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METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS Adriana Fernandes Gonçalves Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 M593 Met odologia do ensino de ciência [recurso eletrônico] / Organizadora, Adriana Fernandes Gonçalves. – Porto Alegre : SAGAH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-69726-29-6 1. Educação. 2. Metodologia de ensino - Ciências. I. Gonçalves, Adriana Fernandes. CDU 37.022 Metodologia: do conhecimento prévio à síntese Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as etapas da metodologia que objetivam o desenvolvimento do conhecimento científico. � Reconhecer a importância da metodologia científica aplicada às aulas de ciências. � Construir propostas de trabalho para o desenvolvimento da investigação científica. Introdução Neste texto, você vai estudar as etapas da metodologia científica: do conhecimento prévio à síntese. Também conhece de sucesso de docência, para uma melhor compreensão do tema. Metodologia científica na escola Aqui, você saberá que a metodologia científica consiste em uma série de eta- pas que o cientista deve seguir em uma sequência lógica e organizada para estudar algum fenômeno, objeto ou qualquer assunto. Esse método científico engloba as seguintes etapas: observar um fato (tema, considerando o conheci- mento prévio do aluno para explica-lo); determinar qual o problema, acerca desse fato, a partir de uma “pergunta”; formular uma hipótese; definir fon- tes de pesquisa; elaborar um cronograma; confrontar hipóteses com os dados pesquisados; elaborar considerações finais e divulgar os resultados. O professor sempre deve levar em consideração o conhecimento prévio do aluno. O alu- no deverá seguir a linha de investigação, a partir do seu conhecimento, com orientação do docente. Em todas as etapas de uma investigação o aluno fará uso desse conheci- mento, para elaborar o tema, os questionamentos, as hipóteses entre outras questões. Fique atento Entenda que, na maioria das vezes, o aluno terá suas hipóteses que serão testadas por meio de situações experimentais como uma maneira de confir- mar ou negar suas deduções. Quando é negada, o aprendiz deverá modificar a hipótese ou substituí-la por outra. Você deverá utilizar um grupo controle, como objeto de comparação, quando as experimentações forem necessárias. Por exemplo, para o grupo experimental: quando um aluno questiona a poluição de determinado rio é possível utilizar métodos de ecotoxicologia, que constituem em depositar con- centrações crescentes desta água em diferentes aquários contendo dois peixes de mesma espécie e idade; para o grupo controle: dois peixes em um aquá- rio contendo água de torneira. Quando passar o tempo da experimentação, deverá comparara situação dos animais nos aquários contendo as diferentes concentrações de poluentes com o grupo experimental, permitindo que os resultados e hipóteses sejam validados ou não. Você poderá publicar os resultados de experimentos realizados no jornal ou site da escola, ou com cartazes de divulgação, informativos do bairro e até mesmo em jornais de grande circulação e em revistas científicas especializa- das. Neste caso, essa é a última etapa do processo. Veja como é interessante divulgar o trabalho e permitir que outros alunos repitam a experiência e con- firam os resultados ou se baseiem para outras pesquisas. O método científico utilizado atualmente é baseado na metodologia de René Des- cartes, também chamado de “método cartesiano”, baseada na teoria de que tudo e todos podem ser divididos em partes, cada vez menores e analisados separadamente. Descartes elaborou um método científico com a intenção de explicar a origem do co- nhecimento. Fique atento Ainda, muito professores se dedicam às investigações científicas com o intuito de facilitar o processo de ensino/aprendizagem. Nessas pesquisas processos investigativos e ilustrativos são desenvolvidos. Conforme Ward e colaboradores (2010) o termo “investigação” deverá ser usado para atividades que façam os alunos pensarem e também a fazer escolhas sobre “o que variar” e “o que medir”. Com isso, o importante é escolher, pois proporciona que os alunos planejem seu próprio trabalho. Assim, o trabalho investigativo supera Metodologia do ensino de ciências30 qualquer atividade que envolva equipamento e atividades práticas. Veja no Quadro 1 os estágios da investigação científica. Ele mostra que são muitos os passos e, quando uma investigação é feita, os alunos ficam envolvidos. Você, como professor, deverá realizar os passos de 1 a 5. Note que talvez seja por isso que os alunos fazem tantas previsões, pois essa é a primeira parte do processo em que podem se envolver. 1. Selecão da questão global* 2. Identificacão das variáveis independentes 3. Reflexão sobre como medir/observar o resultado (variável dependente) 4. Geracão de questões 5. Selecão do equipamento e decisão de como usá-lo 6. Decisão do que pode acontecer (fazer uma previsão) se necessário* 7. Métodos de coleta de dados – tipo e quantidade de dados a ser coletados* 8. Observacões e medições 9. Registro e avaliacão dos dados (fidedignidade) 10. Interpretacão dos dados 11. Tirar conclusões 12. Avaliar o processo* *Você poderá usar outras fontes de informações a qualquer momento, mas que atendam às investigações, de acordo com a idade dos alunos. Quadro 1. Os estágios da investigação científica. Fonte: Ward et al. (2010, p.84) Metodologia aplicada às aulas de ciências Na escola, você deverá iniciar uma pesquisa científica sempre com perguntas, que podem começar com: o que quero saber? O que preciso descobrir? A metodologia científica pode ser aplicada a diferentes tipos de pesquisa. Veja: � Metodologia de pesquisa qualitativa: nesse tipo de pesquisa, os dados ana- lisados não podem ser medidos em número, mas em qualidade teórica. Aqui o que conta é a opinião de cada pesquisador na análise dos resulta- dos, e a busca para explicar alguma coisa. � Metodologia de pesquisa quantitativa: os resultados são divulgados em números, percentuais, quantidade de respostas analisadas. Metodologia: do conhecimento prévio à síntese 31 Nestes dois tipos de pesquisa você verá as abordagens diferenciadas, de acordo com os objetivos a serem atingidos. A seguir você verá os tipos de pesquisa ser utilizados de forma qualitativa ou quantitativa: � Pesquisa laboratorial: pesquisa que ocorre em situação controlada, acor- dada previamente, não precisa ser dentro de um laboratório e tem um gru- po de controle para ser comparado. � Pesquisa de campo: pesquisa que deve observar, analisar e interpretar os fatos, fenômenos e os dados obtidos com base em uma fundamentação teórica. � Pesquisa acadêmica: deve ser realizada dentro de instituição de ensino superior, orientada por professores universitários, de maneira que amplie conhecimentos em uma disciplina específica. � Pesquisa experimental: para essa pesquisa ser realizada é necessário rea- lizar um experimento. � Pesquisa teórica: são os artigos científicos em que a pesquisa analisa teo- rias pré-formuladas. � Pesquisa exploratória: neste tipo de pesquisa se busca constatar algo em um organismo. � Pesquisa empírica: tipo de pesquisa que busca testar hipóteses, através de tentativa e erro. Você poderá realizar qualquer um destes tipos de pesquisa (exceto a aca- dêmica), em todos os anos escolares, podendo adaptar as etapas de acordo com idade dos alunos. Qualquer pesquisa que escolher, você deverá utilizar as etapas da metodologia científica para obter resultados. Ainda, nos estudos de Albino e Faqueti você encontrará mais explicações a respeito das etapas das pesquisas abordadas. Proposta de trabalho para o desenvolvimento da investigação científica Quando você utilizar novas práticas pedagógicas através da metodologia científica também facilitará o entendimento e o aprendizado do aluno. O professor, muitasvezes, se depara com a seguinte situação: um determinado aluno se destaca em sala de aula, mas não pela sua genialidade e sim pelas dificuldades de aprendizado enfrentadas. Com isso surgem as questões: ava- liar o aluno pelas suas deficiências, o que conseguiu aprender ou estimular o Metodologia do ensino de ciências32 aluno ou avaliar pelo seu potencial? Você sabe que os alunos não aprendem da mesma maneira. Por exemplo, em uma turma heterogênea de 30 alunos existem aqueles que conseguem aprender somente ao prestar a atenção nas explicações do professor, mas outros precisam refazer os exercícios e tarefas de casa novamente para conseguir entender, ainda aqueles que somente com- preendem depois de horas de leitura. Cada aluno é diferente. Os teóricos Jean Piaget e Vygotsky, acreditavam que a criança tinha conhecimento prévio, por conta do contexto familiar antes de entrar para a escola. Esse conhecimento antecedente faz que as crianças analisem, comparem, ordenem, classifiquem diferentes objetos. O psicólogo russo Lev Vygotsky acreditava que os alunos deveriam per- manecer numa turma heterogênea, pois ao misturar alunos com mais e me- nos dificuldade facilita o aprendizado de todos. Há dois níveis de desenvol- vimento para Vygotsky, que são: o real, que contempla as funções mentais já desenvolvidas, estimado pelo que a criança consegue desenvolver sozinha; e o proximal (ou zona de desenvolvimento proximal), que considera tudo o que a criança será capaz de fazer quando receber auxílio de um professor ou colega, ou seja, a distância entre o que já sabe e o que pode saber com alguma assistência. Para Vygotsky, a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real de amanhã. Fique atento Conforme o professor Paganotti (2011), em seu artigo Vygotsky e o concei- to de zona de desenvolvimento proximal publicado na Revista Nova Escola, É a distância entre as práticas que uma criança já domina e as atividades nas quais ela ainda depende de ajuda. Para Vygotsky, é no caminho entre esses dois pontos que ela pode se desenvolver mentalmente por meio da interação e da troca de experiências. Não basta, portanto, determinar o que um aluno já aprendeu para avaliar seu desempenho. Metodologia: do conhecimento prévio à síntese 33 Ele vai além, citando e comentando um trecho do livro A Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores de Lev Vygotsky: O nível de desenvolvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal ca- racteriza o desenvolvimento mental prospectivamente.” (VYGOTSKY, 2007 apud PAGANOTTI, 2011). Nesse trecho, Vygotsky defende que há uma diferença entre o que o aluno já sabe (as habilidades que ele domina sozinho) e o que ainda não sabe, mas está próximo de saber (porque já consegue realizar com a aju- da de alguém). Percebe-se ainda uma crítica às avaliações que investigam o passado da aprendizagem (ao retratar, de forma retrospectiva, os níveis já atingidos). É muito mais importante determinar o que a criança pode aprender no futuro e que deve ser o foco da atuação do professor, com exercícios em grupo e compartilhamento de dúvidas e experiências. (PAGA- NOTTI, 2011). Nos PCNs, para que a aprendizagem seja significativa, é fundamental você considerar o conhecimento prévio do aluno, idade, experiências, identidade cul- tural e social. Os conteúdos devem ser flexíveis para estimular a curiosidade. Você poderá usaras tecnologias dentro da sala de aula, para auxiliar na curiosi- dade dos estudantes, por exemplo, pela natureza, ciência e pelo universo. Trata-se, portanto, de organizar atividades interessantes que permitam a exploração e a sistematização de conhecimentos compatíveis ao nível de desenvolvimento intelectual dos estudantes, em diferentes momentos do desenvolvimento. Deste modo, é possível enfatizar as relações no âmbito da vida, do Universo, do ambiente e dos equipamentos tecnológicos que poderão melhor situar o estudante em seu mundo. Dizer que o aluno é sujeito de sua aprendizagem significa afirmar que é dele o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explica- ções, mediado pela interação com o professor e outros estudantes e pelos instrumentos culturais próprios do conhecimento científico. Mas esse mo- vimento não é espontâneo; é construído com a intervenção fundamental do professor. (BRASIL, 1998, p. 28) Metodologia do ensino de ciências34 1. Vygotsky construiu a teoria da zona de desenvolvimento proximal, a qual é considerada importantíssima no âmbito escolar, pois é nesta zona que ocorrem as intervenções de outras pessoas e do meio físico no desenvolvimento humano. Portanto, cabe ao professor conhecer os níveis de desenvolvimento de seus alunos e oportunizar interações permanentes na escola, promovendo o avanço do ensino para estágios mais avançados. Qual alternativa abaixo pode ser relacionada à teoria de Vygotsky? a) Metodologia científica. b) Conhecimentos prévios. c) Problematização. d) Método científico. e) Projeto pedagógico. 2. Não existe apenas uma forma de “fazer” ciência. Diferentes fontes descrevem as etapas do método científico de maneiras diversas. Algumas delas mencionam três etapas, outras mais, outras menos. Em termos fundamentais, porém, elas incorporam os mesmos conceitos e princípios. Para os nossos propósitos, diremos que existem cinco etapas fundamentais no método. São elas: I. Definição de tema. II. Levantamento de conhecimentos prévios. III. Problematização. IV. ___ V. Síntese. Marque a alternativa que equivale ao item IV: a) Definição de objetivos. b) Divulgação de resultados. c) Levantamento de hipóteses. d) Ideias preliminares dos alunos. e) Consulta a outras fontes de pesquisa. 3. “Por meio de temas de trabalho, o processo de ensino e aprendizagem na área de ciências naturais pode ser desenvolvido dentro de contextos sociais e culturalmente relevantes, que potencializam a aprendizagem significativa. Os temas devem ser flexíveis o suficiente para abrigar a curiosidade e as dúvidas dos estudantes, proporcionando a sistematização dos diferentes conteúdos e seu desenvolvimento histórico, conforme as características e necessidades das classes de alunos, nos diferentes ciclos.” (PCNs BRASIL, 1998). Marque a alternativa que expressa uma prática de pesquisa científica INCOERENTE com a citação apresentada: a) A professora propôs aos alunos que fizessem uma pesquisa sobre os fósseis de animais encontrados na região onde moravam. b) A professora propôs a seus alunos que montassem uma horta no pátio da escola, para que pudessem acompanhar o desenvolvimento das plantas. c) A professora propôs aos alunos que anotassem tudo o que sabiam sobre o urso polar, pois pretendia montar um projeto de bem interessante. d) A professora propôs a seus alunos que levantassem um projeto de investigação sobre o problema da água na região onde moravam, Exercícios Metodologia: do conhecimento prévio à síntese 35 que comparassem com a situação geral da água em outros estados e, ainda, que montassem um projeto de interferência para tentar mudar essa realidade. e) A professora propôs a seus alunos que listassem todos os temas de maior interesse para que eles pudessem pesquisar. 4. “É sempre essencial a atuação do professor, informando, apontando relações, questionando a classe com perguntas e problemas desafiadores, trazendo exemplos, organizando o trabalho com vários materiais: coisas da natureza, da tecnologia, textos variados, ilustrações etc. Nestes momentos, os estudantes expressam seu conhecimento prévio, de origem escolar ou não, e estão reelaborando seu entendimento das coisas. Muitas vezes, as primeiras explicações são construídas no debate entre os estudantes e o professor. Assim, estabelece-se o diálogo, associando- se aquilo que os estudantes já conhecem com os desafios e os novos conceitos propostos.”(BRASIL, 1998). Na citação, podemos perceber que, através da pesquisa investigativa, várias habilidades, conceitos e atitudes são desenvolvidos. Além do entendimento conceitual, qual outro aspecto está mais evidenciado? a) Desenvolvimento de habilidades comunicativas. b) Desenvolvimento da tecnologia. c) Desenvolvimentos da postura investigativa. d) Desenvolvimento da curiosidade. e) Desenvolvimento do conhecimento prévio. 5. “Dizer que o aluno é sujeito de sua aprendizagem significa afirmar que é dele o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explicações, mediado pela interação com o professor e outros estudantes e pelos instrumentos culturais próprios do conhecimento científico. Mas esse movimento não é espontâneo; é construído com a intervenção fundamental do professor.” (BRASIL, 1998). A partir do texto, é possível AFIRMAR que: I. O aluno precisa que seu professor dê-lhe todas as informações das quais ele precisa para construir seu conhecimento. II. O professor tem o papel de mediar o processo de construção do conhecimento científico do seu aluno. III. É na interação que os alunos constroem seus conhecimentos. IV. Apesar de todas as informações que os alunos recebem, o conhecimento só será significativamente construído se o próprio aluno tiver participado das buscas e estabelecido interação com seus pares e com o objeto de investigação. Agora, assinale a alternativa que traz as afirmativas CORRETAS explicitadas anteriormente: a) Estão corretas as afirmativas I, II e IV. b) Estão corretas as afirmativas II e IV. c) Estão corretas as afirmativas II, III e IV. d) Estão corretas as afirmativas II e III. e) Estão corretas as afirmativas I e IV. Metodologia do ensino de ciências36 ALBINO, S. F.; FAQUETI, M. F. Projeto de pesquisa. Camboriú: IFC, [2015?]. Disponível em: <http://biblioteca.ifc.edu.br/wp-content/uploads/sites/9/2014/07/Como-elaborar- -um-projeto-de-pesquisa-de-Inicia%C3%A7%C3%A3o-Cient%C3%ADfica.pdf>. Aces- so em: 10 jun. 2016. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998.. PAGANOTTI, I. Vygotsky e o conceito de zona de desenvolvimento proximal. Revista Nova Escola, ed. 242, maio 2011. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ formacao/formacao-continuada/vygotsky-conceito-zona-desenvolvimento-proxi- mal-629243.shtml?page=0>. Acesso em: 3 jun. 2016. WARD, H. et al. Ensino de ciências. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Referências Metodologia: do conhecimento prévio à síntese 37