Prévia do material em texto
RECURSOS EDUCACIONAIS E OBJETOS DE APRENDIZAGEM Autoria: Daniele da Rocha Schneider UNIASSELVI-PÓS Indaial - 2019 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. SCH358r Schneider, Daniele da Rocha Recursos educacionais e objetos de aprendizagem. / Daniele da Rocha Schneider. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 139 p.; il. ISBN 978-85-7141-402-0 ISBN Digital 978-85-7141-403-7 1. Recursos educacionais. - Brasil. 2. Objetos de aprendizagem. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................05 CAPÍTULO 1 Internet e Educação ...................................................................07 CAPÍTULO 2 Recursos Educacionais Abertos (Rea) ....................................49 CAPÍTULO 3 Objetivos de Aprendizagem ........................................................95 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Nas páginas que seguem, encontraremos discussões e reflexões relativas às tecnologias digitais no âmbito educacional. O surgimento da Internet consolidou de forma irreversível o uso das tecnologias digitais no contexto educacional, possibilitando a ampliação do conceito de sala de aula, flexibilização dos currículos, do espaço e do tempo. As múltiplas possibilidades de interação e de linguagem, viabilizadas pela Internet e seus serviços, oportunizam o trabalho em rede e o desenvolvimento de capacidades relacionadas à produção e acesso de informações. Essas formas de saber e conhecer, transformadas pelas tecnologias, redimensionaram os espaços de ensino-aprendizagem, tornando-os mais dinâmicos e flexíveis. Dessa forma o primeiro capítulo aborda a Internet como ferramenta pedagógica e discutiremos diferentes possibilidades de utilização das tecnologias digitais na educação. Como instrumento de mediação da prática pedagógica, o uso de tecnologias pode ser qualificado à medida que o professor desenvolve Fluência Tecnológica Digital (FTD) pois terá condições de selecionar, avaliar a potencialidade dos recursos em virtude dos objetivos e dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula e do público-alvo, denominados de nativos digitais. Além disso, conheceremos neste capítulo, diferentes métodos de pesquisa qualitativa on-line , suas características e aplicabilidade. No segundo capítulo abordaremos os Recursos Educacionais Abertos (REA). Estudaremos o conceito, o histórico, as características, repositórios, os benefícios, as licenças abertas, direitos autorais, adaptação e criação de REA. Estes são materiais de ensino, aprendizagem e investigação, disponibilizados em domínio público ou com licença aberta que permite o acesso, uso, adaptação e redistribuição. Essas ações viabilizam a integração desses recursos as atividades didáticas dos professores potencializando a prática pedagógica. No terceiro capítulo, estudaremos os objetos de aprendizagem (OA). Iniciaremos com a definição, seguida pela descrição das características e do papel que desempenham no processo de ensino-aprendizagem. Na sequência abordaremos a sua relação com a acessibilidade, destacando situações de uso, legislação e padrões. Finalizaremos apresentando alguns repositórios com dicas de acesso e uso de OA. Bons estudos! Prof.ª Daniele da Rocha Schneider CAPÍTULO 1 INTERNET E EDUCAÇÃO A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: Usar a Internet como ferramenta pedagógica. Refl etir sobre nativos e imigrantes digitais. Conhecer as possibilidades da Internet para o processo de ensino e aprendizagem. Identifi car diferentes métodos de pesquisas qualitativas on-line (análise de documentos na Internet, etnografi a virtual, grupos focais on-line e entrevistas on-line). Fazer uso da Internet para realizar pesquisa. Debater a internet como ferramenta de apoio ao professor em sala de aula. Desenvolver fl uência tecnológica digital em relação à Internet e suas aplicações educacionais. Discutir a fl uência relacionada as habilidades contemporâneas, conceitos fundamentais e capacidades intelectuais. 8 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 9 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O desenvolvimento da Internet gerou um dinamismo grande à sociedade, na medida em que fl exibiliza o acesso e compartilhamento de informações a qualquer momento. Podemos aprender em lugares diferentes e de formas diferentes. Com apenas um clique é possível encontrar diversos recursos e conteúdos didáticos. No entanto, é na instituição escolar que ocorre a transformação, desse número considerável de informações que temos a nosso dispor, em conhecimento. Quais as possibilidades que a Internet dispõe ao professor? Como ela pode se tornar ferramenta de apoio ao processo ensino-aprendizagem? Quais os desafi os que o professor enfrenta diante dos recursos viabilizados pelo desenvolvimento da Internet? Essas e outras questões serão problematizadas nesse capítulo. Na primeira seção, Internet na Educação, destacaremos a Internet como um instrumento de mediação no contexto educacional, frente às transformações tecnológicas. Na segunda seção, Fluência Tecnológica Digital: refl exões sobre nativos e imigrantes digitais, defi ne-se nativos e imigrantes digitais e a relação destes no processo educacional atual. Discute-se paralelamente a necessidade de desenvolvimento da fl uência tecnológica digital em relação à Internet e suas aplicações educacionais. Na última seção, Pesquisa na Internet: recursos e possibilidades, trabalha-se os diferentes métodos de pesquisas qualitativas on- line viabilizadas pela Internet. “A evolução tecnológica redesenha a sala de aula em um novo ambiente virtual de aprendizagem” (KENSKI, 2007, p. 93). Portanto, o capítulo procura destacar que o uso da Internet no contexto educacional, ao mesmo tempo que se torna um mecanismo efi caz para o desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem, requer o desenvolvimento de Fluência Tecnológica e Pedagógica para implementar uma prática pedagógica inovadora. Venha conhecer e se apropriar dessas possibilidades. 2 INTERNET NA EDUCAÇÃO O desenvolvimento da Internet trouxe novos desafi os aos contextos educativos, viabilizando novas formas de produzir e socializar conhecimentos e informações. Essa interconexão fi ca visível se observarmos a gradativa substituição de livros e cadernos por tablets e celulares, o quadro negro por quadro branco ou lousa digital. Aulas ocorrem à distância, através de ambientes virtuais, assim como atividades de ensino são realizadas colaborativamente por redes sociais. 10 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Para Silva (2013, p. 63), “o uso da Internet na escola é exigência da cibercultura, isto é, do novo ambiente comunicacional cultural que surge com a interconexão mundial de computadores em forte expansão no início do século XXI. Novo espaço de sociabilidade, de organização, de informação, de conhecimento e de educação”. Ao ser utilizada na escola, a Internet possibilita experiências e aprendizagens diferenciadas ao proporcionar interatividade com diferentes formas de textos, imagens e sons. Moran(1997), destaca que: A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece. Essa motivação aumenta, se o professor a faz em um clima de confi ança, de abertura, de cordialidade com os alunos. Mais que a tecnologia, o que facilita o processo de ensino-aprendizagem é a capacidade de comunicação autêntica do professor, de estabelecer relações de confi ança com os seus alunos, pelo equilíbrio, competência e simpatia com que atua (MORAN, 1997, p. 4). A popularização da Internet, expandiu o leque de possibilidades de auxílio ao professor, não apenas no processo educativo, mas, sobretudo, para seu próprio desenvolvimento profi ssional. Esse avanço possibilitou a formação de comunidades virtuais, que, a partir de suas funcionalidades, expandiram-se no âmbito educacional, dando origem aos AVA, expressão que tem sido utilizada, de modo geral, para se referir ao uso de recursos digitais de comunicação utilizados para mediar a aprendizagem (VALENTINI; SOARES, 2005), proporcionando aprendizagem colaborativa, construção coletiva e novas formas de interação. Como recurso, a Internet possibilita diferentes tipos de aplicações educacionais, conforme destaca Moran (1997): • Divulgação: pode ser institucional, mostrando seus objetivos e o que a escola possui, como também pode ser específi ca da biblioteca, dos professores, dos alunos ou de grupos organizados da escola que divulgam seus trabalhos, projetos ou ideias. • Pesquisa: pode ser feita durante as aulas ou fora dela. • Apoio ao ensino: nas atividades de apoio ao ensino pode-se obter textos, imagens, sons dirigidos ao programa desejado, utilizando-os como um elemento a mais junto com os livros, revistas e vídeos; • Comunicação: novas práticas de comunicação são desenvolvidas nas escolas. Correio eletrônico, Web, listas e grupos de discussão são alguns dos recursos utilizados. Eles proporcionam encontros virtuais entre pessoas, possibilitam a formação de grupos específi cos com interesses afi ns para trocas de informação, e quebram as barreiras de tempo e espaço. 11 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 O uso da Internet, como recurso pedagógico pode auxiliar no processo ensino-aprendizagem, visto que tanto o professor quanto o aluno têm acesso a diferentes materiais. No entanto, o acesso não garante a efi cácia do processo. Neste sentido, a diferença didática não está na utilização ou não das novas tecnologias, mas “na compreensão das suas possibilidades. Mais ainda, na compreensão da lógica que permeia a movimentação entre os saberes no atual estágio da sociedade tecnológica” (KENSKI, 2003, p. 49). Dessa forma, a autora afi rma que: Não são as tecnologias que vão revolucionar o ensino e, por extensão, a educação de forma geral, mas a maneira como essa tecnologia é utilizada para a mediação entre professores, alunos e a informação. Essa maneira pode ser revolucionária, ou não. Os processos de interação e comunicação no ensino sempre dependeram muito mais das pessoas envolvidas no processo do que das tecnologias utilizadas seja o livro, o giz ou o computador e as redes. (KENSKI, 2003, p. 121) Neste mesmo sentido, Lévy (2000) afi rma que a utilização de diferentes recursos tecnológicos pressupõe a adoção de diferentes práticas, ou na sua denominação específi ca, um “novo estilo de pedagogia”, no qual o professor deixa de ser fornecedor direto de conhecimentos e passa a ser um animador da inteligência coletiva de seus estudantes. Para Castells (1999, p. 221), essas novas práticas podem ser alcançadas a partir das ações humanas, “contudo, isso não é apenas uma questão de conhecimento e vontade política, embora estas sejam condições indispensáveis para qualquer curso alternativo de ação”. O professor necessita desenvolver atitudes de proatividade, autonomia e criatividade no planejamento e implementação de aulas para promover a aprendizagem dos alunos tanto em relação ao conteúdo quanto ao uso da tecnologia. Nesse sentido, sua formação deve abarcar não só: [...] o aspecto computacional de domínio do computador e dos diferentes softwares, como o aspecto da integração do computador nas atividades curriculares [...] por meio desse suporte, o professor poderá aprimorar suas habilidades de facilitador e gradativamente, deixará de ser o fornecedor da informação, o instrutor, para ser o facilitador do processo de aprendizagem do aluno – o agente de aprendizagem (VALENTE, 1999, p. 109). 12 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Professores e alunos se relacionam com a Internet, como se relacionam com todas as outras tecnologias. Se são curiosos, descobrem inúmeras novidades nelas como em outras mídias. Se são acomodados, só falam dos problemas, da lentidão, das difi culdades de conexão, do lixo inútil, de que nada muda. FONTE: MORAN, J. M. Como utilizar a Internet na educação. Ciência da Informação. Brasília, v. 26, n. 2, maio – ago. 1997. Disponível em: http:// www.scielo.br/pdf/ci/v26n2/v26n2-5.pdf. Acesso em:6 ago.2019. O trabalho do professor deve estar organizado de tal forma que as atividades de ensino-aprendizagem propostas desencadeiem necessidades e motivos para o aluno aprender conceitos através de um processo de humanização. Para que a aprendizagem se concretize para os estudantes e se constitua efetivamente como atividade, a atuação do professor é fundamental ao mediar a relação dos estudantes com o objeto do conhecimento, orientando e organizando o ensino. As ações do professor na organização do ensino devem criar, no estudante, a necessidade do conceito, fazendo coincidir os motivos da atividade com o objeto de estudo. O professor, como aquele que concretiza objetivos sociais objetivados no currículo escolar, organiza o ensino: defi ne ações, elege instrumentos e avalia o processo de ensino e aprendizagem (MOURA et al., 2010, p. 216). O uso de recursos tecnológicos digitais viabiliza uma nova confi guração do processo didático e metodológico. “O estudante precisa compreender e refl etir a partir do acesso, manipulação e análise das informações. Isso requer, por parte do professor, conhecimento de novas formas de aprender e ensinar, assim como de produzir, representar e problematizar o conteúdo” (RICHIT, 2014 apud SCHNEIDER; FRANCO; FOOHS, 2014, p. 2). O conhecimento das possibilidades da ferramenta tecnológica viabiliza a implementação de atividades relevantes pedagogicamente e contribui para a melhoria da qualidade do ensino. Sendo a aprendizagem um processo sempre em construção, a criação de condições de integração da tecnologia à formação docente revela-se como um processo ininterrupto de desenvolvimento (LEONTIEV, 1978). As releituras das possibilidades são necessárias ao professor para que ele coloque em “cheque” seu modo de pensar, confrontando conceitos historicamente consolidados. 13 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Behar (2009), destaca que: Os recursos digitais [...] surgem como uma ferramenta capaz de potencializar a reestruturação de práticas pedagógicas, originando novas formas de pensar a respeito do uso da comunicação, da ciência da informação, da construção, do conhecimento e da sua integração com a realidade. Desse modo, surgem os materiais educacionais digitais (MEDS) [...]. Porém, a utilização da tecnologia pela tecnologia não é o sufi ciente para a contemplação de uma nova concepção educacional. O diferencial está no planejamento pedagógico em que esses recursos digitais estão inseridos. Será preciso contemplar uma pedagogia baseada na pesquisa, no acesso à informação, na complexidade, na diversidade e na imprevisibilidade, de modo a possibilitar a criação de novos ambientes cognitivos” (BEHAR, 2009, p. 33). A complementaridade entre o pedagógico e tecnológico destacado por Behar (2009), vem ao encontro de uma das dez competências que Perrenoud (2000) destaca serem fundamentaisao professor: conhecer as possibilidades e dominar os recursos. Esse conhecimento permite aos professores reconhecer, avaliar e tomar decisões em relação à potencialidade de cada ferramenta em virtude dos objetivos e dos conteúdos a serem propostos aos estudantes. Implica o planejamento e diálogo em torno da implementação e refl exão compartilhada acerca das soluções encontradas. A necessidade de inserção de recursos tecnológicos em cursos de formação docente está contemplada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior (BRASIL, 2002). Destaca- se no artigo 2, inciso VI, “o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores” (BRASIL, 2002). Quanto às instituições que formam, destaca-se no artigo 7, inciso VI, que “as escolas de formação garantirão, com qualidade e quantidade, recursos pedagógicos como biblioteca, laboratórios, videoteca, entre outros, além de recursos de tecnologias da informação e da comunicação” (BRASIL, 2002). Corroborando tal proposta, Correia (2008) afi rma que as tecnologias auxiliam no desenvolvimento de competências dos estudantes, explorando a aprendizagem de uma forma interativa e lúdica, permitindo novos processos educativos, novas experiências, novas descobertas e novas formas de aprender. Competência que, para Perrenoud (2000, p. 131), “é cada vez menos técnica, sendo sobretudo lógica, epistemológica e didática”. Na cultura contemporânea, observa-se que os processos comunicacionais se complexifi cam, ocorrendo uma desterritorialização. O estudante aprende também 14 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem fora da sistematização da educação formal. O professor, diante dessa nova realidade da aprendizagem, precisa pensar sua prática pedagógica para além de uma estrutura engessada, aproveitando nos diferentes recursos tecnológicos digitais disponíveis. Reportagem: Tecnologia a favor da educação é tendência para o futuro, afi rma professor da USP. Disponível em: https://bit.ly/2Zx4c16. Acesso em: 28 ago. 2018. Assim como a tecnologia perpassa a sociedade, ela precisa fazer o mesmo com o currículo da formação de professores. Somente assim será possível pensar uma nova forma de construir conhecimento a partir práticas modernas, criativas e inspiradoras. O professor precisa desafi ar o estudante a utilizar recursos digitais para que ele desenvolva habilidades relacionadas à utilização do computador de modo criativo e signifi cativo (PAPERT; RESNICK, 1995). Conforme Freire (1996), ensino não é a transferência do conhecimento, mas a criação das possibilidades para a sua produção ou para sua construção. Através da manipulação dos artefatos tecnológicos para o desenvolvimento de atividades de ensino, o estudante é levado a conectar assuntos, a compreender, dialogar e construir sua própria aprendizagem. Para Richit (2014 apud SCHNEIDER; FRANCO; FOOHS, 2014, p. 2), “o processo de desenvolvimento profi ssional docente está atrelado às vivências pessoais e profi ssionais, as quais precisam ser permeadas pelas tecnologias, visando à formação docente”. Ao explorar as potencialidades didáticas dos recursos tecnológicos digitais em relação aos objetivos do ensino, é possível instigar no estudante habilidades cognitivas básicas relacionadas ao senso crítico, ao pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa (PERRENOUD, 2000). Essa ação docente, proporciona novas formas comunicacionais, assim como novas metodologias de ensinar e aprender, valorizando a fl exibilidade e a colaboração na construção do conhecimento. A evolução tecnológica está redimensionando os meios e formas de se ensinar e aprender. Nesse sentido, Nevado (2008, p. 6) destaca que “o uso das TICs vem crescendo em diversifi cados contextos educativos, como formas de ampliação dos espaços pedagógicos, facilitando o acesso à informação e a comunicação em tempos diferenciados e sem a necessidade de professores e alunos partilharem dos mesmos espaços geográfi cos”. 15 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Essas alterações refl etem sobre as tradicionais formas de pensar e fazer educação, onde o desafi o dos espaços de formação é a incorporação de mudanças estruturais nas formas de ensinar e aprender possibilitadas pelos recursos tecnológicos. Para tanto, é fundamental atentar para diversidade do pensamento fl exível, enfatizando o processo intencional de construção de signifi cados em torno dos conteúdos. A esse respeito Kenski (2007), destaca que essa nova realidade educacional precisa ser conhecida, vivenciada e apreendida criticamente para melhor problematizá-la nas atividades rotineiras de ensino. Moran, Masetto e Behrens (2000, p. 16), afi rmam que “podemos educar para a autonomia, para a liberdade, com processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, que respeitem as diferenças, que incentivem, que apoiem, orientados por pessoas e organizações livres”. A mediação dos processos de ensino e de aprendizagem, neste sentido, signifi ca potencializar e possibilitar a construção do conhecimento e não transmiti-lo (MEIER; GARCIA, 2007, p. 71). Signifi ca atuar entre o conhecimento e o estudante para que este construa sua própria aprendizagem. O professor viabiliza a aprendizagem do aluno a partir de AE que instiguem a interação e colaboração por meio de situações problemas que levem ao desenvolvimento do conhecimento. Para Oliveira (1997, p. 26), consiste num “processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento”, no caso a Internet. O avanço tecnológico está proporcionando uma série de transformações e inovações que se refl etem em vários setores da sociedade. Na educação, os avanços dos recursos educacionais digitais estão redimensionando os processos de ensinar e aprender. A aplicabilidade desses avanços já pode ser observada na instantaneidade de interação das pessoas, no trabalho colaborativo em rede, uso de dispositivos móveis para acessar materiais didático e uso da realidade virtual na simulação de situações reais, entre outros. Sobre o uso de tecnologias no contexto educacional classifi que V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O uso da tecnologia no contexto educacional só potencializa o processo de ensino virtual. ( ) Ao dar suporte ao processo educacional, as tecnologias digitais tornam-se uma alternativa exclusiva para a nova geração digital (os chamados nativos digitais), considerando as constantes transformações que a sociedade tem vivenciado. 16 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem ( ) O uso de recursos multimídia, como estratégia de ensino, viabiliza a vivência de situações de interação, colaboração, teste de soluções, construção e interpretação de conceitos, potencializando o processo de aprendizagem dos alunos. ( ) A tecnologia, nesse novo cenário da educação, vem substituir o professor. Não há mais necessidade de um sujeito físico diante de tantas possibilidades que a evolução tecnológica nos proporciona. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - V - V - F. b) ( ) F - F - V - F. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) V - F - F - V. Os recursos da internet impulsionam o desenvolvimento de novas posturas educacionais. No entanto, para que isso se efetive pedagogicamente, faz-se necessário o desenvolvimento de fl uência tecnológica digital dos sujeitos para compreensão e utilização de múltiplas ferramentas, conforme veremos na próxima seção. 3 FLUÊNCIA TECNOLÓGICA DIGITAL: REFLEXÕES SOBRE NATIVOS E IMIGRANTES DIGITAIS As constantes transformações tecnológicas, pelas quais a sociedade está vivendo, incidem diretamente na ação dos sujeitos no ambiente escolar, no trabalho nos relacionamentos pessoais. Estas transformações têm alteradoa estrutura social (CASTELLS, 1999), na medida em que os sujeitos que nascem neste contexto da internet já estão imersos no universo das mídias digitais e recebem a denominação de nativos digitais. Os termos nativos digitais e imigrantes digitais tem sua origem em Prensky (TORI, 2010 p. 218). O termo “nativos digitais” se refere aos nascidos após 1980 e que possuem habilidades com o uso das tecnologias nos contextos relacionados às redes sociais, busca de informação, modos de comunicação diversos assim como no contexto educacional. Em contrapartida aqueles que não se enquadram nesse grupo são chamados imigrantes digitais (PALFREY; GASSER, 2011). 17 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Para Prensky (2001, p. 2), “os nativos digitais estão acostumados a receber informações muito rapidamente. Eles gostam de processar mais de uma coisa por vez e realizar múltiplas tarefas”. Esses aspectos infl uenciam diretamente o modo como esses sujeitos estudam, aprendem e se relacionam culturalmente com o mundo. O professor, nesse contexto, precisa desenvolver Fluência Tecnológica Digital (FTD) em relação aos recursos tecnológicos para utilizá-los de forma signifi cativa no processo ensino aprendizagem. A palavra fl uência vem do latim fl uere, que signifi ca “fl uir”, e digital do latim digitus (dedo) (ORIGEM DA PALAVRA, 2005, s.p.). A formação do professor, considerado imigrante digital foi diferente da forma como seus alunos nativos digitais, são formados. Este professor, que advém de uma cultura anterior ao desenvolvimento da internet pode não ter FTD para “conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. ” (MORAN, 2009, p. 12). A FTD permite ao professor reconhecer, avaliar e tomar decisões em relação à potencialidade de diferentes recursos em virtude dos objetivos e dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Neste contexto perpassa pelas fl uências técnica, prática e emancipatória (Quadro 1). A fl uência técnica refere-se ao conhecimento das ferramentas, enquanto a prática requer habilidades digitais. Já a emancipatória advém de atitudes e de compartilhamentos dos conhecimentos e habilidades tecnológicas (SCHNEIDER, 2012, p. 84). Na FTP, os conhecimentos técnicos são pressupostos básicos para a problematização de métodos e práticas que ofereçam aos alunos condições de desenvolver as atividades de estudo com mais autonomia e participação. QUADRO 1- CAPACIDADES REQUERIDAS PARA ALCANCE DA FLUÊNCIA TECNOLÓGICA DIGITAL Fluência Técnica Capacidade para utilizar o computador. Capacidade para aprender novas formas de utilizar o computador. Capacidade para utilizar múltiplos programas e ferramentas. Fluência Prática Capacidade para criar e resolver atividades de estudo com o computador. Capacidade para compreender tudo o que é possível criar com uma dada ferramenta. Capacidade para criar e resolver atividades de estudo baseadas nas suas próprias ideias. 18 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Fluência Emancipatória Capacidade de utilizar a tecnologia para contribuir com a comunidade na internet. Capacidade para modifi car e ampliar atividades de estudo criadas por outros colegas na comunidade escolar. Capacidade para compreender conceitos relacionados com atividades de estudo mediada por tecnologias educacionais em rede. Capacidade para utilizar estes conceitos noutros contextos e atividades de estudo. FONTE: Schneider (2012, p. 81) Ao manipular diferentes recursos tecnológicos, explorando suas potencialidades, o professor consegue problematizar situações cotidianas dos alunos criando e compartilhando coisas novas com as tecnologias. Nesse contexto, a FTD: Requer um processo de aprendizado ao longo da vida, no qual indivíduos continuamente aplicam o que eles sabem para adaptarem-se às mudanças e adquirirem mais conhecimento para serem mais efetivos na aplicação da tecnologia da informação no seu trabalho e em suas vidas pessoais (National Research Council, 1999, apud ROCHA, 2006, p. 5). Kafai et al. (1999, p. 6-7) ressaltam que “ser fl uente é pessoal no sentido de que os indivíduos fl uentes com tecnologias da informação avaliam, distinguem, aprendem e usam novas tecnologias da informação conforme apropriado para suas atividades pessoais e profi ssionais”. O professor fl uente pode potencializar a interação e interatividade no processo ensino-aprendizagem, levando o estudante a navegar […] entre informações para estabelecer ligações com conhecimentos já adquiridos, comunica a forma como pensa, coloca-se aberto para compreender o pensamento do outro e, sobretudo, participa de um processo de construção colaborativo, cujos produtos decorrem da representação hipertextual/hipermidiática, comunicação, levantamento e teste de hipóteses e refl exões (SILVA; SANTOS, 2006, p. 9). A interatividade em ambientes on-line, potencializadas pela FTD, relaciona- se com a ação do professor em navegar na internet, ler uma mensagem eletrônica, utilizar editores de texto, preencher senhas, fazer download e upload de arquivos. Essa adaptação às novas e complexas demandas educacionais possibilita o desenvolvimento de práticas pedagógicas que são coerentes com as demandas dos nativos digitais. 19 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Muitas dessas demandas são complexas e requerem “além de competências técnicas, também as competências pedagógicas, as mais importantes para a gestão das tecnologias para o ensino” (BARROS, 2009, p. 62). Para Belloni (2001, p. 53), a relação entre educação e tecnologia implica em "que o uso de uma ‘tecnologia’ (no sentido de um artefato técnico), em situação de ensino e aprendizagem, deve estar acompanhado de uma refl exão sobre a 'tecnologia’ (no sentido do conhecimento embutido no artefato e em seu contexto de produção e utilização)". Nesse sentido, maiores níveis de FTD potencializam as problematizações dos conteúdos de ensino e aprendizagem. Demo (2008), também compartilha a preocupação em relação à simples reprodução de informações e manuseio de artefatos tecnológicos, destacando que a FTD, Vai muito além de saber usar na posição de consumidor de programas e informações. Atinge os patamares da criação de informação, busca semântica de informação, formação de autoria. Assim, podemos entender fl uência tecnológica como habilidade minimalista de digitar texto, navegar na internet, conhecer comandos repetitivos, mas igualmente como exigência rebuscada de dar conta de empreitadas não-lineares interpretativas, nas quais a postura é de sujeito participativo/ reconstrutivo (DEMO, 2008, p. 7). Papert e Resnick (1995), destacam a necessidade de ser fl uente no sentido de não apenas saber como usar ferramentas tecnológicas, mas também saber como construir coisas signifi cativas a partir delas. O professor que conhece e desenvolve habilidades em relação às ferramentas tem possibilidade de criar, modifi car, explorar e adaptar interativamente esses recursos, desafi ando dialogicamente os estudantes diante das atividades de ensino para a construção de saberes. Adaptar-se às demandas educacionais originárias das tecnologias digitais, exige inovação. Para Guerreiro (2006, p. 99) “inovação é a capacidade de ver de outro modo, com outro olhar, o objeto já observado e descrito por muitos”, que exige criatividade e mudança nas práticas pedagógicas. “Como professor preciso me mover com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio desempenho” (FREIRE,1997, p. 76). A familiarização com os termos e formas de comunicação dos nativos digitais possibilita uma relação mais amigável e tranquila. A incorporação desta nova linguagem, pode representar uma forma de atrair a atenção dos alunos durante o desenvolvimento das aulas. Nessesentido, Moran (2000), destaca que: 20 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem O professor tem um grande leque de opções metodológicas, de possibilidades de organizar sua comunicação com os alunos, de introduzir um tema, de trabalhar com os alunos presencial e virtualmente, de avaliá-los. Cada docente pode encontrar sua forma mais adequada de integrar as várias tecnologias e procedimentos metodológicos. Mas também é importante que amplie, que aprenda a dominar as formas de comunicação interpessoal/grupal e as de comunicação audiovisual/telemática (MORAN, 2000, p. 32). E-book: Refl exões sobre o educar em um mundo nativo digital. Autores: Anderson Bençal Indalécio e Douglas Aparecido de Campos. Link: https://mundonativodigital.com/livros/ O e-book provoca refl exões acerca da relação do docente com os recursos tecnológicos. Interagir virtualmente, considerando os recursos digitais que viabilizam essa ação, requer FTP nessas ferramentas e conhecimento de como elas potencializam o processo ensino-aprendizagem. Essa concretização das aprendizagens acontece através da interação, colaboração, problematização, refl exão e diálogo- problematizador, aspectos fundamentais que precisam ser incentivados pelo professor, viabilizando a aquisição do conhecimento de forma autônoma. A Interatividade é basilar na FTP do professor, no sentido de saber utilizar as ferramentas tecnológicas do computador para tornar os ambientes favoráveis ao estudo, pesquisa e diálogo focado nos conteúdos, ou seja, utilizar múltiplas ferramentas, esmiuçando os caminhos possíveis para construir e resolver atividades com signifi cados. Isso está congruente com a crítica de Freire (1987) à prática de opressão e faz-nos apostar no verdadeiro objetivo da educação como prática da liberdade que é a formação humana, do ser social, transformador, consciente. O professor problematiza diferentes situações, mobilizando condutas colaborativas entre os alunos ao longo do processo ensino-aprendizagem. A FTD nesse momento é fundamental, pois, para saber conduzir o processo, necessita ter clareza dos aspectos que envolvem a aprendizagem colaborativa, fazendo com que os estudantes realmente colaborem através das atividades propostas. 21 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Para Freire (1997, p. 104), “[...] a colaboração, como característica da ação dialógica, que não pode dar-se a não ser entre sujeitos, ainda que tenham níveis distintos de função, portanto, de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação”. O desenvolvimento da FTD pode ser compreendido como um processo contínuo e permanente que supera o letramento digital. A FTD exige dos professores o desenvolvimento de habilidades contemporâneas, conceitos fundamentais e capacidades intelectuais (Figura 1), as quais estão diretamente relacionadas a Fluência técnica, prática e emancipatória destacadas no Quadro 1. FIGURA 1 - HABILIDADES CONTEMPORÂNEAS, CONCEITOS FUNDAMENTAIS E CAPACIDADES INTELECTUAIS COMO ATRIBUTOS DA FTD FONTE: Schneider (2017, p. 48). Os conceitos fundamentais estão atrelados aos conhecimentos teóricos de redes, computadores, sistema de informações, representação digital da informação, limitações da tecnologia, impacto na sociedade da informação, modelagem e abstração. São conhecimentos técnicos que viabilizam maior compreensão do professor em relação às ferramentas on-line, assim como acesso aos benefícios que ela oferece. 22 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem As habilidades contemporâneas estão relacionadas ao uso da internet para encontrar informações, do computador para estabelecer comunicação, editores gráfi cos, materiais instrucionais, sistemas de banco de dados e confi gurações em geral. Capacitam o professor em relação à compreensão de tudo o que é possível criar com as tecnologias em rede. Capacidades intelectuais envolvem ações de colaboração, teste de solução, gerenciamento de situações complexas, pensando abstratamente sobre a implementação das tecnologias, sua organização, navegação e avaliação de informações. A partir dessas capacidades, o professor tem condições de utilizar a tecnologia para contribuir com os nativos digitais (SCHNEIDER, 2017). No mesmo sentido das capacidades intelectuais, Perrenoud (2000, p. 128), destaca que “formar para as novas tecnologias é formar o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classifi car, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de comunicação”. Para Tarouco (2013), Habilidades contemporâneas implicam a capacidade de usar os aplicativos de computador atualmente disponíveis. Conceitos fundamentais consistem nos princípios básicos sobre computadores, redes e informações que constituem a base da tecnologia. Capacidade intelectuais implicam as habilidades para aplicar a tecnologia da informação em situações complexas de forma continuada, manipulando os recursos tecnológicos para resolver problemas por mais inesperados que sejam. Isso demanda o uso de pensamento abstrato sobre a informação e sua manipulação (TAROUCO, 2013, p. 288 – 289). As habilidades destacadas, que juntas representam a FTD, ajudam o professor a desenvolver a capacidade crítica, conseguindo avaliar a metodologia mais adequada para potencializar o processo ensino-aprendizagem. O conceito de fl uência em tecnologia da informação implica uma progressão em relação ao que se associa ao conceito de “alfabetização digital” a qual pressupõe apenas habilidades básicas em relação ao uso da internet e computador, ou seja, a manipulação do software sem produção de conteúdo a partir do mesmo. A alfabetização digital, ainda O conceito de fl uência em tecnologia da informação implica uma progressão em relação ao que se associa ao conceito de “alfabetização digital” a qual pressupõe apenas habilidades básicas em relação ao uso da internet e computador, ou seja, a manipulação do software sem produção de conteúdo a partir do mesmo. A alfabetização digital, ainda segundo a autora, reduz a ação do sujeito a apenas consumidor da informação e a sua comunicação interpessoal (acesso à informação na web, download de arquivos, responder e mandar e-mail) (TAROUCO, 2013, p. 287). 23 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 segundo a autora, reduz a ação do sujeito a apenas consumidor da informação e a sua comunicação interpessoal (acesso à informação na web, download de arquivos, responder e mandar e-mail) (TAROUCO, 2013, p. 287). O Decreto 5.622, art.1º (BRASIL, 2005) contempla a FTD quando destaca a “utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação” na educação a distância. Da mesma forma os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999, p.108), destacam a importância de “saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos”. Nesse mesmo sentido, e com o objetivo de discutir o uso de tecnologias na mediação docente, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO lançou, em 2009, o projeto Padrões de Competência em TIC para Professores. O documento destaca as competências e habilidades dos professores a partir de três abordagens (UNESCO, 2009): • Alfabetização tecnológica que objetiva aumentar o entendimento tecnológico, incorporando as habilidades tecnológicas ao currículo. • Aprofundamento do conhecimento que pretende aprimorar as capacidades dos sujeitos para agregar valores à sociedade e à economia. • Criação do conhecimento, objetivando aumentar as habilidades dos sujeitos para que possam inovar, e produzir novos conhecimentos em benefício próprio. Corroborando para discussão, destaca-se um referencial recente no Brasil e discutido nos EUA desde 2006 (BRODA et al., 2009) que problematiza o usopedagógico da tecnologia digital na formação de professores. Denominado Technological Pedagogical Content Knowledge (TPACK), o modelo (Figura 2) tem origem na concepção da base de conhecimento de Shulman (1986) e considera a integração das tecnologias ao currículo escolar a partir da inter-relação dos conhecimentos científi cos, pedagógicos e tecnológicos. O conceito de TPACK é representado por meio do diagrama de Venn. 24 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem FIGURA 2 – TPACK – CONHECIMENTO TECNOLÓGICO E PEDAGÓGICO DO CONTEÚDO FONTE: Cibotto e Oliveira (2013, p. 3) O diagrama inclui três categorias fundamentais de conhecimento: Conhecimento do Conteúdo (CK – Content Knowledge), Conhecimento Pedagógico (PK – Pedagogical Knowledge) e Conhecimento Tecnológico (TK – Technological Knowledge), que unidos formam o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo – TPACK. Essas três categorias fundamentais dão origem a outros quatro tipos de conhecimento: o Conhecimento Pedagógico de Conteúdo (PCK – Pedagogical Content Knowledge), o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico (TPK – Technological Pedagogical Knowledge), o Conhecimento Tecnológico de Conteúdo (TCK – Technological Content Knowledge). Para Mishra e Koehler (2006), o TPACK é uma forma emergente de conhecimento que perpassa o conteúdo, pedagogia e tecnologia. O TPACK possibilita a inserção efi caz das tecnologias nas atividades curriculares. Perpassa o conhecimento sobre os processos e práticas ou métodos de ensino e aprendizagem e sua abrangência em relação aos fi ns educativos, valores e objetivos. 25 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 O TPACK segundo Cibotto e Oliveira (2013): [...] engloba o ensino de conteúdos curriculares utilizando técnicas pedagógicas, métodos ou estratégias de ensino, que utilizam adequadamente tecnologias para ensinar o conteúdo de forma diferenciada de acordo com as necessidades de aprendizagem dos alunos, considerando como as TIC podem contribuir para o ensino e para ajudar os alunos a desenvolver novas epistemologias ou fortalecer as existentes, representando a máxima conexão entre os sistemas teóricos que compõem o framework proposto por Mishra e Koehler (CIBOTTO; OLIVEIRA, 2013, p. 8). Os autores destacam, ainda, que o principal objetivo do TPACK é obter um ensino efi ciente através da articulação dos três saberes (TK, PK e CK). Para Coutinho (2011, p. 12), o “TPACK funciona como uma espécie de “lente conceptual” através da qual se pode perspectivar a tecnologia educativa pela forma como chama a atenção para aspectos específi cos dos fenômenos, salientando aqueles que são os aspectos a valorizar”. Através do TPACK o professor desenvolve a capacidade de saber usar as tecnologias, numa dada área curricular, a partir de uma estratégia pedagógica, num determinado contexto, promovendo a construção do conhecimento (COLL; MONEREO, 2010). Para o professor, implicaria fl exibilidade e fl uência da tecnologia, da pedagogia, do conteúdo e contexto envolvido. Num ambiente onde a educação e a tecnologia se interconectam, o professor com FTD tem capacidade de adaptar metodologias de ensino, exercitando suas possibilidades didático-pedagógicas pois, “[...] o que faz com que um processo de ensino e de aprendizagem seja efi ciente não é a opção tecnológica, mas sim a proposta epistemológica-didático-pedagógica que suporta o uso de determinada tecnologia” (SCHLEMMER; BACKES, 2008, p. 530). Considerando as características dos nativos e imigrantes digitais, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Nativo Digital. II- Imigrante Digital. ( ) Aderem de maneira transparente e automática às tecnologias emergentes. ( ) Representam a geração que para aprender precisa manusear e para isso não necessitam de nenhum curso ou acompanhamento especializado. 26 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem ( ) Representam a geração de pessoas que nasceram no auge da revolução tecnológica. ( ) Representam a “geração do não mexe que estraga”. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I - II - I - II. b) ( ) II - II - I - II. c) ( ) I - II - II- II. d) ( ) II - I - II- I. A partir da discussão e contextualização de conceitos nesta seção, destaca-se que a FTD está diretamente relacionada às habilidades contemporâneas, conceitos fundamentais e capacidades intelectuais, que implica saber utilizar, compreender, criar e compartilhar coisas novas com as tecnologias educacionais. Deste modo, quanto mais elevados os níveis de FTD maiores os avanços em termos de autonomia, conduta colaborativa e pensamento crítico dos sujeitos. Esses aspectos incidirão diretamente na aplicação dos métodos de pesquisa, assunto da próxima seção. 4 PESQUISA NA INTERNET: RECURSOS E POSSIBILIDADES A Internet nos permite o acesso instantâneo a um volume considerável de informações que são compartilhadas diariamente com pessoas de diversas partes do mundo. Diante desse espaço de informações sem fronteiras crescem, também, os desafi os metodológicos relacionados à pesquisa qualitativa. Você já parou para se perguntar como transformar tanta informação em conhecimento? Quais os sentidos dessas informações tão complexas? Quais os critérios de escolha e seleção de fontes de credibilidade científi ca que devemos utilizar em nossas pesquisas diante das informações disponíveis de forma on-line? Difi cilmente você encontrará um método de pesquisa específi co e efi ciente que atenda todas as especifi cidades dos dados de sua pesquisa, pois, conforme Fragoso, Recuero e Amaral, (2011, p. 17) “a internet pode ser tanto objeto de pesquisa (aquilo que se estuda), quanto local de pesquisa (ambiente onde a pesquisa é realizada) e, ainda, instrumento de pesquisa (por exemplo, ferramenta para coleta de dados sobre um dado tema ou assunto)”. 27 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Diante das novas possibilidades tecnológicas que envolvem a cultura contemporânea, visualiza-se a adaptação dos métodos tradicionais de pesquisa qualitativa às possibilidades do ciberespaço que envolve a comunicação e interação em comunidades virtuais, redes sociais, ciberjornalismo entre outros. Considerando as peculiaridades dessa comunicação destacaremos métodos de pesquisa como: a) análise de documentos na internet; b) etnografi a virtual; c) grupos focais on-line e d) entrevistas on-line. 4.1 ANÁLISE DE DOCUMENTOS NA INTERNET A pesquisa documental na internet é a coleta de dados em fontes primárias, as quais podem ser arquivos públicos, particulares ou de fontes estatísticas, sendo bastante utilizadas em pesquisas teóricas ou em pesquisas de estudos de caso (LAKATOS e MARCONI, 2001). As análises desses documentos relevantes são importantes, no entanto o pesquisador precisa lembrar que todos os documentos foram criados com objetivos e público específi cos. Precisa, também, observar a qualidade das fontes analisadas (YIN, 2005). Essa técnica qualitativa de análise de documentos on-line constitui um método vantajoso que pode potencializar os resultados quando acoplado a outros dados organizados pelo pesquisador. Representam fotografi as, fi lmes, desenhos, textos, canções, gráfi cos entre outros. Da mesma forma os documentos podem incluir anotações pessoais ou profi ssionais que não necessariamente estejam diretamente relacionados a pesquisa (WORTHEN, SANDES, FITZPATICK, 2004). Flick (2009), destaca que a internet apresenta uma variedade muito grande de páginas pessoais e institucionais, assim como documentos diversos que apresentam hiperligações entre si. Essa não linearidade muitas vezes pode difi cultar a localização e interpretação das informações, nesse sentido a importância de uma interface amigável. A grande quantidade de informações e o acesso facilitado às mesmas, traz como desvantagem uma maior difi culdade em relação à defi nição do que é ou não importante. Da mesmaforma, as informações tanto podem ser disponibilizadas como acessadas por qualquer um, afetando a qualidade e veracidade dos dados, o que torna a análise de documentos mais complicada (MERCADO, 2012). Para a análise de documentos pode-se utilizar tanto documentos elaborados e solicitados especifi camente para a pesquisa quanto aqueles que já existiam antes da pesquisa. Sua análise envolve transformações e operações no sentido de lhes atribuir um signifi cado relevante em relação ao problema de pesquisa. 28 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Os mecanismos de busca em documentos digitais requerem conhecimentos básicos para navegar e localizar as informações. Esses conhecimentos estão relacionados à fl uência técnica ou habilidades contemporâneas destacas na seção anterior. Para localizar um documento na web o pesquisador pode utilizar palavras-chaves ou sua combinação. A FTD, em relação aos mecanismos de busca, otimiza e facilita a pesquisa que pode ser realizada através dos próprios sites que hospedam documentos ou através dos index dos sites de busca. Conceitos relacionados ao sistema de localização de documentos na web: • URL (Uniform Resource Locator): lugar onde está armazenada a informação da web. • http:// (documento hipertexto): denominação dada aos documentos usados na Internet. www (world wide web ou rede de alcance mundial em português): termo técnico que designa um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na internet. O nome que segue o “www” é chamado de domínio, e caracteriza o tipo ou a fi nalidade de uma organização. Exemplos: o org: organização não-governamental; o com: comercial; o gov: governamental; o edu: educacional. • A extensão, a exemplo de “com.br” (Brasil), “org.ar” (Argentina), indica o país da organização. FONTE: Machado, J. A. Como Pesquisar na Internet - Métodos, Técnicas e Procedimentos Gerais. 2004, [online]. Disponível em: http:// www.forum-global.de/curso/textos/pesquisar_na_internet.htm 29 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Os portais buscadores auxiliam na busca de informações, apresentando os resultados de maneira organizada, rápida e efi ciente. Sua busca independe de quem provê as informações. Exemplos de buscadores: • Google: www.google.com.br • Google Acadêmico: scholar.google.com.br/ • UOL: www.uol.com.br • Altavista: www.altavista.com.br • Cadê: br.cade.yahoo.com • Terra: www.terra.com.br • Yahoo: www.yahoo.com.br Exemplos de buscadores: • Google: www. google.com.br • Google Acadêmico: scholar.google.com.br/ • UOL: www.uol. com.br • Altavista: www. altavista.com.br • Cadê: br.cade. yahoo.com • Terra: www.terra. com.br • Yahoo: www.yahoo. com.br Alguns comandos podem ser utilizados para fi ltrar o resultado da busca. • Se desejar encontrar a defi nição de alguma palavra, objeto etc., digite defi ne: (palavra) . • Usar aspas no início e no fi m (“ “), pois limita a pesquisa à frase digitada e não às palavras isoladas. • O asterisco (*) amplia o resultado de uma pesquisa. Exemplo: se digitar Brasil*, aparecerá o resultado da pesquisa para brasileiro, brasileira etc. • Sinal de subtração (-) – sem parênteses – elimina a palavra ou a frase, para encurtar o resultado de uma busca. Exemplo: Cordilheira -dos Andes. O sinal traz as páginas que contenham qualquer cordilheira menos a dos Andes. • O sinal de adição (+) amplia a busca e traz páginas que contenham as duas expressões. Exemplo: “folclore brasileiro + região”. • O conectivo “e” (para buscas em site de língua portuguesa) – ou and (para sites de busca em língua inglesa) – deve ser colocado entre duas palavras. Assim, a pesquisa traz páginas que contenham as duas expressões. Exemplo: Brasil e Angola. O resultado da pesquisa vai trazer páginas que contenham informação sobre os dois países. • “Ou” (busca em site de língua portuguesa), ou or (busca em língua inglesa), deve ser colocado entre duas palavras, para trazer páginas que contenham uma das duas palavras. Exemplo: Brasil ou Angola. O resultado da pesquisa vai mostrar informação sobre um dos dois países. 30 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem • Os mecanismos de busca, em sua grande maioria, ignoram letras maiúsculas e minúsculas e as acentuações da língua portuguesa ( ́), (`), (“), (ˆ), ( ̃). Além disso, interpretam o ç como c. O mesmo acontece também quando a palavra inclui caracteres como ñ, ü, ë, ö. ï. Isso permite que os usuários não tenham problemas ao usar outros teclados. Autora: Rosilãna Aparecida Dias Fonte: http://www.cead.ufjf.br/wp-content/uploads/2015/05/ media_biblioteca_pesquisa_web.pdf O Google representa um buscador com ampla abrangência. Uma forma efi caz de refi nar a pesquisa no mesmo é através da pesquisa avançada. Na página inicial (www.google.com), clique em “Confi gurações”, no rodapé direito. Em seguida escolha a opção Pesquisa Avançada (Figura 2). FIGURA 2 – PÁGINA INICIAL DO GOOGLE FONTE: Adaptado de <www.google.com>. Acesso em: 20 de abr. 2019. Na página da pesquisa avançada (Figura 3) escolha os fi ltros que deseja usar. Você pode defi nir preferências, verifi car o número de resultados encontrados, assim como um trecho do arquivo e seu tamanho. 31 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 FIGURA 3 -TELA DA BUSCA AVANÇADA DO GOOGLE FONTE: <https://www.google.com.br/advanced_search?hl=pt- BR&fg=1>. Acesso em: 20 de abr. 2019. Outra possibilidade que o Google apresenta, através do Google Alert (www.google.com/alerts), é o monitoramento e aviso sobre os assuntos mais pesquisados. Basta criar um alerta para um assunto de seu interesse que, todas as vezes que uma novidade sobre o assunto aparecer, você será informado por e-mail. Além do Google, outros buscadores podem ser utilizados considerando o propósito da pesquisa. Entre eles podemos destacar: • AltaVista (www.altavista.com): apresenta uma considerável base de dados indexados, disponibilizando ferramentas confi gurações onde é possível a escolha do idioma, fi ltro, número de resultados por páginas e tradução de links. • Gigabusca (https://stuff.mit.edu/afs/athena/activity/s/sctv/old_site/www. prokura.com.br/): se apresenta como um catálogo de endereços no qual o termo pesquisado resultará em links que direcionarão para páginas que possuem o termo pesquisado. 32 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem • Dogpile (https://www.dogpile.com/): representa um site de busca internacional que se reporta a vários sites. Permite pesquisas diferenciadas a partir de vídeos, imagens e notícias. Possibilita pesquisa em sites em português. Nesse caso é necessário clicar em ferramenta de Pesquisa Avançada e depois em Preferences. Em relação à pesquisa em portais acadêmicos, os quais têm por objetivo possibilitar a construção e armazenamento do conhecimento produzido, podemos destacar: • Educarede (www.educarede.org.br): portal gratuito e aberto destinado a educadores e alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Apresenta conteúdos atuais e desafi adores assim como canais de cultura, informação e de apoio à pesquisa. • Scielo (www.scielo.org.br): representa a base de Dados Nacional, possuindo acesso livre, mas não necessariamente aberto. Os conteúdos possuem versões em inglês e espanhol. • Portal de Periódicos da Capes (www.periodicos.capes.gov.br/): reúne publicações de várias áreas do conhecimento. O acesso é restrito ao ambiente universitário. • Domínio público (www.dominiopublico.gov.br): disponibiliza virtualmente um acervo de obras que se constitui referência para a população em geral. Permite o compartilhamento, coleta e integração de diferentes recursos (textos, sons, imagens e vídeos). Diante da possibilidade de acesso a variadas fontes de informações, disponibilizadas na internet, se torna imprescindível um olhar criterioso sobre o conteúdo, avaliando detalhes como: • Autoria / credibilidade/ citação:quem é o responsável pelo site? Uma pes- soa, uma instituição? Qual sua qualifi cação? Há citação de fontes? • Intencionalidade / Viés: com qual objetivo esse site teria sido criado? Para informar apenas, para vender, promover algo / alguém, para convencer? Veicula propaganda? Mistura fatos e opinião? Omite informações? Parece tendencioso? Há espaços para opinião do usuário? • Conteúdo / Contexto: o site abrange todas as questões relativas ao assun- to? O texto é claro? Tem um conteúdo diferenciado em relação a outros? Oferece links interessantes? Dá condições de ampliação da pesquisa? • Navegabilidade / Design: é um site de fácil navegação? Os links são facil- mente acessados? As imagens, gráfi cos, animações e sons são pesados? São necessários ao entendimento do texto? Os títulos são de fácil visual- 33 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 ização? Veicula propaganda? Elas atrapalham sua pesquisa? Fazem você se dispersar e perder tempo? Há erros grosseiros de grafi a? Enfi m, o site é agradável? • Atualidade / Continuidade: as datas de criação e atualização aparecem com clareza? Há áreas restritas a assinantes? Há áreas gratuitas e outras com custos? • Interatividade: que ferramentas interativas o site oferece? Síncronas? As- síncronas? • Publicação: há espaços para a publicação de material produzido pelo usuário? O usuário tem autonomia para a publicação? A ferramenta de publicação é de fácil utilização? FONTE: DIAS, R. A. Pesquisa na web: recursos e técnicas. Disponível em: http://www.cead.ufjf.br/wp-content/uploads/2015/05/ media_biblioteca_pesquisa_web.pdf. Acesso em: 9 ago. 2019. 4.2 ETNOGRAFIA VIRTUAL A etnografi a virtual desponta como uma técnica de observação e investigação feita através da/na internet, tendo como público-alvo comunidades, práticas e culturas on-line. Pode constituir-se tanto como método quanto como “produto resultante de uma pesquisa (relatório, narrativa)”, (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011, p. 168). A adaptação do método etnográfi co para os meios digitais resultou em diferentes termos que foram usados ora como sinônimos ora como termos específi cos defendidos por determinados autores conforme defi nição a seguir: • Netnografi a: Neologismo criado no fi nal dos anos 90 (net +etnografi a) para demarcar as adaptações do método etnográfi co em relação tanto à coleta e análise de dados, quanto à ética de pesquisa. Relacionado aos estudos de comunicação com abordagens referentes ao consumo, marketing e aos estudos das comunidades de fãs. (...) • Etnografi a digital: Explorar e expandir as possibilidades da etnografi a virtual através do constante uso das redes digitais, postando o material coletado. Outro objetivo é a criação de narrativas audiovisuais colaborativas em uma linguagem que sirva como material de estudo, mas atinja também um público extra-acadêmico. • Webnografi a: Alguns autores o utilizam enquanto um termo relacionado à pesquisa aplicada de marketing na internet, relacionado à questão das métricas e audiências dos sites, 34 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem principalmente em ambientes de discussão (...) assim como netnografi a, webnografi a também é utilizada tanto para pesquisas acadêmicas quanto mercadológicas. • Ciberantropologia: (...) Baseia-se nos conceitos da antropologia ciborgue de Donna Haraway para examinar a reconstrução tecnológica do homem e preparar o etnógrafo para lidar com uma categoria mais ampla de “ser humano” em suas reconfi gurações. (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011, p. 198-201) O uso desses diferentes termos se dá por alguns autores por questionarem se o ciberespaço pode ser considerado efetivamente um lugar. Utilizam netnografi a ou webnografi a, por exemplo, por considerarem que as pesquisas on- line apresentam especifi cidades que se diferenciam das pesquisas etnográfi cas tradicionais. Em relação a esse aspecto Hine (2000), argumenta que Uma vez que pensemos o ciberespaço como um lugar onde as pessoas fazem coisas, nós podemos começar a estudar exatamente o que é que elas fazem e porque, nos seus termos, elas o fazem. No entanto, assim como com todas as metodologias, mover a etnografi a para um ambiente on-line tem envolvido algumas reexaminações do que a metodologia implica (HINE, 2000, p. 21). O ciberespaço (também chamado de rede) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifi ca não somente a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17). Hine (2000, p. 8), ainda destaca que a etnografi a virtual possibilita respostas a muitas questões que envolvem o ciberespaço: “a) como os usuários da Internet “enxergam” suas capacidades comunicativas e interativas; b) como a Internet afeta as organizações e relações sociais, com o espaço e com o tempo; c) quais são as implicações para a autenticidade e segurança e d) se a experiência do virtual é radicalmente diferente da experiência do real físico.” As práticas de campo da etnografi a em um ambiente virtual se diferem pouco da metodologia convencional. Podemos destacar a presença física e a incursão em campo como diferenciais, assim como a interação via determinada tecnologia. Essa interação ocorre entre sujeitos em contextos sociais diversos através de conversas distintas e simultâneas. O ciberespaço (também chamado de rede) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifi ca não somente a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17). 35 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Para Passarelli, Grisolia e Tavernari (2010), a etnografi a virtual se ocupa do estudo de comportamentos e atitudes dos sujeitos da sociedade em rede. Tem como objetivo observar, interpretar e analisar os comportamentos culturais que se manifestam em torno da participação coletiva nos ambientes on-line. Demanda uma intensa participação do pesquisador no trabalho de campo, no qual a obtenção de dados é facilitada, considerando que o acesso à internet é público e os documentos estão disponíveis, na maioria das vezes, para download. A etnografi a virtual segue as seguintes etapas (MERCADO, 2012): • Defi nição do tema e do problema de pesquisa. • Realização da revisão bibliográfi ca e escolha teórica que sustentará o estudo. • Levantamento de sites e de listas de discussão diretamente relacionadas a temática de pesquisa. • Defi nição de critérios para a escolha da comunidade virtual considerando o número de membros, mensagens trocadas e dados relevantes disponíveis. • Escolha da comunidade virtual. • Apresentação da pesquisa aos membros da comunidade virtual, iniciando-se a pesquisa de campo propriamente dita. • Acompanhamento das interações na comunidade virtual. • Seleção, download e classifi cação de documentos e mensagens trocadas entre os sujeitos que auxiliarão na resolução do problema delimitado. • Seleção de sujeitos da comunidade virtual para entrevistas on-line. • Realização de entrevistas on-line quando for o caso. • Registro das observações num diário de campo • Análise dos dados coletados. • Elaboração do relatório fi nal de pesquisa. Os dados podem ser obtidos diretamente por meio das interações mediadas entre os membros das comunidades on-line e o pesquisador, ou somente através de observações, por parte do pesquisador, dos comportamentos e interações que ocorrem nos grupos virtuais. A análise dos dados pode ser realizada traçando comparações e relações entre a teoria e os aspectos observados pelo pesquisador. Uma das possibilidades é o uso da análise de conteúdo. Enquanto técnica de análise de comunicações,esse método produz signifi cados diante de uma diversidade de dados. Se aplica à análise de dados verbais (entrevistas e registros textuais) e não verbais (imagens, desenhos, fi guras, audiovisuais). Segundo Chizzotti (2006, p. 98), “o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as signifi cações explícitas ou ocultas”. 36 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Bardin (2011), concebe a análise de conteúdo como: Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 47). Bardin (2011, p. 169), ressalta que “a análise de conteúdo constitui um bom instrumento de indução para se investigarem as causas (variáveis inferidas) a partir dos efeitos (variáveis de inferência ou indicadores; referências no texto) [...]”. Por isso a necessidade paralela do referencial teórico para embasar as análises e estabelecer relações interpretativas à proposição de inferências. Uma segunda possibilidade de análise dos dados nos espaços virtuais relaciona-se a análise estatística, da distribuição de frequências. Nessa ocorre o agrupamento de dados em classes de modo a fornecer a quantidade (e/ou a percentagem) de dados em cada categoria. Etnografía virtual: introducción a una práctica empírica I. Professor: Javier Callejo Gallego. Link: https://canal.uned.es/video/5a6f7080b1111f78638b4589 4.3 GRUPOS FOCAIS ON-LINE Os grupos focais on-line ou grupos de discussão se constituem num instrumento para pesquisa qualitativa no qual o número de participantes pode variar de acordo com o propósito a ser observado pelo pesquisador, dos objetivos da pesquisa e do próprio meio em que a discussão ocorre. Nesse método de coleta de informações, a internet viabiliza a diversidade de participantes, pois possibilita a participação de pessoas de áreas geográfi cas distintas. Os participantes podem estar reunidos via videoconferência, grupos on-line, por e-mail, viabilizando a coleta de informações relacionadas a debates entre os participantes e formação de opinião (BARBOUR, 2009). Através da interação entre os participantes desses grupos o pesquisador, mesmo não tendo contato físico, face a face, consegue obter opiniões, atitudes e perceber as percepções em relação à temática em discussão. 37 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 Os grupos focais podem interagir de modo síncrono ou assíncronos. No primeiro caso a discussão ocorre em tempo real e requer uma resposta imediata. Já no segundo caso, como os participantes não precisam estar on-line ao mesmo tempo, as respostas ou opiniões podem ser mais detalhadas e elaboradas. Há a possibilidade de uma interação on-line mista, no qual o pesquisador se utiliza da interação síncrona e assíncrona. A escolha entre as três possibilidades deve levar em consideração os objetivos da pesquisa, pois conforme Campos (1999), A assincronicidade não deve ser vista somente como uma forma de interação para os participantes que não possuem um horário em comum. Mais do que simples alternativa ‘temporal’, deve estar alicerçada num projeto pedagógico, e também ser acompanhada e incentivada, para que a comunicação não seja intensa no início e fraca ou inexistente no fi nal do curso” (CAMPOS, 1999, p. 2). A realização da pesquisa em ambiente virtual se constitui em uma das principais vantagens dos grupos focais on-line em relação ao grupo focal presencial. Outras vantagens se referem à conveniência, ou seja, tanto o pesquisador como os participantes não precisam se deslocar para um local físico o que acarreta ausência de custos de deslocamento dos participantes e a rapidez da coleta e registro das informações (ADLER e ZARCHIN, 2002). Da mesma forma, o anonimato em relação à aspectos físicos, como a maneira de falar, se expressar e se vestir, pode ter infl uência positiva nas opiniões que são emitidas pelos participantes (MACLARAN e CATTERALL, 2002). A coleta de dados em um curto espaço de tempo, a abordagem de temas mais polêmicos relacionados a aspectos raciais e orientações sexuais, assim como a confi abilidade dos dados também são destacados como vantagens em relação a esse método. Para que essas vantagens se efetivem a condução da discussão e a escolha de uma temática relevante para o grupo é fundamental. Entre as desvantagens são apontadas as difi culdades em relação à habilidade na digitação, diminuição de recursos visuais (gestos, postura corporal, risos), moderação de um grande grupo, superfi cialidade dos dados considerando uma discussão simultânea, essa também requer um software que pode elevar os custos da pesquisa (WILSON, 2003). Em relação as etapas para realização dos grupos focais on-line destacam-se (ADLER e ZARCHIN, 2002): • Defi nição da temática que se quer pesquisar no grupo. • Seleção dos participantes do grupo. • Elaboração do roteiro para a discussão no grupo. 38 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem • Registro de todo o processo. • Organização e análise das informações obtidas. O tratamento e a análise dos dados coletados vão depender do referencial teórico adotado pelo pesquisador. Pode-se utilizar a análise de conteúdo qualitativa ou mesmo a análise de discurso. Para um aprofundamento teórico sobre análise de conteúdo e análise de discurso, acesse: Artigo: Análise de conteúdo: a visão de Laurence Bardin. Link: http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/291/156 Livro: Análise de discurso. Link: petletras.paginas.ufsc.br/fi les/2016/10/Livro-Texto_Analise-do- Discurso_UFSC.pdf 4.4 ENTREVISTAS ON-LINE A entrevista se constitui em um excelente instrumento para coleta de dados pois “permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos” (LÜDKE e ANDRÉ,1986, p. 34). “Ela não se reduz a uma troca de perguntas e respostas previamente preparadas, mas é concebida como uma produção de linguagem, portanto, dialógica” (FREITAS, 2002, p. 29). Para Lakatos e Marconi (2001), a entrevista apresenta vantagens relevantes à pesquisa, porque há a possibilidade de conseguir informações precisas, obter dados relevantes e signifi cativos, repetir perguntas e esclarecer dúvidas, avaliar atitudes, condutas e reações. “A entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p. 134). A entrevista on-line pode ser realizada de forma síncrona ou assíncrona. No primeiro caso, ambos, entrevistador e entrevistado, estão conectados de forma on-line através de um bate-papo, por exemplo. Já de forma assíncrona, as perguntas são enviadas pelo pesquisador aos participantes e estes podem responder de acordo com sua disponibilidade de tempo. 39 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 O tempo de resposta a entrevista assíncrona pode ser mais demorado que a entrevista face a face, no entanto, como é realizada via chat ou e-mail, a documentação das respostas se torna automatizada, o que diminui o tempo se consideramos o processo como um todo. Outras vantagens destacadas por Oliveira et al. (2009) para a entrevista on-line estão relacionadas à facilidade de agendamento da entrevista, localização, fl exibilidade, desinibição do entrevistado (questão do anonimato), maior refl exão e objetividade nas respostas. Entre as desvantagens, se comparadas à entrevista presencial, destacam-se a impossibilidade de percepção da linguagem corporal, informações reduzidas sobre os perfi s dos entrevistados e perda do foco pelapossibilidade de realizar trabalhos paralelos. O entrevistado também tem maior tempo para elaborar as respostas que muitas vezes não seriam as mesmas que ditas espontaneamente em uma entrevista presencial. Nas entrevistas on-line é importante que tanto o pesquisador quanto os entrevistados dominem o ambiente de conversação (e-mail, chat, fóruns ou formulários on-line), adotando um tipo de linguagem e símbolos conhecidos por ambos. O pesquisador deve esclarecer os objetivos da pesquisa e sua importância, criando uma relação amistosa. Livro: A entrevista na pesquisa qualitativa. Link: http://williamsoaresdossantos.com.br/pesquisa-qualitativa.html Os aspectos gerais das técnicas destacas podem ser observados no Quadro 2: QUADRO 2 - TÉCNICAS DE PESQUISA QUALITATIVA NA INTERNET Análise de documentos na Internet Etnografi a Virtual Grupos Focaison-line Entrevista on-line Aspectos gerais - grande volume de documentos na Web com conexões entre si ou entre sites específi cos; - há também impermanência e infi nidade de textos na Web (caracterizados pela não-linearidade). - pode-se estudar a internet como um tipo de ambiente so- cial ou cultural (re- quer que se passe algum tempo com os participantes). - grupos síncronos (restringir número de participantes) ou assíncronos; - estratégias par captar participantes arecidas com as da entrevista. - organização diferente daquela feita pessoalmente (via e-mail); - grupos podem ser síncronos ou assíncronos; - estratégias para captar participantes; - instruções aos participantes. 40 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Problemas na condução das técni- cas de pesquisa - mais difícil defi nir os limites das páginas na Web, modifi cam- se e desaparecem também; - apresentam uma estrutura diferente de textos e incluem outras formas de dados (imagens, sons, texto, links etc.). - ceticismo em relação a ciberlugares usados por pesquisadores. - anonimato torna difícil a contextualização das afi rmações e pessoas em seu estudo (problemas de amostragem). - o anonimato característico difi culta a contextualização das pessoas no estudo. Contribuição para a discussão metodológica geral - também são uma forma oportuna de comunicação e auto apresentação de indivíduos e organizações. - leva a reconsideração de conceitos da pesquisa etnográfi ca (o de estar lá, ser parte do cotidiano de uma cultura). - lida-se melhor com os participantes reservados; - o anonimato produz mais revelações; - documentação dos dados é facilitada (em contraste com os problemas de gravações). - integrar participantes inacessíveis, permitindo o anonimato; - produz dados já na forma de texto. Como as técnicas de pesquisa se ajustam no processo de pesquisa? - os instrumentos analíticos devem ser adaptados; - a amostragem deve ser teórica ou intencional. - a amostragem é intencional e a análise do material coletado é fl exível. - usa-se a amostragem intencional; - podem ser analisadas pelos processos de codifi cação e categorização. - pode se aplicar mesmos tipos de entrevistas na internet e fora dela; - a amostragem deverá ser intencional; - podem ser analisadas pelos processos de codifi cação e categorização. Limitações das técnicas de pesquisa - as páginas da Web representam uma face específi ca que inclui barreiras técnicas; - recomenda-se a triangulação com outros métodos para se alcançar o real sobre as pessoas ouinstituições. - é mais parcial e limitada do que as outras formas de etnografi a, uma vez que seria necessário incluir as conexões com as atividades do mundo real. - difícil controlar as infl uências externas sobre os participantes; - problemas técnicos podem perturbar a discussão; - abordagem limitada às pessoas aptas e dispostas a usar o computador. - a espontaneidade é substituída pela refl exividade; - difícil enxergar o não-verbal da comunicação; - abordagem limitada às pessoas aptas e dispostas a usar o computador. FONTE: Camboin, Bezerra e Guimarães (2015, p. 4). A Internet facilita o acesso à informação para diferentes públicos e oferece um ambiente com um potencial interessante de aprendizagem. Nesse sentido, a necessidade constante de adaptação dos métodos de pesquisa tradicionais para um contexto on-line. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A partir das refl exões que realizamos neste capítulo (Figura 3) fi cou evidente que a Internet, como recurso, possibilita diferentes tipos de aplicações educacionais tornando-se um instrumento facilitador do processo de ensino- aprendizagem. Compreender as diferentes possibilidades de uso da ferramenta tecnológica viabiliza a implementação de atividades relevantes pedagogicamente e contribui para a melhoria da qualidade do ensino. Vimos que, para conhecer as possibilidades e dominar os recursos, o professor precisa desenvolver FTD, que perpassa o desenvolvimento de 41 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 habilidades contemporâneas, conceitos fundamentais e capacidades intelectuais. Signifi ca conhecer e apropriar-se das ferramentas educacionais, seus princípios e aplicabilidade em diferentes situações. O professor com FTD reconhece, avalia e toma decisões em relação à potencialidade de cada ferramenta tecnológica com vistas ao planejamento pedagógico que é o diferencial de todo o processo. Ele passa da condição de reprodutor de informações e simples manuseio de artefatos tecnológicos para o de produtor e desenvolvedor de conteúdos didáticos mais interativos e dinâmicos. Diante das mais variadas possibilidades tecnológicas que envolvem a cultura contemporânea, problematizamos a adaptação dos métodos tradicionais de pesquisa qualitativa às possibilidades do ciberespaço. Destacamos que quanto mais elevados os níveis de FTD maiores os avanços em termos autonomia, conduta colaborativa e pensamento crítico, aspectos esses essenciais para a realização de pesquisas on-line. Portanto, o desafi o é manter a qualidade da prática docente diante da possibilidade de avanços em relação à incorporação das tecnologias, aspectos que vão exigir recursos humanos capacitados e metodologias apropriadas para assegurar a qualidade do processo ensino e de aprendizagem. FIGURA 3 - SÍNTESE DAS IDEIAS DO CAPÍTULO FONTE: A autora 42 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem REFERÊNCIAS ADLER, C. L.; ZARCHIN, Y. R. The virtual focus group: using the Internet to reach pregnant women on home bed rest. Journal of Obstetric, Gynecologic, and Neonatal Nursing, Thousand Oaks, v. 31, n. 4, p. 418-427, ago. 2002. BARBOUR, R. Grupos focais. Porto Alegre: Artmed, 2009. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BARROS, D. M. V. Guia didático sobre as tecnologias da comunicação e informação: material para o trabalho educativo na formação docente. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2009. BEHAR, P. A. (Org.). Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009. BELLONI, M. L. Educação a distância. 5. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Decreto Federal no. 5.622, de 20.12.2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm. Acesso em: 15 abr 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Disponível em: portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/res1_2.pdf. Acesso em: 15 abr 2019. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria da EducaçãoMédia e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. /ME/SEM. - Brasília: Ministério da Educação, 1999. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ expansao-da-rede-federal/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica- 2007048997/12598-publicacoes-sp-265002211 Acesso em: 15 abr. 2019. 43 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 BRODA, M.; Wereley, M. & Schmidt, A. Making Meaning From Field: Using Weblogs, Wikis, and Digital Stories to Debrief Field Placements. In I. Gibson et al. (Eds.). Proceedings of Society for Information Technology & Teacher Education International Conference 2009. Chesapeake, VA: AACE, p. 2754- 2759. CAMBOIM, L. G.; BEZERRA, E. P.; GUIMARÃES, I. J. B. Pesquisando na Internet: uma análise sobre metodologias utilizadas em dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Informação da UFPB. Biblionline, João Pessoa, v. 11, n.2, p. 123 – 134, 2015. Disponível em: http://www.periodicos. ufpb.br/ojs2/index.php/biblio/article/view/25380. Acesso em 20 abr 2019. CAMPOS, M. B.; GIRAFFA, L. Sala de aula virtual: um novo espaço incorporado à escola para se fazer educação. In: TALLER INTERNATIONAL THE SOFTWARE EDUCATIONAL – TISE 99, 1999, Santiago. Anais… Santiago: Universidad de Chile, 1999. Disponível em: http://www.c5.cl/ieinvestiga/actas/ tise99/html/papers/saladeaula/. Acesso em: 6 ago.2019. CASTELLS, M. Sociedade em rede – a Era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2006. CIBOTTO, R. A. ; OLIVEIRA, R. M. O conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo (TPACK) na formação inicial do professor de matemática. In: ENCONTRO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, 8., 2013, Campo Mourão. Anais... Campo Mourão: Universidade Estadual do Paraná / Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar, 2013. Disponível em: www.fecilcam.br/.../ MATEMATICA/ragcibottotrabalhocompleto.pdf. Acesso em: 6 ago.2019. COLL, C.; MONEREO, C. (Orgs.). Psicologia da educação virtual – Aprender e Ensinar com as Tecnologias da Informação e da Comumicação. Porto Alegre: Artmed, 2010. CORREIA, S. Inteligência Emocional e Robótica na Educação. Revista Perspectiva, 2008. Disponível em: <http://bica.imagina.pt/2008/inteligencia- emocional-e-robotica-na-educacao/>. Acesso em: 07 abr. 2019. COUTINHO, C. TPACK: em busca de um referencial teórico para a formação de professores em tecnologia educativa. Paidei@, v. 2, n. 4, p. 1982-6109, 2011. DEMO, P. Habilidades do Século XXI, Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v. 34, n. 2, maio/ago. 2008. Disponível em: http://www.senac.br/BTS/342/ artigo-1.pdf Acesso em: 15 maio 2019. 44 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem FLICK, U. A pesquisa qualitativa on-line: a utilização da internet. In: FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 238-253. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/necio_turra/PPGG%20 -%20PESQUISA%20QUALI%20PARA%20GEOGRAFIA/fl ick%20-%20 introducao%20a%20pesq%20quali.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019 FRAGOSO, S.; RECUERO, R; AMARAL, A. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREITAS, H. C. L. de. Formação de professores no Brasil: 10 anos de embate entre projetos de formação. Educação e Sociedade. v. 23, n. 80, Campinas, 2002. GUERREIRO, E. P. Cidade digital: infoinclusão social e tecnologia em rede. São Paulo: Editora Senac, 2006. HINE, Christine. Virtual Ethnography. London: SAGE Publications, 2000. KAFAI, Y. et al. Being Fluent with Information Technology, 1999. Disponível em: http://www.nap.edu/catalog/6482.html>. Acesso em: 20 jan. 2019. KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2007. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos metodologia científi ca. 4. ed. São Paulo: Atlas, p. 270, 2001. LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2010, p. 59-83. Disponível em: https://www.unifal-mg.edu.br/humanizacao/wp-content/uploads/ sites/14/2017/04/VIGOTSKI-Lev-Semenovitch-Linguagem-Desenvolvimento-e- Aprendizagem.pdf. Acesso em: 20 abr. 2019. LÉVY, P. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: editora 34, 2008. 45 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 LÉVY, P. O ciberespaço e a economia da atenção. In: PARENTE, A. (Org.). Tramas da rede: novas dimensões fi losófi cas, estéticas e políticas da comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004, p. 174-187. Disponível em: https://www. editorasulina.com.br/img/sumarios/278.pdf. Acesso em: 20 abr. 2019. LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria histórico cultural da atividade e a contribuição de Vasíli Davídov. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, n. 27, p. 5-24, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n27/n27a01.pdf. Acesso em: 20 abr. 2019. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MACHADO, J. A. Como Pesquisar na Internet - Métodos, Técnicas e Procedimentos Gerais. 2004, [on-line]. Disponível em: http://www.forum-global. de/curso/textos/pesquisar_na_internet.htm. Acesso em 20 abr. 2019. MACLARAN, P.; CATTERALL, M. Researching the social web: marketing information from virtual communities. Marketing Intelligence e Planning, Oxford, v. 20, n. 6, p. 319-326, out. 2002. MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração e interpretação de dados. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1996. MERCADO, L. P. L. Pesquisa qualitativa on-line utilizando a etnografi a virtual. Revista Teias, v. 13, n. 30, p. 169-183, set. - dez. 2012. MISHRA, P., KOEHLER, M. J. Technological pedagogical content knowledge: A framework for teacher knowledge. Teachers College Record, n. 108(6), p. 1017-1054, 2006. MORAN, J. M.; MASETTO, M.; BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, Papirus, 2000. MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Informática na Educação: Teoria & Prática. Porto Alegre, vol.3, n.1, 2000. UFRGS. Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação, pág. 137-144. MORAN, J. M. Como utilizar a Internet na educação. Ciência da Informação. Brasília, v. 26, n. 2, maio – ago. 1997. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/ v26n2/v26n2-5.pdf. Acesso em:6 ago.2019. 46 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem MOURA, M. O. et al. Atividade orientadora de Ensino: unidade entre Ensino e aprendizagem. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 10, n. 29, p. 205- 229, jan. – abr. 2010. Disponível em: https://webcache.googleusercontent. com/search?q=cache:82Dw6LLgMsEJ:https://periodicos.pucpr.br/index.php/ dialogoeducacional/article/download/3094/3022+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 9 ago. 2019. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Being Fluent with Information Technology, Washington, DC: The National Academy Press, 1999. Disponível em: https://www.uio.no/studier/emner/matnat/ifi /INF3280/v12/undervisningsmateriale/ BeingFluentWithIT.pdf. Acesso em: 20 abr. 2019. NEVADO, R. A. Espaços virtuais de docência: metamorfoses no currículo e na prática pedagógica. In: BONI, I.; TRAVERSINI, C.; EGGERT, E.; PERES, E. (Orgs.). Trajetórias e processos de ensinar e aprender: lugares, memórias e culturas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. p. 631-649. OLIVEIRA, M. O. et al. Uma comparação entre entrevistas face-to-face e entrevistas on-line via chat, aplicando-se a técnica laddering. Gestão e Regionalidade. v. 25, n. 75, set-dez2009. Disponível em: http://seer.uscs.edu.br/ index.php/revista_gestao/article/view/195/113. Acesso em: 6 ago. 2019. OLIVEIRA, S. L. Tratado de metodologia científi ca: Monografi a. São Paulo: Pioneira, 1997. ORIGEM DA PALAVRA – site de etmologia. [s.l.]: Origem da palavra, 2005. Disponível em: http://origemdapalavra.com.br/. Acesso em: 9 ago. 2019. PALFREY, J.; GASSER, U. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração dos nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011. PALLOFF, R. M.; PRATT, K. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço: estratégias efi cientes para salas de aula online. Porto Alegre: Artmed, 2002. PAPERT, S.; RESNICK, M. Technological fl uency and the representation of knowledge:proposal to the national science foundation. Cambridge, MA: MIT MediaLab, 1995. PRENSKY, M. Nativos digitais, imigrantes digitais. Tradução: Roberta de Moraes Jesus de Souza, 2001. 47 INTERNET E EDUCAÇÃO Capítulo 1 PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. PINHO, I. C. A fl uência digital como competência do professor na educação à distância. 2011, 77f. Monografi a (Especialização em Informática na Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/79657/000895472. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 6 ago.2019. ROCHA, E.C. de F. Problematizando a Inclusão Digital. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - UnB, Intercom, 2006. Disponível em: <www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1197-1.pdf> Acesso em: 11 abr. 2019. SANTOS, F. M. Análise de conteúdo: a visão de Laurence Bardin. Revista Eletrônica de Educação. São Carlos, v.6, n. 1, p. 383-387, maio 2012. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/ view/291/156 . Acesso em: 6 ago.2019. SCHLEMMER, E.; BACKES, L. Metaversos: novos espaços para construção do conhecimento. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.8, n. 24, p. 519- 532, maio. - ago. 2008. Disponível em: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/ DIALOGO?dd1=2038&dd99=view. Acesso em: 6 ago.2019. SCHLEMMER, E. O trabalho do professor e as novas tecnologias. Revista Textual, Porto alegre, v.1, n.1, p. 33-41, set. 2006. Disponível em: https://www. sinprors.org.br/wp-content/uploads/2018/05/setembro2006_completo.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019. SCHNEIDER, D. R. Prática dialógico-problematizadora dos tutores na UAB/UFSM: fl uência tecnológica no Moodle. 2012, 203f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/ handle/1/7000/SCHNEIDER%2c%20DANIELE%20DA%20ROCHA. pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 6 ago. 2019. SCHNEIDER, D. R. Fluência tecnológica digital dos professores e a organização de atividades de ensino no Moodle. 2017. 170f. Tese (Doutorado em Informática na Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/172216/001058869.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 02 fev. 2018. 48 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem SCHNEIDER, D. R.; FRANCO, S. R.; FOOHS, M. M. A utilização de Mídias Digitais nas práticas pedagógicas: uma experiência em cursos de formação docente. In: TALLER INTERNATIONAL THE SOFTWARE EDUCATIONAL – TISE 14, 2014, Fortaleza. Anais… Fortaleza: Universidad de Chile, 2014. Disponível em: http://www. tise.cl/volumen10/TISE2014/tise2014_submission_99.pdf. Acesso em: 6 ago.2019. SHULMAN, L. S. Those Who Understand: knowledge growth in teaching. Educational Research. v. 12, n. 2, p. 4 – 14, 1986. SILVA, M.; SANTOS, E. Avaliação da aprendizagem em educação on-line. São Paulo: Loyola. 2006. SOUSA, P. Análise do discurso. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. Disponível em: petletras.paginas.ufsc.br/fi les/2016/10/Livro-Texto_Analise-do- Discurso_UFSC.pdf. Acesso em: 6 ago.2019. TAKAHASHI, T. (Org.). Sociedade da informação no Brasil: livro verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. Disponível em: https://www. governodigital.gov.br/documentos-e-arquivos/livroverde.pdf. Acesso em: 6 ago.2019. TAROUCO, L. M. Um panorama da fl uência digital na sociedade da informação. In: BEHAR, P. A. (Org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013, p. 285-312. TORI, R. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distância em ensino e aprendizagem. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010. UNESCO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIÊNCIA E A CULTURA. Padrões e competência em TIC para professores: diretrizes de implementação. Paris: UNESCO, 2008. Disponível em: http://unesdoc. unesco.org/images/0015/001562/156209por.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019. VALENTE, J. A. (Org.) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP: Unicamp/NIED, 1999. WILSON, C. et al. Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de professores. Brasília: UNESCO, UFTM, 2013. 194 p. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002204/220418por.pdf. Acesso em 6 ago.2019. WORTHEN, B. R.; SANDERS, J. R.; FITZPARIC, J. L. Avaliação de programas: concepção e práticas. São Paulo: Gente, 2004. CAPÍTULO 2 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: defi nir Recursos Educacionais Abertos; conhecer a Lei dos Direitos Autorais (Lei 9.610/98) e licenças abertas; identifi car Recursos Educacionais Abertos; localizar Recursos Educacionais Abertos; discutir a abertura legal e técnica dos Recursos Educacionais Abertos; diferenciar as licenças abertas como Creative Commons, GNU – General Public License, Copyleft; debater as contribuições dos recursos educacionais abertos para o processo de construção de conhecimentos; criar e compartilhar um Recurso Educacional Aberto; licenciar um recurso educacional como REA. 50 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 51 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Como vimos nos capítulos anteriores, a internet viabiliza o acesso e com- partilhamento de informações a qualquer momento. Com apenas um clique você pode disponibilizar conteúdo e encontrar diversos recursos como imagens, vídeos e textos. Mas será que todas as opções disponibilizadas podem ser utilizadas? Você costuma observar o que cada recurso lhe permite fazer? Tem o hábito de ler os termos de uso? Não? Cuidado. Você pode estar infringindo os direitos autorais. Não se preocupe, neste capítulo vamos estudar sobre os Recursos Educacionais Abertos (REA), direitos autorais e licenças abertas, e você fi cará ciente do que é possível fazer com os recursos que a internet disponibiliza. Na primeira seção, Educação Aberta, destacamos esse movimento educa- cional que incentiva o livre acesso às oportunidades de aprendizagem. Na segunda seção, REA: histórico, conceitos e características, vamos identifi car e caracterizar REA, seus limites e potencialidades. Através do histórico deste movimento desta- caremos sua contribuição para a democratização do acesso ao conhecimento. Na seção seguinte, REA: licenças e repositórios, estudaremos os disposi- tivos da legislação problematizando o licenciamento livre e aberto. Destacaremos a Lei nº 9610/98, que regula os direitos autorais no Brasil, aprofundaremos os conhecimentos das licenças abertas, obras de domínio público e identifi caremos alguns repositórios. Para oportunizar a comunicação e a aprendizagem colabora- tiva, em cada seção realizaremos uma atividade, solicitando ações concretas em relação a dinamização teoria-prática. Em suma, o capítulo detalha as especifi cidades dos REA, dando aporte teórico e condições operacionais para produção e adaptação de REA. Portan- to, você estará habilitado a produzir e adaptar um REA, integrando-se,assim, ao movimento colaborativo de desenvolvimento de materiais educacionais dis- poníveis gratuitamente, sem restrição de direitos autorais. Aceita o desafi o de fazer parte desse círculo virtuoso? 52 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 2 EDUCAÇÃO ABERTA É indiscutível o processo de transformação que vem ocorrendo no âmbito educacional vigente, em decorrência do desenvolvimento tecnológico, que, por sua vez, tem acarretado inúmeras transformações em outras esferas, tais como a política, a econômica, a social, a cultural e a científi ca. Neste momento de incríveis mudanças tecnológicas tudo e todos são atingidos de alguma forma e a educação não seria exceção. A globalização, a internet e a sociedade em rede tem provocado nos últimos anos uma disparidade entre oferta e demanda no ensino formal. A instituição escolar não conseguiu acompanhar em sua totalidade essa rápida evolução da tecnologia na sociedade, nem em termos quantitativos, nem qualitativos. Está claro que é preciso tomar atitudes em relação à melhoria da educação em todos os níveis de ensino. Ela precisa evoluir em tecnologia, qualidade e abrangência. Neste contexto, o movimento Educação Aberta vem se intensifi cando e se popularizando, com o objetivo de desenvolver alternativas sustentáveis para uma educação de qualidade. Como alternativa concreta para a democratização do conhecimento a educação aberta visa: Fomentar (ou ter à disposição) por meio de práticas, recursos e ambientes abertos, variadas confi gurações de ensino e aprendizagem, mesmo quando essas aparentam redundância, reconhecendo a pluralidade de contextos e as possibilidades educacionais para o aprendizado ao longo da vida (SANTANA, ROSSINI, PRETTO, 2012, p. 19). • Educação aberta: o avanço coletivo de educação pela tecnologia, conteúdo e conhecimento abertos. O livro reúne capítulos escritos por seguidores do movimento Educação Aberta. O tema é abordado a partir de três contextos: partindo de uma visão de aprendizagem em geral, do papel da aprendizagem a distância e da importância da Educação Aberta como uma política pública. Disponível no link: http://www.abed.org.br/arquivos/Livro_Educacao_Aberta_ABED_ Positivo_Vijay.pdf • Como implementar uma política de educação aberta e recursos educacionais aberto (REA): guia prático para gestores. O guia representa a sistematização de seis anos de trabalho das autoras pela causa da Educação Aberta e dos Recursos Educacionais Abertos. Tem como objetivo propiciar melhor entendimento do 53 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 assunto e apoiar a implementação de medidas concretas. Acesse em: http://educadigital.org.br/guiaEA/wp-content/uploads/2017/09/ Guia_REA_Online.pdf A partir da defi nição observamos que a questão de abertura não é dependente do desenvolvimento tecnológico, no entanto, práticas de ensino e aprendizagem são reconfi guradas a partir do desenvolvimento de novas mídias. Por exemplo, os Cursos Abertos Massivos On-line (MOOCs; Massive Open Online Courses). Para Lévy (1999, p. 34) “a questão central não está na mudança do ensino tradicional para os mediatizados por tecnologias, mas na transição de uma educação e uma formação estritamente institucionalizada para uma situação de troca de saberes”. Neste contexto, faz-se necessário um equilíbrio entre modelos de ensino tradicionais e emergentes, satisfazendo assim a diversidade de estilos de aprendizagem. MOOC é um tipo de curso on-line aberto, acessíveis a todos que possuem acesso a internet. A maioria são gratuitos e em muitos há a possibilidade de certifi cação. Para maiores informações sobre MOOC e exemplos de cursos acesse: • https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/ view/23599 • revista.ibict.br/ciinf/issue/download/230/29 • https://educapes.capes.gov.br/simple-search?query=cursos%20 e%20aulas Para Sebriam, Markun e Gonsales, educação aberta se constitui em um: Movimento histórico que hoje combina a tradição de partilha de boas ideias entre educadores com a cultura digital baseada na interatividade e na colaboração. Promove a liberdade de usar, alterar, combinar e redistribuir recursos educacionais a partir do uso de tecnologias abertas, priorizando o software livre e formatos abertos. O conceito envolve também princípios relacionados a práticas pedagógicas abertas, com enfoque em inclusão, acessibilidade, equidade e ubiquidade (SEBRIAM, MARKUN e GONSALES, 2017, p. 32). O movimento educação aberta existe há décadas e não segue um modelo único. Como exemplo, temos a Universidade Aberta Britânica (UK Open University) e no Brasil, o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). No primeiro caso, há fl exibilidade na admissão de estudantes e rigor ao longo do processo para garantir 54 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem a qualidade da aprendizagem. A Universidade Aberta Britânica foi fundada em 1969, sendo atualmente, referência em Educação Aberta no mundo (SANTOS, 2012). Infl uenciou a criação da Indira Gandhi National Open University, na Índia e a Sukhotai Thammanthirat Open University, na Tailândia. No Brasil a UAB, criada em 2005, é aberta, pois o acesso e permanência é gratuito, eliminando as barreiras fi nanceiras. A UAB possui uma interação com a The Open University (Reino Unido) e se baseia na experiência espanhola da Universidad Nacional de Educación a Distancia, reafi rmando seu caráter estratégico da educação superior e do desenvolvimento científi co, tecnológico e de inovação. Essas universidades são abertas, mas apresentam graus de liberdade específi cos considerando que a educação aberta se molda e evolui enquanto conceito e termologia, conforme Quadro 1. QUADRO 1 – CONTEXTOS NOS QUAIS O TERMO EDUCAÇÃO ABERTA É UTILIZADA Termo em Inglês Tradução para o português Data aproximada de emergência/ popularização Uso/Contexto Open education Educação aberta Popularizou-se a partir da década de 1970, principalmente com o advento da Open University do Reino Unido (ou UK). A aprendizagem aberta é caracterizada pelo amplo acesso do estudante a materiais e tecnologias; opções de escolha em relação aos conteúdos e metodologias e grande abertura a diversos públicos em diferentes locais, culturas e contextos (Okada, 2008; Willinsky, 2006). Open education Educação aberta Popularizou-se a partir da década de 1970. Uso variado. Normalmente, refere-se a um conjunto de práticas educativas. É utilizado na educação infantil e de adultos; formal e informal; presencial ou a distância. Termo contemporaneamente utilizado pelo movimento de recursos educacionais abertos, mas não exclusivo ao mesmo. Distance learning or Distance Education Aprendizagem a distância ou Educação a Distância Décadas de 1930 e 1940. Educação a distância é uma forma de ensinar envolvendo tecnologias aplicadas à educação (inicialmente por correio, televisão e rádio; hoje em dia utilizando a internet). Geralmente o professor e o estudante estão geografi camente distanciados. 55 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Open Educational Resources (OER) Recursos Educacionais Abertos (REA) 2002 Materiais educacionais e de pesquisa, em vários formatos e mídias, que estejam em domínio público ou sob uma licença aberta. A primeira defi nição foi lançada pela UNESCO em 2002. Open Educational Practices (OEP) Práticas Educacionais Abertas (PEA) 2010 As PEA se referem ao uso institucionalizado de REA. São um conjunto de atividades relacionadas à criação, uso e reuso de REA (Conole, 2010). O termo foi cunhado pelo OPAL Consortium (The Open Educational Quality Initiative). Inclusive Education Educação inclusiva 1990 Se refere à universalização do acesso à educação para todas as crianças, adolescentes e adultos, promovendo a equidade (Declaração Mundial de Educação Para Todos, Tailândia, 1990).A Declaração de Dakar, de 2000, enfatiza a necessidade de se incluir pobres, portadores de defi ciências e mulheres ao se tratar de educação inclusiva. Open Access Acesso Aberto 2002 Nasceu nas discussões sobre o acesso aberto às publicações científi cas. Há três declarações que defi nem Acesso Aberto: 1) a de Budapeste, em 2002; 2) a de Bethesda, em 2003; 3) e a de Berlim, em 2003 – conhecidas como as defi nições BBB de acesso aberto. Open license Licença aberta 1999 Primeiramente lançada como open publication license (OPL) e usada para conteúdos educacionais. Atualmente, existem várias licenças abertas que podem ser usadas por autores para indicar como seus trabalhos podem ser utilizados. Exemplos são GPL e Creative Commons (CC). 56 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Open source Código aberto 1998 Se refere a software livre ou software de código aberto. Propõe padrões de uso específi cos, em termos de licença de uso, acesso ao código, distribuição, integridade do código original, trabalhos derivados e neutralidade tecnológica. A Open Source Initiative dá recomendações e orientações sobre software não- proprietário (livre). Open Courseware Open Courseware 2002 Oferta de REA em forma de cursos, em vários níveis educacionais (defi nição adaptada do projeto OPAL, 2009-2011). E-learning E-learning ou aprendizagem virtual Década de 1990 Refere-se à aplicações e processos desenhados para o estudo e aprendizagem por meios eletrônicos. Mobile learning (m-learning) Aprendizagem móvel Primeira concepção na década de 1970. Enquanto termo e prática difundiu-se na década de 1990, popularizando- se a partir de 2000. Consiste na exploração de dispositivos portáteis ubíquos, de redes sem fi o e telefonia móvel para facilitar, apoiar e enriquecer o processo de ensino e aprendizagem (JISC InfoKit, 2011). MOOC (Massive Open Online Course) Curso Aberto Online em Massa 2008 Aprendizagem distribuída, em rede. FONTE: Santos (2012, p. 80) A compreensão em relação à termologia possibilita uma diferenciação de modo menos simplista em relação à abrangência do termo educação aberta. Da mesma forma apresenta situações similares como o uso de plataformas tecnológicas para criação de recursos abertos que podem ser baseadas em código aberto ou softwares proprietários. Nesse mesmo sentido, a Declaração sobre Educação Aberta da Cidade do Cabo (2007) destaca que: [...] a educação aberta não está limitada a apenas recursos educacionais abertos. Também se baseia em tecnologias abertas que facilitam a aprendizagem colaborativa e fl exível e à 57 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 partilha de práticas de ensino que capacitam educadores para benefi ciar-se das melhores ideias de seus colegas. Ele também pode crescer para incluir novas abordagens de avaliação, acreditação e aprendizagem colaborativa. Compreender e adotar inovações como estas é fundamental para a visão de longo prazo deste movimento (ABED, 2007, p. 1). A educação aberta, independente do momento histórico, apresenta práticas comuns que a caracterizam (SANTOS, 2012) como: • liberdade em relação ao local de estudo (casa, instituição de ensino, polo de aprendizagem); • liberdade de aprender conforme o ritmo individual, seja por créditos, por módulos; • fl exibilidade na ordem e horários de estudar os conteúdos; • utilização de autoinstrução com reconhecimento formal ou informal; • isenção de mensalidades, taxas de matrículas e outros custos; • isenção de processos seletivos e da necessidade de determinadas qualifi cações prévias; • acessibilidade de cursos para portadores de necessidades especiais; • provimento de recursos educacionais abertos, para utilização tanto na educação formal quanto na informal. A partir das práticas citadas, observa-se que o movimento implica uma ideologia educacional que centra sua fi losofi a na diversidade de materiais educacionais, no compartilhamento de ideias e recursos, no respeito às individualidades dos estudantes e ritmos de aprendizagem. Interatividade, autonomia e abertura são características fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento. A interatividade é uma palavra de ordem no contexto das mídias digitais. Além de viabilizar a interação e colaboração, representa uma nova forma de operação técnica, de cunho eletrônico-digital, diferenciando-se das operações analógicas que caracterizaram as mídias tradicionais (LEMOS, 2004). Signifi ca conhecimentos relacionados a como, onde, quando e para quê “clicar” para acessar determinado recurso, infl uenciando na resolução de atividades. O conceito de autonomia tem se modifi cado com o passar dos anos em função dos avanços tecnológicos, exigindo do sujeito autodeterminação e capacidade de tomada de decisão. A seguinte situação destacada por Santos (2012), exemplifi ca a autonomia em relação às próprias criações. 58 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Em abril de 2010, o então líder da Apple, Steve Jobs, divulgou um texto explicando os motivos pelos quais a Apple não poderia utilizar arquivos de extensão .swf (de Shockwave Flash File), ou seja, animações geradas pelo software Adobe Flash. Jobs dizia claramente que era para a Apple não fi car aprisionada à empresa Adobe 1. No texto, chamado Thoughts on Flash, Jobs afi rma que “os produtos Flash da Adobe são 100% proprietários. Eles só estão disponíveis a partir da Adobe e a Adobe tem autoridade exclusiva sobre a sua valorização futura, preços etc.”. No mesmo texto, Jobs alerta que “embora os produtos Flash, da Adobe, estejam amplamente disponíveis, isso não signifi ca que eles sejam abertos, pois eles são controlados totalmente pela Adobe e estão disponíveis somente a partir dela. Por basicamente qualquer defi nição, o Flash é um sistema fechado”. Jobs sabia que o padrão aberto é o que garante a liberdade de criação e de ação de usuários e de desenvolvedores. Padrões fechados colocam os usuários em prisões lógicas que os tornam completamente dependentes dos desenvolvimentos das empresas que os dominam (SANTANA; ROSSINI; PRETTO, 2012, p. 115). Conforme André e Costa (2004): A era do conhecimento requer cada vez mais que as pessoas sejam capazes de construir conhecimentos e habilidades com outros e transmitir-lhes o que sabem, instigando-os a enriquecerem seus horizontes vitais e estimulando-os ao desenvolvimento contínuo de seus potenciais ao longo da vida. Além disso, a melhor forma de aprender é ensinar (ANDRÉ; COSTA, 2004, p. 85). Neste sentido, a autonomia deve ser processual, contínua e democrática, requerendo planejamento, organização e disciplina para atender os novos modelos de espaço dos conhecimentos (LÉVY, 1999). Modelos esses que requerem abertura, ou seja, compartilhamento, remixagem e coautoria dos recursos didáticos a serem disponibilizados aos estudantes. Nessa direção os REA se apresentam como possibilidade para viabilizar essa prática no contexto Educacional. Para Santos (2012, p. 83) “os REA, no contexto de Educação Aberta, representam um enorme potencial de compartilhamento de conhecimento entre autores e usuários, de uma forma global, sem a preocupação em infringir direitos autorais”. Mas o que são REA? Quais suas características? Na próxima seção responderemos à estas questões e veremos que os desdobramentos dessa prática ainda estão se consolidando como potência na/para Educação Aberta. 59 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 A internet viabilizou a disponibilização de materiais e informações que podem ser acessados em um clique, contribuindo para fl exibilização e aquisição do conhecimento. Considerando a perspectiva da educação aberta, analise as seguintes sentenças: I- Torna a educação mais acessível, na medida em que o sujeito tem a possibilidade de uso, personalização e redistribuição dos recursos educacionais,sem ou com poucas restrições. II- Relaciona-se amplamente e exclusivamente com o de Recursos Educacionais Abertos, os quais ancoram-se em abertura técnica e legal dos recursos. III- Promove uma cultura mais colaborativa, de partilha e fl exibilização do conhecimento. IV- Não existe restrição social, profi ssional e econômica para participação dos sujeitos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afi rmativas I, III e IV estão corretas. b) ( ) As afi rmativas II, III e IV estão corretas. c) ( ) As afi rmativas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Somente a afi rmativa I está correta. 3 REA: HISTÓRICO, CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS O movimento REA é representado por um logotipo que representa seus ideais e objetivos. De acordo com a UNESCO (2012), o semicírculo transmite a ideia de sol nascente em sentido ascendente, a capa do livro aberto representa a abertura e as três mãos representam a colaboração e o conhecimento coletivo. 60 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem FIGURA – LOGOTIPO DO MOVIMENTO REA FONTE: <http://www.unesco.org/new/fi leadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/ Events/global_oer_logo_manual_en.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2019. As discussões em torno do movimento REA tiveram início em 2001, com a criação do Creative Commons (CC) que lançou um conjunto fl exível de licenças. Neste mesmo ano, foi anunciada, pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos Estados Unidos, a iniciativa Open CourseWare (OCW), pela qual a Universidade disponibilizava pela internet todos os seus cursos de forma gratuita para uso não comercial. Mobilizados com a iniciativa que representou um avanço para a educação, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) organizou em 2002, o Fórum Global sobre OCW. Nesse fórum foi defi nido o termo Open Educational Resourses (OER). Na língua portuguesa denominado de Recurso Educacional Aberto (REA). Segundo a Declaração REA de Paris em 2012: Os REA ou Open Educational Resourses (OER) são materiais de ensino, aprendizagem e investigação, em qualquer suporte ou mídia, digital ou não, que estão sob domínio público ou são disponibilizados com licença aberta que permite o acesso, uso, adaptação e redistribuição gratuita por terceiros, sem restrição ou com poucas restrições (DECLARAÇÃO REA DE PARIS, 2012, p. 1). Em 2007, com o objetivo de promover e intensifi car o movimento REA, foi convocado uma reunião pela Open Society Institute juntamente com a Fundação Shuttleworth que desenvolve e fi nancia projetos relacionados à educação e tecnologia. Do encontro resultou a Declaração da Cidade do Cabo para a Educação Aberta que destaca três estratégias para aumentar o alcance e o impacto de recursos educacionais abertos. 61 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Para os educadores e estudantes o desafi o de participar do movimento através da criação, utilização, adaptação e melhoria de REA, convidando colegas para abraçar essa prática de forma colaborativa. A segunda estratégia refere- se a um apelo aos educadores, editores e instituições para que disponibilizem seus recursos em formato aberto viabilizando seu compartilhamento, melhoria e adaptação. Para isso há a necessidade de apresentarem abertura legal e técnica. Em relação às Políticas Públicas de REA o documento destaca como terceira estratégia, a necessidade dos governos, faculdades e universidades considerarem a educação aberta como prioridade. Ações, neste sentido, seriam a inclusão de repositórios e destaque dos REA dentro das coleções. Em 2012, ocorreu o Congresso Mundial de Recursos Educacionais Abertos, organizado pela UNESCO que teve como objetivo mobilizar governos para adoção de políticas de REA. O produto concreto desse congresso foi a Declaração de Paris que visava à compreensão e utilização de licenciamentos abertos. No ano de 2015, a UNESCO cria as Diretrizes para os Recursos Educacionais Abertos no Ensino Superior (UNESCO, 2015). As diretrizes problematizam aspectos relacionados à produção, adaptação e uso de REA, estimulando a integração dos mesmos no ensino superior. Recentemente a UNESCO promoveu o Segundo Congresso Mundial sobre REA - Ljubljana OER Action Plan 2017 (UNESCO, 2017). Seu objetivo era examinar soluções para enfrentar os desafi os de integrar o conteúdo e as práticas de REA em sistemas educacionais em todo o mundo; mostrar as melhores práticas do mundo nas políticas, iniciativas e especialistas de REA e identifi car recomendações que sejam, de forma comprovável, práticas recomendadas para a integração de REA. Ainda em 2017 a Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo completou 10 anos, fato que levou vários ativistas da educação aberta a se reunirem na Cidade do Cabo para comemorar essa data, refl etir sobre o progresso do movimento nesse período, destacar os desafi os e projetar as próximas ações. 62 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Para ler na íntegra: • Declaração da Cidade do Cabo para a Educação Aberta. Disponível em: http://www.capetowndeclaration.org/translations/ portuguese-translation • Declaração de Paris. Disponível em: http://www.unesco.org/new/ fi leadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/Events/Portuguese_Paris_ OER_Declaration.pdf • 10º Aniversário da Declaração de Educação Aberta da Cidade do Cabo: Disponível em: https://aberta.org.br/wp-content/ uploads/2018/01/CPT10Revisado.pdf No Brasil, o projeto sobre REA teve início em 2008, com a visita de uma delegação internacional de REA ao Ministério da Educação. As discussões em torno do assunto deram origem à comunidade REA-Brasil que reúne diversos profi ssionais que acreditam nessa iniciativa (PROJETO REA-BRASIL, 2014). Ainda em 2008, foram criados os primeiros repositórios: o Portal Matemática Multimídia (M³) e A Física e o Cotidiano. Em 2011 foi lançado o Caderno REA, um caderno para professores. Em 2012 o livro Recursos educacionais abertos - práticas colaborativas e políticas públicas. Já em 2014 foram criados o Portal REA Paraná e o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014 - 2020, que menciona os REAs das metas 5 (estratégia 5.3) e 7 (estratégias 7.11 e 7.13). Em 2016 houve o lançamento do Portal EduCapes, em 2017 a Plataforma Integrada MEC de Recursos Educacionais Digitais (MEC RED) e em 2018 o REliA - Recursos Educacionais com licenças Abertas. Para aprofundar o estudo sobre as principais políticas públicas sobre Educação Aberta e REA existentes no Brasil e no mundo, acesse: • Comunidade REA-Brasil. Disponível em: http://educacaoaberta.org/ cadernorea/ • Caderno REA - Um caderno para professores. Disponível em: http:// educacaoaberta.org/cadernorea/ • Portal REA Paraná. Disponível em: http://reaparana.com.br/portal/ • Guia: como implementar uma política de educação aberta e recursos educacionais abertos (REA): guia prático para gestores. Disponível em: 63 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 http://educadigital.org.br/guiaEA/wp-content/uploads/2017/09/Guia_ REA_Online.pdf • Plano Nacional de Educação (Lei 13.005 de 25/06/14): Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm • Portal EduCapes. Disponível em: www.educapes.capes.gov.br • Plataforma Integrada MEC de Recursos Educacionais Digitais (MEC RED). Disponível em: https://plataformaintegrada.mec.gov.br/home • Edital 2019 – PNLD. Disponível em: http://www.fnde.gov.br/programas/ programas-do-livro/consultas/editais-programas-livro/item/10521- pnld-2019 • Guia Digital PNLD/2019. Disponível em: https://s3.us-east-2.amazonaws. com/plataforma-pnld/guias/Guia_PNLD_2019_Apresentacao.pdf • Portaria nº 451, de 16 de maio de 2018. Disponível em: http://www. in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/14729210/ do1-2018-05-17-portaria-n-451-de-16-de-maio-de-2018-14729206 • RELIA - Recursos Educacionais com licenças Abertas. Disponível em: http://relia.org.br/ A partir da definição verifi camos que os REA são verdadeiramente “propulsores de novas confi gurações de ensino e aprendizagem” (AMIEL, 2012, p. 24). Englobam as especifi cidades do recurso que pode ser público ou privado, apresentam diferentes formatos e informações. Tornam-se educacionais se forem elaborados e implementados num contexto de ensino-aprendizagem, atendendo às orientações de políticas públicas e de sequências didáticas. O diferencial está nas licenças fl exíveis que possibilitam o uso e adaptação assim como autoria e avaliação por pares. A fusão de todos esses aspectos torna um recurso REA com fi ns educacionais (Figura 1). FIGURA 1 – ESPECIFICIDADES EDUCACIONAIS DOS REA FONTE: A autora 64 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem São exemplos de REA: livros, vídeos, imagens, módulos de cursos, livros didáticos, capítulos de livros, artigos de pesquisa, recursos multimídia, infográfi cos, animações, simulações, áudios, mapas, recursos hipermidiáticos, imagens históricas, jogos, softwares entre outros. A partir dos exemplos citados, podemos observar que os REA não se restringem unicamente a conteúdos de aprendizado (conteúdo, metodologias de ensino, exercícios, periódicos entre outros). Abrangem ferramentas necessárias ao desenvolvimento do próprio conteúdo (sistemas de gerenciamento de conteúdo, ferramentas de desenvolvimento de conteúdo e comunidades de aprendizado) assim como recursos de implementação e busca do mesmo (licenças de propriedade intelectual para promover a publicação aberta e localização de conteúdo) (SANTANA; ROSSINI; PRETTO, 2012). Esse engajamento com todo processo está focado no uso e adaptação do que foi criado por outros para uso próprio, no compartilhamento de recursos criados individual ou coletivamente e no compartilhamento de material adaptado, disponibilizando novamente num círculo virtuoso (EDUCAÇÃO ABERTA, 2013). O uso, adaptação e compartilhamento destacados fazem parte dos 5 Rs de abertura (WILEY, 2014) que caracterizam os REA: • Reter – compreende a liberdade de fazer e possuir cópias do conteúdo. Essa ação requer conhecimentos relacionados ao conceito e características dos REA para saber encontrar e organizar um acervo de recursos. • Reusar – compreende a liberdade de reusar o conteúdo em contextos diversos, seja para o desenvolvimento de atividades didáticas ou indicação de material complementar. • Rever – compreende a liberdade de adaptar e modifi car o recurso. Essa ação viabiliza a autoria, amplia o reuso, possibilita a atualização de conteúdos e a produção de recursos para contextos/necessidades específi cas. • Remixar – compreende a liberdade de combinar o conteúdo original ou revisado com outro conteúdo aberto para produção de novos materiais, ou seja, se caracteriza na produção de novos recursos a partir dos existentes. Nessa ação há possibilidade de agregar qualidade. • Redistribuir – compreende a liberdade de compartilhar cópias do REA original e da versão por você adaptada. Essa ação colabora para a disseminação e divulgação dos REA. Portanto, o que diferencia os REA dos demais recursos? A presença da licença aberta que permite o acesso gratuito, o reuso, a adaptação, o remix e a distribuição, sem necessidade de solicitar a permissão do detentor dos direitos autorais (SANTOS, 2012). 65 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Os 5Rs de abertura dos REA (WILEY, 2014) se opõe a condição somente de acesso da maior dos recursos disponíveis na internet. Quando o material é licenciado de maneira fechada, sob a frase “todos os direitos reservados”, não pode ser utilizado para qualquer fi nalidade, nem gerar novos usos, ou ser remixado em novos produtos, ou ser distribuído para ter seu acesso ampliado (SANTANA; ROSSINI, PRETTO, 2012). Se você é professor de uma instituição, produz um material didático e publica num site ou blog não signifi ca que seu material pode ser usado ou compartilhado por outras pessoas, por exemplo. Torna-se necessário que citem você como autor desse material e preservem integralmente o conteúdo, evitando assim qualquer punição em relação à não observância dos direitos autorais. No entanto, se esse mesmo conteúdo fosse por você disponibilizado num site ou blog como REA, qualquer pessoa poderia fazer uso total ou parcial do mesmo, bastando para isso citar você como autor. Como isso é possível? Simples. Os REA são “recursos educacionais acompanhados de uma licença que facilita a sua reutilização, e possivelmente adaptação, sem a necessidade de pedir permissão ao detentor dos direitos autorais” (BUTCHER, 2011, p. 5). Os REA como um incentivo à produção e compartilhamento de recursos educacionais, criam “oportunidade para uma transformação ainda mais fundamental na educação: a de envolver educadores e estudantes (e mesmo aqueles que não estejam formalmente vinculados à uma instituição de ensino) no processo criativo de desenvolver e adaptar recursos educacionais” (SANTANA; ROSSINI; PRETTO, 2012, p. 140). A adaptação pode resultar da atualização de informações, supressão de conteúdo, tradução, edição de imagens, inserção de vídeos, readequação didática, inserção de atividade, entre outras tantas possibilidades. Não fi ca restrita ao meio digital. É possível realizar adaptações no impresso. Você imprime, por exemplo, uma história e acrescenta outros textos ou imagens e compartilha o recurso que pode ser utilizado em um novo contexto educacional. A adaptação ou remixagem é viabilizada pela interoperabilidade técnica e legal do REA. A abertura legal relaciona-se às licenças que permitem a produção de obra derivada enquanto que a abertura técnica ao formato que possibilite a edição. Portanto, somente é possível adaptar/remixar um recurso que possua licença que permita produção de obra derivada (edição). O conceito de REA é focado em dois princípios: licenças de uso e abertura técnica. As licenças de uso permitem maior fl exibilidade e uso legal de recursos didáticos; e abertura técnica, no sentido de utilizar formatos de recursos que sejam fáceis de abrir e modifi car em qualquer software. Nesse sentido os REA devem primar pelo que chamamos de “interoperabilidade” técnica e legal, para facilitar o seu uso e reuso (EDUCAÇÃO ABERTA, 2013 p. 46). 66 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem O conceito de REA é focado em dois princípios: licenças de uso e abertura técnica. As licenças de uso permitem maior fl exibilidade e uso legal de recursos didáticos; e abertura técnica, no sentido de utilizar formatos de recursos que sejam fáceis de abrir e modifi car em qualquer software. Nesse sentido os REA devem primar pelo que chamamos de “interoperabilidade” técnica e legal, para facilitar o seu uso e reuso (EDUCAÇÃO ABERTA, 2013 p. 46). Para adaptar e criar um REA você precisa ter alguns cuidados (MAZZARDO; NOBRE; MALLMANN, 2018): • Na adaptação: o O recurso precisa ter licença aberta (produção de obra derivada) ou ser de autoria própria. o Apresentar abertura legal e técnica, ou seja, a licença e o formato precisam permitir a edição e produção de obra derivada. As obras de Domínio Público se enquadram nessa situação. o Utilizar preferencialmente softwares livres na adaptação de recurso. o Referenciar o autor do recurso adaptado e incluir as referências utilizadas. o Informar que se trata de versão derivada de REA e atribuir a autoria. o Utilizar a mesma licença do REA original ou uma licença compatível, ao REA adaptado. • Na produção: o Defi nir o tema. o Organizar o conteúdo: ele precisa ser de autoria própria, com licença aberta ou de domínio público. Se tiver direito autoral é possível utilizar o termo de autorização para produção de obra derivada, caso contrário utilizar link direcionando para os mesmos. o Selecionar mídias para inserção no recurso: a utilização segue as orientações do item anterior. o Defi nir o formato do REA(vídeo, texto, imagem etc.). o Produzir o REA dando preferência para softwares livre e com licença aberta. o Defi nir a licença do REA: caso tenha utilizado uma imagem que tenha sido licenciada com os seguintes termos: atribuição-não-comercial- compartilha-igual, necessariamente seu REA deverá ter essa licença para não fi car incompatível. o Inserir os créditos atribuindo a autoria de todos os recursos utilizados na produção do REA. o Disponibilizar em um repositório. 67 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Segue um exemplo de adaptação de REA. Para adaptação foi utilizado parte do conteúdo e dados do REA original, acrescentado atividades direcionadas para o primeiro Ano do Ensino Médio. Se tivesse sido realizado somente o planejamento da aula e indicado o REA original para estudo do conteúdo, o planejamento seria um REA original. A fonte do REA original. Disponível em: http://repositorio.utfpr. edu.br/jspui/bitstream/1/1272/1/CT_PPGFCET_M_Faria%2C%20 Daniel%20da%20Silva_2015.pdf. Na página 3, consta a licença do produto: https://pt.slideshare.net/DanielSFaria. Plano de aula adaptado: • Tema: tratamento de água • Disciplina: Química • Série: 1º ano do Ensino Médio • Tempo: 4h/aula Sabe-se que a água é necessária para a sobrevivência de tudo que tem vida sobre a terra. O próprio planeta proporciona a água necessária para subsistência das espécies animais e vegetais, salvo em circunstâncias ocasionais, em que, devido à estiagem, a população e os animais que vivem na região afetada pela seca padecem pela falta da água. Segundo Tundisi (2003), apenas 3% da água do planeta encontra-se disponível na forma de água doce, sendo que desses, apenas 15% está disponível na forma líquida. A partir desses dados verifi ca-se que o volume de água para utilização da humanidade não é sufi cientemente grande, a ponto de ser desperdiçada, visto que a população mundial cresce a passos largos. Segundo a (ONU, 2011, s.p.) “a população mundial chegou a cinco bilhões em 1987, seis bilhões em 1999 e sete bilhões em 2011, consequentemente, o consumo de água vem aumentando na mesma proporção”. Um outro fator preocupante reside na poluição das águas, resultado dos despejos industriais, atividades mineradoras, agrícolas e do esgoto, que muitas vezes é lançado nas águas sem o devido tratamento. Tais fatores diminuem a quantidade de água potável, o que acarreta a necessidade de tratar a água dos mananciais, a fi m de torná-la própria para o consumo. 68 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem “A água não tratada é um veículo de transmissão de inúmeras doenças, como hepatite, giardíase, amebíase, ascaridíase, toxoplasmose e febre tifoide” (ÁGUA, 2003, s.p.). Como prevenção dessas e outras doenças, a água que chega até as cidades para utilização da população passa por uma série de tratamentos nas ETA (Estações de Tratamento de Água). No Brasil, apenas 63,9% das residências recenseadas no ano 2000 contam com a rede de distribuição de água, e as regiões mais afetadas por esta falta de infraestrutura são as regiões Norte e Nordeste, onde nem a metade da população tem direito à rede de água (BRASIL, 2002, s.p.). Diante da necessidade que todo o planeta tem desse bem inestimável, é responsabilidade de todos evitar o desperdício, e da família educar seus fi lhos, de modo que levem de casa para a sociedade, atitudes ambientalmente corretas, e a escola possa sensibilizar os educandos para tamanha responsabilidade, auxiliando na formação de uma consciência em prol da preservação dos recursos naturais. Objetivos: • Proporcionar ao educando a oportunidade de compreender o processo de tratamento de água para abastecimento. • Sensibilizar a necessidade da preservação deste recurso natural imprescindível à humanidade. Conteúdo: Pode-se trabalhar os conceitos de substâncias puras e misturas, relacionando com os materiais empregados no processo e a própria água nas diversas etapas do tratamento, separação dos componentes de uma mistura, também faz parte do estudo, identifi cando quais métodos estão presentes nas estações de tratamento, como são realizadas, seus objetivos e fazendo uma comparação com procedimentos simples que ocorrem em nosso cotidiano. Sugere- se que as reações químicas que ocorrem em algumas etapas do processo de tratamento de água sejam analisadas, representadas e classifi cadas, relacionando com o caráter ácido ou básico formado no meio, dependendo das substâncias adicionadas e das reações que estas realizam no transcorrer do processo. 69 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Metodologia: A metodologia está baseada na pesquisa e nos debates em sala de aula, sempre dirigidos pelo professor, que auxiliará aos alunos a responderem as questões problematizadoras, e levantarem outras questões que devem aparecer a partir das pesquisas realizadas. Assistir ao vídeo: Tratamento da água, disponível no link https:// www.youtube.com/watch?v=P2ShcHsEGts. A partir do vídeo problematizar: • Qual é a importância do tratamento de água na vida das pessoas? • A água devidamente tratada, chega a todas as residências do nosso país? • Por que a população precisa pagar a conta, se a natureza não cobra para fornecer-nos a água? • Há necessidade da sensibilização e conscientização para evitar o desperdício de água. • Em grupos realizar uma pesquisa sobre as etapas do tratamento de água indicando as reações químicas que ocorrem em cada etapa (tarefa de casa). • Produzir uma maquete de uma estação de tratamento de água, utilizando material reciclável, como garrafa PET, latas de alumínio, papel e papelão. Após criação da maquete cada grupo apresenta sua pesquisa e a maquete aos demais colegas. • Analisar uma conta de água, identifi cando o volume, em litros, de água indicado na conta (1 m3 = 1000 L) e o volume de água utilizado diariamente, levando em consideração o período de leitura. Avaliação: A avaliação é processual e contínua, considerando os seguintes aspectos: participação na pesquisa sobre o tratamento da água, produção da maquete e análise da conta de água. FONTE: FARIA, D. S. Temas ambientais no ensino de química. Curitiba, 2014. Disponível em: https://pt.slideshare. net/DanielSFaria. Acesso em 01 de maio de 2018. 70 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 4 REA: DIREITOS AUTORAIS, LICENÇAS E REPOSITÓRIOS A ampliação do uso da tecnologia, viabilizada pela conexão à internet, tem alterado nosso comportamento diante do acesso rápido e fácil à informação. Ao mesmo tempo que as práticas colaborativas de remixagem e adaptações de textos, fotos e fi lmes que se encontram disponibilizadas no ciberespaço aumenta, aumenta também o apoderamento ilícito de informações, podemos destacar fotomontagens e videoclipes que são disponibilizadas em redes sociais. A pirataria e o plágio também se enquadram nas ações que ferem o direito de autoria. Mas como você interage no meio digital? Provavelmente já deve ter feito downloads e/ou uploads de arquivos, certo? Será que essa prática em algum momento não infringiu os direitos de autoria da pessoa que as criou? Vamos analisar essas possibilidades na próxima seção. 4.1 DIREITOS AUTORAIS Os direitos autorais estão subordinados ao sistema jurídico de cada país. No caso brasileiro é adotado o sistema jurídico da Civil Law (Direito Civil) de origem romano-germânica fundamentado em atos legislativos ou executivos, também existe direito interno como a Constituição Federal e o Código Civil. O artigo 1.228 do Código Civil (BRASIL, 2002) determina o que é propriedade destacando que ela pode ser material como as coisas corpóreas ou imaterial, como as incorpóreas. Na última se enquadra a propriedade intelectual que se divide em propriedade industrial que regula a Lei 9.279 conhecida como Código Industrial ou Lei de Marcas e Patentes (BRASIL, 1996) e Direitos autorais regulada pela Lei 9.610/98.A Lei sobre Direitos Autorais (LDA) 9.610 (BRASIL, 1998) regula os direitos autorais das obras intelectuais, que são as obras científi cas, literárias ou artísticas. Esses direitos possuem duas dimensões de proteção: a patrimonial e a moral. Os artigos 28 e 29 da LDA destacam os direitos patrimoniais e o artigo 24 discorre sobre os Direitos Morais do autor. 71 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 Título III Dos Direitos do Autor Capítulo I Disposições Preliminares Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou. Art. 23. Os coautores da obra intelectual exercerão, de comum acordo, os seus direitos, salvo convenção em contrário. Capítulo II Dos Direitos Morais do Autor Art. 24. São direitos morais do autor: I - o de reivindicar, a qualquer tempo, a autoria da obra; II - o de ter seu nome, pseudônimo ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra; III - o de conservar a obra inédita; IV – o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer modifi cações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possam prejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra; V - o de modifi car a obra, antes ou depois de utilizada; VI - o de retirar de circulação a obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada, quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputação e imagem; VII - o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se encontre legitimamente em poder de outrem, para o fi m de, por meio de processo fotográfi co ou assemelhado, ou audiovisual, preservar sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível a seu detentor, que, em todo caso, será indenizado de qualquer dano ou prejuízo que lhe seja causado. § 1º Por morte do autor, transmitem-se a seus sucessores os direitos a que se referem os incisos I a IV. § 2º Compete ao Estado a defesa da integridade e autoria da obra caída em domínio público. § 3º Nos casos dos incisos V e VI, ressalvam-se as prévias indenizações a terceiros, quando couberem. 72 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Art. 25. Cabe exclusivamente ao diretor o exercício dos direitos morais sobre a obra audiovisual. Art. 26. O autor poderá repudiar a autoria de projeto arquitetônico alterado sem o seu consentimento durante a execução ou após a conclusão da construção. Parágrafo único. O proprietário da construção responde pelos danos que causar ao autor sempre que, após o repúdio, der como sendo daquele a autoria do projeto repudiado. Art. 27. Os direitos morais do autor são inalienáveis e irrenunciáveis. Capítulo III Dos Direitos Patrimoniais do Autor e de sua Duração Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científi ca. Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: I - a reprodução parcial ou integral; II - a edição; III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV - a tradução para qualquer idioma; V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual; VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato fi rmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fi bra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário; VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científi ca, mediante: a) representação, recitação ou declamação; b) execução musical; c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; 73 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 d) radiodifusão sonora ou televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de frequência coletiva; f) sonorização ambiental; g) a exibição audiovisual, cinematográfi ca ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artifi ciais; i) emprego de sistemas óticos, fi os telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e fi gurativas; IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfi lmagem e as demais formas de arquivamento do gênero; X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas. Art. 30. No exercício do direito de reprodução, o titular dos direitos autorais poderá colocar à disposição do público a obra, na forma, local e pelo tempo que desejar, a título oneroso ou gratuito. § 1º O direito de exclusividade de reprodução não será aplicável quando ela for temporária e apenas tiver o propósito de tornar a obra, fonograma ou interpretação perceptível em meio eletrônico ou quando for de natureza transitória e incidental, desde que ocorra no curso do uso devidamente autorizado da obra, pelo titular. § 2º Em qualquer modalidade de reprodução, a quantidade de exemplares será informada e controlada, cabendo a quem reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam, ao autor, a fi scalização do aproveitamento econômico da exploração. Art. 31. As diversas modalidades de utilização de obras literárias, artísticas ou científi cas ou de fonogramas são independentes entre si, e a autorização concedida pelo autor, ou pelo produtor, respectivamente, não se estende a quaisquer das demais. Art. 32. Quando uma obra feita em regime de coautoria não for divisível, nenhum dos coautores, sob pena de responder por perdas e danos, poderá, sem consentimento dos demais, publicá- 74 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem la ou autorizar-lhe a publicação, salvo na coleção de suas obras completas. § 1º Havendo divergência, os coautores decidirão por maioria. § 2º Ao coautor dissidente é assegurado o direito de não contribuir para as despesas de publicação, renunciando a sua parte nos lucros, e o de vedar que se inscreva seu nome na obra. § 3º Cada coautor pode, individualmente, sem aquiescência dos outros, registrar a obra e defender os próprios direitos contra terceiros. Art. 33. Ninguém pode reproduzir obra que não pertença ao domínio público, a pretexto de anotá-la, comentá-la ou melhorá- la, sem permissão do autor. Parágrafo único. Os comentários ou anotações poderão ser publicados separadamente. Art. 34. As cartas missivas, cuja publicação está condicionada à permissão do autor, poderão ser juntadas como documento de prova em processos administrativos e judiciais. Art. 35. Quando o autor, em virtude de revisão, tiver dado à obra versão defi nitiva, não poderão seus sucessores reproduzir versões anteriores. Art. 36. O direito de utilização econômica dos escritos publicados pela imprensa, diária ou periódica, com exceção dos assinados ou que apresentem sinal de reserva, pertence ao editor, salvo convenção em contrário. Parágrafo único. A autorização para utilização econômica de artigos assinados, para publicação em diários e periódicos, não produz efeito além do prazo da periodicidade acrescido de vinte dias, a contar de sua publicação, fi ndo o qual recobra o autor o seu direito. Art. 37. A aquisição do original de uma obra, ou de exemplar, não confere ao adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo convenção em contrário entre as partes e os casos previstos nesta Lei. Art. 38. O autor tem o direito, irrenunciável e inalienável, de perceber, no mínimo, cinco por cento sobre o aumento do preço 75 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 eventualmente verifi cável emcada revenda de obra de arte ou manuscrito, sendo originais, que houver alienado. Parágrafo único. Caso o autor não perceba o seu direito de sequência no ato da revenda, o vendedor é considerado depositário da quantia a ele devida, salvo se a operação for realizada por leiloeiro, quando será este o depositário. Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua exploração, não se comunicam, salvo pacto antenupcial em contrário. Art. 40. Tratando-se de obra anônima ou pseudônima, caberá a quem publicá-la o exercício dos direitos patrimoniais do autor. Parágrafo único. O autor que se der a conhecer assumirá o exercício dos direitos patrimoniais, ressalvados os direitos adquiridos por terceiros. Art. 41. Os direitos patrimoniais do autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória da lei civil. Parágrafo único. Aplica-se às obras póstumas o prazo de proteção a que alude o caput deste artigo. Art. 42. Quando a obra literária, artística ou científi ca realizada em coautoria for indivisível, o prazo previsto no artigo anterior será contado da morte do último dos coautores sobreviventes. Parágrafo único. Acrescer-se-ão aos dos sobreviventes os direitos do coautor que falecer sem sucessores. Art. 43. Será de setenta anos o prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre as obras anônimas ou pseudônimas, contado de 1° de janeiro do ano imediatamente posterior ao da primeira publicação. Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto no art. 41 e seu parágrafo único, sempre que o autor se der a conhecer antes do termo do prazo previsto no caput deste artigo. Art. 44. O prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais e fotográfi cas será de setenta anos, a contar de 1° de janeiro do ano subsequente ao de sua divulgação. 76 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Art. 45. Além das obras em relação às quais decorreu o prazo de proteção aos direitos patrimoniais, pertencem ao domínio público: I - as de autores falecidos que não tenham deixado sucessores; II - as de autor desconhecido, ressalvada a proteção legal aos conhecimentos étnicos e tradicionais. FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L9610.htm>. Acesso em: 14 out. 2018. Os direitos morais são pessoais do autor, ou seja, inalienáveis e irrenunciáveis. Nesse sentido, o autor tem direito a reivindicar a autoria, modifi car a obra, tirá-la de circulação e de não permitir alterações que infrinjam a integridade da obra. Já os direitos patrimoniais referem-se à exploração econômica da obra na qual o autor tem o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor dela como desejar. Para terceiros utilizarem, necessitam da autorização prévia e expressa do autor. Segundo o artigo 41 da LDA, os direitos patrimoniais perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao de seu falecimento, obedecida à ordem sucessória da lei civil. Após este período, as obras tornam- se de domínio, fi cando livre de toda limitação de uso e recombinação, não sendo mais necessária uma licença autoral. Também passam a ser de Domínio Público as obras de autores falecidos que não tenham deixado sucessores e as de autores desconhecidos. A Lei 9.610/98 foi redigida há mais de dez anos, anterior ao desenvolvimento digital e da internet. Neste sentido, há a necessidade de adequação para o contexto atual no qual as informações circulam numa velocidade imensurável. Um exemplo, a LDA não permite cópia integral de obras que não estejam em domínio público, apenas pequenos trechos (artigos 46, 47 e 48). Mas qual seria a dimensão dos “pequenos trechos”? Outras situações polêmicas são destacadas por Sérgio Franco no vídeo: Direitos autorais e recursos educacionais abertos. Disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?time_ continue=70&v=NNQWjhu51qQ 77 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Após o estudo da LDA você deve estar se perguntando qual a relação dela com os REA? A LDA relaciona-se diretamente aos REA, pois os direitos patrimoniais e morais determinam o tipo de licença dos recursos e materiais didáticos. Por exemplo, por possibilitar cópia, redistribuição e produção de obra derivada todas as obras de Domínio Público são REA. Enquanto não ocorre uma adequação da LDA a atual conjuntura social, são as licenças Creative Commons (CC) que ganham espaço como possibilidade de solução para o uso e acesso livre das obras científi cas, culturais e intelectuais, como veremos na próxima seção. Nesse sentido, Lima e Santini (2008, p. 126) destacam que as licenças Creative Commons “constituem um poderoso agente de mudança social e econômica, principalmente em virtude da inadequação do modelo restritivo de direitos autorais na sociedade da informação”. 4.2 LICENÇAS CREATIVE COMMONS Você já deve ter lido em algum lugar a seguinte expressão: Copyright © ou todos os direitos reservados. Signifi ca que o conteúdo da obra é protegido pela lei dos direitos autorais (art. 46, III da Lei 9.610/98), ou seja, não pode ser usada sem autorização do autor. Você só pode citar trechos ou indicar o link do material original, atribuindo sempre a autoria. Essa restrição impede que a obra possa ser um REA, pois não atende aos 5Rs de abertura (reter, reutilizar, rever, remixar e redistribuir). Em tempos de internet e avanços das mídias digitais, alternativas surgiram para as licenças Copyright, assegurando o uso mais amplo de liberdades de acesso (Quadro 2). O oposto extremo do Copyright e a licença de “Domínio Público ou nenhum direito reservado”. Toda obra licenciada em Domínio Público, por atender os 5Rs de abertura, é REA. 78 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem QUADRO 2 – TIPOS DE LICENÇAS FONTE: <https://br.creativecommons.org/>. Acesso em: 15 set. 2018 Como meio-termo entre os dois extremos temos as licenças Copyleft e Creative Commons. O Copyleft surgiu nos EUA com o movimento software livre que está baseado em quatro liberdades que são: • Liberdade 0: liberdade de executar o programa, para qualquer propósito. • Liberdade 1: liberdade de estudar como o programa funciona e adaptá-lo para as suas necessidades a partir do código fonte disponibilizado. • Liberdade 2: liberdade de redistribuir cópias. • Liberdade 3: liberdade de aperfeiçoar o programa, a partir do código fonte e compartilhar com toda comunidade. Como extensão dessas quatro liberdades, o Copyleft se refere à exigência de mantê-las em todas as versões modifi cadas. Essa condição o diferencia do software gratuito que não é pago mas pode ser livre ou não (TAROUCO et al., 2014). O Creative Commons (CC), fundado em 2001, é uma organização sem fi ns lucrativos que fornece licenças fl exíveis, dando suporte às criações digitais. Por ter uma fácil compreensão e amplo uso em repositórios como o Wikimedia Commons e o Flickr Commons, tornou-se apoiadora dos REA. 79 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 O Creative Commons é um projeto sem fi ns lucrativos, de adesão voluntária, sediado na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Ele é responsável por uma nova forma de direito autoral, pois disponibiliza um conjunto de licenças para áudio, imagem, vídeo, texto e educação que permite a autores e criadores de conteúdo intelectual, como músicos, cineastas, escritores, fotógrafos, blogueiros, jornalistas, cientistas, educadores e outros, indicar à sociedade, de maneira fácil, padronizada, com textos claros baseados na legislação vigente, sob que condições suas obras podem ser usadas, reusadas, remixadas ou compartilhadas legalmente (ARAYA; VIDOTTI, 2010, p. 97). O modelo de licença Creative Commons permite que, “em vez de o autor se valer de todos os direitos reservados, possa o autor se valer de alguns direitos reservados, autorizando-se, assim, toda a sociedade a usarsua obra dentro dos termos das licenças públicas por ele adotadas” (BRANCO; BRITTO, 2013, p. 60). O autor tem liberdade de aderir à essa licença ou escolher outra que achar mais conveniente. Para aprofundar seus estudos sobre as licenças Creative Commons acesse: • https://br.creativecommons.org/sobre/ • https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nerdson216.png Aqui você pode estar se perguntando: quem utiliza licenças Creative Commons não pode explorar comercialmente sua obra. Isso não é verdadeiro. As licenças Creative Commons viabilizam a conjugação da exploração comercial com a ampliação de acesso à obra. Um exemplo é destacado por Branco e Brito (2013), quando eles se referem ao próprio livro O que é Creative Commons? Novos modelos de direito autoral em um mundo mais criativo. Basta pensar no exemplo deste livro. Ele é licenciado em Creative Commons e qualquer pessoa pode utilizá-lo e distribuí- lo nos termos da licença. No entanto, ele também é vendido comercialmente por nossa editora, que recolhe normalmente os direitos autorais e paga a parcela defi nida contratualmente para nós, autores. Como utilizamos uma licença que veda o uso comercial, outras editoras comerciais que queiram editar ou reproduzir este livro devem entrar em contato conosco, 80 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem autores, e com nossa editora, tal como um livro que não utiliza o modelo de licenciamento Creative Commons (BRANCO; BRITTO, 2013, p. 117). Outro exemplo de modelo de negócio associado aos REA, se refere ao Instituto Educa Digital. Como referência na área de educação aberta e cultura digital, essa organização atua em dois eixos: iniciativa educação aberta e design thinking para educadores. Através do segundo eixo realizam tradução e adaptação do REA Design Thinking for Educators, da agência de inovação norte-americana e disponibilizam gratuitamente para download, distribuição e adaptação. Essa ação não resulta retorno fi nanceiro. No entanto, paralelamente, através do eixo iniciativa Educação Aberta, vende o serviço de formação (cursos, eventos, projetos). O Creative Commons disponibiliza quatro condições (Figura 2) que combinadas possibilitam a criação de seis tipos de licença (Figura 3). O CC (símbolo do Creative Commons) sempre estará acompanhado de uma licença ou de uma combinação de licenças. Da mesma forma, a atribuição (BY) sempre estará presente pois representa o direito moral de se atribuir os créditos devidos ao autor ou licenciador. FIGURA 2 – ELEMENTOS CREATIVE COMMONS FONTE: <https://creativecommons.org/licenses/>. Acesso em: 5 out. 2018 81 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 FIGURA 3 – SÍNTESE DAS LICENÇAS CREATIVE COMMONS CORRELACIONADAS COM OS 5RS DE ABERTURA FONTE: <https://creativecommons.org/licenses/>. Acesso em: 5 out. 2018. A Figura 3, também representa, através da seta, os níveis de abertura das Licenças Creative Commons. Como podemos observar, as mais restritas são aquelas que não possibilitam obras derivadas (ND). Alguns autores consideram que obras licenciadas com essa licença não são REA pois, não atendem aos 5Rs que diferenciam os REA dos demais recursos (WILEY, 2009). Atividade interativa sobre as licenças CC. Pratique seu estudo sobre as licenças Creative Commons realizando a atividade disponível no link: http://www.dactivity.com/ activity/index.aspx?type=1&content=qRJ8rotckVE%3D. 82 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem A escolha da licença parte da opção pessoal do sujeito ou pode ser criada de acordo com os termos de uso de determinado repositório no qual a mesma será disponibilizada. Como você vai gerar a licença? A licença é gerada no próprio site da Creative Commons, conforme orientações a seguir: • Acesse o endereço:https://br.creativecommons.org/. • Clique em Publique seu Conteúdo, conforme Figura 4. FIGURA 4 – SCREENSHOT DA TELA INICIAL DO SITE CREATIVE COMMONS FONTE: Adaptado de <https://br.creativecommons.org/>. Acesso em: 7 ago.2019. • Selecione as opções das licenças (Figura 5), respondendo as duas perguntas. Personalize conforme a sua necessidade. 83 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 FIGURA 5 – SCREENSHOT DO SITE CREATIVE COMMONS FONTE: <https://creativecommons.org/choose/?lang=pt>. Acesso em 14 set. 2018. • Para disponibilização da licença em documento salve o ícone como imagem e copie o endereço da licença selecionada (link indicado na Figura 6). 84 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem FIGURA 6 – SCREENSHOT DO SITE CREATIVE COMMONS FONTE: Adaptado de < https://creativecommons.org/ choose/?lang=pt>. Acesso: 14 set. 2018. • No caso de sites, blogs incorpora-se o código HTML gerado (Figura 7). 85 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 FIGURA 7 – SCREENSHOT DO SITE CREATIVE COMMONS FONTE: Adaptado de <https://creativecommons.org/ choose/?lang=pt>. Acesso em 14 set. 2018. Os ícones facilitam a identifi cação das licenças. Podem ser incorporados em portais, referatórios ou repositórios como uma forma de permitir o uso aberto das obras disponibilizadas. Mas cuidado você só pode licenciar uma obra de sua autoria. Caso tenha utilizado em seu REA conteúdo de terceiros com direitos autorais você pode analisar sua essencialidade e removê-lo, substituí-lo por conteúdo aberto, ou ainda, entrar em contato com o autor e solicitar uma mudança de licença. Um exemplo, desse último caso pode ser visualizado no endereço https:// 86 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem www.youtube.com/watch?v=GJVTZhC54Gg, a autora disponibilizou um vídeo com Licença Padrão do YouTube, que não é aberta. Uma leitora achou muito interessante o vídeo e quis adaptá-lo e para tal possibilidade solicitou, através dos comentários do vídeo, a alteração da licença sendo atendida pela autora. O YouTube já possibilita optar por uma Licença Creative Commons. Referatório é um site na web que apenas indica e organiza o acesso a repositórios que detêm recursos (mapas, vídeos, objetos de aprendizagem, podcasts). Ele não armazena recursos. Exemplos: • Directory of Open Access Repositories: http://v2.sherpa.ac.uk/opendoar/ • Registry of Open Access Repositorie: http://roar.eprints.org/information. html • Mapa de Iniciativas de Recursos Aberto – MIRA: http://mira. educacaoaberta.org/ As licenças Creative Commons possibilitam que qualquer sujeito compartilhe legalmente suas obras, estipulando a maneira que as mesmas podem ser usadas. São permissões fl exíveis, com siglas específi cas que precisam ser conhecidas para que as criações possam ser distribuídas sem infringir quaisquer direitos autorais. Considerando os estudos do capítulo, associe as siglas ao seu signifi cado. I- CC BY-SA II- CC BY III- CC BY-NC-ND IV- CC BY-NC V- CC BY-NC-SA VI- CC BY-ND ( ) Licença mais permissiva. Permite distribuição, adaptação, mesmo que comercialmente com citação da fonte. ( ) Licença permite distribuição, adaptação, mesmo que comercialmente com citação da fonte. No entanto, todos os trabalhos derivados precisam ser disponibilizados com essa mesma licença. ( ) Licença não permite derivações, apenas distribuição comercial e não comercial sem alterações e com a devida citação da autoria. 87 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 ( ) Licença permite distribuição, adaptação para uso não comercial com citação da fonte. ( ) Licença permite distribuição, adaptação para uso não comercial com citação da fonte. Os trabalhos derivados precisam ser licenciados sob os mesmos termos de uso. ( ) Licença mais restritiva. Permite apenas o compartilhamento ou download das obras com citação da fonte. Não é possível fazer qualquer alteração ou distribuição comercial. Pode alterá-lo ou distribuí-lo comercialmente. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II - I - VI - IV -V - III. b) ( ) II - III - IV - V - I - VI. c) ( ) I - II - III - V - IV - VI. d) ( ) III - I - VI - IV - II - VI. e) ( ) V - I - VI - IV - III - II. 4.3 REPOSITÓRIOS No capítulo anterior, quando estudamos os objetos de aprendizagem, defi nimos e caracterizamos os repositórios, destacando vários exemplos. Os REA, em sua maioria, não possuem repositórios específi cos como seria o ideal. Eles estão disponibilizados junto aos demais recursos, assim como em bibliotecas e portais. Considerando a expansão do movimento REA e consequentemente um volume maior de recursos disponibilizados em formato aberto, os repositórios passam a ser centrais em relação ao desenvolvimento, armazenamento, gerenciamento, localização e recuperação legal. As iniciativas iniciais do movimento REA tinham como preocupação garantir e facilitar o amplo acesso aos materiais criados e uma das possibilidades era através dos repositórios. No contexto atual, no qual a educação se constitui uma engrenagem para o desenvolvimento socioeconômico, viabilizá-la com qualidade se constitui um desafi o que pode ser atingido com o auxílio das iniciativas de REA. [...] na sociedade da informação, a educação tem seu papel transformado e as estratégias de ensino e aprendizagem se modifi caram para atender às novas demandas educativas. Os repositórios educacionais estão alinhados com uma perspectiva de aprendizagem aberta, colaborativa e que utiliza intensivamente recursos tecnológicos para estimular a autonomia e a emancipação do aprendente (SILVA; CAFÉ; CATAPAN, 2010, p. 101). 88 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem Como os REA são materiais disponibilizados abertamente, cuja ênfase está no seu uso e integração às práticas docentes, contribuindo assim para a qualidade e o acesso à educação, os repositórios estão no centro de seu crescimento. É neste contexto que Santos-Hermosa, Ferran-Ferrer e Abdal (2012), destacam que ela se constitui a segunda fase do desenvolvimento dos REA. Os conteúdos disponibilizados nos repositórios podem ser utilizados tanto em cursos virtuais como presenciais, aumentando a disseminação e reutilização de informações que por sua vez impacta diretamente nas pesquisas, melhorando a qualidade e reduzindo custos. “No mundo contemporâneo, oferecer às pessoas condições de acesso ao conhecimento e ao estudo de qualidade é garantir o direito à educação” (BRASIL, 2013, p. 9). O repositório permite o acesso a recursos educacionais que podem ser adaptados a contextos diversos. Um exemplo é o Banco Internacional de Objetos Educacionais (http://objetoseducacionais.mec.gov.br/#/inicio) que possui mais de 19 mil objetos de acesso público, em vários formatos e para todos os níveis de ensino. Esses recursos também podem se constituir como ferramentas complementares ao processo de ensino e aprendizagem. Acesse os sites que disponibilizam informações sobre como e onde encontrar REA: • Site REA Brasil: http://www.rea.net.br/site/ • Caderno REA: http://educacaoaberta.org/cadernorea/ encontrar • Mapeamento REA: http://bit.ly/2kzDP84 É por meio dos repositórios que os sujeitos acessam, reutilizam, recriam e compartilham os REA. Esse aspecto relacionado à disseminação de informações promove modifi cações nos processos de ensino e aprendizagem, já que seu potencial de transformação reside na facilidade com que tais recursos podem ser compartilhados (SANTOS-HERMOSA; FERRAN-FERRER; ABADAL, 2012). Para identifi car um REA, ao acessar um repositório, você pode iniciar a busca pela fi cha técnica ou link sobre direitos autorais, autoria ou termos de uso. Na sequência, confi rmar se a licença se aplica a todos os recursos disponibilizados. No entanto, Mazzardo, Nobre e Mallmann (2016), destacam como difi culdades em relação à identifi cação dos REA: 89 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 Falta de abrangência de critérios para identifi car os REA nos repositórios e reutilizá-los; falta de informações sobre as licenças e direitos autorais nos recursos; divergência de licenças nos portais de acesso aos repositórios e nos recursos. Estas informações são necessárias para identifi car os REA e saber o que é possível realizar com os mesmos (cópia, adaptação, remix e redistribuição). Outro fator que difi culta é a falta de cultura de observar os direitos autorais e as licenças (MAZZARDO; NOBRE, MALLMANN, 2016, p. 676). Portanto, a clareza em relação às características dos REA que os diferenciam dos demais recursos, viabiliza a busca, uso, reuso e compartilhamento dos recursos, estimulando a autonomia do sujeito. Da mesma forma, a ampliação do uso das licenças abertas, inclusive sua inserção no próprio recurso, facilita a identifi cação nos repositórios. 1 Após o estudo do capítulo seu desafi o será criar um REA. Para o desenvolvimento do mesmo, siga os passos a seguir: • Escolha um tema da sua área de conhecimento. • Siga as orientações de como criar um REA disponibilizadas ao longo do capítulo. O REA pode ser um plano de aula, mapa conceitual, vídeo, podcast etc. • Defi na a licença e insira no recurso. 2 A partir da defi nição de REA estudada, considere a seguinte situação: Você elabora um plano de aula para determinada disciplina, e tem a possibilidade de divulgar e distribuir esse material de modo aberto. Qual a sua motivação para compartilhar ou não o material? Essa ação implica em questões fi nanceiras? Na qualidade do material? Em abrir ou não mão dos direitos autorais? Elabore uma argumentação fundamentada no material didático estudado. 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O estudo que realizamos ao longo desse capítulo lhe proporcionou conhecimentos básicos sobre educação aberta e REA. A educação aberta envolve conhecimento compartilhado, colaboração de ideias e práticas pedagógicas, na 90 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem qual o sujeito se torna coautor e protagonista do processo. As mídias digitais, neste contexto, ampliam as possibilidades de aprendizagem em contextos distintos promovendo a democratização do conhecimento. A partir desse movimento, surge os REA com uma ideia central de ampliação do conhecimento através do compartilhamento, utilização e recombinação de recursos educacionais. Para entendermos essa logística problematizamos o conceito e as características dos REA diferenciando-os dos demais recursos. Exploramos o círculo virtuoso dos 5 Rs de abertura dos REA: reter, reusar, rever, remixar e redistribuir, que viabilizam o acesso ao conhecimento. Considerando que as ações dos 5 Rs somente são possíveis, se os recursos estiverem disponibilizados com licenças abertas, estudamos as mesmas e os direitos autorais para termos argumentação teórica na identifi cação de um recurso aberto (Figura 8). FIGURA 8 – SÍNTESE DAS IDEIAS DO CAPÍTULO FONTE: A autora As orientações em relação à adaptação e criação de REA viabilizaram nossa coautoria nesse círculo virtuoso de produção de REA. A indicação de repositórios incentivou à utilização e reutilização de recursos em nossa prática, otimizando nosso tempo de estudo e elaboração de material didático. Diariamente estamos realizando pesquisas na internet, compartilhando informações nas redes sociais e essa ação em muitos momentos pode nos levar a infringir alguns direitos autorais de forma involuntária. Neste sentido, estabelecer uma cultura de práticas 91 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 educacionais abertas se torna essencial para preservarmos nossa conduta moral e social. Se conhecermos a teoria que sustenta as ações práticas, podemos desejar e fazer a transformação em direção à conscientização e à consequente liberação de condicionantes sociais, tornando o círculo virtuoso dos REA algo realmente signifi cativo em nossa vida. Desta maneira, o estudo deste capítulo viabilizou o conhecimento dessa prática fomentando o acesso à cultura e ao conhecimento. REFERÊNCIASABED. Declaração da Cidade do Cabo para educação aberta: abrindo a promessa de Recursos Educativos Abertos, Cidade do Cabo: ABED, 2007. Disponível em: http://www2.abed.org.br/documentos/ArquivoDocumento539.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. AMIEL, T. Educação Aberta: confi gurando ambientes, práticas e recursos educacionais. In: SANTANA, B. ROSSINI, C. PRETTO, N. D. L. (Orgs.). Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas políticas públicas. Salvador: Edufba; São Paulo: Casa da Cultura Digital. 2012. p. 3-33. ANDRÉ, S.; COSTA, A. C. Educação para o desenvolvimento humano. São Paulo: Saraiva, 2004. ARAYA, E. R.; VIDOTTI, S. A. Criação, proteção e uso legal de informações em ambientes da world wide web. São Paulo: UNESP; Cultura Acadêmica, 2010. Disponível em: https://static.scielo.org/scielobooks/fdx3q/pdf/ araya-9788579831157.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. BRANCO, S.; BRITTO, W. O que é creative commons? Novos modelos de direito autoral em um mundo mais criativo. Rio de Janeiro: FGV, 2013. Disponível em: https://cld.pt/dl/download/5c0490f3-d1c6-4121-b6b3- 6765c81f4dd4/oqueecreativecommons-140226154933-phpapp01.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. BRASIL. Direitos Humanos: direito à educação. Brasília: Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, 2013. BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o código civil. Brasília, Palácio do Planalto. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 19 ago. 2019. 92 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem BRASIL. Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Brasília: Palácio do Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm. Acesso em: 12 ago. 2019. BRASIL. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 2002. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Brasília, Palácio do Planalto. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 19 ago. 2019. BUTCHER, N. Um guia básico sobre recursos educacionais abertos (REA). Paris, França: UNESCO, 2011. Disponível em: http://www.unesco.org/new/ fi leadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/publications/basic_guide_oer_pt.pdf. Acesso em: 12 ago. 2018. DECLARAÇÃO REA DE PARIS EM 2012. In: CONGRESSO MUNDIAL SOBRE RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS, 2012, Paris. Resultado... Paris: UNESCO, 2012. Disponível em: http://www.unesco.org/new/fi leadmin/ MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/Events/Portuguese_Paris_OER_Declaration.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. EDUCAÇÃO ABERTA. Recursos Educacionais Abertos (REA): Um caderno para professores. Campinas, SP: Educação Aberta, 2013. Disponível em: http:// educacaoaberta.org/cadernorea Acesso em: 15 dez. 2018. FERREIRA, G. M.; ROSADO, L. A.; CARVALHO, J. S. Educação e tecnologia: abordagens críticas. Rio de Janeiro: SESES, 2017. p. 663. Disponível em: https:// ticpe.fi les.wordpress.com/2017/04/ebook-ticpe-2017.pdf. Acesso em 12 ago. 2019. LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2004. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34,1999. LIMA, C. M.; SANTINI, R. M. Copyleft e licenças criativas de uso de informação na sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília: IBICT, v. 37, p. 121-128, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100- 19652008000100011&script=sci_arttext. Acesso em: 10 nov. 2018. 93 RECURSOS EDUCACIONAIS ABERTOS (REA) Capítulo 2 MAZZARDO, M. D.; NOBRE, A. M.; MALLMANN, E. M. Recursos educacionais abertos: acesso gratuito ao conhecimento? EAD em foco. Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 27-36, jan. - abr. 2017. MAZZARDO, M. D.; NOBRE, A. M.; MALLMANN, E. M. Small open on-line course com professores do ensino médio: desafi os para integrar REA nos materiais e atividades didáticas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, 5.; WORKSHOP DE INFORMÁTICA NA ESCOLA, 22., 2016, Uberlândia. Anais... Uberlândia: SBC; UFU, 2016. Disponível em: http://www.br- ie.org/pub/index.php/wie/article/view/6874/4752. Acesso em: 12 ago. 2018. PROJETO REA-BRASIL. Iniciativa Educação Aberta, Brasília, 2014. Disponível em: http://rea.net.br/site/. Acesso em: 12 ago. 2019. SANTANA, B.; ROSSINI, C.; PRETTO, N. L. (Org.). Recursos educacionais abertos: práticas colaborativas e políticas públicas. Salvador: Edufba; São Paulo: Casa da Cultura Digital, 2012. Disponível em: http://www.aberta.org.br/livrorea/ livro/livroREA-1edicao-mai2012.pdf . Acesso em: 12. Ago. 2019. SANTOS, A. I. Educação aberta: histórico, práticas e o contexto dos recursos educacionais abertos. In: SANTANA, B.; ROSSINI, C.; PRETTO, N. L. Recursos educacionais abertos: práticas colaborativas e políticas públicas. São Paulo/ Salvador: Casa da Cultura Digital/EDUFBA, 2012, p. 71-89. Disponível em: http://aberta.org.br/livrorea/artigos/wp-content/uploads/2012/05/REA-santos.pdf. Acesso em 12 ago. 2018. SANTOS-HERMOSA, G.; FERRAN-FERRER, N.; ABADAL, E. Recursos educativos abiertos: repositorios y uso. El profesional de la información, v. 21, n. 2, p. 136-145. mar./ abr. 2012. Disponível em: http://openaccess.uoc.edu/ webapps/o2/bitstream/10609/13601/1/Santos-Ferran-Abadal.pdf. Acesso em 12 ago. 2018. SEBRIAM, D.; MARKUN, P.; GONSALES, P. Como implementar uma política de educação aberta e recursos educacionais aberto (REA): guia prático para gestores. São Paulo: Cereja Editora, 2017. Disponível em: http://educadigital. org.br/guiaEA/wp-content/uploads/2017/09/Guia_REA_Online.pdf. Acesso em:12 ago. 2018. SILVA, E. L.; CAFÉ, L.; CATAPAN, A. H. Os objetos educacionais, os metadados e os repositórios na sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília: IBICT, v. 39, n. 3, p.93-104, set./dez., 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652010000300008. Acesso em: 10 nov 2018. 94 Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem TAROUCO, L. M. et al., Objetos de aprendizagem: teoria e prática. Porto Alegre: Evangarf, 2014. Disponível em: http://penta3.ufrgs.br/ ObjetosAprendizagem/LivroOA-total.pdf. Acesso em: 12 ago. 2019. UNESCO. Diretrizes para os Recursos Educacionais Abertos no Ensino Superior. 2015. Disponível em: https://goo.gl/7fnaWC. Acesso em: 12 dez. 2018. UNESCO. Ljubljana OER Action Plan 2017. In: Second World OER Congress. 2017. Disponível em: https://goo.gl/QF6Nyi . Acesso em: 17 dez. 2018. WELLER, M. Aspectos dos recursos educacionais abertos como área emergente Revista Educação e Cultura Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 13, n. 31, p. 404-418, 2016. Disponível em: http://oro.open.ac.uk/47209/. Acesso em: 06 out 2018. WILEY, D. A. The Access Compromise And The 5 th R. 2014. Disponível em: https://opencontent.org/blog/archives/3221. Acesso em: 15 dez. 2018. CAPÍTULO 3 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo, você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: compreender o que é um objeto de aprendizagem; entender as características dos objetos de aprendizagem; explicar como as características estão presentes nos objetos de aprendizagem; localizar objetos de aprendizagem; analisar o objeto de aprendizagem como um elemento facilitador do processo de ensino aprendizagem; discutir a acessibilidade e a usabilidade de objetos de aprendizagem; identifi car diferentes tipos de repositórios de objetos de aprendizagem. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 96 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEMOBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 97 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Como vimos nos capítulos anteriores, o avanço tecnológico está proporcionando uma série de transformações e inovações que se refl etem em vários setores da sociedade. Na educação, o avanço dos recursos tecnológicos digitais está redimensionando os processos de ensinar e aprender.Recursos educacionais são produzidos e lançados com maior interatividade e acessibilidade, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, contextualizado e interativo. Dentre esses, destacam-se os Objetos de Aprendizagem (OA). O uso de OA, em sala de aula, seria uma possibilidade de despertar o interesse dos alunos de um modo inovador e atual? Ao dar suporte ao processo educacional, através de uma nova abordagem, os OA tornam-se uma alternativa de aproximação com a nova geração digital e com as constantes transformações que a sociedade tem vivenciado. Ao despertarem a curiosidade dos alunos, auxiliam na construção e interpretação de conceitos, permitindo maior atenção ao conteúdo e interação direta com o objeto de aprendizagem. Nesse contexto, problematizaremos neste capítulo o uso de AO, como auxiliar no processo de ensino aprendizagem. Será que todos os recursos digitais podem ser considerados um OA? O acesso e disponibilização de OA acontece de forma intuitiva? Todos os OA podem ser disponibilizados em repositórios? Há critérios que precisam ser observados na criação de um OA? Estas e outras questões serão respondidas ao longo deste capítulo. Iniciaremos com a defi nição de objetos de aprendizagem, seguida pela descrição das características e do papel que desempenham no processo de ensino e aprendizagem mediada por recursos digitais. Na sequência abordaremos a sua relação com a acessibilidade, destacando situações de uso, legislação e padrões. Finalizaremos apresentando alguns repositórios com dicas de acesso e uso de OA. 2 OBJETOS DE APRENDIZAGEM O termo Objeto de Aprendizagem (OA) popularizou-se a partir de 1994 com estudos liderados por Wayne Hodgins que envolviam a aprendizagem mediada por computadores (POLSANI, 2003). Nos anos posteriores, o tema foi sendo Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 98 ampliado e muitas defi nições e interpretações foram criadas, conforme destaca Barrit e Alderman Júnior (2004, p. 6): O termo objeto de aprendizagem signifi ca muitas coisas para muitos autores. As defi nições variam de algo tão pequeno quanto um parágrafo a algo tão grande quanto um curso inteiro. Alguns os defi nem como qualquer grupo de conteúdo do mesmo tipo com um objetivo de aprendizagem ou desempenho comum. Outros se afastam do conceito de aprendizagem e optam por se focar no conteúdo dos objetos. Há ainda os que excluem os objetos de granularidade pequena, os elementos midiáticos ou interativos e os veem simplesmente como blocos de construção que podem ser combinados de modo a criar um objeto de aprendizagem. A verdade é que, quanto maior o número de pessoas a quem perguntar sobre o conceito de OA, maior será o número de respostas que irá receber. A defi nição de OA não possui um conceito universalmente aceito, no entanto há um consenso entre os autores de que os OA necessitam ter um propósito educacional. Consoante com essa ideia o Institute of Electrical and Electronic Engineer (IEEE), defi ne OA como: Qualquer entidade, digital ou não digital, que pode ser usada, reusada ou referenciada durante o ensino com suporte tecnológico. Exemplos de ensino com suporte tecnológico incluem sistemas de treinamento baseados no computador, ambientes de aprendizagem interativos, sistemas instrucionais auxiliados por computador, sistemas de ensino à distância e ambientes de aprendizagem colaborativa. Exemplos de objetos de aprendizagem incluem conteúdo multimídia, conteúdos instrucionais, objetivos de ensino, software instrucional e software em geral e pessoas, organizações ou eventos referenciados durante um ensino com suporte tecnológico (LOM, 2000 apud WILEY, 2000, p. 5, tradução nossa). A partir dessa defi nição podemos inferir que vídeos, softwares, animações, jogos e textos são OA, desde que apresentem uma estrutura pedagógica. A essência do OA é justamente a conexão conteúdo, aluno e contexto. Wiley (2000, p. 6, tradução nossa), defi ne o OA como “[...] qualquer recurso digital que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem”. Essa defi nição incorpora a intencionalidade do professor associada a uma estratégia pedagógica para que efetivamente a utilização de OA funcione como um facilitador da aprendizagem. Para exemplifi car um OA podemos utilizar a metáfora do átomo (WILEY, 2000). Um átomo, pode ser combinado com outros átomos para formar novas 99 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 estruturas atômicas. As estruturas internas são determinantes nesse novo arranjo, considerando que um átomo não pode ser recombinado com qualquer outro tipo de átomo. Assim, como os átomos, os OA precisam estar dentro do mesmo contexto, abrangendo conteúdos que se relacionem entre si. Sendo o OA defi nido a partir do contexto dos conteúdos abordados, da sua sequência de apresentação e dos recursos utilizados, Wiley (2000), o classifi ca em cinco tipos: fundamental, combinado fechado, combinado aberto, gerador de apresentação e gerador de instrução. • Fundamental: caracteriza-se como um recurso individual, com um único tipo de mídia, que pode ser utilizado em distintos contextos educacionais. Como exemplo podemos citar um texto, uma imagem ou um áudio. • Combinado fechado: caracteriza-se pela combinação de dois a quatro OA. Apresentam uma fi nalidade e destino específi cos, ou seja, são projetados para fornecer uma informação instrucional ou prática. Não se tornam tão reutilizados como o OA fundamental, pois, não podem ser usados em contextos diferentes. Um mapa, imagem mais o texto, ou um fi lme digital, vídeo mais o áudio, podem ser considerados como exemplo. • Combinado aberto: caracteriza-se pela combinação de um número maior de OA, envolvendo tanto aspectos instrucionais quanto práticos. Podem ser projetados para serem reusáveis como um todo, a partir da combinação de OA do tipo fundamental. Como exemplo podemos pensar na história de Machado de Assis junto com uma exposição das características principais da obra dele. Essa situação se torna menos reutilizável do que somente sua imagem, mas o conjunto todo, imagem, a história e a exposição, podem ser combinados de muitas maneiras. • Gerador de apresentação: caracteriza-se pela possibilidade de combinar ou gerar e combinar OA dos níveis fundamental e combinado fechado, tendo como fi nalidade a instrução da prática educacional. Apresentam uma reusabilidade grande em contextos educacionais semelhantes. • Gerador de instrução: caracterizam-se por OA mais complexos, oriundos da combinação de OA fundamentais e combinado fechado, além de possibilitar a avaliação das interações do aluno com o material didático. Seu grau de reusabilidade é alto, tanto para contextos educacionais semelhantes, quanto diversos. A classifi cação destacada possibilita a diferenciação, comparação e relação das características dos tipos de OA. Para Spinelli (2007, p. 7): Objeto virtual de aprendizagem é um recurso digital reutilizável que auxilia na aprendizagem de algum conceito e, ao mesmo tempo, estimula o desenvolvimento de capacidades pessoais, como por exemplo imaginação e criatividade. Dessa forma, um Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 100 objeto virtual de aprendizagem pode tanto contemplar um único conceito quanto englobar todo o corpo de uma teoria. Pode ainda compor um percurso didático, envolvendo um conjunto envolvido, ou, formando com exclusividade, a metodologia adotada para determinado trabalho. Santarosa (2010, p. 276) destaca que “a partir das defi nições técnicas vinculadas ao seu uso na área educacional, objetos de aprendizagem são unidades formadas por um conteúdo didático, como vídeos, animações, textos, locuções ou imagens, ou seja, é sempre uma unidade que, agregada a outra, forma novos objetos”. Para Tarouco, Fabre e Tamusiunas (2003), o OA é qualquer recurso, suplementar ao processo de aprendizagem, que pode ser reusado para apoiar a aprendizagem. O reuso,que é a possibilidade de ser usado várias vezes em contextos diferenciados de aprendizagem, é a principal característica dos OA conforme destaca Behar (2009, p. 67): A reusabilidade, ou seja, a possibilidade de serem incorporados a múltiplos aplicativos. Um mesmo objeto pode ter diferentes usos, seu conteúdo pode ser reestruturado ou reagregado, e ainda ter a sua interface modifi cada para ser adaptada a outros módulos. Todas essas ações podem ocorrer de forma independente ou conciliada com outros objetos, considerando sempre os objetos a serem alcançados com o público-alvo da (re)utilização do objeto de aprendizagem. A reusabilidade permite que os OA sejam utilizados de formas variadas, quantas vezes for preciso e sem custo de manutenção, ou seja, “pode-se usar como recurso didático um só objeto de aprendizagem, ou ser agregado a outros objetos relacionados ao mesmo conteúdo (assunto), formando um novo objeto de aprendizagem” (SANTAROSA, 2010, p. 276). Essa característica é infl uenciada pelas demais que serão defi nidas na próxima seção. 2.1 CARACTERÍSTICAS DOS OBJETOS DE APRENDIZAGEM Para que possam ser reproduzidos e adaptados diversas vezes e em várias situações, os OA precisam apresentar características específi cas que são apresentadas a seguir: 101 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 Granularidade: a granularidade relaciona-se ao tamanho dos OA, ou seja, “a menor porção do objeto com todas as informações essenciais de um tema” (BRAGA et al., 2015). Para exemplifi car a característica da granularidade, podemos usar um exemplo gastronômico. Pense em um brigadeiro, moldamos o mesmo e cobrimos com granulado de chocolate. Em muitas situações ao o envolvermos nos grânulos, alguma parte fi ca descoberta e isso pode ser resolvido passando novamente o doce no granulado, que, por ser pequeno, preenche facilmente a parte descoberta. Transpondo essa situação para um exemplo educacional podemos pensar em uma atividade de química relacionada à tabela periódica. Essa atividade precisa ter um espaço, uma abertura na qual podem ser inseridos outros conceitos e atividades de acordo com o surgimento de novas ideias, evitando assim que esse OA se torne obsoleto. Esse espaço aberto seria a granularidade. O modelo de objetos de conteúdo que está explícito na Figura 1 a seguir, representa uma hierarquia do grau de granularidade composto por cinco níveis que ajudam a explicar os OA. No primeiro nível se encontram os dados elementares do OA que podem ser apresentados em diversos formatos como áudio, texto e simulações. Os mesmos estão disponíveis para uso universal, não apresentando um contexto defi nido. No entanto, ao agrupar esses recursos, formaremos o segundo nível que são os blocos de informações. A partir desses, que ainda se enquadram num nível universal, passamos a um nível específi co denominado de objetos de aplicação que possui uma ideia estruturada com objetivos de aprendizagem defi nidos. A união dos recursos universais formando OA reutilizáveis nos níveis posteriores são denominadas lições ou capítulos e cursos ou livros. Esses têm uma estrutura mais complexa, mas menor possibilidade de reutilização em contextos diferenciados (TAROUCO et al., 2014). A partir dessa descrição podemos constatar que uma imagem, por exemplo, possui maior granularidade que um curso completo (granularidade menor), ou seja, tem maior reusabilidade. A adaptação a qualquer contexto de ensino viabiliza a usabilidade do OA por alunos e professores. Da mesma forma o OA precisa ser acessível, com versão adaptada a diferentes usuários, que estão em diferentes lugares com dispositivos variados, como celulares, computadores entre outros. As plataformas de disponibilização assim como os sistemas de gestão dos conteúdos não podem restringir o potencial de um OA. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 102 FIGURA 1 – MODELO CONCEITUAL DE OBJETOS DE CONTEÚDO FONTE: Tarouco et al. (2014, p. 17) Interoperabilidade: a interoperabilidade é outra característica importante dos OA que viabiliza sua utilização no processo de ensino aprendizagem. Segundo Tarouco et al (2014, p. 19), representa “a habilidade de operar por meio de uma variedade de hardware (computador, celular, entre outros), sistemas operacionais (Linux, Windows, entre outros) e browsers (Internet Explorer, Firefox, entre outros), com intercâmbio efetivo entre diferentes sistemas”. Da mesma forma possibilita a reutilização para além de uma plataforma específi ca de ensino. Usabilidade: se relaciona à facilidade de navegação, a utilização efi ciente e satisfatória de OA em diferentes contextos, assim como a incorporação de componentes educacionais em múltiplas aplicações, variando de acordo com a granularidade do OA. Adaptabilidade: não se torna obsoleto ou ultrapassado quando a base tecnológica do OA é modifi cada. Durabilidade: habilidade de permanecer intacto quando a base tecnológica muda ou é atualizada sem projeto ou reconfi guração de software ou hardware. 103 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 Acessibilidade: é a facilidade de acesso pelos mecanismos de busca. Também está relacionado à questão das barreiras arquitetônicas, ou seja, à possibilidade de utilização por pessoas com limitações sensório-motoras. Metadados: a integração dos dados dos OA a vários sistemas, requer uma padronização dos objetos que pode ocorrer através de padrões de metadados. Os metadados são informações que descrevem um OA contribuindo para sua identifi cação e localização, por exemplo em um repositório. Conforme Gomes et al. (2005, p. 204): Metadados, ou dados sobre dados, fornecem informações sobre um determinado recurso sejam eles físicos ou digitais, promovendo a interoperabilidade, identifi cação, compartilhamento, integração, utilização/reutilização, gerenciamento e recuperação dos mesmos de maneira mais efi ciente. São dados descritivos que podem informar sobre o título, autor, data, publicação, palavras-chaves, descrição, localização de recursos, seus objetivos e características, mostrando como, quando e por quem o recurso foi armazenado e como está formatado. Usando uma analogia, podemos comparar os metadados com um catálogo de biblioteca, o qual fornece informações sobre um determinado livro (BERTOLETTI- DE-MARCHI; COSTA, 2004). Ainda segundo as autoras, os metadados são essenciais para entender o recurso armazenado, descrevendo informações semânticas sobre o mesmo. Quando essas informações não estão disponíveis o reuso do OA pode fi car comprometido pois, alunos e professores, não terão a possibilidade de analisar as informações técnicas e pedagógicas que viabilizam a utilização no processo de ensino e aprendizagem. A Figura 2 traz um exemplo de metadados relacionados ao OA “propagação de calor por irradiação”, disponível no repositório Portal do Professor. As informações disponibilizadas são técnicas como: formato, tamanho e indicação de software para visualização, também pedagógicas como: objetivo, descrição e público alvo. A falta dessas informações, ou parte delas, difi culta o reuso do OA. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 104 FIGURA 2 – EXTRATO DO METADADO ASSOCIADO AO OBJETO “PROPAGAÇÃO DE CALOR POR IRRADIAÇÃO” FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fi chaTecnica. html?id=13121>. Acesso em: 16 ago. 2019. Os metadados descritos na Figura 2, apresentam aspectos técnicos, pedagógicos e gerais do objeto, ou seja, um conjunto mínimo de elementos para sua localização, avaliação e possível reuso. Para Silva (2010), a adoção de padrão de metadados tem como propósito: • permitir aos estudantes e professores a pesquisa, avaliação, aquisição, utilização, compartilhamento e troca de OA; • permitir o desenvolvimento de OA em unidades que possam ser personalizadas, combinadas e decompostas de forma gerenciável; • possibilitar que organizações educacionais distribuamconteúdo educacional de forma padronizada; • prover pesquisas e dar suporte à autenticação e distribuição de AO. 105 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 1 Para desenvolver fl uência em relação aos metadados de OA, você pode realizar a pesquisa a seguir. Considerando os aspectos tecnológicos, complete o quadro identifi cando se os OA apresentam as características destacadas. Justifi que sua resposta no campo “Observação”. QUADRO - ASPECTOS TECNOLÓGICOS DO OBJETO DE APRENDIZAGEM Título do OA: O Efeito Estufa Característica Apresenta Observação Granularidade Sim Acessibilidade Não Interoperabilidade Sim Título do OA: Representação de modelos de fenômenos com funções Característica Apresenta Observação Granularidade Sim (Pouca) Acessibilidade Não Interoperabilidade Sim 2 Considerando que as características dos OA viabilizam sua produção e readaptação associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Granularidade. II- Interoperabilidade. III- Reusabilidade. ( ) Depende da disponibilidade e qualidade dos metadados. ( ) Refere-se ao tamanho do objeto. ( ) Possibilita o intercâmbio efetivo entre diferentes sistemas operacionais e de browsers. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I - III - II. b) ( ) II - III - I. c) ( ) I - II - III. d) ( ) III - I - II. Observações Observações Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 106 Os padrões de metadados podem ser defi nidos como acordos documentados contendo características técnicas ou outros critérios precisos para serem usados consistentemente como regras, diretrizes ou defi nições de características, de forma a garantir que materiais, produtos, processos e serviços se enquadrem em seus propósitos. Conforme Gomes et al. (2005, p. 204), “para a eletricidade foi a padronização de voltagem e tomadas, para as ferrovias, a distância entre os trilhos, no caso da Internet, os protocolos TCP/IP, HTTP e HTML e, em relação aos OA, os padrões de metadados”. Entre os mais aceitos atualmente para a formatação dos conteúdos educacionais destacam-se o LOM (Learning Objects Metadata) e o SCORM (Sharable Content Object Reference Model). O padrão IEEE LOM, desenvolvido pelo Institute of Electrical and Electronics Engineers - IEEE, foi pioneiro e, devido a sua possibilidade de extensão, é adotado por repositórios nacionais e internacionais como OBBA, Singcore, Cancore, CESTA, OE 3 /e-tools e o Portal EduES Brasil. Descreve características do OA, que podem ser gerais, educacionais, técnicas e de classifi cação, tendo como fi nalidade facilitar processos de busca, uso, avaliação e navegação em repositórios. É composto por 68 atributos, agrupados em nove categorias. QUADRO 1 – CATEGORIAS DE METADADOS IEEE LOM Categoria Defi nição Especifi cações dos metadados Geral Apresenta as informações que descrevem o objeto de aprendizagem como um todo. - título; - idioma; - descrição; - palavras-chave; - cobertura; - estrutura; - nível de agregação. Ciclo de vida Descreve as características relacionadas com a história e o estado atual dos objetos de aprendizagem e como ele foi afetado durante sua evolução. - versão. - status; - papel; - entidade; - data. Meta- metadados Agrupa informações sobre a própria instância dos metadados. - identifi cador; (identifi cador e entrada) - descrição; - palavra-chave; (catálogo, entrada) - contribuintes; (papel, entidade e data) - esquema de metadados; - idioma. 107 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 Técnico Descreve as exigências e características técnicas do objeto educacional. - formato; - tamanho; - localização; - requisitos de sistema operacional; - comentários sobre instalação; - requisitos para outras plataformas; - duração. Educacional Apresenta as características educacionais e pedagógicas do objeto. - tipo de interatividade; - tipo de recurso de aprendizagem; - nível de interatividade; - densidade semântica; - público alvo; - contexto; - faixa etária recomentada; - difi culdade; - tempo de aprendizagem típica; - descrição; - idioma. Direitos autorais Agrupa os direitos de propriedade intelectual e condições de uso para o objeto. - custos; - direitos autorais; - outras restrições; - descrição. Relação Descreve características que relacionam o objeto de aprendizagem com outros objetos educacionais correlacionados. - tipo; - recurso (identifi cador – catálogo e entrada e descrição). Anotação Provê comentários do uso educacional do objeto e informações sobre quando e por quem foram criados os comentários. - entidade; - data; - descrição. Classifi cação Determina em que local o recurso será colocado, dentro de um sistema de classifi cação específi co. - propósito; - caminho da taxonomia (identifi cador e entrada); - descrição; - palavra-chave. FONTE: Adaptado de Silva, Café e Cataplan (2010) Ao facilitar a troca e compartilhamento de OA, otimiza o uso em contextos diversos de aprendizagem, ou seja, não defi ne “uma classifi cação única a respeito da obrigatoriedade, opcionalidade ou irrelevância de cada um dos metadados, podendo um atributo ser considerado opcional em um determinado contexto, e obrigatório em outro” (VICARI et al., 2010, p. 6). Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 108 O SCORM (Sharable Content Object Reference Model ou Modelo de Referência para Objetos de Aprendizagem Compartilháveis) foi desenvolvido e distribuído pela ADL (Advanced Distributed Learning) e se constitui em um conjunto unifi cado de recomendações para conteúdos e-learning baseado na Web. Ao viabilizar a comunicação entre usuários e um LMS (Learning Management System), fornece informações técnicas relacionadas aos metadados e ao empacotamento dos conteúdos, apresentando também um mecanismo para comunicação com os Sistemas de Gerenciamento de Cursos, não fi cando restrito a uma única plataforma. LMS signifi ca Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem ou também denominado Ambiente Virtual de Aprendizagem. Representa uma plataforma de aplicação de software para administração, oferta e acompanhamento de cursos virtuais ou on-line. Exemplos: TelEduc, Moodle, Solar, Sócrates, Blackboard. O empacotamento de conteúdo segundo Tarouco et al. (2014, p. 128): consiste em agregar todos os objetos de aprendizagem de uma unidade de aprendizagem em um único local, […] defi nidos a partir de uma determinada sequência e contendo os metadados desse conjunto. Ao fi nal desse processo, através da “scormização” do conteúdo, ele se transforma em um arquivo único compactado, denominado de pacote, o qual poderá ser importado para os ambientes virtuais de aprendizagem compatíveis. Constitui um modelo de práticas padrão que tem como objetivo garantir a qualidade dos materiais educacionais para uso on-line. Qualidade essa, devida à possibilidade de reutilização, portabilidade, usabilidade e interoperabilidade dos objetos de aprendizagem assim como da fl exibilização da aprendizagem. O SCORM possibilita, através da interoperabilidade, que diferentes Ambientes Virtuais de Ensino Aprendizagem (AVEA) rastreiem e executem conteúdos e atividades de fornecedores diversos não dependendo da plataforma de criação. Da mesma forma, a reusabilidade é garantida, pois há possibilidade de realizar a portabilidade de cursos inteiros ou em partes tanto para um cenário híbrido, de gerenciamento de aprendizagem ou mesmo a própria publicação direta na Web (DUTRA, 2008). As especifi cações do modelo são publicadas na forma de livros (Figura 3). A última versão, SCORM 2004, apresenta quatro livros: Visão Geral, Modelo de Agregação de Conteúdo, Ambiente de Execução, Sequenciamento e Navegação. LMS signifi ca Sistema de Gerenciamento de Aprendizagem ou também denominado Ambiente Virtual de Aprendizagem. Representa uma plataforma de aplicação de software paraadministração, oferta e acompanhamento de cursos virtuais ou on-line. Exemplos: TelEduc, Moodle, Solar, Sócrates, Blackboard. 109 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 O livro Visão Geral apresenta uma panorâmica do SCORM, detalhando sua origem, objetivos, alterações das versões, explicando também a organização geral do modelo. FIGURA 3 – ORGANIZAÇÃO DO SCORM FONTE: Dutra (2006, p. 3) No livro Modelo para Agregação de Conteúdo são descritas especifi cações técnicas relacionadas à criação e agregação de conteúdos instrucionais. São defi nidas as estruturas, empacotamento do conteúdo e o dicionário de metadados com utilização da norma IEEE LOM. Baseia-se na especifi cação IMS CP, usando o XML como linguagem tanto do pacote de conteúdo quanto de todas as regras de sequenciação, comportamentos, pontuações, e outras funcionalidades que pretendam adicionar através do mecanismo das extensões. O modelo de conteúdo é responsável pela defi nição dos componentes presentes na experiência de aprendizagem, já no empacotamento são defi nidos critérios de estruturação que permitem a portabilidade entre ambientes virtuais. Os componentes do modelo de conteúdo são defi nidos pelos metadados e a sequência e ordem das atividades pelo modelo de sequenciamento e navegação. Neste livro ocorre a descrição do conjunto de metadados utilizado para a catalogação dos objetos de aprendizagem. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 110 O Ambiente de Execução, livro 3, padroniza as comunicações entre o sistema de gestão (LMS), de conteúdos e clientes, minimizando assim, problemas com migração de cursos e uso de diferentes ambientes. Para a defi nição dos dados é utilizado a norma IEEE DM e a transmissão e atualização dos mesmos ocorre via IEEE API. O livro 4, Sequenciamento e Navegação, advindo da especifi cação IMS SS, descreve os sequenciamentos dos conteúdos SCORM e como eles devem ser interpretados pelo AVA. Considerando os aspectos destacados, o SCORM é o mais indicado para o encapsulamento de objetos de aprendizagem pois sua alta compatibilidade com AVAs e seu suporte à grande maioria das ferramentas de autoria potencializa sua reusabilidade e portabilidade de forma segura e estável. Souza e Alves (2009), destacam como vantagem da adoção do SCORM no desenvolvimento de OA: • independência de plataforma de AVA; • facilidade na migração de conteúdo; • possibilidade de comprar cursos de terceiros e combinar unidades de ensino construídas interna ou externamente; • disponibilidade de conteúdos no mercado em conformidade com o padrão; • compartilhamento de conteúdo para reutilização; • facilidade e economia de tempo na integração do conteúdo e do AVA; • redução do custo da integração entre o conteúdo pedagógico e o AVA; • acompanhamento do desempenho dos alunos, a partir de relatórios implantados no AVA; • disponibilidade de recursos com convergência de mídias. Destacamos, resumidamente, os livros do SCORM que sustentam toda a construção deste modelo de referência. • A dissertação Análise do modelo SCORM na construção e distribuição digital de conteúdos para a disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação do ensino secundário de Fernando José Geada Ventura de Sousa traz uma análise aprofundada do modelo SCORM, com esquemas e gráfi cos. Leia na íntegra acessando o site: nautilus.fi s.uc.pt/cec/teses/fventura/docs/ tesecompleta.pdf • O vídeo, SCROM, traz uma explicação didática para compreensão do modelo: https://www.youtube.com/watch?v=6ZdydS1oCrc 111 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 • A comparação entre metadados CESTA, LOM, CanCore, SCORM, UK LOM core e Dublin Core: http://www.cinted.ufrgs.br/CESTA/ CESTALOMCancore.htm 2.2 ACESSIBILIDADE DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM Para iniciarmos esta seção, convidamos você a defi nir o que é acessibilidade a partir do seguinte Objeto de Aprendizagem: Acessibilidade web: Custo ou benefício, veja na íntegra em: https://www. youtube.com/watch?v=NfF8KBy9U6I e https://youtu.be/OWgtRerb2Xc Os vídeos apresentam o depoimento de pessoas cegas, que usam a Internet pela possibilidade de comunicação com as demais pessoas assim como viabiliza leituras de jornais, revistas, realização de compras, pagamentos, participação em listas de discussões e possibilidade de manter-se atualizado. No entanto, o acesso a alguns sites fi ca restrito, pois não são desenvolvidos com determinados padrões que viabilizam a leitura por uma pessoa que necessita navegar via teclado através de um programa especial que lê a tela. As pessoas entrevistadas demonstraram vários problemas referentes à acessibilidade das páginas atuais da internet e como elas podem ser aperfeiçoadas. Destacaram que a acessibilidade na Web signifi ca uma Internet verdadeiramente inclusiva, com mais oportunidade de acesso e negócios para todos, ou seja, a acessibilidade precisa ser entendida como “sinônimo de aproximação, um meio de disponibilizar a cada usuário interfaces que respeitem suas necessidades e preferências” (CONFORTO; SANTAROSA, 2002, p. 90). Como vimos, a luta das pessoas com defi ciência por mais acessibilidade representa um desafi o constante. Ao mesmo tempo que a Internet se constitui uma fonte de informações, recursos e produtos diversos, apresenta barreiras que em determinadas situações inviabilizam o acesso a determinados endereços e informações mesmo com tecnologias avançadas. Discussões em torno da acessibilidade se intensifi caram após a Declaração de Salamanca, que discutiu princípios, políticas e práticas na área das necessidades Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 112 educativas especiais. Aliado a isso podemos destacar a Constituição Brasileira que assegura direitos iguais para todos, a Lei n° 10.048, de 8 de novembro de 2000, que se refere à priorização de atendimento às pessoas com defi ciências, e a Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade. Em 2004, o Decreto n° 5296, destacou as normas técnicas da ABNT como parâmetros de acessibilidades a serem seguidos. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que entrou em vigor em 2016, representa uma das leis mais completas sobre acessibilidade no Brasil. No Art. 53, defi ne a acessibilidade como “direito que garante à pessoa com defi ciência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social” (BRASIL, 2015, s.p.). Na LBI, Art. 27, destaca que: A educação constitui direito da pessoa com defi ciência, assegurado sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo de desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem (BRASIL, 2015, s.p.). A partir dessa normativa o Ministério da Educação (MEC) lançou a portaria n° 20, exigindo que os ambientes físicos e digitais das universidades estejam acessíveis, como critério para credenciamento ou recredenciamento de cursos. A LBI trata dos direitos fundamentais das pessoas com defi ciência, como educação, transporte e saúde, da garantia de acesso à informação e à comunicação assim como da punição em relação ao descumprimento dela. Na sequência, destacamos alguns artigos da lei relacionados à área do acesso à informação e à comunicação. Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com defi ciência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social. [...] Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com defi ciência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticase diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. [...] Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o Art. 63 dessa lei deve ser observada para obtenção do 113 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 fi nanciamento […]. [...] Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros: I - subtitulação por meio de legenda oculta; II - janela com intérprete da Libras; III - audiodescrição. Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da administração pública ou fi nanciadas com recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com defi ciência o direito de acesso à leitura, à informação e à comunicação (BRASIL, 2015, s.p.). Apesar dos avanços das normativas relacionadas à acessibilidade, ainda vemos muito desconhecimento e negligência em relação à legislação. Se a educação é um direito universal por que esse direito muitas vezes só é cumprido mediante a aplicação de multas? A luta pela inclusão segue e a mudança começa por você. Que tal iniciar fazendo a leitura da Lei Brasileira de Inclusão, na íntegra em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm A acessibilidade, no contexto digital, pode relacionar-se tanto ao computador quanto ao navegador e páginas Web. Essa acessibilidade viabilizará a inclusão, não signifi cando que, necessariamente, os materiais terão possibilidade de serem usados e manipulados por todos. Nesse sentido, a importância de versões alternativas e práticas similares. Para Dias (2003, p. 104), “é impossível desenvolver um produto inteiramente acessível. Pode-se torná-lo mais acessível, no entanto sempre haverá alguém que não conseguirá utilizá-lo. O design universal deve ser tornado como uma meta a ser alcançada, mesmo que inatingível, porém orientadora no projeto de produtos”. A autora destaca como critérios de desenvolvimento de produtos acessíveis: • Uso equitativo: utilização igualitária de produtos em quaisquer tipos de grupos, sem nenhum tipo de segregação. • Flexibilidade no uso: o design acomoda uma ampla variedade de preferências e habilidades individuais. • Simples e intuitivo: facilidade de compreensão do produto, sem necessidade de conhecimento prévio ou habilidades complexas. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 114 • Informação perceptível: comunicação mínima necessária ao usuário, independentemente das condições do ambiente. • Tolerância ao erro: envio de mensagens elucidativas para resolver erros que possam ocorrer acidentalmente ou não. • Baixo esforço físico: prever um design confortável evitando assim fadiga e tarefas repetitivas ao usuário. • Tamanho e espaço para aproximação e uso: tamanho e espaço apropriado para aproximação, manipulação e uso do usuário. Design universal é o “processo de criar produtos, comercialmente viáveis, que possam ser usados por pessoas com as mais variadas habilidades” (DIAS, 2003, p. 102). Para Melo (2013), o Design Universal está fundamentado na ideia da necessidade de adequar recursos educacionais a um maior número possível de pessoas que apresentem diferentes possibilidades motoras, comunicacionais, assim como características físicas e percepções sensoriais. Nessa perspectiva, potencializa-se a convivência e a participação na sociedade com maior extensão possível, sem discriminação. Essas debilidades funcionais são enquadradas em categorias com usuários de diferentes níveis de aptidão de acordo com Neto (1998): • Defi ciências visuais: usuários podem ter difi culdade em obter informações disponibilizadas visualmente, realizar leitura de texto quando o mesmo tiver letras muito pequenas ou estar em determinada cor, obter informações usando dispositivo diferente do teclado. • Defi ciências de audição: usuário tem difi culdade de distinguir alterações de frequência, ouvir ou reconhecer sinais audíveis, localizar sons e utilizar uma segunda língua. • Defi ciência de movimentação: os usuários apresentam alguma difi culdade na utilização do teclado ou do mouse, de deslocamento simultâneo em várias telas. • Defi ciências cognitivas: usuários podem apresentar diferenças de percepção e defi ciências de linguagem, difi culdade na compreensão de informações existentes e na realização de tarefas no espaço de tempo requerido. Diante dessa diversidade de especifi cidades, os processos de inclusão são viabilizados por espaços de acessibilidade, a qual está associada à ideia Design Universal. Para Bersch (2008, p. 2), “todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com defi ciência e consequentemente promover vida independente e inclusão” é denominado de tecnologia assistida (TA)”. 115 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 O conceito brasileiro de TA, aprovado pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), destaca a mesma como: uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com defi ciência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, SDHPR, Comitê de Ajudas Técnicas, ATA VII, 2009). Na concepção de Lima (2007, p. 46): tecnologia assistiva é uma ferramenta básica no processo de aprendizagem para muitos alunos com necessidades educacionais especiais, pois através de seu uso, podem reduzir seu isolamento e se tornar parte integrante de uma classe regular, através de um ambiente menos restritivo. A utilização da informática pelas pessoas com necessidades especiais, muitas vezes dá-se através de recursos adaptados [...], as chamadas tecnologias assistivas. Tecnologias digitais acessíveis. Disponível em: http://www. ufrgs.br/niee/livrosdigitais/livroazul/inicio.htm.O site disponibiliza programas, tutoriais, artigos e materiais de apoio em geral relacionados às tecnologias acessíveis. A TA tem como foco o usuário com algum tipo de defi ciência e não a ferramenta tecnológica em si. O audiolivro, por exemplo, ao ser usado por uma pessoa sem defi ciência apenas para otimizar o tempo enquanto realiza outra atividade, não se constitui em uma TA. No entanto, ele terá essa característica se for usado por um usuário cego para ler um conteúdo impresso. A expressão Tecnologia Assistiva é utilizada sempre no singular, considerando ser uma área de conhecimento e não a uma coleção de produtos. (BRASIL, SDHPR – Comitê de Ajudas Técnicas, 2009). A expressão Tecnologia Assistiva é utilizada sempre no singular, considerando ser uma área de conhecimento e não a uma coleção de produtos. (BRASIL, SDHPR – Comitê de Ajudas Técnicas, 2009). A expressão Tecnologia Assistiva é utilizada sempre no singular, considerando ser uma área de conhecimento e não a uma coleção de produtos. (BRASIL, SDHPR – Comitê de Ajudas Técnicas, 2009). Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 116 Tecnologia Assistida x Plano Nacional de Educação A TA também está entre as metas elencadas no Plano Nacional de Educação (PNE 2014-2024): Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. Entre as estratégias para essa meta destacam-se três diretamente relacionadas à produção e desenvolvimento de materiais e recursosdidáticos acessíveis: 4.6 Manter e ampliar programas suplementares que promovam a acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o acesso e a permanência dos (as) alunos (as) com defi ciência por meio da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e da disponibilização de material didático próprio e de recursos de tecnologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar, em todas as etapas, níveis e modalidades de ensino, a identifi cação dos (as) alunos (as) com altas habilidades ou superdotação; [...] 4.10 fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvimento de metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos de tecnologia assistiva, com vistas à promoção do ensino e da aprendizagem, bem como das condições de acessibilidade dos (as) estudantes com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; [...] 4.18 promover parcerias com instituições comunitárias, confessionais ou fi lantrópicas sem fi ns lucrativos, conveniadas com o poder público, visando a ampliar a oferta de formação continuada e a produção de material didático acessível, assim como os serviços de acessibilidade necessários ao pleno acesso, participação e aprendizagem dos estudantes com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação matriculados na rede pública de ensino. FONTE: <http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543- plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014>. Acesso em: 16 ago. 2019. 117 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 A criação de conteúdo para web, especifi camente o desenvolvimento de objetos de aprendizagem, é complexa, pois envolve situações diversas assim como públicos distintos. Neste contexto, os desenvolvimentos de padrões tornam o processo mais compreensível e mais fácil de realizar. Pensando nessa praticidade, aliada à economia de tráfego e às adequações dos conteúdos dentro das páginas o grupo World Wide Web Consortium - W3C (1999), desenvolveu quatorze princípios descritos na fi gura a seguir para tornar o conteúdo compreensível e navegável. Esse padrão é livre, aberto e acessível a todos. QUADRO 2 – REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE CRIADOS PELA W3C Princípios Detalhamento Equivalente textual ao elemento não-textual. Disponibilizar conteúdo que, ao ser apresentado ao usuário, transmita em essência as mesmas funções e fi nalidades do conteúdo sonoro ou visual. Opções de cores e sem cores. Assegurar a perceptibilidade do texto e dos elementos gráfi cos quando vistos sem cores. Utilizar corretamente marcações e folhas de estilo. Controlar a apresentação por meio de folhas de estilo, em vez de o fazer com elementos de apresentação e atributo. Indicar idioma. Empregar anotações que facilitem a pronúncia e a interpretação de abreviaturas ou texto em língua estrangeira. Criar tabelas passíveis de transformação harmoniosa. Assegurar que as tabelas tenham as anotações necessárias para serem transformadas harmoniosamente por navegadores acessíveis. Assegurar que as páginas dotadas de novas tecnologias Sejam transformadas harmoniosamente. Permitir que as páginas sejam acessíveis mesmo quando as novas tecnologias mais recentes não forem suportadas ou tenham sido desativadas. Assegurar o controle do usuário sobre as alterações temporais do conteúdo. Assegurar a possibilidade de interrupção momentânea do movimento, intermitência, desfi le ou atualização automática de objetos ou páginas. Assegurar a acessibilidade direta de interfaces do usuário integradas. Assegurar acesso independente de dispositivos, operacionalidade pelo teclado, emissão de voz (verbalização) etc. Projetar páginas considerando a independência de dispositivos. Utilizar funções que permitam a ativação de páginas por meio de dispositivos de entrada e de comandos. Geralmente as páginas que permitem interação pelo teclado são também acessíveis através de interfaces de comando de voz ou de linhas de comando. Utilizar soluções de transição. Garantir que tecnologias de apoio e navegadores mais antigos funcionem corretamente. Utilizar tecnologias e recomendações da W3C. Possibilitar funções de acessibilidade integradas, para garantir que as questões de acessibilidade estejam presentes na fase de criação de conteúdos para Web, por serem especifi cações desenvolvidas segundo um processo aberto e consensual no setor da informática. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 118 Fornecer informações de contexto e orientações. Ajudar os usuários a compreenderem páginas ou elementos complexos. Fornecer mecanismos de navegação claros. Aumentar as possibilidades do usuário encontrar as informações na página ou no site, através de mecanismos de navegação claros e coerente. Assegurar a clareza e simplicidade dos documentos. A utilização de paginação, isto é, uma distribuição em página coerente e sistemática, de gráfi cos reconhecíveis e de uma linguagem de fácil compreensão benefi cia todos os usuários, proporcionando uma comunicação efi caz. FONTE: Adaptado de W3C (2008) Nos links a seguir você encontra um detalhamento mais aprofundado em relação às diretrizes de acessibilidade Web. • Cartilha de codifi cação: https://www.governodigital.gov.br/ transformacao/compras/orientacoes/identidade-digital-do- governo/epwg-padroes-web-em-governo-eletronico/cartilha- de-codifi cacao • Cartilha de acessibilidade na web: http://www.w3c.br/pub/ Materiais/PublicacoesW3C/cartilha-w3cbr-acessibilidade- web-fasciculo-I.html • eMAG - Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico: http://emag.governoeletronico.gov.br/ • Padrões web: https://www.youtube.com/watch?v=xSGhV3ynmm4 Os OAs podem ser desenvolvidos como um recurso de TA, ou serem compatíveis, possibilitando aos usuários autonomia e independência no processo de aprendizagem. A construção de OA requer, segundo Behar et al. (2008), planejamento, defi nição clara dos objetivos e público-alvo assim como conhecimentos relacionados às limitações, possibilidades e barreiras de acesso. Igualmente importante uma equipe interdisciplinar de desenvolvedores com conhecimentos técnicos e pedagógicos. Melo (2013), traz algumas orientações em relação à promoção da acessibilidade em diferentes OA.: • Vídeo: torna-se acessível se puder ser assistido: o sem som, atendendo os usuários surdos e com defi ciência auditiva. Nesse caso a alternativa seria disponibilizar legendas em texto e 119 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 janela com intérprete de língua de sinais; o sem a imagem, atendendo os usuários cegos e com defi ciência visual. Como alternativa audiodescrição. • Áudio: torna-se acessível quando acompanhado de descrição em texto escrito no formato digital e quando possível também a apresentação em língua de sinais. • Imagem: o gráfi cos, torna-se acessível quando descrever sua informação em texto ou com apoio de uma tabela com função equivalente; o uma foto ou ilustração, torna-se acessível acompanhada de uma descrição textual que a represente; o um link ou botão, torna-se acessível quando oferecer uma descrição que substitua a função da imagem no material. O texto torna-se acessível e de fácil compreensão, quando imagens são usadas para oferecer instruções ou síntese de informações estatísticas. Caso uma imagem não apresente alternativas de acessibilidade, um usuário cego não terá condições de identifi car a informação, ferindo princípios de “uso equitativo” e “informação perceptível” do Desenho Universal. Se um áudio, vídeo ou até mesmo uma simulação não apresentar transcrição em texto ou Libras, pessoas com defi ciência auditiva e surdas serão prejudicadas, infringindo princípios de “uso equitativo”, “informação perceptível” ou “uso simples e intuitivo”. No caso do OA ser um hipertexto, simulação, software e não apresentar uma alternativa acessível para sua manipulação, usuárioscom pouca mobilidade poderão ter difi culdade de uso ferindo os princípios do “uso equitativo” e “fl exibilidade no uso”. Ao planejar um OA é fundamental que a equipe envolvida tenha como meta a promoção da acessibilidade para atingir e benefi ciar um número maior de usuários, proporcionando aprendizagem signifi cativa e ampliando as possibilidades pedagógicas do OA, conforme será visto na próxima seção. A aprendizagem signifi cativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e essa interação é não literal e não arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem signifi cado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos signifi cados ou maior estabilidade cognitiva (MOREIRA, 2012, p. 2). A aprendizagem signifi cativa se caracteriza pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e essa interação é não literal e não arbitrária. Nesse processo, os novos conhecimentos adquirem signifi cado para o sujeito e os conhecimentos prévios adquirem novos signifi cados ou maior estabilidade cognitiva (MOREIRA, 2012, p. 2). Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 120 3 OBJETOS DE APRENDIZAGEM E O PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM A tecnologia vem se desenvolvendo num ritmo acelerado, alterando as formas de produzir e socializar os conhecimentos e informações. O estudante passou a ter acesso próprio às informações e de diferentes formas atrativas, fato que representa um desafi o ao professor. Diante desse cenário, o uso de OA, nos contextos educacionais, viabiliza uma nova confi guração do processo didático e metodológico. O estudante precisa compreender e refl etir a partir do acesso, manipulação e análise das informações disponibilizadas nos metadados dos OA. O conhecimento dos aspectos técnicos e pedagógicos dos OA viabiliza a implementação de atividades relevantes pedagogicamente e contribui para a melhoria da qualidade do ensino. Sendo a aprendizagem um processo sempre em construção, a criação de condições de integração dos OA a situações didáticas perpassa de um conhecimento para outro mais complexo. Corroborando com tal proposta, Correia (2008) afi rma que o uso de tecnologias, no caso os OA, devem promover o desenvolvimento de competências e habilidades cognitivas básicas dos estudantes, explorando a aprendizagem de uma forma interativa e lúdica, permitindo novos processos educativos, novas experiências, novas descobertas e novas formas de aprender. Para Perrenoud (2000), a competência envolve: • colocar os alunos em sintonia com os conteúdos abordados; • conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem; • trabalhar a partir da representação dos alunos; • trabalhar a partir dos erros, transpondo um obstáculo em várias situações, mesmo que seja por meio de procedimentos empíricos, construção de hipóteses, discussão e análise de difi culdades; • trabalhar os conteúdos com experimentos; • explorar os acontecimentos, favorecendo a apropriação ativa e a transferência de saberes, sem passar necessariamente por sua exposição metódica na ordem prescrita por um sumário. 121 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 Conforme Freire (1996, p. 52), “ensino não é a transferência do conhecimento, mas a criação das possibilidades para a sua produção ou para sua construção”. Através da inserção de OA nas atividades de estudo, o estudante é levado a conectar assuntos, a compreender, dialogar e construir sua própria aprendizagem. Ao explorar as potencialidades pedagógicas dos OA, relacionando aos objetivos do ensino, é possível instigar no estudante “o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa” (PERRENOUD, 2000, p. 128) promovendo a autonomia e colaboração na construção do conhecimento. Nesse sentido, autonomia enquanto ação educativa representa: [...] de um lado, reconhecer na outra sua capacidade de ser, de participar, de ter o que oferecer, de decidir, de não o desqualifi car, pois a educação é um ato de liberdade e de compartilhamento. [...] Por outro lado, signifi ca a capacidade que o sujeito tem de “tomar para si” sua própria formação, seus objetivos e fi ns [...] ser autor da própria fala e do próprio agir (PRETI, 2003, p. 131). Ao estimular o estudante a investigar a aplicabilidade dos OA em diferentes situações de aprendizagem, o professor colabora com a autossufi ciência do estudante em relação à interpretação do conteúdo. Este processo de construção de relações, em que o estudante tem a possibilidade de interagir com o objeto de estudo, oferece subsídios para suas próprias refl exões, sendo fundamental para a estruturação da signifi cação da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo. Não basta ter disponível OA excepcionais do ponto de vista tecnológico, se não houver professores capacitados para implementar uma prática de ensino intencional e produtiva. Na concepção de Kenski (2003, p. 49) a diferença didática não está na utilização ou não de OA, mas “na compreensão das suas possibilidades. Mais ainda, na compreensão da lógica que permeia a movimentação entre os saberes no atual estágio da sociedade tecnológica”. Portanto, não é o uso dos OA que vai potencializar o processo de ensino e aprendizagem e sim a maneira como esses objetos são utilizados no processo educacional. Orientações para seleção e avaliação de conteúdos e recursos digitais, disponível em: http://cieb.net.br/wp-content/uploads/2019/06/ CIEB-Notas-T%C3%A9cnicas-5-Orienta%C3%A7%C3%B5es- para-Sele%C3%A7%C3%A3o-e-Avalia%C3%A7%C3%A3o-de- Conte%C3%BAdos-e-Recursos-Digitais-2019.pdf. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 122 O documento, elaborado pelo Centro de Inovação da Educação Brasileira (CIEB), apresenta orientações para educadores e usuários de Recursos Educacionais Digitais selecionarem conteúdos e ferramentas relevantes pedagogicamente. Os parâmetros não exigem conhecimentos especializados sobre tecnologias. São simples e rápidos, oportunizando a qualquer professor utilizá-lo em seu dia a dia. Na visão de Gallotta (2004), os OA possibilitam ao professor uma maior aproximação com o ritmo e interesses dos alunos, tendo este um papel mais ativo no processo de aprendizagem. Utilizando OA, as aulas passam a ser mais contextualizadas, interativas e colaborativas. Os objetos de aprendizagem permitem a construção de contextos digitais para os conteúdos que serão explorados. Esses contextos fazem uso de uma série de ferramentas midiáticas, tais como música, desenhos, gráfi cos, simulações, jogos etc. A contextualização permite aos alunos traçar mais facilmente uma relação entre determinado conteúdo e suas aplicações práticas e enxergar a interdependência das várias disciplinas (GALLOTTA, 2004, p. 01). Os alunos, ao longo do processo de aprendizagem, relacionam conceitos e hipóteses, aplicam os mesmos com novos métodos, expressam-se através de linguagens diferenciadas, tornando-se críticos diante do contexto social. Considerando essas etapas, os OA podem ser utilizados para motivar, contextualizar, demonstrar conceitos, assim como auxiliar o aluno em seus trabalhos individuais, tornando a aprendizagem mais signifi cativa. Uma simulação, por exemplo, disponível em: http://www. labvirtq.fe.usp.br/simulacoes/quimica/sim_qui_temalcoolnagasolina. htm, pode ser aplicada com diferentes estratégias: • ser usada para introduzir um tema novo, com problematizações ao longo da explanação e como atividade uma pesquisa de aprofundamento; • o tema novo é apresentado aos alunos de forma expositiva. Na sequência a simulação é proposta como forma de aprofundar os conteúdos e como atividade uma síntese das principais ideias; num contexto de EAD, a simulação é disponibilizada no AVA para 123 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 acesso e realizaçãodas tarefas. Posteriormente o aluno participa de uma discussão on-line e como atividade ele descreve as principais vantagens e desvantagens desse OA. OBS.: Para visualizar a simulação é necessário ter instalado o plug-in adobe® Flash® Player. Você pode baixá-lo em https:// get.adobe.com/br/fl ashplayer/otherversions/ conforme o sistema operacional que você utiliza no seu computador. Podemos observar que para um mesmo conteúdo, podem ser selecionados diversos OA, com características diferentes ou um mesmo OA pode ser aplicado com diferentes estratégias. Nesse sentido, para facilitar o processo de busca, o OA precisa explicitar seus objetivos pedagógicos (SILVEIRA; CARNEIRO, 2012), ou seja, apresentar uma estrutura instrucional que destaque informações relacionadas ao autor, aos objetivos pedagógicos e como utilizá-lo no contexto educacional. Sem essa defi nição clara, o aluno, muitas vezes pode não entender o que é necessário fazer com determinado OA e porque precisa fazê-lo, ou seja, o que seu uso vai agregar a seu processo de aprendizagem. A compreensão em relação aos OA também corrobora para a construção do conhecimento pois “o conhecimento novo é produto de atividade intencional, interatividade cognitiva, interação entre os parceiros pensantes, trocas afetivas, investimentos de interesses e valores” (FAGUNDES, 1999, p. 24). Para Silveira e Carneiro (2012) algumas condições precisam ser satisfeitas para que um recurso educacional possa ser considerado um OA que realmente facilite o processo de ensino aprendizagem, como consta a seguir. QUADRO 3 – CONDIÇÕES PARA UM RECURSO SER CONSIDERADO UM OBJETO DE APRENDIZAGEM Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 124 FONTE: Carneiro e Silveira (2014, p. 240) O artigo Objetos de Aprendizagem como elementos facilitadores na Educação a Distância apresenta a análise de 65 objetos de aprendizagem com foco em seus objetivos pedagógicos. Leia na íntegra acessando: www.scielo.br/pdf/er/nspe4/0101- 4358-er-esp-04-00235.pdf. 3.1 AVALIAÇÃO DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM Diante de uma variedade de OA, um dos desafi os enfrentados por pesquisadores e professores é a certeza sobre a efi cácia e qualidade dos mesmos em relação a seu aproveitamento nas práticas pedagógicas. Nesse sentido, a importância de padrões de avaliação que, ao serem implementados, podem contribuir para aprimorar a qualidade de um OA e promover um melhor aproveitamento do mesmo. Na prática, os instrumentos de avaliação são questionários respondidos, após uso do OA, destacando opiniões e características encontradas em relação aos aspectos técnicos, operacionais e pedagógicos. No entanto, em muitos casos, ocorre a disponibilização dos OA em repositórios a partir de uma avaliação muito restrita que analisou apenas aspectos técnicos e operacionais, como identifi cação de quesitos como acessibilidade e interoperabilidade, segundo Gama (2007). Considerando a ampla referência em pesquisas e utilização em repositórios, destacamos o instrumento de avaliação LORI ( Learning Object Review Instrument). O Instrumento de Revisão de Objeto de Aprendizagem LORI foi desenvolvido para o repositório de recursos educacionais digitais e-Lera (E-Learning Research and Assessment Network), sendo um dos instrumentos de avaliação mais utilizados nos Estados Unidos e Canadá (NESBIT; BELFER; LEACOCK, 2003). 125 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 A implementação do LORI nesse repositório envolveu avaliação colaborativa e participativa, considerando os diferentes aspectos e dimensões dos OA, assim como as possíveis interpretações dos diversos avaliadores de diferentes áreas. A seguir destaca-se os diferentes critérios do LORI que foram desenvolvidos considerando as áreas de Design Instrucional, Multimídia, Ciência da Computação e Psicologia da Educação. Na avaliação por esse instrumento, cada um dos itens é pontuado em uma escala Likert de 1 a 5, sendo utilizado a sigla “N/A” (não se aplica), se o item é considerado não relevante ou se o revisor não se sentir qualifi cado para avaliar o critério. FIGURA 4 – EXTRATO DE UMA FOLHA DE AVALIAÇÃO DO LORI FONTE: Adaptado de Nesbit, Belfer e Leacock (2013) Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 126 FIGURA 5 – DIMENSÕES DE QUALIDADE LORI FONTE: Adaptado de Leacock e Nesbit (2007) 4 REPOSITÓRIOS DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM A reutilização de OA se confi gura como uma característica essencial do processo ensino aprendizagem. Para viabilizar a divulgação e aplicabilidade deles em tempos e contextos diferenciados, surgem os repositórios de objetos de aprendizagem. Os repositórios: 127 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 [...] representam uma iniciativa para o compartilhamento de recursos didáticos existentes na Internet. Essa ideia está amparada no fato de que os recursos digitais ocupam um lugar preferencial como meio para documentar as atividades dos indivíduos e a Internet, em decorrência, afi rma-se como o ambiente preferencial de difusão de ideias e conhecimento. Um repositório é um sistema de armazenamento de objetos digitais, visando a sua manutenção, a seu gerenciamento e provimento de acesso apropriado (SILVA; CAFÉ; CATAPAN, 2010, p. 101). Ao organizar e armazenar conteúdos que podem ser acessados para pesquisa e reutilizados no processo de ensino, os repositórios garantem a aplicabilidade dos OA, ao possibilitarem níveis de granularidade, interoperabilidade e qualidade em um mesmo lugar. Para exemplifi car, considerando um universo bem mais restrito, podemos pensar em um repositório como um buscador web, o Google, por exemplo. A interoperabilidade dos repositórios de objetos de aprendizagem, segundo Arms et al. (2002), ocorre nos níveis técnico, organizacional e de conteúdo. O nível técnico relaciona-se à possibilidade de troca, considerando os formatos de arquivos assim como os protocolos. No nível organizacional estão as regras de acesso, autenticação e pagamentos, quando aplicável. Já o nível de conteúdo contempla acordos relacionados aos termos de dados e metadados. Ainda segundo o autor, a interoperabilidade pode ser garantida com o uso de técnicas como buscas federadas, recuperação por meio de metadados e através de uma coleção de OA. Os repositórios facilitam a localização dos OA, sua utilização, busca através dos metadados, as quais garantem a qualidade dos recursos disponibilizados. Neste sentido, podemos encontrar em um repositório, diferentes materiais como: livros, textos, cursos, planos de aula, arquivos visuais e sonoros, apresentações, entre outros. Os mesmos podem ser acessados tanto para visualização como download. Da mesma forma, esses repositórios podem ser alimentados continuamente com recursos desenvolvidos por diferentes, sujeitos, conforme a área específi ca de atuação. Esse compartilhamento gratuito de OA otimiza o tempo dos professores em relação à pesquisa e obtenção de permissão de uso, considerando os direitos autorais. A cooperação de todos gera benefícios coletivos. Segundo Braga (2015), o reuso de OA é viabilizado quando os repositórios apresentam as características descritas na fi gura a seguir: Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 128 QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DOS REPOSITÓRIOS DE OBJETOS DE APRENDIZAGEM Disponibilidade Estar acessível 24h numa rede de informação como a internet, por exemplo, garantindo o acesso ao OA a qualquer momento. Busca interna Fornecer ferramentas que permitam a localização do OA por meio de palavras chaves. Encontrado por mecanismos de buscas Fornecer mecanismos que permitam a localização por ferramentas externas como um buscador virtual. Persistência Possuir ferramentas que garantam a durabilidade do OA, independente de possíveis problemas com o repositório. Usabilidade Permitir que as funcionalidades de busca e recuperação sejam de fácil acesso. Acessibilidade Possibilitar o acesso pordiferentes dispositivos e tipos de usuários. Metadados Fornecer informações técnicas e pedagógicas sobre os OA nele armazenado. Respeito ao direito autoral Permitir a inserção de informações relacionadas aos direitos autorais do OA. Reputação Disponibilizar um espaço para avaliação dos usuários sobre o OA. Gestão de conteúdos Possuir ferramentas de acompanhamento do fl uxo de criação e publicação dos OA. Acesso à documentação de ajuda Permitir o acesso do usuário a documentação de ajuda do OA armazenado no repositório. Acesso às práticas pedagógicas Permitir o acesso do usuário as práticas pedagógicas já realizadas com o OA. FONTE: A autora Os repositórios digitais podem ser classifi cados como temáticos ou institucionais. No primeiro caso, ocorre o armazenamento de recursos e publicações específi cas de determinada área do conhecimento. São exemplos de repositórios temáticos: • MICRO&GENE: http://www.ib.usp.br/microgene/index.php?pagina=microgene, tem como objetivo desenvolver, produzir, divulgar e disponibilizar materiais didáticos facilitadores da aprendizagem com signifi cado, das áreas de microbiologia, genética e evolução. • Laboratório didático virtual: http://www.labvirt.fe.usp.br/, tem como objetivo disponibilizar recursos digitais (simulações e objetos) direcionados à área da física e química. • Laboratório virtual de matemática: http://www.projetos.unijui.edu. br/matematica/, disponibiliza software educacional para o ensino 129 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 fundamental e médio na área da matemática. Cada OA possui um tutorial com informações de acesso e uso. Os repositórios institucionais são multidisciplinares e heterogêneos, agregando uma diversidade de recursos, inclusive em muitas situações os próprios repositórios temáticos. Esses repositórios, “além da identifi cação, aquisição, organização, armazenamento, preservação, recuperação e disseminação, consideram a infraestrutura social, cultural, legal e econômica que infl uência a implementação da gestão da informação científi ca” (LEITE, 2009, p. 28). O documento Boas práticas para a construção de repositórios institucionais da produção científi ca traz recomendações para a construção de repositórios institucionais de acesso aberto à informação científi ca, sistematizando processos que devem ser considerados no momento da elaboração e execução de um projeto de repositório institucional (RI) em universidades e institutos de pesquisa. Veja no link: http://livroaberto.ibict.br/handle/1/703 O Livro Como gerenciar e ampliar a visibilidade da informação científi ca brasileira traz proposições para disciplinar ou orientar o desenvolvimento e implantação de um repositório Institucional. Acesse em: http://livroaberto.ibict.br/handle/1/775 No Brasil existem vários repositórios institucionais mantidos em sua maioria por universidades e instituições governamentais. Entre eles podemos citar o RIVED (Rede Interativa Virtual de Educação), o Banco Internacional de Objetos de Aprendizagem, o Portal do Professor e o Portal Domínio Público. Portal do professor: lançado em 2008, o Portal do Professor é um serviço mantido pelo Ministério da Educação. Tem como objetivo fornecer materiais didáticos em diferentes mídias como vídeos, animações, simulações, áudios, hipertextos, imagens entre outros, incrementando assim diversas práticas pedagógicas. Se constitui também em um espaço de interação e troca de experiências, pois apresenta uma área na qual professores podem compartilhar ideias, propostas, sugestões metodológicas para o desenvolvimento dos temas curriculares, expandindo assim seus benefícios para além de um repositório de OA. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 130 FIGURA 6 – SCREENSHOT DA TELA INICIAL DO PORTAL DO PROFESSOR FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html>. Acesso em 14 abr. 2019. Conforme o destaque da fi gura acima, o portal está estruturado em seis grandes áreas: espaço de aula, jornal, multimídia, cursos e materiais, colaboração, links e visite também. Cada uma dessas áreas possibilita muitas oportunidades de busca de recursos educacionais, seja por palavras-chave ou pela busca avançada. Para saber mais como navegar e encontrar as informações desse portal, acesse: • https://www.youtube.com/user/portaldoprofessor • http://portaldoprofessor.mec.gov.br/estatisticas.html Portal domínio público: lançado em 2004, se constitui num espaço de busca, integração, preservação e compartilhamento de conhecimentos literários, educacionais e científi cos que estão disponibilizados na forma de textos, imagens, vídeos, sons, constituindo-se em patrimônio cultural do país. Esse acervo está disponibilizado em domínio público ou possui a sua divulgação autorizada. 131 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 FIGURA 7 – SCREENSHOT DA TELA INICIAL DO PORTAL DOMÍNIO PÚBLICO FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/>. Acesso em 19 ago. 2019. O portal oferece acesso livre e gratuito, incentivando o aprendizado, a inovação e a cooperação entre os desenvolvedores de conteúdo e seus usuários. Oferece vários benefícios que podem ser usufruídos por bibliotecas digitais ou outros repositórios. Entre os benefícios destacam-se a rápida e efi ciente recuperação da informação, avaliação continuada de diferentes públicos, suporte amigável, provimento do acesso às coleções de informações multimídia a qualquer hora e a partir de qualquer lugar, característica essa que viabiliza o uso simultâneo do recurso por várias pessoas (BRASIL, 2012). Possibilita também o cadastro de autores para disponibilização de suas obras, aumentando assim gradativamente o acervo. Este é composto por livros e publicações em diferentes áreas do conhecimento, romances, crônicas e poesias de autores brasileiros e estrangeiros, teses e dissertações, fotografi as diversas, mapas históricos, topográfi cos, geoeconômicos, políticos e populacionais do Brasil, assim como programas produzidos pela TV Escola/MEC, documentários, entrevistas e fi lmes, entre outros. Portanto, ao englobar segmentações culturais e científi cas das mais diversas áreas, o portal se torna um importante espaço de busca de OA para professores, alunos e pesquisadores em geral. Banco internacional de objetos de aprendizagem: o Banco Internacional de Objetos Educacionais (BIOE), lançado em 2008, localiza, cataloga, avalia, disponibiliza e mantêm recursos educacionais de diversas áreas do conhecimento de diferentes países e línguas, viabilizando assim um processo colaborativo de compartilhamento das produções. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 132 FIGURA 8 – SCREENSHOT DA TELA INICIAL DO BIOE FONTE: <http://objetoseducacionais.mec.gov.br/#/inicio> Acesso em 19 Ago. 2019. O BIOE está organizado em torno de comunidades e coleções que correspondem ao Nível de Ensino e Componente Curricular, adotados no Brasil. Além disso, o tipo do recurso está presente como uma subcoleção. Dentro de cada coleção/subcoleção, pode haver um número ilimitado de recursos. Como pode ser observado na fi gura acima, o acesso ou localização dos recursos no BIOE ocorre através dos níveis de Ensino, do componente curricular ou pelas ferramentas de busca simples e avançada. O ambiente da BIOE não permite o autoarquivamento de recursos, nesse sentido, para ser disponibilizado o recurso educacional passa por uma avaliação realizada por um comitê de professores das universidades participantes. Essa avaliação tem como objetivo garantir a qualidade dos recursos disponibilizados. A submissão de um recurso requer o preenchimento de metadados, nesse caso, de padrões internacionais, fato que coloca o portal entre as páginas mais pesquisadas na internet. Portanto, o BIOE representa uma ferramenta importante para disseminar o acesso e democratização do conhecimento. Rede interativa virtual de educação – RIVED: o RIVED, lançado em2000, pelo Governo Federal Brasileiro em parceria com países da América Latina, foi um programa que se propôs a ser uma ação para potencializar o uso das tecnologias da informação e comunicação nas escolas. Desenvolvido por grupos de pesquisas em universidades, teve como objetivo produzir objetos de aprendizagem na forma de animações e simulações. 133 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 FIGURA 9 – SCREENSHOT DA TELA INICIAL DO RIVED FONTE: <http://rived.mec.gov.br/>. Acesso em: 14 abr. 2019. Os recursos disponibilizados no portal possuem um guia do professor, o qual apresenta sugestões de uso dos módulos educacionais que trazem questões relevantes para o estímulo do raciocínio e pensamento crítico. No portal também se encontra a indicação de vídeos veiculados pela TV Escola assim como outros recursos atrelados a parcerias com diferentes instituições de ensino. Além da disponibilização de conteúdos para acesso gratuito, o RIVED realizou capacitações que tem como objetivo problematizar a metodologia de produção e utilização dos objetos de aprendizagem. O projeto está fi nalizado, mas os OA ainda estão disponíveis no portal. Coletânea de entidades de suporte ao uso da tecnologia na aprendizagem – CESTA: o projeto CESTA, http://www.cinted.ufrgs.br/CESTA/, tem como objetivo sistematizar e organizar os OA produzidos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponibiliza simulações, vídeos, softwares, relacionados a diferentes áreas do conhecimento. O acesso ao site é livre não sendo necessário cadastro. A catalogação dos OA atende às normas de padronização internacionais (IEEE, 2008). Laboratório didático virtual – LABVIRT: o LABVIRT, http://www.labvirt. fe.usp.br, é um repositório mantido pela Escola de Futuro da Universidade de São Paulo. Tem como objetivo disponibilizar recursos digitais para o apoio ao processo ensino-aprendizagem de física e Química. Os OA desenvolvidos são simulações e projetos. Cada repositório apresentado possui especifi cidades próprias, no entanto, todos seguem padrões e metadados padronizados, facilitando o acesso, a busca das informações e a interoperabilidade dos recursos. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 134 Os repositórios têm por objetivo concentrar em um único espaço OA, facilitando a pesquisa, localização e reutilização dos mesmos. Esse acesso a qualquer momento, e por diferentes sujeitos, é viabilizado pelo desenvolvimento das tecnologias. Sobre os repositórios, analise as seguintes sentenças: I- Os repositórios garantem a reusabilidade que é considerada a principal característica do OA. II- Os padrões de metadados têm por objetivo descrever os diversos tipos de OA, facilitando a localização de um conteúdo apropriado para o uso pretendido. III- Considerando que a disponibilização de OA é realizada na Web, os repositórios de OA tem as mesmas características de busca que as máquinas de busca. Ambas as alternativas dão retorno satisfatório para recuperação de OA. IV- Os repositórios são ambientes digitais que tem como objetivo a disponibilização de OA e a garantida da interoperabilidade dos mesmos. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afi rmativa IV está correta. b) ( ) As afi rmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afi rmativas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Somente a afi rmativa I está correta. Artigo: Bibliotecas e repositórios de objetos de aprendizagem: potencialidades para o processo de aprendizagem Disponível em: https://tecedu.pro.br/ano9-numerovol22-edicao- tematica-vi/ O artigo problematiza a estruturação dos repositórios de Objetos de Aprendizagem (OA) e problematiza a diferença desses, das coleções digitais como banco de dados. 135 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O estudo realizado nesta unidade proporcionou vários conhecimentos sobre objetos de aprendizagem. Estes podem trazer muitos benefícios pedagógicos e econômicos na medida em que possibilitam a produção de conteúdo mais interativo e personalizado. Vimos que não há um conceito único para OA, mas todos os autores convergem na necessidade do OA ter um propósito educacional. A essência dele está justamente na conexão conteúdo, aluno e contexto, sendo o reuso sua principal característica. A reprodução e adaptação deles de forma constante depende de características como granularidade, interoperabilidade, acessibilidade, adaptabilidade e metadados. Esses últimos, são responsáveis pela padronização que viabiliza sua identifi cação e localização. Destacou-se dois padrões entre os mais aceitos atualmente para a formatação dos conteúdos educacionais: LOM e o SCORM. Os atributos de ambos auxiliaram na compreensão de como ocorre a comunicação entre usuários e sistemas LMS. A problematização e discussão em torno da acessibilidade dos OA foi necessária para contextualizar sua importância na conjuntura de desenvolvimento da internet, viabilizando a compreensão do respeito as necessidades e preferências individuais. Diante dessas especifi cidades os processos de inclusão são viabilizados por espaços de acessibilidade, os quais estão associados à ideia Design Universal. A criação de OA envolve situações diversas, assim como públicos distintos e todos precisam convergir para que o resultado se refl ita na efi cácia e qualidade dos mesmos em relação a seu aproveitamento nas práticas pedagógicas. Nesse contexto, o conhecimento dos aspectos técnicos e pedagógicos dos OA oportuniza a implementação de atividades relevantes pedagogicamente e contribui para a melhoria da qualidade do ensino. Um mesmo OA pode ser aplicado com diferentes estratégias ou para um mesmo conteúdo, podem ser selecionados diversos OA, por isso a importância da avaliação dos OA e sua característica de reusabilidade viabilizada pelos repositórios. O estudo das características e atributos relacionados aos padrões de referência que são responsáveis pela maximização e reutilização de conteúdo, Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 136 assim como das questões de acessibilidade nos subsidiam em relação às expertises da criação e adaptação de AO, como consta na fi gura a seguir. O desejo é de que após o estudo das temáticas deste capítulo, você passe a olhar com outro entendimento as questões que perpassam o planejamento, criação e utilização de OA. FIGURA 10 – SÍNTESE DAS IDEIAS DO CAPÍTULO FONTE: A autora Sinta-se desfi ado a construir, desconstruir e reconstruir sua visão de mundo e seus conhecimentos relacionados às temáticas trabalhadas ao longo deste livro. O maior desafi o está na incansável busca por caminhos alternativos e inovadores. Bons estudos! 137 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 REFERÊNCIAS ARMS, W. Y. et al. A spectrum of interoperability: the site for science prototype for the NSDL. D-Lib Magazine, Arlington, v. 8, n. 1, jan. 2002. Disponível em: http:// www.dlib.org/dlib/january02/arms/01arms.html. Acesso em: 24 fev. 2019. BARRITT, C.; ALDERMAN JÚNIOR, F. L. Creating a reusable learning objects strategy. San Francisco: John Wiley & Sons, 2004. BEHAR, P. A. Objetos de Aprendizagem para professores da ciberinfância. RENOTE: Revista Novas Tecnologias da Educação, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 1-10, jul. 2009. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/renote/article/ viewFile/14085/7980. Acesso em: 24 fev. 2019. BEHAR, P. A.et al. A importância da acessibilidade digital na construção de objetos de aprendizagem. RENOTE: Revista Novas Tecnologias da Educação, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 1-22, dez. 2008. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/ InfEducTeoriaPratica/article/view/66775/43624. Acesso em: 24 fev. 2019. BERSCH, R. Introdução à tecnologia assistiva. Porto Alegre: CEDI, 2008. BERTOLETTI-DE-MARCHI, A. C.; COSTA, A. C. Uma proposta de padrão de metadados para objetos de aprendizagem de museus de ciências e tecnologia. RENOTE: Revista Novas Tecnologiasda Educação, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 1-10, mar. 2004. Disponível em: http://www.cinted.ufrgs.br/renoteold/mar2004/ artigos/02-umapropostadepadrao.pdf. Acesso em: 7 abr. 2019. BRAGA, J. (Org.) et al. Objetos de aprendizagem: introdução e fundamentos. Santo André: UFABC, 2015. Disponível em: http://pesquisa.ufabc.edu.br/intera/ wp-content/uploads/2015/12/objetos-de-aprendizagem-v1.pdf. Acesso em: 18 mar. 2019. BRASIL, Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Defi ciência (Estatuto da Pessoa com Defi ciência). Brasília: Palácio do Planalto, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 20 ago. 2019. BRASIL. Governo Federal. Domínio Público. Brasília, DF, 2012. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 08 abr. 2019. Recursos Educacionais e Objetos de Aprendizagem 138 CARNEIRO, M. L.; SILVEIRA, M. S. Objetos de aprendizagem como elementos facilitadores na Educação a Distância. Educar em Revista. Curitiba, Brasil, Edição Especial, n. 4, 2014, p. 235-260. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ er/nspe4/0101-4358-er-esp-04-00235.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019. CAMPOS, G. H.; MARTINS, I.; NUNES, B. P. Instrumento para avaliação da qualidade de objetos de aprendizagem. Rio de Janeiro: CCEAD; PUC-Rio, 2008. Disponível em: http://web.ccead.puc-rio.br/condigital/portal/InstrAvaliacao. pdf. Acesso em: 10 jan. 2019. CONFORTO, D.; SANTAROSA, L. M. Acessibilidade à web: internet para todos. Revista de Informática na Educação: Teoria, Prática, Porto Alegre. v.5, n. 2, p. 87-102, nov. 2002. Disponível em: http://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp- content/uploads/2014/08/ACESSIBILIDADE_WEB_revista_PGIE.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019. CORREIA, S. Inteligência emocional e robótica na educação. Revista Perspectiva, Matosinhos, PT, n. 13, p. 50-51, jul. 2008. Disponível em: https:// issuu.com/escala/docs/perspectiva13. Acesso em: 7 abr. 2019. DIAS, C. Usabilidade na Web: criando portais acessíveis. Rio de Janeiro: Alta Books, 2003. DUTRA, R. L. Encapsulamento e utilização de objetos de aprendizagem abertos SCORM para ensejar a avaliação formativa. 2008. 173f. Tese (Doutorado em Informática da Educação) – Departamento de Programa de Pós- graduação em Informática na Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/17253/000713725.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 7 abr. 2019. DUTRA, R. L.; TAROUCO, L. M. Objetos de Aprendizagem: Uma comparação entre SCORM e IMS Learning Design RENOTE: Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 1-8, 2006. Disponível em: https://seer.ufrgs. br/renote/article/view/13862/7783 Acesso em: 8 abr. 2019. DUTRA, R. L.; TAROUCO, L. M. Recursos educacionais abertos. RENOTE: Revista Novas Tecnologias na Educação, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 1-8, 2007. Disponível em: htt ps://seer.ufrgs.br/renote/article/view/14171/8099. Acesso em: 7 abr. 2019. 139 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Capítulo 3 FAGUNDES, L. C. Aprendizes do futuro: as inovações começaram! Brasília: MEC; SEEP; Programa Nacional de Informática na Educação, 1999. Disponível em: http://pa2009b2.pbworks.com/f/aprender.pdf. Acesso em: 7 abr. 2019. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GALLOTTA, A. Objetos de aprendizagem a serviço do professor. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Os Desafi os da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE, 2014. Curitiba: SEED/PR, 2016. v.2. p.14. Disponível em: https://www.google.com.br/