, para quem esse conceito é novo, expressam respostas diferentes. Muitos dizem: “Não sabia que se podia usar essas opções ao mesmo tempo!”, e percebem que têm maior fl exibilidade na esfera da instrução para alcançar outro lado, enquanto outros dizem: “Isso dá muito trabalho!” “Não consigo preparar três aulas separadas! Não tenho tempo.” Para o primeiro grupo, dizemos: Sim, vocês estão certos. Isso permite que o ensino respeite todos os alunos e nos desafi a a pensarmosde maneiras não tradicionais. Para o segundo grupo, dizemos: Não se trata de oferecer uma variedade de oportunidades de envolvimento com um mesmo conteúdo. Em outras palavras, não é mais trabalho, mas é uma forma diferente de se pensar sobre como planejarmos e ensinarmos. 57 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Vale e Connor (2014) desenvolveram algumas diretrizes para a criação de ambientes que sejam acessíveis a todos. A seguir, alguns exemplos de como pode ser aplicado o conhecimento do design universal para instrução: - Uso equitativo: o design é útil para todas as pessoas; a) audiolivros podem ser dados ou gravados; b) fi lmes, documentários e programas educacionais televisivos. - Flexibilidade de uso: o design acomoda um amplo leque de capacidades e preferências individuais; a) as informações podem ser acessadas em uma variedade de fontes, tais como: livros, documentos, sites, entrevistas; b) o trabalho fi nal pode ser representado por um portfólio ou uma prova; c) os formatos das provas devem ser variados: resposta escrita curta, múltipla escolha, aplicação criativa, resoluções de problemas, uso de ilustrações e etiquetas. - Simples e intuitivo: o design é direto e fácil de entender, independentemente do conhecimento, da experiência, das habilidades linguísticas e do nível atual de concentração do estudante; a) instruções claras podem ser fornecidas para todas as tarefas; b) instruções que foram dadas por escrito podem ser repetidas oralmente; c) materiais, e atividades em sala e aula, devem ser simples de acompanhar; d) métodos de acesso múltiplo (aprendizagem colaborativa, atividades práticas) devem ser oferecidos; e) apoio do professor ou de colegas pode ser disponibilizado durante as tarefas e os trabalhos. - Informações perceptíveis: o design comunica informações necessárias ao usuário, independentemente das condições ambientais ou de suas capacidades sensoriais a) cópias podem ser disponibilizadas; b) impressões ampliadas; c) os estudantes podem gravar aulas. - Tolerância ao erro: o design minimiza os riscos e as consequências de ações acidentais ou imprevistas; a) acomodações adicionais podem ser providenciadas para a construção de habilidades em aula ou fora dela; b) volume e complexidade de tarefas específi cas podem ser modifi cados. - Baixo esforço físico: o design pode ser usado de maneira efi ciente e confortavelmente e com o mínimo de fadiga; a) os textos podem ser oferecidos em formato digital ou de áudio, por exemplo. - Tamanho e espaço para abordagem: são fornecidos tamanho e espaço apropriados para abordagem, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho, da postura ou da mobilidade do corpo 58 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL do usuário; a) o equipamento pode ser ajustável; b) a disposição dos assentos pode ser fl exível. - Uma comunidade de alunos: o ambiente instrucional promove interação e comunicação entre os estudantes e entre estudantes e professores; a) a aprendizagem pode ocorrer com a turma inteira, em grupos, em duplas e em instruções individuais com o professor; b) as habilidades e competências de cada estudante são reconhecidas. - Clima instrucional: a instrução é projetada para ser acolhedora e inclusiva. Há expectativas elevadas em relação a todos os alunos; a) o professor modela a criação de um ambiente acolhedor e inclusivo, com respeito à diversidade; b) a diversidade é apoiada pelo que está expresso nas súmulas no início do semestre e de formas relevantes e contínuas ao longo do semestre. Todos os professores precisam saber quais estudantes em suas salas de aula têm uma classifi cação de defi ciência intelectual “ofi cial” para compreender as suas necessidades educativas especiais. Assim, o plano educacional individualizado de um estudante com DI contém uma ampla variedade de informações, as quais serão apresentadas no tópico a seguir. CONSTRUÇÃO DO PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO (PEI) Maximizar o envolvimento dos estudantes é parte de um modelo interativo de ensino, no qual o conhecimento é construído nesse processo. É claro, o ensino e a aprendizagem interativos não são criados a partir do nada; eles consistem no entrelaçamento entre conhecimento do conteúdo que os professores fornecem aos estudantes por meio de perguntas ou mesmo pelo registro das ideias dos mesmos. À medida que os estudantes se envolvem em atividades inclusivas de maneiras signifi cativas, garantimos a estimulação e conexões entre os conteúdos ensinados. Nessa direção, acreditamos que um dos desafi os para os professores é afi rmar: “sei que ensinei isso”, mas, “como posso saber em que nível e de que forma isso foi aprendido?”. A resposta está direcionada na exploração e no levantamento das melhores formas de descobrir o que os estudantes conseguem fazer, e usar essa informação para planejar sua prática. Assim, a essência do planejamento está relacionada a uma efi caz avaliação, e, deste 59 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 modo, esses elementos se unem para cumprir tal proposta. Pois a utilização de uma sistematização para estruturar as suas atividades auxilia os professores a conhecerem melhor e a compreenderem as habilidades, singularidades e os estilos cognitivos (traços individuais a partir dos quais elaboram uma informação) dos seus estudantes à medida que eles avançam no currículo. Diante disso, é importante que os professores vejam os estudantes com base em um modelo fundamentado nos pontos fortes, o que pressupõe a identifi cação de habilidades. Ao operarem a partir desse modelo, os professores direcionam os seus estudantes sobre as áreas em que eles se destacam, elevando assim outras possibilidades de ensino. a) Planejar e avaliar: aspectos gerais A avaliação dos estudantes pode acontecer de diversas formas, e em qualquer parte do processo de aprendizagem, por exemplo, antes de introduzi-los a um conteúdo novo, enquanto estão fazendo o levantamento dos conhecimentos prévios numa situação de aprendizagem; e quando criam produtos para mostrar o que eles aprenderam. Também pode ser dada ao fi nal de uma unidade de estudo, ao fi nal do bimestre, do semestre ou ao fi nal do ano letivo. Ela pode acontecer por meio de avaliações informais, de informações coletadas pelo professor (p. ex.: observações, conversas, interações), ou por meio de avaliações formais (p. ex.: jogos, testes, provas fi nais), pode ocorrer por meio de um trabalho em grupo de longo prazo, de projetos e de apresentações em aula, e certamente inclui os exames padronizados locais, estaduais, nacional (ENEM, Prova Brasil) ou mundial (PISA). Cabe aqui mencionar duas áreas importantes relacionadas à avaliação, são elas: avaliação formativa e avaliação somativa. Sendo que a primeira ocorre quando os professores levam em conta o que os estudantes fazem diariamente em sala de aula, ou seja, como respondem e fazem perguntas e como trabalham com os demais, e essas informações podem ser integradas ao planejamento. Já a segunda, respectivamente, é uma abordagem contínua, e permite que os professores monitorem a aprendizagem do estudante, a qual ocorre ao fi nal de um período específi co de tempo (uma semana, uma unidade, um bimestre, um semestre etc.), para se averiguar o seu progresso. As informações obtidas por meio das avaliações somativas revelam o que um estudante sabe ou não, e são também utilizadas para o planejamento. Assim, para maximizar a efi cácia do ensino, ambas as abordagens de avaliação devem ser aplicadas. Abaixo, no Quadro 1, apresentamos um modelo de instrumento para o registro de acompanhamento relacionado à avaliação somativa. 60 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NOMES (nomes dos estudantes) Pontos fortes Área em que precisa melhorar Estratégia para atender o estudante O que observar na próxima vez QUADRO 1 – REGISTRODE ACOMPANHAMENTO DO PROFESSOR EM SALA DE AULA FONTE: A autora Para melhor compreender o uso desse instrumento em sala de aula, apresentamos um exemplo com dados dos estudantes em aula de História. NOMES Pontos fortes Área em que precisa melhorar Atividades que serão dadas aos estudantes O que observar na próxima vez Alice Facilidades de aprendizagem por imagens (visual) Produção escrita Modelo de mapas conceituais e ensino da escrita por tópicos importantes relacionados ao conteúdo. Construção de tópicos que podem ajudá-la na organização da escrita. QUADRO 2 – EXEMPLO DE REGISTRO DE ACOMPANHAMENTO DO PROFESSOR EM SALA DE AULA FONTE: A autora Outras duas propostas de avaliação referem-se aos portfólios dos estudantes e os registros dos professores, que podem garantir com efi cácia o acompanhamento do professor em relação aos seus estudantes. Eles podem ser utilizados em todos os anos e disciplinas e dão ao professor muitas opções para descobrir o que os seus estudantes sabem sobre um determinado conteúdo proposto no currículo. No entanto, outro fator signifi cativo na avaliação das necessidades dos estudantes é a avaliação do ambiente escolar, pois corrobora para o planejamento de ensino, contendo informações importantes e necessárias para o entendimento do contexto escolar. Contudo, elaborar a avaliação dos estudantes não é uma atividade fácil. Abaixo apresentamos alguns exemplos de categorias que podem estar presentes em um planejamento levando-se em consideração a avaliação do ambiente escolar. Neste contexto, o gestor pode contribuir ofertando informações ao professor sobre toda a situação institucional. As categorias são: 61 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 • planejamento de ensino (como se elaboram as unidades de programas, que tipo de ajustes os professores fazem, de que modo organizam as atividades de aula etc.); • normas que regulam a convivência na escola e na sala de aula; • sistemas de avaliação e de acompanhamento do progresso; • expectativas curriculares dos professores; • organização e participação dos professores; • grau de refl exão sobre a própria prática docente; • descrição da escola, da sala de aula, dos principais objetivos curriculares e das características dos estudantes; • descrição dos aspectos organizacionais (horários, conteúdos curriculares da disciplina ministrada etc.); • currículo seguido pelo estudante no ano/série. Todos estes aspectos informam ao professor as condições nas quais ocorrerão o ensino e os conteúdos de aprendizagem, portanto são fatores a serem considerados no planejamento. Por exemplo, ao descrever o ambiente da sala de aula, a sua estrutura e sua organização, o professor poderá identifi car aspectos que são facilitadores ou difi cultadores para a aprendizagem. Aspectos simples podem ser muito signifi cativos para que o professor realize o planejamento do ensino, por exemplo, analisar a disposição das carteiras e questionar: propicia a interação e a colaboração entre os estudantes? Permitem, da forma como estão dispostas, que o professor explore adequadamente o conteúdo que irá ministrar? Diminui ou possibilita a dispersão dos estudantes? A mesma refl exão pode ser feita ao pensar nos materiais ou recursos utilizados para o ensino: são interessantes? Apoiam o conteúdo? Fazem parte do interesse dos estudantes? Estas questões devem ser consideradas no planejamento do ensino para que seja propiciador da aprendizagem, considerando-se que o avanço nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem é possível quando existe a infl uência dos professores e gestores. Isso signifi ca que não há progresso sem a ação pactuada ou participação colaborativa desses membros envolvidos no contexto escolar. É necessário determinar o perfi l compartilhado dos apoios de que precisa um estudante, e o que constitui a base principal para promover sua independência, suas relações, suas contribuições, sua participação escolar. Isto posto, a equipe escolar deve ser fl exível e contemplar a utilização de muitas formas de avaliação, para assegurar que todos os estudantes sejam capazes de demonstrar os seus conhecimentos e as suas habilidades. No entanto, é salutar que relevem de modo singular a importância da preparação desse elemento, a avaliação, lançando mão do planejamento e do enfoque no perfi l cognitivo-linguístico de seus estudantes. 62 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL b) Planejar e avaliar no contexto inclusivo: quais procedimentos utilizar? Alguns procedimentos de avaliação foram apontados na parte inicial do texto, na tentativa de resgatar formas abertas e ao mesmo tempo direcionadoras para a ação do professor e, além disso, reafi rmar a relação intrínseca entre avaliação e planejamento, na qual uma não se dá sem a outra, ou seja, para ensinar é preciso planejar; para planejar é preciso avaliar. Talvez seja esta uma obviedade pedagógica: todo professor ou gestor sabe disso! É verdade, mas entre o saber e o fazer, entre o que se teoriza e o que se aplica observam-se distanciamentos que se transformam em verdadeiros abismos. A prática inclusiva nos desafi a a pensar formas de avaliação e planejamento que permitam o trabalho docente na diversidade, uma vez que estamos falando de múltiplas diferenças que são incorporadas pela escola, desde aqueles que possuem difi culdades em sua aprendizagem por fatores diversos até aqueles que possuem defi ciências, transtornos em seu desenvolvimento ou mesmo altas habilidades. Da mesma forma, em todas elas existem diferenças intensas na forma de aprender, ou seja, nem todo aquele com defi ciência intelectual ou visual, por exemplo, aprende da mesma forma, do mesmo jeito, ao mesmo tempo. Portanto, a diferença é inerente ao desenvolvimento humano e a escola contemporânea se vê frente à heterogeneidade na forma de aprender, assim, não há como seguir um rígido padrão de ensino, o que não signifi ca negar a necessidade do planejamento. Isto também nos remete a outro ponto: não basta conhecer o diagnóstico do estudante ou sua condição primária de desenvolvimento. Embora isto seja importante, é insufi ciente para o planejamento didático de aula, portanto, a escola se sustenta em outros referenciais ou indicadores para avaliar seus estudantes, sejam quais forem suas características. Indiscutivelmente, o referencial para a avaliação escolar é o currículo da série ou ano em que o estudante está matriculado, pois nele estão dispostos os conteúdos que devem ser aprendidos por todos, mas é preciso que esteja articulado ao seu desenvolvimento cognitivo e seu ritmo de aprendizagem. Pois alguns estudantes público-alvo da educação especial ou com difi culdades na aprendizagem, por suas características, podem precisar de adequações mais signifi cativas na proposta curricular para que se garanta o desenvolvimento psíquico e da personalidade dos estudantes, encaminhando-lhes para a autonomia do pensar e do fazer. Não é tarefa simples! Mas podemos nos utilizar do conhecimento teórico acumulado até agora e superar uma visão restrita de avaliação, como se avaliar fosse meramente medir ou mensurar a aprendizagem; precisamos ir além, como 63 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 apontado anteriormente neste texto, superar uma avaliação de produto para avançar numa avaliação de processo. A avaliação processual exige o exercício docente da observação das capacidades dos estudantes, esta observação pode ser realizada no cotidiano da sala de aula, por meio de atividades específi cas, com a proposição de tarefas com objetivos avaliativos determinados. No entanto, é absolutamente necessário que o professor utilize um referente de avaliação e uma forma de registros que possibilitem o acompanhamento da aprendizagem do estudante. Esta é uma opção para conseguir perceber de forma mais clara as condiçõesde aprendizagem daqueles com difi culdades ou mesmo daqueles que compõem o público-alvo da educação especial. Neste ponto, talvez duas perguntas se imponham: qual referente usar e como fazer o registro? São realmente dois pontos importantes e determinantes para a realização de uma avaliação processual que possibilite a elaboração de um planejamento didático. Sem dúvida nenhuma, o referente para a avaliação é o currículo, uma vez que o objetivo do ensino inclusivo é possibilitar a todos a aprendizagem, e estes referentes são, justamente, as habilidades esperadas em cada bimestre e em cada disciplina conforme previsto na Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2017). No entanto, não podemos perder de vista ser o currículo a referência para a aprendizagem, o que não signifi ca que todos devem aprender tudo da mesma forma, mas cabe ao professor pensar em estratégias diferenciadas que possam atender às necessidades de aprendizagem de todos os estudantes. Como poderia fazer o registro destas habilidades? Como organizar a avaliação? E como perceber o processo de aprendizagem? São temas realmente complexos e difíceis, por isso, sugerimos uma forma específi ca para que cada professor construa o seu referencial com base no currículo e nas áreas em que o estudante apresenta maiores difi culdades. A avaliação deve nos possibilitar conhecer o que o estudante sabe, mas, mais do que isto, devemos conhecer o que ele faz com ajuda. Ou seja, a habilidade que está em desenvolvimento, para planejar com o objetivo de fazê-lo avançar no seu conhecimento e realizar com independência a habilidade que realiza com ajuda. No sentido da exemplifi cação, sugerimos uma proposta de Referencial de Avaliação Curricular (RAC). No referencial que apresentaremos a seguir, na primeira coluna da tabela estão as habilidades esperadas de acordo com as propostas do Currículo de Língua Portuguesa (SÃO PAULO, 2010). A diferença é saber o que o estudante público-alvo da educação especial ou aquele com difi culdades realizam, 64 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL satisfatoriamente, com ajuda ou se não realizam, e contém ainda a indicação, pelo professor, dos recursos ou materiais que o estudante necessita. Caso o estudante esteja muito distante do que se espera no ano em que está matriculado e os indicadores apontaram para a não realização (NR) em todos os descritores, o professor deverá usar o espaço para observações para descrever a condição na qual o estudante se encontra, mas evidenciando-se suas possibilidades. No caso da componente de Língua Portuguesa descrever quais suas competências nessa área curricular, por exemplo: reconhece o personagem principal de uma narrativa, escolhe textos de seu interesse para leitura, procura informações complementares em fi guras ou imagens, produz texto simples ou oral etc. A Tabela 1 mostra um exemplo de um Referencial de Avaliação Curricular (RAC). Habilidades esperadas RS RCA NR 1º BIMESTRE Saber procurar informações complementares em dicionários, gramáticas, enciclopédias, internet etc. x Selecionar textos para a leitura de acordo com diferentes objetivos ou interesses (estudo, formação pessoal, entretenimento, realização de tarefas etc.). x Analisar a norma-padrão em funcionamento no texto. x Reconhecer o processo de composição textual como um conjunto de ações interligadas. x Inferir e reconhecer elementos da narrativa. x Analisar narrativas fi ccionais: enredo, personagem, espaço, tempo e foco narrativo. x Produzir texto com organização narrativa. x Recursos ou materiais necessários: Recurso de colaboração, materiais de interesse pessoal do estudante e atividades mais específi cas e dirigidas com ele. Observações: Necessita de colaboração de um colega ou professor para realização das tarefas e apresenta dispersão na execução das atividades. TABELA 1 – CONDIÇÃO DE APRENDIZAGEM SEGUNDO REFERENCIAL DE AVALIAÇÃO CURRICULAR (RAC) FONTE: As autoras Legenda: RS: realiza satisfatoriamente; RCA: realiza com ajuda; NR: não realiza. Suponhamos que se trate de um estudante com Defi ciência intelectual, matriculado na sala comum do 6º ano do Ensino Fundamental, com nome fi ctício de Frederico, para o qual se utiliza este Referencial de Avaliação Curricular (RAC). Poderíamos ter a seguinte situação de aprendizagem (como suposição), relacionada ao componente de Língua Portuguesa, do 1º bimestre. 65 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Temos, então, a caracterização da aprendizagem de Frederico, nosso estudante hipotético, com isto se pode ter maior clareza de suas necessidades e, portanto, dados mais concretos para realizar a proposta pedagógica. Pois a avaliação demonstra que ele precisa aprender a selecionar textos de acordo com interesses de leitura, perceber a norma-padrão e reconhecer elementos de narrativa no texto. Desta forma, tanto o professor da classe comum quanto o professor especializado possuem indicadores mais objetivos para o ensino e, mais ainda, como proposto no Plano de Ensino Individualizado (PEI), poderão realizar o planejamento de forma conjunta e/ou complementar, no sentido de agir colaborativamente para a aprendizagem do estudante público-alvo da educação especial. Para o registro deste planejamento, a literatura nacional e internacional tem apontado o Plano de Ensino Individualizado (PEI) como uma forma efetiva de acompanhamento da escolarização e aprendizagem deste público e, também, como forma de ensino colaborativo entre professor comum e o da Educação Especial. Pletsch e Glat (2013, p. 22-23) consideram que O PEI é uma alternativa promissora, na medida em que oferece parâmetros mais claros a serem atingidos com cada aluno, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas curriculares. [...] pode auxiliar os docentes a planejar ações que possibilitem os alunos [público-alvo da educação especial] participar das atividades e desenvolver aprendizagens escolares, mesmo que com adaptações, a partir das práticas curriculares propostas para a turma em que estiverem matriculados. O PEI é um documento no qual se registra o planejamento individualizado daqueles que necessitam de uma análise e uma proposição mais particularizada para sua aprendizagem, mas que não se afasta do currículo do ano em que o estudante está matriculado, e conforme Magalhães, Cunha e Silva (2013, p. 45), [...] sua característica básica é constituir-se de um registro escrito avaliativo, formulado em equipe, que busca as respostas educativas mais adequadas para as necessidades educacionais especiais apresentadas em processos de escolarização de estudantes que exigem caminhos alternativos para sua aprendizagem. 66 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O ensino colaborativo é uma abordagem na perspectiva da Educação Especial que auxilia os professores da EE e regular a pensarem e planejarem o PEI do aluno público-alvo. A avaliação é de suma importância para se constatar as habilidade e competências já desenvolvidas pelo estudante, para que sejam planejadas situações que viabilizem a aprendizagem desse sujeito. É oportuno ressaltar que a elaboração do PEI não é tarefa exclusiva do professor da disciplina, mas é recomendável que ele possa contar com a participação de, ao menos, o coordenador pedagógico, o professor especializado e a família, a qual pode oferecer informações específi cas de seus fi lhos, assim como, solicitar aos responsáveis pelos estudantes público-alvo da educação especial a anuência na proposta elaborada pela escola. Também seria muito saudável se todos os professores do ano escolar em que o estudante está matriculado se reunissem e pensassem juntos o PEI, cada qual em sua disciplina, com propostas didáticas para o desenvolvimento curricular deste estudante, além de estabelecer acordos comuns sobre formas de conduta, critérios de avaliação, estratégias e recursos facilitadores para o estudante. Aqui podemosapontar uma função importante da gestão escolar, que é a de organizar horários de encontros entre os professores para que possam discutir coletivamente o PEI de cada disciplina, na busca de maior articulação entre as áreas e nas estratégias de ensino. É um documento importante, porque permite ao professor clareza nas ações a serem desenvolvidas em âmbito geral e as específi cas para aqueles que necessitam de algumas adequações em seu processo de aprendizagem. Nesta disciplina apresentaremos uma proposta/modelo de PEI para ser aplicado com base no currículo, mas prevendo adequações para aqueles que delas necessitam. Sugerimos um modelo com o objetivo de orientar o trabalho docente e formas de registro de avaliação e planejamento para que o professor possa, concretamente, elaborar sua proposta e acompanhar sua execução. Ele prevê a articulação com o professor especializado, ou quando for o caso, encaminhar o estudante para o Atendimento Pedagógico Especializado (APE), o que discutiremos posteriormente. Vale ressaltar que o papel do professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE) é diferente e complementar ao papel a ser desempenhado pelo professor especialista das disciplinas do currículo. Por exemplo, retomando o 67 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 caso de Frederico, apresentado anteriormente, o professor especialista de Língua Portuguesa deve ensinar os elementos da narrativa, que é um conteúdo específi co de sua disciplina, já o professor especializado deve complementarmente trabalhar com as habilidades requeridas para que o estudante possa compreender tal conteúdo, como a sequência lógica, utilizando os diferentes recursos e estratégias peculiares desse serviço. Além disso, ao se constatar por meio da avaliação a defasagem de aprendizagem, independentemente de sua natureza, o estudante tem o direito de ser atendido, seja por meio da Sala de Recurso Multifuncional (SRC) da oferta de recuperação com acompanhamento do professor de apoio ou de outras estratégias. Enfi m, tem o direito de aprender numa escola para todos e para cada um. A seguir, a proposta do PEI, com a descrição de cada um dos itens que o compõem. PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO – PEI Nome do(a) estudante: Data de nascimento: Disciplina: Ano/série escolar: Período de aplicação: Professor(a) responsável: Professor(a) especializado(a): Síntese descritiva da avaliação: apresentar uma síntese da avaliação realizada por meio do Referencial de Avaliação Curricular – RAC. Habilidades/conteúdos a priorizar: apontar quais serão as habilidades principais a ser- em priorizadas para o avanço do estudante. Conteúdos comuns ao grupo: descrever os conteúdos gerais que serão trabalhados com todos os estudantes da sala de aula. Metas/objetivos para o período: apontar quais serão os objetivos principais a serem priorizados para o avanço do estudante. Objetivos comuns ao grupo: descrever os objetivos gerais que serão trabalhados com todos os estudantes da sala de aula. Atividades em sala de aula compartilhadas com o grupo Com adaptações Descrever as atividades em que o estu- dante PAEE precisará de alguma adap- tação – de recursos ou de currículo – para viabilizar sua participação com os outros estudantes da sala. Sem adaptações Descrever as atividades em que o estudante PAEE possa participar com os outros sem necessidade de adaptações. Estratégias de ensino: descrever as estratégias didáticas que serão utilizadas pelo pro- fessor na busca de garantir a aprendizagem de todos. Recursos utilizados: descrever os recursos necessários para atender à especifi cidade do estudante PAEE. QUADRO 3 – PROPOSTA DE PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO – PEI 68 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Critérios para avaliar os resultados das atividades em sala de aula Com adaptações Defi nir os critérios que serão utilizados para avaliar a execução das atividades pelo PAEE. Sem adaptações Defi nir os critérios que serão utilizados para avaliar a execução das atividades. Nível de Colaboração do professor especializado Defi nir coletivamente como se dará a contribuição do PEE: se por meio do AEE, por itin- erância ou por meio do coensino. Anuências Professor: Professor especializado: Professor coordenador: Pais ou responsáveis: Local e data: FONTE: A autora, com base em Glat et al. (2012), Pacheco et al. (2007) e Majon, Gil e Garrido (1993). Como podemos observar, o documento é simples e poderá ser elaborado a cada bimestre para que o professor tenha clareza dos objetivos ou metas que tem a alcançar de forma geral com todos os estudantes e de forma específi ca com o estudante público-alvo da educação especial. Isto posto, o professor deverá ter maior tranquilidade no desenvolvimento de sua aula, pois já tem especifi cado o caminho a seguir e as expectativas que devem ser alcançadas. A partir disto, poderá elaborar seus planos de aula tendo como referência o planejamento do bimestre, o qual já prevê ações educativas a serem implementadas no cotidiano da sala de aula. Para exemplifi car, tomemos, novamente, o caso de Frederico, nosso estudante hipotético, e os indicadores de avaliação que constam no seu Referencial de Avaliação Curricular – RAC. No nosso país, a necessidade de desenvolver um currículo que garanta não apenas o acesso, mas também a permanência na escola regular e o sucesso do aluno com defi ciência está expressa no documento denominado Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN Adaptações Curriculares em ação, elaborado pela Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação, publicado originalmente em 1998 e as Diretrizes de 2001. 69 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Neste texto adota-se a terminologia necessidades educacionais especiais (NEE´s) para os alunos que apresentarem, durante o seu processo educacional: [...] difi culdades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que difi cultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específi ca; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou defi ciências; difi culdades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; altas habilidades/ superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes (BRASIL, 2001). Segundo este documento, as adaptações curriculares (garantidas por lei da Educação Infantil ao Ensino Superior de acordo com o MEC, 2000, 2010) devem ser entendidas como um processo a ser realizado em três níveis que devem obrigatoriamente ser desenvolvidos pelo professor regular e pela equipe pedagógica da ESCOLA: • no projeto político-pedagógico da escola, por meio do qual é possível identifi car e analisar as difi culdades enfrentadas pela escola, assim como estabelecer objetivos e metas comuns aos gestores, professores, funcionários da escola, familiares e alunos; • no currículo desenvolvido em sala de aula; • no nível individual, por meio da elaboração e implementação do Plano de Ensino Individualizado (PEI). O PEI é considerado uma proposta de organização curricular que norteia a mediação pedagógica do professor, assim como desenvolve os potenciais ainda não consolidados do aluno. O registro ou mapeamento do que o sujeito já alcançou e o que ainda necessita alcançar é fundamental para que se possa pensar o que vai ser feito para que ele atinja os objetivos traçados (BRASIL, 2001, s.p.). Basicamente, a construção do PEI consiste em quatro etapas: 70 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 1. Conhecer o aluno: Traçar um perfi l com suas habilidades e necessidades. Conhecer sua história, seus gostos, seus conhecimentos já adquiridos e o que ele precisa aprender e a avaliação pedagógica, sempre utilizando ocurrículo ano série para as adaptações 2. Estabelecer metas: Nesta etapa, é mister defi nir as metas de curto, médio e longo prazo. Avaliar o que a criança deve aprender em cada espaço de tempo a partir do seu perfi l. É de preferência que ocorra o desenvolvimento de adaptações de objetivos, conteúdos em curto prazo, exemplo: 30 dias (22 dias letivos), para haver a possibilidade de adequações; 3. Elaboração do cronograma: Com as metas traçadas, importante defi nir como e quando elas serão executadas. 4. Avaliação: É preciso realizar o Registro Avaliativo do aluno organizando os procedimentos e avaliando as metas alcançadas. A seguir, dois exemplos de adaptação curricular onde sempre as informações devem ser cruzadas entre avaliação do aluno e o currículo do ano que cursa. Caso 1: um menino de 9 anos cursando o 4º ano do Ensino Fundamental, mas com perfi l que representa conhecimento de pré-escola. Objetivos e Conteúdo do currículo adaptados para 30 dias. Exemplo 1 Língua Portuguesa (currículo da turma do 4°ano) Língua Portuguesa (adaptação) Leitura – interpretação de texto Interpretação de gravuras/cenas, várias maneiras de representações plásticas para desenvolver a interpretação. Pronome pessoal Pronome EU e VOCÊ em situações práticas e visuais. Pronomes possessivos Pronomes MEU e SEU (exemplos concretos). Pronomes demonstrativos Pronome ESTE e AQUELE (exemplos concretos distanciados). Interjeição Expressões reais (de convívio social, expressões de sentimentos). Ortografi a ÃO e AM Rimas com fi nal ÂO. Redação – tipo narrativo Professora pode narrar uma história e com ajuda de perguntas e respostas feitas para o aluno, a professora pode registrar. Obs: tudo que for dito pode ser escrito, se não fala, mas aponta, pode-se escrever para o aluno também. FONTE: A autora 71 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Caso 2: um menino de 7 anos cursando o 1º ano do Ensino Fundamental, mas com perfi l que representa conhecimento de maternal (4 anos). Objetivos e Conteúdo do currículo adaptados para 30 dias. Matemática (currículo da turma do 1°ano) Matemática (adaptação) Números – denominar e representar simbolicamente (unidade), comparar e ordenar quantidades (unidades). Pedir para o aluno apontar onde tem mais (patinhos) em forma concreta (de plástico) em uma caixa ou cesta, estimativa de quantidade e não contar. Operações – resolver contas de adição (com apoio visual), utilizar linha numérica para resolver. Como ainda a criança não tem noção do sinal +, trabalhar o conceito de juntar, agrupar, objetos iguais, exemplo: palito com palito, bolinha com bolinhas. Espaço e Forma – Descrever, comparar e classifi car formas, identifi car posição com base em pontos de referência. Separar as formas iguais do conjunto das formas geométricas em caixas. Grandezas e tratamento da informação – organizar sequência da rotina diária. Pode separar o material escolar em leve e pesado. Mostre uma cena de período de manhã, tarde e noite com uma pessoa fazendo coisas diferentes, e peça para a criança apontar o que ela está fazendo, por exemplo. Exemplo 2 FONTE: A autora Diante do cenário atual, a atenção às necessidades educacionais especiais dos alunos público-alvo da Educação Especial, que estão incluídos em classes comuns do ensino regular, requer uma organização diferenciada, tanto do ponto de vista pedagógico quanto administrativo. Como descrito no modelo de PEI apresentado e com base no Currículo do Estado de São Paulo de Linguagem, Códigos e Tecnologias (SÃO PAULO, 2010), observamos que é possível atuar a partir das difi culdades do estudante, embora algumas adequações sejam previstas. Por exemplo, o colega mais experiente exercendo a colaboração, os diferentes tipos de texto, atividades mais direcionadas, riqueza dos materiais e a orientação do professor especializado. Se, nos casos hipotéticos, se tratasse de estudantes com Defi ciência Auditiva (DA), Defi ciência Física (DF) ou Defi ciência Visual (DV), a análise seria, principalmente, de quais recursos seriam necessários para o acesso ao currículo: o uso de Libras, leitura labial, aparelho FM, dependendo do tipo e nível de perda auditiva. No caso da DV, analisar suas condições de visão, se com tipos ampliados, se o braile, se de forma periférica ou central. No caso da Defi ciência Física (DF), a análise estaria mais relacionada a posicionamento, linguagem ou 72 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL necessidade de Comunicação Alternativa e Suplementar, mobiliário e/ou materiais adequados. Toda esta análise deve ser feita com a colaboração direta do professor especializado. Se o caso fosse, ainda, de um estudante com Defi ciência Intelectual (DI) cuja capacidade de escrita e leitura estivesse no nível funcional, ou seja, uma leitura contextualizada e signifi cada para as funções que exerce no cotidiano: seu nome completo, endereço, telefone, ônibus, lista de compras, textos de interesse pessoal. Mesmo assim, há possibilidades de um trabalho coletivo em sala de aula, por meio da aprendizagem colaborativa e com gêneros textuais de seu interesse, por exemplo, jornais, gibis, revistas específi cas (esportivas, recreativas, de moda etc.). O fato de não escrever fl uentemente não signifi ca que não possa criar histórias, participar das produções da sala de aula, colaborar nas ilustrações de textos. Pode-se utilizar fi chas indicativas e de cores diferentes ou de fi guras ilustrativas, para que o estudante encontre os verbos, os adjetivos, os substantivos de um texto. Também pode-se lançar mão de atividades com estratégias de reconhecimento visual e auditiva de letras, palavras, quando o caso está relacionado a uma difi culdade mais acentuada de aprendizagem, ou seja, um nível elementar do entendimento do sistema alfabético da Língua Portuguesa. O desafi o é grande, mas o mais difícil é a organização do planejamento didático. De posse do registro proveniente da análise dos conteúdos e habilidades a serem desenvolvidas, o professor poderá trabalhar com maior tranquilidade, uma vez que passa a ter claro quais são as metas de aprendizagem para este estudante especifi camente, permitindo que ele avance em seu conhecimento e desenvolvimento. Acreditamos que, se cada professor focar no currículo, analisando sua disciplina, encontrará múltiplas e infi nitas possibilidades de atuação, no sentido de aproximar os estudantes e de propiciar atividades diferenciadas em pequenos grupos, individuais, coletivas; explorando ao máximo o potencial dos estudantes, do conteúdo de sua disciplina, da sua formação e do ambiente pedagógico ofertado pela escola. Não podemos deixar de mencionar o papel dos gestores da escola, os quais devem propiciar momentos de refl exão conjunta por meio das reuniões coletivas por ano escolar. Eles podem, por exemplo, atuar por meio da aproximação e defi nição de horários que permitam o encontro com o professor especializado, por meio do apoio às decisões dos professores, respeito à didática de cada um, incentivo às metodologias mais interativas, organização participativa do horário de aulas, provisão dos recursos necessários para o trabalho docente. 73 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Avaliar e planejar são dois processos complexos do ato pedagógico e exigem um esforço coletivo, o qual ainda temos difi culdade de exercer. Mas, além da avaliação curricular, temos outros desafi os complexos, um deles relacionado à própria identifi cação dos estudantes que precisam de um suporte mais direto e até mesmo da elaboração do PEI, e outro, relacionado ao encaminhamento para a Sala de Recurso Multifuncional (SRM). Assim, a avaliação pedagógica realizada pelo professor especializado será o parâmetro para decisões de encaminhamento para avaliação complementar, psicológica ou clínica e a pedagógica realizada pelo professor da classecomum, a fi m de se constar o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes e os encaminhamentos necessários a cada caso (recuperação, enriquecimento curricular etc.). Para a recuperação contínua o Estado de São Paulo oportuniza o professor especialista auxiliar, que atua junto com o professor da classe comum, além disso, o estudante público-alvo da Educação Especial pode frequentar a SRM. O processo inclusivo prevê que as ações educativas sejam revistas, reavaliadas e reestruturadas, quando necessário, pois uma das implicações da política de inclusão escolar é a certeza de que precisamos construir espaços educativos efi cazes, diversifi cados, ricos em proposições para que todos encontrem o que necessitam para o seu pleno desenvolvimento. Identifi cação, avaliação e encaminhamento: algumas diretrizes A identifi cação, avaliação e encaminhamento dos estudantes público-alvo da educação especial têm sido problema recorrente na história da educação especial. Identifi car e avaliar a condição desse público é tarefa bastante complexa e envolve vários níveis de responsabilidades, seja da escola, de uma equipe multiprofi ssional e até mesmo da família. A avaliação pedagógica sinaliza a necessidade ou não das avaliações complementares para defi nição da condição do estudante, se ele possui mesmo uma defi ciência, um transtorno global do desenvolvimento ou altas habilidades. As avaliações realizadas pelos profi ssionais da área da saúde, seja a psicológica no caso da defi ciência intelectual ou a médica nos outros casos, poderão oferecer à escola orientações importantes em relação ao manejo dos estudantes. Por exemplo, a defi nição do tipo de linguagem da qual o estudante surdo é usuário, a extensão de uma perda auditiva, o funcionamento da visão subnormal e como o professor pode estimular o uso de resíduos visuais, o trato do comportamento agressivo, os mobiliários e suas dimensões adequadas para os que possuem difi culdades motoras, os défi cits no processamento de 74 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL informação, causando defasagens nos elementos cognitivo-linguísticos, como atenção, memória, função executiva, entre outras possibilidades da compreensão sobre o funcionamento do estudante. Ressaltamos que todas elas devem ser complementares à avaliação pedagógica, pois é o professor que conhece o currículo, a didática e as estratégias de ensino para oferecer ao estudante o conhecimento que lhe é necessário para o seu desenvolvimento escolar. Estas providências e publicação de nova legislação orientadora se justifi cam devido ao fato do encaminhamento à Sala de Recurso Multifuncional ser garantido e reservado exclusivamente aos estudantes que fazem parte do público-alvo da educação especial, o qual não deve ser entendido como reforço escolar e sim como uma complementação do trabalho desenvolvido na sala regular. Para regular os procedimentos de identifi cação, avaliação e encaminhamento, a Secretaria de Educação Especial propõe um procedimento ou um protocolo a ser seguido pelas escolas e busca consolidar a cultura do registro do processo de encaminhamento, assegurando que sejam realizadas as avaliações, tanto pedagógica quanto psicológica ou clínica. Assim, o fl uxo de avaliação tem início justamente com o professor da classe comum, que é o primeiro a identifi car uma difi culdade e, junto com o professor coordenador e o professor especializado, fará o Relatório Pedagógico do estudante, destacando a necessidade de avaliação complementar para o diagnóstico e laudo psicológico ou médico (conforme a área a ser avaliada), quando o estudante ainda não tiver, pois na atualidade muitos estudantes já são identifi cados pela área médica na Educação Infantil. A escola providenciará o encaminhamento do relatório pedagógico à Diretoria Regional de Ensino, que fi cará responsável em realizar contato e, na ausência deles, buscará parcerias que possam estar disponíveis para colaborar com a escola e avaliar o estudante. O profi ssional da saúde, então, fará o laudo clínico ou psicológico a ser encaminhado à escola para que o estudante, se for o caso, tenha acesso ao SRM. O fl uxo seria o seguinte: a) Da rede de profi ssionais: Professor comum – professor especializado – professor coordenador – diretor – diretoria regional – rede parceira. 75 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 b) Das avaliações a serem realizadas: Identifi cação da NEE do estudante - avaliação pedagógica – avaliação clínica ou psicológica – laudo – acesso ao APE. Ou Identifi cação da NEE - avaliação pedagógica – avaliação diagnóstica – não é caracterizado como público-alvo da educação especial – programas especiais na escola. O estudante pode apresentar difi culdades em sua aprendizagem, mas, ao realizar uma avaliação clínica ou psicológica não se constatar ser público-alvo da educação especial, então não terá acesso à Sala de Recurso Multifuncional (SRM), porém a escola deverá pensar em programas alternativos nas áreas em que se apresentam as difi culdades para atender as necessidades destes estudantes. No caso da rede estadual de ensino, esse estudante tem garantidos, pela Resolução CNE/2001, CNE/2009, estudos de recuperação contínua, com a presença de um professor auxiliar, conforme consta nos seus artigos 1º e 2º: Artigo 1º - Dentre os mecanismos de apoio aos processos de ensino, os estudos de recuperação devem ser oferecidos pela escola para assegurar ao aluno o direito de aprender e de concluir seus estudos dentro do itinerário regular do Ensino Fundamental ou Médio previsto em lei. Artigo 2º - Os estudos de recuperação de que trata o artigo anterior distinguem-se pelos momentos em que são oferecidos e pelas metodologias utilizadas em seu desenvolvimento, caracterizando-se basicamente como estudos de Recuperação Contínua e de Recuperação Intensiva. O artigo 4º da referida CNE/2009 (BRASIL, 2009) aponta para a função do professor auxiliar, que é a de apoiar o professor responsável pela classe ou disciplina no desenvolvimento de atividades de ensino e de aprendizagem, em especial as de recuperação contínua, oferecidas aos estudantes dos ensinos Fundamental e Médio, com vistas à superação de difi culdades e necessidades identifi cadas em seu percurso escolar. O estudante terá direito a até três aulas semanais distribuídas nas disciplinas nas quais ele apresenta defasagem na aprendizagem (sendo no máximo três disciplinas). Todo este trabalho visa garantir ao estudante, através de metodologias diferenciadas, a oportunidade de desenvolver as habilidades que ele ainda não domina. Nas escolas de Ensino Integral, onde o estudante é atendido por um período mais longo, não existe o professor auxiliar, já que o modelo oferece as aulas de Orientação de Estudo, voltadas para o Nivelamento, onde o trabalho é também direcionado ao desenvolvimento das habilidades ainda não dominadas. 76 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Nessa perspectiva, podem ser desenvolvidas boas estratégias na área de Educação Especial e Inclusiva e que vislumbram para auxiliar no processo acadêmico da criança e jovem público-alvo da educação especial (PAEE), uma dessas estratégias é chamada de Ensino colaborativo ou Coensino (Co-Teaching) (MACHADO; ALMEIDA, 2010). O trabalho colaborativo pode diminuir distinções de papéis existentes entre os profi ssionais envolvidos, a fi m de que cada um possa fazer o melhor uso possível de seus saberes. Onde o desafi o reside somente em defi nir um bom funcionamento da equipe, e melhor utilizar todos os conhecimentos existentes. Um dos modelos de trabalho colaborativo que vem sendo investigado tem sido a colaboração entre o professor da educação regular e o do ensino especial. O Ensino colaborativo (Co-teaching – termo utilizado na língua inglesa) proposto por autores norte-americanos considera importante a atuação de dois ou mais profi ssionais dando instruções emum mesmo espaço físico. O ensino colaborativo tem sido utilizado para favorecer a inclusão escolar, envolvendo a parceria direta entre os professores da Educação comum e especial. Tal forma de trabalho está em crescente ascensão na literatura como uma estratégia inclusiva. Professores de educação especial e regular devem se responsabilizar pelo planejamento e avaliação do ensino para um grupo com ou sem necessidades educacionais especiais. Na sala de aula, os dois professores trabalham juntos e desenvolvem um currículo diferenciado visando à melhoria do ambiente de aprendizagem (MENDES, 2006). De modo geral, o objetivo do ensino colaborativo é criar opções para aprender e prover apoio a todos os estudantes na sala de aula de ensino regular, combinando as habilidades do professor comum e do professor especialista. Dois estudos no Brasil tiveram o objetivo de explorar em contextos inclusivos as possibilidades do ensino colaborativo e merecem aqui ser mencionados. O primeiro deles (CAPELLINI, 2004) defende que se deve tentar buscar uma melhoria na qualifi cação docente no sentido de tornar as práticas pedagógicas do professor do ensino comum mais efetivas às necessidades de alunos surdos. O estudo apresentou como objetivo implementar e avaliar um programa de formação continuada baseado no coplanejamento. O trabalho foi realizado em 20 semanas, e envolveu: o pesquisador e três diferentes professores regulares, que realizaram encontros com intuito de planejar estratégias que seriam realizadas ao longo do ano. Os dados coletados envolveram o protocolo de planejamento educacional, o protocolo de cada unidade, até de avaliação. Após a intervenção, foram coletadas as opiniões dos professores sobre as atividades de planejamento. Entretanto, não houve envolvimento direto da atuação colaborativa em sala de 77 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 aula, uma vez que a intervenção esteve restrita à situação de planejamento com os professores. Os resultados apontaram que os professores avaliaram que as estratégias implementadas benefi ciaram não apenas seus alunos surdos, mas todos os demais alunos da turma. Mas os resultados evidenciaram também que a intervenção colaborativa não foi sufi ciente para solucionar as difi culdades de comunicação de uma das professoras com um dos alunos surdos. Outro estudo nacional envolvendo o ensino colaborativo (FULLAN; HARGREAVES, 2000) refere-se à pesquisa realizada em duas escolas comuns de Ensino Fundamental, em quatro turmas de 1ª a 4ª série (respectivos 2º e 5º ano), onde estavam inseridos alunos com defi ciência intelectual. A intervenção compreendeu o apoio do professor do ensino especial dentro da classe comum, a qual durou em cada turma um ano, e o estudo teve duração total de dois anos. Após a etapa de intervenção, foram reavaliadas as medidas de desempenho e coletadas medidas de validade social baseadas nas opiniões das professoras e das famílias sobre o ensino colaborativo. Observou-se que todos os seis alunos com defi ciência intelectual tiveram evolução no desempenho tanto acadêmico como de socialização, ainda que tenha permanecido uma discrepância em comparação ao rendimento médio da turma. O ensino colaborativo foi avaliado como efetivo enquanto estratégia de desenvolvimento pessoal e profi ssional dos professores envolvidos em práticas que visaram à inclusão escolar. Assim, pesquisas realizadas no Brasil e, principalmente, em outros países, sugerem que o trabalho colaborativo entre professores traz várias vantagens para escolas, professores e alunos. As escolas tornam-se inclusivas, os professores aprendem a refl etir sobre as suas práticas, aprendem novas formas de enfrentar as difi culdades e tornam-se mais autoconfi antes. O ensino colaborativo está relacionado com a maneira de tratar novas ideias, de implementar mudanças, com os sentimentos de integração, de solidariedade e posturas de autoavaliação, autocrítica e de competências refl exivas coletivas. Pesquisadores nacionais como Mendes, Toyoda e Bisacione (2007) e Machado e Almeida (2010) apresentam evidências de que esse tipo de ensino (colaborativo) traz uma série de benefícios para as escolas em que se efetiva, entre eles: o papel de recuperar nos professores as suas capacidades de produzir conhecimentos sobre seu trabalho, promovendo aperfeiçoamento contínuo e aprendizagem. No entanto, é mister salientar que ainda são poucos os trabalhos relacionados com esse tema no Brasil – ensino colaborativo –, o que implica o desenvolvimento de mais pesquisas, bem como justifi ca o relato da presente experiência profi ssional para uma futura replicação. 78 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Partindo do pressuposto de que a leitura se constitui como uma prática social e complexa, e ratifi cando a importância do professor no processo de construção das signifi cações atribuídas à leitura no universo escolar, o presente trabalho focalizou a leitura como processo de socialização. O motivo de considerar o processo de socialização com a leitura está baseado na concepção de homem como construtor de signifi cados e de sociedade entendida como construção histórico-social. Quanto às perspectivas de atuação em sala de aula, os resultados apontaram que é preciso difundir nos contextos escolares a real contribuição do ensino colaborativo, garantindo que os momentos vivenciados entre a professora/ participante do ensino comum auxiliada pela professora/especialista possam ser refl etidos em práticas futuras. Portanto, a contribuição do ensino colaborativo caminha rumo ao pensamento pedagógico da inclusão escolar, pois permeia questões do cotidiano, do desempenho do professor regular e resgata atitudes que permitem a parceria e a colaboração conjunta. Dessa forma, a proposta de tal ensino é um caminho viável e gratifi cante, tornando todos os envolvidos construtores do seu próprio processo de ensino e aprendizagem. CASO SOBRE ENSINO-COLABORATIVO O caso confi gurou-se por meio do campo de observação em uma sala de aula da 3ª série do Ensino Fundamental (4º ano) de uma escola da rede pública de ensino, de um município de pequeno porte do interior paulista. A aluna participante-alvo apresentava nove anos de idade e necessidades educacionais especiais, tendo como diagnóstico hemiparesia espástica. Na hemiparesia espástica são observadas alterações do movimento em meio corpo, por exemplo, perna e braço direitos, sendo, na maioria dos casos, o membro superior o mais afetado. A professora regular tinha 55 anos de idade, 15 anos de magistério e experiência de dez anos com alunos com necessidades especiais. A classe era constituída, ainda, por 21 alunos sem necessidades especiais, pertencentes à mesma série, com média de idade de nove anos. O desenvolvimento do caso constituiu-se em duas etapas previamente elaboradas. Na primeira, a professora/especialista entrou em contato com a professora/participante explicitando o teor 79 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 da proposta do trabalho, o qual foi aceito sem obstáculos e com muito entusiasmo pela mesma. Também nesta etapa elaborou-se um roteiro para pontuar e auxiliar nas observações em sala, corroborando, assim, para efetuação dos registros. Na segunda etapa, iniciaram- se os encontros e o ensino colaborativo propriamente dito, onde o planejamento e as orientações deram-se em forma de diálogos, pré-leituras seguidas de discussões sobre temas escolhidos. Para a efetuação deste, os encontros foram realizados extra-aula, uma vez por semana. A prática construída em questão foi realizada em 18 aulas, as quais duraram, em média, uma hora e meia (sempre antes do intervalo). Os livros utilizados foram da coleção “Estrelinha”, da autora Sônia Junqueira - Editora Ática. Ressalta-se que a coleção é formada por uma série de 18 livrinhos, os quais são divididos em três séries com níveisde difi culdades progressivas de texto e ortografi a, e suas histórias são estruturadas com começo, meio e fi m. Salienta-se que a prática de leitura descrita neste texto como trabalho colaborativo surgiu das refl exões, dos diálogos e do planejamento das professoras envolvidas. A fi m de esclarecer o entendimento da construção do trabalho colaborativo, a seguir será exposto de forma sucinta o procedimento adotado em relação ao desenvolvimento da prática da leitura, chamada de “roda de leitura”. Inicialmente, a professora organizava a turma em uma roda e fazia a leitura em voz alta de diferentes tipos de textos (poemas, notícias, receitas, cartas) e, por fi nal, do livro. A professora familiarizava os alunos com vários tipos de textos. O livro de história infantil, no entanto, tinha lugar de destaque na roda de leitura proposta. Dessa forma, ao propor a formação da roda, a professora sinalizava à turma que a atividade tinha uma dinâmica diferente, que pressupunha interação e diálogo. Antes de iniciar a leitura do livro, a professora sempre mostrava a ilustração da capa e perguntava quem sabia dizer qual era a temática. Alguns se arriscavam baseados na ilustração. Depois que todos já sabiam o nome da obra, ela pedia que todos falassem de que imaginavam tratar o enredo. A professora enfatizava a entonação - principalmente na fala dos personagens - para criar dramaticidade e dar ritmo à leitura. A cada trecho importante, ela mostrava a ilustração da página para toda a roda, onde a trama ganhava comentários dos alunos. Mesmo quando havia palavras difíceis, a professora não simplifi cava, pois é dessa maneira que o vocabulário das crianças se amplia. 80 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A atividade terminava com a abertura de espaço para que todos os alunos se manifestassem sobre o que tinha sido lido, por exemplo, quais eram os trechos preferidos, que parte(s) cada um achou mais engraçada. Enfi m, a professora fazia um levantamento de possíveis dúvidas sobre o texto e sugeria uma (re)apresentação de cada um para os colegas. Assim, apareciam diferentes impressões sobre a trama. O diário de campo da professora/especialista descrevia as atitudes, dúvidas e difi culdades na construção, em parceria com a professora/participante, do processo formativo e, particularmente, do processo interativo (prática da leitura). Registraram-se neste diário as impressões da mesma sobre o modelo colaborativo e o papel de colaboração e parceria, bem como os limites e possibilidades de sua ação mediadora no processo de aprendizagem de todos os alunos. Os registros que foram desenvolvidos no diário de campo mesclaram informações descritivas com refl exões pessoais. Durante as observações, a professora/especialista fazia anotações rápidas num bloco de notas, a fi m de não perder os aspectos mais importantes dos encontros. Depois que saía do campo, ela elaborava registros ampliados, procurando reproduzir em detalhes o que havia observado. Foram realizadas leituras pormenorizadas dos registros - diários de campo. Em seguida, os conteúdos dos diários foram desmembrados em unidades de conteúdo, ou seja, passagens dotadas de informações completas a respeito de episódios vivenciados na sala de aula. No diário refl exivo da professora/participante, foi descrita a trajetória das aulas, envolvendo a prática escolhida, nele também a professora apresentou uma interpretação pessoal do elemento trabalhado, ou seja, enriqueceu a descrição com comentários que expressavam sua maneira de compreender o elemento em questão, a prática de leitura. Assim, os diários refl exivos produzidos pela professora/ especialista foram também analisados em categorias de conteúdo, sendo neles registradas observações da sua prática docente e da prática de leitura em questão. Para ambos os instrumentos foi realizada a classifi cação das unidades delimitadas e identifi cadas, assim, duas categorias para cada manuscrito. 81 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Diários de campo: • relatos sobre o que o professor fez ou disse; • informações de qualquer natureza sobre a aluna-alvo; Diários refl exivos: • descrições sobre o desempenho dos alunos nas atividades de leitura; • sobre si - havendo referências à própria prática, impressões, sentimentos e expectativas sobre o ensino colaborativo. No primeiro momento de interação entre a professora/ especialista e professora/participante, foi aportado o conhecimento científi co acerca da leitura e suas práticas diferenciadas, buscando compreender o processo de sua aquisição, estudando e discutindo também as suas diferentes concepções e caracterizações. Isso deu margem para o desenvolvimento de possíveis estratégias práticas de intervenção com os alunos. As refl exões realizadas durante os planejamentos estavam sempre sustentadas na experiência da prática cotidiana e no referencial teórico utilizado pela professora regular: “O primeiro encontro de ensino colaborativo me permitiu refl etir sobre o meu compromisso com segurança e tranquilidade no processo de ensino. Assim, as minhas observações diante das atividades dos alunos foram intensifi cadas e detectei que o alfabeto foi reconhecido pela aluna-alvo”. Então, em um segundo momento, buscou-se aprofundar a análise do material estudado. Foi a partir dessa etapa que a professora mostrou-se completamente imersa na proposta de ensino. Ela destacou que, durante o processo, a maior transformação em sua prática havia sido a construção do diário refl exivo, pois quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos signifi cados: “O trabalho enfatizou a oralidade, estimulando a refl exão dos alunos, a difi culdade de Beatriz (nome fi ctício) está evidente, o que exige meu auxílio, bem como dos colegas de sala”. “A refl exão girou em torno da necessidade de realizar atividades claras e concretas relacionadas ao cotidiano de Beatriz, por isso a cada dia a minha responsabilidade está em fi scalizar o alcance de 82 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL cada um para atingir suas habilidades e potenciais. Observa-se que o avanço é gradativo”. Assim, a refl exão perante a própria prática provoca mudanças na forma como as pessoas compreendem a si mesmas e aos outros. O estabelecimento de uma relação amigável também contribuiu para o processo colaborativo. O trabalho em colaboração proporcionou à professora um olhar mais crítico em relação à sua prática e possibilitou o aprofundamento sobre a prática desenvolvida. Como demonstra o relato no diário de campo da pesquisadora: “Relatou os acontecimentos e refl exões particulares no diário refl exivo com maior frequência”. “A professora estava mais fl exível às sugestões e criou estratégias voltadas à leitura e escrita, além do que foi sugerido nas reuniões semanais”. “Dialogou com maior segurança, relatou suas atitudes em sala e refl etiu sobre suas atitudes”. A atuação da pesquisadora nesse processo se revelou, algumas vezes, difícil, porém lhe permitiu olhar para a realidade profi ssional com maior segurança e autonomia. No entanto, o modelo colaborativo realizado neste trabalho não se trata apenas de um conhecimento implícito na atividade prática. Trata-se de um diálogo entre a prática vivida e as construções teóricas formuladas em parceria refl exiva por ambas - professora regular e professora de educação especial. Essa ação mostrou o impacto positivo do ensino colaborativo quando trabalhado de forma efetiva e comprometido. A estratégia escolhida para a intervenção da professora - roda da leitura - mostrou-se positiva tanto para o aluno com necessidade especial, bem como para todos os demais, ou seja, toda a classe foi benefi ciada. 83 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Foi possível pontuar uma avaliação e caráter prático sobre o ensinocolaborativo do ponto de vista dos envolvidos, pois além desse trabalho possibilitar a refl exão da prática pedagógica, pela professora/participante, torna-se importante considerar a implementação de estratégias colaborativas em futuras pesquisas, as quais poderão, por sua vez, subsidiar políticas públicas. A partir das práticas de leitura pôde-se observar a satisfação dos alunos em construir narrativas, e em perceber suas reais capacidades, bem como a contribuição efetiva para socialização das ideias emergidas durante as leituras, como demonstrado na refl exão da professora em seu diário: “Considerei a atividade produtiva, pois ao longo do processo os alunos falaram de forma espontânea sobre o tema para o grupo”. Esse processo (experiência) mostrou que, com a motivação dos alunos e comprometimento da professora e da escola, muitos problemas podem ser amenizados, ou mesmo sanados. O desenvolvimento do professor com planejamento, (re) planejamento, aplicando e avaliando estratégias, parece auxiliá- lo a pensar na possibilidade de utilização de um espaço realmente colaborativo e refl exivo, criando assim um lugar diferenciado dentro da escola. A apresentação do presente relato envolvendo o ensino colaborativo indicou que a estratégia desenvolvida conjuntamente tem potencial para melhorar a qualidade do ensino regular. Assim, a proposta baseada no ensino colaborativo parece também ter promovido o desenvolvimento de habilidades na professora, pois, de forma geral, por meio das análises dos diários de campo e diários refl exivos, notou-se que o ensino colaborativo pode gerar efeitos convenientes, principalmente com relação às práticas do educador de sala regular que contém alunos com necessidades especiais. Quanto às perspectivas de atuação em sala de aula, os resultados apontaram que é preciso difundir nos contextos escolares a real contribuição do ensino colaborativo, garantindo que os momentos vivenciados entre a professora/participante do ensino comum auxiliada pela professora/especialista possam ser refl etidos em práticas futuras. 84 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Portanto, a contribuição do ensino colaborativo caminha rumo ao pensamento pedagógico da inclusão escolar, pois permeia questões do cotidiano, do desempenho do professor regular e resgata atitudes que permitem a parceria e a colaboração conjunta. Dessa forma, a proposta de tal ensino é um caminho viável e gratifi cante, tornando todos os envolvidos construtores do seu próprio processo de ensino e aprendizagem. Há também outra estratégia na categoria da colaboração e na perspectiva da educação inclusiva, chamada de Consultoria Colaborativa, em que o professor/ profi ssional da educação especial promove assistência aos professores do ensino regular e serviços indiretos para os alunos. Assim, Argueles, Hughe e Schumm (2000) pontuam que o trabalho colaborativo pode tanto diminuir distinções dos papéis exercidos pelos profi ssionais, bem como defi nir tais papéis, contribuindo para um bom funcionamento da equipe envolvida, ou seja, a colaboração envolve compromisso dos professores, dos administradores da escola, do sistema escolar e da comunidade. De modo geral, o trabalho colaborativo envolve uma dupla de professores (do ensino regular e do especial), onde seus arranjos podem ocorrer durante períodos fi xos de tempo e suas estratégias irão depender da demanda curricular, das necessidades e características dos alunos. Segundo Kampwirth (2003, p. 142), o trabalho colaborativo deve ser proposto e desenvolvido em etapas, como segue: • Encaminhamento – deve ser realizado pelo professor que necessite de auxílio com seus alunos e, para isso, o consultor deve explorar um formulário de informação, para inteirar-se do contexto do caso; • discussão inicial com o professor; • observação da classe, pois os problemas de aprendizagem e comportamento exigem um tempo maior de observação, sendo necessário atentar-se para aspectos referentes à dinâmica do comportamento e do processo de ensino e aprendizagem. O consultor deve ter bom senso para refl etir e depois observar e coletar os dados importantes; • avaliação e encaminhamento dos estudantes; 85 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 • plano de intervenção, neste ponto o consultor deve rever todos os outros encaminhamentos: a fala com o professor e os pais; a observação da criança e da classe, as possibilidades de discussão entre os envolvidos no processo. Munido com o plano e tendo feito todas as refl exões, recomenda-se que o enfoque colaborativo seja realizado junto com o consultado, para poder desenvolver um plano para intervenção; • monitorar a intervenção, pois a avaliação deverá ser formativa e acumulativa, ou seja, baseada no processo, para determinar as metas da consultoria. Sob esse prisma, o aumento crescente de crianças que precisam de atendimento do especialista em Educação Especial impulsionou a demanda de serviços onde o campo de atuação passou a ser a escola. Além disso, o profi ssional especialista atuando na escola estaria reconhecendo a importância do apoio do professor na solução dos problemas dos alunos (MENDES; ALMEIDA; HAYASHI, 2008). Jacob e Loureiro (1996) salientam que o fato da criança apresentar difi culdade de aprendizagem não pode ser considerado um problema isolado, tendo em vista que o fracasso escolar interfere no desenvolvimento afetivo e compromete processos intrapsíquicos, relacionados à formação da personalidade da criança, acarretando, também, problemas comportamentais. Por isso, é necessário proporcionar cuidados especiais a essa criança. Algumas pesquisas têm oferecido contribuições nesse sentido. Mishna e Muskat (2004) realizaram um programa de intervenção para crianças com difi culdades de aprendizagem, oferecendo consultoria a pais e profi ssionais da educação. Esse projeto demonstrou melhoria no desempenho desses alunos e proporcionou maior entendimento aos pais e à equipe escolar sobre como lidar com crianças com difi culdades de aprendizagem. No Brasil, existem não muitas publicações dentro dessa temática de colaboração, especifi camente relacionada à consultoria colaborativa (MACHADO; ALMEIDA, 2014), apesar de algumas iniciativas pioneiras, sendo necessárias, portanto, mais pesquisas que contemplem e contribuam para nossa realidade brasileira. Nessa direção, é importante a colaboração entre os profi ssionais da educação, no caso específi co entre professores do ensino básico e especialista em Educação Especial, para o desenvolvimento dos alunos com queixas de difi culdade acentuada de aprendizagem e de comportamento. Isto posto, observações realizadas em outra realidade educacional podem contribuir para 86 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL possíveis renovações nas práticas pedagógicas, no acesso a novas ideias, conhecimentos e, de um modo especial, na aprendizagem de como iniciar e consolidar mudanças educacionais inclusivas para nosso contexto brasileiro. Nessa perspectiva, compete ao profi ssional da Educação Especial investigar os processos de aprendizagem experimentados pelos alunos, considerando tanto as difi culdades e disfunções dos indivíduos quanto as inadequações do ensino que geram os fracassos escolares, e abrir portas para que todos permaneçam na escola e alcancem o aprendizado possível dentro de suas reais condições. A Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva apresenta-se, nesse sentido, como uma área que valoriza, intrinsecamente, os potenciais humanos e as práticas inclusivas. Desse modo, o profi ssional tem importantes contribuições a oferecer às instituições de ensino e aos professores diante de inúmeras situações de exclusão vividas nas escolas (BUENO, 2008). De fato, a experiência desses profi ssionais em colaboração, como revelam os autores mencionados anteriormente, é fundamental em situações de aprendizagem em sala de aula, no estudo decomportamentos e de estratégias para resolução de problemas, na observação do aluno com relação ao seu posicionamento diante de dúvidas e de seu rendimento nas avaliações e desenvolvimento escolar. Além de observações, outras estratégias podem ser desenvolvidas e utilizadas no auxílio para o desempenho escolar do aluno com difi culdades, como acomodações na sala de aula (BRASIL, 2008), adaptações de acesso ao currículo, reestruturação do sistema escolar, e trabalho com famílias e com a comunidade. Estratégias estas que podem ser obtidas por meio de parcerias entre instituições educacionais de outros países, sendo para isso fundamental um trabalho colaborativo para a efetivação, crescimento e divulgação dessa modalidade, que parece estar no caminho para resolução de problemas apresentados na área da educação inclusiva. Para fi ns didáticos e para o aluno dessa disciplina poder entender o contexto real da aplicação da consultoria colaborativa, segue abaixo um exemplo real do desenvolvimento dessa estratégia no contexto educacional. 87 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 CASO SOBRE CONSULTORIA COLABORATIVA O caso apresentado tenta avançar em relação ao que é preconizado, de forma geral, pela investigação avaliativa convencional, mas classifi cando-se dentro de sua tipologia. Ela se fundamenta, sobretudo, na teorização do contexto e do conteúdo do programa a ser avaliado e usa os instrumentos operacionais para analisar a produtividade, os efeitos e o rendimento da intervenção. Foi aplicada no presente caso a metodologia qualitativa com abordagem observacional e participativa, cujo procedimento, primeiramente, se deu por observações realizadas pelas consultoras a fi m de detalhar as queixas colocadas pelas professoras para que, depois, fossem direcionadas e escolhidas as datas para os encontros e participação da consultoria colaborativa. Os dados foram coletados por meio do instrumento diário de campo produzido pelas pesquisadoras, sendo nele registradas observações sistemáticas da prática docente e da prática pedagógica construídas de forma colaborativa pelas professoras (consultadas) e pesquisadoras (consultoras) de cada trabalho, bem como pelos diários refl exivos desenvolvidos pelas próprias professoras, cujos conteúdos referem-se à refl exão das práticas desenvolvidas durante o programa de consultoria colaborativa e também seus apontamentos sobre os comportamentos, avanços e difi culdades dos alunos-alvo. O delineamento envolveu uma etapa preliminar para a condução dos procedimentos éticos. Duas professoras e seus alunos da escola de rede pública pertencente a uma cidade de pequeno porte localizada no interior do Estado de São Paulo, com 54 e 55 anos e graduação em Pedagogia. Também participaram duas profi ssionais da área da Educação Especial. As professoras incluídas neste estudo foram aquelas que concordaram, voluntariamente, em participar da pesquisa, cujos alunos (indicados por elas) apresentavam difi culdades de aprendizagem e de comportamento. Os nomes dos alunos foram modifi cados a fi m de preservar o anonimato. O primeiro contato ocorreu com a Coordenadora Municipal da Educação e, entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a dirigente se mostrou receptiva e interessada com a proposta da 88 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL consultoria. Após a explanação dos detalhes pelas consultoras, foram indicados os nomes de duas professoras que poderiam participar do trabalho. Assim, foi defi nido o processo de consultoria e esclarecidas as dúvidas sobre o trabalho a ser efetivado. Primeiramente, foram entregues às professoras dois questionários: um para verifi car o seu perfi l e outro contendo um levantamento do grau de conhecimento sobre o processo de consultoria. Assim, elas receberam um plano estabelecendo um cronograma de trabalho semanal, a fi m de sistematizar os encontros, além de um texto explicitando o conceito de consultoria colaborativa. Em seguida, foi entregue uma pré-avaliação, como indicador do encaminhamento dos possíveis problemas dos alunos a serem trabalhados no período da consultoria. Também para o acompanhamento dos alunos sugeridos no trabalho somaram-se os diários de campo, ou seja, registros de observação das consultoras e os diários refl exivos das educadoras. A princípio, as professoras demonstraram timidez diante da proposta, porém dispostas a tentar esclarecer as difi culdades das crianças, procurando auxiliá-las no que fosse possível. Primeiramente, tanto os diários de campo como os diários refl exivos foram fotocopiados e feitas leituras intensivas dos registros. Por último, os conteúdos foram desmembrados em unidades, ou seja, passagens dotadas de informações completas a respeito de episódios vivenciados. Para garantir a confi abilidade, cada diário foi lido por duas pessoas (pertencentes ao grupo da disciplina sobre consultoria colaborativa) que discutiram possíveis divergências na delimitação das unidades. Por último, foi feita a classifi cação das unidades delimitadas em todos os diários de campo e diário refl exivo, com a fi nalidade de identifi car categorias de conteúdo, descritas nos resultados a seguir. Motivo do encaminhamento para consultoria e história dos alunos consultados Alunos da Professora I André: morador da zona rural com 7 anos e 9 meses, cursando o primeiro ano do Ensino Fundamental no período vespertino. Foi encaminhado devido às suas difi culdades de aprendizagem. No 89 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 histórico de L., constatamos que sua mãe engravidou com uma idade precoce (13 anos) e a criança nasceu pré-termo (5 meses). O aluno apresenta problemas de fala (troca de fonemas e gagueira); difi culdade no aprendizado, não acompanhando seus pares; na escrita e na leitura omite e inverte as letras; também difi culdade no aprendizado de cálculo. Apresentava ansiedade, timidez e baixa tolerância para frustração. Faz um acompanhamento individual: reforço escolar e terapia fonoaudiológica. Beatriz: 7 anos, cursando o primeiro ano do Ensino Fundamental no período vespertino, residente na zona rural. A criança foi encaminhada, pois apresenta imaturidade para entendimento de certas situações cotidianas e difi culdades na aprendizagem escolar. Segundo o registro da professora, a aluna é quieta e se distrai facilmente, apresenta inabilidades motoras para sua idade, como: desenhar, cortar, amarrar, tem problemas na fala, na escrita e na leitura, não acompanha o aprendizado de matemática, desinteresse, além de baixa tolerância à frustração. A professora enfatizou que a família da aluna é completamente indiferente às suas difi culdades. A criança fazia reforço escolar por ocasião da coleta de dados. Alunos da Professora II Carlos: tinha 10 anos, cursava o segundo ano do Ensino Fundamental em período matutino e recebia intervenção fonoaudiológica. Foi sugerido seu acompanhamento devido a problemas neurológicos e comportamentais. O aluno fazia uso de anticonvulsivante, já que tinha epilepsia e transtorno opositor desafi ante. Segundo a professora, a criança se irritava facilmente e era muito dispersa. Apresentava difi culdades motoras, trocas fonêmicas, tiques (barulho com a boca), não acompanhava a sua classe, problemas, inclusive, de escrita (grafi a) e leitura (omissões, ritmo, trocas). A professora enfocou, ainda, que o aluno não terminava suas atividades e constantemente gritava, dizia palavrões e agredia os demais, caso fosse contrariado. Não estava em terapia psicológica por total ausência da família diante dos seus problemas. Diego: tinha 9 anos e cursava o segundo ano do Ensino Fundamental no período matutino, recebendo reforço escolar no período inverso. A professora sugeriu o acompanhamento do aluno para a consultoria, pois apresentava problemas de comportamento e difi culdade na aprendizagem escolar.A criança foi vítima de maus- tratos e abuso sexual quando menor. Esses acontecimentos podem justifi car sua falta de interação e distanciamento com a professora 90 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL e os demais colegas da sala de aula. Segundo a Professora II, Diego não gostava de escrever, porém participava, oralmente, das atividades, desde que fosse motivado. Apresentava desinteresse total pelos conteúdos escolares. Era desastrado, apresentava alguns tiques e fazia uso de objetos transacionais (estava sempre com um objeto na mão, qualquer que fosse a situação). Na coleta de dados, estava sob intervenção fonoaudiológica, pois, segundo a professora, o aluno apresentava algumas trocas na fala. Plano educacional de consultoria estabelecido junto às professoras Os encontros para organizar o plano educacional de consultoria aconteceram uma vez por semana nas próprias dependências (uma sala) da escola. No decorrer da consultoria, foram sugeridas estratégias como: reconhecimento de palavras, de consciência fonológica envolvendo as etapas iniciais de leitura e escrita que contemplassem as atividades e projetos (que já vinham desenvolvendo na escola) de ambas as professoras, bem como suas demandas educacionais. Porém, as consultoras deixaram claro que as consultadas deveriam e poderiam criar outras formas para trabalhar com as sugestões feitas nas reuniões, sempre de acordo com a viabilidade da sua sala de aula. O segundo encontro proposto para as professoras foi a feitura de registros das suas aulas, chamados de “diário refl exivo”. Essa atividade de escrita auxilia o autoconhecimento e construção da autonomia relacionada à prática pedagógica, pois o diário do professor é considerado um instrumento para detectar problemas e explicitar suas dúvidas e apontamentos. Uma estagiária de Psicologia foi convidada para acompanhar a consultoria nos encontros com as Professoras I e II, envolvendo diálogos com aspectos referentes à autoestima e valorização do conhecimento, ou seja, sentimentos que envolviam o processo de ensinar. De acordo com os relatos e trabalhos produzidos pelas Professoras I e II, ambas foram hábeis tanto no envolvimento com a sala quanto na utilização de cada estratégia, extraindo, assim, o melhor para a aula e enfocando, inclusive, as habilidades dos alunos. No entanto, a Professora II demonstrou, por meio da sua escrita (preenchimento dos questionários e nos primeiros diários refl exivos), uma baixa autoestima e falta de conhecimento técnico, porém uma força de vontade em aprender. 91 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 As Professoras I e II destacaram que, durante o processo, a maior transformação, em sua prática, havia sido a construção do diário refl exivo, pois, quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe que reconstrói a trajetória percorrida atribuindo- lhe novos signifi cados. Assim, a refl exão perante a própria prática provoca mudanças em como as pessoas compreendem a si mesmas e aos outros (ZABALZA, 2004). É importante destacar que as consultoras também construíram seus diários de campo e que, igualmente, se mostraram importantes na observação dos alunos indicados para o trabalho de consultoria. Os diários de campo tiveram como fi nalidade registrar, por meio da escrita, as atitudes, angústia, dúvidas e difi culdades das pesquisadoras na construção, em parceria com as professoras, do processo formativo e, particularmente, do processo interativo. Segundo Mendes, Toyoda e Bisaccione (2007), pelos diários de campo podem ser denunciados, de forma simples, os fatores envolvidos em um trabalho, o que contribui muito para o estudo de novas formas de atuação. Dessa forma, o diário se torna um instrumento que favorece o monitoramento do processo de consultoria, podendo auxiliar de forma sistemática sobre as dúvidas e incômodos das professoras frente ao aluno-alvo. No Quadro 1 é possível verifi car o progresso das professoras participantes ao longo da consultoria colaborativa, segundo observações feitas pelas consultoras e registradas nos diários de campo. Consultoras Antes Depois Quanto à disponibilidade de trabalho conjunto Inseguras no começo do processo, tanto para iniciar o trabalho de consultoria quanto na relação com os alunos. Não tinham hábito de registrar a aula, somente preenchiam o diário de classe tradicional de forma obrigatória. Estavam mais fl exíveis às sugestões das consultoras frente ao aluno-alvo, principalmente correlacionando a prática diária, com isso acabaram criando estratégias voltadas à leitura e escrita além do que era sugerido nas reuniões semanais. Relatavam os acontecimentos e refl exões particulares no diário refl exivo diariamente, apontando até mesmo sugestões. QUADRO 1 – PROGRESSO DAS PROFESSORAS, CONFORME OBSERVAÇÕES 92 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Quanto à postura educacional em relação aos alunos Inseguras Propunham a atividade e refl etiam sobre ela e a modifi cam quando necessário. Quanto ao posicionamento em relação às consultoras Falavam pouco durante as reuniões, descreviam suas dúvidas de forma objetiva sem elencar correlações com o processo de aprendizagem do aluno-alvo Dialogavam com maior segurança, relatavam suas atitudes em sala e autorrefl etiam sobre suas atitudes. FONTE: Progresso das professoras, conforme observações do diário de campo das consultoras antes e após o programa de consultoria colaborativa prestado. Em relação aos diários refl exivos das Professoras I e II, pôde-se observar que ali está descrita, de forma cronológica, a trajetória das aulas envolvendo a prática escolhida, apresentando inclusive uma interpretação pessoal do elemento trabalhado na pesquisa, ou seja, a sua prática. A redação foi enriquecida com a descrição de detalhes e com comentários que expressavam a maneira de compreender o elemento em questão. No Quadro 2, observam-se algumas atividades desenvolvidas em sala de aula, tais como: a participação dos alunos nessas atividades e as refl exões das professoras sobre sua prática pedagógica. É importante notar que há um desenvolvimento positivo em relação às atividades, pois se verifi cou que as tarefas propostas pelas professoras foram gradativamente sendo realizadas e a participação dos alunos foi, também, aos poucos, ganhando autonomia diante dessas tarefas. Atividades Refl exão da Professora I Refl exão da Professora II Trabalhar ordem alfabética – com apoio de crachás e, depois, confecção de bingo de nomes. O primeiro encontro de consultoria me permitiu refl etir sobre o meu compromisso com segurança e tranquilidade no processo de ensino. Assim, as minhas observações diante das atividades dos alunos foram intensifi cadas e detectei que o alfabeto foi reconhecido pelos alunos-alvo. QUADRO 2 – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E REFLEXÕES DAS PROFESSORAS 93 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Trabalhar rimas com apoio musical e transpor para a escrita. Os dois alunos, a princípio, participaram de forma voluntária na atividade, porém Diego, ao encontrar uma palavra, mostrava para a sala com entusiasmo e sinal de satisfação. Já Carlos desviava a atenção e desistiu no meio da atividade. Trabalho com números A refl exão girou em torno da necessidade de realizar atividades claras e concretas relacionadas ao cotidiano de André e Beatriz. Por isso, dia a dia, a minha responsabilidade está em fi scalizar o alcance de cada um para atingir suas habilidades e potenciais. Observa-se que o avanço é gradativo, mas estão começando a compreender noções de algoritmo com a quantidade. Trabalhar números e sequência Diego apresentou desenvolvimento e interesse maior nas atividades voltadas à matemática; já Carlos precisa do meu apoio, responde mais oralmente e se recusa, na maioria das vezes,a registrar a atividade no caderno. FONTE: Diário refl exivo das professoras I e II referente às atividades e refl exões durante o programa de consultoria colaborativa Este trabalho teve por objetivo relatar duas experiências, destacando as diferenças nos contextos de sala de aula e dos professores participantes, analisando a infl uência deles no alcance das metas estabelecidas no processo de consultoria. As fases sequenciais da consultoria colaborativa evidenciada por Kampwirth (2003) foram destacadas no estudo pelos processos seguidos por consultor e consultado, pois ocorreu a defi nição do problema com os alunos; criaram-se estratégias alternativas que foram monitoradas, além de verifi cada sua efi cácia pelo monitoramento dos diários de campo e observação da efetividade das ações. Os relatos foram ancorados, prioritariamente, na relação professores e consultores. 94 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL O exemplo de consultoria mais bem estabelecida do presente estudo é capaz de demonstrar como a observação de alguns aspectos (confi ança e colaboração) pode, realmente, ser importante para o sucesso no alcance de metas da consultoria. Um dos pontos a serem sugeridos, neste trabalho, seria o acesso aos pais, que, mesmo em contextos difíceis, representaria um auxílio adicional e signifi cativo para o desenvolvimento intelectual e social de seus fi lhos. Isso não foi possível devido ao tempo e à dinâmica familiar das crianças em questão. Assim, sugeriu-se, principalmente para o aluno André, da Professora I, um trabalho interventivo com uma equipe multidisciplinar, no qual poderiam ser realizadas avaliações específi cas para, dessa forma, abarcar as habilidades e promover um auxílio global para o desenvolvimento desses alunos. Em relação aos demais alunos, destacados na consultoria colaborativa, também foram sugeridas intervenções de acordo com a problemática de cada um. Vale ressaltar que as Professoras I e II consultadas terminaram o trabalho confi antes e satisfeitas com os resultados obtidos em sala de aula. Autores como Mendes, Toyoda e Bisaccione (2007) observaram competências necessárias do educador para um desempenho viável na escola inclusiva, pontuando a sensibilidade para a diversidade; características pessoais para resolução de problemas; avaliação da efetividade da consultoria; comunicação interativa entre consultor e consultado. De acordo com as autoras acima citadas, as professoras não acreditam ter todas as competências apontadas, o que leva à importância do treino e do trabalho conjunto e colaborativo. Essas competências foram sendo adquiridas na medida em que as professoras compreenderam o trabalho, registraram, refl etiram e, sobretudo, acreditaram na dinâmica que este trabalho exercia dentro do contexto de sala de aula. Pôde-se observar que a proposta de consultoria colaborativa auxilia e respalda o professor com estratégias, trocas de experiência e refl exão sobre sua própria prática, quando há abertura por parte do consultado para esse processo. A consultoria colaborativa é um processo delicado que só atingirá suas metas diante da observação criteriosa da metodologia em que será estabelecida, especialmente 95 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 no que concerne ao relacionamento consultor–consultado. Tais fatores colaboram para a construção de um espaço de segurança e credibilidade no próprio trabalho do professor e do consultor. Quando bem-sucedida a consultoria, como observado neste estudo, o professor passa a ousar mais em atividades e a criar possibilidades que potencializam as habilidades das crianças. As trocas de informações, oportunizadas pelo processo de consultoria, enriquecem o contexto escolar e agregam mais valor ao trabalho dos professores, consultores e toda a equipe envolvida. Como demonstra o estudo de Mendes, Almeida e Hayashi (2008), a perspectiva colaborativa poderá auxiliar e transformar o panorama inclusivo das escolas, o que fi ca evidente com suas peculiaridades e dinâmicas diferenciadas, pois equaciona uma estrutura local, com características socioculturais próprias. Sobretudo, a colaboração fundamenta-se em um sistema de parceria e cooperação que demanda um envolvimento além da sala de aula, que possa trazer a possibilidade de fusão de habilidades, compartilhando, assim, confi ança e liberdade na resolução de problemas de forma criativa, resultando na promoção de apoio e compartilhamento de responsabilidades entre consultor e consultado. Por fi m, vale destacar que essa proposta possibilitou a demonstração da união de esforços entre Educação Inclusiva e Educação Regular, no sentido de buscar uma educação para todos os alunos, indistintamente de suas necessidades especiais. A seguir dois exemplos de PEI preenchido pela professora também na proposta de consultoria. 96 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO (PEI) ALUNO: Diego DN: 30/05/2007 Idade: 10 anos SÉRIE/ANO: 5° ano TURMA: Manhã Escola: PARTICULAR ACOMPANHAMENTO COM ESPECIALISTAS ( ) Neurologista ( x ) Psiquiatra ( x ) Fono ( ) Psicólogo ( x ) Psicopedagogo ( ) Terapeuta Ocupacional ( ) Psicomotricista ( ) Nutricionista ( ) Outro(s) _______ Obs.: Vitor tem o acompanhamento de uma tutora em sala de aula. DISCIPLINA EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM PROCESSO AVALIATIVO RESULTADOS OBTIDOS NECESSIDADES ESPECÍFICAS: L. PORTUGUESA MATEMÁTICA ARTES CIÊNCIAS Aprender sobre os sistemas Adaptado Satisfatório GEOGRAFIA HISTÓRIA L ESTRANGEIRA ED FÍSICA (ACRESCENTAR AS DISCIPLINAS CONFORME O NÍVEL) FONTE: A autora 97 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 PLANO DE ENSINO INDIVIDUALIZADO – PEI PROTOCOLO DE ACOMPANHAMENTO DESEMPENHO PEDAGÓGICO As atividades têm como objetivo principal determinar progresso de algumas noções-chave para o desempenho escolar. Aqui especifi camente: Números, Letras (vogais), Coordenação fi na (traçados), Escrita do Nome. NOME_________________________________________________ SEXO: F ( ) M ( ) IDADE_____________SÉRIE/ANO______________ESCOLAR_________________ Data_____/______/______ 1° bimestre__________ Atividades Nível 1 Ausência total de noção, isto é, não atingiu o nível nesse domínio. Nível 2 As respostas ou condutas expressam vacilação e instabilidade. Exemplo, dão uma primeira resposta conservante e no momento seguinte outra não conservante, ou com o argumento oposto ao que falou em primeiro lugar. Nível 3 As respostas demonstram a aquisição da noção, sem vacilação. Números 1.Reconhecimento de números 2.Sequência numérica (0 a 5) 3.Quantifi cação (número e objeto) 4.Escrita do número Letras 1.Reconhecimento de letra 2.Representação da Letra com objeto 3.Junção de vogais 98 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Traçados 1.Horizontal 2.Vertical 3.Diagonal 4.Círculo 5.Cruzado (X) 6.Cruzado (+) Escrita do nome 1.Preenchimento das letras em EVA (vazado) 2.Recorte e colagem da sequência do nome (com apoio visual) 3.Montagem do nome na pasta com letras móveis 4.Reconhecimento das letras do nome na placa com apoio visual e colagem 5.Recortar as letras coloridas e cole na sequência do nome 6.Copiar o nome (apoio visual) Tipos de Apoio de Execução: Sozinho – S; Dica Verbal – DV; Dica Visual – D Vis; Dica Física – DF; Não Realiza – NR. Anotações:_______________________________________________________ _________________________________________________________________ 99 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Diário de campo refere-se às anotações sistemáticas durante a consultoria colaborativa realizadas pelas consultoras (pesquisadoras).Salienta-se que, no seu interior, consiste nas impressões e refl exões delas, fazendo parte dos instrumentos de coleta de dados, não se enquadrando nos referenciais bibliográfi cos. Diários refl exivos: segundo Zabalza (2004), esse instrumento corrobora o aprimoramento das refl exões sobre as práticas desenvolvidas na sala de aula pelas professoras envolvidas por meio da construção da sua escrita diária, enquadrando-se como instrumentos para a coleta de dados, não fazendo parte da bibliografi a referenciada. Uma outra possibilidade de ajustes para o aluno público-alvo da educação especial e/ou inclusiva no sentido dessa colaboração dentro do contexto escolar chama-se RTI (Resposta à Intervenção). Vamos contextualizar a importância de alguns elementos que são singulares nessa produção colaborativa e que se confi guram como itens indispensáveis na formação de uma instituição educacional efetiva. As escolas têm muitas responsabilidades. Entre as mais importantes se encontram a de ensinar certas habilidades intelectuais, tais como leitura, escrita, cálculo, e solução de problemas e habilidades sociais; preparando cada integrante para a diversidade. Uma das maneiras de avaliar as oportunidades educacionais oferecidas pelas escolas é analisar como elas desempenham esta tarefa. Na perspectiva de ter a escola como ambiente inclusivo do desenvolvimento do aluno, confi guram-se pesquisas destinadas a fomentar a importância da sua efi cácia. Sammons (2008) enfatizou a ampla extensão do impacto dos estudos para efi cácia escolar, onde primeiramente deve-se atentar para sua própria defi nição. No entanto, as análises realizadas pressupõem que escolas efi cazes podem ser diferenciadas das demais. Uma escola efi caz é aquela onde os alunos progridem mais do que poderiam esperar, em comparação a outras escolas com alunados semelhantes, preparando-os assim para a diversidade. Nesse contexto, a escola efi caz e inclusiva pode oferecer, além de uma estrutura que possibilita que os educadores possam identifi car, com confi ança, métodos e práticas que funcionam para a maior parte dos alunos, programas que contenham atividades 100 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL baseadas em evidências, ou seja, com base em resultados de pesquisas conduzidas com rigor metodológico. Dessa forma, ressalta-se que a defi nição de efi cácia escolar é dependente de uma variedade de fatores, que incluem: • a amostra de escolas examinadas; • a escolha de medidas de resultados; • o controle adequado (informações individuais sobre alunos, avaliações de desempenho, características pessoais, socioeconômicas e familiares); • metodologia; • escala de tempo: para estudos dos efeitos da escola sobre seus alunos também são importantes abordagens longitudinais, de um ou mais cortes de idade, para que seja possível examinar assuntos de estabilidade e consistência de efeitos escolares de ano para ano (CARVALHO, 2008, p. 63). Nessa direção, esses fatores não devem ser considerados independentes um do outro, assim, alguns autores (MACHADO; BELLO; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2010) chamam a atenção para as várias associações entre eles, as quais podem ajudar a fornecer um melhor entendimento de prováveis mecanismos de efi cácia escolar. Os fatores apresentados a seguir, sem a intenção de serem exaustivos, fornecem um resumo relevante de evidências de pesquisas, podendo auxiliar na promoção da efi cácia e no melhoramento de escolas para se tornarem mais inclusivas: • Liderança profi ssional fi rme e objetiva englobando um enfoque participativo. A liderança, com certeza, não se refere somente à qualidade dos líderes individuais, apesar disso ser importante. Refere- se também ao papel que os líderes desempenham, seus estilos administrativos, a relação deles com a visão, valores, objetivos da escola, e suas abordagens em relação à mudança. “Nenhum estilo simples de administração parece apropriado para todas as escolas... diretores têm que encontrar o estilo e estruturas mais apropriadas para suas situações locais” (BOSSERT et al., 1982, p. 38). Uma segunda característica desse fator é o compartilhamento das responsabilidades de liderança com outros membros da equipe gestora e o envolvimento mais geral dos professores no processo de tomada de decisão. 101 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 a) Objetivos e visões compartilhados. As pesquisas mostram (MENDES; TOYODA; BISACCIONE, 2007) que as escolas são mais efi cazes quando os membros da equipe chegam a um consenso a respeito dos objetivos e valores éticos e quando eles colocam isso em prática, por meio de maneiras consistentes e colaborativas de trabalhar, de tomar decisões, promovem um objetivo comum. Relacionando a noção entre professores, esse fator também diz respeito ao grau em que os professores em uma escola efi caz seguem uma abordagem consistente no seu trabalho e aderem às abordagens comuns e acordadas em relação aos tópicos. Para ilustrar essa abordagem, um trabalho das autoras citadas anteriormente concluiu que a necessidade dos programas curriculares e os métodos de ensino estarem inter-relacionados, especialmente nas escolas primárias, implica em escolas mais efi cazes, onde as normas prevalecentes garantem considerável autonomia aos professores, são tão importantes quanto os seus objetivos comuns. Assim, decisões colegiadas e colaboração são condições importantes para a unidade de propósito da escola. Alguns autores (MISCHA; MUSKAT, 2004) chamaram a atenção para o fato de que, para que esse envolvimento ocorra, deve haver a contribuição entre funcionários e alunos, estimulados por relações recíprocas de suporte e respeito. Tal envolvimento vem também da troca de ideias entre professores, observando uns aos outros com feedback, aprendendo uns com os outros e trabalhando juntos para melhorar o programa de ensino. b) Um ambiente de aprendizagem ordenado e atraente. Escolas de sucesso têm maior probabilidade de serem lugares mais calmos. Alguns estudos como por exemplo Alves e Franco (2008) enfatizaram a importância de manter, na escola, um clima de ordem orientado para as tarefas. Esse estudo mostrou o estímulo do autocontrole entre os alunos como uma fonte positiva na sala de aula e as desvantagens de altos níveis de barulho. No entanto, a literatura mostra, em geral, não é pelo fato das escolas se tornarem mais efi cazes que elas se tornam mais ordenadas. Apesar desse fato poder acontecer, não há sombra de dúvidas de que uma atmosfera de ordem é um pré-requisito para que uma aprendizagem efi caz aconteça. Assim, a maneira mais efi caz de encorajar a ordem e os objetivos claros entre os alunos é por meio do incentivo às boas práticas de aprendizagem e ao comportamento. c) Concentração no ensino e na aprendizagem. Os objetivos principais das escolas se referem ao ensino e à aprendizagem. Um estudo (MACHADO; BELLO; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2010) mostrou correlações entre o foco em ensino e aprendizagem e a efi cácia da escola e do professor. 102 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Assim, é claramente vital para escolas e para os professores focarem tanto na qualidade como na quantidade de ensino e aprendizagem que acontece numa escola. Para que isso ocorra, o mesmo estudo examinou a maximização do tempo de aprendizagem, pois várias medidas de tempo de aprendizagem mostraram ter correlações positivas com os resultados e comportamentos dos alunos, por exemplo: 1) proporção do dia devotado à disciplina acadêmica; 2) proporção do tempo das aulas devotado à aprendizagem ou à interação entre alunos; 3) proporção do tempo dos professores gasto na discussão do conteúdo do trabalho com os alunos; 4) professores menos preocupados com relações pessoais e objetivos afetivos; 5) pontualidade das aulas; e, 6) estar livre de ruídos vindos de fora da sala de aula. Juntos, esses fatores indicam a necessidade dos professores de administrar a transiçãode atividade ativamente e efi cientemente. Nessa perspectiva, Alves e Franco (2008) dizem que “o tempo em si não é o que conta, mas sim o que acontece durante aquele tempo” (apesar disso, o tempo de aprendizagem acadêmica e o tempo para tarefas continuam sendo preditores poderosos de desempenho. d) Ensino e objetivos claros. Ao examinar as descobertas sobre práticas de ensino em escolas efi cazes, percebeu-se que o fator principal que emerge é o que chamamos de ensino e objetivos claros. Isso tem uma série de elementos: organização efi caz, clareza de objetivos, lições estruturadas e prática adaptativa. Assim, nessa direção o ensino deve ser estruturado e adaptável, pois o progresso do aluno aumenta quando os professores são sensíveis às diferenças em estilo de aprendizagem e, quando possível, identifi cam e usam estratégias apropriadas. Para isso é preciso: 1) tornar claro o que tem que se aprendido; 2) dividir o material de ensino em unidades manejáveis para os alunos e ensiná-las em uma sequência bem planejada; 3) muitos materiais com exercícios para os alunos testarem sua criatividade e suas sugestões; e, 4) testar regularmente o progresso e o feedback imediato dos resultados. e) Altas expectativas. Expectativas positivas quanto ao desempenho do aluno, especialmente entre os professores, mas também entre alunos e pais, é uma das características mais importantes das escolas efi cazes. Porém, o peso da evidência sugere que, se os professores estabelecem expectativas altas para seus alunos, fazem com que eles saibam o que se espera deles, e providenciem lições intelectualmente desafi adoras, que correspondam a essas expectativas, o impacto no desempenho pode ser considerável. f) Incentivo positivo e feedback. O incentivo, seja em termos de padrões de disciplina ou de feedback, é um elemento importante da educação efi caz. Segundo Alves e Franco (2008), os pesquisadores postularam três explicações para o grande efeito do elogio: ele afeta um número maior de alunos, por ser 103 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 imediato, ele permite conexões mais defi nidas com os incentivos; e, é provável, que ele aumente as recompensas intrínsecas daquilo que está sendo incentivado. No mesmo estudo, os autores mostraram que recompensas e elogios não precisam estar necessariamente relacionados somente com resultados acadêmicos, mas podem ser empregados para outros aspectos da vida escolar, tais como frequência e cidadania. No mesmo sentido, a análise do comportamento do professor e do desempenho do aluno fornece um conjunto de diretrizes para elogios efi cazes. Entre outros aspectos, os mesmos enfatizam a necessidade de o elogio ser específi co, contingente, espontâneo e variado, usar as realizações prévias do aluno como um contexto para descrever realizações presentes e atribuir sucesso ao esforço e habilidade. g) Monitoramento do progresso. Mecanismos bem estabelecidos para o monitoramento do desempenho e do progresso dos alunos, das salas de aula, da escola como um todo e dos programas de melhoramento são características importantes de muitas escolas efi cazes. Esses procedimentos podem ser formais e informais, mas, de qualquer maneira, eles contribuem para um foco no ensino e na aprendizagem e, frequentemente, desempenham um papel no aumento das expectativas e nos incentivos positivos, e parece haver benefícios específi cos no comprometimento ativo do gestor no monitoramento do desempenho e progresso do aluno. Monitoramento frequente e sistemático do progresso dos alunos e das turmas soma-se aos demais fatores para construírem um trabalho de uma escola efi caz. Em primeiro lugar, é um mecanismo para determinar até que ponto os objetivos das escolas estão se realizando. Segundo, o monitoramento concentra a atenção dos professores, alunos e pais nesses objetivos. Terceiro, ele informa o planejamento, os métodos de ensino e avaliação. Quarto, ele dá uma mensagem aos alunos e que os professores estão interessados no progresso deles. Este último ponto se relaciona com o fornecimento de feedback aos alunos, que foi apresentado no fator anteriormente exposto. Assim, conclui-se que a incorporação de monitoramento e de avaliação rotineiramente no processo de tomada de decisões na escola assegura que as informações sejam usadas ativamente. h) Direitos e responsabilidades do aluno. Uma descoberta comum das pesquisas versando sobre escolas efi cazes é quando a autoestima e a autoefi cácia dos alunos são enfatizadas, ou seja, quando eles têm um papel ativo na vida da escola e quando é dada a eles uma parte da responsabilidade por sua própria aprendizagem, os níveis de autoefi cácia são afetados signifi cantemente pela relação entre os alunos, se confi gurando um fator importante na determinação do desempenho escolar. No caso da autoestima dos alunos, as atitudes dos professores são expressadas de diversas maneiras: a) a maneira como eles se 104 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL comunicam com os alunos; b) até que ponto o aluno é respeitado e sente que é compreendido; c) e os esforços que os professores fazem para atender as necessidades pessoais do aluno. i) Parceria casa-escola. As pesquisas em efi cácia escolar geralmente mostram que relações de apoio e cooperação entre casa e a escola têm efeitos positivos. No entanto, as maneiras específi cas pelas quais as escolas encorajam boas relações casa e escola e promovem o envolvimento dos pais com a aprendizagem de seus fi lhos serão afetadas por alguns fatores também, e é provável que se encontrem diferenças de escola para escola. O envolvimento dos pais é, com frequência, altamente correlacionado aos fatores socioeconômicos. Entretanto, um estudo mostrou que o envolvimento dos pais pode ser mais infl uente em escolas que matriculam mais alunos pobres e de classe trabalhadora. j) No entanto, os verdadeiros mecanismos pelos quais o envolvimento dos pais infl uencia a efi cácia escolar não são inteiramente claros. Pode-se hipotetizar que, onde os pais e professores tenham objetivos e expectativas semelhantes para os alunos, o apoio combinado para o processo de aprendizagem pode ser uma poderosa força de melhoramento. Pais que estão envolvidos podem ampliar o tempo de aprendizagem ativa dos alunos e, no caso de aparecerem difi culdades, talvez em frequência ou comportamento, provavelmente irão apoiar mais as exigências e os padrões da escola. Como sustenta Alves e Franco (2008), “escolas de sucesso provavelmente são aquelas que não apenas envolvem, mas também empoderam os pais”. E ainda chamam a atenção particularmente para a interconexão dos domínios cognitivos e afetivo na tríade de relacionamentos entre professor, pai e aluno. Os autores argumentam que “o relacionamento entre o professor e os pais é crucial para contar com a família como uma aliada, ou torná- la a inimiga das atividades educativas”. No cenário internacional, a tradição de pesquisa em efi cácia e equidade escolar já está bem consolidada. No entanto, no Brasil já começa a se constituir um núcleo de publicações baseadas em dados brasileiros versando sobre os efeitos das escolas, mesmo porque a sociedade tem apontado para a necessidade de ressignifi car o papel da escola para além do pedagógico, reconhecendo que ela vem somando atribuições políticas e sociais, principalmente em função da diversidade de características do alunado e da complexidade das demandas oriundas do contexto socioeconômico, político e cultural. Evidencia-se, portanto, a importância de reexaminarmos os valores que a escola cultua, dentro de uma perspectiva democrática e inclusiva, ou seja, evidencia-se a relevância de examinar sua intencionalidade educativa. 105 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 As escolas precisam mudar, e talvez o maior desafi o seja levá-las à consciência da necessidade urgente de mudança, devemosestimular as ações comunicativas entre os sujeitos que nelas estão, lhes permitindo compartilhar medos e expectativas, bem como apontar caminhos para as transformações. Assim, a escola é para todos, a proposta de uma escola inclusiva diz respeito a uma escola de qualidade para todos, uma escola que não segregue, não rotule e não “expulse” alunos com “problemas”, uma escola que enfrenta sem adiamentos a grave questão do fracasso escolar e que atenda à diversidade de características do seu alunado. Portanto, é indispensável que todos da escola trabalhem como uma equipe, com envolvimento da família, e que discutam: sua intencionalidade educativa, a prática pedagógica, o trabalho na diversidade, e revejam todos os fatores apresentados anteriormente, bem como identifi quem as barreiras para a aprendizagem (as visíveis e as invisíveis), procurando meios e modos de minimizá-las ou removê-las. Nessa direção, confi gura-se o advento do modelo de Resposta à Intervenção – RTI. É nessa perspectiva que se forma essa proposta, indicando-a como uma vertente inclusiva, oferecendo às escolas e aos seus integrantes um exercício efetivo de infl uência educacional objetivando ajudar os aprendizes a desenvolver e adquirir capacidades que lhes permitam atuar e interatuar com os outros e com o contexto de maneira construtiva. O RTI – denominado Resposta à Intervenção, vem sendo bastante utilizado nas últimas décadas nos Estados Unidos da América – EUA. A abordagem do RTI que será descrita nesse texto é baseada nos três níveis de instrução. Os alunos são identifi cados como de risco para difi culdades e encaminhados a participar de intervenções designadas a minimizar ou eliminar o prejuízo encontrado. O programa é monitorado usando um modelo de avaliação processual. Nessa perspectiva de escola efi caz e modelos de práticas baseadas em evidência, a abordagem RTI – Resposta à Intervenção é um modelo educacional de Multiníveis, em que as atividades são fornecidas a todas as crianças como uma instrução de alta qualidade baseada em pesquisas dentro da própria sala de aula. A resposta das crianças a essa instrução é avaliada por meio de instrumentos de triagem, que são administrados, periodicamente, durante todo o ano letivo. Com as crianças identifi cadas como de risco, na base desta seleção é realizada uma intervenção de curto prazo suplementar. Esta intervenção pode evoluir a partir de pequenos grupos para aulas individuais com base nas necessidades das crianças. O progresso do monitoramento é usado para medir a resposta das 106 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL crianças à intervenção. Aqueles que não respondem à intervenção suplementar são considerados como de risco para difi culdades acentuadas de aprendizagem e podem benefi ciar-se de um ensino mais especializado, fornecido dentro de um contexto de educação especial. O primeiro estudo utilizando o modelo de RTI foi conduzido por Deno e Mirkin (1977) e Bergan (1977) (MACHADO; ALMEIDA, 2014). A pesquisa de Deno e Mirkin foi o primeiro trabalho que versou sobre os três níveis de RTI em relação à leitura, utilizando dados do currículo e avaliações sobre habilidade de leitura dos alunos. As metas foram baseadas nas marcas dadas pelas avaliações e as intervenções foram desenvolvidas para alunos identifi cados como de risco para problemas de leitura. Os estudantes foram ensinados em pequenos grupos e monitorados de modo contínuo. O estudo de Bergan (1977) envolveu um processo para auxiliar problemas de comportamento, os quais foram observados e medidos no contexto da sala de aula. A meta comportamental foi estabelecida baseada nas expectativas de todos os alunos, depois foram inseridas intervenções específi cas para identifi car os problemas e para melhorar a mudança de comportamento. Esses estudos serviram de fundamentações de pesquisas que vieram posteriormente a difundir dois modelos distintos de RTI, estabelecidos em: 1) o modelo baseado nas respostas baseado no estudo de Deno e Mirkin e, 2) modelo de resolução de problema baseado na pesquisa de Bergan. Os benefícios do RTI incluem efi ciência e efi cácia em intervenções precoces direcionadas como preventivas, redução das difi culdades acadêmicas como leitura, escrita e matemática, diminuição de baixa instrução colocada como causa do mau desempenho, redução da má interpretação de alunos para a educação especial e garantia da qualidade no resultado da instrução para ser utilizada como estratégias baseadas em evidência. O RTI é uma maneira diferente para auxiliar os alunos que, mesmo recebendo atividades apropriadas, não avançam comparados ao seu grupo/classe. Dessa forma, o RTI combina avaliação e instrução (modo de ensinar) e intervenção (atividade e estratégia pelo qual permite o ensino de determinado conteúdo). Utilizando essa proposta, as escolas podem identifi car precocemente alunos em risco para difi culdades específi cas de aprendizagem. O progresso de cada aluno é monitorado e a intervenção é ajustada ou trocada baseada no seu desempenho. Assim, o RTI requer a colaboração de vários profi ssionais e professores da escola, que podem desenvolver um plano e procedimentos para identifi car alunos em risco de fracasso na aprendizagem. O monitoramento sistemático e o ajuste na intervenção podem prevenir futuros prejuízos. Segundo Machado e Almeida (2014), a defi nição e a forma de planejamento do programa dependerão de 107 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 escola para escola, pois se levará em consideração a população escolar de cada instituição. O modelo de RTI mais utilizado é o dos três níveis ou camadas: RTI – nível I; RTI nível II e RTI nível III, em cada nível são levados em consideração os critérios de: grupo; tempo (duração); monitoramento. Como demonstra a Figura 1. Nível I Todos os alunos da sala de aula são envolvidos, ou seja, alunos com e sem difi culdades devem receber as instruções e serem monitorados. É realizado um levantamento diagnóstico com atividades de leitura, escrita ou matemática. A partir do resultado deste levantamento, as atividades e as estratégias são desenvolvidas e aplicadas. Nessa etapa, muitos alunos com difi culdades importantes já se benefi ciam. Porém, muitos não avançam e são direcionados para o nível II. Nível II O aluno identifi cado necessita de instrução adicional. Essa instrução é realizada em pequenos grupos de quatro a cinco alunos, onde o professor especializado avança com atividades mais focadas nas necessidades de cada aluno. É mister salientar que no início dessa etapa também há um outro levantamento diagnóstico para formular novas atividades, bem como o monitoramento. Os alunos que não respondem a essas intervenções são novamente direcionados, agora para o nível III. Nível III Os alunos encaminhados para essa etapa são identifi cados com difi culdades signifi cativas de aprendizagem e necessitam de uma instrução mais detalhada para alcançar o sucesso. As instruções pertencentes a essa etapa são compostas por uma variedade de intervenções que são intensivas e específi cas para as difi culdades do aluno. Geralmente a duração é de 30 a 40 minutos diários por um período de três meses, no mínimo, segundo alguns autores. Torna-se relevante também destacar a importância de combinar estudos que visam desenvolver níveis de intervenções monitoradas de sala de aula, como salienta a abordagem do RTI – Resposta à Intervenção. Pois com essa combinação, o número de crianças em situação de risco diminui. Assim, é imperativo que o conceito de resposta à intervenção seja incorporado para auxiliar na identifi cação de crianças com difi culdades acentuadas de aprendizagem no início da aprendizagem escolar. 108 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Assim, a efi ciência e a efi cácia da abordagem da instrução (o como ensinar) também são infl uenciadas pelas características dos alunos. Portanto, o professordeverá adaptar as intervenções para que o aluno atinja os objetivos propostos. Na Figura 1, a seguir, podem ser observados os níveis do RTI e a intensidade das suas instruções. FIGURA 1 – TIPOS DE APOIO NOS NÍVEIS DO RTI FONTE: A autora Torna-se relevante salientar que os dados aqui expostos são um recorte de uma pesquisa maior, apresentando somente os resultados individuais dos alunos, ou seja, dados relacionados ao terceiro nível/camada do RTI. Este artigo tem o intuito direcionado a mostrar a importância de uma proposta inclusiva que contém mecanismos de controle sobre suas práticas, bem como direcionar o leitor a se familiarizar com o modelo de delineamento de sujeito único, ambas as propostas enfatizam a prática baseada em evidência. 109 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 CASO SOBRE RESPOSTA À INTERVENÇÃO (RTI) Este caso consiste na apresentação de um programa de matemática denominado de PROMA, foi desenvolvido para auxiliar o entendimento dos elementos que compõem raciocínio lógico matemático, bem como proporcionar modelos de atividade e estratégias para as professoras. Nessa perspectiva, o programa também foi desenvolvido na abordagem do modelo RTI – Resposta à Intervenção, relacionando-o aos três níveis. No entanto, mostraremos aqui somente o terceiro nível, individual. Assim, há necessidade de desenvolver para os alunos atividades para que consigam compreender os conceitos e princípios matemáticos, bem como possam reconhecer as aplicações matemáticas que os rodeiam e desenvolver capacidades básicas, ampliando os conhecimentos adquiridos a situações novas, conseguindo controlar o seu processo de aprendizagem no decorrer da sua trajetória escolar. No entanto, estas aquisições não são realizadas de forma linear e homogênea por todos os alunos, pois existem alunos que demonstram inúmeras difi culdades na aquisição e no desenvolvimento das competências e princípios matemáticos. Diante do exposto, é imprescindível que a escola se mostre mais receptiva à diversidade dos seus alunos, para poder responder de forma concreta e exequível às necessidades deles. A escola deve funcionar como um espaço aberto, diferenciado, para que os seus alunos encontrem a resposta apropriada, permitindo-lhes desempenhar seu direito à educação. Assumindo-se a matemática como essencial, é necessário realizar uma refl exão e análise das formas de atuação, identifi cando-se as contrariedades para se prevenir e minimizar as difi culdades apresentadas pelos alunos na matemática. Para o desenvolvimento das atividades foram utilizados materiais concretos, como: dinheirinho, tangran, jogos de regras, blocos, cartões miniaturas, palitos, lego, etc., oferecidos duas vezes por semana, com duração de uma hora em um período de 20 sessões. As atividades tiveram início com estratégias de reconhecimento de quantidade, contagem, símbolos, enumeração, comparação, 110 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL tamanho, manipulação de objetos, relação de cálculos e operações etc. No entanto, alguns alunos não responderam adequadamente, obtendo resultados aquém do esperado. Apresentamos a seguir os resultados referentes ao programa de intervenção individual de matemática, por meio da fi cha de registro individual do aluno 11 (A11), como exemplo de preenchimento. Antes INTERVENÇÃO (linha de base) INTERVENÇÃO Após INTERVENÇÃO (retirada da intervenção) Follow up mar mar abr jun set dez dez dez jun Med 1 Med 2 Med 3 Med 4 Med 5 Med 6 Med 7 Med 8 Med 9 PROMA Reconhecimento de sinais 0 0 0 1 2 4 4 4 4 Resolução de problemas oralmente 0 0 0 2 2 4 4 4 4 Adição 4 4 4 4 4 4 4 4 4 Subtração 0 0 0 2 2 4 4 4 4 Multiplicação 0 0 0 1 1 4 4 4 4 Divisão 0 0 0 1 1 4 4 4 4 Resoluções de problemas com enunciado 0 0 0 2 2 4 4 4 4 Conhecimento de horas 0 0 0 1 1 4 4 4 4 Conceito de dinheiro 3 3 3 3 3 4 4 4 4 Conceito de medidas e gráfi cos 2 2 2 2 2 4 4 4 4 Conceito de fração 0 0 0 2 2 4 4 4 4 Pontuação Total 9 9 9 21 22 44 44 44 44 % 20,4% 20,4% 20,4% 47,7% 50% 100 100% 100% 100 EXEMPLO DE FICHA DE REGISTRO DO PROGRAMA DE INTERVENÇÃO Legenda: PROMA – Programa de matemática; Med – Medida. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Como observamos, a avaliação e o planejamento e as abordagens inclusivas envolvem vários aspectos a serem considerados, tanto gerais quanto específi cos, para que a escola e a sala de aula se tornem inclusivas. 111 SELEC. ABORDAGENS E FER. PARA O ENSINO INCLUSIVO Capítulo 3 Não há dúvida da necessidade de um intenso trabalho coletivo, que envolve desde as políticas educacionais no âmbito da Secretaria da Educação, até as escolas e as salas de aula. No âmbito da escola, ainda temos outro ponto a ser pensado: a terminalidade específi ca, a qual se trata de uma decisão pedagógica e administrativa, portanto, o gestor deve estar atento a esta possibilidade para alguns estudantes que possuem condições mais comprometedoras para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Para conhecer mais sobre o assunto, sugerimos aos alunos que acessem e estudem a Portaria Conjunta CENP/COGSP/ CEI, de 6 de julho de 2009. O caminho é longo e difícil, mas precisamos ter envolvimento em ações cada vez mais abertas à diversidade, construindo estratégias orientadoras para uma prática educacional e pedagógica inclusiva. Diante do exposto, vamos realizar mais uma atividade, a qual auxiliará na fi xação das informações distribuídas ao longo do capítulo. 1- Em sua experiência de aluno, descreva algumas vezes em que você trabalhou sozinho, com um colega ou em grupo: a) Como você se sentiu a respeito disso naquele momento? b) Como se sente agora em relação à perspectiva de tomar essas decisões? 2- Descreva um modo com o qual você poderia ensinar um tópico predeterminado, tente esses: rimas (Língua Portuguesa), ou formas geométricas (Matemática), ou rochas (Ciências), de forma visual, auditiva ou tátil. 3- Quais são os aspectos do PEI (Plano Individual Individualizado) que mais o atraem? Por quê? 4- Quais são as formas de abordagens colaborativas e inclusivas destacadas neste capítulo? Lembre-se, essa atividade é de caráter para fi xação do conteúdo deste capítulo. 112 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL REFERÊNCIAS ALVES, T. G. A.; FRANCO, C. A pesqiosa em edicácia escolar no Brasil. In: BROOKE, N.; SOARES, J. F. (org.) Pesquisa e efi cácia escolar: origem e trajetórias. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. ARGUELES, M. E.; HUGHE, S. M. T.; SCHUMM, J. S. Co-teaching: a different approach to inclusion. Principal. V. 79, n. 4, p. 48-51, 2000. BOSSERT, S. et. al. The Instructional Management Role of the Principal. Educational Administration Quartely, v. 18, 1982. BUENO, J. G. S. A pesquisa educacional e a transformação das práticas escolares. In: DECHICHI, C., SILVA, L. C. (orgs). Inclusão escolar e educação especial: teoria e prática na diversidade. Uberlândia: EDUFU; 2008. p.54-80. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Brasília, 2017. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. 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