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1
PRÁTICA 
PEDAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAR: 
SOCIOLOGIA 
BRASILEIRA E 
MOVIMENTOS SOCIAIS 
Profª. DraAdriana F. S. de Oliveira
Profª. Dra. Luciane Rocha F. Pielke
2
PRÁTICA PEGAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAS: 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA E 
MOVIMENTOS SOCIAIS
PROF. DRA. LUCIANA ROCHA FERREIRA PIELKE
3
 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério
 Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira
 Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Gilvânia Barcelos Dias Teixeira
 Revisão Gramatical e Ortográfica: Profa. Esp. Izabel Cristina da Costa
 Profa. Esp. Imperatriz Matos
 Revisão técnica: Profa. Ph.D Fabiana Grecco
 
 Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luíza mendes Leite 
 Maria Eliza P. Campos 
 Prof. Esp. Guilherme Prado 
 
 Design: Aline De Paiva Alves
 Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Taisser Gustavo Soares Duarte
© 2021, Faculdade Única.
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
4
PRÁTICA PEGAGÓGICA 
INTERDISCIPLINAS: 
SOCIOLOGIA BRASILEIRA E 
MOVIMENTOS SOCIAIS
1° edição
Ipatinga, MG
Faculdade Única
2021
5
ADRIANA F. S. DE OLIVEIRA
Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali-
ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/7382280591808838
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
 Doutora em Educação pela UNESP - Rio 
Claro, com foco em inclusão social, tratados 
internacionais, políticas públicas e violência 
contra a mulher. Estágio doutoral em Psicolo-
gia Social com bolsa PSDE - CAPES na "Uni-
versidad Complutense de Madrid - Facultad 
de Ciencias Políticas y Sociología" com pes-
quisas desenvolvidas em Madrid, Salamanca 
e cercanias quanto aos serviços públicos de 
atendimento à mulher vítima de violência de 
gênero com apoio da "Facultad de Derecho de 
la Universidad Complutense de Madrid". Tem 
experiência em trabalhar com a metodologia 
qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais 
Difusos e Coletivos pela UNIMEP de Piracica-
ba, com foco em Direitos Humanos e Direito 
Internacional, com bolsa do programa PRO-
SUP-CAPES
6
 Graduada em Pedagogia pela Universi-
dade Federal do Mato Grosso (PIBIC/CNPQ), 
Mestrado em Educação pela mesma Universi-
dade (Bolsista CNPQ) e Doutorado em Educa-
ção pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos 
(Bolsista CAPES-Taxas). Atuou como docente 
na Universidade do Estado do Mato Grosso 
(UNEMAT), Campus Sinop (2011-2012), nos Cur-
sos de Pedagogia, Letras, Matemática e Ciên-
cias Contábeis, nas áreas de Didática, Estágio 
Supervisionado na Educação Infantil e em Es-
paços não-escolares, Filosofia da Educação, 
Estrutura e Funcionamento do Ensino (EFE) e 
Ética.
LUCIANE ROCHA F. PIELKE
Para saber mais sobre a autora desta obra e suas quali-
ficações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/7366615754915313
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
7
LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas 
quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do 
conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones 
ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado 
trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a 
seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca 
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, 
associando-os a suas ações.
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos 
conteúdos abordados no livro.
Apresentação dos significados de um determinado termo ou 
palavras mostradas no decorrer do livro.
 
 
 
FIQUE ATENTO
BUSQUE POR MAIS
VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
8
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
SUMÁRIO
1.1 Ciências: Ciências sociais e ciências humanas ..........................................................................................................................................................................................................13
1.2 Considerações no contexto mundial ...............................................................................................................................................................................................................................14
1.3 Considerações no contexto nacional ...............................................................................................................................................................................................................................16
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................17
2.1 Diferença entre as ciências sociais e a sociologia ..................................................................................................................................................................................................21
2.2 Surgimento da sociologia no mundo ...........................................................................................................................................................................................................................24
2.3 Os sociólogos no mundo .......................................................................................................................................................................................................................................................24 
2.4 O surgimento da sociologia no Brasil ...........................................................................................................................................................................................................................25
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................26
3.1 Introdução .........................................................................................................................................................................................................................................................................................31
3.2 Período pré-sociológico: Antes de 1930. ......................................................................................................................................................................................................................32
3.3 A sociedade depois da década de 1930 .......................................................................................................................................................................................................................33
3.4 Escola Paulista de sociologia ............................................................................................................................................................................................................................................35
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................37CONSIDERAÇÕES SOBRE CIÊNCIAS SOCIAIS
SOCIOLOGIA NO BRASIL
SOCIOLOGIA BRASILEIRA: DÉCADA DE 1930 E ESCOLA PAULISTA DE SOCIOLOGIA
4.1 A teoria social clássica ..............................................................................................................................................................................................................................................................43
4.2 Émile Durkheim ..........................................................................................................................................................................................................................................................................43
4.3 Max Weber ......................................................................................................................................................................................................................................................................................45
4.4 Karl Marx ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................47
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................50
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
5.1 Matriz Europeia ............................................................................................................................................................................................................................................................................53
 5.1.1 Émile Durkheim e a matriz da diferenciação social .................................................................................................................................................................................53
 5.1.2 Max Weber e a matriz da racionalidade ............................................................................................................................................................................................................55
 5.1.3 Karl Max e a matriz da estrutura social ...............................................................................................................................................................................................................57
5.2 Matriz Americana ........................................................................................................................................................................................................................................................................58
FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................................................................................................................................................................................................61
SOCIOLOGIA DE MATRIZ EUROPEIA E DE MATRIZ AMERICANA
6.1 A globalização .................................................................................................................................................................................................................................................................................111
6.2 A sociologia e a violência no Brasil .................................................................................................................................................................................................................................116
6.3 A desigualdade social .............................................................................................................................................................................................................................................................121
6.4 O preconceito ...............................................................................................................................................................................................................................................................................121
FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................................................................................................................126
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO .....................................................................................................................................................................................................................130
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................................................................................................................................................................131
REFLEXÕES SOBRE A SOCIOLOGIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA
UNIDADE 5
UNIDADE 6
9
UNIDADE 7
UNIDADE 8
UNIDADE 9
UNIDADE 10
7.1 A Escola de Chicago e os interacionistas .....................................................................................................................................................................................................................77
7.2 Sociedade de massas ...............................................................................................................................................................................................................................................................80
7.3 Abordagem sociopolítica .......................................................................................................................................................................................................................................................82
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................85
8.1 O comportamento coletivo a partir do funcionalismo ......................................................................................................................................................................................89
 8.1.1 A influência de Parsons ...................................................................................................................................................................................................................................................89
 8.1.1 A influência de Turner e Killan ....................................................................................................................................................................................................................................91
 8.1.3 A influência de Smelse ....................................................................................................................................................................................................................................................93
8.2 Abordagem organizacional: comportamentalista ..............................................................................................................................................................................................95 
FIXANDO O CONTEÚDO ................................................................................................................................................................................................................................................................999.1 Abordagem Marxista ...............................................................................................................................................................................................................................................................104
9.2 Leitura historiográfica .............................................................................................................................................................................................................................................................112
9.3 Movimento social como categoria analítica ............................................................................................................................................................................................................117
FIXANDO O CONTEÚDO ...............................................................................................................................................................................................................................................................123
MOVIENTOS SOCIAIS: AS TE0RIAS CLÁSSICAS PARTE 1
MOVIMENTOS SOCIAIS: AS TEORIAS CLÁSSICAS PARTE 2
CONCEITOS E PERSPECTIVAS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS 
10.1 Os novos movimentos sociais ..........................................................................................................................................................................................................................................129
10.2 Relação dos movimentos sociais e a educação ..................................................................................................................................................................................................133
10.3 Movimentos sociais conectados ..................................................................................................................................................................................................................................140
FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................................................................................................................149
MOVIMENTOS SOCIAIS EM INTERFACE COM OUTROS MOVIMENTOS 
11.1 Aproximações ontológicas e epstomológicas .....................................................................................................................................................................................................154
11.2 Crises e rupturas: avanços e retrocessos ..................................................................................................................................................................................................................158
11.3 A relação com a política pública ..................................................................................... ..............................................................................................................................................163
FIXANDO O CONTEÚDO ..............................................................................................................................................................................................................................................................171
MOVIMENTOS SOCIAIS E MOVIMENTOS POPULARES 
12.1 Abordagem (des)colonial ....................................................................................................................................................................................................................................................178
12.2 Abordagem do Bien Vivir....................................................................................................................................................................................................................................................183
12.3 Abordagemm da educação popular .........................................................................................................................................................................................................................188
FIXANDO O CONTEÚDO .............................................................................................................................................................................................................................................................193
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO .....................................................................................................................................................................................................................197
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................................................................................................................................................................199
MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA 
UNIDADE 11
UNIDADE 12
10
O
N
FI
R
A
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O
 L
I
C
V
R
O
UNIDADE 1
Na primeira unidade iremos entender quais são os principais aspectos e contribuições 
fornecidas pelas Ciências Sociais, destacando ainda a relevância desse campo, 
enfatizando a sua presença tanto no contexto mundial, como no nacional.
UNIDADE 2
Durante essa unidade poderemos aprender como a sociologia se relaciona com as 
ciências sociais, bem como distinguir esses dois campos. Além disso, passaremos a 
adentrar nos aspectos mais específicos da sociologia, levando em consideração os 
elementos responsáveis pelo seu surgimento mundial e como isso trouxe reflexos 
para o contexto nacional, também estudaremos os pontos de vistas de grandes 
sociólogos mundiais.
UNIDADE 3
O nosso foco durante essa unidade será mais direcionado para as implicações 
que a sociologia trouxe para a realidade brasileira, por isso iremos estudar os 
momentos anteriores e posteriores a década de 1930, considerando a importância 
e as modificações trazidas pelos momentos relativos a esse período histórico. Além 
disso, também iremos compreender melhor as afirmações dos principais sociólogos 
nacionais e o surgimento da Escola Paulista de Sociologia.
UNIDADE 4
Na quarta unidade, será feita uma análise dos principais pontos de estudos dos 
sociólogos classicistas, sendo eles Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Analisando 
os seus pensamentos e as suas contribuições.
UNIDADE 5
Na quinta unidade, “Matriz europeia e americana”, será abordado as principais 
considerações que servem como embasamento para o estudo da Sociologia até os 
dias de hoje, conceitos importantes que são tidos como referência. A exemplo da 
racionalização de Weber, da matriz da diferenciação social de Durkheim e a estrutura 
social de Marx. Sendo também analisado a importância dos estudos da Escola de 
Chicago.
UNIDADE 6
Na sexta unidade, após realizarmos os estudos sobre a sociologia e como ela se 
desenvolveu no Brasil, analisando inclusive as contribuições dos sociólogos clássicos. 
Será retratada as reflexões sobre a sociologia contemporânea no Brasil, estudando 
sobre a globalização, a violência e a discriminação.
11
O
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C
V
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O
UNIDADE 7
A unidade I apresenta algumas características fundantes sobre o conceito de 
Movimentos Sociais a partir de da abordagem clássica. Esse estudo acontece em 
dois momentos. Aqui aprendemos sobre os interacionistas da Escola de Chicago e 
sobre as abordagens da Sociedade de massa e a Sociopolítica. 
UNIDADE 8
A Unidade II dará continuidade a secção anterior, nesse momento apresentamos 
elementos teóricos em torno das abordagens clássicas do funcionalismoe a 
organizacional-comportamentalista. Essas correntes de pensamento sobre os 
Movimentos Sociais são chaves para compreender sentidos e significados atribuídos 
historicamente ao fenômeno em estudo.
UNIDADE 9
A Unidade III articula perspectivas distintas sobre o estudo dos conceitos e práticas 
dos Movimentos Sociais a partir das principais contribuições de paradigmas críticos 
conhecidos como revolucionários da temática – Marxismo, Historiografia – Olhares 
plurais que alargam as possibilidades analíticas do tema.
UNIDADE 10
A unidade IV apresenta as articulações políticas produzidas ao longo da história 
dos Movimentos Sociais, estabelecida entre si, com grupos diversos e a sociedade. 
Movimento que os desafiaram a se transformar de modo a ampliar suas bases de 
atuação diante das demandas sociais cada vez mais complexas e emergentes.
UNIDADE 11
A unidade V traz uma análise da interface entre dois Movimentos – social e popular – 
que embora possuam convergências teórico-metodológicas suas bases ontológicas 
e de projeto social são distintas. A relação com a política pública entre ambos públicos 
é outro aspecto fundamental trabalhado nessa unidade.
UNIDADE 12
A unidade VI nessa unidade compartilhamos algumas abordagens epistemológicas 
que foram coproduzidas com base nas experiências de alguns movimentos sociais. 
Uma leitura desde a América Latina que fornece uma chave teórica com raízes nas 
lutas de grupos engajados com a transformação social.
12
CONSIDERAÇÕES SOBRE 
CIÊNCIAS SOCIAIS
13
1.1 CIÊNCIAS: CIÊNCIAS SOCIAIS E CIÊNCIAS HUMANAS
 Inúmeras discussões são vistas na atualidade acerca do papel do homem na sociedade 
e os impactos que as ações dos mesmos apresentam para as relações sociais, além disso a 
própria sociedade e as relações relativas a mesma são fontes de estudo, sendo que os resultados 
dessas pesquisas servem para resolver não os questionamentos a nível teórico, mas também os 
problemas práticos que surgem cotidianamente no meio social.
 Assim, da necessidade em estudar e conhecer os temas de maneira mais aprofundada, 
por meio da efetuação de observações, identificações, pesquisas e explicações de fenômenos e 
fatos nasce a ciência, responsável por formular explicações metódicos e racionais acerca do seu 
objeto de estudo que pode ser o mais variado possível.
Figura 1: Tipos de Ciência
Fonte: MT de fato (2019)
 A ciência é dividida em áreas em razão 
da quantidade de assuntos que são de interesse 
humano e que necessitam de compreensão, 
dessa forma a divisão das áreas de atuação da 
ciência é efetuada em acordo com a natureza do 
conhecimento que ser irá estudar, dessa forma 
se divide em: 1) ciências biológicas; 2) ciências 
contábeis; 3) ciências exatas; 4) ciências da 
natureza; 5) ciências sociais aplicadas; 6) ciências 
humanas e 7) linguística, letras e artes.
 Dessa forma, os contextos científicos em 
suas respectivas áreas dão enfoque mais aos 
seus interesses e aos seus campos de atuação, porém muitas vezes uma acaba criticando a 
outra, pois todas possuem suas falhas e limitações, por isso a interdisciplinaridade é uma prática 
que merece ser enfatizada e estimulada, sendo a atuação em conjunto das ciências enaltecida.
 Mesmo que alguns desses campos científicos aparentem e tenham de fato pontos de 
convergência não podem ser confundidos, pois possuem suas próprias áreas de interesse e 
atuação. É muito comum a utilização e o relacionamento entre as áreas das ciências humanas e 
das ciências naturais, apesar disso ambas não podem ser entendidas como sinônimos.
Mesmo que a ciências humanas e sociais aplicadas não possam ser enquadra-
das como sinônimos, as duas possuem relação com os seres humanos e rela-
ções por ela estabelecidas, sendo muitas vezes estudas em conjunto, desta feita 
recomenda-se a leitura do material denominado como “Humanidades, Ciências 
Sociais e Cidadania” que foi organizado por Márcia de Lima Elias Terra, sendo 
esse responsável por analisar e discutir acerca dos mecanismos de organização 
social, levando em conta as suas consequências e transformações decorrentes 
do processo produtivo moderno e das conexões culturais por esses firmadas. 
LINK: https://bit.ly/3sdxgX0
BUSQUE POR MAIS
14
 As ciências humanas direcionam o seu foco para o ser humano, dando ênfase as ligações 
estabelecidas entre esses seres, bem como a trajetória história, religiosa e cultural relativas aos 
mesmos, por isso a arqueologia, as ciências políticas, a psicologia, a geografia, a história e a 
teologia, por exemplo, são consideradas como pertencentes a essa área. Na medida em que 
as ciências sociais aplicadas possuem como objeto de estudo os interesses e as necessidades 
dos seres humanos, sendo que esses serão enxergados como parte de um todo, ou seja, como 
integrantes da sociedade, por isso são levados em consideração tanto os impactos que tais seres 
podem promover ao meio social, como o efeito que a sociedade e as suas decorrências podem 
resultar na vida privada e individual das pessoas que a integram, dessa forma algumas das 
áreas relativas as ciências sociais são direito, administração, economia, arquitetura e urbanismo, 
serviço social, comunicação, gastronomia, entre outras.
1.2 CONSIDERAÇÕES NO CONTEXTO MUNDIAL
 Muitas diferenças podem ser apontadas entre as ciências da natureza e as ciências sociais, 
sendo que essas se distinguem não apenas pelos objetos de interesse diferentes que ambas 
possuem, tendo em vista que as ciências naturais se relacionam a assuntos mais concretos e 
objetivos, ligados ao raciocínio lógico, enquanto que as ciências sociais, por se relacionarem 
aos seres humanos e a vida em sociedade, são dotados de uma maior grau de abstração e 
subjetividade.
 As próprias características e peculiaridades das ciências sociais foram criticadas inúmeras 
vezes ao longo da história, tendo existido, inclusive, um momento em que o objeto de estudo 
dessa área não pode ser considerado como digno de conhecimento cientifico, pois muitos 
estudiosos pertencentes as ciências da natureza, campo que já estava consolidado, quando 
as ciências sociais surgiram, estabeleceram crítica quanto a pobreza teórica, a ausência de 
rigor analítico, a preocupação com questões imediatistas e problemas relacionados a falta de 
impessoalidade nas pesquisas dessa área, segundo Schwartzman (1990).
Grandes nomes do saber foram responsáveis por acrescentar importantes contribuições 
ao campo das ciências sociais, dentre esses Emile Durkheim, que em sua obra, “as regras 
do método sociológico”, conceituou os fatos sociais como aqueles que são externos aos in-
divíduos e dotados de poder imperativo e coercitivo, sendo esses impostos as pessoas, in-
dependentemente, da vontade das mesmas. Todavia, as mudanças e as evoluções socias 
modificaram um pouco a visão dos fatos sociais, que segundo o ponto de vista de Chomsky 
e Morin passaram a ser comercializados, assim os fatos sociais muitas vezes são alheios a 
realidade e precisam ser observados com mais atenção, levando em consideração os as-
pectos decorrentes do atual contexto social e cultural.
FIQUE ATENTO
 Apesar disso, as ciências sociais enfrentaram vários obstáculos, críticas e preconceitos, 
sendo dotadas do título de ciência, não podendo esse fato ser diferente, pois mesmo que os 
temas abordados pelas ciências sociais sejam complexos, difíceis e muitas vezes imprecisos, 
entende-se que esses são aspectos naturais e até esperados desse campo científico, já que são 
aspectos que se ligam diretamente a natureza humana e ao que se espera do funcionamento 
da sociedade, ambiente que está em constante transformação e evolução, por isso as ciências 
sociais precisam ser moldáveis e flexíveis a essa realidade, porém tais fatores não retiram a 
15
das ciências sociais. 
 Nesse sentido, os métodos aplicados ao campo das ciências naturais e das ciências 
humanas possui suas particularidades, pois cada um precisa se adaptar aos seus próprios 
objetivos e interesses, isso não quer dizer que o métodoquanti é exclusivo as pesquisas da 
ciência da natureza ou que o método qualitativo é adequado apenas as ciências sociais, mas 
sim que ambos poderão ser adotados pelos diversos campos das ciências, desde que as devidas 
observações sejam feitas quanto a sua aplicação e finalidade.
Levando em consideração as especificações e as particularidades que devem 
ser observadas ao se realizar uma pesquisa no campo das ciências sociais, re-
comenda-se a leitura do livro denominado como “Métodos Estatísticos para as 
Ciências Sociais” escrito por Alan Agresti e Barbara Finlay.
LINK: https://bit.ly/3hOOSDM
BUSQUE POR MAIS
 Ainda assim, as ciências sociais ainda são alvo de muitas críticas e insatisfações:
É provável que a insatisfação seja maior hoje do que em outros tempos, e mais 
intensa no Brasil do que na Europa ou nos Estados Unidos. Mas é óbvio que 
não se trata de um fenômeno novo, nem exclusivamente nacional. A ciências 
sociais sempre viveram em um estado mais ou menos permanente de “crise”, 
e discussões intermináveis sobre métodos, abordagens e discursos, combi-
nadas com exegeses igualmente intermináveis sobre fundadores, costumam 
ser tomadas como indicadores do pouco amadurecimento e consolidação do 
campo (SCHWARTZMAN, 1990, p. 01).
 Mesmo no período em que as observações sobre os homens e as suas relações sociais 
não consideradas como um saber científico, já eram realizados discussões e comentários sobre 
a presença e a relevância dessa inserção no meio social. Assim, o surgimento das ciências sociais 
foi a formalização daquilo que já existia, bem como momento responsável por propor o seu 
aperfeiçoamento e ampliação.
 O tempo e a intensificação das relações sociais, assim como os impactos gerados pela 
revolução industrial, as duas grandes guerras, a guerra fria, a globalização, os avanços tecnológicos 
e outros momentos históricos relevantes, afetaram a sociedade.
Fi
g
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19
)
16
 Desta feita, desde o século XX, verifica-se que as necessidades resultantes de um mundo 
capitalista indicaram a necessidade de reforma e redefinição das áreas do conhecimento, 
assim o campo das humanidades e das ciências sociais passaram a ter um maior destaque, 
em contrapartida, também houve o desenvolvimento das ciências exatas e das subáreas 
pertencentes a esse campo do saber. Assim, Reyes (2019) afirma que:
O objetivo das ciências humanas não é orientado na busca de leis universais, 
como é o caso da ciência natural, o que não a impede de poder interagir e 
estabelecer relações como essa, enquanto se move muito estreitamente com 
as ciências Sociais na reflexão do sujeito, sociedade, espaço e tempo em que 
a ação social ocorre.
 Por isso, no mundo todo as ciências sociais demonstram uma preocupação com a 
promoção e a transmissão da inteligência humana, pois os estudos presentes nesse campo fazem 
menção aos homens, as suas capacidades e suas ações, sejam essas resultantes de positividades 
e negatividades, sendo criticadas ou elogiadas. Assim, as ciências sociais e as humanidades 
representam o significado da vida, em conformidade com Reyes (2019).
1.3 CONSIDERAÇÕES NO CONTEXTO NACIONAL
 Definir o percurso histórico traçado pelas ciências sociais no Brasil não é uma tarefa fácil, 
porém esse é um assunto que já vem sendo discutido a algum tempo, por isso estudiosos como 
Almir Andrade, tentam sistematizar a sociologia brasileira, porém mesmo que avanços já tenham 
sido dados no caminho dessa descoberta, ainda não se chegou a uma conclusão concreta sobre 
o caso, porém estima-se que as ciências sociais estão presentes no Brasil desde o início, ou seja, 
desde que o país ainda era colônia de Portugal.
As ciências sociais são de suma importância, pois é a partir dos estudos realizados nesse 
campo que podemos compreender as consequências das ações humanas para a socie-
dade e os impactos que as relações sociais podem exercer para os indivíduos. O Governo 
Bolsonaro, por meio de suas atitudes, demonstra que não acredita na imprescindibilidade 
das ciências sociais para a educação, por isso entre uma das suas intenções encontra-se o 
planejamento de diminuir os investimentos relativos aos cursos de filosofia e sociologia, por 
não serem “tão rentáveis” como os pertencentes ao campo das ciências biológicas. Diante 
disso, e sob um ponto de vista crítico, reflita acerca de sua opinião sobre a medida do gover-
no, bem como nas consequências que poderiam decorrer a educação em um país em que 
as ciências sociais não são valorizadas e entendidas como fundamentais.
VAMOS PENSAR?
 Segundo Segatto e Bariani (2010) alguns dos principais estudiosos pertencentes ao campo 
das ciências sociais no Brasil são Florestan Fernandes, Oracy Nogueira, Guerreiro Ramos, sendo 
esses apenas alguns dos representantes, tendo em vista que o campo das ciências sociais no 
território brasileiro é vasto.
 As ciências sociais são dotadas de várias subáreas, contudo durante o desenvolvimento 
do presente livro didático e no andamento das próximas unidades as discussões serão voltadas 
de forma mais específica para o campo da sociologia, tendo em vista que esse é o assunto a ser 
abordado com mais profundidade por esse material didático.
17
1. (NUCEPE - 2015) A obra que estabelece a base para a sociologia como ciência, escrita 
por Émile Durkheim, fundador da escola francesa e um dos pais da Sociologia, é intitulada 
de:
a) O capital (1867).
b) Economia e Sociedade (1922).
c) As regras do método sociológico (1895).
d) Formas elementares da vida religiosa (1912).
e) A ética protestante e o espírito do capitalismo (1920).
2. (NUCEPE - 2015) A respeito da metodologia utilizada nas Ciências Sociais, a proposta 
de Durkheim para o estudo dos fenômenos sociais é que, para analisá-los, é preciso 
tratá-los como se fossem
a) ideias.
b) coisas.
c) pensamentos.
d) sentimentos.
e) conflitos sociais.
3. (NUCEPE - 2015) De acordo com Émile Durkheim (1987), em sua obra intitulada As 
regras do método sociológico, os fatos sociais consistem em formas de agir, pensar e 
sentir exteriores ao indivíduo, que têm poder de coerção que lhes impõe. Tais fatos não 
podem se confundir com fenômenos orgânicos e nem com fenômenos psíquicos, devem 
ser qualificados de sociais. Na definição de Durkheim para fatos sociais, o autor busca
a) definir o status da sociologia através de similaridades com a psicologia.
b) alternativas para a natureza coercitiva dos fatos sociais.
c) definir o status da psicologia através de similaridades com a sociologia.
d) definir, estabelecer, singularizar o objeto da sociologia.
e) defender a visão integral do homem como ser bio-psico-social e fundar a ciência em 
base interdisciplinar.
4. (NUCEPE - 2015) Uma forma de organização da sociedade, estrutura social unificada 
e relativamente permanente, que estabelece padrões de comportamentos através de 
normas e valores específicos, com finalidades próprias, é chamada de
a) mudança social.
b) ação afirmativa.
c) ação social.
d) instituição social.
e) cultura de massa.
FIXANDO O CONTEÚDO
18
5. (IF-PA - 2015) Em “O que faz do brasil, Brasil?”, o antropólogo Roberto Damatta 
estabelece uma distinção radical entre um “brasil” - com b minúsculo - que sob influência 
dos teóricos do século XIX era visto como um conjunto doentio e condenado de raças 
que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, 
estariam fadadas à degeneração e à morte biológica, psicológica e social, e um Brasil - 
com b maiúsculo - que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas 
e ideais de vida. A partir dessa interpretação podemos afirmar que:
a) o que torna o Brasil compreensível é uma lógica comum que perpassa a sociedade, a 
lógica relacional, que se manifesta como negociação e subordinação às normas legais.
b) a especificidade da cultura brasileira não está na separação entre as diversas esperas 
davida, mas sim em sua subordinação à ideologia individualista.
c) o brasileiro desenvolve um tipo de preconceito muito mais contextualizado e sofisticado 
que o norte-americano, pois enquanto lá o mesmo se manifesta de forma velada e 
indireta com base na origem, aqui ele se caracteriza por tratar a cor como expediente 
para a discriminação.
d) o brasileiro exige, a um só tempo, que se lhe dispense o tratamento de indivíduo e o de 
pessoa. O de indivíduo, dentro da melhor tradição democrática, que confere a todos os 
homens direitos que são fundamentais, e o de pessoa, na melhor tradição aristocrática, 
que confere aos homens direitos desiguais conforme seu nascimento ou relações sociais.
e) a sociedade brasileira se pensa pelas noções de divisão e conflito. Assim, para 
compreender a cultura de nossa sociedade, é preciso compreender que a estrutura 
competitiva entre as classes é indispensável em sua organização.
6. (UFV - 2017) Leia a afirmativa a seguir:
Os conceitos das ciências sociais são conceitos abstratos, pouco precisos e difíceis de 
serem manipulados. Além disso, não têm a tradição e não possuem o grau de precisão 
já alcançado pelas ciências naturais. Noções como as de nação, sindicato, classe social, 
partidos políticos, democracia são de difícil compreensão por sua complexidade. Já os 
conceitos de ciências da natureza, geralmente, são claros, precisos e, em muitos casos, 
simples. Essa afirmativa é:
a) Verdadeira, pois o grau de complexidade das ciências sociais é o mesmo que das 
ciências naturais.
b) Verdadeira, pois há uma grande diferença no grau de complexidade e no nível de 
dificuldade entre as ciências sociais e as ciências naturais.
c) Falsa, pois o grau de complexidade das ciências naturais é mais elevado que o das 
ciências sociais.
d) Falsa, pois as ciências sociais têm tanta tradição e precisão quanto as ciências naturais.
e) Neutra, pois as ciências sociais e as ciências da natureza possuem objetos de estudo 
semelhantes.
7. (FGV - 2016). “O trabalho e a produção, a organização e o convívio sociais, a construção do 
“eu” e do “outro” são temas clássicos e permanentes das Ciências Humanas e da Filosofia. 
Constituem objetos de conhecimentos de caráter histórico, geográfico, econômico, 
político, jurídico, sociológico, antropológico, psicológico e, sobretudo, filosófico. Já 
19
apontam, por sua própria natureza, uma organização interdisciplinar. Agrupados e 
reagrupados, a critério da escola, em disciplinas específicas ou em projetos, programas e 
atividades que superem a fragmentação disciplinar, tais temas e objetos, ao invés de uma 
lista infindável de conteúdo a serem transmitidos e memorizados, constituem a razão 
de ser do estudo das Ciências Humanas no Ensino Médio.” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇAO. 
PCNEM. Brasília: Semted MEC, 1999, p. 9).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) introduziram o 
ensino da Sociologia na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias e propuseram 
a organização de seus conteúdos e práticas pedagógicas a partir de competências e 
habilidades. Com relação aos PCNEM, assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a 
falsa.
( ) A interdisciplinaridade ocupa uma função inovadora e de destaque, pois é o meio 
indicado para promover o diálogo entre as disciplinas listadas na área de Ciências 
Humanas e suas Tecnologias. 
( ) A opção pelo princípio das “competências e habilidades” indica o objetivo de superar 
um modelo de ensino conteudístico, a favor de um modelo de ensino orientado para o 
“aprender a fazer e a conhecer”. 
( ) Os temas clássicos indicados permitem introduzir os alunos nas principais questões 
e abordagens enfocadas pela História, pela Sociologia e pela Antropologia, entre outras 
disciplinas.
As afirmativas são, respectivamente:
a) F, V e F.
b) F, V e V.
c) V, F e F.
d) V, F e V.
e) V, V e V.
8. (FCC - 2018)
Durkheim disse que : “[...] primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos 
sociais como coisas.” Esse procedimento primordial do método sociológico desenvolvido 
por Émile Durkheim consiste em:
a) identificar os fatos sociais mais volúveis e que variam conforme os anseios individuais 
para, assim, definir sua explicação objetiva.
b) apreender os acontecimentos da sociedade a partir da consciência individual do 
pesquisador.
c) afastar a sociologia do padrão científico encontrado nas ciências naturais.
d) estudar os fenômenos sociais como algo exterior aos indivíduos conscientes que os 
concebem, por meio de observações e experimentações.
e) analisar cientificamente a sociedade a partir das representações do senso comum.
20
 SOCIOLOGIA NO BRASIL
21
2.1 DIFERENÇA ENTRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A SOCIOLOGIA
 Na unidade anterior foram ensinados os preceitos básicos relativos as ciências 
sociais, tendo sido estabelecida uma relação entre esse campo do saber e a sociologia, 
contudo a presença dessa relação não implica dizer que essas duas áreas são iguais ou 
que podem ser entendidas como sinônimos, pelo contrário, a ciência social é um campo 
mais amplo e que diante disso engloba vários subcampos, entre esses a sociologia.
 Nesse sentido, tanto a ciência social, quanto a sociologia se referem e se dedicam 
ao estudo dos seres humanos, tendo em vista a posição e a função que exercem perante 
a sociedade, assim, a sociologia sendo um subcampo das ciências sociais tem como 
intuito entender e destinar a sua atenção para o comportamento humanos e para as 
suas características estruturais sociais.
 A sociologia, por sua vez, se preocupa em estudar os comportamentos humanos e 
a sua estruturação social nos vários ciclos e setores que os seres humanos e as relações 
por esses firmadas podem ser estabelecidas, dessa forma essa área das ciências sociais 
irão compreender aspectos como família, gênero, classe social, organizações sociais e 
mudanças sociais, dentre outras.
Segundo Gidens (2012, p. 19):
 A sociologia é o estudo cientifico da vida humana, de grupos sociais, de so-
ciedades inteiras e do mundo humano. É uma atividade fascinante e ins-
tigante, pois seu tema de estudo é o nosso próprio comportamento como 
seres sociais. O âmbito da sociologia é extremamente amplo, variando da 
análise de encontros passageiros entre indivíduos nas ruas à investigação de 
relações internacionais e formas globais de território.
 A sociologia é um campo autônomo, mas isso não quer dizer que recomenda-
se que os estudos relativos a essa área do saber sejam empregados de forma isolada, 
sendo essa, justamente, a noção oposto do que se deseja, pois a sociologia como uma 
área destinada a compreensão dos comportamentos humanos para que atinja as suas 
finalidades deve considerar também os pontos de vistas, os estudos, as pesquisas e os 
resultados obtidos por outras áreas do saber, principalmente, aquelas que também 
demonstram preocupação e interesse sobre o homem e as suas relações, por isso as 
teorias sociológicas podem ser aplicadas a política, a história, a antropologia, ao direito, 
a psicologia, a medicina e assim por diante.
2.2 SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA NO MUNDO
 Grande parte das contribuições presentes na atualidade acerca do comportamento 
humano foram descobertas a partir dos estudiosos e dos grandes nomes da sociologia, 
assim até mesmo as pessoas que não fazem parte dessa área ou que não possuem 
tanto interesse ao âmbito da sociologia conhecem os seus nomes e até mesmo os 
principais ensinamentos descobertos e compartilhados por esses estudiosos, dentre 
esses podemos citar, por exemplo: Auguste Comte, Herbert Spencer, Karl Marx e Emile 
Durkheim, sendo esses os mais famosos e os pioneiros da sociologia.
22
Levando em consideração a amplitude de sociólogos que apresentam os seus 
pontos de vista acerca da sociedade e do comportamento dos seres humanos 
perante a vida social e entendendo a importância da diversidade desses sabe-
res, com o intuito de ampliar os seus conhecimentos sobre o tema faça a leitura 
do livro Textos Básicos da Sociologia: de Karl Marx a ZygmuntBauman escrito 
por Castro (2014).
LINK: https://bit.ly/2H8evBD
BUSQUE POR MAIS
 Segundo Porfírio (2020), a sociologia surgiu por volta do século XIX, sendo Auguste 
Comte o seu precursor, assim dentre as observações feitas pelo estudioso, chegou-se à 
conclusão de que a sociedade presente na Europa havia sido modificada e transformada 
a partir dos eventos promovidos pelo renascimento e pela Revolução Industrial. Dessa 
forma, a sociologia só surgiu, ou foi descoberta, apenas por meio dos acontecimentos 
que proporcionaram uma desestabilização social e uma alteração impactante no modo 
através do qual a sociedade funcionava, ou seja, aquilo que até então era considerado 
normal e corriqueiro foi alterado dando início a uma “nova normalidade”, tendo como 
exemplo a nova configuração urbana e política presente no âmbito da sociedade em 
pauta, tornando a sua realidade ainda mais complexa, sendo, por isso, necessária fontes 
de explicações teóricas e rigorosas.
 Além disso, a Revolução Francesa também foi responsável por promover impactos 
a maneira com que a sociedade funcionava até o presente momento, causando ainda 
mais instabilidade e um cenário cada vez mais caótico ao âmbito social, tendo em vista 
os impactos gerados aos setores econômicos, moral, científico e político em todo o 
mundo.
Desta feita, Comte foi o estudioso responsável por dar o ponta pé inicial a sociologia, 
mas não foi a partir dos ensinamentos que essa área passou a ter um caráter científico, 
sendo essa conquista adquirida por meio das intervenções e investigações realizadas 
por Émile Durkheim, que passou a ser considerado o primeiro sociólogo a nível mundial, 
na medida em que Comte é tido como o “pai” da sociologia (PORFÍRIO, 2020).
 O renascimento é o momento histórico em que os preceitos presentes na Idade 
Média passam a ser substituídos pela realidade presente na Idade Moderna, sendo 
assim a ciência e as artes passam a ter um valor mais elevado, o teocentrismo é deixado 
de lado, os conhecimentos e as habilidades dos homens passam a ser mais valorizadas, 
tanto no campo das ciências, como naquele destinado as artes, por isso o homem passa 
a ocupar um espaço diferente e a exerce um papel que extrapola o campo da adoração 
religiosa, assim o antropocentrismo ganha força e o conhecimento humano se torna 
cada vez mais motivo para exaltação e enaltecimento, realidade que até o momento 
anterior era considerada como errada e até mesmo entendida como pecado, que devia 
ser punido com punições físicas e nos casos mais extremos com a morte.
 Contudo, os avanços e as mudanças não pararam por aí, pelo contrário, esse era 
apenas o início dos aspectos que teriam como resultado um novo funcionamento da 
sociedade. O capitalismo surgiu por meio do mercantilismo, entendido como a sua 
primeira fase, responsável pela expansão marítima e comercial, capaz de proporcionar o 
desenvolvimento econômico e a exploração de novas terras, que teve como resultado a 
colonização das Américas, África, Índia e de algumas regiões presentes no Ocidente 
23
Asiático. 
 O iluminismo também não ficou para traz nos impactos e modificações que 
tiveram como resultado o surgimento da Sociologia, pois a partir desse momento 
históricos verificou-se a presença de uma nova concepção intelectual e política, por 
meio da qual a igualdade e a disseminação do conhecimento intelectual passaram a 
ser mais valorizadas e propagadas como prioridade para o crescimento da humanidade, 
por isso se relaciona com a evolução moral, social e intelectual.
 Por sua vez, as grandes revoluções recebem esse nome por inúmeros motivos, 
sendo os mais óbvios a quantidade de modificações e impactos que os mesmo foram 
capazes de proporcionar nos mais diversos setores e áreas capazes de promover reflexos 
para a vida cotidiana, já que através da sua existência novas formas de pensar e de 
visualizar o Estado e o governo foram concebidas, principalmente, no que se refere a 
Revolução Americana e a Revolução Francesa.
A Revolução Industrial foi tão grande e importante que até a atualidade os efeitos resultan-
tes da mesma podem ser vistas em todo o mundo e na vida pessoal e privada dos indivídu-
os, pois foi a partir do seu surgimento que uma enorme alteração na configuração popula-
cional foi ocasionada, em razão da urbanização e do crescimento demográfico decorrente 
da abertura das indústrias no meio urbano.
FIQUE ATENTO
 A expansão que ocorreu de forma rápida e sem um planejamento adequado, 
apesar dos seus efeitos positivos, também gerou o surgimento de problemas estruturais 
urbanos e com a grande onda de pessoas nos centros urbanos, o número de empregos 
não foi o suficiente para englobar todo mundo, tendo como resultado o aumento nas 
taxas de desigualdade social, na criminalidade, na pobreza e problemas sanitários. 
Porém, também foi a partir da Revolução Industrial que o crescimento tecnológico teve 
início, assim houve um aumento e uma melhoria do conhecimento especializado e da 
capacidade de produção em larga escala.
A própria concepção de vida social alterou-se bruscamente. Não se tratava 
mais de seguir a tradição, a estática de uma posição estabelecida pelo nasci-
mento, mas de situar-se em uma dinâmica social em constante transforma-
ção e movimento. O ritmo da modificação econômica fortaleceu a convicção 
iluminista de que a racionalidade, o conhecimento, a riqueza, a tecnologia, 
o controle sobre a natureza, em suma, a sociedade estaria sujeita a um pro-
gresso ilimitado (MUSSE, 2012, online).
 Diante desse contexto, a sociologia surge como a ciência responsável por tentar 
explicar a vida complexa dos seres humanos e as relações sociais firmadas entre esses, 
tendo em vista os seus comportamentos perante a sociedade, dessa forma era necessário 
que uma nova ciência fosse criada para que os novos problemas e a nova vida social 
pudesse ser entendida, criticada e analisada, sendo esse papel exercido pela presente 
24
2.3 OS SOCIÓLOGOS NO MUNDO
 Vários são os pensadores importantes para a sociologia, mas levando em 
consideração o momento de surgimento dessa ciência é importante destacar o 
posicionamento de alguns desses sociólogos, tendo em vista os conhecimentos 
compartilhados por Moutinho (2019).
 Saint-Simon foi o responsável por afirmar que o pensamento racional deveria ser 
utilizado como forma de compreensão do funcionamento dos mecanismos que regiam 
a natureza, podendo ser empregado na ampliação e na criação de novas técnicas acerca 
do aproveitamento dos recursos naturais em beneficio para a sociedade, dessa forma 
uma das suas principais defesas tinha como base o convívio harmonioso e pacífico 
das sociedades, tendo em vista a elevação da capacidade produtiva para o sustento 
comunitário.
 Já Augusto Comte criou a Lei dos Três Estados, por meio da qual, as sociedades 
evoluem do estado teológico para o metafísico até atingir o cientifico, assim fazia uso 
das leis sociais, como se essas fossem leis presentes nas ciências exatas e biológicas, 
Figura 3: Sociólogos de destaque
Fonte: Pavão (2013, online)
por isso acreditava que as ciências sociais e as 
naturais eram dotadas da mesma eficácia.
 Émile Durkheim, por sua vez, se baseia os 
preceitos ensinados por Comte, contudo possui 
como foco maior os fatos sociais, a partir disso 
estabelece a concepção de que a sociologia deve 
ser entendida como uma ciência autônoma 
e independente, pois possui um campo de 
investigação própria e fenômenos específicos 
ao seu funcionamento e aplicação, o que a torna 
diferente das outras áreas, por demonstrar uma 
preocupação com os fatos sociais relativos as 
coerções e as relações sociais, exteriores aos indivíduos.
 Marx e Engels destinam as suas investigações aos fatores que entendem como 
determinantes a sociedade, levando em conta o contexto sócio-histórico das rela-ções 
sociais de produção, segregando as classes em dominantes e dominados, sen-do os 
primeiros ocupados pela elite, que exploram os dominados.
 Por fim, Max Weber entendia quea sociedade não era formada por um corpo 
coletivo consciente incumbido por delimitar os passos dos indivíduos, dessa forma, para 
esse sociólogo as perspectivas individuais precisariam ser destinadas as percepções 
sobre a sociedade, considerando os valores e comportamentos internos a essas. Nesse 
sentido, foi estabelecido o conceito de ação social como “o ato de um indivíduo dirigir-se 
25
2.4 O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA NO BRASIL
 A sociologia tem como foco as sociedades e os comportamentos humanos que 
se desenvolvem nesses meios, por isso está presente em todos os lugares do mundo, 
mesmo que tenha surgido de forma inicial na Europa.
A sociologia no Brasil surgiu entre 1920 e 1930, sendo responsável por buscar 
compreender o funcionamento da sociedade brasileira, assim para ampliar os 
seus conhecimentos sobre o tema recomenda-se a leitura do livro “Sociologia 
Brasileira” escrito por André Pinhel e Brenno Alves, que explora a história e os 
fundamentos da sociologia brasileira de forma cronológica e interdisciplinar.
LINK: https://bit.ly/39f73yF
BUSQUE POR MAIS
 A sociologia demorou um pouco mais a ser estabelecida e exercida no território 
nacional, mas desde a sua chegada tem implementado descobertas e reflexões 
fundamentais a organização social.
A sociologia no Brasil nasce com a herança da cultura europeia. Suas carac-
terísticas aparecem desde a transferência do centro da vida econômica social 
e política dos feudos para a cidade. A Europa passou por um intenso desen-
volvimento urbano e comercial e, consequentemente, as relações de produ-
ção capitalistas se multiplicaram, minando as bases do feudalismo (LOBATO; 
OLIVEIRA, 2018, p. 02).
 A sociologia no Brasil surgiu por volta dos anos de 1920 e 1930, tendo sido nessa 
época que surgiu o interesse e a curiosidade dos estudiosos acerca da compreensão do 
sistema de sociedade brasileira, assim os assuntos mais discutidos e estudados durante 
essa época tinham como foco o processo de colonização, o surgimento, os impactos e 
a abolição da escravatura, os papeis exercidos por índios e negros, os impactos sofridos 
pelos êxodos e as suas consequências para o funcionamento do território nacional.
 Essas eram temáticas consideradas como imprescindíveis ao entendimento da 
formação da sociedade brasileira, bem como para a compreensão acerca dos problemas 
e das dificuldades relativas as mesmas, pois eram capazes de promover impactos e 
consequências para as relações de trabalho e para a consciência cidadã da população.
Os problemas presentes no território nacional não diminuíram ao longo do tempo, contudo 
não são mais os mesmos, diante disso o foco e os objetivos desempenhados pela sociologia 
também foram modificados, assim reflita um pouco sobre as questões atuais relativas a 
sociedade brasileira e pense qual a é a importância exercida pela sociologia e pelos soció-
logos diante desse cenário.
VAMOS PENSAR?
 Assim, os principais sociólogos presentes no Brasil durante esse período eram 
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior. Além desses, os avanços 
da sociologia brasileira tiveram como motivo os importantes sociólogos e as investigações 
realizadas por esses, assim nomes como Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro, também 
são dignos de destaque.
26
1. (NUCEPE - 2015 - SEDUC-PI - Professor – Sociologia) É CORRETO afirmar que a 
Sociologia
a) admite explicações científicas e de senso comum em suas formulações teórico-
metodológicas.
b) é a ciência que estuda o comportamento humano por meio de processos e estruturas 
que vinculam os indivíduos em grupos, comunidades e associações.
c) é a ciência que estuda os fenômenos da natureza.
d) consolida-se como ciência à medida que rejeita um processo de “desnaturalização” 
das explicações rotineiras sobre a realidade social, por tratar de fenômenos naturais.
e) se propõe a compreender processos mentais e orgânicos do ser humano e as suas 
interações com o ambiente físico e social.
2. (FGV - 2016 - Prefeitura de São Paulo - SP - Professor – Sociologia) A Sociologia é um 
corpo organizado de conceitos e metodologias científicas que se ocupa de
a) descrever a realidade dos sistemas social, político e econômico que se sucederam 
historicamente.
b) estudar os fenômenos sociais e identificar regularidades e normas nas formas de 
comportamento.
c) compreender a interdependência dos seres vivos e definir suas formas de interação 
social.
d) estabelecer os fatos sociais com base nos sistemas culturais e simbólicos.
e) analisar os tipos sociais e classificá-los em função das estruturas que os definem.
3. (FCC - 2016 - SEDU-ES - Professor – Sociologia) O surgimento e a consolidação da 
sociologia no Brasil estiveram associados às transformações econômicas e sociais mais 
amplas por que passou o país nas primeiras décadas do século XX. Sobre o momento de 
institucionalização da sociologia no Brasil é correto afirmar que:
a) A criação da Escola Livre de Sociologia e Política, em 1933, e a fundação da Universidade 
de São Paulo, em 1934, relacionaram-se, respectivamente, aos modelos de pesquisa e 
produção acadêmica francês e norte-americano.
b) Os estudos sociológicos estavam concentrados nas pesquisas sobre as relações 
internacionais, a questão ambiental e os modernos meios de comunicação social.
c) A sociologia produzida no Brasil não se restringiu aos grandes centros urbanos, 
observando-se produções relevantes em todos os rincões do país.
d) Uma das dificuldades de institucionalização da disciplina era o descompromisso dos 
sociólogos com uma concepção positiva de ciência, com métodos de pesquisa bem 
definidos e uma linguagem própria.
e) A modernização experimentada a partir de 1930 impulsionou a criação da disciplina, 
cuja questão fundamental era a possibilidade de formação da sociedade moderna no 
país, os impasses, limites e dilemas da transformação social.
FIXANDO O CONTEÚDO
27
4. (FCC - 2016 - SEDU-ES - Professor – Sociologia)
A sociologia não se afirma primeiro como explicação científica e, somente depois, como 
forma cultural de concepção do mundo. Foi o inverso o que se deu na realidade. Ela 
nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complicados das 
situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classe. E seu progresso, 
lento mas contínuo, no sentido do saber científico-positivo, também se faz sob a pressão 
das exigências dessas situações de existência, que impuseram tanto ao pensamento 
prático, quanto ao pensamento teórico, tarefas demasiado complexas para as formas 
pré-científicas de conhecimento.
O excerto acima sintetiza o vasto programa envolvido no processo de constituição da 
sociologia como a “ciência da sociedade”. Sobre esse processo é correto afirmar que:
a) A perspectiva sociológica, ou seja, a ideia de que a vida em sociedade está subordinada 
a uma determinada ordem cuja explicação de pedente de uma abordagem sistemática, 
resultou da conjunção entre os efeitos das crises sociais e os complexos processos de 
secularização da cultura decorrentes da modernização ocidental.
b) O fortalecimento da sociologia como uma disciplina específica do conhecimento 
científico deveu-se à estreita separação entre pensamento e ação, de modo a não 
contaminar as pesquisas com interesses políticos particularistas.
c) Ainda que o Iluminismo tenha alterado as formas medievais de pensamento 
remanescentes, o conhecimento sociológico desenvolvido posteriormente foi caudatário 
da tradição cristã, fundamentalmente devotada à intervenção nos problemas sociais.
d) A diferenciação social advinda com a industrialização e urbanização do Ocidente 
proporcionou novos elementos de prova às explicações pré-científicas, o que restringiu 
a sociologia ao ensaísmo e às análises filosóficas.
e) A necessidade de uma fundamentação científica induziu os primeiros sociólogos a se 
afastarem dos modelos explicativos das ciências naturais, o que lhes permitiu a aplicação 
de métodos e técnicas específicos para as investigaçõessociológicas empíricas.
5. (IBFC - 2017 - SEDUC-MT - Professor de Educação Básica – Sociologia) “Sabe-se que 
no Brasil as condições propícias ao desenvolvimento das ciências sociais verificam-se 
com a desagregação do regime escravocrata e senhorial e a transição para um regime 
de classes [...]”. (JINKINGS, 2007, p.5). Com base em tal afirmação assinale a alternativa 
correta:
a) A estrutura social pouco influenciou na produção do saber social
b) Com o fim da escravatura ideais intervencionistas ocupam os debates das ciências 
sociais
c) Os intelectuais e a disseminação do conhecimento no período colonial se detinham 
na esfera particular dos senhores de escravos
d) O desenvolvimento da Sociologia enquanto disciplina no Brasil se relaciona com a 
intensificação da divisão do trabalho
e) Exemplo de autores deste momento histórico e produção do conhecimento sociológico 
brasileiro com elevado rigor epistemológico são Euclides da Cunha e Sílvio Romero.
28
6. (IBFC - 2019 - Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho - PE - Gestor Social – Adaptada) 
A sociologia é uma forma de conhecimento originada no século XIX. Como toda forma de 
conhecimento, ela reflete as preocupações e as necessidades dos homens de seu tempo. 
“O saber sociológico” nasce ligado a fatores históricos e sociais. O surgimento da sociologia 
está ligado a um duplo processo que envolve fatores históricos e epistemológicos (SELL, 
2014). A respeito da definição do surgimento da sociologia, assinale a alternativa correta.
a) A sociologia é uma forma de abordar a filosofia voltada para estudos racionais e 
entendimento da estrutura de uma sociedade de forma apenas política
b) É uma ciência que busca entender o comportamento de uma determinada sociedade 
e tem seu aparecimento com Aristóteles
c) A sociologia está ligada ao mundo grego e surge a partir das teorias políticas de Platão
d) Na visão dos fundadores da sociologia, os fenômenos que caracterizam a modernidade, 
seja no aspecto econômico, político ou cultural, não podiam mais ser explicados a partir 
de uma visão filosófica do mundo. Sustentavam, portanto, que era preciso buscar 
explicações a partir do método experimental e da observação da realidade empírica
e) A sociologia surgiu primeiramente na Ásia.
7. (FCC - 2018 - SEC-BA - Professor Padrão P – Sociologia)
Sociologia e sociedade industrial mantêm relações sumamente estranhas. Por um 
lado, a Sociologia nasceu na sociedade industrial; apareceu e adquiriu importância 
como consequência da industrialização. Mas, por outro lado, a ‘sociedade industrial’ é 
a filha mimada da Sociologia, seu próprio conceito pode ser considerado um produto 
da moderna ciência social. A mútua paternidade é causa de uma relação de parentesco 
paradoxal e desconhecida inclusive entre os antropólogos. Precisamente por isso parece 
aconselhável analisar mais detidamente as relações da Sociologia com a sociedade 
industrial, mitos muito pouco discutidos.
A respeito da Sociologia como disciplina científica, a que faz referência o trecho acima, 
é correto afirmar:
a) Trata-se de momento especial na evolução do pensamento humano, no qual se 
buscava exprimir em ideias e conceitos o mundo ultraterreno no qual se acreditava.
b) O surgimento da moderna noção de igualdade dos cidadãos perante o Estado e a 
formação das classes sociais segundo a posição econômica de seus membros são temas 
e conceitos relacionados à Sociologia como disciplina científica.
c) A Sociologia foi o resultado de uma reação à tentativa de desnaturalizar os fatos da 
vida social de modo a conservar os valores predominantes na sociedade europeia da 
época.
d) Formou-se um campo de reflexão sistemática, independente dos envolvimentos 
práticos na vida política e alheio às estruturas econômicas circundantes, postura que 
originou instituições imparciais, comprometidas apenas com a verdade científica.
e) O conceito “sociedade industrial” diz respeito à neutralidade da forma científica 
forjada pela Sociologia para demarcar as novidades que emergiam no momento de seu 
próprio surgimento.
29
8. (CEPS-UFPA - 2018 - UNIFESSPA – Sociólogo). Assinale a alternativa que expressa a 
concepção da sociologia no século XIX em relação às ciências naturais.
a) A sociedade não pode ser estudada por métodos objetivos de observação, 
experimentação e comparação porque possui leis diferentes das que existem no restante 
da natureza.
b) Quando do surgimento da sociologia no século XIX, competem entre si dois paradigmas: 
o da certeza e o da incerteza. A sociologia desde o início inclinou-se para o da incerteza.
c) O progresso é inevitável, embora seja gradual, lento e pode ter sua velocidade alterada 
por reformas de longo alcance.
d) O processo evolutivo não é o mesmo em todas as dimensões da existência, uma vez 
que o mundo social e o mundo material são realidades opostas.
e) A evolução faz com que haja uma tendência ao desequilíbrio contínuo que gera as 
transformações na relação entre o indivíduo e a sociedade.
30
SOCIOLOGIA BRASILEIRA: 
DÉCADA DE 1930 E ESCOLA 
PAULISTA DE SOCIOLOGIA
31
3.1 INTRODUÇÃO
 A sociologia nasce no Brasil por volta de 1920 e 1930, sendo um grande reflexo das 
heranças e das análises presentes na cultura europeia, contudo a realidade da Europa 
e aquela vivencia no Sul do Continente Americano desde o princípio são distintos, 
por isso o funcionamento da sociedade e das relações firmadas nesses dois espaços 
geográficos não são as mesmas, ou seja, cada localidade enfrenta os seus dilemas e 
pressões sociais diferentes e adequados as suas próprias necessidades, diante disso 
mesmo que a sociologia brasileira possua como inspiração os pressupostos da sociologia 
europeia, levando em consideração os grandes estudiosos dessa área, não são todos 
os aspectos vivenciados e demonstrados por meio dessas pesquisas que são dotados 
de aplicabilidade no território nacional, sendo esse um cenário vivenciado tanto no 
momento da criação da sociologia, quanto na atualidade.
A sociologia no Brasil surgiu entre 1920 e 1930, sendo responsável por buscar 
compreender o funcionamento da sociedade brasileira, contudo para que pos-
samos compreender a sociologia tanto em um contexto mundial, quanto na-
cional é importante que saibamos as funcionalidades dessa disciplina, dessa 
forma recomenda-se a leitura do livro “Para que serve a sociologia?”, escrito por 
Zygmunt Bauman.
LINK: https://bit.ly/39f73yF
BUSQUE POR MAIS
 Diante desse contexto, a sociologia brasileira mesmo que inspirada em uma 
sociologia do exterior, também passou a fazer análise dos problemas relativos à sociedade 
brasileira, tendo em vista os problemas relativos a colonização exploratória praticada por 
Portugal, o processo de escravidão, destinado, inicialmente, aos índios e em momento 
posterior, aos negros trazidos da África e os contextos trabalhistas nacionais, que desde 
sempre foram marcados por grandes desigualdades sociais, estando essa presente em 
vários dos setores que regem e orientam o funcionamento e as relações sociais humanas.
 A sociologia brasileira foi criada em um momento que o capitalismo estava em 
expansão, dessa forma, assim como no cenário europeu, a sociedade brasileira passou 
por diversas e profundas modificações causadas pela industrialização, pelo êxodo rural-
urbano e penas novas relações de produção e operacionalização que ganhavam força na 
mencionada época.
 A sociologia presente no Brasil possui dois elementos importantes na sua historia 
e composição, sendo o primeiro marcado por uma formação e um desenvolvimento 
tardio da sociologia nacional, enfatizando o período que antecedeu a década de 1930, 
que ficou conhecido como período pré-sociológico, época em que a importação cultural 
decorria de outras culturas, sistemas e instituições.
32
Figura 4: Período Pré-Sociológico e Sociologia Brasileira
Fonte: Elaborado pela autora (2020).
 Nesse sentido, a história da sociologia presente no território nacional pode ser 
dividida em dois grandes períodos, um sendo o pré-científicoe o outro aquele em que a 
sociologia já estava consolidada como ciência no Brasil, por isso a década de 1930 é tão 
importante, pois é considerada como um divisor de águas na sociologia nacional.
3.2 PERÍODO PRÉ-SOCIOLÓGICO: ANTES DE 1930
 O período inicial relativo a formação da sociologia no território brasileiro deve 
levar em consideração aspectos como o direito e o evolucionismo, já que o surgimento 
das primeiras leis serviram na intervenção e na promoção de impactos das condutas 
administrativas, devendo ainda ser destacados os efeitos proporcionados pela vida 
econômica e pela estruturação política presente no território brasileiro. Assim, até 
o mencionado momento, por volta dos anos 1800, os cientistas tidos como mais 
importantes eram aqueles vinculados a área jurídica, já que eram os responsáveis por 
realizar as interpretações consideradas como relevantes e importantes para a vida em 
sociedade.
 A sociologia surge apoiada no evolucionismo, por isso herda como preocupações 
as orientações fundamentais relativas aos fatores naturais, preocupação com etapas 
históricas, estudo complexos e sínteses explicativas. Em 1881, Silvio Romero publicou 
obra denominado como “Introdução à história da literatura brasileira”, que mesmo de 
maneira superficial já fazia referência e menção a sociologia que futuramente seria 
apresentada e discutida nas terras brasileiras, tendo sido por meio dessa obra que as 
primeiras diretrizes orientadoras dos estudos sociais no Brasil buscavam inspiração.
Levando em consideração o contexto relativo à sociologia é importante que a 
“Introdução à Sociologia” seja compreendida, por isso recomenda-se a leitura 
da obra escrita por Reinaldo Dias.
LINK: https://bit.ly/35jGBCS
BUSQUE POR MAIS
 Os reflexos de um capitalismo e de uma industrialização tardia proporcionaram 
impactos no funcionamento social e tiveram determinação importante na formação 
dos aspectos sociológicos brasileiros, principalmente, num cenário comparativo 
mundial, pois o argumento de que a sociologia brasileira é tardia por ter se desenvolvido 
posteriormente a presente na Europa não é totalmente válida, já que o mesmo aconteceu 
na realidade dos Estados Unidos da América, contudo a sociologia presente nesse país 
teve um avanço 
33
mais rápido e concreto, tendo sido reflexo de uma expansão e consolidação do capitalismo 
e da industrialização que ocorreu de forma mais rápida. Nesse sentido, Cardoso de Mello 
afirma que a industrialização brasileira se acelera a partir da crise de 1929, o que significa 
o aceleramento de um processo já em andamento. O início da industrialização no Brasil 
ocorre no final do século XIX mas seu processo de expansão data do início do século XX 
(MELLO, 1991, p. 54).
 Apesar das singelas demonstrações da presença da sociologia e da sua formação 
no período anterior a década de 1930, sendo que as principais contribuições atribuídas a 
esse período foram dadas após a geração de 1930.
3.3 A SOCIOLOGIA DEPOIS DA DÉCADA DE 1930
 A partir de 1930 uma nova era é iniciada perante a sociologia brasileira, que 
diferentemente da Europa, não iria passar pela sistematização, mas sim pela etapa 
responsável por sua organização, tendo em vista as mudanças sociais decorrentes da 
industrialização brasileira, que em sua maioria teve São Paulo como palco principal, 
levando em consideração a Revolução de 1930 e os impactos decorrentes dela, como 
a derrubada das oligarquias e a formação de um novo Estado Nacional, que gerou um 
número ainda mais crescente de modificações.
 Outro evento importante que tornou possível o impulsionamento dos avanços 
relativos à sociologia foi referente ao aumento do interesse no desenvolvimento do ensino 
superior, pois o Brasil passou a ter um caráter científico mais bem definido, a partir da 
criação da Universidade de São Paulo, que tornou possível o intercâmbio internacional 
de pesquisas e a absorção das influências da produção científica da Europa.
 Durante esse período em estudo, o crescimento da sociologia resultou na criação da 
Escola Livre de Sociologia e Política, que configurou o primeiro passo no caminho de sua 
institucionalização, como destacado por Peixoto e Viana (2011), que segundo Florestan 
Fernandes foi um passo imprescindível para a organização das novas bases da produção 
sociológica, o surgimento de um mercado consumidor orgânico e regulamentação da 
relação entre a pesquisa, o ensino universitário e a carreira no âmbito da sociologia, 
aspectos que tornaram possível a ampliação e o avanço das conquistas e dos estudiosos 
pertencentes a esse campo do saber.
 A partir de 1945, a sociologia presente no Brasil se torna cada vez mais consolidada, 
sendo prova disso a produção de obras e o surgimento de autores considerados 
importantes para essa etapa até a atualidade como, por exemplo, Florestan Fernandes, 
Luiz Aguiar Costa Pinto, Leôncio Martins Rodrigues, Juarez Brandão Lopes, Octávio 
Guilherme Velho, Caio Prado Júnior, Gilberto Velho, entre tantos outros.
 Por volta de 1980, a sociologia voltou a ser inserida no ensino médio brasileiro como 
uma disciplina facultativa, sendo nesse mesmo período que a profissão de sociólogo foi 
reconhecida no Brasil, tendo ocorrido também a ampliação dos interesses e do campo 
de estudo desses cientistas, que passaram a abranger pesquisas e discussões voltadas 
para os interessas da mulheres, dos trabalhadores rurais e outros assuntos de relevância 
social adequados a cada época. A sociologia é uma ciência que se adapta as mudanças 
e aos interesses sociais, já que faz suas análises e estudos com base nesses e nos 
comportamentos humanos, assim, além das temáticas já destacada, o atual contexto faz 
com que os sociólogos passem a abordar temas como a homofobia, o relacionamento 
34
entre casais homoafetivos, os mais diversos tipos de preconceitos, os reflexos da mídia 
na sociedade, entre tantos outros assuntos.
 Ao mesmo tempo em que todas essas modificações eram vivenciadas pela sociologia 
brasileira, outras áreas do saber também sofriam com as mencionadas modificações e 
passavam por alterações que reflitam na produção de suas obras, que muitas vezes se 
relacionavam com os textos sociais ou reflitam a realidade apresentada pelos mesmos, 
dessa forma as características da segunda fase do modernismo ocorreram por volta 
de 1930 a 1945, quando o foco era destinado ao mundo contemporâneo, apresentando 
textos direcionados para o contexto sociopolítico, nos quais a liberdade eram vista tanto 
no uso da linguagem, quanto direcionados a liberdade formal e a perspectiva realista, 
conforme afirmado por Souza (2020).
 Diante de todas as conquistas e avanços obtidos pela sociologia brasileira por volta 
da década de 1930, segundo Ferreira e Lima (2011) apenas em 2009, a sociologia se tornou 
uma disciplina obrigatória na grade curricular dos alunos do ensino médio no Brasil, 
aspecto que tornou possível a aproximação e a compreensão dos motivos que tornam 
essa disciplina tão importante para o entendimento da sociedade e da sua relação com 
os mais variados campos do saber, já que possui como objetivo fornecer explicação para 
a desnaturalização das concepções que giram em torno dos fenômenos sociais, assim 
além de abordar os aspectos históricos na disciplina correspondente a esses temas, a 
sociologia visa abordar como essas mudanças impactaram e ainda impactam a vida 
social na qual as gerações passadas e presentes estão inseridas, bem como analisar o 
que as ações presentes na atualidade podem acarretar para as gerações que ainda virão.
3.4 SOCIÓLOGOS BRASILEIROS
 Vários são os nomes que desempenham importância e papel fundamental para o 
desenvolvimento e a compreensão da sociologia presente no território nacional, dessa 
forma aqui serão destacados apenas aqueles entendidos como os principais ou os de 
maior importância para a época em pauta, contudo, em razão do grande número de 
sociólogos, aqueles não abordados aqui também são dignos de atenção e dotados de 
uma credibilidadede destaque.
 Florestan Fernandes foi um dos sociólogos de maior importância para a formação 
e para o desenvolvimento da sociologia brasileira, sendo que os seus estudos eram 
voltados para as perspectiva teórico-metodológicas na busca da fundamentação 
da sociologia como ciência, assim as suas principais pesquisas foram voltadas para o 
processo de industrialização brasileira e a sua relação com as mudanças sociais vistas a 
partir de então.
 Já Darcy Ribeiro, ganhou destaque a partir da produção da obra denominada como 
“o povo brasileiro”, que tinha como objetivo efetuar uma análise acerca da formação da 
sociedade brasileira, levando em conta a maneira com que se dá a sua organização e as 
contribuições dos povos indígenas.
35
Levando em consideração que Darcy Ribeiro possuía como objetivo entender os aspectos 
de maior relevância para a formação da sociedade brasileira, entre as suas afirmações o 
mencionado estudioso chegou a conclusão de que “a estratificação social separa e opõe, 
assim, os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis, mais do 
que corresponde habitualmente a esses antagonismos. Nesse plano, as relações de classes 
chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana 
entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a 
explora e a deplora, como se esta fosse uma conduta natural.” (RIBEIRO, 1995)
FIQUE ATENTO
 Por sua vez, Gilberto Freyre foi um sociólogo de renome tanto para a sociologia 
brasileira, como para aquela estabelecida em Portugal, sendo que o maior foco dos 
seus estudos consistia na busca pelo entendimento acerca da formação das civilizações, 
tendo como ponto de partidas as civilizações modernas e os impactos que a colonização 
foi capaz de gerar a essas.
 Sérgio Buarque de Holanda, mesmo sendo historiador, também trouxe 
contribuições relevantes para o âmbito da sociologia, principalmente, no que se refere 
ao desenvolvimento de sua obra denominada como “raízes do Brasil”, responsável por 
abordar a formação da cultura brasileira e o processo de formação da sociedade presente 
nesse país.
 Por fim, destaca-se ainda as importantes contribuições fornecidas por Caio Prado 
Junior, entre essas a obra denominado “formação do Brasil contemporâneo”, que teve 
como objetivo principal discutir a formação da sociedade brasileira, analisando essa desde 
a chegada dos colonizadores a essa terra, já que o autor acreditava que a colonização 
teve relação direta na formação e no funcionamento da sociedade brasileira, já que foi 
um processo traumático do qual várias consequências posteriores foram derivadas.
3.5 ESCOLA PAULISTA DE SOCIOLOGIA
 A Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo foi criada em 1933, época em 
que a sociologia brasileira estava vivendo a sua ampliação e expansão de forma mais 
acelerada, na qual grandes nomes relacionados a sociologia ganhavam cada vez mais 
espaço. O Brasil, principalmente, São Paulo, vivenciava um momento em que a política e 
a cultura enfrentavam grande agitação, em razão das revoluções vivenciadas em 1930 e 
1932, dessa fora a estruturação dessa escola buscava não só entender os comportamentos 
da nova sociedade, mas também melhorar os padrões relativos à administração pública 
presente no Brasil com a intenção de diminuir as revoltas e ao mesmo tempo atender as 
necessidades da elite e os interesses das demais classes.
A Escola Paulista de Sociologia ganha destaque, pois diante das várias conquistas e atri-
buições relacionadas a essa, a escola em questão foi a pioneira em seu campo de atuação, 
contudo isso não implica dizer que é a única, diante disso, pare e reflita um pouco acerca 
das demais escolas sociológicas presentes no Brasil e pesquisa sobre a importância e o pa-
pel desempenhado pelas mesmas nos avanços da disciplina em estudo.
VAMOS PENSAR?
36
 Assim, essa escola recebe uma grande atenção, tendo em vista que foi a 
primeira instituição latino-americana destinada ao ensino e à pesquisa do campo 
das ciências sociais, e que continuam a ter esse foco até a atualidade, tendo passado 
por modernizações, manutenções e aperfeiçoamentos com o intuito de atingir a sua 
finalidade de propagar os assuntos relativos a sociologia e a política a biblioteconomia, a 
ciência da informação e a administração.
 Atualmente, a mencionada escola paulista é denominada como Fundação Escola 
de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), sendo uma instituição de ensino e 
pesquisa sem fins lucrativos que possui cursos de graduação, pós-graduação e extensão 
destinados as áreas das ciências sociais.
37
1. Apesar de existirem estudos sociológicos no Brasil, antes de 1930, pode-se afirmar que 
a Sociologia brasileira se desenvolveu com a fundação da Escola Livre de Sociologia e 
Política, em 1933, da Universidade de São Paulo, em 1934, e a do Rio de Janeiro, em 1935. 
Sobre a consolidação da Sociologia brasileira como ciência acadêmica, pode afirmar 
que:
a) O objetivo da Sociologia brasileira, nesse contexto, era formar técnicos e especialistas 
para compreender os problemas sociais e produzir “soluções irracionais” para questões 
internacionais.
b) A Sociologia no Brasil passou a ser reconhecida com base em estudos sobre relações 
raciais, mobilidade social de grupos étnicos e das relações sociais existentes no meio 
rural brasileiro.
c) Os estudos das teorias pelos intelectuais brasileiros em pesquisas sobre os problemas 
nacionais foi o caminho encontrado pelos primeiros sociólogos para suprir a ausência 
de uma “escola sociológica no Brasil” e para consolidar a Sociologia brasileira como 
disciplina.
d) A Sociologia se tornou uma “tradição” teórica importante usada apenas no Ensino 
Regular com os estudos de Florestan Fernandes.
e) A ordem social brasileira nesse período era compreendida pela Sociologia, em 
consolidação no Brasil, como uma prática intelectual e política, impedindo transformação 
da sociedade, com o objetivo de romper ou manter a ordem capitalista vigente.
2. “A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno. 
E é por isso que erram profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, na 
certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem. Os mandamentos e as 
ordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas de 
espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade 
de organização sólida não representam, a seu ver, mais do que uma ausência da única 
ordem que lhes parece necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierarquia que 
exaltam é que precisa de tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio”. 
Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são intelectuais da 
chamada “Geração de 30”, primeiro momento da sociologia no Brasil como atividade 
autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade.
Sobre as preocupações características dessa geração, considere as afirmativas a seguir. 
I. Critica o processo de modernização e defende a preservação das raízes rurais como o 
caminho mais desejável para a ordem e o progresso da sociedade brasileira. 
II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a denúncia da visão hierárquica 
e autoritária das elites brasileiras. 
III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos bacharéis como instrumento 
de transformação social. 
IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de compreensão e explicação da
FIXANDO O CONTEÚDO
38
sociedade brasileira. 
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e III.
b) I e IV.
c) II e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
3. Diversos estudos sociológicos buscam analisar a formação da cultura brasileira e da 
identidade nacional. Com base nesse tema, assinale a alternativa correta.
a) Florestan Fernandes é responsável por desconstruir a visão de um convívio harmonioso 
entre as raças no Brasil. Para o autor, em A integração do negro nasociedade de classes, a 
democracia racial seria um mito, uma imagem idealizada que serve para a perpetuação 
das desvantagens sociais dos negros na sociedade brasileira.
b) Nina Rodrigues e Euclides da Cunha são autores que valorizavam a mestiçagem 
brasileira. Eles defendem a ideia de que a mistura das matrizes indígena, branca e negra 
seria fundamental para a construção de um povo tolerante e avesso ao preconceito e à 
discriminação.
c) Segundo Gilberto Freyre, a mistura racial no Brasil favorecia a ruína da nação. De acordo 
com esse autor, seria necessário que o Estado adotasse políticas de branqueamento 
racial.
d) A Constituição brasileira de 1988 assegura os direitos sociais e individuais sem 
preconceito e discriminação. Sendo assim, casos como os salários mais baixos para as 
mulheres, mesmo ocupando a mesma atividade que os homens, não fazem parte do 
cenário social brasileiro atual.
e) As teorias raciais e eugênicas não tiveram sucesso no Brasil do século XIX. A ideia 
da superioridade dos brancos europeus foi totalmente repudiada pelos intelectuais 
brasileiros da época que buscavam valorizar as práticas culturais advindas da mestiçagem.
4. Oficialmente extinta do currículo do Ensino Médio nos anos 1940, a Sociologia voltou 
a marcar presença em um outro estado, de modo intermitente, na década de 1980. 
Na década seguinte, várias organizações e universidades começaram a desenvolver 
um movimento em defesa da obrigatoriedade do ensino da Sociologia no nível médio 
que culminou com a aprovação da Lei 11.684, de 2 de junho de 2008, alterando a Lei 
de Diretrizes e Bases (LDB) e colocando a Sociologia, novamente, como obrigatória no 
currículo do Ensino Médio brasileiro. Sobre a Sociologia no Ensino Médio, podemos 
afirmar que
a) a primeira tentativa de inclusão da disciplina ocorreu logo após a Proclamação da 
República, por meio da Reforma Educacional de 1901, tendo sido eliminada em 1911 por 
Epitácio Pessoa.
b) em 1932, ocorreu a Reforma Capanema que retirou a obrigatoriedade da Sociologia nos 
cursos secundários. A disciplina foi mantida somente no Curso Normal como Sociologia 
Geral e Sociologia da Educação.
39
c) em 1928, com a Reforma Benjamin Constant, o Colégio Pedro II implantou a Sociologia 
regularmente no seu currículo. Três anos depois, a disciplina foi introduzida nos Estados 
de São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
d) a Lei nº 5692/71 deslocou as disciplinas relacionadas às ciências humanas (Sociologia, 
Filosofia e Psicologia), introduzindo, no lugar delas, as disciplinas de Educação Moral e 
Cívica e Organização Social e Política do Brasil (OSPB).
e) em 1961, a Reforma Francisco Campos introduziu a Sociologia nos cursos preparatórios 
e nos cursos superiores nas Faculdades de Direito, Engenharia e Arquitetura e Ciências 
Médicas, além de mantê-la nos cursos normais de formação de professores.
5 . Alguns autores consagrados procuram explicar a realidade brasileira pela denominada 
Sociologia da herança patriarcal-patrimonial. Assinale a afirmativa acerca dessa linha de 
pesquisa e perspectiva teórica.
a) Freyre, Holanda, Faoro e Matta têm em comum o fato de atribuírem aos efeitos da 
herança patrimonial-patriarcal sobre o Brasil contemporâneo a razão das distorções 
de nossa sociabilidade moderna. Freyre (1990, 1996, 2000) e Holanda (1994) claramente 
convergem em direção à ideia de que certos códigos de sociabilidade típicos da família 
patriarcal e do pater familias teriam permanecido ativos na dinâmica social do Brasil 
contemporâneo para além do período colonial.
b) Para Freud, a extensão e a profundidade da disseminação do tipo patriarcal de 
sociabilidade seriam uma consequência do fato de que o latifúndio patriarcal, baseado 
no trabalho escravo e orientado à produção e à exportação de matérias-primas, veio a se 
tornar algo mais que uma simples unidade econômica: consolidou-se por muito tempo 
como locus político-administrativo, militar e jurídico, além de centro organizador da vida 
sexual, cultural e até mesmo religiosa. Naquelas circunstâncias, diferenciação social e 
impessoalidade teriam encontrado tremenda dificuldade para florescer.
c) Jean Jacques Rosseau atribui à nossa herança lusitana, marcada por aversão 
congênita a qualquer ordenação impessoal da existência, a importância remanescente 
do patriarcalismo no tecido social do Brasil contemporâneo. O perfil da empresa 
colonizadora de portugueses, ancorada na ética da aventura em detrimento da ética do 
trabalho, revelaria a incompatibilidade de nosso passado ibérico com a racionalização 
característica de terras protestantes. Com isso, estabilidade e segurança – atributos de 
uma ordem racionalizada – teriam sido postos em segundo plano em favor do desejo 
pela recompensa imediata.
d) Immanuel Kant defende a existência de um sistema dual pretensamente estruturando 
e orientando o Brasil contemporâneo: um código pessoal em coexistência com um 
sistema legal individualizante enraizado na ideologia burguesa liberal. Tal sistema dual 
expressar-se-ia na posição que “casa” e “rua” ocupariam na gramática social brasileira: 
a “casa”, domínio privado por excelência, seria o território da intimidade, do familiar, 
das relações pessoais, do parentesco, da afeição e do descanso; a “rua” (mercado, 
Estado, tráfego, entre outros), domínio público por excelência, seria um ambiente 
vivido e percebido como “a dura realidade”, esfera do trabalho, da luta, da disputa pela 
sobrevivência e, com bastante frequência, da punição.
e) Faoro (2001) toma caminho particular no interior dessa perspectiva interpretativa: 
em vez do “patriarcalismo”, nossa peculiaridade moderna teria suas raízes no Estado 
patrimonial que se constituiu em Portugal desde os idos de sua formação. Durante 
40
séculos, o Estado patrimonial português e sua burocracia estamental mantiveram 
o controle supremo de toda a dinâmica colonial, não só do ponto de vista político-
administrativo e militar, mas também do ponto de vista cultural, econômico e até 
mesmo religioso. Mesmo o controle das oligarquias estaduais no período de 1889 a 1930 
não teria representado mudanças tão substanciais, já que, com a queda da monarquia, 
teria prevalecido um tipo de relação autoritária entre as elites políticas (estaduais e 
locais) e suas bases, marcado por obediência pessoal e por extrema porosidade entre os 
domínios públicos e os âmbitos privados dos líderes mais proeminentes. A Revolução de 
1930 representaria o fim do Estado de tipo patrimonial e a implementação do modelo 
burocrático de estilo weberiano em todo o serviço público brasileiro.
6. Analise os fragmentos a seguir.
“Amigos, aí é que está: - o sujeito que quiser conhecer o Brasil terá que olhar o escrete. 
Não há nada mais Brasil do que Pelé. E repito: - todo o Brasil estava no goal que Pelé 
marcou, de cacetada, contra o País de Gales. Também a desgraça venta no futebol. Pior 
do que Canudos foi a vergonha épica de 50. No Maracanã inaugurado, o uruguaio Obdulio 
Varela venceu, no palavrão, o escrete e toda a nação.” (Nelson Rodrigues. O Brasil em 
campo. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 14.) “Evidentemente, existe “verdade” na 
literatura, mas é a verdade da literatura – da mesma forma que existe uma verdade da 
ciência, embora ela só possa ser a verdade da ciência. Em ambos os casos, as verdades 
de que estamos falando afirmam seu valor de verdade porque seguiram fielmente o 
código de procedimento prescrito. Não é uma questão de marcar pontos na mesma 
liga dos que se dedicam à busca da verdade, mas de competir em diferentes ligas para 
ganhar diferentes troféus. Em última instância, é a compreensão que cada um tem da 
vocação sociológica que determina sua escolha, e não a superioridade intrínseca de 
rivais e competidores na mesma corrida e na mesma pista.” (Zygmunt Bauman. Para que 
serve a sociologia? Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 30-31) Com base nos trechos citados, 
sobre o uso sociológico da metáfora literária do Brasil como país do futebol, analise as 
afirmativasa seguir.
I. Tanto a sociologia quanto a literatura interpretam o futebol como fenômeno social, 
capaz de gerar identidade e mobilizar sentimentos e ações coletivas. 
II. Para a literatura e a sociologia, na sociedade brasileira o futebol extrapola a dimensão 
esportiva e está associado ao imaginário coletivo. 
III. Literatura e sociologia se aproximam na tentativa de explicar a realidade social 
captando aspectos materiais e simbólicos do cotidiano.
Está correto o que se afirma em: 
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II e III.
7. Porque o sociólogo, numa sociedade como a nossa, volta-se com tanta insistência para 
41
os problemas de mudança? Quais são as características da mudança numa sociedade 
como a brasileira? Por que o controle da mudança é tão importante para o poder político 
das classes sociais dominantes? (Florestan Fernandes, 1979). Em seu livro, “Mudanças 
sociais no Brasil”, o autor analisa o motivo para estudar as mudanças. 
Sendo assim, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) As sociedades humanas sempre se encontram em permanente transformação, por 
mais “estáveis” ou “estáticas” que elas pareçam ser. 
( ) Mesmo uma sociedade tida como “estagnada” só pode sobreviver absorvendo 
pressões do ambiente físico ou de sua composição interna, as quais redundam e 
requerem adaptações sócio dinâmicas. 
( ) As sociedades não sofrem mudanças com os acontecimentos históricos, sendo 
possível viver sem verificar mudanças em uma determinada sociedade se a mesma se 
constitui isolada.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo
a) F, F, V
b) V, F, F
c) V, V, V
d) V, V, F
e) F, F, F
8. (INSTITUTO AOCP - 2020 - Prefeitura de Betim - MG – Sociólogo) A sociedade brasileira 
é formada pelo encontro de diferentes culturas. A partir das discussões sobre a formação 
da cultura e identidade nacional, assinale a alternativa correta.
a) A sociologia defende a ideia de que a discriminação é natural na sociedade, pois cada 
um dos indivíduos tem o direito de gostar ou não de outra pessoa.
b) O relativismo cultural é uma postura analítica que considera os mitos e as narrativas 
folclóricas como elementos culturais subdesenvolvidos e primitivos.
c) A sociologia afirma que os “índios de verdade” não utilizam roupas, nem tecnologias 
ocidentais. Nessa perspectiva, ao adotar os padrões civilizados de comportamentos, eles 
perdem sua condição de indígena e direito às terras florestais.
d) No Brasil, o encontro entre as religiosidades dos povos africanos, indígenas e brancos 
europeus não alterou as características nativas desses povos. Por isso, não é possível 
afirmar a existência de um sincretismo religioso.
e) Mesmo condenado pela legislação em vigor, o preconceito racial ainda é perpetuado 
na sociedade brasileira devido a mecanismos sociais/simbólicos que produzem e 
reproduzem as desigualdades de dentro da sociedade.
42
A SOCIOLOGIA CLÁSSICA 
43
4.1 A TEORIA SOCIAL CLÁSSICA
 Os autores que foram considerados os clássicos da sociologia foram Durkheim, 
Weber e Marx, eles foram considerados importantes para sociologia devido a três pontos:
 1. Desenvolveram uma teoria sociológica;
 2. Desenvolveram uma teoria da modernidade;
 3. Desenvolveram um projeto político.
 Cada um desses sociólogos ofereceu respostas para esses três pontos citados.
4.2 ÉMILE DURKHEIM
 Émile Durkheim, sociólogo francês, traz como principal objetivo a pretensão de 
conceder à sociologia uma reputação científica, assim, ele consegue colocar a sociologia 
dentro do mundo acadêmico e firma-la de forma definitiva como ciência. Suas principais 
obras foram da divisão do trabalho social, A regras do método sociológico, O suicídio, 
Formas elementares da vida religiosa, entre outros.
 Com relação aos três pontos abordados de contribuição dos sociólogos, pode-se 
elencar como contribuição de Durkheim a teoria sociológica da sociologia funcionalista; 
a teoria da modernidade da divisão social do trabalho; e o projeto político do conservador. 
Entre esses pontos o mais trabalhado até os tempos atuais é a teoria sociológica do 
funcionalismo.
 A teoria sociológica do funcionalismo é desenvolvida por Durkheim após ele 
observar que os sociólogos pouco tinham se preocupado com a questão do método 
na sociologia, assim, ele afirmava que era necessário ser elaborado “um método mais 
definido e mais adaptado à natureza particular dos fenômenos sociais” (DURKHEIM, 
1974, p. 84)
 Para que esse método fosse criado e, deste modo, ele desenvolvesse a teoria 
funcionalista, Durkheim viu a necessidade de responder duas perguntas consideradas 
chaves da epistemologia sociológica:
 1. Como era concebida a relação entre o indivíduo e a sociedade?
 O sociólogo considerou a sociedade como superior ao indivíduo, isto porque, de 
acordo com Sell (2001) Durkheim garantia que a explicação da vida social é fundamentada 
na sociedade e não no indivíduo. Isso não quer dizer que a sociedade exista sem os 
indivíduos, mas sim que as estruturas sociais após serem criadas pelos indivíduos passam 
a vigorar de forma independente, condicionando suas ações.
 É defendido por Durkheim que a sociedade é sui generis, em que a sociedade 
permanece enquanto os indivíduos passam. Nessa linha de raciocínio, deve-se então a 
sociologia explicar como o todo (que corresponde a sociedade) condiciona as partes que 
o compõem (que corresponde aos indivíduos).
 2. Como era entendido o papel do método científico na elucidação dos fenômenos 
sociais? 
 Durkheim aponta que para que uma ciência possa atingir a sua maturidade ela 
depende do método, assim, para que a sociologia possa ser considerada como uma 
ciência madura o foco deveria ser em seu método. O sociólogo afirma que “a primeira 
44
regra da sociologia e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como coisas” 
(DURKHEIM, 1974, p. 94).
Ao equiparar os fenômenos sociais a “coisas”, Durkheim partia do princípio 
de que a realidade social é idêntica a realidade da natureza e que, portanto, 
equipara-se também aos fenômenos por ela estudados. Assim, tal como as 
“coisas” da natureza funcionam de uma forma independente da ação huma-
na, cabendo aos cientistas penas mostrar suas regularidades; as “coisas” da 
sociedade também são uma realidade distinta da ação humana. Por isso, ao 
tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim recomendava que os sociólo-
gos evitassem as prenoções que já tinham sobre estas questões e que obser-
vassem os fenômenos sempre de acordo com suas características exteriores, 
da forma mais objetiva e imparcial possível. A semelhança entre seus objetos 
de estudo (ambos considerados como “coisas”) permitiu a este autor postu-
lar que, afinal, seus métodos de estudo também deveriam ser semelhantes 
(SELL, 2001, p. 30)
 Quando se diz que os fatos sociais devem ser tratados como coisas, isso quer dizer 
que é função do sociólogo elaborar a pesquisa assim como os demais cientistas, como 
o biólogo, o físico, entre outros. O sociólogo deve registrar na sociologia a pesquisa de 
forma mais imparcial possível.
 Deste modo, após responder essas duas questões, Durkheim começou a elaborar 
um método adequado para se entender os fenômenos sociais, se orientando pelo 
método biológico como orientador para a sociologia.
 Por meio de suas pesquisas, Durkheim retrata a sociologia como sendo um fato 
social, sendo definido como “toda a maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o 
indivíduo uma coerção exterior, ou ainda; que é geral no conjunto de uma dada sociedade 
tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações 
individuais” (DURKHEIM, 1974, p. 93) A partir dessa definição é possível constatar que para 
Durkheim, nem todo fato que ocorre na sociedade pode ser considerado social, podendo 
destacar que o fato social se refere a formas de agir, pensar e sentir que existem fora da 
consciência individual. É estabelecido que para que um fatoseja social, eles devem ser: 
exteriores, coercitivos e objetivos, pois a maneira de agir do ser humano é de acordo com 
a sociedade, possuindo uma existência de forma independente do indivíduo.
Com relação a coercitividade ela se manifesta em dois âmbitos, sendo eles o do direito e o 
dos costumes, assim, não obedecemos apenas às regras instituídas pelos códigos do direi-
to, mas também inconscientemente obedecemos aos costumes e às tradições ensinadas 
pelos antepassados.
FIQUE ATENTO
 Ao explicar a função social, Durkheim demonstra qual a função exercida por eles, 
desenvolvendo então a teoria funcionalista, que traz a comparação da sociedade com 
o corpo vivo, retratando que cada órgão possui uma função e, assim, analogicamente a 
sociedade possui várias partes, em que cada parte desempenha uma função em relação 
ao todo.
45
4.3 MAX WEBER
 Max Weber é considerado um importante sociólogo alemão que teve como 
influência a filosofia clássica, os filósofos neo-kantianos e o pensamento social alemão.
Com relação aos três pontos abordados de contribuição dos sociólogos, pode-se elencar 
como contribuição de Weber a teoria sociológica da sociologia compreensiva; a teoria 
da modernidade da racionalização da cultura e da sociedade; o projeto político da 
neutralidade absoluta.
 Desses três pontos, um dos considerados mais importantes, sendo utilizado até 
os dias atuais é a teoria sociológica compreensiva, em que Weber tem como orientação 
sociológica o sujeito, trazendo um método em que o indivíduo é considerado um 
elemento fundamental na explicação da realidade social.
 As polêmicas teóricas de Weber estiveram em grande parte ocupada pelas 
discussões que existiam sobre os fundamentos epistemológicos, pois Weber se 
ocupou criticar os pressupostos epistemológicos do positivismo, se encarregando de 
proporcionar novos embasamentos teóricos para as ciências sociais.
Émile Durkheim era um positivista, sendo um dos sociólogos em que Weber contrariava em 
seus estudos.
FIQUE ATENTO
 Weber seguia a mesma linha de pensamento dos filósofos neo-kantianos 
combatendo o pressuposto dos positivistas que estabeleciam que as ciências sociais e 
as da natureza deveriam adotar o mesmo método. Assim, o sociólogo afirmava que “de 
tudo o que até aqui se disse resulta que carece de razão de ser um estudo “objetivo” dos 
acontecimentos culturais, no sentido em que o fim ideal do trabalho científico deveria 
consistir numa redução da realidade empírica a certas leis” (WEBER, 2003, p. 96).
 Com essa afirmação de Weber pode-se notar que ele crítica uma das premissas 
que justificava a identidade entre as ciências sociais e as ciências naturais que era 
promovida pelo positivismo, pressuposto esse que determinava que toda a realidade 
social pode ter como explicação o descobrimento de um sistema de “leis” próprios ao 
funcionamento da sociedade.
 Para compreender o embate entre as ciências sociais e as ciências naturais,
Weber considera que uma ciência não se circunscreve a nenhum tipo de 
método exclusivista, antes optando por um método ou outro em função das 
circunstâncias e das exigências atuais. Os métodos generalizante e individu-
alizante são tipos úteis para permitir uma melhor compreensão da forma de 
abordagem que escolhermos, mas em caso algum devem ser vistos como 
categorias rígidas de análise que espartilham e limitam uma ciência parti-
cular e lhe tolhem as possibilidades de explicar uma determinada gama de 
fenômenos por recurso ora a um método ora a outro (FERREIRA, 1995, p. 95).
46
 Assim, Weber considera como instrumento útil para as ciências sociais para 
interpretação da realidade o uso de leis científicas, para que elas não se tornem subjetivas, 
no entanto essas leis não devem ser a finalidade das ciências sociais.
 Além de uma concepção diferente dos positivistas sobre a relação das ciências 
sociais e naturais, Weber também discorda no que diz respeito a relação entre indivíduo 
e sociedade. Ele retrata então que: 
A sociologia interpretativa considera o indivíduo e seu ato como a unidade 
básica, como seu “átomo” – se nos permitirem pelo menos uma vez a com-
paração discutível. Nessa abordagem, o indivíduo é também o limite superior 
e o único portador de conduta significativa (...). Em geral, para a sociologia, 
conceitos como “Estado”, “associação”, “feudalismo” e outros semelhantes de-
signam certas categorias de interação humana. Daí ser tarefa da sociologia 
reduzir esses conceitos à ação compreensível, isto é, sem ex-ceção, aos atos 
dos indivíduos participantes” (WEBER, 1982, p. 74).
 Fazendo uma relação do pensamento de Weber com o pensamento estabelecido 
a respeito do indivíduo por Durkheim, é possível trazer que, o primeiro dispõe que o 
indivíduo é fundamental para sociedade, enquanto para o segundo a sociedade é 
superior ao indivíduo. A partir desse fato, Sell (2001) aponta que de acordo com Weber 
a existência da sociedade somente se realiza pela ação e interação recíproca entre as 
pessoas, sendo por ele sustado que o ponto de partida da análise sociológica só é possível 
ser dado pela ação dos indivíduos e que ela é individualista quanto ao método.
A sociedade é composta por indivíduos, onde um único indivíduo não forma uma socieda-
de, necessitando desta forma de mais de uma pessoa. Assim, com base no que já foi estu-
dado é o indivíduo que é importante para a sociedade como dispõe Weber ou a sociedade 
é superior ao indivíduo como diz Durkheim?
VAMOS PENSAR?
 Weber então define a sociologia como uma ciência que possui a pretensão de 
compreender de forma interpretativa a ação social e é encarregada de explicar essa ação 
em seus cursos e seus efeitos. 
 Sendo a ação social o principal objetivo de estudo da sociologia, de acordo com 
Weber, Sell (2001)define ação social como uma ação que, quanto a seu sentido visado 
pelo agente ou pelos agentes, se refere ao comportamento de outros, orienta-se por 
este em seu curso.
 Entretanto, as ações sociais são infinitas não sendo a sociologia capaz de fazer 
um acompanhamento de todos os tipos de comportamento social. Foi devido a essa 
dificuldade, foi construído por Weber a teoria dos tipos de ação, em que ele aponta quais 
são os sentidos básicos da ação social, sendo apontado por Sell (2001)que são:
 1. Ação social referente a fins: a ação é determinada por expectativas quanto ao 
comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas. As expectativas 
funcionam como condições ou meios que servem para alcançar fins próprios, ponderados 
e perseguidos racionalmente. Assim, nesse tipo de ação, o homem coloca determinados 
objetivos e busca os meios mais adequados para persegui-los. O motivo principal dessa 
ação é de alcançar sempre um resultado eficiente;
 2. Ação social referente a valores: a ação é determinada pela crença consciente 
no valor (ético, estético, religioso, entre outros) absoluto e inerente a determinado 
47
comportamento como tal, independente do resultado. Deste modo, o motivo da ação não 
corresponde a um resultado, mas sim a um valor, independentemente dos resultados 
positivos ou negativos que ela possa ter;
 3. Ação social afetiva: a ação é determinada de modo afetivo, de forma especial, 
emocional, por afetos ou estados emocionais atuais;
 4. Ação social tradicional: a ação é determinada pelo costume enraizado.
 Quando vários agentes partilham da ação social, é formada a relação social. Nas 
palavras de Weber essas quatro formas de ação são definidas da seguinte forma:
Primeira: pode ser classificada racional em relação aos fins. Nesse caso a clas-
sificação se baseia na expectativa de que objetos em condição exterior ou 
outros indivíduos humanos comportar-se-ão de uma dada maneira e pelo 
uso de tais expectativas como “condições” ou “meios” para tingir com suces-
so os fins racionalmente escolhidos pelo indivíduo, em tal caso, será denomi-
nada ação em relação a fins. Segunda: a ação social pode ser determinada 
pela crença consciente no valor absoluto da ação como tal, independentede 
quaisquer motivos posteriores e medida por algum padrão tal como ética, 
estética ou religião. Em tal caso de orientação racional para um valor absoluto 
será denominada ação em relação a valores. Terceira: a ação social pode ser 
determinada pela afetividade, especial de modo emocional, como resultado 
de uma configuração especial de sentimentos e emoções por parte do indiví-
duo. Quarta: a ação social pode ser determina tradicionalmente, tornando-se 
costume devido a uma longa prática (WEBER, 2002, p. 41).
 Deste modo, atacando o positivismo, Weber contrapõe a teoria levantada de que a 
realidade social pode ser explicada através de um sistema de leis próprias que dê conta 
do funcionamento da sociedade.
 Weber então retrata a sociologia como a ciência que pretende entender e 
interpretar a ação social, para que, desta forma, possa explicá-la de forma casual em seu 
desenvolvimento e efeitos.
4.4 KARL MARX
 Karl Marx não foi um sociólogo de profissão, tendo elaborado suas obras para 
oferecer um entendimento aos operários a respeito do sistema capitalista, explicando 
sobre as leis de funcionamento desse sistema. Por meio dessa explicação Marx pretende 
construir um novo tipo de sociedade, sendo denominada de sociedade socialista ou 
comunista.
 Com relação aos três pontos abordados de contribuição dos sociólogos, pode-se 
elencar como contribuição de Marx a teoria sociológica da sociologia histórico-crítica; a 
teoria da modernidade do modo de produção capitalista; o projeto político revolucionário.
O ponto importante dos estudos de Marx foi o materialismo histórico-dialético, tendo como 
ponto de partida o idealismo dialético de Hegel.
FIQUE ATENTO
 Hegel ao perceber que o método que predominava na filosofia era o metafísico, 
decidiu apresentar o seu método dialético, em que tinha a intenção de entender a história 
como movimento. Fazendo uma distinção desses dois métodos, Sell (2001)aponta:
48
 • Método metafísico: retrata que a essência das coisas não se modifica;
 • Método dialético: retrata que a realidade corresponde à um movimento constante.
 Nesses termos, Hegel fundamenta sobre a dialética ao explicar qual a razão ou 
a causa responsável por gerar o movimento constante. É apontado por Sell (2001) que 
segundo esse filósofo, todas as coisas estão em constante transformação, isto porque, 
todo ser é intrinsecamente contraditório, isto é, sua existência já contém em si sua própria 
negação. Essa ideia é chamada de princípio da contradição.
 Devido ao fato da palavra dialética estar próxima da palavra diálogo, esta última é 
utilizada para explicar a ideia de movimento, desta forma, no diálogo os pensamentos 
são formados devido a troca de palavras, ou seja, pela através da ação mútua de uma 
ideia com a outra, gerando movimento (SELL, 2001).
 Nessa linha de raciocínio, Hegel estabelece que todos os indivíduos passam por 
três momentos fundamentais: momento da afirmação, que corresponde a ideia em 
si e que retrata que a realidade é pensamento, sendo chamado de tese; momento da 
negação, trata da ideia fora de si e retrata que a realidade se torna matéria, chamado de 
antítese; e, momento da negação da negação, correspondente a ideia em si e para si, 
tratando a realidade como pensamento e matéria, conhecido como síntese. É a partir 
desses momentos que é possível observar a lei do movimento e da contradição.
 Sendo retratada a concepção de Hegel, pode-se retratar em que consiste o 
materialismo dialético de Marx, superando o idealismo de Hegel. Marx aponta que os 
pressupostos de seus pensamentos consistem em “pressupostos reais de que não se 
pode fazer abstração a não ser na imaginação. São indivíduos reais, sua ação e suas 
condições materiais de vida, tanto aquelas já encontradas, como as produzidas por sua 
própria ação” (MARX, 1993, p. 26)
 Os pressupostos estabelecidos por Marx são (MARX, 1993)
 1. Os homens devem estar em condições de viver para fazer história. A primeira 
realidade histórica corresponde a produção da vida material;
 2. Após a primeira necessidade ter sido satisfeita, a ação de satisfazê-la e o 
instrumento já adquirido para essa satisfação criam novas necessidades, onde elas 
constituem no primeiro ato histórico;
 3. Os homens, que renovam diariamente sua própria vida, se colocam a criar outros, 
a se reproduzirem, constituindo assim a família;
 4. Um modo de produção um estágio industrial possui sempre uma ligação com 
um modo de cooperação. A massa das forças produtivas determina o estado social;
 5. Onde se observa que o homem tem consciência, em que ela nasce da necessidade, 
da existência de intercâmbio com outros homens. A consciência corresponde, desde o 
seu início a um produto social.
 É a partir desses pressupostos que Marx inverte a concepção de Hegel fundando 
o materialismo dialético, estabelecendo que o ponto de partido do real não corresponde 
mais ao pensamento, mas sim a vida material.
 Para ser realizada a análise social no materialismo histórico-dialético, o ponto de 
partida corresponde aos indivíduos reais e as suas condições materiais de existência. 
Essas condições determinando que as relações estabelecidas entre os homens estão 
condicionadas à forma como eles produzem seus meios de vida, assim como os vínculos 
materiais que estabelecem. A dialética marxista então se acentua na premissa de que 
“as formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem e trocam são 
transitórias e históricas” (MARX, 1993, p. 279) assim, Marx defendia que o capitalismo seria 
49
superado dando lugar para o socialismo.
O livro de Cleverson Lucas dos Santos, denominado “Introdução ao pensamen-
to social clássico”, retrata as bases da sociologia clássica. Nele é retratado des-
de a origem da sociologia até os pensamentos de forma mais aprofundada de 
Durkheim, Weber e Marx. 
LINK: https://bit.ly/3pWd89K
BUSQUE POR MAIS
Assista ao vídeo “O tripé da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx”, onde é eluci-
dada a importância que Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx tem para a 
sociologia, explicando porque eles são considerados o tripé da sociologia.
LINK: https://bit.ly/38lyibt
RELAÇÃO SOCIAL: Para a Sociologia a relação social corresponde ao relacionamento que 
existe entre duas ou mais pessoas em um determinado grupo social. as relações sociais 
correspondem a formação da base da estrutura social, sendo considerada o objeto básico 
da análise das ciências sociais.
SUI GENERIS: Corresponde uma expressão latina que em sua literalidade significa “de seu 
próprio gênero”. Retrata assim uma ideia de raridade. Quando Durkheim diz que o fato so-
cial é algo sui generis, ele quer dizer que ela possui suas próprias características. 
NEO-KANTEANOS: Se refere as pessoas que aderiram ao movimento do neokantismo, sen-
do este, um movimento filosófico que são influenciadas pela filosofia crítica de Kant, in-
cluindo várias tendências, direções, escolas e orientações.
GLOSSÁRIO
50
1. (CESP-UFPA-2018) Em relação à sociologia durkheimiana, está correto atribuir-lhe a 
seguinte noção:
a) A sociedade é para seus membros o que um Deus é para os seus fiéis, pois Ele nada 
mais é do que a divinização do social.
b) As classificações sociais e mentais não são unificáveis porque constituem realidades 
de naturezas diferentes.
c) Os elementos do pensamento lógico são os precursores das práticas e da experiência 
social.
d) Religião e Ciência são formas de interpretar o mundo que tiveram origens diferentes, 
daí por que se utilizam de pressupostos distintos.
e) Categorias como tempo, espaço, quantidade e qualidade são construídas 
individualmente e só em estágios posteriores são assumidas pela coletividade.
2. (NUCEPE – 2015) A respeito da metodologia utilizada nas Ciências Sociais, a proposta 
de Durkheim para o estudo dos fenômenos sociais é que, para analisá-los, é preciso 
tratá-los como se fossem
a) ideias.
b) coisas.
c) pensamentos.
d) sentimentos.
e) conflitos sociais.
3. (NUCEPE-2015) De acordo com Émile Durkheim (1987), em sua obra intituladaAs regras 
do método sociológico, os fatos sociais consistem em formas de agir, pensar e sentir 
exteriores ao indivíduo, que têm poder de coerção que lhes impõe. Tais fatos não podem 
se confundir com fenômenos orgânicos e nem com fenômenos psíquicos, devem ser 
qualificados de sociais. Na definição de Durkheim para fatos sociais, o autor busca
a) definir o status da sociologia através de similaridades com a psicologia.
b) alternativas para a natureza coercitiva dos fatos sociais.
c) definir o status da psicologia através de similaridades com a sociologia.
d) definir, estabelecer, singularizar o objeto da sociologia.
e) defender a visão integral do homem como ser bio-psico-social e fundar a ciência em 
base interdisciplinar.
4. (IF-RS-2015) Segundo Durkheim, a principal preocupação intelectual da sociologia é 
o estudo:
a) Dos condicionantes sociais e políticos.
b) Dos fatos sociais.
c) Das mudanças que ocorrem na sociedade a partir da metade do século XVIII.
FIXANDO O CONTEÚDO
51
d) Dos diferentes modos de a sociedade se organizar. 
e) Dos condicionantes culturais, sociais e econômicos.
5. (NUCEPE-2015) Os conceitos básicos da sociologia de Max Weber são
a) mais-valia, materialismo e dialética.
b) ação social, função social e fato patológico.
c) tipo ideal, ação social e relação social.
d) compreensão, ação social e materialismo.
e) mais-valia, tipo ideal e dialética.
6. (NUCEPE-2015) Em Weber, a Sociologia é considerada como ciência compreensiva da 
ação social, que pode ser dividida em quatro tipos fundamentais:
a) Racional com relação a fins, racional com relação a valores, afetiva e tradicional.
b) Racional com relação à tradição, racional com relação a valores, afetiva e tradicional.
c) Racional com relação a fins, racional com relação à tradição, afetiva e tradicional.
d) Irracional com relação a fins, irracional com relação à tradição, afetiva e tradicional.
e) Racional com relação a fins, irracional com relação à tradição, irracional afetiva e 
irracional tradicional.
7. (IF-RS-2015) Leia a seguinte frase e assinale o seu autor:
“... a peculiaridade desta filosofia da avareza parece ser o ideal de um homem honesto, 
de crédito reconhecido, e, acima de tudo, a ideia do dever de um indivíduo com relação 
ao aumento de seu capital, que é tomado como um fim em si mesmo. Na verdade, o 
que é aqui pregado não é uma simples técnica de vida, mas sim uma ética peculiar, cuja 
infração não é tratada como uma tolice, mas como um esquecimento do dever. Esta é a 
essência do problema. O que é aqui preconizado não é um mero bom senso comercial – 
o que não seria nada original – mas sim um ethos. Esta é a qualidade que nos interessa”.
a) Émile Durkheim.
b) Karl Marx.
c) Norbert Elias.
d) Georg Simmel.
e) Max Weber.
8. (SEDUC-2016) O materialismo histórico dialético, proposto por Karl Marx e Engels, 
denuncia a exploração do proletariado pelos donos dos meios de produção, utilizando 
os conceitos de mais-valia absoluta e mais-valia relativa. Constitui uma das variáveis 
utilizadas para diferenciar esses dois conceitos:
a) a comercialização.
b) a qualificação.
c) o conhecimento.
d) o governo.
e) o tempo.
52
SOCIOLOGIA DE 
MATRIZ EUROPEIA E DE 
MATRIZ AMERICANA 
53
5.1 MATRIZ EUROPEIA 
 Os nomes da sociologia clássica desenvolveram matrizes que são consideradas 
até os dias atuais. Desta forma, cabe estudar em que consiste cada uma das matrizes de 
Durkheim, Weber e Marx. 
 É dado o nome de matriz, pois representa uma forma de compreensão da contínua 
reflexão sociológica com relação a modernidade.
 5.1.1 Émile Durkheim e a matriz da diferenciação social
 Os estudos sociológicos dispõem da sociedade a partir de dentro, onde cada um 
dos sociólogos retratam um diagnóstico diferenciado a respeito do social associado à 
modernidade.
 É apontado por Martucceli (1999) que a matriz da diferenciação social, favorece 
o processo de diferenciação da sociedade como forma de descrição da modernidade, 
sendo ela estruturada a partir dos pensamentos de Durkheim, trazendo também 
pensamentos de sociólogos como Talcott Parsons, Niklas Luhmann e Pierre Bourdieu.
 Durkheim retrata que existem dois tipos de solidariedade, a mecânica e a orgânica, 
sendo elas as formas de articulação do vínculo social, servindo como mecanismos de 
solução para se compreender como acontece as relações entre o indivíduo e a sociedade.
 Em sua obra De la division du travail social (Da divisão do trabalho social), Durkheim 
explica como o indivíduo, mesmo sendo autônomo, depende da sociedade. É possível 
apontar que em sua obra, o autor, traz a sociedade mecânica como uma sociedade 
segmentária, em que o indivíduo possui semelhança no que diz respeito aos elementos 
constitutivos partilhados da consciência comum. Nesse tipo de sociedade, os indivíduos 
não possuíam especialização de funções, estando todos agrupados.
 No que se refere a solidariedade orgânica, ela tem como característica primordial a 
diferenciação funcional, onde existe uma divisão de funções e os indivíduos são divididos. 
O que reforça a individualização dessa solidariedade é a formação de subgrupos 
especializados, que torno o indivíduo uma fonte independente de pensamento e ação.
A solidariedade mecânica e a orgânica tratam-se de dois sistemas diferentes de relações 
sociais, em que a primeira corresponde a um só grupo de indivíduos que partilham de uma 
consciência em comum, não havendo individualização. Já no que diz respeito a solidarie-
dade orgânica, ela divide os indivíduos em subgrupos especializados, o que retrata a indi-
vidualização.
FIQUE ATENTO
 Filho (2017) aponta que Durkheim com essas duas formas de solidariedade, 
enfatiza os seguintes aspectos:
 a) Ao passo que na solidariedade mecânica a relação entre o indivíduo e a sociedade 
ocorre sem que haja qualquer intermediação, na solidariedade orgânica essa relação é 
intermediada, pertencendo a grupos especializados;
54
b) Ao passo que na solidariedade mecânica a sociedade é entendida como um conjunto 
mais ou menos organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do 
grupo, nas sociedades em que atuam a solidariedade orgânica é verificada a presença 
de um sistema de funções diferentes e especializadas, unidas por relações definidas;
c) A intensidade da solidariedade mecânica é considerada inversamente proporcional à 
da personalidade individual, isto é, atinge seu ápice no momento em que a consciência 
coletiva recobre a consciência de forma total e coincide em todos os pontos com ela. 
De forma contraria, a solidariedade orgânica, que é produzida pela divisão do trabalho 
social, pressupõe a personalidade e a esfera de ação própria dos indivíduos. Deste modo, 
é necessário que a consciência individual não fique de forma integral recoberta pela 
consciência coletiva.
 No entanto, Durkheim aponta que esses tipos de solidariedade não são possíveis 
de serem identificadas por meio de uma observação direta. Para fazer essa observação, 
o sociólogo utiliza um indicador direito, pois ele é responsável por codificar as regras 
indispensáveis para a vida social.
 O uso do direito como indicador decorre do fato dele variar de acordo com a 
sociedade que ele regra, assim, ele é focado como uma forma exterior que simboliza os 
tipos de solidariedade existentes na vida social.
 Nesses termos, é distinguido por Durkheim dois tipos de direito, sendo eles:
 1. Direito repressivo: que possui como característica uma sociedade que seguem 
crenças e práticas comuns, servindo elas como consciência coletiva. A sanção para quem 
descumpre as regras desse direito consiste de forma essencial em uma dor ou em uma 
diminuição do agente, sendo considerada assim, uma sanção repressiva. 
 2. Direito restitutivo: que possui como característica uma sociedade diferente, 
que não possui crenças e práticas comuns. A sanção para que descumpri as regras desse 
direito consiste em uma reparação das coisas.
Ao estudar sobre o direito repressivo e restitutivo, pode-se fazer uma analogia. Se você pra-tica um crime de assassinato, que tipo de direito você está infligindo? Caso você não pague 
uma dívida, você está infligindo o mesmo direito de quando você praticou um crime de 
assassinato?
VAMOS PENSAR?
 Durkheim concebe o direito como personificação da solidariedade de uma dada 
sociedade, enquanto regramento moral. Desta forma, o direito seria determinado 
pela forma de diferenciação social e se alteraria de acordo com o desenvolvimento da 
sociedade, que, para o sociólogo consiste em uma reorganização da sociedade, sendo 
marcada pela divisão do trabalho social (VILLAS BÔAS FILHO, 2017).
 Assim, o centro da discussão de Durkheim é a complexidade estruturalmente 
permissível, isto é, o importante para o sociólogo é o tipo de diferenciação sistêmica e de 
forma secundaria a forma do direito, mesmo o concebendo como vinculado de forma 
estreita à forma de diferenciação.
 O sociólogo responsável por abranger esse estudo de Durkheim com relação a 
diferenciação funcional é Niklas Luhmann. Esse sociólogo retrata que na modernidade 
a diferenciação funcional não corresponde mais a divisão social do trabalho, ela 
55
corresponde diretriz de um tipo de sociedade que possui como característica o 
encerramento operacional de diversos sistemas que, mesmo difundindo suas estruturas 
por toda a sociedade, se identifica pela individualidade dos problemas a que respondem 
em relação ao sistema social mais abrangente.
O livro a sociologia de Durkheim de Philippe Steiner, traz as contribuições de 
Durkheim para a sociedade, tratando também do processo de socialização.
LINK: https://bit.ly/3oqNp9d 
BUSQUE POR MAIS
[A razão]... desempenha o papel do instrumento de adaptação e não do tran-
quilizante, como poderia dar a entender o uso que o indivíduo às vezes faz 
dela. Sua astúcia consiste em fazer dos homens feras dotadas de um poder 
cada vez mais extenso, e não em estabelecer a identidade do sujeito e do ob-
jeto (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 208).
 A razão transita pelo pensamento do sociólogo Max Weber, em que, no seu processo 
de racionalização possui ligação com as mudanças estruturais, sociais e culturais que as 
sociedades passam com o decorrer do tempo.
 Ao se procurar o que vem a ser racionalidade na teoria weberiana, existem outras 
expressões a ela relacionada, como “racionalismo” e “racionalização”, onde o seu conceito 
varia de acordo com a ocasião em que é empregada. No entanto, a racionalidade foi 
conceituada de forma majoritária, como sendo um desenvolvimento teórico, criação de 
uma imagem do mundo cada vez mais precisa ou ainda, como utilidade prática para a 
resolução de problemas objetivos, em uma busca por otimizar o cálculo de meios, de 
forma que este seja feito sempre de uma forma eficaz (WEBER, 1982).
 Em seu livro Economia e Sociedade, Weber trata da racionalidade, fazendo a 
distinção entre a racionalidade formal e a substantiva e a racionalidade meio finalística 
e a racionalidade quanto aos valores. No que diz respeito a essa diferenciação, Thiry-
Cherques (2009) traz as definições do que vem a ser cada um desses tipos de racionalidade, 
sendo assim:
 • Racionalidade formal: formada pela calculabilidade e predicabilidade dos sistemas 
jurídico e econômico das sociedades modernas, acarreta regras fixas, especialização, 
hierarquias, treinamento. Quando referida nas organizações, a racionalidade formal 
encontra-se presente nos materiais como o burocrático e o contábil.
 • Racionalidade substantiva: corresponde ao que contém nos fins operacionais 
dos sistemas legal, econômico e administrativo, levando em consideração o contexto 
social que encontra-se inserida. Difere da racionalidade formal devido a sua lógica que é 
definida em decorrência dos objetivos e não dos processos.
 No que diz respeito a distinção entre a racionalidade meio finalística e a 
racionalidade quanto aos valores, possui ligação com a definição de ação social
 5.1.2 Max Weber e a matriz da racionalidade
56
[...] deriva do fato de existirem vários tipos de ações e cada tipo corresponde a 
um grau de maior ou menor racionalidade. A ação que é racional quanto aos 
fins que se propõe a alcançar, a ação que é racional quanto aos meios empre-
gados, a ação “afetiva”, que é racional quanto aos sentimentos, a ação tradicio-
nal que está próxima da irracionalidade, já que fundada unicamente no hábi-
to. De modo que um comportamento racional não precisa, necessariamente, 
obedecer a uma lógica finalística. Pode ser “valor-racional”, sempre que seus 
fins ou seus meios sejam religiosos, morais ou éticos e não diretamente liga-
dos à lógica formal, à ciência ou à eficiência econômica (THIRY-CHERQUES, 
2009, p. 899).
 Por meio desse apontamento de Thiry-Cherques (2009), é possível dispor que a 
ação social racional com relação a fins corresponde a ação que é considerada de forma 
estrita racional, onde é tomado um fim e este é então buscado racionalmente havendo 
a escolha dos melhores meios para que ele se realize. No que diz respeito a ação social 
racional com relação a valores, o que orienta não é o fim, mas o valor, seja ele religioso, 
político, ético, entre outros. 
 Através do conceito de racionalidade, Weber ainda aponta que o indivíduo 
atravessa pelo irracionalismo do mundo, devendo saber lidar com a irracionalidade. O 
sociólogo aponta como um dos aspectos irracionais chamado de politeísmo de valores, 
que advém das escolhas dos valores que o indivíduo pretende adotar e os ideais que ele 
deseja lutar.
 Na concepção de Weber, a partir da racionalidade o indivíduo começava a 
substituir os seus hábitos tracionais de conhecer o mundo, de organizar a sociedade e de 
elaborar ação política, isso não significa que o indivíduo passa a negar as suas tradições, 
mas sim, que as tradições perdem a sua importância nos campos da ação racional que 
a sociedade começava a entender. Isso foi conhecido como o desencantamento do 
mundo, onde a humanidade partiu de um universo em que predominava o sagrado, o 
mágico, chegando ao mundo racionalizado, material, manipulado pela técnica e pela 
ciência.
Um dos meios através do qual essa tendência à racionalização se atualiza nas 
sociedades ocidentais é a organização burocrática. Da administração pública 
à gestão dos negócios privados, da máfia à polícia, dos cuidados com a saúde 
às práticas de lazer, escolas, clubes, partidos políticos, igrejas, todas as institui-
ções, te-nham elas fins ideais ou materiais, estruturam-se e atuam através do 
instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominação que 
é a burocracia (QUINTANEIRA, 2002, p. 131).
 A organização burocrática pode tanto intensificar o centralismo que decorre 
da racionalização, superando com isso os valores democráticos, como também pode 
representar um elemento de democratização, tendo em vista que, diante da norma 
burocrática, todos são em princípio rigorosamente iguais. Assim, Weber acreditava que 
a racionalização se fixava de forma maior nas sociedades em que a propriedade dos 
meios de produção fosse coletivizada.
 Foi a burocratiza e o capitalismo os marcos da racionalização. Em suma, a matriz 
da racionalidade de Max Weber traz que todo indivíduo por serem seres de cultura, 
que possuem capacidade e vontade, pode assumir a posição em face do mundo de 
forma consciente e a ela lhe dá um sentido. Se desvinculando das crenças religiosas e da 
“magia”, as pessoas começam a agir de acordo com o seu consciente, buscando aquilo 
que lhe é melhor.
57
O livro Sociologia de Max Weber de Catherine Colliot-Thélène, além de tratar da 
formação e da carreira de Weber, ele traz a questão da racionalidade para We-
ber, como também as condutas de vida e as potências sociais.
LINK: https://bit.ly/3pRzglI
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 A produção é considerada a atividade vital do trabalhador, sendo através dela que 
o homem se humaniza. Por meio da produção, o indivíduo estabelece relações sociais e 
extraem da natureza o que necessitam. Foi a partir desse ponto de produção que Marx 
reflete sobrea apropriação pelos não-produtores de uma parte do que é produzido pelo 
trabalhador, desenvolvendo a partir disso a sua concepção sobre classe, exploração, 
opressão e alienação.
 Marx analisou a organização social dispondo que ela era baseada em dois grupos, 
um que trabalhava e outro que vivia do trabalho dos outros, sendo trabalhado escravo ou 
qualquer outro meio de exploração. A partir dessas analises ele trouxe a ideia de classe, 
em que os indivíduos de forma isolado só formam uma classe quando travam uma luta 
comum contra outra classe, deste modo, em seu livro O Capital, em que Marx retrata 
a Teoria das Classes Sociais, ele retrata que existem três classes sociais: os operários 
assalariados, os capitalistas e os proprietários fundiários; eles são classificados a partir do 
seu rendimento.
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coi-
sas, uma consciência, e é em consequência disso que pensam; na medida em 
que dominam enquanto classe e determinam uma época histórica em toda 
sua extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, 
que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, 
como produtores de ideias, que regulamentem a produção e a distribuição 
dos pensamentos de sua época; as suas ideias são, portanto, as ideias domi-
nantes de sua época (MARX, 1993, p. 56).
 Deste modo, é apontado por Marx que primeiramente as classes sociais se 
definem em uma relação de classes, isto é, cada classe se define em contradição com 
outra classe na partilha do excedente econômico. A partir dessa contradição é formada 
uma comunhão e depois uma consciência de classe, que ocasionam a organização de 
uma classe em partido político diverso das outras classes.
 Os aspectos da teoria marxiana sobre as classes e a relação conflituosa entre elas 
é disposta por Marx da seguinte forma
Pelo que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto a existência 
das classes na sociedade moderna, nem a luta entre elas. Muito antes de mim, 
alguns historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento histórico 
desta luta de classes, e alguns economistas burgueses, a sua anatomia. O que 
acrescentei de novo foi demonstrar: 1) que a existência das classes está unida 
apenas a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; 2) 
que a luta de classes conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3) 
que esta mesma ditadura não é mais que a transição para a abolição de todas 
as classes e para uma sociedade sem classes (MARX, 1975, p. 481).
 5.1.3 Karl Marx e a matriz da estrutura social
58
 Quintaneiro (2002) aponta que nesses termos, o Manifesto comunista se inicia com 
a afirmativa de que as classes sociais sempre se enfrentaram e mantiveram uma luta 
constante, onde seu resultado foi a transformação revolucionária de toda a sociedade ou 
pelo colapso das classes em luta.
 Deste modo, pode-se dizer que a história da luta de classes corresponde a história 
das sociedades em que a estrutura produtiva se baseava na apropriação privada dos 
meios de produção. Antes mesmo de representar um confronto, a luta de classes 
representa a existência de contradições em uma estrutura classista, tendo em vista 
que as classes dominantes se sustentavam na exploração dos trabalhos dos que não 
são proprietários nem possuidores dos meios de produção, assim, a relação entre essas 
classes não pode ser outra senão a de conflito.
A luta de classes é considerada como o motor da história, pois é por meio dela que as prin-
cipais transformações estruturais são impulsionadas. A classe que é explorada corresponde 
ao mais potente agente da mudança.
FIQUE ATENTO
Para fins analíticos, Marx distingue conceitualmente as classes em si, conjun-
to dos membros de uma sociedade que são identificados por compartilhar 
determinadas condições objetivas, ou a mesma situação no que se refere à 
propriedade dos meios de produção, das classes para si, classes que se orga-
nizam politicamente para a defesa consciente de seus interesses, cuja identi-
dade é construída também do ponto de vista subjetivo (QUINTANEIRA, 2002, 
p. 41).
O livro a sociologia de Marx de Jean-Pierre Durand, retrata os elementos que 
fundamentaram os sociólogos marxistas. Trata do pensamento de Marx e de 
toda a sociologia do trabalho.
LINK: https://bit.ly/3nkJn0N
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5.2 MATRIZ AMERICANA
 A Sociologia se desenvolveu nos Estados Unidos no fim do século XIX, seu 
marco histórico foi a fundação da Escola de Chicago em 1892. O estudo de grande 
contribuição que desempenhou uma profunda influência na sociologia de Chicago foi o 
interacionalismo simbólico. 
 Pode-se elencar como fundadores do interacionismo os pesquisadores George 
Herbert Mead, John Dewel, Charles Horton Cooley e William I. Thomas. De acordo com 
Mendonça (2002) o mais influente dos pesquisadores foi George Mead, que possuía uma 
abordagem denominada de início por “behaviorismo social”, em que foi entendido a 
descrição do comportamento do nível humano em que o dado principal é o ato social 
concebido tanto como um comportamento observável, externo, quanto com uma 
atividade encoberta, não observável.
 Rose (1962) sintetiza que as principais proposições do behaviorismo social de Mead 
59
em cinco pontos, sendo eles:
 1. Vivemos em um ambiente ao mesmo tempo simbólico e físico, e somos nós que 
construímos as significações do mundo e de nossas ações nele com a ajuda de símbolos.
 2. Graças a esses símbolos “significantes”, que Mead distinguia dos “signos 
naturais”, temos a capacidade de “tomar o lugar do outro”, porque temos em comum 
com os outros os mesmos símbolos.
 3. Temos em comum uma cultura, um conjunto elaborado de significações e 
valores, que guia a maior parte de nossas ações e nos permite prever, em grande medida, 
o comportamento dos outros indivíduos.
 4. Os símbolos, e, portanto, também o sentido e o valor a eles ligados, não são 
isolados, mas fazem parte de conjuntos complexos, diante dos quais o indivíduo define 
o seu “papel”, definição esta que Mead chama de “mim”, que varia segundo os grupos 
sociais com que está lidando, ao passo que o seu “eu” é a percepção que tem de si 
mesmo como um todo.
 5. O pensamento é o processo pelo qual soluções potenciais são, antes de mais 
nada, examinadas sob o ponto de vista das vantagens e desvantagens que o indivíduo 
teria com elas em relação a seus valores e depois, finalmente, são escolhidas; é uma 
espécie de substituição do comportamento de “tentativa e erro”. Um “ato”, portanto, é 
uma interação contínua entre o “eu” e o “mim”, é uma sucessão de fases que acabam 
cristalizando-se em um comportamento único.
 No entanto, a teoria do interacionismo ficou melhor conhecida através dos estudos 
de Herbert Blumer, sendo defendido que, no interacionismo, a vida social é vista como 
um processo de desdobramento que consiste no fato da pessoa interpretar seu ambiente 
e atuar com base nessa interpretação.
 Outra importante teoria desenvolvida na Escola de Chicago foi a de Talcott Parsons, 
que tratou do funcionalismo estrutural. Em seus estudos, Parsons retratou que o 
funcionalismo deve observar a estrutura social, procurando entender a sociedade como 
um sistema que procura o equilíbrio. Deste modo, o primeiro passo para concepção 
dessa teoria era o reconhecimento do funcionalismo e, o segundo passo, corresponde 
ao entendimento das ações sociais e da coesão social. 
 Parsons dispõe que o sistema social é considerado uma totalidade integrada que 
se sobrepõe as pessoas e aos grupos na conjunção das sociedades, onde determina 
suas ações e os seus repertórios de ações individuais e coletivas. Deste modo, deve ser 
Leia o artigo “Chicago” no Brasil: a importância da redescoberta da cidade e da 
“raça”, escrito por Frank Eckardt. Em que é tratado o legado da Escola de Chica-
go para o Brasil, cujo que, os estudos dessa Escola podem ajudar na compreen-
são da sociologia urbana.
LINK: https://bit.ly/3q2OFPY
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60
CALCULABILIDADE:Retrata ao que pode ser calculado. Quando se retrata que a raciona-
lidade formal tem como característica a calculabilidade, quer dizer que ela está presente 
nos aparelhos contábeis. Calcula os meios para alcançar os fins.
PREDICABILIDADE: Retrata algo que é predicável, aquilo que pode ser pregado ou acon-
selhável.
GLOSSÁRIO
61
1. (IF – RR – 2015) Considerando as discussões de Emile Durkheim, presentes no livro “Da 
Divisão do Trabalho Social”, pode-se considerar que:
a) a justiça em sociedades arcaicas não representa os sentimentos coletivos.
b) o conceito de divisão do trabalho aproxima-se dos economistas (liberais e socialistas) 
de sua época.
c) nas sociedades em que predomina a solidariedade mecânica, a consciência coletiva 
atinge a maior parte das consciências individuais.
d) o direito repreensivo e restitutivo seriam conceitos semelhantes e revelam a consciência 
coletiva particular de sociedades arcaicas
e) nas sociedades de solidariedade mecânica, a menor parte da consciência organiza-se 
mediante os imperativos e proibições sociais.
2. (FCC – 2016) Considere o trecho abaixo:
“[...] o capítulo o “Iluminismo como mistificação das massas” abre com uma refutação de 
suas teses sociológicas. Com efeito, ...... pensava que o crescimento da divisão do trabalho 
levaria a um processo de diferenciação social que só poderia ser integrado ao todo social 
no seio de um novo tipo de solidariedade, a solidariedade.” 
Preencha, correta e respectivamente, as lacunas da frase acima:
a) Weber − solidariedade orgânica.
b) Durkheim − solidariedade mecânica.
c) Marx − solidariedade mecânica.
d) Durkheim − solidariedade orgânica.
e) Weber − solidariedade mecânica.
3. (INSTITUTO AOCP – 2020) A produção teórica de Max Weber abrange diferentes áreas 
do conhecimento social. Assinale a alternativa correta sobre as obras weberianas.
a) A ideia de que a sociedade define os indivíduos é premissa para a produção 
metodológica e epistemológica da teoria de Weber.
b) A teoria dos “tipos ideais” é uma construção de conceitos que parte da síntese do 
método individualizante (compreensivo) e do próprio objeto de estudo.
c) Os “tipos ideais” são uma normatização e tradução objetiva da realidade com o intuito, 
segundo Weber, de formar um quadro homogêneo do pensamento sociológico.
d) O conceito de racionalização representa o essencial para a compreensão da teoria de 
Weber sobre a modernidade.
e) Os tipos puros de ação social não se enquadram na metodologia dos tipos ideais de 
Max Weber.
FIXANDO O CONTEÚDO
62
4. (CONSULPLAN – 2019)
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O quadrinho expõe uma situação em que a pobreza é vista como uma escolha individual. 
Dentre os autores das ciências sociais, qual pensador expõe que as ações dos indivíduos 
são passíveis de uma compreensão social?
a) Karl Marx.
b) Habermas.
c) Max Weber.
d) Pierre Bourdieu.
e) Émile Durkheim.
5. (CEPS – UFPA – 2018) Sobre as noções ligadas ao conceito de racionalização em Max 
Weber, é correto afirmar que:
a) a dominação racional-burocrática envolve um processo de neutralização do avanço 
da secularização nas instituições sociais.
b) Weber via a desumanização prosperar num mundo em que a liberdade está em risco 
diante da excessiva burocratização.
c) a racionalidade de uma organização é medida pelo grau com que possibilita e assegura 
a ação racional com respeito a valores de seus membros.
d) o invólucro racional-burocrático da sociedade moderna tende a conduzir o processo 
social rumo a uma situação de anomia.
e) na sociedade moderna a legalidade formal perde cada vez mais a sua condição de 
fundamento da legitimidade do Estado.
6. (IF – RR – 2015) A ciência para Weber seria também um aspecto do processo de 
racionalização das sociedades modernas. Nesse contexto é possível deduzir que:
a) a ciência seria um processo definitivo mediado pelo juízo de valor do conhecimento 
do cientista.
b) a ciência como parte do processo histórico de racionalização implica o não acabamento 
essencial e a objetividade.
c) a conduta humana, central na reflexão weberiana, não possuiria intelegibidade 
intrínseca e possuiria um sentido neutro.
d) o projeto iluminista orquestrado por Weber pretendia aproximar o compreensivismodo 
materialismo histórico-dialético.
e) a objetividade do conhecimento nas ciências sociais na perspectiva positivista se 
relaciona com o problema do julgamento de valor e da relação do valor com o conjunto 
63
sociedade.
7. (FCC – 2018) Sobre a centralidade da classe trabalhadora no modo de produção 
capitalista, segundo Karl Marx, é correto afirmar que:
a) a classe trabalhadora é decisiva pelo papel fundamental que exerce no processo de 
criação de valores.
b) a importância dos trabalhadores diminui na mesma proporção em que são cada vez 
mais intensivamente explorados.
c) a nova divisão sexual do trabalho impôs uma diminuição do número total de 
trabalhadores.
d) o uso de máquinas informatizadas substitui a força de trabalho dos operários, o que 
resulta em seu descarte na esfera produtiva.
e) a substituição do trabalho vivo pelo trabalho morto mantém inalteradas as relações 
entre trabalho e capital.
8. (CEPS – UFPA – 2018) Sobre a dinâmica das mudanças sociais, está de acordo com o 
pensamento de Karl Marx afirmar que:
a) a sociedade é formada por forças antitéticas que geram mudança social através das 
suas tensões e lutas.
b) as transformações que ocorrem na base econômica da sociedade só afetam de modo 
residual e restrito o funcionamento das instituições sociais.
c) a organização das atividades econômicas, leva à divisão do trabalho, que fortalece a 
consciência coletiva.
d) as classes antagônicas, por não conseguirem construir consensos, perdem a condição 
de atores principais da história.
e) devido à dominância intelectual da elite, as classes oprimidas não podem criar 
ideologias contrárias para combater as classes dominantes.
64
REFLEXÕES SOBRE 
A SOCIOLOGIA 
BRASILEIRA 
CONTEMPORÂNEA
65
6.1 A GLOBALIZAÇÃO
 A globalização é um fato social que atinge todo o mundo, pois ela consiste em um 
processo de aprofundamento da integração política, econômica, cultural e social, tendo 
sido impulsionada pelo baixo custo dos transportes e da comunicação mundial no fim 
do século XX para o início do século XXI.
 Inicialmente ao se falar em globalização a maioria das pessoas assimilam de 
imediato a questão econômica, por ser esse um dos pontos mais importantes desse 
processo. A questão econômica da globalização abarca diferentes áreas como a 
financeira, a comercial e a industrial.
 • Globalização econômica financeira: como consequência da globalização 
financeira, as moedas de vários países podem ser adquiridas com facilidade em grande 
parte das nações, além disso, ao viajar, pode-se utilizar o cartão de crédito para realizar 
saques em agências de outros países.
 Os mercados financeiros mundiais estão entrelaçados, onde os indivíduos podem 
realizar transações bancárias via internet. Deste modo, as pessoas podem investir não só 
no seu país de origem, como também em outros países, a exemplo de compra de ações 
da Bolsa de Valores.
 • Globalização econômica comercial: foi a partir do ano de 1970 que os países 
começaram a reduzir as barreiras comerciais, mas ainda não é permitido o livre comércio 
entre os países devido a proteção dos setores menos competitivos da economia.
 No entanto, não houve apenas a globalização econômica. A globalização política se 
difundiu, transportando ao mundo ideias e valores morais e sociais democráticos, como 
exemplo, pode-se citar os direitos humanos que buscam uma consciência mundial.
 Devido a globalização, foi expandido e espalhado pelo mundo duas importantes 
ideias. A primeira diz respeito ao campo da política, constando os valores democráticos, 
possibilitando aos indivíduos o direito de escolher de forma livre os seus representantes e 
ao seu direito da livre manifestação nas ruas. A segundapossui relação com a economia, 
trazendo o neoliberalismo, possibilitando o livre mercado e o Estado mínimo.
 A livre manifestação corresponde a liberdade de expressão e de informação, onde 
foi possibilitado ao indivíduo o direito de expressar as suas ideias, mesmo sendo elas 
contrárias às dominantes.
 Entretanto, é possível elencar as consequências que a globalização ocasionou, 
mesmo tendo sido ela um processo de grandes conquistas para os indivíduos. Entre as 
consequências sociais, Marcon (2014) cita:
 • Aumento das desigualdades sociais: ampliação do distanciamento existente 
entre o rico e o pobre que vem ocasionando o aumento do desemprego e, como 
consequência, há o aumento no número de pessoas excluídas dos serviços sociais;
 • Maior eficiência do crime organizado: devido ao aumento da tecnologia e seu 
desenvolvimento, foi proporcionado a gangues e máfias se organizarem em rede. As 
máfias e cartéis de drogas estão trabalhando de forma conectada, havendo uma facilidade 
e uma maior eficiência do seu trabalho. O crime organizado global realiza diferentes 
atividades, como tráfico de drogas e de armas, lavagem de dinheiro, contrabando de 
imigrantes ilegais, tráfico de mulheres, entre outros.
 • Ressurgimento do trabalho escravo: houve o ressurgimento do trabalho escravo 
em diversos países, a exemplo da índia, Paquistão, Nepal, África e Brasil.
• Crescimento do trabalho infantil: vem sendo cada vez mais encontradas crianças
66
 trabalhando em diversos setores da economia. 
Além de consequências sociais, a globalização tem causado grande prejuízo ao meio 
ambiente, sendo ela considerada uma ameaça.
A globalização sem controle coloca em risco o próprio meio ambiente. Sur-
gem novas epidemias. Os riscos de aquecimento global mostram-se cada vez 
maiores, enquanto as fontes de energia não renovável se esgotam, as flores-
tas são consumidas e a água disponível se extingue. Caso as metas do milê-
nio relacionadas à redução da pobreza não sejam cumpridas e os padrões de 
consumo dos países ricos não sejam alterados, a saúde ambiental entrará em 
colapso (SILVA, 2010, p. 132).
 Os reflexos da globalização são mundiais, mas acarretam grandes prejuízos no 
Brasil, por ser um país diversificado e grande, onde a população vem cada dia mais 
aumentando. A sociedade brasileira pode ser estudada a partir das pesquisas do 
interacionismo simbólico da matriz americana, em que as pessoas estão interpretando 
o ambiente em que vivem e vivendo de acordo com esse ambiente.
6.2 A SOCIOLOGIA E A VIOLÊNCIA NO BRASIL
 Como responsável pelos fatos sociais e o comportamento da sociedade referente 
as relações entre os indivíduos, a sociologia se preocupa com o estudo da violência. 
Assim, quando na sociedade existem relações tensas que remetem a agressão com a 
finalidade de atingir a dignidade dos indivíduos, a sociologia começa a se preocupar 
com os fatos sociais que ali estão emergindo.
A Sociologia parte da seguinte premissa reflexiva: no tempo atual vive-se no 
desespero de entender o homem e, a partir disso, tentar criar formas de con-
vivência razoáveis, dignas e potencializadoras das lógicas solidárias existentes 
em cada indivíduo. É esta lógica de ser sapiens a única capaz de controlar o 
demens, que é concorrencial, destruidor e ilógico. Pressupostos que levam a 
acreditar que é possível criar estruturas objetivas que protegem as dimensões 
pacíficas e racionais da vida ou, ao menos, de forma mais ampla, se acredita 
poderem equilibrar homo sapiens e homo demens pelo fortalecimento da 
cultura humana (SILVA, 2010, p. 14).
 No entanto, mesmo com esse posicionamento de Silva, ainda é complicado 
entender as relações sociais atuais, isto porque, os seus humanos ainda são considerados 
seres desconhecidos, isto é, não se tem um entendimento único sobre o homem.
 Vive-se em uma cultura da violência, onde depois da globalização além do 
setor financeiro, a desigualdade social vem ocasionando grande violência do meio 
populacional.
 Com relação a violência social, Gullo (1998)dispõe que ela corresponde a uma 
resposta para o sistema que se associa à forma de poder vigente onde a oposição entre 
dominante e dominado se reproduz de acordo com o contexto das relações sociais 
que o grupo desenvolve e, em consequência, termina em medidas legais e jurídicas do 
próprio sistema. Trazendo essa definição, o autor em questão retrata que a violência 
social possui três pontos principais, sendo eles:
 1. A violência corresponde a um fenômeno social característico de qualquer tipo 
de sociedade;
 2. A forma sob a qual se manifesta reflete o tipo de sociedade e mostra o seu 
significado nessa sociedade;
67
 3. A violência depende de estímulos que provém da própria sociedade. 
 Assim, deve-se pensar a violência social como um fenômeno interno a sociedade 
que a acompanha desde os tempos remotos, se manifestando a cada tempo forma e 
circunstância diferentes.
Com o crescimento social e as crises financeiras que o país vem enfrentando, o quanto as 
notícias de crimes aumentaram? Entre conceder trabalho a pessoa em uma posição social 
melhor e uma pessoa pobre, quem é preferível para o empresário? As oportunidades para 
as pessoas pobres são as mesmas das pessoas de classe média e alta?
VAMOS PENSAR?
 Nesse contexto, desde a década de 1970 que no Brasil vem crescendo o sentimento 
de medo e de insegurança. Esse sentimento cresce e as estatísticas oficiais de 
criminalidade também apresentam números maiores. Deste modo, as ciências sociais 
se ocuparam em pesquisar os movimentos desse elevado número na criminalidade, 
Adorno (2002)traz três pontos elencados pelos pesquisadores:
 1. Mudanças na sociedade e nos padrões convencionais de delinquência e violência. 
Pode-se observar que nos últimos 50 anos o país vem passando por aceleradas mudanças 
que jamais tinham sido experimentadas, podendo citar como exemplo as mudanças 
nos processos de produção, nos processos de trabalho, na forma de recrutamento, 
distribuição, destinação e utilização da força de trabalho; novas formas de acumular o 
capital e de aglomeração industrial e tecnológica; entre outros.
 As mudanças aceleradas ocorridas no Brasil repercutem no mundo da violência, 
do crime e dos direitos humanos, ocasionando em sua grande maioria em crimes contra 
o patrimônio, através do uso de armas de fogo. Além disso, esse cenário se torna propicio 
para a corrupção.
 2. Violência e desigualdade social: apesar dos estudos recentes estarem contestando 
a relação da pobreza com a delinquência e violência, é inevitável reconhecer que na 
sociedade brasileira, nos bairros periféricos, que é onde residem as pessoas mais pobres, 
a violência é maior, havendo conflitos sociais, interpessoais e intersubjetivos.
 Deste modo, a desigualdade social é um dos maiores fatos que geram a violência. 
São inúmeras pessoas que vivem em extrema pobreza, sem oportunidade de emprego, 
que recorrem diversas vezes ao mundo do crime para conseguir se alimentar. 
 Adorno (2002) ainda retrata que a crise econômica é responsável por afetar da 
população, sobretudo para as pessoas de baixa renda, assim, se as pessoas de baixa 
renda já possuem poucas oportunidades, em meio à crise eles são afetados e nessa 
linha, a violência cresce ainda mais.
 • Crise no sistema de justiça criminal: o sistema de justiça criminal composto 
pelos agentes policiais, ministério público, tribunais de justiça e sistema penitenciário, é 
considerado incapaz de conter o crime a violência no Brasil. Isso se dá pelo fato do sistema 
não inovar e vim operando da mesma forma de 50 anos atrás, mesmo percebendo a 
evolução do crime, em outras palavras, houve o aumento na criminalidade e na forma 
como os crimes são feitos e os meios para contê-los continuam os mesmos.
 A maior consequência existente dessa crise constitui na descrença das pessoas no 
sistema para controlar a criminalidade, desencadeando em pessoas que ou contratam 
68
 segurança privada, ou pagam aos traficantes pela sua segurança ou até mesmocompram armamento para se defender por conta própria, o que ocasiona um aumento 
na violência. 
 Deste modo, a violência forma uma sociedade controlada pelo medo e pela 
desconfiança, formando uma sociedade presa em suas próprias casas, devido ao medo, 
conforme aponta Santos (2009, p. 244-245).
[...] em cidades grandes, médias, ou, até mesmo, de pequeno porte, não é pre-
ciso ir muito longe para observarmos o grande número de casas com cercas 
elétricas, portas e janelas com grades de proteção ou até mesmo com placas 
que identificam empresas de segurança privada que monitoram algumas re-
sidências vinte e quatro horas por dia, evitando que estas casas sejam invadi-
das por pessoas que escolheram a vida do crime como forma de sobrevivência 
na dinâmica social.
 É de responsabilidade do Estado controlar a violência e garantir uma maior 
segurança aos indivíduos, para que possam viver bem em sociedade e passem a confiar 
novamente nas pessoas.
6.3 A DESIGUALDADE SOCIAL
 A desigualdade social é elencada como um componente estrutural da sociedade, 
correspondendo a um elemento que nunca desaparece da vida dos indivíduos.
 No ponto da desigualdade social podemos trazer as ideias de Karl Marx sobre a 
luta de classes, a classe média/baixa trabalha para que os ricos fiquem ainda mais ricos, 
recebendo por vezes salários mínimos com relação aos ganhos dos proprietários. Já no 
contexto do sociólogo Durkheim a desigualdade social resultada da estratificação social 
ocorrida em decorrência do capitalismo. E, para Weber, a desigualdade social resulta 
daquilo que você tem, assim, aquilo que você compra determina a qual classe você 
pertence.
 Marcon (2014) retrata que a sociedade pode ser estruturada através de três 
elementos:
 1. Classes sociais: conceito estabelecido por Karl Marx, em que dispõe que a 
desigualdade se estabelece nas relações de produção. As classes constituem um 
sistema de relações, podendo citar como exemplo o capitalismo que existe a burguesia 
e o proletariado.
 2. Estamente: conceito elaborado por Max Weber, que estabelece que o estamento 
se baseia no modo de vida, no modo formal de educação e no prestígio obtido 
hereditariamente ou profissionalmente. Um indivíduo não pode sair de seu estamento, 
pois este é regido por normas que definem a posição, os privilégios e as obrigações dele 
dentro da sociedade. As regras mantêm uma hierarquia de ocupações sancionada por 
Deus, cada pessoa tem de executar as tarefas próprias de sua ocupação. O estamento 
existia durante séculos, podendo citar como exemplo a França do século XVIII que 
possuía a nobreza e o clero.
 3. Castas sociais: constitui em um rígido sistema de estratificação social, em que 
as pessoas não podem passar livremente de um nível para o outro. Uma pessoa que 
nasce em uma determinada casta deve permanece nela pelo resto da vida. Esse sistema 
era comum nas sociedades antigas.
 O Brasil vive na estrutura de divisão de classes sociais. Pode-se dizer que no Brasil 
69
a desigualdade social possui raízes históricas, podendo citar entre elas, de acordo com 
Marcon (2014):
 • A forma como se deu a colonização no país, fundada na exploração de matérias 
primas e de mão de obra;
 Dependência externa do país, principal no que se refere a tecnologia;
 • A alta concentração e acumulação de riqueza pelas camadas mais altas da 
população;
 • A marginalização histórica de parcelas significativas da população, que não foram 
reconhecidas nas políticas ou foram silenciadas no processo de construção da cidadania.
O Brasil está entre os dez países com maior desigualdade social no mundo, de acordo com 
o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
FIQUE ATENTO
 Assim, a desigualdade social constitui então em um problema estrutural da 
sociedade que no Brasil vem tentando ser combatida através de políticas sociais, onde a 
diferenciação de classe é devido ao capitalismo.
 Essa desigualdade significa que existem grupos de pessoas na sociedade que 
possuem um maior peso político, condições econômicas e oportunidades que outras, 
ou seja, esse fenômeno denuncia a existência da pobreza. Desta forma, pode-se dizer 
que ela corresponde a uma condição na qual os membros de uma sociedade possuem 
quantias diferentes de riqueza, prestígio ou poder.
 Como forma de enfrentar esse problema, as políticas públicas visam a redistribuição 
de renda e poder; a igualdade do acesso às oportunidades; a emancipação econômica e 
política do cidadão.
O livro “Sociologia Contemporânea de Kenya Marcon retrata sobre as políticas 
públicas e sociais no Brasil contemporâneo, trazendo a importância dessas po-
líticas para diminuir a desigualdade existente no país.
LINK: https://bit.ly/2XhNQXs
BUSQUE POR MAIS
O livro “Danos colaterais: Desigualdades sociais numa era global” de Zygmunt 
Bauman, traz uma abordagem sociológica do destino da desigualdade social 
em tempos líquidomodernos trazendo o contexto da desigualdade.
LINK: https://bit.ly/2XngNkB
 Outro fator que demonstra a desigualdade existente no Brasil se refere a 
urbanização. Os melhores locais e melhores serviços estão situados nos lugares em que 
o valor da moradia é extremamente alto, sendo inacessível para as pessoas de classe 
popular. Essas pessoas então, são praticamente expulsas para região periférica, bairros 
mais longe do centro comercial ou até mesmo para outros municípios entorno das 
70
grandes metrópoles. Ficando sujeitas a moradias precárias e até mesmo a locais que 
não possuem acesso a serviços públicos.
6.4 O PRECONCEITO
 O preconceito encontra-se enraizado na sociedade, grupos tentam combatê-lo, 
mas até hoje, ela está presente na sociedade.
 Marcon (2014) aponta que o preconceito consiste em uma atitude, ideia, 
pensamento ou opinião desfavorável que um indivíduo ou grupo demonstra em relação 
a outros indivíduos ou grupos. O preconceito está baseado em um prejulgamento 
emotivo e sem fundamentação, assim, pode-se dizer que ele corresponde a uma 
atitude negativa em relação a uma categoria de pessoa que, em sua maioria, pertence 
a determina minoria étnica ou racial. As pessoas são julgadas pelas outras devido ao seu 
estereótipo preconcebido ou de uma generalização.
 No ano de 1942, Oracy Nogueira publicou um artigo intitulado de “Atitude 
desfavorável de alguns anunciantes de São Paulo em relação aos empregados de 
cor”. Ao realizar as pesquisas desse artigo, Nogueira se viu intrigado ao perceber um 
preconceito que atingia não só as classes inferiores, ele atingia também os ricos. Era o 
chamado preconceito racial, em que quanto mais escora era a pessoa, mais ela sofria 
preconceito, assim Nogueira aprofundou as suas pesquisas com relação a esse assunto 
e concluiu com um artigo intitulado de “Preconceito racial de marca e preconceito racial 
de origem”, datado de 1954.
 Em seu artigo, Nogueira faz uma comparação do preconceito racial existente 
no Brasil e o dos Estados Unidos. Ele denomina que no Brasil existe o preconceito de 
marca, onde o preconceito vem da aparência racial, não se delimitando somente a cor, 
o preconceito de marca abarca os traços fisionômicos como o tipo do cabelo, a cor dos 
olhos, o formato do nariz. Nos Estados Unidos o preconceito é de origem, em que o 
critério de discriminação advém da ascendência, deste modo, basta a suposição de que 
a pessoa descende de algum grupo étnico para sofrer preconceito.
 Seguindo os estudos sobre o racismo no Brasil, a UNESCO, financiou em 1950 um 
grupo de professores da Universidade de São Paulo com a intenção de documentar, 
compreender e disseminar o segredo da harmonia social, entre esses professores um de 
grande destaque foi Florestan Fernandes.
Desde o início (e ainda hoje) o trabalhador negro precisa de compreensão ati-
lada e de amparo constante, seja para encetar uma carreira, seja para persistir 
nela, seja para tirar o máximo proveito de sua capacidade de trabalho, para si, 
para os patrões e para a coletividade. A estereotipação negativa não só impe-
diu que o “branco” descobrisseesse aspecto da realidade, mas produziu algo 
pior: suscitou uma barreira invisível universal, que tolhia qualquer redefinição 
rápida da imagem do “negro”, que facilitasse a transição do trabalho escravo 
para o trabalho livre e acelerasse pelo menos a proletarização do “homem de 
 Como conclusão da pesquisa realizada, foi possível constar que desde a escravidão 
os negros são tratados no país como inferiores.
71
O artigo “Uma cartografia de “A integração do negro na sociedade de classes”, 
de Florestan Fernandes”, escrito por Wallace dos Santos, John Rudega e Renan 
Barbosa, traz o drama social do negro no processo de formação da sociedade 
de classes no Brasil, ou seja, trata do processo de formação da sociedade desde 
a sociedade rustica até a ordem urbana e competitiva.
LINK: : https://bit.ly/3seBc9Y
BUSQUE POR MAIS
 Apesar das inúmeras políticas desenvolvidas no país, e da Constituição Federal 
de 1988 ter reconhecido que o racismo e o preconceito racial devem ser combatidos, o 
Brasil ainda encontra-se presente o racismo, a discriminação e além disso outras formas 
de preconceito estão se desenvolvendo cada vez mais, como a homofobia, a xenofobia, 
intolerância religiosa, entre outros.
 A sociedade encontra-se em constante evolução e mutação, ideais vêm sendo 
mudadas, mas as políticas públicas devem assegurar a igualdade dos cidadãos e o 
respeito, para que possamos viver em uma sociedade justa e de direito.
NEOLIBERALISMO: Constitui em uma doutrina socioeconômica que trazem de volta o libe-
ralismo clássico, em que preconiza a mínima intervenção do Estado na economia. Desta 
forma, em uma globalização neoliberal é livre o comércio. 
CONFLITOS INTERSUBJETIVOS: Conflitos existentes entre dois ou mais sujeitos.
GLOSSÁRIO
72
1. (IF – RS – 2015) Acerca da relação entre Trabalho e tecnologia nas sociedades 
contemporâneas, afirma-se que:
a) Na medida em que as informações e as formas de conhecimento é que passam a 
sustentar a inovação e o crescimento econômico, havendo uma crescente valorização 
da criatividade dos trabalhadores, o nível de instrução dos profissionais tem cada vez 
menos relação com o valor de seus salários.
b) A flexibilidade e a inovação são maximizadas, e as organizações visam satisfazer 
demandas de mercado cada vez mais específicas por produtos diversos em menor 
escala, em um processo de enfraquecimento das grandes corporações, que perdem 
cada vez mais espaço para pequenas organizações flexíveis.
c) Teorias sociológicas recentes vêm afirmando que, apesar das profundas transformações 
atuais, o industrialismo continua sendo a base fundamental de nossa sociedade.
d) A descentralização do trabalho, a composição de equipes por demandas específicas e 
a crescente atuação em projetos a curto-prazo parecem cada vez mais caracterizar um 
processo de precarização do trabalho.
e) Verifica-se uma tendência à crescente especialização dos trabalhadores, que vem 
suplantando a predominância anterior do treinamento para habilidades gerais e a 
capacidade de atuação em diferentes esferas de uma mesma organização.
2. (FGV – 2016) O processo de globalização, em curso desde o final da década de 
1980, incluiu a difusão dos fluxos econômicos em escala planetária, em decorrência da 
mundialização do capitalismo.
a) nesse sentido, a economia globalizada contribuiu para amenizar os choques culturais, 
diminuindo as distorções socioeconômicas entre as regiões.
b) acirrou os conflitos religiosos, intensificando a associação entre interesses geopolíticos 
e sistemas de crença.
c) propiciou parcerias entre agentes econômicos diversificados, dando mais transparência 
aos negócios internacionais.
d) diminuiu a massificação cultural, dando visibilidade aos movimentos de resistência à 
rede mundial de computadores.
e) reequilibrou os processos econômicos, integrando de modo equânime os diferentes 
blocos comerciais.
3. (IF – TO – 2016) No cotidiano das relações sociais, é possível observar a construção de 
imagens negativas sobre determinados grupos e/ou indivíduos em relação aos outros. 
Em geral, tais imagens estão associadas ao desconhecimento. O conceito que melhor 
define essa situação é:
a) Estereótipo
b) Racismo
c) Xenofobia
FIXANDO O CONTEÚDO
73
d) Preconceito
e) Etnocentrismo
4. (UERR – 2018) A formação de um mercado global, a chamada globalização, destaca-se 
pelas interações entre diversos países nas áreas econômicas, sociais, culturais e política. 
Entre seus impactos negativos, destacam-se:
a) aumento do fluxo turístico, propensão de guerra entre países, desastres ambientais, 
imigração, mobilidade das pessoas entre países por motivos de trabalho.
b) aumento do comércio mundial, barateamento de mão-de-obra, formação de blocos 
econômicos, aumento da xenofobia, drásticos impactos ambientais, distorções cambiais.
c) barateamento de produtos industrializados, diluição das fronteiras, dificuldade de 
acesso à informação, universalização do conhecimento, aumento do contrabando e 
tráfico de drogas.
d) forte contaminação de vários países em caso de crise econômica, facilidade 
de especulações financeiras, perda da soberania de muitos países por conta do 
estabelecimento de moeda única, desemprego estrutural.
e) maior fluxo de informações, limitação do acesso aos meios de comunicação, 
envolvimento da Organização Mundial de Comércio (OMC) no mercado internacional, 
guerras comerciais, aumento do arsenal nuclear.
5. (IBFC – 2019) Em lugar das sociedades nacionais, a sociedade global. Em lugar do 
mundo dividido em capitalismo e socialismo, um mundo capitalista, multipolarizado, 
impregnado de experimentos socialistas [...] A partir da segunda guerra mundial, 
desenvolveu-se um amplo processo de mundialização de relações, processos e estruturas 
de dominação e apropriação, antagonismo e integração. Aos poucos, todas as esferas da 
vida social, coletiva e individual, são alcançadas pelos problemas e dilemas (IANNI, 1996).
O trecho anterior foi retirado do livro “A Sociedade Global”, escrito por Octavio Ianni. 
Neste trecho o autor faz referência a um movimento que ocorreu, princi-palmente no 
século XX. Assinale a alternativa que corresponda corretamente ao movimento citado 
pelo autor.
a) Multiculturalismo
b) Globalização
c) Capitalismo moderno
d) Conflitos de classe
e) Luta de Classe
6. (FCC – 2018) Sobre as causas da violência, é correto afirmar, segundo o consenso dos 
estudiosos, que
a) as pessoas agem de forma violenta porque tem índole má, a qual pode ser revertida 
se elas forem condenadas a longas penas de prisão.
b) a principal causa da violência é a pobreza, o que se comprova pelo fato de que a 
maioria das pessoas que estão presas por crime violento são pobres.
c) não existe uma única causa para a violência e a punição de quem age com violência 
74
não é suficiente para resolver o problema.
d) a violência é causada pela pouca firmeza na educação dos filhos, provocada 
especialmente pela proibição do uso, pelos pais, de castigos físicos e surras para corrigi-
los.
e) a tolerância com as diferenças entre as pessoas e com os diferentes modos de pensar 
e agir causa a violência porque faz desaparecer da sociedade a noção do que é certo ou 
errado.
7. (FAU – 2019) O sociólogo contemporâneo alemão Wilhelm Heitmeyer, estuda 
com profundidade sociológica comportamentos de preconceito e discriminação na 
contemporaneidade e visualiza a problemática com uma síndrome. Isso significa que as 
discriminações podem variar de acordo com a época e os agentes de mobilização que, 
numa sociedade, estão dispostos a se voltar contra determinados grupos podendo ser 
sutil ou abertamente brutal. Sobre estes comportamentos avalie as assertivas e marque 
a alternativa CORRETA:
I - O preconceito enraíza-se mais facilmente naqueles que já estão favoravelmente 
predispostos a aceitá-lo.
II - A força do preconceito depende geralmente do fato de que a crença na veracidade 
de uma opinião falsa corresponde aos meus desejos, mobiliza minhas paixões, serve aos 
meus interesses.III - Preconceitos individuais tem maior periculosidade que preconceitos coletivos, uma 
vez que a natureza humana é maléfica em sua essência.
IV - O nacionalismo não traz nenhuma periculosidade para a humanidade devendo ser 
estimulado em todas as suas instâncias em corporativismo, chauvinismo e bairrismo 
saudável.
Estão corretas:
a) Apenas a afirmativa II.
b) Apenas as afirmativas I e II.
c) Apenas a afirmativa I.
d) Apenas as afirmativas I, II e III.
e) I, II, III e IV.
8. (CPCON – 2017) Relações étnico-raciais: O papel da UNESCO para a superação da 
discriminação racial no Brasil. A Organização das Nações Unidas para a Educação, 
a Ciência e a Cultura (UNESCO) é uma entidade que procura destacar a contribuição 
dos diversos povos no mundo para a construção da civilização. O desafio, no entanto, 
é tentar trazer à luz “a compreensão sobre a origem dos conflitos, do preconceito, da 
discriminação e da segregação racial que assolam o mundo”. A UNESCO, entre outros 
fatores, assegura que a diversidade étnico-racial e cultural de um povo constitui a principal 
riqueza da sociedade que a compõe, especialmente quando promove a igualdade 
de direitos. Nessa perspectiva, ela afirma que a sociedade brasileira é constituída por 
diferentes grupos étnico-raciais que a caracterizam, em termos culturais, como uma 
das mais ricas do mundo. No entanto, sua história é marcada por desigualdades e 
discriminações, especificamente contra negros e indígenas, impedindo, desta forma, 
75
seu pleno desenvolvimento econômico, político e social.
Em relação à superação dos conflitos étnico-raciais no Brasil, podemos afirmar que: 
a) é preciso fortalecer políticas sociais voltadas para eliminar as desigualdades históricas, 
que estratificaram a sociedade brasileira com base na exclusão étnico-racial.
b) é fundamental que o Estado assuma posição neutra para que o livre mercado possa 
absorver as competências com base no mérito e esforço individual de cada brasileiro.
c) é importante que haja mais condescendência nas relações étnico-raciais, com o 
firme propósito de ajudar os menos favorecidos a se manterem abastecidos em suas 
necessidades.
d) é necessário desmistificar a ideologia de conflito étnico-racial, pois o Brasil, quando 
comparado a outros países, é o maior exemplo de miscigenação e democracia racial.
e) é impossível superar o conflito étnico-racial brasileiro, porque ele é constituinte do 
processo civilizatório que naturalizou a discriminação e o racismo como características 
intrínsecas a nossa cultura.
76
MOVIMENTOS SOCIAIS:
TEORIAS CLÁSSICAS
PARTE 1
77
7.1 A ESCOLA DE CHICAGO E OS INTERACIONISTAS
 Apresentar uma abordagem de compreensão sobre determinado conceito, 
dimensão ou categoria de análise, é fundamental situar epistemologicamente como 
um ponto de partida, não como verdade absoluta, mas como um olhar situado 
historicamente sobre o fenômeno em estudo. Isso nos permite transcender, ampliar 
sentidos e significados a partir do contexto e das experiências que compartilhamos.
 Para começar a pensar os Movimentos Sociais enquanto categoria analítica nas 
Ciências Sociais, nos dois primeiros capítulos que tratam das Teorias Clássicas, estabeleço 
um diálogo amplo com Gohn (1997), sobre a “Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas 
Clássicos e Contemporâneos”. A autora, socióloga Brasileira, é referência nacional e 
internacional nos estudos sobre os Movimentos Sociais (MS) e as Ações Coletivas (AC) 
em interface com as Ciências Sociais e Humanas, de modo especial com a Educação. 
 Existem muitas leituras em torno desse processo de construção. Entendo que 
a releitura operada por Gohn (1997) nos contempla de modo satisfatório uma vez que 
 Os estudos sobre os Movimentos Sociais nas Ciências Sociais e Humanas é conteúdo 
obrigatório por se tratar de um fenômeno histórico-social de base para compreensão 
das sociedades em permanente trânsito que vivemos. Com ele aprendemos muito sobre 
as relações estabelecidas e determinado contexto histórico – social, político, cultural e 
econômico. A construção do conceito acompanha o próprio movimento de reinvenção 
social por ser um subproduto humano que acolhe dilemas, necessidades, desejos, limites 
e possibilidades de uma determinada época.
 Os estudos e pesquisas que desenvolvo, tanto na academia quanto na militância, 
é produzido a partir do amplo diálogo com os Movimentos Sociais tendo por base os 
processos educativos promovidos por eles. Movimento pedagógico produzido em 
diálogo/parceria com as Instituições de ensino, com as Universidades e escolas. Nessa 
trajetória de estudos e pesquisas, fica evidente que tratar de um tema ao mesmo tempo 
amplo, diverso e plural, exige toda uma articulação entre perspectivas e horizontes 
ontológicos e epistemológicos para que possamos compreender as facetas e interfaces 
semânticas atribuídas ao fenômeno.
 Diante dessa realidade, nossa incursão teórico-analítica em torno da produção 
historiográfica sobre Movimentos Sociais no Brasil será coproduzida através da 
abordagem das principais tendências de interpretação sobre o assunto. Nesse processo 
de imersão/emersão teórica, a reflexão crítica nos ensina que a tessitura da humanidade 
e do conhecimento produzido por ela, em diferentes contextos e momentos históricos, 
estão atravessadas por relações de poder econômico, político e cultural. Ao longo desse 
processo compreenderemos que a construção teórico-metodológica dos conceitos 
e práticas dialoga diretamente com seu contexto histórico-social, cultural, político e 
econômico.
 É importante entender que, na construção teórica acadêmica, é preciso desenvolver 
algumas competências em torno da produção intelectual. A leitura e a escrita assumem 
uma dimensão extraordinária – essencial e insubstituível! Com esse convite e, ao mesmo 
tempo, desafio, mergulharemos nas raízes conceituais, ontológicas e epistemológicas, 
do tema. Sejam todos bem-vindos! 
APRESENTAÇÃO 
78
nos traz dimensões ontológicas fundamentais para compreender a leitura clássica da 
temática em estudo. Ao sistematizar as principais teorias e paradigmas correspondentes 
em torno do tema, apresenta de modo didático detalhes históricos e características 
fundamentais que ajudam a entender seu processo de construção.
 Vale ressaltar que o estudo dos MS é um campo fértil de pesquisa, pois muitas 
questões ainda permanecem em aberto sobre sua constituição, há lacunas e perguntas 
não respondidas onde a necessidade de aprofundamento e interfaces com outros 
saberes é fundamental. O fenômeno ganha contornos cada vez mais complexos e 
contraditórios. A abordagem clássica ainda está presente em algumas compreensões e 
práticas de elites intelectuais articulados em prol da manutenção. 
 A Escola de Chicago, conforme Gohn (1997, p. 26), “durante quarenta anos (1910 - 
1950) teve grande importância na consolidação da sociologia como campo autônomo de 
investigação”. Sob este ponto de vista, as teorias Clássicas tiveram predominância até a 
década de 1960. Esse viés científico influenciou uma construção teórica que transcendeu 
sua época, pois muitos estudiosos ainda a referenciam, evidenciando que fragmentos 
dessa corrente teórica ainda correm nas veias histórico-epistemológicas e no imaginário 
das pessoas sobre o fenômeno.
 A abordagem epistemológica interacionista da Escola de Chicago arquitetou 
uma visão particular do tecido social, como uma construção natural, voluntarista, 
que necessitava ser reformada para assumir sua verdadeira face: hegemonicamente 
harmônica. Categorias como “desenvolvimento de comunidade”; “indivíduo-sociedade” 
e “educação para o povo”, foram concebidas para dar conta do projeto de sociedade 
em que: “A escola tinha uma orientação reformista: promover a reforma social de uma 
sociedade convulsionada em direção ao que se entendia como seu verdadeiro caminho, 
harmonioso e estável” (GONH, 1997, p. 27).
A teoria interacionista possui várias abordagens – interacionismo simbólico, interacio-
nismo cultural, interacionismohistórico, interacionismo sócio-histórico e/ou sociocultu-
ral – Os teóricos de referência são Jean Piagett (1886-1980) e Lev Seminovitch Vygotsky 
(1896–1934).
FIQUE ATENTO
 A Sociologia nesse processo foi legitimada como a Ciência chave para a consolidação 
do campo de conhecimento. Naquele momento histórico ela foi acionada a partir de 
uma visão individualista do ser social que, em última instância, era o único responsável 
pelos seus atos. A coletividade passava necessariamente pelo interesse individual em 
detrimento do coletivo. 
 Essa lógica naturalista-individualista implica aceitar que o ser social, voluntaria 
e naturalmente, se engaja em algum grupo em prol de suas necessidades imediatas, 
não necessariamente se ocupa com o bem comum e com transformação social. Neste 
sentido o próprio conceito de ação coletiva assume contornos distintos. A construção 
individualista, dimensão em destaque nessa perspectiva, o coletivo é uma dimensão 
dispensável, ignorada, sem efeito ou com pouca relevância.
 Esse modo de pensar os Movimentos Sociais (MS), legitimado pela corrente 
filosófica reformista, pode ser percebida nas concepções presentes no pensamento 
79
empírico das pessoas: “o ser humano é o único responsável pelas suas escolhas, seu 
sucesso ou seu fracasso”. Outra percepção que ganhou força é que “os MS são grupos 
arruaceiros”. Falas que criminalizam Movimentos que lutam para minimizar sequelas 
históricas de opressão e exclusão. Esse modo de pensar – natural-individualista – está na 
base do competitivismo que enfraquece a cultura solidária da coletividade. 
 Para essa corrente de pensamento, as pessoas descontentes com a situação 
vivida se mobilizavam de modo espontâneo, se agrupando em torno do “aqui e agora” 
emergente, articulados por uma pessoa (o líder). Como o horizonte da abordagem 
clássica interacionista estava baseada no ideal reformista, isso empresta aos líderes 
uma função didática: ser exemplo integracionista: “Suas tarefas seriam desmobilizar o 
conflito, dissolver o movimento. Como? Transformando-os em instituições sociais por 
meio do equacionamento das demandas em questão” (GOHN, 1997, p. 29). 
 Para a mediação dos conflitos, que eram vistos como algo culturalmente natural, 
a educação e a institucionalização eram as estratégias políticas para dissolução do 
que eles denominaram por Movimentos Sociais. Um fenômeno voluntarista, localizado 
e espontaneísta que carecia ser desarmado através da educação. A educação era 
instrumento para legitimar a manutenção do status quo.
 A abordagem feita pela Escola de Chicago empresta ao processo social uma visão 
simplista, fragmentada, hierarquizada (indivíduo-sociedade ou sociedade-comunidade) 
e localizada. As posturas hierarquizadas, unilaterais e antidialógicas são heranças culturais 
presentes em posicionamentos enraizados em visões de mundo que possuem por base 
essa forma de conceber as relações sociais. Pensar dessa forma reformista, naturalista 
e voluntarista, anula/nega/impede o potencial transformador que hoje diferentes MS 
buscam garantir, entre avanços e retrocessos. 
Para compreender mais profundamente as consequências desse paradigma 
fragmentado, simplista e hierarquizado de organizar o pensamento e, con-
sequentemente, o tecido social, ver: QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder 
y clasificación social. Contextualizaciones Latinoamericanas [En línea], Año 
nº. 5, jul-dic. 2011. Disponível em: http://contexlatin.cucsh.udg.mx/index.php/CL/
issue/view/291 
BUSQUE POR MAIS
 Essa visão, contudo, não é hegemônica na corrente Clássica. A abordagem 
interacionista simbólica do estadunidense Herbert Blumer, segundo Gohn (1997, p. 30), 
representa uma leitura mais ampla. O estudo do comportamento coletivo proposto 
pelo autor o fez definir “os movimentos sociais como empreendimentos coletivos para 
estabelecer uma nova ordem de vida. Eles surgem de uma situação de inquietação 
social [...]”. Assim, o indivíduo estaria no centro da ação movido por impulsos psicológicos. 
Sentidos e significados têm visibilidade e força em Blumer.
 Avança na perspectiva dos fins, interesses e das motivações, além disso foge da 
visão espontânea e naturalista. Essa visão clássica nos fornece pistas do quão complexo é 
o fenômeno das relações coletivas, das identidades coletivas, das manifestações grupais, 
do intercâmbio entre visões de realidade e da correlação de forças na arena social. Sua 
contribuição foi muito importante especialmente pela categorização dos MS realizada: 
80
genéricos, específicos e expressivos. 
 Essa classificação abriu um leque de possibilidades ao reconhecimento dos diferentes 
sujeitos, lutas e estratégias heterogêneas. Em síntese, os genéricos compreendiam 
os grupos de mulheres, de jovens, operário – lutas amplas, pouco organizadas e com 
objetivos dispersos; os específicos envolviam determinada organização com objetivos 
delineados, nascem no avançar das mobilizações promovidas enquanto genéricos. São 
classificados em reformistas e revolucionários. 
 Nesse caso, os Movimentos Sociais específicos emergem das camadas mobilizadas 
de modo disperso e difuso, por exemplo, pelos direitos das mulheres. Desse engajamento 
inicial, o coletivo se articula e avança fortalecendo, então, inaugurando o reconhecimento 
de uma identidade coletiva, com bandeiras comuns que refletem de fato as necessidades 
do coletivo com o ideal de mudança social. É aqui nesse momento que se reconhece o 
sentimento de pertença e de solidariedade mútua.
 Esse processo de reconhecimento legitima toda uma construção simbólica que na 
contemporaneidade é fundamental aos MS: a afetividade presente nos processos sociais 
empresta ao grupo uma conexão efetivamente orgânica com a coletividade. Os sentidos 
e os significados atribuídos à luta possuem o caráter identitário que futuramente será 
fundamental para ressignificar as relações tecidas.
 Essa releitura de Blumer está molhada pelo contexto político do século XIX, onde os 
ideais iluministas do modernismo estão em alta nas expectativas dos sujeitos da época. 
Apesar de dar mais um passo para o reconhecimento da ação coletiva enquanto uma 
força revolucionária, que emana dos sentidos e significados atribuídos pelos diferentes 
sujeitos sociais, o ideário reformista permanece. 
 Ou seja, Blumer abre uma fenda de possibilidades epistemológicas para se avançar 
na compreensão dos sujeitos sociais, dos sujeitos coletivos, dos grupos sociais. No 
entanto, entende que a resolução das questões sociais passa pela reforma da sociedade 
que temos, não através de uma transformação social, mais como uma adaptação 
multiculturalista – uma mudança institucional, sem revolução.
“Os movimentos específicos: reformistas e revolucionários” é uma classificação importan-
te para repensar os MS na contemporaneidade. A abordagem reformista deseja uma 
harmonização social a partir da reestruturação das instituições visando manutenção do 
status quo. Aqui os MS possuem a função de moderadores. A revolucionária deseja trans-
formações radicais na macro e microestrutura social, sendo a luta de classes uma cha-
ve-teórica importante. Essas categorias analíticas enquadram os diferentes MS que (re)
existem hoje?
VAMOS PENSAR?
7.2 SOCIEDADES DE MASSAS
 A Abordagem da Sociedade de Massas, conforme Gohn (1997) possui três principais 
representantes: Eric Fromm (1941), Hoffer (1951) e Kornhauser (1959). Trata-se de uma 
corrente preocupada com o comportamento coletivo das massas que emergiam de uma 
realidade doente e excludente. Esse contexto era conteúdo empírico para compreensão 
da formação dos grupos coletivos, pois a necessidade mobilizava as pessoas em torno de 
81
objetivos comuns.
 Nesse sentido, “Os movimentos (nos tempos modernos) eram desenhados 
pelo desejo de pessoas marginalizadas de escapar para a liberdade, dentro de novas 
identidades e utopias” (GOHN, 1997, p. 36). As más condições de vida era o motor social 
de motivação para as pessoas humildes se indignarem e irem a busca de umasolução 
coletiva. Do contexto político emergia as condições materiais, sociais e históricas, 
necessárias às manifestações totalitaristas.
 Essas práticas antidemocráticas foi tema de estudo dessa corrente que se dedicou 
a pensar o fenômeno em suas interfaces culturais. No processo de compreensão 
dos mecanismos estabelecidos entre os atores sociais evidenciou-se a realidade de 
manipulação e alienação popular que estava tomando corpo. Essa estratégia política 
ainda hoje é categoria analítica de grande importância, pois ao longo da história foi 
assumindo contornos distintos, mas determinantes para o estudo dos MS. A manipulação 
das massas é um fenômeno recorrente ainda hoje.
 A Sociedade de Massas abre uma discussão que nunca se fechará, pois, sua 
dinamicidade interpretativa é ampla – acompanha o movimento histórico das sociedades 
em trânsito. A capilaridade semântica que essa corrente deixa de herança, apesar de 
não formular uma teoria específica dos MS, é base para ampliarmos os sentidos do 
conceito. A leitura operada se preocupava com as elites culturais da época que, diante da 
organização social em massa, mesmo fragilizada e pontual, desestruturava as relações 
de poder na esfera pública da sociedade.
Sociedades em trânsito - Seguindo as linhas de uma sociologia da compreensão, Paulo 
Freire vê nestas últimas décadas da história brasileira um período de trânsito, isto é, de 
crise de valores e tema tradicionais e de constituição de novas orientações [...] O trânsito 
é o tempo de crise desta sociedade “fechada”, um tempo de opções e de luta entre os 
velhos e os novos temas históricos, onde se anunciam tendências à democratização [...] 
a democracia, como a liberdade é um dos temas históricos em debate e sua efetivação 
vai depender das opções concretas que os homens realizem. (FREIRE, 1996a, p. 24).
GLOSSÁRIO
 É importante salientar que as leituras epistemológicas possuem um direcionamento 
ideológico, a corrente clássica possuía uma relação política com o poder estabelecido. 
Assim como na perspectiva reformista, essa também servia a elite econômica. A 
legitimação teórica caminhava em consonância com a política. A mobilização social 
das massas girava em torno da necessidade de produzir elementos teóricos capazes de 
qualificar sua luta política. O horizonte da libertação da opressão estava associado a essa 
força/poder-saber que não possuíam. 
 Neste sentido, para a teoria da Sociedade de Massas, os Movimentos Sociais 
emergem da necessidade de pessoas que não aceitam sua condição social e econômica 
limitada diante de uma sociedade legitimada sob a égide de uma racionalidade científica 
e tecnológica crítica. O totalitarismo com base na violência, segundo seus expoentes, eram 
as táticas comuns das ações antidemocráticas das massas. Assim sendo, precisavam ser 
controladas para garantir a harmonia social.
 Os MS, nessa perspectiva permanecem no âmbito da deformação social, 
das manifestações grupais que, apesar de serem legitimas pela representação das 
82
necessidades de um grupo social marginalizado, são consideradas sintomas de uma 
sociedade que precisa ser reformada. Não na perspectiva da transformação social, com 
equidade de acesso aos bens culturais, intelectuais, artísticos, políticos e econômicos. 
Mas uma mudança nos mecanismos internos de absorção de algumas demandas e 
arrefecimento dos Movimentos por uma transformação radical.
7.3 ABORDAGEM SOCIOPOLÍTICA
 O estudo dos Movimentos Sociais a partir dessa abordagem nos remete aos 
estudos dos precursores, S. Lipset e R. Heberle, que, conforme Gohn (1997), articularam 
a problemática das classes sociais e das relações sociais de produção. Categorias chaves 
para compreender o paradigma das lutas sociais de base marxista. Uma leitura sobre os 
comportamentos coletivos do tipo político-partidário. Essa perspectiva revela o quanto 
o contexto político ativa demandas existenciais por uma revolução para transformação 
social.
 A grande contribuição desta corrente teórica para compreensão da construção 
histórica do conceito complexo e contraditório dos Movimentos Sociais na 
contemporaneidade se encontra no reconhecimento do viés político nas organizações 
sociais. Essa postura científica rejeita qualquer possibilidade espontaneísta e valoriza a 
participação como componente político ideológico. Ou seja, reconhece a intencionalidade 
da ação social com objetivos delineados, metas, planejamento e organização.
 Com esses autores clássicos vemos inaugurar a possibilidade de valorização da 
ação social engajada com um potencial libertador em torno das relações produtivas 
alienantes produzidas pelo capitalismo, onde “Os movimentos seriam sintomas de 
descontentamento dos indivíduos com a ordem social vigente e seus objetivos principais 
seria a mudança dessa ordem”. (GOHN, 1997, p. 38).
 Nesse momento, as relações industriais fabris eram um dos cenários emergentes 
para a discussão do conflito entre classes. Contudo, a leitura proposta pelos autores 
avançava em relação às áreas de atuação dos Movimentos que possuem, por sua vez, 
identidades coletivas plurais. O estudo avança na perspectiva da classificação, tipificação, 
definição e possíveis ramificações. O conceito é ampliado conforme complexidade da 
intencionalidade política: lutas dos camponeses, dos negros, das mulheres, dos jovens, 
dos indígenas, dos socialistas e nazifascistas.
Figura 1: Diversidade de identidades e demandas coletivas dos Movimentos Sociais
Fonte: http://professorcorreia.com.br/educacao/teoria-dos-movimentos-sociais/
Data de acesso: 10.03.2012
 A valorização da intencionalidade política e das identidades coletivas plurais se 
fortalecem com o reconhecimento de outra característica atribuída aos Movimentos 
Sociais nesse período, por essa vertente: a Internacionalização dos Movimentos. Com 
83
Colonialidade: Processo histórico de colonização/dominação/exploração, onde “Em pri-
meiro lugar, expropriaram as populações colonizadas entre seus descobrimentos cultu-
rais. Aqueles que resultavam mais aptos para o desenvolvimento do capitalismo e em 
benefício do centro europeu. Em segundo lugar, reprimiram tanto como puderam, ou 
seja, em variáveis medidas de acordo com os casos, as formas de produção de conheci-
mento dos colonizados, seus padrões de produção de sentidos, seu universo simbólico, 
seus padrões de expressão e de objetivação da subjetividade [...] Em terceiro lugar, força-
ram .também em medidas variáveis em cada caso - os colonizados a aprender parcial-
mente a cultura dos dominadores em tudo que fosse útil para a reprodução da domina-
ção, seja no campo da atividade material, tecnológica, como da subjetiva, especialmente 
FIQUE ATENTO
essa possibilidade a ação política rompe com os muros institucionais nacionais. As lutas 
se intensificam ao se somar os interesses e necessidades de sociedades distintas. 
 Hoje é comum a articulação entre Movimentos internacionais como a Marcha 
Mundial das Mulheres, o Fórum Social Mundial, da Consciência Negra, do Movimento 
LGBTI+, entre outros. Com esse reconhecimento se amplia as possibilidades de 
fortalecimento teórico e político do termo e, consequentemente, da prática. Entretanto, 
os autores mantêm determinada reserva em relação as manifestações totalitaristas, 
quando “relaciona movimento social a regimes políticos autoritários e totalitários, que 
destruíram o senso comunitário existente por meio de exigência baseadas no fanatismo 
de grupos entusiastas, gerando desintegrações social”. (GOHN, 1997, p. 39).
 Ambas as correntes, a abordagem de massas e a abordagem sociopolítica, chamam 
a atenção para o perigo do totalitarismo, inerente ao fenômeno, devido a alienação 
social e o potencial descontrole da ordem vigente. Essa última questão, que retrata uma 
espécie de desajuste social, é uma categoria importante para a vertente clássica em 
todas as abordagens aqui estudadas. 
 Veja que os MS sempre possuem uma tendência natural à desestruturação, 
desintegração e violação da ordemsocial vigente. Portanto, é um ponto de tensão que 
precisa ser controlado, minimizado pela elite cultural, intelectual, econômica e política 
de cada época. Os Movimentos Sociais nascem de um lugar comum: a vida imersa em 
todo tipo de ausências: de alimento, de abrigo, de saúde, de educação, de trabalho, 
de segurança, de respeito, de oportunidade, de participar da vida comunitária, de ser 
quem gostaria de ser. Inclusive de fazer parte da construção autônoma de sua própria 
realidade. 
 Dentro do grande campo teórico epistemológico apresentado até o momento, 
podemos dizer que os MS enquanto um fenômeno social e político nasce de um não-
lugar social que anseia por liberdade, equidade, participação, autonomia, conhecimento, 
valorização e reconhecimento de seus saberes. Luta pelo direito de viver com dignidade. 
 Os estudiosos reconhecem essa intencionalidade e necessidade, no entanto, 
buscam na perspectiva do reformismo estatal, da institucionalização parcial das 
demandas dos MS a dissolução dos grupos sem, contudo, resolver o cerne da questão: 
a exclusão, a Colonialidade, a marginalização e a pobreza. É fundamental compreender 
o contexto em que as ideias são gestadas, pois a lógica de mundo estabelecida os 
leva a atribuir aos fenômenos existenciais sentidos controversos de perigo à ordem 
estabelecida. 
84
religiosa”. (QUIJANO, 2005, p. 110). Ao longo da obra retomaremos esse conceito/dimensão, 
no entanto, será somente no capítulo sexto que a abordaremos em profundidade.
 Sua Razão Científica está embasada em uma epistemologia eurocêntrica que, por 
ser hegemônica e unilateral, não dialoga com outras formas de pensar o mundo. Deste 
modo, reafirmam toda uma linha de raciocínio que exige a permanência e a manutenção 
da ordem social, política e econômica. Essas relações de poder-saber intrínsecas ao 
processo do conhecimento científico eurocêntrico são a base das interpretações 
Clássicas.
 É fundamental conhecê-las, sobretudo, para tecer as condições materiais e 
imateriais necessárias para desenhar e propor outras formas de conhecer e entender o 
mundo. A Ciência se (re)faz ao longo da história, os fenômenos humanos carecem que ela 
seja atualizada de modo a contemplar as reais necessidades ao longo do tempo. Diante 
desse fato crucial, é nosso compromisso ético participar desse processo de reelaboração 
teórica de modo a respeitar a pluralidade e a complexidade das inter-relações humanas.
Para complementar a compreensão da importância dos Movimentos Sociais 
enquanto organização de direitos elementares a vida social acesse: AFFONSO, 
Ligia Maria Fonseca. O que são movimentos sociais? Principais teorias sobre 
movimentos sociais In: SANTOS, Ana Paula Fliegner dos (Org). Movimentos 
Sociais e Mobilização Social. Porto Alegre/RS: SAGAH. 2018. ISBN 978-85-9502-
BUSQUE POR MAIS
554-7. Disponível na plataforma digital da Biblioteca Única:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595025547/cfi/1!/4/4@0.00:59.1 
85
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Como a Escola de Chicago entende os Movimentos Sociais?
a) Como a mobilização de pessoas que, voluntaria e naturalmente, se engajam em algum 
grupo em prol de suas necessidades imediatas, mas não necessariamente se ocupa com 
transformação social.
b) Como uma construção coletiva intencionalmente organizada para fins comuns, com 
objetivos e metas delineadas.
c) São organizações grupais que emergem das necessidades coletivas, mas que 
privilegiam o indivíduo particularmente.
d) Grupos de pessoas marginalizadas organizadas para tomar o poder estatal.
e) Como uma construção social natural, voluntarista, que carecia ser reformada para 
assumir sua verdadeira face: hegemonicamente harmônica.
 
2. Qual a função da escola nesse processo?
a) Uma escola aberta à parceria com os MS para desenvolver aulas mais significativas – 
fortalecendo os laços entre escola-comunidade.
b) R. Sua função era organizar a prática pedagógica de acordo com a orientação 
reformista, auxiliando na formação de pessoas capazes de construir uma sociedade 
harmoniosa e estável. 
c) Estabelecer metas, objetivos, critérios, metodologias e conteúdo que colaborassem 
com a formação de cidadãos críticos e criativos.
d) Instrumento de inclusão social e emancipação humana.
e) Sua função era atuar em parceria com o Estado para garantir a educação de todos.
3. Como a abordagem reformista pensa resolver o problema dos MS?
a) Sugere estabelecer um canal de comunicação entre os diferentes grupos para resolver 
os problemas de cada grupo.
b) Como a abordagem entende a formação natural e individualista dos MS, ela acredita 
que possa ser resolvida as distintas demandas de modo espontâneo.
c) Para arrefecer e neutralizar a ação potencialmente revolucionária dos MS o Estado era 
orientado à integralizar, institucionalizar parte de suas demandas. 
d) O conflito era considerado natural e inevitável, devido ao choque entre as culturas 
e as diferentes realidades. Para resolver os problemas decorrentes dos MS sugere-se 
equacionar os conflitos de modo a assegurar manutenção do status quo.
4. O que são MS para o estudioso Herbert Blumer?
a) São empreendimentos coletivos que se reúnem com a intencionalidade de estabelecer 
uma nova ordem de vida. Surgem de uma situação de inquietação social.
b) São grupos de pessoas que se reúnem com a intenção de participar da vida comunitária 
86
a partir da organização de partidos políticos.
c) São pessoas com algum tipo de necessidade existencial que se reúne sem muita 
estrutura para reivindicar seus direitos civis.
d) São instituições não-governamentais que lutam pelos interesses coletivos.
e) São grupos nacionais e internacionais mobilizados pela transformação social.
5. Qual era a principal preocupação dos estudiosos da Abordagem de Massa?
a) Que as pessoas organizadas pudessem abalar a estrutura social já organizada.
b) Colaborar para que Estado e Sociedade civil conseguissem juntos minimizar a 
alienação das pessoas envolvidas nos MS e assim garantissem a harmonia social.
c) Que os resultados negativos da atuação dos grupos manipulados pudessem romper 
com a parceria entre sociedade e Estado.
d) Que as elites culturais e econômicas se tornassem aliadas das grandes massas.
e) O totalitarismo com base na violência. Pois eram as táticas comuns das ações 
antidemocráticas das massas. Esse era o perigo que precisava ser controlado, para que 
as elites culturais não perdessem o poder e, assim, garantir a harmonia social.
6. Qual a principal contribuição da Abordagem sócio-política para o estudo e compreensão 
dos MS na contemporaneidade?
a) Foi diferenciar os tipos de MS que existem.
b) Se concentra na classificação entre Movimentos Específicos e Genéricos.
c) O reconhecimento da dimensão mística nos MS que é a chave por manter o grupo 
mobilizado e harmônico.
d) A grande contribuição desta corrente teórica se encontra no reconhecimento do viés 
político das organizações, do seu potencial transformador, da intencionalidade política e 
da utopia da transformação social.
e) A possibilidade de não estar associado ao paradigma reformista, de propor como 
estratégia de neutralizar os MS através da cooptação de suas demandas.
7. Quais relações estavam estabelecidas entre as teorias clássicas sobre Movimentos 
Sociais e a sociedade política da época?
a) Não havia relação direta entre as ideias e teorias com a organização social e política. 
Apenas uma correlação indireta onde os especialistas buscavam inspiração na vida social 
para produção acadêmica.
b) As relações com a ciência, a literatura e as artes em geral estavam sempre sobre o 
controle direto do poder político da época visando garantir a manutenção do status quo.
c) Os estudos científicos buscavam resolução para os dilemas e interesses da sociedade 
Moderna, nesse sentido a relação com a sociedade política era ideológica visando 
identificar pontos delicados para solucioná-los e garantir a harmonização social.
d) As teorias clássicas forneciam elementos teóricos que a sociedade políticautilizava 
para elaborar políticas que pudessem melhorar a qualidade de vida da sociedade em 
geral.
e) Entre Ciência e Estado há uma relação de parceria, no entanto, em se tratando de MS, 
os estudos pouco se projetavam para dentro da organização política da sociedade.
87
8. Quais os desdobramentos dessas abordagens para a compreensão sobre os 
Movimentos Sociais e as Ações Coletivas na atualidade?
a) A leitura localizada, fragmentada e dicotomizada sobre um fenômeno sociocultural 
plural, dinâmico e aberto que descaracterizou e desabilitou muitas potencialidades de 
articulação, mobilização e atuação. Isso os lançou à margem da sociedade com um 
papel marginalizado.
b) Abertura epistemológica entre MS, Estado e Sociedade civil com vistas a atuação 
conjunta para resolução dos dilemas e necessidades da população mais vulnerável.
c) As ações políticas e as pesquisas científicas não dialogavam de modo a caracterizar 
relações de reciprocidade ou de aplicabilidade nos micro espaços sociais. 
d) A formação crítica em torno desse fenômeno social que colaborou com o modo como 
a sociedade como um todo os percebe. Possibilitou, assim, as condições necessárias para 
o trabalho articulado entre sociedade, MS e Estado.
e) Uma visão plural sobre o conceito e a prática de MS e AC que fortalece os grupos e 
suas lutas coletivas.
88
MOVIMENTOS SOCIAIS:
TEORIAS CLÁSSICAS
PARTE 2
89
8.1 COMPORTAMETO COLETIVO A PARTIR DO FUNCIONALISMO 
 Para compreender as contribuições da Corrente Clássica na formação e 
compreensão do conceito de Movimentos Sociais (MS) estamos percorrendo de 
modo didático as ideias das principais abordagens. No primeiro momento (Capítulo I), 
estudamos sobre as três perspectivas que apresentam as características da formação dos 
MS – Aqui entendidas como teorias sobre os MS. Abordagens reformistas que defendem 
a tese da harmonia social.
 Nesse segundo momento o mesmo fenômeno é entendido como Ações Coletivas, 
de acordo com leituras de Gohn (1997). Vale ressaltar que ambas as abordagens Clássicas 
são marcos teóricos para o estudo dos MS e que há dimensões semânticas significativas 
que as distingue e são essas particularidades epistemológicas que precisamos conhecer. 
Essa é nossa tarefa e desafio nesse momento. 
 A seguir trabalharemos com três perspectivas teóricas em torno das Ações 
Coletivas que, de várias formas, influenciaram a formação do conceito sociológico do 
fenômeno em estudo. Nessa segunda abordagem o sentido atribuído aos MS é de uma 
funcionalidade social e política de intencionalidade certeira, articulada pelo binômio 
descrédito/negação. A seguir trataremos da visão de Parsons, Turner & Killian e Smelse; 
em um segundo momento da Abordagem organizacional-comportamentalista. Bom 
estudo!
8.1.1 A INFLUÊNCIA DE PARSONS 
 Segundo Gohn (1997, p. 40), “a aplicação da teoria parsoniana aos movimentos 
sociais deu origem à abordagem funcionalista, em que são vistos como comportamentos 
coletivos originados em períodos de inquietação social, de incerteza, de impulsos 
reprimidos, de ações frustradas, de mal-estar”. Nessa perspectiva, a sociedade carecia 
de estabilidade, permanência e o controle sobre a vida social era a estratégia básica para 
a manutenção.
 O sociólogo norte-americano Talcott Parsons buscou em seu legado tratar dos 
fenômenos sociais de modo a garantir o equilíbrio necessário à vida em uma sociedade 
organizada de acordo com uma determinada visão. O contexto vivido pelos autores 
e a concepção de sociedade, de humanidade, de mundo – homem, mulher, infância, 
juventude – eram concebidos em torno de critérios definidos sob uma abordagem 
hegemônica unilateral. 
 A abordagem reformista, outro prisma da corrente clássica, se difere da funcionalista 
no tocante a possibilidade de reconhecimento dos MS a partir das demandas que davam 
vida aos grupos sociais. Esse reconhecimento identitário é um componente importante, 
mesmo que o horizonte de ambas fosse comum: mitigar/neutralizar as aspirações 
revolucionárias que poderiam representar riscos à ordem estabelecida.
 Parsons constrói sua percepção na releitura das obras de Durkheim e Weber 
que não dialogavam com as ideias da sociologia marxista. Nesse sentido, o conteúdo 
sociológico tratava as relações sociais com base em critérios limitados aos fenômenos 
locais, pessoais (psicológicas), as necessidades, as regras de convivência, conteúdos 
localizados no âmbito do social sem considerar nenhuma dimensão sociopolítica. A 
base de análise era o indivíduo e sua incapacidade de se enquadrar na ordem social 
90
estabelecida.
 Para essa abordagem, a Ação Coletiva era um fenômeno subversivo, sem qualquer 
identidade política racional, que emerge de situações que negam a ordem vigente de 
modo criminoso, “Os movimentos operariam num cenário de irracionalidade, ou não-
racionalidade, em oposição à ordem racional vigente” (GOHN, 1997, p. 41). Diante dessa 
realidade, era crucial serem silenciados. Essa perspectiva ainda hoje transita fortemente 
no imaginário do senso comum, mas não só. Alguns analistas políticos e intelectuais (neo)
liberais abordam a temática apoiados nessa visão, visando fundamentar a criminalização 
dos MS hoje. 
 Na base de constituição da abordagem Funcionalista, as ideias propostas para 
minar esses grupos operariam de modo satisfatório no sistema social de modo que a 
possibilidade de organização de grupos dessa natureza sequer seria viável, pois não 
haveria espaço para emergir essas estruturas consideradas anomalias sociais. O sistema 
social em constante transformação devido processo de exploração das forças produtivas 
fomentou condições desiguais nas relações socioeconômicas e culturais. As necessidades 
das pessoas marginalizadas se multiplicaram, dando vida a Ação Coletiva (AC) que 
foram consideradas uma doença social, uma fraqueza que deveria ser neutralizada, 
exterminada de modo frontal. 
 Sem diálogo e sem o reconhecimento de organicidade, de intencionalidade política, 
de legitimidade, as Ações Coletivas só ganhavam determinado corpo diante de algumas 
condições materiais: bloqueio estrutural; contato; eficácia; e ideologia. Para Parson, “[...] 
os movimentos sociais são vistos como mecanismos desintegradores da sociedade, 
ações externas à sua dinâmica, controláveis desde que enfrentem suas causas. A lógica 
que permeia a abordagem é de causa-efeito, feita de forma linear.” (Gohn, 1997, p. 42).
Esse modo unilateral de abordar um fenômeno social denso, complexo e de sentidos 
plurais deixou sequelas interpretativas difíceis de serem rompidas. Apesar de não 
representarem consenso, coexistiram ao longo da história influenciando a percepção em 
torno dos sentidos e significados do conceito. As leituras localizadas/limitadas serviram 
de base para toda uma construção social que alicerçou no imaginário das pessoas que 
a Ação Coletiva reivindicatória dos grupos era uma forma descoordenada, ilegal e de 
interesses duvidosos.
 A abordagem compreende que as ações coletivas possuem um ciclo de evolução 
que, acompanhadas e controladas, se dissipam sem provocar desdobramentos estruturais 
a estratificação social estabelecida. Esse ciclo possui os estágios de inquietação, excitação, 
formalização e institucionalização. Cada estágio precisava ser estrategicamente 
controlado, já que as condições pré-existentes conseguiram transcender o movimento 
inicial de sabotagem pelo aparato estatal que visava enfraquecer e inviabilizar o MS. 
 O controle dos MS se daria através de mecanismos institucionais de monitoramento 
para o acompanhamento sistemático desse embrião de Movimento até que se diluísse 
parte das demandas reivindicatórias pelo aparato estatal sem, contudo, resolver a questão 
social. Questão essa que têm sua origem na ausência de políticas estruturantes que 
garantam acesso a direitos humanos, sociais, políticos e civis de base para a sobrevivência. 
 O Funcionalismo de Parsons evidencia que muitas dimensões teóricas reduziram 
a compreensão sobre MS devido a leitura unilateralque tratou dimensões políticas 
e culturais complexas de modo fragmentado no momento que desconsideram 
a legitimidade da ação social. Essa postura epistemológica funcional – diretiva, 
91
antidialógica, linear – oferece uma leitura importante sobre as condições contextuais 
que considero ser de base estrutural para a flagrante fragilidade conceitual em torno 
das Ações Coletivas e dos MS propriamente dito.
 As lacunas e imprecisões conceituais que alimentam a confusão e contradição 
na compreensão desses fenômenos, de suas características, suas interfaces, suas 
ramificações, se encontram nas entrelinhas dessa construção. O fator político, base da 
organização dos MS foi abortado, retirado de cena, esvaziando a base fundamental para 
compreensão dos MS.
 O não reconhecimento do componente político da organicidade dos diferentes 
grupos não é uma visão hegemônica, contudo, o modo sistemático de descentralizar, 
desqualificar, desvalorizar, silenciar, sabotar e desacreditar as AC antes mesmo de criarem 
corpo enquanto MS é uma herança epistemológica que ainda hoje possui força. Visão 
que carece ser atualizada, revista e reelaborada, pois não deixa espaço para pluralidade 
e nem o diálogo. 
Parson delineou as pré-condições estruturais para a consolidação de uma Ação Social 
em:
Movimento Social: “bloqueio estrutural; contato; eficácia; e ideologia”. 
Bloqueio estrutural: realidade objetiva de necessidade social, cultural e econômica.
 Contato: rede de relações sociais ampla e consolidada.
Eficácia: intercomunicação e empatia coletiva. 
Ideologia: conjunto de elementos éticos e morais que unem o coletivo. 
Com essas dimensões sabotadas o MS estaria sob controle.
GLOSSÁRIO
8.1.2 A INFLUÊNCIA DE TURNER E KILLIAN
 A partir do lugar epistemológico da psicologia social, os autores “definem um 
movimento como a ação de uma coletividade com alguma continuidade para promover 
a mudança ou resistir a ela na sociedade ou no grupo no qual faz parte. A questão da 
continuidade é um elemento-chave para distingui-lo de outros tipos de ação coletiva”. 
(GOHN, 1997, p. 43). A base de compreensão dos MS permanece em torno da Ação 
Coletiva, uma ação social coordenada para um fim que não dialoga necessariamente 
com a ordem vigente.
 Essa abordagem interacionista entende que as organizações sociais se articulam 
em torno de necessidades imediatas, sentimentos e demandas sociais, culturais, 
econômicas e políticas comuns. O aqui e agora são determinantes. O estudo dessa 
vertente abre um leque de possibilidades para a valorização da Ação Coletiva mobilizada 
ao longo de determinado período. Os autores não se preocuparam com essa capacidade 
de continuidade pelas possibilidades intrínsecas ao processo, mas pelo entendimento 
de que sendo os MS dinâmicos em essência sua expansividade os descaracterizava 
enquanto Movimento.
 Uma das dimensões importantes tratadas pelos autores são as motivações 
individuais e coletivas que tecem a sinergia necessária para a permanência e a união do 
grupo. Nesse sentido, dialoga com a Abordagem de Blumer em relação a construção 
92
de uma identidade coletiva através do “sentimento de pertença, de identificação com o 
outro e consigo próprio, criando uma ideia do coletivo. O resultado deste processo gera 
fidelidade e solidariedade ao grupo e vigor e entusiasmo para com o movimento [...]”. 
(GOHN, 1997, p. 33).
 A continuidade para essa abordagem funcionalista é chave para institucionalização 
dos MS, pois “A institucionalização impõe estabilidade adicional ao movimento e um de 
seus aspectos-chave é determinar procedimentos de conduta para o grupo. Os autores 
concluem que todos os movimentos podem vir a ter um caráter institucionalizado” 
(GOHN, 1997, p. 44). A institucionalidade dos MS é uma dimensão defendida pelos 
autores, no entanto a possibilidade de releitura e compreensão sobre essa categoria e sua 
continuidade, que envolve as dinâmicas de permanência, rotatividade e instabilidade de 
um MS é o mais importante, pois abre fendas epistemológicas. 
 Por meio das fendas epistemológicas é possível valorizar dentro desse fluxo a 
solidariedade como elemento integrador que une as pessoas, o sentimento de pertença 
e a confiança mútua, elementos importantes que emergem dessa capacidade interna 
de união. Nessa perspectiva, a colaboração de Turner e Killian pode ser potencializada 
com outras leituras de modo a ampliar as possibilidades semânticas, polissêmicas e 
políticas presentes na força-poder da continuidade dos MS. Não como estratégia de o 
fechar institucionalmente, mas de o abrir para outras interconexões possíveis, a outras 
formas de legitimação.
 A lente psicológica empregada para a compreensão do fenômeno social permite 
tecer sentidos e significados plurais ao conceito de Ações Coletivas. Essa característica 
é um aspecto importante para recriação e compreensão mais ampla em torno das 
categorias em estudo – sociedade, MS, Ação Coletiva, ideologia, transformação social. 
Apesar de reconhecerem sua complexidade e amplitude não advogam pela capacidade 
de transformação social. Sua leitura assume a defesa da integração social, controle social 
e com a institucionalização dos MS.
 A sua abordagem possui raízes na base epistemológica Funcionalista, nesse 
sentido, seus estudos se concentraram nas ações-reações da sociedade impactada pelas 
questões materiais de vida. Os interessava saber como essas situações estruturantes e 
estruturais agiam sobre os grupos sociais, como se operava a mobilização e articulação 
da Ação Coletiva. Quais as estratégias, sentimentos, crenças, demandas, sentidos os 
aproximavam. As categorias indivíduo-sociedade e indivíduo-comunidade eram base 
para seus estudos.
 As arenas políticas e econômicas eram os universos de embate social. Lugares de 
poder onde as relações humanas e sociais se (des)encontravam. A cada nova crise muitas 
novas necessidades emergiam – as estruturas sociais se abalavam. As relações de poder 
se acirravam e a manutenção da realidade social precisava ser garantida. Esses estudos 
buscavam tratar os desdobramentos das Ações Coletivas de modo que reconhecessem 
critérios-chaves de seu surgimento e desenvolvimento visando sua alienação. O cerne 
da investigação sobre Ações Coletivas se encontrava nas entrelinhas da mobilização 
coletiva.
 A perspectiva conservadora funcionalista possui uma carga ideológica alinhada 
com o contexto político hegemônico. A intencionalidade das ideias e percepções 
estavam molhadas por essa vocação político-ideológica-institucional. As releituras e 
compreensões amplas em torno da constituição dos MS a partir da mobilização das Ações 
Coletivas abriram fendas teóricas fecundas para avançar nos estudos sobre o fenômeno. 
93
O caráter institucionalizado defendido pelos autores seria uma possibilidade de autono-
mia política e intelectual do grupo? Se sim, essa formalização daria um status de legiti-
midade ao MS e transformaria a essência reivindicatória dos grupos organizados coleti-
vamente em uma instituição moderadora. Assumindo esse papel social as manifestações 
não seriam mais viáveis, pois agora fazem parte do todo institucional. Certo? Nesse con-
texto, qual seria a função política de um MS que se nega a ser institucionalizado? Pense 
nisso, a quem interessa um MS controlado por protocolos institucionais rígidos, com re-
gras limitantes, com mobilidade reduzida e com orçamento vinculado a uma pasta sem 
capacidade operacional?
VAMOS PENSAR?
Inclusive a partir da ressignificação de ideias-chaves significativas para compreensão 
dos MS contemporâneos. Sua capacidade de reconhecer, por exemplo, o sentimento de 
pertença que mobiliza pessoas e contextos diferentes em prol de uma necessidade em 
comum é uma dimensão imperdível.
 A capacidade de transformação social não é um conteúdo discutido como 
possibilidade, mas há o reconhecimento da luta por esse horizonte abraçado pela Ação 
Coletiva. Seus esforços se alinhavam a manutenção do status quo, conhecer como as 
condições sociaisagiam sobre o indivíduo e o coletivo fazia parte da necessidade de 
garantir sua realidade. 
8.1.3 A INFLUÊNCIA DE SMELSER
 Sob a ótica da psicologia social, as leituras de base comportamentalista do sociólogo 
americano Neil Joseph Smelser, as categorias “explosões coletivas” e “movimentos 
coletivos” possuem centralidade no estudo sobre os MS. Smelser as consideravam um 
conjunto de “comportamentos coletivos”. Esse conjunto inclui um generoso leque de 
manifestações de base civil, social, religiosa, profissional, econômica, política, estética, 
esportiva,... Ou seja, todo tipo de comportamento não-institucionalizado, ilegal e até 
irracional. 
 O estudo de Smelser tinha como “[...] preocupação fundamental diagnosticar 
como se institucionalizam as ações sociais não-estruturadas que se encontram sob 
tensões. Ou seja, a busca da integração social, do controle social, é uma meta desta 
corrente (GOHN, 1997, p. 46). Com o horizonte da harmonização social, a organização 
social deveria se dá de acordo com a ideologia vigente. Nesse contexto, o estudo dos MS 
se resume ao controle societal.
IDEOLOGIA: O conceito é dinâmico, mas possui dimensões basais reconhecidas por edu-
cadoras/es e cientistas de diversas áreas do conhecimento. Com base em Gramsci (1982) 
e Freire (1996b), entendo que o termo seja tecido em interface com vários elementos on-
tológicos e categorias epistemológicas. As dimensões praxiológicas e históricas também 
são variáveis determinantes. A base de toda ideologia se intercomunica com critérios 
assimétricos de raça, gênero, classe, ecologia, religião e geração. Essas categorias pos-
suem um leque de relações de poder que lutam pela equidade, mas sobrevivem a uma 
hegemonia verticalizada, unilateral, colonialista e eurocêntrica. Toda ideologia totalitá-
GLOSSÁRIO
94
ria extermina outras formas de existir. Para pensar ideologicamente os MS é necessário 
romper com a lógica estabelecida e dialogar com diferentes perspectivas. Desse modo, 
a possibilidade de compreender a complexidade do contexto e do fenômeno em estudo 
é potencializada.
 Dialogando com os estudos de Turner e Killian, a mobilização de esforços 
para neutralizar, diluir, descredibilizar, desestabilizar e alienar as Ações Coletivas 
intencionalmente organizadas em Movimentos Sociais foi significativa. Quando os autores 
levantaram a questão da continuidade dos MS, da descaracterização de sua dinamicidade 
devido a longa permanência em ação, podemos perceber a intencionalidade de tratar 
da identidade coletiva como um ente dependente do aparato institucional. Uma ação 
social carente de legitimidade.
 Essa condição tutelada e assistencialista precisa ser rompida. A leitura operada por 
Smelser reforça esse olhar, pois vai na mesma direção, da institucionalização. Além disso, 
entende estar no “funcionamento do sistema social a resposta para o surgimento de 
novas crenças e indaga como elas interferem nos comportamentos coletivos”. (GOHN, 
1997, p. 47). O sistema social é o epicentro desse processo de emersão/imersão dos 
Movimentos e Explosões Coletivas. Os comportamentos coletivos estão intimamente 
relacionados as condições sociais, essa percepção pode ser problematizada no estudo 
dos MS, sobretudo, no tocante a realidade objetiva de exclusão, alienação e opressão.
 Quando Smeler faz essa constatação, colabora com a construção de uma base 
teórica importante para o estudo da formação e legitimação dos MS. Apesar de ele não 
ter se ocupado com esse processo de modo articulado - formação e legitimação – o fato 
de:
• reconhecer a capacidade de união entre as pessoas;
• destacar o aspecto da continuidade - aqui delineada como uma dimensão antagônica, 
pois a estabilidade não dialoga com a dinamicidade, o que descaracterizaria o MS;
• estabelecer a relação política entre contexto social e necessidades comuns 
compartilhadas.
 
 Essas dimensões trazem uma infinidade de ramificações analíticas e interpretativas 
capazes de ampliar tanto o conceito quanto os fins, os tipos, as metodologias, as 
interfaces, a intencionalidade e a organicidade dos MS. O fato dos comportamentos 
coletivos serem definidos como comportamentos não-institucionalizados não diminui 
o potencial emancipador que alguns MS incorporaram ao longo da história. Essa leitura 
nos diz muito sobre a constituição histórica dos MS, sobretudo, por evidenciar uma 
trajetória ontológica, epistemológica e praxiológica de base popular que o setor social e 
político estabelecido demorou a reconhecer. 
 Esse movimento de reconhecimento necessita ser assumido também pela 
sociologia, sobretudo, em torno das lacunas e imprecisões teóricas que carecem ser 
retomadas. Nesse processo, tanto o campo de conhecimento quanto o fenômeno 
social em estudo crescem, se fortalecem e se atualizam juntos. Esse é o desafio de 
toda Ciência na contemporaneidade, se reinventar com base nas demandas sociais 
emergentes, quando os conceitos clássicos são revisitados e ressignificados de acordo 
com o movimento complexo e contraditório da sociedade em trânsito.
95
8.2 ABORDAGEM ORGANIZACIONAL: COMPORTAMENTALISTA
Para compreender um pouco mais sobre as Ações Coletivas e Movimentos So-
ciais acesse a plataforma digital da Biblioteca Integrada e veja: LOPES, Daia-
ne Duarte. Ações Coletivas e movimentos sociais In: SANTOS, Ana Paula Flieg-
ner dos et al (Org). Movimentos Sociais e Mobilização Social. Porto Alegre/
RS: SAGAH. 2018. p. 75-79. ISBN 978-85-9502-554-7. Disponível na plataforma 
BUSQUE POR MAIS
online da Biblioteca Única:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595025547/cfi/10!/4/4@0.00:30.1 
Sobre a Abordagem Funcionalista para construção do conceito de MS e de 
Ação Social visitem a página da Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Es-
paciais e busquem o texto de PONTES, Beatriz Maria Soares. OS SUPORTES 
EPISTEMOLÓGICOS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS In: Revista Movimentos So-
ciais e Dinâmicas Espaciais, Recife, V. 04, N. 01, 2015. p. 46-85. Disponível em:
BUSQUE POR MAIS
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistamseu/issue/view/v.%204%2C%20n.%201%20
%282015%29 
 A última abordagem clássica de nosso roteiro de estudo sobre a trajetória histórica 
da construção da categoria analítica dos MS, e das AC, pela Sociologia em diálogo com 
outras Ciências, é também considerada uma porta epistemológica importante pelas 
teias interpretativas que deixa em aberto. 
 Essa é a grande oportunidade que temos enquanto produtores de história, de 
conhecimento e de avançar sobre questões sociais emergentes, pois “Assim como os 
movimentos, que se apresentam em ciclos e apresentam ênfases particulares a cada 
momento histórico, as categorias criadas para a sua análise e os conceitos produzidos 
também são datados historicamente.” (GHON, 1997, p. 19). Ou seja, não se configuram 
enquanto verdades absolutas, mas fendas que precisam ser redesenhadas.
Essa temática, da abordagem comportamentalista, como também a funcio-
nal, pode ser ampliada com a leitura de GOHN, Maria da Glória. O Paradig-
ma Norte-Americano – Capítulo I: As teorias clássicas sobre ações coletivas 
In: Teoria dos Movimentos Sociais Paradigmas Clássicos e Contemporâ-
neos. São Paulo: Edições Loyola. 1997. Disponível em: http://flacso.org.br/fi-
BUSQUE POR MAIS
les/2016/10/120184012-Maria-da-Gloria-Gohn-TEORIA-DOS-MOVIMENTOS-SOCIAIS-PARA-
DIGMAS-CLASSICOS-E-CONTEMPORANEOS-1.pdf
96
 Quando Selzinick (1952), Gusfield (1955) e Messinger (1955), os principais 
pesquisadores desta corrente teórica, se dedicaram aos seus estudos no século XX, talvez 
já soubessem das releituras teóricas que as categorias propostas sugeriam (GOHN, 1997). 
Essa perspectiva foi base para retomadas e ampliação semântica e interpretativa, devido 
sua significativa capilaridade teórica. As interconexões estabelecidas entre o ontem e o 
hoje tecem o agora.
 A classificação desenhada por um dos seus expoentes, Gusfield, por exemplo, 
que dividiu os Movimentos em três categorias: de classe, de status e expressivos, são 
elementosque carecem ser ressignificados. Essas categorias não são necessariamente 
definições estabelecidas como uma teoria dos MS, mas uma denominação que traz 
mais elementos em torno da organização social e coletiva dos grupos. 
As categorias elencadas por Gusfield – de classe, de status e expressivas – tratam as ações 
coletivas de modo fragmentado, ainda assim são capazes de ajudar a visualizar em alguns 
grupos as características desenhadas em cada uma dessas categorias. A de classe não 
dialoga com o recorte de classe social, mas de categoria fabril, por exemplo. A de status se 
associa aos Movimentos elitistas, são aqueles voltados para si próprios, para alcançar ou 
manter o prestígio do grupo. A expressiva se aproxima das leituras de Blumer, quando se 
articula com demandas comuns, mas de modo esparso, sem organicidade política para 
a transformação social. Ainda hoje algumas AC possuem elementos empíricos que dialo-
gam com esse olhar Funcional, contudo, não são necessariamente características de MS 
como compreendemos. Isso evidencia que as teorias clássicas se tornaram raquíticas pe-
los limites impostos pelo contexto de sua produção e a exigência de interfaces epistemoló-
gicas no cenário atual, mas não significa que elas estão superadas. Vivem nas entrelinhas 
de percepções antidialógicas e meramente instrumentalistas. Neste cenário, qual a tarefa 
epistemológica da Sociologia na contemporaneidade? E a sua tarefa? Pense nisso!
VAMOS PENSAR?
 As ações coletivas vistas pelo prisma da abordagem comportamental-
organizacional rompem com a visão localizada apenas no sujeito e suas necessidades 
pessoais, avançando para aspirações mais complexas. A centralidade epistemológica 
da psicologia social que percebe nas ações individuais e suas aspirações voluntaristas 
neutralizam o potencial político-organizativo dos MS. As fendas epistemológicas deixadas 
em aberto por essa abordagem clássica permitiram que os Movimentos fossem vistos 
de outras formas, com finalidades por vezes divergentes, outras convergentes. Não mais 
percebidos de forma distinta dos partidos, lobbies e grupos de interesses. A pluralidade 
é amplamente acolhida. 
 Uma corrente importante que nasce desse movimento reflexivo deixado entreaberto 
é a teoria da Mobilização de Recursos que começa a ocupar as discussões acadêmicas e 
científicas norte-americanas ainda no século XX. É importante salientar que todas essas 
abordagens coexistiram em determinado período histórico e fizeram do fenômeno 
em estudo um conceito por vezes fragmentado demais para ser compreendido em 
seu todo. Esse caráter multifacetado, dinâmico e contraditório acompanha sua própria 
constituição. Mas não o fecha em um único conceito. Sua ação contraditória e dinâmica 
impede definições determinísticas.
97
Gohn (p. 73, 1997) explica que “após décadas do apogeu da Escola de Chicago, um de 
seus pressupostos básicos, o interacionismo, ressurgiu com bastante vigor, sob a forma 
de interacionismo simbólico, por meio da recuperação dos trabalhos de Irving Goffman. 
Utilizando-se de um de seus argumentos - as condições estruturais são necessárias, mas 
não suficientes para explicar a ação humana -, a categoria da Mobilização Política - vol-
tou-se para os estudos psicossociais enfatizando as regras de interação”. O interacio-
nismo é uma corrente epistemológica de base da abordagem clássica que ainda hoje 
ajuda a compreender a formação dos Movimentos a partir das relações estabelecidas, 
contudo, sem determinismo.
FIQUE ATENTO
 Os MS são uma organização social e coletiva complexa, tecida ao longo da 
história de uma humanidade que enfrentou e continua enfrentando vários dilemas, 
crises que são fruto de imensas lacunas, sabotagens e memórias doloridas encarnadas 
na constituição social e cultural - heranças coloniais e escravistas – difíceis de serem 
superadas. Os MS, nesse contexto histórico, atravessa o tempo assumindo contornos 
cada vez mais complexos e contraditórios reivindicando direitos inalienáveis que até 
hoje não estão consolidados. 
 O conceito de AC assim como de Ação Social vem sendo ressignificado ao longo 
da história a partir de demandas complexas que foram emergindo na sociedade 
capitalista. Neste sentido, as Ações Coletivas são muito mais que um amontoado de 
pessoas atordoadas, desequilibradas, sem critérios ou carregadas pelo espontaneísmo e 
irresponsabilidade gritando nas ruas aleatoriamente por necessidades básicas comuns. 
 A luta dos grupos sociais mobilizados pelas AC foram se ampliando de modo 
que sua estrutura organizacional extrapola em muitos aspectos as leituras clássicas 
psicológicas-interacionistas ou comportamentalistas, reformistas e funcionalistas que 
estudamos neste segundo capítulo. 
 A organização social com base na Ação Coletiva incorpora sentidos e significados 
polissêmicos que estão sendo pautados, disputados e reconfigurados ao longo da 
história. Os tratar de modo fragmentado e com leituras unilaterais desintegra toda sua 
potencialidade, pois nesse movimento hegemônico se dilui diferentes lutas, estratégias, 
relações e organizações em uma única perspectiva homogeneizadora. Neste cenário, é 
urgente que novas categorias surjam o tempo todo, assim como novas perspectivas são 
sempre demandadas, pois os MS:
São objetos de estudo permanente. Enquanto a hu-
manidade não resolver seus problemas básicos de de-
sigualdades sociais, opressão e exclusão, haverá lutas, 
haverá movimentos. E deverá haver teorias para expli-
cá-los: esta é a nossa principal tarefa e responsabilida-
de, como intelectuais e cidadãos engajados na luta e 
por transformações sociais em direção a uma socieda-
de mais justa e livre. (GOHN, 1997, p. 20).
 No fluxo quase doentio e vicioso de autopreservação do status quo das sociedades 
Modernas, a presença dos MS é um sinal de que as relações estabelecidas tomaram 
por critério dimensões seletivas difíceis de serem alcançadas, portanto, excludentes. 
98
A construção de uma sociedade mais justa e livre, como preconizada pela autora, 
permanece em um horizonte distante, porém, possível e mais que necessário. 
 O estudo sistemático desse fenômeno social com vistas ao desvelamento das 
relações truncadas, invisibilizadas, sabotadas e negadas de várias formas representa, 
sobretudo, a capacidade humana de se reinventar sobre critérios mais humanizantes, 
mais solidários e inclusivos. Essa é a tarefa sociológica mais elementar: colaborar com 
a construção de uma realidade menos excludente e mais acolhedora para as próximas 
gerações.
99
FIXANDO O CONTEÚDO
1. Quais as principais características da visão de Parsons para o estudo das Ações Coletivas 
e dos MS a partir do paradigma funcionalista?
a) Julgava os MS como uma Ação Coletiva desorganizada; a Ação Coletiva era a união 
de pessoas com objetivos comuns; a manutenção da estrutura social era o foco de seus 
estudos.
b) Compreende os MS como uma ação coletiva organizada; classificou dos MS em: classe, 
status e expressivos; não acredita no potencial revolucionário dos MS. 
c) O bem-estar social era seu foco; a Ação Coletiva como manifestação espontânea das 
pessoas com alguma necessidade; os MS são grupos não-institucionalizados; Acredita 
no potencial político dos MS.
d) O estudo da Ação Coletiva oferece elementos para controlar os MS; Os MS são grupos 
não-institucionalizados, porém, são politizados; os MS são expressões das más condições 
estruturais.
e) Visava o equilíbrio social; Ação Coletiva era compreendida como fenômeno subversivo; 
MS concebido como anomalia social com ciclo de evolução controlável; MS sem potencial 
organizativo e/ou político.
2. Quais eram os estágios cíclicos de constituição de um MS segundo Parsons?
a) Inquietação, excitação, formalização e institucionalização.
b) Sensibilização, articulação, mobilização e cooperação.
c) Inquietação, articulação, intercomunicação e institucionalização.
d) Articulação, mobilização, formalização e institucionalização.
e) Inquietação, excitação, formalização e organização.3. Quais as principais características da visão de Turner e Killian para o estudo das AC e 
dos MS a partir do paradigma funcionalista?
a) Os MS são grupos organizados com objetivos delineados; o critério de continuidade é 
a chave para sua organização política; a união das pessoas dispensa institucionalização 
dos MS; as necessidades provocadas pela desigualdade oriunda da estrutura social é o 
cerne da questão de onde emerge os MS.
b) As más condições materiais da vida fazem surgir os MS; A continuidade dos MS o 
desorganiza; a institucionalização dos MS permite condições melhores de vida a 
população; a estrutura social é a base para o equilíbrio de forças.
c) O critério da continuidade descaracteriza o MS; a sinergia que mantém o grupo unido 
e forte são as motivações individuais e coletivas; defende a integração social, o controle 
social e a institucionalização dos MS; as categorias indivíduo-sociedade e indivíduo-
comunidade eram base para seus estudos da mobilização coletiva/ação coletiva; a 
estrutura social é chave no estudo das AC.
d) A institucionalização, a continuidade e a estrutura social em constante desequilíbrio 
são elementos-chaves para o fortalecimento dos MS; o controle social é um mecanismo 
100
seguro para a organização dos MS.
e) A estrutura social com suas desigualdades possui relação com a formação das Ações 
Coletivas que dão vida aos MS; a continuidade é a chave-força dos MS; as motivações 
individuais e coletivas são contraditórias e impedem a continuidade do MS.
4. Quais possibilidades epistemológicas os estudos funcionalistas de Turner e Killian 
abrem para o estudo dos MS e das AC hoje?
a) O controle social e a institucionalização são instrumentos políticos ideológicos que 
servem a transformação social; as leituras epistemológicas não possuem relação com o 
contexto político; a leitura interacionista social sobre as AC e os MS acolhe os distintos 
condicionantes históricos, sociais, culturais, políticos e econômicos.
b) A institucionalização como ferramenta de organização; a continuidade como meio 
de ampliar as articulações do MS; as AC são resultado das políticas promovidas pela 
estrutura social; a transformação social é um horizonte possível desde que a AC evolua 
para MS.
c) A AC é a força motriz para consolidação do MS; as necessidades compartilhadas pelos 
grupos organizados são fruto da desorganização social em permanente condição de 
crise; o estudo das categorias indivíduo-sociedade e indivíduo-comunidade são a chave 
para fortalecer os MS.
d) A institucionalidade dos MS fortalece as AC; a estrutura social não condiciona a produção 
de novas necessidades; as relações sociais não são condicionadas pela estrutura social; a 
solidariedade é a sinergia que une as pessoas em torno de objetivos comuns.
e) A ressignificação de ideias-chaves significativas para compreensão dos MS 
contemporâneos; o reconhecimento do sentimento de pertença que mobiliza pessoas e 
contextos diferentes; o reconhecimento da luta pelo horizonte da transformação social 
através da AC; a capacidade de continuidade como força transformadora e não como 
barreira que descaracteriza os MS.
5. Como as categorias da AC e MS são delineadas pela corrente Clássica Funcionalista?
a) A existência de um movimento social é uma situação estranha, pois em uma sociedade 
organizada e harmônica não existe essa possibilidade. A AC leva a formação de MS. O 
Sistema social interfere e influência na formação dos MS. A AC é motivada por valores 
e crenças que os levam a comportamentos irracionais que precisam ser controlados. 
Uma sociedade que possui muitos MS é considerada desorganizada e doente, por isso 
necessita ser reformada.
b) Os Movimentos Sociais existem porque há indivíduos desajustadas na ordem social 
vigente. A Ação Social motiva a formação de AC. Os comportamentos coletivos são 
responsáveis pela organização dos MS. A institucionalização dos MS fortalece os grupos 
envolvidos. 
c) Há uma estreita relação entre movimento social e marginalidade. A Institucionalização 
retira o MS da condição de marginalidade. A AC é formada por indivíduos organizados 
d) Os movimentos sociais são uma das formas de expressão das AC. Toda AC pode se 
transformar em um MS. A ação sócio-política do MS dialoga com a necessidade de sua 
institucionalização. Os MS são legítimos representantes da população empobrecida.
101
e) O movimento social é por definição, dinâmico, se permanecer por muito tempo 
já descaracteriza e não se configura mais como um MS. Toda AC é uma Ação Social 
coordenada para um fim comum. O sistema social é responsável pela formação das AC 
que por sua vez são responsáveis pela criação dos MS.
6. Como as AC e os MS são compreendidos a partir da ótica organizacional-
comportamentalista?
a) A releitura estabeleceu relação estreita entre aspectos do interacionismo simbólico 
com a abordagem reformista. Os MS e as AC são entendidos como um conjunto de 
movimentos coletivos que não possuem a organicidade necessária para atingir suas 
metas.
b) A leitura interacionista em diálogo com a comportamentalista ampliou o conceito 
de MS que é entendido como um conjunto de grupos heterogêneos, com distintos 
interesses, mas com horizonte comum de transformação social. As AC são a base desse 
processo a partir da interface com grupos sociais marginalizados que desejam mudar as 
regras sociais.
c) Os MS se tornam entidades não-estatais autônomas e autogeridas. As AC se 
organizam a partir das Ações Sociais que, em seguida, se tornam grupos organizados. As 
normas e regras sociais tradicionais hegemônicas são a base de estudo da abordagem 
organizacional-comportamentalista para compreender os MS.
d) Os MS são entendidos como organizações coletivas e até burocráticas. A AC não é mais 
percebida como desorientada e informal. Afasta-se das leituras centradas nos aspectos 
psicológicos que privilegiam a dimensão pessoal, sem objetivos definidos, centrados 
nas motivações cotidianas do “aqui e agora”. 
e) A abordagem psicológica permanece auxiliando a compreensão dos fenômenos, 
contudo a ênfase está não mais nos aspectos pessoais, sentimentos e necessidades 
imediatas. A AC e os MS assumem contornos complexos, no entanto os interesses 
comuns de melhoria da vida permanecem sendo o objetivo maior das organizações.
7. Quais percepções - características sociológicas - essas abordagens funcionais-
comportamentalistas deixaram de herança no imaginário coletivo que influenciam na 
compreensão empírica e até acadêmica sobre os MS na atualidade?
a) Uma visão ampla da articulação e mobilização como base política de uma relação 
solidária entre MS e Sociedade civil. Além disso, uma capacidade ampla de diálogo com 
o Estado para construção conjunta de políticas de bem-estar social.
b) A percepção generalizada de que os MS são grupos com motivações pontuais de 
natureza pessoal. Comumente contra o poder estabelecido e por isso questionáveis 
precisando ser neutralizadas pelo Estado. São grupos marginalizados e criminalizados, 
tendo descrédito as demandas coletivas que os une em prol da autodeclarada 
transformação social.
c) A compreensão de que os MS e as AC possuem uma funcionalidade política fundamental 
para a auto-organização da sociedade. Assim, os MS são concebidos enquanto grupos 
com papel social crucial para a harmonização social.
d) A ideia de que os MS são grupos heterogêneos que lutam por diferentes direitos 
humanos, civis, culturais e políticos de modo organizado e em sintonia com o poder 
102
estatal estabelecido.
e) O entendimento popular de que as bandeiras e as temáticas defendidas pelos MS são 
de intencionalidade legítima uma vez que reflete as necessidades mais elementares da 
maioria esmagadora da população. 
8. Como a Sociologia Contemporânea pode colaborar para com a ressignificação da 
herança epistemológica estudada nesse capítulo?
a) As Correntes Clássicas Funcionalista e Organizacional-Comportamentalista são 
bases teóricas que sustentam conceitos tradicionais difíceis de seremsuperados. Nesse 
sentido, é improvável que suas ideias sejam corrompidas com vistas a transformação 
para que dialoguem com fenômenos micro situados.
b) O conhecimento científico não é estático, é dinâmico e de tempos em tempos necessita 
ser retomado e ressignificado. Esse movimento não desabilita o conhecimento original, 
mas o qualifica, o amplia sem, no entanto, alterar sua essência epistemológica.
c) Ao longo do seu processo de instituição a Sociologia retoma aspectos fundamentais 
de sua gênese buscando reconhecer fragilidades e imprecisões. Essa é a grande 
possibilidade de enfrentar conceitos cristalizados sem, contudo, questionar dimensões 
elementares que fizeram da Sociologia o status de Ciência.
d)À Sociologia são lançados desafios que perpassam suas competências e 
responsabilidade. Ressignificar conceitos delineados pela Corrente Clássica é uma 
dimensão não-operante devido sua ramificação e completa introjeção na relação e 
compreensão de mundo.
e) A Sociologia deve ser revisitada assim como todo conhecimento, práticas, visões, 
percepções e experiências humanas em seus prismas culturais, sociais e políticos na 
sua relação com o meio ambiente e nos diferentes contextos históricos. Essa é uma das 
tarefas epistemológicas mais delicadas e importantes de serem operadas: rever dilemas, 
vícios, lacunas, equívocos e imprecisões visando superar dicotomias, fragilidades e 
definições limitadas.
103
CONCEITOS E 
PERSPECTIVAS NAS
CIÊNCIAS SOCIAS 
104
9.1 ABORDAGEM MARXISTA 
 A releitura aqui proposta dá um salto sócio-histórico em relação as leituras 
anteriores que tiveram como base a Corrente Clássica Norte-americana a partir da 
experiência da Escola de Chicago. Um marco teórico para a construção tanto do campo 
do conhecimento da Sociologia quanto para o estudo dos Movimentos Sociais. O 
movimento de retomadas e ressignificação operado tece uma trajetória interpretativa 
interessante por valorizar os (des)caminhos que o fenômeno em estudo percorreu ao 
longo de sua constituição.
 Nosso diálogo neste momento é estabelecido com o sociólogo professor Picolotto 
(2007), sobre as abordagens clássicas e contemporâneas no estudo dos Movimentos 
Sociais. Neste artigo em especial o autor percorre as principais ideias de três pesquisadores 
referências no estudo dos MS, são eles Alain Touraine, Manuel Castells e Alberto Melucci. 
O trabalho interpretativo realizado nos contempla pela articulação temática que 
estabelece. 
 Com base nos olhares epistemológicos aqui referenciados, e em suas respectivas 
interconexões, faremos nosso caminho interpretativo de reelaboração teórica. Para 
compreender as teias complexas da categoria sócio-histórica, sociopolítica, político-
econômica e cultural dos Movimentos Sociais atualmente é necessário tecer uma 
coprodução de sentidos/significados de modo amplo e articulado. A categoria sociológica 
da Ação Coletiva nesta interface evidencia uma co-construção teórico-prática e histórica 
estabelecida nas teias complexas do conjunto de ações sociais também relevantes.
 Esse movimento de imersão e emersão sobre a construção teórico-metodológica 
de distintas visões, revisões e perspectivas, nos permite perceber a polissemia do 
fenômeno. Sendo os Movimentos Sociais um conceito plural, sem definição estática, 
com perspectivas abertas e em constante transformação, revisão, ressignificação e 
atualização, a leitura proposta valoriza o movimento de imersão/emersão teórico com 
objetivo de avançar. Nesse processo, o contexto em que o fenômeno está inserido é 
conteúdo privilegiado. 
 Essa tessitura interpretativa sobre a arqueologia genealógica produzida pelos 
interlocutores desta construção acadêmica nos oportuniza rever nossa própria visão de 
mundo. Refletir sobre a ação social, ação coletiva, estruturas de poder, relações humanas 
e a reprodução ampliada da vida exige rever o lugar da ação individual e coletiva. Somos 
parte de uma totalidade fissurada que carece ser revisitada e reelaborada constantemente 
devido campo minado que se tornou a estrutura sócio-política em contexto de golpes 
diários. 
Reprodução ampliada da vida – “Um processo em que novas relações entre seres huma-
nos e natureza e entre os próprios seres humanos se ampliam em todas as esferas da vida 
biológica e social. Suas bases materiais e simbólicas estão fundadas no respeito à natureza 
externa e ao ser humano, na produção associada e na autogestão do trabalho e da vida 
social que permita a homens e mulheres a produção de sociabilidades fraternas e solidárias 
[...] apesar de não existir uma definição, há princípios ético-políticos que a anunciam”. (TIRI-
BA, 2018, p. 85). É precisamente essa postura epistemológica que nos torna seres históricos 
capazes de transcender conceitos ultrapassados e tendenciosos que limitam o ser, o existir 
e o transformar. 
FIQUE ATENTO
105
 Nesta perspectiva, o estudo realizado por Picolotto (2007, p. 157) nos ajuda a 
compreender qual a contribuição da abordagem sociológica marxista para o estudo 
dos MS que, segundo ele, “foi estabelecer a relação entre a teorização e ação política 
dos movimentos sociais através do conceito de práxis social. Esta foi entendida como 
a transformação do social”. Um projeto complexo e contraditório onde a ação social e 
política devem acontecer através da consciência crítica sobre os modos da reprodução 
da realidade vivida. Essa práxis promove o sentimento de engajamento, base ontológica 
necessária à co-construção da consciência de classe. Os MS têm na categoria classe 
social a partir de Marx uma forte inspiração-relação, tanto teórica quanto prática. 
Práxis: pode ser compreendida como a estreita relação que se estabelece entre um modo 
de interpretar a realidade e a vida e a consequente prática que decorre desta compreen-
são levando a uma ação transformadora. Opõe-se às ideias de alienação e domesticação, 
gerando um processo de atuação consciente [...] É uma síntese entre teoria-palavra a ação 
(ROSSATO, 2010, p. 325).
FIQUE ATENTO
 É importante salientar que a construção social do conceito-categoria MS nasce em 
berço tradicionalista, uma herança clássica que rotula/reduz/nega/criminaliza o potencial 
organizativo, político, reivindicatório e emancipatório das organizações coletivas. Essa 
construção epistêmica deixou marcas coloniais nas veias de um processo social que 
resistiu e vem ao longo do tempo se reinventando, desconstruindo todo um sistema de 
crenças, valores, conceitos, definições e lugar social marginalizado que lhe fora imposto.
 É inegável a contribuição dos estudos de Marx para compreensão do mundo do 
trabalho e, dentro desse grande universo semântico, das relações sociais, das relações 
de poder, das condições materiais da vida e sua relação umbilical com os MS. Expressão 
legitima arquitetada de modo intencional a partir de uma realidade social marcada por 
exclusão, alienação, exploração, dominação e reprodução da pobreza. Picolotto (2007, p. 
158) afirma que:
[...] o estudo dos movimentos sociais sob a abordagem 
marxista centra-se na análise dos processos históricos 
globais, nas contradições materiais existentes e nas lu-
tas entre as principais classes sociais presentes no pro-
cesso de produção [...] Esta luta é concebida como o 
“motor da história”, cujo resultado ancora-se na suposi-
ção de que as contradições geradas por ela colaboram 
para a organização política do proletariado, permitindo 
criar as condições necessárias para a superação da or-
dem capitalista.
 É importante entender que a luta de classes é uma categoria teórica de cunho 
histórico e sociológico de base econômica e social, que foi o tema de estudo e da própria 
vida de Marx e de Engels. Marx dedicou sua vida para estudar esse fenômeno, como 
também os mecanismos do capital e da macroestrutura social, no século XIX, tendo 
por base a realidade fabril da Europa. Um contexto histórico muito particular, sem 
possibilidade de simples transposição teórica.
106
 Essa dimensão teórica teve e tem por arenasocial, política, histórica e econômica a 
sociedade que naquele contexto estava organizada socialmente basicamente em torno 
das configurações da burguesia e do proletariado – e, veja, esse último não é qualquer 
tipo de trabalhador. Esse critério é importante, pois a leitura de classe está amalgamada 
em um perfil de trabalhador superado nos dias de hoje. O mundo do trabalho possui 
outros contornos.
 Há que considerar, também, as fases pelas quais o autor viveu que influenciou 
suas ideias e convicções epistemológicas, Gohn (2000) em seus estudos identificou duas 
grandes correntes de pensamento que nele se inspiraram: Marx maduro - Os pressupostos 
gerais da corrente ortodoxa baseavam-se principalmente nas determinações econômicas 
e macroestruturais – fechando em si interpretações limitadas sobre a realidade; já a fase 
do Marx jovem: seus estudos sobre a consciência, a alienação, a ideologia, etc., originou-
se uma tradição histórica-humanista também conhecida por heterodoxa. 
 Ao estabelecer a luta de classes como o “motor da história”, o autor incorpora na 
definição o contexto sociopolítico que enfrentam. Hoje sua releitura agrega muitos 
outros sentidos contextuais, existenciais, ambientais e afetivos. O educador Paulo Freire, 
por exemplo, em releitura de Marx entende que “a luta de classes não é o motor da 
história, mas certamente é um deles, uma vez que o sonho pode ser, também, um motor 
da história” (RIBEIRO, 2010, p. 250). Esse olhar está molhado pelo contexto brasileiro e 
latino-americano da luta pela transformação social, diferente da realidade espaço-
tempo-contextual de Marx.
 Portanto, dialogar com os pressupostos marxistas hoje exige toda uma releitura 
histórica e contextual. É necessário datar nossas reflexões, pois os fenômenos sociais 
estão inseridos em uma realidade de conflitos e contradições determinadas que forjam 
relações de poder também determinadas. Em cada época essas relações possuem 
contornos assimétricos distintos, baseados, entretanto, na junção/coalizão de binômios 
e trinômios ontológicos e epistemológicos. Uma constante correlação de forças que 
enfraquece a todos.
 Entre essas categorias podemos elencar exploração-dominação (QUIJANO, 2005; 
2011), modernidad/colonialidad (MIGNOLO, 2010); patriarcado-racismo-capitalismo 
(SAFFIOTI, 1987). Estudar a partir de releituras interpretativas de diferentes prismas, 
considerando-se interseccionalidades e coalizões, pode ampliar as possibilidades de 
compreender como as forças políticas e ideológicas são fruto de uma herança colonial. 
Dimensões indivisíveis como razão/sujeito, corpo/natureza humana, razão-emoção, 
sujeito-objeto, foram cindidas. Leituras polarizadas que ganharam força com a cisão do 
mundo operada pela lógica eurocêntrica. 
 As contribuições de Marx para o estudo dos MS a partir da categoria luta de 
classes, bem como as categorias analíticas (totalidade, contradição, dialética) ainda 
são fundamentais para compreensão da realidade hoje e sempre serão referências. As 
teorias construídas ao longo da história são a base de todo um estudo em profundidade 
que nos possibilita avançar, reelaborar, reescrever em diálogo com nosso tempo, nossas 
demandas históricas, nossos conflitos humanitários, ambientais e civilizatórios, nossas 
memórias e experiências.
 Nessa perspectiva, a construção de um “novo mundo”, de “novos conceitos”, outras 
categorias endógenas, com engajamento popular, seja através dos MS seja através da 
participação em conselhos e fóruns (que foram esvaziados na atual gestão federal (2019-
2022)) exige-se, também, a construção de uma nova mulher, um novo homem, uma 
107
nova noção de humanidade, de justiça social e inaugurar relações de reciprocidade e 
equidade que até hoje buscamos tecer com muito pouco sucesso.
 Para essa tarefa histórica Marx ajuda, sobretudo, ao nos provocar a avançar, a 
atualizar, a transcender suas reflexões de acordo com a nova ordem social, com os novos-
velhos dilemas da sociedade capitalista. Nesta direção, estudos das Ciências Sociais e 
Humanas se mobilizaram para colaborar com a construção de uma epistemologia que 
valorize os sentidos plurais emersos das lutas coletivas dos MS pela reinvenção do tecido 
social. No cenário de reinvenção, de descobertas e da busca pela reprodução ampliada 
da vida, os Novos Movimentos Sociais (NMS) emergem como estratégia política de 
enfrentamento a lutas históricas que ainda carecem de reafirmação e outras novas 
realidades marginalizadas.
 A partir de Gohn (2000), Picolotto (2007) descreve algumas ideias ortodoxas de Marx 
superadas pelos NMS. Entre elas a principal é o alargamento do poder de ação política 
do sujeito social e da compreensão desse sujeito como um ser plural, de possibilidades, 
analisados pela capacidade de ações e identidades coletivas e não mais determinados 
pela macroestrutura; a descentralização da luta de classe como categoria central nas 
análises, acolhendo outros critérios epistemológicos e ontológicos para essa releitura – 
reelaborando conceitos ali cristalizados como ideologia; a dimensão política rompe com 
as barreiras do público e adentra as ações micro situadas, no cotidiano das pessoas.
 Esse redimensionamento teórico e alargamento conceitual recupera o potencial 
sabotado ao longo do processo de constituição histórica do fenômeno. A dimensão política 
do indivíduo ganha centralidade a partir do momento que se desloca das determinações 
macroestruturais um poder que não lhes pertencia. A ação coletiva assume contornos 
ainda não experimentados no campo da política que fora engendrada/alienada pela 
esfera institucional. 
 Esse olhar ressignificado ganha força no paradigma dos Novos Movimentos 
Sociais que Picolotto (2007) se dedica a estudar. O autor apresenta um olhar significativo 
sobre a concepção de três estudiosos, como mencionado no início dessa discussão. 
Abre sua reflexão com a releitura de Alain Touraine e sua contribuição para o estudo 
dos Movimentos Sociais e das Ações Coletivas. Utilizando-se do próprio Touraine (2003, 
p. 113) apud Picolotto (2007, p.163), o autor nos apresenta uma definição interessante de 
Movimento Social:
A definição de movimento social só é útil se permite 
pôr em evidência a existência dum tipo muito particu-
lar de ação coletiva, aquele tipo pelo qual uma catego-
ria social, sempre particular, questiona uma forma de 
dominação social, simultaneamente particular e geral, 
invocando contra ela valores e orientações gerais da so-
ciedade, que ela partilha com seu adversário, para pri-
var este de legitimidade.
 Picolotto (2007) valoriza o alerta feito por Touraine (2003) sobre a função sociopolítica 
do conceito de MS que, segundo ele, carece estar em interconexão radical com as 
demandas contextuais pela transformação social. É importante entender que essa leitura 
dialoga com aspectos macrosocietal, ou seja, parte do geral para o local. Sua leitura 
assume tanto a Ação Coletiva quanto os MS como agentes de desenvolvimento social. 
Uma responsabilidade política e ideológica na medida em que há uma intencionalidade 
108
“De forma geral, quando se fala em movimentos sociais a partir dos anos 70, a teoria que 
vem à mente é a dos Novos Movimentos Sociais, porque foi construída a partir da crítica 
à abordagem clássica marxista e graças a ela desenvolveu-se um intenso debate com o 
paradigma culturalista-acionalista norte-americano”. (GOHN, 1997, p. 119). A teoria cultura-
lista-acionalista enfatiza a cultura, a identidade e a solidariedade entre as pessoas de de-
terminado movimento social. Segundo esta perspectiva, os movimentos contemporâneos 
apresentam interesses difusos e não classistas. A leitura de classe não é a única categoria 
de estudo, existem outras ramificações tão importantes quanto.
FIQUE ATENTO
explicita sobre qual a finalidade concreta da existência do MS.
 Essa abordagem de diálogo neomarxista valoriza a ação coletiva como uma 
categoria social que possui objetivos e metas definidas em interface com as necessidadeslocais e gerais da sociedade. Esse movimento geral-local é um modo de compreender 
os fenômenos, mas não é a única. Incorpora os estudos epistemológicos sobre os NMS e 
buscam reescrever toda uma história epistemológica de base eurocêntrica. Abordagens 
que bebem de conceitos lavrados em raízes extremamente limitadas, como as estudadas 
anteriormente.
 O segundo autor em dialogo é Manuel Castells que é grande referência na América 
Latina pela colaboração ativa nas releituras contemporâneas sobre as influências das 
técnicas e tecnologias no mundo hoje. Sua aproximação com os MS se dá justamente 
pelo fato de que muitas AC se articulam através das redes virtuais que são fenômenos 
oriundos do alargamento tecnológico que vivemos. Para o autor, os MS:
[...] “são ações coletivas com um determinado propósito 
cujo resultado, tanto em caso de sucesso como de fra-
casso, transforma os valores e instituições da socieda-
de” (2002:20). E acrescenta que, do ponto de vista analí-
tico, não existem movimentos sociais “bons” ou “maus”, 
progressistas ou retrógrados, eles são “reflexos do que 
somos, caminhos da transformação, uma vez que a 
transformação pode levar a uma gama variada de para-
ísos, infernos ou de infernos paradisíacos. ” (CASTELLS, 
2002, p. 20 Apud PICOLOTTO, 2007, p. 167).
 Nessa perspectiva, o movimento operado pelas AC é determinante no sentido de 
romper com a lógica instituída. Esse processo se desdobra de modo complexo pelas 
teias de intercomunicação entre militantes e não-militantes uma vez que o fluxo de 
interação das informações e conhecimento navega sem distinção de classe, raça, gênero 
e geração. Entendo que o conjunto de relações sociais envolvidas nessa trajetória virtual 
de ressignificação de ideias, conceitos e de dimensões ético-políticas fundamentais 
ganhe força de tal forma que a transformação social requerida de fato aconteça.
109
Sobre a relação da sociedade com a realidade virtual e seus desdobramentos 
sócio-políticos e econômicos veja: SOCIEDADE EM REDE - CASTELLS, Manuel. 
A sociedade em rede In: CASTELLS, M. Sociedade em rede. Volume I. 8ª ed. Paz 
e Terra. Sem ano. p. 565-573. Disponível em: https://perguntasaopo.files.wor-
dpress.com/2011/02/castells_1999_parte1_cap1.pdf 
BUSQUE POR MAIS
 A questão levantada pelo autor, em relação tanto a intencionalidade sociopolítica 
quanto ao horizonte utópico a ser conquistado diariamente, é que os MS animados pelas 
AC organizadas são o espelho da sociedade em que vivemos. No atual contexto político, 
vemos explodir um universo de AC banhadas em elementos questionáveis: a enamoração 
com regimes ditatoriais com exaltação à ditadores, a invocação de medidas restritivas de 
extrema violência como o AI-5, manifestações arbitrárias contra os três poderes, repúdio 
à educação, à ciência e à própria Constituição Federal quando tais manifestações nela 
são repudiadas.
 Quando Castells afirma que, do ponto de vista analítico, não há MS bons ou maus 
ele nos desafia a repensar a humanidade que construímos ao longo da história. As AC 
e os MS são expressões legítimas dos anseios e necessidades de um povo. Quando 
a necessidade maior não é o alimento, a moradia, a saúde, a educação, o trabalho, o 
direito de participar da vida da cidade, das decisões políticas, mas é a autoridade do 
fascismo, a força da coerção e o silêncio alienador das massas é porque os valores que ali 
imperam possui uma ideologia que vai na contramão do que as aspirações democráticas 
defendem.
 Nesse contexto, as leituras neomarxistas ajudam a repensar os MS dentro de 
uma ampla e complexa teia de significações que dialogam diretamente com a força 
ideológica que impera em determinado contexto. A interface cultural valorizada ao 
lado da dimensão social, ambiental e a ético-política qualificam o sentido histórico do 
que vem sendo os MS, com a preocupação ontológica do “lugar de fala”. Isso dialoga 
com a construção da identidade coletiva que Castells classifica em três modalidades: 
identidade legitimadora, identidade de resistência, identidade de projeto.
LUGAR DE FALA: Assumo esse termo valorizando o viés antropológico, sociológico, polí-
tico, filosófico, ético-estético em sua intersecção onto-epistemológica. Entendo que essa 
dimensão sócio-política se coproduza de modo dinâmico e contraditório na esfera indi-
vidual-coletiva. Essa (re)leitura tem como base epistemológica a obra de Frantz Fanon, 
entre outros diálogos. Em Os condenados da Terra (1968, p. 11), sua reflexão em torno da 
realidade colonial alerta que os colonizadores “Negligenciaram a memória humana, as 
recordações indeléveis; e depois, sobretudo, há isto que talvez eles jamais tenham sabido: 
nós não nos tornamos o que somos senão pela negação íntima e radical do que fizeram de 
nós”. Esse “não-lugar” sócio-histórico destinado aos povos colonizados, explorados, escravi-
zados, alienados pela lógica moderno-capitalista que redefine os papéis sociais de acordo 
com interesses econômicos internacionais, é uma das bases ancestrais que povoam nos-
sa memória pedagógica de luta. Essa dimensão está sendo muito pautada nos discur-
VAMOS PENSAR?
110
sos ativistas/militantes para designar o lugar ontológico da identidade sociocultural. Um 
processo de autorreconhecimento e autorreferencialidade que não é dado, é processo, é 
luta! Os MS Feministas e os de recorte racial valorizam o “lugar” como forma de resgatar 
todo um saber ancestral, histórico-cultural e histórico-político relegado a um não-lugar 
epistemológico. Quando uma pessoa, ou grupo, aciona esse dispositivo que já é conside-
rado uma categoria analítica nas Ciências Sociais e Humanas, ela pretende valorizar um 
conjunto de memórias e experiências que fazem parte da sua história enquanto elemen-
to de constituição humana e de humanização. Não se resume apenas ao lugar regio-
nalmente situado, mas ao lugar historicamente negligenciado, sabotado, colonizado. O 
lugar individual, inédito por ser marcado por uma corporeidade singular produzida pelas 
experiências vividas, em interface com sua autorreferencialidade ancestral, ontológica, 
assume contornos ontológicos e epistemológicos legítimos que representam toda uma 
cultura. Essa é a visibilidade e valorização sociocultural que muitos MS pautam quando 
se referem ao lugar de fala.
 Entender as distintas identidades coletivas que os MS vêm construindo de modo 
dinâmico a partir dessa leitura abre um leque de possibilidades para compreender a 
complexa relação estabelecida entre as pessoas em si, suas realidades, experiências, 
intencionalidades, potencialidades, limitações, frustações e suas bandeiras de luta. O 
Estado dentro dessa gigantesca construção por identidade, autonomia e participação 
se torna um expectador mal resolvido, pois sua flagrante incapacidade de dialogar 
associada a busca interminável por poder e controle não oferece nada de novo e, além 
disso, sabota conquistas históricas. Diante dessa realidade, Picolotto (2007, p. 170 apud 
CASTELLS, 2002) entende que:
Observando-se a perda da capacidade de ação criado-
ra do Estado, deve-se chamar atenção para a centrali-
dade dos movimentos sociais no questionamento da 
nova ordem global (globalização) e, visto dessa forma, 
a grande aposta que Castells faz está no surgimento de 
movimentos fortes o suficiente para preservar as iden-
tidades específicas e os sujeitos diante do potencial en-
volvente e destruidor/recriador da sociedade em rede.
 Essa é uma leitura interessante de se ocupar em destrinchar, se aprofundar e 
com lupa entender as entrelinhas dessas relações ético-políticas e político-ideológicas, 
mesmo porque as relações assimétricas e hierarquizadas de hoje foram alicerçadas pelos 
paradigmas utilitaristas, reformadores e negacionistas de um passado não tão distante. 
Essa herança epistemológica histórica nos aliena hoje de várias formas, uma delas é a 
insistente coalizão de poderes institucionais repressores que defendem um discurso 
regulador que geralmente está associado a violência e a sabotagempara controlar e 
manter o status quo. 
 Seguindo a discussão agora com Alberto Melucci e sua leitura baseada tanto nas 
Ciências Sociais quanto na psicologia clínica, fazemos um link com Castells quanto a 
finalidade do MS, reconhecendo que na “atualidade os movimentos sociais são agentes 
centrais da renovação social, sua ação contribui na reflexão sobre a realidade concreta 
seja por apontarem problemas vivenciados seja por produzirem novas agendas tanto ao 
Estado, quanto a sociedade civil”. (PICOLOTTO, 2007, p. 173).
 A contribuição que os neomarxistas aqui estudados traz sobre os NMS se concentra 
111
na possibilidade de engajamento social na construção coletiva de pautas que possuam 
um lugar de fala. O deslocamento da centralidade analítica das relações macro para 
as microestruturas na formação e a arquitetura organizacional de cada MS remete a 
considerar uma pluralidade de configurações, organicidades e intencionalidade. Essas 
são distintas da legitimada pelas instituições estatais, mas com grande capacidade de 
formalidade e racionalidade diferenciada. Uma racionalidade que tem como premissa 
a reinvenção e a recriação como essência ontológica de todo o processo endógeno 
legítimo porque emerge de um processo de conscientização da gentidade imanente 
em nossa humanidade perdida.
GENTIDADE: Uma dimensão antropológica, sociológica e filosófica cunhada pelo edu-
cador brasileiro Paulo Freire que produz um “sentido caloroso de humanidade, nucleado 
como ser humano, e que está ameaçado na sua condição de ser gente [...] A gentidade, 
ou gentificação, em Freire pode configurar-se como um processo de humanização per-
manente”. (FERNANDES, 2010, p. 201-202).
GLOSSÁRIO
 A intencionalidade compartilhada, ou seja, o projeto comum é o horizonte utópico 
que mantém o grupo solidário e unido. Essa é uma premissa que os três autores em 
diálogo defendem: “para a constituição de um movimento devem se estabelecer relações 
fortes entre os atores. Os autores remetem à noção de formação de identidade coletiva, 
porém com sentidos diferenciados” (PICOLOTTO, 2007, p. 175). A categoria da identidade 
coletiva, assim como o lugar de fala, se configura as categorias-chave para o estudo dos 
NMS hoje.
 O horizonte de todo MS no Brasil e na América Latina é o da transformação 
social. São demandas semelhantes, porém distintas, de países colonizados em todos 
os sentidos. A visão dos autores é distinta sobre essa questão. Picolotto (2007) registra 
que para Melucci (1989), por exemplo, a própria existência de MS constituídos já altera 
as bases estruturais/estruturantes do sistema social; para Castells essa transformação 
necessariamente exige dois movimentos: não utilizar os mecanismos/instrumentos 
(redes) legitimados coproduzindo, paralelamente, suas próprias redes alternativas com 
base nas identidades coletivas de resistência.
 Um segundo movimento é que estas redes alternativas possam vivenciar todo 
um processo de educação/formação a partir do cotidiano da práxis que oportunize as 
condições (i)materiais necessárias para a construção de um projeto societal endógeno, 
que coloque os sujeitos sociais na condição de agentes dessa transformação. Nesse 
processo poderá reescrever sua própria história e, dentro desse fluxo, redesenhar seu 
“eu” social. A transformação da estrutura social seria uma consequência. Touraine diz 
que os MS são os agentes desejáveis para essa transformação, ocorre que a fragilidade 
política ainda os deixam sem as condições ontológicas e epistemológicas necessárias 
para esse fim.
 De toda maneira, os estudos Neomarxistas aqui apresentados nos ajudam, 
sobretudo, a reconhecer a significativa contribuição da lente histórico-crítica imanente 
na abordagem da leitura de classes deixada como legado de Marx para a humanidade. 
Outra aprendizagem que fica de todos esses olhares e percepções é que o fenômeno 
112
em estudo não é dinâmico apenas em suas etapas de constituição e desenvolvimento 
ao longo da história social. 
 Eles ensinam e qualificam toda uma área do conhecimento que sofre em seu 
DNA de uma herança epistemológica ideologicamente fraturada. Penso que muito 
ainda precisamos avançar para superar todo o processo de negação do potencial social 
emancipador dos sujeitos sociais e, consequentemente, das AC e dos MS. Condição 
histórica que limitou por muito tempo uma construção de base social (e popular) que 
ainda hoje se movimenta no enfrentamento para não ser apropriado pelo sistema 
institucional de base hegemônica. 
 Outra contribuição da abordagem Neomarxista que é contínua se trata do 
alerta para os vários tipos de AC que, trazendo para nossa realidade atual, estão se 
movimentando com bandeiras inconstitucionais. Não se configuram enquanto MS, 
mas representam anseios e interesses de uma parcela significativa da sociedade que 
denuncia um conjunto de visões de mundo que não dialogam com as premissas do bem 
comum, da liberdade, da participação, de democracia. Esses conceitos inclusive estão 
em constante disputa, e a depender do “lugar de fala” as compreensões são alienadas. 
Esse é o cenário contraditório da reconstrução da realidade e de todos os conceitos/
dimensões já tecidos. Nada está dado, tudo em fazimento.
Para compreender de modo mais amplo a contribuição do Marxismo para 
compreensão e conformação do conceito e prática dos MS veja: PICOLOTTO, 
Everton Lazzaretti. Movimentos Sociais: Abordagens Clássicas e Contemporâ-
neas In: CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais, Ano 1, Edição 2, no-
vembro de 2007. p. 156-177. 
Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/csonline/article/view/17048 
BUSQUE POR MAIS
9.2 LEITURA HISTORIOGRÁFICA 
 No processo de construção da compreensão epistemológica da produção sócio-
histórica, histórico-política e sócio-política do conceito dinâmico de MS percorreremos 
agora o olhar da História empreendido pelos pesquisadores Duarte e Meksenas (2008) a 
partir do artigo História e Movimentos Sociais: Possibilidades e Impasses na Constituição 
do Campo do Conhecimento (2007). A intencionalidade maior dos autores foi apresentar 
as possibilidades interpretativas e analíticas do fenômeno pelo prisma da interface 
interdisciplinar operada entre Ciências Sociais e História sem, contudo, a pretensão de 
apresentar uma definição historiográfica do conceito.
 Duarte e Meksenas (2007, p. 121) entendem que o “Ponto de partida é o 
reconhecimento de que o tema dos movimentos sociais está inextricavelmente ligado 
ao trinômio: modernidade, modernismo, modernização, porque ele se configura 
como um problema no contexto da industrialização, da consolidação do capitalismo 
e da configuração da sociedade liberal”. Além deste componente ontológico, a leitura 
proposta faz uma interface significativa entre os MS e a dimensão política local-geral.
 Essa coalizão pressupõem uma leitura ético-política e econômica transversal das 
relações de poder que a leitura de classe operada de modo amplo anteriormente pelos 
113
Neomarxistas já preconizava. As categorias analíticas da modernidade, modernismo e 
modernização formam um conjunto complexo de determinantes históricos que foram 
base para a consolidação da sociedade capitalista. As políticas liberais forjadas nesse 
processo possuem uma visão de mundo, de homem e de realidade alienados em uma 
epistême hegemônica que não permite o diálogo com outras perspectivas.
 Entender os MS nesse contexto epistemológico exige reconhecer que o campo 
político-ideológico interfere radicalmente nos sentidos e significados atribuídos 
socialmente. Compreender esse contexto faz parte da tarefa de compreender a 
pluralidade conceitual de MS e das AC nesta interface, pois é nesse fermento tempo-
espacial que emergem as relações de poder. Foi no âmbito da modernidade que muitas 
necessidades foram criadas/germinadas/produzidas. Dentro desse movimento emerge 
a ideia de contingência, conceito importante para os autores por se tratar de um 
subproduto da modernidade. A partir das diversas contingênciasque os MS surgiram 
como instrumento legítimo do povo afetado pelas exclusões e explorações.
 O contexto da modernidade foi uma das relações sócio-política e econômica 
produzido ao longo da história da humanidade que geraram as condições (i) matérias 
necessárias para a reprodução das desigualdades socioeconômicas, sócio-políticas e 
socioculturais que ainda hoje interferem na sociedade. Uma produção de base intelectual 
e cultural que sistematicamente fomentou conflitos e contradições difíceis de serem 
superadas. Dentro desse fluxo de maximização das necessidades e ausências de direitos 
os MS foram a resposta possível para o enfrentamento.
O Contingente é o instável e o provisório; aquilo que é e pode não ser; o acaso; o vir-a-ser. 
Por isso essa noção comporta pelo menos duas implicações importantes. Antes de tudo, 
contingência é uma situação na qual o sujeito da ação no mundo se vê perdido [...] Por 
outro lado, contingência é o reino das possibilidades, em que tudo pode ser realizado, 
tudo pode ser tentado, tudo pode ser experimentado. (DUARTE; MEKSENAS, 2007, p. 121-
122).
GLOSSÁRIO
 As chaves teóricas produzidas no contexto da Modernidade, Modernismo e 
Modernização são o epicentro de epistemologias baseadas na colonização, exploração e 
subalternização de muitas culturas relegadas a uma situação de invisíveis, de incapazes, 
incompetentes e até não-humanos. A abordagem histórica operada revela uma 
realidade histórico-contextual fundamental para compreensão da complexa produção 
de sentidos e significados que determinaram as relações sociais mais elementares de 
nossa sociedade.
 Mecanismos de controle institucional, jurídicos, políticos, pedagógicos e ideológicos 
que influenciaram todo um conjunto de percepções simbólicas, afetivas, ético-estéticas 
mobilizados para um objetivo: a manutenção do status quo. Essa compreensão considera 
a contribuição dos estudos marxistas, sobretudo, porque “as ações emancipatórias e 
de caráter político nunca foram desconsideradas em favor da análise das estruturas 
econômicas. Para Marx, o político e o econômico formam uma unidade contraditória” 
(DUARTE; MEKSENAS, 2007, p. 123).
 É uma (re)leitura coproduzida a partir de várias retomadas onto-epistemológicas. 
114
Os autores entendem que esse contexto foi legitimado pelas teorias Clássicas onde a 
Sociologia funcionalista e outras abordagens psicológicas foram determinantes para a 
conformação do tecido social. Abordagens produzidas a partir da Escola de Chicago, 
com o protagonismo de autores como o funcionalista Parson “que considerava os 
movimentos sociais como um problema de sociedades anêmicas ou disfuncionais, 
sendo, portanto, carregadas de potencial desagregador, o que impediria a consolidação 
da vida democrática e institucional regular” (DUARTE; MEKSENAS, 2007, p. 127).
Leitura onto-epistemológica: Refere-se a sentidos e significados atribuídos considerando-se 
tanto as dimensões ontológicas quanto epistemológicas de determinado fenômeno. Onto-
lógico: dimensões que remetem a construções ancestrais de base existenciais, por exemplo, 
o homem é um ser ontológico; as emoções; a percepção; a dimensão afetiva. Epistemológi-
co: trata-se de conceitos, práticas e métodos-metodologias produzidas ao longo da história 
da humanidade. 
GLOSSÁRIO
 Como já problematizado, é fato que conceitos e conhecimentos cientificamente 
produzidos dialogam de modo visceral com a ideologia dominante. Naquele momento 
histórico, as abordagens funcionalistas e reformistas tinham um terreno fértil para 
essa reprodução conceitual devido o diálogo com interesses político-ideológicos que 
alienavam as relações sociais. É importante compreender que na centralidade dessas 
compreensões – funcionalista, reformista, neomarxista – as categorias defendidas 
- institucionalização dos MS; MS e AC como anomalias sociais; centralidade da luta 
de classes; foco na relação com o mundo do trabalho fabril ou do reconhecimento 
onto-epistemológico dos MS como um fenômeno dinâmico, de possibilidades - não 
conseguem o definir. 
 Não é uma questão simples de eliminação dos contrários. Também não se trata 
de uma campanha de supervalorização do poder sócio-político dos MS., Entretanto, é 
necessário compreender que a construção sócio-histórica do MS envolve inclusive as 
dinâmicas institucionais e epistemológicas que o negaram desde sua essência. A voz 
silenciada, a necessidade negligenciada, a pobreza produzida a partir dos mecanismos 
de exclusão/dominação, de contingências e a insistente tentativa de torná-lo qualquer 
outra coisa menos o que eles mesmos se autorreferenciam, se autorreconhecem. 
 Quando os autores elencam as categorias onto-epistemológicas da Modernidade, 
Modernismo e Modernização como epicentro da reprodução das pobrezas humanas, 
eles estão valorizando toda uma leitura histórica que perpassa as categorias e rompe 
com toda uma lógica construída. Duarte e Meksenas (2007, p. 129) entenderam que:
[...] a modernização fez com que a objetividade, expres-
sada no saber científico, limitasse os nexos entre conhe-
cimento e ética, pois, à medida que as relações sociais 
de produção capitalistas buscaram reduzir a ciência a 
atividade quase exclusiva da reorganização/reorienta-
ção das forças produtivas, nos propósitos da acumula-
ção do capital, não haveria como pensar nos propósitos 
do conhecimento.
115
 Esse modo de organizar o tecido socioprodutivo, técnico-tecnológico e sociocultural, 
o conhecimento, as regras e normas para manter o controle e a manutenção da 
realidade, chancelou/alienou o status das coisas de modo decisivo: o racional-irracional, 
o verdadeiro-falso, o certo-errado, o legal-ilegal, o formal-informal tinham endereço, cor, 
raça, idade, sexo e religião. O universo simbólico instituído e legitimado na Modernidade 
assumiu contornos eurocêntricos. 
 Neste cenário difuso e contraditório, as aspirações tecidas ao longo do século XX 
– o horizonte utópico da emancipação humana - se tornam projetos longínquos, pois 
“a modernidade, enquanto uma emancipação da modernidade de classe, seria uma 
quimera e, nesse contexto, os movimentos sociais, como movimentos de classe, também 
seriam ilusões”. (DUARTE; MEKSENAS, 2007, p. 130). A construção de uma sociedade 
que valorizasse as pessoas, independente da classe social e que rompesse com a lógica 
estabelecida no “ventre” clássico, retórico e abstrato, foi abortado por uma Modernidade 
ainda mais cruel e desagregadora do que o contexto político vivido no século XIX. 
 A abordagem historiográfica busca compreender esse processo em interface 
com o entendimento do que é um MS. Esse movimento reflexivo os remete a inter-
relação com a própria constituição do campo da História Social, pois essa Ciência se (re)
faz através dos seus questionamentos, dos fenômenos que ela toma por estudo, das 
abordagens que produz, das dúvidas e incertezas que a mobilizam. Essa característica 
dinâmica e inacabada, conforme os autores, se aproxima da própria definição de MS. 
 Essa postura investigativa da História enquanto um campo do conhecimento 
valoriza o potencial semântico e interpretativo que envolve o fenômeno em estudo, pois, 
de toda forma, “Independentemente de cada caminho particular, o que fica evidente 
é que o tema dos movimentos sociais tem se expandido continuamente, abarcando 
as novas temáticas e as novas indagações que o presente tem dirigido ao passado” 
(DUARTE; MEKSENAS, 2007, p. 136).
 Os historiadores e cientistas sociais buscam através de uma leitura interdisciplinar 
compreender o processo de construção do conceito e da categoria analítica de MS, 
nessa trajetória percebem que a chave-teórica da Modernidade foi determinante para 
sua delineação. Penso que essa concepção vai mais longe, ganha contornos ainda mais 
expressivos quando estabelecemos diálogo com o Aníbal Quijano, sociólogo peruano, 
que cunhou a categoria “descolonialidade do poder”. Quijano (2005), mobilizado 
juntamente com outras/os estudiosas/os latino-americanos, se debruçaramem torno 
da categoria Modernidade. 
 Esse é um link interessante de se estabelecer para compreender um pouco mais 
sobre esse contexto sócio-político sem, contudo, detalhá-lo, pois esse viés será retomado 
nos capítulos seguintes do livro. Aníbal Quijano opera toda uma articulação teórica onto-
epistemológica para delinear aspectos importantes desse processo de construção de 
contingências elencado pelos autores aqui em diálogo. Sobre o processo de construção 
dessa nova ordem denominada Modernismo ele diz que:
O fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a 
culminação de uma trajetória civilizatória desde um es-
tado de natureza, levou-os também a pensar-se como 
os modernos da humanidade e de sua história, isto é, 
como o novo e ao mesmo tempo o mais avançado da 
espécie. Mas já que ao mesmo tempo atribuíam ao res-
116
tante da espécie o pertencimento a uma categoria, por 
natureza, inferior e por isso anterior, isto é, o passado no 
processo da espécie, os europeus imaginaram também 
serem não apenas os portadores exclusivos de tal mo-
dernidade, mas igualmente seus exclusivos criadores e 
protagonistas. O notável disso não é que os europeus se 
imaginaram e pensaram a si mesmos e ao restante da 
espécie desse modo - isso não é um privilégio dos euro-
peus - mas o fato de que foram capazes de difundir e de 
estabelecer essa perspectiva histórica como hegemô-
nica dentro do novo universo intersubjetivo do padrão 
mundial do poder. (QUIJANO, 2011, p. 111-112).
 O universo de contingências produzido pela Modernidade representa toda uma 
estratégia racional de negação do outro sociocultural. O modus operandi que essa nova 
ordem social foi se legitimando em cada contexto assumiu configurações distintas – 
escravidão, colonialismo, patriarcado. O fato do conceito de MS ter como base as leituras 
eurocêntricas, com toda sua força ideológica, com o poder do saber que eles detêm, 
influenciou e continua influenciando, pois está marcado em seu DNA teórico.
BAUER, Caroline Silveira; PINNOW, Rodrigo Vieira. Debates historiográficos so-
bre a transição da Idade Média para a Idade Moderna In: BAUER, C. S.; PIN-
NOW, R. V. História Moderna. Porto Alegre: SAGAH, 2019. Disponível na Biblio-
teca Virtual Unica:
https: // integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786581492762/
cfi/2!/4/4@0.00:41.2 
BUSQUE POR MAIS
 As abordagens que viemos estudando neste terceiro capítulo, tratam-se 
de releituras contextuais - filosóficas, sociológicas, psicológicas, antropológicas, 
pedagógicas – pautadas em outras estéticas onto-epistemológica. Essa estratégia de 
resistência e reinvenção teóricas é uma das tarefas epistemológicas de todo profissional 
comprometido com a atualização de sua área de conhecimento e com sua realidade. 
Os autores deixam em evidência que tanto o campo da História Social quanto o estudo 
sobre os MS precisam retomar leituras filosóficas de base humanística para reconfigurar 
campos e conceitos.
 É certo que a historiografia não é um campo que tenha se ocupado em delinear um 
conceito de MS, mas se preocupa com as relações estabelecidas no campo da política. 
Esses estudos buscam compreender os meandros dos mecanismos, das finalidades e 
intencionalidades, dos ciclos, suas influências e interferências, os intercâmbios - de um 
ponto de vista mais geral e teórico e de um ponto de vista mais concreto e imediato. 
Esse movimento dinâmico é estratégico para compreender o campo minado onde as 
relações sociais se (des)encontram.
 O campo político é atravessado por relações assimétricas de poder, estas, por 
sua vez, reproduzem um campo minado de conflitos que se desdobram infinitamente 
nas teias de (re)produção da vida social, econômica, cultural e política das pessoas 
117
comuns. Dentro desse movimento complexo e contraditório as mazelas se reproduzem 
assustadoramente e o distanciamento entre o real e o ideal dentro dos parâmetros 
democráticos que buscamos, e com os quais temos uma relação efêmera devido curto 
tempo de vivência, já não é superado facilmente. 
 É precisamente neste vácuo teórico-prático e epistemológico em torno da 
dimensão constitutiva da política e seus desdobramentos existenciais que os historiadores 
buscam se aproximar, compreender, reelaborar e ampliar as possibilidades semânticas e 
interpretativas do conceito de MS. O campo político é a arena de embate entre Estado e 
sociedade civil. Neste processo (anti)dialógico que as AC emergem com força suficiente 
para criar um MS que faça o enfrentamento coletivo necessário contra uma ordem social 
desumana que forja continuadamente contingências e desigualdades.
 Diante dessa realidade, os autores finalizam sua reflexão, e eu junto com eles, 
compartilhando uma percepção inspiradora sobre o fenômeno em estudo, deixando-o 
aberto às possibilidades: 
E o que são afinal os movimentos sociais, partindo-se de 
uma história social, de uma história preocupada com os 
de baixo, senão o exercício contínuo – pela ação e pela 
palavra – da construção de contra-ritos e contra-teatros, 
contestando, questionando e indagando o poder em 
tempos de modernidade? (DUARTE; MEKSENAS, 2007, 
p. 139). 
 A capacidade de mobilização de contramarchas à realidade de exclusão produzida 
pelas assimetrias histórico-político-econômicas e socioculturais é uma força motriz 
basal às Ações Coletivas organizadas em Movimentos Sociais. A reinvenção da realidade 
perpassa por essas (des)construções e (re)construções visando rever as relações já 
estabelecidas. Nesse fluxo temporal há possibilidades de coproduzir novos critérios, 
novas rotinas e novas possibilidades de fortalecer os laços de empatia e cooperação 
entre as pessoas de diferentes culturas e lugares sociais. Esse é um desafio que nos 
acompanha.
9.3 MOVIMENTO SOCIAL COMO CATEGORIA ANALÍTICA 
 O estudo sobre os MS e as AC neste terceiro momento do capitulo deseja trazer 
olhares críticos em torno da construção de um conceito que não se fecha em si mesmo. 
Sua dinamicidade conceitual complexifica a cada releitura, a cada abordagem, a cada 
interface, a cada categoria e/ou dimensão social, cultural, política e econômica que se 
valorize. Nenhuma percepção está livre das contradições que isso pode representar. É 
dentro dessa teia de (des)construção e (re)construção que vamos produzindo a realidade.
 Neste momento, com GOSS e PRUDENCIO (2004), mergulhamos no conceito de 
movimentos sociais revisitado a partir da abordagem da Sociologia Política. As autoras 
abrem sua reflexão chamando a atenção para uma dimensão intelectual-orgânica 
inegável e importante que precisa ser reconhecida e considerada nas (re)leituras das 
obras que acolhemos, incluindo a que nós mesmos coproduzimos. 
 Muitas releituras sobre conceitos, dimensões e práticas dos MS foram/são tecidas 
de modo orgânico por pesquisadoras/es-militantes. O conteúdo semântico endógeno 
de base ontológica se torna parte importante das análises, por isso há que se atentar 
118
para:
Um frequente engajamento político dos pesquisadores 
da área também ajuda a tornar a utilização do conceito 
bastante propositiva, ou seja, há muitas expectativas por 
parte de pesquisadores-militantes em relação ao poder 
de transformação dos movimentos, perdendo-se muitas 
vezes de vista a capacidade de avaliar a dimensão real 
de suas potencialidades. (GOSS; PRUDENCIO, 2004, p. 
76).
 A presença cada vez mais significativa de pesquisadores-militantes evidencia não 
somente o engajamento de pesquisadoras/es no campo disputado das Ciências Sociais 
e Humanas, mas, sobretudo, a ocupação popular da universidade e grupos de pesquisas 
por pessoas que fazem parte de um gueto de pessoas que foram mantidos fora deste 
universo de poder-saber. Pessoas que militam em Movimentos e que trazem para a 
academia, para as Ciências, o conteúdo vivo experienciado fora dos muros institucionais 
da Universidade:
Existe uma densa e intensa rede de comunicações in-
tramembros, militantes com militantes. São produzidos 
textos, boletins, artigos etc. No Brasil, umasignificativa 
parte desses militantes – denominados ativistas – tem 
chegado aos cursos de pós-graduação e, mais recente-
mente, ocupam posições como professores e pesquisa-
dores nas universidades, especialmente as novas, cria-
das nessa década na área de ciências humanas. Teses 
e dissertações vêm sendo produzidas por esses militan-
tes/ativistas/ pesquisadores. Muitas delas são parte das 
histórias que eles próprios vivenciaram. (GOHN, 2011, p. 
338).
 Nas últimas duas décadas as políticas públicas de educação, em todos os níveis, 
foram fundamentais para aproximação da universidade à comunidade, à periferia. Essas 
lentes marcadas por memórias afetivas de saberes ancestrais, de saberes da experiência 
realmente transformam conceitos, estruturas, metodologias e (re)criam abordagens sob 
outras perspectivas. A dinamicidade/complexidade da construção de conhecimentos 
exige reconhecer esta realidade assombrosa onde a negociação entre saberes distintos 
é basal.
 Penso que a fragilidade dos conceitos e dimensões historicamente tecidos se 
estabeleceu, sobretudo, no processo de constituição limitado a uma só perspectiva que 
se autodeclarou universal. Há que se preocupar com alguns discursos generalizantes que 
buscam desintegrar dimensões indissociáveis em busca de sintetizar relações, sentidos 
e significados mais amplos. 
 A observação feita pelas autoras chama a atenção para o conteúdo orgânico 
da experiência militante das/os pesquisadoras/es. Isso é importante por revelar que o 
conhecimento é contextual, localizado em um determinado tempo-espaço, e também 
reconhece que há o lugar de fala do/a pesquisador/a que é único, singular-plural.
119
Pesquisador/a-militante: Esse ator social que começou a ocupar o cenário acadêmico de 
modo significativo possui relação intrínseca com o conceito/compreensão de intelectual-
-orgânico em Gramsci, mas nos contempla mais sua releitura pelo educador-pesquisador 
brasileiro Paulo Freire que reflete “sobre a responsabilidade sócio-política das/os pesqui-
sadoras/es, professoras/es, educadoras/es e intelectuais em geral. É precisamente sobre o 
papel que ela ou ele realiza tanto em apoiar/cimentar os arranjos hegemônicos existentes 
ou em desafiá-los [...] A transformação que Freire advoga está predicada na justiça so-
cial. Nesse sentido, o intelectual é mais propriamente um intelectual transformador [...]”. 
(MAYO, 2010, p. 227). Nesse sentido, qual a função social de nossos estudos, pesquisas e 
construção de conhecimento? Amalgamar a cultura hegemônica que rotula, segrega, 
aliena e impede a vida em abundância à todas, ou desconstruir essa cultura e tecer rela-
ções de reciprocidade, de solidariedade e justiça social? Qual é o seu papel nesse proces-
so socióloga/o, professor/a, pesquisador/a, cidadã/cidadão do mundo?
VAMOS PENSAR?
 Abrir a discussão em torno da construção/compreensão do conceito dinâmico, 
plural e aberto a possibilidades dos MS e das AC com esse destaque nos contempla na 
medida em que traz mais elementos a valorizar na complexa coprodução intelectual 
engajada. As autoras revisitam o conceito de MS em diálogo com Touraine (2003); Melucci 
(1999) e Gohn (1997). Na releitura destas obras operada pelas autoras fica a compreensão 
de que: “O sujeito, ou a construção do indivíduo como ator, só existe como movimento 
social, com contestação da lógica da ordem”. (GOSS; PRUDENCIO, 2004, p. 80).
 A dimensão política do ser social, nesta perspectiva, é emanada da atuação ativa 
mediada por algo maior que si mesmo. Esse ingrediente transformador/contestador está 
no epicentro de constituição de todo MS que tenha em sua gênese o interesse coletivo 
como base. A interface operada pelo conteúdo da produção acadêmica militante nesse 
processo pode qualificar o conceito analítico uma vez que as realidades de luta em 
estudo intercomunicam-se através do horizonte comum: transformação social.
 Dentro do movimento dinâmico de intercomunicação entre lutas, pautas e 
contestação da ordem vigente, as autoras elegem as redes de movimentos sociais como 
um conjunto de AC reorganizadas de modo contínuo, uma vez que:
O padrão organizacional da ação coletiva contemporâ-
nea é a rede de movimentos, uma rede de grupos com-
partilhando uma cultura de movimento e uma identida-
de coletiva. Como os atores coletivos são “temporários”, 
essas redes fazem e desfazem seus nós, tornando pro-
blemática a definição de movimentos sociais como sis-
temas fechados. Em outros termos, o campo de ação 
permanece, mas não seus atores. (GOSS; PRUDENCIO, 
2004, p. 81).
 Dentro do fluxo de realimentação, fortalecimento e ampliação das AC organizadas 
através das redes dois componentes são vitais: a latência e a visibilidade. Neste processo, 
os atores sociais “temporários” circulam devido uma série de situações-limites dando 
espaço para uma rotatividade comum aos MS. Realidade que lideranças e participantes 
convivem e administram de modo a garantir que a força política não desestabilize, não 
120
se perca. O horizonte reivindicador permanece ativo, ainda que as pessoas se afastem.
Situações-limites: São constituídas por contradições que envolvem os indivíduos, produzin-
do-lhes uma aderência aos fatos e, ao mesmo tempo, levando-os a perceberem como fa-
talismo aquilo que lhes está acontecendo. Como não conseguem afastar-se disso, nem se 
percebem com algum empowerment, aceitam o que lhes é imposto, submetendo-se aos 
acontecimentos. Eles não têm consciência de sua submissão porque as próprias situações-li-
mites fazem com que cada um sinta-se impotente diante do que lhe aconteceu. (OSOWSKI, 
2010, p. 375).
FIQUE ATENTO
 Nesta configuração, tanto os MS quanto as AC assumem contornos maximizados 
pela possibilidade de continuidade do horizonte utópico transcender a presença 
física dos participantes que o gestaram. Esse universo de relações complexas onde as 
aproximações entre diferentes modos de pensar o mundo se tocam, se interpenetram 
e se reinventam nas trilhas da rede que amplia a voz coletiva. Aqui a identidade coletiva 
também se ressignifica assumindo funções de intercâmbios, trocas e resistência a lógica 
capitalista.
 As AC nesse espaço virtual das redes são responsáveis por retroalimentar e ampliar 
a intercomunicação entre as diferentes redes de MS. Não há mais a ideia de um projeto, 
mas projetos, não há uma identidade coletiva, mas identidades coletivas, o objetivo 
central dos MS em rede é a luta contra a ordem vigente. Isso significa incorporar um 
significativo conjunto de bandeiras, discursos e reflexões, conceitos, metas, mediações, 
abordagens.
 Nesta perspectiva, dialogando com Picolotto (2007) e Castells (2002), “Os sujeitos 
potenciais da Era da Informação passam a ser os movimentos sociais. Mas, no entanto, 
só o serão na prática se conseguirem ser produtores e distribuidores de códigos culturais 
alternativos às redes de organização social já existentes”. (PICOLOTTO, 2007, p. 168). A 
arena social agora é a Sociedade da Informação, das tecnologias, dos espaços híbridos e 
multimodais. Se atualizar nesse contexto se torna mais um desafio aos MS e as AC.
Espaços híbridos e multimodais
HÍBRIDO: “[...] a partir de uma "sociologia aberta" nas palavras de Busino (2003), conec-
tando, e não separando, os domínios teóricos a fim de apresentar uma visão ampla 
pressupondo uma interrelação de várias formas sociais e de pensamentos. O híbrido 
também pode ser pensado como uma metáfora tanto da realidade quanto da própria 
ciência. Destacamos que o termo híbrido potencializa os paradoxos ou as interrogações, 
sendo essas interrogações que nos permitem pensar de forma híbrida como meio de 
conhecimento e como resultado da realidade social no sentido proposto por Descola 
(2014), tendo como base a compreensão de "hibridização do mundo". Ou seja, as sobre-
posições do mundo dos indivíduos. A partir dessa dimensão contemporânea, presencia-
mos uma hibridização que está cada vez mais presente nos diversos setores de nossa 
sociedade, graças também aos efeitosdas tecnologias que possibilitam uma outra con-
figuração de espaço e tempo e modos de estar juntos”. (BACKES; LA ROCCA; CARNEIRO, 
GLOSSÁRIO
121
2019, p. 641-642).
MULTIMODAL: “Para Schlemmer, Backes e La Rocca (2016) consiste em um contexto que 
integra diferentes modalidades em caráter de continuidade e prolongamento da inte-
ração, para o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, para os 
autores, os processos são desenvolvidos por meio de livros, aplicações, jogos, dispositivos 
móveis tanto em sala de aula quanto nos diferentes espaços da cidade”. (BACKES; LA 
ROCCA; CARNEIRO, 2019, p. 642).
BACKES; LA ROCCA; CARNEIRO. Configuração do espaço híbrido e multimodal: Literatu-
ralização das Ciências na Educação Superior In: Revista Educação Unisinos – v. 23, n. 4, 
outubro-dezembro 2019. 
 Esse fenômeno midiático/tecnológico onde as redes operam é uma realidade que 
a sociedade como um todo ainda não assimilou. Todos estão aprendendo ao mesmo 
tempo, mas não com a mesma rapidez, qualidade, acesso e conhecimento. É tudo muito 
rápido por um lado e, ao mesmo tempo, debilitado e descoordenado por outro. Acesso a 
internet de qualidade, a dispositivos digitais em bom estado e conhecimento básico de 
utilização dos programas computacionais é um luxo para poucos ainda. 
 Em tempos de pandemia o gerenciamento das redes de MS estão disputando o 
sinal frágil de internet com as escolas, as Instituições governamentais, com os coletivos 
de diversas frentes: lazer, entretenimento, esporte, culinária, dança, etc. Pensar esse 
contexto socio-tecnológico e a sociedade como um todo remete também olhar para 
a função social dos MS e a operacionalização das AC em rede. Apesar de não ser o foco 
nesse momento, é oportuno abrir essa janela epistemológica como um conteúdo vivo 
que exige atenção.
 As autoras com certeza não lançaram esse olhar, contudo esse é o nosso contexto, 
de epidemia do Covid-19. Essa discussão abre um leque de possibilidades para o estudo 
dos MS enquanto categoria analítica - repensar hoje a realidade dos MS organizados em 
redes que tem nas AC um poderoso “meio de comunicação” (GOSS; PRUDENCIO, 2004). 
Em nossa realidade, isso envolve considerar as instituições públicas sucateadas como, 
por exemplo, as escolas que assumiram a tarefa de administrar redes interativas para 
atender alunos com pouco ou nenhum acesso ou experiência com o universo online.
 Um espaço de uso (des)controlado que (re)produz (não)verdades ideológicas 
quase diariamente confundindo, manipulando e polarizando radicalmente a população. 
O conceito de comunicação precisa ser redefinido de acordo com o movimento que as 
novas configurações tecnológicas emergem/ampliam. De acordo com a nova ordem que 
se configura. Picolotto (2007), dialogando com Castells (2002), problematiza também essa 
realidade das redes. Nesse processo, entende que “as redes fazem mais do que organizar 
atividades e compartilhar informações, elas representam os verdadeiros produtores e 
distribuidores de códigos culturais. Esta produção de novos códigos culturais, seria o 
contraponto atual à rede de dominação global”. (PICOLOTTO, 2007, p. 170). 
 Dentro desse contexto de interrelações socioculturais complexas, baseadas em 
relações assimétricas, verticalizadas, polarizadas, onde a democracia ainda é um conceito, 
não uma prática, mas que está em constante transformação, os MS buscam se articular 
em redes de colaboração que nem sempre fluem. As redes locais parecem ser ainda 
mais fragilizadas que as nacionais e internacionais, devido limitado acesso aos artefatos 
digitais, a uma rede de internet acessível e o contexto de seus participantes também 
122
imersos em situações-limites que dificultam a permanência, a manutenção e o foco dos 
grupos.
 As autoras fecham sua reflexão reconhecendo que “[...] (Seria necessário) realizar 
uma genealogia do termo movimentos sociais na sociologia, procurando verificar 
as diferenças na maneira de nomeá-lo e observar os variados contextos em que foi 
produzido por diferentes pesquisadores” (GOSS; PRUDENCIO, 2004, p. 89). Uma tarefa 
epistemológica de fôlego que fica como convite e desafio para futuros estudos/pesquisas. 
123
FIXANDO O CONTEÚDO
1. “Considera-se que o estudo dos movimentos sociais sob a abordagem marxista centra-
se na análise dos processos históricos globais, nas contradições materiais existentes e nas 
lutas entre as principais classes sociais presentes no processo de produção [...] Esta luta 
é concebida como o “motor da história”, cujo resultado ancora-se na suposição de que 
as contradições geradas por ela colaboram para a organização política do proletariado, 
permitindo criar as condições necessárias para a superação da ordem capitalista” 
(PICOLOTTO, 2007, p. 158).
Com base nessa afirmação sobre a abordagem marxista marque (V) para as sentenças 
corretas e (F) para as incorretas de acordo com a problematização feita ao longo do 
tópico 3.1: 
( ) As análises tecidas pela sociologia na contemporaneidade têm no estudo das 
macroestruturas a chave teórica para a abordagem interpretativa da luta de classe. 
( ) A luta de classes é uma das chaves teóricas que os NMS utilizam em interface com 
outras categorias como gênero e raça. 
( ) As AC são organizações tão importantes quanto os MS para a mobilização necessária 
às reivindicações sociais. 
( ) O “motor da história” não se resume a uma categoria, mas um conjunto de elementos 
onto-epistemológicos que inspiram e projetam a humanidade. 
( ) A ordem capitalista se ajusta as necessidades das diferentes classes sociais sempre 
que os MS se mobilizam por direitos inalienáveis. 
a) V – V – F – F – V.
b) F – F – V – V – F.
c) F – V – V – V – F.
d) V – V – V -V – F.
e) F – V – V – F – F.
2. Conforme Picolotto (2007) qual foi a maior contribuição da abordagem marxista ao 
estudo sociológico dos MS?
a) Foi estabelecer a relação entre a teorização e ação política dos movimentos sociais 
através do conceito de práxis social. Esta foi entendida como a transformação do social.
b) Evidenciar que a luta de classe é o motor da história.
c) A organização dos trabalhadores contra o Estado.
d) Estabelecer critérios para organização dos MS.
e) Foi atribuir as AC uma função primordial na articulação entre as necessidades da 
sociedade e a formação de políticas para o povo.
3. De modo geral, o que são os NMS?
a) São grupos originados por novas AC que defendem bandeiras de luta que foram 
124
enfraquecendo ao longo da história.
b) São coletivos organizados em uma nova configuração política, de intencionalidades 
distintas, que se mobilizam de modo articulado em prol do fortalecimento de demandas 
sociais, culturais e históricas não superadas que impedem a melhoria da qualidade de 
vida social. 
c) São grupos organizados em prol dos direitos coletivos dos afro descendentes.
d) É um conjunto de AC organizadas para o embate político de ação reivindicatória das 
classes subalternas.
e) São coletivos de MS ressignificados que incorporaram outras demandas culturais de 
modo a contemplar a sociedade como um todo.
4. A releitura marxista feita por Picolotto (2007) traz ampliações epistemológicas em 
relação a teoria ortodoxa elaborada por Marx e Engels. Quais são elas?
a) A práxis se torna a categoria analítica de base para o estudo dos MS e das AC; a dimensão 
macro e microestrutura assumem contornos convergentes ajudando a superar a leitura 
mono-ateral da luta de classes.
b) A categoria analítica da luta de classe é superada, pois não ajuda mais compreender 
a complexidade da realidade atual; as AC são dimensões importantes, mas não mais 
centrais para a compreensão dos NMS.
c) A ampliação do poder de ação política do sujeito social e da compreensão desse sujeito 
como um ser plural, de possibilidades, analisados pela capacidade de ações e identidades 
coletivas e não mais determinados pela macroestrutura; a dimensão política rompe com 
as barreiras do público e adentra as ações microsituadas, no cotidianodas pessoas.
d) O conceito de ideologia é ampliado, contudo as relações macro estruturantes 
permanecem agindo sobre o universo das microestruturas. Nesse contexto as redes 
interativas alargam o poder político emanado dos MS fortalecendo o sujeito coletivo.
e) A ação política do sujeito social é valorizado a partir da coletividade que ele representa, 
estabelecendo a interface entre as classes sociais e a ordem estabelecida.
5. As possibilidades de reinvenção e fortalecimento dos MS a partir do intercâmbio 
promovido pelas redes tecnológicas são inegáveis. Com essa retomada epistemológica 
os sentidos/significados da categoria analítica e interpretativa dos NMS também foi 
atualizada pela interface cultural valorizada ao lado da dimensão social, ambiental e a 
ético-política. Dimensões que qualificam o sentido histórico do que vem sendo os MS, 
com a preocupação ontológica do “lugar de fala”. 
De acordo com essa realidade, podemos afirmar que os neomarxistas compreendem os 
MS como:
a) Grupos organizados com base em pressupostos teórico-práticos que superam a 
dicotomia entre classes sociais e lugar de fala. Nesse sentido, os MS se tornam coletivos 
que acolhem várias demandas sociais, culturais e econômicas colocando-as em diálogo 
com as políticas institucionais visando a transformação social. 
b) Grupos que se articulam em torno da nova configuração mundial buscando parcerias, 
intercâmbios e incentivos para mobilização de recursos necessários a articulação política 
dos coletivos.
125
c) São forças coletivas que acolhem distintas demandas de âmbito cultural, social, 
econômico e ambiental com vistas ao enfrentamento da luta de classes estabelecida 
em nossa sociedade.
d) Grupos heterogêneos que se articulam em torno de dimensões essenciais ao existir 
com o ponto de partida alicerçado nas relações ontológicas referenciadas pelo lugar de 
fala de cada coletivo buscando acolher e representar a diversidade e as diferenças em 
prol de um projeto social coletivo endógeno para a transformação social.
e) São redes de coletivos reorganizados a partir dos aparatos tecnológicos que ampliam 
suas forças políticas na busca da transformação do tecido social.
6. A abordagem historiográfica feita por Duarte e Meksenas (2007) no estudo dos 
MS foi realizada a partir da interface epistemológica da Modernidade, Modernismo e 
Modernização. Quais os desdobramentos dessa relação para o universo de criação e 
compreensão dos MS hoje? 
a)O campo político-ideológico interfere radicalmente nos sentidos e significados 
atribuídos socialmente; Produção sistemática de contingências - epicentro da 
reprodução das pobrezas humanas. Razão sem ética - alienação à produção capitalista 
da Modernização. A emancipação humana é um projeto ignorado. MS percebido como 
espaços de resistência contra-hegemônica. Carência de revisões e ressignificações 
conceituais filosóficas críticas para romper essa lógica.
b) Organização dos MS em sintonia com a dinâmica de reestruturação social promovida 
pela Modernidade. Relação endógena entre produção capitalista e construção do 
conhecimento racional. Construção social de uma abordagem ética para a relação 
produção-sociedade. MS percebido como agente de desenvolvimento da comunidade. 
c) A sociedade é organizada de acordo com os ditames modernos da produção 
capitalista. A ciência nesse processo legitima a alienação do conhecimento em prol das 
necessidades da sociedade. As relações político-ideológicas não interferem nas relações 
socioculturais. Há espaço para o protagonismo social que dispensa a presença dos MS. 
O contexto de modernização amplia as possibilidades de melhoria da qualidade de vida 
da população em geral.
d) A ordem social estabelecida promove relações horizontais entre capital e os sujeitos 
sociais. A sociedade capitalista favorece a produção de trabalho e igualdade social. 
A abordagem científica legítima a produção de conhecimento em interface com 
dimensões éticas que tenham como horizonte a emancipação humana.
e) A historiografia não conseguiu trazer/elencar dimensões/evidências sociais, históricas, 
culturais e políticas capazes de apresentar com convicção uma visão coerente sobre os 
desdobramentos da Modernidade, Modernismo, Modernização nem para a sociedade 
como um todo, nem para a construção de uma compreensão de MS.
7. As autoras Goss e Prudencio (2004) trouxeram algumas dimensões revisitadas em 
torno da construção da categoria analítica dos MS. A abordagem da sociologia política 
tecida por elas evidenciou alguns desafios para a construção/compreensão do conceito 
bem como das possibilidades dos MS na sociedade. Quais são eles?
a) A sociologia política dialoga com a construção militante de conceitos, sentidos e 
significados, isso dificulta a análise crítica dos fenômenos sociais. A leitura polissêmica 
126
operada não valoriza os distintos olhares sobre o fenômeno. O projeto da transformação 
social está condicionado ao poder das AC, não do MS.
b) A abordagem sociológica sobre os MS carece de aprofundamento em bases 
epistemológicas tradicionais – é preciso retornar aos clássicos. A relação pesquisador-
objeto é estabelecida de acordo com protocolos empíricos pouco ortodoxos. O conceito 
de MS limita-se a sua função utópica. A AC é o gérmen de toda confusão conceitual em 
torno dos MS. 
c) A construção do conceito perde em dinamicidade devido a falta de experiência/
relação das/os pesquisadoras/es com a temática. A falta de objetividade está localizada 
na ausência de inter-relações epistemológicas. O potencial revolucionário dos MS é 
ignorado nas pesquisas sociológicas.
d) Os aspectos político-ideológicos interferem na construção conceitual do fenômeno 
empírico. A confusão teórico-empírica se encontra na releitura deslocada dos clássicos. 
O pesquisador/militante é fundamental para revisitação do conceito e práticas dos MS. 
As redes de comunicação dos MS não têm relação com as AC.
e) Releituras de pesquisadoras/es-militantes romantizam a (re)formulação conceitual 
do fenômeno. Produção de uma narrativa conceitual tendenciosa que promove uma 
supervalorização do potencial transformador/revolucionário dos MS. Leitura científica 
situada na relação endógena do pesquisador com o campo empírico – relação 
pesquisador-objeto precisa ser revisto/reavaliado. 
8. Com base nas leituras propostas nesse capítulo, podemos afirmar que a Pesquisa 
Sociológica possui muitas possibilidades analítico-interpretativas. Os fenômenos 
humano, social, cultural, político, ético, estético e histórico que perpassam tais leituras 
estão molhados pela singularidade/particularidade inerente as experiências individuais 
e coletivas produzidas pela/o pesquisadora/pesquisador. Diante dessa premissa, como 
lidar com a relação complexa entre Pesquisador x Objeto cindida pela lógica da razão 
eurocêntrica?
a) A objetividade é uma particularidade imperativa da pesquisa científica em qualquer 
área, seja das Ciências Humanas e Sociais ou das Exatas. Nesse sentido nossa postura 
sempre carece estar alinhada com um distanciamento físico, emocional e psicológico. 
Enfrentar essa lógica representa a quebra de um princípio básico para validação/
aceitação da pesquisa que estamos realizando. Diante dessa realidade é necessário 
manter toda neutralidade possível diante da produção do conhecimento.
b) O conhecimento científico carece estar em constante revisão, retomadas e 
ressignificações visando atender a dinamicidade histórico-social vivida pela sociedade 
contemporânea. As relações que envolvem toda essa dinâmica está sendo um campo 
de disputa em que poderes universalizantes estão sendo questionados. Dentro dessa 
dinâmica a relação pesquisador x objeto e objetividade são temas em (des)construção e 
(re)construção. Outros prismas estão ensinando que é possível ser objetivo sem a perder 
a empatia, a solidariedade e o comprometimento com a realidade em estudo.
c) As Ciências Sociais, Políticas e Humanas assumem uma postura diferenciada 
das Ciências Exatas diante da produçãodo conhecimento pela condição/relação 
social, cultural e humana mobilizada para compreensão dos fenômenos estudados. 
Esse processo muitas vezes é denunciado como questionável pela aproximação do 
pesquisador com a realidade estudada. Essa é uma questão ainda mal resolvida que 
127
carece ser enfrentada caso contrário a Sociologia pode perder o status de Ciência.
d) Não existe relação mal resolvida na Sociologia no que tange os critérios básicos 
delineados para validação de uma pesquisa científica séria. A objetividade e a relação 
pesquisador x objeto são inalienáveis, insuperáveis e inquestionáveis. As abordagens 
que defendem o contrário são expressões fragmentadas sem fundamentação teórica 
de base universalizante que possam trazer evidências da necessidade de mudança das 
bases teóricas estabelecidas.
e) Diante dessa realidade cabe a Sociologia se apoiar nas demais Ciências para buscar 
solucionar a questão a ser reelaborada de modo integrado. Enquanto profissionais buscar 
rever nossas verdades, conceitos estabelecidos em diálogo com diferentes olhares. 
128
MOVIMENTOS SOCIAIS
 NA INTERFACE COM OS 
MOVIMENTOS 
129
10.1 OS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS (NMS) 
 Ao longo da história da sociedade, as Ciências Sociais e Humanas ao se dedicarem 
sistematicamente em estudos e pesquisas sobre os distintos fenômenos socioculturais 
e sócio-políticos foram sendo revisitadas, um movimento que as reconfigurou e 
ressignificou enquanto área de conhecimento. Um conhecimento que não se autodefine 
enquanto uma verdade estática sobre a realidade, mas como percepções multifacetas 
da realidade e dos fenômenos humanos coletivamente produzidos.
 A partir deste reconhecimento estamos lançando um olhar plural e aberto sobre 
as dimensões constitutivas dos MS e das AC. Estudar sobre os MS na interface com os 
Movimentos evidencia um processo de intercâmbios entre lugares e tempos de aprender 
e ensinar que acolhem abordagens e perspectivas epistemológicas distintas. 
Um movimento dinâmico que nos coloca na posição de coparticipantes na produção 
dos sentidos e significados socialmente construídos. Enquanto pesquisadoras/es e 
estudantes, estamos aprendendo e ensinando que as Ciências Sociais e Humanas são 
projetos que carecem constantemente ser revisitados-revistos. Desse modo, além dos 
conteúdos, visões de mundo são reelaboradas.
 Até o momento vimos as diferentes abordagens teórico-epistemológicas 
que fizeram dos MS uma categoria analítica dinâmica que acolhe muitos sentidos/
significados. A partir dessa compreensão elaborada avançamos para nos aproximar 
e compreender algumas interfaces e configurações estabelecidas por diferentes MS. 
Neste quarto capítulo faremos um mergulho epistemológico de fôlego nas seguintes 
dimensões: os Novos Movimentos Sociais (NMS); a Relação Movimentos Sociais e 
Educação e os Movimentos Sociais Conectados (MSC). 
 Essas temáticas estabelecem interfaces com dimensões já pontuadas nos 
capítulos anteriores, contudo, a intencionalidade é problematizá-las de modo a ampliar 
os conhecimentos em torno de categorias essenciais no estudo dos MS e das AC. 
Esse é o nosso desafio, retomar dimensões importantes sem, no entanto, esgotá-las. 
Estudar fenômenos sociais e políticos exige essas releituras e reelaborações contínuas. A 
Sociologia se fortalece nesse processo complexo.
APRESENTAÇÃO 
 No tópico 3.1 do capítulo anterior estudamos sobre a Abordagem Marxista onde 
vimos falar sobre os Novos Movimentos Sociais (NMS), dialogando com Gohn (1997) e 
Picolotto (2007). Neste momento retomaremos esses diálogos em interface com outros 
que possam colaborar com o desafio de ampliar nossa compreensão sobre as relações, 
as características, as dimensões, os desafios, limites e possibilidades das metamorfoses 
vividas pelas AC e MS ao longo de seu processo de (des)construção, (re)construção, (re)
afirmação e (re)significação.
 Até o momento nossos estudos buscaram compreender o próprio conceito de MS, 
repensando, afinal, o que são esses Movimentos? Que tipo de AC promove a formação 
de um MS? Quais determinantes sócio-históricos e sócio-políticos os atravessam? Quais 
as principais abordagens epistemológicas se dedicaram ao seu desvelamento; o que 
fizeram do conceito de MS? E, mais importante, o que seus achados (e perdidos, lacunas, 
hiatos, ideologias) emprestaram à reformulação do conceito em suas possibilidades 
semânticas para que eles se apropriassem de si?
130
 As releituras operadas sobre a coprodução científico-acadêmica nos permitem 
avançar agora e olhar para o “novo” universo teórico-prático dos MS, as “novas” 
abordagens que delineiam “novas” configurações, limites, desafios e possibilidades 
dos MS hoje, levando-se em consideração que: “O paradigma dos Novos Movimentos 
Sociais parte das explicações mais conjunturais, localizadas em âmbito político ou dos 
microprocessos da vida cotidiana, fazendo recortes na realidade para observar a política 
dos novos atores sociais”. (GOHN, 1997, p. 15). 
O Novo: Esse adjetivo valorizado como dimensão social relevante nas relações ético-políti-
cas é, neste contexto, assumido também como possibilidade histórica que, conforme Freire 
(1996b, p. 28), “Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se 
fez velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental 
conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção 
do conhecimento ainda não existente”. Entretanto, é primordial manter-se numa postura 
crítica diante do novo – saber/conhecimento/paradigma -, pois esse conteúdo vivo corres-
ponde a uma determinada ideologia. O novo pode não representar algo bom para todas/
os, uma vez que o conteúdo dialoga diretamente com um ponto de partida (realidade) 
distinto que nem sempre estabelece interconexões democráticas.
FIQUE ATENTO
 Conforme Gohn (1997), na década de 80 foi quando os estudos sobre os NMS 
alavancaram de fato, um movimento iniciado por estudiosos da Europa e da américa 
do norte que vinham formulando uma teoria que escapasse das leituras psicologizadas 
e extremamente instrumentais dos MS desde a década de 60 e 70, em diálogo com 
diferentes correntes. Esse giro epistemológico emerge da necessidade de ressignificar 
a leitura operada sobre os MS de modo a compreender as implicações e a nova 
configuração daquela fase contextual. Esse movimento dinâmico da História mobiliza 
mulheres e homens a elaborar perguntas e respostas para melhorar as relações sociais.
 O movimento pelo “novo” paradigma foi liderado por teóricos americanos e 
europeus que buscavam a tecitura de uma corrente teórica com ênfase no processo 
político das mobilizações, e, sobretudo, nas bases culturais que garantiam sua 
efetividade. As AC eram fundamentais para compreender o movimento complexo das 
relações políticas em reconfiguração, onde se operava o deslocamento da centralidade 
dos aspectos econômicos para o político.
 Dentro desse campo de ressignificação teórica, estudos que operaram com o 
paradigma dos Novos Movimentos Sociais para compreensão das categorias sócio-
políticas da autonomia e da identidade alcançaram mais êxito, pois conseguiram ampliar 
as possibilidades semânticas que envolvem essas categorias. É importante lembrar que 
o conceito de identidade coletiva (que se relaciona com lugar de fala) e autonomia são 
dimensões ontológicas de base para compreender o horizonte da transformação social.
 Esse processo, contudo, percorreu um caminho sinuoso entre diferentes 
compreensões/definições que considero ser pertinente destacar. A teoria dos NMS 
emerge de (re)formulações cunhadas em resposta a dois momentos históricos não-
simultâneos, mas contemporâneos. Um deles se trata da abordagem teórica norte-
americana denominada Mobilização de Recursos (MR), a outra é a Mobilização Política 
(MP), releitura operada no diálogo entre europeus e norte-americanos.
131
 A primeira perspectiva é produzida devido demandas socioeconômicas não 
contempladaspelos MS até o momento legitimados. Esses grupos se organizavam em 
torno de categorias baseadas no sujeito social (caráter individualista) não na organização 
social que é base para as leituras de classe, “os pioneiros da MR concebiam os movimentos 
sociais em termos de um setor de mercado, livre, em competição com outros grupos, 
num mercado aberto de grupos e idéias”. (GOHN, 1997, p. 52). 
 Dentro dessa perspectiva a dimensão/leitura da categoria ideologia também 
não teve espaço, pelo fato de que o recorte de classe social não era uma base político-
epistemológica considerada para delinear a razão de ser dos MS que, naquele momento 
histórico – Século XX – mantinham a centralidade em duas perspectivas, de construir 
estratégias ou identidades. Nos anos 90 isso é revisto. Revisão que dá espaço para a 
configuração dos NMS. 
 Os objetivos e significados construídos para/pelos MS ao longo da história 
assumiram vários contornos, para os pioneiros da MR a concepção de MS se resumia a 
grupos de interesses com o objetivo de se mobilizar em torno de captação de recursos. 
Não é difícil compreender a fragilidade semântica e interpretativa que se desdobra das 
categorias utilitária-individualistas forjadas por essa abordagem. 
 Diante dessa realidade, Gohn (1997) explica que na década de 90 alguns estudiosos 
retomaram tais reflexões – Touraine, Melucci e Offe - as estendendo num movimento 
teórico significativo, reconhecendo que tais percepções não atendiam as emergentes 
necessidades analítico-interpretativas sobre os MS. 
 Outra perspectiva paradigmática então começa a ser desenhada a partir das 
oportunidades políticas responsáveis pelo surgimento dos vários ciclos de MS, em 
diferentes contextos e lugares históricos. Os NMS emergem desse movimento reflexivo, 
disputado e complexo, entre avanços e retrocessos.
 Esse é o segundo movimento paradigmático denominado Mobilização Política 
(MP) – uma releitura entre abordagens europeias e norte-americanas. Nessa nova 
configuração, o desafio foi superar a leitura limitada operada pela MR valorizando o 
universo polissêmico da cultura e da política a partir da psicologia social. Ela nega o olhar 
neoutilitarista pela valorização do teor político inerente ao campo das oportunidades 
políticas no contexto das condições estruturais.
 Realidades sociais microsituadas, um espaço-tempo localizado nas esferas 
particulares do viver comumente desconsiderado nas teorias macroestruturais ganha 
espaço nos NMS uma vez que “[...] a linguagem, as ideias, os símbolos, as ideologias, as 
práticas de existência cultural, tudo passou a ser visto como componente dos conflitos 
expressos nos discursos”. (GOHN, 1997, p. 70). Desse modo, as AC representam um 
conjunto de significações sociais libertas do cativeiro historicamente negado a partir da 
valorização da diversidade político-cultural.
Liberdade: termo assumido enquanto categoria histórica, onto-epistemológica de cará-
ter sociológico, antropológico, filosófico, psicológico, holístico por excelência, pois atra-
vessado por uma ética-estética diferenciada. Uma tal liberdade coproduzida na/pela 
autorreflexão “[...] sobre sua própria limitação (a partir de onde) são capazes de liber-
tar-se desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, 
VAMOS PENSAR?
132
mas se dê no exercício da ação transformadora da realidade condicionante” (FREIRE, 
2010, p. 78). Somos condicionados por uma realidade que nos cerca de limitações e de-
safios diários – situações-limites. A ideia de liberdade/libertação nestes contextos não 
se resumem a um conceito abstrato, místico e esvaziado, muito pelo contrário. O sen-
tido holístico aqui acionado ao termo liberdade mobiliza um conjunto de dimensões 
existenciais ontológicas que permitem a reconfiguração da liberdade como dimensão 
sociopolítica de base para a transformação social que é o horizonte de todo MS com-
prometido com o povo inviabilizado através da história. O conteúdo político-ideológico 
de dimensões ontológicas como liberdade carecem ser retomadas e valorizadas de 
modo a reforçar a emergência do enfrentamento às lógicas de mundo utilitaristas e 
instrumentalistas que excluem e marginalizam.
 É importante frisar o aspecto dinâmico da construção do conhecimento e da 
própria Ciência como processo humano de reconstrução que ultrapassa barreiras do 
“aqui e agora”. Essas abordagens – MR e MP – são perspectivas epistemológicas que 
foram sendo revistas e reelaboradas e isso é importante para qualificar processos, a 
humanidade e os modos como percebemos o mundo. Gohn (1997, p. 71) destaca que:
As abordagens dos autores não são uniformes, há ên-
fases que remetem à criação de novos conceitos [...]. 
Em síntese, os protestos, descontentamentos, ressen-
timentos e outras formas de carência existentes na co-
munidade - tão caras aos teóricos clássicos das teorias 
da ação social e desenhadas inicialmente pela MR -- fo-
ram também reconhecidos como fontes de recurso. Ou 
seja: houve uma recuperação dos clássicos para explicar 
omissões que a MR não tratara. A ênfase na mobiliza-
ção de recursos, como grande eixo articulador da teoria, 
continuou, mas a nova etapa não considera apenas os 
recursos econômicos, e a lógica instrumental-racionalis-
ta deixou de ser o eixo central condutor das análises. 
 Essa reconfiguração do eixo teórico-analítico das referidas perspectivas foi 
operada com a releitura de clássicos que em determinada medida ajudam a retomar 
aspectos socio-organizativos fundamentais para a compreensão dos fenômenos sociais. 
Toda teoria possui um viés ideológico, responde a determinantes político-sociais que 
carecem ser problematizados. Isso é um fato que precisa ser considerado na reprodução 
dos conhecimentos, sentidos/significados. Por isso o diálogo é necessário. 
 O conceito de NMS é ambíguo, diverso e até controverso, assim como de MS, não há 
consensos. Vimos sobre o dissenso histórico em torno da construção social e política dos 
conceitos – o que temos são formas de abordar. Gohn (1997), na articulação epistemológica 
– com Melucci que se distancia do marxismo; com Touraine que permanece apenas com 
a leitura da macroestrutura social; e Offe que aponta a necessidade de atualização das 
categorias marxistas – nos apresenta algumas compreensões em torno do processo 
histórico-social.
 Essa articulação teórica nos ensina que a (re)construção da realidade, de nossas 
visões de mundo, da nossa capacidade de enxergar para além dos muros ideológicos 
erguidos, exige esses intercâmbios teóricos e empíricos visando uma possibilidade 
de transcender lógicas epistemológicas hegemônicas. Dentro desse exercício de (re)
133
Para entender um pouco mais sobre os Novos Movimentos Sociais na configu-
ração contemporânea dos MS vale a leitura cuidadosa de SANTOS, Ana Paula 
Fliegner dos. Os Movimentos Sociais In: SANTOS, Ana Paula Fliegner dos et al 
(Org). Movimentos Sociais e Mobilização Social. Porto Alegre/RS: SAGAH. 2018. 
p. 31-41. ISBN 978-85-9502-554-7.
BUSQUE POR MAIS
Disponível na plataforma online da Biblioteca Única – link de acesso:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595025547/cfi/10!/4/4@0.00:30.1 
formulações, nos associamos a Gohn por ela concordar com:
Foweraker (1995) quando ele afirma que o paradigma 
dos Novos Movimentos Sociais se define a partir da 
identidade coletiva. Só que esta centralidade deixa de 
lado a categoria do "novo" que nomeia o paradigma. O 
próprio Melucci afirma que "o 'novo' nos Novos Movi-
mentos Sociais é ainda uma questão aberta" [...] sendo 
"uma das contribuições da abordagem contemporânea 
dos Novos Movimentos Sociais foi ter chamado a aten-
ção para o significado das mudanças morfológicas na 
estrutura e na ação dos movimentos, relacionando-as 
com transformações estruturais na sociedade como um 
todo. As mudanças são portanto fontes dos movimen-
tos. (GOHN, 1997, p. 124-125).
 A condição histórica intrínseca a “abertura” é uma possibilidade para que “novas”, 
outras releiturassobre esse processo morfológico de reconstrução valorize uma realidade 
que se encontra em um constante des-fazer e re-fazer-se. Isso coloca a participação, 
a descentralização, a cooperação e solidariedade como dimensões fundamentais aos 
NMS. Essa abordagem não é uma definição, mas representa um longo processo de 
reelaboração sobre os prismas da MR e MP.
 Um percurso científico que com todos seus limites contextuais e ditames ideológicos 
abriram fendas histórico-científicas importantes para a reconstrução da realidade e seus 
fenômenos. Muitas dessas leituras consideradas insuficientes para compreensão do 
todo possuem em si elementos fundamentais que, redesenhados conforme contextos 
e realidades, podem colaborar com avanços socioculturais e políticos determinantes à 
melhoria da qualidade de vida.
10.2 A RELAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO 
 Entre as interfaces epistemológicas estabelecidas ao longo da constituição 
histórica dos MS e das sociedades contemporâneas, a Educação é um eixo articulador 
imprescindível. Muitas teorias Clássicas já defendiam a importância da educação, 
contudo, como instrumento ideológico de controle social e manutenção do status quo. 
Como instrumento ideológico que deveria ajudar a eliminar as diferenças, os contrários. 
Sua importância em cada contexto sócio-político se interrelaciona com a ordem vigente, 
134
sendo a escola o locus que se operacionaliza a meta institucional. Entretanto, a Educação 
ultrapassa os limites-alvo da escola, a intencionalidade estatal legitimada e os interesses 
do Mercado Capitalista.
 A interconexão entre MS e a educação valoriza o conteúdo ontológico dessas 
dimensões que perpassa muros institucionais e epistemológicos que tendenciosamente 
buscam controlá-los. A dinâmica reflexiva que proponho para esta problematização 
convida Gohn (2011), Freire (1983; 1996; 2001; 2010) e Ferreira (2018) – este se trata de 
reflexões tecidas durante pesquisas do Doutorado em Educação na Universidade do 
Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS).
 O intenso processo de ressignificação teórico-prático, ético-político e político-
pedagógico dos MS não foi, não é e nunca será um fenômeno operado de modo 
unilateral por um gueto de intelectuais iluminados, pois é, sobretudo, o resultado de 
muitas autorreflexões, aproximações e distanciamentos, coproduzidas pelos próprios 
coletivos de MS. Especialmente na experiência Latina, África e Caribe. 
 Esse conjunto de movimentos dinâmicos se (re)faz numa relação endógena 
fundamentada na intencionalidade raiz que ambos nutrem, “Uma das premissas básicas 
a respeito dos movimentos sociais é: são fontes de inovação e matrizes geradoras de 
saberes. Entretanto, não se trata de um processo isolado, mas de caráter político-social”. 
(GOHN, 2011, p. 333). 
 A relação endógena entre educação e MS está alicerçada em uma compreensão 
de educação que nem sempre está alinhada ao serviço oferecido pela escola. A função 
social da escola se limita ao institucional em favor do capitalismo. A intencionalidade da 
ideologia estabelecida pelo poder político hegemônico rotula e classifica. A educação 
mobilizada pelos MS emerge da vida, da existencialidade, dos saberes baseados na 
autodefesa contra a fome e o medo.
 Compreendendo que educar é curar, nos sentidos do cuidado com o ser que nasce 
para viver e crescer, o chamado ontológico a ser mais, no caso das pessoas: a ser Mais 
Gente, que articulamos o sentido transformador da educação. Um processo organizado 
pedagogicamente na auto-organização dos MS, suleados por bases filosóficas de uma 
educação que cuida, que promove, que acolhe as diferenças (FREIRE, 2001). 
SER MAIS: “[...] a tomada de consciência dos nossos condicionamentos, situações limites 
que nos oprimem com os seres humanos, deve proporcionar um novo impulso essencial-
mente vital à existência humana, a saber, o sonho e a esperança [...] motores da história, 
são os que nos movem na direção de uma intervenção transformadora do mundo con-
creto visando a superação de todas as situações limites que nos oprimem enquanto seres 
em busca do próprio “ser mais””. (ZITKOSKI, 2010, p. 370). Qual é a função social e política 
da educação? E a função social política do MS? Ha relação entre esses temas? Ha relação 
entre esses universos simbólicos e a atuação da/o socióloga/o? Quais são? Como você se 
percebe nesse contexto de inter-relações teórico-práticas? 
VAMOS PENSAR?
 Com base nessa razão/relação existencial, social e filosófica que os MS se 
constituíram ao longo da história como coprodutores de saberes. Saberes esses originados 
dos processos de auto-organização dos diferentes coletivos, da valorização do cotidiano 
do mundo do trabalho – que é muito mais amplo que o mercado de trabalho -, envolve o 
135
trabalho das mulheres e dos saberes de um cotidiano que nem sempre foi reconhecido, 
mas é onde a solidariedade se torna conteúdo privilegiado de uma educação para 
humanização das relações sociais. 
SULEAR: “O termo “sulear” tem sido utilizado, de modo explícito, por Freire no livro Pe-
dagogia da esperança (1994, p. 219-219), lembrando que a palavra não consta dos dicio-
nários da língua portuguesa. Chama a atenção dos(as) leitores(as) para a conotação 
ideológica do termo “nortear” [...] (herança de nosso processo de colonização) – A ótica 
do Sul, “entendida como metáfora do sofrimento humano causado pela Modernidade 
capitalista”, é apontada por Boaventura Santos (2006, p. 32) para caracterizar uma pers-
pectiva epistemológica e política. Walter Mignolo (2004) enfatiza que de uma coloniza-
ção geográfica passou-se a uma dominação do poder e do saber [...] Sulear significa, 
portanto, construir paradigmas endógenos, alternativos, abertos enraizados nas nossas 
próprias circunstâncias que reflitam a complexa realidade que temos e vivemos; reco-
nhecer o alicerce epistêmico totalitário da modernidade como discurso regional da his-
tória regional do pensamento europeu [...]” (ADAMS, 2010, p. 385-386). Os conteúdos da 
vida, assim como os da literatura em geral e das ciências são/estão imersos nesta con-
tradição histórica que nos exige reiteradamente reconhecer e acolher as percepções que 
se diferem de toda uma herança epistemológica euroconstruída. Entendendo que as 
interrelações dessas dimensões – nortear e sulear- coexistem aqui e lá, numa correlação 
de forças ainda desiguais, mas em constante movimento de enfrentamentos/superação.
FIQUE ATENTO
 As retomadas teórico-práticas que promoveram a emersão dos NMS são processos 
pedagógicos que perpassam os próprios MS, sobretudo, quando deles surgem mais 
elementos empíricos que colocam as Ciências Sociais e Humanas em constante 
transformação. Os MS são percebidos enquanto fenômeno de estudo, conteúdo vivo 
que desafia toda uma cultura letrada. Os saberes que ali circulam acolhe a dinamicidade 
sociocultural de toda uma sociedade:
A junção dos dois termos tem se constituído em “novi-
dade” em algumas áreas, como na própria Educação [...] 
No exterior, a articulação dos movimentos com a educa-
ção é antiga e constitutiva de alguns grupos de pesqui-
sa, como na International Sociological Association (ISA), 
Latin American Studies Association (LASA), Associación 
Latinoamericana de Sociologia (ALAS) etc. (GOHN, 2011, 
p. 334).
 Essa articulação passou por um longo processo de reconhecimento no campo 
científico dado a herança individualista e fragmentada sobre os MS e as AC conforme já 
estudado. Na base dos MS a resistência em busca de forças políticas e pedagógicas para 
superação diante das diferentes formas de alienação que as forças ideológicas operaram 
para os silenciarem, os sabotarem, os diminuir e os desagregar, promoveu toda uma 
articulação de aprendizagem com a própria situação de embate. A condição de negação, 
de não-lugar, os exigiu rever objetivos, e revendo critérios, metas e tarefas eles foram se 
reinventando.
 Na luta diária por direitos básicos à existência e ao direito de participarem das 
136
decisões sobre a vidasocial, e sua própria vida, a inspiração em experiências pontuais, 
mas que tinham força pelo horizonte utópico da transformação, forjou uma memória 
pedagógica ontológica. Uma luta que emerge da periferia de um mundo globalizado, 
lançado a uma ordem econômica que colonizou pessoas e culturas de várias maneiras. 
Desse não-lugar social o inédito-viável revolucionário estava acontecendo. A dimensão 
ontológica está nesse enfrentamento à lógica.
UTOPIA – “Através dos séculos, o conceito de utopia alargou seu sentido, especialmente no 
século XX. Um dos responsáveis pela redefinição do conceito de utopia é o filósofo alemão 
Ernest Bloch. Em obra datada de 1950 – O princípio da esperança (Contraponto, 2005) – Er-
nest Bloch relaciona o conceito de utopia com a noção de esperança crítica, apresentando 
o conceito de utopia concreta em oposição ao conceito de utopia abstrata. Dá destaque ao 
caráter positivo da força criadora dos produtos da imaginação social subversiva, ao con-
siderar que a utopia não constitui um topos idealizado ou projetado, mas é, em primeiro 
lugar, um topos da atividade humana orientada para um futuro; um topos da consciência 
antecipadora e a força ativa dos sonhos diurnos [...] Na obra Conscientização: teoria e práti-
ca da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire, é explícita sua compre-
ensão de que “o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos 
atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar 
a estrutura humanizante” (1979, p. 27)”. (FREITAS, 2010, p. 412-413).
FIQUE ATENTO
 Enquanto uma corrente de pensamento cimentava toda uma racionalidade 
hegemonicamente orientada para fragmentar o tecido social, que reservou às AC e 
aos MS um conceito marginal, perigoso/criminoso e doente/patológico que precisava 
ser eliminado para que a sociedade alcançasse a harmonia social, ainda no século XVIII, 
emergia uma visão utópica de luta pelas pessoas mantidas a margem da sociedade 
moderna eurocêntrica. Um inédito-viável estava emergindo da militância intelectual.
INÉDITO-VIÁVEL: “Não é, pois, uma simples junção de letras ou uma expressão idiomáti-
ca sem sentido. É uma palavra na acepção freiriana mais rigorosa [...] Uma palavra epis-
temologicamente empregada por Freire para expressar, com enorme carga afetiva, cog-
nitiva, política, epistemológica, ética e ontológica os projetos e os atos das possibilidades 
humanas”. (FREIRE, 2010, p. 224.)
MILITÂNCIA: Em Educação como prática da liberdade (1996), há uma preocupação em 
distinguir radicalidade de ativismo. Para ele, a primeira condição do educador e da edu-
cadora é a tomada de posição amorosa, enquanto o sectarismo é uma matriz preponde-
rantemente emocional e acrítica. O ativismo estaria inclinado à arrogância, a uma pos-
tura antidialógica e, por isso, anticomunicativa. Para Paulo Freire, “a reflexão crítica sobre 
a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria pode ir 
virando blábláblá e a prática, ativismo”. (FREIRE, 1996, p. 24). A militância freiriana é um 
movimento radical uma vez que a radicalidade do educador e da educadora “não nega o 
direito do outro de optar. Não pretende impor sua opção. Dialoga sobre ela [...] Tenta con-
vencer e converter, não esmagar”. (FREIRE, 1996, p. 58 Apud MORETTI, 2010, p. 266).
GLOSSÁRIO
137
 Um projeto político-pedagógico que precisava ser assumido pelas pessoas que 
sofrem a exclusão e a opressão das diferentes formas de colonização. Uma abordagem 
racional diferenciada da lógica hegemônica que delineia dimensões interconectadas, um 
conjunto político-pedagógico que de uma forma ou de outra foi assumido por diferentes 
MS. Essa tese foi defendida pelo filósofo e educador venezuelano Símon Rodríguez:
São cinco as condições indispensáveis para a emergên-
cia de um projeto viável de transformação radical da so-
ciedade, de uma utopia possível. São eles: (1) Insatisfação 
com a sociedade injusta em que vivemos. (2) A doutrina 
política alternativa contra aqueles que apoiam a ordem 
estabelecida. (3) O prenúncio de um novo modelo de 
sociedade. (4) Os meios (materiais e humanos) que tor-
narão essa transformação possível. (5) O plano de ação 
para promover o projeto. (LINARES, 2015, p. 10). 
 Esse filósofo foi um dos precursores da Epistemologia Popular, ou seja, da 
construção de uma racionalidade que valorizava os saberes e as práticas de pessoas que 
foram desconsideradas pelo projeto hegemônico da Modernização. Movimento esse 
estudado no capítulo anterior com Duarte e Meksenas (2008) que destacaram a função 
histórica determinante dos processos da Modernidade, Modernismo e Modernização na 
produção de contingências e seus desdobramentos na vida da população empobrecida. 
Processo que operou muitos processos de apropriação, escravidão, colonização. A 
educação, o conhecimento e a ciência foram dimensões assombrosamente cooptadas 
para controle social.
 Destacamos esse momento histórico porque é considerado um marco referencial 
para os Movimentos Sociais, como para os Movimentos Populares que será retomado 
no capítulo quarto do livro. Rodrígues deixou um legado que fora assumido por um 
de seus “alunos”, Símon Bolívar. A partir das teses delineadas para uma transformação 
social radical, Rodríguez e Bolívar abrem portas epistemológicas fundamentais para 
reelaborações e ressignificações de toda uma herança teórica racional assentada em 
uma visão moderna e unilateral de mundo. 
 Sua contribuição emerge em prol de demandas ainda não acolhidas pelos MS até 
aquele momento. Sua luta, sua militância, sua produção-militante trazia para o centro 
dos debates teórico-práticos a vida da/o camponês/a, do indígena, do escravizado, da 
mulher e do homem empobrecido. Esse movimento em sua época foi revolucionário! 
Sua estratégia foi a educação, uma educação que contemplasse a vida e os saberes do 
povo, uma Educação Popular. Esse movimento foi acolhido por muitos estudiosos e MS 
que viam nas entrelinhas das ideias revolucionárias daquele educador uma porta aberta.
 Educação e MS, nesta perspectiva, são o fermento popular e social de uma nova 
sociedade por serem formados em sua gênese ontológica por (não)lugares, pessoas, 
grupos, processos, dimensões, saberes e conhecimentos relegados a um não-lugar 
social. Esse componente pedagógico que nasce junto a utopia por um mundo melhor 
os colocou o desafio de colaborar com a auto-organização do povo, junto com o povo - a 
partir dos esfarrapados da terra (FRANTZ, 1968), dos oprimidos (FREIRE, 2010). A educação 
se torna mais que uma mediação para qualificar a luta dos MS, se torna uma bandeira 
por sua qualidade, sua função questionadora e libertadora. Uma política para o povo que 
138
deseja a vida melhor.
Para conhecer um pouco mais sobre a vida e obra do precursor dos pres-
supostos teóricos por uma Educação Popular e pela transformação social 
– Símon Rodríguez - visitem a página do Instituto de Estudos Latino-Ame-
ricanos (IELA) da UFSC. Link:
BUSQUE POR MAIS
https://iela.ufsc.br/noticia/simon--rodriguez-plantador-de-uma-nova-america#:::text-
Sim%C3%B3n%20Rodr%C3%ADguez%20nasce%20em%20Caracas,do%20tio%2C%20
que%20era%20sacerdote.
 É desse lugar de fala que os MS e a educação se (des)encontram e se reconhecem 
como instrumentos de poder para a transformação social. Nesse momento surge um 
elemento novo ao universo dos MS: O popular. A relação entre MS e MP ganha espaço 
nesse processo histórico que carece ser visto de modo amplo. Faremos essa retomada 
no próximo capítulo quando revisitaremos esse processo em um mergulho onto-
epistemológico de fôlego. 
 Os MS possuem uma experiência que “não advém de forças congeladas do passado 
– embora este tenha importância crucial ao criar uma memória que, quando resgatada, 
dá sentido às lutas do presente. A experiência recria-se cotidianamente, na adversidade 
das situações que enfrentam”. (GOHN, 2011, p. 336). Uma memória pedagógica que 
precisa ser revisitadapara reconstruirmos bases epistemológicas capazes de alcançar a 
demanda interpretativa das AC, sociais e populares hoje. 
 Esse movimento de revisões epistemológicas exige retornar aos clássicos para 
qualificar e atualizar nossa percepção em torno dos atuais dilemas civilizatórios, pois é 
nessa herança colonial que está guardada as amarras político-ideológicas de toda uma 
estrutura racional colonizadora. Os saberes populares, por exemplo, é uma categoria 
valorizada apenas a partir do século XX, mas que possui raízes nas lutas pela libertação 
dos escravizados na África, no Brasil, as guerras civis na América Latina desde o século 
XVIII. No entanto, somente ganhou contornos analíticos em estudos recentes:
Em síntese, apesar do denso quadro de mobilizações 
e movimentos sociais no país, a partir do fim dos anos 
1970, o debate e a produção teórica caminhou lenta-
mente até os primeiros anos deste novo século, embo-
ra conte com um grande número de publicações que 
são registros descritivos, importantes como memórias. 
No campo da educação, a defasagem é ainda maior. 
(GOHN, 2011, p. 335).
 Escrever sobre MS e Educação envolve acolher as lacunas e imprecisões histórico-
pedagógicas, contudo, é nas entrelinhas dos hiatos da civilização moderna que as pessoas 
invisibilizadas avançam, se reinventam e enfrentam os muros institucionais erguidos por 
uma elite que desconhece o conceito de fome. Uma escritora brasileira, negra e pobre, 
139
de uma escrita antropológica incrível, Carolina Maria de Jesus, em seu livro Quarto de 
despejo já dizia: “A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no 
próximo, e nas crianças”. (JESUS, 1960, p. 24).
 A educação nascida desses lugares-tempos diferenciados ganha corpo a partir 
dos estudos de brasileiros como Paulo Freire que defende uma Educação Popular que 
está sendo revisitada ao longo do século XX e XXI com o propósito de se aproximar das 
diferentes mediações pedagógicas e educativas emanadas do povo organizado. Nos 
estudos/pesquisas realizadas durante o Doutorado em Educação, foi possível acompanhar 
de modo colaborativo duas experiências de educação/formação do Movimento Social 
da Economia Solidária. No processo de emergir/imergir nos movimentos individuais-
coletivos dinâmicos, infinitamente ricos no aspecto político-pedagógicos, aprendi muito!
 A Educação Popular, epistemologia produzida nesse contexto histórico de lutas 
populares e sociais, é a abordagem que mais inspira os MS em seus processos educativos. 
Há outras abordagens descoloniais que, como inéditos-viáveis, são ampliadas no diálogo 
com a Educação Popular a qual entendo como:
[...] uma expressividade latina que luta para qualificar 
processos e pessoas desde os saberes cotidianos; da ex-
periência singular e coletiva do enfrentamento ao de-
semprego, da mercantilização das pobrezas, da fome, 
da vida e da morte. Do modo como a percebemos, é um 
projeto paradigmático que visa transcender estruturas 
culturais definidas por lógicas e sistemas desumanos. 
(FERREIRA, 2018, p. 112-113).
 O próprio movimento de Educação Popular é compreendido por muitos militantes 
e intelectuais da área como um MSP, ou seja, a denominação Movimento Social ganha a 
identidade de popular para autoafirmar o lugar de fala da representatividade ontológica 
que emana de povos que muitas vezes não se encaixam nos critérios de muitos MS. São 
culturas consideradas subalternas, formada em sua maioria por pessoas empobrecidas, 
quilombolas, LGBTI+, indígenas, ribeirinhos, pessoas relegadas à margem do mercado 
capitalista que sobrevivem muito tempo desempregadas ou de subempregos, sem 
oportunidades nem condições (i)materiais de ser mais.
 A Educação como a concebemos aqui, de modo amplo, carece ser livre da 
tutela tendenciosa do institucionalizado, do batismo do formalismo raquítico de 
intencionalidade limitada, ou ainda da cooptação cultural, pois esses processos a reduz 
aos caprichos do Mercado Capitalista. A Educação que carece invadir as escolas e espaços 
não-escolares, vem ao longo desse processo histórico de lutas (des)construindo e (re)
construindo outras racionalidades. A academia, e sua liturgia letrada hegemonicamente 
construída por um gueto de iluminados em contato com a Educação libertadora vem 
sendo ressignificada. MS e universidade estão se reinventando a partir de seus (des)
encontros, por dentro. 
 Do mesmo modo, conceitos cristalizados estão sendo rompidos e redefinidos; 
metodologias e práticas didáticas estão assumindo contornos que rompem com a 
estética estéril da produção de conhecimento baseada nas abstrações livrescas; a 
relação entre professores e alunos está sendo reapropriada. A vida ganha espaço entre 
os conteúdos estudados e a experiência pedagógica se liberta da mera codificação e 
decodificação. As forma de ensinar-aprender e aprender-ensinar estão se libertando do 
140
dogma científico que prima pela transmissão acrítica, o decorar, por aplainar, excluir, 
classificar e o alienar.
Para conhecer exemplos de uma pesquisa participativa que estabelece e 
problematiza a relação pedagógica promovida a partir dos MS acessar o 
texto de FERREIRA, Luciane Rocha et al. Educação Popular e Sistematiza-
ção de Experiências: Universidade e os Movimentos Sociais em Diálogo In: 
Revista Trama Interdisciplinar v. 7, n. 3 - Dossiê Pedagogia social. 2016.
BUSQUE POR MAIS
Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/issue/view/537/showToc
 A interface estabelecida entre os MS e outros Movimentos – contracultural, Educação 
Popular, MSP, NMS, Feminismo, (Des)Colonialidade, Sororidad, Interculturalidade crítica, 
- ao longo da história de sua constituição revela, sobretudo, avanços humanizantes. 
Reflexões revisitadas de abordagens clássicas, as marxistas revistas pelos (neo)marxistas, 
as fenomenológicas, sociológicas, interacionistas de base político-pedagógicas que 
promovem/valorizam uma ética-estética que acolhe pessoas, experiências, conceitos e 
dimensões inéditas até então é o movimento paradigmático mais revolucionário que 
está acontecendo.
 Entendo que essa práxis só pode ser efetivamente operada quando as condições (i)
materiais e históricas estiverem alinhadas a um processo de reconfiguração do mundo, 
movimento que permanece no horizonte da utopia que une muitos MS. Realidade onde 
conflitos e contradições coexistem numa dinâmica que carece ser assumida no contexto 
das ressignificações e reconceitualização. 
10.3 MOVIMENTOS SOCIAIS CONECTADOS (MSC) 
 Nessa etapa estamos apresentando e problematizando aspectos relevantes sobre 
os MS na interface com outros Movimentos. Valorizamos a interface com a experiência do 
Movimento da Educação Popular, agora o Movimento em interface é o universo virtual, 
onde os MS se (des)encontram interconectados. A apresentação panorâmica sobre as 
redes no terceiro capítulo foi realizada através da releitura de Goss e Prudencio (2006) 
que valorizaram a contribuição teórica de Castells a partir do clássico A sociedade em 
rede (2008). 
 Para ampliar essa discussão/reflexão retomamos com Manuell Castells (1999) – 
alargando a compreensão em torno do debate da sociedade em rede em um diálogo 
interessante com Renato Dagnino (2008) que investiga as relações entre a Ciência, 
Tecnologia e Sociedade, universo onde desenvolvimento e humanidade são categorias 
em crise a partir do Debate sobre a Tecnociência e Freitas (2006) através da releitura 
de Álvaro Vieira Pinto a partir da conexão entre Economia, trabalho e educação para o 
estudo histórico da tecnologia.
 Além desses aportes, valorizamos um conjunto de leituras coproduzidas ao 
longo do Doutorado em Educação. Entre essas, Vieira Pinto (2005) é imperdível para 
reelaboração interpretativa de base humanística. Por isso, para além do olhar de Freitas 
(2006) sobre o estudo contextual de técnica-tecnologia vista por muitos teóricos como a 
141
“Era da tecnologia”, dialogaremos como o autor diretamente.
Técnica: ““memória social do fazer novo” um processofilológico capaz de orientar seus lei-
tores sobre a importância de um “projeto nacional” capaz de direcionar as políticas de 
educação popular para “longe dos problemas meramente pedagógicos” e para dentro das 
demandas de cada fase, antecipando, como consciência social, o convívio com as altera-
ções materiais responsáveis pelo trânsito de uma fase à outra” (FREITAS, 2006, p. 89).
Tecnologia: Leitura histórica para pensar socialmente a tecnologia: “as estupendas cria-
ções cibernéticas com que hoje nos maravilhamos resultam apenas do aproveitamento da 
acumulação social do conhecimento, que permitiu fossem concebidas e realizadas. Não 
derivam das máquinas anteriores enquanto tais, mas do emprego que o homem fez delas”. 
(Idem, p. 93).
FIQUE ATENTO
 O estudo sobre os MSC aqui proposto não conseguirá abraçar a complexidade do 
fenômeno diante do desafio que se configura as relações estabelecidas entre os MS, 
os Movimentos Populares (MP) e a realidade social e virtual em recente processo de 
aprendizagem. A relação entre MS e MP será retomada em profundidade no capítulo 
das aproximações onto-epistemológicas. 
 Os teóricos em diálogo são referências no estudo sobre as tecnologias e as relações 
sócio-políticas, sendo o MS um dos campos empíricos privilegiados nas suas reflexões. 
Essa interface teórica nos contempla em muitas direções devido caráter multifacetado 
que interconecta desenvolvimento, as técnicas-tecnologias, a educação, trabalho e os 
MS. 
 Para início de conversa é importante entender qual é o conceito de redes que 
assumimos nesse momento. Nossa compreensão tece algumas interconexões, entre 
elas com a abordagem de Castells (1999, p. 498), que entende as redes como:
[...] instrumentos apropriados para a economia capita-
lista baseada na inovação, globalização e concentração 
descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e em-
presas voltadas para a flexibilidade e adaptabilidade; 
para uma cultura de desconstrução e reconstrução con-
tínuas; para uma política destinada ao processamento 
instantâneo de novos valores e humores públicos; e para 
uma organização social que vise a suplantação do es-
paço e invalidação do tempo. Mas a morfologia da rede 
também é uma fonte de drástica reorganização das re-
lações de poder.
 O autor trabalha com a realidade da globalização, fenômeno que emerge no 
contexto da Modernidade, advento de um processo de Modernização social que, como 
já vimos, amplia a complexidade das relações e condições humanas. Sua dinâmica 
de expropriação maximiza conflitos, necessidades e cria demandas consumistas 
contraditórias. A importância de refletir sobre as categorias da técnica-tecnologia, 
educação, MS e a crise estabelecida no processo de desenvolvimento social se encontra, 
sobretudo, no desvelamento contextual de uma globalização mal resolvida que assegurou 
142
o avanço da pobreza não apenas no Brasil, como também nos países da América Latina 
como um todo, África e Caribe.
GLOBALIZAÇÃO: “[...] muito mais uma elaboração ideológica justificadora das ideias, 
concepções, projeções e aspirações, enfim, como componente importante da Weltans-
chauung burguesa, do que como fenômeno histórico generalizado contemporâneo [...] O 
discurso da globalização que fala da ética esconde, porém, que a sua é a ética do mercado 
e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar bravamente se optamos, 
na verdade, por um mundo de gente [...] O discurso ideológico da globalização procura 
disfarçar que ela vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando a pobre-
za e a miséria de milhões. O sistema capitalista alcança no neoliberalismo globalizante o 
máximo de eficácia de sua malvadez intrínseca” (ROMÃO, 2010, p. 196-197). Esse processo/
fenômeno histórico-social, tal como é compreendido através da perspectiva freiriana, uma 
filosofia comprometida com as vidas das pessoas empobrecidas, sem voz nem vez, encor-
pa um capitalismo autoritário-controlador que desconhece e/ou desqualifica culturas e 
cosmovisões distintas que, em nome de sua reinvenção materializada em cada indivíduo 
consumista, se tornam invisibilizadas, marginalizadas e até criminalizadas. A quem serve 
esse processo? Qual nosso compromisso social, cidadão e humano diante dessa realidade 
enquanto professoras/es, trabalhadoras/es, sociológicas/os, mães e pais de uma geração 
globalizada em princípios aéticos desumanizantes? Será possível a construção de uma 
lógica diferente, que acolha as diferenças e a diversidade sem exclusão, dominação, explo-
ração e alienação?
VAMOS PENSAR?
 Os MSC representam o esforço de alguns grupos locais, regionais, nacionais e 
internacionais ao enfrentamento dessa reconfiguração mundial que nada tem a ver 
com a melhoria da qualidade de vida das pessoas mais simples. Esse foi mais um projeto 
eurocêntrico que teve por objetivo a reconfiguração do sistema capitalista. Ou seja, 
atualizar e ampliar mecanismos de controle, manutenção e maximização da exploração 
dos “recursos” humanos e naturais.
 Esse movimento global que é orquestrado a partir do universo virtual não é um 
fenômeno isolado, ele integra uma construção sociocultural, sociopolítica e jurídico-
política que foi se (re)desenhando ao longo do tempo. Castells (1999) desdobra esses 
mecanismos na obra sociedade em rede evidenciando a assimétrica relação de poder 
que parte da exploração do trabalho, maximização da produtividade e da fragmentação 
das relações:
[...] capital e trabalho tendem cada vez mais a existir em 
diferentes espaços e tempos: o espaço dos fluxos e o es-
paço dos lugares, tempo instantâneo de redes compu-
tadorizadas versus tempo cronológico da vida cotidiana. 
Então, eles vivem lado a lado sem se relacionarem, à 
medida que a existência do capital global depende cada 
vez menos do trabalho específico e cada vez mais do 
trabalho genérico acumulado, operado por um peque-
no grupo de cérebros que habita palácios virtuais das 
redes globais. (CASTELLS, 1999, p. 503).
143
 O contexto em que as técnicas-tecnologias são tecidas e apropriadas para 
consolidação da nova organização mundial exige dos MS toda uma reconfiguração dos 
conceitos/dimensões ontológicos baseados na exploração, dominação, segregação e 
alienação. Para entender o desafio desses coletivos, é preciso entender o processo de 
reinvenção das AC, da (auto)reorganização individual-coletiva e das bandeiras de lutas-
reinvindicações. As lutas estão multifacetadas.
Projeto Eurocêntrico: Para pensar sobre os MS e as AC provocamos reflexões que denun-
ciam uma forma de razão/racionalidade hegemônica totalizadora, centralizadora e do-
minadora: o Eurocentrismo. Conforme Quijano (2005, p. 115), “é uma perspectiva de conhe-
cimento cuja elaboração sistemática começou na Europa Ocidental antes de meados do 
século XVII, ainda que algumas de suas raízes são sem dúvida mais velhas, ou mesmo 
antigas, e que nos séculos seguintes se tornou mundialmente hegemônica percorrendo o 
mesmo fluxo do domínio da Europa burguesa. Sua constituição ocorreu associada à espe-
cífica secularização burguesa do pensamento europeu e à experiência e às necessidades 
do padrão mundial de poder capitalista, colonial/moderno, eurocentrado, estabelecido a 
partir da América [...] não se refere a todos os modos de conhecer de todos os europeus e 
em todas as épocas, mas a uma específica racionalidade ou perspectiva de conhecimento 
que se torna mundialmente hegemônica colonizando e sobrepondo-se a todas as demais, 
prévias ou diferentes, e a seus respectivos saberes concretos, tanto na Europa como no res-
to do mundo”. Essa lógica foi a base de organização do projeto de colonização da América 
Latina, África e Caribe. Não se trata de algo abstrato, mas de uma forma de conceber o 
mundo em suas infinitas correlações limitadas à um universo extremamente reduzido. Nós 
coexistimos nessa relação histórico-patrimonial-intelectual tutelar enquanto (não)seres, 
inferiores, naturalmente de menor qualidade. Nossa forma de entender a realidade estábaseada nos critérios eurocêntricamente arquitetados. Como podemos atuar de modo a 
contribuir com a desmistificação desse saber que se impôs absoluto?
VAMOS PENSAR?
 Os MSC não são necessariamente Movimentos forjados para esse contexto, mas 
nesse contexto. Os MS ousaram mais uma vez ocupar um espaço que não foi desenhado 
por eles, para eles ou junto com eles. Um universo desconhecido que ainda hoje há 
pouco ou nenhum uso/acesso de qualidade aos artefatos digitais, as redes e/ou parceiros 
que possuam esses conhecimentos. A hegemonia digital opera ostensivamente numa 
relação assimétrica e verticalizada de poder. Relações sociais capitalistas onde poucos 
têm muito e muitos nada têm. 
 Os MS que se reinventaram entre idas e vindas, tropeços, erros e acertos, avanços 
e retrocessos, acolhem o desafio de representar muitas articulações locais pouco 
sintonizadas no universo das redes. O desafio dos MSC acompanha a própria natureza 
de sua constituição enquanto uma organização social e política em constante devir. Ou 
seja, em constante reinvenção e transformação.
 Em um texto escrito durante meu doutorado, em 2015, intitulado Uma conversa 
sobre Técnica, Tecnologia e Educação Popular na Economia Popular Solidária (EPS), 
problematizo essa construção em diálogo com a realidade do MSP da EPS. Um processo 
de autorreconhecimento das potencialidades individuais e coletivas latentes nas 
entrelinhas das ausências, dificuldades e descrédito; mas também da autoafirmação de 
uma utopia por ser mais, afinal:
144
Quando trazemos a questão de repensar a técnica e a 
tecnologia em meio aos processos pedagógicos que 
tem por base a Educação Popular, é importante des-
tacar que o desafio lançado se inscreve neste contexto 
político no qual desenvolvimento, qualidade de vida e 
direitos humanos são resumidos àquilo que a pessoa é 
capaz de consumir. Consumo que se tornou um estilo 
de vida. Afinal, a tecnologia neste cenário está a serviço 
de quem? Contra quem? A favor de quem? Como e por 
quê? (FERREIRA, 2015, p. 5244).
 A sociedade em rede, assim como os MSC, no contexto de reinvenção social em 
tempos de globalização, de ressignificação de uma realidade que vem assumindo 
configurações híbridas e multimodais complexas, carece de novos arranjos político-
pedagógicos para ajudar pessoas e grupos a entenderem a importância de reconhecer 
suas potencialidades em meio ao reino de domínio tecnocrata. As linguagens, 
metodologias, processos, artefatos, competências e habilidades necessárias a esse 
contexto em trânsito não são códigos e nem rituais simples de serem apropriados. 
Representam um poder-saber de poucos. 
 Essa apropriação em muitos contextos é dificultada, impedida ou inviável de 
muitas formas. Suas legendas e linguagens estão sendo lentamente traduzidas para 
que os grupos sociais as margens da rede sejam contemplados minimamente. Esse 
universo virtual não é um lugar de fácil uso/acesso, e esse já é alvo de problematização. 
Nesse contexto dimensões básicas da vida democrática vão se esvaziando, se tornando 
algo abstrato, distante, uma ilusão. A ilusão de ser um cidadão com direitos garantidos 
pela Constituição (1988), onde a participação, a autonomia com protagonismo social já 
se tornaram palavras soltas.
Para imergir no universo do fortalecimento e reinvenção dos MS na pers-
pectiva do desafio da inclusão digital buscar por FERREIRA, L. R.; ADAMS, 
T.Uma conversa sobre Técnica, Tecnologia e Educação Popular na Econo-
mia Popular Solidária In: Anais SEMIEDU 2015: Educação e seus sentidos no 
mundo digital. Cuiabá/MT: UFMT. 2015. p. 5241-5255. Disponível em: http://
sistemas.ufmt.br/semiedu2015/webapp/OptionUser.aspx?eventoUID-114
BUSQUE POR MAIS
 No entanto, diante desse cenário de globalização da pobreza com o esgotamento 
das dimensões ontológicas, ao longo do século XX e início desse século XXI, coletivos de 
MS vêm se mobilizando em torno de redes alternativas, pois “não se restringem à luta 
de um sujeito privilegiado, mas passam a existir como atores que, naquele determinado 
contexto de interesses e oportunidades, estão conectados. A ideia de redes permite 
extrapolar a exigência de delimitação do raio de ação dos atores sociais”. (GOSS; 
PRUDENCIO, 2004, p. 82). 
 Configuração que se torna uma aprendizagem cotidiana dos MSC, e principalmente 
dos que ainda estão operando offline. A centralidade no processo de aprendizagem nesse 
contexto se justifica pelas condições históricas, sócio-políticas e culturais da relação 
145
tênue, convergentemente cruel, entre sobrevivência e desenvolvimento. Trabalho, 
educação e desenvolvimento são temas em choque.
 Nas sociedades Modernas, desenvolvimento, inovação tecnológica e produtividade 
sempre estiveram relacionados com aumento da pobreza e da exclusão. Essa percepção 
dialoga com a percepção de Álvaro Vieira Pinto, aqui revisitado através do olhar de 
Marcos Cezar de Freitas, em torno do “lugar de cada qual”. Um “lugar” que vimos ao 
longo da nossa discussão sobre MS e AC problematizando. Na releitura, Freitas (2006, p. 
85) constata que: 
Se a letra e a gramática são também bens tecnológi-
cos, o manuseio dessa “tecnologia” conduz a um lugar 
na gradação do alfabetismo. Como em tudo na vida, o 
não-manuseio ou o manuseio de ferramentas precá-
rias tem como contrapartida um subdesenvolvimento 
intelectual responsável pelo “lugar de cada qual” numa 
escala em que coexistem graus diferentes de avanço e 
apropriação tecnológica. 
 Dentro do necessário movimento de autorreconhecimento e autovalorização de 
saberes, práticas, limites e possibilidades, os MS, bem como as pessoas que são a razão de 
ser dos mesmos, se encontram em situação de desvantagem histórica. Desenvolvimento, 
tecnologia, trabalho e educação são dimensões alinhadas a uma ideologia que pré-
determina critérios inalcançáveis para a maioria da população empobrecida. 
 Analisar a construção sociopolítica dos MSC exige delinear a experiência coletiva 
a partir do contexto desfavorável ao processo de apropriação de um conhecimento 
técnico-tecnológico e cultural que permanece fora do alcance de muitos grupos sociais. 
O contexto de pandemia está colocando essa realidade em evidência. A educação, 
como vimos na relação com a Educação Popular no tópico anterior, é uma mediação 
indispensável para o novo desafio. 
 Os enfrentamentos continuam, as bandeiras de luta se ampliaram assim como 
as mediações pedagógicas precisaram ser redesenhadas, na presunção de assumir os 
contornos necessários ao processo de ensino-hibrido ainda mais complexo. No horizonte 
permanece a utopia de uma educação libertadora que, em suas intensas interconexões, 
possa colaborar com [...] “a verdadeira finalidade da produção humana (que) consiste na 
produção das relações sociais, a construção das formas de convivência”. (FREITAS, 2006, 
p. 93).
 Essa práxis humanizante inerente a construção coletiva das formas de convivência 
mobiliza dimensões essenciais da solidariedade humana, vocação ontológica, que é 
a aprendizagem mais radical que as redes de MS estão aprendendo e ensinando ao 
longo de seu processo de constituição. Esse movimento dialógico nos remete a outra 
dimensão delineada por Dagnino (2006), quando discute/reflete sobre Um Debate sobre 
a Tecnociência: neutralidade da ciência e determinismo tecnológico. 
 Trata-se da importância da apropriação, não só do uso/acesso dos artefatos do 
universo em rede, ou de seus códigos, linguagens, inteligências, mediações. Trata-se de 
resgatar uma dimensão ética da Ciência na reconfiguração com a interface tecnológica 
de mundo e dos meios de sua produção, organização, avaliação e monitoramento. Um 
universo onde a inovação tecnológica foi patenteada pela lógica capitalista, entretanto, 
somos desafiados a estar pautando esse subproduto humano, socialmente construído, 
146
compreendendo que:
A ciência não consistiria em pura teoria, nem a tecno-
logia em pura aplicação, senão que ambas seriam in-
tegrantes de redes de cujos nós também fazem partetodo tipo de instrumentos, seres e objetos relevantes à 
atividade que se desenvolve no seu entorno. Os produ-
tos da atividade científica - as teorias -, não poderiam 
então continuar sendo separadas dos instrumentos – as 
tecnologias, inclusive - que participam da sua elabora-
ção. (DAGNINO, 2008, p. 12).
 A construção entre diferentes dimensões – científicas e técnicas/tecnológicas – 
formam a base das complexas interrelações tecidas em torno da apropriação, criação e 
organização de toda uma cultura virtual que possui em suas referências epistemológicas 
uma orientação política ideológica centralizadora. Essa dimensão que Álvaro Vieira 
Pinto (2005) denunciava quando problematizou a questão da elaboração das técnicas-
tecnologias em sua relação com o (sub)desenvolvimento. Questionou acesso, 
qualidade, melhoria na vida das pessoas. Reflexão que exige leitura histórico-política da 
modernização tecnológica.
 Nas trilhas desse processo o desdobramento político ideológico da pretensa 
neutralidade e do afã determinista, os MSC se viram mais uma vez na condição 
de expectadores de um universo controlado por grandes grupos econômicos. O 
enfrentamento foi a auto-organização a partir da construção de redes alternativas, 
Tecnologias Sociais e na estratégia de comunicação virtual pautadas em software livre. 
Um programa que pode ser trabalhado de modo “livre” pelo usuário, sem manipulação/
controle comuns aos programas que possuem um “proprietário”. 
Tecnologia Social: Dimensão forjada a partir da negação da tecnologia convencional que 
está ideologicamente associada ao fortalecimento do sistema capitalista, promovendo a 
globalização das pobrezas. As premissas da Tecnologia Social estão enraizadas na pers-
pectiva do desenvolvimento local, da valorização dos saberes e técnicas comunitárias, dos 
MS, das mulheres, das comunidades indígenas e quilombolas, do trabalho associado e so-
lidário. A intencionalidade da finalidade da tecnologia é a diferença central entre as duas 
perspectivas. Acredito que “Elas abrem caminho para tornar a resolução dos problemas, 
vinculados à pobreza e à exclusão, um desafio técnico-científico, valorizando a utilidade 
social dos conhecimentos científicos e tecnológicos localmente produzidos e não valori-
zados pela tecnologia convencional. Mas podem, inclusive, dar uma nova direção a certas 
TCs, dando-lhes finalidade social”. (LOPES et al, 2014, p. 45).
FIQUE ATENTO
 Não nos interessa entrar na mecânica do universo virtual, esse não é nosso 
propósito, o importante é salientar que ciência junto com a tecnologia se tornaram 
produtos indispensáveis ao processo de modernização e a radicalização da globalização 
para manutenção social. A visão determinista e a neutralidade avançam sobre a realidade 
cultural de modo decisivo buscando desestabilizar ainda mais as relações de poder 
estabelecidas, pois “Se a tecnologia é neutra, os imensos e frequentes distúrbios sociais 
147
que causa e os impactos ambientais negativos que ocasiona são efeitos acidentais de 
progresso e não haveria muito que fazer”. (DAGNINO, 2006, p. 05).
 Se constituir MSC nesse movimento abstrato de apropriação de uma cultura 
digital, onde uma hegemonia digital se estabelece soberana, ainda imersos nos labirintos 
abstratos da cultura letrada e acadêmica, mobilizou-os a acionar muitas dimensões 
existenciais para denunciar as estruturas políticas que inviabilizavam o uso/acesso a 
esse nicho. É importante lembrar que a luta dos MSC não se limita aos usos/acessos 
que chamam de inclusão digital, mas se assemelha mais a uma ação fragmentada e 
empobrecida oferecida pelo sistema. Sua luta inclui o direito de participar dos espaços 
sociopolíticos e econômicos que alienam essa produção humana, lembrando que: 
[...] o que caracteriza a atual revolução tecnológica não 
é a centralidade de conhecimentos e informação, mas 
sim a aplicação destes na geração de novos conheci-
mentos e de dispositivos de processamento/comunica-
ção da informação, criandose um ciclo de realimentação 
cumulativo entre a inovação e seu uso. De acordo com 
Castells (1999), as elites aprendem fazendo, e desta for-
ma modificam as aplicações da tecnologia, enquanto a 
maior parte das pessoas aprende usando, limitando-se à 
tecnologia, tornando-se tecnologicamente dependente. 
(LOPES; SCHLEMMER; ADAMS, 2014, p. 20).
 As reflexões de Dagnino e Freitas, em diálogo com essa constatação de Lopes; 
Schlemmer e Adams (2014), nos apresenta um retrato da distância socioeconômica 
entre os grupos sociais que interfere radicalmente no alargamento das desigualdades. 
Nesse contexto, a tecnologia não é neutra, nem determinante. O poder que a tecnologia 
exerce no contexto do desenvolvimento se configura, sobretudo, como um instrumento 
ideológico que serve a um dono, a um poder patronal hegemônico, assim como a escola 
e o ensino que ela oferece. Esse poder-saber retrata o interesse da ação política que está 
condicionada a ordem social, contudo é passível de transformação.
 A experiência da reinvenção se opera diante da realidade humana de 
transformações, isso porque “O homem, dentre todos os seres vivos, é o único a produzir 
sua existência. Fazendo-o livremente, graças à escolha consciente dos meios a empregar, 
dos caminhos a seguir, está obrigado a inventar.” (PINTO, 2005, p. 149). No entanto, o 
modo de reprodução capitalista, associado ao modo de desenvolvimento tecnocrata, 
não permite espaço para uma reinvenção sem privação.
Caso tenha interesse no tema da Tecnologia Social na sua relação coms 
os MS veja DAGNINO, Renato. Tecnologia social: contribuições conceituais 
e metodológicas. Campina Grande: EDUEPB, 2014. ISBN 978-85-7879-327-2. 
Available from SciELO Books 
 Disponível em: http://books.scielo.org/id/7hbdt 
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148
 Os MS em interface com outros Movimentos, nesse contexto, dialoga com 
um processo de reinvenção que redimensionou toda a produção humana. Há uma 
dimensão utópica latente nesse universo virtual. A experiência que cada grupo social 
possui com as tecnologias, em especial a Social, com as redes virtuais, seus subprodutos 
e desdobramentos sociais, educativos, políticos, culturais, econômicos e ético-estético é 
uma quimera a ser desvelada. Não há dúvidas.
 O processo pedagógico de enfrentamento das realidades manipuladas/
maquiadas se configura em uma contingência histórica que se revela nas entrelinhas 
das possibilidades como uma estratégia de humanização das pessoas, da coprodução 
humana, de seus processos e projetos. A educação é uma invenção humana que, como 
problematizado, pode ajudar na tarefa ontológica de superação das desigualdades 
socialmente estabelecidas. Contudo, permanece como um instrumento ideológico que 
ainda hoje é alienada para manutenção do status quo.
 O advento da tecnologia e da sociedade em rede trouxe muitas promessas 
ideológicas, uma delas foi a superação da fome, das desigualdades e da pobreza. O 
que vimos foi o alargamento descontrolado desse fosso sociohistórico. Situação que 
manipula a realidade, se apropria de dimensões vitais à sociedade como família, trabalho 
e religião, retirando do campo de visão da maioria das pessoas as reais intencionalidades 
que se articulam para manutenção da ordem vigente.
 O século XXI e os MSC: contexto de pandemia, redes para além de convívio social, 
trabalho, educação, mas, sobretudo, uma arena privilegiada de intercâmbios, construção/
negociação coletiva de políticas públicas, articulação/mobilização. Reprodução de 
sentidos/significados tensa e intensa, a existência humana sendo reconfigurada, mas a 
população empobrecida continua sendo mantida a sua margem e sendo considerada 
pelo Estado “mínimo” custos onerosos para os cofres públicos. A sociedade em rede se 
consolida um espaço de guetos privilegiados. Essa é a armadilha mais bem elaborada 
do capitalismo: sua reinvenção à cima de tudo e sobre todas/os.
149
FIXANDO O CONTEÚDO
1. O que são os Novos Movimentos Sociais?
a) São MS com novas demandas, com centralidadena luta de classes e na transformação 
da macroestrutura social a partir do enfrentamento as questões estruturantes como a 
política e a economia.
b) São grupos que se articulam em torno de demandas locais, sem conotação ideológica 
de classe ou de qualquer outra ordem.
c) Os NMS são expressividade de necessidades culturais ignoradas pelo recorte de classe 
social que a abordagem marxista operou unilateralmente. Essas lutas se reorganizam 
em torno de abordagens clássicas do interacionismo simbólico que a MR defendia.
d) É uma forma alternativa de compreender os MS na atualidade, sendo a perspectiva 
cultural uma chave analítica mais importante que a luta de classes. Nessa configuração 
o horizonte utópico é a organização institucional dos NMS.
e) Os NMS nascem da negação ao modelo tradicional de MS que vê na luta de classes 
seu único eixo analítico. A identidade coletiva é uma das chaves importantes para sua 
compreensão, mas não só. A abertura de sua intencionalidade acolhe uma multiplicidade 
de lutas e dimensões vividas na esfera local, microsituadas.
2. Qual a diferença epistemológica entre os MS e os NMS?
a) Os MS se diferem dos NMS pela ação político-estratégica das AC. No primeiro ela é a 
base das mobilizações, no outro ela se torna um instrumento de comunicação virtual 
entre os grupos. 
b) Os MS ampliam seu leque de bandeiras e lutas, reforçando a dimensão político-
ideológica. Os NMS partem dessa realidade e avançam para ocupar a dimensão 
econômica até então minimizada.
c) R. Os MS são organizações coletivas com ênfase analítica nas estruturas macrossociais 
como a economia e a política – foco global. Os NMS possuem centralidade nos aspectos 
microssociais: as identidades culturais e coletivas, as linguagens e ideologias – foco local.
d) As definições de MS dialogam com pressupostos clássicos e as dos NMS com 
pressupostos marxistas. 
e) Os MS têm como princípio organizar a sociedade para atender a necessidades comuns, 
sem interesse em mudanças sociais radicais; já os NMS o objetivo é a transformação 
social. 
3. Qual a contribuição teórica da abordagem da Mobilização de Recursos para o estudo 
dos MS e das AC?
a) Leitura mais ampla do sujeito social que assume papel ativo, MS organizado com 
metas; as AC se libertam das tendências centradas nos aspectos meramente psicológicos, 
assumem sua potência para articulação social dos MS. Abre as portas para (re)elaboração 
de um conceito mais aberto, apesar de entender os MS como um grupo de interesse, 
valorizando aspectos econômicos em detrimento do político, tecem as possibilidade 
150
para imersão dos NMS.
b) Foco no âmbito da mobilização de recursos, dimensão necessária a autonomia 
econômica dos MS. As AC assumem a função de manter o intercâmbio entre os diferentes 
grupos de interesse. 
c) A abordagem não deixou nenhuma contribuição significativa, sendo conhecida muito 
mais pelos equívocos e omissões teórico-práticas e analíticas.
d) O foco dado a dimensão econômica liberta os MS da visão minimalista que a eterna 
divisão de classe operava. Nesta direção, as AC ganham novas funções com a articulação 
de projetos e parcerias entre os diferentes grupos de interesse.
e) Os MS ganham status de organização institucionalizada, com contornos burocráticos 
o que é bem positivo diante da nova realidade mundial. Nessa configuração as AC 
permanecem como ponto de conexão entre as necessidades do povo organizado e os 
MS.
4. Qual a contribuição sócio-política da abordagem da Mobilização Política para os MS 
e as AC?
a) O reconhecimento das diversas culturas, questão de gênero, raça e religião no campo 
de atuação das oportunidades políticas para transformação social.
b) A centralidade do campo de oportunidades políticas associado a compreensão de que 
há outras forças ideológicas determinantes que provocam a ordem social estabelecida.
c) A partir da MP muitas dimensões não contempladas pela MR foram acolhidas. Dentre 
elas a noção de sujeito político, uma dimensão fundamental para organização dos NMS.
d) R. Valorização da ação social organizada como ação política. Esse olhar desabilita a 
soberania da abordagem utilitarista da MR, avançando para o campo das oportunidades 
políticas. Esse olhar abre janelas epistemológicas de co-criação e (re)elaboração.
e) A abordagem da MP não trouxe nenhuma colaboração haja vista sua incoerente leitura 
política que assume somente a condição estrutural para compreender a organização 
dos MS, sem dar pistas para a construção da abordagem dos NMS.
5. Ao refletir sobre a relação MS e Educação apresentaram-se algumas dimensões 
ontológicas onde esses dois fenômenos operariam uma significativa interface. Quais são 
estas dimensões?
a) A relação endógena entre essas duas dimensões está na necessidade de melhorar as 
condições de vida da população com a inclusão no mercado de trabalho. Uma educação 
que gere emprego e retire as pessoas do desemprego e do trabalho informal.
b) Concepção de educação ultrapassa o sentido/significado da lógica capitalista; educação 
para libertação da situação de opressão; como cuidado consigo e com o outro; educação 
para humanização e que rompe com a lógica moderna de educar para o mercado de 
trabalho. O enfrentamento da lógica universal que controla o ensinar/aprender.
c) Concepção de educação para a vida, o trabalho e o bem estar social. Uma relação 
pedagógica com o objetivo de inserir as pessoas no mundo do trabalho para diminuir a 
situação de pobreza generalizada.
d) A interface entre educação e MS se encontra nos objetivos comuns que é a superação 
da pobreza. A educação trabalha crianças e jovens para ascensão social e os MS ajudam 
151
as famílias que têm dificuldade em encontrar um trabalho. A relação é essa, de parceria.
e) A educação não pode ter uma relação ontológica com os MS pelo fato de ela ser uma 
política educacional apartidária de interesse público e os MS, por sua vez, são organizações 
sociais que não tem função educacional formalizada. Essa afirmação não procede. 
6. Como os processos históricos da Modernidade, Modernismo e Modernização 
atuaram sobre a construção social do papel/função política da educação que ainda hoje 
vivenciamos?
a) Cooptar a educação, o conhecimento e a razão científica foi o empreendimento mais 
eficaz para esse processo de colonização. A educação assume o papel ideológico de 
ampliar e fortalecer o poder em consolidação, o capitalismo. As condições (i)materiais 
para esse controle estariam favoráveis se as pessoas estivessem preparadas para atuar 
na mão de obra. Não precisava aprender a pensar, a reflexão sobre a realidade poderia 
atrapalhar o poder estabelecido. 
b) Com a reprodução de contingências as pessoas empobrecidas saiam do controle 
e isso precisava ser resolvido. A educação foi acionada de modo a contemplar essas 
necessidades que o processo de modernização estava suscitando. Sua função/papel 
político era oferecer uma educação de qualidade para que todos tivessem acesso a um 
lugar no mercado de trabalho e superasse a pobreza.
c) Em um contexto de atraso social, político, econômico e tecnológico, esses processos 
foram fundamentais para elevação da qualidade de vida, mas para tanto a educação 
tinha uma função primordial: formação de profissionais habilitados para as necessidades 
operacionais do mercado. Com foco no desenvolvimento a educação tinha esse papel 
político importante, só que ainda é um desafio.
d) O processo utilizou-se de toda cultura letrada, saberes e conhecimentos científicos 
produzidos para avançar e construir uma sociedade melhor. Nesse processo de 
transformação a crise é uma situação comum às sociedades em trânsito, mas com a 
ajuda da educação o desenvolvimento acontece e tudo se resolve. 
e) Esses processos históricos não interferiram no conceito de educação. Sua instituição 
se deu de modo a conceber a educação assim como ela foi estruturada socialmente, pois 
utilizá-la politicamente era uma ação ideológica antiética. Essa organização mundial 
não se relaciona com pressupostosde colonização de culturas e saberes.
7. Quais limites e possibilidades da interface operada entre os MS e a educação?
a) Nas sociedades capitalistas a educação é a alma da organização produtiva, pois é 
ela quem prepara trabalhadoras/es para qualificar os serviços e produtos oferecidos aos 
consumidores. Articular a educação com os MS vai de encontro a lógica estabelecida. 
b) A possibilidade de emancipar as pessoas da pobreza extrema, de ampliar o acesso 
as escolas e a educação que contemple uma formação crítica e criativa. Uma formação 
baseada na qualificação profissional que dê as condições necessárias para a superação 
das desigualdades sociais estabelecidas. Os limites estão no desafio da urgente superação 
da leitura de classe marxista que é base de luta dos MS, isso impele ataques a sociedade 
em plena modernização.
c) A possibilidade de tecer uma educação reflexiva, dialógica, questionadora da ordem 
social, política e econômica estabelecida; humanizadora ao mesmo tempo que qualifica 
152
uma profissionalidade engajada a um projeto coletivo de transformação social; que 
acolha as diferenças e a diversidade cultural para promoção social. Os limites estão na 
base da sociedade de classes – competitivista, individualista que desumaniza, polariza e 
capitaliza tudo/todos.
d) As possibilidades e os limites caminham juntos nessa coprodução. A educação ampla 
desejada ainda não acontece, o cenário de interface entre os saberes produzidos pela 
escola e pelos MS é uma ação revolucionária inviável. Sendo os limites superiores às 
possibilidades não convém mobilizar esforços político-pedagógicos nessa atuação.
e) Essa interface habilita os dois movimentos – a educação e os MS – a atuarem na 
transformação da sociedade capitalista. A educação vivenciada nos MS dialoga com 
pressupostos utópicos, esse é o maior desafio desse empreendimento. A sociedade 
capitalista carece de uma educação que humanize as relações nela estabelecidas. Essa 
é a possibilidade dessa interface: humanização do capitalismo. 
8. A interface dos MS com outros Movimentos altera sua constituição política e 
organizacional. Quais são os desdobramentos dessas transformações morfológicas?
a) As interfaces estabelecidas alteram todos os agentes em diálogo – MS, educação, MSC, 
NMS, MP – acolhendo uma multiplicidade de projetos que nem sempre são convergentes. 
Essa relação enfraquece os MS em sua constituição no que tange seu motivo de ser, de 
existir, pois suas metas se perdem no caráter multifacetado assumido. Essa realidade 
altera radicalmente o que entendemos por MS, se tornando outra coisa.
b) Alterou muito uma vez que a constituição de um MS está centrada na organização 
sistemática de pessoas comuns que se mobilizam por demandas sociais, políticas, 
culturais e econômicas distintas, mas que se inter-relacionam. Essas interfaces 
transformam a estrutura básica de modo que se desconfigura como MS, uma vez que 
suas articulações ultrapassam as fronteiras políticas pré-concebidas. 
c) A organização política dos MS não se altera com os intercâmbios estabelecidos com 
outros movimentos. Isso porque o caráter político reivindicatório que deu origem ao 
MS é fortemente defendido pelos atores sociais sem a possibilidade de romper com as 
metas definidas.
d) Não existe um conceito fechado do que são os MS. Mais importantes são as inter-
relações, abordagens e intencionalidades que são dinâmicas por isso em constantes 
reconfigurações ao longo da história. Sua constituição - metas, bandeiras, articulações, 
parcerias, conhecimentos e metodologias - se refazem em dialogo com a existência. Isso 
porque ele é um fenômeno humano que não tem vida própria para além das pessoas 
que o tecem, e essas estão em movimento - no enfrentamento às mazelas e luta por um 
mundo melhor. A intersecção das lutas fortalecem a multiplicidade de lutas e projetos. 
e) Não existe um conceito fechado sobre o que vem a ser um MS, ou NMS, há abordagens 
e premissas convergentes, mas também antagônicas. As interfaces que esses grupos 
estabeleceram ao longo da história revelaram um universo analítico contraditório onde 
os consensos são raros. Essa realidade multifacetada amplia os desafios da transformação 
social, pois são muitos grupos e as reivindicações se fragilizam ao invés de se fortalecerem 
mutuamente. 
153
MOVIMENTOS SOCIAIS 
E MOVIMENTOS 
POPULARES
154
11.1 APROXIMAÇÕES ONTO-EPISTEMOLÓGICA 
 Neste momento faremos o exercício de ampliar algumas aproximações Onto-
Epistemológicas entre esses dois Movimentos: Social e Popular. Viemos ao longo do 
capítulo anterior mergulhando nas interfaces tecidas pelos MS ao longo do seu processo 
de constituição com outros Movimentos. Estudamos um conjunto de dimensões 
ontológicas e epistemológicas de base onde se evidencia o universo de sentidos/
significados convergentes entre os fenômenos em estudo.
 A relação endógena da experiência dos MS latinos com a educação libertadora 
e a aproximação ainda frágil com a realidade conectada em rede formam uma aliança 
poderosa para o projeto da transformação social defendida pelos MS. A problematização 
tecida valorizou dimensões ontológicas existenciais que emergem do contexto da 
colonização de dimensões essenciais à vida. Nesse processo histórico-social se estabelece 
uma correlação desigual e desumana de poder político, cultural e econômico. Realidade 
contraditória que oferece as condições materias necessárias para reificação de uma 
cultura hegemônica cindida. Nesse movimento, os MS e MP se (des)encontram.
 Dessa realidade cindida em suas interrelações emerge evidências das interfaces 
Onto-Epistemológicas entre esses Movimentos. Para tanto, é necessário um retorno 
breve aos processos ocorridos ainda ao final do século XVIII que fora fermentado no 
século XIX e desdobrados no século XX, exigindo retomadas e revisões no século XXI. 
 A implementação da nova ordem mundial, a Modernidade, ecoa em um processo 
tenso de permanência das estratégias coloniais de subalternização e segregação cultural 
que se perpetuam através da colonialidade – de gênero, raça, religião, classe, geração. 
Nesse contexto histórico contraditório – Modernidade/Colonialidade – as dimensões 
Onto-Epistemológicas entre MS e MP se encontram imersas/emersas. 
Modernidade/Colonialidade: Dessa perspectiva eurocêntrica, certas raças são condenadas 
como “inferiores” por não serem sujeitos “racionais”. São objetos de estudo, “corpo” em con-
sequência, mais próximos da “natureza”. Em certo sentido, isto os converte em domináveis 
e exploráveis. De acordo com o mito do estado de natureza e da cadeia do processo civili-
zatório que culmina na civilização europeia, algumas raças - negros (ou africanos), índios, 
oliváceos, amarelos (ou asiáticos) e nessa sequência, estão mais próximas da “natureza” que 
os brancos. Somente desta perspectiva peculiar foi possível que os povos não-europeus fos-
sem considerados, virtualmente até a Segunda Guerra Mundial, antes de tudo como objeto 
de conhecimento e de dominação/exploração pelos europeus” (QUIJANO, 2005, p. 118). Neste 
processo colonial “[...] quando os ibéricos conquistaram, nomearam e colonizaram a Améri-
ca, encontraram um grande número de diferentes povos, cada um com sua própria história, 
linguagem, descobrimentos e produtos culturais, memória e identidade. São conhecidos os 
nomes dos mais desenvolvidos e sofisticados deles: astecas, maias, chimus, aimarás, incas, 
chibchas, etc. Trezentos anos mais tarde todos eles reduziam-se a uma única identidade: 
índios. Esta nova identidade era racial, colonial e negativa. Assim também sucedeu com 
os povos trazidos forçadamente da futura África como escravos: achantes, iorubás, zulus, 
congos, bacongos etc. No lapso de trezentos anos, todos eles não eram outra coisa além de 
negros... o padrão de poder baseado na colonialidade implicava também um padrão cogni-
tivo, uma nova perspectiva de conhecimento dentro da qual o não-europeu era o passado e 
desse modo inferior, sempre primitivo”. (QUIJANO,

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