Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Sc\ 
 
Helmintos 
O vocábulo helmintologia é derivado do grego – 
helminto: ἕλμινς, -ινθος hélmins, -inthos, ‘verme’; logos: 
λόγος, estudo – referindo-se ao estudo dos vermes. O 
termo verme refere-se, genericamente, a um grupo de 
metazoários com corpo alongado – achatados 
(platelmintos) ou cilíndricos (nematelmintos) –, capazes 
de existir em diferentes ambientes, tanto em vida livre – 
espaços aquáticos e/ou terrestres – quanto em vida 
parasitária (em díspares tipos de organismos, tais como 
plantas e animais). (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Ascaridíase 
A ascaridíase é uma infecção causada pelo nematoide A. 
lumbricoides, um verme pertencente à família 
Ascarididae e conhecido popularmente como “lombriga” 
ou “bicha”. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Ascaris lumbricoides é geralmente considerado um 
parasito estenoxeno, que infecta exclusivamente seres 
humanos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Epidemiologia 
A ocorrência da ascaridíase está certamente associada a 
fatores sociais, econômicos e culturais. (EVANGELISTA 
et al., 2020) 
É uma infecção cosmopolita onde ocorre principalmente 
na Ásia (73% de prevalência), seguida pela África (12%) 
e pela América Latina (8%). (EVANGELISTA et al., 2020) 
Além disso, os fatores ambientais são determinantes para 
a distribuição dessa geo-helmintíase. As condições 
climáticas e ambientais ideais para o desenvolvimento dos 
ovos do parasito no ambiente geralmente são áreas de 
clima tropical e subtropical de temperaturas quentes e 
úmidas. (EVANGELISTA et al., 2020) 
A ascaridíase, assim como as outras geo-helmintíases é 
uma doença tropical negligenciada que ocorre 
principalmente em populações que vivem em situação 
de vulnerabilidade em que a água, a infraestrutura 
sanitária e a higiene são escassas. (EVANGELISTA et al., 
2020) 
Esta doença tem acometido aproximadamente 807 
milhões a 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo. 
(EVANGELISTA et al., 2020) 
 
 
A ascaridíase é mais comum entre crianças de 2 a 10 
anos de idade, e a prevalência da infecção diminui entre 
indivíduos com mais de 15 anos de idade. (EVANGELISTA 
et al., 2020) 
A infecção por Ascaris devido a A. suum tem sido 
identificada em regiões onde há criação de suínos e o 
uso de fezes desses animais como fertilizantes. Os 
porcos, por sua vez, geralmente são infectados ao 
comer ovos eliminados por outros porcos, mas 
ocasionalmente podem ser infectados após a ingestão de 
fígados e pulmões de galinhas infectadas com Ascaris de 
origem suína. (EVANGELISTA et al., 2020) 
Fatores de risco 
Os fatores socioambientais mais importantes são: baixo 
nível socioeconômico; pouca acessibilidade a bens e 
serviços; mal estado nutricional; número alto de pessoas 
morando no mesmo domicílio; alta densidade por 
cômodo; baixo nível de instrução materno; presença de 
menores de cinco anos no domicílio; não lavar as mãos 
após defecar e higiene incorreta dos alimentos. 
(EVANGELISTA et al., 2020) 
Etiologia 
Taxonomia 
A ascaridíase é causada por parasitos do gênero Ascaris 
e espécie Ascaris lumbricoides. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
 
Morfologia 
As principais características que definem esse helminto 
são: corpo alongado, cilíndrico, fino e com extremidades 
afiladas; cobertura de cutícula lisa, brilhante e que contém 
Ascaridíase, Enterobíase, Esquitossomose e Teníase 
Julia Soares • 4 período de Medicina • Tutoria 6 
duas linhas claras distribuídas longitudinalmente; ausência 
de segmentação e de ventosas; coloração que 
geralmente admite um branco-marfim ou um leve 
rosado, quando localizado no lúmen intestinal do 
hospedeiro; e duas extremidades, uma anterior e outra 
posterior. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Na extremidade anterior, encontra-se a boca, uma 
estrutura central com três grandes lábios que estão 
dispostos da seguinte maneira: um dorsalmente e dois 
lateroventralmente. Eles são fortes e dotados de serrilha 
com dentículos e papilas sensoriais. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Em seguida, observa-se o esôfago, com formato 
cilíndrico e musculoso, o intestino (achatado e retilíneo) 
e, por último, o reto, que se abre próximo da 
extremidade posterior. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O hábitat preferencial do A. lumbricoides é o lúmen do 
intestino delgado. Apesar de se concentrarem no jejuno 
e no íleo, os metazoários também podem ser 
encontrados, em menor quantidade, no duodeno e no 
estômago. Entretanto, em infecções intensas, todo o 
intestino delgado pode estar acometido. Nessas 
circunstâncias, a ocupação pelo helminto também pode 
ocorrer em lugares menos comuns, como: vias biliares, 
ducto pancreático, apêndice cecal, vias do trato urinário, 
laringe, traqueia e aparelho lacrimal. Desse modo, pode 
acontecer a eliminação do metazoário pelos olhos, pelo 
nariz, pela boca e pelo ânus. O A. lumbricoides pode 
permanecer fixo, aderido à mucosa graças aos seus 
fortes lábios, causando a espoliação do hospedeiro, ou 
pode se movimentar livremente por toda a extensão do 
intestino, migrando de um local para outro(SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
O patógeno se alimenta dos macronutrientes 
(carboidratos, proteínas e lipídios) já digeridos em sua 
forma monomérica no lúmen intestinal do hospedeiro; 
mas, igualmente possuem, caso necessário, as enzimas 
específicas para a digestão dessas substâncias. 
Outrossim, eles também se nutrem de vitaminas, 
principalmente A e C. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Formas evolutivas 
Ascaris lumbricoides, classificado originalmente por Lineu, 
em 1758, é o maior nematódeo do trato digestório 
humano. (FERREIRA, 2020) 
Vermes adultos 
Os vermes adultos são cilíndricos, afilando-se 
gradualmente nas extremidades anterior e posterior. 
(FERREIRA, 2020) 
As fêmeas adultas podem chegar a mais de 40 cm 
de comprimento (porém, geralmente têm 20 a 35 cm) 
e 3 a 6 mm de diâmetro; os machos maduros 
medem 15 a 31 cm de comprimento e 2 a 4 mm de 
diâmetro. (FERREIRA, 2020) 
 
Os vermes adultos habitam o lúmen do intestino delgado 
humano, onde se alimentam e copulam. (FERREIRA, 
2020) 
A fêmea deposita cerca de 200.000 ovos por dia, que 
são eliminados nas fezes. Seu par de túbulos genitais, que 
compreendem útero, receptáculo seminal, oviduto e 
ovário, enovelam-se nos dois terços distais do verme e 
podem conter até 27 milhões de ovos. (FERREIRA, 2020) 
Ovos 
Os ovos férteis recém-eliminados são ovoides e medem 
45 a 75 μm por 35 a 50 μm. São geralmente 
recobertos por uma casca externa albuminosa espessa, 
uma camada intermediária também espessa e uma 
membrana vitelina interna, muito pouco permeável. Esse 
revestimento complexo torna os ovos extremamente 
resistentes no meio externo. (FERREIRA, 2020) 
A camada albuminosa, no entanto, pode estar ausente 
em alguns ovos férteis, conhecidos como 
decorticados. (FERREIRA, 2020) 
Os ovos recém-eliminados ainda não são infectantes. 
(FERREIRA, 2020) 
As fêmeas eliminam também ovos inférteis, geralmente 
alongados, que medem 88 a 94 μm por 39 a 44 μm e 
não apresentam a camada externa albuminosa. 
(FERREIRA, 2020) 
No interior dos ovos inférteis, encontra-se uma massa 
amorfa de protoplasma com grânulos de diversos 
tamanhos. Esses ovos, produzidos por fêmeas não 
fertilizadas, são frequentemente eliminados nas fezes, 
mas degeneram no meio externo, sem se tornarem 
infectantes. (FERREIRA, 2020) 
 
Larvas 
Quando encontram condições favoráveis de 
temperatura (em torno de 25°C, variando de 22 a 30°C), 
umidade e oxigenação no solo, os ovos férteis tornam-
se infectantes em cerca de 3 semanas, após duas mudas 
das larvas contidas em seu interior. (FERREIRA, 2020) 
Quando ingeridos, os ovos liberam uma larva L3 de 200 
a 300 μm (média, 260 μm) de comprimento e 14 μm de 
diâmetro, existente em seu interior, durante sua 
passagem pelas porções anteriores do intestino delgado 
humano. (FERREIRA, 2020) 
As larvas penetram ativamente na parede intestinal, 
atingindo vênulas ou vasos linfáticos, para realizaremseu 
ciclo pulmonar. (FERREIRA, 2020) 
Por meio da circulação portal, acometem o fígado, o 
coração direito e os pulmões, aonde chegam entre 1 e 7 
dias após a infecção. (FERREIRA, 2020) 
Essas larvas rompem os capilares pulmonares e caem no 
lúmen alveolar. Nesse estágio, medem 1.200 a 1.600 μm 
de comprimento e 36 a 39 μm de diâmetro. Através 
dos bronquíolos e brônquios, ascendem até a traqueia e 
a glote. (FERREIRA, 2020) 
Ao serem deglutidas, chegam ao esôfago, ao estômago 
e ao intestino delgado. Nesse trajeto, alcançam 1.700 μm 
de comprimento e 60 μm de diâmetro. (FERREIRA, 
2020) 
A terceira muda ocorre na mucosa intestinal, originando 
larvas L4 com 2 mm ou mais de comprimento. Liberadas 
no lúmen intestinal, essas larvas alcançam o comprimento 
de 1 cm até o momento da muda final, 3 a 4 semanas 
após a infecção. (FERREIRA, 2020) 
No lúmen intestinal, transformam-se em adultos com 
sexos separados. Os primeiros ovos são detectados nas 
fezes cerca de 8 a 9 semanas após a infecção. A 
longevidade média das fêmeas vai de 12 a 18 meses, e 
pode chegar a 20 meses. (FERREIRA, 2020) 
Especula-se que esse ciclo biológico complexo, que 
envolve uma extensa migração por diferentes órgãos do 
hospedeiro, seja uma característica de ancestrais que 
utilizavam artrópodes como hospedeiros intermediários. 
Essa característica seria retida nesse nematódeo humano 
por conferir alguma vantagem seletiva, possivelmente 
relacionada à sua velocidade de crescimento até a fase 
adulta. (FERREIRA, 2020) 
 
 
Ciclo biológico 
A infecção por A. lumbricoides tem início quando o 
indivíduo se infecta ao ingerir alimentos ou água 
contaminados com ovos férteis. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Esses ovos, em condições ideais de temperatura e 
umidade, tornam-se embrionados e as larvas passam por 
duas mudas (L1, L2) e no estádio L3 o ovo se torna 
infectante. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Quando ocorre a ingestão desses ovos, as larvas 
infectantes L3 eclodem dos ovos e da mucosa intestinal 
caem nos vasos linfáticos e alcançam a veia mesentérica 
superior do fígado, e em cerca de 2 a 3 dias migram 
pelo átrio direito até os pulmões. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
As larvas sofrem novamente outra muda para o quarto 
estádio L4 e dos alvéolos pulmonares alcançam a árvore 
brônquica, onde podem ser expelidas ou deglutidas. Essa 
migração das larvas pelo parênquima pulmonar do 
hospedeiro é denominada ciclo de Loss. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Quando deglutidas chegam ao intestino delgado e 
mudam para L5, tornam-se adultas e ocorre o 
acasalamento. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
As fêmeas liberam cerca de 200.000 ovos por dia nas 
fezes e o ciclo se reinicia, além disso, como são dioicois 
pode ocorrer infecção unissexual. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
 
Transmissão 
Um indivíduo contaminado pelo verme elimina 
diariamente milhares de ovos de Ascaris pelas fezes. Em 
locais sem saneamento básico adequado, estas fezes 
contaminam solos e água. A transmissão do áscaris 
ocorre quando uma pessoa sadia ingere acidentalmente 
estes ovos presentes no ambiente. 
Crianças costumam se infectar ao brincar em solos 
contaminados. As mãos sujas podem levar os ovos 
diretamente para a boca ou contaminar brinquedos ou 
objetos, que entrarão, posteriormente, em contato com 
a boca de outras crianças. 
Já os adultos, geralmente, se infectam ao ingerir água ou 
alimentos contaminados. 
Uma vez no ambiente, os ovos de Ascaris são muito 
resistentes, podendo permanecer viáveis por vários 
anos, caso encontrem condições adequadas de umidade 
e temperatura. Filtragem da água, cozimento de 
alimentos e lavagem adequada de frutas e verduras cruas 
são suficientes para eliminar os ovos e impedir 
contaminações de novos indivíduos. 
Fisiopatologia 
A ascaridíase apresenta mecanismo de infecção 
relacionado com as fases evolutivas do helminto, que 
pode se desenvolver, na maioria dos casos, sem 
provocar manifestações clínicas no hospedeiro. Sua 
fisiopatologia envolve os danos teciduais, a resposta 
imunológica desencadeada pelo hospedeiro e a 
obstrução mecânica provocada pelo parasito. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
A migração das larvas descrita no ciclo evolutivo do A. 
lumbricoides pode provocar lesões teciduais. Isso porque, 
quando o número de larvas não é muito grande e o 
hospedeiro é imunocompetente, a reação imunológica 
permanece restrita ao sítio de ação, e muitas larvas são 
destruídas pela ação de macrófagos e eosinófilos. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Porém, se o enfermo está imunodeprimido ou a 
infestação tem maior magnitude, lesões mais graves 
podem ser observadas nos locais de passagem e 
instalação do metazoário. Nesse contexto, são 
destacadas micro-hemorragias e reações de 
hipersensibilidade do tipo I, desencadeadas pelo sistema 
imune em resposta à presença do helminto no 
organismo. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Além disso, pode-se observar hepatomegalia, que, em 
geral, regride em poucos dias nos casos com passagem 
de grande número de larvas pelo fígado. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Os danos teciduais no pulmão – causados pela migração 
larval – ativam as respostas imunológicas inata, celular e 
humoral. Nesse processo, um intenso processo 
inflamatório eosinofílico se desenvolve no local da 
migração. A degranulação dessas células, com a liberação 
de mediadores inflamatórios e com a consequente 
reação inflamatória, caracteriza uma pneumonite no 
hospedeiro, expressa clinicamente como síndrome de 
Löffler (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O Ascaris lumbricoides adulto, ao se fixar à mucosa da 
parede intestinal, pode causar úlceras ou erosões, que 
justificam a espoliação por meio de perda de sangue e 
de proteínas. Também acontece a liberação de 
substâncias antigênicas no trato intestinal, mas estas são 
mais toleradas pelo sistema imunológico do hospedeiro. 
A resposta imunológica dirigida ao A. lumbricoides adulto, 
à semelhança do que ocorre nas fases larvárias, também 
envolve reação eosinofílica, periférica e tecidual, além de 
mediações por células Th1 (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
As alterações patológicas mais características da 
ascaridíase relacionam-se com a capacidade de o 
helminto migrar para outros locais, causando a obstrução 
mecânica total ou parcial no intestino delgado, nas vias 
biliares e no ducto pancreático principal. Também são 
descritos, com menor frequência, geralmente em 
infecções maciças, casos de obstrução nos ouvidos, no 
nariz e nos canais lacrimais. Além disso, já foram relatados 
raríssimos casos de invasão renal por vermes adultos e 
de abscesso cerebral pela migração de larvas. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Manifestações Clínicas 
A existência ou não de sinais e sintomas da helmintíase 
no Homo sapiens reflete, em alguma medida, a 
intensidade da carga parasitária. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
A maioria dos pacientes imunocompetentes não 
apresenta sintomas, visto que tem cargas parasitárias 
menos elevadas. A descrição dos sinais e sintomas 
compatíveis com a helmintíase está apresentada 
conforme as fases larvária (infecção aguda) e adulta 
(infecção crônica) do verme no hospedeiro. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Cutâneas 
Em crianças, é comum a apresentação de alterações 
cutâneas como manchas esbranquiçadas e circulares no 
corpo, conhecidas popularmente como “pano branco”. 
Embora haja controvérsia quanto ao aparecimento 
desses sinais, tal despigmentação parece estar associada 
ao consumo das vitaminas A e C pelo parasito. Desse 
modo, com o devido tratamento e a consequente 
eliminação do helminto, tais sinais cutâneos tendem a 
desaparecer. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Fígado e vesícula biliar 
• Hepatomegalia, hiperglobulinemia, mal-estar geral, 
febre 
• Abscesso hepático: febre, dor no hipocôndrio direito, 
icterícia. Leucocitose, geralmente com desvio para a 
esquerda. Elevação variável de AST e ALT. Coleção 
intra-hepática visualizada à US 
• Hepatite: pródromo de febre,mal-estar, hiporexia, 
mialgias, náuseas. Dor leve no hipocôndrio direito, 
associada a hepatomegalia, icterícia, colúria, hipocolia. 
Elevação de AST e ALT, mais importantes que FA 
e GGT 
• Colangite: icterícia, febre e dor no hipocôndrio direito. 
Hipotensão arterial sistêmica e rebaixamento do nível 
de consciência em situações de maior gravidade. 
Elevação de FA e GGT mais importante que de AST 
e ALT. US pode mostrar dilatação de via biliar principal 
Pulmão 
• Síndrome de Löffler: febre, tosse (escarro com 
cristais de Charcot-Leyden), broncospasmo, dispneia, 
sibilos, dor retroesternal, hemoptise, edema pulmonar, 
opacidades “migratórias” à radiografia de tórax e, em 
alguns casos, insuficiência respiratória 
• Pneumonia: febre alta, mal-estar, tosse produtiva, dor 
pleurítica, taquipneia, fadiga 
Intestino 
• Abdome proeminente, dor abdominal em cólica, 
diarreia, náuseas, vômitos, anorexia, desnutrição 
• Obstrução mecânica: distensão abdominal, parada de 
eliminação de flatos e fezes, peristalse de luta, vômitos 
fecaloides, intensa dor abdominal, isquemia intestinal, 
perfuração intestinal com peritonite fecal, 
intussuscepção, vólvulo 
• Apendicite aguda: dor difusa ou periumbilical, que 
posteriormente se localiza no quadrante inferior 
direito do abdome, progressiva, associada a febre, 
náuseas, vômito. Peritonite fecal em caso de 
supuração. 
Diagnóstico 
Exame de Fezes 
Na generalidade dos casos, porém, o diagnóstico é feito 
pelo encontro de ovos nas evacuações do paciente. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
As técnicas empregadas para análise do material fecal 
compreendem métodos qualitativos e quantitativos. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os quantitativos oferecem uma pesquisa mais precisa, 
pois é possível correlacionar a produção de ovos à carga 
parasitária. Para a análise quantitativa, destacam-se as 
técnicas desenvolvidas por Stoll e Hausheer, Barbosa e 
Kato-Katz(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os ensaios qualitativos mais utilizados são: método do 
esfregaço espesso de celofane, desenvolvido por Kato e 
Miurae, e as técnicas de Lutz ou deHoffman, Pons e 
Janer. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O método Kato-Katz é o procedimento que a OMS 
recomenda tanto para diagnóstico individual como para a 
quantificação do parasito e a produção de dados 
epidemiológicos, por se tratar de um exame simples e 
eficiente na detecção dos ovos no material fecal. Nos 
casos de infecção do hospedeiro apenas por A. 
lumbricoides macho, ou no período larval desse helminto, 
não haverá presença de ovos nas fezes, e o exame 
parasitológico será sempre negativo. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Exames de imagem 
A radiografia abdominal – simples ou contrastada – 
pode detectar a presença do A. lumbricoides em sua fase 
adulta no hospedeiro, principalmente nos casos de 
obstrução intestinal. Nas infecções unissexuadas (macho), 
ela é uma alternativa para o diagnóstico dessa helmintíase. 
Na imagem, é possível perceber o “novelo” de parasitos 
nas alças intestinais, por vezes repletas de gás. Em alguns 
casos, em imagem obtida pelo contraste, verifica-se até 
mesmo a anatomia característica desse helminto. No 
entanto, a sensibilidade desse método no diagnóstico da 
ascaridíase é baixa. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Outros métodos de diagnóstico por imagem 
(ultrassonografia, tomografia 
computadorizada) também podem ser empregados 
para a suspeição da ascaridíase. Os sinais apresentados 
são os mesmos observados na radiografia convencional; 
porém, em alguns casos, consegue-se melhor definição 
da anatomia do verme aprimorando a especificidade e 
sensibilidade dos métodos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Métodos imunológicos 
Em geral não são satisfatórios e não podem dispensar a 
coproscopia. Eles encontram indicações nas fases de 
migração larvária, nas infecções só por machos ou 
quando, por outras razões, o exame de fezes não der 
informações. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Hemograma 
No hemograma, é possível detectar eosinofilia, 
principalmente na fase larvária da doença, em geral não 
ultrapassando 20% na contagem diferencial. Esse é um 
traço comum das parasitoses que têm em seu ciclo 
evolutivo a fase pulmonar. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
 
 
 
Enterobíase 
A enterobíase – também conhecida como oxiuríase – é 
uma enfermidade parasitária causada pelo nematoide 
Enterobius vermicularis. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O agente etiológico, um parasito monóxeno, costuma 
habitar o lúmen intestinal humano, e a infecção, quando 
sintomática, é responsável por causar prurido anal de 
caráter intenso e produzir complicações locais e/ou em 
sítios ectópicos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Epidemiologia 
Tem ocorrência comum em crianças na faixa etária de 
5 a 10 anos, mas raramente acomete infantes antes do 
segundo ano de vida. 
O ser humano é o único hospedeiro natural e a infecção 
pelo patógeno ocorre em todas as classes 
socioeconômicas. 
Essa parasitose apresenta alta incidência em países de 
clima temperado, inclusive naqueles com ampla 
cobertura de saneamento básico. 
A enterobíase é uma das helmintíases mais comuns na 
infância, sendo mais incidente entre a idade escolar e em 
ambientes populosos, como asilos. Assim ela geralmente 
infecta mais de um membro da família, sendo espalhada 
apenas por contato humano. esse parasita não tende a 
provocar casos graves ou óbito, mas geralmente causa 
irritabilidade por conta do prurido, podendo levar a baixo 
rendimento escolar. 
Fatores de risco 
Os fatores de risco para enterobiase costumam incluir, 
pessoas de 5 a 14 anos, que vivem em um clima 
temperado e tem convívio com muitas pessoas. Alguns 
dos fatores responsáveis por essa fácil transmissão é o 
fato da fêmea eliminar uma grande quantidade de ovos 
que se tornam infectantes em poucas horas, sendo que 
esses ovos resistem até três semanas. Além disso, essa 
é uma doença tratada mais frequentemente pela 
atenção primaria de saúde. 
Etiologia 
Taxonomia 
A espécie causadora da parasitose, o E. vermicularis, 
pertence ao filo Nematoda, à classe Secernentea, à 
ordem Ascaridida, à família Oxyuridae e ao gênero 
Enterobius (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
 
Aspectos Morfológicos 
Os parasitos adultos são encontrados aderidos à mucosa 
ou livre e comumente na região cecal, no íleo e no cólon. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Alimentam-se de microrganismos e materiais existentes 
nestes locais. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A fêmea do nematoide migra para o ânus do hospedeiro, 
geralmente no período noturno, para depositar seus 
ovos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O esôfago, composto de válvulas em suas paredes 
posterior e média ou na junção com o intestino, garante 
um peristaltismo adequado que funciona como uma 
bomba, o que facilita a nutrição dos parasitos. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Em geral, os parasitos são meromiários, de coloração 
branca, filiformes e pequenos, porém com diferenças de 
tamanho entre macho e fêmea, assim como todas as 
espécies entre os nematoides. A cutícula protege contra 
ações externas e auxilia a locomoção, apresentando-se 
brilhante e estriada. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Formas evolutivas 
Verme adulto 
Os machos adultos medem de 3 mm a 5 mm e têm 
forte enrolamento ventral no extremo posterior, o que 
auxilia no momento da cópula. Ademais, seu aparelho 
genital é composto por somente um testículo, um canal 
deferente e um canal ejaculador. Acredita-se que a 
duração de vida do verme macho esteja limitada a 
apenas um coito com a fêmea. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
As fêmeas têm tamanho superior ao do macho; medem 
cerca de 1 cm de comprimento, são fusiformes, e 
apresentam expansões vesiculares em sua cutícula, 
localizadas lateralmente à boca na extremidade anterior, 
denominadas “asas cefálicas”. Em seu aparelho genital, há 
a vulva, a vagina, os dois úteros longos e grossos e os 
ovidutos. O intestino retilíneo da fêmea abre-se para o 
exterior por meio doorifício anal, que se localiza em sua 
cauda de forma alongada. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
As fêmeas, quando são fecundadas, reúnem cerca 11.000 
ovos em seus úteros. Estes se tornam distendidos por 
toda a massa ovular, ocupando a região bulbar esofágica 
até o início da cauda. Quando estão grávidas, elas se 
deslocam para o reto do hospedeiro, principalmente no 
período noturno – devido à temperatura mais baixa, 
nesse local, durante a noite – lançando seus ovos na 
região perianal. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Sua longevidade está relacionada com sua oviposição, 
com duração de 35 a 50 dias, quando o ciclo de vida do 
nematoide se completa. Em algumas situações, as 
fêmeas morrem ao chegarem ao períneo, porém 
liberam seus ovos da mesma maneira, e estes dão 
continuidade a seu desenvolvimento. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
 
Ovo 
Os ovos apresentam uma superfície viscosa que facilita 
sua aderência. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Eles são compostos por três camadas incolores: a mais 
externa é de natureza albuminosa; a média, quitinosa; e 
a mais interna, lipoide e delgada. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
 
Larva 
No interior do ovo, há uma larva formada, embrionária, 
que se desenvolve até o segundo estágio em 
anaerobiose. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Entretanto, necessita de oxigênio para dar continuidade 
a seu desenvolvimento ao terceiro, ao quarto e ao quinto 
estádios. Este último é a forma infectante ao ser humano. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Ciclo biológico 
O metazoário E. vermicularis apresenta ciclo biológico 
monoxênico, e seu único hospedeiro, conforme já 
comentado, é o Homo sapiens. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Quando grávidas, as fêmeas liberam seus ovos na região 
perianal do hospedeiro. Estes são maturados em 4 a 6 
horas, na temperatura da superfície do corpo (cerca de 
30°C). (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O intenso prurido perianal causado faz com que o 
paciente coce a região, facilitando a transferência dos 
ovos infectantes para a boca, através das mãos 
contaminadas (autoinfecção). (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Um indivíduo suscetível que tenha as mãos contaminadas 
por ovos de um indivíduo infectado – por exemplo, por 
ocasião de um cumprimento – e que as leve a boca, 
poderá adquirir o patógeno e desenvolver a enterobíase. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Ao serem ingeridos, os ovos eclodem no intestino 
delgado, liberando larvas que irão se desenvolver até a 
forma adulta, enquanto se movem para o ceco. Por fim, 
os vermes copulam e dão início a um novo ciclo; 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
É importante ressaltar que os ovos podem ficam 
aderidos no ambiente, como nas roupas de cama da 
pessoa infectada. Tal fato promove uma intensa 
disseminação do helminto e a possibilidade de novas 
infecções. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
 
Transmissão 
A doença pode ser transmitida por várias formas 
diferentes: direta, indireta, heteroinfecção, 
retroinfestação e autoinfecção interna. 
• A forma direta (ou autoinfecção externa) é 
caracterizada pela transmissão dos ovos do ânus para a 
cavidade oral por meio das mãos e é realizada por grupos 
da população que tem precários hábitos higiênicos. 
• Já a transmissão indireta é caracterizada pela 
contaminação dos alimentos pelas mãos sujas e ingestão 
dos ovos ou inalação dos ovos pelo mesmo hospedeiro 
que os eliminou. 
• A heteroinfecção é definida pela ingestão ou inalação 
dos ovos por um hospedeiro que não estava previamente 
infectado. 
• A retroinfestação é quando as larvas migram do ânus 
para regiões superiores do intestino grosso, 
transformando-se em vermes adultos. 
• Por fim, a autoinfecção interna é um processo raro e 
não aceito por todos, onde há eclosão das larvas ainda na 
mucosa retal e depois migram para o ceco, onde se 
tornam adultas 
Fisiopatologia 
Os parasitos aderem à mucosa intestinal, causando um 
leve processo inflamatório, do tipo catarral, com possíveis 
pontos hemorrágicos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Geralmente, não há lesão anatômica, uma vez que não 
há penetração do verme na mucosa (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
A infecção pelos enteroparasitos, normalmente, gera 
uma resposta imunológica complexa e múltipla, apesar de 
a maioria dos humanos ter um sistema imunológico capaz 
de combater a infecção. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Quando essa ocorre, pode provocar eosinofilia. Tal 
condição deve-se à resposta imunológica Th2 
provocada, na qual a interleucina-4 (IL-4) e a interleucina-
5 (IL-5) são produzidas, estimulando também a produção 
de imunoglobulina E (IgE) pelos linfócitos B. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Manifestações Clínicas 
A infecção por E. vermicularis costuma ser assintomática, 
tendo como sintoma mais comum o prurido na região 
perianal com periodicidade regular, que pode se tornar 
muito intenso, principalmente durante a noite – o que 
pode originar significativa dificuldade para dormir –, 
devido à migração dos parasitos fêmeas. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Tal situação pode levar a uma irritação na região anal 
com proctite e vulvovaginite, pelo deslocamento das 
larvas para a região genital feminina, o que ocasiona 
prurido vulvar, desconforto vaginal e granulomas no 
útero, nos ovários e nas tubas uterinas. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Pode ocorrer corrimento vaginal com características 
semelhantes a nata, além de os lábios se apresentarem 
eritematosos e edemaciados. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A região anal pode tornar-se recoberta de muco, pelo 
processo inflamatório provocado, às vezes sanguinolento, 
causando pontos hemorrágicos também no reto. Em 
consequência, principalmente, do prurido anal, poderá 
haver perturbações no sono e irritabilidade. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Além disso, em caso de higienização perineal inadequada, 
o parasito pode ser responsável pela ocorrência de 
infecção do sistema urinário, pela condução do E. 
vermicularis para a região genital. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Pode ocorrer colite crônica, a qual causa fezes 
amolecidas ou diarreicas, emagrecimento e alterações do 
apetite. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A participação do helminto em distúrbios do apêndice – 
apendicite e cólicas apendiculares – tem sido descrita 
mais recentemente. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Infecções extraintestinais, como no sistema reprodutor 
feminino, nos pulmões, no fígado, no baço, no apêndice 
e na próstata, já foram identificadas em alguns estudos, 
apesar de serem incomuns. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Diagnóstico 
Clínico 
O diagnóstico é clínico, para a maioria dos casos, 
considerando o prurido anal como principal manifestação 
da enfermidade (quando esta é sintomática). (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Exame de fezes 
O exame de rotina de fezes não se mostra eficaz, em 
muitas situações, para a investigação da enterobíase. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Método de Graham 
O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pelo método 
da fita transparente, ou celofane, conhecido também 
como método de Graham, sendo este o mais 
recomendado. O método de Graham deve ser realizado 
durante a manhã, antes da higiene na região anal. Quando 
presentes, os ovos irão aderir-se à fita gomada. Depois 
de descolada da pele, a fita será preparada em uma 
lâmina para análise microscópica. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Outros 
Além da abordagem laboratorial, pode-se também 
realizar: a inspeção (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
(1) do introito anal, a fim de identificar os vermes móveis 
– as fêmeas são finas e brancas, semelhantes a 
pedaços de fios de algodão –, ou ainda 
(2) das roupas íntimas e de cama, nas quais os helmintos 
móveis às vezes são visíveis 
Tratamento 
Mebendazol: 
O mebendazol atua inibindo a montagem dos 
microtúbulos no parasita e também bloqueando a 
captação de dextrose de modo irreversível. (Whalen, 
2016) 
Os parasitas atingidos são expelidos nas fezes. (Whalen, 
2016) 
Os efeitos adversos incluem dor abdominal e diarreia. O 
mebendazol não deve ser usado em gestantes. (Whalen,2016) 
Pamoato de pirantel 
O pamoato de pirantel é pouco absorvido por via oral e 
exerce seus efeitos no trato intestinal. (Whalen, 2016) 
Ele atua como fármaco despolarizante e bloqueador 
neuromuscular, causando liberação de acetilcolina, 
inibição da colinesterase e paralisia dos vermes. (Whalen, 
2016) 
O verme paralisado se solta de sua fixação no trato 
intestinal e é expelido. (Whalen, 2016) 
Os efeitos adversos são leves e incluem náuseas, e ̂mese 
e diarreia. (Whalen, 2016) 
Albendazol 
O albendazol, outro benzimidazólico, inibe a síntese de 
microtúbulos e a captação de glicose em nematódeos, 
além de ser eficaz contra a maioria dos nematódeos 
conhecidos. (Whalen, 2016) 
Ivermectina 
A ivermectina atua nos receptores de canais de cloro 
disparados por glutamato. O influxo de cloreto aumenta 
e ocorre hiperpolarização, resultando em paralisia e 
morte do helminto. (Whalen, 2016) 
Ela é administrada por via oral e não atravessa facilmente 
a barreira hematencefálica. A ivermectina não deve ser 
usada durante a gestação (Whalen, 2016) 
A morte das microfilárias na oncocerco- se pode causar 
a perigosa reação de Mazzotti (febre, cefaleia, tontura, 
sonolência e hipotensão). (Whalen, 2016) 
Piperazina 
Piperazina é um agonista do receptor de GABA. (Whalen, 
2016) 
Piperzine liga-se directamente e selectivamente a 
receptores de GABA da membrana muscular, causando 
presumivelmente hiperpolarização das terminações 
nervosas, resultando em paralisia flácida do parasita. 
(Whalen, 2016) 
Enquanto o parasita é paralisado, é desalojado do lúmen 
intestinal e expulso vivo a partir do corpo, por 
peristaltismo intestinal normal. (Whalen, 2016) 
Pamoato de pirvínio (exclusivo da 
enterobíase) 
Pertencente ao grupo das cianinas, o pamoato de pirvínio 
é um corante vermelho que age no metabolismo 
energético dos helmintos, através da interferência na 
captação de glicose. É indicado no tratamento da 
enterobíase. (Whalen, 2016) 
É utilizado por via oral, e não tem absorção sistêmica. É 
importante pontuar que o pamoato de pirvínio colore as 
fezes e vômitos em vermelho, podendo também alterar 
a coloração da boca e dos dentes. (Whalen, 2016) 
Esquistossomose Mansônica 
As esquistossomoses são moléstias parasitárias causadas 
por helmintos pertencentes ao filo Platyhelminthes, classe 
Trematoda, subclasse Digenea e família 
Schistosomatidae, adquiridos por meio de contato com 
água doce contaminada, onde habitam moluscos – por 
exemplo, do gênero Biomphalaria – os quais atuam como 
hospedeiros intermediários. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Epidemiologia 
As esquistossomoses são doenças crônicas que afetam, 
aproximadamente, 200 milhões de pessoas em todo o 
mundo, sobretudo nos países endêmicos, localizados na 
África, no Sudeste Asiático e na América Latina. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
No Brasil, existem cerca de seis milhões de portadores 
desta helmintíase. Por ter relação com estados de 
vulnerabilidade social e com situações de más condições 
sanitárias, são moléstias que fazem parte do grupo das 
doenças tropicais negligenciadas. Assim, torna-se um 
grande desafio a ser enfrentado coletivamente. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Fatores de risco 
• Existência do caramujo transmissor; 
• Contato com a água contaminada; 
• Fazer tarefas domésticas em águas contaminadas, 
como lavar roupas; 
• Morar em região onde há falta de saneamento 
básico; 
• Morar em regiões onde não há água potável. 
Etiologia 
Taxonomia 
 
Morfologia e formas evolutivas 
Os trematódeos passam por diferentes etapas de 
evolução, desde o hospedeiro invertebrado até o 
vertebrado (vermes adultos, ovos, miracídios, 
esporocistos, cercárias e esquistossômulos). (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Os metazoários adultos habitam o sistema porta hepático, 
com destaque para a veia mesentérica inferior. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A fêmea, em fase adulta, tem característica mais 
alongada e pode ser encontrada em uma fenda do corpo 
do macho, denominada canal ginecóforo. Sua longevidade 
é‚ em geral, de três a cinco anos, podendo chegar a 25 
anos. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O gênero Schistosoma abrange helmintos trematódeos, 
com sexos separados (dioicos). (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
O tegumento de um helminto adulto é constituído por 
uma camada sincicial de células anucleadas, recoberta por 
uma espessa citomembrana heptalamelar, renovada 
constantemente. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os patógenos alimentam-se de sangue, consumindo 
diariamente uma quantidade significativa de hemácias. Os 
produtos não aproveitados na digestão são eliminados 
através da boca, pois este invertebrado não tem ânus 
(de fato, apresenta um tubo digestório incompleto). Os 
solenócitos são células especializadas na excreção. 
Trematódeos do gênero Schistosoma também não 
apresentam sistema circulatório. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Ciclo biológico 
O ciclo biológico do S. mansoni é complexo, sendo 
composto por duas fases parasitárias: uma no hospedeiro 
definitivo (vertebrado/humano) e outra no intermediário 
(invertebrado/caramujo). (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Em condições favoráveis se completa em torno de 80 
dias. Há, ainda, duas passagens de larvas de vida livre no 
meio aquático, que se alternam com as fases parasitárias. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
No H. sapiens, o ciclo mostra-se sexuado, e o período 
decorrido entre a penetração das cercárias e o encontro 
de ovos nas fezes é de cerca de 40 dias. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
No molusco, o ciclo é assexuado e também dura, 
aproximadamente, 40 dias (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os vermes adultos vivem nos vasos do sistema porta 
hepático do hospedeiro vertebrado. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
A cópula resulta da justaposição dos orifícios genitais 
masculino e feminino, quando a fêmea está alojada no 
canal ginecóforo (fenda longitudinal, no macho, para 
albergar a fêmea e fecundá-la). Uma fêmea coloca cerca 
de 300 ovos por dia, que só amadurecem uma semana 
depois, quando conterão, em seu interior, o miracídio 
formado. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Alguns ovos alcançam a corrente sanguínea, enquanto 
outros chegam ao lúmen intestinal através da submucosa. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
De fato, após a postura, cerca da metade destes ovos é 
eliminada pelas fezes, a partir de um processo de 
ulceração dos tecidos do hospedeiro definitivo, com 
vistas a alcançar o lúmen intestinal. A outra metade tem 
uma parte retida na parede do intestino e outra que 
retorna para a circulação sanguínea e aloja-se em 
diferentes tecidos, em especial no fígado. Tal processo 
pode gerar efeitos locais ou sistêmicos. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Ao entrar em contato com a água, os ovos maduros 
“incham”, eclodem e liberam larvas ciliadas, denominadas 
miracídios. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O miracídio de formato oval e revestido por numerosos 
cílios é o primeiro estágio de vida livre do Schistosoma. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Eles ocorrem em locais onde não há rede de esgotos 
tratados e as fezes contaminadas são lançadas 
indevidamente em rios e lagos, tendo a chance de nadar 
ao encontro do hospedeiro intermediário, o caramujo. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Essa forma apresenta grande capacidade de locomoção 
e afinidade quimiotática para moluscos, sendo que sua 
garantia de sobrevida depende diretamente do encontro 
com o hospedeiro intermediário. Assim, dá continuidade 
ao ciclo evolutivo do parasito. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Ao penetrar nas partes moles do molusco, o miracídio 
perde parte de suas estruturas. As células 
remanescentes reorganizam-se e, em 48 horas, 
transformam-se em um saco alongado repleto de células 
germinativas. Esse saco é o esporocisto. Os 
esporocistos primários geram os secundários ou 
esporocistos-filhos e as células germinativas, destes 
últimos, são transformadas em cercarias (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
 
A cercária, segunda fase de vida livre dohelminto, 
atravessa a parede do esporocisto, migrando para as 
partes moles mais externas do caramujo. Essa larva tem 
corpo e cauda, e é adaptada à vida aquática. Os 
hospedeiros intermediários começam a eliminá-las após 
4 a 7 semanas da infecção pelos miracídios, situação que 
se mantém por toda a vida (aproximadamente, um ano). 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
As cercárias são atraídas pelo calor do corpo e pelos 
lipídios da pele humana; a penetração na cútis é 
consumada entre os folículos pilosos, com o auxílio das 
secreções histolíticas das glândulas de penetração e pela 
ação mecânica devido aos movimentos intensos da larva. 
Esta se acopla à pele por meio de suas duas ventosas. 
Nesse processo, que pode durar até 15 minutos, a 
cercária perde sua cauda, e após atravessar a pele do 
hospedeiro se transforma em esquistossômulo 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os esquistossômulos aclimatam-se às características 
orgânicas do meio interno humano, passando pelo tecido 
subcutâneo. Ao entrarem em um vaso, grande parte 
deles é alcançada pelo sistema imunológico do 
hospedeiro. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Aqueles que conseguem escapar são transportados de 
maneira passiva até o coração direito, os pulmões, as 
veias pulmonares, o coração esquerdo, o sistema porta 
e as veias mesentéricas, até chegarem às alças 
intestinais, principalmente do sigmoide e do reto. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Os esquistossômulos alcançam o sistema porta, seja por 
via sanguínea seja por meio transtissular. Uma vez aí 
alojados, são nutridos e desenvolvem-se, evoluindo para 
formas unissexuadas, machos e fêmeas, 28 a 30 dias 
após a penetração. Em seguida, migram, acasalados, pelo 
sistema porta, até a área de abrangência da artéria 
mesentérica inferior, local onde farão a oviposição. 
Quarenta dias após a infecção do hospedeiro, em média, 
os ovos podem ser notados no material fecal. Assim, 
completa-se o ciclo evolutivo do helminto. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
 
Transmissão 
Os ovos do S. mansoni são eliminados pelas fezes do 
hospedeiro infectado (homem). Na água, eclodem, 
liberando uma larva ciliada denominada miracídio, que 
infecta o caramujo. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Após 4 a 6 semanas, abandonam o caramujo, na forma 
de cercária, ficando livres nas águas naturais. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
O contato com águas contaminadas por cercárias é o 
fator predisponente para a infecção. Ambientes de água 
doce de pouca correnteza ou parada, utilizados para 
atividades profissionais ou de lazer, como banhos, pescas, 
lavagem de roupa e louça ou plantio de culturas irrigadas, 
com presença de caramujos infectados pelo S. mansoni, 
constituem os locais adequados para se adquirir a 
esquistossomose. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Fisiopatologia 
A etiopatogenia da esquistossomose mansônica depende 
da interação entre H. sapiens e helminto. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Com relação ao S. mansoni, algumas características são 
determinantes, como a cepa, a fase de evolução, a 
intensidade e o número de infecções. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
No que diz respeito ao hospedeiro, destacam-se os 
seguintes quesitos: (1) a constituição genômica, (2) o 
órgão predominantemente lesado, (3) o padrão 
alimentar, (4) a etnia, (5) a sensibilização prévia, (6) as 
infecções associadas (HIV, HTLV-I, vírus das hepatites B 
e C, entre outras), (7) o tratamento específico e (8) o 
padrão imunológico do indivíduo. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
Como tal moléstia tem um tempo extenso de evolução, 
possíveis alterações de padrões da resposta imune do 
hospedeiro vão ter importância determinante na história 
natural da doença. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O ciclo do S. mansoni apresenta características distintas 
em diferentes órgãos e tecidos. As mudanças de etapas 
“funcionam” como uma maneira do helminto “burlar” o 
sistema imune do hospedeiro, exigindo deste último 
díspares respostas para as distintas fases do ciclo. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A penetração ativa da pele ou da mucosa, executada 
pelas cercárias, independentemente da integridade 
dessas estruturas, pode desencadear variadas alterações 
locais. Do ponto de vista imunológico, a resposta do 
hospedeiro é ativada, com a consequente inflamação, por 
vezes significativa, caracterizada por um aumento da 
produção de citocinas pró-inflamatórias, como fator de 
necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucina-1 (IL-1) e 
interferona gama (IFN-γ), o que expressa um tipo de 
resposta Th1 ao helminto. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A resposta imunológica a partir dessa reação inflamatória 
é capaz de destruir uma quantidade significativa de 
cercárias e esquistossômulos na pele, produzindo 
microscopicamente um infiltrado inflamatório agudo 
discreto, predominantemente composto por 
granulócitos, inclusive eosinófilos. Assim, muitos pacientes 
apresentam lesões de urticária e prurido nas partes do 
corpo que entram em contato com a água contendo 
cercarias(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
No que diz respeito à regulação da resposta imune inata 
ao esquistossômulo na pele, um aspecto importante é a 
produção local de citocinas – interleucinas 6, 10 e 12 (IL-
6, IL-10 e IL-12) – e de quimiocinas CCL3, CCL4 e CCL11. 
O período pré-patente, ainda na fase aguda, completa-
se com a produção de ovos – isto é, a oviposição. Mais 
tarde, acontece a migração dos ovos para diferentes 
tecidos, o que resulta em reações de hipersensibilidade 
de tipo IV, caracterizada pela formação do granuloma 
esquistossomótico. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Este último desempenha um duplo papel na resposta 
imune aos helmintos – por apresentar função de 
proteção, mas também por suas implicações na 
patogênese da EM – cuja característica importante é a 
substituição do predomínio da resposta do tipo Th1, típica 
do período pré-patente. Além disso, é altamente 
contrarregulada por IL-10. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A capacidade proliferativa dos linfócitos e o tamanho do 
granuloma diminuem, levando a menos danos nos tecidos 
pela resposta imune(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
O “ciclo fisiopatológico” da esquistossomose continua 
com a transformação de cercárias em esquistossômulos, 
que ocorre dentro de, aproximadamente, 40 horas após 
a infecção. Os esquistossômulos permanecem na pele 
durante 48 a 72 horas, enquanto alguns são destruídos 
pela resposta do hospedeiro. As manifestações cutâneas 
provocadas pelo esquistossômulo são, principalmente, 
fenômenos de hipersensibilidade tipo III(SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Os esquistossômulos que sobrevivem à resposta imune 
inata à penetração cutânea, eventualmente, podem 
atingir os vasos linfáticos, provocando sua obstrução, 
além de ruptura e infiltração eosinofílica transitória. Depois 
de atingir o lado direito do coração – o que ocorre, como 
já comentado, por via sanguínea –, tais formas evolutivas 
são, então, transportados para os pulmões, onde podem 
ser encontrados cerca de 4 ou 5 dias após a penetração 
cercarial da pele, persistindo até o 22o dia da infecção. 
Deixando os pulmões, os esquistossômulos atingem o 
fígado através da corrente sanguínea ou por 
contiguidade por via transdiafragmática. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
A maturação dos helmintos nos ramos intra-hepáticos da 
veia porta possibilita-lhes alcançar os ramos 
mesentéricos, movendo-se contra o fluxo de sangue, em 
especial no domínio da veia mesentérica inferior. Em tal 
região, eles podem viver durante anos, mantendo-se a 
salvo da resposta imune do hospedeiro, sem produzir 
dano clinicamente significativo. No entanto, as enzimas 
líticas derivadas dos helmintos podem provocar necrose 
dos tecidos das paredes vasculares e adjacências, seguida 
por uma inflamação local, por vezes extensa e intensa, 
com exsudação de eosinófilos, neutrófilos e células 
mononucleares(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A fase aguda da EM tem por característica a 
disseminação intensa de ovos, a qual pode resultar em 
uma quantidade significativa de granulomasnas seguintes 
estruturas: fígado, intestinos grosso e delgado, peritônio 
visceral, pulmões, pleura, pâncreas e, menos 
frequentemente, outros órgãos. A reação granulomatosa 
acontece mediante um processo dinâmico. Assim, os 
granulomas tendem a possuir características diferentes 
dos encontrados em outras fases do ciclo evolutivo da 
helmintíase, pois todos se encontram na mesma fase de 
desenvolvimento e, por serem mais volumosos, podem 
apresentar uma zona necrótica muito mais extensa, que 
se encontra disseminada principalmente por fígado, 
intestino, peritônio visceral, pâncreas e pulmões. Em um 
momento inicial, os granulomas são grandes, ricos em 
macrófagos, linfócitos e eosinófilos em torno do ovo. 
Com o desenvolvimento dos granulomas, há uma 
redução do exsudado, gradativamente transformando-se 
em tecido conjuntivo até ser caracterizado como um 
nódulo fibrótico. Por continuar a produzir ovos, a 
formação de granulomas é perpetuada pelo helminto. 
Isso justifica o fato de tais granulomas e ovos também 
serem encontrados na mesma fase de desenvolvimento 
no sistema nervoso, nos órgãos linfoides e em outras 
regiões do corpo (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A fase crônica da esquistossomose mansônica 
caracteriza-se por lesões que podem ser graves, 
afetando a qualidade de vida do enfermo. A 
esquistossomose hepática crônica afeta os adultos jovens 
e de meia-idade predispostos ao desenvolvimento de tal 
quadro. A gravidade da condição está correlacionada com 
a intensidade da infecção. Os hepatócitos são poupados, 
e a arquitetura lobular é preservada. A lesão fibrótica 
torna os tratos portais espessados, podendo aparecer 
como “tubo de hastes” no exame histopatológico, assim 
como a aparência ultrassonográfica. Eventualmente, o 
fígado diminui, com a típica hipertensão pré-sinusoidal 
portal, que se manifesta por esplenomegalia, emergência 
de ramos portossistêmicos colaterais e, eventualmente, 
ascite. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Manifestações Clínicas 
Infecção Aguda 
Coincidindo com a oviposição (fase postural), 2 a 6 
semanas após a infecção, surge, abruptamente, febre 
elevada que pode chegar a 40°C, de característica 
irregular e remitente, acompanhada de calafrios e 
sudorese profusa, mal-estar geral, lassidão, astenia, 
queixas respiratórias – tosse não produtiva 
(eventualmente com crise asmatiforme), broncospasmo 
e raramente dispneia –, anorexia, náuseas e vômitos (que 
podem ser intensos), mialgias e cefaleia. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
COCEIRA DO NADADOR: Esta é uma reação 
inflamatória local, dificilmente visível na área de 
penetração cercarial, composta de edema e capilares 
dilatados, atribuída à liberação local de citocinas. A 
duração e a gravidade desta reação dependem da 
duração da “estadia” esquistossomular na derme. Uma 
reação de hipersensibilidade tipo III na pele foi descrita em 
expatriados, ao contraírem a infecção em áreas 
endêmicas. Diferentes espécies de trematódeos podem 
desencadear a “coceira do nadador” (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
DERMATITE CERCARIAL: A erupção cutânea 
maculopapular pruriginosa temporária, de discretas 
dimensões, entre 1 e 3 cm, de apresentação 
maculoeritematosa, é consequente à penetração 
cutânea das cercárias. Embora patogeneticamente 
semelhante à coceira do nadador, esta reação visível 
desenvolve-se, de maneira mais branda, em pessoas 
sensibilizadas quando elas são reinfectadas por espécies 
esquistossomóticas não patogênicas para o ser 
human(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
SÍNDROME DE KATAYAMA: Esta é uma 
ocorrência tardia que pode surgir 4 a 8 semanas após a 
infecção, coincidindo com o amadurecimento do verme. 
A síndrome caracteriza-se por febre, artralgia e vasculite 
cutânea. Eosinofilia e presença de IgM, em consideráveis 
concentrações no soro, são típicas. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
BRONCOPNEUMONIA: Pode ocorrer hiper-
reatividade brônquica – com infiltrados pulmonares 
radiologicamente demonstráveis – durante a migração 
de esquistossômulos através dos capilares pulmonares. É 
atribuída, especialmente, às citocinas do padrão Th1. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Infecção crônica 
Findada a fase aguda, o quadro clínico regride, 
permanecendo a maioria dos pacientes assintomáticos. 
FORMAS INTESTINAL E 
HEPATOINTESTINAL: São consideradas formas 
brandas e são estudadas em conjunto, pois a 
hepatointestinal é caracterizada pela intestinal, acrescida 
de hepatomegalia. A apresentação clínica geral pode 
associar-se a dor abdominal em cólica, difusa ou localizada 
na fossa ilíaca direita, acompanhada por pontuais 
episódios diarreicos – fezes líquidas ou pastosas, 
frequentemente de três a cinco evacuações por dia, ou 
disentéricas (fezes líquidas, com a presença de muco e 
sangue) – associados a tenesmo. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
FORMA HEPATOESPLÊNICA: Caracteriza-se 
pelo envolvimento do fígado e do baço no processo 
patológico, bem como pela existência de sinais de 
hipertensão porta. Na forma hepatoesplênica 
compensada, junto dos sintomas digestivos e gerais já 
relatados nas formas intestinal e hepatointestinal – como 
sensação de plenitude gástrica pós-prandial, azia, dor 
abdominal vaga e difusa – associam-se a hipertensão 
portal e a esplenomegalia, podendo evoluir com 
fenômenos hemorrágicos, como hematêmese e melena. 
Na forma hepatoesplênica descompensada, também 
denominada avançada, encontra-se o quadro 
correspondente à falência hepática crônica grave – 
como “hálito hepático”, volumosa ascite, edema dos 
membros inferiores, icterícia, telangiectasias, eritema 
palmar, ginecomastia e queda de pelos– e 
esplenomegalia mais acentuada que hepatomegalia, com 
baço palpável, que pode ser percebido ao nível da 
cicatriz umbilical ou ultrapassá-la. (SIQUIERA-BATISTA, 
2020) 
FORMA VASCULAR PULMONAR: Clinicamente, 
são encontradas duas principais formas de apresentação 
da doença vascular pulmonar: a hipertensiva e a cianótica. 
A hipertensiva, a mais prevalente, manifesta-se por 
dispneia associada aos esforços, bem como tosse seca, 
ou com secreção viscosa, por vezes com hemoptoicos. 
A forma cianótica é mais observada em indivíduos do 
sexo feminino e em portadores de esplenomegalias ou 
pacientes já esplenectomizados. Apresenta-se com 
cianose geralmente discreta – atribuída a microfístulas 
arteriovenosas –, sobretudo nas extremidades, e dedos 
em baqueta de tambor. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
FORMA PSEUDONEOPLÇSICA: As 
manifestações clínicas, nesses casos, abrangem a 
anorexia, a dor abdominal, intensa e difusa (forma 
polipoide) e a enterorragia, além de obstrução intestinal, 
emagrecimento progressivo, tumoração palpável e 
distensão abdominal. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
NEFROPATIA ESQUISTOSSOMÓTICA: Os 
enfermos podem apresentar distintas alterações clínicas 
e laboratoriais, tais como proteinúría, hematúria, cilindrúria 
e, em algumas circunstâncias, hipertensão arterial 
sistêmica e insuficiência renal crônica. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
FORMAS ECTÓPICAS: Tal forma clínica inclui 
sinais e sintomas de aumento da pressão intracraniana, 
mielopatia e radiculopatia. As lesões podem evoluir para 
cicatrizes gliais irreversíveis, se não tratadas. (SIQUIERA-
BATISTA, 2020) 
Diagnóstico 
Clínico 
A suspeita diagnóstica de EM deve surgir a partir de 
dados epidemiológicos e clínicos. Por ter apresentações 
clínicas heterogêneas, muitas vezes com sintomatologia 
vaga, os exames laboratoriais são fundamentais para 
confirmação diagnóstica dos casos da moléstia. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Exames parasitológicos 
O diagnóstico laboratorial básico consiste na realização de 
exames coproscópicos diretos, preferencialmente com o 
uso de técnicas quantitativas de sedimentação, a partir 
da coleta de várias amostras de fezes, para otimizar a 
sensibilidade do exame. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Entre elas, a mais utilizada é a técnica de Kato-Katz, 
a qual possibilita a visualização e a contagemdos ovos 
por grama de fezes, fornecendo um indicador 
quantitativo que permite avaliar a intensidade da infecção 
e a eficácia do tratamento. (SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Há também a técnica de Lutz ou Hoffman, Pons 
e Janer (HPJ), que usa métodos de sedimentação 
espontânea. Em geral, observam-se ovos contendo 
miracídios bem formados e viáveis. Os ovos dos 
helmintos começam a ser eliminados nas fezes a partir 
da sexta semana após a infecção, ou seja, a partir de 40 
dias após a entrada da cercária no organismo humano. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
A biopsia retal só é empregada em situações 
especiais. Utilizando-se um retossigmoidoscópio, retiram-
se, com pinça de biopsia, fragmentos da mucosa intestinal 
em diferentes pontos das válvulas de Houston. Ao exame 
microscópico, é possível avaliar – perfeitamente – os 
ovos imaturos ou maduros, vivos ou mortos, e 
eventualmente a reação granulomatosa que os envolve, 
o que possibilita a classificação e a contagem dos ovos. 
(SIQUIERA-BATISTA, 2020) 
Métodos imunológicos 
As reações imunológicas são mais empregadas na fase 
crônica da doença (mostram-se positivas a partir do 25o 
dia). Sua importância aumenta com a progressão 
(cronicidade) da entidade nosológica. Os principais ensaios 
são: (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
(1) a intradermorreação (apropriada para inquéritos 
epidemiológicos e para o diagnóstico dos 
doentes não oriundos de área endêmica, com 
quadro sugestivo de estarem apresentando 
alterações relacionadas à fase pré-postural), 
(2) as reações de fixação do complemento, 
(3) a imunofluorescência indireta, 
(4) a técnica imunoenzimática (enzyme-linked 
immunosorbent assay – ELISA) e 
(5) o ELISA de captura. 
Os testes sorológicos apresentam sensibilidade e 
especificidade suficientes e revelam-se úteis, 
principalmente, em áreas de baixa prevalência da doença, 
ou em pacientes com baixa parasitemia e 
imunodeprimidos – mormente os portadores do HIV. No 
entanto, não apresentam praticidade na rotina diária. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Pesquisa de antígenos 
Já foram desenvolvidos testes para a detecção, por meio 
de ensaios imunoenzimáticos, de antígenos presentes no 
intestino do trematódeo adulto (díspares espécies), com 
destaque para (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
(1) o antígeno anódico circulante (CAA, do inglês 
circulating anodic antigen) e para 
(2) o antígeno catódico circulante (CCA, do inglês 
circulating catodic antigen). 
Ambos estão presentes no curso da infecção, 
desaparecendo após o tratamento efetivo, sendo – 
portanto – úteis para a avaliação de cura. 
Métodos moleculares 
A reação em cadeia de polimerase (PCR) ode ser 
empregada para a identificação do ácido nucleico do 
trematódeo em diferentes espécimes biológicos – fezes 
e sangue –, demonstrando-se boa sensibilidade e boa 
especificidade. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Investigação laboratorial da 
neuroesquistossomose | Avaliação do líquido 
cerebrospinal 
O exame do líquido cerebrospinal tem utilidade para a 
detecção dos quadros de neuroesquistossomose, 
mormente as formas mielítica e mielorradiculítica. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Observam-se, frequentemente, pleocitose com 
significativa eosinofilorraquia e elevação da 
proteinorraquia. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Avaliação inespecífica 
No hemograma, observam-se tanto leucopenia 
quanto leucocitose e eosinofilia discreta a moderada – 
mas que pode alcançar níveis entre 25 e 50% –, além 
de plaquetopenia. Há hipoalbuminemia leve na forma 
hepatoesplênica compensada e na forma 
descompensada, com elevação da gamaglobulinemia. As 
provas de função hepática, na fase compensada da 
forma hepatoesplênica, são normais, exceto fosfatase 
alcalina e gama-GT, as quais se encontram aumentadas. 
Já na fase descompensada, verificamos discretas 
elevações das aminotransferases (de 100 a 200 UI) e das 
bilirrubinas (de 2 a 5 mg/dℓ) e diminuição da atividade de 
protrombina. As provas de função renal, como 
dosagem de ureia e creatinina, encontram-se, em geral, 
dentro dos valores de referência, salvo nos casos de 
nefropatia esquistossomótica avançada. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Tratamento 
Oxamniquina 
O mecanismo de ação da oxamniquina parece estar 
relacionado com a capacidade de inibição irreversível da 
síntese dos ácidos nucléicos nos vermes. (REY, 2008) 
Praziquantel 
Praziquantel aumenta a permeabilidade da membrana dos 
helmintos, causando perda de cálcio intracelular, 
contrações e paralisia da musculatura dos parasitas, que 
se desprendem da parede dos vasos; vacuolização e 
desintegração do tegumento dos esquistossomos, 
causando sua morte. (REY, 2008) 
Teníase 
A teníase é uma doença cosmopolita decorrente da 
infecção por uma das três espécies de cestoides do 
gênero Taenia, que são capazes de afetar os seres 
humanos, T. solium, T. saginata e T. asiatica, sendo as 
duas primeiras bem mais comuns – de fato, não há 
relatos de casos da terceira espécie fora do continente 
asiático. 
Esses agentes são vermes achatados que podem viver 
no sistema digestório humano, principalmente no 
intestino delgado. O ser humano é o hospedeiro definitivo 
das principais espécies de Taenia, sendo os bovinos os 
hospedeiros intermediários da forma saginata, enquanto 
o porco o é da espécie solium. Apesar de incomuns, 
infecções concomitantes por espécies distintas do 
patógeno já foram descritas em seres humanos. 
Epidemiologia 
No caso de T. saginata, acredita-se que, em nível mundial, 
entre 45 e 60 milhões de pessoas estejam infectadas 
por esse parasito. Taenia saginata é endêmica nas 
Américas, na Europa e no Oriente Médio, mas as 
prevalências mais altas de teníase por essa espécie, 
acima de 20%, são registradas na África Oriental e em 
algumas regiões da Ásia, como o Tibete. 
Outras partes da Ásia também têm alta prevalência de 
teníase por T. saginata, porém muitos dos estudos 
epidemiológicos disponíveis não diferenciam as infecções 
por T. saginata daquelas por T. asiatica, outra espécie do 
mesmo gênero que também tem o ser humano como 
hospedeiro intermediário. 
Fatores de risco 
• Falta de higiene – pode aumentar o risco de 
transferência acidental de matéria contamidada 
para a boca; 
• Exposição a fezes de animais; 
• Viagens para países em desenvolvimento; 
• Ingestão de carne crua ou mal cozinhada- 
especialmente porco e vaca; 
• Viver em zonas endêmicas – América Latina, 
China, região sul do Sahara de África ou 
Sudoeste Asiático. 
Etiologia 
Taxonomia 
O parasito responsável pela condição, helmintos do 
gênero Taenia, pertence ao filo Platyhelminthes, classe 
Cestoda, ordem Cyclophyllidea, família Taeniidae 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
 
Morfologia e formas evolutivas 
O verme adulto é grande, achatado e esbranquiçado, e 
consiste de três partes: a cabeça (escólex), o pescoço e 
um corpo segmentado, todas recobertas por um 
tegumento através do qual o patógeno absorve 
nutrientes e elimina suas excreções. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
O escólex é equipado com ganchos e/ou ventosas 
(dependendo da espécie), estruturas que possibilitam à 
tênia ligar-se ao intestino do hospedeiro. Cada segmento 
corporal, denominado proglote, tem um conjunto 
completo de órgãos reprodutores (as tênias são 
hermafroditas), o que viabiliza a produção local de ovos. 
As proglotes que contêm ovos passam a ser 
denominadas proglotes grávidas ou maduras; estão 
presentes até 100.000 ovos por proglote na T. saginata e 
cerca de 50.000 por proglote na T. solium. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
As mais distais, quando se separam do resto do corpo 
do verme, são eliminadas nas fezes junto como os ovos. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
As distintas espécies do gênero Taenia podem ser 
diferenciadas pelas características morfológicas do 
escólex e das proglotes(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
No organismo humano, o verme adulto pode chegar a 
alcançar vários metros de comprimento: em geral, em 
torno de 2 a 7 m nateníase solium e menor ou igual a 
5 m (apesar de poder chegar a 25 m) na forma saginata. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Seu escólex fica aderido à porção superior do jejuno. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Geralmente, a T. saginata pode conter entre 1.000 e 2.000 
proglotes, enquanto a T. solium contém uma média de 
1.000 segmentos corporais. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Pode haver eliminação fecal diária de aproximadamente 
seis proglotes e de mais de 500.000 ovos, no interior de 
cada um dos quais se encontra uma oncosfera (ou 
embrião hexacanto). Os ovos de cada espécie de tênia 
são indistinguíveis entre si. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Ciclo biológico 
O ser humano é o único hospedeiro definitivo de T. 
saginata, T. solium e T. asiatica. Ovos e/ou proglotes 
grávidas são eliminados nas fezes dos pacientes afetados, 
contaminando o meio ambiente (solo, pastagens, água), 
onde os ovos conseguem sobreviver por dias a meses. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
O gado bovino e os porcos se tornam infectados por 
suas respectivas espécies de Taenia, ao ingerirem 
vegetação contaminada com ovos ou proglotes grávidas. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
No intestino de tais animais, após ação do suco gástrico 
e da bile sobre os ovos, as oncosferas eclodem e 
invadem a parede intestinal, ganhando acesso à 
circulação sanguínea, através da qual chegam à 
musculatura esquelética e cardíaca. Nessa região, a forma 
larvária tecidual, o cisticerco, segue o seu 
desenvolvimento, adquire o protoescólex e torna-se 
infectante para o ser humano cerca de 60 dias depois, 
quando alcança medidas de cerca de 5 × 10 mm. No 
organismo do hospedeiro intermediário, o cisticerco pode 
sobreviver por vários anos. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Caso um ser humano venha a ingerir cisticercos, o ciclo 
de vida da teníase pode completar-se. Nesse contexto, 
após a sua ingestão, o cisticerco se fixa à mucosa 
intestinal pelos ganchos e ventosas do protoescólex 
(liberado do cisto), permanecendo no local até se 
desenvolver (cerca de 3 meses). Cada protoescólex 
pode se tornar a cabeça de um cestoide adulto, que vai 
se desenvolvendo ao longo de cerca de 2 meses, pela 
formação de proglotes a partir da parte caudal do 
escólex. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Os seres humanos se tornam infectados por meio da 
ingestão de carne crua ou malcozida com cisticercos. Na 
maioria das vezes, a teníase é composta por apenas um 
ou poucos vermes adultos, que podem sobreviver por 
anos no intestino delgado do hospedeiro. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Caso o homem se infecte ingerindo água ou alimento 
contendo ovos da tênia, ele pode comportar-se como 
hospedeiro intermediário. Nesse cenário, o ciclo acaba 
por se desenrolar conforme a descrição pertinente à 
infecção dos animais envolvidos. (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020) 
A oncosfera eclodida dará origem a cisticercos nos 
tecidos com maiores concentrações de oxigênio, como 
sistema nervoso central, olhos e musculatura esquelética. 
(SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
 
Transmissão 
A infecção humana pela teníase se dá pela ingestão de 
carne bovina ou suína com larvas teciduais (cisticercos) 
dos respectivos patógenos. Ao ingerir a carne crua ou 
insuficientemente cozida, o ser humano se torna 
infectado pela larva, que evolui para verme adulto no 
intestino, originando a teníase. Apenas no caso da Taenia 
solium pode ainda ocorrer a contaminação humana pela 
ingestão acidental de ovos ou proglotes, o que leva à 
formação de cisticercos (larvas) no organismo, 
ocasionando a cisticercose. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Fisiopatologia 
A teníase (larvas do Taenia Sarginata) é uma 
infecção menos grave e têm como sintomatologia mais 
frequente dores abdominais, náuseas, debilidade, perda 
de peso, flatulência, diarreia frequente e constipação em 
adultos. O prognóstico é, excepcionalmente, causa de 
complicações cirúrgicas, resultado do tamanho do 
parasita ou de sua penetração em estruturas do aparelho 
digestivo tais como apêndice, colédoco e ducto 
pancreático. Na maior parte dos casos, o indivíduo 
somente toma ciência da infecção quando observa a 
liberação das proglotes, fato este que só é notado muito 
tempo após a infecção. Consequentemente, o doente 
pode disseminar a doença por período bastante longo 
antes da suspeita de sua contaminação. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Já a cisticercose (larvas da Taenia solium) 
humana é uma doença mais grave caracterizada pelo 
pleomorfismo, sendo que o cisticerco pode se alojar em 
diversas partes do organismo, sendo a região de maior 
frequência o Sistema Nervoso Central, inclusive 
intramedular, o que traz maiores repercussões clínicas. A 
cisticercose é uma das enfermidades mais perigosas, 
transmitidas por parasita aos seres humanos. A larva pode 
se instalar no sistema nervoso central (neurocisticercose) 
no olho (ocular), na pele, no tecido celular subcutâneo, 
no fígado e outras localizações (SIQUEIRA-BATISTA, 
2020) 
A neurocisticercose epiléptica (NCC) é a infecção 
parasitária mais comum do sistema nervoso central 
(SNC) e a principal causa de epilepsia de origem 
secundária no Brasil, sendo causada apenas pelo parasita 
Taenia solium. (SIQUEIRA-BATISTA, 2020) 
Manifestações Clínicas 
Como a capacidade patogênica da teníase é pequena, 
em boa parte dependente dos efeitos locais e nutricionais 
(espoliação) provocados pelo verme adulto, a condição 
não causa sintomas muito relevantes. Em verdade, 
muitos pacientes são assintomáticos. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Quando presentes, os principais sintomas são: náuseas, 
vômitos, anorexia, diarreia, epigastralgia, cólicas 
abdominais, perda de peso, insônia e manifestações 
cutâneas de hipersensibilidade (prurido e urticária). Pode 
haver ainda constipação intestinal, irritabilidade, cefaleia e 
vertigens, além da possível oclusão de orifícios e ductos 
naturais do sistema digestório, ocasionando apendicite 
aguda, colangite ou pancreatite aguda. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Por vezes, os pacientes (mesmo assintomáticos) relatam 
a eliminação intermitente de proglotes nas fezes ou, no 
caso da T. saginata, espontaneamente através do ânus, 
o que se constitui em pista diagnóstica importante. 
Raramente pode ocorrer regurgitação das proglotes ou 
sua aspiração para as vias respiratórias. (SIQUEIRA-
BATISTA, 2020) 
Diagnóstico 
Clínico 
Como as manifestações da teníase são inespecíficas, o 
diagnóstico dessa verminose não pode ser sustentado 
com bases puramente clínicas, salvo quando detectada a 
eliminação perianal ou fecal de proglotes. Desse modo, o 
diagnóstico de teníase é definido, na maioria das vezes, 
por meio da realização de exames complementares, seja 
mediante a pesquisa de proglotes ou ovos nas fezes, seja 
com técnicas sorológicas (imunodiagnóstico). (REY, 2008) 
Pesquisa de ovos nas fezes 
Os ovos podem ser encontra- dos nos exames de fezes, 
por quaisquer das técnicas correntes. Entretanto, os 
exames negativos não excluem a possibilidade de 
parasitismo por Taenia. Um único exame revela cerca de 
dois terços dos casos. A repetição dos exames, ou o 
emprego de diferentes métodos, pode elevar esta 
probabilidade a 90% dos casos de parasitismo. (REY, 
2008) 
O diagnóstico de espécie não é possível pelo simples 
exame microscópico, em razão da semelhança 
morfológica entre os ovos de T. solium e de T. saginat 
(REY, 2008) 
Pesquisa de Proglotes 
Este é o método mais indicado para a confirmação do 
diagnóstico. (REY, 2008) 
A técnica a empregar é a tamisação. O bolo fecal deve 
ser desmanchado em água e depois passado em peneira 
de malhas finas para reter as proglotes. (REY, 2008) 
Para o diagnóstico de espécie, essas proglotes grávidas 
serão comprimidas fortemente entre duas lâminas 
grossas de vidro e o conjunto submerso em ácido 
acético, para clarear. Depois de dissolvidas as concreções 
calcárias do parênquima, a conformação do útero e de 
suas ramificações torna-seaparente e permite a 
distinção: (REY, 2008) 
a) ramificações muito numerosas (15 a 30 de cada 
lado) e dicotômicas: Taenia saginata; 
b) ramificações pouco numerosas (7 a 16 de cada 
lado da has- te uterina) e de tipo dendrítico: 
Taenia solium 
Pesquisa de Ovos com a Fita Adesiva 
A melhor técnica para evidenciar a presença de ovos de 
Taenia é buscá-los na pele da região perineal. (REY, 2008) 
O método da fita adesiva transparente consiste em 
aplicar contra a superfície dessa região uma tira de 
celofane colante, para que os ovos eventualmente 
existentes na pele adiram à fita. Esta será, depois, colada 
sobre uma lâmina de microscopia e examinada ao 
microscópio. Quando positivas, as lâminas cos- tumam ser 
ricas em ovos. (REY, 2008) 
Essa técnica é capaz de revelar 90% das infecções por 
T. saginata, sendo menos eficiente se o parasito for T. 
solium. O exame é sempre negativo no início do 
parasitismo (cerca de tre ̂s meses) ou quando a expulsão 
de proglotes é interrompida (como sucede após a 
eliminação de um longo segmento do estróbilo). (REY, 
2008) 
Imunodiagnóstico 
Nas teníases humanas, apenas os testes de 
hemaglutinação indireta e de imunofluorescência indireta 
podem ser úteis para o diagnóstico. Ainda assim seu valor 
é limitado por não detectar cerca de 40% dos casos de 
parasitismo. As provas imunológicas contribuem ainda 
para a caracterização específica, quando outros métodos 
se mostrarem inadequados. (REY, 2008) 
Os níveis de IgE e de IgA aumentam significativamente 
durante o parasitismo, baixando os de IgE logo que as 
tênias sejam eliminadas. (REY, 2008) 
Tratamento 
Niclosamida 
Ela inibe a fosforilação mitocondrial do difosfato de 
adenosina (ADP) no parasita, tor- nando-se letal para o 
escólece do cestóideo e para os segmentos, mas não 
para os ovos. (WHALEN, 2016) 
A ação da niclosamida é tenicida, isto é, provoca a morte 
e a desintegração do parasito, que, por esta razão, não 
aparece inteiro nas fezes. (REY, 2008) 
Ex: (Cestocid®, Devermin®, Mansonil®, Vermitin®, 
Yomesan® etc) (REY, 2008) 
Insolúvel na água e não sendo absorvida pelo intestino, 
praticamente não apresenta efeitos colaterais (que se 
limitam, quando muito, a náuseas, indisposição e dor 
abdominal) (REY, 2008) 
Praziquantel 
A permeabilidade da membrana celular ao cálcio 
aumenta, causando contratura e paralisia do parasita. 
(WHALEN, 2016) 
O praziquantel deve ser ingerido com algum alimento e 
não deve ser mastigado, devido ao gosto amargo. 
(WHALEN, 2016) 
É rapidamente absorvido após administração oral e 
distribuído pelo líquido cerebrospinal (LCS). (WHALEN, 
2016) 
EX: (Biltricid®, Cisticid®) (WHALEN, 2016) 
Mebendazol 
O mebendazol atua inibindo a montagem dos 
microtúbulos no parasita e também bloqueando a 
captação de dextrose de modo irreversível. (WHALEN, 
2016) 
Os parasitas atingidos são expelidos nas fezes. Os efeitos 
adversos incluem dor abdominal e diarreia. O mebendazol 
não deve ser usado em gestantes. (WHALEN, 2016) 
Semente de abóbora 
Recomenda-se especialmente para as gestantes e para 
as crianças esse tratamento seguro que consiste em 
triturar 200 a 400 gramas de sementes e administrá-las 
misturadas com mel ou com xarope de frutas. (REY, 
2008) 
Como essa medicação é apenas tenífuga, requer a 
administração de um purgativo, duas horas depois, para 
a eliminação do helminto. (REY, 2008) 
Referências: 
EVANGELISTA, Brenda Bulsara Costa et al. Fatores socioambientais 
associados à distribuição e à intensidade das geo-helmintíases em 
uma área urbana da Região de Marajó, estado do Pará, Brasil. 2020. 
Tese de Doutorado. 
Rei, Luís. Parasitologia, 4ª edição. Disponível em: Minha Biblioteca, 
Grupo GEN, 2008. 
Siqueira-Batista, Rodrigo. Parasitologia - Fundamentos e Prática Clínica 
. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo GEN, 2020. 
Fereira, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea. Disponível em: 
Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2020. 
Whalen, Karen, et al. Farmacologia Ilustrada . Disponível em: Minha 
Biblioteca, (6ª edição). Grupo A, 2016.

Mais conteúdos dessa disciplina