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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS INERVAÇÃO SENSORIAL E PRURIDO NEUROPÁTICO: A percepção de estímulos sensoriais cutâneos é mediada por uma série de processos de captação, responsabilidade dos receptores periféricos (corpúsculos de detecção térmica e tátil, ou terminações livres nociceptivas), condução, associada aos dermátomos, e interpretação, esta última realizada no córtex cerebral. Os dermátomos são territórios da pele inervados por fibras que saem de uma única raiz dorsal da medula. Disposição topográfica dos dermátomos Assim, quaisquer interferências ao sistema nervoso periférico podem levar à déficits sensoriais, sendo que os principais pontos acometidos são: Nervo radial: implica em sensibilidade alterada na porção dorsal dos dedos das mãos e nas áreas posteriores de braço e antebraço. Do ponto de vista motor, há incapacidade de extensão de segmentos abaixo do ombro, além de perda da abdução do polegar e da supinação do antebraço. Segmentos impactados por lesões do nervo radial Nervo mediano: provoca diminuição da sensibilidade na porção palmar do polegar, indicador e médio, além de impossibilitar a flexão desses dedos e do punho, e a pronação do antebraço; Áreas da mão inervadas pelo nervo mediano Nervo ulnar: inerva o 4º e 5º dedos das mãos, assim como promove a flexão e adução destes e do punho; Segmento das mãos inervado pelo nervo ulnar Nervo axilar: realiza a abdução do braço acima de 15º, e inerva a pele de sua porção medial; Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Interação entre áreas cutâneas inervadas pelos nervos axilar (cinza) e radial (vermelho) Nervo musculocutâneo: garante sensibilidade à parte externa do antebraço, assim como auxilia na supinação e flexão do cotovelo; Porções do antebraço com inervação pelo nervo musculocutâneo Nervo femoral: promove inervação sensorial de toda a face anteromedial da perna, além de realizar movimentos de flexão (quadril) e extensão (joelho) do membro; Distribuição motora (A) e sensitiva (B) do nervo femoral Nervo obturatório: responsável pela captação sensorial da face medial da coxa e por movimento de abdução dessa área; Panorama da inervação cutânea do nervo obturatório (roxo) Nervo ciático: se estende pela face lateral da perna/pé e pela área plantar. Causa a flexão do joelho, juntamente aos nervos tibial e peroneal; Distribuição motora (A) e sensitiva (B) do nervo ciático Nervo tibial: auxilia na inervação sensorial da sola do pé, promovendo sua flexão e inversão; Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Áreas de inervação cutânea do nervo tibial sobre perna e pé Nervo peroneal: sua porção superficial abrange a face lateral da perna, opondo- se ao nervo tibial ao promover a inversão do pé. A parte profunda, por sua vez, faz a dorsiflexão dos pés e inerva o espaço entre o hálux e o 2º pododáctilo. Distribuição motora (A) e sensitiva (B) do nervo peroneal e seus ramos PRURIDO NEUROPÁTICO: O prurido neuropático é um distúrbio da percepção sensorial em pele sã, decorrente tanto do excesso de disparos periféricos como da atenuação de mecanismos centrais de controle. Processos fisiopatológicos periféricos (acima, indicando possível desencadeamento do prurido por reprodução anormal de descarga ou degeneração de receptores cutâneos) e centrais (abaixo, destacando a síntese indevida de GRP como mediador de estímulos indevidos) Esse quadro pode ter causas dermatológicas, sistêmicas, psicogênicas ou associadas a neuropatias, sendo o diagnóstico por vezes dificultado em razão da natureza dos sintomas. As alterações mais comuns, nesse espectro, são alocinese ou hipercinese, ao passo que, na dor neuropática, há alodinia e hiperalgesia. Padrões mais comuns de prurido neuropático com polineuropatia de fibras pequenas (laranja), prurido pós-herpético (roxo), síndrome não-zóster do trigêmeo (azul), notalgia periférica (verde) e prurido braquiorradial (vermelho) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS No que se refere às possíveis apresentações de prurido neuropático, destacam-se: Prurido braquiorradial: apresenta padrão de acometimento bilateral e simétrico em C5-C6, com possibilidade de disseminação para extremidades inferiores. É associada a compressão de raízes nervosas (geralmente por tumores). Há presença de crostas que podem se estender por todo o dermátomo, além de cicatrizes, pápulas e escoriações. A exposição ao sol e a altas temperaturas atua como desencadeante do prurido. Importante descartar quadros de herpes-zóster, dermatite de contato e fotodermatoses. Segmentos eritematosos afetados por prurido braquiorradial Notalgia parestésica: afeta dermátomos de T2-T6 de forma unilateral e paravertebral. É decorrente de déficits no ramo dorsal de nervos intercostais, não costumando apresentar gatilhos. Podem ser observadas máculas ou manchas amarronzadas confluentes, hiperqueratose, escoriações e liquenificação da pele em segmentos focais dos dermátomos. É necessário excluir diagnósticos diferenciais tais como dermatite atópica, linfoma cutâneo e pitiríase versicolor. Dorso de paciente com notalgia parestésica, evidenciando locais com discromia associadas a escoriações por prurido Síndrome trópica do trigêmeo: quando causada por herpes-zóster, acomete o ramo V1, ao passo que tumorações e AVC podem levar a comprometimento de V2-V3. Normalmente é unilateral, afetando a margem dos dermátomos, como as aletas nasais. Como sintomas, destacam-se parestesia, prurido, hipo/anestesia ou dor local. A avaliação clínico-laboratorial deve descartar carcinoma basocelular e infecções cutâneas. Úlcera não cicatrizante decorrente de prurido pós- herpético Ainda não há estratégias terapêuticas específicas para pacientes com prurido neuropático, porém anti-histamínicos costumam ser prescritos como forma de promover sedação e diminuir o incômodo noturno. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Essas medicações são contraindicadas em indivíduos com mais de 65 anos, pois podem levar ao desenvolvimento de eventos cardiovasculares. Outras abordagens benéficas são o tratamento de infecções secundárias por escoriação e a manutenção de unhas bem- aparadas. O uso de anestésicos tópicos, como a lidocaína, também pode ser indicado, uma vez que inibe a condução de axônios de fibras-C, além de apresentarem menor risco de efeitos sistêmicos