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Natasha Ceretti Maria Faculdade de Saúde Pública (USP) natashaceretti@yahoo.com.br O uso do modelo de indicadores em saúde ambiental Força-Motriz-Pressão- Situação-Exposição-Efeito-Ações (FPSEEA) como subsídio ao planejamento urbano: estudos de sua aplicabilidade em territórios metropolitanos Antônio Ralph Sousa Medeiros Faculdade de Saúde Pública (USP) aralphms@yahoo.com.br Anne Dorothee Slovic Faculdade de Saúde Pública adslovic@usp.br 773 9 o CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2021 DIGITAL) Pequenas cidades, grandes desafios, múltiplas oportunidades 07, 08 e 09 de abril de 2021 O USO DO MODELO DE INDICADORES EM SAÚDE AMBIENTAL FORÇA- MOTRIZ-PRESSÃO-SITUAÇÃO-EXPOSIÇÃO-EFEITO-AÇÕES (FPSEEA) COMO SUBISÍDIO AO PLANEJAMENTO URBANO: ESTUDOS DE SUA APLICABILIDADE EM TERRITÓRIOS METROPOLITANOS N. C. Maria, A. R. Medeiros de Sousa e A. D. Slovic RESUMO A qualidade do ambiente é de fundamental importância para a sustentabilidade de áreas urbanas e questões que permeiam as relações na interface saúde-ambiente devem ganhar destaque no contexto atual. A qualidade de vida e o bem-estar humano podem ser mensurados por indicadores que sejam capazes de apresentar as relações de causa e efeito que envolvem o processo social saúde-doença. Um dos modelos que vem sendo aplicado nessa área de conhecimento para investigar os fatores envolvidos no processo saúde- doença é uma matriz multidimensional de saúde ambiental denominada Força-Motriz- Pressão-Situação-Exposição-Efeito-Ações (FPSEEA). Neste sentido este estudo teve como objetivo discutir as potencialidades do uso do modelo FPSEEA como subsídio ao planejamento urbano regional, tendo como base dois estudos de caso da aplicação da matriz em territórios metropolitanos do Estado de São Paulo. Embora possua limitações, o modelo apresenta potencialidades como ferramenta auxiliar no estabelecimento de ações prioritárias ao planejamento urbano de territórios regionais. 1 INTRODUÇÃO A qualidade do ambiente é uma questão de fundamental importância para a sustentabilidade de áreas urbanas. Atualmente atribui-se ao ambiente grande vínculo com o bem-estar e a qualidade de vida das populações humanas (Giatti, 2009). Neste sentido a saúde humana depende de ambientes salubres e de sistemas naturais preservados, sendo incontestável o reconhecimento das relações entre ambiente e saúde (Giatti, 2009; Ribeiro, 2016). Há inúmeras possibilidades em que problemas ambientais possam interferir de forma direta ou indireta na saúde humana e quando se trata de grandes áreas urbanizadas, a complexidade dos fatores ambientais aumenta, pois existem mais condicionantes no ambiente que se fazem presentes nessa forma de organização do espaço, elevando o grau de incertezas que reside na compreensão das relações causais da ocorrência de doenças em grandes cidades (Giatti, 2009). Portanto, as relações na interface saúde e ambiente devem ganhar destaque quando se pensa em um desenvolvimento urbano sustentável (Maria, 2019). Nas últimas décadas, com as contradições do modelo econômico de desenvolvimento, culminando na percepção de uma crise ambiental, a sociedade passa a exigir uma lógica precaucionária que antecipe a comprovação das relações de causa e efeito entre ambiente e sociedade (Giatti, 2009; Giatti e Moura-de-Sousa, 2009). Como a problemática do ambiente sempre esteve presente na área da Saúde Pública, na segunda metade do século XX se estrutura uma área de conhecimento específica: a Saúde Ambiental (Ribeiro, 2004). Nessa perspectiva a saúde ambiental “é o campo da saúde pública que tem como principal objeto a produção de saberes, conhecimentos, ações e práticas que envolvem as interações entre saúde e seus determinantes e condicionantes sociais e ambientais” (Souza et al., 2015). Segundo essa conceituação da saúde ambiental, o ambiente é entendido como o espaço, dinâmico e multidimensional resultado da fusão entre processos sociais que modificam os ecossistemas e os processos ecológicos que envolvem os sistemas de suporte à vida (Souza et al., 2015). A partir disso, surge a questão de como valores e conceitos como sustentabilidade, saúde ambiental, qualidade de vida, bem-estar humano, podem ser operacionalizados para que sejam utilizados como ferramentas para nortear os rumos da sociedade? Segundo Bellen (2006) a resposta tem sido o desenvolvimento de sistemas de indicadores ou ferramentas de avaliação que mesuram esses conceitos. Para tratar de concretizar conceitos, ferramentas e métodos são necessários para ajudar os planejadores e órgãos de decisão para propor e estabelecer políticas públicas que alcancem a sustentabilidade (Silva e Souza-Lima, 2010). No que abrange a formulação de políticas públicas que interfiram positivamente na qualidade de vida das grandes cidades, deve-se considerar que existe uma relação empírica entre os indicadores de sustentabilidade e os de saúde que impactam na qualidade de vida e bem-estar da população (Maria e Slovic, 2018; Maria et al., 2019a). Um dos modelos de indicadores que investiga os fatores que envolvem o processo saúde- doença, a qualidade de vida e o bem-estar humano buscando identificar a multiplicidade de fatores socioambientais relacionados à saúde é uma matriz multidimensional de saúde ambiental denominada Força-Motriz-Pressão-Situação-Exposição-Efeito-Ação (FPSEEA). A abordagem FPSEEA vem sendo aplicada no Brasil desde a década de 1990 principalmente no Campo da Vigilância em Saúde Ambiental. Entretanto, o potencial metodológico do modelo também vem sendo investigado para análise socioambiental de territórios metropolitanos (Giatti et al., 2013; Talamini e Giatti, 2013; Maria, 2015; Silva, 2015; Maria e Slovic, 2018; Maria, 2019; Maria et al., 2019a; Maria et al., 2019b ). Neste sentido, este estudo tem como objetivo discutir as potencialidades do uso do modelo FPSEEA como subsídio ao planejamento urbano de territórios metropolitanos, tendo como base dois estudos de caso da aplicação da matriz em territórios metropolitanos do Estado de São Paulo. 2 METODOLOGIA Para alcançar o objetivo proposto, o estudo se baseia em uma revisão bibliográfica sobre o assunto, tanto internacional como nacional mostrando as áreas de conhecimento nas quais o modelo FPSEEA vem sendo aplicado. Posteriormente são discutidos dois estudos nos quais a matriz FPSEEA foi aplicada como subsídio ao planejamento urbano em territórios regionais metropolitanos do Estado de São Paulo. Os estudos foram desenvolvidos na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) entre os anos de 2013 à 2019. Trata-se da dissertação de mestrado intitulado “Uma tipologia em saúde ambiental para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP): analisando dimensões de sustentabilidade” (Maria, 2015) e a tese de doutorado intitulada “Uma tipologia em Saúde Ambiental para a Macrometrópole Paulista (MMP): subsídios para o planejamento e a gestão socioambiental regional” (Maria, 2019). 3 DISCUSSÃO 3.1 O modelo de saúde ambiental Força-Motriz-Pressão-Situação-Exposição-Efeito- Ações (FPSEEA): um breve histórico e suas aplicações A matriz FPSEEA de indicadores para a saúde ambiental foi desenvolvida em conjunto com o programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Agência de proteção Ambiental dos Estados Unidos (USePA). O modelo foi uma adaptação de outras duas abordagens frequentemente utilizadas pela área ambiental, conhecidas como Pressão-Estado-Resposta (PER) e Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR), desenvolvidas inicialmente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (Freitas e Giatti, 2009; Sobral e Freitas, 2010). O modelo da matriz FPSEEA foi influenciado pelo conceito de promoção da saúde que apresenta uma visão ampliadada saúde considerando os determinantes socioambientais na compreensão do processo saúde-doença mudando o foco preventivista para uma lógica de precaução (Souza et al., 2015). Tendo como base essa abordagem ampliada de saúde, a matriz estabelece um fluxo de demandas e pressões por recursos naturais e alterações e dos ecossistemas, possibilitando um amplo olhar para as cadeias de causas e consequências que interferem na saúde e bem- estar humanos. Por possuir múltiplas dimensões permite analisar desde as forças-motrizes (F) as pressões (P) que interferem no estado, situação do ambiente (S), modulando as exposições (E) dos humanos a doenças; que constam os efeitos finais (EF) ma cadeia. Portanto, sob essa visão sistêmica e hierarquizada sobre os problemas de saúde e do ambiente, distintas formas de Ações (A) são passíveis de execução em diferentes níveis, assim como também são possíveis variadas formas de controle e prevenção (Corvalán et al., 2000). Segundo o Manual de Indicadores do Ministério da Saúde de Sobral et al. (2011), o modelo proposto pela OMS parece apropriado para o estabelecimento de uma base racional capaz de expor de forma estruturada, uma matriz de indicadores integrantes da cadeia relacional entre os determinantes socioambientais e eventos de saúde. A matriz é apresentada abaixo na Figura 1. Fig 1. Dimensões da Matriz de Indicadores FPSEEA. Fonte: Corvalán et al., 2000 (adaptado) A abordagem FPSEEA, adotada pela OMS, vem sendo aplicada no Brasil pela Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (CGVAM/SVS/MS) desde o final da década de 1990. Os esforços para a construção de indicadores que apontam para as inter-relações de mudanças ambientais e situação de saúde se encontram na origem do processo de institucionalização da vigilância em saúde ambiental no âmbito do Setor Sáude, na passagem do século 20 para o 21, inicialmente pelo Decreto nº 3.450/200 da Presidência da República, estabelecendo no antigo Centro Nacional de Epidemiologia (Cenipe) a gestão do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Ambiental e, posteriormente, por meio da Instrução Normativa SVS nº 1 de 2005, que regulamentou o Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental (SINVSA) (Sobral et al., 2011). No Brasil existem alguns estudos de análise da matriz FPSEEA que conseguiram resultados positivos quando aplicados no campo da vigilância em saúde do trabalhador e na análise de riscos para atividades com potencial de impactos no ambiente e na saúde (Maria, 2019). Na perspectiva de riscos ambientais pode ser citado o trabalho de Araújo-Pinto et al. (2012), que utilizaram a metodologia da matriz FPSEEA como um instrumento de análise de riscos ambientais e a saúde do ambiente associados com a intensa utilização de agrotóxicos nas diversas atividades agrícolas que são desenvolvidas no Estado do Rio de Janeiro (RJ). Também podem ser citados os estudos de Mendes (2016) que analisou a matriz para levantar os impactos de hidrelétricas à saúde de pescadores e ribeirinhos, e a partir dela propor ações no Estado do Pará, e o estudo de Rocha (2015) que utilizou a matriz para analisar os feitos das queimadas na saúde da população que vive nos municípios da Amazônia legal. No campo da vigilância em saúde do trabalhador podem ser mencionados os trabalhos Giardini et al. 2017, utilizando a matriz para avaliar riscos à saúde dos trabalhadores de postos de gasolina expostos ao benzeno em nível nacional, e Quintino (2009) para vigilância em saúde dos trabalhadores da extração e beneficiamento de pedras ornamentais no estado de Minas Gerais (MG). Mas no Brasil é no âmbito da vigilância sanitária que a visão ambiental está mais consolidada, e onde o modelo FPSEEA é um bom instrumento auxiliar no levantamento e no fortalecimento de ações de intervenção e prevenção no processo saúde-doença. Como exemplo de estudo nesse sentido pode ser mencionado o estudo de Arantes e Pereira (2017), que selecionaram indicadores ambientais e socioambientais como subsídio para o fortalecimento das estratégias existentes no controle da dengue no município de Uberlândia (MG). No âmbito da literatura Hambling et al. (2011) apontam que de 11 trabalhos investigados o modelo FPSEEA é o mais adequado para subsidiar o desenvolvimento de indicadores de saúde ambiental como valiosa ferramenta para avaliar, monitorar e quantificar a vulnerabilidade da saúde humana e formular a partir disso, as intervenções necessárias. Os autores abordam que o modelo vem sendo utilizado para mediar e monitorar os impactos das mudanças climáticas e assim subsidiar o desenvolvimento de intervenções de adaptação e mitigação dos seus efeitos na saúde humana. Os autores também destacam que os indicadores de saúde ambiental se constituem em uma abordagem multidisciplinar para vincular os dados ambientais e epidemiológicos existentes nas redes de informação públicas em pesquisas voltadas para este campo. A análise de tais dados pode contribuir para uma melhor compreensão da interface saúde-ambiente. Considerando a aplicação da matriz FPSEEA como subsídio ao planejamento e a gestão urbana com enfoque em territórios regionais não foram encontrados estudos na literatura internacional. No âmbito nacional utilizando a matriz para uma análise que adota um conceito ecossistêmico mais abrangente procurando ter o modelo FPSEEA como base na seleção de indicadores de sustentabilidade ambiental e saúde em recortes territoriais regionais um dos estudos precursores neste campo é o trabalho desenvolvido por Freitas e Giatti (2009). Este estudo serviu de base teórica e conceitual para a aplicação da mesma metodologia na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) nos trabalhos de Giatti et al. (2013); Talamini e Giatti (2013); Maria (2015); Silva (2015); Maria e Slovic (2018); Maria (2019); Maria et al. (2019a); Maria et al. (2019b) e Maria et al., (2019c). É neste sentido que serão abordados dois estudos de caso, Maria (2015) e Maria (2019), que tiveram a matriz FPSEEA como marco conceitual metodológico subsidiando o planejamento urbano de áreas metropolitanas do Estado de São Paulo. 3.2 Tipologias em Saúde Ambiental para a Região Metropolitana (RMSP) e para a Macrometrópole Paulista (MMP) A partir da metodologia da matriz de saúde ambiental FPSEEA e seu quadro de indicadores foram propostas duas tipologias em saúde ambiental tanto para os municípios que constituem a RMSP como para os que integram o que se denomina de Macrometrópole Paulista (EMPLASA, 2014) (Maria, 2015; Maria e Slovic, 2018; Maria, 2019; Maria et al., 2019a; Maria et al., 2019b, Maria et al., 2019c). Por tipologia entende-se um sistema de classificação em que se procura estabelecer correspondências dos traços característicos de um conjunto de dados, visando determinar tipos e sistemas. As tipologias foram construídas a partir da identificação, levantamento e seleção de indicadores providos pelas principais instituições públicas do país e do Estado de São Paulo. Cada um dos indicadores selecionados expressava condições socioambientais diferenciadas existentes nos territórios metropolitanos, que apontavam demandas públicas específicas quando se pensa em qualidade e sustentabilidade do meio ambiente. Os indicadores em ambos os estudos foram submetidos a analises estatísticas multivariadas de agrupamentos utilizando-se diferentes programas estatísticos. Em termos gerais, tanto tipologia da RMSP quanta da MMP revelaram uma heterogeneidade de condições de desenvolvimento presentes nos municípios. Coexistem em territórios metropolitanos municípios mais desenvolvidos economicamente e socialmente, municípios em níveis intermediários de desenvolvimento e municípios com grande precariedade urbana e desigualdades. A partir das tipologias foram construídosmapas temáticos mostrando a distribuição geográfica dos agrupamentos formados segundo suas características socioambientais Figuras 2 e 3. Fig 2. Mapa temático representando os quatro agrupamentos de municípios para a RMSP. Agrupamento 1: prestadores de serviços ambientais com baixa cobertura de infraestrutura. Agrupamento 2: melhor cobertura de infraestrutura com maiores desigualdades sociais. Agrupamento 3: prestadores de serviços ambientais com baixa cobertura de infraestrutura. Agrupamento 4: município de São Paulo (SP). Fonte: Adaptado de (Maria et al. 2019a) Agrupamento 1 Agrupamento 2 Agrupamento 3 Agrupamento 4 Fig 3. Mapa temático representando os seis agrupamentos de municípios para a MMP. Fonte: Maria et al., (2019c) O principal aprendizado que pôde ser extraído das tipologias sobre os municípios que integram territórios regionais foi que, ao contrário da sobreposição de precariedades, que normalmente se verifica com relação às realidades socioeconômicas, as condições ambientais não necessariamente caminham na mesma direção. Se por um lado, há uma melhora de indicadores econômicos e sociais por meio do desenvolvimento, por outro estes sempre vêm acompanhados de um aumento significativo de pressões ambientais. A situação inversa é observada para municípios com valores menores de desenvolvimento socioeconômico, onde as pressões ambientais, ainda não ocorrem de forma tão acentuadas, mas que, em termos sociais, acarretam para os habitantes um déficit de serviços importante de infraestrutura como os de saneamento básico. Como as relações municipais são de interdependência, municípios provedores de serviços ambientais, uma vez identificados, seriam de importância estratégica para um planejamento regional que considere a sustentabilidade das metrópoles. Essa característica favorece a possibilidade de se discutir uma gestão integrada dos recursos ambientais com formulação de políticas públicas conduzidas em arranjos institucionais mais colaborativos, tendo um território regional como unidade de planejamento. Portanto, como contribuição positiva do modelo FPSEEA para a construção de tipologias municipais para territórios regionais destaca-se que a matriz pôde ser aplicada como ferramenta para seleção dos indicadores auxiliando na operacionalização de um conceito de saúde ambiental. A aplicação do modelo FPSEEA contribui para análises de sustentabilidade, pois além dos tradicionais indicadores econômicos e sociais são também incorporados indicadores ambientais relacionados com a integridade ecológica dos ecossistemas permitindo reconhecer a importância da qualidade ambiental e os serviços prestados pelos ecossistemas para o alcance da saúde e do bem-estar de habitantes de áreas urbanizadas (Maria, 2019). O ponto forte do modelo é justamente permitir uma análise territorial integrada em uma lógica multidimensional. Entretanto, como dificuldades operacionais da aplicação da matriz pode-se destacar que embora, o modelo permita uma visão integrada dos indicadores, por si só não consegue contemplar toda a complexidade de inter-relações das dimensões que determinam e medeiam o processo social de produção da saúde-doença (Sobral e Freitas, 2010). As estatísticas ambientais são recentes e escassas no Brasil, principalmente para nível municipal, existindo ainda muitas incertezas sobre as mudanças na estrutura e na dinâmica dos ecossistemas e sua interação com sistemas socioambientais que resulta em doenças e restrições ao bem-estar humano (Freitas et al., 2007). As inter-relações das dimensões da matriz que determinam o processo de produção social da saúde-doença em conjunto com determinantes ambientais, ainda necessitam de mais investigações que comprovem o alcance da aplicação do modelo. Existe uma inter-relação real entre as dimensões da matriz que faz com que as variáveis que as compõem interfiram diretamente positivamente ou negativamente umas sobre as outras? (Maria, 2019). A exploração de análises estatísticas aliadas ao modelo FPSEEA devem ser incorporadas para averiguar as inter-relações de causa e efeito das dimensões da matriz (Maria, 2019) Apesar dessas limitações observadas, estas não devem ser interpretadas como empecilho na busca de resultados mais conclusivos sobre o tema. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo discutir a aplicação de uma matriz de indicadores de saúde ambiental para territórios regionais metropolitanos, a partir de dois estudos de caso: um para a Região Metropolitana de São Paulo e outro para a Macrometrópole Paulista. Em ambos os estudos a matriz FPSEEA pose ser aplicada como ferramenta auxiliar para a seleção de indicadores que correspondem a um contexto de saúde ambiental para compor tipologias municipais. Com base nessa seleção foi possível aplicar análises estatísticas multivariadas que estabeleceram um comparativo entre diferentes perfis municipais formados. Isso auxiliou a caracterização e a descrição das diferentes condições socioambientais que podem ser encontradas em territórios regionais. Portanto, seus quadros de indicadores oferecem uma plataforma de dados comparativos entre os municípios facilitando uma visualização geral de questões socioambientais dos territórios estudados. O modelo da matriz serviu, portanto de subsídio para a formulação de um instrumento que facilita ao poder público visualizar áreas prioritárias que necessitam de políticas públicas colaborativas e integradas para todo o território regional. Entretanto, lacunas conceituais e na produção de dados, principalmente para o nível municipal e problemas de validação estatística que comprovem a funcionalidade da metodologia do modelo FPSEEA limitam a compreensão das inter-relações das dimensões da matriz em sua totalidade. É importante ressaltar que embora, a matriz FPSEEA auxilie uma compreensão das relações que envolvem a interface entre sociedade-ambiente-saúde, todo tipo de mensuração apresenta limites no espelhamento da complexidade da sociedade, devendo os modelos quantitativos estar sempre aliados com análises qualitativas. Agradecimentos Ao programa de Pós-Graduação da Faculdade de Saúde Pública (USP). À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Fundação CAPES) pelo auxílio financeiro à pesquisa. 5 REFERÊNCIAS Arantes, K. M., Pereira, B. B. (2017) Levantamento, análise e seleção de indicadores ambientais e socioeconômicos como subsídio para o fortalecimento das estratégias de controle da dengue no município de Uberlândia – MG. Journal of Health and Biological Sciences, 5(1), 86-94. Araújo-Pinto, M., Peres, P., Moreira, J. C. 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