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1
ISSN 2358-1018
www.vetsciencemagazine.com.br
REPRODUÇÃO E FERTILIDADE
DIAGNÓSTICO E MONITORIA LABORATORIAL
Número 16
MAGAZINEum benefício para o cliente TECSA
TESTES RÁPIDOS COM A QUALIDADE PREMIUM
TECSA LABORATÓRIOS
ENTRE EM CONTATO CONOSCO E FAÇA O SEU PEDIDO:
CONSULTE A DISPONIBILIDADE E LIBERAÇÃO DOS NOVOS KITS:
EDITORIAL
Na crise - crie!
Para momentos de CRISE a melhor saída é a criatividade. Para que nossos clientes continuem a buscar em nossas empresas 
a parceria que esperam obter, mesmo em momento de falta de emprego e de dinheiro circulante, é necessário cortar custos e 
priorizar o cliente. Encontrar formas criativas e inteligentes de fazer a conexão com os nossos contatos, oferecer produtos e 
serviços de alta qualidade e com custo-benefício adequado é de extrema importância. Em um planeta que se virtualizou pelas 
redes sociais, nenhuma empresa pode ficar de fora deste canal de contato humano. Seja um empresário ou um profissional, todos 
devem estabelecer seu espaço nas redes sociais e ganhar, assim, ”intimidade“ com seus possíveis clientes. Levar conhecimento e 
informações gratuitas, gerar espaço de troca de ideias e de oportunidade nesses contatos faz com que enxerguem melhor o seu 
negócio e sua atuação profissional. As redes sociais podem divulgar seu trabalho com uma velocidade e em uma dimensão que 
pode lhe surpreender. Vale a pena estudar sobre mídia digital e, se possível, contratar uma consultoria para lhe acompanhar neste 
processo. 
Cuidados pré-analíticos essenciais
Como discutido em edições anteriores, os erros laboratoriais inerentes à etapa pré-analítica, ou seja, que antecedem a análise 
propriamente dita, podem chegar a 70%. Esta etapa está diretamente relacionada ao cuidado em manusear as amostras, desde o 
momento da colheita, até a chegada ao laboratório de apoio. Precisamos ressaltar que o cuidado com a identificação e transporte 
das amostras deverá seguir rigorosamente o procedimento descrito no Manual de Coleta que se encontra disponível em nosso 
site (www.tecsa.com.br). 
A identificação, tanto do tubo quanto do pedido, deverá ser legível e única. Deve-se lembrar da importância de inserir o nome do 
animal, nome do Tutor e número da clínica requisitante, também no tubo. Estas informações são essenciais pelo fato de termos 
diversos animais com o mesmo nome (Ex.: MEL, NINA, BOB, NICK) sendo a diferença é identificada pelo nome do Tutor e 
da clínica.
Observar sempre a grafia também é importante, pois, não é difícil encontrar o nome do animal escrito de uma forma no tubo 
e de outra no pedido (Ex.: Sacha e Saxa). Para facilitar a compreensão e evitarmos a ocorrência de atrasos fiquem atentos ao 
preenchimento correto da ficha de solicitação. Usar como padrão letra de forma é uma boa idéia!!! Inserir a informação da raça e 
idade, em alguns casos, são fundamentais para o auxílio na interpretação e avaliação dos resultados, pois, dependendo do analito 
dosado poderão ocorrer variações. Vale lembrar que a assinatura do médico veterinário requisitante, quando solicitados por meio 
de formulário impresso, é essencial. 
Destacamos que, caso ocorra alguma dúvida com relação à identificação do pedido/amostra, entraremos em contato para 
confirmação, porém, isto poderá acarretar em atrasos na liberação do resultado, pois, até que a informação seja confirmada, a 
amostra ficará aguardando para iniciar o processo analítico.
Afonso Perez
Luiz Eduardo Ristow
Obs.: os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam necessariamente, a visão e opinião do TECSA Laboratórios.
Colaboraram neste número:
Dr. Thiago Luis Santos Gonçalves, Dr. Guilherme Stancioli, Dra. Isabela de Oliveira Avelar, Dra. Janete Madalena da Silva, Dr. João Paulo Fernandez Ferreira, Dr. João Paulo Franco, Dr. Luiz 
Eduardo Ristow, Dra. Luiza França Melo, Dra. Marcela Ribeiro Gasparini, Dr. Otávio Valério de Carvalho.
Todos membros da Equipe de Médicos Veterinários do TECSA Laboratórios. 
Além do Médico Patologista Dr. Afonso Alvarez Perez Jr.
Contribuíram também para este número os renomados Colegas: 
Dra. Anne Kemmer Souza, Dra. Camila Louise Ackermann, Dr. Jamile Haddad Neta, Dr. Luiz Guilherme Corsi Trautwein, Dr. Marcelo Rezende Luz, Dr. Marco Antônio Machado, Dra. Maria 
Denise Lopes, Dra. Maria Isabel Mello Martins, Dra. Marília Martins Melo, Dra. Paula Postali Ananias, Dr. Warley Gomes dos Santos.
ÍNDICE
Editores/Publishers: 
Dr. Luiz Eduardo Ristow . CRMV-SP 5560S . CRMV-MG 3708 . ristow@tecsa.com.br
Dr. Afonso Alvarez Perez Jr. . afonsoperez@tecsa.com.br
Equipe de Médicos Veterinários TECSA . tecsa@tecsa.com.br
Diagramação: Sê Comunicação . se@secomunicacao.com.br
Contatos e Publicidade: 
comunicacao@tecsa.com.br
Av. do Contorno , nº 6226 , B. Funcionários, Belo Horizonte - MG – CEP 30.110-042
PABX-(31) 3281-0500
Tiragem: 5000 revistas . Publicação Bimestral
Na Internet: 
www.vetsciencemagazine.com.br
CIRCULAÇÃO DIRIGIDA
A revista VetScience® Magazine é uma publicação do Grupo TECSA dirigida somente 
aos médicos veterinários, como parte do Projeto JORNADA DO CONHECIMENTO, 
criado pelo mesmo. Este projeto visa a universalização do conhecimento em Medicina 
Laboratorial Veterinária. A periodicidade é Bimestral, com artigos originais de pesquisa 
clínica e experimental, artigos de revisão sistemática de literatura, metanálise, artigos 
de opinião, comunicações, imagens e cartas ao editor.
Não é permitida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem a prévia 
autorização do TECSA.
Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da 
revista VetScience magazine.
Grupo TECSA – Referência de precisão, tecnologia e inovação 
desde 1994!
EXPEDIENTE
ISSN: 2358-1018
ÍNDICE
38. FISIOLOGIA DA HEMOSTASIA: 
NOVOS CONCEITOS
38. HEMATOLOGIA
06. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DA INFERTILIDADE EM CADELAS
10. COMPLEXO HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL/
PIOMETRA EM CADELAS: O QUE HÁ DE NOVO?
16. TERAPÊUTICA HORMONAL APLICADA À REPRODUÇÃO DE CADELAS
21. USO INDEVIDO DE PROGESTÁGENOS (ACETATO DE 
MEDROXIPROGESTERNA) EM UMA CADELA (CANIS LUPUS FAMILIRIS)
24. BRUCELOSE CANINA: UMA PERIGOSA ZOONOSE NEGLIGENCIADA
27. PSEUDOCIESE EM CADELAS
30. EFEITO DA SAZONALIDADE SOBRE A FUNÇÃO TESTICULAR DE CÃES
32. USO DE AGONISTAS DO GNRH COMO CONTRACEPTIVO 
REVERSÍVEL EM GATOS DOMÉSTICOS
35. ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GESTAÇÃO
06. REPRODUÇÃO
ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DA
 INFERTILIDADE EM CADELAS
Maria Denise Lopes 
(Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. E-mail: denise@fmvz.unesp.br) 
 Resumo
A infertilidade nas fêmeas caninas 
pode ser congênita ou adquirida e, dentro 
das infertilidades de causas adquiridas, 
pode ser aparente ou verdadeira. A 
infertilidade não é um diagnóstico, 
mas sim um sintoma, portanto, deve 
ser corretamente diagnosticada e, em 
alguns casos, convenientemente tratada. 
A infertilidade pode ter múltiplas causas 
e o profissional deve seguir um roteiro 
clínico para auxiliá-lo na determinação 
de sua causa. O objetivo dessa revisão 
é discutir as principais causas da 
infertilidade nas cadelas, seguindo um 
roteiro clínico completo que inclui as 
principais causas da infertilidade. 
Introdução
A maioria dos problemas de 
infertilidade pode ser convenientemente 
tratada, desde que corretamente 
diagnosticada. Em todos os casos de 
infertilidade, um histórico reprodutivo 
completo deve ser realizado e algumas 
questões específicas devem ser 
necessariamente respondidas. Um 
exame físico completo e detalhado deve 
ser realizado e uma “lista de problemas” 
deve ser considerada. As causas da 
infertilidade são muitas e podem 
comprometer vários órgãos e sistemas. 
O profissional deve seguir um roteiro 
específico ou um plano diagnóstico para 
chegar à causa primária da infertilidade. 
Histórico reprodutivo completo
Além de dados gerais referentes à idade, 
raça, alimentação, vacinações, doenças 
anteriores, medicaçõesetc., questões 
sobre o ciclo estral devem ser discutidas, 
como intervalo interestro: duração, 
fases do ciclo estral e administração de 
hormônios; coberturas prévias: esquema 
de coberturas, comportamento durante 
a cobertura, cobertura natural ou 
inseminação artificial; gestações prévias: 
gestações anteriores, problemas durante 
o parto, número de filhotes, histórico 
de abortos; fator macho: antes de se 
iniciar toda e qualquer investigação 
sobre infertilidade em fêmeas, o macho 
deve ser avaliado. A razão para que 
os machos sejam avaliados antes é a 
facilidade de examiná-los; os machos 
são continuadamente férteis, ao 
contrário das fêmeas, que são férteis 
somente 2 a 3 semanas/ano. A maneira 
mais fácil e rápida de se conhecer a 
fertilidade do macho é saber a respeito 
de seu histórico reprodutivo anterior: 
se esse macho acasalou e emprenhou 
uma fêmea que pariu filhotes vivos e 
saudáveis, num prazo de até 4 meses, 
podemos considerar esse macho fértil. 
Entretanto, esse histórico não descarta 
a realização de um exame andrológico 
completo. Uma avaliação seminal 
normal comprova a fertilidade de um 
macho, mas uma avaliação alterada 
ou dificuldade para obtenção de uma 
amostra de sêmen torna o macho 
suspeito. São necessárias duas ou 
três análises de sêmen anormais para 
comprovar a infertilidade masculina.
Todo macho ativo deve ser testado 
a cada seis meses para brucelose; cães 
menos ativos podem ser checados 
anualmente ou imediatamente antes da 
cobertura. No homem, a infertilidade 
masculina responde por 40% das falhas 
de concepção. Até o momento, não 
existem estatísticas específicas nos cães, 
mas uma situação semelhante deve 
existir.
Exame físico detalhado
Todos os sistemas devem ser 
examinados e o aparelho reprodutor 
deve ser avaliado detalhadamente: a 
REPRODUÇÃO
6
vulva deve ser inspecionada para checar 
o tamanho, conformação e presença 
de secreção; vulva muito pequena 
ou recoberta por uma dobra de pele, 
em cadelas obesas, pode impedir ou 
dificultar a cobertura natural; vagina: 
a palpação digital da vagina deve ser 
sempre realizada, um dedo enluvado 
deve ser introduzido no canal vaginal 
permitindo avaliar o lúmen, a abertura 
da uretra, presença de massas, estenoses 
vaginais; vaginoscopia: o uso de um 
rinoscópio limita bastante a avaliação 
do lúmen vaginal, no entanto, o uso 
de um protoscópio pediátrico ou de 
um endoscópio rígido corresponde ao 
equipamento ideal para reconhecer as 
modificações da aparência da mucosa 
vaginal, associadas às fases de ciclo estral 
nas cadelas; citologia vaginal: deve fazer 
parte de toda a avaliação reprodutiva, são 
fáceis de se fazer, rápidas e informativas; 
palpação abdominal: com exceção 
da gestação e da piometra, o útero 
dificilmente é avaliado com segurança; 
glândulas mamárias: devem ser sempre 
inspecionadas e palpadas com cuidado 
para identificar nódulos e secreção 
láctea.
1) Manejo inadequado de 
cobertura é a causa mais comum de 
infertilidade aparente nas cadelas. 
Essa condição ocorre devido ao uso 
de critérios errados utilizados para 
o estabelecimento de protocolos de 
coberturas. Os erros mais frequentes 
são: apenas uma cobertura/ciclo, 
coberturas em dias predeterminados, 
coberturas após o término de secreção 
sanguinolenta ou quando o proprietário/
criador espera o macho na determinação 
da cobertura. Nesse caso, a fêmea é 
acasalada em momento inadequado do 
ciclo estral. 
Devemos considerar que o 
conhecimento da fisiologia reprodutiva 
das fêmeas caninas é imprescindível 
para o estabelecimento de esquemas 
de cobertura ou de IA (inseminação 
artificial). Assim, várias coberturas/ciclo 
eliminam a chance de erros em relação 
ao momento de maior fertilidade do 
ciclo estral das cadelas – do 4º ao 7º 
dia após onda pré-ovulatória de LH 
(hormônio luteinizante). Não é raro que 
algumas cadelas apresentem proestro 
e estro mais longos ou mais curtos 
do que a duração normal (média de 
9 dias para o proestro e 7 dias para o 
estro). Sendo assim, coberturas ou 
IA em datas preestabelecidas perdem 
completamente o valor. 
Algumas cadelas sangram durante 
todo o proestro e estro, inclusive nos 
primeiros dias do diestro; outras, ao 
contrário, não sangram nunca ou 
sangram muito pouco. Portanto, esperar 
para liberar a cobertura após o término 
de sangramento é desaconselhável.
Manejo de coberturas devem seguir 
critérios ou parâmetros reconhecidos, 
como observação do comportamento 
das fêmeas próxima ao macho. Quando 
receptiva, a fêmea deve ser acasalada a 
cada 2 ou 3 dias até refutar o macho.
Algumas cadelas se recusam a ser 
cobertas por um macho em particular 
ou até mesmo por todos os machos, a 
despeito do reconhecimento correto 
do estro. Nesse caso, comportamento 
de dominância e submissão deve ser 
considerado, sendo indicado a IA.
Outro critério que deve ser usado 
no estabelecimento de esquemas de 
coberturas ou IA é a citologia vaginal 
diária ou a cada 48 horas; essa técnica 
é rápida, pouco onerosa e reflete 
indiretamente as concentrações de 
estrógenos na circulação. A progesterona 
plasmática também é um critério 
relevante na determinação do momento 
ideal de cobertura ou IA, devendo ser 
sempre utilizada quando da utilização 
de sêmen resfriado ou descongelado. 
Uma concentração próxima de 5 ng/mL 
corresponde ao momento das ovulações.
É interessante que se associem 
critérios seguros para estabelecer 
protocolos de coberturas ou IA, ou seja, 
utilizar a observação do comportamento, 
citologia vaginal e progesterona 
plasmática. Assim, as chances desse 
protocolo resultar em gestação são 
muito grandes.
2) Doenças metabólicas – 
Hipotireoidismo: a avaliação da 
tiroide deve ser sempre considerada 
relevante, em casos de infertilidade. O 
hipotireoidismo é descrito como uma 
doença frequente nos cães, embora 
seja subdiagnosticada por muitos 
profissionais.
3) Brucelose – A B. canis causa 
aborto no final da gestação, reabsorção 
embrionária e infertilidade em cães. Em 
situação de canil comercial, todas as 
fêmeas devem ser avaliadas com o teste 
de aglutinação rápida (TAR); nesse 
teste, a porcentagem de falsos positivos 
é grande e, nesse caso, as fêmeas devem 
ser isoladas e retestadas 30 dias após, 
com o teste de aglutinação lenta, em 
tubos ou cultura sanguínea ou PCR 
(reação em cadeia da polimerase).
4) Herpesvírus Canino (HVC) 
– essa virose causa aborto no final da 
gestação. A avaliação dos títulos de HVC 
antes das coberturas pode identificar 
uma maior ou menor susceptibilidade à 
infecção.
5) Hiperplasia Endometrial 
Cística (HEC) e Piometra – A HEC 
é uma modificação do endométrio, 
decorrente de uma estimulação crônica e 
recorrente de progesterona, o que ocorre 
normalmente durante o ciclo estral 
das fêmeas caninas. Cadelas adultas e 
idosas frequentemente apresentam um 
endométrio comprometido pela HEC. 
LISTA DE PROBLEMAS
Fêmeas receptivas com Intervalo Interestro 
Normal – IIN: Nesse grupo estão inclusos manejo 
inadequado de cobertura, alterações metabólicas, 
brucelose, herpesvírus, hiperplasia cística do 
endométrio/Piometra, Insuficiência Lútea.
Intervalo Interestro prolongado
Estro persistente
Intervalo Interestro curto
Fêmeas não receptivas com Intervalo Interestro 
Normal – IIN: Alterações de comportamento e 
anormalidades físicas.
REPRODUÇÃO
7
Soma-se a essa condição (doença de 
base) uma infecção bacteriana causada 
principalmente pela E. coli. A condição 
HEC mais piometra é uma causa comum 
de infertilidade nas cadelas. A HEC 
não é diagnosticada facilmente, a menos 
que a fêmea seja submetida a exames 
ultrassonográficos, com equipamentos 
sofisticados. A HEC é classificada, 
histologicamente, em quatro graus, de 
acordo com a gravidade. HEC de grau I 
e II são compatíveis com implantação, já 
os graus III e IV são incompatíveis com 
implantação e, portanto, responsáveis 
por quadros de infertilidade.
6) Insuficiência Lútea ou 
Hipoluteodismo – é uma condição rara 
em cadelas e significa uma produção 
diminuídade progesterona, pelos corpos 
lúteos, dificultando a manutenção da 
gestação. Existe uma dificuldade muito 
grande no diagnóstico de insuficiência 
lútea primária ou secundária. No quadro 
primário, os corpos lúteos produzem 
pouca progesterona ou por um tempo 
menor do que aquele considerado 
normal. Já no quadro secundário, 
alterações uterinas podem produzir 
prostaglandinas F2α e, indiretamente, 
causar lise dos corpos lúteos e 
diminuir a produção de progesterona. 
A insuficiência lútea pode causar 
reabsorção embrionária ou abortos, na 
dependência do período da gestação em 
que ela ocorra. O diagnóstico é realizado 
com dosagens seriadas de progesterona, 
durante todo o período da gestação.
Fêmeas NÃO receptivas com 
Intervalo Interestro Normal – 
IIN
1) Alterações de comportamento 
– O comportamento é um fator 
importante na performance reprodutiva 
dos animais, em geral. Algumas fêmeas 
escolhem os machos; quando um casal 
de cães convive junto, geralmente a 
fêmea é dominante e às vezes não 
aceita o macho mesmo no período de 
receptividade máxima. Outras cadelas 
refutam todos os machos e, nesse caso, 
a IA é recomentada.
2) Anormalidades físicas – 
as principais causas de infertilidade 
relacionadas a anormalidades físicas 
nas cadelas são as estenoses vaginais 
e a hiperplasia vaginal. As estenoses 
vaginais são alterações de origem 
congênita e comuns nas cadelas. As 
estenoses vaginais são de vários tipos: 
vagina dupla; anel anular; septo vaginal; 
hipoplasia vaginal; hipoplasia vulvar, 
e são diagnosticadas durante o exame 
clínico com a inspeção cuidadosa da 
vulva e vagina, e pela palpação digital 
da vagina. Durante a cobertura, a cadela 
sente dor e o macho tem dificuldade 
durante a penetração do pênis, o que 
resulta numa incapacidade de cobertura 
natural. Nesse caso, o diagnóstico deve 
ser realizado com segurança – palpação 
digital da vagina, vaginoscopia e 
vaginograma. A IA é indicada.
3) Hiperplasia vaginal – Ocorre 
na fase folicular do ciclo estral (proestro 
e estro) e está relacionada a uma 
resposta exagerada da mucosa vaginal, 
frente às concentrações de estrógenos. 
A hiperplasia vaginal é classificada em 
quatro graus, de acordo com a maior 
ou menor exposição da mucosa vaginal, 
através dos lábios vulvares. As cadelas 
tendem a repetir essa condição em todos 
os ciclos e a indicação é de retirada dessa 
fêmea da reprodução.
Intervalo Interestro Prolongado
O intervalo interestro nas cadelas é, 
em média, de 7 meses, com exceção de 
algumas raças que ciclam sempre uma 
vez por ano. Cadelas idosas apresentam 
IIE mais longos.
1) Cios Silenciosos – 
Algumas fêmeas apresentam poucas 
manifestações de cio: pouca secreção 
sanguinolenta durante o proestro; edema 
de vulva imperceptível. Se a cadela 
permanece confinada, sem contato 
com outros cães que, eventualmente, 
poderiam identificar o proestro e 
estro, essa fase folicular do ciclo estral 
pode permanecer desapercebida pelos 
proprietários. Essa fêmea, a despeito 
de apresentar cios silenciosos ou não 
identificados, apresenta uma fertilidade 
normal. Esse animal deveria ser 
monitorado com dosagens mensais de 
progesterona sérica ou com citologias 
vaginais semanais, manejo social e 
inspeção detalhada da vulva.
2) Hipotireoidismo – pode 
causar IIE prolongado e falhas 
ovulatórias. Os sinais mais comuns de 
casos de hipotireoidismo são: depressão; 
anorexia; alopecia; anemia não 
regenerativa; hipercolesterolemia. Após 
correção hormonal adequada, a fêmea 
apresenta regularidade cíclica.
3) Cistos/Neoplasia ovarianas 
– cistos luteais se caracterizam pela não 
ocorrência das ovulações; produzem 
progesterona de forma independente, 
sem controle do eixo hipotálamo/
hipófise/ovário. A produção 
independente de progesterona 
resulta em IIE prolongado e estimula 
o aparecimento da hiperplasia 
endometrial cística. Na maioria das 
vezes, as fêmeas portadoras de cistos 
luteais são diagnosticadas com HEC/
Piometra.
Os tumores das células da granulosa, 
mais frequentes em cadelas adultas e 
idosas, também produzem progesterona 
de forma independente do eixo 
hipotálamo/hipófise/gônada, resultando 
no mesmo quadro hormonal dos cistos 
luteais. O diagnóstico dessas alterações 
hormonais é feito com base no exame 
clínico, radiográfico, ultrassonográfico e 
na laparotomia exploratória.
Intervalo Interestro Curto 
O intervalo interestro compreende 
a fase do diestro e do anestro do ciclo 
estral de cadelas. Esse intervalo dura, em 
média, 7 meses, podendo variar de 4,5 a 
10 meses. A fase do diestro corresponde 
a fase lútea do ciclo, com produção de 
progesterona pelos corpos lúteos, e dura 
aproximadamente 60 dias nas cadelas 
gestantes e de 70 a 80 dias nas cadelas 
não gestantes. Já a fase do anestro dura 
em média de 4 a 5 meses e,
8
REPRODUÇÃO
nesse período, o útero se recupera da 
estimulação progestacional e apresenta 
condições de uma nova implantação e 
manutenção da gestação. Um intervalo 
interestro curto (IIC), inferior a 4 
meses, geralmente está associado a um 
quadro de infertilidade.
1) Falha nas ovulações - algumas 
fêmeas podem apresentar falha nas 
ovulações. Nesse caso, não ocorre a 
formação dos corpos lúteos, as cadelas 
não apresentam o diestro e encurtam 
em 60 dias o intervalo interestro. 
2) Anestro curto – nesse caso 
o anestro é 30 a 60 dias mais curto 
que o normal, o útero não se recupera 
completamente, o que dificulta o 
processo de implantação. Nessas duas 
situações (falha das ovulações e anestro
mais curto), a despeito das cadelas 
apresentarem estro normal, embora 
sejam acasaladas por machos férteis, não 
emprenham. 
3) Split Cio – acomete cadelas 
jovens e, geralmente, desaparece 
com a maturidade sexual. É uma 
condição na qual as cadelas apresentam 
comportamento característico de 
proestro por um período de 5 a 7 
dias, com edema de vulva, secreção 
sanguinolenta e atração dos machos. 
Depois desse tempo, a cadela deixa de 
apresentar esses sinais. De 4 a 8 semanas 
mais tarde, as cadelas apresentam 
novamente sinais de proestro e, nesse 
momento, a fase folicular é completa, 
com duração de 15 a 20 dias; caso 
a fêmea seja acasalada, tem grande 
possibilidade de emprenhar
e parir normalmente. 
4) Cisto Folicular – são mais 
frequentes em fêmeas jovens. Cadelas 
com cisto folicular podem apresentar 
IIC e, algumas vezes, estro persistente. O 
diagnóstico de cisto folicular é realizado 
por ultrassonografia. O tratamento pode 
ser realizado com hormônio liberador 
de gonadotrofina (GnRH), hormônio 
luteinizante (LH) e, em alguns casos, 
ovariohisterectomia (OSH).
5) Neoplasia Ovariana – 
diferentemente dos cistos foliculares, 
as neoplasias ovarianas acometem as 
fêmeas idosas. O tumor das células 
da granulosa são funcionais e podem 
produzir estrógenos, sinalizando 
estros frequentes ou persistentes.
ovariohisterectomia (OSH).
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
9
COMPLEXO HIPERPLASIA CÍSTICA ENDOMETRIAL/
PIOMETRA EM CADELAS: O QUE HÁ DE NOVO?
Dra. Marilu Martins Gioso 
(Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Cirurgia, Setor de Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres. 
Email: mmgioso@yahoo.com.br) 
 Resumo
A piometra canina é uma doença 
reprodutiva, infecciosa e inflamatória, 
que afeta o útero de cadelas, sendo 
registradas mais frequentemente na 
fase diestro. Na rotina da clínica de 
animais de companhia, frequentemente 
os médicos veterinários se deparam 
com animais que apresentam este 
quadro e necessitam decidir, de maneira 
rápida e objetiva,sobre a melhor 
forma de tratamento, já que se trata 
de uma situação de risco e pode ser 
potencialmente fatal. Pela importância 
desta patologia, propôs-se, nesta 
revisão de literatura, expor os conceitos 
atuais da etiopatogenia do complexo 
hiperplasia endometrial cística/
piometra abordando os sinais clínicos, 
laboratoriais e os atuais tratamentos 
(conservativos ou não). 
Introdução:
Os casos de Complexo Hiperplasia 
Endometrial Cística/Piometra (HCE/
PIO) em cadelas vêm aumentando 
consideravelmente. Atualmente, esta 
patologia não é só diagnosticada 
em cadelas nulíparas e de idade 
avançada como antes estabelecido, 
mas também em animais de qualquer 
idade, principalmente em casos de 
administrações de medicamentos 
que previnem o aparecimento do 
sangramento vulvar ou que impedem a 
fertilização após o coito. Estas últimas 
ações são realizadas rotineiramente 
pelos proprietários, leigos e até 
por profissionais desavisados das 
consequências destes procedimentos. 
Outros fatores predisponentes incluem 
ciclos estrais irregulares e pseudociese.
Estudos recentes indicaram que 
cerca de 19% das fêmeas nulíparas de 
até 10 anos de idade apresentam esta 
enfermidade. Já outros dados revelaram 
que, após os 9 anos, a prevalência da 
infecção pode chegar a mais de 60% e, 
antes dos 6 anos, o aparecimento está 
relacionado com a administração de 
progesterona ou estrógeno exógenos. 
Em relação à mortalidade, uma revisão 
recente sobre o tema citou que a 
mortalidade total oriunda da piometra 
é reportada, aproximadamente, em 10%, 
quando a eutanásia também é incluída 
na avaliação.
Em relação às raças, as maiores 
incidências foram apontadas em Golden 
Retriever, Schnauzer, Terrier Irlandês, 
Saint Bernard, Airedale Terrier, Cavalier 
King Charles Spaniel, Rouggh Collie, 
Rottweiler, Bernese e Cocker Spaniel. 
Outro trabalho mais atual corrobora 
com estes estudos ao relatar que o fator 
“raça” pode influenciar fortemente 
no risco de desenvolver a piometra, 
o que indica que fatores genéticos 
podem contribuir para um aumento ou 
diminuição da suscetibilidade.
Por conceito, o HCE/PIO é 
definido como uma afecção uterina 
que se desenvolve no período de 
diestro do ciclo estral. Isto é, um 
distúrbio hormonalmente mediado 
que acomete a maioria das cadelas 
durante a fase progesterônica do ciclo 
e está relacionado com hiperplasia das 
glândulas endometriais associada à 
contaminação bacteriana. Sua patogenia 
ainda não está completamente explicada, 
mas sabe-se que é decorrente da 
combinação dos hormônios estrógeno 
e progesterona adicionada à presença de 
bactérias, o que torna o conhecimento 
da fisiologia do ciclo estral desta espécie 
um pré-requisito para o entendimento 
da etiopatogenia da afecção. 
Objetivou-se, com esta revisão de 
literatura, a exposição dos conceitos 
REPRODUÇÃO
10
atuais da etiopatogenia do complexo 
hiperplasia endometrial cística/piometra 
em cadelas. Também foram abordados 
os aspectos clínicos, laboratoriais e os 
tratamentos utilizados.
Conceitos atuais sobre a 
etiopatogenia do complexo 
Hiperplasia Cística Endometrial/
Piometra
Para cadelas no diestro, em 
condições fisiológicas, os elevados 
níveis de progesterona induzem 
ao desenvolvimento das glândulas 
endometriais e ao aumento na secreção 
das mesmas. Além disso, sua ação sobre 
o fechamento da cérvix e a inibição da 
atividade contrátil do miométrio impede 
a drenagem de fluido intrauterino, com 
inibição da resposta leucocitária, o que 
favorece ainda mais as modificações 
estruturais do útero e, assim, esta 
condição se torna um fator contribuinte 
para o desenvolvimento da HCE/PIO. 
Desta maneira, o papel dos hormônios 
no desenvolvimento da doença tem sido 
debatido, porque, na maioria das vezes, 
estas concentrações de progesterona são 
comparáveis às de cadelas saudáveis, 
em estágios semelhantes do ciclo estral. 
Contudo, pesquisas atuais referem que 
o efeito e aparecimento da doença 
pode variar, dependendo da expressão 
diferente dos receptores hormonais 
presentes no útero. 
As novidades sobre a etiopatogenia 
da enfermidade tendem a seguir para 
o estudo biomolecular dos eventos 
locais geradores da HCE/PIO. Alguns 
autores destacaram novas pesquisas 
que demonstram a maior sensibilidade 
e síntese de receptores da progesterona 
nas células endometriais; outros sobre a 
diminuição de respostas imunológicas 
por ações secundárias, tem-se ainda 
alguns autores que comentaram sobre 
a síntese de receptores que podem 
aumentar a adesão de bactérias no 
endométrio e, ainda, expressões 
aumentadas de enzimas da rota 
esteroidogênica, que proporcionam 
síntese de progesterona local. Portanto, 
vários pesquisadores estudam, hoje 
em dia, as condições de formação da 
enfermidade, na tentativa de gerar 
informações de como prevenir e 
como utilizar/prescrever os melhores 
tratamentos. 
Sobre as bactérias presentes em 
animais sabidamente diagnosticados 
com HCE/PIO, é importante salientar 
a capacidade que algumas bactérias, 
como a E. coli, apresentam em aderir 
ao endométrio uterino quando sob a 
influência da progesterona. Há alguns 
fatores que levam à expressão de 
receptores endometriais, aumentando 
a adesão bacteriana no endométrio de 
animais com piometra. 
Ainda sobre os hormônios, um 
efeito negativo da progesterona sobre 
a maturação das células dendríticas 
apresentadoras de antígenos foi descrito 
como um fator que também poderia 
contribuir para uma diminuição da defesa 
imunológica. O aumento da expressão 
da 3β-hidroxiesteroide desidrogenase 
no tecido uterino do endométrio 
foi recentemente demonstrado em 
cadelas com complexo HCE/PIO. 
Surpreendentemente, estas descobertas 
indicaram a possibilidade de haver 
uma síntese de progesterona local que 
poderia estar envolvida na patogênese 
e promover o desenvolvimento de 
piometra, ainda que os níveis de 
progesterona circulantes estejam dentro 
do normal.
A respeito do estradiol, esse esteroide 
possui várias ações sobre o útero, 
algumas das quais são fisiologicamente 
antagonistas à ação da progesterona. 
Ele é responsável pelo aumento da 
vascularização, edema e crescimento do 
endométrio, útero e cérvix. Promove, 
ainda, o relaxamento e dilatação 
da cérvix, aumento da intensidade 
de contração do miométrio, o que 
promove a drenagem do conteúdo 
uterino. Possui um efeito bactericida 
sobre o útero, uma vez que aumenta a 
taxa de migração de neutrófilos para 
dentro do lúmen uterino. Desta forma, 
os estrógenos liberados durante o 
estro provocam uma hiperplasia do 
endométrio com o estrógeno favorece 
a formação de receptores endometriais 
de progesterona, hormônio responsável 
pela, além das funções supracitadas, 
atividade das glândulas uterinas, 
de modo a permitir a nutrição dos 
embriões até sua implantação. Como 
consequência desta ação conjunta dos 
dois hormônios, a parede do endométrio 
aumenta em até cinco vezes.
Em suma, a interação da progesterona 
com o estrógeno é responsável 
pelo desenvolvimento, progressão 
e severidade da piometra, sendo 
complicada com a migração secundária 
de bactérias via ascendente. Por estas 
razões, tanto a administração de 
progestágenos, quanto estrógenos 
exógenos para controle da fertilidade 
são fatores que podem levar ao 
surgimento do HCE/PIO. Suscita-se 
que a administração de progestágenos 
exógenos, como alguns contraceptivos 
disponíveis no mercado, também 
favoreceria estas alterações. No caso do 
estrógeno, o mesmo aumenta o número 
de receptores de progesterona no útero, 
o que explica o aumento de incidência 
de piometra em animais que recebem 
estrógenos exógenos durante o diestro 
inicial para impedir a gestação.
Como já mencionado, a Escherichia 
coli se destaca como o agente mais 
comumente isolado em 90% das 
piometras. Estudos ultraestruturais têm 
demonstrado que este microrganismo 
possui grande afinidade pelo endométrio 
e miométrio, fixando-se de forma estável 
na parede uterina e dificultando sua 
eliminação, pelo sistema de defesa local.Porém, deve-se informar que outras 
bactérias também podem ser isoladas 
em úteros com piometra: Staphylococcus 
aureus e S. intermedius, Streptococcus 
spp., Streptococcus canis, Pseudomonas 
spp., Klebisiella sp., Corynebacterium 
sp., Enterococcus sp., Pasteurella sp., 
Serratia sp., Haemophilus sp. Bacillus 
sp. e Proteus spp. Estes microrganismos 
estão presentes em todo o trato genital 
de fêmeas normais, o que indica que 
fazem parte da população de bactérias 
autóctones e que participam apenas 
como oportunistas no evento.
REPRODUÇÃO
11
 Achados clínicos
Pela anamnese, relatam-se a presença 
de polidipsia, poliúria, secreções vaginais 
mucopurulentas, registros do último cio 
há 3-8 semanas, apatia e, mais raramente, 
distensão abdominal. A ocorrência da 
afecção em animais mais jovens não é 
comum, mas pode ser evidente naqueles 
tratados com estrógenos (por exemplo, 
cipionato de estradiol) ou progestágenos 
(por exemplo, acetato de megestrol), 
para supressão ou indução do estro, 
contracepção ou indução do aborto.
Em relação ao grau de severidade 
dos quadros de HCE/PIO, quando a 
cérvix está totalmente ou parcialmente 
fechada, há acúmulo mais acentuado de 
secreção no lúmen uterino, conduzindo 
ao quadro clínico geralmente mais 
grave, com depressão e toxemia. Outra 
evolução importante, que também 
contribui para a alta mortalidade, é a 
sepse, possibilidade sempre presente, 
especialmente em piometra fechada. 
Além disso, pode haver a taquicardia, 
preenchimento capilar prolongado e 
pulso femoral fraco. 
Outras sintomatologias são: descarga 
vaginal (80%), apatia (79%), anorexia 
(79%), polidipsia (63%), febre (43%), 
útero palpável (40%), poliúria (38%), 
vômitos (33%), diarreia (26%) e 
desidratação (15%), achados estes mais 
frequentemente relatados em uma 
pesquisa de Wheaton et al. (1989). Já 
os sinais menos frequentes observados 
incluem distensão abdominal, edema e 
aumento da vulva.
O volume da secreção vaginal é 
variável e dependente do grau de 
abertura da cérvix, podendo ser 
intensa, moderada ou ausente (Figura 
1), a coloração também é distinta, 
variando desde amarelo-acinzentada 
até amarronzada, com odor fétido. A 
duração dos sinais clínicos também não 
obedece a um padrão.
Achados complementares e 
laboratoriais
Podem-se destacar como exames 
complementares e laboratoriais: 
hemograma, bioquímico (principal-
mente das enzimas hepáticas e 
urinárias), urinálise, radiográfico e 
ultrassonográfico. O hemograma 
pode estar normal em animais com 
HEC/PIO, caso estes pacientes não 
apresentam sepse, mas a leucometria 
de cadelas com piometra é quase 
sempre característica de inflamação 
supurativa ou purulenta, isto é, presença 
de leucocitose, neutrofilia com desvio 
à esquerda com formas imaturas e 
monocitose substancial. Além disso, o 
aumento da contagem de leucócitos e 
a diminuição da contagem de linfócitos 
são diretamente proporcionais à 
gravidade da doença.
Porém, quanto à peritonite, observada 
em aproximadamente 10% dos casos, 
um estudo recente encontrou relação 
entre a leucopenia e a temperatura retal 
anormal (aumentada ou diminuída) 
com o estado de depressão moderada 
a grave da condição geral do animal, 
com maior risco de hospitalização pós-
operatória.
Sobre a piometra crônica, não é difícil 
encontrar uma discreta anemia normocítica 
normocrômica não regenerativa (VG 
28 a 35%), sendo que essa anemia se dá 
pela perda de eritrócitos, por diapedese, 
para o lúmen uterino pela depressão 
tóxica da eritropoiese. 
Na avaliação hepática, observam-
se níveis elevados de fosfatase alcalina 
(FA), geralmente, com mais frequência 
em animais anoréxicos ou obesos, devido 
à hipercolesterolemia, por sua vez, 
atribuída ao catabolismo e à septicemia. 
Podem-se detectar hiperproteinemia e 
hiperglobulinemia por desidratação e/
ou estimulação antigênica crônica do 
sistema imune.
Uma piometra, principalmente 
quando causada por E. coli, pode 
evoluir para insuficiência renal, 
consequência da glomerulonefrite de 
origem imunológica, que é agravada 
pela azotemia pré-renal, devido à 
desidratação associada ao choque 
séptico.
Em relação à atividade das enzimas 
renais, se houver aumento de creatinina, 
é indicativo de comprometimento renal. 
A uréia, embora também evidencie 
alteração renal, pode estar aumentada 
em outras alterações não renais, ou 
seja, não é específica. Este fato remete 
a considerá-la como um marcador da 
quantidade de agentes nitrogenados, 
os quais podem estar aumentados por 
razões não renais, como na ingestão de 
dietas com altos índices de proteína. 
Sendo assim, na vigência de um caso em 
que o proprietário não dispõe de recursos 
para a realização de todos os exames, 
a escolha da creatinina é a atitude 
mais sensata para se avaliar o grau de 
comprometimento renal. As principais 
alterações observadas na urinálise, 
em estudos de cadelas com piometra, 
foram: diminuição da densidade (< 
1030) e proteinúria. As frequências das 
principais alterações relacionadas a esta 
afecção estão sumarizadas na Tabela 1.
Figura 1. Cadela com corrimento 
hematopurulento, diagnosticada 
com complexo HCE/PIO.
REPRODUÇÃO
12
Tabela 1. Frequência relativa (%) 
das principais alterações encontradas 
nos exames laboratoriais de cadelas 
com piometra em diferentes estudos.
Ainda sobre exames complementares, 
a ultrassonografia tem sido cada vez 
mais utilizada como método auxiliar 
de diagnóstico. Esse tipo de exame 
tem utilidade na determinação das 
dimensões do útero (aumento uterino), 
diversos graus de espessamento de 
parede ou paredes finas com ou sem 
cistos endometriais, presença de líquido 
e estruturas fetais no interior do órgão. 
No caso do HCE/PIO (Figura 2), 
observam-se o útero dilatado, presença 
de uma imagem ultrassonográfica de 
uma estrutura tubular bem definida, 
com o conteúdo luminal uterino menos 
ecogênico que a parede, e cintilações 
ecogênicas bem evidentes. 
Mais recentemente, com a utilização 
do Doppler, pôde-se detectar o fluxo 
sanguíneo uterino e, assim, auxiliar 
na diferenciação da piometra versus 
hiperplasia cística endometrial versus 
útero normal. A velocidade do fluxo 
da artéria uterina em cadelas que 
apresentam a piometra é superior 
àquelas que apresentam somente 
a hiperplasia cística endometrial. 
Adicionalmente, estes animais que 
apresentam a hiperplasia acompanhada 
ou não por conteúdo, obtiveram a 
velocidade de fluxo superior ao útero 
normal. Isto é, animais com piometra 
apresentam maiores fluxos sanguíneos 
da artéria uterina em relação ao útero 
apenas com hiperplasia, e esse fluxo é 
superior quando comparado ao útero 
normal. Estes padrões hemodinâmicos 
são úteis marcadores para diferenciar as 
duas condições patológicas (piometra 
versus hiperplasia). 
Adicionalmente, a citologia vaginal 
(Figura 3) descamativa constitui um 
adjuvante útil para o histórico e o exame 
clínico na determinação do estágio do 
ciclo estral em cadelas. Como a piometra 
ocorre predominantemente no diestro, 
o uso da citologia vaginal é ideal para 
a identificação sobre qual fase do ciclo 
a cadela está no momento. Também, 
pode-se almejar a identificação do 
microrganismo com a cultura vaginal e 
posterior isolamento e antibiograma.
Sobre as atualidades para diagnóstico 
da HCE/PIO, novas tecnologias 
“ômicas” e métodos de sequenciamento 
rápido foram desenvolvidos, o que 
levou a possibilidades de novos 
estudos. Um estudo de ativação de 
genes identificou 29 genes que são 
“suprarregulados” (upregulated) durante 
a doença. É importante salientar que os 
produtos dos genes “upregulated” seriam 
indicadores de diagnósticos possíveis 
para utilização na prática clínica se, 
para isso, fossem desenvolvidos testes 
de diagnóstico rápidos e econômicos. 
Novos testes de diagnóstico podem 
ser valiosos, especialmente em casos 
desafiadores, nos quais os sinais clínicos 
são obscuros e a aparência uterina é de 
difícil interpretação. Deve-se salientar 
que a expressão destes genes, acima 
citados,variam, dependendo se o colo 
do útero está fechado ou aberto e de 
casos em que houve administração de 
progesterona exógena. Desta maneira, 
ainda não se sabe se essas diferenças 
podem influenciar ou não na resposta 
aos resultados das análises, porém, é 
altamente valioso desenvolver testes de 
diagnóstico de caráter molecular, se os 
mesmos forem de alto custo-benefício, 
pois, seriam clinicamente úteis para 
diagnósticos precoces de piometra.
Tratamentos
A escolha do melhor tratamento 
(clínico ou cirúrgico) deverá ser 
conduzida de acordo com as condições 
de saúde do animal e sua utilidade 
(serviço). Sendo que algumas condições 
são consideradas obrigatórias para a 
instituição do tratamento conservativo, 
como: animais em idade reprodutiva e 
utilizados para tal fim, sinais clínicos 
e laboratoriais brandos, evidência de 
endotoxemia e a condição de cérvix
ACHADOS E PARÂMETROS 
LABORATORIAIS
FREQUÊNCIA
RELATIVA (%)
Leucocitose
Hipergamaglobulinemia
Aumento creatinina
Aumento fosfatase 
alcalina
Anemia normocítica 
normocrômica
Leucocitose com desvio 
à esquerda 
Hematócrito
Hipoalbuminemia
Aumento uréia
Diminuição da
densidade urinária
51a
27e
11,8g
43f
25-25,7c,d
70-80b,c
21-48e
23e
35,3g
20,4g
Referências Bibliográficas
a Prestes et al., 1991.b Ewald, B.H, 
1961; c Wheaton et. al., 1989. d Hardy 
e Osborne, 1974.e Stone et al., 1988. f 
Sevelius et. al., 1990. g Barros et. al., 
2005.
Figura 2. Ultrassom abdominal 
de cadela com piometra.
Figura 3. Citologia vaginal em 
cadela com suspeita de piometra. 
Presença das células parabasais 
e intermediárias, e citoplasma 
com vacúolos. Note a presença de 
neutrófilos acima de 30% por campo.
REPRODUÇÃO
13
aberta (com presença de secreção 
vaginal). Caso estes critérios não 
sejam observados, deve-se optar pelo 
tratamento cirúrgico.
Em resumo, a piometra pode ser tratada 
por terapia cirúrgica ou por terapia 
médica, mas a escolha do tratamento 
(Quadro 1) depende da gravidade do 
quadro clínico do animal e de outros 
fatores descritos abaixo.
Independentemente da escolha do 
tratamento, em todas as ocorrências, 
deve-se realizar a antibioticoterapia, com 
o uso de um antibiótico bactericida de 
amplo espectro e eficaz, principalmente 
para E. coli. As cefalosporinas 
(cefazolina), as penicilinas (ampicilina, 
amoxicilina com ácido clavulânico) 
e quinolonas (enrofloxacina) são os 
antibióticos utilizados com maior 
frequência. Outros autores trabalharam 
com metronidazol e ceftriaxona 
conjuntamente, e obtiveram sucesso. 
Além disso, a fluidoterapia intravenosa 
deve ser administrada para correção 
dos déficits hidroeletrolíticos existentes, 
além de manter a perfusão tecidual 
adequada e para melhorar a função 
renal. 
Sobre o tratamento conservativo, este 
deve atender aos seguintes objetivos: 
recuperar a capacidade reprodutiva 
de animais com alto valor genético, 
drenagem e limpeza uterina, eliminação 
da infecção bacteriana secundária do 
útero e eliminar a fonte produtora de 
progesterona que desencadeia toda a 
síndrome.
Vários protocolos têm sido testados 
para o tratamento clínico do complexo 
HCE/PIO, incluindo a administração 
de estrógenos, testosterona, ocitocina 
e alcaloides derivados do ergot. A 
utilização isolada de antibióticos 
sistêmicos não leva à cura e pode resultar 
no prolongamento da doença.
O estrógeno e a testosterona não são 
ultimamente utilizados, por provocarem 
efeitos adversos e, em algumas situações, 
pela possibilidade de, inclusive, piorarem 
o quadro. Já os derivados de ergot foram 
muito usados nas terapêuticas para o 
HCE/PIO e as drogas antiprolactinicas 
também foram empregadas, pois, 
induzem a luteólise durante a segunda 
metade do diestro. 
Porém, com o advento da 
prostaglandina F2 alpha (PGF2α), 
os ergots e os antiprolactínicos não 
constituem mais a primeira opção de 
terapia. Assim, por volta do ano de 
2001, a PGF2α foi considerada como 
um tratamento de preferência, pois, 
promove lise do corpo lúteo, aumenta a 
contratilidade do miométrio, contribui 
para a liberação do conteúdo séptico 
uterino e, ainda, pode aumentar o 
relaxamento cervical. Deve-se lembrar 
que, para atribuir um tratamento à 
base de PGF2α, a cérvix precisa estar 
aberta, com saída de conteúdo, para que 
não aconteça um possível rompimento 
uterino. Salienta-se, ainda, que este 
tratamento necessita de terapias de 
suporte à base de antibióticos, para 
que auxiliem na limpeza do conteúdo 
uterino com a eliminação dos agentes 
causadores de infecção.
Algumas orientações devem ser 
conhecidas antes de escolher o 
tratamento com PGF2α: 
• Não é aprovada para uso em cães 
e gatos; 
• Não deverá ser utilizada em 
animais com mais de oito anos de 
idade; 
• Não deverá ser utilizada em 
animais que estejam criticamente 
enfermos; 
• Não deverá ser utilizada 
em pacientes com doenças 
concorrentes ou patologias uterinas 
pré-existentes; 
• O paciente deverá ser hospitalizado 
durante o tratamento, pois, poderão 
ocorrer ruptura uterina ou explosão 
retrógrada do conteúdo uterino na 
cavidade abdominal; 
• O único produto recomendado é 
Lutalyse (dinoprost trometamina), 
na dose de 0,1 a 0,25 mg/kg, 
subcutâneo, SID, durante 5 a 7 dias; 
• Devem-se administrar, simulta-
neamente, antibióticos bactericidas 
de largo espectro, lembrando que 
a piometra poderá recidivar depois 
do tratamento.
Atualmente, o antiprogestágeno 
aglepristone tem sido considerado a 
grande inovação no tratamento de 
diversas condições na teriogenologia 
de pequenos animais. Esta classe de 
medicamento compete pelos receptores 
da progesterona ligando-se a eles, 
tendo como consequência a diminuição 
das concentrações deste hormônio, a 
promoção da contratilidade miometrial 
e o relaxamento cervical. Além dessas 
características, não há relatos de efeitos 
adversos associados a sua administração, 
e o estro subsequente ao tratamento 
pode ser fértil.
O protocolo clássico do uso 
deste agente consiste na aplicação 
do aglepristone (10mg/kg) em três 
administrações: nos dias 1 (dia do 
diagnóstico), 2 e 7 ou 2 e 8, com eficácia 
variável (92,3 e 60%, respectivamente). 
Em comparação com o aglepristone 
aplicado isoladamente, a associação do 
aglepristone-cloprostenol aumentou 
a taxa de recuperação no dia 90 
pós-tratamento, de 60 para 84%. 
Lembrando que sempre se deve 
administrar antibiótico juntamente ao 
antiprogestágeno.
TERAPIA
CIRÚRGICA
TERAPIA
MÉDICA
Idade Idosas Jovens
Destino Não vai para a reprodução
Vai para a 
reprodução
Estado clínico
Presença 
de doença 
sistêmica
Animal em 
bom estado 
geral
Cérvix Fechada Aberta
Predisposição 
a efeitos 
colaterais 
após a OSH
Não tem 
predisposição Idosas
Cistos glan-
dulares do 
endométrio
Presença de 
cistos no US
Ausência de 
cistos no US
REPRODUÇÃO
14
O uso do aglepristone já foi descrito, 
associado ao dinoprost trometamina. 
Neste protocolo, preconiza-se a 
administração de aglepristone 10mg/
kg, SC, nos dias 1, 2, 8, 15 e 30 (se 
necessitar); e PGF2α 1mg/kg, SC, nos 
dias 3 a 7. Deve-se realizar a avaliação 
ultrassonográfica a partir do dia 8 e, 
se assim o clínico responsável decidir, 
pode-se suprimir a administração do 
aglepristone no dia 30. Como principais 
causas de falha de tratamento médico 
das piometras podem-se citar: cisto e 
tumores ovarianos, pólipos e tumores na 
luz uterina. 
Em um dos últimos trabalhos citados 
na literatura, para o tratamento da 
piometra, as cadelas foram distribuídas 
aleatoriamente em dois protocolos de 
tratamento: um grupo de tratamento 
clássico (CTG; 26 cadelas), no qual foi 
realizada uma injecção subcutânea de 
10 mg/kg de aglepristone nos dias 0, 
1 e 6, e um outro grupo de tratamento 
modificado (MTG; 47 cadelas), no qual 
a mesma dosagem foi administrada 
nos dias 0, 2, 5 e 8 após o diagnóstico. 
Em ambos os grupos, a terapêutica de 
suporte foi realizada por administração 
de 20 mg/kg/dia de amoxicilina-ácido 
clavulânico, entre os dias 0 a 5, e foi 
fornecido suporte de perfusãopor 
solução intravenosa de Ringer lactato 
(4 -10 ml/kg/h), nos dias 0 a 2-3. Os 
resultados encontrados neste estudo 
foram: o protocolo de tratamento com o 
antiprogestágeno permitiu a recuperação 
da doença em 88,5% (23/26) das cadelas 
do grupo CTG e em 100% (47/47) das 
cadelas do grupo MTG, com diferença 
significativa entre os grupos (p ≤ 0,05). 
Das 26 cadelas do tratamento CTG, 
três delas não se recuperaram após 
a administração dos medicamentos. 
Esses animais receberam uma dose 
de aglepristone no dia 14, sendo que 
houve sucesso em apenas uma cadela, 
e as outras duas foram submetidas a 
ovariohisterectomia.
No caso da escolha do tratamento 
cirúrgico, a ovariosalpingohisterectomia 
(OSH; Figura 4) é o mais preconizado. 
A OSH corresponde a um método 
definitivo e satisfatório e é o tratamento 
mais frequente. Durante o procedimento, 
o útero sempre deve ser manuseado 
com cuidado, pois, dependendo do grau 
de distensão uterina, esse órgão pode 
estar friável e se romper com grande 
facilidade. A remoção cirúrgica do útero 
infectado deve ser feita dentro de 6 a 
12 horas ou até mais cedo, caso o útero 
esteja sob risco de ruptura. A terapia de 
suporte deve ser iniciada imediatamente, 
quando for diagnosticada a piometra e 
deve ser mantida após a cirurgia, por até 
7 a 10 dias.
Em relação ao prognóstico 
desta afecção, dependerá do 
comprometimento do estado geral 
do animal, principalmente da função 
renal. Em cadelas sem evidência de 
insuficiência renal e/ou endotoxemia, 
o prognóstico pode ser de reservado a 
bom. Diferentemente, o prognóstico é 
considerado desfavorável naquelas com 
acentuada disfunção renal, peritonites, 
presença de leucócitos degenerados e/
ou outras afecções concomitantes.
Conclusão
Pela grande incidência e casuística 
do complexo HCE/PIO nas clínicas 
veterinárias, a comunidade científica 
vem a procura de estudos mais completos 
sobre esta enfermidade, na tentativa de 
conseguir elucidar algumas incógnitas, 
principalmente sobre a etiopatogenia, a 
fim de predizer melhores condutas em 
relação aos tratamentos. Portanto, esta 
revisão trouxe os conhecimentos mais 
atuais, tão necessários e de fundamental 
importância para a escolha do melhor 
auxílio a ser instituído em cada caso 
acompanhado.
Figura 4. Ovariosalpingohisterectomia em cadela diagnosticada com piometra.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
15
TERAPÊUTICA HORMONAL
APLICADA À REPRODUÇÃO DE CADELAS
Marcelo Rezende Luz 
(Professor da Escola de Veterinária da UFMG. E-mail: marceloluz@ufmg.br)
Introdução
Diversos fármacos estão disponíveis 
para uso na terapêutica hormonal 
aplicada à reprodução de cadelas. 
Eles podem ser usados em diversas 
situações clínicas comuns do dia-a-dia 
do clínico de pequenos animais, como: 
contracepção; interrupção de gestação; 
indução de cio; inibição da lactação; 
tratamento clínico da piometra, 
dentre outras. No presente trabalho, 
será abordado o uso dos principais 
fármacos disponíveis, descrevendo 
suas indicações, contraindicações 
e possíveis efeitos colaterais. Os 
seguintes grupos de fármacos serão 
abordados: progestágenos; estrógenos; 
prostaglandinas; antagonistas da 
progesterona; inibidores da prolactina e 
ocitocina.
Progestágenos
Também chamados de progestinas, 
são hormônios sintéticos com ações 
similares àquelas da progesterona, 
hormônio fisiologicamente produzido 
pelos corpos lúteos. Podem ser usados 
em diversas situações clínicas, por 
exemplo, como contraceptivos e 
para suplementação da progesterona 
endógena em casos de suspeita de 
insuficiência luteal (hipoluteoidismo). 
Em todas as situações, o organismo 
“entenderá” que há uma grande 
concentração circulante de progesterona 
e, assim, os efeitos gerais variam de 
antigonadotróficos, antiandrogênicos a 
antiestrogênicos.
Dentre os progestágenos tem-se: 1) 
Acetato de medroxiprogesterona, um 
progestágeno potente, de longa ação, 
de uso injetável. Face aos seus efeitos 
colaterais severos e também pelo fato 
de ser injetável e de longa ação, seu 
uso deve ser criteriosamente decidido, 
e sempre na menor dose e pelo menor 
tempo possível; 2) Acetato de megestrol, 
um progestágeno de curta ação, de uso 
oral, mais rapidamente metabolizado 
e com menos efeitos colaterais; 3) 
proligestona, um progestágeno de 
3ª geração, desenvolvido com o 
intuito de exercer seus efeitos apenas 
no eixo gonadotrófico, sem causar 
efeitos colaterais. Entretanto, não foi 
confirmado em algumas pesquisas. 
Embora o uso de progestágenos 
possa causar efeitos colaterais, pode 
ser uma opção quando se deseja uma 
contracepção pontual, sem necessidade 
de tratamentos longos. Não são 
indicados para cadelas reprodutoras. 
Dentre os possíveis efeitos colaterais 
dos progestágenos citam-se piometra; 
tumores mamários; aumento de GH; 
masculinização de fetos fêmeas; 
supressão adrenocortical; diabetes; 
alterações dermatológicas no local da 
aplicação; aumento do apetite; ganho de 
peso; letargia. Assim, os progestágenos 
são contraindicados em cadelas pré-
púberes, com secreção vaginal, com 
histórico de doenças uterinas, mamárias, 
hepáticas ou diabetes.
As principais indicações para uso de 
progestágenos são:
Contracepção: quando administrado 
em cadelas no anestro, previne o retorno 
da atividade cíclica ovariana, mesmo em 
doses baixas, mas por várias semanas. 
Se fornecido quando a cadela já está 
no proestro ou estro, pode suprimir 
as ovulações quando usado em doses 
moderadas a altas. Pode ser usado o 
acetato de megestrol (Preve-Gest®), 
quando no anestro, na dose de 0,55 
mg/kg/dia/oral/32 dias ou 2,2 mg/kg/
dia/8 dias, quando no proestro ou estro. 
Já o acetato de medroxiprogesterona 
(Promone-E®) na dose de 2 mg/kg/
REPRODUÇÃO
16
IM, a cada 3 e 4 meses. O proligestone 
(Covinan®) é usado na dose de 10-30 
mg/kg/SC, a cada 3, 4 e 5 meses.
Insuficiência luteal: É quando 
há diminuição da progesterona para 
menos que 5 ng/mL, sem que a cadela 
esteja no pré-parto, com iminência de 
abortamento. A suplementação não 
deve ser realizada em gestações em 
que as concentrações de progesterona 
são normais, uma vez que pode causar 
masculinização de fetos fêmeas. Pode 
ser usada progesterona micronizada 
(natural) (Utrogestran®) na dose 
de 10 mg/kg/2-4 vezes dia/via oral; 
Progesterona oleosa na dose de 2 
mg/kg/2-2 dias/SC; ou acetato de 
megestrol (Preve-Gest®) na dose 0,1 
mg/kg/uma vez ao dia/via oral. Em 
todos os casos deve-se suspender o 
tratamento no dia 60 da gestação 
para que o desencadeamento do 
parto ocorra naturalmente. Deve-se 
monitorar a gestação com dosagens 
periódicas de progesterona e exames 
ultrassonográficos.
Estrógenos
São hormônios sintéticos com potente 
ação estrogênica. Fisiologicamente, 
os estrógenos (Ex.: 17-β-estradiol, 
estriol, estrona) são produzidos pelos 
folículos ovarianos e estão envolvidos 
com as características sexuais da fêmea, 
indução do pico de LH (responsável 
pela ovulação) e desencadeamento 
do parto. Quando administrados por 
via exógena, em altas doses, podem 
causar um feedback negativo no eixo 
gonadotrófico, inibindo a secreção das 
gonadotrofinas (FSH e LH). 
Todavia, também apresentam efeitos 
colaterais, que devem sempre ser 
considerados antes de seu uso. Estes 
efeitos colaterais variam conforme 
o tipo de estrógeno usado, dose e 
duração do tratamento. São eles a 
aplasia de medula óssea, causando 
anemia, leucopenia e trombocitopenia; 
alopecia e hiperpigmentação de pele; 
alterações comportamentais, como 
sinais de cio prolongado e ninfomania, 
abortamentos, além de poderemcausar 
distúrbios de fertilidade. Por esta 
razão, são contraindicados em cadelas 
reprodutoras e, também, em fêmeas com 
distúrbios uterinos e mamários.
As principais indicações para uso de 
estrógenos são:
Acasalamentos indesejáveis: os 
estrógenos interferem negativamente no 
transporte embrionário, causam edema 
na junção úterotubárica, modificam a 
bioquímica uterina e possuem efeitos 
tóxicos sobre os embriões. Por estas 
várias razões, podem ser usados como 
contraceptivos, prevenindo a fertilização 
ou implantação embrionária. Pode ser 
usado o cipionato de estradiol (ECP®) 
na dose de 0,02 mg/kg/IM, sem exceder 
2 mg no total, ou o benzoato de estradiol 
(Ric-BE®) na dose de 0,2 mg/kg/IM. 
Ambos devem ser usados nos dias 3, 
5 e 7, após o acasalamento. Há relatos 
de indução de abortamento quando 
são usados em cadelas com gestação 
avançada. Considerando-se que há 
fármacos com menos efeitos colaterais, 
como o aglepristone (ver adiante), os 
estrógenos não são mais a primeira 
escolha para esta finalidade.
Incontinência urinária: em baixas 
doses, os estrógenos agem no esfíncter 
uretral e são capazes de controlar a 
incontinência urinária, que ocorre em 
até 20% das fêmeas, pós-castração. É 
indicado o estriol (Ovestrion®), um 
estrógeno de curta ação e sem efeitos 
no útero, na dose de 0,5-2,0 mg/
animal/via oral/uma vez ao dia. O 
tratamento deve ser diário, por semanas 
a meses, até que cessem os sintomas da 
incontinência. Ao cessar dos sintomas 
a medicação deve ser suspensa, mas 
retomada caso os sintomas voltem. Se 
utilizado concomitantemente à efedrina 
(Efedrin®) (1,0-4,0 mg/kg/duas 
vezes ao dia), fármaco α-adrenérgico 
também usado para esta finalidade 
terapêutica, pode ser eficaz em dosagens 
baixas. É recomendada a realização de 
hemogramas periódicos para monitorar 
as células sanguíneas. 
Vaginite pré-púbere: normalmente 
os sintomas da vaginite pré-púbere são 
discretos e desaparecem após o primeiro 
cio, sem necessidade de tratamento. 
Entretanto, nos casos de sintomas 
severos, baixas doses de estrógenos 
podem ajudar no controle. Pode ser 
usado o estriol (Ovestrion®), na dose de 
0,5-2 mg/animal/via oral/uma vez ao 
dia/ 5 dias.
Prostaglandinas
Há alguns tipos de prostaglandinas 
disponíveis para uso em cadelas. Dentre 
as quais se têm os análogos da PGF2α, 
como o cloprostenol (sintético) e o 
dinoprost (natural). Estes compostos 
possuem ação luteolítica, ou seja, são 
capazes de lisar o corpo lúteo presente 
nos ovários e, assim, cessar a produção 
de progesterona, bem como, possuem 
ação uterotônica, da qual resulta a 
contração da musculatura uterina. 
Independente da prostaglandina 
a ser usada, as cadelas tratadas 
devem passar por um exame físico 
completo e não devem possuir 
alterações cardiopulmonares, já 
que as prostaglandinas geralmente 
causam alguns efeitos colaterais, como 
taquicardia, taquipneia, sialorreia, 
vômitos, diarreia. Estes efeitos são 
minimizados quando usadas doses 
baixas, por serem dose-dependentes. 
Além disso, os efeitos colaterais 
diminuem à medida que o animal 
recebe as aplicações.
As principais indicações para uso de 
prostaglandinas são:
 Interrupção terapêutica de 
gestação indesejada: Devido à ação 
luteolítica, que causa diminuição 
das concentrações plasmáticas de 
progesterona, o uso adequado dos 
análogos de prostaglandinas é capaz 
de interromper a gestação quando esta 
indicação existe. Parecem ser mais 
eficazes quando usados a partir de 25 
a 30 dias de gestação. Pode ser usado 
o cloprostenol (Ciosin®; Sincrosin®; 
Sincroforte®) na dose de 1-2,5 µg/kg/
cada 1-2 dias/IM, ou dinoprost, nas 
seguintes doses: 50 µg/kg/duas vezes 
ao dia, no primeiro dia; 65 µg/kg/duas 
vezes ao dia, no segundo dia; 80 µg/kg/
REPRODUÇÃO
17
duas vezes ao dia, no terceiro dia 
e 100 µg/kg/duas vezes ao dia, do 
quarto ao sexto dia. É fundamental 
acompanhar o tratamento com exames 
ultrassonográficos para avaliar a sua 
eficácia. O tratamento deve ser mantido 
até que não haja embriões/fetos viáveis 
no interior do útero. Preferencialmente, 
deve-se aplicar a prostaglandina 
antes das refeições para minimizar os 
vômitos. Todos os efeitos colaterais 
aparecem minutos após a aplicação e, 
normalmente, desaparecem em até 60 
minutos. O animal deve permanecer 
sob supervisão veterinária até cessarem 
os efeitos colaterais. Uma das vantagens 
das prostaglandinas é o baixo custo. 
Entretanto, há medicamentos 
praticamente isentos de efeitos 
colaterais, com a mesma finalidade 
terapêutica (ver antiprogestágenos 
abaixo), embora, com a desvantagem do 
maior custo.
Encurtamento do diestro: o uso dos 
análogos de prostaglandinas nas doses 
acima descritas é capaz de encurtar a 
fase do diestro, antecipando, assim, o 
início do próximo ciclo reprodutivo. 
A medicação deve ser iniciada 10 dias 
após o 1º dia do diestro (detectado 
pela citologia vaginal), por um período 
de 6 a 10 dias. Se, após o tratamento 
com prostaglandina, quando a cadela 
estiver em anestro, com a progesterona 
plasmática inferior a 1,0 ng/mL, 
também for usada cabergolina (inibidor 
de prolactina), o intervalo interestro é 
substancialmente diminuído.
 Esvaziamento de conteúdo 
purulento uterino: nos casos de 
piometra aberta ou metrites pós-
parto, em que há acúmulo de secreção 
purulenta no interior do útero, o uso 
de prostaglandina é eficaz em causar 
contração e promover a expulsão/
esvaziamento do conteúdo uterino. 
Cloprostenol e dinoprost podem 
ser usados nas doses descritas 
acima. É importante lembrar que as 
prostaglandinas NÃO podem ser usadas 
em cadelas com piometra fechada, pois 
são capazes de causar ruptura uterina.
Antagonistas da progesterona 
(Antiprogestágenos)
São substâncias capazes de se ligarem 
aos receptores da progesterona e, assim, 
inibir os efeitos deste hormônio. Desta 
forma, podem ser utilizados em todas 
as situações em que se deseja bloquear 
a ação da progesterona. Além disso, 
pesquisas recentes demonstraram o 
efeito luteolítico destes fármacos em 
cadelas. São esteroides sintéticos mais 
potentes que a própria progesterona, com 
intensidade de ligação aos receptores três 
vezes superior à da progesterona, além 
de serem, também, antagonistas dos 
glicocorticoides. Assim, quando usado 
em cadelas, as concentrações plasmáticas 
de progesterona permanecem altas, mas 
sem haver ação hormonal, já que os 
receptores estão bloqueados. Exemplos 
de antagonistas da progesterona são 
o mifepristone e o aglepristone. O 
aglepristone está disponível no mercado 
veterinário mundial. É um fármaco 
bastante seguro e eficaz, geralmente 
desprovido de efeitos colaterais, exceto 
alterações dermatológicas que podem 
ocorrer no local da aplicação. Por este 
motivo, é indicado que seja aplicado na 
face interna do membro posterior e, em 
cães de raças de grande porte, devem ser 
feitas aplicações em mais de um local, 
para reduzir o risco de alterações locais.
As principais indicações para uso de 
antagonistas da progesterona são:
Interrupção terapêutica de 
gestação indesejada: em função da 
capacidade de bloquear a ação da 
progesterona (hormônio responsável 
pela manutenção da gestação) estes 
fármacos interrompem a gestação por 
prevenir a implantação embrionária 
ou por induzir reabsorção embrionária 
ou abortamento, em qualquer fase da 
gestação. Todavia, quando utilizado 
em gestações avançadas, pode ocorrer 
morte fetal, mas sem expulsão. Nestes 
casos, há necessidade do uso associado 
a análogos de PGF2α. No Brasil está 
disponível o aglepristone (Alizin®), que 
deve ser usado na dose de 10 mg/kg/SC 
por 2 dias consecutivos, aplicado na face 
interna de um dos membros posteriores, 
em gestações de até 45 dias, com eficácia 
de 95-99%. Como sua concentração 
permanecerá alta por vários dias, seu 
efeito é duradouro com duas aplicações. 
O tratamento deve ser monitorado por 
meio de exames ultrassonográficos e o 
término da gestação ocorre entre 5 a 10 
dias. Normalmente não há necessidade 
de antibioticoterapia concomitante.Tratamento de piometra aberta ou 
fechada: o aglepristone pode ser usado 
com segurança para o tratamento de 
piometra aberta ou mesmo fechada. 
O sucesso terapêutico ocorre em 
aproximadamente 75% das cadelas 
tratadas. Este tratamento está indicado 
para cadelas reprodutoras, jovens (até 5-6 
anos), quando se deseja evitar os riscos 
cirúrgicos ou anestésicos. Entretanto, 
deve-se ressaltar que pode haver recidiva 
em aproximadamente 48% dos animais, 
nos ciclos reprodutivos subsequentes, 
principalmente em cadelas com 
mais de 5 anos de idade. Além disso, 
pesquisas recentes feitas na Europa vêm 
demonstrando que há predisposição de 
algumas raças a piometra, o que deve 
ser explicado ao proprietário, já que 
filhas de cadelas tratadas poderiam 
ser predispostas a piometra quando na 
idade adulta. A eficácia do tratamento 
pode ser reduzida caso haja presença 
de cistos ovarianos. Os protocolos 
básicos de tratamento incluem o uso de 
aglepristone na dose de 10 mg/kg/SC, 
nos dias 1, 2, 5 e 8; ou nos dias 1, 2, 7 ou 
8, 14 ou 15 e, posteriormente, a cada 7 
ou 8 dias até o término do tratamento. 
As cadelas devem, também, receber 
antibioticoterapia com enrofloxacina, 
amoxicilina/ácido clavulânico, 
ampicilina, sulfadiazina/trimetoprim ou 
metronidazol, de acordo com o resultado 
do cultivo e antibiograma. O tratamento 
deve ser monitorado com exames 
ultrassonográficos periódicos e a cadela 
deve ser acasalada no próximo cio, bem 
como, nos cios subsequentes. Assim que 
não se desejar que ela acasale mais, deve 
ser submetida a ovariohisterectomia.
REPRODUÇÃO
18
Inibidores de prolactina 
(Antiprolactínicos)
São substâncias capazes de inibir a 
secreção de prolactina pela hipófise 
anterior. A prolactina é um hormônio 
proteico, produzido pelas células 
lactotróficas da adenohipófise, 
cuja regulação se dá por múltiplos 
transmissores e hormônios, sendo 
o mecanismo principal a ativação 
de neurônios dopaminérgicos 
hipotalâmicos inibidores da prolactina. 
Este hormônio é secretado em grandes 
quantidades durante a segunda metade 
do diestro ou gestação, para manter a 
produção de progesterona pelos corpos 
lúteos (efeito luteotrófico), e próximo ao 
parto, para preparar a glândula mamária, 
estimulando a secreção láctea. 
Os inibidores de prolactina estão 
indicados em todas as situações em 
que se deseja diminuir a ação da 
prolactina e seus efeitos no organismo, 
como: pseudociese, mastite, lactação 
persistente, galactoestase, interrupção 
da gestação, tratamento da piometra e 
indução de cio.
Há três substâncias desta categoria 
que podem ser usadas em cadelas, 
sendo variável a potência de cada 
uma (Quadro 1). Uma delas é a 
bromocriptina, um alcaloide de ergot, 
fármaco agonista dopaminérgico não-
seletivo, ou seja, estimula a dopamina 
e, em contrapartida, inibe a liberação 
de prolactina. Possui meia-vida de 4-6 
horas. 
A bromocriptina está disponível 
no mercado humano (Parlodel®, 
Bromocriptina Neovita®, Bagren®), 
mas, por não ser bem tolerada e ainda 
causar muitos efeitos colaterais, como 
hipotensão por vasodilatação, vômito, 
inapetência e anorexia, é pouco usada. 
Pode ser usada na dose de 10-20 µg/
kg, por via oral, duas a três vezes ao 
dia, administrada com o alimento. Para 
o tratamento da piometra pode ser 
utilizada juntamente com aglepristone 
e PGF2α.
Outro inibidor da prolactina 
é a metergolina, um fármaco 
antagonista serotoninérgico, com ação 
dopaminérgica indireta, disponível 
no mercado veterinário nacional 
(Contralac®). Pode ser usado na dose 
de 0,1 mg/kg, duas vezes ao dia, por 
via oral. Seus efeitos colaterais, como 
agressividade, depressão, agitação, 
mudanças no apetite (aumento ou 
diminuição), devem-se a sua ação 
antisserotoninérgica. Por se considerar 
a baixa capacidade de inibição da 
prolactina, esta não é indicada para 
tratamento da piometra.
O terceiro inibidor da prolactina é 
a cabergolina, um alcaloide de ergot 
agonista dopaminérgico, seletivo de 
receptores D2, altamente potente, de 
longa ação e baixos efeitos colaterais. 
Sua meia-vida é relativamente longa, 
mínimo de 48 horas, e seu “clearance” é 
lento. A cabergolina de uso veterinário 
é encontrada em países da Europa 
Quadro 1. Eficácia comparativa dos antiprolactínicos usados em cadelas.
BROMOCRIPTINA METERGOLINA CABERGOLINA
Duração do pico de atividade 
(horas) 4 2 6
Eficácia relativa (referência 
metergolina) 3,3 1 21
DE50 emese (mg/kg) 0,013 0,93 0,019
Dose média eficaz (mg/kg) 0,02 0,02 0,005
(Galastop®) e na Argentina (Relay®). 
No Brasil, está disponível apenas no 
mercado humano (Dostinex®), na forma 
de comprimidos. Pode ser usada na dose 
de 5 µg/kg, por via oral, uma vez ao dia. 
Há eficácia com o uso de comprimidos 
fracionados e encapsulados. Dos três 
fármacos é o único indicado para 
tratamento de piometra isoladamente, 
entretanto, a associação com 
aglepristone é indicada. Após o uso da 
cabergolina, ocorre encurtamento do 
intervalo interestro, com manifestação 
mais rápida de cio pela cadela.
Para indução de cio recomenda-se o 
uso de bromocriptina ou cabergolina, 
que devem ser fornecidos nas doses 
acima descritas às cadelas no anestro 
(progesterona inferior a 1,0 ng/mL), 
preferencialmente do meio para o final 
do anestro, até que o animal apresente 
secreção vaginal serossanguinolenta por 
2 dias consecutivos, quando a medicação 
é interrompida e a cadela é acasalada em 
seu período fértil.
Ocitocina
As substâncias que aumentam a 
motilidade uterina são chamadas de 
ecbólicas ou ocitócitos. A ocitocina 
é um neuropeptídeo produzido pelo 
hipotálamo, útero e outros órgãos. 
Além de provocar contrações uterinas, 
induz também contrações das células 
mioepiteliais da glândula mamária, 
provocando a ejeção do leite. Sua meia-
vida é curta, entre 5 a 12 minutos. O uso 
da ocitocina está indicado nas situações 
em que se deseja induzir ou aumentar 
as contrações uterinas, como nos casos 
de hipotonia ou atonia, normalmente 
até 24 horas após o parto, quando o 
útero sensibilizado por estrógenos 
apresenta receptores para ocitocina; nos 
casos de hemorragia uterina pós-parto, 
retenção de placenta, metrite pós-parto, 
para estimular a “descida do leite” e 
no tratamento da sub-involução dos 
sítios placentários. O pré-requisito para 
utilizar ocitocina para tratar a inércia 
uterina em cadelas, é haver dilatação do 
canal do parto e ausência de obstrução.
REPRODUÇÃO
19
Importante lembrar que a ocitocina 
não aumenta a produção de leite.
Quando usada no momento do parto, 
a dose correta pode ser reconhecida 
pelo aparecimento de leite nas mamas 
(ocorrência do reflexo de “descida do 
leite”). As doses para cadelas variam 
de 0,1 (raças miniaturas) a no máximo 
5 UI (raças gigantes). Há referências 
em que alguns autores sugerem dose 
de até 20 UI, mas isso já não é mais 
recomendado com os conhecimentos 
atuais, inclusive é contraindicado. O 
uso de ocitocina em altas doses ou em 
muitas aplicações repetidas pode causar 
contrações tetânicas, não eficazes, 
que podem provocar descolamento 
precoce da placenta e comprometer 
o suprimento de oxigênio fetal, com 
morte fetal. A via de aplicação pode ser 
intramuscular (IM), subcutânea (SC) 
e, excepcionalmente, intravenosa (IV; 
diluída, em doses menores e em infusão 
lenta), dependendo da rapidez com 
que se precisa que ela atue. Quando 
há indicação da via IV, recomenda-se 
associar outras drogas, como gluconato 
de cálcio 10% associado a glicose. É 
importante lembrar que pouco mais 
de 50% das cadelas tratadas com 
ocitocina não respondem ao tratamento 
(principalmente com apenas uma 
aplicação) e acabam necessitando de 
cesariana. Se ocorrer o nascimento de 
um filhote após o uso de ocitocina, é 
possível realizar aplicações repetidas, 
mas não deve ser feita antes de 15-30 
minutos da aplicação anterior.
A associação de gluconato de cálcio 
10% (1 mL/5 kg/SC ou IV/lento) com 
glicose (0,25 mL de dextrose 50% diluída 
em 2 mL de NaCl 0,9%) e ocitocina é 
indicada durante o parto,já que uma 
resposta pobre ao uso da ocitocina pode 
ser causada por uma baixa concentração 
extracelular de cálcio. A administração 
de cálcio aumenta a força das contrações 
uterinas. Além disso, geralmente, o 
cálcio é utilizado antes da ocitocina, 
melhorando as forças de contrações 
antes de aumentar a frequência. As 
aplicações repetidas de cálcio podem 
ser realizadas com uma frequência não 
maior que a cada quatro horas e deve-
se monitorar o sistema cardiovascular 
quanto a presença de arritimias em 
intervalos curtos após a administração 
de cálcio.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
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2
1
2
5
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69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
DERMATOLOGIA
20
REPRODUÇÃO
USO INDEVIDO DE PROGESTÁGENOS 
(ACETATO DE MEDROXIPROGESTERNA) 
EM UMA CADELA (CANIS LUPUS FAMILIRIS)
Marco Antonio Machado 
(Professor Associado-AC B. Departamento de Clinicas Veterinárias – Centro de Ciências 
Agrarias – Universidade Estadual de Londrina, PR. E-mail: mmachado@uel.br)
Resumo
O controle reprodutivo na espécie 
canina é uma preocupação dos tutores 
e pesquisadores, especialmente em 
tempos de superpopulação. Métodos 
medicamentosos para a contracepção 
apresentam efeitos colaterais, sendo os 
cirúrgicos os mais confiáveis e utilizados 
no mundo. O presente artigo tem por 
objetivo relatar um caso de piometra após 
a utilização continuada e sem critério de 
um contraceptivo injetável, o acetato de 
medroxiprogesterona, em uma cadela. 
As características endocrinológicas e 
fisiológicas das cadelas que, em parte, 
explicam a sensibilidade maior aos 
efeitos colaterais dos contraceptivos 
hormonais tornam-se um desafio 
maior na pesquisa para a obtenção de 
fármacos mais eficientes para o controle 
populacional. 
Introdução
Ao longo da história, os cães e gatos 
passaram a fazer parte da rotina de 
muitas famílias, sendo incontestável sua 
importância nas sociedades humanas, 
seja como companhia, guarda ou 
outras formas de convivência. Devido 
a hábitos inadequados de manutenção, 
a deterioração da qualidade de vida e 
a reprodução descontrolada ocorrida 
em certas comunidades humanas, o 
excessivo número de animais domésticos 
passou a constituir um grave problema, 
tornando-os indesejáveis por diversos 
motivos.
Uma das principais preocupações 
apresentadas pelos tutores se refere 
ao controle reprodutivo de suas 
cadelas, bem como a exteriorização 
de comportamentos sexuais, que são 
situações muitas vezes desagradáveis. 
Sinais como secreções vaginais, manchas 
pelo chão, fortes odores, latidos e 
atração de machos, dentre outros, 
fazem com que busquem soluções para 
estes incômodos. Médicos veterinários 
frequentemente são consultados para 
interromperem gestações em cadelas 
cobertas indevidamente. Estima-se 
que, somente no Reino Unido e França, 
sejam realizados cerca de 100.000 
abortamentos motivados por coberturas 
indesejadas.
Métodos para o controle populacional 
podem ser cirúrgicos e medicamentosos, 
sendo a esterilização cirúrgica o método 
mais praticado em todo o mundo. Os 
métodos de contracepção não cirúrgicos 
em fêmeas incluem a prevenção ou 
supressão do estro e a interrupção da 
gestação ou abortamento terapêutico. O 
controle hormonal do ciclo reprodutivo é 
um método para a supressão temporária 
da fertilidade em cadelas. 
A disseminação do uso de 
contraceptivos pelas mulheres, com alto 
grau de eficácia, estimulou a pesquisa 
aplicada para o controle reprodutivo de 
animais de estimação e logo apresentou 
problemas, pois, os cães (Canis lupus 
familiaris) possuem características 
endocrinológicas diferentes de humanos 
(Homo sapiens), apresentando uma 
sensibilidade maior aos efeitos colaterais 
dos contraceptivos hormonais. Portanto, 
a espécie canina requer melhorias para 
a obtenção de fármacos mais eficientes 
para o controle populacional. 
REPRODUÇÃO
21
O mecanismo de ação dos 
progestágenos envolve alguns processos, 
como a inibição dos hormônios 
gonadotróficos, inclusive os hormônios 
folículo estimulante (FSH), luteinizante 
(LH) e prolactina (PRL); a prevenção 
local do crescimento folicular ovariano; 
a secreção de estrógeno; ovulação; e 
a inibição do comportamento sexual. 
A utilização dos progestágenos é 
contraindicada em fêmeas pré-púberes, 
obesas, diabéticas ou com patologias 
do trato reprodutivo ou das glândulas 
mamárias.
Alguns hormônios esteroides 
têm a capacidade de suprimir 
a atividade ovariana cíclica em 
cadelas. Esteroides naturais como 
progesterona e testosterona, além 
de uma variedade de esteroides 
sintéticos como medroxiprogesterona, 
acetato de melengestrol, proligestona 
e mibolerona são utilizados. Para 
a redução da atividade gonadal, 
necessita-se da supressão da secreção 
hormonal gonadotrófica. Terapia 
hormonal é um método reversível, 
contudo, a administração prolongada 
de progestágenos pode acarretar em 
formação de hiperplasia endometrial 
cística e subsequente infecção uterina 
(piometra), além de potencialmente 
participar na oncogênese de tumores 
mamários. 
A espécie canina responde à 
progesterona endógena ou exógena 
promovendo a superprodução do 
hormônio do crescimento, o que 
acarreta aumento na concentração 
do fator de crescimento insulínico l 
(IGF-I). Isto explicaria a proliferação 
excessiva no endométrio relacionada 
a eventos mitóticos e de diferenciação 
celular. 
Progestágenos são compostos 
sintéticos com propriedades semelhantes 
à progesterona. Antagonizam os efeitos 
induzidos pelos estrógenos via redução 
das mitoses celulares, pela regressão do 
índice mitótico e diminuição na síntese 
de DNA e, também, pela diminuição 
no número de receptores extrínsecos e 
estimulação da diferenciação secretora 
endometrial, promovendo a ação 
das enzimas estradiol desidrogenase, 
isocitrato desidrogenase e fosfatases, 
ácida e alcalina.
O uso de acetato de 
medroxiprogesterona (MAP), dentre 
outros hormônios, pode resultar em 
diversos efeitos como: letargia, mudança 
na coloração do pelo no local de aplicação, 
variação da temperatura corpórea, 
hiperplasia das glândulas mamárias e 
do endométrio, e subsequente piometra. 
A administração contínua do MAP em 
doses elevadas e frequentes resulta em 
maior incidência de tumores mamários, 
podendo ainda causar acromegalia e 
diabetes mellitus, presumivelmente 
como resultado da elevação da produção 
do hormônio do crescimento inibindo a 
insulina periférica. 
Hiperplasia endometrial é uma 
alteração observada no útero de 
cadelas, uma modificação fisiológica 
nas fêmeas desta espécie, em virtude de 
características próprias do ciclo estral. 
O endométrio fica exposto à ação da 
progesterona por longos períodos em 
cada ciclo, mesmo não estando gestante 
(diestro). Na patogênese da hiperplasia 
endometrial cística participa também 
o estradiol. Este apresenta diversas 
ações sobre o útero, antagonizando, em 
alguns casos, a progesterona. Participa 
do aumento da vascularização, do 
edema e do crescimento do endométrio 
e da cérvix. O estradiol promove 
relaxamento e dilatação cervical, e 
aumento da intensidade das contrações 
miometriais responsáveis pela drenagem 
do conteúdo intraluminal. Também 
possui efeito bactericida indireto ao 
estimular a migração de neutrófilos no 
endométrio, tendo participação direta 
na formação da hiperplasia. Favorece a 
formação de receptores endometriais de 
progesterona, responsáveis pela atividade 
glandular que, em caso de uma gestação, 
representa a nutrição histotrófica 
embrionária. No útero, a progesterona 
apresenta múltiplas funções: estimulação 
das glândulas endometriais, aumento 
da atividade secretória, inibição da 
atividadecontrátil e oclusão da cérvix. 
A ação sinérgica destes dois hormônios 
promove um espessamento da parede 
uterina e a formação da hiperplasia 
endometrial cística, condição básica 
para o estabelecimento de piometra. 
Para o diagnóstico definitivo 
de piometra, alguns exames 
complementares podem ser realizados: 
hemograma completo, bioquímica 
sérica com ênfase na função renal/
hepática; urinálise e de imagem, 
como radiográfico/ultrassonográfico. 
A interpretação dos resultados 
destes exames é fundamental para o 
estabelecimento de prognóstico da 
paciente. 
A esterilização cirúrgica é um método 
efetivo, entretanto, a técnica pode ser 
descartada pelo cliente por questões 
de bem-estar animal ou mesmo por 
compaixão. 
O presente artigo tem por objetivo 
relatar um caso de piometra após a 
utilização continuada e sem critério de 
um contraceptivo injetável (acetato de 
medroxiprogesterona) em uma cadela 
e alertar para possíveis efeitos colaterais 
deste fármaco.
Descrição do Caso
Uma cadela, SRD, 25 kg, 4 anos, 
atendida no Hospital Veterinário da 
Universidade Estadual de Londrina, 
apresentando acentuada distensão 
abdominal (Figura 1), tenesmo e 
dificuldade de deambulação. O cuidador 
referiu que aplicava regularmente 
injeções de um progestágeno - MAP, 
de 6 em 6 meses desde o primeiro cio. 
Por meio de paracentese, retirou-se 
aproximadamente 1500 mL de pus. 
Ao exame radiográfico evidenciou-
se radiopacidade difusa e densidade 
homogênea na cavidade abdominal. 
No hemograma verificou-se leucocitose 
moderada (18300 leucócitos/mm3). Pela 
laparotomia exploratória constatou-se 
que o útero apresentava grande distensão 
e espessamento de parede, sendo que o 
corno direito possuía diâmetro de 30 cm 
e o esquerdo de 10 cm, comprimindo 
as demais vísceras abdominais 
(Figura 2). O exame histopatológico 
DERMATOLOGIA
22
REPRODUÇÃO
confirmou o diagnóstico de piometra, 
evidenciando um quadro degenerativo 
com intensa fibrose do miométrio, 
ooforite purulento-necrótica e fibrose 
intensa do estroma ovariano com 
formações císticas. Os achados clínicos 
e anatomopatológicos confirmaram 
que a utilização indiscriminada de 
progesterona sintética contribuiu para 
o aparecimento da síndrome hiperplasia 
endometrial cística – piometra. Procedida 
a ovariossalpingohisterectomia, a 
paciente apresentou pronta recuperação, 
recebendo alta após internação de 24 
horas.
Conclusões 
A contracepção na cadela pode ser 
solicitada com o objetivo de impedir 
a reprodução por um determinado 
período ou definitivamente. Também 
pode ser uma alternativa nos programas 
de controle populacional.
As características endocrinológicas e 
fisiológicas das cadelas que, em parte, 
explicam a sensibilidade maior aos 
efeitos colaterais dos contraceptivos 
hormonais, tornam-se um desafio 
maior na pesquisa para a obtenção de 
fármacos mais eficientes para o controle 
populacional. 
A esterilização cirúrgica é um método 
efetivo e definitivo, sendo mais eficaz 
para o controle reprodutivo.
Figura 2. Aspecto transoperatório, 
paciente canina, SRD, 4 
anos, tratada com MAP.
Figura 1. Paciente canina, 
SRD, 4 anos, tratada com MAP, 
evidenciando distensão abdominal.
Figura 3. Útero de paciente canina, SRD, 4 anos, tratada com 
MAP, evidenciando grande distensão e espessamento da víscera.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
23
BRUCELOSE CANINA: UMA PERIGOSA 
ZOONOSE NEGLIGENCIADA
Luiz Guilherme Corsi Trautwein, Anne Kemmer Souza, Maria Isabel Mello Martins
(Laboratório de Biotécnicas da Reprodução – REPROA. Departamento de Clínicas Veterinárias. 
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR. *E-mail: imartins@uel.br)
Introdução
Não é novidade que o mercado pet 
está em constante crescimento em nosso 
país. Mesmo com a crise econômica que 
assolou o Brasil nos últimos anos, houve 
um crescimento de 7% nesse mercado, 
em 2016, movimentando cerca de 
R$19,2 bilhões.
Nesse contexto, buscar medidas que 
promovam a profilaxia e a sanidade 
destes pets é fundamental, visto que 
sua convivência está cada vez mais 
relacionada com o ambiente familiar, 
onde muitos cães e gatos convivem 
em contato íntimo, dentro da casa dos 
tutores. 
Ainda assim, muitos aspectos são 
negligenciados, no que diz respeito 
à sanidade destes animais. Abortos 
espontâneos e o nascimento de fetos 
natimortos, por exemplo, são pontos 
importantíssimos do aspecto sanitário 
de cães, porém, são comumente 
desconsiderados, tanto pelos tutores, 
como pelos médicos veterinários. 
Dentre as principais causas de aborto 
e nascimento de fetos natimortos 
em cães, as doenças infecciosas se 
sobressaem, como a herpesvirose, a 
leptospirose e a brucelose. Doenças 
estas que, infelizmente, ainda são 
subdiagnosticadas no Brasil, mas 
que causam importantes impactos 
na economia de canis e na saúde dos 
animais. Este texto tem como objetivo 
discutir a importância da brucelose 
canina como agente infeccioso em cães, 
principalmente devido ao seu potencial 
zoonótico, pouco evidenciado em nossa 
rotina clínica.
Etiologia
A Brucella canis é um cocobacilo gram-
negativo pequeno, aeróbico e formadora 
de colônias rugosas. Enquanto outras 
espécies lisas de Brucella infectam 
uma grande variedade de hospedeiros, 
as infecções naturais de B. canis são 
mais restritas. Canídeos domésticos e 
selvagens sãos suscetíveis, embora, gatos, 
coelhos e primatas não-humanos possam 
ser infectados experimentalmente. 
Em humanos, o potencial zoonótico é 
evidente, porém, a infecção é rara e está 
relacionada à exposição com animais 
previamente infectados e contato com o 
microrganismo em laboratórios. O cão 
pode também ser infectado por outras 
espécies de Brucella, como B. abortus, B. 
suis e B. melitensis, até mesmo por meio 
de vacinas atenuadas. 
Epidemiologia
A infecção ocorre com a penetração 
da B. canis em mucosas, principalmente 
na cavidade oral, conjuntiva e vaginal. 
A ingestão de placentas contaminadas 
e fetos abortados é um grande fator 
de risco, embora, a transmissão seja 
realizada por diversas rotas, incluindo 
coito, contato com secreções vaginais 
e conteúdo de abortos, leite, placenta, 
fluido seminal, urina, secreções nasais e 
oculares, assim como fômites.
A brucelose é uma doença de 
ocorrência mundial. No Brasil, embora 
existam diversos relatos na literatura 
com achados sorológicos variando de 
0,84% a 33,91%, sua real prevalência 
ainda é um mistério, principalmente 
DERMATOLOGIA
24
REPRODUÇÃO
devido à grande divergência de 
metodologias diagnósticas empregadas, 
além da alta possibilidade de infecções 
subclínicas não diagnosticadas.
Sinais Clínicos
Embora a B. canis cause uma 
infecção sistêmica generalizada, no 
cão adulto dificilmente causará sinais 
clínicos graves. Raramente haverá 
febre e, com exceção aos machos, a 
maioria das infecções são subclínicas, 
com poucos sinais clínicos evidentes. 
Alguns cães em bacteremia poderão 
apresentar discoespondilite, uveíte ou 
glomerulonefrite. Animais de trabalho 
poderão apresentar apatia e perda de 
vigor. 
Em fêmeas não gestantes, o 
único sinal encontrado poderá ser 
linfoadenomegalia, entretanto, esse 
sinal ocorre em ambos os sexos. Em 
cães machos, devido à predileção da 
bactéria pelo trato reprodutivo, poderá 
haver epididimite, atrofia testicular, 
orquite, prostatite e infertilidade. Estas 
lesões causadas no sistema reprodutor 
do macho fazem com que o prognóstico 
reprodutivo dos animais acometidos 
seja altamente desfavorável.
Na fêmea gestante, os sinais clássicos 
são aborto no terço final degestação, 
com descarga vaginal amarronzada. 
Aquelas cadelas que conseguem dar à 
luz, produzem filhotes fracos, que podem 
vir à óbito durante os primeiros dias de 
vida. Pode acontecer, ainda, reabsorção 
embrionária no início da gestação, o que 
comumente é interpretado como falha 
na concepção. 
Diagnóstico
Devido à inespecificidade dos sinais 
clínicos, para o diagnóstico da brucelose 
é imprescindível a utilização de exames 
laboratoriais, baseado em duas frentes: o 
diagnóstico sorológico e a hemocultura.
Na sorologia, a primeira classe de 
anticorpos presentes no soro é a IgM, 
caracterizando infecção recente. Porém, 
devido ao caráter crônico da brucelose 
canina, a principal classe detectada 
pelos testes sorológicos é a IgG. Mesmo 
sendo a metodologia mais difundida, 
a sorologia possui diversas restrições, 
principalmente devido à disponibilidade 
de antígenos e kits para o diagnóstico.
Devido ao aspecto rugoso das 
colônias de B. canis, antígenos de 
Brucella lisos, como B. abortus, não 
detectam anticorpos anti-B. canis, sendo 
necessária a utilização de antígenos com 
amostras rugosas como B. canis ou B. ovis 
para a brucelose canina. Ainda assim, 
antígenos da parede celular de diversas 
bactérias podem reagir com a B. canis, 
levando a resultados falso-positivos e 
diminuindo a especificidade, mas com 
altas taxas de sensibilidade, tornando-os 
bons métodos para triagem.
Existem cinco métodos sorológicos 
usados para detecção de Brucella 
rugosas: teste de aglutinação rápida em 
lâmina (RSAT), teste de aglutinação 
em tubo (TAT), teste de imunodifusão 
em ágar (IDGA), ensaio enzimático 
imunoabsorvente (ELISA) e 
imunofluorescência indireta.
O RSAT é o teste mais comum, 
devido à sua simplicidade, na qual um 
antígeno de B. ovis é corado com rosa 
bengala, podendo detectar anticorpos 
com até 2 semanas de pós-infecção. 
Possui alta sensibilidade (99%), porém, 
baixa especificidade (50%), por isso, 
deve-se atentar para falsos-positivos. 
Além disso, pode não detectar cepas 
lisas, como em cães infectados com B. 
suis. Foi desenvolvida uma adaptação a 
este teste, com a adição prévia aos soros 
de 2-mercaptoetanol (RSAT-2ME), 
aumentando a especificidade sem alterar 
sua sensibilidade. 
O TAT é o teste clássico para 
diagnóstico da brucelose canina e, assim 
como o RSAT-2ME, também é realizada 
a adaptação com 2-mercaptoetanol 
(TAT-2ME) e é utilizado como 
confirmação ao teste RSAT-2ME. 
Porém, a falta de padronização dos 
reagentes torna difícil a comparação 
entre as titulações. Ainda assim, títulos 
de 50 podem indicar infecções recentes 
ou em recuperação. Títulos entre 50 
a 100 são considerados suspeitos de 
infecção; títulos acima de 200 são 
altamente presuntivos de infecção. Por 
ser um teste semiquantitativo, é muito 
utilizado para avaliar a resposta de cães 
ao tratamento. 
Existem dois métodos de IDGA, um 
com a utilização de antígenos de parede 
celular de B. canis e B. ovis e outro com 
proteínas citoplasmáticas de B. canis. 
Embora mais específicos que o RSAT 
e TAT, ainda podem fornecer resultados 
falso-positivos, além de possuir análise 
subjetiva. Devido à utilização de 
proteínas citoplasmáticas de B. canis, 
é o método mais específico para esta 
espécie atualmente.
O teste ELISA é sensível e seus 
resultados não apresentam reações 
cruzadas com antígenos de outras 
bactérias, a não ser com outras espécies 
de Brucella, podendo detectar anticorpos 
com até 30 dias de pós-infecção. Devido 
à incerteza sobre a sensibilidade da 
imunofluorescência indireta, alguns cães 
positivos podem não ser diagnosticados.
Portanto, embora os testes sorológicos 
sejam mais fáceis de se realizar, a cultura 
é considerada o teste definitivo para 
diagnóstico da brucelose. Podem ser 
isolados microrganismos de diversos 
locais: sangue, urina e sêmen ejaculado. 
Em biópsias ou necropsias podem ser 
realizadas culturas de linfonodos, fígado, 
baço, medula óssea, aparelho reprodutor 
do macho, útero, placenta, fluídos 
uterinos e vaginais. Porém, é importante 
salientar que, em resultados negativos 
de hemocultura ou cultura de órgãos, 
não se descarta a hipótese da doença, 
pois, a bacteremia é intermitente, assim 
como a presença de bactérias no órgão 
realizado. Por isso, a cultura é muito 
utilizada em conjunto com os testes 
sorológicos, que deverão ser realizados, 
preferencialmente, antes do início 
da antibioticoterapia. Além disso, é 
importante evitar a contaminação da 
amostra, pois, bactérias contaminantes, 
como Staphylococcus sp., podem mascarar 
a presença de B. canis. 
REPRODUÇÃO
25
Tratamento
Para o tratamento da brucelose 
canina temos que levar em consideração 
se o paciente é reprodutor de canil ou 
animais de tutores particulares. Em 
todo caso, a terapia ainda é um desafio, 
visto que a Brucella possui localização 
intracelular, além de ser sensível 
a poucos antibióticos, tornando o 
tratamento longo e oneroso.
Para canis, a prevenção é essencial 
para evitar a disseminação da doença 
entre os reprodutores. Animais novos 
devem ser mantidos em quarentena 
e possuírem dois testes sorológicos 
negativos consecutivos com intervalos 
de 30 dias. Quando houver casos de 
aborto, infertilidade ou epididimite, 
todos os cães devem ser testados 
sorologicamente. Ao apresentar um 
resultado positivo, o cão deverá ser 
isolado dos outros. Se confirmado, deverá 
ser retirado da reprodução, castrado e 
realizado tratamento medicamentoso, 
sendo que alguns autores sugerem a 
eutanásia. O canil deverá interromper 
a reprodução de todos os cães e estes 
deverão ser testados a cada 30 dias, 
até que todos tenham três resultados 
negativos consecutivos.
O tratamento medicamentoso é 
realizado com base em associação de 
antibióticos para maximizar a eficácia. 
Dentre os protocolos mais utilizados 
estão: a) tetraciclina (30 mg/kg VO 
BID por 28 dias) + estreptomicina 
(20 mg/kg IM SID por 14 dias); b) 
minociclina (25 mg/kg VO SID por 15 
dias) + diidro-estreptomicina (5 mg/kg 
IM BID por 7 dias); c) oxitetraciclina 
(20 mg/kg IM q7d por 4 semanas) + 
estreptomicina (20 mg/kg IM SID por 
7 dias); d) enrofloxacina (5 mg/kg VO 
BID por 30 dias).
É importante conscientizar o tutor 
sobre o potencial zoonótico da doença, 
assim como, sobre o tratamento nem 
sempre ser curativo, visto que poderá 
haver bacteremia, até mesmo, meses 
após a finalização do tratamento. Testes 
sorológicos, como o TAT-2ME deverão 
ser realizados em intervalos, a cada 6 a 
9 meses após o tratamento. Os títulos 
deverão permanecer abaixo de 100, ou o 
tratamento deverá ser reiniciado, assim 
como a correlação com o IDGA deverá 
ser negativa.
Considerações Finais 
Quatro espécies de Brucella causam 
doenças em pessoas: B. abortus, B. suis, 
B. melitensis e B. canis. A maioria das 
infecções acontece por contato com 
secreções genitais ou em laboratório. 
Em humanos, embora rara, a prevalência 
real da doença é desconhecida, visto que, 
por possuir sinais clínicos mais brandos, 
é muitas vezes não diagnosticada 
ou confundida com infecções virais. 
Ainda assim, deve ser salientado ao 
tutor, em caso de infecção do seu pet, 
principalmente devido à possível 
transmissão de B. suis e B. abortus, 
que podem causar complicações, 
como conjuntivite, poliartrite, uveítes, 
pneumonia e sepse.
É importante frisar, também, a alta 
prevalência de animais soropositivos 
em canis comerciais em nosso país. 
Um estudo em 12 canis comerciais de 
São Paulo, em 2005, observou 33,91% 
de animais soropositivos e 14,03% de 
animais com hemocultura positiva. 
Em estudo semelhante, desta vez 
com 38 canis, em 2017, observaram-
se 20,9% de animais soropositivos e 
20,9% de animais com hemocultura 
positiva para Brucella canis, onde 42,1% 
dos canis possuía ao menos um animal 
positivo em seu plantel e nenhum 
dos canis promovia campanhas para 
controle de brucelose ou outras doenças 
infectocontagiosas. 
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
369 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
DERMATOLOGIA
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REPRODUÇÃO
PSEUDOCIESE EM CADELAS
Marcelo Rezende Luz 
(Professor da Escola de Veterinária da UFMG. E-mail: marceloluz@ufmg.br)
Introdução
A pseudociese é também conhecida 
como pseudogestação, pseudoprenhez, 
falsa gestação ou gravidez psicológica. 
É uma condição normal que ocorre 
após o estro (cio), em geral, entre 6 
a 14 semanas (quando a cadela já 
se encontra no diestro), quando a 
cadela aparenta estar gestante, embora 
não esteja ou, mais especificamente, 
apresenta sinais de comportamento 
materno. Alguns proprietários podem 
confundir a pseudociese com uma 
gestação de fato e até achar que a cadela 
apresentou reabsorção embrionária ou 
abortamento, já que não se evidencia o 
nascimento de filhotes. A pseudociese 
é uma condição fisiológica que, 
quando acompanhada de sintomas 
e alterações físicas, é denominada 
pseudociese clínica. Esta condição de 
pseudogestação foi herdada de animais 
selvagens, como os lobos, que viviam 
em alcateias, cujas fêmeas apresentavam 
cio juntas, periodicamente. Assim, as 
fêmeas que não acasalavam e, portanto, 
não gestavam, passavam por este quadro, 
o que as permitia amamentar filhotes 
de outras fêmeas, representando um 
mecanismo primitivo útil em ancestrais. 
Essas fêmeas que não acasalavam nem 
reproduziam eram as menos dominantes 
hierarquicamente, subordinadas às 
fêmeas dominantes (fêmeas alfa), 
que não permitiam que as primeiras 
acasalassem. Dessa forma, a pseudociese 
seria uma adaptação evolutiva para 
ajudar animais na perpetuação de suas 
“linhas genéticas”, independentemente 
de terem sido acasaladas, ou não.
Fisiopatologia
Quando a cadela sai do estro e 
passa para o diestro, as concentrações 
plasmáticas de progesterona aumentam 
rapidamente, devido às ovulações e 
formação dos corpos lúteos nos ovários. 
A concentração de progesterona se eleva, 
permanece alta até por volta dos dias 15-
20 e começa a declinar fisiologicamente, 
já que a cadela apresenta luteólise lenta 
e gradativa (Figura 1). 
Figura 1. Gráfico demonstrando 
o perfil fisiológico da progesterona 
ao longo do diestro (linha azul) 
e gestação (linha rosa).
REPRODUÇÃO
27
Simultaneamente ao declínio 
da progesterona, ocorre aumento 
das concentrações plasmáticas de 
prolactina. Neste momento em que 
há uma interseção da diminuição 
da progesterona com o aumento 
da prolactina pode desencadear a 
pseudociese clínica em algumas cadelas. 
Essas alterações hormonais são similares 
entre cadelas gestantes e não gestantes 
e, aparentemente, 50-70% das fêmeas 
desenvolvem sintomas de pseudociese. 
Assim, a pseudociese clínica é atribuída 
ao aumento das concentrações da 
prolactina ou à sensibilidade individual 
à prolactina. Há divergência na 
literatura quanto às concentrações de 
prolactina nas cadelas com sintomas 
de pseudociese serem maiores do que 
naquelas que não apresentam sintomas.
A prolactina é um hormônio proteico 
produzido pelas células lactotróficas 
da adenohipófise, sendo estimuladas 
quando ocorre supressão da dopamina 
produzida no hipotálamo. Este 
hormônio é secretado em grandes 
quantidades em dois momentos do 
ciclo reprodutivo da cadela: durante 
a segunda metade do diestro ou 
gestação, para manter a produção de 
progesterona pelos corpos lúteos (efeito 
luteotrófico); e próximo ao parto, 
para preparar a glândula mamária, 
estimulando a secreção láctea. Acredita-
se ainda que a prolactina apresente 
diferentes biopotências associadas 
as suas diversas formas moleculares, 
o que poderia explicar as diferenças 
de intensidade de sintomas entre as 
fêmeas que apresentam pseudociese, ou 
mesmo a ausência de sintomas, já que 
a prolactina é o hormônio responsável 
pelo comportamento materno das 
fêmeas. 
Embora na maioria das vezes a 
pseudociese seja de ocorrência fisiológica, 
ela também pode ocorrer em situações 
específicas, como após o término de um 
tratamento com progestágenos; durante 
um tratamento com anti-progestágenos; 
após tratamento com prostaglandinas; 
três a quatro dias após a realização de 
ovariohisterectomia em cadelas que 
estejam no diestro. Em todas essas 
situações ocorre a mesma alteração 
hormonal descrita acima, diminuição de 
progesterona e aumento de prolactina.
Sintomas
Podem ser observados sintomas 
físicos, como desenvolvimento 
mamário, lactação, ganho de peso, e 
alterações comportamentais, como 
construção de ninhos (Figura 2), adoção 
de objetos, ato de cavar o chão, anorexia, 
hiperatividade, agressividade territorial, 
relutância em sair de casa para passear, 
além do comportamento de cadelas que 
mamam em suas próprias mamas. É 
raro, mas também pode ser observada 
distensão abdominal, vômitos e diarreia. 
Como fator complicador, cadelas 
que produzem muito leite podem 
desenvolver mastite.
Diagnóstico
O diagnóstico, normalmente, realiza-
se com base nos sintomas que a cadela 
apresenta, associado ao histórico 
de estro recentemente. Em caso de 
dúvidas quanto a fêmea estar ou não 
gestante, deve ser realizado exame 
ultrassonográfico abdominal.
Tratamento
Na maioria dos casos a pseudociese 
é considerada normal e fisiológica, e os 
sintomas costumam regredir num prazo 
de 10 a 30 dias, mesmo quando nenhum 
tratamento é realizado. Em casos mais 
avançados e principalmente com 
lactação, há necessidade de tratamento 
clínico, variável conforme a intensidade 
dos sintomas. Todavia, para o início do 
tratamento, é fundamental excluir a 
possibilidade de a cadela estar gestante.
O tratamento clínico é indicado 
quando os sintomas incomodam o 
proprietário (ex: agressividade); quando 
há muita produção de leite; ou em 
cadelas que desenvolveram mastite. 
Além disso, embora haja controvérsias 
sobre a maior incidência de tumores 
mamários em cadelas que apresentam 
pseudociese, o tratamento é indicado 
para minimizar este possível efeito.
O uso de progestágenos, andrógenos 
e estrógenos é contraindicado na 
atualidade. Em cadelas que apresentam 
muita secreção de leite, é indicado o uso 
de um inibidor da prolactina.
Lembretes
• A ocorrência de 
pseudociese não aumenta 
a probabilidade de a cadela 
apresentar piometra; ao 
contrário, cadelas acometidas por 
pseudociese parecem ter menor 
incidência de piometra;
• A incidência de 
pseudociese não é maior em 
cadelas com ciclos estrais 
irregulares;
• A ocorrência de 
gestação e parto não é um fator 
preventivo da pseudociese.
Figura 2. Fotos do ninho (A) e da 
cadela dentro do ninho (B) construído 
em barranco, devido à pseudociese.
REPRODUÇÃO
28
Há três substâncias desta categoria 
que podem ser usadas em cadelas, 
com potências variadas entre elas, 
sendo a cabergolina a mais potente. A 
primeira é a bromocriptina, um fármaco 
agonista dopaminérgico não-seletivo, 
ou seja, estimulante da dopamina que, 
em contrapartida, inibe a liberação 
de prolactina. A bromocriptina está 
disponível no mercado humano 
(Parlodel®, Bromocriptina Neovita®, 
Bagren®), mas por não ser bem tolerada 
e ainda causar vários efeitos colaterais, 
como vômito, inapetência e anorexia, 
é pouco usada. Pode ser usada na dose 
de 10-20 µg/kg, por via oral, duas a 
três vezes ao dia, administrada com o 
alimento, até cessarem os sintomas. 
Outro inibidor da prolactina é a 
metergolina (Contralac®), um fármaco 
antagonista serotoninérgico com ação 
dopaminérgica indireta, disponível no 
mercado veterinário nacional. Pode 
ser usada na dose de 0,1 mg/kg, duas 
vezes ao dia, por via oral, até cessarem 
os sintomas. Sintomas frequentemente 
relatados com o uso de metergolina são 
a agressividade e a agitação.
O terceiro inibidor da prolactina 
é a cabergolina, um agonista 
dopaminérgicoseletivo de receptores 
D2 altamente potente, de longa ação e 
baixos efeitos colaterais. A cabergolina 
de uso veterinário é encontrada em 
países da Europa (Galastop®) e na 
Argentina (Relay®). No Brasil, está 
disponível apenas no mercado humano 
(Dostinex®), na forma de comprimidos. 
Pode ser usada na dose de 5 µg/kg, por 
via oral, uma vez ao dia, até cessarem 
os sintomas. Há eficácia com o uso de 
comprimidos fracionados e encapsulados 
em farmácias de manipulação. Outras 
formas de tratamento incluem o uso 
de colar elisabetano para as cadelas que 
mamam o leite de suas próprias mamas; 
não permitir a adoção de objetos; não 
permitir que a cadela venha a cavar 
ninhos; realizar restrição hídrica e 
calórica. A retirada de leite das mamas 
é contraindicada, já que estimula 
mais a lactação. Sedativos, como os 
fenotiazínicos e butirofenonas, também 
são contraindicados por causarem 
hiperprolactinemia. Todavia, pomadas 
adstringentes podem ser usadas nas 
mamas.
O diagnóstico diferencial deve 
ser feito com piometra, lactação 
pós-parto, e condições que causam 
hiperprolactinemia, como o 
hipotireroidismo, falha renal ou hepática, 
administração de esteroides sexuais e o 
uso de medicações psicoativas.
As cadelas que apresentam 
pseudociese clínica uma vez tendem a 
apresentar também nos futuros ciclos 
reprodutivos. Portanto, a única forma 
de prevenir a ocorrência de recidivas 
de pseudociese é com a realização de 
ovariohisterectomia ou ovariectomia.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
29
EFEITO DA SAZONALIDADE SOBRE A 
FUNÇÃO TESTICULAR DE CÃES
Anne Kemmer Souza, Luiz Guilherme Corsi Trautwein, Maria Isabel Mello Martins 
(Laboratório de Biotécnicas da Reprodução – REPROA. Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: imartins@uel.br)
A reprodução animal constitui-se 
num dos fatores de maior importância 
para sobrevivência das espécies. Os 
carnívoros são conhecidos por sua 
fisiologia reprodutiva peculiar, a qual 
ainda enfrenta desafios na reprodução 
assistida. A reprodução animal ocorre 
apenas quando as demandas de 
manutenção celular, termorregulação, 
gasto de energia e ausência de afecções 
estão equilibradas. Com isso, a maioria 
dos animais de vida livre apresenta certa 
tendência à sazonalidade, reproduzindo-
se em períodos específicos do ano, nos 
quais as variações ambientais possam 
favorecer a sobrevivência da espécie. 
Com a domesticação, a proteção dos 
animais contra as condições ambientais 
mais adversas promoveu a diminuição 
ou supressão de muitas das expressões 
fisiológicas sazonais.
A sazonalidade representa um evento 
que costuma ocorrer sempre num 
momento temporal específico. Por este 
motivo, a palavra sazonal é bastante 
usada para se referir a determinada 
estação ou época, como as quatro 
estações do ano, que em regiões com 
clima temperado costumam ser bem 
definidas: verão, outono, inverno e 
primavera. Sendo assim, uma questão 
importante é o conhecimento a respeito 
da influência da sazonalidade na 
reprodução de caninos domésticos. 
O mecanismo de controle endócrino 
da reprodução nos machos pode sofrer 
influências diretas do fotoperíodo 
e interferir na regulação sazonal da 
reprodução dos mamíferos. O efeito do 
fotoperíodo envolve, pelo menos, dois 
mecanismos independentes. Primeiro, 
existe uma ação direta sobre o eixo 
hipotalâmico-hipofisário e segundo, 
existe uma modificação simultânea na 
sensibilidade do sistema nervoso central 
para o mecanismo retrógrado negativo 
dos esteroides.
Em espécies sazonais, o fotoperíodo 
é o estímulo primário para a liberação 
de GnRH (hormônio liberador de 
gonadotrofina). A glândula pineal 
produz uma substância envolvida com 
a regulação do ritmo circadiano e com 
a função reprodutiva: a melatonina, 
um hormônio derivado do aminoácido 
triptofano. Sua produção é regulada 
pela quantidade de luz percebida pelos 
fotorreceptores na retina, atingindo 
picos máximos durante o período de 
escuridão. Tais estímulos luminosos são 
traduzidos pelos fotorreceptores e os 
sinais elétricos percorrem uma via neural 
que passa pelo núcleo supraquiasmático 
do hipotálamo, terminando na 
pineal, quando ativa sua secreção. A 
melatonina, uma vez secretada, atinge 
a adenohipófise reduzindo a secreção 
dos hormônios gonadotrópicos (FSH e 
LH). A duração da secreção pulsátil de
REPRODUÇÃO
30
melatonina promove um calendário 
interno que regula ciclos sazonais na 
reprodução e outras condições nas 
espécies fotoperiódicas.
A importância da sazonalidade 
reside justamente no fato de que, nos 
dias longos ou de maior luminosidade, 
a produção suprimida de melatonina 
estimula a produção de gonadotrofinas 
hipofisárias, estimulando, assim, a 
atividade reprodutiva dos animais. A 
atividade sexual nos mamíferos selvagens 
varia de acordo com as estações do ano. 
Estudos experimentais demonstram que 
a variação do número de horas de luz 
diária é o que mais influencia a atividade 
sexual e, eventualmente, desencadeia 
variações nos níveis plasmáticos de 
gonadotrofinas e de prolactina.
A mensuração da testosterona sérica 
e a concentração de gonadotrofinas 
proporcionam informações sobre o 
“status” funcional do eixo hipotalâmico 
- hipofisário - testicular. A mensuração 
de LH e testosterona sérica indicou 
alteração no padrão anual cíclico da 
secreção de LH e um pico significativo 
na testosterona, durante o outono, o que 
sugere uma sazonalidade ancestral em 
cães machos mestiços. No hemisfério 
norte, foram detectadas variações nas 
concentrações de testosterona entre os 
cães, mas não variações sazonais.
Variações sazonais têm sido 
reportadas nas concentrações de LH 
(1,0 - 1,2 ng/mL a 3,8 – 10,0 ng/mL) e 
testosterona (0,5 – 1,5 ng/mL e picos de 
até 3,5 – 6,0 ng/mL) em cães. Embora 
haja uma relação entre a secreção dos 
dois hormônios, as influências sazonais 
sobre eles são independentes. 
Em um estudo realizado com cães 
domésticos, na região subtropical 
brasileira, não foi identificada correlação 
entre a concentração média de 
testosterona e a temperatura ambiental 
nem com o índice pluvial, entretanto, 
houve uma diminuição significativa 
durante o verão, provavelmente 
associada às mudanças marcantes 
nas condições ambientais. Talvez, o 
principal fator estressor tenha sido 
o aumento significativo da umidade, 
resultante de alta temperatura e do alto 
índice pluvial no verão.
A diminuição nas concentrações de 
testosterona em cães, no período de 
verão (1,31 ± 0,52 ng/mL), em relação 
à primavera (1,93 ± 0,38 ng/mL) e 
ao outono (2,02 ± 0,98 ng/mL) não 
foi o suficiente para caracterizar uma 
inatividade testicular. Níveis baixos de 
testosterona sérica nem sempre estão 
relacionados com a queda na produção 
espermática, pois, a concentração de 
testosterona intratesticular é cerca de 
50 a 100 vezes maior que a testosterona 
sérica, portanto, para evidenciar uma 
sazonalidade mais definida, seria 
interessante dosar a testosterona 
intratesticular.
Uma das dificuldades ao se estudar 
o perfil hormonal relacionado à 
sazonalidade, além da variação 
individual, é a obtenção de um grande 
número de cães da mesma raça, 
submetidos ao mesmo manejo. As 
concentrações séricas de testosterona 
podem ser determinadas por 
radioimunoensaio (RIA), em fase sólida, 
utilizando-se “kits” comerciais. As 
amostras de sangue devem ser coletadas 
sempre no mesmo horário durante 
todo o controle, pois, os resultados são 
sensíveis a pequenas alterações. 
Outro fator que pode ser influenciado 
pela sazonalidade é a qualidade 
espermática. Diferentemente da maioriados canídeos selvagens, que apresentam 
uma inatividade testicular na estação 
não reprodutiva das fêmeas, os cães 
domésticos permaneceram férteis 
durante todo o ano, embora, tenha 
sido observado sêmen de qualidade 
melhor na primavera e pior no verão. 
A baixa qualidade do sêmen pode estar 
relacionada às altas temperaturas do 
verão. 
A próstata e o testículo também 
podem ser mensurados para avaliar 
a influência das condições climáticas 
sobre a atividade endócrina testicular. 
Mudanças sazonais no tamanho 
testicular foram descritas em canídeos 
não domésticos (lobos vermelhos), 
residentes no hemisfério norte, nos 
meses de primavera (fevereiro e 
março), combinando diminuição no 
tamanho testicular e peso testicular. 
Entretanto, em cães domésticos da 
região subtropical brasileira não foram 
identificadas alterações sazonais. 
Portanto, pode-se concluir que, 
embora haja uma influência do 
ambiente sobre os aspectos reprodutivos 
de cães domésticos, os efeitos não são 
suficientes para tornar o macho inativo 
sexualmente, no período de menor 
estímulo hormonal, pois, a função 
testicular dos cães é pouco influenciada 
pelo fotoperíodo.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
31
USO DE AGONISTAS DO GNRH COMO CONTRACEPTIVO 
REVERSÍVEL EM GATOS DOMÉSTICOS
 
Camila Louise Ackermann, Maria Denise Lopes 
(Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária. Unesp – Botucatu. E-mail: denise@fmvz.unesp.br)
Introdução
O controle populacional de cães 
e gatos é tema constante entre 
veterinários e comunidade. Há uma 
preocupação recorrente, advinda do 
aumento proporcional do número de 
cães e gatos domiciliados em relação ao 
número de animais abandonados e/ou 
vítimas de maus tratos. A maioria dos 
veterinários tem se esforçado em indicar 
a castração para todos os pets, cujos 
proprietários não possuam interesse 
em reproduzi-los ou não os atribuam 
valor genético. Proprietários de gatos 
são mais facilmente convencidos acerca 
da importância da castração, visto que a 
maioria dos animais de estimação não 
possui raça definida.
Apesar de a contracepção cirúrgica 
ser o método de escolha para felinos 
domésticos, existe uma parcela de 
proprietários que requerem uma 
alternativa a este método de controle 
populacional. Essa demanda surge 
por diversas razões, entre rejeição a 
métodos cirúrgicos, a crença de que a 
retirada dos órgãos reprodutivos é de 
alguma forma prejudicial aos animais 
e à sua identidade ou, ainda, devido 
a proprietários, principalmente de 
animais de alto valor zootécnico e/ou 
emocional, que desejam apenas uma 
pausa no ciclo reprodutivo, o que gera 
uma procura por opções reversíveis. 
Existem algumas opções de 
contraceptivos reversíveis e é importante 
se considerar os efeitos, duração, 
formulação e possíveis efeitos colaterais 
para que a escolha do contraceptivo seja 
adequada ao indivíduo em questão. Para 
felídeos, os métodos mais utilizados 
são os progestágenos e os análogos do 
hormônio liberador de gonadotrofina 
(GnRH). 
O uso indiscriminado dos 
progestágenos traz riscos sérios à saúde 
das fêmeas e, na maioria das vezes, quem 
indica esses produtos são profissionais 
de casas agropecuárias, sem formação 
em medicina veterinária, que acabam 
fazendo mau uso dessa medicação. Já os 
agonistas do GnRH são uma alternativa 
mais recente, com poucos efeitos 
colaterais e com a vantagem de poder 
ser utilizada em machos e fêmeas. 
Este artigo objetiva fazer uma breve 
revisão sobre o uso de agonistas do 
GnRH na contracepção de gatos 
domésticos.
GnRH e seus agonistas
O GnRH é um hormônio 
decapeptídeo, liberado de forma 
pulsátil e que possui meia-vida de 
apenas 2 a 5 minutos. É o hormônio 
responsável pela regulação da síntese 
e liberação de gonadotrofinas, ou seja, 
hormôniofolículo estimulante (FSH) 
e hormônio luteinizante (LH), pela 
pituitária O uso do GnRH e seus 
análogos como fármacos contraceptivos 
pode parecer contraditório, visto que 
esse mesmo hormônio é considerado 
chave para o funcionamento do 
processo reprodutivo e gametogênese. 
Porém, o tratamento com agonistas 
do GnRH, inicialmente induz ao 
aumento das concentrações de LH e 
FSH, seguido de retorno aos níveis 
basais. A exposição contínua cessa a 
secreção pulsátil de LH devido a uma 
dessensibilização dos receptores de 
GnRH nas células gonadotróficas, 
o que leva ao decréscimo na síntese 
de LH e FSH com consequente 
supressão da função reprodutiva.
Desde o isolamento e caracterização 
do GnRH, mais de 3000 análogos 
foram desenvolvidos, entre agonistas 
e antagonistas. Os análogos do 
GnRH são peptídeos similares ao 
GnRH, mas modificados para possuir 
meia-vida e potência maiores que o 
GnRH endógeno. Entre os agonistas 
disponíveis comercialmente estão a 
buserelina, o leuprolide e o acetato 
de deslorelina, sendo este de maior 
interesse na veterinária. 
O acetato de deslorelina está 
disponível comercialmente sob a 
forma de implantes subcutâneos de 
longa duração. Os implantes podem 
ser alocados na região umbilical ou 
interescapular (Figura 1). O uso de 
anestesia ou sedativos só é necessário 
em casos de animais estressados ou 
agressivos, visto que o procedimento é 
semelhante à microchipagem. Apesar 
da indicação e licença comercial do 
fabricante ser para o uso em para cães 
domésticos machos, diversos estudos 
demonstraram que este medicamento 
pode ser utilizado com eficácia e 
segurança também em fêmeas de 
diversas espécies de mamíferos, 
incluindo os gatos domésticos. Assim, o 
acetato de deslorelina tem sido utilizado 
como contraceptivo reversível em 
muitos países europeus, Estados Unidos 
e Canadá.
Uso de acetato de deslorelina na 
contracepção de fêmeas 
REPRODUÇÃO
32
A aplicação de acetato de deslorelina 
como contraceptivo em gatas teve 
seu primeiro relato em 2001 e, desde 
então, muitos grupos de pesquisas têm 
se dedicado a confirmar a segurança e 
eficácia deste contraceptivo. 
No tratamento contraceptivo das 
fêmeas, incluindo gatas domésticas, 
inicialmente há uma estimulação 
dos hormônios gonadotróficos, com 
consequente apresentação de sinais de 
comportamento estral. Posteriormente, 
as fêmeas apresentam quiescência 
ovariana. Esse “cio” inicial normalmente 
é infértil, porém, aconselha-se separar 
estas fêmeas de machos para evitar 
possíveis coberturas. 
Devido a esta estimulação ovariana 
inicial, aconselha-se a aplicação dos 
implantes durante a fase de diestro 
(presença de corpo lúteo e alta 
concentração de progesterona), porém, 
as gatas são ovuladoras induzidas, 
ou seja, só terão diestro caso sejam 
induzidas (via cópula ou estimulação 
exógena). Assim, alguns autores 
indicam a associação de progestágenos 
exógenos no início do tratamento 
contraceptivo. Uma opção para fêmeas 
que já estejam no cio é induzir a 
ovulação, monitorando a concentração 
de progesterona, por meio de dosagem 
laboratorial para confirmar a ovulação 
e aplicação do implante nesta fase, a 
fim de evitar ou ao menos diminuir a 
estimulação inicial.
Segundo o fabricante, o implante 
de 4,7 mg é eficaz por 6 meses e o de 
9,4 mg por 12 meses, em cães machos 
e adultos. Esperava-se que, em fêmeas, 
a duração da contracepção fosse algo 
similar, porém, ela varia individualmente 
e os relatos vão de 483 a 1025 dias 
(incluindo fêmeas que receberam mais 
reaplicações de implantes, após 6 a 12 
meses de tratamento). Esse tipo de 
resposta inconsistente é indesejada, um 
dos motivos pelos quais este produto 
ainda não teve sua formulação aprovada 
para a venda nos Estados Unidos.
Apesar da reversãoespontânea 
ser imprevisível, é possível reverter a 
contracepção no momento em que o 
proprietário ou o veterinário acharem 
mais adequados, contornando o que 
seria a desvantagem do uso deste 
contraceptivo. Os implantes subcutâneos 
podem ser removidos através de uma 
pequena incisão no sítio de aplicação, e 
o estro e a ovulação podem ser induzidos 
por meio de terapia hormonal. É 
importante ressaltar que este primeiro 
cio, seja induzido ou espontâneo, não 
deve ser utilizado para reprodução, visto 
que o ambiente uterino precisa de um 
pouco mais de tempo para estar apto a 
manter uma gestação. 
Em geral, não são relatados efeitos 
colaterais e indesejados. Os efeitos no 
ganho de peso dos animais tratados 
são similares aos da castração. Além 
disso, há relatos de uma diminuição na 
agressividade e melhora significativa do 
aspecto da pelagem durante o período 
de contracepção.
Uso de acetato de deslorelina na 
contracepção de machos 
A utilização da contracepção 
masculina é uma alternativa viável para o 
controle populacional de espécies felinas 
mantidas em cativeiro, representando 
importante papel na preservação da 
saúde reprodutiva e social das fêmeas, 
porém, a quantidade de informações a 
respeito do uso de contraceptivos em 
machos é menor quando comparada à 
quantidade de informações em fêmeas. 
Possivelmente, isso se relacione com a 
cultura humana, em que a contracepção 
feminina é mais utilizada ou, ainda, com 
o fato da gestação ser exclusivamente 
feminina, assim, os proprietários se 
preocupam muito mais com suas fêmeas 
do que com os machos no momento 
da busca pelo contraceptivo ideal. 
Em gatas, o uso de contraceptivos 
reversíveis já ultrapassou a esfera da 
pesquisa, a demanda existe e, como 
mencionado, em alguns países é uma 
prática comum. Para os machos, a 
contracepção reversível ainda está restrita 
à pesquisa, e a quantidade de informações 
disponíveis é escassa e recente.
Assim como nas fêmeas, quando 
tratados com acetato de deslorelina, os 
machos apresentam uma fase inicial 
de estimulação, com aumento na 
síntese e liberação de testosterona na 
primeira semana de tratamento, com 
um decréscimo na segunda semana, 
chegando a níveis indetectáveis na 
terceira e mantendo-se assim até o 
fim do tratamento. Nos machos essa 
estimulação inicial não pode ser evitada, 
recomenda-se o acompanhamento 
com uso de dosagens de testosterona 
seriadas, uma vez por semana, até as 
concentrações serem indetectáveis 
e, posteriormente, uma vez por mês, 
para garantir que a contracepção esteja 
mantida. 
A reversão varia individualmente 
entre 6 a 24 meses. A interrupção 
do tratamento por meio da retirada 
dos implantes acelera o processo de 
retorno à atividade reprodutiva. Não 
há pesquisas revelando se a terapia 
hormonal exógena é capaz de acelerar 
o processo de reversão. Sabe-se que, 
em cerca de dois meses, a histologia 
do epitélio germinativo testicular 
apresenta-se normal e espera-se que, 
em cerca de três meses, esses machos 
já estejam aptos a realizar uma cópula 
fértil novamente (Figura 2).
Todos os efeitos relacionados à 
orquiectomia também são observados 
com o uso do acetato de deslorelina. 
Há uma diminuição da concentração 
de testosterona; observa-se o 
desaparecimento das espículas penianas; 
aumento da ingestão de alimento; 
hábito de urinar várias vezes para marcar 
território diminui ou cessa por completo; 
há uma diminuição da agressividade 
e libido. É possível observar, ainda, a 
redução do volume testicular e alterações 
no comportamento reprodutivo, ou seja, 
machos que ainda demonstram algum 
tipo de interesse nas fêmeas apresentam 
comportamento de cópula anômalo, 
montando em posição contrária nas 
fêmeas e perdendo rapidamente o 
interesse.
Os dados publicados até o momento 
sugerem que o acetato de deslorelina 
é uma opção segura e eficaz para a 
REPRODUÇÃO
33
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
contracepção de felinos machos. Sugere-
se a separação das fêmeas até que a 
supressão espermática seja completa e 
o monitoramento hormonal, por meio 
de dosagens de testosterona periódicas, 
para confirmar a supressão e monitorar 
a reversão e, portanto, o momento de 
reaplicação do contraceptivo, caso seja a 
vontade do proprietário. 
Considerações finais
O uso de contraceptivos reversíveis 
ainda é recente em medicina veterinária, 
porém, alternativas como os agonistas 
do GnRH têm provado ser uma 
opção segura e eficaz para machos e 
fêmeas de gatos domésticos. É certo 
que, com o aumento da população pet, 
principalmente de animais de raça com 
alto valor zootécnico ou animais sem 
raça definida, porém, com alto valor 
emocional, alternativas à contracepção 
cirúrgica serão requeridas pelos 
proprietários. 
Trazer o máximo de informações aos 
proprietários para que eles entendam 
as vantagens desse tipo de controle 
populacional é benéfico à relação 
veterinário/proprietário. Fazer uso dos 
recursos disponíveis, como a dosagem 
hormonal, dá a segurança de que o 
método utilizado é 100% eficaz, além 
de auxiliar na determinação do início 
do tratamento das fêmeas, observação 
da estimulação hormonal após o 
início do tratamento e determinação 
do funcionamento do implante nos 
machos, bem como, auxiliar na decisão 
do momento da aplicação de outro 
implante, para dar continuidade ao 
tratamento.
Atualmente, o acetato de deslorelina é 
considerado o método de contracepção 
reversível mais promissor para o 
mercado pet. Apesar de ainda não estar 
disponível comercialmente no Brasil, 
devido à sua popularidade na Europa 
e por ser comercializado por uma 
empresa multinacional, acreditamos 
que o mesmo deverá entrar no mercado 
brasileiro em um futuro próximo.
Figura 1. (A) Aplicação do implante de acetato de deslorelina em uma gata 
anestesiada; (B) Nota-se uma leve elevação na pele da fêmea (círculo pontilhado), 
onde se localiza o implante e ao lado uma pequena incisão causada pela agulha de 
aplicação.
Figura 2. (A) Imagem de histologia testicular com o epitélio germinativo 
depletado (não há mais produção de espermatozoides) devido ao tratamento com 
acetato de deslorelina (2 meses de tratamento). (B) Imagem de histologia testicular 
com o epitélio germinativo recuperado 2 meses após o término do tratamento com 
acetato de deslorelina.
DERMATOLOGIA
34
REPRODUÇÃO
ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GESTAÇÃO
Jamile Haddad Neta, Paula Postali Ananias, Maria Isabel Mello Martins 
(Laboratório de Biotécnicas da Reprodução – REPROA. Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: imartins@uel.br)
Introdução
A energia que sustenta o organismo 
humano e animal deriva, direta ou 
indiretamente, da quebra de ligações 
covalentes entre carbonos existentes 
nos carboidratos, proteínas e lipídeos. 
Considerando que a aquisição de 
energia pelo organismo é intermitente e 
o gasto energético é constante, o corpo 
precisa armazenar e distribuir energia 
de maneira coordenada. A regulação do 
metabolismo energético envolve uma 
correlação complexa entre os nutrientes 
ingeridos, os hormônios e as trocas de 
substratos entre órgãos que visam manter 
um aporte de nutrientes constante 
e adequado para todos os tecidos. 
A insulina é o principal hormônio 
que regula essa troca e distribuição 
de substratos entre os tecidos, nos 
estados pós-prandial e de jejum. 
Glucagon, catecolaminas, hormônio do 
crescimento e cortisol possuem papel 
importante na regulação energética 
em situações agudas de necessidades 
energéticas, como a que acontece 
durante o exercício, em condições de 
estresse, ou em reposta à hipoglicemia.Os principais órgãos envolvidos com a 
homeostase energética são: fígado, que é 
o principal produtor de glicose; sistema 
nervoso, que no período pós-prandial ou 
no começo do período de jejum utiliza 
quase que exclusivamente a glicose para 
suas necessidades energéticas; músculo e 
tecido adiposo, que respondem à insulina 
armazenando energia na forma de 
glicogênio e gordura, respectivamente.
O balanço energético pode ser definido 
como a diferença entre a quantidade de 
energia adquirida e gasta na realização 
das funções vitais e de atividades em 
geral. Pode tornar-se positivo quando 
a entrada de energia é maior do que a 
gasta, negativo quando a entrada de 
energia é menor do que a saída, e neutro 
quando ambos se igualam.
Existem dois períodos funcionais, 
durante os quais o corpo fornece energia 
para a realização das atividades celulares: 
1) Alimentado, quando os nutrientes 
ingeridos no trato gastrointestinal 
entram na corrente sanguínea; 2) 
Restrição alimentar, durante a qual o 
trato gastrointestinal não tem nutrientes 
e a energia deve ser suprida pelas 
próprias reservas corporais. No caso 
da gestação, a gordura corpórea é uma 
fonte de energia importante, pois ocorre, 
tanto uma resistência insulínica, quanto 
um aumento da demanda energética 
nas últimas semanas de prenhez. Para 
melhor compreensão destes estados, 
estudaremos separadamente cada um 
deles.
Metabolismo energético do 
alimentado
Uma refeição média contém 
todos os três principais nutrientes: 
carboidratos, lipídios e proteínas, sendo 
que os carboidratos são os de mais 
fácil digestão e, assim, contribuem 
com a maior parte do conteúdo 
energético de uma refeição típica. 
A glicose constitui a principal fonte 
de energia do corpo neste estado, sendo 
que grande parte entra nas células, pela 
insulina, onde ocorre a catabolização em 
dióxido de carbono e água, liberando 
energia para a produção de ATP. O 
músculo esquelético constitui a maior 
parte da massa corporal e é o principal 
consumidor de glicose, mesmo em 
repouso. Além de catabolizar a glicose,
REPRODUÇÃO
35
o músculo contém o aparato enzimático 
necessário à conversão da glicose em 
glicogênio, que pode ser utilizado 
durante o período de restrição 
alimentar. As células do tecido adiposo 
também catabolizam a glicose para 
fornecer energia; entretanto, o destino 
mais importante da glicose nos 
adipócitos durante a fase alimentado é 
sua transformação em gordura. Outra 
fração grande da glicose absorvida entra 
nas células hepáticas, onde é captada 
e armazenada na forma de glicogênio, 
ou transformada em glicerolfosfato 
e ácidos graxos, que são utilizados 
na síntese de triglicerídeos. Parte da 
gordura sintetizada a partir da glicose 
no fígado é armazenada, porém, a 
maioria é acondicionada juntamente 
com proteínas específicas, formando 
lipoproteínas, que são armazenadas no 
tecido adiposo. 
Os aminoácidos absorvidos entram 
nas células para serem utilizados na 
síntese de proteínas. Outra parte 
é absorvida pelos hepatócitos e 
utilizado na síntese de uma série 
de proteínas, como as enzimas 
hepáticas e as proteínas plasmáticas; 
ou são convertidos em intermediários 
semelhantes a carboidratos, conhecidos 
como α-cetoácidos. Os grupos amino 
são utilizados para a síntese de ureia no 
fígado, que entra no sangue e é excretada 
pelos rins.
Os α-cetoácidos podem entrar no 
ciclo de Krebs e serem catabolizados 
para fornecer energia para as células 
hepáticas. Além disso, podem ser 
convertidos em ácidos graxos, 
participando, assim, da síntese de 
gorduras pelo fígado. 
Metabolismo energético no 
estado de restrição alimentar
A maior prioridade para a liberação 
de energia, durante a restrição alimentar, 
é a manutenção de um fornecimento 
estável de glicose para o funcionamento 
do Sistema Nervoso Central (SNC). 
Baixas concentrações plasmáticas de 
glicose prejudicam o funcionamento 
neural, enquanto valores elevados 
excedem o limiar renal de excreção, 
resultando em poliúria e levando a 
múltiplas complicações associadas à 
diabetes mellitus mal controlada. 
Durante um jejum noturno, a 
glicogenólise, seguida da gliconeogênese, 
mantém a glicemia. A hipoinsulinemia 
associada à hiperglucagonemia, 
entre quatro a cinco horas após uma 
refeição, faz com que o fígado comece a 
metabolizar suas reservas de glicogênio 
e liberar glicose. Além disso, tanto 
o fígado quanto o rim, em menor 
proporção, produzem glicose, por meio 
da gliconeogênese. A liberação de glicose 
por esses dois órgãos é possível, porque, 
ao contrário do músculo esquelético, são 
os únicos com quantidades significantes 
de glicose-6-fosfatase, que cataliza a 
conversão de glicose-6-fosfato a glicose. 
A glicogenólise e a gliconeogênese 
hepáticas contribuem com 
aproximadamente 50% da produção 
total de glicose pelo organismo, durante 
as primeiras horas de jejum. 
No caso de restrição alimentar 
por mais de dois dias, o fígado 
metaboliza ácidos graxos para elevar 
as concentrações plasmáticas de corpos 
cetônicos com o objetivo de surprir as 
necessidades energéticas do sistema 
nervoso de forma eficiente. 
A hipoglicemia diminui a secreção 
de insulina e estimula a secreção de 
hormônios anti-insulínicos, tais como: 
o glucagon, epinefrina, norepinefrina, 
hormônio do crescimento e cortisol, os 
quais promovem a lipólise, glicogenólise 
e gliconeogênese que, em contrapartida, 
aumentarão a concentração sanguínea 
de glicose, ácidos graxos e cetonas. 
Fatores neurogênicos e mediadores 
inflamatórios também estimulam a 
liberação de glicose, ácidos graxos 
e cetonas. Esta coreografia neuro-
hormonal é determinante da 
manutenção da glicemia, com níveis 
de glicose sérica oscilando dentro dos 
níveis aceitáveis, que podem variar entre 
73 a 134 mg/dL, sendo que, em um cão 
em restrição alimentar, oscila entre 70 a 
110 mg/dL.
Metabolismo energético no 
período gestacional 
A gestação é um período no qual os 
animais passam por diversas alterações 
metabólicas, decorrentes de alterações 
hormonais e do aumento da demanda 
energética, devido ao desenvolvimento 
de útero, glândulas mamárias, placenta, 
embrião e feto. A gestação afeta os 
mecanismos glicorreguladores de duas 
maneiras: 
1) Resistência à insulina: Cadelas 
gestantes apresentam acentuada redução 
da sensibilidade à insulina, causada 
provavelmente por um defeito na via de 
sinalização pós-receptor, capacitando 
a mobilização de ácidos graxos dos 
adipócitos e um desvio da síntese 
hepática de gordura para a oxidação 
e cetogênese, o que pode resultar em 
diabetes mellitus gestacional. Na fase 
gestacional, o principal hormônio 
envolvido na resistência insulínica é o 
hormônio lactogênio placentário, no 
entanto, pode haver envolvimento de 
outros hormônios hiperglicemiantes, 
como: cortisol, estrógeno, progesterona, 
hormônio do crescimento e prolactina, 
bem como, citocinas placentárias. A 
progesterona pode atuar de uma forma 
direta, em que diminui o transporte 
da glicose para os tecidos; e de uma 
forma indireta, quando induz, entre 
o trigésimo dia e o final da gestação, 
a hipersecreção de hormônio do 
crescimento (GH) pela adenohipófise 
e pelas glândulas mamárias. O GH é 
um potente hormônio diabetogênico, 
que diminui o número de receptores de 
insulina nas células e o transporte de 
glicose aos tecidos.
2) Diminuição da resposta hormonal 
compensatória à hipoglicemia: 
A gestação suprime, também, os 
mecanismos contra-regulatórios 
que respondem à hipoglicemia, 
diminuindo a habilidade dos hormônios 
anti-insulínicos, como glucagon, 
norepinefrina e, em menor grau, o 
cortisol, em responder à hipoglicemia, 
o que promove uma deficiência 
intracelular absoluta de energia e 
hipoglicemia persistente. 
REPRODUÇÃO
36
Uma importante resposta à 
hipoglicemia é a supressão da secreção 
de insulina, a qual irá promover a 
mobilização de gordura armazenada 
e a liberação de ácidos graxos e 
cetonas. Em um quadro extremo, pode 
resultar em hipoglicemia e cetose. 
Desta forma,assim como no diabete 
mellitus gestacional existe a habilidade 
diminuída na utilização da glicose, na 
gestação ocorre uma diminuição da 
habilidade de produção de glicose via 
gliconeogênese, glicogenólise e lipólise, 
devido a um prejuízo na resposta normal 
do glucagon, norepinefrina e cortisol à 
hipoglicemia. Esta redução na produção 
de glicose, combinada a um aumento 
da utilização pela placenta e fetos cria 
um risco maior no desenvolvimento 
de hipoglicemia, comuns em cadelas e 
mulheres normais no final da gestação, 
ainda mais quando ocorre modificações 
na quantidade e qualidade da dieta. 
Apesar dos achados similares 
de hipoinsulinemia e supressão da 
produção de glicose em mulheres, 
ovelhas e cadelas gestantes, existem 
diferenças marcantes entre estas 
espécies na chamada “toxemia da 
prenhez”. Na ovelha, a causa primária 
da toxemia da prenhez é a redução 
na produção de glicose, ao invés do 
aumento da utilização pelo feto e pela 
placenta. Curiosamente, a homeostase 
da glicose é menos controlada em 
ovelhas, durante a gestação final, do que 
durante a lactação inicial. Isso contrasta 
com as vacas leiteiras, pois, nelas a 
hipoglicemia e cetose se desenvolvem 
durante o período pós-parto imediato e 
no pico da lactação. 
Assim como em mulheres grávidas, 
a concentração de insulina plasmática 
é muito baixa em ovelhas prenhes, 
especialmente as que gestam gêmeos. A 
hipoinsulinemia estimula a cetogênese 
hepática e reduz a captação de corpos 
cetônicos periféricos. Na ovelha prenhe, 
a utilização de corpos cetônicos é 
prejudicada, durante a gestação final, 
o que agrava a hipercetonemia. A 
hipercetonemia, por si só, inibe a 
produção hepática de glicose, que 
agrava a hipoglicemia. A presença 
de outras desordens metabólicas, 
como hipocalcemia, pode piorar a 
toxemia da prenhez. A hipocalcemia 
causa uma diminuição da glicose 
plasmática em ovelhas prenhas ou não, 
lactantes ou não e, quando combinada 
com a hipercetonemia, facilita o 
desenvolvimento da toxemia da prenhez.
A toxemia na ovelha é resistente ao 
tratamento com glicose (com ou sem 
insulina) até que a prenhez finalize, e a 
mortalidade é muito alta. Nas mulheres, 
o termo toxemia da gestação refere-se 
à pré-eclampsia e ocorre em 5-7% das 
gestações humanas. De modo similar à 
toxemia na ovelha, a expulsão do feto é a 
única cura para a pré-eclampsia. 
Assim como na ovelha e na mulher, 
a cadela também pode desenvolver 
hipoglicemia e cetonemia no final 
da gestação. O risco de hipoglicemia 
na fase gestacional é acentuado 
pela combinação da diminuição da 
capacidade de produção de glicose, com 
o aumento da utilização pela placenta 
e o feto, e ampliado por alterações na 
qualidade e quantidade da dieta. Poucos 
casos foram encontrados na literatura 
de língua inglesa, desde 1964. Os sinais 
clínicos foram típicos de hipoglicemia 
aguda, incluindo fraqueza, ataxia, 
colapso, convulsões e coma. Apesar 
das semelhanças com outras espécies, a 
gênese e os mecanismos patofisiológicos 
envolvidos diferem entre as mesmas, a 
ponto de a hipoglicemia e cetonemia em 
cadelas prenhes ser considerada, ao invés 
de uma síndrome bem estabelecida e 
específica como na ovelha ou na mulher, 
o resultado de uma outra doença ou 
estresse ambiental que intensifica a 
demanda metabólica da gestação. 
O diagnóstico é simples e pode ser 
firmado pela demonstração de cetonúria 
com ausência de glicosúria, associado à 
hipoglicemia. Os métodos de dosagem 
do ácido β-hidroxibutírico (β-HB) 
sanguíneo são preferidos aos testes 
urinários ou sanguíneos de detecção de 
ácido acético (AcAc).
O tratamento preconizado para crise 
hipoglicêmica consiste na correção 
imediata da hipoglicemia, por meio da 
administração intravenosa de glicose 
50% na dose de 0,5 a 1 mL/Kg.
A orientação aos proprietários, 
quanto ao manejo adequado da gestação 
e cuidados nutricionais e sanitários 
pertinentes a este período de intensa 
demanda e complexidade fisiológicas, é 
extremamente importante, assim como 
a identificação da toxemia gestacional, 
evitando a perda das ninhadas e das 
reprodutoras.
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
3
3
3
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
REPRODUÇÃO
37
FISIOLOGIA DA HEMOSTASIA: NOVOS CONCEITOS
Warley Gomes dos Santos1, Marília Martins Melo2
(1MV, DSc em Ciência Animal, pela Escola de Veterinária, DCCV, UFMG. Atuação profissional: Clínica médica, emergência e cuidados intensivos vet-
erinários em cães e gatos. Certificado BLS – AHA; LAVECCS ABC Trauma e ABC Cuidados Intensivos. E-mail: drwarleysantos@hotmail.com
2Profa. Titular Dra. Laboratório de Toxicologia Veterinária, Escola de Veterinária, DCCV, UFMG.)
Introdução
Sistema homeostático
A hemostasia é entendida como uma 
série de eventos fisiológicos que visam 
manter o sangue em estado fluido no 
interior dos vasos sanguíneos e impedir 
o seu extravasamento ou formação 
de trombos. Para um entendimento 
didático, divide-se a hemostasia em 
três fases: (a) primária, com ênfase na 
atividade plaquetária; (b) secundária, 
com o envolvimento dos fatores de 
coagulação, culminando na formação 
do coágulo de fibrina; e (c) terciária ou 
fibrinólise, que consiste na degradação 
do coágulo por um sistema fibrinolítico. 
Para que isto ocorra de modo efetivo, é 
necessário um equilíbrio entre fatores 
pró-coagulantes e anticoagulantes. O 
mecanismo de “cascata da coagulação” 
foi proposto em 1964 por MacFarlane, 
Davie e Ratnoff. Segundo este modelo, 
a ativação do sistema de coagulação 
compreende duas vias distintas, a 
saber: a via extrínseca, que inclui 
elementos usualmente ausentes no 
espaço intravascular, e a via intrínseca, 
a qual apresenta apenas componentes 
intravasculares. Ambas as vias 
convergem para uma via comum a 
partir da ativação do fator X. A Figura 1 
resume o modelo clássico da hemostasia.
O conceito de cascata representou um 
avanço no entendimento da coagulação 
e foi, por décadas, um modelo de grande 
utilidade, o qual é ainda utilizado para 
explicar o princípio das reações in vitro 
que ocorrem nos testes de triagem da 
coagulação, tais como TP e TTPa. 
No entanto, vários fenômenos da 
hemostasia observados in vivo levaram 
à concepção de que tal modelo não era 
capaz de explicá-los satisfatoriamente. 
Considerou-se pouco provável que as 
vias intrínseca e extrínseca operassem 
como caminhos redundantes e 
independentes, sendo aceito que todos 
os fatores de coagulação se inter-
relacionam. 
Enfim, muitas dúvidas pairavam 
sobre várias alterações hemostáticas que 
acontecem in vivo. Entre estas dúvidas, 
constam algumas perguntas clássicas: 
Por que portadores de hemofilia 
tipo A (deficiência do fator VIII da 
coagulação) sangram mesmo tendo 
uma via extrínseca que, teoricamente, 
supriria uma deficiência na via 
intrínseca? Por que a administração de 
fator de coagulação VII pode promover 
hemostasia em pacientes com hemofilia 
tipo A? Diante das dúvidas relacionadas 
ao modelo clássico da hemostasia, em 
2001, Hoffman e Monroe propuseram 
um novo modelo, respondendo a várias 
perguntas que o modelo tradicional não 
esclarecia. O modelo da hemostasia 
baseado em superfícies celulares 
evidencia como “chave” a participação do 
fator tecidual (FT) ou fator III, presente 
nas membranas de células, como 
monócitos, fibroblastos e plaquetas, 
e coloca a hemostasia intensamente 
controlada pela geração da trombina. 
Neste modelo, divide-se didaticamente 
a hemostasia em 4 etapas: iniciação, 
amplificação, propagação, – embora 
estes eventos sejam praticamente 
simultâneos – e finalização, esta é 
DERMATOLOGIA
38
HEMATOLOGIA
Figura 1. Modeloclássico da cascata de 
coagulação. Compilado de Blaya et al. (1998). 
TPL = fator tecidual FT.
representada pela fibrinólise, que tem 
por objetivo o restabelecimento do fluxo 
sanguíneo.
Revisão da literatura Hemos- 
tasia baseada em superfícies 
celulares e o papel de alguns 
fatores de coagulação - Trombina 
(fator IIa)
A trombina ou fator de coagulação 
IIa é uma serinoproteinase da família 
das quimiotripsinas, dependente da 
vitamina K para sua ativação pela 
gamacarboxilação, semelhantemente 
aos fatores VII, IX e X. O precursor 
da trombina é o seu zimogênio, a 
protrombina. Esta é sintetizada no 
fígado. Após pequenas quantidades 
de trombina gerada, a coagulação 
irá se amplificando. Somente haverá 
uma burst de geração de trombina 
para propagar a coagulação após a 
protrombina ser clivada pelo complexo 
protrombinase, formado pelo fator de 
coagulação Xa e Va e pelo complexo 
tenase, formado pelos fatores IXa e 
VIIIa na presença de Ca++ na superfície 
plaquetária. A trombina atua como pró-
coagulante catalisando a conversão do 
fibrinogênio em monômeros de fibrina, 
liberando os fibrinopeptídeos alfa e beta 
e a ativação do fator de coagulação XIII, 
que irá tornar o coágulo de fibrina, antes 
hidrossolúvel, em um coágulo formado 
por ligações covalentes, mais estável e 
insolúvel. A trombina irá também ativar 
os fatores V e VIII, fundamentais para a 
formação dos complexos protrombinase 
e tenase, que garantirão a amplificação 
e propagação da coagulação. 
Adicionalmente, a trombina ativa as 
plaquetas via receptores ativadores 
de proteases PAR-1 e PAR-4. A 
regulação negativa da trombina se dá 
principalmente pela antitrombina III 
e serpinas. Paradoxalmente à atividade 
pró-coagulante, a trombina realiza 
um feedback negativo, ligando-se 
à trombomodulina nas células do 
endotélio, e ativa a proteína C, que 
atuará inibindo a ativação do fator V 
e VIII, sendo uma forma de reduzir a 
ativação da coagulação. 
Fator tecidual (FT) e Fator VII
O FT ou fator III é uma proteína 
trans-membrânica e está presente nas 
plaquetas, monócitos, células de músculo 
liso e em fibroblastos ao redor do leito 
vascular. Estudos têm demonstrado 
que, durante a fase de cicatrização e 
remodelamento de feridas ao redor 
dos neovasos, há pouca expressão do 
fator tecidual, razão pela qual os tecidos 
de granulação sangram facilmente. A 
ausência do fator tecidual ao redor destes 
neovasos possibilita que não ocorra 
trombose nestes vasos em formação. 
No modelo de cascata da coagulação, 
o fator tecidual é o responsável pelo 
início da via extrínseca da coagulação, 
ativando e se complexando com o fator 
VII. No modelo da hemostasia baseado 
em superfícies celulares, a coagulação só 
inicia quando há um contato do sangue 
com as células que expressam FT, o que 
ocorre após dano vascular. 
O fator de coagulação VII é 
sintetizado no fígado e é dependente da 
vitamina K para a sua ativação. O fator 
VII tem sido comercializado na forma 
recombinante e está em uso clínico em 
diversas situações. Novamente, surge 
o questionamento anterior: como o 
fator de coagulação VII irá promover 
hemostasia em pacientes com hemofilia 
tipo A ou mesmo nas situações 
citadas anteriormente, sem que haja 
a deficiência deste fator de origem 
genética? O modelo da hemostasia 
baseado em superfícies celulares 
esclarece esta questão, demonstrando 
que este fator será capaz de ativar 
diretamente o fator de coagulação IX e 
o fator X na superfície das células que 
expressam o fator tecidual, gerando 
pequenas quantidades de trombina, 
suficientes para iniciar a coagulação.
Fases do modelo in vivo da 
hemostasia baseado em superfícies 
celulares - Fase de iniciação
A iniciação da coagulação ocorrerá 
na superfície das células que expressam 
o fator tecidual (FT), a exemplo dos 
monócitos e fibroblastos. Ressalta-
se que todas as etapas da coagulação 
dependem da presença de uma 
membrana fosfolipídica e do fator de 
coagulação IV, ou seja, o íon cálcio. O 
FT é essencial para a ativação do fator 
VII de coagulação, pois leva à formação 
de um complexo FT/FVII para 
posterior ativação do fator X. O FXa irá 
ativar o fator V. Após a ativação do FVa, 
será formado o complexo FXa/FVa, 
culminando com a geração de pequenas 
quantidades de trombina.
Adicionalmente, o complexo FT/
FVII também é capaz de ativar o 
fator de coagulação IX, que irá formar 
o complexo tenase, associando-se ao 
FVIIIa. Esta etapa também irá ativar 
mais fator X e será capaz de gerar 
pequenas quantidades de trombina.
Fase de amplificação
As pequenas quantidades de trombina 
geradas inicialmente exercerão função 
de retroalimentação da coagulação 
promovendo a ativação dos fatores 
V, VIII e XI e, assim, amplificando 
a coagulação, cuja etapa ocorre na 
superfície de plaquetas ativadas. Com 
esta amplificação, cada vez mais será 
gerada uma maior quantidade de 
trombina e maior ativação, adesão e 
agregação plaquetária, e propagação da 
coagulação.
Fase de propagação
A propagação ocorre na superfície 
plaquetária. Nesta fase há uma grande 
formação de complexo tenase IXa/
VIIIa e complexo protrombinase Xa/
Va, resultando em intensa geração 
de trombina para que ocorra uma 
hemostasia efetiva e uma maior 
conversão do fibrinogênio nos 
monômeros de fibrina. Ocorrerá ainda 
ampla ativação, adesão e agregação 
plaquetária para os sítios com 
sangramentos. 
Fase de finalização (fibrinólise)
Após cessar um sangramento, os 
trombos formados nos locais de lesão 
vascular precisam ser degradados, 
HEMATOLOGIA
39
enquanto a ativação dos fenômenos 
de coagulação deve ser reduzida para 
um nível basal. Tal redução é obtida 
pela atuação de inibidores fisiológicos 
da coagulação como a antitrombina, 
proteína C, proteína S e inibidor da 
via do fator tecidual (TFPI). Para a 
degradação dos trombos formados 
há o sistema fibrinolítico ou sistema 
plasminogênio/plasmina. Este sistema 
irá degradar o coágulo estável de 
fibrina em produtos da degradação 
da fibrina e em dímeros-D. Para a 
atuação deste sistema, é necessário que 
o plasminogênio seja convertido em 
plasmina, sendo esta a responsável pela 
clivagem da fibrina. O plasminogênio 
pode ser ativado pelo ativador de 
plasminogênio do tipo uroquinase 
(uPA) e, principalmente, pelo ativador 
de plasminogênio do tipo tecidual 
(tPA), sendo ambos ativadores liberados 
pelo endotélio e regulados pelo inibidor 
de ativação de plasminogênio (PAI). Os 
fenômenos envolvidos no novo modelo 
da hemostasia estão apresentados na 
Figura 2.
Os testes de hemostasia e o novo 
modelo in vivo da coagulação
Os exames de triagem da hemostasia 
como o TP e o TTPa avaliam 
tradicionalmente a via extrínseca e 
intrínseca, respectivamente, e ambos 
avaliam a via comum no modelo de 
cascata da coagulação. Embora estes 
testes não reflitam a complexidade 
dos fenômenos hemostáticos in vivo, 
ressalta-se que não há um teste que 
avalie totalmente as fases envolvidas 
na hemostasia, devido à grande 
complexidade e envolvimento de muitas 
proteínas, células, íons, plaquetas, entre 
outras moléculas envolvidas no sistema. 
Um teste de hemostasia ideal deveria 
ser realizado em sangue total, devido 
à presença de todos os componentes 
envolvidos na hemostasia. Estes testes 
têm maior aplicação para avaliar as 
condições de hipocoagulabilidade 
e estarão alterados quando houver 
deficiência moderada à grave de um ou 
mais fatores de coagulação. A ocorrência 
de uma alteração moderada nos valores 
destes testes pode não refletir a real 
chance de um paciente evoluir com 
hemorragia. Estas provas hemostáticas 
refletem apenas a fase inicial da 
coagulação, visto que o valor obtido 
do teste não indica o potencial total de 
formação de trombina, pois, quando 
o coágulo é formado, há formação 
aproximada de apenas 5% de trombina. 
O TP e TTPa também não refletem com 
fidedignidade as fases de amplificação e 
propagação da hemostasia, quando há 
a maior geração de trombina durante a 
coagulação.
Ainda que os testesde TP e 
TTPa não demonstrem o que ocorre 
totalmente in vivo na hemostasia, eles 
devem continuar sendo realizados 
como testes de triagem da hemostasia, 
sobretudo para os distúrbios de 
hipocoagulabilidade. Além do mais, 
estes são testes muito bem padronizados 
na monitorização de pacientes com 
hemofilia tipo A. Todavia, os testes de 
TP e TTPa não se correlacionam bem 
com as probabilidades de sangramento, 
a não ser que estejam com um 
alargamento muito intenso a infinito, 
sendo necessários testes mais precisos, 
como a geração de trombina. A Figura 3 
demonstra uma área hemorrágica 
em musculatura estriada esquelética 
de coelho, após envenenamento 
experimental por serpente do gênero 
Bothrops. Este animal apresentava 
tais provas de triagem normal, mesmo 
apresentando visível área hemorrágica, 
porém, nos envenenamentos por 
serpentes do gênero Bothrops e Crotalus 
são imprescindíveis a realização destas 
provas hemostáticas (Figura 4). 
Para outras situações clínicas frequentes, 
como sepse e “hemoparasitoses”, 
também se faz necessário realizar provas 
da hemostasia (Figuras 5 e 6).
DERMATOLOGIA
40
HEMATOLOGIA
Figura 2. Modelo da coagulação baseado 
em superfícies celulares, ilustrando as fases de 
iniciação, amplificação e propagação (Hoffman, 
2003 e revisado por Ferreira et al., 2010).
Figura 3. Área hemorrágica em musculatura 
estriada esquelética de coelho após envenenamento 
experimental por serpente do gênero Bothrops. 
Os testes de TP e TTPa apresentavam-se sem 
alterações, mesmo com visível área hemorrágica. 
Todavia, em um envenenamento natural por estas 
serpentes, estas provas poderão estar intensamente 
alteradas (Arquivo Pessoal).
Figura 4. Amostras de urina drenadas por 
cateterismo vesical de demora, de um cão vítima 
de acidente crotálico. Esta pigmentação da urina é 
por causa da presença de pigmentos de mioglobina 
(rabdomiólise) e não por causa de hematúria ou 
hemoglobinúria devido hemorragias. Todavia, 
no acidente crotálico, é obrigatório a realização 
de provas de triagem como o TP, TTPa e 
fibrinogênio. As realizações destes exames serão 
um guia no tratamento específico do animal 
vítima (Arquivo Pessoal). 
CÓD - EXAME
EXAMES REALIZADOS PELO TECSA LABORATÓRIOS
PRAZO/DIAS
1
1
1
2
2
1
2
5
0
3
0
3
1
0
3
0
69 - PROGESTERONA
70 - ESTRADIOL
154 - TESTOSTERONA VETERINÁRIA 
293 - LH - HORMÔNIO LUTEINIZANTE
275 - FSH - HORMÔNIO FOLÍCULO 
ESTIMULANTE
635 - ESTRADIOL - RADIOIMUNOENSAIO
352 - CITOLOGIA VAGINAL (CICLO ESTRAL) 
302 - NEOSPORA CANINUM 
591 - PERFIL COAGULOGRAMA 
682 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL II)
347 - TEMPO DE TROMBOPLASTINA 
PARCIAL ATIVADA (TTPA) 
76 - BRUCELOSE CANINA (B.CANIS)
186 - FIBRINOGENIO
39 - HEMOGRAMA COMPLETO
350 - PERFIL REPRODUTIVO
(CICLO ESTRAL)
346 - TEMPO DE PROTROMBINA
(ATIVIDADE DE TBP) 
Testes globais da hemostasia têm sido 
utilizados com o objetivo de se entender 
melhor o que ocorre no sistema 
hemostático em diferentes situações 
clínicas, tanto com hipocoagulabilidade, 
quanto hipercoagulabilidade. A 
tromboelastografia é uma técnica global 
que utiliza sangue total em sua realização 
e tem indicação em situações de possível 
hemorragia aguda. Os resultados desta 
prova hemostática avaliam a formação 
do coágulo, predizendo a viscosidade e 
elasticidade deste coágulo formado. 
Teste de Geração de Trombina - 
TGT
O TGT é um método global 
de avaliação da hemostasia, cuja 
metodologia semiautomatizada é 
capaz de quantificar a geração de 
trombina continuamente. O TGT pela 
metodologia Calibrated Automated 
Thrombogram (CAT) irá informar a 
cinética da quantidade de trombina 
gerada durante uma hora. O TGT 
pode ser realizado com baixas ou altas 
concentrações de fator tecidual na 
presença de fosfolípides de membrana 
e Ca++. A quantificação da trombina 
gerada, em nanomolares, pode ser 
obtida mediante comparação com um 
calibrador de trombina de concentração 
conhecida. No ensaio em amostra de 
plasma pobre em plaquetas (PPP) o 
exame é mais sensível à detecção de 
deficiências dos fatores VIII, IX e XI, 
inibidores diretos da trombina e do 
fator Xa. 
O TGT foi inicialmente proposto 
há mais de cinco décadas como uma 
forma de quantificar a trombina, porém, 
a metodologia era extremamente 
laboriosa. Somente no início deste 
século, valendo-se dos avanços 
tecnológicos, é que foi possível a 
determinação do potencial de geração 
de trombina por métodos cromogênicos 
ou fluorimétricos, sendo este último 
o mais utilizado e promissor, por ser 
potencialmente mais adaptável à clínica 
e em estudos experimentais. Com o 
TGT, é possível determinar de forma 
global e com maior acurácia o equilíbrio 
entre as forças pró-coagulantes e 
anticoagulantes de determinada 
amostra de plasma pobre ou rica em 
plaquetas coletada em citrato de sódio 
com demonstração de toda a cinética da 
formação da trombina daquela amostra. 
A técnica de geração de trombina tem 
sido amplamente estudada nos casos 
de pacientes com hemofilia A e B e 
trombofilias. As maiores limitações para 
a realização do TGT ainda se devem à 
falta de padronização, o que dificulta o 
estabelecimento de valores de referência 
para as várias condições experimentais, 
bem como interferências pré-analíticas, 
que podem ocorrer em todas as técnicas 
hemostáticas. 
Considerações Finais
O modelo da hemostasia baseado 
em superfícies celulares coloca como 
elementos-chave o fator tecidual e 
como papel central, controlando todas 
as etapas, a trombina. A coagulação se 
inicia em células que expressam o fator 
tecidual e a amplificação, e propagação 
ocorrerá na superfície plaquetária. 
O paciente com hemofilia tipo A é 
capaz de iniciar a coagulação, gerando 
pequenas quantidades de trombina, 
porém, ele não é capaz de amplificar 
esta coagulação. Este é o motivo pelo 
qual as provas de triagem podem ser 
normais em um caso de hemofilia tipo 
A branda. Os testes de TP, TTPa e 
fibrinogênio servem principalmente 
para o estabelecimento das situações que 
cursam com hipocoagulabilidade. Por 
estas provas de rotina, não são possíveis 
a avaliação das doenças que cursam com 
hipercoagulabilidade. Outros testes da 
hemostasia, que não são empregados 
na rotina e também necessitam de 
padronização, estão a cada dia mais 
próximos da prática clínica veterinária. 
HEMATOLOGIA
41
Figura 6. Cão com epistaxe. Esta alteração, em 
cães, é frequentemente relacionada às desordens 
plaquetárias qualitativas e ou quantitativas muito 
observadas em “hemoparasitoses”. Não estarão 
alteradas as provas de triagem (TP, TTPa e 
fibrinogênio) a não ser que tenha concomitante 
insuficiência hepática (Arquivo Pessoal).
Figura 5. Região abdominal de uma cadela em 
puerpério mediato após deiscência e múltiplas 
cirurgias devido complicações por sepse. A sepse, 
por diferentes mecanismos, induz alterações 
hemostáticas. É indicada a realização de provas da 
coagulação durante o acompanhamento do animal 
com esta síndrome (Arquivo Pessoal). 
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